A Casa do Banho do Porto Revez

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Museu da Santa Casa de Misericórdia da Vila da Ericeira

A CASA DO BANHO DO PORTO REVEZ Por João Pedro da Silva Henriques Gil Com idade e utilização desconhecidas mas aparecendo já em registos fotográficos do final do século XIX, a Casa do Banho localizada no sítio do Porto Revez, assim designada popularmente na Vila é, sem dúvida, o ex-libris da Ericeira até ao início da 1ª Guerra Mundial.

Erguida no rochedo sobranceiro à Praia do Sul e dispondo de uma pequena praia “privativa” raramente coberta pela maré, esta curiosa e enigmática construção assistiu, na sua situação invejável, ao desenvolvimento urbanístico e social da Ericeira. Ao seu lado reconhecem-se ainda as ruínas de um pequeno moinho em tudo igual aos existentes na várzea da Carvoeira, junto à Matriz de Nossa Senhora do Ó.


No virar do século, o Dr. Eduardo Burnay mandou construir uma casa no sítio chamado das “Andorinhas” onde existia o 2.º cemitério da Ericeira desde uma aterradora peste que vitimou uma boa parte da população da Vila. Sabemos que em 1902, o Dr. Tomás de Melo Breyner, 4.º Conde de Mafra e médico da corte, ali esteve a convite do proprietário. O cuidado, o gosto e dignidade no arranjo paisagístico do local, logo originou o epíteto de Parque Burnay.

Cerca de 12 anos mais tarde, em Agosto de 1913, o parque Burnay será aumentado e engrandecido com um novo edifício construído um pouco mais acima do primeiro no local também conhecido por “Alto da Baleia”.

No ano seguinte, em 1914, Lourenço Carlos Rivotti, proprietário e lavrador da Golegã e sua mulher Rita Bonacho dos Anjos, assíduos frequentadores da Ericeira, compram um terreno na


“Carrasqueira” junto à estrada de Sintra e aí iniciam a construção de outro expoente urbanístico da Vila: o “Casal Rivotti ”.

Antes de finalizar o ano, em Novembro, o Dr. João Henrique Ulrich, director do BNU, compra a Casa do Banho e os terrenos em seu redor e inicia a construção do paradigmático identificador da Ericeira e da Praia do Sul.

Mantendo a velha Casa do Banho do porto Revez, a casa Ulrich soube integra-la no seu jardim. Sabemos que em Fevereiro de 1915 prosseguiam em bom ritmo os trabalhos de finalização das obras para que a inauguração se cumprisse no verão daquele ano.


De facto em Dezembro desse ano, o “Casal do Rivotti” e a “Casa dos Ulrich”, estão praticamente concluídas e tornam-se, com “os Burnays”, na moradia privilegiada da melhor sociedade aristocrática dos verões ericeirenses. Mas um pouco mais acima na Calçada da Baleia, integrada já na malha urbana aparece, também naquela data, a derradeira “obra-prima” da Vila; Manuel Rodrigo de Castro Pereira e sua mulher Cecília van Zeller mandam construir e ampliar a sua propriedade.

Fica, assim, definitivamente construída, a moldura arquitectónica da Praia do Sul que na década seguinte e pela mão dos descendentes daquelas famílias, deslocará o “eixo” das


atenções mundanas e dará à Vila da Ericeira a fama, a tradição, o gosto e o elevado nível social, que a distingue e consagra até meados do século XX.

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No início dos anos 40 e integrando já uma unidade hoteleira, a velha Casa do Banho subsiste, mas o rápido crescimento turístico ditará, em breve, o seu fim.

O velho Porto Revez, recordado apenas na toponímia da Vila, juntar-se-á, assim, a tantas outras memórias na pródiga e milenar névoa de um tempo que passou.

Santa Casa de Misericórdia da Vila da Ericeira, 31 de Julho de 2012.


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