JUAN GRIFONE PORTFOLIO

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Juan Grifone (n. 1986, ARG) Rua Ângelo de Aquino Filho, 106. Bairro Goiânia. Belo Horizonte. Minas Gerais. Brasil Telefone/WhatsApp: (31) 9 8924 0196 E-mail: juangrifone@gmail.com Exposições 2020

IMIGRAÇO~ES. -Art Documentário. Direção. In: https://youtu.be/15Jfi-e8t4M

2014

2012 2019 2018

EU RESISTO! EU EXISTO! –Coletiva. In: Viaduto das Artes

EL FUMADOR. -Individual. Exposição de DOMINGO TEM. In: ROCK AND HOSTEL. elo Horizonte. MG.

Exposição Coletiva – “PLASTILINOS: TOMA 1 PINTURA 1” Universidade Nacional de Córdoba. Córdoba, COR. Argentina.

RUÍNAS / / / DEPURAÇÃO com curadoria de Felipe “Fera” Guimarães. -Individual In: LA GRUTA.

RUÍNAS / / / DEPURAÇÃO A/V: Bruno Sanabrio 2018

com curadoria de Felipe “Fera” Guimarães. Individual. In: AGOSTO.

2017

I Exposição Habilitações 2018. Escola Guignard -Coletiva – UEMG. Galeria da Escola Guignard – UEMG.

2017

DO LIXO NA LOJA. -Individual-Virtual. Belo Horionte.MG. In: Garagem do Rock. Formação

MOSTRAS COLETIVAS ITINERANTES. In: Acelera MGTI

2017

LOVE RETRO. In: C.A. Presidente Tancredo Neves. Galeria túnel C.A. Belo Horizonte. MG.

2017

FARTURA. Mostra 2ed. -coletiva. In: Galpão Paraíso. Belo Horizonte. MG

2016

VAC’16 -Abertura Verão Arte Contemporânea 2016 em Belo Horizonte para equipe ELA (Escola Livre de Artes – Arena da Cultura) coordenação Marconi Marques. Belo Horizonte. MG.

2021

Formando Licenciatura em Artes Plásticas Escola Guignard-UEMG/ Belo Horizonte- MG -Brasil.

2018

Graduação em Curso de Artes Plásticas – Habilitação Pintura- Orientador: Prof. Sebastião Miguel Brandão. Escola Guignard-UEMG/ Belo Horizonte- MG -Brasil.

2015

Professorado em Artes Plásticas da Universidade Nacional de Córdoba. UNC. COR. -Argentina.


Artigos e Publicações 2019-20

TELEKINETICA English Ed. de Gastón Oviedo. IMAGINARIA A SIN: B08F7G2ZZ9. https://888novel.com/truyen/telekinetica-gaston-j-oviedoenglish-version/#dsc

2018

OLHO D’AGUA- ARTE CONTEMPORÂNEA NAS ESCOLAS Artigo. Olho D’Agua :Arte Contemporânea nas escolas, por Rachel Vianna Souza, Juan Grifone, Ana Carolina Neves. Anais do Seminário Internacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual. https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/778/o/Anais_2018.pdf

2018

CAMUFLAGEM - O NEUTRO. Trabalho de Conclusão de Curso; (Graduação em Curso de Artes PlásticasLicenciatura) - Escola Guignard-UEMG; Orientador: Sebastião Brandão https://www.escavador.com/sobre/463300017/juan-pablogrifone

2015

Revista Art Fanzine- Ano 3, Edição 22 “SUPERCHERIA” (p.28-29) https://issuu.com/supercheria/docs/edici__n_impresa__digital.compress

Prêmios 2020

2019

2012

IMIGRAÇO~ES. Prêmio Curta-metragem, Longa e Media Metragem 09/2020. do edital Lei Aldir Blanc Estadual. Belo Horizonte, Brasil. PACIENCIA GERA GENTILEZA :O MOSAICO COMO ARTE URBAN» do edital Gentileza da PBH. Instalação em mosaico, Belo Horizonte, Brasil. PINTE O SEU MUNDO 2012. Prêmio - Município da cidade de Villa Carlos Paz - Credor do primeiro lugar no concurso Córdoba. Argentina.


Mini.Biografia Juan Grifone, nascido em 1986 no interior de Argentina, filho de pai comerciante de mercadorias usadas e mãe costureira. A expulsão, a reclusão e a exclusão dos sistemas sociais junto aos padrões externos e a pressão do tempo como modus operandi, são as formas de pensar a poesia visual e plástica de Grifone. Transformou as consecutivas expulsões das oito escolas por onde passou na adolescência em vivência artística, ao misturar arte e educação como fuga dos aparatos opressores supracitados, em busca da paciência desdenhada pelo sistema (Projeto Arte Educação Paciência Gera Gentileza: Mosaico Urbano, 2018). Recluso em 2011 por fazer Grafitti no centro da Córdoba, se deparou com a pressão que impõem os sistemas para encaixar as pessoas em modelos padronizados que privam as liberdades subjetivas. Assim, para contrabalançar aqueles efeitos saiu da Argentina em uma viagem pelo Brasil desenvolvendo murais por vários Estados, reconectando-se à natureza, e tentando fugir dos modelos preestabelecidos (Coletivo Trip&Roll. 2012-15). Pela falta de dinheiro, por ser estrangeiro e não concordar com sistemas dominantes, conheceu a exclusão (Imigrações, 2020). Atualmente reside com sua família na periferia de Belo Horizonte, onde trabalha com arte. Referencias: Enrique Dussel, Adolfo Colombres, Walter Mignolo, Vilem Flusser, George DidiHuberman, Byung Chul Han, Mirciade Eliade, entre outros.


Créditos: Grifone Studio


JUAN GRIFONE

TRIP ROLL coletivo artistico Viagem por diferentes estados do Brasil desde Córdoba, Argentina até Salvador. Sem dinheiro, sem relogios, sem celulares.

NOTA: As datas podem da publicação e dos escritos pode ser diferente, já que era colocado na internet quando se podia.



JUAN PABLO GRIFONE

Camuflagem - o neutro

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS ESCOLA GUIGNARD – LICENCIATURA EM ARTES PLÁSTICAS Belo Horizonte MG 2018


JUAN PABLO GRIFONE

Camuflagem - o neutro Memorial de processo de criação apresentado ao Curso de Artes Plásticas-Licenciatura, Habilitação em Pintura da Universidade do Estado de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de licenciado.

Orientador: Prof. Doutor Sebastião Brandão Miguel

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS ESCOLA GUIGNARD – LICENCIATURA EM ARTES PLÁSTICAS Belo Horizonte MG 2018


AGRADECIMENTOS

Quero agradecer primeiramente ao meu prof. Dr. Sebastiao Miguel...

Ao meu amore Maria Vasconcellos e Miguel meu filho, que são os ventos que navegam a minha barca...

Aos meus companheiros de sala que com eles entendi que arte inspira arte...


ÍNDICE

RESUMO ........................................................................................................................ 5 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 6 PERCUSSO NA PINTURA NA ESCOLA GUIGNARD ................................................. 10 A PINTURA COMERCIAL ............................................................................................ 16 OS MATERIAIS ............................................................................................................ 18 TÉCNICA ...................................................................................................................... 21 ESTADO DE ARTE....................................................................................................... 23 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 25 ANEXOS ....................................................................................................................... 26 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 32


RESUMO

O texto a seguir apresenta o meu memorial de percurso no campo das artes abordando desde o momento da minha decisão em cursar a Faculdade de Artes de Córdoba Argentina, aos meus dias como aluno da Escola Guignard e minha escolha pela habilitação em Pintura. Discorro sobre minha pesquisa com materiais diversos, a evolução do processo técnico e os artistas que me fornecem referencias. Nas aulas com o Professor Sebastião Miguel desenvolvi os trabalhos intitulados: TORSO BELVEDERE, O LUXO É VULGARIDADE, PATTERNS, CAMUFLAGEM e CAMUFLAGEM:O NEUTRO e no momento de orientação pude refletir sobre meu processo de criação, sua gênese e percurso.

Palavras-chave: Processo de criação. Técnica Mista. Migração.

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INTRODUÇÃO

Lembro-me de estar no campus da Faculdade de Engenharia (UTN), pensando em meus próximos três anos (que me faltavam para ser Engenheiro de Sistemas), estava pronto para entrar em uma sala cheia de equações, probabilidade, os limites racionais quando chegou na minha cabeça o pensamento que mudaria o rumo de minha vida a partir daquele momento. Porque eu vou terminar uma carreira (Engenharia de Sistemas) na qual o objetivo final é resolver problemas, quando soluções não existem? Eu queria criar problemas. Naquela época, eu disse adeus a essas construções carnívoras para entrar em um mundo alternativo que, naquele momento, não conhecia: a Faculdade de Artes de Córdoba.

Aprendi a desenhar observando a realidade, a primeira vez foi um retrato da minha família não muito bem construído, mas 100% original. Com a influência do meu irmão (que desenhava muito bem) consegui ganhar alguma habilidade. Por outro lado, a carreira de Engenharia de Sistemas havia sido pelo interesse dos meus pais desde a infância, quando eles mudaram-me de escolas diferentes oito vezes por eu ser "inapropriado", ter um comportamento "mal adaptado". A balança estava desequilibrada, a Engenharia de Sistemas caiu por terra e a Faculdade de Artes parecia a única saída possível para uma mudança de cenário.

O curso foi mágico, novas técnicas que eu não conhecia surgiram e pessoas completamente diferentes a que eu estava acostumado. Lembro-me muito bem, o me primeira aula de aquarela em sala de aula, quando foi introduzido em nossas cabecinhas a ideia de Tao, Yin/Yang do equilíbrio e os paralelos que esta filosofia tinha com a aquarela. A convivência com outras pessoas interessadas em artes foi fantástica. Como minha casa era em outra cidade (40 km), normalmente durante todo o dia eu estava na faculdade, que me permitiu saber sobre museus ou pintar algumas paredes na rua.

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Foto da 1era Exposição na Universidade Nacional de Córdoba, 2010

Nesses primeiros anos de faculdade, aprendi muita história da arte, aprendi a não ter medo da pintura, aprendi a esculpir, aprendi a conviver com outras pessoas, aprendi a amar, a desejar, a chorar, a fumar, a beber e a não dormir.

Assim, com a pele efervescente com o que eu estava aprendendo na PINTURA I, a importância do Atelier, e a importância das diferentes realidades de cada um se confabulando para criar outro ser, a 1ª exposição de pintura na Universidade Nacional de Córdoba, na Argentina se gestou.

Assim foi entre amigos criamos um Coletivo de instalações: Rodrigo Paz, Nicolás Castillo Villada, eu e as vezes com a participação de Aldo Scagliarini.

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“Juntabamos um monte de lixo e o pintávamos” BITACORA, ano 2010

Instalamos uma série de robôs feitos de televisões antigas, computadores, terra, plantas, queríamos ser uma planta, queríamos viver nesse ritmo, mas o robô de computador não permitia.

Aos 26 anos, eu tinha um pequeno ateliê em um apartamento, com muitas pinturas, mas ainda faltava alguma coisa. Se você falar com um argentino, com certeza, ele dirá que já esteve viajando e/ou que está planejando uma viagem. E assim foi com todos os meus amigos, eles estavam indo em uma viagem de mochileiros pela América Latina ou Europa, eu senti como se estivesse ficando preso. Foi assim que um dia, entre cervejas e porro1 (como qualquer bom encontro), decidimos fazer uma viagem pela América Latina fazendo murais. Nós éramos quatro amigos e achamos que seria uma boa ideia ter algum registro da viagem para escrever, colocar fotos e gravar um rádio (?). Mas precisávamos de um nome. Assim, surgiu a ideia do TRIP ROLL, seria uma rádio de viajantes e um blog que registraria todas as aventuras desse grupo. Nos primeiros três dias de viagem a pessoa que seria nossa locutora de rádio online não queria continuar a viagem talvez porque éramos fãs do caos, mais anarquistas: Deitado nas areias da conformidade, um dia seu calor começou a nos atormentar, decidimos nos exilar de morrer cozidos. Pare de observar os eventos pela janela para ver o alvorecer dos augúrios. Estamos indo para uma viagem "não-retornável" das garras do inferno moderno. 2

Depois de passar por vários estados do Rio Grande do Sul pedalando na bicicleta. Em outubro de 2013, havíamos chegado a Curitiba, também tínhamos um espaço para nos acomodar. O dono do estabelecimento (BACKPACKERS) me permitiu fazer uma escultura em troca de hospedagem. "A flor" era composta de vários tipos de sucata (folhas de zinco, cadeiras, cabos de metal) que foram desmontados e logo montados no chão.

1 De acordo com o dicionário online da Real Academia Espanhola, porro é um cigarro, marijuana ou haxixe misturado com tabaco. Acesso http://dle.rae.es/?id=TiRpTAC|TiSoRZJ|TiVcija|TiXVxcf em 31/10/2018 as 13:14. 2 5 DE MARZO de 2013. Disponível em: <http://triproll.blogspot.com/2013/03/martes-5-de-marzo-de- 2013.html?view=sidebar>. Acesso em: 17 agosto 2018.

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LA FLOR, Instalação, Curitiba, 2013

Quando conheci um anexo da Faculdade de Letras de Curitiba, mais uma vez senti o cheiro da escola matinal. Tive oportunidade de trabalhar alguns dias na faculdade, mas continuei a viagem.

Em 2016 me matriculei na Escola Guignard - UEMG–com aproveitamento das disciplinas que trouxe da Argentina dentro do currículo da escola onde frequentei. Finalmente, retornei à academia como um camuflado, como um infiltrado.

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PERCUSSO NA PINTURA NA ESCOLA GUIGNARD

Não queria fazer arte figurativa, na época (2016) a pintura era abstrata e alguns cortes já estavam permeando. Assim em Processos Expressivos I (disciplina do primeiro período) o suporte era papelão, a pintura era no chão e usava ferramentas como o estilete.

Nos primeiros momentos, encontrei-me com um material problemático para tornar matéria. Queria cavar em caixas (usadas, achadas), usei um estilete para cortar e lentamente estava rasgando a pele de papel. Com o passar das horas, contornos, formas foram formadas, todo o material foi apreciado, por dentro e por fora.

No ano de 2017 nas salas de aula do Prof. Renato Madureira essas composições gráficas aparecem porque as caixas (que costumava apoiar) vieram com marcas e as marcas comerciais vieram nas caixas, então foi muito fácil misturar esses elementos para criar uma composição harmoniosa.

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Juan GRIFONE,Sem título, Técnica Mista, 130cm x 40cm, Belo Horizonte, 2016

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Juan GRIFONE, Estudo de material 01, esmalte queimado, lápis, carimbo de placa mãe sobre papelão, 30cm x 50cm, 2017

Neste momento meu lapso foi porque eu estava pensando binário. Isso significava que a tinta e o suporte eram partes diferentes. Agora não penso mais nisso. Então, eu pintava com muita matéria, colocava muito verniz, usava muito carvão. Lembro-me de ver Ed Paschke3, aquela pintura ("Red Boxer") e pensei na figura e no fundo. Esse eterno conflito, batalha inquebrável, romance rigoroso. O mesmo pensamento duas coisas opostas, o binário4. Por que não colocar uma realidade paralela ou várias? Como escapar do binário?

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Edward Francis Paschke é um pintor americano de ascendência polonesa. Seu interesse de infância em animação e desenhos animados, bem como a criatividade de seu pai na escultura e construção de madeira, o levou a uma carreira na arte. Acesso https://en.wikipedia.org/wiki/Ed_Paschke em 31/10/2018 ás 13:21. 4 Nota Do Autor (N. do A.): bem e mal, energia e matéria, homem e mulher

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Ed Paschke, RED BOXER, Oil on linen, 50 cm X 60 cm.,2004

Lembro-me das salas de aula de História da Arte com Alexandre, falando sobre Albert Eckout (c.1610-1665), lembrei-me das salas de aula de Curadoria em Arte contemporânea e lembrei-me de uma longa palestra de Jeff Koons. Até que comecei a escrever um projeto curatorial que se chamava: Onde se esconder da arte contemporânea? Na verdade, a pintura pode formar um espaço.

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Então, pensei no meu projeto, sobrepor partes, cortei justapostos na Pintura II com Sebastião Miguel, aparecem essas colagens digitais, uma mistura de torsos, talvez objetos de conforto. Essas imagens redundantes parecem ser reinstaladas como novas tentativas. Em esses momentos trabalhava com Massa Corrida com a qual preparava o suporte, cimento, cola, látex, tingir o tecido. Eu consegui fazer vários cavaletes (chassis) de várias pinturas. O líquido aparece de novo, essa visão da pintura de Ed Paschke ainda estava na minha cabeça. Por que os padrões?

Juan Grifone, Torso Belvedere, 30x70cm, 2017, Técnica Mista e Collage.

A primeira pintura se chama “O torso Belvedere”, em ela aparece esta obra clássica quase fantasmagórica se desfazendo sobre um sofá retro. A primeira premissa que tinha descoberto das minhas pinturas ate este momento era a acumulação, desde que cheguei ao Brasil fiquei surpreso pelas aglomerações: de pessoas, de bens; ao qual o brasileiro estava plenamente acostumado e normalizado. 5

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Escritos para a matéria Pintura II na Escola Guignard: TORSO OBJETO, 2017

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A experimentação dos primeiros dias na faculdade começou com colagens. Nas primeiras imagens eu colocava pedaços de papel de jornal, e pintava sobre ele, cortava as caixas com tons terra: verde não saturado. Na época, eu era bolsista "PROEX" da UEMG. Isso me permitiu ter a oportunidade de atuar na área de Ensino de Arte na Escola Municipal Filinha Gamma, para a COPASA. Foram escritórios trabalhados, com dois meses de duração e destinados a crianças de 8 a 15 anos. Foram pequenas doses de Arte Educação, visando a preservação do meio ambiente, onde trabalhamos temas de arte contemporânea como INSTALAÇÃO, COLAGEM, VÍDEO.

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A PINTURA COMERCIAL

Quatro amigos argentinos, quatro bicicletas e um sonho em comum: atravessar o continente latino-americano sobrevivendo de arte, de música e de pedaladas. Assim nasceu o projeto Trip&Roll, que caiu na estrada há cerca de quatro meses com destino incerto. Para sobreviver, Juan, Nícolas, Gastón e Rodrigo trocam um teto, comida e demais itens essenciais – como garrafas de vinho Malbec, por exemplo – por pinturas, esculturas ou apresentações musicais que são capazes de produzir.6 .

Depois de um tempo sabíamos que a pintura lentamente seria valorizada, mas a primeira grande obra não era pintura, mas um mosaico. Um animal de 2 x 3 metros, com uma quantidade aproximada de 5000 peças cortadas de diferentes telhas. Foi uma das primeiras obras vendidas, com um comprador exigente, mas gentil. Isso permitiu que vivêssemos onde produzíamos.

Com a chegada dos clientes que queriam pagar pelos nossos trabalhos, começamos a investir no projeto e compramos computadores. Os próximos trabalhos seriam trabalhados no PC, para que se pudesse misturar e justapor imagens, modificar as composições rapidamente; foi uma ferramenta que deu velocidade e, claro, a velocidade é lucro dentro da máquina capitalista.

Na pintura, quando se pensava que uma obra indicava para cada espaço escolhido pelo cliente, a peça (de arte) era adaptada a diferentes superfícies como o revestimento. Algumas pitadas das instalações do passado apareceram.

Na Argentina, havia feito algumas performances de pintura ao vivo, então pensei em pintar como um registro da ação. Eu queria fazer uma pintura com tudo que eu tinha aprendido que era bem visto (estética) e eu tinha lido um livro do Kitsch. É assim que os primeiros trabalhos aparecem em suportes pictóricos como telas ou madeira. Em meus escritos desde o mesmo ano (2014) a ideia de ornamentação aparece. Eu havia lido o livro O Espiritual na Arte de Kandinsky, assim ele fala da força ornamental: 6

Acesso https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/ir-e-vir-de-bike/argentinos-fazem-arte-enquanto-pedalam-pela-america-latina/ 18/08/2018 as 22:53.

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em


Pero aun admitiendo que no ha existido otra fuente que la naturaleza en los mejores ornamentos, las formas y colores naturales no han sido utilizados de un modo puramente externo sino más bien como símbolos que con el tiempo adquieren un valor casi jeroglífico, haciéndose lentamente tan incomprensibles lo que hoy no sabemos descifrar su valor interno […] 7 (KANDINSKY,1911, p8990)

O grupo (o coletivo) foi desmembrado e com a minha esposa decidimos colocar um stand nas feiras de artesanato, não foi fácil vender, mas sempre fizemos bons contatos, raramente investíamos e o dinheiro não voltava. Decidimos criar uma serie esteticamente comercial e fortemente contemporânea que falava dos temas que eram de nosso interesse. Então nós tivemos uma nova série de pinturas. A LOVE RETRO. A partir dessa materialidade que a múltipla distribuição do mosaico aceita para criar uma obra. O artista entra no desafio da superposição e nova formulação de realidades com a série “Love Retrô”. Partindo do conceito de empoderamento feminino, aparecem imagens recorrentes da luta por igualdade de gênero. Pensando as estruturas da imagem feminina como retrato. E reinterpretando-as adicionando um toque de ironia. Uma enfermeira surpreendida, uma atriz de filmes românticos, uma escritora de livros. Estas pessoas que tem a potencialidade de ser, elas são mulheres sem corpo, são sublimes identidades paradoxais de gênero. Os clássicos ícones já não são suficientes para enfrentar a vida contemporânea; será que ícone está morto? Será que a hegemonia caucásica masculina terminou? Sobrepondo às obras já concebidas e em exposição, o artista, buscando constantemente a conexão do real e do abstrato, enquanto realidades sobrepostas CURADORIA LOVE RETRO, Nunes Alcantara, 2017

Neste texto de Nunes Alcantara, para a exposição, esta questão aparece novamente no sublime da identidade e na abstração / realidade.

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Mas mesmo admitindo que não houve outra fonte além da natureza nos melhores ornamentos, as formas e cores naturais não foram usadas de um modo puramente externo, mas como símbolos que ao longo do tempo adquirem um valor quase hieroglífico, tornando-se lentamente incompreensíveis. . O que hoje não sabemos como decifrar seu valor interno [...] (KANDINSKY, 1911, p89-90)

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OS MATERIAIS

Quando entrei na Escola Guignard-UEMG, já usava tinta acrílica, em uma variedade que é para piso. Na Bahia, consegui experimentar várias tintas diferentes em tela, porque trabalhei para um cliente que recebeu grandes quantidades de óleo, acrílico, látex, gesso. Mas o que realmente interessa eram as paredes, assim levei essa tinta para o tecido. A tinta acrílica para piso8, deixava as superfícies mais ásperas, mas aderia como um simbionte, e o melhor era que secava rápido (mais rápido que o acrílico profissional).

Juan GRIFONE, Sem-título, vidro, objeto queimado, cimento branco, esmalte, giz, massa, látex, esmalte queimado, e carvão sobre papelão, 20cm x 30cm, 2017

8 Resina à base de dispersão aquosa de copolímero estireno acrílico, pigmentos isentos de metais pesados, cargas minerais inertes, hidrocarbonetos alifáticos, glicóis e tensoativosetoxilados e carboxilados.

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Neste mesmo ano (2017) experimentei pigmentos naturais, misturas do tipo: pigmento + tinta acrílica, pigmento + óleo de linhaça, pigmento + cola, pigmento + cimento, pigmento + enduido (massa corrida). Nestes experimentos, a melhor maneira de obter uma boa cor de alto contraste foi com o óleo de linho. Mas não obtive a saturação que precisava, que só encontraria em corantes industriais.

No trabalho Torso Belvedere utilizei tinta para piso, que cria uma superfície suficientemente porosa para o lápis pastel criar pequenos pontos como crachis 9 técnica que também aparece neste quadro. Os fundos com figuras geométricas em cores planas são de tonalidades contíguas, com um começo de tonalidade em degradê. Neste percurso me reencontro com o suporte, fazendo o chassi 10 , todas as obras no momento as faço de um modo caseiro

Antes os suportes eram materiais que recolhia ou deixados à proteção do tempo. Isso permitiu que a aplicação de tinta no suporte fosse sem uma base. Misteriosamente esta fórmula funciona, ao colocar o esmalte para cobrir e arrematar no lado oposto do Eucatex aparece uma superfície porosa. A limpeza do pincel geralmente é feita nesses poros abertos.

Para formar os gradientes que fazem parte da composição tonal geralmente se deixa a tinta (acrílico ou esmalte) sobre o suporte com escovas ou espátulas, assim, o desprendimento da tinta acontece através da porosidade. Portanto, este jogo entre tinta e suporte permite criar uma união.

Por outro lado, na pintura se trabalha com paletas descartáveis, já que uma vez que este tipo de tintas industriais seca não permite a sua reutilização ao contrário da tinta a óleo.

9 “As impressões de Lautrec frequentemente exibem efeitos técnicos deslumbrantes, já que as novas inovações em litografia durante o século XIX permitiram impressões maiores, cores mais variadas e texturas diferenciadas. O artista freqüentemente usou a técnica de tinta respingada conhecida como crachis”. Acesso https://www.metmuseum.org/toah/hd/laut/hd_laut.htm em 30/10/2018 ás 23:22 10 Chassi (do francês chassis) é uma estrutura de suporte para outros componentes que pode ser feita de aço, alumínio, ou qualquer outro material rígido. Acesso https://pt.wikipedia.org/wiki/Chassi em 31/10/2018 ás 14:09.

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Na área da diluição se trabalha com três recipientes com água, o primeiro servirá para cores claras, o segundo para cores escuras e o terceiro para a mudança entre cores saturadas.

O prazer de estar no meu ateliê em minha casa me permitiu misturar alguns itens do dia a dia, como detergente para lava-louças, cera, para funcionar como diluente. No caso de detergente para louça, comporta-se como óleo de linhaça para pintura a óleo, criando esmaltes e esticando a pincelada. Graças a este mecanismo, pequenos detalhes inconclusos na pintura podem ser facilmente resolvidos.

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TÉCNICA

Na maioria das pinturas, começo com uma ideia desenhada ou montada como uma colagem no computador. Muitas vezes eu tento desgastar a imagem por métodos digitais fazendo três, quatro ou cinco projetos no Photoshop. Depois um será escolhido para fazer. A imagem é projetada rapidamente no suporte. Neste momento, é aplicada uma camada de tinta ou lápis que demarca onde as formas e composição serão organizadas. [...] compreendemos que a história se faz por imagens, mas que essas imagens estão, de fato, carregadas de história. Ela é uma construção discursiva que obedece a duas condições de possibilidade: a repetição e o corte. Enquanto ativação de um procedimento de montagem, toda imagem é um retorno, mas ela já não assinala o retorno do idêntico. Aquilo que retorna na imagem é a possibilidade do passado. Nesse sentido [...], visamos ultrapassar o círculo da subjetividade, potencializando, ao mesmo tempo, a receptividade, que mostra de que modo as formas do passado podem ainda ser novamente equacionadas como “problema”. O inacabamento de uns remete-nos às outras, mas a impotência delas carrega-se de renovadas forças de sentido. São essas as “Potências da imagem” (ANTELO, 2004, p. 9-12)

O estêncil possibilita a reprodutibilidade já que começa a partir de um módulo da mandala inicial: isso significa, que se desenharmos uma linha reta no centro da imagem e perpendicularmente cortarmos o centro da primeira linha, nossa figura será dividida em quatro módulos. Este módulo pode ser replicado, espelhado,

invertido

horizontalmente

ou

verticalmente. A colagem começa a partir da base do decoupage11,

Exemplo de módulos, Juan Grifone, 2018

que é uma técnica ornamental de revestimento em papel ou tecido. O Claro- Escuro aparece como uma técnica predominante para resolver temas com figuras realistas. Estes serão organizados de modo a criar uma conversa com as partes adjacentes e não figurativas. Essa conversa pode ser traduzida em um declínio no qual Georges Mathieu declara, como a dissolução das formas: 11

N. do A.: Decoupage é a arte de cobrir uma superfície com recortes de jornal, revista, papel, dando a aparência de uma delicada incrustação.

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Em todos os períodos, o declínio da civilização resultou em três fases: esclerose, inchaço e, finalmente, a dissolução das formas. Do ponto de vista existente, a mesma coisa acontece com a arte, e é a sua causa que, numa embriologia de signos, depois do estágio de encarnação de qualquer estilo, [...] se passa pelo estágio do academicismo, do barroco e do de destruição, antes de voltar ao caos, que seria o caos inicial [..] (MATHIEU, 1973, p.91)

Desta maneira peças de massa corrida e argamassa aparecem como elementos dotados da matéria. Em "Camuflagem 01" a madeira é coberta irregularmente por argamassa AC I, o que permite a valorização do suporte. Em "Camuflagem: O neutro", um imponente bloco de massa branca alivia a camada de tinta feita em esmalte industrial sobre madeira. Também grandes espaços planos coloridos são usados como elementos autoconclusivos.

A primeira camada de tinta é normalmente trabalhada com tinta para pavimentos devido à reduzida opacidade deste material. A segunda camada é trabalhada em esmalte sintético para criar um conjunto de reflexões. Agora a inserção do terceiro material será novamente opaca para estimular a retina do espectador. O suporte é montado especificamente para cada peça e outras vezes os suportes são achados na rua, meu interesse é na busca pelo portátil e robusto. Ao mesmo tempo, posso garantir um tecido produzido no momento em que preciso e da forma que desejo. Na maioria das vezes este suporte já tem uma história que pode entrever-se nos vestígios, em mínimos detalhes que deixo aparecer. Muitas vezes é preciso utilizar um suporte mas rígido pela pressão das marcas ou pela necessidade de fazer cortes ou utilizar como apoio.

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ESTADO DE ARTE12

No início, nos corredores da faculdade, encontro a referência de Antoni Tapies. Comecei a procurar mais informações sobre ele, a abundância de materiais e o sustento filosófico do qual ele mesmo fala no documentário TE de TAPIES de 2009, arrepia a pele. Por outro lado, Jasper Johns com sua encáustica e formas da sociedade da acumulação, pareceume um reflexo sincero da hiper estimulação do dia a dia. Então, Martin Kippenberger, parecia o mais próximo do artista não ícone, já que Martin trabalhava nas ruas fazendo murais em restaurantes e com uma produção prolífica, ele levantou a bandeira do produtor e pintor artísticos Em "Luxo é vulgaridade" esta referência é muito clara.

KIPPENBERGER, Self-Portrait, 1988.

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É o mapeamento (uma pesquisa) que possibilitará o conhecimento e/ou reconhecimento de estudos que estão sendo, ou já foram realizados no Brasil ( em alguns casos no mundo) com temáticas, ou linhas de pesquisa , iguais ou parecidas a que você está estudando. Geralmente, a pesquisa é realizada apenas dentro de sua área de estudo, pois além de reconhecer o que está , ou foi investigado, você poderá usar posteriormente os materiais encontrados para sua revisão de literatura. Acesso https://www.nucleodoconhecimento.com.br/blog/videos/o-que-e-o-estado-da-arte em 31/10/2018 ás 14:06.

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No momento em que conheci o trabalho de Athos Bulcao, meu cérebro foi atualizado com a informação modular que proporcionou tal feito estético. Com sucesso, na década de 50, revolucionou a modularidade do revestimento de azulejos.

Por outro lado, David Hockney, com seu documentário O Conhecimento Secreto, me fez entender a falta de limites de trabalhar com o projetor. Ao mesmo tempo eu entendi que é uma maneira de ter uma prévia do que será implantado no tecido.

No ano de 2017 eu encontrei Dave Salle, graças ao prof. Sebastião Miguel, eu entendi um pouco sobre como os artistas propuseram nosso novo multiculturalismo e talvez um modo de entender a pintura pós-moderna. Bem como este coquetel entre abstrato e real.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pintura foi desde o início levando-me a diferentes momentos e reflexões. No começo eu tratava a pintura como um objeto de catarse, mas com o passar do tempo eu estava aprendendo a entender alguns dos diferentes momentos pelos quais ela acontece. Então eu entendi que o instantâneo pode ser trabalhado na pintura, mas sempre será necessário um tempo de secagem. Assim como na vida precisamos de tempos para entender e aprender:

Esses anos de trabalho em pintura me deixaram pensando que se pudéssemos criar a maior pintura do mundo, nosso maior material seria o tempo. A pintura atua desde as partes automática, subconsciente, intuitiva e instantânea até as partes mais friamente calculadas. Como nós mesmos devemos fazer, a pintura é um mundo gigante que pode ser redescoberto todos os dias. A pintura é coletiva, é uma herança mundial, cada fragmento que compõe tem um pouco de todos nós ou nada.

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ANEXOS

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Juan Grifone, Patterns, Esmalte sobre Eucatex, 30 cm X 60 cm.,2018

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Juan Grifone, Camuflagem Sem título, Técnica Mista sobre Eucatex, 130 cm X 60 cm.,2018

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Juan Grifone, Sem título, Técnica Mista, 50 cm X 60 cm.,2018

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Juan Grifone, Camuflagem: O neutro, Técnica Mista, 90 cm X 130 cm.,2018

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Juan Grifone, Camuflagem, Técnica Mista, 90 cm X 130 cm.,2018

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REFERÊNCIAS

ANTELO, Raul. Potências da imagem. Chapecó: Argos, 2004. HOCKNEY, David. O conhecimento secreto: redescobrindo as técnicas perdidas dos grandes mestres. São Paulo: Cosac & Naify, 2001. METROPOLITAN MUSEUM OF ART, “Henri Toulouse-Lautrec (1864-1901)”, 2010. Disponível em https://www.metmuseum.org/toah/hd/laut/hd_laut.htm . Acesso em: 30/10/2018. NASCIMENTO, Alexandre Costa. "Argentinos fazem arte enquanto pedalam pela América Latina". Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/ir-e-vir-de-bike/argentinosfazem-arte-enquanto-pedalam-pela-america-latina/ . Acesso em 31/10/2018. REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, “Porro”, Disponível http://dle.rae.es/?id=TiRpTAC|TiSoRZJ|TiVcija|TiXVxcf . Acesso em: 31/10/2018.

em

REVISTA CIENTIFICA, “O que é o estado da arte?”. Disponível em https://www.nucleodoconhecimento.com.br/blog/videos/o-que-e-o-estado-da-arte . Acesso em 31/10/2018. THEODOR W. ADORNO, PIERRE FRANCASTEL y otros: “El arte en la sociedad industrial” (traducción de María Teresa La Valle, 1973). WASSILY KANDINSKY: “De lo espiritual en el arte” (traducción: Elizabeth Palma, 5ta Ed.: 1989) WIKIPEDIA, “Chassi”. Disponível em https://en.wikipedia.org/wiki/Chassi. Acesso em: 31/10/2018. WIKIPEDIA, “Ed Paschke”. Disponível em https://en.wikipedia.org/wiki/Ed_Paschke. Acesso em: 31/10/2018.

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Metiendo colores en Florianópolis












Fotografia: Rodrigo Paz Texto: Gáston Ovi


Bicicletaria Cultura- Curitiba






Banheiros del Camping Ecológico de Itapóan. Stella Maris. Actualmente demolido.


Banheiros del Camping Ecológico de Itapóan. Stella Maris. Actualmente demolido.



"No entiendo nada de esta tecnología espacial"








JUAN PABLO GRIFONE

Camuflagem - o neutro

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS ESCOLA GUIGNARD – LICENCIATURA EM ARTES PLÁSTICAS Belo Horizonte MG 2018


JUAN PABLO GRIFONE

Camuflagem - o neutro Memorial de processo de criação apresentado ao Curso de Artes Plásticas-Licenciatura, Habilitação em Pintura da Universidade do Estado de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de licenciado.

Orientador: Prof. Doutor Sebastião Brandão Miguel

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS ESCOLA GUIGNARD – LICENCIATURA EM ARTES PLÁSTICAS Belo Horizonte MG 2018


AGRADECIMENTOS

Quero agradecer primeiramente ao meu prof. Dr. Sebastiao Miguel...

Ao meu amore Maria Vasconcellos e Miguel meu filho, que são os ventos que navegam a minha barca...

Aos meus companheiros de sala que com eles entendi que arte inspira arte...


ÍNDICE

RESUMO ........................................................................................................................ 5 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 6 PERCUSSO NA PINTURA NA ESCOLA GUIGNARD ................................................. 10 A PINTURA COMERCIAL ............................................................................................ 16 OS MATERIAIS ............................................................................................................ 18 TÉCNICA ...................................................................................................................... 21 ESTADO DE ARTE....................................................................................................... 23 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 25 ANEXOS ....................................................................................................................... 26 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 32


RESUMO

O texto a seguir apresenta o meu memorial de percurso no campo das artes abordando desde o momento da minha decisão em cursar a Faculdade de Artes de Córdoba Argentina, aos meus dias como aluno da Escola Guignard e minha escolha pela habilitação em Pintura. Discorro sobre minha pesquisa com materiais diversos, a evolução do processo técnico e os artistas que me fornecem referencias. Nas aulas com o Professor Sebastião Miguel desenvolvi os trabalhos intitulados: TORSO BELVEDERE, O LUXO É VULGARIDADE, PATTERNS, CAMUFLAGEM e CAMUFLAGEM:O NEUTRO e no momento de orientação pude refletir sobre meu processo de criação, sua gênese e percurso.

Palavras-chave: Processo de criação. Técnica Mista. Migração.

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INTRODUÇÃO

Lembro-me de estar no campus da Faculdade de Engenharia (UTN), pensando em meus próximos três anos (que me faltavam para ser Engenheiro de Sistemas), estava pronto para entrar em uma sala cheia de equações, probabilidade, os limites racionais quando chegou na minha cabeça o pensamento que mudaria o rumo de minha vida a partir daquele momento. Porque eu vou terminar uma carreira (Engenharia de Sistemas) na qual o objetivo final é resolver problemas, quando soluções não existem? Eu queria criar problemas. Naquela época, eu disse adeus a essas construções carnívoras para entrar em um mundo alternativo que, naquele momento, não conhecia: a Faculdade de Artes de Córdoba.

Aprendi a desenhar observando a realidade, a primeira vez foi um retrato da minha família não muito bem construído, mas 100% original. Com a influência do meu irmão (que desenhava muito bem) consegui ganhar alguma habilidade. Por outro lado, a carreira de Engenharia de Sistemas havia sido pelo interesse dos meus pais desde a infância, quando eles mudaram-me de escolas diferentes oito vezes por eu ser "inapropriado", ter um comportamento "mal adaptado". A balança estava desequilibrada, a Engenharia de Sistemas caiu por terra e a Faculdade de Artes parecia a única saída possível para uma mudança de cenário.

O curso foi mágico, novas técnicas que eu não conhecia surgiram e pessoas completamente diferentes a que eu estava acostumado. Lembro-me muito bem, o me primeira aula de aquarela em sala de aula, quando foi introduzido em nossas cabecinhas a ideia de Tao, Yin/Yang do equilíbrio e os paralelos que esta filosofia tinha com a aquarela. A convivência com outras pessoas interessadas em artes foi fantástica. Como minha casa era em outra cidade (40 km), normalmente durante todo o dia eu estava na faculdade, que me permitiu saber sobre museus ou pintar algumas paredes na rua.

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Foto da 1era Exposição na Universidade Nacional de Córdoba, 2010

Nesses primeiros anos de faculdade, aprendi muita história da arte, aprendi a não ter medo da pintura, aprendi a esculpir, aprendi a conviver com outras pessoas, aprendi a amar, a desejar, a chorar, a fumar, a beber e a não dormir.

Assim, com a pele efervescente com o que eu estava aprendendo na PINTURA I, a importância do Atelier, e a importância das diferentes realidades de cada um se confabulando para criar outro ser, a 1ª exposição de pintura na Universidade Nacional de Córdoba, na Argentina se gestou.

Assim foi entre amigos criamos um Coletivo de instalações: Rodrigo Paz, Nicolás Castillo Villada, eu e as vezes com a participação de Aldo Scagliarini.

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“Juntabamos um monte de lixo e o pintávamos” BITACORA, ano 2010

Instalamos uma série de robôs feitos de televisões antigas, computadores, terra, plantas, queríamos ser uma planta, queríamos viver nesse ritmo, mas o robô de computador não permitia.

Aos 26 anos, eu tinha um pequeno ateliê em um apartamento, com muitas pinturas, mas ainda faltava alguma coisa. Se você falar com um argentino, com certeza, ele dirá que já esteve viajando e/ou que está planejando uma viagem. E assim foi com todos os meus amigos, eles estavam indo em uma viagem de mochileiros pela América Latina ou Europa, eu senti como se estivesse ficando preso. Foi assim que um dia, entre cervejas e porro1 (como qualquer bom encontro), decidimos fazer uma viagem pela América Latina fazendo murais. Nós éramos quatro amigos e achamos que seria uma boa ideia ter algum registro da viagem para escrever, colocar fotos e gravar um rádio (?). Mas precisávamos de um nome. Assim, surgiu a ideia do TRIP ROLL, seria uma rádio de viajantes e um blog que registraria todas as aventuras desse grupo. Nos primeiros três dias de viagem a pessoa que seria nossa locutora de rádio online não queria continuar a viagem talvez porque éramos fãs do caos, mais anarquistas: Deitado nas areias da conformidade, um dia seu calor começou a nos atormentar, decidimos nos exilar de morrer cozidos. Pare de observar os eventos pela janela para ver o alvorecer dos augúrios. Estamos indo para uma viagem "não-retornável" das garras do inferno moderno. 2

Depois de passar por vários estados do Rio Grande do Sul pedalando na bicicleta. Em outubro de 2013, havíamos chegado a Curitiba, também tínhamos um espaço para nos acomodar. O dono do estabelecimento (BACKPACKERS) me permitiu fazer uma escultura em troca de hospedagem. "A flor" era composta de vários tipos de sucata (folhas de zinco, cadeiras, cabos de metal) que foram desmontados e logo montados no chão.

1 De acordo com o dicionário online da Real Academia Espanhola, porro é um cigarro, marijuana ou haxixe misturado com tabaco. Acesso http://dle.rae.es/?id=TiRpTAC|TiSoRZJ|TiVcija|TiXVxcf em 31/10/2018 as 13:14. 2 5 DE MARZO de 2013. Disponível em: <http://triproll.blogspot.com/2013/03/martes-5-de-marzo-de- 2013.html?view=sidebar>. Acesso em: 17 agosto 2018.

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LA FLOR, Instalação, Curitiba, 2013

Quando conheci um anexo da Faculdade de Letras de Curitiba, mais uma vez senti o cheiro da escola matinal. Tive oportunidade de trabalhar alguns dias na faculdade, mas continuei a viagem.

Em 2016 me matriculei na Escola Guignard - UEMG–com aproveitamento das disciplinas que trouxe da Argentina dentro do currículo da escola onde frequentei. Finalmente, retornei à academia como um camuflado, como um infiltrado.

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PERCUSSO NA PINTURA NA ESCOLA GUIGNARD

Não queria fazer arte figurativa, na época (2016) a pintura era abstrata e alguns cortes já estavam permeando. Assim em Processos Expressivos I (disciplina do primeiro período) o suporte era papelão, a pintura era no chão e usava ferramentas como o estilete.

Nos primeiros momentos, encontrei-me com um material problemático para tornar matéria. Queria cavar em caixas (usadas, achadas), usei um estilete para cortar e lentamente estava rasgando a pele de papel. Com o passar das horas, contornos, formas foram formadas, todo o material foi apreciado, por dentro e por fora.

No ano de 2017 nas salas de aula do Prof. Renato Madureira essas composições gráficas aparecem porque as caixas (que costumava apoiar) vieram com marcas e as marcas comerciais vieram nas caixas, então foi muito fácil misturar esses elementos para criar uma composição harmoniosa.

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Juan GRIFONE,Sem título, Técnica Mista, 130cm x 40cm, Belo Horizonte, 2016

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Juan GRIFONE, Estudo de material 01, esmalte queimado, lápis, carimbo de placa mãe sobre papelão, 30cm x 50cm, 2017

Neste momento meu lapso foi porque eu estava pensando binário. Isso significava que a tinta e o suporte eram partes diferentes. Agora não penso mais nisso. Então, eu pintava com muita matéria, colocava muito verniz, usava muito carvão. Lembro-me de ver Ed Paschke3, aquela pintura ("Red Boxer") e pensei na figura e no fundo. Esse eterno conflito, batalha inquebrável, romance rigoroso. O mesmo pensamento duas coisas opostas, o binário4. Por que não colocar uma realidade paralela ou várias? Como escapar do binário?

3

Edward Francis Paschke é um pintor americano de ascendência polonesa. Seu interesse de infância em animação e desenhos animados, bem como a criatividade de seu pai na escultura e construção de madeira, o levou a uma carreira na arte. Acesso https://en.wikipedia.org/wiki/Ed_Paschke em 31/10/2018 ás 13:21. 4 Nota Do Autor (N. do A.): bem e mal, energia e matéria, homem e mulher

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Ed Paschke, RED BOXER, Oil on linen, 50 cm X 60 cm.,2004

Lembro-me das salas de aula de História da Arte com Alexandre, falando sobre Albert Eckout (c.1610-1665), lembrei-me das salas de aula de Curadoria em Arte contemporânea e lembrei-me de uma longa palestra de Jeff Koons. Até que comecei a escrever um projeto curatorial que se chamava: Onde se esconder da arte contemporânea? Na verdade, a pintura pode formar um espaço.

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Então, pensei no meu projeto, sobrepor partes, cortei justapostos na Pintura II com Sebastião Miguel, aparecem essas colagens digitais, uma mistura de torsos, talvez objetos de conforto. Essas imagens redundantes parecem ser reinstaladas como novas tentativas. Em esses momentos trabalhava com Massa Corrida com a qual preparava o suporte, cimento, cola, látex, tingir o tecido. Eu consegui fazer vários cavaletes (chassis) de várias pinturas. O líquido aparece de novo, essa visão da pintura de Ed Paschke ainda estava na minha cabeça. Por que os padrões?

Juan Grifone, Torso Belvedere, 30x70cm, 2017, Técnica Mista e Collage.

A primeira pintura se chama “O torso Belvedere”, em ela aparece esta obra clássica quase fantasmagórica se desfazendo sobre um sofá retro. A primeira premissa que tinha descoberto das minhas pinturas ate este momento era a acumulação, desde que cheguei ao Brasil fiquei surpreso pelas aglomerações: de pessoas, de bens; ao qual o brasileiro estava plenamente acostumado e normalizado. 5

5

Escritos para a matéria Pintura II na Escola Guignard: TORSO OBJETO, 2017

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A experimentação dos primeiros dias na faculdade começou com colagens. Nas primeiras imagens eu colocava pedaços de papel de jornal, e pintava sobre ele, cortava as caixas com tons terra: verde não saturado. Na época, eu era bolsista "PROEX" da UEMG. Isso me permitiu ter a oportunidade de atuar na área de Ensino de Arte na Escola Municipal Filinha Gamma, para a COPASA. Foram escritórios trabalhados, com dois meses de duração e destinados a crianças de 8 a 15 anos. Foram pequenas doses de Arte Educação, visando a preservação do meio ambiente, onde trabalhamos temas de arte contemporânea como INSTALAÇÃO, COLAGEM, VÍDEO.

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A PINTURA COMERCIAL

Quatro amigos argentinos, quatro bicicletas e um sonho em comum: atravessar o continente latino-americano sobrevivendo de arte, de música e de pedaladas. Assim nasceu o projeto Trip&Roll, que caiu na estrada há cerca de quatro meses com destino incerto. Para sobreviver, Juan, Nícolas, Gastón e Rodrigo trocam um teto, comida e demais itens essenciais – como garrafas de vinho Malbec, por exemplo – por pinturas, esculturas ou apresentações musicais que são capazes de produzir.6 .

Depois de um tempo sabíamos que a pintura lentamente seria valorizada, mas a primeira grande obra não era pintura, mas um mosaico. Um animal de 2 x 3 metros, com uma quantidade aproximada de 5000 peças cortadas de diferentes telhas. Foi uma das primeiras obras vendidas, com um comprador exigente, mas gentil. Isso permitiu que vivêssemos onde produzíamos.

Com a chegada dos clientes que queriam pagar pelos nossos trabalhos, começamos a investir no projeto e compramos computadores. Os próximos trabalhos seriam trabalhados no PC, para que se pudesse misturar e justapor imagens, modificar as composições rapidamente; foi uma ferramenta que deu velocidade e, claro, a velocidade é lucro dentro da máquina capitalista.

Na pintura, quando se pensava que uma obra indicava para cada espaço escolhido pelo cliente, a peça (de arte) era adaptada a diferentes superfícies como o revestimento. Algumas pitadas das instalações do passado apareceram.

Na Argentina, havia feito algumas performances de pintura ao vivo, então pensei em pintar como um registro da ação. Eu queria fazer uma pintura com tudo que eu tinha aprendido que era bem visto (estética) e eu tinha lido um livro do Kitsch. É assim que os primeiros trabalhos aparecem em suportes pictóricos como telas ou madeira. Em meus escritos desde o mesmo ano (2014) a ideia de ornamentação aparece. Eu havia lido o livro O Espiritual na Arte de Kandinsky, assim ele fala da força ornamental: 6

Acesso https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/ir-e-vir-de-bike/argentinos-fazem-arte-enquanto-pedalam-pela-america-latina/ 18/08/2018 as 22:53.

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em


Pero aun admitiendo que no ha existido otra fuente que la naturaleza en los mejores ornamentos, las formas y colores naturales no han sido utilizados de un modo puramente externo sino más bien como símbolos que con el tiempo adquieren un valor casi jeroglífico, haciéndose lentamente tan incomprensibles lo que hoy no sabemos descifrar su valor interno […] 7 (KANDINSKY,1911, p8990)

O grupo (o coletivo) foi desmembrado e com a minha esposa decidimos colocar um stand nas feiras de artesanato, não foi fácil vender, mas sempre fizemos bons contatos, raramente investíamos e o dinheiro não voltava. Decidimos criar uma serie esteticamente comercial e fortemente contemporânea que falava dos temas que eram de nosso interesse. Então nós tivemos uma nova série de pinturas. A LOVE RETRO. A partir dessa materialidade que a múltipla distribuição do mosaico aceita para criar uma obra. O artista entra no desafio da superposição e nova formulação de realidades com a série “Love Retrô”. Partindo do conceito de empoderamento feminino, aparecem imagens recorrentes da luta por igualdade de gênero. Pensando as estruturas da imagem feminina como retrato. E reinterpretando-as adicionando um toque de ironia. Uma enfermeira surpreendida, uma atriz de filmes românticos, uma escritora de livros. Estas pessoas que tem a potencialidade de ser, elas são mulheres sem corpo, são sublimes identidades paradoxais de gênero. Os clássicos ícones já não são suficientes para enfrentar a vida contemporânea; será que ícone está morto? Será que a hegemonia caucásica masculina terminou? Sobrepondo às obras já concebidas e em exposição, o artista, buscando constantemente a conexão do real e do abstrato, enquanto realidades sobrepostas CURADORIA LOVE RETRO, Nunes Alcantara, 2017

Neste texto de Nunes Alcantara, para a exposição, esta questão aparece novamente no sublime da identidade e na abstração / realidade.

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Mas mesmo admitindo que não houve outra fonte além da natureza nos melhores ornamentos, as formas e cores naturais não foram usadas de um modo puramente externo, mas como símbolos que ao longo do tempo adquirem um valor quase hieroglífico, tornando-se lentamente incompreensíveis. . O que hoje não sabemos como decifrar seu valor interno [...] (KANDINSKY, 1911, p89-90)

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OS MATERIAIS

Quando entrei na Escola Guignard-UEMG, já usava tinta acrílica, em uma variedade que é para piso. Na Bahia, consegui experimentar várias tintas diferentes em tela, porque trabalhei para um cliente que recebeu grandes quantidades de óleo, acrílico, látex, gesso. Mas o que realmente interessa eram as paredes, assim levei essa tinta para o tecido. A tinta acrílica para piso8, deixava as superfícies mais ásperas, mas aderia como um simbionte, e o melhor era que secava rápido (mais rápido que o acrílico profissional).

Juan GRIFONE, Sem-título, vidro, objeto queimado, cimento branco, esmalte, giz, massa, látex, esmalte queimado, e carvão sobre papelão, 20cm x 30cm, 2017

8 Resina à base de dispersão aquosa de copolímero estireno acrílico, pigmentos isentos de metais pesados, cargas minerais inertes, hidrocarbonetos alifáticos, glicóis e tensoativosetoxilados e carboxilados.

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Neste mesmo ano (2017) experimentei pigmentos naturais, misturas do tipo: pigmento + tinta acrílica, pigmento + óleo de linhaça, pigmento + cola, pigmento + cimento, pigmento + enduido (massa corrida). Nestes experimentos, a melhor maneira de obter uma boa cor de alto contraste foi com o óleo de linho. Mas não obtive a saturação que precisava, que só encontraria em corantes industriais.

No trabalho Torso Belvedere utilizei tinta para piso, que cria uma superfície suficientemente porosa para o lápis pastel criar pequenos pontos como crachis 9 técnica que também aparece neste quadro. Os fundos com figuras geométricas em cores planas são de tonalidades contíguas, com um começo de tonalidade em degradê. Neste percurso me reencontro com o suporte, fazendo o chassi 10 , todas as obras no momento as faço de um modo caseiro

Antes os suportes eram materiais que recolhia ou deixados à proteção do tempo. Isso permitiu que a aplicação de tinta no suporte fosse sem uma base. Misteriosamente esta fórmula funciona, ao colocar o esmalte para cobrir e arrematar no lado oposto do Eucatex aparece uma superfície porosa. A limpeza do pincel geralmente é feita nesses poros abertos.

Para formar os gradientes que fazem parte da composição tonal geralmente se deixa a tinta (acrílico ou esmalte) sobre o suporte com escovas ou espátulas, assim, o desprendimento da tinta acontece através da porosidade. Portanto, este jogo entre tinta e suporte permite criar uma união.

Por outro lado, na pintura se trabalha com paletas descartáveis, já que uma vez que este tipo de tintas industriais seca não permite a sua reutilização ao contrário da tinta a óleo.

9 “As impressões de Lautrec frequentemente exibem efeitos técnicos deslumbrantes, já que as novas inovações em litografia durante o século XIX permitiram impressões maiores, cores mais variadas e texturas diferenciadas. O artista freqüentemente usou a técnica de tinta respingada conhecida como crachis”. Acesso https://www.metmuseum.org/toah/hd/laut/hd_laut.htm em 30/10/2018 ás 23:22 10 Chassi (do francês chassis) é uma estrutura de suporte para outros componentes que pode ser feita de aço, alumínio, ou qualquer outro material rígido. Acesso https://pt.wikipedia.org/wiki/Chassi em 31/10/2018 ás 14:09.

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Na área da diluição se trabalha com três recipientes com água, o primeiro servirá para cores claras, o segundo para cores escuras e o terceiro para a mudança entre cores saturadas.

O prazer de estar no meu ateliê em minha casa me permitiu misturar alguns itens do dia a dia, como detergente para lava-louças, cera, para funcionar como diluente. No caso de detergente para louça, comporta-se como óleo de linhaça para pintura a óleo, criando esmaltes e esticando a pincelada. Graças a este mecanismo, pequenos detalhes inconclusos na pintura podem ser facilmente resolvidos.

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TÉCNICA

Na maioria das pinturas, começo com uma ideia desenhada ou montada como uma colagem no computador. Muitas vezes eu tento desgastar a imagem por métodos digitais fazendo três, quatro ou cinco projetos no Photoshop. Depois um será escolhido para fazer. A imagem é projetada rapidamente no suporte. Neste momento, é aplicada uma camada de tinta ou lápis que demarca onde as formas e composição serão organizadas. [...] compreendemos que a história se faz por imagens, mas que essas imagens estão, de fato, carregadas de história. Ela é uma construção discursiva que obedece a duas condições de possibilidade: a repetição e o corte. Enquanto ativação de um procedimento de montagem, toda imagem é um retorno, mas ela já não assinala o retorno do idêntico. Aquilo que retorna na imagem é a possibilidade do passado. Nesse sentido [...], visamos ultrapassar o círculo da subjetividade, potencializando, ao mesmo tempo, a receptividade, que mostra de que modo as formas do passado podem ainda ser novamente equacionadas como “problema”. O inacabamento de uns remete-nos às outras, mas a impotência delas carrega-se de renovadas forças de sentido. São essas as “Potências da imagem” (ANTELO, 2004, p. 9-12)

O estêncil possibilita a reprodutibilidade já que começa a partir de um módulo da mandala inicial: isso significa, que se desenharmos uma linha reta no centro da imagem e perpendicularmente cortarmos o centro da primeira linha, nossa figura será dividida em quatro módulos. Este módulo pode ser replicado, espelhado,

invertido

horizontalmente

ou

verticalmente. A colagem começa a partir da base do decoupage11,

Exemplo de módulos, Juan Grifone, 2018

que é uma técnica ornamental de revestimento em papel ou tecido. O Claro- Escuro aparece como uma técnica predominante para resolver temas com figuras realistas. Estes serão organizados de modo a criar uma conversa com as partes adjacentes e não figurativas. Essa conversa pode ser traduzida em um declínio no qual Georges Mathieu declara, como a dissolução das formas: 11

N. do A.: Decoupage é a arte de cobrir uma superfície com recortes de jornal, revista, papel, dando a aparência de uma delicada incrustação.

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Em todos os períodos, o declínio da civilização resultou em três fases: esclerose, inchaço e, finalmente, a dissolução das formas. Do ponto de vista existente, a mesma coisa acontece com a arte, e é a sua causa que, numa embriologia de signos, depois do estágio de encarnação de qualquer estilo, [...] se passa pelo estágio do academicismo, do barroco e do de destruição, antes de voltar ao caos, que seria o caos inicial [..] (MATHIEU, 1973, p.91)

Desta maneira peças de massa corrida e argamassa aparecem como elementos dotados da matéria. Em "Camuflagem 01" a madeira é coberta irregularmente por argamassa AC I, o que permite a valorização do suporte. Em "Camuflagem: O neutro", um imponente bloco de massa branca alivia a camada de tinta feita em esmalte industrial sobre madeira. Também grandes espaços planos coloridos são usados como elementos autoconclusivos.

A primeira camada de tinta é normalmente trabalhada com tinta para pavimentos devido à reduzida opacidade deste material. A segunda camada é trabalhada em esmalte sintético para criar um conjunto de reflexões. Agora a inserção do terceiro material será novamente opaca para estimular a retina do espectador. O suporte é montado especificamente para cada peça e outras vezes os suportes são achados na rua, meu interesse é na busca pelo portátil e robusto. Ao mesmo tempo, posso garantir um tecido produzido no momento em que preciso e da forma que desejo. Na maioria das vezes este suporte já tem uma história que pode entrever-se nos vestígios, em mínimos detalhes que deixo aparecer. Muitas vezes é preciso utilizar um suporte mas rígido pela pressão das marcas ou pela necessidade de fazer cortes ou utilizar como apoio.

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ESTADO DE ARTE12

No início, nos corredores da faculdade, encontro a referência de Antoni Tapies. Comecei a procurar mais informações sobre ele, a abundância de materiais e o sustento filosófico do qual ele mesmo fala no documentário TE de TAPIES de 2009, arrepia a pele. Por outro lado, Jasper Johns com sua encáustica e formas da sociedade da acumulação, pareceume um reflexo sincero da hiper estimulação do dia a dia. Então, Martin Kippenberger, parecia o mais próximo do artista não ícone, já que Martin trabalhava nas ruas fazendo murais em restaurantes e com uma produção prolífica, ele levantou a bandeira do produtor e pintor artísticos Em "Luxo é vulgaridade" esta referência é muito clara.

KIPPENBERGER, Self-Portrait, 1988.

12

É o mapeamento (uma pesquisa) que possibilitará o conhecimento e/ou reconhecimento de estudos que estão sendo, ou já foram realizados no Brasil ( em alguns casos no mundo) com temáticas, ou linhas de pesquisa , iguais ou parecidas a que você está estudando. Geralmente, a pesquisa é realizada apenas dentro de sua área de estudo, pois além de reconhecer o que está , ou foi investigado, você poderá usar posteriormente os materiais encontrados para sua revisão de literatura. Acesso https://www.nucleodoconhecimento.com.br/blog/videos/o-que-e-o-estado-da-arte em 31/10/2018 ás 14:06.

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No momento em que conheci o trabalho de Athos Bulcao, meu cérebro foi atualizado com a informação modular que proporcionou tal feito estético. Com sucesso, na década de 50, revolucionou a modularidade do revestimento de azulejos.

Por outro lado, David Hockney, com seu documentário O Conhecimento Secreto, me fez entender a falta de limites de trabalhar com o projetor. Ao mesmo tempo eu entendi que é uma maneira de ter uma prévia do que será implantado no tecido.

No ano de 2017 eu encontrei Dave Salle, graças ao prof. Sebastião Miguel, eu entendi um pouco sobre como os artistas propuseram nosso novo multiculturalismo e talvez um modo de entender a pintura pós-moderna. Bem como este coquetel entre abstrato e real.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pintura foi desde o início levando-me a diferentes momentos e reflexões. No começo eu tratava a pintura como um objeto de catarse, mas com o passar do tempo eu estava aprendendo a entender alguns dos diferentes momentos pelos quais ela acontece. Então eu entendi que o instantâneo pode ser trabalhado na pintura, mas sempre será necessário um tempo de secagem. Assim como na vida precisamos de tempos para entender e aprender:

Esses anos de trabalho em pintura me deixaram pensando que se pudéssemos criar a maior pintura do mundo, nosso maior material seria o tempo. A pintura atua desde as partes automática, subconsciente, intuitiva e instantânea até as partes mais friamente calculadas. Como nós mesmos devemos fazer, a pintura é um mundo gigante que pode ser redescoberto todos os dias. A pintura é coletiva, é uma herança mundial, cada fragmento que compõe tem um pouco de todos nós ou nada.

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ANEXOS

26


Juan Grifone, Patterns, Esmalte sobre Eucatex, 30 cm X 60 cm.,2018

27


Juan Grifone, Camuflagem Sem título, Técnica Mista sobre Eucatex, 130 cm X 60 cm.,2018

28


Juan Grifone, Sem título, Técnica Mista, 50 cm X 60 cm.,2018

29


Juan Grifone, Camuflagem: O neutro, Técnica Mista, 90 cm X 130 cm.,2018

30


Juan Grifone, Camuflagem, Técnica Mista, 90 cm X 130 cm.,2018

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REFERÊNCIAS

ANTELO, Raul. Potências da imagem. Chapecó: Argos, 2004. HOCKNEY, David. O conhecimento secreto: redescobrindo as técnicas perdidas dos grandes mestres. São Paulo: Cosac & Naify, 2001. METROPOLITAN MUSEUM OF ART, “Henri Toulouse-Lautrec (1864-1901)”, 2010. Disponível em https://www.metmuseum.org/toah/hd/laut/hd_laut.htm . Acesso em: 30/10/2018. NASCIMENTO, Alexandre Costa. "Argentinos fazem arte enquanto pedalam pela América Latina". Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/ir-e-vir-de-bike/argentinosfazem-arte-enquanto-pedalam-pela-america-latina/ . Acesso em 31/10/2018. REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, “Porro”, Disponível http://dle.rae.es/?id=TiRpTAC|TiSoRZJ|TiVcija|TiXVxcf . Acesso em: 31/10/2018.

em

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