Dentro da nossa casa o sol tambem sai a noite

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“Com efeito, as crianças têm uma propensão particular a procurar todos os lugares onde se efetua de maneira visível o trabalho sobre as coisas. Elas se sentem irresistivelmente atraídas pelos dejetos que provêm da construção, do trabalho doméstico ou da jardinagem, da costura ou da carpintaria. Reconhecem nos resíduos a face que o universo das coisas apresenta somente a elas. Utilizam-nos menos para imitar as obras dos adultos do que para instaurar uma relação nova, movente, entre matérias de natureza bem diversa, graças ao que conseguem obter delas em seu jogo. Assim, as próprias crianças criam seu mundo de coisas, pequeno mundo no grande mundo” BENJAMIN, W., 1928, p. 161.


Uma série de dípticos fotográficos, desenvolvidos durante a pandemia, quando a aplicação das regras de isolamento social e do trabalho remoto tornam o único tempo longe de casa a hora das compras. Meu filho me diz: “Pai, pai! Vamos fazer compras”. Chora quando eu não levo ele. Como se aquele fosse o melhor momento do dia, o evento do cosumo. Existe uma tensão –na relação das fotografias– entre a liberdade de consumo e a geração de afetos o que cria uma dualidade entre o dia e a noite, momentos no qual o dejeto se transforma em afeto. Os objetos, a partir da liberdade de compra, passam a ser dejetos nos quais as relações familiares se estabelecem e a criança consegue criar um novo mundo. DENTRO DA NOSSA CASA, O SOL TAMBÉM SAI A NOITE, tenta explorar o momento de liberdade de transformação da criança, onde o espaço material vira espaço afetivo. JUAN GRIFONE, 2021












JUAN GRIFONE, nascido em 1986 no interior de Argentina, filho de pai comerciante de mercadorias usadas e mãe costureira. A expulsão, a reclusão e a exclusão gerada pelos sistemas sociais junto aos padrões externos e a pressão do tempo como modus operandi, são as formas de pensar a poesia visual e plástica de Grifone, quem trabalha com a transformação dos dejetos em afetos como materia prima. Transformou as consecutivas expulsões das oito escolas por onde passou na adolescência em vivência artística, ao misturar arte e educação como fuga dos aparatos opressores supracitados, em busca da paciência desdenhada pelo sistema (Projeto Arte Educação Paciência Gera Gentileza: Mosaico Urbano, 2018). Recluso em 2011 por fazer Grafitti no centro da Córdoba, se deparou com a pressão que impõem os sistemas para encaixar as pessoas em modelos padronizados que privam as liberdades subjetivas. Assim, para contrabalançar aqueles efeitos saiu da Argentina em uma viagem pelo Brasil desenvolvendo murais por vários Estados, reconectando-se à natureza, e tentando fugir dos modelos preestabelecidos (Coletivo Trip&Roll. 2012-15). Pela falta de dinheiro, por ser estrangeiro e não concordar com sistemas dominantes, conheceu a exclusão (Imigrações, 2020). Atualmente reside com sua família na periferia de Belo Horizonte, onde trabalha com arte. Referencias: Enrique Dussel, Adolfo Colombres, Walter Mignolo, Vilem Flusser, George Didi-Huberman, Byung Chul Han, Mirciade Eliade, entre outros.



Juan Grifone 2021


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