Quase ninguém viu

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O verde guarda disfarces, tocas e escondidos. Foi assim o começo desta história. Ninguém viu.



Chegou voando sem asa, cada vez mais ligeiro, até pousar como gota em fim de chuva. Só que, em casa de família grande, ninguém dá atenção a um barulhinho de nada. Dormiam.


Com o brilho da manhĂŁ, acordou a curiosidade dos pequenos que chegavam para dar o primeiro mergulho do dia. Mais um pouco e a famĂ­lia estava quase inteira. Logo virou uma conversaiada, mas ninguĂŠm mexeu com ele.



Chegou a mĂŁe e acolheu o novo pequeno. Ficou sendo de todos, a cada dia cuidado por um. No vai e vem do sol, aprendeu esconderijos, pulos, atĂŠ voos arriscados.



Entre um pulo e outro, cresceu diferente.


Mas nรฃo foi para os outros que apareceu a diferenรงa.



Foi em seu prรณprio olhar. No escuro ficava lรก, numa longa conversa sem palavras.



Vinha o sol, e ele se metia numa toca para deixar passar o dia. Desconfiava da lembrança, talvez fosse sonho, mas conhecia a sensação de cair num buraco quase sem fim.


Para Emanuel, de olhos bem abertos para coisas que quase ninguĂŠm vĂŞ.


Pequenos acontecimentos podem iniciar grandes mudanças, mesmo que ninguém veja, ou quase ninguém. Esta história apareceu quando olhei para as bromélias numa trilha da Mata Atlântica, imaginando quantas coisas estariam acontecendo dentro de cada uma daquelas plantas que são também um mundo inteiro. Este livro é um convite que faço a você para seguirmos olhando juntos, com olhos bem atentos. Aline Abreu

Quase ninguém viu recebeu o Prêmio João-de-Barro de Livro Ilustrado 2016.

© do texto e das ilustrações: Aline Abreu © da edição 2019: Jujuba Editora Editora: Daniela Padilha Coordenação editorial: Áine Menassi Projeto gráfico: Aline Abreu Preparação: Ana Maria Barbosa Revisores: Ricardo N. Barreiros e Carmen Costa Fechamento de arquivo: Thiago Nieri Abreu, Aline A162q Quase ninguém viu / Aline Abreu. – São Paulo: Jujuba, 2019. 48 p. : il. color. Ilustrações, Aline Abreu ISBN 978-85-61695-70-5 1. Literatura. 2. Literatura – Infantojuvenil. 3. Histórias – Infantojuvenis. I. Título. CDD 808.899282 1a edição • São Paulo • 2019 Texto em conformidade com as novas normas da ortografia. JUJUBA EDITORA Rua São Columba, 2 São Paulo / SP Brasil 03276-110 www.jujubaeditora.com.br | jujuba@jujubaeditora.com.br


Com total domínio da narrativa do livro ilustrado, a autora e ilustradora Aline Abreu, neste belíssimo e premiado Quase ninguém viu, soube de forma primorosa intercalar silêncios e arroubos, sombras e luzes, olhar intimista e grandes saltos, nos conduzindo, pelo seu pequeno-grande personagem, a perguntas que permeiam não só todo o livro, mas também nossa própria existência. Afinal, o que são os afetos? Nascem conosco ou são construídos por nós? E mais: somos nós apenas um “barulhinho de nada” e sombras esquecidas? Se sim, de onde viemos? A quem pertencemos? Retornaremos? Mais do que ter ou oferecer respostas, Aline, gráfica e poeticamente, revela para leitores atentos (sejam eles pequenos ou grandes) que, para vivermos uma felicidade “sem tamanho”, não importa se pertencemos a essa ou àquela família, se somos azuis ou vermelhos, polarizados ou não. E que felicidade sem tamanho existe quando, ao somarmos nossas diferenças, partilhamos também nossos melhores afetos. Os mesmos que nos fazem descobrir como são imensas a nossa força... e delicadeza. MARILDA CASTANHA

ISBN 978-85-61695-70-5

9 788561 695705


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