Centro de Educação Ambiental do Pantanal - TFG Júlia Maciel

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CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO PANTANAL Júlia Maciel Trabalho Final de Graduação

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Trabalho Final de Graduação Centro Universitário Belas Artes de São Paulo Arquitetura e Urbanismo 2021 2


2021

Centro de Educação Ambiental do Pantanal

Júlia Camilo Maciel Orientador: Ricardo Felipe Gonçalves

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“Urge que assumamos o dever de lutar pelos princípios éticos mais fundamentais como do respeito à vida dos seres humanos, à vida dos outros animais, à vida dos pássaros, à vida dos rios e das florestas. Não creio na amorosidade entre homens e mulheres, se não nos tornamos capazes de amar o mundo. A ecologia ganha uma importância fundamental neste fim de século. Ela tem de estar presente em qualquer prática educativa de caráter radical, crítico ou libertador.” Paulo Freire, 2000

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Agradecimento

Agradeço ao professor Ricardo Felipe por toda ajuda, paciência, acompanhamento e por acreditar em minhas ideias desde o ínicio do ano. Aos professores Ivanir Reis e Giovanni Campari pelas instruções iniciais. Ao professor Dani Hirano e ao convidado Rolando Figueiredo por aceitarem o convite de participar da banca final. Aos colegas de trabalho onde estagiei e pude aprender muito. À todas as minhas amigas da Belas Artes com quem dividi momentos e aprendizados ao longo de todo o curso, tornando meus dias mais felizes. Às minhas amigas de longa data por estarem comigo e me apoiarem desde sempre. Ao João Farkas pelas belas fotografias do Pantanal. Ao Lucca pelo apoio e companheirismo durante todo o processo. À minha filha de 4 patas que ficou ao meu lado durante todo o tempo de produção. À minha família por tudo. E um agradecimento especial ao meu avô Amaury por compartilhar sua sabedoria e suas histórias dos mais de 40 anos de vivências no Pantanal.

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Sumário

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Introdução Pantanal - a maior planície inundável Os impactos ambientais nos últimos anos O recorde de queimadas em 2020 Histórico dos movimentos ambientalistas Movimentos Ambientalistas no Brasil A educação ambiental no Brasil

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Conceituação Os Centros de Educação Ambiental no Brasil

38 42

A formação de sujeitos ecológicos Arquitetura vernacular/ bioclimática

46 46 50 54

Estudos de Caso Centro de Educação Ambiental el Campillo Centro de Pesquisa e Educação de Wetland Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou

58 58 60 62 64 68

Recorte Corumbá - A “capital” do Pantanal Por que Corumbá? Perímetro Urbano Área de intervenção Condicionantes

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70 70 72 74 76 78 80 90 92 94 96 98 100 104 106 112

O Projeto Proposta do projeto Concepção/ Estratégias Adaptação às cheias Público Alvo Programa de necessidades Implantação O módulo Conforto térmico Estrutura Corte AA Corte aproximado Cortes detalhados Corte BB com esquema de àgua Plantas Perspectivas

124 Considerações finais 126 Referências

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Introdução À vista de uma crise ambiental cada vez mais acentuada no mundo inteiro, o bioma do Pantanal - maior planície de inundação do planeta - vem sendo foco de muita preocupação diante das constantes interferências do homem, que resultam em impactos negativos intensificados, também, pela falta de uma gestão ambiental que assegure o desenvolvimento ecológico dos recursos naturais do bioma. Considerando a importância da conscientização de todos os setores da sociedade, historicamente, pouco se investe em educação ambiental no Brasil, bem como em relação aos CEAs (Centros de Educação Ambiental). Levando em conta este cenário, o trabalho final de graduação visa contribuir positivamente na luta ambiental através de um projeto de edificação vernacular (a fim de aproveitar-se dos métodos sustentáveis e bioclimáticos de construção), que promova a inclusão da população nos debates e na introdução de práticas sustentáveis, por meio do apoio às comunidades, da educação ambiental e da pesquisa para a formação de sujeitos ecológicos.

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Dessa forma, o projeto tem como objetivo geral contribuir para um maior envolvimento da população nas questões ambientais. Assim, contemplando todas as atividades atribuídas à Educação Ambiental, em conjunto com programas de pesquisa. Para isso, é importante que se comprometa com as questões socioambientais e que atue como uma referência de respeito ao local e ao meio. Através de um espaço público que busca resgatar o contato com a natureza por meio de uma arquitetura imersiva, sustentável, modular, flexível e de respeito às condições naturais impostas pela paisagem local.


imagem de João Farkas

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Pantanal - a maior planície inundável

O Pantanal está situado nos estados Brasileiro de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com mais de 230.000km ² somente em território brasileiro, e estende-se até a Bolívia e Paraguai. É constituído por uma vasta planície, apresentando altitudes inferiores a 200 metros do nível do mar. Nessa depressão correm as águas dos rios Paraguai, São lourenço, Cuiabá, Taquari, Miranda, Negro e Aquidabã, formando uma grande rede hidrográfica, que durante o período das cheias, transforma-se em um enorme lençol d´água, com profundidade média de 3 a 5 metros. Formando assim, a maior planície inundável do mundo. Na fase das secas, o bioma do Pantanal muda a paisagem por completo, ficando inteiramente livre das águas, transformando-se em uma região de pastagem. Sendo assim, uma típica região pastoril, com enormes fazendas dedicadas à criação de bovinos. A vegetação se distingue das demais áreas brasileiras, neste bioma encontram-se espécies próprias do cerrado, de terrenos alagadiços e também da flora amazônica. Além de apresentar um clima elevado ao longo do ano, característico da regiao central. Apesar de ameaçada em extinção já há alguns anos, sua fauna é de extrema riqueza, com uma abundante diversidade de aves, capivaras, onças tamanduás, entre outros. imagem de João Farkas

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imagem de João Farkas

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“O Pantanal possui a maior concentração de fauna das Américas, com mais de 1500 espécies de animais. Apesar da vigilância dos órgãos governamentais, os caçadores se agrupam em busca de alvos frágeis e fáceis. As mesmas balas preparadas para os animais e aves, também são endereçadas aos agentes florestais. A impunidade no Brasil é um fato. Leis existem. Poucos são os homens que as cumprem.” José Achilles Tenuta

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imagem de João Farkas

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O pantaneiro “Por viver em uma região de grandes distâncias e de difícil acesso às fazendas, o homem pantaneiro acostumou-se ao isolamento, e à solidão. Entretanto, há uma manifestação de solidariedade e cooperação quando trabalha com o seu gado, ou mesmo em festividades típicas das fazendas. Ele vive a realidade de uma região inóspita, com enchentes, animais selvagens, problemas de transportes etc. Nada disso porém o impede de manter o amor, o respeito e o apego à terra, seja ele fazendeiro, peão, vaqueiro ou pescador. É um homem simples, mas lúcido e inteligente.” José Achilles Tenuta

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Os impactos ambientais nos últimos anos

O Pantanal vem sofrendo ao longo dos anos com as ameaças ambientais que comprometem o bioma, forçando-o a enfrentar uma série de desafios que afetam o ecossistema, os meios de subsistência das comunidades tradicionais e sua biodiversidade. Há uma variedade de ameaças que atingem o bioma. Sendo que a região é fortemente influenciada por pressões políticas e econômicas externas que impactam diretamente nas politicas públicas locais. “Entre as múltiplas ameaças destacam-se algumas, que tem o potencial de colocar em risco o caráter ecológico das grandes áreas do Pantanal. O principal problema está ligado a hidrologia da região. Alterações hidrológicas tem consequência irreversíveis para o Pantanal.” - livro Pantanal à Margem da Lei. Leis de proteção apesar de necessárias, acabam deixando certos áreas desprotegidas e a disposição de intervenções humanas como o agronegócio, a mineração, entre outras atividades. “A realidade política, econômica, ecológica e social mostra, que o número e a diversidade das ameaças que atingem o Pantanal, carecem de uma interação intensiva entre políticos, administradores, cientistas e a população local em nível governamental, estadual e local. Este processo está em andamento, porém, os resultados ainda não são satisfatórios, para permitir o manejo sustentável e a proteção do Pantanal e de sua biodiversidade, além de garantir o bem estar dos próprios pantaneiros.” - livro Pantanal à Margem da Lei. imagem de João Farkas

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imagem de João Farkas

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Ameaças e impactos ao Pantanal ALTERAÇÃO DO REGIME HIDROLÓGICO: - mudanças no pulso de inundação devido construção de hidrelétricas, hidrovias e rodovias. - drenos - assoreamento - avulsões - construção de estradas - açudes e represas - fechamento de boca de rio

PERDA DE HABITATS E BIODIVERSIDADE: - drenos - assoreamento dos rios - construção de estradas, pontes e barragens - garimpos - desmatamento - agrotóxicos - sedimentos - aterramentos - incêndios - urbanização - conversão de pastagens - caça - pesca insustentável - espécies exóticas

fonte: livro Pantanal à Margem da Lei.

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imagem de João Farkas

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“Pantanal é este equilíbrio muito tênue entre água e terra, e este equilíbrio pode se romper facilmente pela ação humana” João Farkas

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O recorde de queimadas em 2020

Dentre as principais consequências da ação humana na natureza, as queimadas são um problema de grande preocupação para a preservação da fauna e flora. A estiagem natural do inverno na região do Pantanal pode provocar focos naturais de queimadas, mas em trechos isolados e também pela ação dos ventos e pelo tempo seco. No entando, atualmente o bioma enfrenta cada vez mais um aumento considerável desses focos nas épocas secas, deixando áreas enormes destruídas pelo fogo. A causa: ação humana.

verão chuvoso período de cheias

A diminuição das chuvas, comum nos últimos tempos, faz com que os rios diminuam ainda mais seus níveis e consequentemente, surgem mais solos secos, favorecendo a prática da agropecuária, que usa as queimadas para limpar a vegetação e desenvolver pastos e lavouras, sendo a principal causa da expansão do desmatamento no Pantanal. Segundo o jornalista Igor Venceslau, em 2020 a região enfrentou uma seca histórica e o recorde de queimadas, quase 30% do bioma foi atingido pelo fogo, que avançou principalmente onde se localizam terras indígenas e unidades de conservação. “Entendemos que há vários problemas acontecendo ao mesmo tempo. Um é climático, a diminuição das chuvas. Outro é a falta de fiscalização e de estrutura nos órgãos ambientais. Há um desmonte dos órgãos ambientais, principalmente nos últimos anos, que tirou poder de quem está em campo e precisa tomar decisões na hora para combater o fogo. Um terceiro problema é o uso da terra. Como não há muita fiscalização, queimam-se áreas para lavoura ou pastagem sem o devido cuidado e o fogo passa para outros locais acidentalmente. Se providências não forem tomadas, novas tragédias podem se repetir neste ano” - Vânia Pivello (2021), professora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP)

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imagem de Amanda Perobelli


+ inverno seco período de seca

= queimadas criadas pelo homem

incêndios descontrolados ilustração autoral

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As queimadas na mídia

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Histórico dos movimentos ambientalistas

Segundo o Portal Educação (s.d.), apesar de já terem sido discutidas questões ambientais no século XVI e inclusive no século XVIII, quando houve a revolução industrial, no qual, intensificou-se a preocupação da relação entre o homem e a natureza, foi apenas na década de 1970 que os movimentos ambientais atingiram a escala mundial. Em 1972, na cidade de Estocolmo, foram reunidos líderes de diversos países do mundo inteiro para discutir, efetivamente, questões ambientais. Em 1983, a Assembleia Geral da ONU formou uma comissão que verificou os grandes problemas ambientais do mundo naquele momento e apresentou algumas soluções. Neste momento foi introduzido o conceito de “desenvolvimento sustentável”. Em 1992, foi realizada na cidade do Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento , conhecida como ECO 92. Nela foi elaborada a “Agenda 21”, no qual foram elaborados programas de ações políticas, econômicas, ambientais e sociais. A partir daí, a cada 10 anos são realizadas novas conferências como a RIO +1O e RIO +20. São discutidas as soluções já propostas na Agenda 21, além de firmarem-se novos objetivos.

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Em 2015 ocorreu o Acordo de Paris, um tratado mundial discutido entre 195 países, que possui como objetivo principal reduzir o aquecimento global e a emissão dos gases de efeito estufa. Neste ano 2021, ocorreu em novembro a COP26 onde mais de 190 líderes mundiais e representantes governamentais, empresas e cidadãos se reuniram em Glasgow para discutirem medidas necessárias e urgentes em relação à mudança climática. Segundo Carolina Genin “A Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso do Solo, assinada por mais de 100 países, incluindo o Brasil, para deter e reverter a perda florestal e a degradação do solo até 2030, reconheceu o papel fundamental das florestas para a redução de gases de efeito estufa”. Atualmente, existem diversar ONG´s e instituições que atuam diretamente para defender o meio ambiente, bem como movimentos civis espalhados pelo mundo através de protestos e manifestações motivados pelos crescentes problemas ambientais dos últimos tempos.


Pessoas na Polônia entram em #GreveGlobalPeloClima (Tomasz Stanczak/Agencja Gazeta/Reuters)

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Movimentos ambientalistas no Brasil

No Brasil o movimento ambientalista teve início na década de 1950 com ações de grupos ambientalistas e preservacionistas. E na década de 1970 começam a entrar em vigor no Brasil as ONGs como a WWF. No início da década de 1990 o Greenpeace que é uma organização sem fins lucrativos, iniciou uma série de ações no Brasil, no sentido de proteger o meio ambiente. Conforme foram acontecendo as conferências e encontros ambientalistas ao redor do mundo, o Brasil foi se adequando à necessidade de criar normas e leis para assegurar o respeito à natureza para evitar problemas ambientais. Coincidindo com os planos nacionais de desenvolvimento e instalação de indústrias poluentes e energético-minerais no Brasil, em 1973 foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) com a função de gerir normas para a conservação do meio ambiente e o aproveitamento sustentável dos recursos naturais (CAVALCANTI, 1995 apud Portal Educação). Entre os anos de 1975 a 1988, Francisco Alves Mendes Filho, conhecido como Chico Mendes, foi um ativista ambiental brasileiro, seringueiro e sindicalista. Defendeu a preservação da Amazônia, do meio ambiente e dos seringais amazônicos. Conhecido mundialmente foi agraciado com o prêmio “Global 500”, oferecido pela ONU (Organização das Nações Unidas) pela sua luta em defesa do meio ambiente e da Amazônia. Foi assassinado a tiros no ano de 1988 por fazendeiros que eram contra as ações ambientais deste que é um símbolo brasileiro na luta pela preservação da floresta amazônica (SOJA, 1993 apud Portal Educação).

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Chico Mendes: sindicalista


e ativista ambiental foi assassinado em 1988 (Denise Zmekhol/Exame)

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A educação ambiental

"Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade." - Política Nacional de Educação Ambiental - Lei nº 9795/1999, Art 1º. “A construção de uma prática educativa denominada Educação Ambiental e a identidade profissional de um educador ambiental a ela associada são desdobramentos que podem ser entendidos como parte dos movimentos de legitimação de um campo ambiental, tanto em termos internacionais quanto no caso brasileiro. Neste sentido, a EA corrobora para a formação do campo na medida que se constitui uma categoria entre os novos “especialistas” em meio ambiente. O educador ambiental é um dos profissionais que ganha destaque no campo ambiental pelo seu papel pedagógico e sua missão de formação de novos sujeitos ambientalizados.” Segundo Carvalho (2016) A partir da formação de indivíduos capazes de reconhecer valores sociais, conhecimentos e habilidades, torna-se possível capacitar trabalhadores que detenham um papel ecológico de atuação tanto individual quanto coletivo. Como resultado, a construção de um senso crítico comum, também influencia num maior confronto ao poder público a fim de um comprometimento mais efetivo dos orgãos de autoridade às causas ambientais. Neste contexto, a educação ambiental é uma ferramenta poderosa para educar, informar, difundir conceitos e ideias, fornecendo bases para uma mudança de comportamento.

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A educação


o ambiental sendo abordade desde a infância (Foto: Rawpixel.com / Shutterstock.com)

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Conceituação Os Centros de Educação Ambiental no Brasil

Os centros de educação ambiental não seriam escolas ecológicas, mas sim centros geradores ou captadores de idéias e propostas. (...) A proposta é (...)utilizar o ensino formal que já temos, não criar nenhuma disciplina, com uma abordagem inter e multidisciplinar, e abrir a porta da escola (...) para envolver a comunidade (...) Nesse sentido, a idéia dessa proposta pedagógica do Centro de Educação Ambiental seria utilizar o programa curricular oficial e transcender o banco escolar, quer dizer, envolver o saber popular e o saber científico, o Centro seria Catalizador e difusor desses conhecimentos” (BRASIL, 1992, p.102 apud SILVA 2004, p. 15)

estratégia de sustentabilidade

projeto político pedagógico

CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

espaços, equipamentos e entorno

equipe educativa

pilares fundamentais de um CEA 34


Em 1993, o MEC formalizou a implantação dos Centros de EA, como “instrumentos complementares do processo de mudança na formação integral do cidadão, diante de uma nova consciência ambiental, interagindo com diversos níveis e modalidades de ensino e introduzindo práticas de EA junto às comunidades” “Os CEAs são iniciativas de organizações públicas ou privadas, com apoio do MEC e de outras instituições governamentais e não-governamentais. Eles devem se estruturar a partir de projetos relativos à questão ambiental que expressem interesses próximos à comunidade. Suas atividades de articulação com a população local e o sistema de ensino devem estar compatíveis com a demanda da própria comunidade.” (SILVIA CZAPSKI) Conforme estudos e conclusões realizados pelo engenheiro agrônomo Fábio Deboni da Silva, a finalidade principal dos CEAs compreende: - disponibilização de informações; - sensibilização, reflexão e revisão de valores; - formação; - intepretação; - delineamento e implementação de projetos, consultorias, eventos; - articulação para potencialização de ações; - lazer, ócio e atividades lúdico-culturais; - deselvolvimento de projetos de pesquisa. Ainda segundo Silva (2004), “a constatação de que se trata de uma temática mais complexa e plural, faz com que a necessidade de formulação e implementação de políticas públicas específicas para esta área ganhem mais relevância e argumentos neste momento. Certamente há uma conjuntura favorável a esta percepção, a qual nos permite vislumbrar uma infinidade de caminhos a serem trilhados com relação à temática do CEAs no país, que passam não só pela questão de ampliação, disseminação e divulgação destas iniciativas, mas sobretudo, pela qualificação e reorganização das distintas demandas das diversas regiões e realidades brasileiras, nas múltiplas concepções e práticas das Educações Ambientais e de centros de Educação Ambiental existentes num país como o Brasil.” 35


Autores estudados Fábio Deboni da Silva “Verificou-se que o processo de surgimento dos CEAs considerados “pioneiros” no país teve início em meados dos anos 70, coincidindo, portanto, com o despertar do movimento ambientalista brasileiro. [...] Observou-se que o poder público foi o protagonista mais importante no impulso e fomento aos CEAs. [...] relativo ao avanço na compreensão do papel dos CEAs na construção de sociedades sustentáveis a partir da reflexão de pressupostos e princípios básicos da Educação Ambiental e do ambientalismo – no caso a fundamentação teórica buscou subsídios e elementos dos conceitos da participação e do diálogo – verificou-se, ainda que de maneira preliminar, são conceitos compreendidos com certa superficialidade pela grande maioria dos CEAs estudados e tratados de forma bem divergente entre eles.” (SILVA, 2004, P. 146) Silva (2004) reforça que os CEAs brasileiros, em geral, tendem a fomentar o discurso em relação aos processos de participação dialógica de forma muito mais conceitual do que de forma prática, deixando de lado a metodologia e estrutura que viabilizam tais processos de forma efetiva. Dessa forma, não há uma oferta suficiente de atividades que estimulem e provoquem processos educacionais com este espírito.

Marcos Sorrentino “[...] da existência de espaços de locução. Não basta disponibilizar informação, é necessário que as pessoas possam dialogar sobre essas informações, trocar ideias, sentimentos e afetividades, possam se sentir envolvidas com aquela temática. Então, espaços de locução implicam desde a reunião periódica das pessoas que estão relacionadas com aquela temática, até a possibilidade de você se comunicar com várias outras pessoas por internet ou outros meios, transmitindo, recebendo informações e dialogando sobre isso.” (SORRENTINO, 2000, P. 101) Sorrentino (2000) considera que um Centro de Educação Ambiental (CEA) deve funcionar como um espaço que demonstre confluência entre questões-chave do ambientalismo, dentre elas: participação, emancipação, sustentabilidade, potência de ação e pertencimento.

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Flávia Cunha Londres “Uma das conclusões a que chegamos neste momento está relacionada à precariedade em que se encontram a maior parte dos CEAs que existem em funcionamento hoje no Brasil. Observamos que na maioria das instituições praticamente inexistem estruturas básicas e fundamentais para o seu funcionamento através do exemplo de práticas ecológicas, mas sobretudo falta convergência com os pressupostos da Educação Ambiental e do ambientalismo. [...] Seria, na verdade, fundamental, o desenvolvimento de projetos junto às populações tradicionais residentes no interior e no entorno das Unidades de Conservação, que trabalhassem de forma continuada, temas como a conservação dos recursos naturais e a manutenção da biodiversidade, em consonância com seus programas de educação ambiental.” (LONDRES, 2002, P. 79) Londres (2002) ressalta a considerável carência de estudos relativos à temática no Brasil. Diante do cenário dos CEAs no país, observa-se uma grande diversidade de concepções, entretanto, não há uma definição amplamente discutida em relação ao CEA. São distintos setores da sociedade envolvidos na criação e na gestão (empresas, universidades, ONGs, unidades de conservação e outras), contribuindo ainda mais para a variedade de percepções acerca do tema.

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A formação do sujeito ecológico

O sujeito da ação política é aquele capaz de identificar problemas e participar dos destinos e decisões que afetam seu campo de existência individual e coletivo. A capacidade de ação política é a expressão mais acabada da condição humana. Os seres humanos definem-se por esse conviver entre seus pares, influindo no destino de mundo que têm em comum. A capacidade de agir em meio à diversidade de ideias e posições deve ser a base da convivência democrática, da participação, da liberdade e da possibilidade de fazer história e criar novas formas de ser e conviver, assim como observa Carvalho apud Silva e Toschi (2014). Para a formação de sujeitos ecológicos, é necessário que os educadores possibilitem cada vez mais o entendimento e a construção de um pensar ecológico e ético dos cidadãos em formação, criando um saber mais eficaz e abrangente. Cidadões em geral precisam estar motivados às práticas de Educação Ambiental não apenas nos ambientes educativos ecológicos, mas também em casa, no trabalho, no convívio social, como uma aplicação cotidiana que motive as transformações necessárias a uma convivência diária voltada ao processo de uma aprendizagem pautada na ética e na sensibilidade pela vida.

imagem: retirade de Jovens Repórteres para o A

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Ambiente (JRA)

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Autores estudados Isabel Cristina de Moura Carvalho “[...] o sujeito ecológico. Este deve ser compreendido como um tipo ideal que alude simultaneamente a um perfil identitário e a uma utopia societária. Diz respeito ao campo ambiental, mas, na medida em que este ganha legitimidade, se oferece ao conjunto da sociedade como modelo ético para o estar no mundo. “(CARVALHO, 2001, P. 144) Carvalho (2001) parte da ideia de que a Educação Ambiental é a ação educativa do sujeito ecológico, sendo ele, o educador ambiental. Significa que este sujeito está associado mais a uma tradição ambiental do que a uma tradição pedagógica-educativa.

L. O. Silva, A. P. L. Costa e E. A. Almeida “O enfoque quanto aos indivíduos na sociedade é de que eles devem superar sempre as perspectivas individualizantes, típicas de uma sociedade capitalista. As ações dos sujeitos realizam-se na sociedade no coletivo pelo coletivo, almejando a autonomia, a criatividade transformadora e liberdades humanas. Nessa perspectiva, a educação é compreendida como um processo permanente, cotidiano e coletivo pelo qual o sujeito constrói suas ações, refletindo, agindo e transformando a realidade de vida; a educação é entendida pela ótica democrática, da autogestão, com a convicção de que a participação social e o exercício da criticidade são práticas indissociáveis dos processos educativos.” (SILVA, COSTA e ALMEIDA, 2012, P. 121) Silva, Costa e Almeida (2012) propõem desenvolver e estimular a atitude crítica diante dos desafios da crise socioambiental, a partir da vocação transformadora. Busca-se envolver na Educação Ambiental, o diálogo entre as ciências e os saberes tradicionais, cuidando em não tratar separadamente as ciências e nem negar o saber das tradições e da cultura popular.

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Andrei Severino Ferreira da Silva e Mirza Seabra Toschi “É por meio de práticas sociais que o sujeito terá condições de formar e desenvolver sua consciência crítica em relação aos problemas socioambientais nas suas múltiplas dimensões, tendo assim meios de contribuir de forma efetiva para transformações urgentes nos atuais padrões de utilização dos recursos naturais. A busca pela modificação desses padrões já estabelecidos é resultado da intervenção da EA na visão de uma cidadania ecológica.” (SILVA e TOSCHI, 2014, P. 85) Silva e Toschi (2014) ressaltam que a compreensão dos problemas ambientais deve ser levada ao pensamento crítico do cidadão ecológico para que ele possa discernir entre “o agir e o comportar”. De nada valerá acrescentar a Educação Ambiental como mais uma disciplina nos currículos escolares, se não for estudada de forma que contribua efetivamente na formação do sujeito, com vias de torná-lo apto a tomada de escolhas e atitudes que sejam voltadas para o bem comum. Dessa forma, a formação ética é um instrumento importantíssimo para as práticas ambientais.

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Arquitetura Vernacular/ Bioclimática

A arquitetura vernacular é considerada uma tipologia de construção de caráter local ou regional, que representa a identidade cultural de um povo, na qual são empregados materiais e recursos do próprio ambiente onde se insere. São, portanto, como afirma Camilla Ghisleni (2020), arquiteturas diretamente relacionadas ao contexto, influenciadas e atentas às condições geográficas e aspectos culturais específicos da sua inserção e, por esse motivo, surgem de modo singular nas diversas partes do mundo, sendo consideradas, inclusive, um dispositivo de afirmação de identidades. “A arquitetura vernacular tem sido discutida e revisitada em muitas práticas arquitetônicas contemporâneas assumindo um importante papel na sociedade atual, pois as características bioclimáticas destas edificações são exemplos de sustentabilidade arquitetônica. Neste sentido, condutas arquitetônicas milenares estão sendo estudadas e reproduzidas em projetos que visam, por exemplo, a diminuição do uso de energia com estratégias passivas de conforto termoacústico.” (GHISLENI 2020)

Aldeia yawalap

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piti do Mato Grosso. Foto: Eduardo Viveiros de Castro, 1977.

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Autores estudados José Afonso Botura Portocarrero “A relação entre o ambiente e a sociedade tem sido objeto permanente de pesquisas e discussões, principalmente nos últimos anos do século XX. Alguns povos, todavia, processaram de forma natural essa ligação por longos períodos de observação, aprendizado e prática. Entre eles os povos indígenas que habitavam e habitam o território do Brasil. [...] Os povos indígenas brasileiros conseguiram fazer chegar até nossos dias muitas de suas habitações, adequadas ao seu habitat. [...] responderam adequadamente às necessidades de conforto e segurança.” (PORTOCARRERO, 2010, P. 61, 214) Em seus projetos, o arquiteto Portocarrero buscou referências nas habitações indígenas do Mato Grosso para a criação de suas arquiteturas contemporâneas de alta eficiência energética. Portocarrero (2010) entende que as habitações indígenas são carregadas de tecnologia, e que o desenho das casas dos diversos povos, além de resolverem as questões relativas ao uso e adaptação às condições locais, também representam o acervo cultural, simbólico e cosmológico. Bruna Dal Agnol e Caliane C. O. de Almeida “[...] apesar de sua simplicidade, a arquitetura vernacular e popular tem um grande valor patrimonial, já que, além de carregar um importante conhecimento sobre estratégias bioclimáticas, também expressa a imagem e a identidade de uma região. [...] a arquitetura e as soluções dadas pela população às suas construções sofreram processos discriminatórios e excludentes ao longo de toda a história em nosso país. Portanto, é fundamental um processo inverso para desmistificar o uso de materiais, programas e tipologias dadas pela população aos mais diversos problemas construtivos e/ ou habitacionais, incorporando-os, inclusive, nas políticas e programas habitacionais em nosso país.” (AGNOL e ALMEIDA, 2016)

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Agnol e Almeida (2016) defendem que a arquitetura vernacular respeita as particularidades do local onde está inserida, mostrando a habilidade em utilizar os recursos disponíveis para a sua concepção. Citam o famoso arquiteto Lúcio Costa, que afirmou: “a arquitetura regional autêntica tem as suas raízes na terra; é produto espontâneo das necessidades e conveniências da economia e do meio físico e social e se desenvolve, com tecnologia a um tempo incipiente e apurada, à feição da índole e do engenho de cada povo.” (AGNOL e ALMEIDA, 2016 apud COSTA, 2006, p. 11)

Rubenilson Brazão Teixeira “A arquitetura vernacular se destaca pela grande sensibilidade às condições locais do meio geográfico onde se situa, tais como o clima, a vegetação, o solo e suas características topográficas. [...] as formas do passado não são meramente copiadas, mas compostas e decompostas criando variações, dentro de uma mesma "linguagem", conhecida dos membros da comunidade. Em outras palavras, o que surge de "novo" não agride, não nega o que já foi consagrado pela cultura.” (TEIXEIRA, 2017) Teixeira (2017) afirma que a forma arquitetônica vernacular como um todo não é um resultado automático do clima, mas, sem dúvida, o clima é um dos condicionantes. A forma resulta principalmente da cultura de um determinado povo.

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Estudos de Caso Centro de Educação Ambiental El Campillo Autor: Manuel Fonseca Gallego Local: Parque Regional do Sureste. Madrid - Espanha Ano: 2000 O Centro de Educação Ambiental El Campillo, localiza-se noma espécie de península, onde acesso principal se faz pelo caminho existente que parte de uma estrada e pela vegetação ribeirinha. A partir de todos os caminhos que emergem do edifício, é possível contemplar e interpretar a fauna e a flora local. “A intenção do projeto foi evitar destacar um volume significativo no horizonte, através da simplicidade da solução proposta, adequação e respeito ao meio ambiente, economia de energia e uso de energias alternativas e acessibilidade e adaptação para deficientes.” Conforme afirma Fonseca (2000). O projeto baseou-se ao máximo na topografia do local, Para Manuel Fonseca (2000), a ideia era de potencializar a influência da água sobre o projeto e o meio ambiente em si, influenciando a forma como foi implantado, através de palafitas imersas no rio, permitindo uma interpretação de grande aproximação e respeito aos recursos naturais, tanto ao nível da paisagem como ao nível bioclimático e sobretudo ao nível interpretativo. Conforme descrição de Fonseca (2000), o projeto possui um lobby principal de onde é possível acessar todos os pontos. Nele está situado todas as entradas e saídas para os percursos interpretativos, permitindo percorrer um vasto território apenas com percursos pedonais.

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imagem: Miguel de Guzmán


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o salão principal da acesso à todos os ambientes

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implantação

imagem: Google Earth

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123456789-

itinerário interpretativo fauna itinerário interpretativo vegetação itinerário interpretativo geológico itinerário interpretativo educativo itinerário interpretativo prévio mirador mirador acesso de serviço estacionamento 11- acesso principal 12- crescimento paleontológico


O projeto consegue se integrar à natureza respeitando-a e apropriando-se de seus elementos. Essa comunicação permite uma aproximação da paisagem, essencial para a prática da educação e da interpretação ambiental. Além disso, o projeto teve grande êxito na criação de acessos, caminhos, aberturas e miradouros que também possibilitam o contato direto com a fauna e flora local. Estes elementos atrelados a soluções de sistemas bioclimáticos, resultam neste edifício eficientemente sustentável. imagem: Miguel de Guzmán

corte longitudinal

imagem: Miguel de Guzmán

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Centro de Pesquisa e Educação de Wetland Autor: Atelier Z+ Local: Xangai, China Ano: 2019 Área: 2771 m² Este Centro de Pesquisa e Educação localiza-se em uma área úmida de Reserva Natural, é uma plataforma de monitoramento de pesquisa científica e educação científica. Além disso, serve para aumentar a consciência e mostrar a proteção ecológica e ambiental, bem como promover a coo¬peração e o intercâmbio em todo o mundo. (The Plan, 2020) Conforme detalhado por The Plan (2020), o volume arquitetônico é dividido e disperso, formando um conjunto de núcleos sobre plataformas de estacas que flutuam sobre a água. Os cinco edifícios de diferentes volumes são interligados por uma ponte de cavalete em zigue-zague. O espaço coberto pelas estruturas em forma de Y cria uma sensação de abrigo e proporciona uma visão horizontal em direção ao vasto pantanal, enquanto a abertura da crista se estende em direção ao céu. Além disso, a varanda cria a sensação de abertura para o ambiente. Com a organização da circulação, distribuição dos pátios, variação da transparência, diferenciação do vão estrutural e da altura, e a combinação de claraboias, trazem a percepção de um ambiente flexível. (The Plan, 2020) imagem: Chen Hao

50


51


7 6 1

2 5

implantação

52

4

3

1234567-

conferência e exibição cantina pesquisa dormitório dormitório ponte de cavalete aterro


Este estudo de caso foi conduzido através de soluções que foram dadas ao projeto para que haja uma redução significativa de impactos através da dispersão do programa em volumes “separados”. É também um projeto de grande êxito no objetivo de proporcionar uma comunicação com a natureza e a paisagem, através da sutileza da materialidade e das passarelas que permitem a inserção, a sensação de caminhar sobre a água, e ao mesmo tempo, respeitam o espaço para o crescimento das plantas. Dessa forma, a relação cuidadosa com a água é um objetivo em comum com o presente projeto do Centro de Educação do Pantanal.

corte longitudinal

corte transversal

53


Centro Cultural Jean Marie Tjibaou Autor: Renzo Piano Local: Noumea, capital da Nova Caledônia Ano: 1998 Área: 8550 m² Este projeto do renomado arquiteto Renzo Piano tira partido da topografia do terreno, a vegetação e a arquitetura vernacular. Segundo Lia Piano (2013) centro é a expressão de uma tradição milenar de relação com a natureza, com um conjunto de aldeias e espaços abertos arborizados, de funções e caminhos, de sólidos e vazios. As construções lembram visualmente as tradicionais cabanas de Kanak graças à estrutura curva, feita de tiras e nervuras de madeira. De acordo com Lia Piano (2013), foram utilizados materiais e sistemas de constru¬ção tradicionais, além de elementos construtivos escolhidos diante da necessidade de maximizar a ventilação devido ao clima quente e úmido da região. As cabines são construídas com madeira tradicional em combinação com aço, vi¬dro ou cortiça. Composto por dez “casas”, de tamanhos e funções diferentes, agrupados em 3 setores. Essas edificações expressam a relação harmoniosa com o meio ambiente que caracteriza a cultura Kanak. O link não é apenas estético, mas também funcional: aproveitando as características do clima da Nova Caledônia, as cabanas foram equipadas com um sistema de ventilação passiva muito eficiente. (PIANO, 2013)

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imagem: John Gollings


55


1

implantação

2

3

Vila 1- exposições, auditório e um anfiteatro. Vila 2- administração, pesquisa, biblioteca e uma sala de conferências. Vila 3- atividades tradicionais, como música, dança, pintura e escultura.

imagem: autor desconhecido

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Esta obra é marcante devido seu valor vernacular e aos símbolos que carrega através das formas autênticas. O respeito à tradição e às condições locais, apresentando soluções contemporâneas bioclimáticas e de design, mas que não deixam de lado os elementos tradicionais. Todos os estudos de caso selecionados dispõem da premissa de criar uma relação de respeito à natureza e contemplação da paisagem, e bem como afirma Piano (2013), esta construção possui uma forte interação com a vegetação e assentamentos tradicionais do lugar, unificando o projeto com o entorno.

corte longitudinal

corte transversal

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Recorte Corumbá - A “capital” do Pantanal

O município de Corumbá é localizado no sul da região Centro-Oeste do Brasil, no estado do Mato Grosso do Sul, faz fronteira com a Bolívia e o Paraguai, sendo que a cidade (área urbana) está localizada à beira do rio Paraguai. Corumbá abrange 60% do Pantanal sul-mato-grossense, 37% do Pantanal brasileiro, 30% do Pantanal sul-americano.

imagem: iphan

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Com o nome de origem tupi-guarani Curupah – que significa “lugar distante” – e, depois de ter outras denominações ao longo de sua história, Corumbá é conhecida como Cidade Branca, devido à cor clara de seu solo, rico em calcário. - SEBRAE, MS


Corumbá possui o centro urbano de maior significância para o Pantanal, devido ao potencial comercial, industrial, de serviços, cultura, turismo e eventos. Sendo a cidade do estado que mais recebe turistas em busca de um turismo contemplativo e associado a pesca esportiva. É também o principal município exportador do MS.

Em razão de ser o município que detêm a maior área ocupada pelo bioma Pantanal, Corumbá passou a ser chamada de Capital do Pantanal, constituindo-se o principal portal para o santuário ecológico (Prefeitura Municipal de Corumbá, 2015).

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Por que Corumbá?

Justifica-se localizar o projeto na área urbana da cidade de Corumbá (MS), devido ao fato de ser uma das cidades mais afetadas pelos impactos ambientais negativos nos últimos tempos. Na área urbana encontra-se o aeroporto de Corumbá, considerado o principal aeroporto do Pantanal, além de rodovias importantes como a que faz ligação da cidade com a Bolívia e com outros municípios do bioma, assim, favorecendo o acesso para turistas e públicos de outros locais. Considera-se um impulso para o projeto o fato de Corumbá estar entre os municípios pantaneiros que atuam em associação para a implantação do projeto “Rota Cultural do Pantanal - Fortalecimento das redes de empreendimentos criativos com ênfase na Cultura Pantaneira”, visando o aumento da sustentabilidade da cadeia produtiva da cultura e turismo, com a execução de ações ou serviços públicos de interesse comum para o desenvolvimento social, a preservação socioambiental e para iniciativas integradas de geração de trabalho e renda. - SEBRAE, MS Diante destas informações e em razão da ausência de CEAs na região, entende-se que a cidade de Corumbá é ideal para a implantação da proposta de Centro de Educação Ambiental do Pantanal. Levando em conta a Educação Ambiental como um instrumento importante de estímulo ao desenvolvimento sustentável de habilidades e atitudes voltadas ao meio ambiente, e portanto, a necessidade de um local que receba grande visibiliade para a difusão das diretrizes, a cidade escolhida viabiliza tais objetivos devido sua infraestrutura, acessibilidade e demografia.

60


Áreas queimadas 2020

IDH escolarização população ocupada esgotamento adequado arborização viária urbanização viária

0,7

94,7%

15%

19,3%

96,6%

33,4% dados e parâmetros: IBGE

fonte: IMPE, 2021

Corredor extrativista Bacia do Alto Paraguai - BAP Pantanal Área urbana de Corumbá fonte: projeto ECCOS

municípios do país com mais focos de incêndio em 2020 11,6%

Corumbá (MS)

8,2%

São Feliz do Xingu (PA)

7,8%

Poconé (MT)

Barão Melgaço (MT)

6,3%

Porto Velho (RO)

4,8%

Apuí (AM)

4,7%

Estrada- Parque Pantanal voltada para o turismo - ao seu longo existem 71 pontes de madeira que se transformam em observatórios naturais da fauna e flora pantaneira

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Perímetro Urbano

Bioma Pantanal

Corumbá, MS principal cidade às margens do rio Paraguai

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Perímetro urbano e indicação das áreas verdes e espaços livres (praças, espaços públicos, áreas verdes privadas ou espaços livres devido presença de aspectos naturais.)

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Área de intervenção

O terreno em que o projeto se insere proporciona um contato mais aproximado com a natureza e com os recursos fluviais do local, ao mesmo tempo que estabelece uma comunicação com a infraestrutura urbana e cultural da cidade.

imagem: google earth

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Em sua proximidade, encontra-se na orla do rio, uma variedade de edificações históricas, no qual possuem um significativo potencial de preservação, evidenciando o valor patrimonial das construções locais antigas de influência europeia. Vale ressaltar que Corumbá é uma cidade horizontal, apresentando uma baixa verticalidade dos edifícios por todo o perímetro urbano.


CANAL DO TAMENGO

RIO PARAGUAI eixo de drenagem regional fonte de abastecimento de água para as comunidades urbanas da cidade

65


Área de intervenção

topografia plana de baixa declividade A altitude varia entre 100 e 200 metros. As partes mais altas que não são inundadas são chamadas de Cordilheiras, as partes mais baixas que ficam alagadas recebem o nome de Baías. Corumbá está a uma altitude média de 118 metros.

66

acessos/ m

ferrovi

rodovi

vias ar

aeropo


mobilidade

nível d´água

ia

ias

precipitação

rteriais

orto de Corumbá

fonte: dados da Agência Nacional das Águas (ANA) (1964-2018)

as cheias ocorrem entre abril e julho

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Condicionantes Legislação Segundo definição da lei complementar nº 098 /2006 do Plano Diretor do Município de Corumbá, incidem sobre o terreno as seguintes Áreas Especiais (fig. 5): - Áreas Especiais de Interesse Cultural; - Áreas Especiais de Interesse Ambiental; - Áreas Especiais de Interesse Socioambiental. Perante estas áreas incidentes no terreno, estão atribuídas as finalidades de: proteção, recuperação, preservação e valorização da paisagem natural e construída da Macrozona Urbana. No Art. 31, relativo às Áreas Especiais de Interesse Cultural o objetivo é garantir a preservação do patrimônio cultural do Município, da área onde se concentram edificações e conjuntos de relevante expressão arquitetônica, histórica, cultural e paisagística.

No Art. 34, relativo às Áreas Especiais de Interesse Ambiental o objetivo é garantir a permanência de áreas verdes e preservação da vegetação nativa no perímetro urbano, além de propiciar áreas adequadas e qualificadas para implantação de parques urbanos e de lazer. E referente às Áreas Especiais de Interesse Socioambiental, no Art. 35, “têm por finalidade o desenvolvimento de projetos sociais de regularização fundiária e reurbanização com a remoção das famílias em situação de risco iminente e, ainda, a preservação e/ou recuperação ambiental das áreas irregularmente ocupadas” (CORUMBÁ, p. 28, 2006).

zoneamento - PLANO DIRETOR CORUMBÁ ÁREA ESPECIAL DE INTERESSE SOCIOAMBIENTAL ÁREA DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL ÁREA ESPECIAL DE INTERESSE CULTURAL ÁREA ESPECIAL DE INTERESSE AMBIENTAL

N

68


Diante da necessidade de garantir a sustentabilidade do projeto, é importante ressaltar a NBR 15.220-3, do Zoneamento Bioclimático Brasileiro (2005). Corumbá está inserida na ZONA 8, no qual as diretrizes são: - Aberturas grandes para ventilação; - Sombreamento das aberturas; - Paredes leves refletoras; - Coberturas Leves Refletoras; - Ventilação cruzada permanente; - Renovação do ar interno por ar externo através da ventilação dos ambientes; - O uso de resfriamento artificial será necessário para amenizar a eventual sensação de desconforto térmico por calor. (NBR 15.2220, p. 9, 2003)

Também em relação à legislação ambiental, complementa-se à região a lei nº 3.839, de 28 de dezembro de 2009 que define o Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado de Mato Grosso do Sul, Corumbá se localiza na Zona Planície Pantaneira. [...] recomenda-se, prioritariamente, a implantação, em parceria com entidades e comunidades da região pantaneira, de programas integrados de desenvolvimento sustentável, de acordo com as suas peculiaridades culturais, relevância ambiental e dinâmica socioeconômica própria. (ZEE-MS, p. 44, 2009) Na ZPP, não são recomentadas a instalação de empreendimentos e atividades que alterem a característica do terreno e o regime hídrico dos rios, a instalação de empreendimentos e atividades industriais potencialmente causadoras de impactos ambientais e a implantação de silvicultura com espécies que não pertencem ao bioma Pantanal (ZEE-MS, p.45, 2009).

Zoneamento Bioclimático Brasileiro NBR 15.220

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O Projeto Centro de Educação Ambiental do Pantanal

Diante do cenário atual vivido pelo Pantanal, fundamenta-se a necessidade de um projeto que incentive o compromisso e pensamento crítico da população em geral com a preservação e recuperação do bioma. Este projeto consiste em contribuir para um maior envolvimento da população nas questões ambientais, buscando a sensibilização e compreensão do tema a partir da análise crítica sobre as ações coletivas e individuais do mundo atual.

70

Assim, contemplando todas as atividades atribuídas à Educação Ambiental, em conjunto com programas de pesquisas e apoio às comunidades da região. Para que seja atingido esse objetivo, é importante que resulte de uma arquitetura vernacular que se comprometa com as questões socioambientais e que atue como uma referência de respeito ao local e ao meio.


Tornar este um local catalisador de experiências, gerando melhorias nas condições de vida regionais. E que sirva para experimentos pedagógicos e para a geração e difusão de novos conhecimentos.

- Integrar os atores sociais envolvidos com o CEA; - Propiciar a troca e a interação entre os atores sociais envolvidos com o CEA; - Potencializar e instrumentalizar o público-alvo para a ação; - Investigar/ Pesquisar. (TIMÓTEO, 2003)

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Concepção/ Estratégias

Área total do programa de aproximadamente 12.800 m², em relação ao terreno, representada em um único volume

Dispersão dos setores em módulos com o m construtivo, para redução dos impactos

Criação dos caminhos de passeio e de ligação entre os módulos: imersão na paisagem e contemplação

Elevação dos módulos devido surgimento periódicas

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Desenho vernacular da tribo Yawalapiti do Mato Grosso.

mesmo sistema

Criação de uma cobertura inspirada no desenho vernáculo, a fim de criar um maior aproveitamento da ventilação através da forma. As aberturas frontais criam também uma permeabilidade visual.

de inundações

Ambientes com vedações independentes da cobertura principal, com estrutura leve e flexível.

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Adaptação às cheias

Em virtude da ocorrência de inundações periódicas em determinadas épocas do ano, o projeto teve de se adaptar à esta condição, sendo assim, considerando que o nível do rio sofre uma alteração de aproximadamente 2 metros do nível médio predominante, a edificação foi elevada a 3 metros do solo.

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Vale ressaltar que a forma como a água se ajusta ao terreno é sempre variada, dificilmente se repetindo da mesma forma nos diferentes anos.


75


Público alvo

O público alvo para a proposta de edificação do Centro de Educação Ambiental é a população nativa do município de Corumbá, Mato Grosso do Sul, no qual possui cerca de 103.700 habitantes e uma faixa etária predominante de jovens de 10 aos 24 anos (IBGE, 2010). Entretanto, o público que será beneficiado pelo projeto é amplo, com o princípio de atender todas as faixas etárias da população compostas por: - Jovens e adultos de baixa renda do município a serem beneficiados pelas atividades socioambientais; - Educadores, estudantes de escola pública ou privada; - Educadores, pesquisadores e estudantes de universidades; - ONGs locais, entidades e instituições; - Turistas que visitam o município e que se interessam por questões ambientais; - Pesquisadores, ambientalistas, palestrantes; - Comunidades rurais da região; Segundo o último censo do IBGE, cerca de 12% da população de Corumbá é rural. Sendo composta por comunidades e populações mais pobres dispersas pela planície, como os coletores de iscas, comunidades de pescadores, indígenas e quilombolas. Isto posto, serão elas também, parte do público alvo do projeto. Com o intuito de promover suporte e visibilidade às alternativas de vida sustentáveis destas comunidades ribeirinhas do Pantanal, o módulo itinerante do Centro de Educação Ambiental atenderá à essa demanda através da educação e de ações de políticas públicas socioambientais, associado a instituições que já realizam trabalhos voltados ao desenvolvimento sustentável destas comunidades.

76


comunidades atendidas pelo módulo itinerante

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Programa

A partir das diretrizes já mensionadas, o programa foi distribuído em setores dos quais: administração: área onde encontra-se o hall de entrada, salas administrativas e área de infraestrutura. expositivo: área de exposições temporárias e auditório para palestras, aulas ou congressos. educativo: área com salas de aula, salas multiuso entre outras, e biblioteca. pesquisa: área destinada à pesquisadores e estudantes com espaços destinados à produção de pesquisas e trabalhos acadêmicos. Contêm alojamentos. comércio: área com restaurantes, mercados e feiras. pousada: hotel destinado à turistas que buscam uma experência ecológica itinerante: módulo que navega pelo rio para prestar apoio à comunida-des ribeirinhas.

78


79


Implantação

9

10

11 15

A

14 7

12

13

14

80

100

6

2

3

20 40

4 B

13 15

B

5

8


B

A implantação dispersa visa criar um ambiente de imersão no qual os passeios promovidos permitem a contemplação e a sensação de pertencimento à paisagem local. Os caminhos apesar de longos, possuem o intuíto de criar um espaço público de lazer e reflexão, dispondo de áreas de repouso ao longo dos percursos, que podem ser percorridos também de bicicleta.

A

15

1

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

acesso principal acesso de veículos acesso para pousada administração/ infraestrutura expositivo educacional pesquisa/ alojamento comércio módulo itinerante mirante pousada área de apoio ao viveiro viveiro de aves nativas torre d´ água e placas solares bicicletário

81


Implantação

Implantação da área de atividades educativas 1 2 3 4

administração/ infraestrutura expositivo educacional pesquisa/ alojamento

5 comércio

82


2 5

1

4 3

9

18

27

83


Implantação Implantação da área de pousada 1 administração/ apoio / área de estar 2 quartos

84


2

2 1

2

9

18

27

85


Implantação Implantação da área do mirante 1 mirante 2 deck 3 módulo itinerante

planta superior

86


3

1 2

9

18

27

87


Implantação Implantação da área do viveiro 1 apoio/ bicicletário 2 viveiro

88


2

2

2 1

9

18

27

89


O módulo

O módulo concebido a partir do desenho vernacular busca estabelecer um respeito à tradição dos povos locais, adaptando a forma à um design contemporâneo mas que se aproveita dos saberes da região para fomentar a eficiência energética. As curvaturas também empenham-se em aguçar a curiosidade. Com a premissa de gerar inserção e comunicação com a natureza e paisagem, os grandes arcos criam uma permeabilidade visual que fazem com que a edificação coexista em harmonia com a paisagem. Os padrões construtivos são os mesmos para todos os módulos. Os ambientes com vedações leves de Wood Frame, podem possuir coberturas ou não, dependendo da necessidade. Essa técnica construtiva possibilita a criação de ambientes flexíveis e facilmente alteráveis. Cada módulo está acompanhado de uma torre d´água que armazena água tratada da concessionária, além de placas de energia solar.

90


91


Conforto térmico

Neste projeto a cobertura tem um papel primordial no desempenho térmico do edifício, as aberturas e a forma proporcionam um maior aproveitamento dos ventos, criando uma ventilação cruzada e circulação interna do ar devido ao desenho vernacular curvo. Como o clima quente da região exige um resfriamento interno, a cobertura princiapal em separado das vedações e coberturas dos ambientes internos, acaba criando uma camada dupla, fazendo com que a camada externa sombreia a interna, evitando o aquecimento.

Além disso, a camada de manta Alwitra possui uma boa eficiência energética que também ajuda no resfriamento. Bem como, oferece boa proteção contra as intempéries. Os beirais atuam impedindo a incidência solar no interior do edifício.

Ventilação cruzada

corte perspectivado

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Abertura para entrada de iluminação natural e para escoamento da água da chuva voltar ao solo

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Estrutura

O material utilizado para a estrutura da cobertura é a madeira Eucalipto, uma madeira de reflorestamento que vem crescendo a sua plantação na região do Pantanal e principalmente no Mato Grosso do Sul. A técnica de estrutura neste projeto é a Madeira Laminada Colada – MLC, um produto engenheirado, formado a partir de lâminas de madeira unidas entre si por um adesivo certificado para uso estrutural, à prova d’água. “Utilizando-se pequenos pedaços de madeira para formar uma peça maior, resistente e durável, a MLC permite um uso racional das florestas plantadas, garantindo assim a sustentabilidade no fornecimento.“ (ITA Construtora) As peças principais que formam a espécie de “arco”, inspirado no desenho vernacular, são conectadas por peças metálicas desenvolvidas exclusivamente para se adequar à forma. Essas peças são compostas por camadas duplas, tanto as vigas quanto os pilares (ver detalhamentos), uma vez que o grande vão exige peças mais robustas. Para o fortalecimento e travamento dessa cobertura, vigas intermediárias e contraventamentos metálicos foram projetados para resolver esta questão. Posteriormente, a cobertura recebe caibros sobrepostos que sustentam e fixam a última camada de placa OSB e manta Alwitra. Para a laje elevada do solo, vigas vagão foram projetadas em MLC e peças metálicas, com o objetivo de vencer o grande vão e diminuir a altura da viga de madeira. Por fim, o assoalho é sobreposto em lajes de Painel Wall que permite vencer grandes vãos, tem alta resistência a cargas distribuídas e não propaga chamas.

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manta Alwitra fixada em placas OSB

caibros

estrutura principal de MLC de Eucalipto

fundação e pilar de concreto

laje Painel Wall e assoalho de madeira

vigamento da laje - vigas vagão de MLC de Eucalipto e aço

95


det. 2

det. 3 det. 1

96

isometrica explodida sem escala


detalhe 1- encontro entre peças de madeira do pilar

detalhe 2 - encontro entre vigas

detalhe 3 - encontro pilar de madeira e pilar de concreto

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Corte AA Para representação do corte, foi passado um corte no módulo administrativo, considerando que as propriedades, elementos e medidas são os mesmos para os demais módulos. O que difere um módulo do outro é a variação da quantidade do que pode ser considerado os “arcos” da estrutura. Neste caso, apresentam-se 3 “arcos”, no caso do módulo educativo e de pesquisa, são compostos por 4 arcos, a fim de atender a demanda de área de seus programas.

3 3

98

6 6

12 12


99


Corte aproximado

abertura com caixilhos para ventilação cruzada

cobertura Alwitra

caibros para fixação da cobertura

det. 2

estrutura princial em MLC ambientes em wood frame

laje Painel Wall viga vagão

pilar de concreto

3

100


det. 1

6

12

101


detalhamento 1

Cortes detalhados

Para um melhor entendimento dos elementos que constituem a cobertura, nestes cortes aproximados são representadas as peças de madeira laminada colada em composição com as peças metálicas. No detalhamento 1 é representado a estratégia criada para resolver as questões de infiltração da água da chuva, para impedir entradas indesejadas de água, mas ao mesmo tempo preservar a forma e a abertura para ventilação e iluminação natura.

detalhamento 2

manta alwitra placa osb caibro 0,9 x 0,27

viga intermediária 0,12 x 0,42 peça estrutural principal vedações internas em wood frame

assoalho de madeira sarrafo laje de painel wall 2,50 x 1,20 x 40mm barrote sobreposto 0,9 x 0,18 viga vagão 0,15 x 0,54 viga intermediária 0,15 x 0,54

102

peça metálica da viga vagão h=0,90


103


Corte BB com esquema de água

A água da chuva é captada por uma calha na cobertura e é encaminhada para um duto de escoamento que leva a água para um filtro que elimina as partículas sólidas da água pluvial. Após filtrada, a água é armazenada em uma cisterna e posteriormente direcionada por uma bomba hidráulica para levar a água para os vasos sanitários, essa água então passa por um tratamento de esgoto para que possa ser retornada para o rio.

calha para captação de água pluvial

4

1 2 3

7

8 9 3

104

6

12


1 placas fotovoltaicas para geração de energia elétrica

2 painel solar para aquecimento de água

3 reservatório de água tratada da concessionária

4 captação de água de chuva 5 tratamento da água pluvial 6 armazenamento da água pluvial

7

7 uso da água para sanitários 6

5

8 tratamento de esgoto 9 retorno da água tratada ao rio

105


Plantas do equipamento educativo

3

1

7

4 5

11

6

9 2

6

5

10

30

Administração e insfraestrutura

1 2 3 4 5 6

106

8

hall secretaria ambulatório almoxarifado sala de direção sala de reunião

7 8 9 10 11

infraestrutura copa área de serviço vestiário sanitários

10


3

1

5 6

2

7

5

4

1

10

30

Área Expositiva

1 2 3 4 5 6 7

foyer auditório depósito sala de tradução/som sala de preparo área de exposição sanitários

107


2

6

1

7 10

5

3

5

10

30

Área Educativa

1 2 3 4 5

108

área de estudos biblioteca ecobrinquedoteca videoteca área de leitura

6 7 8 9 10

sala de aula salamultiuso sala de informática oficina de arte sanitários

6 8

7

4

6

9


1

4 7

8

6

9 5

5

10

2 3

30

Área de pesquisa e alojamento

1 2 3 4 5

área de estudos sala de videoconferência área com baias indivudiais sala para estudo em grupo produção de acadêmicos

6 7 8 9

alojamento: quartos duplos alojamento: quartos individuais área de estar sanitários

109


3

2

4 6

1

5

3

10

30

Comércio

1 2 3 4 5 6

110

restaurantes refeitório feira de artesanatos locais mercado de orgânicos mercado de peixes da região sanitários

5


1

1

2

2

1

1

1

1

2

2

1

1

5

10

30

Pousada

1 quartos duplos: cama de solteiro 2 quartos duplos: cama de casal

111


área do equipamento educativo

112


113


vista interna do módulo educativo 114


115


vista externa do módulo educativo

116


117


área da pousada

118


119


vista interna de uma sala multiuso 120


121


vista externa módulo expositivo 122


123


mirante

124


125


vista externa do mirante no deck 126


127


vista externa da área do viveiro em espaço de repouso do passeio 128


129


vista interna do viveiro de aves pantaneiras

130


131


Considerações finais

Ano passado (2020), diante de tantas nóticias sendo transmitidas a respeito das tragédias ambientais ocorridas no Pantanal, surgiu a inquietação de produzir um projeto que permitisse difundir uma consciência geral e atuante através da arquitetura. Ao longo de todo processo de pesquisa, ficou claro a importância da educação ambiental, sendo um dos principais pilares da ecologia. Sendo assim, o Centro de Educação Ambiental como sendo o centro catalizador de todas as ideias que abrangem as questões ecológicas e educacionais, mostra-se uma ótima e eficiente alternativa para colocar em prática tais diretrizes. É necessário que a arquitetura corresponda ao que o tema transmite. Portanto, é evidente que uma arquitetura que resgata técnicas locais de eficiência termica, que utiliza materiais locais e estratégias sustentáveis torna-se imprescindível. Ela deve espelhar os valores agregados ao tema em questão. Dessa forma, conforme a arquitetura se adequa às condições locais e às diretrizes, reflete em um maior envolvimento do público. É de extrema importância trazer visibilidade ao tema e proporcionar espaços de debates e trocas.

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CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO PANTANAL

Júlia Maciel Trabalho Final de Graduação 2021

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