astrozine _ Lua e os 4 elementos

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Fogo

Ana Lancman


Fogo Lua em áries ou como fazer morada no que queima Habito um risco Meu lar é risco Habito um trecho de vento Que sobra depois furacão Habito o inabitável Habito o grito E cedo morada ao grito Que vem do outro Viver é risco Uma fagulha no caos Do infinito melódico de satélites Em órbita Julia Lelli


Fogo

Thais Pugliesi


Fogo Do pesadelo que tinha na infância e de como ele me trouxe até aqui Sair rolando uma ladeira Abaixo o mundo todo De cima a casa olha Não fazer morada em tijolos fixos Ser Antes Devir insano Quisera eu ter despencado Naquele dia Hoje Sedimentei O risco do pensamento Me trouxe aqui Julia Lelli


Fogo

Anna Vis


Fogo

Pólvora Sopa de abóbora com gengibre Laranja pra não dizer vermelho Militar no almoço de família Sanduíche de carne louca Febre delirante Sala de aula da 3a série B Tiro no escuro Virar a noite dirigindo pra conhecer ela Superfície solar

Brincar de pegar a fuligem que cai do céu Uma oficina barulhenta Cheiro de sangue Sair para esfriar a cabeça Epifania Pinhão Fogueira de São João Vai que vai! Mudar os móveis de lugar de madrugada Foder à exaustão

Sofia Amarante

Melissa de Miranda


Fogo

Thais Pugliesi


Terra

Anna Vis


Terra

Monte Olimpo em Marte Lamber os pêlos suados do suvaco dela Cheiro de terra molhada de manhã Vermelho Tutu de feijão Digestão Terra preta embaixo da unha Uma longa viagem de carro Pó que entra pelas frestas A quarentena que não acaba nunca Sofia Amarante

Fazendo coroas de flores e trançando o cabelo da minha irmã Descalça na terra fofa Deserto de sal Caracol deixando rastro na parede A roupa comida por traça Rituais diários Gostar da sujeira no corpo dela Sapatão de sítio Comer grama na infância Revisões obsessivas de texto Melissa de Miranda


Terra

Ana Lancman


Terra

Thais Pugliesi


Ar

Ana Lancman


Ar

Parar o sexo para rir e conversar Amanhã só que hoje Todas as cores e nenhuma A cidade movimentada Os livros que não escrevi Aquele ET que fuma e diz: but is it art? Olhar as luzes acesas nos prédios Fritando em festa de techno numa praça no Centro Atração pelo esquisito Esparramar

O vento que vem do mar Olhar pro céu enquanto voa no balanço Arcaico-futurista Fumar na varanda dela de madrugada Filosofia de boteco Teorias da conspiração O ar gelado da madrugada paulistana Dormir de estrela na cama de casal Eu casei com a minha melhor amiga Três horas de conselho no telefone para depois ir lá e fazer o que bem entender

Melissa de Miranda

Sofia Amarante


Ar

Thais Pugliesi


Ar

Anna Vis


Ar

Thais Pugliesi


Água Correnteza de fluxo sanguíneo. Pulsa em meu corpo solto na imensidão do mar. Largar o que já não me faz mais bem. Também o que não me cabe. Deixo me lavar, limpar e salgar. É tempo de respiro. De mares e marés. A alma pede, o corpo agradece. Sinto cheiro de sal, o som das ondas. Quero abraçar o meu corpo na imensidão quientinha. Aconchego. Me sinto livre. É leve. Quando já não mais me servir, busco novos horizontes. Serei mais dona dos meus olhos. A distância é relativa. Quando me sinto em mim, me fortaleço nas correntes de dentro. Deixar ir. Correr. Escorrer. Para onde vai? Não ter controle. Na verdade é um fluxo de presença, sabedoria e escuta de si. Não é se deixar escorrer pelos cantos, é fluir na leveza e na sabedoria de si. É tempo de saber deixar ir, fluir na atenção. Sem tensão. Sem amarras e dores musculares. O que me prende? O que me tensiona? Onde desejo controlar os meus músculos? Solto, sangue, veias, fluxos. Fluídos. Escorrer, se escorrer do que já não te alimenta, do que te envenena, do que não te nutre. Escorrer por dentro de si, fluir, derramar-se de prazer por saber escorrer na vida, pela vida. As águas são sábias. Aguemos o que já nos secou. Lavemos o que se petrificou, estagnou. Ainda é tempo de se molhar, de regar. Ainda há tempo de lavar a alma. Fluxo, fluído, sangue, veias abertas, caminhos de rios, mares, marés. Imensidão de mim. Luna Penna


Água

Anna Vis


Água

Sabedoria Onda Respiro Fluido. Alma Leveza. Maré Limpeza. Yamenjá Purificação. Luna Penna

Dormir no banco de trás do carro enquanto chove Banho de mangueira Fresco Deitar Transparente O sono depois de chorar Lentidão que te engole Piscina dentro da cabeça Lago raso e infinito, onde você pode andar por dias [sem encontrar mais nada e nem ninguém Represar Melissa de Miranda


Água

Cantar apaixonada debaixo da chuva Banho gelado pra passar as dores Turquesa Planeta-mar Deitar Lodo Ventania durante a chuva que parece que vai levar a casa inteira Infiltração Quando eu era pequena, eu saía do mar com o olho ardendo e minha mãe lambia o sal do meu olho Afundar em rio gelado, tão gelado que você não consegue pensar Sofia Amarante


Ă gua

Thais Pugliesi


Ă gua

Thais Pugliesi


Água

Brisa aquático-poética: O meu esforço é sempre de construir casa. Então preciso construir a cada vez, uma casa única, singular. Acho que por isso finalizar algo é tão difícil: porque significa derrubar uma casa. Outras vezes a casa cai com a gente dentro. E é preciso ressuscitar dos escombros. Tem momentos em que as pessoas são casas. Outros é o lugar que se deve abandonar, para não ser tragada pelo tempo, pelos objetos inúteis, pelas camadas de sentimentos - cimento bruto, pela estreiteza das paredes-hábitos. Caranguejo anda pra trás, mas não é burro. Volta lá pro ponto onde tudo começou para redescobrir a força de continuar. Ou não. O que me colocou em movimento? Que impulso foi esse? Que horizonte eu via que agora se nublou? Gosto mais de construir casas de pau a pique. Camila Matheus


Lua

Ana Lancman


Lua

Anna Vis


Lua

Carlota Atilano


Zine produzido a partir do curso online

Lua e os 4 elementos realizado por Julia Francisca em julho de 2020

(((( coleção astrozines ))))

@trama_celeste

www.tramaceleste.com.br


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