casa - TFG Julia Galves

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casa



Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

casa Julia Benitez Galves orientação Álvaro Puntoni

trabalho final de graduação junho 2016



a meu pai, minha mĂŁe e minha irmĂŁ que me ensinaram o real significado de casa



agradeço

ao Álvaro Puntoni, pela orientação e pela ideia delirante (porém divertida) das 100 casas. Foi a partir deste desafio fantasioso que este TFG nasceu; à Joana Mello, pela conversa que foi importantíssima para definir o produto final deste trabalho; ao Pedro Tuma, que me inspirou a partir do projeto da casa Vila Matilde.; e a ambos, por aceitaram fazer parte da minha banca; à Marta Bógea, que abriu meus olhos para outras formas de representação arquitetônica; ao Danilo Zamboni, que me permitiu usar seus inigualáveis e expressivos desenhos em minhas colagens; à Gabriela Barboza, minha eterna dupla de FAU e companheira na nossa primeira casa fora de casa; à Francesca Tedeschi, pelas palavras compreensivas e encorajadoras; às amigas da FAUmília, pela amizade e sororidade, que fizeram dessa jornada fauana muito mais leve e divertida; ao trio maravilha, Agnes, João e Francesca (mais uma vez), pelas risadas nos infindáveis trabalhos; ao Deco, por estar ao meu lado, me tranquilizando e me ajudando; à minha irmã, que me ensinou a alcançar sonhos; aos meus pais, por apoiarem meus rumos de todas as formas possíveis, me permitindo sonhar mais alto. Eu sou quem eu sou hoje (e quem um dia serei) graças a vocês.



conteúdo

introdução

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a casa o que faz do abrigo uma casa?

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questões contemporâneas

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o que faz da casa um lar?

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cem casas 1:100

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uma casa 1:1

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considerações finais

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referências bibliográficas

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“Projetamos no espaço da casa nossa realidade interior, nossas memórias, nossa história, nossos sonhos e o que deles não foi possível realizar. Está tudo ali, nesse espaço imediato ao corpo; o abrigo do eu que se torna nosso centro de referencia e de identidade, e a medida de nossa relação com o mundo lá fora.”

Fábio Knoll


introdução

Este trabalho final de graduação busca a conceituação e compreensão da casa contemporânea, por meio do exercício teórico e de projeto, como uma forma de entender as atuais necessidades da sociedade e sua influência na espacialidade do lar. A casa, nosso primeiro abrigo, é também o nosso primeiro contato com a arquitetura. O espaço da casa é a extensão do ser, seu espaço de relacionamento privado e, ao mesmo tempo, seu mediador com o público, com a vida na cidade. Estudar a casa é também entender a parte mais íntima do indivíduo da nossa sociedade. Para melhor entendimento, este trabalho foi dividido em 3 cadernos que identificam cada etapa. O primeiro (a casa) inclui a pesquisa teórica, definição de conceitos e referências projetuais. O segundo (cem casas) abrange o exercício projetual onírico de 100 casas, levando em conta as questões pesquisadas no caderno 1. Por fim, o terceiro (uma casa) trata do projeto de uma única casa, em um terreno real, buscando solucionar as questões teóricas em um exercício real de materialidades e espaço. Além de compreender os aspectos citados, a pequena escala do objeto de estudo também é uma questão de interesse pessoal. Durante toda a trajetória da graduação, trabalhamos em projetos de grande escala. Entretanto, é muito raro avançarmos ao nível de detalhe de projeto, compreendendo a integração de todos os sistemas, suas materialidades e os espaços decorrentes deste raciocínio. Minha intenção é finalizar minha trajetória na graduação concebendo um projeto em que todas essas questões sejam consideradas.

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a casa


Filarete, o homem primitivo se protegendo da chuva

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o que faz do abrigo uma casa?

“Habitação: lugar na qual se habita. Constitui em arquitetura o abrigo ou invólucro que protege o homem, favorecendo sua vida no aspecto material e espiritual.” 1 Adão, o primeiro homem, leva as mãos sobre a cabeça como forma de se cobrir, protegendo-se da chuva. Acredita-se que a primeira necessidade construtiva do homem foi o abrigo, cuja finalidade era a proteção das intempéries e ameças externas. Assim, o homem ergueu sua prima arquitetura: o mito da cabana primitiva. Para Vitrúvio, a cabana também tem como função primordial proteger o fogo, aquecendo seus habitantes. Esse espaço, que protege a família, constitui um lar. A ligação entre fogo e lar fica explícita pela palavra lareira, quase uma metáfora do calor afetivo do espaço construído da casa. Para Alberti, a base da arquitetura excede a exclusiva proteção do fogo, pois inclui a importância das paredes como forma de organizar o espaço doméstico e determinar as funções dos rituais cotidianos. Além da proteção, existem questões emocionais da casa referentes à memória, à infância e à percepção do espaço. Essas sensações e emoções espaciais serão discutidos no próximo capítulo. Antes dessa compreensão emocional, é necessário compreender a casa fisicamente, entender os espaços físicos da casa, e como estes a diferenciam de uma outra edificação qualquer que pudesse dar abrigo. Em suma, o que faz do abrigo uma casa? Esses conceitos são desenvolvidos e explicado pelo arquiteto e professor Witold Rybczynski, em seu livro “casa: história de uma idéia”. Os conceitos são explicados a seguir.

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Dicionário da Arquitetura Brasileira (Corona e Lemos, 1972, p.462)

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Edward Hopper, morning in a city

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privacidade e intimidade privacidade s.f.: vida privada, particular, íntima. uso trata-se de anglicismo de empréstimo recente na língua sugerindo-se em seu lugar o uso de intimidade, liberdade pessoal, vida íntima; sossego intimidade s.f: qualidade ou caráter do que é íntimo. 1 a vida doméstica, cotidiana, a vida íntima (...) 6 ambiente onde se tem privacidade, tranquilidade, aconchego.

Uma das funções primordiais da casa é proteção do indivíduo ao que lhe é alheio. A partir do momento que a casa é a “casca” do homem ao mundo externo, temse um espaço em que este pode-se viver reservado do coletivo. Entretanto, isso nem sempre foi atrelado à privacidade, uma vez que o trabalho estava inserido no mesmo local do morar. Foi apenas com a revolução industrial burguesa que a noção de privacidade apareceu, pois o trabalho se desloca da esfera doméstica para ser executado nas fábricas. A privatização da casa inicou-se com a separação do trabalho do ambiente doméstico. Com isso, tem-se individualização da família em seu espaço próprio, a partir de barreiras físicas que a separam da sociedade. A privacidade se relaciona diretamente com a intimidade, ao proporcionar um espaço próprio às relações familiares. Íntimo é definido como aquilo que é próprio, que não precisa ser compartilhado. A intimidade da família agora é possível, uma vez que sua vida doméstica passa a operar em lógica própria, não mais pela do trabalho. Ou seja, a casa passa a ser o local contrário ao trabalho, é o local do descanso.

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Danilo Zamboni, trabalho final de gradução

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domesticidade

domesticidade s.f.: qualidade, caráter ou condição de doméstico 1 vida privada, circunscrita à casa de uma pessoa e/ou suas particularidades doméstico adj.: 1 relativo ao lar, à família, à vida particular de uma pessoa

“ a domesticidade é um conjunto de emoções sentidas, e não um único atributo. Ela está relacionada à família, à intimidade, à devoção ao lar, assim como a uma sensação da casa como incorporadora - e não somente abrigo - destes sentidos” Witold Rybczynski. A partir das considerações anteriores, é possivel estabelecer uma diferenciação entre casa(ambiente físico) e lar (ambiente emocional). Se casa é a construção e lar é alma, então a domesticidade é ponte dessa relação. É na casa, como espaço físico, que o homem faz seus rituais de vida diária: comer, dormir, se arrumar, descansar, etc. Doméstico é o atributo das tarefas realizadas no templo familiar. Essas cerimônias domésticas também carregam consigo o papel histórico da mulher neste espaço. A casa é historicamente atrelado à mulher, espaço de seu controle. Como cita Marlene Acayaba , “o ideal de felicidade (do casamento) se materializava na casa. Ou seja, cabia a ela (a mulher) dar sentido a casa”.

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Edward Hopper, morning, truro studio

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comodidade comodidade s.f.: 1 qualidade do que é cômodo; qualidade do que satisfaz plenamente, por sua adequação, utlidade ou conveniência, aos fins a que atende(...) 4 conforto, agradado, facilidade (...) comodidades s.f.pl 6 tudo o que torna a vida mais cômoda e aprazível, exigências do bem-estar, facilidades cômodo adj: (...) s.m. 6 m.q. COMODIDADE cada uma das divisões que constituem uma casa

A comodidade é uma idéia relacionada com a eficiência de um ambiente: quanto este satisfaz a função à que lhe é esperado, gerando bem estar ao usuário/ habitante. Se a casa é o lugar dos rituais diários, estes devem estar organizados para que sejam praticados da forma mais plena possível. Jacques-François Blondel, arquiteto de Louis XV da França, seguia os conceitos vitruvianos para uma boa arquitetura: “comodidade, encanto e firmeza”. Em sua concepção, tem-se comodidade como conveniência e adequação, encanto como estética e firmeza como estrutura. Para o arquiteto da corte real, uma arquitetura adequada deveria dividir os cômodos em 3 categorias: cômodo de cerimônia, cômodo de recepção formal e cômodo “de comodidade” - este último sendo o mais privado. Na arquitetura moderna -e mesmo na contemporânea - ainda enxergamos esse tipo de categorização de cômodos em razão do uso/função: social, serviço e íntimo.

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David Graeme Baker, reader, morning light

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conforto conforto / ô/ s.m. ato ou efeito de confortar(-se) 1 estado de quem é ou se sente confortado 2 consolo recebido ou prestado em momento de preocupação, aflição; consolação 3 sensação agradável; sensação de prazer, de plenitude, de bem-estar espiritual (...) 6 o que fortalece, revigora

Tem-se no imaginário contemporâneo que a casa deve confortar seus indivíduos da exaustiva rotina, recebendo-os de forma acolheadora; Uma das funções da casa, além do recolhimento privado, é também ser o ambiente em que o ser humano pode se recuperar fisicamente. Um espaço salubre que promova bem estar, permitindo que o morador possa “recompor suas energias”. É certo que todos os conceitos apresentados anteriormente - intimidade, privacidade, domesticidade e comodidade - são fatores relevantes para se alcançar o estado de conforto descrito. Parte desse conceito de conforto é produto cultural e subjetivo, mas muito também deve-se à questões técnicas de salubridade, como iluminação, ventilação, etc.

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Shigeru Ban, naked house

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questões contemporâneas

As características históricas referentes à casa, explicadas no subcapítulo anterior, foram definidas por Witold Rybzczynski em sua obra “Casa: história de uma ideia”. , de 1986. Essas qualidades fazem parte da “raiz” da casa burguesa, conceitos praticamente atemporais que estão presentes até hoje. Entretanto, alguns outros fatores devem ser contemplados ao entendimento da casa contemporânea, incorporando algumas mudanças na sociedade que refletem no programa da casa. No ano letivo de 2013/2014, a mais reconhecida escola britânica de arquitetura, Architectural Association (AA), ofereceu uma disciplina de ultimo ano de graduação cujo o tema foi “The Grand Domestic Revolution: revisiting the architecture of housing” . Na ementa deste curso foram levantadas diversas questões que devemos levar em conta no novo programa de habitação, abrangendo as necessidades da sociedade atual. Para a escola britânica, é preciso questionar a definição da casa como “máquina de viver”. O arquiteto não deve tratar do programa de casa meramente como uma questão de organização de diagramas de movimento dos usuários, pensando nos corredores como centros de distribuição de espaços com funções especificas. Esse tipo de raciocínio de projeto se adapta rudemente às incertezas e às mudanças, que são um dos traços principais da vida humana. Uma outra questão levantada pela AA diz respeito à presença do trabalho no ambiente doméstico. Antes, a casa era o local de descanso do trabalho e, sob essa ótica, muitos estudos de conforto ambiental foram feitos de forma a melhorar a vida doméstica dos operários ingleses para que estes, mais descansados, pudessem ter mais produtividade no trabalho. Entretanto, no contexto atual, a tecnologia permitiu que o trabalho adentrasse no espaço doméstico.

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Angelo Bucci, casa e salão de cabelereiro em Orlândia

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Outra obra que destaca as necessidades contemporâneas residenciais é o livro “Housing + Singular Housing”, escrito pelos arquitetos catalães Manuel Gausa e Jaime Salazar. Para eles, o contexto atual é o mundo da informação, da internet. A arquitetura deve estar adequada à acessibilidade de conhecimento. Nesse sentido, buscam uma arquitetura que seja transparente ao publico, tanto em seu sentido estético como também na disposição e reinterpretação do programa. A casa pode ser projetada pelo arquiteto, mas é usada e de domínio de seus moradores. Por esses motivos, deve permitir uma dinâmica de decisões abertas de layout. No estudo de habitação -abrangendo, neste caso, o projeto de edifício coletivo - os arquitetos catalães definem que deve-se buscar diversidade de esquemas bases, que devem estar baseados em alguns elementos fixos que por sua vez permitam espaços variáveis. é o caso do esquema ABC (armário, banheiro e cozinha). Os espaços devem ser o menos segmentados possível, de forma a evitar partições desnecessárias e liberar espaço interior. Com isso, têm-se mais flexibilidade do espaço, preferida à especialização, que permitir ambientes fluidos e transformáveis, se adaptando as exigências dos usuários O programa da casa deve se adaptar às necessidades dos usuários, relacionadose ao contexto histórico em que se vive. Não apenas as exigências do morador podem variar durante sua vida, como também é necessário pensar na arquitetura como algo que permanece a longo prazo. Assim, é necessário um projeto que permita uma reinterpretação para diferentes usos. Dadas as questões levantadas, os fatores presentes no partido devem ser:

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PLANTAS AMPLAS E FLEXÍVEIS Evitar a segmentação do espaço, integrando mais os ambientes, e utilizar a modulação, materiais leves e divisórias que permitam uma alteração de layout com facilidade

OMMX Architects, apartamento thames quay , antes e depois

OMMX Architects, apartamento thames quay , detalhe divisórias

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O TRABALHO NO ESPAÇO DOMÉSTICO: Pensar um layout que considere o espaço de trabalho na casa, porém de forma que não perturbe a domesticidade e mantenha a privacidade e intimidade de seus habitantes

Terra e Tuma arquitetos, casa + estúdio, detalhe das entradas separadas

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Fala Atelier, casa galpĂŁo; colagem e foto

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o que faz da casa um lar?

A casa, por ser o local de intimidade e privacidade, promove uma relação de proximidade emocional entre morador e arquitetura. O espaço residencial passa a transcender o valor físico (casa como construção) para também se tornar um lar (local emocional das relações familiares e afetivas). Nesse sentido de lar, a casa é também o local de nossas memórias da infância, o nosso primeiro universo e nossa primeira ponte de contato com o mundo. A vida começa na casa. É neste local protegido que podemos crescer e também sonhar. A casa é o local de proteção não apenas do corpo, mas de nossos pensamentos e lembranças. Quando pensamos na casa, retornamos às lembranças de nossa morada natal, tanto no sentindo de memória, como também quanto às formas de se viver em domesticidade. É como diz o ditado “levamos para casa nova os nossos deuses domésticos”. Os rituais domésticos são carregados conosco em nossos “templos do morar”.

“A arquitetura tem o seu espaço de existência. Encontra-se numa ligação física especial com a vida. No meu ponto de vista, inicialmente não é mensagem nem sinal, mas invólucro e cenário da vida, um recipiente sensível para o ritmo dos passos no chão, para a concentração do trabalho, para o silêncio do sono” Peter Zumthor, Pensar a Arquitetura, p.12

Zumthor, em Atmosferas, determina as qualidades de um espaço que geram emoções aos usuários. Essas qualidades estão diretamente relacionadas com a percepção emocional do espaço. Na casa, essas qualidades aparecem ainda mais fortes, uma vez que é o espaço que estamos mais ligados emocionalmente. As pequenas emoções geradas pelo espaço começam a fazer parte das pequenas alegrias cotidianas: uma luz que entra na cozinha às quatro da tarde, o som do vento que zumbe pelo caixilho, a textura da madeira sob os pés, o gelado da

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Fala Atelier, apartamento chiado; colagem e foto

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bancada de mármore que encosta na mão. O arquiteto precisa estar atento à essas sensações de projeto que afetam o morador. A compreensão da arquitetura deve ser feita pela sua forma física e sua materialidade, e as emoções que essa infindáveis combinações podem gerar. É necessário estar atento ao espaço como forma física, que se interage, que envolve e protege a vida. É necessário escolher os materiais que melhor respondem as questões dessa arquitetura, ttanto com relação à usabilidade, quanto em relação às sensações geradas. É necessário ter em mente que esse material influencia a percepção do espaço em termos físicos (temperatura, luz, sons) como também afeta a percepção emocional, gerando espaços sedutores, serenos, agradáveis, ou não. É necessário compreender que essa mesma composição forma/material é que faz a intermediação entre interior e exterior, entre público e privado. É necessário que, por fim, ao compreender e solucionar todas essas questões, gerar uma forma bonita que seja harmônica, em si mesma e em relação ao seu entorno. Um desafio enfrentado neste trabalho foi encontrar a melhor maneira de representar esses detalhes emotivos da arquitetura. O desenho técnico não é suficiente para mostrar as sensações que as composições de forma e material são capazes de gerar. Assim, como forma de estudo e de compreensão do espaço, foram feitos “desenhos afetivos”, colagens com texturas que demonstram essas combinações. Uma alternativa à representação técnica seria através de renders, que retratam com maior realismo a situação arquitetônica pretendida. Entretanto, por opção, a colagem parece ser um método melhor para representar as sensações de uma casa, uma vez que deixa em aberto o compromisso com a realidade, e permite-se uma visualização lúdica do possível espaço. “Quando o realismo e o virtuosismo gráfico numa representação arquitetônica se tornam grandes demais, quando já não contem “pontos em aberto” onde podemos penetrar com nossa imaginação e que fazem surgir a curiosidade pela realidade do objeto representado, então é a própria representação que se torna o objeto de cobiça” Peter Zumthor, Pensar a Arquitetura, p.12-13

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cem casas



1:100

Este caderno corresponde à segunda parte de meu processo de trabalho, um ensaio conceptual de 100 casas conforme à compreensão teórica do espaço da casa elaborada no primeiro caderno. A motivação inicial para um exercício onírico de projeto deve-se ao fato da inexistência de um cliente e seu terreno. Ao mesmo tempo que a casa é o projeto arquitetônico que transmite de forma mais fidedigna os desejos pessoais do cliente, é também o espaço em que permitese ao arquiteto fazer mais experimentações espaciais conforme a tolerância e flexibilidade de seu cliente. A partir desses motivos, justificamos o exercício projetual de 100 casas que, espacialmente, buscam responder às questões demandadas pelo projeto contemporâneo residencial unifamiliar. Dada a inexistência de um terreno real, e também como forma de padronizar esse exercício, a solução foi basear todas estes projetos imaginários em um mesmo tipo de lote. No caso, o escolhido foi o lote mínimo definido no artigo 23, capítulo V da lei municipal n° 9413/81 do município de São Paulo: Art. 23 Nas zonas de uso Z2, Z9, Z11, Z13, Z17 e Z18, a área mínima do lote para o uso residencial unifamiliar (R1) será de 125m², com frente mínima de 5m, obedecidas as demais disposições da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo. Assim, definimos para este exercício o lote como sendo 5m de frente e 25m de profundidade, uma área bastante estreita e comprida, tornando a experimentação espacial ainda mais desafiadora. Para estimular diferentes soluções, eventualmente outras imposições surgem nesse mesmo terreno estreito, como topografias e questões do entorno. Em outros momentos, outras questões internas surgem como diretrizes para esse projeto onírico. Quantas pessoas essa casa deve abrigar? Qual o nível de intimidade entre os habitantes? De maneira geral, todos os projetos buscam responder a melhor forma de relacionar os espaços de trabalho, social e íntimo, ao mesmo tempo em que se mantém os valores essenciais da casa.

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01/100

casa forma e função cada volume determina o uso

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02/100

casa que olha para rua os volumes voltados para a rua sĂŁo de uso social, enquanto o uso Ă­ntimo se isola no fundo do lote

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03/100

casa jardim cada volume tem seu uso determinado e seu jardim particular

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04/100

casa ensimesmada fachada para rua ĂŠ cega e a casa volta-se para o jardim interno

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05/100

casa escritĂłrio o local de trabalho fica isolado do volume da casa, no nĂ­vel inferior

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06/100

casa fau uma grande marquise pública é a entrada para casa, que direciona para o nível do subsolo escritório.

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07/100

casa cozinha o fogo, símbolo do lar (lareira), dá lugar à cozinha como espaço central da casa e local de reunião familiar

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08/100

casa sem porta e sem janela o percurso da casa e as paredes permitem a inexistência de portas, e a cobertura que não toca as paredes faz a função de iluminação e ventilação

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09/100

casa do meu pai com 17 anos, meu pai projetou essa casa; o local de trabalho fica em direto acesso com a rua, e o espaço íntimo e social são separados a partir de um pátio central

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10/100

casa galpão todos as áreas molhadas são concentradas de modo a separar os usos social e íntimo; há uma grande área dedicada ao trabalho, relacionando ao antigo uso galpão do edifiício

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11/100

casa nível função cada nível da casa corresponde ao grau de privacidade de sua função, as áreas externas se concentram nas coberturas

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12/100

casa cidade i o térreo é livre para cidade,e o piso clássico da cidade invade o espaço do terreno para explicitar esse uso; o espaço construído no térreo é dedicado ao trabalho

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13/100

casa verde cada volume tem seu uso especĂ­fico, e a unidade da casa ĂŠ garantida pela parede de jardim vertical unificadora

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14/100

casa cidade ii novamente, o terreno é ocupado pela cidade é o térreo é livre para uso de trabalho; cada nível corresponde à um grau de privacidade

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15/100

casa simples i apenas um quarto, resolvida por meio nĂ­veis entre os andares social e Ă­ntimo

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16/100

casa inspirada em pmr o elemento que faz o fechamento da área social é o mesmo que abre, podendo fazer um acesso de rampa direto quando necessário

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17/100

casa recalque uma grande estante de livro unida Ă estrutura de atravessa toda a casa, unida Ă uma escada helicoidal

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18/100

casa inspirada em artigas inspirada na segunda residência do arquiteto, o local de trabalho é um volume que “flutua” com acesso à rua, o social faz a transição enquantoíntimo se reguarda no fundo do lote

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19/100

casa de vidro a casa ĂŠ toda transparente, exceto pelos volumes Ă­ntimos, que necessitam de maior privacidade

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20/100

casa cega a fachada cega demarca a transição do que é público (cidade) para o privado (casa)

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21/100

casa água a água percorre toda a casa, conectando os ambientes por um percurso discreto e lógico, do local mais íntimo ao mais social; a água purifica, impermeabiliza a laje da cobertura, e cria uma sensação sonora e térmica

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22/100

casa estudo o ambiente de estudo que faz a transição entre social a íntimo; é o ambiente central da residência

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23/100

casa topográfica i como a rua está no nível mais baixo, do social sobe-se ao pavimento íntimo, em um degradê de privacidade

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24/100

casa explodida cada volume está em um nível e tem um uso específico, além de jardins em cada cobertura, fazendo com que o morador faça percurso por toda casa para fazer as funções do morar

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25/100

casa octogonal a forma octogonal demarca cada uso do espaรงo

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26/100

casa simples ii espaço social (sala e cozinha) no tÊrreo e divididos pelo volume da escada

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27/100

casa esquina a parte mais exposta , na esquina, é a menos privada, é então reservada para o uso de trabalho; transição é feita por um degradê de intimidade

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28/100

casa simples iii a uniĂŁo dos volumes ĂŠ feita por uma grande cobertura inclinada

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29/100

casa vila cada uso é feito em um espaço particular e voltado para o jadim-circulação

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30/100

casa concentrada i um módulo de áreas molhadas faz a demarcação dos usos, que circulam em torno deste eixo como a casinha de Artigas

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31/100

casa concentrada ii todos os usos sĂŁo concentrados em uma empena, deixando o resto da casa com o layout livre

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32/100

casa de cinco quartos estudo de quartos mínimos a partir de divisória-armários

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33/100

casa topográfica ii o nível mais elevado é de acesso a rua, assim o degradê de privacidade se faz pelo mais alto ao mais baixo (mais íntimo); o volume de trabalho é separado da casa e elevado em relação à rua

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34/100

casa enterrada o nível da rua torna-se uma praça livre, enquanto a casa é enterrada; pátios centrais fazem a iluminação e ventilação da casa

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35/100

casa circuito dois volumes se isolam nos extremos dos lotes, e são conectados por rampas gerando um circuito de ciculação

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36/100

casa meio a meio o pavimento do trabalho está no nível da rua, que faz a transição ao pavimento íntimo (acima, isolado) e o social (abaixo, com área externa)

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37/100

casa inspirada em eduardo longo inspirada na primeira residência do arquiteto eduardo longo, a casa é dividida entre de uso de trabalho e área doméstica

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38/100

casa topogrĂĄfica iii casa em um terreno muito acidentado, trabalha o degradĂŞ de privacidade do mais baixo (menos privado - trabalho e social) ao mais privado (andar mais alto, Ă­ntimo, quartos)

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39/100

casa explodida ii mais uma vez, a função e a forma estão juntos, porém a uma inversão na orientação do volume íntimo, com jardim e circulação resguardado, deixando-o mais privado

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40/100

casa em balanço trabalho isolado do corpo principal, em acesso direto pelo nível da rua; os pavimentos são integrados por um vão central, a plnta do andar social é livre diferenciada apenas por desníveis

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41/100

casa cômoda casa com um único espaço que engloba todos os usos; divisórias móveis fazem a separação a privacidade para alguma tarefa é necessária

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42/100

casa alpendre o alpendre dessa casa contemporânea é feita pela marquise gerada do volume de trabalho, este voltado para rua e fazendo a transição entre público e privado

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43/100

casa cobertura volumes com diferentes usos são unidos pela cobertura orgânica, que permite uma ventilação da casa

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44/100

casa pé direito alto devido aos meio níveis entre usos, existe um grande pé direito na área social

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45/100

casa coletiva vários módulos íntimos (quartos) com acessos próprios, podendo ser ocupados por diferentes casais; área social é de uso coletivo

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46/100

casa quebrada trabalho e área social em nível com a rua porém em diferentes volumes, áreas íntimas no pavimento superior

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47/100

casa topogrรกfica iv รกrea menos privada em contato com a rua; quartos resguardados nos andares inferiores,

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48/100

casa de vão central grande vão central, unido pela cobertura translúcida, faz a união entre os volumes

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49/100

casa para um saltador devido ao enorme desniĂ­vel, essa casa se comporta quase como um edifĂ­cio, porem cada pavimento tem um cĂ´modo da casa

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50/100

casa oasis a cobertura da casa é pública, acessada por uma grande escadaria, que leva à uma “lagoa”; o nível intermediário é o uso social, o nível inferior é destinado às áreas íntimas

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51/100

casa textura o revestimento de cada volume determina o seu uso

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52/100

casa metade o formato da casa tradicional de duas águas é dividia e explodida conforme sua função

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53/100

casa alpendre ii repete-se a idéia de um volume de trabalho como marquise de transição com a rua; adiciona-se o desalinhamento entre bloco social e íntimo marcando a diferença entre estes

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54/100

casa loja baseada na casa nagoya do suppose design office, o andar térreo tem uma área comercial, e a residência é separada do trabalho nos níveis superiores

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55/100

casa rampas separa por rampas, o nível inferior é destinado às áreas íntimas e o superior ao uso social

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56/100

casa disforme ocupação do lote é não ortogonal, porém mantem-se a relação e transição entre área de trabalho, social e íntimo

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57/100

casa circuito ii novamente, os volumes sĂŁo dispostos nos extremos dos lotes, e um percurso por escadas amplas e passarelas ĂŠ feito para acessar os cĂ´modos

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58/100

casa elemental i inspirada no projeto de Aravena, os cômodos são os mínimos possíveis, com a possibilidade de expansão

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59/100

casa elemental ii o mesmo raciocínio de cômodos mínimos, porém concentrando um bloco de áreas molhadas no centro da casa

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60/100

casa separada cada volume corresponde Ă um cĂ´modo mĂ­nimo, que tem o percurso conectador por passarelas

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61/100

casa em dois volume de trabalho ĂŠ voltado para rua e direcionado Ă rua

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62/100

casa em níveis cada meio nível corresponde à um uso, em uma graduação de intimidade

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63/100

casa vazios o corte do tradicional prisma gera os espaรงos integrados de cada uso

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64/100

casa dos 3 espaços os 3 usos - cozinha, estar e quarto - são bem definidos e separados

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65/100

casa mirante o uso social é concentrada no pavimento térreo, sobe-se à um andar de transição de área livre e de sala de televisão, resguardando o uso mais íntimo no pavimento superior

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66/100

casa para família toda uma casa que abriga também a casa dos avós, no fundo do lote, com sua própria copa, para quando a privacidade é necessária, porém mantendo uma área social para toda família

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67/100

casa blocos o mĂłdulo mĂ­nimo de quarto, cozinha, estar e trabalho foi combinado resultando essa forma

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68/100

casa de forma clássica a fachada para rua tem o formato lúdico da casa (duas águas, janela, porta), porém é um falso do real uso de trabalho; a casa doméstica se isola atrás, elevada do térreo sobre pilotis

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69/100

casa do telhado inclinado em uma progressão geométrica, a área dos níveis diminuem, com cada pavimento referente à um uso; uma grande cobertura inclinada com aberturas zenitais tem como função agregar e unificar esses níveis

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70/100

casa ao contrårio o formato da casa tradicional fica de ponta cabeça, e o programa interno se resolve um pouco acima do nível do solo

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71/100

casa fenda as รกreas molhadas sรฃo concentradas no volume mais estreito do prisma, deixando o layout mais livre no outro lado; as janelas em fita demarcam na fachada essa diferenรงa de espaรงos

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72/100

casa casco casa que tem o nível intermediário com maior área - servindo de cobertura para o corredor do piso térreo (trabalho) - e referente à área molhada do piso superior

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73/100

casa clássica deitada a forma da casa clássica existe em planta; recortes de pátios e a não ortogonalidade entre fechamentos compõe os espaços

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74/100

casa pátios dois pátios com função de respiro e iluminação também são os guias de organização dos espaços

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75/100

casa prédio o espaços mínimos se compõe formando uma casa mínima, que se repetem formando um prédio

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76/100

casa 3 espaços a partir dos meio níveis, 3 espaços são bem definidos: o social (cozinha e sala de estar), o social/íntimo (sala de TV) e o íntimo/quarto

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77/100

casa oval recortes que tornam a planta ovalada tambÊm permitem respiro e iluminação

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78/100

casa de dois cômodos e um teto um grade cômodo que abrange todos os usos sociais e outro destinado ao uso íntimo são unidos a partir de uma grande cobertura orgânica

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79/100

casa texturas ii dois volumes com materiais diversos se unem resultando no vĂŁo do material translĂşcido,

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80/100

casa bambu os materiais da varanda e do brise justificam o nome da casa; um påtio central organiza o espaço alÊm de ventilar e iluminar

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81/100

casa grelha todo o programa se concentra em um volume interno, que é unido pelo espaço de circulação de material metálico perfurado, assim como a fachada, em um jogo de transparências e privacidade

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82/100

casa externa toda os elementos essenciais da casa sĂŁo resolvidos sob uma estreita cobertura, tornando entĂŁo o jardim externo parte da casa

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83/100

casa que parece térrea essa casa tem os volumes íntimos enterrados e o uso social no nível da rua, parecendo uma casa térrea

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84/100

casa do grande salão um grande salão abrange todos os usos da casa, que são separados apenas pela pequena diferença de nível entre eles, permitindo um layout mais flexível e integrado

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85/100

casa casas o volume frontal é composto pelos usos social e de trabalho, e o volume posterior resguardado é o volume íntimo; a transição dos volumes é feito por uma piscina quadrada contemplativa

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86/100

casa do vão lateral um grande vão lateral promove a integração dos 3 andares da casa

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87/100

casa ampulheta o recorte do prisma determina a disposição e organização do espaço, além de gerar um respiro e iluminação; a estrutura se resolve pelas empenas estruturais e quatro pilares

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88/100

casa do vão central o grande vão central é o gerador de privacidade entre os usos da casa, ao mesmo tempo que sua transparência também permite integrar os cômodos pelas visuais

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89/100

casa lego blocos que sĂŁo desalinhados formando coberturas, sombreamentos e varandas para cada nĂ­vel

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90/100

casa de solteiro uma casa de único espaço, que se separa apenas por um volume central que concentra as åreas molhadas

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91/100

casa da varanda dos quartos o pavimento inferior ĂŠ resolvido em um Ăşnico volume, enquanto o superior ĂŠ dividido por uma varanda central

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92/100

casa das rampas rampas determinam o circuito da casa, que sobe em direção aos espaços com maior privacidade

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93/100

casa core o coração da casa são os quartos, e dois corredores laterais conectam os extremos separados: a sala de estar e a cozinha

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94/100

casa da bancada contínua os quartos se concentram, porém o corredor lateral é também uma grande bancada de estudos, que conecta o extremo de sala de estar e cozinha

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95/100

casa da escadaria dupla da área social térrea se funila para o espaço de transição social/íntimo, chegando em duas escadas que desembocam para cada quarto

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96/100

casa T a parte central destaca-se do volume total, destacando a circulação vertical e as áreas molhadas, e dividindo os espaços

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97/100

casa U os extremos da casa ocupam a largura do lote e são os espaços de uso íntimo; ja o centro da casa é um grande espaço de uso social

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98/100

casa fenda ii uma fenda separa a casa em dois blocos, separados em รกreas molhadas e รกreas de layout livre

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99/100

casa rio a casa é fechada para rua e seu acesso é pelo caminho das águas, um volume de espaço único no térreo e fechamento de vidro

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100/100

casa todas essa casa se fez pelo estudo das qualidades de todas as 99 casas, resultando num volume que melhor respondia as questões levantadas na parte inicial deste trabalho; o andar térreo é um espaço social único com cozinha, sala de estar e trabalho (que pode ser isolado a partir de divisórias móveis), o andar superior é o andar íntimo, sendo sua transição feita pela sala de TV, um local social porém ainda sim íntimo da casas

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uma casa


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1:1

“Num belo ensaio sob o título “construir, habitar e pensar”, Heidegger junta elementos para a prova dessa afirmação. na língua alemã, o verbo construir, nas suas formas linguísticas mais antigas, exprimia também “habitar” e “ser”. o anglo-saxão primitivo era porque habitava a sua construção. (...) Daí, por caminhos não tão simples como os desse resumo, podemos concluir que a ponte, a estação, o aeroporto, não são habitações, mas complementos, objetos complementares à habitação através dos quais o espaço da habitação se universaliza. A cidade é uma casa. a casa é uma cidade” Vilanova Artigas

Artigas, no ensaio “Arquitetura e Construção”, relaciona casa e cidade a partir da etimologia alemã da palavra construir. Se construir significa também habitar/ ser, as construções da cidade são extensões da habitação. Assim, a construção de equipamentos e infraestrutura na cidade é a continuação do programa da casa. Essa relação é a compreensão da célula da sociedade em sua esfera mínima (casa) para a macro (conjunto das construções - cidade). Se também é verdade que o projeto de arquitetura é reflexo espacial de como a sociedade se organiza, o mesmo ocorre no projeto de casa: dar forma à uma residência é desenhar o comportamento humano. Se a casa é a célula individual que compõe a cidade, o desenho de uma unidade é a compreensão da sociedade em sua esfera micro. Ao se ampliar a discussão de uma unidade de casa para o conjunto delas, é possível se pensar como deveria ser a casa ideal na cidade ideal. O desenvolvimento do projeto de uma única casa é uma forma de responder e entender a questão da casa contemporânea nesta cidade. O projeto da casa afeta não apenas o modo de vida de seus habitantes, mas também o tecido urbano. Dado o déficit habitacional nos centros urbanos,

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trab alho so cial í ntimo ár eas mo lh a d as ci rcul açã o

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seria injustificável propor uma casa unifamiliar em uma área mista ou de alta densidade. Através do mapa de uso e ocupação do solo, buscou-se por áreas de zona exclusivamente residencial. As ZER-01 apresentam-se quase que exclusivamente na zona oeste, em bairros tradicionais e de elite. Por esse motivo, busquei nas ilhas residenciais urbanas da zona oeste um terreno semelhante ao trabalhado nas cem casas. O terreno, localizado no Jardim Europa próximo à Av. Faria Lima, apresenta dimensões de 10m de frente com 25m de comprimento. Como um dos valores essenciais da casa é a privacidade, um dos desafios do projeto é compreender o gradiente de privacidade de cada ambiente e como distribuí-lo de forma a não prejudicar os fluxos. Assim, os ambientes que tem algum nível de relação com o público devem estar mais próximos à conexão com a cidade, ou seja, voltados para frente do lote. Tais ambientes são os locais onde a família pode receber outras pessoas, como sala de estar, sala de jantar e os locais de trabalho (escritório, ateliês, etc). O programa é distribuído por essa transição de espaços, das áreas sociais às áreas íntimas, numa trajetória que se dá por nível (área social no térreo - contato com a cidade - e área íntima no primeiro pavimento, mais afastado do público). Para facilitar as instalações hidráulicas, as áreas molhadas são todas concentradas em um lado do volume, passando por uma alvenaria à parte. Todo o projeto foi modulado a partir da unidade construtiva do bloco de concreto de 19x19x39, escolhido devido à sua praticidade de manuseio e sua estética. A baixa resistência térmica deste material foi resolvida na fachada noroeste por um painel metálico perfurado que sombreia e protege o fechamento, e na fachada nordeste por um brise horizontal. A laje como cobertura, apesar de esteticamente atraente, sofre a mesma questão térmica. Por esse motivo, optouse pela cobertura vegetal como forma de isolar termicamente as lajes. Compreende-se que o espaço da casa pode sofrer alterações ao longo dos anos pela necessidade dos próprios moradores. Por esse motivo, a residência é solucionada em um único volume com o mínimo de partições possíveis. Divisórias móveis entre o escritório e o ambiente social estar/jantar foi pensada como forma de promover um espaço que se isola do resto da casa quando necessário, em momentos de concentração.

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piscina: aproveita a extensão do lote para conformar uma raia, insolação noroeste

volume íntimo: tem fachada voltada para o pátio interno da casa e insolação noroeste

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cobertura vegetal: isolamento térmico

painel metálico perfurado: proteção da fachada norte da exposição ao sol, ressalta o isolamento do pavimento íntimo em relação à rua

lavanderia: volume adjacente independete da casa, com fachada norte

escritório/local de trabalho: voltado para a rua

piso: faz um percurso ao redor da casa

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planta arquitetura tĂŠrreo - social escala 1:100

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planta arquitetura pavimento Ă­ntimo escala 1:100

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planta arquitetura cobertura escala 1:100

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planta estrutural escala 1:100

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elevação frontal escala 1:100

elevação lateral escala 1:100

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elevação posterior escala 1:100

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corte a escala 1:100

corte b escala 1:100

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corte c escala 1:100

corte d escala 1:100

corte g escala 1:100

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corte e escala 1:100

corte f escala 1:100

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planta do piso tĂŠrreo escala 1:100

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planta do piso pavimento Ă­ntimo escala 1:100

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planta layout tĂŠrreo escala 1:100

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planta layout pavimento Ă­ntimo filhos pequenos escala 1:100

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planta layout pavimento Ă­ntimo filhos adolescentes escala 1:100

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planta layout cobertura escala 1:100

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vista fachada

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área externa térrea

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escritรณrio

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sala de estar sala de jantar

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sala de jantar e cozinha

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cozinha

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sala de televisĂŁo

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suĂ­te do casal

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banheiro

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considerações finais

Uma proposta onírica transformou-se em um grande desafio e a elaboração de cem casas diferentes (mas em algum sentido, iguais), mostrou-se mais prazerosa do que trabalhoso ao longo dos meses. Ao longo do trabalho, duas questões centrais ocuparam os nossos esforços. A primeira questão diz respeito à pessoalidade da casa. Em razão da inexistência de um cliente real, o projeto elaborado neste trabalho é muito abstrato, não refletindo as questões pessoais dos moradores. Imaginei cem casas e desenvolvi uma casa, porém, nenhuma delas seria fidedigna a ponto de abrigar uma família real adequadamente. A casa é um reflexo do estilo de vida de seus moradores, e o arquiteto precisa ser sensível às questões cotidianas de seus clientes para, então, desenvolver o projeto mais personalizado possível. Além disso, o profissional também precisa estar atento às necessidades futuras dos moradores, afinal, essa mesma casa pode abrigar a família por muitas décadas. A outra questão concerne ao modo de representação do projeto. Os desenhos técnicos de arquitetura são destinados aos profissionais da área de construção, muitas vezes não sendo compreendidos por leigos. Por esse motivo, o modelo 3D digital acaba sendo uma solução para demonstrar ao cliente o resultado esperado do projeto. Entretanto, representações muito realistas acabam gerando falsas expectativas. O objeto de desejo passa a ser aquela representação irreal, podendo causar frustrações. No caso deste trabalho, a solução foi a representação a partir de colagens. Esse método visa menos o compromisso com a realidade do que o render, pois cria uma composição do que será a arquitetura a partir de materiais, personagens e elementos. Cria-se uma história que o leitor pode compreender e imaginar, porém tendo em mente que o real será diferente do sonhado.

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referências bibliográficas

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referência de imagens http://www.edwardhopper.net/ http://www.falaatelier.com/ http://www.davidgbakerpainting.com/#!Reader, Morning Light/zoom/cjg9/ image_1w2v http://www.daniloz.com/ http://www.spbr.arq.br/portfolio-items/casa-e-salao-de-cabelereiros-em-orlandia/ http://www.terraetuma.com.br/arquitetura_hab.php?ci=1&pid=127 http://www.officemmx.com/Thames-Quay

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