TFG - Julia Lobo

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TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

REVISITANDO UM SONHO MODERNO Sistema de espaços livres de Goiânia: dos planos de Attílio Corrêa Lima e Armando de Godoy à situação atual

Julia Lobo Caixeta Orientadora: Profª Drª Marta Enokibara

2017



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Agradeço, Aos meus pais, pelo apoio incondicional, por me ensinarem tanto, e estarem sempre por perto, vocês são a base de tudo. Amo vocês e obrigada por tudo. Aos meus irmãos e sobrinhos, por sempre me divertir com vocês, obrigada pelo apoio. À professora Marta, por me guiar nesse trabalho e por ter me influenciado tanto, obrigada por me apresentar o Paisagismo e por toda a convivência. Aos amigos de Bauru, e que foram inciríveis todos esses anos, e tão importantes nessa reta final, Chita, Kong, Norah, Cacs, Chorão. Obrigada pelas risadas e por estarem sempre ao meu lado, sem vocês não teria chegado aqui. Agradeço, especialmente, à Thais, pelo carinho e irmandade de todas as horas. Obrigada pelo companheirismo e por serem minha segunda família . Às amigas de Goiânia, por serem sempre tão atenciosas, obrigada pelo carinho. Aos amigos de Glasgow, por continuarem sendo presentes na minha vida, obrigada pela amizade. A todos que acreditaram em mim, e me ensinaram por esses anos.



Resumo O presente trabalho teve como objetivo o estudo, análise e proposta de intervenção projetual no sistema de áreas verdes públicas de Goiânia, com foco no Setor Sul. O Setor é parte do Plano Original de Urbanização de Goiânia (1938), foi concebido com traçado diferenciado na malha urbana da cidade e foi baseado nos princípios da cidade-jardim definidos por Ebenezer Howard, no qual vida urbana e vida rural se integrariam. O Setor dispõe de um sistema de áreas verdes públicas, configurado por um sistema de parques internos, onde os lotes teriam acesso ao espaço pelos fundos. Hoje encontramos uma realidade oposta aos ideais “howardianos”, o sonho moderno de uma cidade-jardim se transformou em um desarranjo na estrutura urbana da cidade. Todo o Plano Original de Urbanização de Goiânia, com autoria dos urbanistas Attílio Corrêa Lima e Armando de Godoy, sofreu descaracterização. O Setor Sul, enfrentou muitos problemas em sua implantação, e hoje o sistema de áreas verdes está entregue a um processo de abandono. Desta forma, o trabalho teve a intenção de estudar e analisar a história dos planos propostos para Goiânia, desde os projetos à implantação, assim como sua situação na atualidade, e enfim propor uma intervenção projetual na área escolhida.


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Introdução

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Objetivo Justificativa Metodologia

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1.1. Precedentes históricos 1.2. Levantamento dos planos urbanísticos para Goiânia

Parte 1 - Levantamentos

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1. Dados históricos

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2. Áreas verdes significativas de 60 Goiânia 62

3. A atual situação do Setor Sul

1.3. Projetos urbanísticos para Goiânia com enfoque nas áreas verdes 2.1. Parque Areião 2.2. Parque Vaca Brava

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2.3. Horto e Lago das Rosas

62

2.4. Parque dos Buritis

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2.5. Parque Mutirama

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3.1. Sistema de espaços livres do Setor Sul


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4. Região de intervenção: região 4 75

4.1.Análises preliminares

Parte 2- Análises e definição da área de intervenção

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5. Área de intervenção: Quadra F40 80

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6. Análise

Parte 3- Intervenção projetual

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7. Intervenção

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8. Considerações finais

5.1 Levantamento


Introdução


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O tema desta pesquisa surgiu a partir de uma insatisfação pessoal. Nasci e cresci em Goiânia e moro no Setor Sul há 15 anos. O setor possui grandes áreas verdes abandonadas ou mal utilizadas no interior das quadras. O Setor Sul apresenta um traçado único na cidade, suas ruas são mais orgânicas, o acesso a muitas casas é feito por cul de sac e no interior das quadras encontramos grandes áreas verdes livres. Essa diferença entre o Setor e os outros setores da cidade deve-se à participação de dois urbanistas no projeto da cidade, Attílio Corrêa Lima e Armando de Godoy. O Setor Sul surge em um primeiro momento inserido no projeto da nova capital goiana assinado por Attílio de Corrêa Lima (1933-1935). Porém, o projeto final sofreu alterações de Armando de Godoy (1935-1938), que cria o setor que hoje conhecemos. Desde o seu surgimento a implantação do Setor Sul ocorreu diferente das intenções do urbanista Armando de Godoy, com ocupações irregulares até a atualidade, com o descaso do poder público quanto ao sistema de áreas verdes públicas. O arquiteto urbanista Attílio de Corrêa de Lima foi contratado pelo Interventor de Goiás, Pedro Ludovico Texeira, em 1933 para projetar a nova capital goiana. Attílio estudou em Paris e teve contato com os grandes urbanistas representantes da escola francesa de urbanismo, o que Jean Pierre Gaudin intitula de escola francesa de urbanismo do início do século XX (DAHER, 2009). Desta forma, ele aplicou a metodologia francesa no plano urbano de Goiânia. O traçado regular e clássico se estruturou em três princípios: sistema viário, zoneamento e com configuração do terreno. Porém, Attílio se demitiu do cargo em 1935, durante a implantação do projeto, por questões políticas e pessoais que interferiam no seu trabalho. Ele foi substituído, então, por Armando de Godoy, contratado pela construtora Coimbra Bueno como consultor.

Foto 1: Praça F41 (Bacião)

Armando Augusto Godoy foi um importante engenheiro urbanista formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro e esteve envolvido no projeto de Goiânia desde o primeiro momento. Foi o primeiro urbanista convidado por Pedro Ludovico para projetar a nova capital, mas recusou. Em 1930, porém visita a região e elabora um relatório técnico de onde a capital deveria ser construída. Quando Attílio abandona o cargo ele retorna à Goiás a convite da construtora


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Coimbra Bueno e Cia, responsável pela construção da cidade. Apesar de Attílio abordar um traçado influenciado pela escola francesa, Godoy tinha grande admiração pelas ideias de Ebenezer Howard, e escolheu adaptar ao projeto o conceito de Cidade Jardim, a área alterada foi o setor residencial, Setor Sul. Sua intenção era construir grandes sistemas de áreas livres públicas, onde os lotes se abrissem para o cul de sac e para o sistema de áreas livres. A entrada de serviço estaria voltada para a rua, enquanto a entrada principal seria voltada para a área verde, criando uma relação forte entre o público e privado, privilegiando o sentimento de vizinhança. O Setor Sul foi concebido então segundo o projeto de Armando de Godoy, o projeto foi aprovado em 1938. Inicialmente foi determinado pelo Governo como Zona Fechada, o que proibia a ocupação do bairro, pois as áreas que deviam ser ocupadas com prioridade eram os setores Norte e Central. No primeiro momento a implantação do projeto seria feita em 1962, porém em 1937 começaram a venda dos lotes para arrecadar mais fundos. Na década de 50 os proprietários forçaram o poder público a implantar o projeto devido à crise imobiliária na cidade, porém muitos lotes já haviam sido ocupados e invadidos. Desta forma, entre as décadas de 50 e 70 o bairro foi gradualmente ocupado, porém apesar do loteamento possuir características de cidade jardim não havia legislação ou informação sobre como se deveriam ocupar os lotes. Desta forma, os lotes foram ocupados de forma que as residências eram voltadas à rua, e as áreas livres nos centros das quadras foram cercadas por altos muros. É importante ressaltar que até a década de 70 as áreas verdes eram terrenos vazios, e só receberam tratamento paisagístico pelo Projeto Cura a partir de 1973. O Projeto CURA foi um programa subsidiado pelo Banco Nacional de Habitação (BNH), que tinha como objetivo melhorar as condições de áreas subutilizadas através de obras de infraestruturas e instalação de equipamentos urbanos. Foi feita consulta aos moradores que reivindicaram a urbanização das áreas livres, áreas para prática esportivas, culturais e sociais, além da complementação de serviços básicos. Apesar de implantadas melhorias pelo programa, as áreas continuaram pouco utilizadas pelos moradores do bairro, esta situação se estende até a atualidade. Percebemos o quão problemática foi a implantação do Setor Sul, e que apesar do setor ter passado por melhorias ele continuou “ignorando” suas áreas livres. Neste contexto surgiu a ideia de estudar esta área e analisar todos os diferentes fatores que resultaram na sua atual condição. O estudo da área envolve pesquisar a história da cidade, analisar os diferentes projetos propostos, o projeto implantado, a manutenção e a situação atual, e propor intervenções projetuais na área.


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Objetivo O objetivo desta pesquisa é estudar as áreas verdes públicas de Goiânia, definidas pelo Plano de Urbanização de Goiânia desenvolvido por Attílio Corrêa Lima (1933-1935) e Armando Augusto Godoy (1935-1937), tendo como foco o sistema de áreas verdes do Setor Sul.

Justificativa

O sistema de áreas verdes do Setor Sul são áreas expressivas, de importância histórica e grande potencial quanto áreas livres públicas. Porém, encontram-se hoje em situação de abandono e subtilização, além de ocupações ilegais e conflitos de uso.

Metodologia

A pesquisa foi organizada em 3 partes. Na primeira parte foram realizados os levantamentos históricos e da situação atual da cidade. Na segunda, a análise do material levantado, focando nos sistemas de áreas livres do Setor Sul. Na terceira parte foi desenvolvida uma proposta projetual para a quadra F-40, baseada nas etapas anteriores.


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Levantamentos


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1.Dados Históricos 1.1

Antecedentes históricos

1.1.1. Como nasceu Goiânia

O Estado de Goiás foi fundado no início do século XVII, pela entrada de bandeirantes paulistas em busca de ouro. A primeira capital do Estado foi fundada em 1727 por Bartolomeu Bueno da Silva Filho com o nome de Arraial de Sant’Anna, depois se tornou Vila Boa de Goiás, até que em 1818 foi elevada à categoria de cidade, foi denominada de Goiás. A cidade era o centro do ciclo do ouro no Estado, e concentrava em seu território toda importância política, administrativa e econômica do Estado. Apesar da sua grande importância no período colonial, a partir 1750 as minas de ouro e diamantes já tinham suas funções esgotadas, levando a cidade ao declínio econômico e populacional (RIBEIRO, 2004, p.19). Quando o declínio da extração de ouro e diamante atinge a Cidade de Goiás, o poder político ainda estava concentrado em forças oligárquicas da capital. A oligarquia dos Caiado canalizava as forças políticas para si. Ao mesmo tempo, o poder econômico do Estado se localizava nas regiões sul e sudeste, onde o café servia de atrativo para muitos migrantes e imigrantes. Ou seja, mesmo a Cidade de Goiás estagnada e sofrendo decréscimo populacional, a oligarquia da família Caiado detinha o poder político impondo verdadeiras barreiras ao crescimento econômico do Estado de Goiás. (RIBEIRO, 2004). Foto 2: Família passeia na praça F39.

Na medida em que as regiões sul e sudeste tornaram-se economicamente as mais dinâmicas do Estado, aumentaram também suas pretensões políticas (...) seu poder político não correspondia ao seu poder econômico. Os políticos da região, inclusive, viam-se sistematicamente barrados em suas pretensões eleitorais.


16 [...] As insatisfações terminaram por configurar uma oposição entre os grupos oligárquicos que tinham interesse ligados à capital e os grupos oligárquicos ao sul e sudeste. Estes, além de uma participação política que correspondesse a seu poder econômico, queriam que o Estado acionasse mecanismos que permitissem uma maior mercantilização dos produtos goianos. Aqueles, encastelados no poder, não fizeram concessões, nem eram capazes de adequar o Estado às novas necessidades de acumulação em Goiás (SILVA, 2001 apud RIBEIRO, 2004, p.22).

Entre o final do século XIX até os anos 20 do século XX, os grupos oligárquicos do sul e sudeste do Estado lutaram para acabar com a doutrina dos Caiado, porém não conseguiram subir ao poder. Os Caiado se relacionavam com o poder nacional através do Pacto Oligárquico Coronelístico, o que lhes proporcionavam grande autonomia (CHAUL, 1999, p.26). O poder desta se estendia até o processo eleitoral, quando praticavam fraudes eleitorais a seu favor (CHAUL,1999, p.28). A mudança da capital sempre foi um assunto recorrente na história da Cidade de Goiás, mas nessa situação política a mudança também representaria o afastamento do poder das retrógradas oligarquias de Goiás, dessa forma gerando a alternância de poder e o atendimento das necessidades econômicas e sociais do Estado. A tensão entre as oligarquias seguiu até a Revolução de 30, um movimento que através da luta armada pelo comando civil de Getúlio Vargas, acabou com a Primeira República. Em todo o país antigas oligarquias são retiradas do poder, inclusive em Goiás. Com o poder político retirado dos poderes oligárquicos dos Caiado, o médico Pedro Ludovico Teixeira, um dos principais representantes das oligarquias do sul e sudeste, é nomeado em 21 de novembro de 1930, Interventor do Estado de Goiás por Getúlio Vargas, e se torna representante de uma nova ordem política no Estado. Em 1932, ele revela seu desejo de mudar a capital, para que o poder seja descentralizado e que a capital reflita o espírito moderno do momento (RIBEIRO, 2004, p.66). Anterior a este movimento, o desejo de mudança da capital surge muito antes da década de 30, quando em 1754, o primeiro governador da Capitania de Goiás, o Conde dos Arcos, tenta convencer o governo português a necessidade de transferência da capital. Todos os governantes da província tiveram consciência da necessidade de uma nova capital, era claro o caráter temporário da cidade de Goiás. A mudança de capital mineira, de Ouro Preto para Belo Horizonte em 1897, influenciou de forma definitiva a mudança da capital goiana. Em 1933, em carta de Pedro Ludovico para Getúlio Vargas, o interventor diz: Foi este dilema que se apresentou ao Governo de Minas, em 1893, quando os seus dirigentes


17 se convenceram que Ouro Preto, apesar do seu riquíssimo patrimônio histórico, já não podia vanguardear, como capital política, o progresso do Estado. Faleciam-lhe, como falecem à cidade de Goiaz, todas ou quase todas condições essenciais para se metamorfosear numa capital condigna e apresentável, que encabeçasse e dinamizasse o desenvolvimento da grande terra de Santos Dumont. Ali, como em Goiaz, o critério da escolha do local fora determinado exclusivamente pela existência de ouro. Os fundadores de Vila Rica, bem como os de Vila Boa, ávidos do valioso metal e imprevidentes da vida complexa das cidades do futuro, desconheciam totalmente os requisitos cuja falta viria, mais tarde, condenar as duas velhas vilas coloniais ao estacionamento e desaparecimento (RIBEIRO, 2004, p.21).

A partir de 1933, na reconstitucionalização do país, o Interventor de Goiás, Pedro Ludovico participou da criação do Partido Social Republicano (PSR), que viria a preencher todas as cadeiras de representação do Estado na Constituinte de 1934. Pedro Ludovico ganha as eleições de 1935, e se torna presidente do Estado. Porém, antes como Interventor do Estado, em 18 de maio de 1933 ele assinou o Decreto nº 3.359 que definia sua plataforma política, que envolvia a mudança da capital: Art. 1º - A região às margens do córrego Botafogo, compreendido nas Fazendas denominadas Crimélia, Vaca Brava e Botafogo, no Município de Campinas, fica escolhida para nela ser edificada a futura capital do Estado devendo o Govêrno mandar organizar o plano definitivo da nova cidade, (...). Art 6º - Fica determinado o prazo máximo de dois anos para a transferência definitiva da sede do Govêrno para a nova Capital (TEXEIRA, Pedro Ludovico, 1933 apud CHAUL, 2001, p.73-75).

Com a assinatura do Decreto, “Pedro Ludovico voltava as atenções de amor e de ódio dos goianos para a crescente ideia mudancista” (CHAUL, 2001, p.75). O Decreto nº 3.359/1933 foi feito a partir do trabalho de levantamento de uma comissão formada por Ludovico, que em março de 1933 emite um parecer apontando a área próxima ao Município de Campinas, mas o presidente da comissão expressa a necessidade de um parecer técnico de um urbanista. Em 1933 o interventor contrata Armando de Godoy para elaborar um detalhado estudo do território onde a nova capital devia ser implantada. Godoy em 24 de abril envia longo relatório, que além de aprovar a área escolhida pela comissão local, ratifica a importância da criação de uma cidade moderna e seu caráter transformador (RIBEIRO, 2004, p.22). Ofélia Monteiro (1938) cita trecho do relatório: Exmo. Snr. Dr. Interventor Federal.


18 Venho por meio deste dar-vos conta aos resultados que cheguei inspecionando os dados e informações que recebido prefeito e moradores do respectivo município e colhi na leitura do relatorio da culta comissão nomeada para escolher o local em que deverá ser construída a futura capital de Goiaz. Antes, porem, de entrar na analise dos varios elementos que dependem a vida e a expansão de um centro urbano, devo dizer-nos o que penso em relação à oportunidade da mudança da capital de Goiaz, problema que sobremodo vos preocupa e é debatido por todos os que se interessem pelo futuro de vosso Estado, cujas riquezas extraordinarias ainda não puderam ser exploradas por varios motivos, entre os quais figura o de não ter ainda aí surgido uma cidade moderna (GODOY, 1933 apud MONTEIRO,1938, p.48).

Em um primeiro momento Ludovico escolhe Armando de Godoy para projetar a nova capital, porém ele não havia disponibilidade para realizar árdua tarefa (DAHER, 2009, p.77). Desta forma, outro aclamado urbanista é contratado para trabalhar no projeto, o urbanista recém chegado de Paris, onde estudou urbanismo, Attílio de Corrêa Lima. Attílio é contratado pelo Estado através do Decreto nº 3.547, de 6 de julho de 1933 (MONTEIRO, 1938, p.74). É preciso ressaltar que o projeto da cidade teve, como as importantes fontes bibliográficas apontam, dois autores em diferentes momentos do projeto, Attílio Corrêa Lima (1933-1935) e Armando Godoy (1935-1937). O plano da cidade é apresentado em 1937 pela construtora Coimbra Bueno, que é aprovado em julho de 1938 através do Decreto-Lei 90-A como Plano de Urbanização de Goiânia (GONÇALVES, 2002, p.40). Nos próximos capítulos os diferentes planos dos urbanistas serão analisados, assim como suas trajetórias acadêmicas e profissionais que trouxeram muitas referências ao projeto da nova capital de Goiás, Goiânia.

1.1.2. O Urbanismo do século XX

Antes de discutir os diferentes planos urbanísticos de Attílio Corrêa Lima e Armando de Godoy para Goiânia, é importante ambientar as tendências mundiais de urbanismo, que se tornaram referências nos diferentes planos para a nova capital. Ambos autores do Plano Original de Goiânia foram grandes nomes do urbanismo brasileiro e estavam sempre muito bem informados


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quanto às últimas tendências do urbanismo europeu. A bibliografia consultada, como de Luiz Ackel, relaciona o projeto de Attílio, principalmente, com o urbanismo francês do início do século XX, estando também relacionado ao projeto de cidade industrial, de Tony Ganier. Enquanto Armando, se baseia nos princípios das Cidades Jardins de Howard. A seguir, esses movimentos serão descritos.

a) Urbanismo francês

No início do século XX a escola francesa de urbanismo exercia influência internacional, e tinha seu modelo replicado por todos os continentes (DAHER,1999, p.85). Os urbanistas franceses viam a cidade como espaço democrático onde diferentes classes sociais deveriam conviver. Porém elas precisavam ser planejadas para garantir que os interesses de todas as camadas sociais fossem atendidos.

Os urbanistas franceses não almejavam uma cidade e uma sociedade ideais. Eles eram pragmáticos e conceberam uma cidade para uma sociedade que existia. Rompem assim com uma tradição existente desde o Renanscimento, quando as aglomerações humanas eram construídas dentro de uma visão sonhadora e não segundo sua realidade (DAHER, 1999, p.86).

Teóricos e urbanistas vinham criando na época cada vez mais modelos que desconsideravam a cidade antiga, medieval, e criavam novos modelos utópicos de cidade. Podemos tomar como exemplo Le Corbusier e Howard que “não procuravam analisar a cidade como elas eram, mas sim estabelecer como elas deveriam ser, de modo a atingir a perfeição” (DAHER, 1999, p.86). Os urbanistas franceses viam no centro histórico a oportunidade de criar uma relação entre os diferentes tempos históricos, então o núcleo histórico e o moderno deveriam estar ligados pelas novas avenidas. A cidade industrial era para estes urbanistas fator inegável das cidades, a cidade deveria ser planejada para servir as atividades relacionadas à produção. O traçado era organizado em sistema viário, zoneamento, topografia. O sistema viário serviria como vias de escoamento da produção industrial, cada via seria projetada de acordo com uma hierarquia de trafego. O desenho da estrutura viária era caracterizado por rotatórias, vias curvas, a grelha e vias diagonais que se encontrariam em uma grande praça, um monumento ou palácio. A rotatória surge nesse modelo como solução no encontro de vias, organizando o tráfego de veículos.


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O centro administrativo, ou cívico, ganhou grande importância na malha urbana, por isso este local ganhava posição de destaque, era implantado na cota mais alta da cidade e avenidas diagonais chegavam até o seu principal monumento ou palácio. Esta configuração tem suas raízes no urbanismo barroco, onde o poder da monarquia era enaltecido. Essa relação entre funcionalidade e estética está muito presente no urbanismo francês. (DAHER, 1999). Grandes nomes desse movimento são Leon Jaussely, Henri Prost, Alfred Agache e Jacques Greber. A força do urbanismo cresce na França, quando em 1919, através da Lei Comudet, o Estado obriga que todas as cidades do país com mais de 10 mil habitantes, devem realizar planos de extensão e embelezamento (ACKEL, 2007).

b) A Cidade-Jardim, Ebenezer Howard (1850-1929)

Attílio Corrêa Lima e Armando de Godoy recorrentemente citam o “novo urbanismo inglês” em seus trabalhos, o urbanismo representado por nomes como Ebenezer Howard (18501929) e Raymond Unwin (1863-1940). Attílio usa em certa escala a referência da Cidade-Jardim no projeto de Goiânia, mas também em seu trabalho-tese onde propõe uma cidade-jardim-balneária em Niterói e posteriormente no projeto de Volta Redonda. Mas é Armando de Godoy que se debruça sobre as ideias howardianas de forma mais direta e clara, ao projetar um bairro jardim na sua contribuição mais direta para o plano urbanístico para Goiânia. No final do século XIX, a Europa passa pela Grande Depressão, uma época de grandes mudanças sociais e urbanas, onde 75% da população é urbana e vive em condições miseráveis. Na época duas ideias se confrontavam, segundo Howard “a dos socialistas que afirmam: todas as etapas da geração e distribuição de riquezas podem ser realizadas da melhor maneira possível pela comunidade, e a dos individualistas, que sustentam que melhor seria que estas coisas fossem deixadas aos indivíduos” (HOWARD, 1996, p.148). Ebenezer Howard (1850-1928) utiliza as duas teorias como base para seu pensamento, o senso de comunidade e conceito da vida municipal do movimento socialista, e o auto respeito e a confiança em si mesmo dos individualistas (HOWARD, 1996, p.180). Em 1898, Howard publica o livro Tomorrow: A Peaceful Path to Real Reform, que passa por revisões e é reeditado e lançado em 1902 como: Garden Cities of Tomorrow, traduzido no Brasil como Cidades-jardins de Amanhã. Este livro veio a se tornar referência mundial de urbanismo. Já na introdução Howard justifica as vantagens do conceito criado, que em síntese seria “um agrupamento humano equilibrado, usufruindo das vantagens do campo e da cidade e

Figura 1: Versailles: o urbanismo francês Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Plan_de_ Versailles_-_Gesamtplan_von_Delagrife_1746.jpg


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evitando as deficiências em ambos” (OTTONI, 1996, p.39). Outros teóricos também viram no campo a oportunidade de instalar cidades equilibradas como Thomas More em Utopia (1516), e no século XX, Robert Owen e Charles Fourier. Esta valorização do campo está muito ligada a tradição inglesa. Howard não era arquiteto ou urbanista, era jornalista, por isso o funcionamento e detalhes de suas cidades eram representados por diagramas, deixando claro que não eram projetos urbanísticos finalizados. Os diagramas representam uma cidade circular dividida em seis setores, cada setor limitado por áreas arborizadas com 36 metros de largura que se irradiam do Parque Central até o perímetro da cidade. O sistema viário da cidade é formado por cinco avenidas concêntricas ao Parque Central, sendo a terceira, a Grande Avenida que possuiria 128 metros de largura e 4.8 quilômetros de extensão. Em seu projeto é perceptível sua preocupação aos cuidados sanitários necessários, como a criação de um cinturão verde. Era importante para Howard demonstrar que seu plano era viável financeiramente, “... a possibilidade de se alojar a baixo custo, além de com alta qualidade ambiental, a população precariamente instalada nas cidades industriais existentes e podendo concomitantemente, gerir este empreendimento” (OTTONI, 1996, p.41). Howard passa a provar que sua cidade de 30 mil habitantes seria viável, na Cidade Jardim o solo urbano é socializado, mas não pertence ao Estado, desta forma, seu Estado se reduz a municipalidade. Esta municipalidade seria controlada pelos habitantes da cidade.

Figura 2: Howard: Distrito e Cidade Jardim Fonte: http://urbanplanning.library.cornell.edu/DOCS/ howard.htm

A concretização deste modelo veio através de Letchworth, a 56 quilômetros de Londres. Seu plano de urbanização foi elaborado pelos arquitetos Raymond Unwin (1863-1940) e Barry Parker (1867-1947), contratados como consultores da Letchworth Company. O desenho da cidade é simples, o terreno era cortado pela ferrovia, onde projetaram uma estação. O centro urbano seria a Praça da Cidade, entre a praça central e a estação estaria o comércio da cidade, a indústria seria posicionada próximo a ferrovia, fora da visão e dos ventos que poderiam contaminar a cidade. Ao modelo de Howard, criam 4 unidades de vizinhança, de 5 mil habitantes cada. “O desenho aberto mantém a continuidade do espaço livre verde pela cidade, tornado-a agradável e convidativa e transforma-se na principal característica da cidade. Para isso, cuidados especiais foram realizados em seu paisagismo” (OTTONI, 1996, p.50). Em Letchworth as ruas são de “desenho informal”, as casas são isoladas em seus lotes, com grandes recuos ajardinados, as calçadas são também dotadas de tratamento paisagístico, e os cul de sac seriam um sistema viário secundário. A criação destas áreas verdes públicas remete ao princípio do convívio em comunidade, buscando a escala humana.


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As ideias de Howard começam a se propagar pelo mundo, a medida em que começam a ser implantadas outras cidades jardins na Inglaterra. Porém, o que foi realmente produzido foram subúrbios residenciais de boa qualidade para a classe média.

c) A Cidade Industrial, Tony Ganier (1869-1948)

O projeto da Cité Industrielle foi elaborado por Tony Garnier (1869-1948) e apresentado ao público em 1904. É considerado um projeto pioneiro no urbanismo científico. Garnier nasceu em 1869 na cidade de Lyon, onde já existiu um dos maiores polos industriais da França. No início do século XX o movimento sindical continuava forte, e foi nesse contexto que Garnier produziu seu estudo de cidades industriais, contrariando a tendência da época de projetar cidades utópicas, escolhendo uma área próxima a Lyon como área de estudo. A cidade industrial projetada por Garnier para 35.000 habitantes e seu rígido zoneamento de usos, de certa maneira, antecipou os princípios da Carta de Atenas de 1933. O modelo desenvolvido por Garnier partia do princípio que toda a terra seria socializada, não existindo preocupações com os aspectos fundiários. (ACKEL, p.59, 2007).

A cidade possuiria um Centro Cívico com edifícios e instalações para atividades administrativas, culturais e esportivas. Além de um sistema que permite o pedestre atravessar a cidade em qualquer sentido sem utilizar as ruas. As residências eram na maior parte unifamiliares ou geminadas, as habitações dos operários estariam próximas às indústrias e as dos professores próximas às escolas. Ainda projetou o setor comercial e de serviços, o setor hospitalar, etc. Tony Garnier é considerado por Françoise Choay como um dos precursores do Movimento Moderno na arquitetura e urbanismo, pertencendo ao grupo dos “urbanistas progressistas”, juntamente com Walter Gropius e Le Corbusier. Desta forma, percebemos a importância deste projeto, que surge como o primeiro manifesto do urbanismo progressista (CHOAY, 1992, p.163). E que influenciaram muitos urbanistas da época, quando em 1920 publicou seu Grands travaux de la ville de Lion.


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1.2 Levantamento dos planos urbanísticos para Goiânia:

1.2.1 Proposta de Atílio Corrêa Lima (1933-1935)

- Biografia: Attílio Corrêa Lima foi contratado para executar o projeto de Goiânia em julho de 1933, através do Decreto nº 3547. Foi um dos pioneiros do urbanismo técnico científico no Brasil, sendo o primeiro brasileiro formado no Institut d`Úrbanisme de l’Université de Paris (IUUP). Em seu projeto é possível identificar diferentes referências ao urbanismo europeu, principalmente o francês. Attílio Corrêa Lima nasceu 8 de abril 1901 em Roma, Itália. Filho de um professor e escultor da Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (ENBA), José Octávio Corrêa Lima, que na época estagiava emt Roma pelo prêmio de viagem da ENBA, e a italiana Rosária Márzia Benfaremo Corrêa Lima. Em 1906 a família retorna ao Brasil. Attílio cursou a Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (ENBA), onde concluiu o Curso Geral, em 1922. Iniciou o Curso Especial de Arquitetura em 1923, e se formou engenheiro arquiteto em 1925. No último ano do curso se destacou como primeiro lugar na disciplina Grandes Composições de Arquitetura sob comando do Professor Archimedes Memória, este professor lhe deu aulas de projeto nos últimos três anos e foi de grande influência em sua arquitetura. Como primeiro lugar da turma na matéria recebeu o prêmio “Viagem à Europa”, em janeiro de 1927 (ACKEL, 2007). Com o prêmio Attílio escolhe se matricular no IUUP, que representava uma das mais importantes escolas de urbanismo do mundo. Attílio se mudou para Paris em 13 de junho de 1927, recém casado, com baixo orçamento da bolsa da ENBA e a obrigação de enviar aquarelas mensalmente à Escola. A IUUP surgiu quando a École des Hautes Etudes Urbaines (EHEU) foi introduzida na Universidade de Paris, em 1924. A EHEU surgiu com a necessidade de formação de profissionais que atendessem a Lei Cornudet de 1919, que foi a primeira lei francesa sobre desenvolvimento, embelezamento e extensão das cidades. A entrada da EHEU na Universidade de Paris aconteceu devido ao grande crescimento do curso em poucos anos. Além do curso na IUUP, Attílio também realizou curso na Techinique Sanitaire du Conservatoire Nacional de Arts et Métiers, de Paris. Onde se formou em 1929 como técnico sanitário


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(ACKEL, 2007, p.54). Durante os 5 anos de estudo em Paris, Attílio se aproximou de importantes nomes do urbanismo francês como Henry Prost, Leon Jaussely, Alfred Agache e Jacques Greber. Quando em 1928 teve Alfred Agache como professor, que ao descobrir que tinha um aluno brasileiro ofereceu estágio junto ao seu escritório. Agache na época realizava para o Rio de Janeiro, o Plano de Remodelação, Extensão e Embelezamento da Capital Federal (1927-1929). Trabalhar no escritório de Agache, além de uma importante fonte de renda, serviu como influência profissional e acadêmica a Attílio, trabalhou no Plano de Remodelação do Rio de Janeiro, que pode ter sido influência em seu trabalho-tese. A tese de conclusão do curso desenvolvida por Attílio, foi apresentada em 13 de dezembro de 1930 e tinha como título: “Avant-Projet D’Aménagement er D’Exrtension de la ville de Niterói au Brésil”. Ele teve como professor orientador Henri Prost, que no prefácio do trabalho elogia o brilhante trabalho do aluno (ACKEL, 2007, p.42). O trabalho é composto primeiramente por um diagnóstico da situação de Niterói, para em seguida elaborar diversas propostas para a cidade. A primeira proposição do plano está no estudo de qual seria a melhor forma de conectar Niterói ao Rio de Janeiro, ponte ou túnel. Ele estuda as duas alternativas com riqueza em detalhes estruturais e sanitários, e conclui que a melhor opção é a construção de uma ponte. Além disso estuda profundamente o traçado urbano da cidade, critica a legislação urbana existente na época, o zoneamento, etc. A proposta de reurbanização proposta por ele já demonstra suas referências de urbanistas contemporâneos da época. A influência de dois movimentos urbanísticos pode ser detectada neste e outros projetos por ele realizado: Cidade-Jardim (Hebenezer Howard); Cidade Industrial (Tony Garnier). Segundo Maria Cristina da Silva Leme (1999), os urbanistas brasileiros do século XX podem ser divididos em três gerações: a primeira composta pelos pioneiros, engenheiros civis e engenheiros militares; a segunda, engenheiros civis e engenheiros arquitetos; e a terceira composta por engenheiros civis, engenheiros arquitetos, arquitetos, sociólogos e geógrafos. A autora considera então Attílio Corrêa Lima um pioneiro da segunda geração, caracterizado por engenheiros civis e engenheiros arquitetos. Nesta geração encontramos profissionais como Luiz Ignácio de Anhaia Melo, Rino Levi, Alexandre Albuquerque, entre outros. Ele foi, então, considerado um dos mais importantes urbanistas do país. Logo após seu retorno de Paris, Attílio é contratado para realizar importantes projetos no Brasil, entre eles abordaremos os seguintes: O Plano de Goiânia, uma nova capital de Goiás; o

Figura 3: Capa do trabalho-tese de Attílio Corrêa de Lima Fonte: LIMA, 1932.


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Plano de Extensão e Embelezamento de Recife e o Plano da Cidade Industrial de Volta Redonda. Trataremos a seguir dos planos de Recife e Volta Redonda, afim de investigar as influências projetuais de Attílio, o Plano de Goiânia será estudado com mais detalhes separadamente. Em 1935, Attílio retorna para o Rio de Janeiro, após sua participação no Plano Original de Goiânia. Attílio foi contratado para emitir um parecer quanto ao plano desenvolvido pelo engenheiro arquiteto Nestor de Figueiredo, que havia recebido um grande número de críticas, também foram contratados Washington Azevedo e Prestes Maia. Todos apontaram uma série de defeitos no plano. Desta forma em 1936 ele é contratado pela prefeitura para apresentar um plano para o bairro de Santo Antônio. Attílio apresenta um plano mais modesto, que altera o mínimo do traçado existente, promovendo poucos recuos e poucas desapropriações (LEME, 1999, p.404). O urbanista se manteve atento a racionalização das vias, promovendo separação entre bondes e automóveis, descentralizando os terminais de bonde, afim de diminuir o grande tráfego de bondes na área central do bairro. Ele propõe um modelo radial-perimetral, sendo aproveitando a possibilidade de conservar a estrutura existente. Além do projeto de reestruturação do bairro de Santo Antônio, Attílio foi convidado pelo governador para propor um plano geral de remodelação da cidade (ACKEL, 2007, p.157). No Plano de Remodelação de Recife ele propôs um novo zoneamento para a cidade, que contava com zonas como zona comercial, industrial e residencial; e outras zonas especiais como bancária, universitária e portuária. E ainda projetou um conjunto operário no bairro do Cordeiro (LEME, 1999, p.406). O que chama atenção no Plano é seu detalhado estudo econômico, social e geográfico da cidade de Recife e região. Podemos notar a diferente abordagem do arquiteto neste projeto e no de Goiânia, onde os aspectos históricos são quase inexistentes, ao passo que em Recife ele estuda esse processo como forma de entender o traçado e o desenvolvimento da cidade. Após o estudo sistemático da história da cidade, Attílio concluí que a situação encontrada no território está relacionada a falta de legislação no passado, o que permitiu a criação de vias sem uma norma orientadora. O que resultou em um sistema viário fragmentado e que impossibilita seu alargamento. Após complexo diagnóstico da cidade de Recife, Attílio parte para a etapa projetual, onde divide suas propostas em cinco pontos distintos: a estrutura do plano, as pontes, os portos, o embelezamento e o zoneamento. O urbanista defende um modelo racional, onde os diferentes segmentos seriam organizados ao longo de eixos radiais e avenidas perimetrais. Ele defende que as áreas alagadiças da cidade são impróprias para ocupação e por isso deveriam ser usadas como


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pequenas lavouras. Propõe mudanças no sistema viário da cidade, como a separação dos bondes e automóveis (ACKEL, 2007, p. 168). Percebe-se neste plano para Recife uma preocupação do urbanista na mínima intervenção do espaço, causando poucas desapropriações e preservando importantes monumentos da cidade. Além da reprodução de algumas características por ele implantadas em Goiânia, como o desenho de eixos radiais. O plano urbanístico de Volta Redonda foi elaborado por Attílio Corrêa Lima em 1941. A construção da primeira usina siderúrgica brasileira e da cidade operária em Volta Redonda serviria como modelo nacional, e daria ao Governo de Getúlio Vargas notoriedade, exaltando o industrialismo, a política social do Governo, a materialização da imagem do homem novo que estava sendo construído através do desenho e do equipamento da cidade (LOPES, 1993 apud ACKEL, 2007, p.176). A referência apresentada por Attílio pode ser considerado uma adaptação do modelo da Citté Industriélle de Tony Garnier, tomar este modelo se fez possível “devido à natureza da cidade e ao programa que lhe foi dado desenvolver, ajudando-o a desenhar um espaço-rebatimento da organização fabril” (SOUZA, 1992, p.22 apud ACKEL, 2007, p.178). Attílio é responsável por projetar a cidade operária que previa 4.000 habitações. O urbanista ocupa áreas planas com traçado simples, o plano não apresenta monumentalidade, formado por um sistema viário simples permitindo melhor locomoção a pé (ACKEL, 2007, p. 178). O traçado viário é definido pelo cruzamento de dois eixos, Leste-Oeste e Norte-Sul, sendo o sentido Norte-Sul estabelecendo relação com a usina siderúrgica. No projeto de Corrêa Lima a área central seria composta pelos centros comercial, administrativo e cívico. O centro seria alinhado e paralelo à rodovia e ferrovia, como elemento de transição entre a cidade e a zona industrial. Ao sul do centro, implantou o bairro residencial dos técnicos e operários especializados, previa a construção de casas geminadas, recuadas 10 metros das ruas e onde não podiam haver construção de muros, se tornando uma extensão da vida pública (ACKEL, 2007, p.183). Adjacente ao centro administrativo se encontra o bairro Conforto, destinado aos operários não especializados, ao longo da rodovia. As casas são geminadas e possuem recuo ajardinado em relação a rodovia. Este modelo também pode ser encontrado na Citté Industriélle de Tony Garnier. O bairro Laranjal estava mais isolado, elevado e separado da vila operária, o sistema viário orgânico seguia o desenho das curvas de nível em um desenho semelhante aos bairros jardins, a localização de cada funcionário é influenciada por qual seu cargo na empresa. Os lotes são irregulares e com mais de 500 m², são implantadas residências unifamiliares no centro do lote, sem

Figura 4: Proposta de Zoneamento para o centro de Recife Fonte: LIMA, 1936.


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muros e extensos recuos ajardinados (ACKEL, 2007, p.184). A criação desses bairros vai contra os princípios de Garnier, Attílio promove a segregação espacial das diferentes classes operárias na cidade. Mas a referência às cidades jardins de Howard aparece claramente no projeto do bairro Laranjal, o que não ocorreu em Goiânia. O plano para Volta Redonda foi produzido entre junho e dezembro de 1941. Em 1942, a população da cidade já era de 10 mil habitantes. A seguir será investigado o Plano de Urbanização de Goiânia entregue por Attílio em 1935. Vamos perceber a diferente abordagem que adotada neste projeto, quanto aos projetos realizados posteriormente em Recife e Volta Redonda. - O plano de Attílio Corrêa Lima para Goiânia (1932-1935) A construção de uma nova capital para o Estado de Goiás representava mais do que uma necessidade, mas também a oportunidade da construção de uma cidade nos moldes modernistas, representando a nova cena política do País e do Estado. Attílio Corrêa Lima foi o urbanista contratado para realizar a prestigiada tarefa. Anamaria Diniz (2007) encontra nos arquivos pessoais de Attílio o relatório oficial entregue a Pedro Ludovico Teixeira, revelando o período do seu trabalho, de 1932 a 1935. Porém, a contratação de Attílio Corrêa Lima para projetar o plano da nova capital de Goiás foi oficializada pelo Decreto nº3.457, em 1933. O convite foi feito em 1932, nessa ocasião Attílio visita o pequeno município de Campinas, em Goiás, local escolhido para implantação de Goiânia.

Fui convidado em 1932, pelo doutor Pedro Ludovico Teixera, por intermedio do dr. Benedicto Neto Velasco, naquela ocasião Procurador do Estado de Goiás, e fui a Campinas estudar o local e iniciar o projeto da nova cidade. Inúmeras foram as dificuldades que tivemos que vencer, os recursos financeiros eram ínfimos e os métodos de construção ainda primitivos. (LIMA, A. C. Entrevista concebida ao jornal Correio da Noite-RJ, em 04/07/42 apud ACKEL, 2007, p.137)

O Decreto de 1933 contém informações que definiam as diretrizes a serem seguidas no plano da nova capital. A seguir, trecho do Decreto copiado integralmente do livro “Como nasceu Goiânia” de Ofélia Monteiro, de 1938:


28 DECRETO Nº 3.457, DE 6 DE JULHO DE 1933 O Interventor Federal, neste Estado, resolve encarregar o urbanista Atilio Correo Lima, representante da firma P. Antunes Ribeiro e Cia., do Rio de Janeiro, do estabelecimento do projeto da futura capital do Estado mediante o pagamento da importancia de cincoenta e cinco contos de reis (55:000$000), observadas as seguintes condições: A elebração do projeto se divide nas seguintes partes: 1.ª – Organização do esboço geral do traçado da cidade, partindo de um nucleo central ou se desenvolvendo em torno dele; 2.ª – Estabelecimento do anteprojeto na escala máxima de de 1: 10.000, definindo o tipo da cidade e os seus elementos planimetricos; 3.ª – Organização do plano diretor na escala máxima de1 : 5.000, compondo-se ele das seguintes partes: a) sistema de logradoures publicos; b) indicações relativas á circulação; c) zonemaneto ou divisão da cidade em várias zonas, cada uma com determinada finalidade; d) esquema das rêdes de agua, esgoto, de luz e força; e) sistemas de parques, jardins ruas-jardins, terrenos para esporte e recreio, bem como indicação sobre a arboraziçaõ das ruas; f) plano detalhado do centro civico e dos principais edifícios correspondentes; g) indicações sobre a coléta, transporte e tratamento do lixo; h) cadernos de obrigações relativas aos edifícios a serem construídos nas quadras centráis; […]

O decreto previa um programa para o plano de Goiânia, por exemplo, deveria prever uma população de 50.000 habitantes, onde inicialmente habitariam 15.000 na região central, além de já definir que a cidade deveria ser organizada através do zoneamento. Attílio começou seus trabalhos elaborando um relatório técnico sobre o local escolhido pela comissão estadual, apesar de concordar com o local escolhido, o urbanista discorda do ponto indicado pelo engenheiro João Argenta, membro da comissão de escolha do sítio, para situar o centro da cidade na região denominada Paineira. Attílio chama atenção para a distância da rodovia e para a configuração do terreno, de formação sedimentar com formato côncavo e declividade de 3% a 4%, enquanto o terreno escolhido por sua equipe variava entre 1% e 2% (ACKEL, 2007, p.138). Além disso ele via na região da Paineira a possibilidade de construir um grande reservatório para abastecer a nova capital.


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No livro de Ofélia Monteiro, “Como nasceu Goiânia” (1938), está documentado o relatório final de Attílio, entregue em conjunto do Plano de Urbanização em 1935, quando se demite do cargo. A seguir serão descritos os elementos por ele explanado no relatório. O relatório é introduzido com o item “Traçado”. O traçado de Goiânia, segundo o urbanista, é baseado em três pontos: configuração do terreno, sistema viário e zoneamento. A configuração do terreno, ou topografia, foi trabalhada com muita atenção pelo urbanista, sempre evitando as grandes velocidades das águas. As principais avenidas foram projetadas para seguirem o declive natural do terreno, as vias secundárias estariam posicionadas paralelamente às curvas de nível, desta forma garantindo a drenagem através da gravidade e infiltração natural, as avenidas Anhanguera, Araguaia e Tocantins possuiriam entre 30% e 50% de áreas permeáveis. Da topografia também foi aproveitada a oportunidade de gerar monumentalidade. O desenho urbano escolhido por Attílio revela a influência do urbanismo barroco francês, o urbanista declara a busca da “monumentalidade” em seu relatório: “Guardando as devidas proporções, o efeito monumental procurado é o do princípio clássico adotado em Versailles, Karlsruhe e Washington” (LIMA, 1935 apud MONTEIRO, 1938, p.140). Esta intenção projetual será analisada posteriormente. A declividade do terreno também permitia que as águas pluviais fossem recolhidas e despejadas nos talwegs, ou vales, do Botafogo e dos Buritis, e nos leitos dos córregos. O sistema viário é simples, na forma de xadrez, com vias regulares. As vias diagonais como as avenidas Araguaia e Tocantins demarcam a preocupação estética do urbanista, enquanto a avenida Paranaíba, curva, desvia o trânsito do centro da cidade.

Figura 6: Plano do Setor Central de Goiânia, de Attílio,1938. Fonte: ACKEL, 2007.

O tráfego de veículos, segundo o urbanista, seria mais intenso nas ruas 3, 4, 5, e avenida Anhanguera, que são paralelas entre si. Sendo a avenida Anhanguera o eixo de distribuição do trânsito. A avenida Goiás apresentaria um caráter pitoresco e monumental, é a avenida


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que está ligada diretamente ao centro do Centro Administrativo. O Centro Administrativo pode ser acessado pelas ruas 10,11, 26, 34, 35, e avenidas Araguaia, Anhanguera e Goiás. Segundo Attílio, apesar do fácil acesso à praça administrativa, o trânsito nas suas imediações não seria intenso, pois os atrativos do centro urbano estariam deslocados desta.

Quanto ao zoneamento, o urbanista introduz o tópico do relatório: O zoneamento da cidade é feito procuranto satisfazer as tendências modernas, de localizar os diversos elementos da cidade em zonas demarcadas afim de não só obter a melhor organização dos serviços públicos, como tambem, para facilitar certos problemas tecnicos economicos e sanitarios, não falando aqui em estética. (LIMA, apud MONTEIRO, 1938, p.140)

Attílio vê a oportunidade de aplicar o zoneamento de forma adequada em um “campo limpo”, o que seria difícil em uma cidade consolidada. O zoneamento é formado pelo Centro Administrativo, Centro Comercial, Zona industrial, Zona residencial e Zona rural. O Centro Administrativo projetado por Corrêa Lima previa a organização dos edifícios de administração pública em uma grande praça com obelisco no centro, hoje chamada de Praça Cívica. O urbanista relata: […] uma praça de caráter monumental, destacando-se no seu eixo de simetria o Palácio do Govêrno. Sucedem-se escalonados, à direita dêste, a Secretaria Geral e o Palácio de Justiça; e, à esquerda, a Câmara Estadual e a Prefeitura Municipal. No lado fronteiro ao Palácio ficarão localizados os edifícios federais, como a Coletoria, Juízo Federal, Juízo de Menores, etc... Os outros edifícios estaduais ficam concentricamente na parte posterior aos acima descritos. Abrimos exceção para o edifício dos Correios e Telégrafos, que de preferência, deve ser acessível ao grande público; por conseguinte, deve estar, no centro comercial da cidade” (LIMA, 1942, p.102 apud GONÇALVES, 2003, p.53).

O Centro Administrativo é o principal ponto da cidade, está localizado no centro geométrico da cidade, e dele partem as principais vias, é nele que os edifícios públicos municipais e estaduais seriam implantados em uma grande praça, onde o trânsito mais pesado aconteceria nos anéis periféricos. “[...] o Centro Administrativo, embora disponha de fácil acesso, não é local de passagem para grandes comunicações, o que torna um tanto tranquilo como convém às repartições públicas” (LIMA, 1933, p.7 apud ACKEL, 2007, p.149). O Centro Comercial seria localizado na área mais central da cidade, onde o comércio se firmaria e a haveria maior densidade construtiva. Foi previsto para esta zona tráfego intenso


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de automóveis e pedestres, então teria largas ruas e avenidas, “com largura suficiente para satisfazer o trafego por muitas décadas, e com a possibilidade de alargamento das áreas de trafego sem desapropriação” (LIMA, 1935 apud MONTEIRO, 1938, p. 141). Todas as quadras possuiriam áreas públicas no centro para uso dos comércios. Para estas áreas comerciais, foram previstas cinco quadras para estacionamento de automóveis. A Zona industrial, está na parte mais baixa da cidade, na região onde a estrada de ferro chegaria, desta forma o escoamento da produção seria deslocado do centro urbano. A Zona residencial, dividida em urbana e suburbana, sempre afastadas dos centros movimentados. Zona rural, ocuparia todo o território que não estão incluídas nas outras zonas. No item, “vias públicas”, o urbanista determina que todas as vias terão extensão de acordo com seu nível de trafego, as ruas serão arborizadas e as principais avenidas ajardinadas.

Figura 7: Sistema viário do Setor Central

Em “praças”, Attílio descreve o sistema em “asterisco” (GRAEFF, 1985), “As praças obedecem ao sistema da circulação giratória, o mais adequado para evitar conflitos de veículos, e por exigir menor número de inspetores de trânsito, fazendo o cruzamento automaticamente”. Determina a instalação de monumento para homenagear os bandeirantes e o marco comemorativo da fundação da cidade. Propõe que a faixa formada pela


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avenida Paranaíba, que separa zona comercial e zona industrial, seja reservada para feiras e comércios periódicos. Em “jardins”, fica determinado que a avenida Goiás, antiga avenida Pedro Ludovico, seria usada como passeio público, sendo que 45% de sua área seria ajardinada e arborizada. A criação do Parque dos Buritis é justificada por sua área de vale, que facilitaria sua drenagem, seria formado o que os americanos chamam de parkway. No córrego Botafogo também seria formado um parkway, onde a água da capital seria represada e protegida. O Parque Botafogo seria o grande parque da cidade. “Esta mata que denominamos de parque ‘Bota Fogo’ deverá ser protegida contra a devastação, e contra as explorações industriais, afim de não ser desperdiçado este valioso patrimônio” (LIMA, 1935 apud MONTEIRO, 1938, p.143). O item “cursos d’água”, define que os córregos de Capim Puba e Botafogo deveriam ser protegidos para garantir boa qualidade da água. O córrego que passa pelo Parque Buriti deveria ser drenado e represado para formar lagos e cascatas no parque. A represa do Jaó poderia sevir como atração turística, onde poderiam ser praticados esportes aquáticos. O “abastecimento d’água” da nova capital seria na primeira fase feito pelo córrego Botafogo e depois reforçado pelo Capim Puba. O reservatório da cidade seria construído na região de Paineira, de maneira que a água seria distribuída pela gravidade. O “esgoto” é separado em duas redes diferentes. A rede de águas pluviais seria simples e seria despejada nos córregos da cidade. A rede de “materiais fecais”, deveria ser despejada abaixo da represa do Jaó, apenas após o “tratamento bacteriológico e químico”. A “coleta e transporte do lixo” no centro comercial seria feito através de pátios nos interiores de quadra. Attílio especula a respeito do tipo de lixo que seria produzido na cidade e quais os possíveis destinos de cada. Em “loteamento”, seguindo a noção de salubridade, determina que nenhum lote poderia ter menos de 360 m² e testada inferior a 12 metros, “Hoje é universalmente aceito que abaixo destes algarismos a construção não pode oferecer condições de iluminação, insolação, boa distribuição interna e aspecto agradável” (LIMA, 1935 apud MONTEIRO, 1938, p.146). O tamanho dos lotes aumenta em função da sua distância do centro urbano. O “projeto de organização administrativa” define a organização espacial dos prédios públicos de acordo com suas atividades administrativas. “A Prefeitura da nova capital terá ao lado da Diretoria da Fazenda e da Diretoria da Instrução, uma Diretoria que superintende todos os serviços da cidade de caráter técnico, a que por isso mesmo, demos o nome de Diretoria Técnica”

Figura 7: Projeto do Centro Administrativo. Fonte: GRAEFF, 1983.


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(LIMA, 1935 apud MONTEIRO, 1938, p.147). Esta diretoria estaria apta a receber sugestões da Comissão do Plano da Cidade para que problemas técnicos fossem resolvidos. Essa comissão seria formada por “doze cidadãos ilustres da cidade”. A Diretoria Técnica seria dividida em Controle, Plano de urbanização e Obras. O relatório chega ao fim com o item “regulamento das construções”, a regulamentação “se refere apenas à parte das edificações encaradas sob o ponto de vista urbanístico” e não a questões arquitetônicas. Neste relatório, Attílio Corrêa Lima primeiramente descreve como se beneficia da topografia e da perspectiva para buscar a monumentalidade, principalmente ao maior ponto de interesse da cidade, o Centro Administrativo e o Palácio do Governo. Além disso, racionaliza seu plano em três pontos, como já sublinhado: topografia, zoneamento e sistema viário. A racionalização e separação destes elementos são tipicamente encontrados na escola francesa de urbanismo. Da Praça Cívica, partem as avenidas Araguaia, Goiás e Tocantins, nestas os edifícios foram sugeridos como Agache projetou para o Rio de Janeiro, dispostos ao longo das avenidas e pátios no interior das quadras. Attílio buscou a monumentalidade, porém como aponta Graeff, é perceptível a contradição do desejo do urbanista e o resultado alcançado. Ao utilizar o “pé de pato”, que proporcionaria o caráter monumental, apresenta paisagismo equivalente a uma avenida-parque, as avenidas com ilhas centrais ajardinadas de árvores frondosas, que destroem a perspectiva buscada (GRAEFF, 1985, p.13). No seu relatório, entregue com o Plano Piloto, Attílio defende sua ideia de monumentalidade:

Da topografia tiramos partido também para realçar o principal motivo da cidade, que é o seu centro administrativo. A situação que lhe demos é de grande destaque, sobressaindo visivelmente de todos os pontos da cidade e principalmente para quem nela chega. Quem atravessar a cidade ai longo da sua principal via comercial (avenida Anhanguera). Verá sucessivamente três pontos de vista diversos ao cruzar as três grandes avenidas que convergem para aquele centro. Procuramos adotar o partido clássico de Versailles, Karlsruhe e Washington, genericamente de Patte d’oie, pelo aspecto monumental e nobre, como merece a capital de grande Estado (evidentemente que guardando as devidas proporções) (IBGE, 1942 apud GRAEFF, 1985, p.16). Figura 7: Zoneamento de usos, 1938 Fonte: ACKEL, 2007.

O “pé de pato”, ou, Patte d’oie, adotado no projeto é uma referência ao modelo já muito usado na Europa desde o século XVIII, mas principalmente no urbanismo francês de raízes barrocas. Este desenho, formado por um núcleo central de onde três avenidas se convergem, pode ser encontrado em cidades projetadas anteriormente, como Versailles, Karlsruhe, Letchworth e


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Washington (GONÇALVES, 2002, p.54). As referências do urbanista são cidades como Versailles e Karlsruhe, onde a monumentalidade buscava apoio em uma arquitetura criada para expressar a monarquia absolutista, movimento nominado de “urbanismo barroco”, muito praticado no século XVIII. No século seguinte, L’Enfant projeta a capital americana, Washington, seguindo estes princípios. Ao contrário dos arquitetos barrocos, o engenheiro arquiteto queria enaltecer os ideais republicanos, como sentimento de patriotismo e a democracia. No Plano de Corrêa Lima a estrutura viária se converge para o Centro Administrativo, onde os prédios públicos da nova ordem política estão localizados, configurando uma grande importância em um único grande centro radial. Este traçado monocêntrico é semelhante ao modelo barroco, quanto ao desenho e circulação (GRAEFF, 1985). Da Praça Cívica partem as mais importantes avenidas. O eixo norte-sul, avenida Pedro Ludovico (atual avenida Goiás), é uma verdadeira avenida-parque, muito larga e possuindo metade de sua área reservada aos jardins e arborização, nesta via Attílio imaginava um verdadeiro passeio público. O eixo nordeste, a avenida Araguaia, termina no Parque Mutirama; e o eixo noroeste, avenida Tocantins, no aeroporto proposto. Estas vias cruzavam a região determinada por Attílio como o Centro Comercial. O Centro Comercial foi situado ao norte da

Figura 8: Plano da Nova Capital (1933-35). Fonte: Seplan Goiânia


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Praça Cívica, na avenida Goiás e em um eixo leste-oeste que a cruza, sendo também a ligação com Campinas, a cidade que já existia antes da capital. Attílio Corrêa Lima tinha um grande interesse pelo paisagismo, em seu plano é perceptível a importância das áreas verdes e arborização das avenidas. No plano ele prevê a construção de diversas áreas verdes, como o Bosque dos Buritis localizado no setor central: Para isso será necessário drená-lo convenientemente, conduzindo as águas pelo ‘talweg’, em canal descoberto, tirando partido deste para os efeitos de pequenos lagos decorativos. Este parque que denominamos dos Buritis se estenderá por faixas ao longo do ‘talweg’ e medirá 50 metros para cada lado (...) formando o que os americanos chamam de park-way. (LIMA, 1933, p.9)

A importância da vegetação em uma cidade segundo Attílio vai além de um caráter social, mas um caráter higienista: Dentro do critério moderno que manda prover as cidades de áreas verdes plantadas a fim de permitir que o ambiente seja beneficiado por essas reservas de oxigênio, procuramos proporcionar à cidade o máximo que nos foi possível de espaços livres. (LIMA, A C, Goiânia: A nova capital de Goiás, Arquitetura e Urbanismo, ano II, n 3m maio/ junho, 1937, p.146)

A rede de parques e parkways propostas por Attílio foi muito bem articulada com a vida urbana projetada. É possível afirmar que o urbanista teve uma preocupação social ao criar tantas áreas verdes, que estava também de acordo com seus ideais higienistas. O plano conta com um total de 1082 hectares, sendo que 35% são de áreas públicas e quase metade dessa área destinada a espaços de lazer e recreação. A cidade possuía uma ótima proporção entre áreas verdes públicas e habitantes, condição rara na época. Na região norte, a mais baixa da cidade, o urbanista projetou a Zona Industrial, próxima a estação ferroviária. Com lotes de no mínimo 1000 m², ele imaginava que ali cresceria um setor industrial, de industrias não nocivas. É importante ressaltar a importância da sociedade industrial no projeto da cidade moderna. Seguindo seus mestres franceses, Attílio aceita a industrialização, que se torna positiva, que molda o programa da cidade. “Para os urbanistas franceses, a cidade seria planejada para abrigar as atividades ligadas à produção, à circulação e ao consumo de bens industrializados” (DAHER, 2009, p.87). Attílio produziu no Rio de Janeiro, o projeto dos primeiros prédios da cidade: Palácio do Governo, Prefeitura Municipal e o Grande Hotel, que tiveram suas obras iniciadas em 1935. A partir desses projetos que o Art Decó se estabelece como imagem de Goiânia.


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A década de 30 representa o período de consolidação do Art Decó no Brasil. Principalmente no Rio de Janeiro, que segue o plano de Alfred Agache, substituindo a imagem da cidade de pequenos prédios ecléticos, para a construção de grandes e poderosos edifícios. Era esperado que Attílio, arquiteto carioca formado na Escola Nacional de Belas Artes, seguisse este estilo nos edifícios da nova capital (ACKEL, 2007, p.145). O primeiro Plano Urbano de Goiânia foi desenvolvido por Attílio Corrêa Lima a partir do segun do semestre de 1933. Em meados de 1934 são apresentados os primeiros desenhos do Plano para o Estado, referentes ao Setor Central. Quando em 1935, ele deixa o cargo, os Coimbra Bueno assumem a direção das obras, então, ele entrega seu plano e seus estudos referentes aos setores Norte e Sul . - A demissão de Attílio (1935) Segundo seu contrato, Attílio deveria morar no canteiro de obras da capital em construção, em meio ao sertão, onde viveu todo o tipo de adversidades. Apesar de ter se mudado para Goiânia, o arquiteto desenvolvia projetos paralelamente no escritório da empresa no Rio de Janeiro, o que o obrigava a fazer diversos deslocamentos. As despesas de viagem não estavam previstas no contrato e eram muito altas. Isso acabou se somando a outras insatisfações de Attílio, como a presença da construtora Coimbra Bueno & Cia Ltda (ACKEL, 2007, p.144). Os irmãos Coimbra Bueno eram proprietários da principal empreiteira da área e foram os responsáveis pela execução da obra. O atrito entre os irmãos e o arquiteto surgiu principalmente pelas atividades especulativas que estes praticavam, tentando muitas vezes alterar o projeto de Attílio. Após residir em Goiânia por dois anos, Attílio não suportou a pressão tanto do meio profissional quanto familiar, e decide por rescindir o contrato com a firma P. Antunes Ribeiro & Cia, abandonando o cargo de diretor de obras. Em 1935 ele retorna ao Rio de Janeiro com sua família, deixando Goiânia com os setores central e norte sendo implantados, além de alguns edifícios públicos projetados por ele. Attílo Corrêa Lima passou os últimos anos de sua vida tentando obter o reconhecimento de sua o bra. Depois que abandonou o cargo de diretor de obras, entre 1936 e 1940 a cidade continuou a ser construída, com direção de obras dos Coimbra Bueno e participação no projeto de Armando Augusto Godoy com consultor. À medida em que a data de inauguração da cidade se aproximava, seu nome não surgia como autor do projeto em muitas ocasiões, sendo a autoria atribuída até mesmo a Alfred Agache. O urbanista francês realmente tinha sido contratado pelos Coimbra Bueno como consultor, porém nos planos de Curitiba e Florianópolis.

A campanha publicitária dos Coimbra Bueno dominava todos os meios, cinema, rádio,


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jornais. A construtora que havia se espalhado pelo Brasil utilizava de todos os meios para afirmar que Goiânia era de autoria deles. Mesmo que o governo de Goiás e outras importantes instituições reconhecessem a autoria de Attílio, em 1942 o governo estadual instalou uma sindicância, que resultou em um processo judicial do Governo do Estado de Goiás contra a empresa Coimbra Bueno & Cia. Duque Estrada, que presidiu a sindicância, envia carta a Attílio em 17 de fevereiro de 1943, pedindo detalhes ao urbanista quanto ao trabalho realizado durantes os primeiros anos de construção da cidade com os Coimbra Bueno. Attílio relata em sua carta resposta: A firma, logo após a minha retirada de Goiás quando tomou a direção das obras de Goiânia, iniciou um serviço intenso e sistemático de propaganda do que estava feito, projetado e andamento na referida cidade. De todos os meios possíveis utilizaram: cinema, rádio, imprensa. Nas revistas técnicas abordavam os diversos problemas suscitados pela construção de uma nova cidade, sempre sobre a responsabilidade de Coimbra Bueno & Cia. Ltda. Esta propaganda estendeu-se até mesmo a revistas estrangeiras. A omissão sistemática do meu nome como autor do plano, já em parte realizado, e a citação exclusiva e indefectível de ‘Construtores da Cidade de Goiânia’, só pode ser interpretada como má fé. (Carta resposta de Attílio Côrrea Lima a Rodrigo Duarte Estrada, em 22/02/43, p.2 apud ACKEL, p.152 e 153) Figura 9: Setor Central sendo construído em 1936. Fonte: ALVARES, 1942.

Attílio faleceu em 27 de agosto de 1943, após a queda do avião em que retornava ao Rio. Ainda após sua morte, os Coimbra Bueno continuaram a não reconhecer sua autoria no Plano de Goiânia.


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1.1.2 Proposta de Armando de Godoy (1935-1937) Armando Augusto de Godoy foi contratado 1935, como consultor dos engenheiros da construtora Coimbra Bueno, após a turbulenta saída do urbanista Attílio Corrêa Lima. Sua maior contribuição para o Plano Original de Goiânia foi o Setor Sul, seguindo os princípios do urbanismo inglês. - Biografia: Armando de Godoy (1876-1944) foi um importante nome do urbanismo no Brasil. Sua carreira profissional está ligada a prefeitura do Rio de Janeiro, o que condiz com sua postura que defendia o urbanismo como responsabilidade do poder público (MOTA, 1999, p.1). Armando nasceu em Volta Grande, Minas Gerais. Aos 16 anos se muda para o Rio de Janeiro para estudar na Escola Politécnica. Formou-se engenheiro civil, em 1904, sendo de grande influência ao urbanista, onde recebeu uma educação positivista. Ingressou na Prefeitura do Rio de Janeiro como engenheiro, tendo oportunidade de trabalhar com urbanismo (MANSO, 1998, p.7). Godoy foi um grande do defensor do urbanismo como ciência. Sempre muito bem informando a respeito das questões urbanas na Europa e América, possuía uma das bibliotecas mais atualizadas no assunto. Godoy exercia uma grande influência no Brasil, ao passo que escrevia periódicos no Rio de Janeiro entre 1925 e 1943, divulgando o Urbanismo no país. Ele acreditava que o urbanismo só seria propriamente aceito através de intensa propaganda. A contratação de Alfred Agache para o Plano Geral de Remodelação do Rio de Janeiro, teve Godoy como elemento chave. Foi um grande defensor do “Plano Agache”, que gerou muita polêmica (MANSO, 1998, p.3). É possível, então, afirmar a influência de Agache sobre Godoy e Attílio. A produção de Godoy está concentrada em “A Urbs e os Seus Problemas”. Neste volume é possível encontrar o engenheiro urbanista discutindo os mais variados temas. Por exemplo, que a chegada do urbanismo moderno no Brasil não está relacionada a visita de Le Corbusier em 1929, mas sim em 1896, através do engenheiro sanitarista Saturnino de Brito


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- O plano de Armando Augusto de Godoy para Goiânia (1935-1937) O envolvimento de Armando de Godoy no projeto de Goiânia antecede a saída de Attílio do Plano. Godoy foi responsável pela carta entregue ao Governo Federal, defendendo a necessidade da construção de uma nova capital goiana. Ressaltou a necessidade geográfica da mudança da capital, além do que essa cidade representaria aos princípios modernos que efervesciam na época. Quando em 1935 Attílio deixa o cargo, Godoy é contratado para analisar o trabalho deste e se torna consultor técnico da construtora Coimbra Bueno. Algumas declarações apontam que o urbanista propôs novas soluções para as regiões Norte, Sul e Oeste. Seu envolvimento com o projeto foi muito bem visto pela mídia e autoridades, em carta para o Dr Oscar Campos Júnior, o Superintendente das Obras do Estado afirma: […] Quanto às outras zonas, foram apresentados, já agora a nós, para nossa aprovação, os projetos das trez restantes: Norte, Sul e Oeste. Solicitamos, no interesse da cidade, pela qual tudo temos sacrificado, que o Governo, entregrasse à critica a aprovação ou não, dos projétos novos, a uma autoridade técnica já consagrada no ramo, ainda muito pouco divulgado em nosso meio, que é o urbanismo. Tivemos a grata satisfação de ver vitorioso nosso ponto de vista, quando o Governo resolveu convidar o Dr. Armando de Godoy para estudar detidamente o plano das novas zonas. Esse reputado técnico braileiro, já conhecedor do nosso meio, adotou o caminho mais facil e pratico da questão -- realizar tudo de novo. […] O estabelecimento do Plano-Diretor de Goiânia será a base da evolução futura dessa cidade, cujas possibilidades são, no momento, imprevisíveis […] (ALVARES, 1942, p. 18).

Em 1937, o Superintendente das Obras relata ao Diretor da Fazenda, o progresso da construção da capital, nesse trecho da carta documentada por Geraldo Alvares no livro “A luta na epopeia de Goiânia”, é possível comprovar o papel de Armando de Godoy como consultor dos Coimbra Bueno, primeiro revisando o trabalho de Attílio, e logo criando um novo desenho por Godoy para o Setor Sul. Figura 10: Plano de Armando de Godoy (1938). Fonte: GRAEFF, 1985.

O D. D. Governador houve por bem autorizar-nos a contratar o Dr. Armando de Godoy para a revisão do anteprojeto do Dr. Correia Lima, e, já, desde o ano passado vem o Dr Godoy, estudando o assunto, em nosso escritório, no Rio. Destes estudos, resultou o abandono, em tudo que ainda era possível, do anteprojeto Correia Lima, a elabora-


40 ção de novas plantas. Foram, feitas, então as plantas do Setor Sul, cujos detalhes estamos ultimando, elaboradas e detalhadas com o cuidado que o caso requer (ALVARES, 1942, p. 23 e 24).

Neste trecho temos que, do projeto elaborado por Attílio, apenas os setores Central e Norte não foram alterados, pois não era possível (ALVARES, 1942, p.24). Godoy então procede com o desenvolvimento de um novo plano para Goiânia, ele defende o movimento urbanista inglês como adequado ao modelo de cidade moderna. A nova equipe estava alocada no Rio de Janeiro, contratada pela construtora Coimbra Bueno e liderada por Armando de Godoy. As declarações contraditórias dos urbanistas e construtores, principalmente quando Godoy não menciona as intenções projetuais de Corrêa Lima, mostra como estavam em pontos opostos, Graeff completa: “Esse jogo de meras insinuações e meias palavras denota, no mínimo, alguma birra de lado a lado” (GRAEFF, 1985, p.16). Godoy surge então, no projeto de Goiânia, como uma força oposta às concepções urbanas de Attílio: As exigências da cidade moderna não permitem o denominado traçado clássico. Outrora não havia as influências de certos factores e estudos feitos nos últimos lustros. Um dos elementos que levaram os urbanistas a modificarem a estructura da cidade foi o vehiculo automotor, cujo formidável surto teve lugar nos últimos decênios. […] Hoje há as exigências de orientação que não embaraçaram L’Enfant ao elaborar o Plano de Washington […] (GODOY apud ACKEL, 1996, p.101).

Esta declaração demonstra a preferência de Godoy pelos teóricos do urbanismo inglês, em oposição ao clássico urbanismo francês. Em outra declaração o urbanista cita as cidades de Cary (EUA) e Letchwoth (Inglaterra) como exemplos de cidades que encontraram sucesso no planejamento. Ambas são exemplos de cidades que aplicaram o conceito de cidade-jardim, de Ebenezer Howard.

A cidade tal como a idealizou Howard,cujas ideias foram compreendidas e realizadas por Unwin, Parker e outros profissionais na Inglaterra bem como na França, Estados Unidos, etc., é uma admirável escola para as massas populares, trazendo-as ao nível da civilização moderna, educando-as, instruindo-as e dirindo-lhes a atividade no bom sentido (GODOY, 1942).

É possível associar essa polaridade entre os urbanistas e as alterações que Armando de Godoy fez no plano Corrêa Lima. Apesar de existirem indícios da intenção de Godoy em alterar o projeto nos Setores Norte, Sul e Oeste, seu nome só está vinculado ao projeto do Setor Sul (MOTA, 1999, p.3). Segundo Cordeiro e Queiroz (1990), Attílio entregou o plano com os Setores


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Central, Norte, Sul, Leste Universitário e Oeste, com bosques e parques, sendo Godoy responsável pelo novo traçado do Setor Sul e extração do Leste Universitário, e ainda: O novo contrato alterou também o zoneamento de usos interurbanos, definiu linhas de contorno urbano dos setores projetados e linhas suburbanas. Fez também redefinições dos bosques e parques projetados por Attílio Correia Lima, ressaltando-os como um anel verde no entorno do núcleo projetado, pois a intenção de Armando de Godoy era que os assentamentos futuros ocorressem através de cidades satélites, afastadas convenientemente do núcleo projetado (CORDEIRO & QUEIROZ, 1990, p.11).

O Setor Sul foi projetado por Armando de Godoy entre os anos de 1935 e 1937. Como já visto anteriormente, sua influência vinha do conceito howardiano de cidade jardim. Teve como referência direta a cidade de Radburn (EUA), projetada por Clarence Stein. Tal influência trouxe ao projeto uma solução viária que era uma grande novidade na época, o sistema de cul de sac, onde as residências seriam localizadas em imensos parques (ALVARES, 1942). Desta forma, o Setor Sul foi desenvolvido a partir de um traçado orgânico, respeitando a declividade natural do terreno, quadras e lotes irregulares, unidos por áreas livres de uso público. Os lotes possuem áreas irregulares, variando entre 346m² e 894m². Os centros das quadras foram então formados por esse sistema de parques contínuos. O bairro possui 17,33% de sua área destinada a áreas públicas, correspondendo 14,72 m² de área por habitante. Foram projetadas 28 áreas livres por todo o bairro. Godoy propôs uma interação entre o público e o privado, onde os lotes tivessem as entradas de serviço voltadas para as ruas e a entrada social voltada para a praça. Estes diferentes espaços também permitiram a criação de diferentes rotas para veículos e pedestres. Os pedestres se locomoveriam pelos parques, enquanto os veículos percorreriam as vias arteriais, coletoras, locais e cul de sac. As vias arteriais estão ligadas ao Centro e às áreas de expansão futuras, partem de uma grande “praça em asterisco” (GRAEFF, 1985), hoje chamada de Praça do Cruzeiro, articuladora do trânsito. Esta praça está no centro do setor, funcionando como continuação do eixo norte-sul da Praça Cívica, no Centro. Neste aspecto Godoy reproduz a mesma ideia originada no trabalho de Attílio, reproduzindo o conceito radioconcêntrico. Porém, com a criação desse novo ponto de articulação na cidade, o urbanista promove a descentralização do modelo barroco de monocentralismo do plano Corrêa Lima. (GRAEFF, 1985, p.29). A priorização das áreas públicas pode ser notada no projeto do Setor Sul. À medida em que Godoy prioriza o pedestre e a vida em comunidade, seguindo as ideias de Howard, ele propõe que esses espaços possam ser ocupados por equipamentos públicos diversos, como


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hospitais, escolas, etc. É evidente a preocupação do Plano quanto ao convívio em comunidade. Foi, então, projetado um sistema de parques internos, limitados pelos fundos dos terrenos, que se comunica por toda a cidade afora, de forma a poderem os pedestres (sobretudo as crianças) andarem pelos parques para se locomoverem neste setor. Naturalmente que, para comunicações, não havia necessidade de todo um parque. Bastaria um beco, mas foram projetados parques para satisfazer a outras necessidades: - boa aeração, que só grandes blocos de vegetação permitem, para localizar áreas para recreio das crianças, jardins de infância, escolas, campos de esporte, enfim, toda uma série de confortos necessários a uma vida civilizada (BUENO, 1937 apud ALVARES, 1942, p.22-38).

Temos como as principais características do projeto do setor, segundo Jeronimo Coimbra Bueno, em relatório: a) Separação quando possível, das ruas de residência das de tráfego; b) fazer as ruas de residência com trafego mínimo, e apenas indispensável para o acesso às residências, de modo a ser suficiente uma pavimentação muito barata pra elas, que possa ser feita pelos próprios moradores; c) isolar as residências dos inconvenientes do barulho, do pó e do perigo das ruas de trafego intenso; d) fazer o menor número possível de ruas de trafego: - poucas ruas de muito trafego, em vez de muitas ruas de pouco trafego, de forma que a Prefeitura possa cuidar bem delas, por serem poucas, sem grandes dispêndios; e) separar, quando possível, o trafego dos pedestres do dos veículos; f) garantir a melhor aeração possível, às residências; g) prever uma vegetação abundante (BUENO, 1937 apud ALVARES, 1942, P.32).

Apesar da confusa contribuição de Armando de Godoy no novo plano, é inegável sua autoria do Setor Sul. Porém, existe a possibilidade de Werner Sonnemberg ter sido co-autor do projeto. O nome de Werner, engenheiro agrônomo, quase passa desapercebido no relatório, porém em todas as plantas de Setor Sul estão estampadas o carimbo da construtora e assinatura do engenheiro. Em 1980 os Coimbra Bueno em entrevista declaram: Já estávamos estuando a ampliação do Setor sul. Então nós procuramos o Dr. Armando de Godoy, um dos engenheiros urbanistas da Prefeitura do Rio de Janeiro.


43 O Armando de Godoy deu as diretrizes calçadas nas cidades americanas. Então, nós, lá no Rio, começamos a projetar de acordo com os levantamentos. Praticamente o Armando não chegou a riscar nada. Ele nos deu uma revista americana. […] Depois nós mandamos buscar uma porção de livros de urbanismo nos Estados Unidos. Armando não fez esboço nenhum (GONÇALVES, 2003, p.41).

Podemos então só levantar dúvidas a respeito da verdadeira autoria do projeto, e até que ponto que o papel de Armando de Godoy foi além de “emprestar” seu nome e prestígio ao plano. Entre as décadas de 50 e 70 o Setor começa gradualmente a ter seus lotes ocupados. Porém, a ocupação do setor ocorreu de forma a “matar” o projeto, antes mesmo dele “nascer”. A relação entre as residências e as áreas livres nunca existiu, e hoje essas áreas se encontram abandonadas ou subutilizadas. A implantação do Setor Sul será tratada em outro tópico nos capítulos que virão.


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1.2.3. Proposta implantada (1933-1950) Podemos separar a implantação do Plano de Urbanização de Goiânia em três momentos diferentes, caracterizados por quatro decretos. O período entre 1933 e 1947 se caracteriza pelo controle do solo pelo Estado e manutenção do Plano de Urbanização de Goiânia, que teve seu plano praticamente inalterado até 1950. Este período está marcado por dois importantes decretos, segundo Cordeiro e Queiroz, o Decreto Lei 90-A (1938), que aprovava o Plano de Urbanização de Goiânia; o Decreto nº11 (1944) que proíbe a criação de loteamentos na zona urbana por cinco anos; o Decreto Lei nº 574 (1947), que adota o Código de Edificações de Goiânia, que além de trazer normas referentes a edificações, altera a zona de expansão da cidade (CORDEIRO & QUEIROZ, 1990, p.11). O Decreto nº 90-A (1938) aprovou a criação dos setores Central, Norte, Sul, Oeste e Satélite Campinas, onde houve a inclusão do Setor Coimbra como parte do Satélite Campinas, área que pertencia a construtora Coimbra Bueno. Em 1933 iniciaram a implantação dos setores Central e Norte, que foi concluída no fim de 1938. Os lotes do Setor Sul começaram a ser vendidos em 1943, mas só foi implantado em 1950. Desta forma, o cronograma de ocupação previsto por Godoy foi respeitado (CORDEIRO& QUEIROZ, 1990, p.42). Primeiro, se torna necessário o estudo do Plano de Urbanização que revela detalhes do projeto entregue ao Estado. O Plano de Urbanização de Goiânia foi aprovado através do Decreto-Lei N° 90-A, em 30 de julho de 1938, assinado pelo primeiro prefeito de Goiânia, Venerando de Freitas Borges, que já estava sendo paralelamente implantado. As obras foram iniciadas em dezembro de 1933, 5 meses após Attílio ser formalmente contratado (CORDEIRO & QUEIROZ, 1990, p.11). A construção da cidade e a produção projetual eram simultâneas. As obras começaram em 1933, mas apenas em 1934, Attílio apresenta os primeiros desenhos referentes ao Setor Central. Os desenhos do Setor Sul e Norte são apresentados em 1935, quando renuncia seu cargo como diretor de obras e urbanista do projeto. Nesse período os Coimbra Bueno já haviam assumido a diretoria das obras, e solicitam a Pedro Ludovico que uma comissão avaliasse o trabalho feito pelo urbanista. (ALVARES, 1942, p.11) Como vimos anteriormente, a criação do Plano de Urbanização de Goiânia foi conturbada, à medida que surgiram conflitos entre os profissionais envolvidos na concepção do plano. A criação de uma comissão para avaliar o trabalho de Attílio pode representar esse conflito. Talvez por isso, as informações sobre o que exatamente Attílio ou Armando projetaram se tornam contraditórias. Por este motivo surge a necessidade de transcrever partes do relatório de Jeronimo Coimbra Bueno ao Estado, entregue em 1937, ao Diretor da fazenda, onde revela


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detalhes do plano e a evolução dos trabalhos. Deste documento, presente na obra “A luta na epopeia goiana” de Geraldo Teixeira Alvares, serão analisados os principais pontos quanto ao projeto da cidade e o trabalho dos profissionais envolvidos.

Figura 11: Plano Diretor - Plano de Urbanização de Goiânia. Planta Geral de Orientação Decreto-Lei N° 90-A, 30 de julho de 1938. Fonte: Seplan Goiânia.


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a) – O Plano de Urbanização: Será oportunamente apresentado para aprovação. Na sua integra, constará de quatro partes: 1- Plantas da cidade. 2- Regulamentação do desenvolvimento. 3- Legislação urbana. 4- Previsão das cidades satélites. [...] Projetada a cidade em todos os seus contornos, o perímetro urbano ficará fixado para sempre. Não haverá continuidade entre a cidade e as zonas de extensão que, a bem dizer, não existirão. A cidade teria, assim, garantia em toda a sua circunvizinhança, uma faixa de vegetação, suficiente para satisfazer a salubridade da vida. Atingida a população, para a qual a cidade está sendo projetada, o excesso de população, ou seja, a extensão da cidade, se fará em novos núcleos suburbanos que foram designados “cidades satélites”, separadas e convenientemente afastadas do núcleo óra projetado. [...] Setores A cidade será dividida em quatro setores: Central, Norte, Sul e Oeste. A razão de ser desta divisão se prende a estabelecer as etapas para desenvolvimento da cidade. Assim, as construções só, serão, inicialmente, feitas nos setores “Central” e “Norte”. Seis anos mais tarde, poderão se iniciar construções no Setor “Sul”, e, só posteriormente, no “Oeste”, evitando assim, que uma excessiva dispersão demográfica da cidade dificulte os serviços urbanos, e, consequentemente a vida da cidade, durante sua formação. [...] Assim, encarado o homem como ponto de partida, vejamos como os diversos elementos do projeto da cidade surgem, para satisfazer determinadas necessidades de suas funções: Zonas: - Surge, inicialmente, a divisão da cidade em zonas. Cada zona destinada a determinadas funções, e ao par das zonas, as sub-zonas, sedes de serviços, e outras áreas previstas para determinadas funções, como mostra o quadro abaixo: Trabalho: - 1 – Zona comercial do Setor Central; 2 – Zonas industriais dos Setores Central e Norte; 3 – Zona administrativa. Descanço: 4 – Zonas residenciais Educação: 5 – Zona univeristaria; 6 – sub-zonas escolares, espalhadas por todas as zonas residenciais. Politica: 7 – Centro civico. Religiões: 8 – Praça da mitra, no Setor Central; 9 – Grande praça do Setor Sul; Sub-zonas das associações religiosas do Setor Sul; Sub-zonas das associações religiosas


47 do Setor Sul; sub-zonas a serem previstas no Setor Oeste. Diversões: 11 – Zona de diversões do Setor Central, Sub-zonas de diversões nas demais zonas. [...] 1 – Zonas comerciais: - Na sua função social o comercio aparece como órgão de distribuição das riquesas, na sociedade, e assim, encarado, no estudo da cidade, resulta que: a) deve estabelecer-se em zona de acesso igualmente faicl a toda a população, portanto, em zona central; b) deve ter facil acesso ás zonas industriais, à estação de estrada de ferro, do aeroporto, ás rodovias, enfim, a todas as vias de comunicações; c) estabelecer condições que favoreçam o desenvolvimento da oferta da venda e da procura de compra. Aqui surge a razão pela qual tanto nos temos batido, ladeando a opinião do Dr. Armando Godoy, pela redução da zona comercial, para uma extensão menor que a prevista no anteprojeto do Dr. Correia Lima, e mais de acordo com o indicado pela experiência das cidades mais avançadas e mais cuidadosas em questão de urbanismo. Realmente, segundo os mais recentes trabalhos de urbanização, e na opinião de nossos maiores urbanistas (Dr. Godoy, Dr Anhaia Mello, e outros), a área reservada pelo Dr. Correia Lima para o comercio, era cerca de quatro vezes maior que a indicada pelo urbanismo, considerada a cidade com toda a população para a qual era prevista. [...] 2 – Zonas industriais: - colocadas no anteprojeto de Correia de Lima, anexas à zona comercial, ficaram divididas em duas subzonas: a de industrias leves, que limita com a zona comercial, fazendo a transição desta para a segunda, e a de indústrias pesadas, colocada no extremo norte da cidade, junto à futura estação da estrada de ferro, e devidamente isolada das outras zonas, que poderiam ser prejudicadas com a sua vizinhança (barulho, emanações gasosas, etc). 3 – Zona administradora: - no sentido de facilitar os serviços públicos, foram todas as repartições dispostas em uma mesma praça – Centro Cívico. (…) Daí resultou a seguinte situação: uma grande praça – Centro Cívico – da qual partem três grandes avenidas. Ao fundo da praça cívica, fica o Poder Executivo; do lado direito o Poder Legislativo, e do lado direito o Poder Judiciário. Em frente ao Executivo, fechando a praça, ficam as repartições federais. O trafego desta praça estamos estudando, de forma a tornar o mais cômodo possível para o trabalho das repartições. 4 – Zonas residenciais: - previstas em todos os setores e sobretudo, nos setores “Sul” e “Oeste”, que serão essencialmente residenciais. [...] Estabelecemos, então, as subzonas operarias, adjacentes à zona de industrias leves – suficientemente aproximadas para se conduzirem para elas. [...] A Zona Sul, graças à orientação do Dr Armando de Godoy, teve o projeto feito nos


48 moldes do subúrbio de “Redburn”, que os milionários americanos construíram nas vizinhanças de New York, essencialmente residenciais. Assim, projetamos, com o auxílio do Dr. Werner Sonemberg, este Setor, e pretendemos projetar o “Setor Oeste”. [...] Foi, então, projetado um sistema de parques internos, limitados pelos fundos dos terrenos, que se comunica por toda a cidade afora, de forma a poderem os pedestres (sobretudo as crianças) andarem pelos parques para se locomoverem neste setor. Naturalmente que, para comunicações, não havia necessidade de todo um parque. Bastaria um beco, mas foram projetados parques para satisfazer a outras necessidades: - boa aeração, que só grandes blocos de vegetação permitem, para localizar áreas para recreio das crianças, jardins de infância, escolas, campos de esporte, enfim, toda uma série de confortos necessários a uma vida civilizada. As zonas residenciais do setor “Central” e “Norte”, não puderam ser dotadas destes melhoramentos, porque o dr. Correia Lima não os havia previsto, e quando foi da revisão do plano, já não era possível introduzi-los 5 – Zona Universitária: - apenas a área está reservada para esta zona, que somente mais tarde será detalhada. [...] Belo Horizonte, tão estudada de início, está com todo o seu plano inteiramente depurtado, devido a não ter o plano previsto a defesa da cidade contra os interesses privados. Projetado o núcleo da cidade, com todo o cuidado, não foi impedido, na capital mineira, que os particulares, que haviam adquirido chácaras nos arredores, loteassem suas glebas e vendessem. Aconteceu que quase todos os arredores da cidade foram retalhados, se um plano conjunto, causando quase a perda completa do valor do plano inicial. Aqui para Goiânia não podemos garantir que o plano seja executado como o dr. Armando Godoy, isto é, que a cidade não passe dos contornos para o qual foi projetada – é muito possível que a evolução da nossa sociedade venha a determinar orientação diferente, determinando a extensão da cidade para fora do perímetro atualmente projetado. Por isso, é necessário prever uma legislação que faculte esta evolução. Isto, dificilmente será conseguido se o Estado vender, em vez de arrendar, faixas de terra, em torno da cidade. […] (BUENO, 1937 apud ALVARES, 1942, p.22-38).

São revelados alguns detalhes do projeto quanto a participação de Godoy, principalmente quanto às mudanças feitas com relação ao desenho de Attílio. Primeiro percebemos as diferenças entre suas abordagens projetuais, a partir do momento que Coimbra Bueno afirma que abandonaram tudo que foi possível do plano de Attílio. Mas é necessário questionar se o motivo está realmente atrelado ao partido urbanístico adotado, ou os interesses imobiliários da construtora Coimbra Bueno. A seguir, o engenheiro revela que os trabalhos na construção se complicam a medida em que não foi contratado um urbanista para trabalhar integralmente no Plano da cidade. Ele ainda


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revela, que o Estado teria que escolher entre um projeto bem elaborado, mas que levaria mais tempo; ou um projeto preliminar em curto prazo. Neste caso, é importante observar que as obras da cidade eram feitas durante a produção dos desenhos. O relatório também revela a regulamentação de diferentes “atividades da vida urbana”, assim como diretrizes para o zoneamento. Demonstrando que o Estado detinha total poder sobre o uso do solo. No relatório o engenheiro revela que a cidade seria rodeada por um cinturão verde, controlando assim o tamanho da população da cidade, e sua população excedente seria organizada em futuras cidades satélites. As normas construtivas, que não pertencem ao Plano de Urbanização, foram garantidas através da Portaria 67, aprovada em 1937, “Normas Gerais para a Regulamentação das Construções”. Esta portaria tratava do controle das edificações construídas na cidade, mas também do zoneamento de usos. A portaria previa zonas comerciais ao longo da Av. Anhanguera e Av. Goiás, e nas áreas de diversão no Setor Central, na zona de uso industrial e no Setor Norte. Apesar da implantação da nova capital tenha acontecido paralelamente ao desenvolvimento do plano, apenas em 1938 que o Plano de Urbanização é aprovado através do Decreto Lei 90-A. A seguir, os pontos mais relevantes para esta pesquisa: Art. 1º – Ficam determinadas no local escolhido para a construção de Goiânia as áreas urbanos e suburbanas da nova Capital § 1º – A área urbana de Goiânia abrangerá os setores: Central, Norte, Sul, Oeste, Satélite Campinas e as áreas destinadas ao Aeroporto, Parque Buritis, do Capim Puba e dos Bandeirantes, Zoológico e Hipódromo. […] Art. 2º – Ficam aprovadas as seguintes plantas, relativas ao Plano de Urbanização da Cidade de Goiânia, todas apresentadas pelos Eng. civis Coimbra Bueno & Cia Ltda., construtores da cidade de Goiânia: a) Planta Geral de Urbanização na escala de 10.000; b) Plantas de arruamento e loteamento relativas aos setores da cidade de Goiânia: Central, Norte, Sul e Satélite Campinas, todas na escala de 1:2.500, e nas quais se baseiam nos serviços que estão sendo executados nos diversos logradouros públicos da cidade, ora decretados. […] (DECRETO LEI 90-A, 1938 apud CORDEIRO & QUEIROZ, 1990, p.18-19).


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Em 1940, Goiânia continuava a ser implantada com foco ainda nos prédios públicos, para receber os órgãos do governo, já que a cidade era oficialmente a capital do Estado. Estavam sendo construídos: o Edifício da Diretoria Geral da Fazenda; Sede do Conselho Técnico de Economia e Financeira (SIC), ambos na Praça Cívica; Grupo Escolar Modelo; Cine Teatro Goiânia; Grande Hotel; Penitenciária do Estado e Assistência aos Menores Delinquentes. Já haviam sido instaladas nas cidades algumas metalúrgicas, fábricas de tecido, indústrias mecanizadas de materiais de construção e outras de menor porte. Até 1941, já haviam instaladas na nova capital, 60 estabelecimentos industriais e 243 casas comerciais. O seu crescimento foi intenso, em 1937 a população era estimada em 10.000 habitantes, e em 1942, chegou a 25.000. Neste período o crescimento da cidade era acelerado, mas em 1941, os efeitos da Segunda Guerra Mundial que afetaram a economia nacional, chegaram a Goiânia. Em 1942 o índice de construção caiu de 583 casas, para 142.

A II Guerra veio influir de maneira incisiva no andamento da construção de Goiânia. Não permitiu que as construções aqui se operassem no mesmo ritmo trepidante e febril dos anos anteriores. E, como consequência, foi-se formando uma constrangedora crise de habitação e dia a dia mais avassaladora se tornou, ao ponto de até mesmo, sob grande paga, não se consegue mais uma casa de aluguel (CORDEIRO & QUEIROZ, 1990, p. 29).

Em 1944 a população de Goiânia chegava a 30.000 habitantes, superando todas as previsões de crescimento. Pedro Ludovico tenta evitar a mesma descaracterização do Plano que havia acontecido em Belo Horizonte, e aprova o Decreto Lei nº 11 que proibia a criação de loteamentos e chácaras no perímetro da cidade, por cinco anos. Também foi determinado que os preços dos lotes destinados a ocupação da capital, teriam seus preços fixados a cada ano. Esta ação demonstra a preocupação do Estado quanto ao processo de especulação imobiliária que a cidade estava exposta. Entre 1933 e 1947 o uso do solo era de total domínio do Estado, através do Departamento de Terras, que parcelava, doava e vendia o solo para fins urbanos. Porém, o Setor Coimbra foi aprovado em 1938 como parte do Satélite Campinas, que conectava a antiga cidade de Campinas com a nova capital. Este foi talvez a primeira intromissão da iniciativa privada no plano, o que provocou desentendimento entre Pedro Ludovico e os Coimbra Bueno. O controle do solo pertenceu ao Estado até 1947, como previa Armando de Godoy e Pedro Ludovico. O governo de Ludovico foi marcado pela estabilidade do Estado sobre o controle do uso do solo. Quando em 1945 o Estado Novo é deposto, e Pedro Ludovico é afastado do cargo. Em 1947 foi aprovado um decreto que permitia o parcelamento através da iniciativa privada,


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aumentando a área de expansão urbana em 15 quilômetros. O Código de Edificações de 1947, aprovado através do Decreto Lei nº 574, também tratava da expansão urbana de Goiânia. O “Código 47” ampliou a área de expansão previsto no Plano de Urbanização (1938), permitindo a intervenção da iniciativa privada no parcelamento do solo urbano. No entanto, a participação da iniciativa privada é considera nula neste período, pois o Estado exigia a implantação de infraestrutura por parte do empreendedor. Em 1950, a Lei nº 176, tirou a obrigação do loteador fornecer infraestrutura em seus empreendimentos. A reação é imediata, e ocorre a “explosão violenta de loteamentos, passando o solo de bem de uso a bem de troca, no processo da dinâmica da mercantilização” (CORDEIRO & QUEIROZ, 1990, p.45). Esta explosão causou então a descaracterização do Plano de Urbanização.

1.2.4. A descaracterização do plano (1950-1959) A cidade não era capaz de absolver a população, que crescia muito além do planejado. Criando uma crise de moradia, que acabou por ser o motivo da aprovação das leis que autorizaram a expansão do plano. A cidade crescia rapidamente, já em 1942, durante o Batismo Cultural de Goiânia, Attílio fez a seguinte observação: Longe estava de imaginar, em 1932, quando aqui estive pela primeira vez, examinando o local e escolhendo a situação para este palácio, que teve como 1º marco de referência um esqueleto de ema, único objeto disponível na ocasião, neste belo cerrado. Longe estava de imaginar encontrá-lo em nossos dias em tão curto lapso de tempo, transformando nesta dinâmica metrópole, com sua vida social e econômica já estabilizada e com população ultrapassando a minha previsão daquela época. (CORDEIRO & QUEIROZ, 1990, p.47).

Em 1950, quando a explosão imobiliária ocorreu na cidade, foram criados novos loteamentos além dos contidos no Plano. O Código de Edificações (1947) permitiu que os parcelamentos fossem criados em malha contínua com os setores originais, “a explosão violenta de loteamentos e os primeiros setores projetados ficaram como núcleos na engrenagem global. ” (CORDEIRO & QUEIROZ,1990, p.48).

As modificações que o Decreto Lei 574, Código de Edificações (1947), que alteraram o


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Decreto 90-A (1938), alterou também os recuos, índices de ocupação e alturas permitidas nas diversas zonas. É incluído a zona rural e a zona de cidades satélites, e a inclusão do Setor Leste na zona urbana. Mas, o que realmente causou a explosão imobiliária na cidade foi a expansão da área urbana da cidade somado a não obrigação de instalação de infraestrutura básica pelo empreendedor. A explosão do mercado imobiliário acarretou um crescimento descoordenado da cidade, onde os novos loteamentos não seguiam nenhum plano ou norma. O regulamento de uso e ocupação existente não se aplicava na maioria casos, ao passo que só seria aplicado sobre os setores já implantados. Essa década foi marcada por uma distorção dos ideais modernos que fundaram a cidade, os interesses privados venceram o plano. Para se ter uma ideia da disparidade da década, nos anos 30 foram aprovados 4 loteamentos; nos 40, 2 loteamentos; na década de 50 foram aprovados 179 loteamentos. (PENIDO, 2000; IPHAN, 2001 apud MOTA, 2004) A década de 50 em Goiânia também é marcada pela onda migratória, a cidade havia se tornado um polo atrativo no país, tendo como grande influência a fundação de Brasília. O crescimento demográfico acelerado da cidade agravou os problemas já enfrentados na capital, como a intensificação da crise da moradia. Na medida em que novos loteamentos eram lançados pela iniciativa privada, também eram mais frequentes as invasões. Alguns setores foram criados a partir de áreas invadidas, como os setores Vila Operária (1952), Norte Ferroviário (1953), Universitário (1956) e Pedro Ludovico (1958).

Em 1947, as condições de aluguéis eram precárias. A população crescia dia a dia e não era suficiente a capacidade de alojamento para todos os que vinham para Goiânia. Essa insuficiência era atribuída à crise dos carburantes e à crise financeira. O aluguel era muito caro na Zona Central. Nos bairros de Campinas, Vila Nova e Botafogo regulava a locação mais ou menos 1% do valor do prédio. A capital progredia, mas as casas não apareciam como solução para a situação de falta de moradia (Folha de Goiaz 16.04.47 apud CORDEIRO & QUEIROZ, 1990, p,46).

Apesar de um grande número de loteamentos aprovados nesta década, muitos só foram implantados a partir dos anos 60. Havia uma ansiedade generalizada dos donos de terras, temiam que o Estado fecharia o mercado imobiliário novamente. A causa desse fenômeno é a criação de um excesso de lotes urbanos aprovados, muito além da demanda.


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Evolução dos loteamentos até 1959:

Mapa 1: Evolução dos loteamentos em Goiânia


54 [...], em 1950 Goiânia tinha 13.563 lotes urbanos aprovados, para uma população de 39.871 habitantes, o que produzia uma média de 2.94 habitantes por lote. Já em 1960, havia 150.117 lotes para 133.462 habitantes, o que gera uma média de 0.89 habitante por lote (PASTORE, 1984 apud MOTA, 2004, p.47).

Esse processo gerou glebas em áreas centrais da cidade. Além disso, resultou em uma periferia mal servida dos mais necessários equipamentos e serviços urbanos, apenas uma parte da região central da cidade possuía infraestrutura mínima. Desta forma, conclui-se que, até 1959, dos 185 loteamentos aprovados da cidade, apenas 4 setores (Centro, Campinas, Sul e Oeste) possuíam sistema de água e esgoto, não em sua totalidade. Este movimento de crescimento desordenado seguiu até 1959 (Mapa 1), quando através da Lei nº 1.556, novos loteamentos foram proibidos. Esta lei se manteve vigente até 1963, em meio a isso, o arquiteto Luís Saia foi contratado, em 1960, para elaboração do novo Plano Diretor da Cidade, que não foi finalizado, nem implantado (MOTA, 2004, p.50). - A descaracterização do Setor Sul A ocupação do Setor Sul foi feita de forma gradual entre as décadas de 50 e 70. Mas as vendas dos lotes começaram a ser feitas em 1937 com previsão de implantação apenas para 1962. Esta ação do Estado era recorrente, e estava de acordo com a arrecadação de capital para a implantação do plano. Porém os compradores pressionam o Estado para implantarem o Plano, a década de 50 é marcada pela crise imobiliária na cidade, sendo que muitas áreas já haviam sido invadidas e ocupadas anteriormente.

A partir de 1953, os moradores começam a ocupar o bairro de forma mais efetiva. Porém, a implantação e ocupação do bairro não condiz com o que o projeto de Cidade Jardim propunha. Segue relato de um morador: Estas ruas foram abertas inicialmente quase com bicicleta, porque isto aqui era campo, existia muita lobeira. Na época, o pessoal ia fazendo o caminho e as ruas iam sendo abertas de acordo com os pedidos. Porque a pessoa tinha casa no meio do mato e precisava logicamente ter um acesso […] (CAIXETA, 1986, p.136-137 apud GONÇALVES, 2003, P.73). No Setor Sul não tinha vizinho. No começo só tinha a casa construída no mato e o Palácio. Nos lotes vagos tirávamos até madeira pra fazer comida. As ruas ainda não eram abertas. O bairro não tinha infraestrutura. Só tinha a 85 que futuramente se tornaria avenida. Os acessos eram feitos pela 85. Nós tivemos que


55 abrir picadas para chegar na casa. (CAIXETA, 1986, p.102-103 apud GONÇALVES, 2003, p.73).

Como visto anteriormente, o projeto tinha as praças de centro de quadra como um sistema de espaços livres públicos, de convivência, onde as casas estariam voltadas com suas entradas sociais, e as entradas de serviços voltadas para as ruas e cul de sacs. A ocupação, porém, não seguiu esse partido, quando os moradores começaram a ocupar seus lotes, as praças eram matagais, sem nenhum tipo de infraestrutura ou cuidado, assim como todo o setor, relatado na entrevista acima. Desta forma, é compreensível que esses lotes não foram ocupados devidamente por falta de infraestrutura, legislação e supervisão do Estado para garantir a implantação do que foi projetado. A infraestrutura das praças só foi implantada em 1973, no Projeto CURA. Além do mais, não existia legislação ou instrução que guiasse a ocupação das residências. “A ideia de bairro-jardim fracassou antes mesmo de ser efetivamente implantada e as áreas verdes foram relegadas ao abandono, haja vista que a grande maioria das casas se voltava pra rua” (GONÇALVES, 2003, p.74). Os desdobramentos dessa implantação descontrolada serão tratados em outro tópico, que avaliará a condição de implantação do setor, assim como a atualidade do Setor Sul e suas áreas verdes públicas.

Figura 12: Planta aprovada do Setor Sul. Fonte: Seplan Goiânia.


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1.3 Projetos urbanísticos para Goiânia com enfoque para as áreas verdes 1.3.1. Projeto CURA (1973) O Projeto CURA, foi parte de um programa maior intitulado Programa de Contemplação Urbana, subsidiado pelo Banco Nacional de Habitação (BNH). Este programa tinha como objetivo reformas de melhoria urbana, principalmente de áreas periféricas, com ocupação falha e infraestrutura precária. As informações a seguir são retiradas do relatório, produzido pelo Escritório de Planejamento da Prefeitura em 1977, sobre a atuação do Projeto CURA no Setor Sul. Foi realizado, primeiramente, o levantamento com as principais características do setor. Quanto a situação socioeconômica dos moradores, concluíram que a população do bairro é predominantemente formada por uma população de média e alta renda, sendo os de baixa renda de porcentagem inexpressiva. Um mapa revela o levantamento de lotes ocupados, quadras totalmente ocupadas, áreas ocupadas por estabelecimentos institucionais, área verde e área verde projetada (figura 18).

Através desse levantamento foi possível dividir o Setor Sul em três subáreas:

-Subárea 1: mais próxima da Praça Cívica; maior adensamento, poucos lotes vagos;

- Subárea 2: menor adensamento que a anterior, maior número de lotes vagos;

- Subárea 3: ocupação mais rarefeita na direção sul; menos infraestrutura; predominam os lotes vagos; invasão da região da Rua 115 por famílias de baixa renda. O período de maior ocupação dos lotes do Setor Sul foi entre os anos de 1970 e 1972, segundo os alvarás de construção expedidos pela Secretaria de Serviços Urbanos da Prefeitura Municipal de Goiânia. A Lei nº 4.523, de 31 de dezembro de 1971, aprovou o Plano de Desenvolvimento Integrado de Goiânia, seis zonas e subzonas foram definidas. No Setor Sul predominava a zona de exclusividade residencial, sendo na subárea 1 maior diversidade de zonas, devido sua proximidade com o Centro. A implantação do Projeto contava com a participação dos moradores, que de acordo com a situação das praças reivindicavam infraestrutura: Reivindicam atividades de lazer e prendem-se de maneira marcante à urbanização das áreas livres. As necessidades de lazer demonstradas são amplas e abrangem atividades culturais, esportivas e sociais, com ênfase naquelas exercidas ao “ar livre”. A preocupação com urbanização das áreas livres vincula-se também ao fato de que os

Figura 13: Planta aprovada do Setor Sul. Fonte: Projeto Cura, 1977.


57 vazios acarretam problemas ligados à segurança, limpeza e higiene, uma vez que estão sendo utilizados como depósitos de lixo. (PROJETO CURA, p. 71)

Além da urbanização das áreas, a instalação de infraestrutura básica, como pavimentação e esgoto, foi demandada. Para que os objetivos do projeto fossem alcançados, era necessário criar condições para o estabelecimento de novas economias de forma a otimizar o uso dos equipamentos colocados à disposição da comunidade. As proposições fundamentam-se em três aspectos principais, ou seja, a execução das áreas verdes, a centralização das atividades comerciais e prestadoras de serviços e ainda a complementação da infraestrutura no Setor. Estes três aspectos, embora pareçam atender os problemas isolados, guardam uma forte inter-relação (PROJETO CURA, p.75).

Das 28 áreas verdes previstas do plano, 24 foram passíveis de urbanização. As outras 4 se separam em, já urbanizada, ocupada por um clube, ocupada por reservatórios de água e feira livre. A proposta de urbanização dessas áreas livres se divide em dois aspectos: a contribuição ecológica das áreas e implantação de equipamentos de lazer ativo. Afim de facilitar o estudo da área, o setor foi dividido em 6 zonas a partir das principais vias, desta forma cada zona recebe um programa de acordo com a disponibilidade de área e tipo de equipamento. Foram implantadas nas praças, segundo tabela de estimativa de custos presente no relatório do projeto: - Vegetação: arborização, grama, vegetação ornamental; - Equipamentos: playground, quadras, bancos, bebedouros; - Pavimentação; Figura 14: Levantamento de: lotes ocupados, quadras totalmente ocupadas, instituições, área verde e área verde projetada. Fonte: Projeto Cura, 1977.

- Iluminação, instalação hidráulica, modelagem do terreno. A instalação de infraestruturas demonstra a precariedade da região sul do setor, como podemos ver na figura15, onde as linhas mais escuras representam a complementação da pavimentação. Hoje o equipamento encontrado nas praças são resquícios deste projeto, quadras de basquete, mesas de ping-pong, bancos de concreto, fragmentos de calçamentos de rotas para pedestres, etc, tudo em estado de deterioração. É perceptível no relatório como esses equipamentos


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foram instalados de forma sistemática nas diferentes praças do setor, sem um maior estudo do que cada área necessitaria. Porém, a década de 70 e 80 é muito lembrada pelos moradores de toda a região central, que saiam de seus bairros para jogar futebol nas praças do Setor Sul.

Figura 15: Complementação da pavimentação pelo Projeto Cura. Fonte: Projeto Cura

Foto 4 e 5: Equipamentos remanescentes do CURA.


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2. Áreas verdes significativas de Goiânia Apesar do Setor Sul ter sido projetado com uma grande quantidade de áreas verdes públicas, hoje estas estão, na maioria das vezes, em estado de degradação. Neste capítulo serão investigadas importantes áreas verdes de Goiânia, sua estrutura e sua relação com o Setor Sul. Goiânia é considerada uma das capitais com maior área verde por habitante do país. São 30 parques e bosques espalhados por toda sua extensão segundo a Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA). Segundo levantamento realizado pela agência, Goiânia é a capital com o maior número de árvores plantadas em vias públicas do Brasil. O Setor Sul está localizado próximo a parques e bosques das regiões Central e Sul, que somam 10 parques. Vamos considerar a relação de proximidade com 5 dos parques mais tradicionais, o Parque Areião, Parque Vaca Brava, Horto e Lago das Rosas, Parque Mutirama e Bosque dos Buritis. Estabelecendo o centro do Setor Sul como a Praça do Cruzeiro, o parque mais distante, Parque Mutirama, está a menos de três quilômetros de distância, e o mais próximo, Parque Areião, a apenas um quilômetro e meio. Os parques em Goiânia são muito frequentados, principalmente no início da manhã e no final da tarde, quando muitos se deslocam para os parques para a prática de esportes, principalmente corrida e caminhada. Além dos parques e bosques, Goiânia é ocupada por inúmeras praças, muitas também são usadas como pequenas áreas de caminhada. Outro atrativo que leva o goianiense às praças pela noite, são os chamados “pit dogs”, quiosques ou food trucks instalados em praças, que servem a mais tradicional comida de rua da cidade. Os tradicionais “pit dogs” surgiram na cidade na década de 60. A seguir a descrição de cada parque para que possamos analisar quais são os diferentes usos de cada uma. 2.1 Parque Areião O parque possui 240.000 m², e está posicionado próximo a área de estudo, em área anexa ao limite do Setor Sul. O arque é muito usado pela população local, ou até pessoas que se deslocam de outras regiões para a área. A atividade mais realizada é a corrida e caminhada. De seMapa 2: Áreas verdes significativas de Goiânia


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gunda a segunda, vê-se grande quantidade de pessoas praticando exercícios no parque. Contém equipamentos como playground, estação de ginástica, lago, além de ser uma APP que protege a nascente do Córrego Areião, com área de preservação de mata ciliar e mata de galeria. É um parque cercado, onde a pista de caminhada está na área externa, e é abastecida de barracas de água de coco. 2.2 Parque Vaca Brava O parque está localizado a 2,5 quilômetros do centro do Setor Sul, com área de 77.760 m². É equipado com pista de caminhada, estação de ginástica, lago, parque infantil, áreas de convivência, sendo uma APP da nascente do Córrego Vaca Brava, com pequena área remanescente de Mata Seca. É um parque aberto, rodeada por barracas de água de coco, tornando-se além de espaço de práticas esportivas, mas uma grande área de convivência, tanto nos bancos quanto no gramado. 2.3 Horto e Lago das Rosas O Horto é um dos mais antigos e tradicionais parques da cidade. O parque conta com uma área de 315.000 m², é equipado com pista de caminhada, estação de ginástica, quadras poliesportivas, lago com pedalinho, parque infantil, áreas de convivência, e parte de sua área abriga o zoológico da cidade. Foi construído em 1941, sendo uma reserva remanescente do Plano Original de Urbanização. 2.4

Bosque dos Buritis

Assim como o Horto, o Bosque dos Buritis foi previsto no Plano Original de Goiânia de 1938, está encravado no Setor Central. O parque é equipado com um complexo programa, envolvendo museu de artes, escola de artes, pista de caminhada externa e interna, estação de ginástica, lanchonete. Passou por revitalização em 2008. O parque é cercado, as principais atividades são realizadas no interior. 2.5

Parque Mutirama

O Parque Mutirama foi inaugurado em 1969, área que foi desmembrada do Bosque do Botafogo. O parque se diferencia de todos os outros, além de contar com todos os equipamentos usuais de um parque, funciona como parque temático, sendo equipado com tradicionais brinquedos de parque de diversões, como roda gigante e montanha russa, além de um parque de dinossauros. O Planetário da Universidade Federal de Goiás está localizado no interior do parque, onde também recentemente foi instalado um teleférico.

Foto 6: Praça deteriorada (F43, região 4)


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2.6 O sistema de espaços livres do Setor Sul e as áreas verdes significativas É preciso comparar a tipologia das praças e parques citados anteriormente e o sistema de áreas livres do Setor Sul. Essas áreas são diferentes em todas as suas características, como implantação, ação do poder público, configuração na malha urbana e equipamentos instalados. Primeiramente, é necessário diferenciar as histórias de implantação do Setor Sul e essas áreas verdes. A grande parte dessas áreas surgiram como proteção de nascentes e matas de cerrado, algumas foram previstas até no Plano de Urbanização de 1938. Porém, diferente do Setor Sul, essas áreas foram equipadas com atrativos para a população, além de terem recebido ao longo dos anos diversas revitalizações. O Setor Sul, como visto anteriormente teve uma implantação conturbada, e suas áreas verdes dependiam diretamente da relação com o lote/edifício, ou seja, uma implantação falha somou a outros fatores, gerando o fracasso das áreas verdes. Um fator importante é a posição dessas áreas na malha urbana da cidade, que na maioria das vezes estão localizadas nos interiores de quadras, por isso passa longe do olhar de forasteiros. Isso pode provocar ainda mais descaso do poder público pois poucos sabem das situações das praças. É possível afirmar que o sistema de áreas verdes livres do Setor Sul nunca teve chance de prosperar, a medida que desde sua implantação até os dias de hoje, nunca recebeu tratamento apropriado. Mesmo que os moradores tenham vontade de usar a praça, não existem condições para isso. As praças não possuem diversidade de usos como nas outras áreas verdes citadas, na realidade não encontramos o mínimo de infraestrutura, como calçamento, nessas áreas. Desta forma, tive como objetivo estudar a fundo o fracasso dessas áreas, e estudar possiblidades de transforma-las em núcleos ativos da cidade. A região escolhida para ser estudada mais a fundo foi a região 4, onde moro.


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3. A atual situação do Setor Sul O Setor Sul na atualidade é visto como um dos melhores setores da cidade. O Setor conta com uma rica infraestrutura, mobilidade, serviços públicos, hospitais, escolas, etc, além de ser considerado polo cultural da cidade. A mobilidade no Setor é uma das melhores da cidade, dotado de corredores de ônibus, ciclofaixas, e futuramente também será servido por uma via de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). A região também é composta por importantes vias, que ligam a outras regiões da cidade, e que também estimula muitos motoristas a percorrerem Setor. O Setor Sul é organizado pela Praça do Cruzeiro, localizada no centro do Setor da onde partem as principais ruas. Dessa praça partem 6 ruas, sendo 5 delas muito importantes na dinâmica da cidade. A rua 84, conecta a Praça do Cruzeiro com a Praça Cívica, no Setor Central, e conta com corredor de ônibus. A rua 86 é usada principalmente como conexão com o Setor Leste Universitário. A 87 liga o centro do Setor Sul ao Setor Oeste, importante região da cidade. A 88 está ligada diretamente com o Estádio Serra Dourada, no Jardim Goiás, mas também é usada como saída para a BR 153. A rua 90, é dotada de corredor de ônibus e ciclofaixa, liga o Setor Sul ao Setor Marista. O Setor também é limitado e permeado por importantes vias arteriais da cidade. A avenida 136, que atravessa a rua 90, é um dos principais núcleos empresariais da cidade, além disso serve como conexão entre a cidade e os condomínios horizontais e verticais implantados nas bordas da cidade, na região sul. A rua 115, circunda a região leste do Setor, muito usada como conexão entre o Jardim Goiás e o Setor Leste Universitário. Outra importante avenida é a 85, que percorre importantes setores da cidade, circundando o Setor Sul nas proximidades do Setor Central. Outras vias de trânsito rápido que alteram as dinâmicas do Setor, são a Marginal Botafogo, GO 020 e a BR 153. A Marginal Botafogo atravessa a cidade de sul à norte, sendo o principal acesso à rodoviária e ao aeroporto. A GO 020, conecta Goiânia a cidades do sudeste goiano. A BR 153, conta com saídas para Brasília e São Paulo. Podemos afirmar que o Setor Sul, até mesmo pela proximidade ao Setor Central, tem um papel polarizador em Goiânia. Isso pode ser confirmado quando analisamos a quantidade de instituições, bares, centros culturais, clínicas e todos os tipos de atrativos, que escolhem o Setor para se fixar. O Setor é hoje considerado um “centro cultural” de Goiânia, possui uma quantidade incomparável de estúdios e galerias de arte, coletivos culturais, casas de show, gravadoras independentes, etc. No mapa podemos ver a quantidade desses estabelecimentos por todo o Setor,

Mapa 3: Sistema Viário do Setor Sul


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praça cívica

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Foto3: Show no Martin Cerere (Setor Sul) Fonte: Festival Vaca Amarela.

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praça do cruzeiro

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Casas de show Coletivos culturais Universidades Estรกdio Serra Dourada


67 Mapa 4: Importantes centros culturais do Setor Sul

além da proximidade de importantes universidades, como a PUC e a Universidade Federal de Goiás, além do Estádio Serra Dourada. Esses são atrativos que tornam o Setor muito visitado, principalmente pelo público jovem da cidade. Outro atrativo que incentiva os jovens a visitarem o Setor são os grafites que estampam muros no interior das praças do sistema de áreas verdes, a arte urbana do Setor é hoje uma referência na cidade. O Setor também recebe frequentemente ações culturais afim de divulgar as qualidades da área. O Jane’s Walks, por exemplo, movimento global inspirado nas ideias de Jane Jacobs, produz passeios para as pessoas redescobrirem suas cidades. O evento já foi realizado no Setor diversas vezes. Outra ação, realizada em 2016, foi o “Casa Fora de Casa”. Projeto organizado pelo Sobreurbana, que através do “urbanismo tático” produziu ações em diferentes praças do Setor Sul. O urbanismo tático é um conjunto de diretrizes que busca através de intervenções de pequena escala, baixo custo, flexíveis de rápida e fácil execução, buscam alterar a dinâmica do meio urbano, possibilitando transformações a longo prazo. O projeto “Casa Fora de Casa” desempenhou uma série de estudos e ações junto à comunidade em algumas praças do Setor Sul, realizou pequenas intervenções, mas principalmente gerou uma reflexão da vizinhança em relação a esses espaços públicos.

Foto 7: Show no interior de antigo tanque, no Martim Cerere. Fonte: Festival Vaca Amarela.


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3.1 Sistema de espaços livres do Setor Sul Tornou-se necessário fazer um recorte da situação atual do sistema de áreas verdes públicas do Setor Sul. O setor, em um raro traçado baseado nos conceitos howardianos de Cidade Jardim, hoje enfrenta uma série de desafios. Estas áreas vem sofrendo um processo de degradação, onde encontramos invasão por parte de empresas privadas e moradores, além de diversos outros conflitos de uso, e principalmente, o abandono ou subutilizaçã. A área foi dividida em 5 regiões diferentes para serem melhor estudadas, e desta forma auxiliou na escolha da área de intervenção. Essa divisão foi feita por mim, e parte da Praça do Cruzeiro, de onde partem 5 importantes ruas: 90, 88, 86, 84 e 87 (figura 24). A leitura de cada área a seguir é baseada na minha experiência como moradora do Setor e em entrevistas realizadas com pessoas nessas regiões do Setor.

Mapa 5: Divisão em regiões


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3.1.1. Região 1 A Região 1 é delimitada pelas ruas 84, 87, 85, e 101, pela Praça Cívica e Praça do Cruzeiro. A rua 84, estabelece relação direta com a Praça Cívica, ligando o Setor Sul ao Setor Central. Suas principais vias são de trafego intenso, sendo a rua 85 uma das principais vias da cidade. A intensidade do trafego é muito influenciada pelo Setor Central, onde muitos usam o Setor Sul como acesso. Outra rua que merece destaque, é a rua Cora Coralina, em rosa. Esta foi implantada rasgando o setor, causando desapropriações e descaracterizando o desenho de muitas praças. A intenção era desafogar a 85, plano que falhou, hoje a rua é subutilizada. Além da polêmica construção da rua, uma universidade foi implantada nesta mesma rua, e que gera muitos transtornos aos moradores, e que ao longo dos anos tem mudado a dinâmica desta área. Encontramos poucas praças nessa região, sendo uma delas cuidada pelo Coletivo Centopeia, a Praça Wilton Valente Chaves, que conta com mobiliário e agrofloresta desenvolvidos pelo coletivo. Ainda que de predominância residencial, a região sofre grande influência do centro, tendo uma maior variedade de usos, como estabelecimentos comerciais e institucionais.

r. 87

r. 84

r. 85

ru a co cor ra lin a a

praça cívica

praça do cruzeiro


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3.1.2. Região 2 Esta região está diretamente ligada ao Setor Central. É uma das primeiras regiões ocupadas durante a implantação do Setor Sul, também era região com mais infraestruturas implantadas. É limitada pelas ruas 84, 86, 10, Marginal Botafogo, Praça Cívica e Praça do Cruzeiro, sendo recortada pela rua 83. A rua 84 liga a Praça do Cruzeiro à Praça Cívica, e é equipada com corredor de ônibus. A rua 86 e 83 são relativamente movimentadas, com trafego mais local, a rua 10 é responsável por ligar o Setor Central ao Setor Leste Universitário. Alta concentração de edifícios institucionais e comerciais, como na região 1. Há também maior presença de importantes espaços culturais, como o Martim Cerere que abriga importantes eventos culturais voltados para o público jovem na cidade. Aqui a concentração de áreas livres é baixa, muitas delas aparentemente cortadas por ruas. Sendo uma dessas praças ocupadas pelo Clube Cruzeiro do Sul, marcado em branco no mapa abaixo, área restrita a sócios.

r. 10

al

rgin

ma

praça cívica

r. 8

3

r. 84 6

r. 8

praça do cruzeiro


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3.1.3. Região 3 A Região 3 é predominantemente residencial, porém já sofre a transformação de algumas áreas em zonas mais comerciais, principalmente próximo as vias arteriais. Nesta região é grande a concentração de clínicas médicas. Sendo a rua 88 a principal via da área, onde encontramos a maior parte das clínicas e comércio. A 88 está ligada ao Jardim Goiás, diretamente ao Estádio Serra Dourada, e a rua 86 liga a região com o Setor Leste Universitário. Outra rua que merece nossa atenção é a rua 115, onde encontramos chácaras de alto padrão, todas ocupadas de forma irregular durante a implantação do Setor Sul. Nas vias locais existem poucos lotes que não são ocupados por residências, encontramos apenas pequenas empresas. As praças aqui são extensas e se encontram circundadas pelos fundos das casas.

6

r. 8

al rgin

ma

5 r.11

praça do cruzeiro r. 8 8


73

3.1.4. Região 4 A Região 4, assim como na região 3, é majoritariamente residencial, mas encontramos nas vias que a circundam, verdadeiros corredores comerciais, principalmente na rua 90 e avenida 136. A região é limitada pelas ruas 90, 88, 115 e avenida 136. A rua 90 possui corredor de ônibus, e conecta a região sul da cidade ao centro, nessa rua existe projeto de implantação de VLT. A rua 88 liga a Praça do Cruzeiro ao Estádio Serra Dourada. A rua 115 é o limite entre o setor e o córrego Botafogo, onde existe a Marginal Botafogo. A avenida 136 é hoje uma das principais vias da cidade, principalmente porque liga a região central e a região sudeste. Segundo meus levantamentos é a área com o maior número de áreas verdes “preservadas”. Este fato pode estar relacionado ao fato de ter sido uma das últimas áreas a ser ocupada e receber infraestrutura do Setor Sul.

praça do cruzeiro

av.

136

marginal

r.11 5

r. 90

r. 8 8


74

3.1.5. Região 5 A região 5, é a região mais afastada do Setor Central, recebe influência do Setor Marista. A avenida 136 é uma das avenidas mais valorizadas da cidade, onde encontramos os edifícios residenciais e comerciais de alto padrão, e onde a cota dos edifícios é muito maior em relação ao resto do Setor. Como vimos anteriormente, as ruas 90 e 87 possuem trafego intenso, mas a rua 89 que cruza a área é secundária e de trafego moderado. Essa área é caracterizada pela presença de clubes e instituições ocupando grandes áreas. Na extensa quadra no canto esquerdo da figura 29, estão os Clube dos Oficiais e Clube dos Engenheiros. Próximo da Praça do Cruzeiro está o Clube Social Feminino, e entre a avenida 136 e rua 90, está a Saneago, empresa de saneamento de Goiás, na área adjacente existia o Clube da CELG (Companhia Energética de Goiás), que foi vendido para a Universidade Salgado de Oliveira.

praça do cruzeiro


75

4. Região de intervenção: Região 4 A escolha da região deve-se aos seguintes fatores: sou moradora da região, conheço melhor a área e possuo maior contato com os vizinhos, acumulando experiências e vivendo os mesmos conflitos que qualquer outro morador, e principalmente, conhecendo seus anseios. Desta forma o material será levantado com mais eficiência e precisão. Outro fator que me influenciou na escolha desta área, está relacionada as extensas áreas livres que as praças dessa região apresentam. Também percebo que nessa região existe uma maior preocupação e participação dos moradores quanto as praças. Esse interesse era sempre muito frequente nas entrevistas desta região, diferentes de outras. 4.1 Análises preliminares A seguir serão feitas análises preliminares de cada área livre pertencente ao sistema de áreas livres da região sul. As observações são feitas baseadas nas visitas realizadas. 4.1.1. Praça 1 – Quadra: F 42A Durante o levantamento, encontrar essa praça revitalizada foi uma surpresa. Localizada entre a avenida 136 e a rua 90, suas obras foram concluídas em junho de 2016. Foi inaugurada sobre o nome de Praça Bosque do Leão. Essa é uma situação totalmente atípica no Setor Sul, como veremos em outras praças. Está equipada com nova quadra de esportes, além de bancos e canteiros ajardinados. Todos esses equipamentos estavam sendo usados por moradores no momento da visita. 4.1.2. Praça 2 – Quadra: F 43 Esta praça encontra-se em péssimo estado de conservação. Observamos grande acúmulo de entulho e lixo doméstico na área, uma empresa usa a área como estacionamento de clientes. Além disso, grandes áreas foram invadidas por residências, cercando com gradil e usando como garagem. Esta praça possui muitos becos e pontos onde a perspectiva é quebrada.


76

4.1.3. Praça 3 – Quadra: F 40 Vemos nessa praça, um maior cuidado. A grama está aparada, e não há grande quantidade de entulho acumulado. As invasões aqui são na maioria feitas por empresas localizadas voltadas para a rua 90. Uma escola infantil usa a praça como estacionamento rotativo. Empresas vem usando as praças como área de carga e descarga, parte do solo já parece bastante compactado devido essa atividade, além do trafego intenso de veículos pesados. Aqui também vemos com clareza as áreas invadidas por residentes. Nesta praça encontramos uma quadra, com as tabelas e cestas já destruídas, e mesas de concreto remanescentes do Projeto Cura, e um playground para crianças, adquirido pela antiga associação de moradores. 4.1.4. Praça 4 – Quadra: F 41 É carinhosamente chamada por moradores de toda a cidade de “Bacião”. O Bacião está localizado entre a avenida 136 e a rua 115. Aqui encontramos uma área muito extensa. Encontramos um estacionamento construído por um cartório, moradores relatam o intenso trafego de veículos. O nome “Bacião” remete a forma como a quadra de basquete foi implantada, afundada na topografia, formando uma bacia. Esta praça já foi muito usada por skatistas no passado, mas hoje sua condição deteriorada impede que este uso continuasse sendo realizado. A quadra um dos poucos vestígios do Projeto Cura na praça. 4.1.5. Praça 5 – Quadra: F 38 Batizada pelos moradores da quadra como “Bosque dos Pássaros”, essa praça é nitidamente mais bem cuidada. A quadra possui uma associação de moradores muito atuante. A praça é toda arborizada, com muitos exemplares da palmeira guariroba, palmeira típica do cerrado goiano. A praça está também equipada com quadra, do Projeto Cura, além de um cactário, que aparentemente foi adaptada pelos moradores em uma antiga estrutura de concreto. Também encontramos bancos, que foram instalados pelos próprios moradores.


77

7 5

6

3 4 1 2


78

4.1.6. Praça 6 – Quadra: F 39 A praça é encontrada em situação similar da F 40. Possui áreas grandes e é frequentemente cruzada por automóveis, onde existe uma área usada como estacionamento, coberta por britas.

Foto 8: Praça 1 (F 42-A)

O único equipamento encontrado é a quadra do Projeto Cura, em péssimas condições. 4.1.7. Praça 7 – Quadra: F 37 A praça 7, da quadra F 37, está em situação completamente diferente das outras praças, já que esta é adjacente da rua 90A. Nesta praça também encontramos outra situação atípica, a praça, por funcionar mais como um grande recuo da rua, tem residências voltadas a ela.

Foto 9: Praça 2 (F 43)

Esta praça é usada por alguns moradores. Os equipamentos aqui encontrados são bancos e playground infantil, ambos em estado de degradação.

Foto 10: Praça 3 (F 40)


79

Foto 11: Praรงa 4 (F 41)

Foto 12: Praรงa 5 (F 38)

Foto 13: Praรงa 6 (F 39)

Foto 14: Praรงa 7 (F 37)


80

5.0 Área de intervenção: Quadra F 40 Após todos os levantamentos e análises preliminares realizados, que foram discorridos anteriormente, foi possível selecionar uma área que acredito ter muito potencial para se tornar um espaço público vital na cidade. Espaço esse capaz de conectar a praça de centro de quadra e a malha urbana. A quadra F 40 surge então como área adequada para intervenção. 5.1 Levantamento: Os levantamentos a seguir são baseados em diversas visitas feitas em loco, mapas cedidos pela Seplan e fotografias.

5.1.1. Uso e ocupação A área da praça é hoje circundada por diferentes usos, encontramos uso residencial, comercial, serviços e institucional. O uso mais recorrente é o residencial, percebemos a sua predominância ao longo das vias locais, sendo pontuais outros usos como institucional e serviços. Enquanto na rua 90, via arterial do Setor Sul, observamos maior número de estabelecimentos comerciais. Na rua 90 observamos a predominância do comércio que se divide em diferentes ramos, como papelaria, loja de bebidas, padaria, restaurante, loja de colchões, etc. Mas também encontramos muitas lojas de móveis e decoração. Aqui encontramos um grande número de vagas de estacionamento, apesar disso muitos clientes e funcionários desses estabelecimentos usam a praça como área de estacionamento. Na rua 118, além das residências encontramos uma mercearia, que atrai muitos moradores da região, a praça é usada como caminho mais curto por alguns. Na rua 120, apesar da maioria dos imóveis serem residências, observamos no decorrer dos anos a transformação em outros usos, principalmente em clínicas e escritórios.

Encontramos 3 lotes vagos na área, todos na rua 90.

Mapa 11: Uso e ocupação do


81

8

1 a1

rua 117

rua 9

0

ru

20

1 rua


82

5.1.2. Conflitos Como já vimos anteriormente, as praças são muitas vezes espaços conflituosos. Os conflitos têm diferentes formas, aqui vamos descrever os físicos. O primeiro conflito que notamos na praça é a presença de um elevado número de veículos estacionados e circulando. Apesar de muitas residências possuírem acesso de automóveis, a praça também é usada como estacionamento por empresas e uma escola infantil, como podemos ver no mapa. Parte do movimento de automóveis no interior da praça também é causado pela porção comercial da quadra, que além de usar a praça como estacionamento, também usa como área de carga e descarga. Próximo a essa área de carga e descarga encontramos sete árvores adultas que foram mortas através da técnica apelidada de “anel de malpighi”, e outras duas que parecem estar resistindo ao procedimento. Além disso também observamos a compactação do solo devido o movimento de caminhões de carga no local. Nesta área também observamos que uma área da praça foi invadida, onde as empresas avançaram alguns metros para dentro da praça. Encontramos outras duas invasões na praça, por uma residência e por uma empresa. Ao contrário das situações descritas anteriormente, muitos conflitos são causados por práticas inofensivas dos moradores, como o plantio de vegetação. A vegetação da praça tem sido plantada sem nenhum tipo de planejamento, encontramos áreas com uma grande quantidade de mudas, e outras áreas em que se formaram verdadeiras touceiras, que acabam por se tornar mais um elemento de obstrução da visão. Também encontramos uma árvore que sobreviveu a uma queimada aparentemente intencional. A falta de perspectivas é outro problema na praça, pois devido o seu desenho irregular, em muitos pontos da praça não existe conexão visual com as áreas adjacentes. Foto 15: Sinais de queima intencional em sibipiruna


83

Invasão Vegetação excessiva Árvores mortas Estacionamento Carga/Descarga


84

5.1.3. Vegetação Como já discutido anteriormente, na praça encontramos uma grande variedade de espécies vegetais, essa diversidade se deve a uma prática muito comum entre os vizinhos, o plantio indiscriminado. É possível encontrar todo o tipo de vegetação, sendo expressivo o número de mudas de árvores frutíferas e palmeiras, existem algumas espécies ornamentais plantadas, principalmente próximo aos portões das residências, que aqui não foram todas levantadas devido a inexpressividade diante a escala da praça.

Foto 16: Palmeiras

Foto 17: Muda plantada por morador

Na praça observamos um bosque já bem formado, com uma quantidade expressiva de árvores de médio e grande porte. A espécie mais encontrada é a sibipiruna, totalizando 17 exemplares. No mapa e tabelas a seguir é possível observar a diversidade da flora da praça, espaço também muito visitado por pássaros, que vão além das espécies normalmente encontradas na zona urbana.

Foto 18: Tamarineiro

Foto 19: Gameleira


85


86

9 13

13 13

13 25 35

13 13 42 13

7

28

35

36

13 2

25 13

41

7

13

24 11

25

20

20

36

35

41 41 36 38

38

38

Árvores 1- Aroeira 2- Chapéu de sol 3- Chuva de ouro 4- Flamboyant 5-Flamboyant de jardim 6- Gameleira 7- Ipê rosa 8- Ipê de jardim 9-Jacarndá mimoso 10- Marimari 11- Nin indiano 12- Quaresmeira 13- Sibipiruna

Árvores frutíferas 14- Amora preta 15- Araçá amarelo 16- Cajuzinho do cerrado 17- Calabura 18- Carambola 19- Graviola 20- Ingá feijão 21- Jabuticaba 22- Jamelão 23- Jatobá do Cerrado 24- Limão Tahiti 25- Manga 26- Mexirica 27- Noni 28- Pequi 29- Pitanga 30- Tamarindo


87

Palmeiras 31- Areca bambu 32- Areca delocuba 33- Coco da Bahia 34- Dendê 35- Guariroba 36- Imperial 37- Jerivá 38- Latânia 39- Washingtônia

12

14

12

22 13 19

13 18 16

36

13

29

30

37 37 2

13

39 39 27

26 13 24

13

23

3

1

31 24 32 16 13 41 15 14 14 41 4

36 Arbustos 40- Clusia 41- Jasmim Manga 42- Murta*

4

13

21 5 3333 33 6 36 34 33 34 38 8 10 40 8 40 8 5 16 5 5 13 5


88

1

Aroeira

Schinus terebinthifolius

Muda

Med

5-10 m

Irrelevante

2

Chapéu de sol

Terminalia catappa

Adultas

Grd

15-25 m

Irrelevante

1

Chuva de ouro

Cassia fistula

Adulta

Med

10-13 m

Amarela

2

Flamboyant

Delonix regia

Adultas

Med

Até 12 m

Vermelha e amarela

5

Flamboyant de jardim

Caesalpinia pulcherrima

Adultas

Peq

3-4 m

Vermelha e amarela

1

Gameleira

-

Adulta

Grd

-

Irrelevante

1

Ipê rosa

Tabebuia heptaphylia

Muda

Grd

10-20 m

Rosa

3

Ipê de jardim

Tecoma stans

Adultas

Peq

4-6 m

Amarelo

1

Jacarandá mimoso

Jacaranda mimosifolia

Muda

Med

Até 15 m

Roxa

1

Marimari

Cassia leiandra

Muda

Peq

4-8 m

Amarela

1

Nin indiano

Azadirachta indica

Adulta

Grd

Até 35 m

Irrelevante

3

Quaresmeira

Tibouchina granulosa

Adultas

Med

8-12 m

Roxa

17

Sibipiruna

Caesalphina peltophoroides

Adultas

Med

8-16 m

Amarela

Foto 20: Gameleira


89

3

Amora preta

Morus nigra

Muda e adulta

Med

7-12 m

1

Araçá amarelo

Psidium cattleianum

Muda

Med

1-9 m

3

Cajuzinho do cerrado

Anacardium humile

Muda

Peq

4-8 m

1

Calabura

Adulta

Med

4-12 m

2

Carambola

Muntingia calabura Averrhoa carambola

Muda e adulta

Med

5-10 m

1

Graviola

Muda

Peq

4-6 m

2

Ingá feijão

Annona muricata Inga marginata

Muda e adulta

Grd

5 -15m

1

Jabuticaba

Adulta

Peq

3-6 m

1

Jamelão

Adulta

Grd

15-20 m

1

Jatobá do cerrado

Myrciaria cauliflora Syzygium cumini Hymenaea stigonocarpa

Muda

Med

6-9 m

3

Limão tahiti

Muda

Peq

4-6 m

5

Manga

Citrus latifolia Mangfera

Adulta e muda

-

-

1

Mexirica

Muda

Peq

3 -8 m

1

Noni

Muda

Peq

2 –6 m

1

Pequi

Adulta

Med

6-10 m

1

Pitanga

Adulta

Med

6-12 m

1

Tamarindo

Citrus deliciosa Caryocar brasilense Caryocar brasilense Eugenia uniflora Tamarindus indica

Adulta

Grd

10-15m


90

1

Areca bambu

Dypsis lutescens

Adulta

Med

3-9 m

1

Areca de locuba

Adulta

Grd

7-15m

4

Coco da Bahia

Dypsis Madagascariensis Cocos nucifera

Adultas

Grd

Até 30 m

2

Dendê

Elaeis guineensis

Adultas

Med

Até 15 m

3

Guariroba

Sygarus oleracea

Adultas

Peq

4-7 m

14

Imperial

Roystonea oleracea

Mudas e adultas

Grd

> 12 m

2

Jerivá

Sygarus romanzoffiana

Adultas

Grd

8-15 m

7

Latânia

Latania verschaffeltii

Mudas

Grd

10-15 m

2

Washingtonia

Washingtonia filifera

Adultas

Grd

Até 20 m

D 2

Clusia

Clusia fluminensis

5

Jasmim manga

Plumeria rubra

Mudas e adultas

Peq

3-6 m

Flores brancas

6

Murta

Eugenia sprengelli

Adultas

Peq

2-4 m

Irrelevantes

Adultas

Peq

Até 6 m

Flores brancas

Foto 21: Levantamento


91

5.1.4. Muros As residências que tem seus lotes voltados para a praça, podem ou não apresentar acessos de pedestres ou automóveis. O levantamento dos muros de cada residência se tornou necessária, à medida em que cada residência possui sua particularidade. Foi levantado as alturas dos muros, as dimensões e posições das aberturas, a presença de grafite ou trepadeiras, cercas elétricas e serpentinas, além de considerar a altura de edifícios que possuem vistas para a praça, como os sobrados.

LOTE 10

LOTE 13

LOTE 12

LOTE 12

LOTE 14

LOTE 18

LOTE 16

LOTE 16

LOTE 11

LOTE 2

LOTE 4

LOTE 14

LOTE 8

LOTE 55

LOTE 8

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LOTE 53

LOTE 73

LOTE 48

LOTE 69

LOTE 5

LOTE 8

LOTE 6

LOTE 51

LOTE 4

LOTE 4

LOTE 50

LOTE 52

LOTE 67

LOTE 49

LOTE 8

LOTE 16

LOTE 16

LOTE 79/81...

LOTE 75/77

LOTE 65

LOTE 6

LOTE 63

Figura 16: Elevação dos muros

Fotos 22 e 23: muros encobertos por vegetação

LOTE 3

LOTE 12

LOTE 10

LOTE 8

LOTE 16

LOTE 44

LOTE 7

LOTE 1

LOTE 11

LOTE 12 LOTE 10

LOTE 57

LOTE 9

Foto 24: Grafites

LOTE 10

LOTE 16

LOTE 20

LOTE 42

LOTE 9


92

5.1.5. Acessos Foram projetados três acessos à praça. Estão localizados nas ruas 120 e 118, ou seja, apenas nas vias locais. Os acessossão áreas abertas localizadas entre lotes, ou seja, entre muros. Esses acessos passam muitas vezes desapercebidos por quem passa na região, não existe sinalização que aponte a presença da praça. Os dois acessos na rua 120 estão pavimentados, enquanto que na rua 118 não. O acesso 1 da praça (mapa ao lado), é o mais usado pelos veículos de carga, por estar próximo a área comercial, possui calçada. O acesso 2, na rua 118, é o mais estreito, não comportando o acesso de veículos grandes ou o acesso de carro e um pedestre simultaneamente. O acesso 3, é o mais amplo, não possui calçada e é mais usada por moradores. Existe também um acesso alternativo, pelos lotes vagos da rua 90. Fotos 25: Acesso 1

a

ru

8

11

rua 117

0

2 rua 9

3 20

1

1 rua

Fotos 27: Acesso 3


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5.1.6. Entrevistas As entrevistas foram realizadas com diferentes grupos de pessoas, para melhor traçar a relação de cada tipo de usuário do Setor Sul com a praça. As entrevistas foram organizadas entre: moradores, trabalhadores e transeuntes. Foram entrevistados 12 moradores da quadra, 25% moram no Setor Sul há mais de 30 anos, 17% entre 20 e 30 anos, e 58% entre 1 e 20 anos. As residências são ocupadas por apenas 2 pessoas em 67% dos casos, em 25% por 3 ou 4, e apenas 8% por 5 ou mais pessoas. Também foi constatado que 87% das famílias possuem animais de estimação. Em relação à praça, 33% dos entrevistados afirmam usar o espaço todos os dias, 50% poucas vezes, enquanto 17% afirmam quase nunca utilizar. Dos entrevistados, 67% afirmam não se sentirem seguros na praça. Quando questionada a possibilidade de transformar essas áreas em propriedades particulares, 92% se mostraram contrários. Quanto a uma possibilidade de intervenção na praça, a maioria se mostrou interessada na instalação de equipamentos, como pista de caminhada e bicicleta, jardins, etc.

Fotos 26: Acesso 2

Outro importante grupo entrevistado foi o de trabalhadores, a quadra F40 atualmente possui um elevado número de comércios e empresas. Foram entrevistados 10 pessoas que trabalham na quadra, todos se deslocam de regiões distantes da região central da cidade, 30% através de transporte público, e 70% por veículos particulares. Em relação à praça, 80% disseram quase nunca usarem, enquanto apenas 20% afirmaram usar algumas vezes para caminhar. Todos se mostraram preocupados com relação à falta de segurança na praça, 50% apontou a falta e iluminação. Todos foram contrários à transformação da área em propriedade particular. Quanto a uma possível intervenção na praça, a maioria se mostrou interessada em áreas de descanso, pois nos seus intervalos poderiam usufruir da praça. Foram entrevistados 10 transeuntes na região, sendo que 40% visitam a região a trabalho, 30% para consultas médicas, 20% para visitar família e amigos, enquanto 10% disse frequentar a região para visitar as praças e ver os grafites. A maioria dos entrevistados conheciam a praça, mas 20% afirmou nunca ter visitado. De forma geral, as entrevistas mostraram o crescente interesse dos usuários da região na praça. A maioria deles apontaram a questão da falta de segurança na praça como principal motivo para não a usarem. É importante destacar, que grande maioria dos entrevistados são contra a transformação dessas áreas em propriedades privadas. Muitos destes apontavam a necessidade do maior envolvimento dos moradores nas questões da praça.


94

5.1.5 Levantamento fotogrรกfico

1

5

4

9 5

10

8 6

3

13 3

2

14

12

7

4 2

11

15

1

6


95

7

10

13

8

11

14

12

15

9


96

6. Análise: Praça da F 40 O abandono sistemático das áreas livres do Setor Sul acompanha diferentes processos, primeiro o histórico, quando as casas foram implantadas diferentemente do projetado, quando o Estado demorou décadas para urbanizar essas áreas, e quando finalmente urbanizadas pelo Projeto CURA em 1973, é questionável a qualidade do projeto, e que posteriormente não recebeu nenhum outro projeto significativo. Outro processo é social, é perceptível que gradualmente as pessoas estão abandonando o espaço público, e um desses fatores é a crescente violência na cidade, tidas hoje como uma das mais violentas do país. Durante entrevistas realizadas ao longo de uma semana em diferentes pontos do setor, com diferentes grupos de pessoas, o assunto que os entrevistados mais se interessavam era a falta de segurança. As praças hoje são grandes vazios, onde a perspectiva é quebrada, o usuário pode partir de um beco, que se transforma em uma grande área aberta, que em seguida sofre um estrangulamento. Esse desenho orgânico e irregular impossibilita a visão total do entorno, o que gera maior sensação de insegurança. Além disso, as praças são circundadas pelos altos muros das casas, equipados com cercas elétricas, serpentinas, somando ao estado de abandono, esses espaços não são nada convidativos. Apesar do atual estado de degradação dessas áreas, percorrendo as praças você encontra um morador ou outro, correndo nas calçadas já destruídas, jogando bola nas quadras cheias de entulho, algum visitante tirando fotos dos grafites. Muitos moradores se mostram “escandalizados” pela presença de pessoas desconhecidas nas praças. André, do Sobreurbana, relata que enquanto a equipe fazia levantamentos para o projeto Casa Fora de Casa, chegaram a ser afrontados por uma moradora. Muitos moradores vêm mostrado essa postura, tanto quanto aos visitantes, mas até mesmo em relação aos próprios vizinhos. A área se transforma muitas vezes em uma área de conflito, o que contradiz a utopia de comunidade de Ebenezer Howard, que Armando de Godoy se inspirou. Esse comportamento está muitas vezes atrelado ao zelo excessivo que muitos moradores têm pelas praças. O sentimento dos moradores pelas praças muitas vezes é dúbio, conversando com vizinhos percebo o amor que sentem por essas áreas. Muitos acompanham o cotidiano dessas áreas, o desenvolvimento das árvores, conhecem os vizinhos, etc. Mas o outro sentimento é o medo, são frequentes os assaltos a residências no Setor, e muitos desses assaltantes tem acessado as casas pelos fundos, ou seja, pelas praças.

É inquestionável que o projeto de sistemas de áreas verdes do Setor Sul falhou em sua


97

missão. Podemos ter alguns apontamentos do que acarretou a situação atual, mas é necessário analisar sua situação atual de forma crítica, e constatar o que impede o sucesso dessas áreas. Com esse objetivo, abordarei alguns pontos listados pelo PPS (Project for Public Space), importante ONG americana pioneira no uso do Placemaking, que em um artigo assinala pontos necessários para um espaço ser considerado saudável. O Placemaking é um conjunto de ideias e ações que busca transformar e construir espaços públicos de qualidade na cidade contemporânea. Seus conceitos são inspirados em teóricos como Jane Jacobs e William H. White. Há algumas décadas este conjunto de princípios está sendo aplicado em torno de todo mundo, transformando com a população espaços públicos falhos em áreas ativas. Nesse sentido, me baseei no artigo “What Makes a Successful Place?”, da PPS, em tradução livre: “O que faz um lugar bem sucedido?”. O artigo atribui o sucesso do lugar a 4 aspectos, sociabilidade, usos e atividades, conforto e imagem, acessos e conexões. Esses princípios são divididos em aspectos intuitivos ou qualitativos, que podem julgar um lugar, e aspectos quantitativos, tangíveis, que podem ser estudados e analisados segundo estatísticas ou pesquisas. Quanto à “sociabilidade”, o lugar deve possuir boa gestão, diversidade de pessoas, cooperação, boa vizinhança, ser convidativo, mas tudo isso são características intangíveis, então são atribuídos fatores que tornam isso possível, como uso noturno, pessoas nas ruas, voluntariado, maior número de mulheres, crianças e idosos. E ainda são levantadas importantes questões como: É um lugar que você encontra seus amigos? As pessoas parecem se conhecer? As pessoas estão sorrindo? Elas se olham? As pessoas recolhem lixo quando veem? Com relação a praça analisada, percebemos que a área não é um local onde as pessoas encontram os amigos, talvez seja apenas uma área onde as pessoas levam os amigos para passarem e ver algum grafite, por exemplo. A praça hoje é mais um local de passagem do que permanência. Porém temos um grupo ou outro de moradores e visitantes que jogam futebol ocasionalmente. Uma característica positiva da praça é que os vizinhos se conhecem, e estão se conhecendo melhor à medida em que a Associação de Moradores está sendo reativada. Isso demonstra o esforço dos moradores em tornar a praça um lugar mais sociável. Em “usos e atividades”, importantes pontos são levantados, o espaço púbico precisa ser divertido, ativo, vital, especial, real, útil, sustentável, essas são caraterísticas intangíveis, mas o

Fotos 28: Quadra de esportes no entardecer.


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que pode levar o espaço a chegar a isso são: negócios locais, diversidade de usos da área, valor dos imóveis. E ainda levanta importantes questões: as pessoas usam o lugar? Ou está vazio? As pessoas têm diferentes idades? Quantos tipos de atividades estão acontecendo? Que partes são usadas? Existem escolhas para o que se fazer? A praça da quadra F 40, falha em muitos dos aspectos levantados nesse item, o espaço atualmente não comporta nenhuma atividade de forma adequada, hoje apenas encontramos um uso “verdadeiro” da quadra de esportes e o parque infantil, ambos em péssimas condições, não existe local de permanência, nem áreas de práticas esportivas. A praça encontra-se na maior parte do tempo vazia, ou sendo cruzada por transeuntes. Este é um aspecto que deve ser muito bem trabalhado na intervenção. Em “conforto e imagem”, as características qualitativas são: histórico, atraente, contemplativo, verde, limpo, seguro. O espaço pode atingir esses padrões através de baixos índices de criminalidade, limpeza, boa condição dos edifícios, informações ambientais. E questiona: O espaço provoca uma boa primeira impressão? Existem lugares para sentar? As pessoas podem escolher o lugar para se sentar, no sol ou na sombra? É limpo? A área parece segura? As pessoas estão tirando fotos? Existem muitos lugares para tirarem fotos? Os veículos dominam sobre os pedestres no uso do espaço? Nesta questão a área estudada não atende a quase nenhum requisito. A praça pode causar diferentes reações nas pessoas, em um primeiro momento ficam surpresas e entusiasmadas, mas poucos se sentem confortáveis ou seguros. A praça na maioria das vezes está suja, vazia, os muros são altos e equipados com dispositivos de segurança. Apesar de ser uma praça fechada, é constantemente cruzada por automóveis, então muitas vezes o pedestre tem que continuar atento no seu percurso. Uma atividade positiva que já acontece na praça são pessoas que a visitam apenas para tirar fotos dos grafites. Em “acessos e conexões”, os pontos intangíveis são: próximo, “conectável”, “caminhável”, conveniente, acessível. Os aspectos mensuráveis são: diferentes tipos de estacionamento, uso de pedestres, índices de trânsito, diversidade da mobilidade. São feitas as seguintes perguntas: Você pode ver o local de certa distância? O interior é visível do exterior? Existe uma boa conexão entre os prédios do entorno, ou é rodeado por paredes cegas? Os ocupantes dos edifícios usam o espaço? As pessoas conseguem acessar caminhando até o lugar? As calçadas guiam para esse espaço? É acessível? Os acessos são importantes aspectos a serem analisados, atualmente muitos que cruzam o Setor chegam a não saber da existência dessas praças. Este ponto talvez seja o mais difícil de


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ser trabalhado, algumas características do espaço não poderiam ser tão alteradas por um projeto, por exemplo, não é possível uma visão geral da área, os acessos estão praticamente camuflados nas ruas de acesso, tornando mais um ponto que dificulta sua relação com a cidade. A realidade atual é de um espaço alheio às dinâmicas urbanas de seu entorno. Apesar de todos esses fatores negativos, muitas vezes conflitantes, é inegável o potencial da área. De todas as outras praças, eu escolhi a praça da quadra F 40, devido uma série de fatores, que vejo como potencialidades. Primeiramente é importante destacar sua localização privilegiada na cidade, pode ser facilmente acessada por pessoas de todos as regiões, pois temos na região um importante modal de transporte público, a rua 90, que hoje já é corredor de ônibus, e receberá num futuro próximo o VLT. A área também está conectada com a região sul e central da cidade, as vias da área já são usadas como conexão entre essas zonas, mas podemos ressaltar a potencialidade da praça se transformar em ponto de permanência. Importante também ressaltar sua qualidade histórica, o traçado único na cidade, com origens no Plano Origina de Goiânia. A área também pode ser vista como uma conexão entre o projeto moderno e o contemporâneo, à medida em que está próximo ao Setor Central, de arquitetura Art D’ecó, mas também se relaciona com a avenida 136, de arquitetura contemporânea. Outro potencial, está no bosque já formado no espaço, a vegetação já consolidada facilita a concretização do projeto de uma praça, com áreas sombreadas já formadas. Tornando necessário apenas complementar essa vegetação para dar um sentido de unidade e criar uma diversidade de espaços na área. Algo que deve ser explorado é a cultura da arte de rua que cresce na região. Este talvez seja um dos poucos atrativos de forasteiros na atualidade e deve ser preservado e incentivado, muitos moradores já contrataram artistas para estamparem seus muros dos fundos, e acredito que essa atitude pode ser difundida em maior escala. Principalmente, percebo um maior envolvimento da vizinhança nas questões da praça. A Associação de Moradores da Quadra F40, está sendo reativada após 10 anos de inatividade, período esse em que os moradores desempenharam importantes ações, mas sem uma prefeitura atuante se viram esgotados. Desde 2016, os moradores vêm se organizando para proteger e cuidar da praça. Acredito que esse seja o principal fator que faça essa área ser suscetível a se tornar um espaço público de qualidade. E que essa intervenção provocasse uma série de requalificações por todo o Setor Sul.


3

Intervenção


101

7.1 Sistema de áreas verdes A proposta de intervenção na praça da quadra F40 representaria o primeiro passo de uma série de projetos de requalificação no Setor Sul. A intenção deste projeto é conectar esses espaços, resgatando o conceito original de sistema de áreas livres. O sistema de áreas livres, atualmente fragmentado, requer um tratamento urbanístico capaz de criar conexões entre as praças, e entre essas áreas e a malha urbana. Desta forma é possível prever uma série de diretrizes que podem ser aplicadas em todo o sistema, considerando as praças como parte de um conjunto maior, como:

- Ciclofaixas externas

- Ciclovias internas

- Calçadas acessíveis

- Lombadas elevadas para pedestres

- Limitar o acesso de veículos

- Acessibilidade visual (sinalização)

- Relação com os usos do entorno

- Relação com a mobilidade

As ciclofaixas seriam elementos que conectariam a mobilidade do Setor Sul com as áreas livres, que sempre que possível seriam atravessadas por ciclovias, trazendo uma possibilidade de uso constante nas áreas. As calçadas do Setor merecem atenção especial, desde que estão na maioria dos casos em má condições, sua adequação quanto à acessibilidade é necessária, inclusi-


102

ve com a possibilidade de aumenta-las. As lombadas elevadas para pedestres estariam localizadas nos acessos das praças, e sempre que possível estariam conectando praças adjacentes criando a continuidade desses espaços, além de privilegiar os pedestres. Outra importante ação é limitar o acesso dos automóveis nas áreas, tornando os espaços ainda mais seguros para pedestres e ciclistas. A acessibilidade visual dessas áreas se torna necessária, e pode ser feita através de sinalização. É fundamental que esses espaços se conectem com o entorno, principalmente quanto à variedade de uso de cada área, aproveitando cada potencialidade. Além disso, a praça precisa ser acessível através de diferentes formas de mobilidade. Esse conjunto de melhorias procura facilitar e potencializar o acesso e conexão entre as próprias praças, e a cidade. Apesar de cada praça possuir sua peculiaridade, esses arranjos podem ser implantados com diferentes adaptações. No projeto da praça F40 é possível notar como essas diretrizes se aplicam na área.

7.2 Praça F40 “Simultaneamente uma construção e um vazio, a praça não é apenas um espaço físico aberto, mas também um centro social integrado ao tecido urbano” (SUN, 2011, p.23). A praça estudada enfrenta uma série de obstáculos que a afasta desse conceito, de espaço público vital. Anteriormente o conjunto de princípios que tornam um espaço bem sucedido segundo o Placemaking, da ONG PPS, foi apresentado para gerar uma análise crítica da situação atual da área de intervenção. Nesta etapa, os conceitos do Placemaking surgem novamente, como guia de estratégias. Dessa forma este projeto foi organizado nos seguintes fatores transformadores: acessos e conexões, usos e atividade, conforto e imagem, sociabilidade. -Acessos e conexões Como analisado no capítulo anterior, a quadra F40 se encontra muito bem localizada na malha urbana. Porém os acessos imediatos da praça encontram-se camuflados nas vias locais. No livro “Projeto de Praça ”, Alex Sun expõe: O acesso é fundamental para a apropriação e o uso de um espaço. Entrar em um lugar é condição inicial para poder usá-lo. Stephen Carr classificam os três tipos de acesso ao espaço público como físico, visual e simbólico ou social.


103 Acesso físico refere-se à ausência de barreiras espaciais ou arquitetônicas (construções, plantas, água, etc.) para entrar e sair de um lugar. No caso do espaço público, devem-se considerar também a localização das aberturas, as condições de travessia das ruas e a qualidade ambiental dos trajetos. Acesso visual, ou visibilidade, define a qualidade do primeiro contato, mesmo a distância, do usuário com o lugar. Perceber e identificar ameaças potenciais é um procedimento instintivo antes de alguém adentrar qualquer espaço. Uma praça no nível da rua, visível de todas as calçadas, informa aos usuários sobre o local e, portanto, é mais propicia ao uso. Acesso simbólico ou social refere-se à presença de sinais, sutis ou ostensivos, que sugerem quem é e quem não é bem-vindo ao lugar. Porteiros e guardas na entrada podem representar ordem e segurança para muitos e intimidação e impedimento para outros. Construções e atividades também exercem o controle social de acesso, principalmente aos espaços fechados, em que decoração, tipos de comércio e política de preços são frequentemente conjugados para atrair ou inibir determinados públicos (SUN, 2011, p.25).

Concluímos que na praça de intervenção o acesso físico é limitado pelas construções do entorno, as aberturas estão localizadas entre lotes construídos, sem nenhuma sinalização. Desta forma é proposto uma relação visual entre a praça e as ruas, tornando os acessos as praças demarcadas na paisagem. O elemento utilizado é a faixa de pedestre elevada, que além de diminuir a velocidade dos automóveis, garantindo maior segurança dos pedestres, torna-se um elemento de comunicação entre as calçadas e a praça do entorno. Essas faixas receberiam tratamento artístico, indicando aos transeuntes a presença do acesso à praça, evidenciando o protagonismo do pedestre, essa é uma tendência mundial que cresce a cada ano. Este elemento também se estenderia para as paredes que circundam os acessos, criando uma relação visual entre a rua e o interior da praça. Fotos 29: Faixa de pedestre com intervenção do artista Christo Guelov Fonte: Christo Guelov

O acesso visual na praça também é bastante dificultado pelo desenho irregular de suas bordas, dessa forma foi necessário criar elementos que ligam esses espaços visualmente, sempre evitando fechar as perspectivas existentes. Dessa maneira, a vegetação não ultrapassa a altura do pedestre, e busca criar um senso de continuidade na praça. - Usos e atividades O projeto teve como objetivo trazer uma diversidade de usos para praça, tornando o espaço frequentado por diferentes grupos de pessoas, característica fundamental para a vitalidade de um espaço público. Uma importante diretriz para este projeto foi a implantação de estruturas metálicas passíveis de transformação, destacando o caráter adaptável do projeto.


104

Na região comercial da quadra foi proposto um projeto diferenciado, onde no edifício onde se concentram as principais lojas encontramos uma área sem construção. A proposta visa a ocupação dessa área com um pátio aberto à praça. Esse pátio seria conectado com a rua 90 através de rampas que ocupariam os recuos do edifício. Atualmente esse edifício é composto por galpões voltados para a praça, é proposto uma requalificação dessas fachadas, para que exista uma continuidade e sentimento de unidade no projeto. Toda essa estrutura seria desmontável, assim seu caráter flexível permitiria a transformação desse espaço de acordo com necessidade. Segundo Sun, “Atividades comerciais podem estimular o uso do espaço público e aumentar a percepção do caráter aberto dos lugares” (SUN, 2011, p.27). Consequentemente, aliar o uso comercial da quadra ao projeto da praça torna-se um elemento de atração da área. Na praça, na porção sul próximo ao centro comercial, estaria localizado o estacionamento rotativo, com poucas vagas, para garantir a circulação de pessoas. Nesse estacionamento foi projetado 3 vagas para “pit dogs” (foodtruck), que seriam usados diariamente atraindo público em diferentes horários. Essa atividade é essencial para a vida noturna da praça. A praça seria cruzada por pista de caminhada e ciclovia, a pista de caminhada é larga e permite que seja usada tanto para corrida quanto espaço para passeio, à medida em que a partir dela são criados pequenos ambientes de permanência e contemplação. A ciclovia está ligada à pista de caminhada, e estaria sinalizada na cor rosa, tornando-se um elemento de conexão visual na área. Essas atividades estão afastadas da borda, permitindo a segurança dos acessos dos moradores. Ao longo de todo o projeto encontramos diferentes áreas de permanência, com diferentes tipos de assentos. Na área comercial, seriam implantadas mesas móveis, que possibilitariam a alteração do local de acordo com a necessidade. Próxima a essa área, uma série de estruturas triangulares em madeira, serviriam como diferentes tipos de bancos, proporcionando o usuário ocupar de diferentes maneiras, como sentar, apoiar ou deitar. Uma área de permanência diferenciada, está localizada na gameleira, próximo à quadra, onde os usuários podem deitar em redes. A quadra de esportes seria rebaixada do nível atual para que possa ser visível do acesso da rua 120, esta estaria equipada com uma pequena arquibancada. - Sociabilidade A praça deve ser convidativa aos diferentes grupos de usuários, dessa forma garantiria o uso permanente dessa praça. Um espaço público povoado tende a atrair outros usuários, uma forma de garantir isso é através de mecanismos como: envolvimento da vizinhança no cuidado da praça, diversidade de assentos e áreas de permanências. Segundo Whyte, as pessoas se aglo-


105

meram juntas de outras pessoas, e isso é possível próximo de atividades (SUN, 2011, p. 21). Alex Sun, em seu livro “Projeto de praça” (2011) expõe as ideias de Mark Francis, que afirma que o direito da sociedade de controlar os lugares públicos é o que torna um espaço urbano bem sucedido, e acrescenta: “...os espaços públicos são paisagens participativas, e o controle do usuário pode ser compreendido com base nas cinco dimensões propostas por Kevin Lynch para construir ‘bons’ ambientes: presença, uso e ação, apropriação, modificação e disposição. A presença é o direito de acesso a um lugar, e sem ela o uso e a ação não são possíveis. Uso e ação referem-se à habilidades das pessoas de utilizar m espaço. Com a apropriação, os usuários tomam posse de um lugar, simbolicamente ou de fato. Modificação é o direito de alterar o espaço para facilitar o seu uso, e disposição é a possibilidade de desfazer-se de um espaço público” (SUN, 2011, p. 21).

É necessário ressaltar a importância do envolvimento da sociedade nos espaços públicos, não somente como público final, mas como participante de todas as etapas do projeto. Dessa forma, o envolvimento da vizinhança deve ser constante, isso é possível através da presença da associação de moradores nas dinâmicas da praça. É também importante aproximar os jovens ao espaço, por isso é proposto somado a cultura de arte urbana do Setor, uma escola livre de artes. O projeto proporciona diversos espaços de convivência, onde diferentes grupos sociais podem se encontrar. - Conforto e Imagem O projeto teve como objetivo gerar a ideia de unidade do projeto através de um desenho que estimule o olhar do visitante através de cores e diferentes texturas. Uma diretriz importante para esse projeto foi criar perspectivas livres sempre que possível, não criando obstáculos visuais. O projeto busca ser atraente, induzindo um maior número de visitantes, criando oportunidades de permanências destes. Além de passar uma imagem positiva, de espaço público seguro, limpo e acessível. Outro importante fator é a criação de diversos espaços que possibilitam a permanência dos usuários, através da sequência de “microespaços” ao longo de um percurso definido. Consequentemente, a praça se torna um espaço mais maleável, possibilitando a absorção de diferentes grupos de pessoas.


106

ACESSO 2 JARDINS

ACESSO 3

IMPLANTAÇÃO GERAL ACESSO 1


107

PLANTA BAIXA GERAL


108

-Vegetação A vegetação existente no local foi preservada na medida do possível. A grande quantidade de mudas na área permite que essas sejam realocadas para espaços mais adequados, considerando porte e adequação ao novo projeto. A vegetação retirada da área está ligada a plantas ornamentais de pequeno porte, e outras como a clusia e a murta, que atualmente formam maciços e se tornam obstáculos físicos.

2

Clusia

Clusia fluminensis

Adultas

Peq

Até 6 m

6

Murta

Eugenia sprengelli

Adultas

Peq

2-4 m

1

Aroeira

Schinus terebinthifolius

Muda

Med

5-10 m

1

Chuva de ouro

Cassia fistula

Adulta

Med

10-13 m

1

Jacarandá mimoso

Jacaranda mimosifolia

Muda

Med

Até 15 m

1

Araçá amarelo

Psidium cattleianum

Muda

Med

1-9 m

3

Cajuzinho do cerrado

Anacardium humile

Muda

Peq

4-8 m

1

Jatobá do cerrado

Hymenaea stigonocarpa

Muda

Med

6-9 m

3

Limão tahiti

Citrus latifolia

Muda

Peq

4-6 m

1

Mexirica

Citrus deliciosa

Muda

Peq

3 -8 m

1

Noni

Caryocar brasilense

Muda

Peq

2 –6 m

14

Palmeira imperial

Roystonea oleracea

Mudas e adultas

Grd

> 12 m

7

Latânia

Latania verschaffeltii

Mudas

Grd

10-15 m

5

Jasmim manga

Plumeria rubra

Mudas e adultas

Peq

3-6 m

Desta forma, o projeto buscou respeitar e incorporar a vegetação existente, que na maior parte foi plantada pela vizinhança. A vegetação adicionada foi escolhida está muito relacionada a espécies comumente encontradas em jardins residenciais. Assim, criando uma relação “afetiva” com as próprias residências do entorno. Também foram selecionadas plantas alimentícias que se relacionam com a culinária goiânia, como as taiobas e o açafrão da terra.


109

9

26 27

41 42

41 41 36 36 38 38 16 38 36

13 24

23

3

1

24 16 41

15

40

40

41

36

24

Maciços de plantas ornamentais retiradas


110

VEGETAÇÃO FINAL:

1

Aroeira

Schinus terebinthifolius

Muda

Med

5-10 m

Irrelevante

2

Chapéu de sol

Terminalia catappa

Adultas

Grd

15-25 m

Irrelevante

1

Chuva de ouro

Cassia fistula

Adulta

Med

10-13 m

Amarela

2

Flamboyant

Delonix regia

Adultas

Med

Até 12 m

Vermelha e amarela

5

Flamboyant de jardim

Caesalpinia pulcherrima

Adultas

Peq

3-4 m

Vermelha e amarela

1

Gameleira

-

Adulta

Grd

-

Irrelevante

1

Ipê rosa

Tabebuia heptaphylia

Muda

Grd

10-20 m

Rosa

3

Ipê de jardim

Tecoma stans

Adultas

Peq

4-6 m

Amarelo

1

Jacarandá mimoso

Jacaranda mimosifolia

Muda

Med

Até 15 m

Roxa

1

Marimari

Cassia leiandra

Muda

Peq

4-8 m

Amarela

1

Nin indiano

Azadirachta indica

Adulta

Grd

Até 35 m

Irrelevante

3

Quaresmeira

Tibouchina granulosa

Adultas

Med

8-12 m

Roxa

17

Sibipiruna

Caesalphina peltophoroides

Adultas

Med

8-16 m

Amarela


111

3

Amora preta

Morus nigra

Muda e adulta

Med

7-12 m

1

Araçá amarelo

Psidium cattleianum

Muda

Med

1-9 m

3

Cajuzinho do cerrado

Anacardium humile

Muda

Peq

4-8 m

1

Calabura

Adulta

Med

4-12 m

2

Carambola

Muntingia calabura Averrhoa carambola

Muda e adulta

Med

5-10 m

1

Graviola

Muda

Peq

4-6 m

2

Ingá feijão

Annona muricata Inga marginata

Muda e adulta

Grd

5 -15m

1

Jabuticaba

Adulta

Peq

3-6 m

1

Jamelão

Adulta

Grd

15-20 m

1

Jatobá do cerrado

Myrciaria cauliflora Syzygium cumini Hymenaea stigonocarpa

Muda

Med

6-9 m

3

Limão tahiti

Muda

Peq

4-6 m

5

Manga

Citrus latifolia Mangfera

Adulta e muda

-

-

1

Mexirica

Muda

Peq

3 -8 m

1

Noni

Muda

Peq

2 –6 m

1

Pequi

Adulta

Med

6-10 m

1

Pitanga

Adulta

Med

6-12 m

1

Tamarindo

Citrus deliciosa Caryocar brasilense Caryocar brasilense Eugenia uniflora Tamarindus indica

Adulta

Grd

10-15m


112

Areca bambu

Dypsis lutescens

Adulta

Med

3-9 m

Areca de locuba

Adulta

Grd

7-15m

Coco da Bahia

Dypsis Madagascariensis Cocos nucifera

Adultas

Grd

Até 30 m

2

Dendê

Elaeis guineensis

Adultas

Med

Até 15 m

3

Guariroba

Sygarus oleracea

Adultas

Peq

4-7 m

14

Imperial

Roystonea oleracea

Mudas e adultas

Grd

> 12 m

2

Jerivá

Sygarus romanzoffiana

Adultas

Grd

8-15 m

7

Latânia

Latania verschaffeltii

Mudas

Grd

10-15 m

2

Washingtonia

Washingtonia filifera

Adultas

Grd

Até 20 m

1

4

45

46

47

D 2

Clusia (retirada)

Clusia fluminensis

5

Jasmim manga

Plumeria rubra

Mudas e adultas

Peq

3-6 m

Flores brancas

6

Murta (retirada)

Eugenia sprengelli

Adultas

Peq

2-4 m

Irrelevantes

Adultas

Peq

Até 6 m

Flores brancas

48

49


113

Pau formiga Pau cigarra

Açafrão da terra Taioba Taioba roxa Inhame chines

Orelha de lebre/ Peixinho

Tripalis brasiliana Alocasia macrorrhizos

1020m 610m

Curcuma longa Alocasia macrorrhizos

30-50

Xanhosoma violaceum Colocasia esculenta Stachys byzantina

Flor rosa

F

M

A

M

J

J

A

S

O

N

D

43

Flor amarela

4080cm 0,81,4m 601,1m

3060cm

J

4070cm 2040cm

Pleno sol Pleno sol/meia sombra Pleno sol/meia sombra

50

51

Pleno sol

52

53

44

Sombrinha chinesa

Cyperus alternifolius

40cm/ 80cm

0,51,1m

Pleno sol

Papiro

Cyperus giganteus

60/ 1-1,5m

1,52,5m

Pleno sol

Curculigo

1m

4080cm 20-40 cm

Meia sombra

Renda portuguesa

Curculigo capitulata Davallia fejeensis Hook.

Guaimbê do brejo

Philodendron tweedieanum

1m

50-1m

Pleno sol/meia sombra

Costela de adão Camedóreabambu

Monstera deliciosa Chamaedorea seifrizii

1-1,5m

Hera da algéria

Hedera canariensis

80cm

-

55

Meia sombra

1,5m

Meia Sombra

2m

Pleno sol/meia obra -

54

Pleno sol/meia obra

56

57


114

ACESSO 1 13

Nesta área do projeto encontramos a porção comercial da praça. Aqui é proposto um pátio a ser usado pelos comércios, principalmente padaria e o restuarante que aqui se encontram, criando uma relação direta entre a praça e a malha urbana. Os pedestres podem acessar através de rampas dispostas na rua 90, adjacente ao edifício comercial. Outro acesso de pedestres e automóveis é através da rua 120. Esta parte do projeto conta com ampla área de passeio, além de diferentes espaços de permanência.

2 25 13 11

44 36

25

36

44 36

44 43

20

20

44

44 44

43

Chapéu de sol

Terminalia catappa

10 -13m

Irrelevante

Cu

Nin indiano

Azadirachta indica

Até 35m

Irrelevante

Gu bre

Sibipiruna

Caesalphina 8-16m peltophoroides Inga 5 – 15m marginata

Amarela

Co adã Ca bam

Mangueira

Mangfera

-

Irrelevante

Palm. imperial Pau formiga Pau cigarra

Roystonea oleracea Tripalis brasiliana Alocasia macrorrhizos

> 12m

Irrelevante

10 - 20m

Flor rosa

6 -10m

Flor amarela

Ingá Feijão

36

AMPLIAÇÃO: IMPLANTAÇÃO DO ACESSO 1

Irrelevante

He alg


115

Chapéu de sol

Terminalia catappa

10 -13m

Irrelevante

Curculigo

Nin indiano

Azadirachta indica

Até 35m

Irrelevante

Sibipiruna

Caesalphina 8-16m peltophoroides Inga 5 – 15m marginata

Amarela

Mangueira

Mangfera

Irrelevante55

Palm. imperial Pau formiga Pau cigarra

Roystonea > 12m oleracea Tripalis 10 - 20m brasiliana 54 57 Alocasia 6 -10m 4 macrorrhizos

Ingá Feijão

-

5

Irrelevante

Irrelevante

54

Flor amarela

52

52

56

54

52

2 3

1m

4080cm 50-1m

Costela de adão Camedóreabambu

Monstera deliciosa Chamaedorea seifrizii

1-1,5m

1,5m

Meia Sombra

2m

Pleno sol/meia obra

Hera da algéria

Hedera canariensis

-

-

Meia sombra Pleno sol/meia sombra

Pleno sol/meia obra

Flor rosa

54

1

1m

Guaimbê do brejo

Curculigo capitulata Philodendron tweedieanum

54

1 2 3 4 5

Pátio Estacionamento Estacionamento dos “pit dogs” Espaço multifuncional Área de descanso

54 52

AMPLIAÇÃO: PLANTA BAIXA DO ACESSO 1


116

c d b a


117

b

a


118

c


119

d


120

ACESSO 2

5 43 13

13 13

13

25 43 13

13

7

13

35 13

13

13 2 25

3 35

36 36

A área próxima ao acesso 2 está relacionada ao acesso da ciclovia na praça, aqui encontramos também o bicicletário, com área de descanso. Um importante instrumento de ligação com a malha urbana, seria a construção de um centro livre de artes, em lotes vagos, em estrutura desmontável, tornando possível sua mudança sua retirada ou alteração. Esta escola se conectaria a rua 90, onde hoje encontramos um ponto de ônibus, com uma pequena praça. O lote é dividido por um alto muro, que seria usado como um grande mural de grafite, onde os alunos poderiam desenvolver suas técnicas, também ressaltando o caráter maleável do espaço.

Cu

28 Chapéu de sol

Terminalia catappa

10 -13m

Irrelevante

Chuva de ouro

Cassia fistula

10 – 13m

Amarela

Ipê rosa

Tabebuia heptaphylia

10-20m

Rosa

Nin indiano

Azadirachta indica

Até 35m

Irrelevante

Sibipiruna

Caesalphina 8-16m peltophoroides Mangfera -

Amarela

Caryocar brasilense Roystonea oleracea Tripalis brasiliana

6 – 10m

Irrelevante

> 12m

Irrelevante

10 - 20m

Flor rosa

Mangueira Pequi

13 11

Palm. imperial Pau formiga

Irrelevante

Re por

Co adã Ca bam

He alg


121

1m

Renda portuguesa

Curculigo capitulata Davallia fejeensis Hook.

Costela de adão Camedóreabambu

Monstera deliciosa Chamaedorea seifrizii

1-1,5m

Hera da algéria

Hedera canariensis

Curculigo

ante

ela

ante

80cm

-

4080cm 20-40 cm

Meia sombra

1,5m

Meia Sombra

2m

Pleno sol/meia obra -

Meia sombra

55 55

Pleno sol/meia obra

52

ela

53

vante

2

57

vante

5

vante

osa

1 2 3 4 5

Bicicletário Ciclovia Passeio Centro livre de artes Ponto de ônibus

3

1 4

53 52

52

55

56


122

1


123

4


124

Aroeira

20

Chapéu de sol

16

14

12

22

12

29 37

5 2

30 13

13 25 28

35

13 39

7

12

29

26 38

9

13

13

25 1

16 36

36

IMPLANTAÇÃO: JARDINS

Schinus terebinthifolius Terminalia catappa

5 -10m

Irrelevante

10 -13m

Irrelevante

Flamboyant de jardim

Caesalpinia pulcherrima

3 – 4m

Vermelha e amarela

Ipê rosa

Tabebuia heptaphylia

10-20m

Rosa

Jacarandá mimoso

Jacaranda mimosifolia

Até 15m

Roxa

Quaresmeira

Tibouchina granulosa

8 – 12m

Roxa

Sibipiruna

Caesalphina peltophoroides

8-16m

Amarela

Amora preta

Morus nigra

7 -12 m

Irrelevante

Cajuzinho do cerrado

Anacardium humile

4 – 8m

Irrelevante

Ingá feijão

Inga marginata

5 -15 m

Branca

Jamelão

15-20m

Irrelevante

Mangueira

Syzygium cumini Mangfera

-

Irrelevante

Mexirica

Citrus deliciosa

3 – 8m

Irrelevante

Pequi

Caryocar brasilense

6 – 10m

Irrelevante

Pitanga

Eugenia uniflora

6-12m

Irrelevante

Tamarindo

Tamarindus indica

10 -15m

Irrelevante

Guariroba

Sygarus oleracea

4 – 7m

Irrelevante

Palm. imperial

Roystonea oleracea

> 12m

Irrelevante

10 -15 m Até 20

Irrelevante

Latânia Washingtonia

Latania verschaffeltii Washingtonia filifera

Irrelevante


125

Aroeira

52 Schinus

5 -10m

Irrelevante

10 -13m

Irrelevante

3 – 4m

Vermelha e amarela

Tabebuia heptaphylia

10-20m

Rosa

Jacarandá mimoso

Jacaranda mimosifolia

Até 15m

Roxa

Quaresmeira

Tibouchina granulosa

8 – 12m

Roxa

Sibipiruna

Caesalphina peltophoroides

8-16m

Amarela

Amora preta

Morus nigra

7 -12 m

Irrelevante

Cajuzinho do cerrado

Anacardium humile

4 – 8m

Irrelevante

Ingá feijão

Inga marginata

5 -15 m

Branca

Jamelão

15-20m

Irrelevante

Mangueira

Syzygium cumini Mangfera

-

Irrelevante

Mexirica

Citrus deliciosa

3 – 8m

Irrelevante

Pequi

Caryocar brasilense

6 – 10m

Irrelevante

Pitanga

Eugenia uniflora

6-12m

Irrelevante

Tamarindo

Tamarindus indica

10 -15m

Irrelevante

Guariroba

Sygarus oleracea

4 – 7m

Irrelevante

Palm. imperial

Roystonea oleracea

> 12m

Irrelevante

10 -15 m Até 20

Irrelevante

47

terebinthifolius Terminalia catappa

Chapéu de sol 3

52

Flamboyant de jardim

48

2 47 46 52

Ipê rosa

1

49

55

Latânia Washingtonia

Caesalpinia pulcherrima

45

Latania verschaffeltii Washingtonia filifera

49

47

45

Curculigo

45

53

Renda portuguesa Costela de adão

53

Curculigo 1m capitulata Davallia fejeensis 80cm Hook.

4080cm 20-40 cm

Meia sombra

Monstera deliciosa

1,5m

Meia Sombra

11,5m

Meia sombra

55

Irrelevante

Açafrão da terra Curcuma longa Taioba

Alocasia macrorrhizos

Taioba roxa

Xanhosoma violaceum

Inhame chines

Colocasia esculenta

30-50 cm

3060cm

Orelha de lebre/ Stachys Peixinho byzantina

1 2 3

PLANTA BAIXA: JARDINS

Pista de caminhada Ciclovia Microambientes

4080cm 0,81,4m

Pleno sol

2040cm

Pleno sol

Pleno sol/meia sombra 60-1,1m Pleno sol/meia sombra 40Pleno 70cm sol/meia sombra


126


127


128

10

13

31 13 13

33

16

25

6 15

14

33 36

34

14

34 5

43 16

5 43 5

4 4

13

5

IMPLANTAÇÃO: ACESSO 3

Delonix regia

5 – 10m

Vermelha e amarela

Flamboyant de jardim

Caesalpinia pulcherrima

Até 12m

Vermelha e amarela

Gameleira

13 33

Flamboyant

5

-

-

-

Caesalphina 8-16m peltophoroides Morus nigra 7 – 18m

Amarela

Araçá amarelo

Psidium cattleianum

1-9m

Irrelevante

Cajuzinho do cerrado

Anacardium humile

4 – 8m

Irrelevante

Mangueira

Mangfera

-

Irrelevante

Areca bambu

Dypsis lutescens

3 – 9m

Irrelevante

Coco da Bahia

Cocos nucifera

Até 30m

Irrelevante

Dendê

Elaeis guineensis

Até 15m

Irrelevante

Palm. imperial Pau formiga

Roystonea oleracea Tripalis brasiliana

> 12m

Irrelevante

10 - 20m

Flor rosa

Sibipiruna Amora preta

Irrelevante


Flamboyant

Delonix regia

5 – 10m

Vermelha e amarela

Flamboyant de jardim

Caesalpinia pulcherrima

Até 12m

Vermelha e amarela

Gameleira

-

-

-

Caesalphina 8-16m peltophoroides Morus nigra 7 – 18m

Amarela

Araçá amarelo

Psidium cattleianum

1-9m

Irrelevante

Cajuzinho do cerrado

Anacardium humile

4 – 8m 50 Irrelevante 51

Mangueira

Mangfera

-

Irrelevante

Areca bambu

Dypsis lutescens

3 – 9m

3

Irrelevante

Cocos nucifera

Até 30m

Irrelevante

Dendê

Elaeis guineensis

Até 15m

Irrelevante

Palm. imperial Pau formiga

Roystonea oleracea Tripalis brasiliana

> 12m

Irrelevante

10 - 20m

Flor rosa

Sibipiruna Amora preta

Coco da Bahia

1

129

Irrelevante

4

Taioba

Alocasia macrorrhizos Xanhosoma violaceum

3060cm

601,1m 4070cm

Pleno sol/meia sombra

Sombrinha chinesa

Cyperus alternifolius

40cm/ 80cm

0,51,1m

Pleno sol

Papiro

Cyperus giganteus

60/ 1-1,5m

1,52,5m

Pleno sol

Renda portuguesa

Davallia fejeensis Hook.

80cm

20-40 cm

Meia sombra

Costela de adão

Monstera deliciosa

1-1,5m

1,5m

Meia Sombra

Taioba roxa

1 2 3 4 PLANTA BAIXA: ACESSO 3

Quadra poliesportiva Arquibancada Redes Jardim de retenção


130

3


131

1


132


133

8. Considerações finais É possível afirmar após toda a pesquisa, levantamento histórico, levantamento in loco e análises, que o sistema de áreas verdes do Setor Sul não teve oportunidade de exercer sua função projetual. E por isso hoje encontra-se em processo de degradação. O projeto da praça F40 surge então como comprovação da possibilidade da transformação dessas áreas. Para isso é necessário a integração dessas áreas com a vizinhança imediata e os diferentes usos que a cercam, e a malha urbana na cidade. As praças devem ser vistas como oportunidades de transformação da região central de Goiânia. E dessa forma, possibilitar que o antigo sonho moderno da cidade jardim se torne realidade


134

Bibliografia: • Livros

ALVARES, Geraldo Texeira. A luta na epopéia de Goiânia: uma obra de engenharia nacional. Jornal do Brasil, 1942. CHAUL, Nars N. Fayad. A construção de Goiânia e a transferência da capital. Editora UFG, 1999. CHOAY, Françoise. O Urbanismo. 3ª edição. São Paulo: Editora Perspectiva S.A., 1992 CORDEIRO, Narcisa Abreu; QUEIROZ, Normalice Maria de. Goiânia: Embasamentos do Plano Urbanístico Original. Goiânia, 1990. GONÇALVES, Alexandre Ribeiro. Goiânia: uma modernidade possível. Brasília, 2003. GRAEFF, Edgar de Albuquerque. Goiânia 50 anos. Brasília: MEC-SESU, 1985. HOWARD, Ebenezer. Cidades Jardins de Amanhã. Traduzido por Marco Aurélio Lagonegro. Introdução de Dacio Araújo Benedicto Ottoni. São Paulo: Hucitec, 1996. LEME, Maria Cristina da Silva. Urbanismo no Brasil. USP, 1999. LORENZI, Harri. Árvores Brasileiras - Volume 1. Instituto Plantarum, 2014. LORENZI, Harri. Árvores Brasileiras - Volume 2. Instituto Plantarum, 2014. LORENZI, Harri. Plantas para Jardim no Brasil. Instituto Plantarum, 2013. LORENZI, Harri. Frutas brasileiras e exóticas cultivadas. Instituto Plantarum, 2006. LORENZI, Harri. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil. Instituto Plantarum, 2014. MONTEIRO, Ofélia Sócrates do Nascimento. Como Nasceu Goiânia. Empresa Gráfica


135

da “Revista dos Tribunais”, 1938. RIBEIRO, Maria Eliana Jubé. Goiânia: os planos, a cidade e o sistema de áreas verdes. Universidade Católica de Goiás, 2004. SUN, Alex. Projeto da praça: Convívio e exclusão no espaço público. São Paulo: Senac, 2011. • Teses e artigos: ACKEL, Luiz Gonzaga Montans. Attílio Corrêa Lima: uma trajetória para a modernidade. São Paulo: USP, 2007. DAHER, Tânia. O projeto Original de Goiânia. Revista UFG, ano XI, nº6, 2009. IPHAN. Goiás (GO). Acessado em 15/06/2016. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/ pagina/detalhes/362. MANSO, Celina Fernandes Almeida. Amando Augusto de Godoy – Engenheiro Urbanista Brasileiro (1876-1944). V Seminário de História da Cidade do Urbanismo. 1998. MOTA, Juliana Costa. O Setor Sul em Goiânia: o espaço público abandonado. 3º Seminário DOCOMOMO: São Paulo, 1999. MOTA, Juliana Costa. Planos Diretores de Goiânia, década de 60: A inserção dos arquitetos Luís Saia e Jorge Wilheim no campo do planejamento urbano. USP: São Carlos, 2004. Project for Public Spaces. What Makes a Successful Place? 2009. Disponível em: https:// www.pps.org/reference/grplacefeat/. Acessado em: 20/01/2017.


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