Utiilidades bibliográficas e outras utilidades domésticas para o ambiente da informação

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UTIILIDADES BIBLIOGRÁFICAS E OUTRAS UTILIDADES DOMÉSTICAS PARA O AMBIENTE DA INFORMAÇÃO [Setembro/2004]

Este texto é um breve comentário sobre a importância que as ações cooperativas tiveram para o melhor aproveitamento das tecnologias no ambiente da informação. Procura salientar que, atualmente, com a Internet os recursos cooperativos ganham um novo dinamismo. Até mesmo a disponibilização de conteúdos digitais possibilitam nova coloração aos serviços e a utilidade dos bibliotecários. Desde a graduação, aprendemos sobre o trabalho pioneiro de Charles Ami Cutter e Charles Jewett, entre outros, no que se refere à catalogação cooperativa. Através do contato com o trabalho destes bibliotecários, tomamos conhecimento da formação dos sistemas bibliográficos cooperativos no mundo. Como modelo de sucesso, é citado a comercialização das fichas catalográficas, realizada pela Library of Congress (LC), desde o final do século 19 e seus desdobramentos para a evolução da catalogação cooperativa na área da biblioteconomia. O advento dos computadores pelas bibliotecas, evidenciou que sua melhor aplicação nos serviços de informação dependeria de oferta de recursos externos (produtos e serviços bibliográficos). Neste aspecto, à medida que o uso das tecnologias computacionais amplia seus domínios no espaço bibliotecário, reestruturando processos e atividades, especialmente a catalogação, surgem as ofertas e compartilhamento de recursos bibliográficos. Neste momento, vão se constituindo as utilidades bibliográficas. Basicamente, uma organização que fornece acesso a um banco de dados bibliográfico e sistemas de recuperação de informação, diretamente para qualquer biblioteca associada ou através de uma rede central de serviços. Normalmente, o acesso aos seus recursos se opera por meio de uma interface proprietária. A finalidade deste serviço é possibilitar a elaboração da catalogação original de um item bibliográfico e colocá-lo à disposição para o uso de outros assinantes do sistema. As utilidades bibliográficas tradicionais começaram voltadas, não para a aplicação no serviço de referência, mas sim como apoio às atividades de tratamento técnico e de automação de acervos bibliográficos. As principais utilidades bibliográficas surgem nos Estados Unidos, oferecendo produtos e serviços às bibliotecas filiadas, por meio de intercâmbio de fitas magnéticas ou acesso via terminal conectado a um computador central. Deste acesso, as bibliotecas extraiam os dados para catalogação, podendo modificálos ou adaptá-los às suas necessidades locais e mesmo gerar fichas impressas ou outros produtos bibliográficos. Neste sentido, alguns serviços surgiram, tornaram-se conhecidos e desapareceram ou foram incorporados por outros fornecedores. Destes serviços, menciono resumidamente, sem pretender aprofundamento histórico, alguns exemplos de utilidades: " BALLOTS (Bibliographic Automation of Large Library Operations using a Time Sharing System), foi o nome adotado até 1978 quando muda para RLIN (Research Libraries Information Network). Utilidade bibliográfica desenvolvida pela Universidade de Stanford (anos 60) como um sistema integrado de processamento e compartilhamento de informações bibliográficas, visando apoiar as operações de tratamento técnico e o processo de automatização das bibliotecas. Em 1976, é comercializado como um serviço de catalogação para usuários de fora da Universidade de Stanford. Em 2004, foi renomeado RLIN 21 para refletir as atualizações e mudanças de infra-estrutura tecnológica. " WLN (Washington Library Network),uma utilidade bibliográfica regional de abrangência concentrada no oeste e noroeste dos Estados Unidos. Também comercializava software para bibliotecas, tendo sido incorporada pela OCLC. " OCLC (Online Computer Library Center). A utilidade bibliográfica de maior sucesso e que revolucionou as bibliotecas com um sistema de catalogação em linha. Criado em 1971. Trata-se de uma cooperativa, semfim lucrativo, formada por bibliotecas, arquivos, e outras instituições culturais que compartilham informações bibliográficas. Originou-se (em 1967) como um centro regional de processamento de dados para as bibliotecas universitárias do estado de Ohio-EUA. Rapidamente, expandiu-se para outras nações do mundo. Atualmente, utilizam seus serviços para localizar, adquirir, catalogar, emprestar e preservar materiais bibliográficos, mais de 45,000 bibliotecas em 84 países. As bibliotecas associadas produzem e mantêm cooperativamente o Catálogo Coletivo On-line: WorldCat (um abrangente banco de dados bibliográfico). Um dos fatores de sucesso da OCLC está nos seus propósitos de acesso a informação mundial e a redução dos custos desta informação. Assim, desde 1989, a entidade tem ampliado seus serviços com ênfase na infra-estrutura das telecomunicações e na viabilização econômica dos serviços de informação. No Brasil, é significativo o número de organizações associadas, principalmente as universidades públicas. Também no Brasil há utilidade bibliográfica, a mais conhecida é o Bibliodata, antigo Bibliodata/CALCO, projeto nacional pioneiro na consolidação de uma rede cooperativa de catalogação e de compartilhamento de recursos bibliográficos baseado no formato MARC. Reúne 54 bibliotecas de diversas instituições, com


maior destaque para as universidades. Sobre a história e evolução deste serviço, acessar o endereço: http://www2.fgv.br/bibliodata/geral/modelos/historico.htm. Este projeto nacional é resultado do trabalho desenvolvido por figuras como o de Alice Príncipe Barbosa que desenvolveu esforços relevantes em prol dos processos de tratamento da documentação bibliográfica através do estabelecimento de programas de cooperação entre bibliotecas. Este esforço foi representado, inicialmente, na atuação do SIC (Serviço de Intercâmbio de Catalogação) criado nos anos 40 junto ao DASP (Departamento Administrativo do Serviço Público), adotando o modelo da LC, era responsável pela parte técnica de revisão das fichas catalográficas, em convênio com o Departamento de Imprensa Nacional, responsável pela impressão, distribuição e venda das fichas bibliográficas. Posteriormente, o SIC foi transferido para o antigo IBBD (Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação), atual IBICT. A importância fundamental destes recursos está no fato de que se uma instituição decidir criar um registro catalográfico ou metadados (expressão moderna), para sua coleção, tem ela a opção de se associar e contribuir com seus registros para uma utilidade bibliográfica. Se, no início, os recursos providos pelas utilidades destinavam-se com maior ênfase a determinados setores ou atividades de uma biblioteca, como o advento das redes eletrônicas, novas possibilidades surgem beneficiando a atividade de organização, disseminação e acesso à informação. O desenvolvimento de protocolos de comunicação como o Z39.50 permitiu que os processos de tratamento técnico fossem agilizados e dinamizados, com os catálogos bibliográficos deixando de ser meros índices de acervos para servirem como recursos de compartilhamento de informação. Algumas utilidades bibliográficas adaptaram-se aos novos tempos de intercâmbio de informação, impulsionados pelas tecnologias de informação e comunicação - TIC. Ampliando, diversificando ou criando produtos de interesse aos serviços de informação. Neste contexto das mudanças, recordo-me que na instituição em que exercia a atividade de bibliotecário tinha como atribuição, realizar levantamentos bibliográficos com vistas a subsidiar os projetos institucionais. Para o desempenho desta atribuição (período pré-internet), circulava por várias bibliotecas compilando, manualmente, registros bibliográficos em catálogos de ficha impressa. Nesta época (anos 80), era um modelo pouco aperfeiçoado do protocolo Z39.50. Com a evolução tecnológica, os bibliotecários com estas atribuições acabaram em desuso (por assim dizer). Atualmente, qualquer bom software para automação de bibliotecas ou para geração de referências bibliográficas deve implementar este protocolo de comunicação, permitindo elaborar uma representação descritiva ou uma bibliografia temática para pesquisa, com qualidade. Se as utilidades bibliográficas cumprem um papel importante para os processos bibliotecários, outros recursos e/ou sites encontrados na Rede, transformam-se agora em uma nova forma de utilidades, ao dispor conteúdos úteis para as atividades das bibliotecas. É observável o surgimento e rápido crescimento do número de publicações eletrônicas de acesso aberto, no mundo e em nosso país. As bibliotecas podem dispor de um novo tipo de utilidade composta de artigos científicos de livre acesso. Assim, as bibliotecas podem agregar valor aos serviços prestados aos seus usuários. Podem filtrar, selecionar e indexar os artigos desses periódicos e das bases de teses eletrônicas ou organizarem, no disco rígido dos seus servidores, um acervo de links e/ou de conteúdos digitais. O acervo bibliográfico tradicional pode, agora, ser acrescido de novos títulos sem maiores custos de assinatura ou aquisição, a não ser a obrigatoriedade de aprimorar os canais de disseminação e divulgação das fontes utilizadas e do material digital coletado ou utilizado, colaborando para sua maior visibilidade. Portanto, uma biblioteca ao estruturar seus serviços e produtos de informação, explorando conteúdos digitais de acesso livre de qualidade, transforma os mesmos em utilidades. Neste sentido, algumas utilidades de informação importantes são o portal da Bireme e o repositório do Scielo com sua base de periódicos de acesso aberto, fundamental para visibilidade da ciência dos países em desenvolvimento. O portal do MEC (Ministério da Educação), "Domínio Público" que oferece acesso a obras literárias, artísticas e científicas para consulta gratuita de interessados. Até mesmo para a atividade de catalogação, algumas fontes são contribuições importantes para as bibliotecas. É o caso do CRUESP (Portal dos Sistemas de Bibliotecas das Universidades Estaduais Paulistas), um modelo cooperativo de trabalho biblioteconômico. Outra utilidade que contribui para diversas aplicações nas bibliotecas é o portal da Biblioteca Nacional. Além desta, pode-se citar o site do IBICT, que oferece uma gama de produtos e serviços para a comunidade de informação e do qual podem ser citados a disponibilização de softwares para criação de repositórios de Open Archives ou de sistemas para criação de revistas científicas eletrônicas, ou simplesmente construção de bibliotecas digitais, baseados em padrões internacionais. Nota-se, nos tempos atuais, que apesar da complexidade da organização e difusão da informação impressa e digital (cada vez mais volumosa e diversificada), a atividade bibliotecária deixa de ser solitária para ser mais e mais solidária.


A cultura individualista e reservada dos serviços de informação vai cedendo lugar a uma cultura de compartilhamento, de cooperação entre pares e de colaboração com outras profissões, na busca de soluções para a complexidade das informações e das possibilidades tecnológicas. Mesmo as ferramentas de busca existentes na web, transformam-se em utilidades de recuperação e acesso à informação, não só para os internautas, mas também para os serviços de informações. O exemplo do Google, citado na imprensa mundial, ilustra as mudanças ao ir mais longe nas parcerias com as bibliotecas. O Google acertou acordo com algumas das maiores bibliotecas dos Estados Unidos (Universidades de Michigan, Harvard e Stanford e a Biblioteca Pública de Nova York) e da Universidade de Oxford (Reino Unido) para converter documentos de seus acervos em arquivos digitais, que serão postos na Internet. O projeto batizado de Google Print, deverá tornar acessível, gratuitamente, mais de 16 milhões de livros. Isto é apenas o início da revolução que se espera. Em suma, no desempenho de nossa atividade torna-se comum a elaboração de uma lista de endereços favoritos, úteis e confiáveis de informação. São nossas utilidades pessoais, às quais recorremos mediante necessidades profissionais. Entretanto, apesar de todas as inovações tecnológicas e da facilidade de acesso à informação, nós bibliotecários temos renovado nossa própria utilidade social, até mesmo no uso doméstico, apoiando as necessidades de informação dos próprios familiares. Autor: Fernando Modesto Fonte: http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo_print.php?cod=204


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