Caderno tgi 2 juliana barberio

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Entre praรงas e percursos

COMISSร O DE ACOMPANHANTE PERMANENTE: David Sparling Joubert Lancha Lucia Shimbo Luciana Shenk ORIENTADOR: Simone Vizioli CO-ORIENTADOR: Joubert Lancha


Entre praças e percursos Revitalização do centro de São Carlos

Juliana Schiavone Barberio Trabalho de Graduação Integrado I

Novembro/2016 IAU-USP


Entre praรงas e percursos

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Banca Examinadora

Prof. º Dr.º Joubert José Lancha

Prof.ª Dr.ª Simone Helena Tanoue Vizioli

Conceito final: Data:

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Agradecimentos

Primeiramente agradeço a Deus. A todos os professores que dividiram seus conhecimentos ao longos destes anos e, em especial, ao Joubert e Simone pela dedicação e paciência. Aos meus grandes amigos da turma 2011 por todos os momentos compartilhados. Aos meus amigos da turma de 2012 que me acolheram com carinho. Aos meus amigos de vida que muitas vezes me distrairam de qualquer imprevisto no caminho. Ao meu namorado Ralfo, por todo companheirismo, paciência e teimosia que muitas vezes me ajudou a refletir. E à minha família que me permitiu ter uma boa educação e vivenciar muito amor imprescindíveis para alcançar esta vitória. 7


Entre praças e percursos

Resumo Este caderno apresenta resultado e processo do trabalho de graduação integrado realizado ao longo do quinto ano do curso de Arquitetura e Urbanismo do IAU-USP São Carlos. Tem como intuito repensar a produção arquitetônica atual, fruto do movimento moderno, e expor outros modos de pensá-la a partir do usuário como protagonista no cenário da cidade. Toda a inquietação se inicia a partir de uma vivência de espaço público diferente da habitual, que coloca em questão o papel do arquiteto não só como de autor do espaço físico, mas também autor das relações intrasubjetivas deste espaço. Porque as cidades não são experimentadas? Assim, a partir do estudo do papel do movimento moderno na produção das cidades e posterior crítica à ele, chega-se a Jane Jacobs como AUTORA de um pensamento que coloca o sujeito como protagonista no processo de produção do espaço público. E nesse contexto surge a ideia da “urbanidade”, como uma necessidade subjetiva da cidade. E, como manifestação mais atual destes pensamentos, há o PLACEMAKING, um processo de planejamento e criação de espaços públicos que propõe a criação de espaços mais habitáveis e maior convívio entre conhecidos e desconhecidos. Todas estas ideias pareceram-me pertinente com meu direcionamento de trabalho, principalmente no que tange a produzir espaços mais atrativos, pensando na escala do usuário. A área escolhida para a intervenção é o centro de São Carlos - SP, mais precisamente as quatro praças que formam a “baixada do mercado”, por onde passa o Córrego do Gregório e está situado o Mercado Municipal. Tal área mostra potencialidades pela sua história e localização, mas que, no entanto, não são aproveitadas como poderiam além de serem desconexas umas das outras e com a cidade.

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Assim surge um projeto que, não só une o conjunto de praças, mas atua como espaço atrativo em âmbito municipal, que seja ponto de encontro entre conhecidos e desconhecidos e faça com que a experiência do estar/caminhar no centro da cidade seja prazerosa. Para além do espaço físico, há uma tentativa de promover experiências e relações e conformar uma nova urbanidade. PALAVRAS CHAVE: SOCIABILIDADE - DIVERSIDADE - CONEXÃO ATRAÇÃO URBANIDADE

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Índice 13 14 16 18 24 27 28 36 38 42 45 46 48 49 50 52 54 64 72 78 84 86

INTRODUÇÃO De "lá" pra "cá" Inquietações Contextualização Universo projetual LOCAL São Carlos Local do projeto Situação Córrego do Gregório PROJETO Diretrizes Nuvem de Palavras Modificações Implantação Corte Praça do Mercado Praça dos Voluntários Praça Pedro de Toledo Praça de Esportes Perspectiva Geral Bibliografia

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Introdução 13


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De "lá" para "cá"

Tudo começou quando fui experimentar a vida em outro país, Espanha. Não era só outro país. Era outra cultura, outras pessoas, outro clima, outra cidade, ou melhor, outra concepção de cidade. Lá eu pude desfrutar da cidade como ela é: percorrer suas ruazinhas, sentir seus edifícios, me apropriar de um pedaço de grama a beira do rio, tomar um sorvete na praça, ir a faculdade de bicicleta, entre outras mil coisas das quais eu passaria muito tempo descrevendo. Mas o mais importante é que ali eu tive uma experiência de espaço público que até então eu nunca tinha vivido. A cidade de "lá" e a cidade de "cá" traziam semelhanças (embora também tenham suas particularidades, claro). Ambas têm um rio, uma catedral, um mercado municipal, uma praça central. Mas penso que a maior diferença era que "lá" todos esses lugares estavam frequentados por diferentes tipos de pessoas, com diferentes usos, em diferentes horários. As ruas eram cheias também, mas de pessoas, bicicletas, artistas. Era muito mais agradável ir caminhando do que de ônibus. Sair à rua era um passeio, um convívio, uma experiência da qual sinto falta. Voltar para "cá" ao mesmo tempo que me deixou com saudades daquilo, também me trouxe um desejo de poder sentir essa experiência e compartilhá-la "aqui". E hoje quando sou questionada sobre o que me inquieta de tudo o que aprendi e vi ao longo da faculdade, logo me vem em mente: porque o que eu vivi "ali" eu não posso viver "aqui"? O que eu posso fazer para melhorar a experiência de espaço público? 14

Plaza del Salvador, Sevilla. Margens do Rio Guadalquivir, Sevilla.


INTRODUÇÃO

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Inquietações Pensar arquitetura é muito mais complexo do que se pode imaginar. Envolve não apenas o ato de projetar um espaço, mas sim projetar as relações intrasubjetivas, os encontros e desencontros, o passeio aos finais de semana, o happy hour com os amigos, o bate-papo de dois senhores, a corrida de velotrol entre dois irmãos, enfim, ser arquiteto é pensar a cidade a fim de que ela seja cenário vivo no cotidiano das pessoas. Pensar o espaço público como lugar de cultura urbana, configurado através de valores coletivos, que envolva o convívio com opostos, a diversidade, trocas. A atualidade traz, em contrapartida, um cenário de distanciamento do homem com a experiência da cidade. O planejamento urbano parece voltar-se primordialmente a um funcionalismo e interesses econômicos e políticos, que acabam minimizando a importância do espaço público como espaço de convivência na vida das pessoas. A cidade é feita pra quem? Hoje, ela não se adequa mais ao usuário. É preciso voltar a atenção para as necessidades subjetivas e para a memória coletiva. Ao pensar a cidade atual e as possibilidades de ações arquitetônicas, me questiono de qual o papel social do arquiteto nessas cidades? Como tornamos os espaços mais habitáveis? Como o arquiteto pode atuar na cidade de modo que configure espaços que promovam a interação social, a convivência e o lazer? Como a rua pode tornar-se uma extensão da casa? 16

Biblioteca e Centro Comunitário Pincha, China (archdaily.com). Biblioteca de Artes Visuais, São Carlos


INTRODUÇÃO

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Contextualização

O espaço público sempre foi lugar de encontro, de comércio e de circulação. Antes, quando tudo era feito a pé, as relações eram muito fortes neste espaço. O espaço público é aqui entendido como lugar de uma cultura urbana compartilhada, baseada em valores coletivos, envolvendo o convívio entre opostos, diversidade e este espaço como cenário ativo na vida das pessoas. Mas, com novos padrões de comércio, tráfego e circulação a tradição das ruas passou por uma grande transformação. Com o advento do automóvel as cidades ganharam outra configuração, que aos poucos foi perdendo essa característica da rua como encontro. As feiras abertas foram substituídas por centros comerciais fechados ao exterior e principalmente à vida pública, isolados e indiferentes.Também com a informatização dos meios de comunicação, o encontro físico já não se fazia necessário. Todas estas transformações mudaram o papel tradicional das cidades. Além disso, o Modernismo, como principal planejador, não priorizou o pedestre e se esqueceu do espaço público como local de encontro. Os veículos roubaram o espaço das ruas e das praças. O espaço público está inóspito, cercado por grades, muros, estacionamentos. Andar a pé não é algo agradável e permanecer no espaço público muito menos. As pessoas caminham porque necessitam e não porque desejam, e este estar se torna tão desagradável que os centros são evitados ao máximo. As cidades se tornaram cenários de relações de poder, de desigualdade social, arquitetônica e principalmente de falta de respeito com o indivíduo enquanto cidadão. Cenários que estão cada vez mais desagradáveis. 18

Marginal Tietê, Sâo Paulo (google.com). Muro pichado na cidade de São Carlos.


INTRODUÇÃO

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Foi em meio ao reconhecimento do fracasso da produção moderna, tendenciosa ao desurbano, que surge uma questão de uma necessidade subjetiva da cidade, mais conhecida como urbanidade. A noção de urbanidade envolve certa intensidade de interações sociais, remetendo-se ao conceito de vitalidade urbana. Conceito este tratado em "Morte e vida das grandes cidades" de Jane Jacobs. Foi com a publicação deste livro que todo o questionamento ao modo de produzir cidades do Movimento Moderno ganha força. A autora humaniza as cidades, transformando o modo como elas são analisadas e alertando aos prejuízos causados pela produção moderna para a qualidade urbana. Ela critica a não valorização da escala humana e a indiferença às necessidades de cunho social. A cidade para ela é um realidade viva e pulsante, que está em constante movimento e o protagonista é o cidadão e que deve conter uma diversidade de usos densa e complexa, que gere este ambiente vivo. Isto, através de 4 condições que a autora coloca: multiplicidade de funções, ampla possibilidades de percursos, edifiícios com idades diferentes, através de velhos espaços para novos usos, e alta densidade de pessoas, como forma das pessoas se sentirem seguras diante dos desconhecidos . Assim, ela defende um planejamento urbano que se comunique diretamente com a vida cotidiana e com os usos já existentes ali. Em suma, todas as questões que a autora levanta contribuem para a descrição de espaços que não favorecem, e até desestimulam, a circulação das pessoas e os contatos entre elas. E são nesses espaços desestimulantes que faltam urbanidade, espaços estes que de algum modo não acolhem as pessoas. A urbanidade, de algum modo, vem da cidade, do edifício, da rua e é apropriada pelo indivíduo pessoalmente ou coletivamente. Assim, ela está nessa maneira de apropriação pelas pessoas, seja na escala da cidade ou do edifício. 20

Ilustração de James Gulliver Hancock, em comemoração aos 100 anos de Jane Jacobs (ciudadesaescalahumana.org)


INTRODUÇÃO

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Kevin Lynch também contribui nesse momento, quando defende que as pessoas e suas atividades, os elementos móveis, são mais importantes que os elementos fixos. Para ele o urbano é um conjunto de "sequências espacias", isto é, cenas conformadas pelos edifícios e os usuários, colocando lado a lado elementos físicos (espaços públicos e edifícios) em prol de elementos animados (pessoas), tidos como protagonistas na construção da urbanidade. Gordon Cullen também se destaca na medida em que propõe um estímulo à percepção da cidade, pois esteja o sujeito no espaço que for e em qualquer velocidade de apreciação, pode fruir poéticas urbanas nem sempre valoradas. A ideia da visão serial de Cullen, incita o surgimento de um novo observador mais atento às emoções e aos espaços urbanos. A reverberação mais atual destas ideais é o conceito de Placemaking traduzindo: criação de lugares. A própria Jane Jacobs serviu de inpiração para os criadores deste conceito que surgiu nos anos 80, nos Estados Unidos, pautados nos estudos de William Holly Whyte e fruto da organização Project for Public Space. Ele é um processo de planejamento, criação e gestão de espaços públicos, que propõe a criação de espaços mais habitáveis, de maior convívio entre conhecidos e desconhecidos, que estimulam interações entre as pessoas em si e entre as pessoas e a cidade, tornando os lugares mais atrativos e hospitaleiros e promovendo comunidades mais saudáveis e felizes. Além de desenhar o espaço público, a ideia é estruturar a criação de atividades e conexões culturais, sociais, ambientais, econômicas que definam um espaço e dão suporte para que ele evolua como tal. De acordo com Whyte, o que atrai pessoas são outras pessoas. 22

Esquema do Placemaking (www.projectforpublicspaces)


INTRODUÇÃO

Para esse movimento, o espaço público alcançaria o sucesso através de 4 pontos: acessos e conexões, sendo aberto a comunidade, acessível e conveniente; conforto e imagem, através de árvores, bancos e sensação de segurança; usos e atividades, com diversidade de usos e motivos para os quais as pessoas vão até aquele espaço; sociabilidade, interagindo entre desconhecidos e desenvolvendo um pertencimento ao local.

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Universo projetual

Comiga, eu trouxe do meu intercâmbio, uma ideia de Mercado diferente da presente em São Carlos, mas próxima ao Mercadão de São Paulo. O mercado não só de compras, mas também com restaurantes e vida pública. Os mercados europeus são pontos de encontro, atrativos turísticos, enfim, tem grande significado e marco para as cidades. O mercado municipal de São Carlos, inicialmente se detisnava apenas ao comércio alimentício. Mas com o tempo, foi perdendo essa característica, também destinando-se ao comércio de piratarias, roupas, eletrônicos. Essa transformação foi uma perda para a cidade como um todo, que desde 1900 tem essa memória do mercado, de ponto de encontro, e hoje parte da população já não o frequenta tanto por não oferecer uma atmosfera convidadita e não muita variedade de lojas destinadas à alimentos. A ideia do projeto é revitalizar um símbolo da cidade, revivendo gastronomicamente a região. Essa remodelação envolve não só o mercado como edifício, mas o entorno como um todo, e principalmente a praça em frente ao mercado. Como no caso do Largo do Mercado de Florianópolis, projeto de Vigliecca e associados, que requalifica uma área central subutilizada. Essa intervenção do entorno ocasionou uma mudança no ambiente no qual o mercado está inserido, atingindo-o também. 24

1. Convent garden, Londres (pinterest.com) 2. Mercado de São Pauloa (google.com); 3. Mercado San Miguel, Madrid (pinterest.com); 4. Largo do Mercado de Florianópolis, Vigliecca e associados (vigliecca.com.br).


INTRODUÇÃO

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Local 27


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São Carlos

Estado: São Paulo Área total: 1.141 km2 Área urbana: 67,25 km2(6% da total)

O meu "aqui", onde quero propor um novo cenário é São Carlos, cidade que eu nasci e cresci. São Carlos está localizado no interior do estado de São Paulo, na região Centro-Leste, a uma distância rodoviária de 230 quilômetros da capital paulista. 28

Mapa vias de São Carlos. Mapa de conexões através de eixos principais.


LOCAL

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Em 1831, com a demarcação da sesmaria do Pinhal que a história da cidade teve início. Mas foi em 1857 quando a primeira capela da cidade foi construída, onde atualmente é a Catedral, que a cidade se fundou. A cidade se formou com a expansão cafeeira paulista, consagrada no final do XIX e início do XX. Com a chegada da ferrovia em 1884, a economia da região passou por um grande crescimento. Geograficamente a ferrovia guiou o traçado urbano em seu sentido, destoando daquele central da cidade, criado ortogonalmente ao cruzamento da atual Avenida São Carlos (antes Rua da Ponte) com o córrego do Gregório. O centro da cidade, nesse momento, ganha importância política e econômica. Ele era povoado pela elite, por conter a Igreja e o Jardim Público, inaugurado a fim de "educar os sentimentos e descansar o espírito". Foi com a crise cafeeira, em 29, que a urbanização se acelerou com intenso êxodo rural e acabou por configurar um traçado heterogêneo da malha urbana. Historicamente as elites rurais tiveram enorme influência sobre o desenvolvimento da cidade, provendo-a de equipamentos urbanos e eventos, tais como o Teatro Ipiranga (que foi demolido para construir a Praça Coronel Sales) , distribuição de água por meio de chafarizes em 1889, inauguração do Mercado Municipal, em 1907, serviço de bondes que começou a funcionar em 1914. Em 1911, com a instalação de uma Escola Normal, influenciou também para que a cidade tivesse destaque tecnológico em relação à outras. No entanto, a evolução por qual a cidade passou, com a consolidação da indústria depois da crise cafeeira e mais tarde a instalação de duas grandes universidades, que transformaram a cidade em um importante eixo tecnológico, não foi acompanhada no âmbito dos espaços públicos. Atualmente se vê uma degradação dos mesmos, fisicamente e simbolicamente. Também é notável a pequena presença de equipamentos culturais públicos na cidade, somando apenas 5 com esse enfoque. 30

Mapa de expansão urbana de São Carlos. Mapa com equipamentos culturais (em amarelo) e pontos de funcioanemento noturno (roxo).


LOCAL

Funcionamento noturno Equipamento cultural

1857 - 1929 1889 - 1893 1894 - 1929 sem data 1930 - 1959 1960 - 1977 1978 - 1969 1990 em diante

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O centro da cidade de São Carlos, aonde encontra-se a maior partes dos equipamentos culturais, além de edifícios históricos e consideráveis espaços públicos, atualmente encontra-se funcionalizado. A baixa densidade habitacional, já que em seu processo de expansão a cidade cresceu rumo à periferia, somada a grande presença de edifícios comerciais e de serviços, acabaram por alterar as características do centro. Assim, há um alto fluxo de pessoas durante o horário comercial, em contrapartida ao baixíssimo fluxo durante a noite e finais de semana, resultando em um problema de insegurança e medo nas pessoas para nesses períodos. O centro se constitui através do eixo formado pela Avenida São Carlos, que liga a cidade norte a sul e é marcado por diversas camadas que se formaram ao longo da história da cidade. Esse eixo é composto por praças e edifícios históricos, formando um sistema. Historicamente ele foi marcado por concentrar a vida pública da cidade. No entanto atualmente, com todo esse planejamento moderno que restringiu os espaços de convívio a lugares fechados e isolados, a área central acabou perdendo essa qualidade de espaço de convívio público. Além do que há falta de atrativos na região para que as pessoas possam utilizar aquele espaço. Os que existem se restringem ao uso diurno e alguns eventos que acontecem em datas específicas. Fora isso, as praças centrais servem apenas como local de passagem, servindo como local de estar a uma pouca minoria. Embora os equipamentos culturais de São Carlos estejam concentrados no centro, eles são poucos e menos ainda os que funcionam durante a noite, como por exemplo, o Teatro Municipal e o Cine São Carlos. 32

Mapa de monumentos ao longo do centro de São Carlos. 1_ÁLvaro Guião; 2_ Teatro Municipal; 3_Câmara Municipal; 4_Sede Social São Carlos Clube; 5_Paulino Carlos; 6_Palacete Conde do Pinhal; 7_Catedral; 8_CDCC; 9_Palacete Bento Carlos; 10_ Atual Biblioteca de Artes Visuais; 11_Mercado Municipal; 12_Igreja São Benedito; 13_ Estação Ferroviária.


LOCAL

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1928 Praça do Mercado

1800

1884 Largo da Estação

1895 Jardim Público

1900

1883 Praça Coronel Sales

1890 Largo São Benedito

Linha do tempo com as praças centrais de São Carlos.

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LOCAL

1933 Praça dos Voluntários

1938 Largo Santa Cruz

1934 Praça Pedro de Toledo 1934 Praça Pedro de Toledo

1999 Praça Dário Placeres Cardoso Júnior

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Local do projeto

A partir do das inquietações expostas e conhecendo a cidade de São Carlos escolheu-se um local carcaterizado por um acúmulo de tempos e histórias, mas que atualmente deixa a desejar enquanto espaço público de convívio e atividades e que traz um potencial para se tornar como tal. A “baixada do mercado” é composta por 3 praças e uma mais recente esportiva. Esse conjunto, apesar da proximidade, mostra-se fragmentado e desconexo. No entanto devido a fatores históricos e também sua localização, apresenta um grande potencial vinculado às questões anteriormente citadas do espaço público. O local já não parece tão acolhedor, seja por falta de conforto, falta de equipamentos ou simplesmente por não atrair pessoas a ele. Ele carece de diversidade de usos, carece de espaços de estar e carece de troca de relações entre conhecidos e desconhecidos. A vida pública ali só existe em horário comercial e através da passagem e permanência rápida de algumas pessoas, principalmente as que esperam o ônibus, a exceção de eventos cívicos que atraem pessoas de todas as regiões da cidade, mostrando uma vontade latente de uso daquele espaço. Recuperar a vida no espaço público é instigante em vista de vivermos um tempo em que os acontecimentos se passam na esfera privada e onde a surpresa e a função social do encontro caíram em desuso. 36

Foto antiga da baixada do mercado, da cidade de São Carlos (google.com)


LOCAL

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Situação Em 1903 inaugurou-se o primeiro pavilhão do mercado municipal, que se prestava ao comércio de carnes e que se ligava a linha do bonde. Mais tarde, em 1907, ocorreu a construção do segundo pavilhão do mercado, ligado ao comércio de hortaliças. Mas a configuração atual do mercado só ocorreu em 1968 e a partir daí a área destinada a sua praça passou por constantes intervenções devido não só a baixa qualidade do seu uso, mas também por ser um local onde ocorre inundações e alagamentos que acabam por arruinar parte do comércio naquela área. O uso do local está muito voltado à passagem e fluxo das pessoas e pouco voltado ao estar e contemplação. Sua configuração atual prevaleceu por uma grande área seca e pouca arborização, causando um grande desconforto para quem pretender ficar ali, notando facilmente uma intensa busca pelas áreas sombreadas, que são poucas. O mercado, atualmente, perdeu um pouco da sua característica inical Mercado Municipal de alimentos e deu espaço a um comércio voltado a piratarias, objetos eletrônicos, roupas, entre outros. A Praça dos Voluntários foi ajardinada em 1929. Ela, mais confortável que a outra, também tem pouco uso em seu espaço, limitando-se também a servir de passagem a um grande fluxo de pessoas. Apresenta uma ligação subterrânea ao mercado. Os dois pontos de ônibus presentes em seu entorno, aglomera um grande número de pessoas, mas que permanecem ali para esperar o ônibus e nada mais. Sua configuração atual cria certo distanciamento por parte dos usuários e é pouco convidativa. Há, nessa área, a presença do comércio informal de rua, os camelódramos. Eles fazem parte da história do centro da cidade e trazem parte da população para aquele espaço, configurando como uma atração já existente ali. 38

1. Praça do mercado; 2. Corredor do Mercado Municipal; 3. Córrego do Gregório e camelôs; 4. Earth da área (google.com); 5. Praça dos voluntários com detalhe do ponto de ônibus.


LOCAL

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A antiga Praça da Piscina, nesse conjunto, é a menos utilizada e também é fruto de diversas intervenções que também não se sucederam como previstas. Historicamente ela abrigou a piscina municipal e portanto foi de muita importância e extremo uso no momento em que esteve ativa. Depois da sua desativação ela se tornou subutilizada, embora das citadas até agora é a que mais conforto oferece. O seu edifício abriga a biblioteca de Artes Visuais, mas que no entanto não traz um uso constante ao local, nem de dia e nem a noite. A grande característica desta praça é seu ambiente calmo, pois possui um grande gramado, muitas árvores e neste caso a declividade do terreno faz com que o barulho dos carros seja interrompido, tornando o espaço tranquilo em meio a um centro de bastante movimento. A última praça que compõe o conjunto, já é bem consolidada. Para o que ela é destinada, esportes, ela cumpre sua função, já que suas quadras estão sempre recebendo uma partida de futebol ou vôlei. Entretanto ela não tem nenhuma continuidade com as outras praças. Sua configuração pode estabelecer conexão pela proximidade com esse conjunto de praças e oferecer mais um tipo de uso trazendo mais diversidade ao conjunto. 40

1. Praça da Piscina; 2. Edifício da atual Biblioteca de artes Visuais; 3. Praça de esportes (google.com); 4. Earth da área (google. com); 5. Edifício da praça de Esportes.


LOCAL

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O córrego do Gregório

A Bacia do Córrego do Gregório é uma das que compõem a Bacia do Monjolinho, na qual a cidade está inserida. A porção central do município está toda banhado por esta bacia, sendo o córrego de relevância para a cidade, afinal foi nas suas bordas que ela nasceu. Este fato, no entanto, ocasionou uma densa ocupação da área central, com a urbanização intensa ocorrida a partir dos anos 60, a qual desconsiderou áreas de proteção ambiental ou qualquer tipo de tratamento do córrego. Nessa região, o traçado do rio foi totalmente alterado, ficando praticamente retilínio, além de canalizado e tamponado em algumas partes. Essas alterações somadas à alta impermeabilização do solo provovam grandes consequências, fazendo com que ocorram inundações no local, ocasionando grandes destruições e perdas para a população local. Há um conjunto de soluções técnicas que deveriam ser tomadas de modo a impedir que essas inundações ocorram, soluções estas de maior alcance, que não só pontuais, mas a jusante e a montante. No entanto, o presente trabalho não visa propor tais soluções. O projeto aqui atua de modo a evitar que ocorram tais enchentes, propondo espaços mais permeabilizados e alargando o leito do rio. Além disso é necessário modificar e fortalecer a relação da população com o Córrego, estreitando esse laço positivamente e reeducando ambientalmente, de tal maneira que permita uma mudança voluntária do comportamento em relação ao seu tratamento. Nesse sentido o projeto também busca trazer sua lembrança, como uma memória boa e coletiva da cidade, e como elo das praças ali presentes. 42

Enchente recente na baixada do mercado (google. com)Mapa de da Bacia do Gregório com áreas verdes lvres e pontos de alagamento.


LOCAL

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Projeto 45


Entre praças e percursos

Diretrizes Conformar um espaço público com urbanidade envolve questões não só arquitetônicas, mas também sociais, políticas, culturais e econômicas, a fim de que ele atraia pessoas e ofereça boa qualidade no seu caráter público. Nesse sentido, seguindo ideias de Jane Jacobs e do Placemaking, o espaço público para se configurar com plenitude, deve possuir características tais como segurança, conforto, sociabilidade, acessibilidade, diversidade de usos. Somados a isso, as diretrizes iniciais do projeto se pautaram também na observação do próprio espaço, isto é, atentando-se ao que se passa atualmente ali e percebendo detalhes que mostram o que a população busca ou ignora. O propósito inicial é trazer unidade ao conjunto de praças, que atualmente se configura desconexo, formando um eixo horizontal fortalecido por duas passagens subterrânes que ligam as praças, de tal maneira que o percorrer por entre as praças seja um só, atraindo o usuário a ir de uma ponta a outra. A presença do rio é outro ponto forte do projeto, já que nesse sentido se mostra como ligação entre as praças. E , por outro lado, a ideia também é configurá-lo de tal maneira que previna as enchentes que ali ocorrem e torne essa relação rio-população mais harmoniosa. A diversidade de funções é ponto de maior relevância na configuração de um espaço publico efetivo. Ela trás um movimento de pessoas ao longo de todo o dia e também a noite( em contraponto ao cenário noturno vazio do centro) e diversidade de idades e pessoas, todas convivendo em um ambiente público agradável, tornando o espaço um ponto de conexão, encontro e atração de diferentes pessoas. 46


PROJETO

Na implantação acima é possível observar essa diversidade através das intenções de uso pensado em cada área. O Mercado Municipal, que ao longo dos anos se se descaracterizou, foi essencial de modo à reconfigurar um espaço já estabelecido, sem eliminar o atual movimento, apenas atraindo ainda mais as pessoas para aquele espaço. Como foco também se pode citar a atenção voltada á Praça Pedro de Toledo, levando o uso àquele espaço, mas mantendo sua configuração física muito bem arborizada e o edifício histórico presente ali. 47


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Nuvem de palavras

O esquema acima ajudou na maneira de distribuir os usos de acordo com cada praรงa. 48


PROJETO

Modificações

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As principais modificações do local consistem em: 1. Abertura do rio tamponado em frente ao Mercado Municipal; 2. Remoção do prédio do atual mercado municipal, para a instalação de um novo; 3. Transferência do comércio popular (camelôs) para a Praça dos Voluntários; 4. Fechamento da Avenida Comendador Alfredo Maffei, na parte que fica em frente à Praça do Voluntários e à Praça Pedro de Toledo; 5. Alargamento da passagem subterrânea que liga o Mercado Muncipal à Praça dos Voluntários; 6. Abertura de uma passagem subetrrânea que liga a Praça dos Voluntários à Praça Pedro de Toledo. 49


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PROJETO

Implantação

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Corte AA

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PROJETO

Corte AA” 53


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Praça do Mercado

Esta praça, com o projeto, sofre grandes mudanças. A primeira delas é a demolição do antigo prédio do mercado para a construção de um novo, já que ele não atendia às perspectivas da ideia do projeto e também não agregava arquitetonicamente para a cidade. A memória ali estava muito vinculado a sua função como mercado e pouco ao seu espaço físico. Um edifício pouco convidativo, fechado a si mesmo e sem extensão às praças ao redor. Outra grande mudança ali foi a abertura do rio, que atualmente está tamponado naquela área. O rio enche algumas vezes por ano, mas na maior parte do tempo tem um baixo volume de água. A ideia foi (re) abri-lo em uma grande calha que, quando o rio não está cheio funciona como bancos, arquibancada e até um anfiteatro, e, quando chove muito, ele pode se apropriar de todo o espaço, evitando assim enchentes. 54


PRAÇA DO MERCADO

O Mercado, por sua vez, ganha nova conformação sendo a ponta do eixo que liga todas as praças. É composto por dois blocos paralelos, elevados sob pilotis, em que o andar térreo se abre e se envolve totalmente com a praça onde está inserido, formando um único espaço. O pavimento acima, graças ao desnível, se liga diretamente à Rua Jesuíno de Arruda e é fechado com painéis de madeira que apresenta aberturas diversificadas de acordo com a necessidade de maior ou menor luz, dependendo a orientação e o visual. Os dois blocos formam um pátio central com cobertura independente, que fortalece o eixo das praças e aonde desemboca a passagem subterrânea que liga à Praça dos Voluntários. 55


Entre praças e percursos

Planta pavimento tĂŠrreo 56


PRAÇA DO MERCADO

Planta primeiro pavimento 57


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Corte BB’


PRAÇA DO MERCADO

Corte CC’ 59


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Perspectivas

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PRAÇA DO MERCADO

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PRAÇA DO MERCADO

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Entre praças e percursos

Praça dos Voluntários

A Praça dos Voluntários agora funciona como um centro do conjunto de praças e para onde desembocam as duas passagens subterrâneas que unem diretamente esta às outras e convida ao percurso. As saídas das duas passagens subterrâneas são marcadas por uma leve cobertura que se estende um pouco sobre a calçada para funcionar de ponto de ônibus. O comércio informal que antes estava colado ao rio no quarteirão à frente, agora se desloca para o centro da praça, de modo a trazer um novo uso à ela. Em seu grande desnível, ela ganha um conjunto de rampas e arquibancada, onde delicadamente escorre um filete de água trazendo a lembrança do rio. A Avenida Comendador Alfredo Maffei, que divide o rio e a praça, é fechada. Antes ela já não era mais aberta e funcionava apenas como estacionamento para taxis, não ocorrendo prejuízos ao tráfego. Isto se dá para assim poder aumentar a calha do rio e é nesse ponto que ela chega em seu valor máximo, mantendo a mesma função de área de estar e área de alagamento. 64


PRAÇA DOS VOLUNTÁRIOS

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Entre praças e percursos

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Corte DD’


PRAÇA DOS VOLUNTÁRIOS

Corte EE’ 67


Entre praรงas e percursos

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PRAÇA DOS VOLUNTÁRIOS

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Entre praรงas e percursos

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PRAÇA DOS VOLUNTÁRIOS

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Entre praças e percursos

Praça Pedro de Toledo

Das quatro praças esta é a que menos sofreu intervenção. Ela é a mais verde de todas e a que apresente grande potencial de funcionar como área de estar, de contemplação. Nela, como já existe uma Biblioteca de Artes Visuais, no antigo edifício da Piscina Municipal, foi pensado que junto à biblioteca se instalasse uma pequena escola de Artes Visuais, que ofereça cursos gratuitos à crianças, jovens e adultos e que não só utilizasse os ateliers de dentro do edifício, mas também o espaço externo da própria praça. Por isso foi proposto um deck de madeira que também pode servir como palco para aula, apresentações, exposições ou qualquer outro tipo de apropriação. A Avenida Comendador Alfredo Maffei que divide a praça do rio foi fechada para que pudesse ocorrer o alargamento do córrego, em vista de ser facilmente contornada e não alterar de forma significativa o tráfego. O rio nesse momento tem a calha um pouco menor do que nos casos anteriores, no entanto maior que o existente e funciona de uma forma mais singela como bancos e etc. 72


PRAÇA PEDRO DE TOLEDO

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Entre praças e percursos

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Corte FF’


PRAÇA PEDRO DE TOLEDO

Corte GG’ 75


Entre praรงas e percursos

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PRAÇA PEDRO DE TOLEDO

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Entre praças e percursos

Praça de Esportes

Para fechar o conjunto de praças, na praça de esportes foi proposto um redesenho de toda a sua extensão, sem alterar sua função. Então as quadras foram apenas reposicionadas, de modo a ser mais confortáveis, foi adicionado um edifício de apoio mais bem configurado, com vestiários, cantina e sala de jogos, além também de uma área com árvores frutíferas formando um pomar. Houve maior dificuldade em fechar ruas neste caso, então o rio permaneceu como estava. A água, então, aparece no centro da praça em formato de sprinklers que oferece um contato direto, e interessante no caso de ser uma praça de esportes, como conforto. 78


PRAÇA ESPORTES

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Entre praรงas e percursos

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PRAÇA ESPORTES

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Entre praรงas e percursos

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PRAÇA ESPORTES

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Entre praรงas e percursos

Perspectivas gerais

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PROJETO

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Entre praças e percursos

Bibliografia AGUIAR, Douglas. Urbanidade e a qualidade da cidade. Arquitextos, São Paulo, ano 12, n. 141.08, Vitruvius, mar. 2012. GHEL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. GHEL, Jan. Novos espaços urbanos. Barcelona: Gemzoe, Lars. 2002. JACOBS, Jane. Morte e vida das grandes cidades. São Paulo: Martins, Fontes. 2000. LIMA, Renata P. O processo de (des)controle da expansão urbana de São Carlos (1857 - 1977). 2007. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos. LYNCH, Kevin. The image of the city. Cambridge: The M.T.I Press, 1960. ORTEGOSA, Sandra Mara. Cidade e Memória: do urbanismo “arrasa quarteirão” à questão do lugar. Vitruvius, Arquitextos. SÃO CARLOS (SP), Fundação Pró memória de São Carlos. Praças de São Carlos. Fundação Pró memória de São Carlos: coordenação de Leila Maria Massarão. São Carlos: FPMSC, 2014. TRUZZI, Oswaldo. Café, indústria e conhecimento : São Carlos, uma história de 150 anos. São Carlos. Edufscar, 2008. 86


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Entre praรงas e percursos

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Entre praรงas e percursos

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