Final Graduation Project - Architecture and Urbanism

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“São espaços expectantes, mais ou menos abandonados, mais ou menos delimitados no coração da cidade tradicional, ou mais ou menos indefinidos nas periferias difusas. São manchas de “não-cidade”, espaços ausentes, ignorados ou caídos em desuso, alheios ou sobreviventes a quaisquer sistemas estruturantes do território.” Solà-Morales, 2002


JULIANA KAKITANI

BAIRRO DA LUZ: um olhar para as potencialidades dos vazios urbanos

Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista

Orientadores: Prof. Antônio Cláudio Pinto da Fonseca Prof. Tito Livio Frascino


Aos que não medem esforços e sempre estiveram presentes, dedico e agradeço aos meus pais. Agradeço aos amigos que compartilharam todas as noites viradas, pelo convívio dentro e fora da faculdade, antes e pós intercâmbio, todas trocas de conversas, apoio e compreensão mútua. Agradeço aos orientadores e professores da faculdade pela eterna inspiração, pela ampliação da visão sobre a arquitetura, pelos incentivos e puxões de orelha. Agradeço a todos que se proporem a ler esse trabalho.


RESUMO Apresenta o processo de metropolização e a forma de ocupação que resultou na origem ímpar dos vazios urbanos na cidade de São Paulo, existentes até os dias de hoje. Discorre sobre o interesse pelo tema e o motivo de escolha do terreno na área central da cidade, apontando também um panorama sobre a atual dinâmica urbana do lugar, tanto em mapeamento de leitura urbana e equipamentos próximos, quanto em leitura sensível. Elabora estudos de possíveis conexões e percursos urbanos na área apresentada. Descreve e analisa sobre as diferentes perspectivas quanto ao termo vazio urbano, ressalvando sobre a amplitude do termo e a importância da compreensão do processo histórico de urbanização e do contexto urbano a que se refere para o entendimento da complexidade do tema. Aborda sobre a espacialidade urbana, distinguindo espaços de passagem e de permanência; espaços de integração, manifestação da cultura e de pertencimento, o que vai de encontro com os não-lugares. Discute sobre a legibilidade dos lugares e os olhares de disrupturas da arquitetura contemporânea que influenciaram na proposição e desenvolvimento do projeto. Palavras-chave: vazios urbanos; núcleos urbanos; conexões/percursos urbanos; espaço de pertencimento; arquitetura contemporânea


ABSTRACT Approaches the process of urbanization and the pattern of occupation that directly affected in the singular way the urban voids were shaped at the city of SĂŁo Paulo, which are still current nowadays. Discusses the interest about the theme of study and the reason of embracing a territory in a central area; also describes a panorama of urban dynamics, both in mapping and nearby urban amenities as well as sensitive perception of the area. Develops studies of possible urban connections and paths in the area extends. Describes and analyzes about the different perspectives regarding the term urban void, emphasizing on the amplitude of it and the importance of comprehension of the historical process of urbanization in which the urban void refers to truly understand its complexity. Addresses about urban spatiality, distinguishing spaces of passage and permanence; spaces of integration and spaces of culture expression and belonging, contrasting with the non-places. Discusses about the legibility of the places and the perspectives of disruption of the contemporary architecture that influenced in the proposal and development of the project. Keywords: urban voids; urban centers; urban connections/paths; place of belonging; contemporary architecture


Sumário Introdução.....................................................................................................1 1.

O tema: vazios urbanos no centro de São Paulo..............................3

2. Luz: um olhar para os vazios urbanos...............................................4 2.1 Leitura urbana....................................................................................4 2.1.1 Expansão da cidade e surgimento dos vazios urbanos 2.1.2 Processo de ocupação do solo urbano de São Paulo...........7 2.1.3 Panorama e dinâmica urbana atual........................................9 2.1.4 Fases de escolha do terreno................................................19 2.2 Equipamentos Urbanos..................................................................21 2.2.1 Estação da Luz....................................................................21 2.2.2 Jardim da Luz.......................................................................22 2.2.3 Pinacoteca............................................................................23 2.2.4 Estação Julio Prestes...........................................................24 3. Visões acerca dos vazios e conexões urbanas..............................25 3.1 A reforma de Haussmann para Paris..............................................26 3.2 Rem Koolhaas: a utopia do preencher............................................28 3.3 O fenômeno do vazio e a cidade contemporânea...........................29 3.4 O devaneio do caminhar e a criação de situações..........................32


4. 4.1 4.2 4.3

Sobre o contemporâneo - espacialidade urbana e arquitetura.........................34 Espaços de passagem e espaços de permanência..........................................34 Novas disrupturas da arquitetura contemporânea............................................35 Intervir e requalificar - o modo de vida urbano e o cotidiano............................37

5. O objeto.............................................................................................................38 5.1 O partido............................................................................................................38 5.2 Processo projetual, dificuldades e desenvolvimento.........................................39 5.3 Estudos de caso principais................................................................................41 5.3.1 Vila Flores / Goma Oficina, conjunto de arquitetos, Porto Alegre..........41 5.3.2 Casa da Musica, Rem Koolhaas e Ellen van Loon Porto .......................43 5.3.3 Axel Springer Campus, OMA, Berlin......................................................44 5.3.4 Edifīcio residencial Rua Simpatia, gruposp............................................45 5.4 O programa........................................................................................................46 5.5 6.

Primeira etapa do projeto..................................................................................47

O projeto............................................................................................................49 6.1 O experimento: brise e insolação......................................................................49 6.2 Representações gráficas...................................................................................52

7. Conclusão..........................................................................................................67 8.

Bibliografia.........................................................................................................69 Referencial de imagens.....................................................................................73


Introdução O trabalho realizado parte da multiplicidade existente de vazios urbanos e áreas subutilizadas na área central de São Paulo, ou seja, nessa descontinuidade do tecido urbano que cria barreiras físicas e sensíveis e rompe com a sensação de identidade, de sociabilidade, convívio e segurança com o lugar. Entende-se assim por esses vazios, espaços que irradiam a falta de vitalidade, que vão de encontro com as áreas verdes, os boulevards, a fruição pública e o espaço de respiro que permitem a construção social da cidade edificada. O estudo busca compreender os processos e episódios históricos que configuraram no surgimento dos vazios urbanos na cidade de São Paulo, de forma que o projeto possa envolver e requalificar a área e seu entorno de maneira mais incisiva.

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Embora Rem Koolhaas discuta sobre o frensi de qualidade do ambiente urbano. O quarto capitulo aborpreencher um vazio, o autor aborda sobre um contex- da sobre a superação do moderno e os estímulos e arto urbano diferente do apresentado. Por outro lado, se

ticulações das diretrizes contemporâneas.

torna importante mencionar sobre os incentivos de adensamento na área e sobre o partido do projeto buscar

O quinto capítulo retrata sobre o partido, principais

atender a prioridade da fruição pública, da sensação do

limitações e desenvolvimento do projeto. Também

pedestre e relações de gabarito, e não tão somente a

apresenta os estudos de caso utilizados e o impacto

edificação e o preenchimento de um vazio.

para o repertório do projeto e o processo do experimento de insolação. Por fim, o sexto capítulo contém as

O primeiro capítulo apresenta a relevância e o motivo representações finais do projeto seguido pelas conde escolha do tema. O segundo capitulo discorre so-

clusões realizadas no decorrer do estudo.

bre o processo de expansão da cidade de São Paulo e o modo de ocupação que levou ao surgimento dos vazios urbanos – muito determinada pelos caminhos de tropeiros, o café, a estrada de ferro, as imigrações e a industrialização -, além de abranger a leitura urbana do território central e os principais marcos da região. O terceiro capitulo consiste na descrição e análise de diferentes autores sobre o tema, atentando ao contexto urbano a que se referem. Também argumenta sobre a

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1.

O tema: vazios urbanos no centro de São Paulo

Os vazios urbanos constituem elementos que permanecem na cidade contemporânea sem acompanhar o desenvolvimento urbano. Os vazios, de acordo com Solà-Morales (1996), constituem um rompimento no tecido urbano, são áreas disponíveis, cheias de expectativas, de forte memória urbana e potencial, são “os espaços do possível, do futuro”. (SOLÀ-MORALES, 2002, p. 53).

A análise do trabalho se aprofunda nas áreas centrais que se tornaram degradadas em razão da ausência de reconhecimento da relevância do espaço e da integração da multifuncionalidade das ruas. A urbanidade do espaço público, quando não realizada na escala humana, torna-se local de passagem, nos quais os indivíduos não detêm sentimento de pertencimento e identidade com o lugar.

[...] em uma perspectiva contemporânea da história da cidade, o vazio urbano não é um fragmento da cidade, mas um outro lugar, que estabelece um contraponto com o ritmo urbano do seu entorno imediato ao vivenciar a singularidade de ser atravessado por diferentes tempos urbanos. [...] este outro lugar contribui para a constituição de uma outra cidade. (BORDE, 2006, p.3)

A escolha dos vazios urbanos na centralidade de São Paulo se deve à sua multiplicidade, à presença de boa infraestrutura – se comparada as outras áreas da cidade – e pela diversidade de equipamentos urbanos. São identificados assim, como espaços dotados de grande potencial para sua configuração e recuperação como territórios compactos e multifuncionais, munidos de vitalidade, democratizados e integrados com a população e a cidade.

Andréa Borde analisa o vazio urbano da cidade contemporânea como uma quebra no ritmo urbano existente, impondo-se ao olhar e à reflexão. A coexistência de diversos vazios em São Paulo, de fato, reflete na 3 formação e na configuração do tecido atual da cidade.


2. Luz: um olhar para os vazios urbanos 2.1 Leitura urbana 2.1.1 Expansão da cidade e surgimento dos vazios urbanos

Segundo Jorge Wilheim (1965), o crescimento da cidade de São Paulo apesar de muito apontado como radioconcêntrico e centrífugo - a partir do triângulo: Igrejas de São Bento, São Francisco e do Carmo -, não ocorreu por sua totalidade e meramente caracterizada por tal tendência. O autor descreve a rápida metropolização a partir de 1890, devido a fatores socioeconômicos e de forma descontínua de expansão. Pierre Monbeig (1953 apud TOLEDO, 1983), utiliza da expressão “epidemia de urbanização” para descrever o crescimento de São Paulo, em virtude da rápida propagação e do crescimento desordenado desprovido de infraestrutura. O autor indica que se a expansão da cidade de São Paulo tivesse sido somente caracterizada por tal tendência, a ocupação também teria se dado através de fundos de vale – que ainda se encontram inutilizados como vias de

crescimento -. Além disso, Jorge Wilheim também afirma que apesar das representações cartográficas apontarem uma ocupação de crescimento radial, elas omitem antigos núcleos de habitação que hoje são incorporados à cidade. Jorge Wilheim afirma que antes de sua metropolização, São Paulo era uma cidade de interesse periódico pelas partidas de bandeiras e procissões -, caracterizada por uma economia primária de atividades de subsistência. A partir de 1890, com o empuxo das imigrações, a implantação da estrada ferroviária, a comercialização do café e as bruscas alteração demográfica e ocupação do solo, a função da cidade passa a se modificar radicalmente e nesse início de metropolização, verifica-se a coexistência de diversos núcleos urbanos, sendo o principal núcleo São Paulo, a partir da qual se ligavam os primeiros trechos de caminhos de tropeiros 4 advindos das zonas de fazendas.


O processo de metropolização de São Paulo, pois, Sobre a cidade de São Paulo, Benedito Lima de Toledo caracterizou-se pela coexistência de numerosos núcleos descreve como um palimpseto: urbanos coexistentes ilustra a expansão urbana da ciUm imenso pergaminho cuja escrita é dade de São Paulo. Jorge Wilheim argumenta - ao raspada de tempos em tempos, para reescrever o livro e fato que continua a existir - que o ceber outra nova, de qualidade inferior, processo de metropolização da cidade está em pleno no geral. Uma cidade reconstruída duas vezes sobre si mesma, no último século. desenvolvimento: com inúmeras áreas vazias sendo (TOLEDO, 1983, p.67) ainda ocupadas. Esses vazios locados em território urbano consolidado trazem possibilidades únicas de Com isso, o autor destaca que o crescimento de São planejamento; são objeto de discussão até os dias de Paulo se caracterizou pela sistemática descarachoje e serão abordadas no decorrer da leitura. terização e destruição de seus bens culturais, pelo uso abusivo do solo ditado pela iniciativa privada e De forma análoga, em “São Paulo: três cidades em um sem a devida preocupação com a estética urbana século”, Benedito Lima de Toledo (1983) afirma que até e com a qualidade de vida da cidade pelos poderes o advento da ferrovia, São Paulo era uma cidade de públicos. Assim, Benedito de Lima Toledo, ao intitubarro com uma arquitetura construída principalmente de lar sua obra “três cidades em um século”, descreve o taipa de pilão. As comunicações entre fazendas, vilas e acelerado e epidêmico crescimento de São Paulo, da cidades eram realizadas pelos tropeiros, que exerceram cidade reconstruída duas, três vezes sobre o mesmo importante papel unificador até a implantação das vias assentamento. férreas. O Cônego Luiz Castanho de Almeida, tropeiro e ex-bandeirante relata: “E São Paulo, o que era senão um ponto de convergência de caminhos de tropas?”. 5


Raramente a Prefeitura teve momentos de lucidez que aconselhassem um policiamento estético no crescimento da cidade [...]. Até a Segunda Grande Guerra a cidade conservou sua imagem de metrópole do café. A partir de então, os grandes empreendimentos imobiliários vieram destruir, um a um, os documentos arquitetônicos da cidade. Os poderes públicos sempre ficaram para trás da iniciativa privada e um código de obras anacrônico permitiu um uso abusivo do solo. (TOLEDO, 1983, p.120-141)

Dessa maneira, o crescimento da cidade de São Paulo dado pela descontrolada construção e destruição; pela coexistência e posterior conexão de núcleos urbanos; além da expansão dos núcleos existentes deixando loteamentos vagos, caracterizam o surgimento de vazios urbanos presentes até os dias de hoje. Conforme afirmado por Benedito Lima de Toledo, poucas vezes na história do urbanismo terá ocorrido fenômeno semelhante, sendo assim o surgimento dos vazios urbanos em São Paulo caso bastante particular para sua cidade. Em contraponto com a cidade de Paris, por exemplo, o crescimento e expansão urba-

na ocorreu radialmente à Catedral de Notre-Dame e ao longo do rio Sena - conforme e segundo à pressão demográfica. A tendência de expansão da cidade de Paris - a partir de um ponto único e de acordo com o crescimento demográfico – não caracterizou-se com a formação de vazios em seu centro urbano, mas na periferia da cidade. Se torna importante ressaltar, pois, que os vazios urbanos citados por diferentes autores possuem visões próprias aos vazios referentes às cidades e contextos por eles mencionados.

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2.1.2 Processo de ocupação do solo urbano de São Paulo Jorge Wilheim discorre que a ocupação gradativa da cidade ocorreu por “saltos quantitativos bastante bruscos e identificáveis” (p.11). Conforme apontado anteriormente, sendo a instalação paramilitar de São Paulo no topo da colina o principal núcleo de expansão e os grandes vales – que em conjunto hoje

de imigrantes alemães em 1820 -. Quanto aos “saltos quantitativos” descritos por Jorge Wilheim, destacam-se os fatores mencionados da influência da estrada de ferro e o plantio e comercialização do café. As estradas de ferro foram implantadas em regiões mais altas para acompanhar o melhor plantio e colheita do café, além

configuram o sítio urbano da atual metrópole –, os antigos caminhos de tropeiros dos quais tiveram início outros núcleos urbanos; a cidade de São Paulo foi progressivamente se expandindo e se conformando ao longo dos núcleos coexistentes.

da questão da maior facilidade de exportação do produto (proximidade do vale do Tamanduateí com o porto). Assim implantou-se o traçado leste-oeste - Central do Brasil e Sorocabana -, e sua saída sudeste rumo a Santos, a “São Paulo Railway”.

O autor aborda alguns desses vales, como o vale do Tietê onde foi fundada São Miguel no ano de 1622; ou ainda o vale do Tamanduateí com sua importância dada ao caminho do mar e de onde surgiu São Caetano (1631) e São Bernardo (1560). Também a relevância do vale de Pinheiros, de onde passavam núcleos indígenas e de escravos foragidos e pela sua proximidade com as fazendas de Cotia e Itapecerica, chegando a Santo 7 Amaro – desde 1560 e que foi vitalizada com a chegada

Com o café, São Paulo passou de interesse periódico para cidade de entreposto humano e comercial, centro bancário e de transportes. Jorge Wilheim destaca que o uso predatório do solo para o plantio do café levou a constante interiorização do território e com a abolição da escravidão, iniciou-se o empuxo da imigração, principalmente entre 1887 e 1900.


Assim, outro “salto quantitativo” ocorreu com o abrupto aumento da população residente em São Paulo, o que acarretou também com a ocupação dos vazios que surgiram ao longo da estrada de ferro. Regiões como Campos Elíseos (próximo à área de estudo), Consolação, Brás, Bom Retiro, entre outras, foram ocupadas por ricas famílias paulistanas com o intuito de investir em novas atividades econômicas.

A ocupação do solo paulistano, pois, teve influências com o passar de sua metropolização que sobrepunham as antigas – sendo primeiramente a determinante pelos vales e caminhos de tropeiros, seguido pelo café, estradas de ferro e a influência das imigrações, até a industrialização. Durante todo esse processo descontínuo de expansão, caracteriza-se sempre a coexistência dos núcleos urbanos e o preenchimento dos vazios que foram surgindo.

Nessas regiões, destaca-se a predominância da prática de ocupação do solo na qual o proprietário de uma gleba faz o loteamento e passa a demandar infraestrutura básica para o novo núcleo habitacional – luz, água, rede viária – com o objetivo de gerar altos lucros. Tal prática acentuou a metropolização da cidade e teve como consequência o agravamento da especulação imobiliária. Com o algodão, a tecelagem e a industrialização, ocorreu outra tendência de ocupação do solo da cidade: a construção de fabricas no Brás, Mooca, Ipiranga e ABC; o aumento da população; o preenchimento quase completo do vale do Tamanduateí e a criação de vilas operárias – que ocuparam diversos vazios dos entre-núcleos.

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2.1.3 Panorama e dinâmica urbana atual O terreno a ser estudado é um grande vazio urbano (5900m2) na centralidade de São Paulo ilhado em torno de infraestrutura de transporte e diversidade de equipamentos urbanos - proximidade com a Sala São Paulo, Pinacoteca, Centro Paula Souza, Parque Jardim da Luz, entre outros -. A área situa-se em uma ZC (Zona de Centralidade), localizada na Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana em que se objetiva promover a qualificação paisagística e dos espaços públicos, com atividades de abrangência regional e com média densidade. O terreno abrange a Operação Urbana Centro que visa a requalificação urbana e estabelece incentivos à produção, regularização e reconstrução de novas edificações. A legislação também cria estímulos e benefícios para atrair investidores na construção de habitações, hotéis, edifícios garagem, e edificações destinadas à cultura, educação e lazer.

9 figura 01: vista aérea do vazio urbano e entorno


expressa arterial coletora local ciclovia

misto institucional residencial vazios urbanos/ áreas subutilizadas áreas verdes

figura 02: mapa de hierarquia viária sem escala

figura 03: mapa de usos sem escala

O terreno está envolto por vias arteriais e se encontra como um divisor, de forma que à sudeste estão vias expressas mais rápidas, como o corredor norte-sul (avenida Prestes Maia), avenida Senador Queirós e a avenida do Estado, e ao lado noroeste, se encontra o bairro Campos Elíseos e vias majoritariamente locais ou arteriais, equipadas pela Estação Julio Prestes e Estação da Luz, Pinacoteca e edifícios de uso educacional.

A área em seu entorno caracteriza-se pelo uso predominantemente misto, com fachadas ativas de comércios locais que atendem principalmente o bairro. Destacam-se a presença de diversos vazios urbanos e áreas subutilizadas – principalmente estacionamentos -; a Galeria Almira Gonçalves logo abaixo do terreno; além da Estação e metrô da Luz, Paróquia São Cristovão; e da ocupação Prestes Maia - segunda maior ocupação 10 vertical da América Latina - destacada em amarelo.


Lais de Barros Monteiro Guimarães descreve o bairro da Luz segundo suas funções (cultural, residencial, comercial e industrial), caracterizando-o como um bairro misto. Quanto à função cultural, a autora destaca os centros da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas, além do edifício que pertenceu ao Liceu de Artes e Ofícios, abrigou a Faculdade de Belas Artes e hoje está instalada a Pinacoteca do Estado.

figura 04: Rua Mauá no início do século de 1920: o nível térreo sempre esteve dedicado ao comércio

No que tange a função residencial, há a predominância de “residências de tipo médio para modesto”; enquanto que a função comercial “não apresenta a significação que poderia oferecer, dada a proximidade das estações férrea e rodoviária” (p.45). Apesar da existência de indústria têxtil, principalmente no final da década de 1980, o bairro da Luz jamais se caracterizou como bairro fabril como ocorre com o Brás, Mooca, entre outros.

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figura 05: Rua Mauá e Estação da Luz: pouca exploração do potencial da área como pólo comercial e cultural


Lais de Barros Monteiro Guimarães retrata a rua Mauá pela presença do “comércio varejista que vai desde o oferecimento aos transeuntes dos mais rudimentares instrumentos de caça e pesca até a última gravação de Novos Baianos” (p.48). Segundo a autora, atualmente a rua Mauá é transitada por uma multidão incontável de pessoas e por um tráfego intenso de veículos, enquanto que em 1900 era caracterizada por bondes puxados a burros, ligando a Estrada de Ferro Sorocabana e a Avenida do Estado. A complexidade de suas funções reflete-se na paisagem urbana. Aos grandes edifícios públicos geralmente instalados em antigas residências de particulares e áreas amplamente ajardinadas como o jardim público e praças públicas, contrapõem-se quarteirões densamente ocupados por um casario modesto, cujo estado de conservação revela pelo menos mais de meio século de existência. (GUIMARÃES, 1968, p.45)

figura 06: Praça da luz, ocupação Prestes Maia e Galeria Almira Gonçalves

figura 07: vista da Avenida Cásper Líbero: empena cega da Galeria Almira Gonçalves

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vazios urbanos e áreas subutilizadas terreno de projeto ` vegetação locais de maior sensação de insegurança fluxo de pessoas (+ intenso)

figura 08: cartografia - relação entre descontinuidade urbana, fluxo de pessoas, usos e sensação de insegurança escala 1:1000

N


Como o tema de pesquisa envolve o estudo da presença dos vazios urbanos no terreno consolidado do centro de São Paulo, delimita-se um perímetro de estudo na qual houve a identificação desses vazios urbanos - incluindo áreas residuais e subutilizadas – para a pesquisa de como surgiram e como a descontinuidade do tecido urbano gerada por tais vazios, influenciam na dinâmica urbana.

A dinâmica da urbanização esta ligada ao potencial de interação oferecido pelas cidades, à sua “urbanidade”, ou seja, à potência multiforme que gera o reagrupamento de uma grande quantidade de pessoas em um mesmo lugar. (ASCHER, 2009, p.19)

Assim, a cartografia envolveu a identificação dos vazios urbanos e visitas na área delimitada com o foco em como a arquitetura e as características do tecido urbano influenciam na dinâmica do local, na intensidade do fluxo de pessoas e em pontos que geram maior insegurança. Nota-se que a presença de vazios urbanos – por sua maioria murados ou gradeados –; sombreamentos (provocados pela falta de iluminação e por altos gabaritos) e a inexistência de mobiliário urbano aumentam a sensação de insegurança, ainda agravados pela presença próxima da cracolândia e da ocupação Prestes Maia. A pouca agradabilidade em relação a área, pois, decorre principalmente da dinâmica urbana caracterizada pela falta de espaços de permanência, à sensação de insegurança, à pouca vegetação e a não figura 09: ocupação Prestes Maia sensação de pertencimento com o lugar.


esta

ção

Objetiva-se assim, um breve estudo e a realização de experimentos de conexões e percursos entre os vazios, o estudo de fluxos e intervenções urbanas (efêmeras ou não) que gerem áreas de permanência e continuidade urbana, requalificando o tecido urbano já consolidado.

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praç

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luz

figura 10: estudo de massas | cheios e vazios (áreas edificadas x vazios e áreas subutilizadas de estacionamento)

Pelo estudo de massas, verifica-se tal contraste entre os cheios e os vazios urbanos na área central delimitada. Nota-se a quebra do tecido e da continuidade urbana que tais áreas geram e estuda-se as conexões urbanas que podem se tornar. 15

Ao conversar com os orientadores, observa-se que cada conexão é um caso especifico e particular, por isso, torna-se mais rico estudar e desenvolver uma delas a nível projetual. A conexão a sul do terreno foi então escolhida devido à proximidade com o terreno e a continuidade que geraria com a quadra e o tecido ao conectá-los. A área do terreno de projeto a ser desenvolvida altera-se, integrando a Galeria Almira Gonçalves - conexão já existente – edifício misto de comércio e habitação e o vazio abaixo dela. Por estar localizada dentro do perímetro de abrangência da Operação Urbana Centro, de acordo com a legislação vigente (Lei 12.349), as áreas destinadas a cinemas, teatros, anfiteatros, auditórios, museus, creches, educação e cultura em geral não serão computáveis no cálculo de aproveitamento do terreno. Também não são computáveis as áreas


destinadas à fruição pública abertas à circulação de pedestres. As exigências relativas à reserva de áreas de estacionamento também não se aplicam sobre essas áreas. A complexidade urbana presente no vazio ilhado em torno de infraestrutura de transporte e diversidade de equipamentos urbanos, além do zoneamento, terreno relativamente plano, relações de gabarito e dinâmica urbana existentes são condicionantes do partido arquitetônico.

conexões existentes conexões possíveis conexão a ser projetada

figura 11: mapeamento conexões

O desdobramento dessa investigação do território por meio de visitas, mapas, circuitos e conexões, registrando também imagens, sensações e pesquisas -constituem fundamentos que esclarecem e conformam no momento do desenvolvimento do projeto. Mesmo no plano de análises, propõe-se instigar e sugerir sobre o potencial da área delimitada através de conexões urbanas na condição de observador. Por meio de costuras entre quadras e entre pontos de convergência, objetiva-se explorar diferentes usos (diferente do vazio ou sua subutilização) conforme sua escala e condição urbana – como galerias comerciais, intervenções – a fim de que seja elemento de integração com a cidade. Por integração com a cidade, entende-se que tenha caráter convidativo. Luciana Mendonça (2016) argumenta que a integração inclui o uso inclusivo que acomoda todos os tipos de funções e pessoas, também ressalta sobre a importância dos 16 locais públicos serem visíveis e de fácil acesso.


Sobre a triangulação, menciona quanto a potencialidade do lugar em conectar pessoas por meio de estímulos externos que gerem curiosidade e diálogo: como artistas de rua, esculturas, intervenções urbanas efêmeras ou não. A presença de tais elementos em espaços como as conexões apresentadas influem na velocidade dos passos das pessoas, assim como na dinâmica do espaço público e na expressão e memória do lugar.

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Assim, após o estudo e compreensão dos vazios e dos percursos possíveis, o terreno de projeto passa então a incorporar a área subutilizada abaixo do terreno inicial e a Galeria Almira Gonçalves - que já possui conexão de pedestres entre a Avenida Cásper Líbero e a rua Brigadeiro Tobias - e se caracteriza de uso misto, sendo comercial e serviços no térreo e habitação nos pavimentos acima.

terreno de projeto

N

galeria Almira Gonçalves

figura 12: delimitação de área do terreno Foi realizado então o levantamento das lojas no interior da galeria comercial para o desenvolvimento do projeto e de possíveis aberturas com o objetivo de criar a conexão entre a galeria existente (em alaranjado) e as áreas demarcadas em vermelho.


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figura 13: Galeria Almira Gonçalves

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5900m

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figura 14: Galeria Almira Gonçalves acesso rua Brigadeiro Tobias

figura 15: situação sem intervenção

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2.1.3 Fases de escolha do terreno Torna-se importante ressaltar que o desenvolvimento do projeto envolveu o projeto de uma galeria comercial fechada no terreno adicionado e após uma análise mais profunda e as críticas da banca quanto à complexidade do projeto, optou-se pelo melhor desenvolvimento da edificação no terreno inicial escolhido e restringir-se ao estudo de fluxos e percursos resultantes da integração do conjunto com a galeria Almira Gonçalves e o terreno abaixo, de tal forma a manter sua relevância. No capítulo 5.5, apresenta-se a implantação de estudo inicial com o levantamento realizado da Galeria Almira Gonçalves e sua abertura e conexão do vazio urbano com o terreno subtulizado de estacionamento abaixo. Para o terreno abaixo, foram realizados estudos sobre coberturas de vidro, iluminação zenital e um programa separado


para a galeria comercial. Restringiu-se para o conteúdo apresentado, apenas esquemas volumétricos de usos e implantação, uma vez que embora as análises, estas não fizeram parte do desenvolvimento final e resultado do projeto. Assim, em uma segunda parte de desenvolvimento e escolha do terreno, foram realizadas modificações necessárias quanto ao estudo de implantação do projeto e ao passeio público. Além da separação de usos (habitação e corporativo) por pavimentos e não por cada planta tipo como inicialmente desenvolvido; desse modo, se tornou necessário a modificação do esquema e modulação estrutural para melhor acomodar a flexibilidade dos usos.

figura 16: panorâmica: Galeria, Praça da Luz, Estação da Luz e Pinacoteca


2.2 Equipamentos Urbanos próximos 2.2.1 Estação da Luz O projeto da Estação da Luz (1901) foi elaborado na Inglaterra por Charles Henry Driver e é um autêntico símbolo da Metrópole do Café. De acordo com Benedito de Lima Toledo (1983), sua construção criou um novo centro focal em São Paulo, além de ter sido beneficiada pelo Jardim Público (hoje conhecida como Jardim da Luz) logo em frente. Esse conjunto dado pela estação e pelo jardim logo se transformou em um dos cartões postais de São Paulo. Desde 2006, abriga o Museu da Língua Portuguesa e em 2015, sofreu um incêndio, passando atualmente por obras de recuperação. Segundo Lais de Barros Monteiro Guimarães (1968), a Estação da Luz depois da sua inauguração, se tornou local de comparecimento obrigatório do “mundo oficial, social e turístico, cioso de apresentar harmonia de seu conjunto arquitetônico, sua iluminação feérica enfeitada na austeridade do estilo vitoriano.” (p. 67)

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figura 17: Estação da Luz

figura 18: Estação da Luz


2.2.2

Parque Jardim da Luz

Benedito Lima de Toledo (1983) discorre que o Jardim da Luz era uma autêntica área de lazer muito frequentada pelos paulistanos, onde ocorriam concertos de banda – tradição vinda de correntes imigratórias -. Atualmente, o local possui área para apresentações, pista de cooper, espelhos d’água, mirante, exposição permanente de esculturas, bosque de leitura, entre outros. A denominação inicial do Jardim da Luz era “Horto Botânico”, sendo o mais antigo jardim paulistano (aberto em 1825). Lais de Barros Monteiros Guimarães (1968) discorre sobre a posição social do Jardim, no qual por vários decênios representou um ponto de reunião e encontro da sociedade paulistana, cenário de famosos leilões e acontecimentos sociais. Na década de 1930, quando os muros e portões foram derrubados, iniciou-se seu declínio, passando a ser ponto de permanência e atuação de vadios e marginais que pernoitavam por ali. O Jardim da Luz então ficou esquecido pelos paulistanos.

figura 19: vista aérea do Jardim da Luz

figura 20: Parque Jardim da Luz

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2.2.3

Pinacoteca

O edifício foi projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo em 1895 – juntamente com os fundadores Dr. Carlos de Campos, Freitas Vale, Sampaio Viana e Adolgo Pinto - e na época foi construído para abrigar o Liceu de Artes e Ofícios – instituição que formava técnicos e artesãos – hoje na Rua João Teodoro. Também abrigou a Faculdade Belas Artes mas atualmente está instalada a Pinacoteca do Estado. Lais de Barros Monteiro Guimarães (1968) comenta que o projeto figura 21: Fachada Pinacoteca de iluminação artificial conferiu ao local, uma personalidade diferenciada em destaque no fundo negro do velho Jardim da Luz. A pinacoteca foi fundada em 1905, sendo o museu de arte mais antigo da cidade. O acervo possui obras, a maioria de 1850 a 1900, além de fotos e gravuras de arte francesa e painéis a óleo, estampas, gravuras, bronzes, estátuas de mármore, entre outros. Possui ênfase, entretanto, na produção brasileira do século XIX até a contemporaneidade.

figura 22: vazio central e passarela

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2.2.4

Estação Julio Prestes

A Estação Julio Prestes foi projetada em 1925 por Cristiano Stockler das Neves e Samuel das Neves e inaugurada em 1938. O edifício foi inspirado nos terminais nova-iorquinos Grand Central e Pennsylvania. A estrutura de concreto e a alvenaria de tijolos, por outro lado, foi inspirada no estilo Luís XVI, com forros trabalhados, colunas imponentes e detalhes figura 23: Estação Julio Prestes nos arcos das janelas da fachada. Hoje, a estação faz parte da linha 8 diamante da CPTM, abriga a sede da Secretaria de Cultura de São Paulo e, desde 1999, a Sala São Paulo, considerada a maior da América Latina. figura 24: Sala São Paulo

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3. Visões acerca dos vazios e conexões urbanas 3.1 A reforma de Haussmann para Paris Georges-Eugène Haussmann foi administrador da cidade de Paris entre 1853 e 1869, momento em que sua população havia dobrado e passou a ser habitada por mais de um milhão de pessoas. Ao mesmo tempo em que eram industrializadas, Paris e as grandes cidades da Europa passavam a atrair e receber grande contingente populacional, crescendo desproporcionalmente às condições de uso.

Dessa maneira, a reforma possuía não apenas motivação de melhor infraestrutura de saneamento e higienização devido à insalubridade e falta de luz solar no centro da cidade, mas também possuía motivação quanto ao aspecto politico, evitando o sucesso de outro levante revolucionário no futuro. A reforma de Haussmann conforme Cecilia Ribeiro e Virgínia Pontual (2009), consistiu em um conjunto de determinações que envolvia a urbanização de terrenos periféricos; obras viárias (com o alargamento e abertura de novas ruas); reconstrução de edifícios (demolidos pela abertura de vias); renovação das instalações infra-estruturais da cidade e a construção de amplos boulevards e parques.

A cidade começou assim a enfrentar problemas de infraestrutura e saúde para tal expansão populacional, com transporte de esgoto à céu aberto e ruas estreitas pouco planejadas e eficientes para o comércio e o tráfego. Além disso, com a Primavera dos Povos¹ entre 1846 e 1848, nota-se que as ruas estreitas eram favoráveis para as barricadas e o alargamento das vias se tornava essencial para a circulação ___________________ ¹A Primavera dos Povos marcou uma série de revoluções eficaz das tropas e o controle das revoltas populares.

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por toda a Europa que eclodiram com os ideais libertários da Revolução Francesa de 1789. As revoluções tinham caráter liberal e democrático e exigiam reformas políticas e econômicas.


Assim, a percepção da potencialidade dos vazios localizados em territórios urbano consolidados impulsiona a quebrar a descontinuidade urbana existente, juntamente com o gradeamento e os muros por eles envoltos que influenciam na falta de segurança e agradabilidade com o território. A continuidade urbana pelas conexões direcionam para a maior integração do Apesar do contraste entre contextualizações, de manei- espaço. ra análoga à análise dos vazios urbanos presentes na centralidade de São Paulo, a percepção de novos percursos e conexões e sua ligação a pontos nodais/marcos¹ e espaços de permanência, alterariam a dinâmica urbana do território – promovendo a qualificação paisagística e dos espaços públicos aos pedestres - e estimulando maior sociabilidade, convívio e segurança. ___________________ Um dos mais relevantes aspectos da reforma de Haussmann para Paris foi a percepção de um novo layout das ruas. O novo grid viário de Paris passou a envolver conexões e percursos diagonais que ligavam-se aos principais boulevards e correm e irradiam de leste a oeste e de norte a sul.

¹De acordo com Kevin Lynch (1960), pontos nodais são pontos estratégicos em que auxiliam na locomoção dos indivíduos. São importantes focos do ir e vir e marcam o ponto de passagem entre estruturas. Os marcos estabelecem um contraste local e são pontos de referência em uma cidade, 26 podendo ser de diversas escalas.


figura 25: Paris 1643 prĂŠ Haussmann

figura 26: Paris 1858 aberturas e conexĂľes de vias criadas


3.2 Rem Koolhaas: a utopia do preencher Sobre os espaços vazios, Rem Koolhaas (1989) discorre sobre um projeto apresentado em um concurso para o subúrbio parisiense de Melun-Sénart. Nesse projeto, o arquiteto acaba descobrindo “uma nova concepção de cidade”, na qual não seria mais definida por seus espaços construídos, mas pela ausência destes, ou ainda, pelos espaços vazios. Melun-Sénart é uma cidade que faz parte do cinturão de novas cidades que cercam Paris. No projeto de reconstrução da cidade, Rem Koolhaas ateve-se à preocupação com a invasão de uma paisagem de incrível beleza e, ao invés de imaginar, projetar e construir uma cidade dentro das condições e recursos disponíveis, indagou sobre a construção de uma cidade na qual descobriria elementos que criariam uma nova forma de condição urbana. Assim, o arquiteto estava menos preocupado com o que construir e mais atento à determinação de onde não construir de modo algum.

Ao estabelecer diretrizes projetuais de onde não construir – determinou-se não construir nas fronteiras norte e sul para apreciar as florestas, nem nas áreas naturais de pequenos bosques e próximo à rodovia – Rem Koolhaas estabeleceu uma sistemática de eliminações ao controlar os espaços vazios. Essa condição urbana criada acabaria com a reinvindicação de controle sobre as terras residuais. Rem Koolhaas, pois, critica a utopia diretamente relacionada com a concepção do desejo de adensar, construir e de proporcionar uma dimensão arquitetônica: “nos dias de hoje, todo espaço vazio é alvo para um frenesi de preencher, tapar” (p. 360). Tendo em vista a sua importância, propõe uma visão de cidade na qual não seria mais definida pelos seus espaços construídos, mas pelas ausência destes ou pelos espaços vazios, de modo que crie uma situação condicionante sobre a construção sistemática a partir do controle dos espaços vazios ou da paisagem natural. 28


3.3 O fenômeno do vazio e a cidade contemporânea É a partir dessa perspectiva de Rem Koolhaas que a análise do projeto proposto não possui como objetivo apenas o desenvolvimento de construção e forma em um espaço vazio, transformando e idealizando desuso em eficácia e ordem.

Andréa Borde (2006) argumenta que o vazio urbano é um fenômeno só recentemente problematizado e discorre sobre suas inúmeras situações: áreas verdes, praças, espaços intersticiais entre edifícios e edifícios abandonados. Além de tais situações, existem também os vazios aqui analisados – os “espaços residuais” – decorrente do processo capitalista de construção e reconstrução -; espaços abandonados; terrenos baldios ou áreas subutilizadas (uso para estacionamento) – que gera a tal ruptura e descontinuidade do tecido urbano. O que faz deles vazios urbanos são os aspectos formais, funcionais, simbólicos e políticos diretamente relacionados à sua condição urbana. Neste sentido, a análise dos vazios urbanos deve estar atrelada à compreensão das características dos processos de urbanização. (BORDE, 2006, p.2)

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Assim, o amplo termo dos vazios urbanos também são condições que requerem compreensão distinta decor-


rente do processo histórico de urbanização e do contex-

A qualidade do ambiente urbano também envolve to urbano que se insere. questões fenomenológicas da arquitetura, como a apropriação e o registro das paisagens sonoras, corpoAndréa Borde ressalta sobre a dinâmica da especulação rais e visuais que tecem os valores da relação social. imobiliária e como os vazios são considerados como Jaime Lerner (2015) discorre sobre a importância da expressões de poder da propriedade privada e como sensação de segurança, além dos sons, cores e cheiros negociação de “dinâmica futura presente nos objetivos da rua que sustentam nossa identidade e relação com políticos, econômicos e sociais dos diversos modelos o lugar. Assim, é nessa perspectiva que as cidades e de planejamento” (p.4). as transformações retratadas no ambiente urbano estão conectadas com nossa imagem de sociedade e estilo. Existem, porém, instrumentos promovidos pelo poder público, como o IPTU progressivo no tempo¹ aprovado pelo Estatuto da Cidade, que estimula a ocupação dos vazios urbanos em locais urbanos consolidados providos de infraestrutura, além também de atuar coibindo a formação de mais vazios. “Um terreno, quando vazio, tem que ser preenchido imediatamente, de preferência com alguma atividade de animação. Defendo até a possibilidade de se instalarem estruturas provisórias (...) A mistura de funções é importante. E a continuidade do processo é fundamental. Continuidade é vida.” (LERNER, 2015, p. 37 e 38)

____________________

¹Objetiva combater a ociosidade de imóveis em locais providos de infraestrutura básica. A ociosidade do imóvel muitas vezes é decorrente da vantagem para o proprietário de aguardar a valorização do terreno para o mercado imobiliário. Após a notificação do poder público, o proprietário possui um ano de prazo para apresentar um projeto de ocupação da área; caso não apresente, está sujeito ao IPTU progressivo 30 pela porcentagem da alíquota que aumenta a cada ano


Pelo termo “acupuntura urbana”, Jaime Lerner expressa “cutucar uma área de tal maneira que ela possa ajudar a curar, melhorar, criar reações positivas e em cadeia” (p.7). O autor destaca, no entanto, que nem sempre ela se traduz em obras, podendo ser novos costumes e hábitos que geram transformações para a cidade. O funcionamento 24 horas das lojas, por exemplo, além de servirem como ponto de referência, atraem pessoas e criam maior sensação de segurança no local – assim como os vendedores ambulantes e as feiras os fazem (o autor defende a convivência entre o setor formal e informal, mantendo o comércio local sempre ativo e ininterrupto)-.

revitaliza um ponto e a área ao seu redor. Destaca-se que Jaime Lerner, em contraponto com Rem Koolhaas, argumenta sobre o caso brasileiro do vazio na centralidade urbana como um terreno baldio que provoca uma descontinuidade na dinâmica urbana e ruptura em seu tecido; ou seja, gerando insegurança, falta de vitalidade, de sociabilidade, de som, de cheiro, e de cores que despertam pontos de encontro e sentimento de pertencimento, identidade, lembrança e reconhecimento com o lugar.

Dessa forma, conforme as perspectivas de Rem Koolhaas e Jaime Lerner, analisa-se que a criação de uma situação que desperte e gere atratividade e A acupuntura urbana, pois, pode vir a se expressar de agradabilidade para as pessoas está associada à condidiversas maneiras ao trazer a transformação positiva cionante do lugar, longe do seu esquecimento em espara o local. Os hábitos se traduzem no contexto ur- paços baldios vazios de vitalidade e longe da simples bano e além de expressar a identidade da sociedade dimensão arquitetônica de preencher e tapar. que nela vive, traz consigo sua vitalidade, suas cores, texturas e cheiros. Da mesma maneira que as obras físicas, ao valorizarem o espaço público, se atentarem com a expressão da sociedade e a escala do pedestre 31 também criam uma acupuntura urbana que interage e


3.4 O devaneio do caminhar e a criação de situações Careri (2013) propõe a visão dos “vazios urbanos” compreendendo-os como limites impostos pela cidade, de forma a criar paisagens a partir das “errâncias” da arquitetura nos espaços do cotidiano urbano, identificando e repensando-os de forma que as dinâmicas urbanas e a socialização despertem a coletividade. Em Walkscapes, o autor discorre sobre a ‘transurbância’ – o devaneio do caminhar da cidade em detrimento do atravessar, percurso imprevisível - na qual nos deparamos com sensações, com o perder-se e com a criação de situações e não somente com a disposição de muros, prédios e vazios que nutrem a descontinuidade urbana.

Assim, é entre essas descobertas dos espaços da cidade que se permite sua construção social; é praticando os encontros entre os pontos urbanos, modificando sua atuação conforme necessário, moldando as situações e as sensações da permanência e da identidade em detrimento de lugares de passagem, mesmo que em instantes de segundos. Paola Jacques (2004) demonstra que a partir dessas formas espontâneas e livres de intervenções que empreendemos o espaço urbano e seu território, interferimos de forma direta no cotidiano urbano e sobre a maneira que estabelecemos vínculos com o território e com os indivíduos, a socialização.

Conforme aponta Böes (2016, on-line) “Ver a cidade a partir de sua existência cotidiana é encontrar um modelo de sentido com que as pessoas produzem suas identidades, pois é assim que elas situam suas formas de sociabilidade.”

É também a partir de espaços de cultura que estabelecem-se vínculos e o sentimento de pertencimento e identidade para com a cidade. Böes (2016) defende que compreendendo o conjunto de artes, técnicas e instrumentos que compõem o ambiente urbano, estaremos mais próximos de modelar uma cidade de manifestação da cultura social. 32


É nessa perspectiva que as cidades e as transformações retratadas no ambiente urbano estão conectadas com nossa imagem de sociedade e estilo. Michel Agier (2011) ressalta que cada parte da cidade se introduz em diferentes modelos de organização social, definidos por códigos de uso e de controle, sendo assim necessário investir na compreensão de tais sentidos situacionais de forma que os trajetos, construções ou objetos urbanos se aproximem das identidades que constituem os lugares da cidade.

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4. Sobre o contemporâneo - espacialidade urbana e arquitetura 4.1 Espaços de passagem e espaços de permanência

A cidade possui em sua estrutura, uma gama diversificada de espaços públicos. Dentre as classificações possíveis, espaços de passagem e espaços de permanência são as diferenciações que nortearam as diretrizes do planejamento e desenvolvimento projetual. Para definir essas áreas de transição, Elisangela Person (2006) descreve: os espaços de passagem são locais de circulação e, normalmente, não possuem atrativos o suficiente que os tornem atraentes, ou práticos para sua utilização; e os espaços de permanência são áreas de convívio e por este motivo têm intrinsecamente determinadas características atraentes ao olhar das pessoas. Elisangela Person (2006) aborda sobre as áreas de transição entre espaços de permanência e de passagem, apontando que qualifica a passagem os locais de circulação, sem atrativos o suficiente para sua utilização – geralmente espaços

lineares em que as pessoas tem o propósito de se deslocarem e são frequentemente degradados -. Em contraponto, os espaços de permanência são áreas de convívio, nos quais chamam atenção para o olhar das pessoas e propicia a socialização. A multifuncionalidade da rua relaciona-se com espaços de integração, que permitem a circulação plena dos pedestres e estimulam interação e sociabilidade. A qualidade do espaço público e a importância da escala do pedestre para modelar espaços que induzem o convívio e a manifestação da cultura, se tornam essenciais e intrínsecos na formação de sentimentos de pertencimento e identidade dos indivíduos com o lugar.

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4.2 Novas disrupturas da arquitetura contemporânea

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Em contraponto com os espaços de integração, de manifestação de cultura e convívio, Marc Augé (2004 apud CALLIARI, 2016) cita sobre os não lugares, espaços de passagem que desestimulam a sociabilidade e não possuem um relacionamento com o lugar: “Um não lugar é um espaço destituído das expressões simbólicas de identidade, relações e história”. (AUGÉ, 2004).

O meio-lugar define um espaço que recusa a plenitude do lugar, e afirma-se como algo inacabado, embrionário: um espaço que recusa também o peremptório, o testamental, o monumental. [...] de um espaço neutro, de um espaço que não reteria nada na memória e nos liberaria do peso da cultura e de suas convenções (SCOFFIER, 2009, p. 164 e 169).

Exemplos de não lugares são a maioria dos aeroportos, estações de trem, ou ainda a ponte Octávio Frias de Oliveira (“estaiada”) em São Paulo. Nesses não lugares, não há uma atribuição de valor cultural ao lugar, ou seja, essas obras poderiam pertencer a qualquer local.

Peter Eisenman e Tadao Ando também discorrem sobre novos olhares para uma arquitetura contemporânea que ultrapasse o clássico, no qual segundo eles, o moderno e o pós-moderno foram sua continuação.

Se por um lado, em Arquitetura da Cidade, Aldo Rossi (1966) argumenta que por lugares, há uma forte relação cultural e de pertencimento com o lugar, Richard Scoffier (2009) surge com o termo meio-lugar para a atribuição de lugares que não possuem grande eloquência de um nem de outro, ou seja, são espaços em embrionários em branco:

Em “O fim do clássico: o fim do começo, o fim do fim”, Peter Eisenman (1984) defende que apesar da intenção do moderno de “ruptura radical”, a arquitetura tem sido uma continuação da “episteme clássica”, ou seja, manteve-se sob a influência e persistência de três ficções: a representação, a razão e a história.


Segundo Peter Eisenman, “a representação devia materializar a ideia de significado; a razão devia codificar a ideia de verdade e a história devia resgatar a ideia de eternidade a partir da ideia de mudança” (p.233). Assim, parafraseando Foucault, a “episteme clássica” significa que as três ficções permaneceram intactas e desde meados do século XV, “a arquitetura pretendeu ser um paradigma do clássico, ou seja, daquilo que é intemporal, significativo e verdadeiro” (p.233).

Tadao Ando discorre sobre a condicionante econômica na sociedade contemporânea e como isso reflete na padronização, mediocridade e por métodos mecânicos na arquitetura. Os novos horizontes propostos incluem a reflexão profunda pelo projetista – a descoberta da arquitetura que o lugar pede; a associação íntima da vida humana e a natureza, instalando um limiar espiritual; e a presença da lógica no processo de projeto -. Segundo Tadao Ando, a partir de tais aspectos, estaremos no caminho para a arquitetura contemporânea de O autor propõe a eliminação dos conceitos do clássi- clareza de estrutura e ordem espacial, criando estimuco relacionados com o tempo, argumentando que a lantes para o pensamento para o século XXI. ideia de origem de valor traz consigo a ideia de estado ou condição originária, ou seja, alude ao clássico. Também propõe o fim dos fins – a liberdade com relação a objetivos, a invenção de um processo não dialético e não direcional -. Em “Por novos horizontes na arquitetura”, Tadao Ando (1991) questiona sobre a superação do moderno na arquitetura contemporânea e propõe sua ampliação de perspectiva que se distancie da articulação funcional e se encaminhe para a abstração e sensibilidade com a natureza, o lugar e a vida humana.

36


4.3 Intervir e requalificar - o modo de vida urbano e o cotidiano Mauro Calliari (2016) discorre sobre as características de um espaço público vivo: “O espaço ganha significado a partir do próprio uso humano, da história que carrega” (p.70). Segundo o autor, uma maneira simples de entender o que funciona e o que não funciona nos espaços públicos, é a observação do comportamento das pessoas. Por exemplo: espaços que se abrem para as ruas, sem escadas, rampas ou muros são mais convidativos e atraem mais pessoas; a presença de água e árvores e suas sombras além de atraírem, são espaços de maior permanência; a “triangulação” ajuda na socialização das pessoas, mesmo desconhecidas; as pessoas tendem a permanecerem e sentir mais confortáveis próximas a colunas e fachadas, desagradando espaços vazios muito abertos.

37

Mauro Calliari foca na escala humana para a sistematização de aspectos que revitalizam e qualificam um bom espaço público. “Se é a vida humana que dá sentido a determinado espaço, é sob essa escala, a escala do homem, que devemos buscar analisar o território urbano” (p.61) O autor também destaca para a legibilidade dos espaços, em outras palavras, detalhes como materiais construtivos, postes de iluminação diferenciadas e outras características distintivas que façam com que as pessoas se identifiquem, decifrem e se orientem melhor com os lugares


5.

O objeto 5.1 O partido

O partido tem como conceito a arquitetura dinâmica, devolvendo o vazio à continuidade urbana – tendo-se em mente que não objetiva-se introduzir forma e ordem em um espaço vazio, utopicamente modificando o obsoleto em eficácia -. Para isso, as diretrizes incluem a integração da Praça da Luz e a abertura/acesso da Galeria Almira Gonçalves em sua empena cega, além da valorização da implantação quanto à fruição pública e espaços de permanência. O projeto prevê a revitalização da área e preocupa-se com a escala humana, juntamente com a criação de espaços e situações nas quais as pessoas se encontram e se envolvam, de forma que os usuários se beneficiem desse espaço que estimule o networking, desestimule barreiras sociais e que a arquitetura traga uma nova forma de enxergar a arte. Dessa maneira, objetiva-se atrair a classe criativa, e unir principalmente a arte com a tecnologia, além de diferentes áreas de atuação. Os usuários ao entrarem com

uma ideia, poderão desenvolvê-la no espaço oferecido – laboratórios, oficinas e coworking – e após sua prototipação, poderão expô-las na galeria de arte (espaço fechado e coberto) ou no campo experimental (praça rebaixada aberta). Posteriormente, também podem empreender e capitalizar sua ideia, ocupando as lojas, escritórios e criando eventos/palestras, permitindo assim a associação ter recursos para sua autogestão e até geração de lucros futuramente. Pela Operação Urbana Centro e o incentivo de adensamento na área, o programa também inclui tipologias habitacionais e corporativas. O terreno, porém, possui limitações construtivas pela linha de metrô passando logo abaixo, por isso, optou-se por abrigar as tipologias mistas em uma única torre, preocupando-se com a espacialidade das lajes e uma estrutura que possui a flexibilidade para tal. Os acessos no térreo e a circulação vertical são independentes para cada uso, buscando inclusive o contraste da fachada.

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5.2 Processo projetual, dificuldades e desenvolvimento Pela Operação Urbana Centro e o incentivo de adensamento na área, o programa também inclui tipologias habitacionais e corporativas. O terreno, porém, possui limitações construtivas pela linha de metrô passando logo abaixo, por isso, optou-se por abrigar as tipologias mistas em uma única torre, preocupando-se com

pesadas conforme indicado pelo orientador quanto sua viabilidade, havendo assim o embasamento de lojas e a praça rebaixada com o anfiteatro aberto. O desenho da implantação, pois, foi bastante norteado quanto à fruição pública e as áreas de passagem e permanência, além da conexão com a praça da luz existente e com as

a espacialidade das lajes e uma estrutura que possui a flexibilidade para tal. Os acessos no térreo e a circulação vertical são independentes para cada uso, buscando inclusive o contraste da fachada.

estações de metrô da luz.

Apesar da legislação dispensar a exigência de vagas de estacionamento, além da proximidade com o transporte público, optou-se por projetar dois subsolos de garagem Conforme mencionado, o projeto passou por duas devido à região central em que o projeto se situa e para grandes etapas na qual a área do terreno foi reduzida as habitações e escritórios que o projeto prevê. Tenpara melhor resolver e desenvolver o projeto. Apesar do-se em vista o maior fluxo de escritórios, o primeiro modificações quanto a implantação, o módulo estrutural pavimento de garagem restringe as vagas destinadas e a disposição das tipologias, o partido e a ideia de ser para o corporativo e o segundo pavimento de garagem um centro de educação, cultura e economia criativa para os residentes. manteve-se o mesmo. Conforme dito anteriormente, a Operação Urbana CenNa área por onde passa a linha do metrô – melhor enten- tro possui altos incentivos para o adensamento, com 39 dida e destacada na implantação – não há construções coeficiente de aproveitamento máximo sendo 6,0 (seis)


e áreas de destinadas à cultura, lazer e educação não computáveis. Um dos maiores condicionantes do projeto, pois, foi a questão do adensamento versus a linha do metrô - o que também causa ressalvas quanto ao posicionamento dos subsolos e das áreas permeáveis.

dos, administração e apartamento do zelador.

No embasamento do edifício concentram os espaços mencionados no capitulo do partido: no térreo os acessos separados da habitação e do corporativo, a reposição das entradas de estação do metrô, a galeria A estrutura foi pensada conforme a modulação de 1,25m de arte, a praça rebaixada, as lojas, cafés e apoio. No e com vãos sendo por sua maioria de 7,5m. O conjunto primeiro pavimento encontra-se a continuação da galeestrutural conforma-se por pilares de concreto que sus- ria de arte, o espaço de coworking, as oficinas, os labtentam as lajes moldadas in loco e as vigas pré-molda- oratórios, o espaço de jogos e leitura, além de cafés e das, também em concreto. A estrutura foi concebida de apoio. forma a possuir a flexibilidade para abrigar os diferentes usos de habitação e escritórios. Na tipologia habitacio- Para as fachadas, destaca-se o contraste do vidro dos nal, apartamentos de 1, 2 e 3 dormitórios totalizam 8 escritórios e os painéis de madeira conectados por apartamentos por andar; assim como os 8 escritórios trilhos por toda a extensão dos terraços; assim, além de que podem vir a ocupar todo o andar (aproximadamente servir como bloqueio da insolação, também criam uma 1000m²). maior dinamicidade no conjunto do edifício. O projeto também prevê pavimentos intermediários de uso comum e de apoio às tipologias - enquanto o corporativo conta com salas de reuniões, mini auditório, espaço de descompressão, bar e café; o habitacional conta com um pavimento de lazer e apoio: com sala de jogos, brinquedoteca, espaço de festas, fitness, estu-

40


5.3

Estudos de caso 5.3.1 Vila Flores/ Goma Oficina

Arquitetos: Flavia Tenan, Guilherme Tanaka, Gonzalo Sarnago, Maria Cau Levy, Pablo Urquiza, Rodrigo Oliveira, Rodrigo Gonzaga e Sofia Bicca Localização: Rua Hoffmann, 447 Coordenadores de projeto: João Wallig e Vitor Pena Área: 2330.0 m² figura 27: Vila Flores/Goma oficina esquema atual

O conjunto de edificações – dois prédios de três pavimentos - que abriga o projeto Vila Flores é datado de 1928 e o projeto original de Joseph Lutzenberger garante uma boa distribuição entre área construída e vazios abertos que garantem iluminação natural e ventilação cruzada. O projeto Vila Flores vem então ocorrendo de maneira processual e colaborativa desde 2011 e com o objetivo de tornar-se um centro voltado para cultura, educação e economia criativa. O complexo acolhe iniciativas de pequenos empreendedores e artistas que gerem o espaço de forma coletiva e dialogam para o desenvolvi41 mento de projetos compartilhados e multidisciplinares.

A gestão compartilhada refere-se aos espaços comuns destinados ao convívio, troca, networking, encontros, exposições, mostras, exibições, palestras, entre outros. Cria-se assim, pelo envolvimento dos grupos, uma relação de afeto e pertencimento. O edifício, pois, vem sendo requalificado para uma adaptação e demanda contemporânea, realizado em etapas e em fase de captação, possui previsão de usos de serviço, comércio e habitação.

figura 28: processo de desenvolvimento


O projeto Goma Oficina e Vila Flores foram essenciais para a construção de repertório no desenvolvimento do programa de necessidades do projeto proposto. Assim como os estudos de caso, o projeto prevê a criação de espaços que agreguem atuações diversas, principalmente relacionadas às artes e a tecnologia, de forma que os usuários possam trocar conhecimento e desenvolver projetos para posteriormente expô-los e/ou venderem nas lojas. O objetivo é a criação de um ambiente democrático e figura 29: diagrama de usos livre para a fermentação e experimentação de novas Assim como o Vila Flores, a Goma Oficina é um coleti- ideias, recebendo também um feedback dos projetos vo e uma plataforma interdisciplinar e tem sua sede em desenvolvidos de forma que ajude os jovens empreenSão Paulo. Possui atuação diversa, principalmente nas dedores no mercado de trabalho, no networking e na áreas de arquitetura, mobiliário, maquete, intervenção gestão e capitalização pessoais. urbana, cenografia, vídeo, ilustração, animação, fotografia e design. Dentro dessa relação de envolvimento, os usuários poderão futuramente alugar as lojas e os escritórios A idealização, experimentação, prática e prototipação previstos no programa, ou ainda organizar palestras, são todas desenvolvidas em sua oficina, sendo que a colaborando assim na captação de recursos do comrede de colaboradores em frentes multidisciplinares e a plexo. constante troca de conhecimento são essenciais para a 42 fermentação de novas ideias e para o olhar crítico.


5.3.2 Casa da Música

Arquitetos: Rem Koolhaas e Ellen van Loon Localização: Porto, Portugal Ano: 2005 Área: 22000.0 m²

recuado da Rotunda que se encontra fechado por três quadras urbanas. O projeto locado no antigo vazio, gera uma acupuntura urbana pela nova continuidade e contraste, apresentando-se como um exercício critico do espaço metropolitano atual.

A Casa da Música está situada no local da antiga garagem dos bondes elétricos junto a Rotunda da Boavista na cidade do Porto e segundo Igor Guatelli: Imaginada e construída para assinalar a escolha da cidade do Porto como capital cultural europeia no ano de 2001, emerge como uma força disjuntiva, assumindo um papel de interrupção e interruptor – o inter-ruptor, aquele que rompe entre posições – em relação à cidade, ou seja, algo que rompe correntes alternativas e que podem ir além do limitado conceito de identidade urbana. (GUATELLI, 2010, on-line) O projeto, pois, inserido em um vazio urbano na histórica Rotunda da Boavista da cidade do Porto, torna-se importante estudo de caso para projeto pela sua im43 plantação e simbolismo geradas. Cria-se um edifício

figura 30: Implantação e Parque da Rotunda

figura 31: Volumetria


5.3.3 Axel Springer Campus

Arquitetos: OMA Localização: Berlim, Alemanha Ano: 2014 - em construção Área: 82000.0 m² O projeto para a empresa de mídia em Berlim influenciou diretamente no projeto na questão da dinamização da espacialização interna para os espaços de utilização coletiva. O principal objetivo com o desenvolvimento do projeto era de estabelecer um ambiente de trabalho dinâmico e integrado, permitindo que os usuários possam interagir e conectar entre figura 32: Maquete eletrônica - átrio central si – realizado por meio de um átrio central de diversos níveis que se interligam e se conectam -. Dessa forma, o edifício Axel Springer Campus assim como o projeto desenvolvido, possui duas áreas de trabalho contrastantes – uma área de escritórios destinada atividades corporativas que exigem espaço de uso privado, geralmente prestação de serviços; e outra área mais dinâmica e integrada que estimula a troca e a conexão de pessoas: com o coworking, espaço de jogos, de leitura e descompressão -.

figura 33: Maquete eletrônica - espacialidade interna 44


Edifīcio residencial Rua Simpatia Arquitetos: Alvaro Puntoni, João Sodré, Jonathan Davies Localização: Vila Madalena, São Paulo Ano: 2011 Área: 3000.0 m² A referência direta do projeto são os painéis de madeira utilizados nas varandas dos apartamentos e que compõem a fachada do edifício. Conectados por trilhos metálicos – melhor visualizado na perspectiva interna do ambiente -, são dispostos conforme os usuários e assim conferem o movimento da fachada. Além disso, também como quebra-sol e verificam diferentes sombreamentos internos de acordo com o horário e disposição dos painéis (vide figura 35). Assim como a dinamicidade da fachada e com o intuito de se obter apartamentos como expressão dos moradores, os espaços internos são planos abertos no qual os moradores se apropriam conforme suas necessidades e desejos. A combinação da madeira com o concreto aparente da fachada e a transparência do vidro também foram buscadas no projeto desenvolvido, com o objetivo de se obter um conjunto equilibrado 45 pela combinação de diferentes materiais.

figuras 34 e 35: fachada e ambiente interno


Legislação -­‐ Operação Urbana Centro CA = 6,0 TO = TP =

administração (60m²) controle (160m²) 390 depósito banheiro

Tabela de áreas do programa

[56] escritórios 5.4 O programa (75m², 85m², 125m² e 160m²) copa + wc área total 11080,80m² 17% circulação 8275,80m² centro TO de cultura, educação e economia criativa 7 pavimentos tipos (1082,0m² cada) TP

áreas computáveis áreas computáveis

7674,0

2805,0m²

comércio [28] lojas (aprox. 70m²)

total áreas não computáveis

13431,0

(m²) galeria de arte 3990 habitação [28] 2 [1] dormitórios secretaria (15m²)

[14] 1 controle dormitório (10m²)

2115

administração (20m²) depósito (100m²)

[14] studios

jogos, bexposição rinquedoteca, estudos, temporária das obras e festas, protótipos fitness d esenvolvidos n o apoio, espaço depósito, DML [1] apartamento zelador

338 [-­‐] apoio

[2] subsolos estacionamento [-­‐] apoio

60

total sem circulação total com circulação (40%)

áreas computáveis

2513,0 3518,20

7723,0

total sem circulação

7670,0

total com circulação (17%)

9204,0 26155,0

total computável

8275,80m²

[1] espaço coworking 2805,0m² copa + descompressão acervo 2750 espaço jogos espaço leitura depósito

comércio [28] lojas (aprox. 70m²) [1] espaço comum corporativo [3] sala de reuniões 2115 [1] mini auditório (30pp) café/ bar área descanso/ descompressão apoio e depósito

1917

áreas não computáveis áreas não computáveis

Índices construtivos projeto

[1] galeria de arte secretaria (15m²) controle (10m²) CA = 2 ,45 1975,0 administração (20m²) = 7 5% TO depósito (100m²)

TP = 25% exposição temporária das obras e protótipos desenvolvidos no

1800,0

[-­‐] apoio

[2] subsolos estacionamento

7723,0

total com circulação (40%) [56] escritórios 3518,20

total não computável

11498,0

[3] café

1800,0 1190

controle (150m²) 250 vestiário + copa total não funcionários computável (60m²) 11498,0

serviços [6] oficinas (50m²) 350 Tabela tecnologia de áreas do arte, programa workshops educação [7] laboratórios (70m²) 350 fablab, tecnologia 11080,80m² área total

TO TP

1050

[1] pavimento lazer [1] campo experimental

[3] café

eração

1975,0 1190

[1] campo experimental

338 [-­‐] apoio

administração (60m²) controle (160m²) 390 depósito 60 total sem circulaçãobanheiro 2513,0 (75m², 85m², 125m² e 160m²) copa + wc 17% circulação serviços [6] oficinas (50m²) 7 p avimentos tipos (1082,0m² cada)

350 tecnologia arte, workshops educação [7] laboratórios (70m²) total 350 fablab, tecnologia [1] espaço coworking 2 d ormitórios habitação [28] copa + descompressão acervo [14] 1 d ormitório

Legislação -­‐ Operação Índices construtivos Legislação -­‐ Operação Urbana Centro índices construtivos Tabela de áde reas dprojeto o programa projeto

CA = 6,0 CA = 2,45 TO = 75% TO = TP = 25% TP =

espaço

Urbana Centro

Tabela de áreas do programa

CA = área 6,0 total TO = TO TP = TP

área total 11080,80m² TO 8275,80m² TP 2805,0m²

áreas computáveis

áreas computáveis

3990

21

2115 [3] café

[3] café

13431,0 (m²)

(aprox. 70m²) comércio [28] lojas comércio [28] lojas (aprox. 70m²)

7674,0

11080 8275 2805

[-­‐] apoio

[-­‐] apoio total sem circulação

46

338

3

6

total sem circulação total com circulação 60 (40%)

2513,0


5.5 Primeira etapa do projeto centro educação, economia criativa e escritório passagem galeria comercial

habitação campo experimental exposição protótipos desenvolvios cobertura aço + vidro lojas

publico privado

47

fluxos e circulações – horizontal e vertical



6. O projeto 6.1 O experimento: quebra sol e insolação O experimento realizado de iluminação natural envolveu a avaliação do desempenho do quebra-sol que envolve a galeria de arte. Como método, foi utilizado a extensão Sun Study (estudo solar) que contém no programa Archicad da Graphisoft. Com o programa, é possível colocar a localização em que o projeto se situa e seu respectivo fuso horário. Assim, com a construção do modelo, foram realizadas simulações – que são exportadas em vídeo – com diferentes datas e do nascer ao pôr do sol. Conforme o decorrer das experimentações, as simulações também envolveram as variações de proteção solar obtidas com diferentes medidas do brise.

49

Foram realizadas primeiramente simulações externas no período de inverno e verão: como observou-se que há pouca incidência solar sobre o brise no inverno, foram focadas os experimentos no período de verão, quando os raios solares incidem por um período mais longo sobre a proteção solar.

figura 36: localização do projeto e fuso horário 23°32’10.9”S 46°38’05.1”W

figura 37: simulações com diferentes datas, do nascer ao pôr do sol


1

2

3

50


As simulações nomeadas de 1,2 e 3 - separadas por colunas - são desse modo, internas e para o período de verão. Nota-se na primeira coluna, que o brise não é eficiente e satisfatório como proteção solar, recebendo mais incidência principalmente ao longo da tarde. Assim, em “2” apresenta-se a tentativa e a prioridade do aumento da profundidade do brise, já que não acarretaria em mudanças quanto a fachada. No entanto, não também resultou em grandes mudanças quanto à insolação interna para os mesmos horários de “pico”. Na terceira tentativa, por outro lado, optou-se por diminuir o espaçamento que a proteção possui, obtendo-se assim melhores resultados e maior proteção interna da galeria de arte. É importante ressaltar que o brise, apesar de cumprir sua função como quebra sol, não objetiva preservar obras que exigem proteção solar por sua totalidade para não danificá-las, mas sim melhorar o conforto térmico e proteger obras temporárias realizadas pelos usuários na prototipação de suas ideias.


6.2 Representações gráficas


Detalhamento em planta, elevação e corte do brise

escala 1:20

caixilho de alumínio acabamento anodizado

elevação planta

corte

53

detalhe brise metálico escala 1:50 escala 1:20


54


55


56


57


58








7. Conclusão A partir do estudo e análise do processo de metropolização da cidade de São Paulo, atenta-se ao fato da ocupação do solo não ser restrita apenas à tendência radiocêntrica, como muito apontada, mas caracterizada pela descontinuidade de sua expansão. O crescimento da cidade foi influenciado principalmente pela comercialização do café, implantação da estrada

da cidade, incessantemente reconstruindo outra sob o mesmo assentamento.

de ferro, empuxo das imigrações e industrialização fatores esses que acarretaram em periódicos e bruscos aumento da população, além da formação de diversos núcleos urbanos que ao se expandirem e gradativamente se conectarem, constituíam os vazios urbanos e compunham o sitio urbano da cidade de São Paulo.

que ao percorrer o território, nota-se sua influência com a falta de vitalidade do lugar, na sensação de insegurança e no aumento do ritmo dos passos das pessoas.

Por “as lembranças são mais duradouras que o cenário construído”, Leonardo Benevolo contribui com a nota introdutória do livro de Benedito Lima de Toledo e afirma que o crescimento desordenado e desprovido de infraestrutura da cidade de São Paulo também constituiu-se pelo abusivo uso do solo, articulado pela iniciativa privada e os empreendimentos imobiliários que 65 destruíam e arquivavam para a memória a arquitetura

O interesse pelo tema decorreu da relevância e do destaque dos vazios como rompimento do ritmo do tecido urbano, não como áreas integradas com a população e a cidade, mas como áreas escondidas entre muros e

Assim, ao melhor compreender a complexidade histórica e a relevância da presença dos vazios mencionados com a dinâmica urbana, delimitou-se um perímetro urbano no qual mapeou-se possíveis conexões e percursos que atravessam quadras e poderiam vir a requalificar a fruição pública e o envolvimento que as pessoas detém com o espaço.


A pesquisa e a análise de diferentes perspectivas quanto a dimensão e ao conceito dos vazios urbanos também permitiu distinguir a particularidade do termo para São Paulo. Conforme exemplificado, enquanto a cidade de Paris se expandiu conforme a sua pressão demográfica e radialmente a partir de um ponto, não há vazios em seu centro urbano, mas na periferia da cidade. Compreende-se, pois, os vazios referidos de Rem Koolhaas e seu cuidado quanto à ocupação desenfreada de espaços que constituem a natureza e a paisagem parisiense. Desse modo, o amplo termo requer compreensão distinta decorrente do processo histórico e do contexto urbano em que se refere estar inserido. Questões como as relações fenomenológicas das pessoas com o espaço e seus registros visuais, sonoros, de cores e de cheiros vinculados ao lugar também estão associados à qualidade do ambiente urbano no momento em que sustentam a sua relação de identidade e pertencimento com o território e expressa a sociedade que nela vive.

Pelos novos horizontes e intuito de ruptura da arquitetura moderna como continuação do clássico, o projeto buscou se distanciar da articulação formal. Mesmo ao prever determinados usos, propõe-se flexibilizar os espaços e soluções estruturais ao abrigá-los. O projeto também buscou encaminhar-se para a sensibilidade do lugar ao compreender a leitura urbana dos vazios para sua ocupação; além de se preocupar com a manifestação da cultura ao conectar com a vida humana e espaços que estimulam a socialização pela fruição pública e diversidade de usos. A análise e reflexão, a descoberta da necessidade do território e a lógica no processo projetual foram investigadas e procuradas para uma melhor clareza da ordem espacial nas suas diferentes escalas.

66


8. Bibliografia ASCHER, François. Os novos princípios do urbanismo. Tradução e apresentação Nadia Somekh. São Paulo: Romano Guerra, 2010. BIDOU-ZACHARIASEN, Catherine. De volta à cidade: Dos processos de gentrificação às políticas de “revitalização” dos centros urbanos. Tradução Helena Menna Barreto Silva. São Paulo: Annablume, 2006. CALLIARI, Mauro. Espaço público e urbanidade em São Paulo. São Paulo: Bei Comunicação, 2016. CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática estética. Tradução Frederico Bonaldo. São Paulo, Gustavo Gilli, 2013. GUIMARÃES, Lais de Barros Monteiro. Luz: história dos bairros de são paulo. São Paulo: Novos Horizontes, 1977. LERNER, Jaime. Acupuntura urbana. 8ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2015. MENDONÇA, Luciana Brito Marques de. Becos e travessas da Ribeira: uma proposta de diretrizes para espaços de passagem. 2016. 145 f. TCC (Graduação) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Potiguar, Natal, 2016.

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MONBEIG, Pierre. La croissance de la ville de Sâo Paulo. Revue de Géographie Alpine, Grenoble, tome XLI, fasc. II, p.265-309, 1953.


NESBITT, Kate. Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: Cosac Naify, 2008. TOLEDO, Benedito Lima de. São Paulo: três cidades em um século. 2ª ed. aum. São Paulo: Duas Cidades, 1983. PERSON, Elisangela. Espaços de Permanência e Passagem: contribuição para a elaboração de diretrizes ambientais e de acessibilidade para o desenho urbano. 2006. 156 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, Brasília, 2006. SOLÀ-MORALES, I.de, Territórios, Barcelona: Gustavo Gili, 2002. WILHEIM, Jorge. São Paulo Metrópole 65. São Paulo: Difel,1965.

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Figura 10: Estudo de massas | cheios e vazios. Croqui elaborado pela autora, 2017.


Figura 11: Mapeamento conexões. Estudo elaborado pela autora, 2017. Figura 12: Delimitação de área do terreno. Mapa elaborado pela autora, 2017. Figura 13: Galeria Almira Gonçalves. Acervo pessoal, 2017. Figura 14: Galeria Almira Gonçalves, acesso à rua Brigadeiro Tobias. Acervo pessoal, 2017. Figura 15: Situação sem intervenção. Mapa elaborado pela autora, 2017. Figura 16: Panorâmica: Galeria, Praça da Luz, Estação da Luz e Pinacoteca. Acervo pessoal, 2017. Figura 17: Estação da Luz. Disponível em: <http://outracidade.uol.com.br/wp-content/uploads/2015/12/S%C3%A3o-Paulo_Esta%C3%A7%C3%A3o-da-Luz-B.jpg>. Acesso em 22 de setembro de 2017. Figura 18: Estação da Luz. Disponível em: <http://www.norteandovoce.com.br/wp-content/uploads/2015/09/ METRO131.jpg>. Acesso em 22 de setembro de 2017. Figura 19: Vista aérea Jardim da Luz. Disponível em: <http://saopaulo.com.br/wp-content/uploads/2013/12/jardim-da-luz-vista-a%C3%A9rea.jpg>. Acesso em 22 de setembro de 2017. Figura 20: Parque Jardim da Luz. Disponível em: <http://saopaulo.com.br/wp-content/uploads/2013/12/jardim-da-luz-panorama-central.jpg>. Acesso em 22 de setembro de 2017. Figura 21: Pinacoteca. Disponível em: <http://pinacoteca.org.br/wp-content/uploads/2016/11/pina1.jpg>. Acesso em 22 de setembro de 2017. Figura 22: Vazio central e passarela. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/787997/pinacoteca-doestado-de-sao-paulo-paulo-mendes-da-rocha/5740c9ace58ecee2f800006f-pinacoteca-do-estado-de-sao-paulo72 paulo-mendes-da-rocha-foto>. Acesso em 22 de setembro de 2017.


Figura 23: Estação Julio Prestes. Disponível em: < http://www.geographicguide.com/pictures/sao-paulo-5.jpg>. Acesso em 23 de setembro de 2017. Figura 24: Sala São Paulo. Disponível em: <https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/dupre-arquitetura-coordenacao_/sala-sao-paulo/1357>. Acesso em 23 de setembro de 2017. Figura 25: Paris 1643 pré Haussmann . Disponível em: <http://www.museumofthecity.org/wp-content/uploads/2013/08/4.png>. Acesso em 15 de junho de 2017. Figura 26: Paris 1858 aberturas e conexões de vias criadas. Disponível em: <https://i0.wp.com/klio.uoregon.edu/ sci/haussmann01C.jpg>. Acesso em 15 de junho de 2017. Figura 27: Vila Flores/Goma oficina esquema atual < https://www.archdaily.com.br/br/788135/vila-flores-goma-oficina/5743d375e58ece1edd0000b1-vila-flores-goma-oficina-vila-flores-hoje>. Acesso em 23 de maio de 2017. Figura 28: Vila Flores/Goma oficina processo de desenvolvimento. Disponível em:<https://www.archdaily.com.br/ br/788135/vila-flores-goma-oficina/5743d3bbe58ece1edd0000b3-vila-flores-goma-oficina-processo-arquitetonico>. Acesso em 23 de maio de 2017. Figura 29: Vila Flores/Goma oficina diagrama de usos. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/788135/vila-flores-goma-oficina/5743d398e58ece0b1d000114-vila-flores-goma-oficina-diagrama>. Acesso em 23 de maio de 2017. Figura 30: Casa da Música/OMA – Implantação. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/765378/casa-da-musica-oma/552c90ade58ecebf5400018d-site-plan>. Acesso em 25 de maio de 2017. 73


Figura 31: Casa da Música/OMA – Volumetria. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/media/images/magazines/grid_9/2840ca726f63_texto03_oma_modelofinal.jpg>. Acesso em 25 de maio de 2017. Figura 32: Axel Springer Campus/OMA – Maquete eletrônica. Disponível em: <http://oma.eu/projects/axel-springer-campus>.Acesso em 03 de junho de 2017. Figura 33: Axel Springer Campus/OMA – Maquete eletrônica. Disponível em: <https://www.archdaily.com/459281/big-oma-buro-os-to-compete-for-new-media-campus-in-berlin/52b06c1ce8e44ee813000030-big-oma-buro-os-to-compete-for-new-media-campus-in-berlin-image>. Acesso em 03 de junho de 2017. Figura 34: Fachada edifício Simpatia. Disponível em: <http://www.gruposp.arq.br/?p=19>. Acesso em 17 de agosto de 2017. Figura 35: Painéis de madeira edifício Simpatia. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-98/edificio-habitacional-na-rua-simpatia-gruposp/57456ba8e58ece1d37000003-edificio-habitacional-na-rua-simpatia-gruposp-foto>. Acesso em 17 de agosto de 2017. Figura 36: Localização do projeto e fuso horário. Imagem retirada do programa Archicad, 2017. Figura 37: Simulações com diferentes datas, do nascer ao pôr do sol. Imagem retirada do programa Archicad, 2017.

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