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Figura 1: Linha do Tempo – Cultura no Brasil

Figura 1: Linha do Tempo – Cultura no Brasil

FONTE: Elaborado pela autora.

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O período da Belle Époque se instalou de forma lenta no Brasil, todavia, foi de grande valia para o desenvolvimento cultural do país. Segundo Petrin (2014), a Belle Époque só ocorreu no Brasil em 1880 e seguiu até 1925 e seus reflexos foram percebidos no período em que ocorria o Movimento Modernista e a realização da Semana da Arte Moderna, além de grandes reformas urbanísticas no Rio de Janeiro e a fundação de Belo Horizonte, uma das primeiras cidades planejadas do Brasil. Assim, Borges (2020) também afirma que as evoluções técnico-científicas da Europa tiveram reflexos no Brasil, que passa a emergir na modernização e nas artes entre os anos de 1880 e 1925. Portanto, aos poucos o Brasil também recebia a cultura do divertimento e evoluía de diversas maneiras. No ano de 1988 o Brasil finalmente assegura a cultura do país na Constituição Federal, garantindo o acesso à cultura para todos os brasileiros. Com isso, Brasil ([2016]) consta que “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.” Além disso, no parágrafo 1º o estado garante que “protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional” (BRASIL, 2017). Ademais, é de suma importância que o estado garanta o acesso à cultura para sua população, assumindo a relevância da identidade do seu povo para o Brasil. Portanto, a valorização da cultura

brasileira citada na Constituição federal foi um passo relevante para o país, colaborando com a representação e o cuidado com suas tradições e costumes. No contexto atual, diante da tecnologia e informação facilitada, os eventos aproveitam de tais ferramentas para serem mais interativos aos consumidores que estão mais antenados e exigentes quanto à sua motivação. De acordo com Martin (2003) a internet e o avanço tecnológico contribuíram para o desenvolvimento de novas tipologias de eventos além de provocar o consumidor a ser mais valorizado, buscando por eventos de qualidade, criativos e com custo acessível. Deste modo, na atualidade é indispensável no planejamento de um evento a presença de profissionais qualificados para a sua concepção.

1.3 Eventos

Para propor um evento é preciso definir sobre o que se trata e quais podem ser seus objetivos, para assim, melhor planejá-lo, uma vez que, os eventos podem obter diversas finalidades e para isso, precisa-se um planejamento de acordo com suas especificidades.

Não existe consenso quanto a uma conceituação universal de evento. Ela é dificultada pela própria natureza intrínseca da atividade: seu dinamismo e sua abrangência. Eles estão presentes em toda a economia em todas as classes sociais, religiões, raças e credos. Por isso, dependendo da visão de quem o realiza e dele participa, o evento poderá ter uma definição diferenciada da outra, mesmo não sendo conflitante (MARTIN, 2003 p. 35).

Os eventos públicos podem oferecer benefícios tanto ao município e seus moradores, quanto para turistas. Para Tum, Norton e Wright (2007) apud Barbosa (2012), os festivais, eventos culturais e festas temáticas “são atividades que possuem uma representatividade muito grande para a comunidade, pois, além de promover o envolvimento dos residentes, proporcionam a oportunidade de receber visitantes, divulgar a localidade e impulsionar a economia local”, portanto, a realização destas festividades públicas colabora de diversas formas para a sociedade. É preciso entender qual a relação da arquitetura com os eventos e de que modo ela contribui para o planejamento destas realizações. A soma desses aspectos, como por exemplo som e iluminação, evidencia a sua intenção transformadora. Para Tschumi, citado por Fontes (2011) a arquitetura trata tanto dos próprios espaços quanto dos eventos que tomam lugar nesses espaços. A relação entre os ambientes destinados a eventos com a arquitetura e o urbanismo se dá por seus determinantes, envolvendo o planejamento de sua realização para fluxos eficientes e por seu âmbito em abrangência social.

É da natureza do ser humano procurar por experiências, e por isso os eventos são tão consumidos por todo o mundo. Martin (2003) afirma que “o evento é uma promessa de entretenimento e lazer, uma expectativa de sucesso e uma certeza de vivências emotivas”. Desta maneira, o público que consome os eventos busca por experiências, emoções e novidades.

1.4 Espaços de Eventos

Os eventos são por vezes o local a expressão corporal e libertação do estresse interior, pois servem como um escape para deixar de lado as preocupações cotidianas (Pereira, 2019). Assim sendo, percebe-se a relevância da análise de eventos como opção de lazer a combater o estresse com atividades prazerosas.

Estudos na área da sociologia destacam a grande importância das atividades de lazer que, além de estimular a socialização e proporcionar prazer ao indivíduo, suprem as necessidades fisiológicas, de segurança, de status/estima, de autorrealização e necessidades sociais. RECKZIEGEL (2009, p.28)

O público que frequenta eventos no geral, busca por experiências diversificadas, com isso, conhecer o público ajuda a definir como tornar o ambiente atrativo. Segundo o SEBRAE NA (2019), para atender as necessidades do público e oferecer exatamente o que o cliente deseja é indispensável definir qual o perfil do consumidor. Deste modo, para garantir que um evento consiga atrair o público-alvo faz-se necessário investir em pesquisas sobre os clientes e a cultura da cidade. Portanto, a partir do estudo do público é possível criar ambientes que atendam às suas reais necessidades.

O lazer é um conjunto de ocupações as quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais. (DUMAZEDIER, 2000. p. 34)

Para desenvolver espaços destinados a lazer noturno é relevante estar atento à satisfação do público com o espaço. De acordo com Reckziegel (2009, p.27), os ambientes noturnos que oferecem diversão, lazer e prazer aos consumidores se destacam no mercado turístico e de entretenimento. Desta maneira, o lazer noturno tem função de recreação aos moradores da região e turistas, sendo indispensável um ambiente que permita sensações boas e de felicidade aos utilizadores. O lazer noturno também pode favorecer a economia de um município de modo significativo. Segundo o SEBRAE NA “o mercado brasileiro de eventos gerou, em 2013, R$209,2 bilhões em um total de 590 mil eventos realizados. É um segmento que

arrecada R$48,7 bilhões em impostos, gera 7,5 milhões de empregos e representa 4,3% do PIB do Brasil.” Essa grande movimentação financeira mostra a importância do lazer noturno também para a economia. Então, os eventos têm grande relevância socioeconômica e permitem boas experiências sociais, o que o torna um setor imprescindível.

1.5 Tipos de Eventos

Os eventos são realizados de diversas maneiras e para todo tipo de público, assim, para executar uma festa de acordo com a identidade do público-alvo é relevante definir a classificação em que o evento se encaixa. Definir a classificação do evento e seu público-alvo, é uma etapa essencial para o planejamento de qualquer festa. Martin (2003) afirma que é possível classificar os eventos de acordo com a forma de adesão. Podendo ser classificado como fechado, no qual um determinado grupo recebe um convite. Ou aberto, podendo conter dois tipos de adesão, sendo livre ou com a necessidade de compra de ingresso para o acesso. Com isso, sendo o evento a realização de uma atividade com uma meta específica, sua classificação pode direcionar estes objetivos para a concepção do projeto. Uma outra maneira de classificar os eventos é por seu porte, ou seja, pelo tamanho de seu público. Martin (2003) define os eventos pelo número de pessoas presentes, sendo classificadas da seguinte forma: • até 100 pessoas: micro eventos; • 101 a 500: pequenos eventos; • 501 a 2500: médios eventos; • 2501 a 5000: grande evento; • acima de 5001: macro eventos. Esta definição é necessária para prever a abrangência do evento, que pode ser municipal, regional, nacional ou internacional, o que determina, por exemplo, o tamanho do local em que será realizado, além de sua estrutura para atender todo o público. Então, o planejamento precisa de estratégias para se ter uma ideia de qual o tamanho do público que irá frequentar a festividade. Também pode-se caracterizar um evento quanto à sua data de realização. De acordo com Coutinho (2010), os eventos podem ter: ▪ Data fixa - realizada anualmente no mesmo dia; ▪ Móvel - data variável segundo os interesses de quem promove;

▪ Esporádica - realização temporária, ocasionados por fatos extraordinários. Com essa definição pode-se definir sobre o que se trata o evento, se é semestral, anual ou bianual. Com isso se torna possível prever o planejamento do evento precisamente. O perfil dos participantes também pode caracterizar o tipo de evento. Para Coutinho (2010) os perfis dos participantes são divididos em: ▪ Geral - Deixa em aberto a clientela e é limitado apenas pela capacidade do local de realização; ▪ Dirigido - Se trata de um grupo que possuem afinidades com determinados temas em comum; ▪ Específico - Relacionado diretamente a eventos direcionados a um público com identidade de interesse por determinado assunto. Outro fator que pode determinar as características dos eventos são os objetivos da realização e qual a sua finalidade com a realização do evento. Deste modo, Coutinho (2010) divide os objetivos em: ▪ Científico e cultural - educacional, artístico ou esportivo; ▪ Comercial - comercialização de um ou mais produtos; ▪ Social - beneficente, proporcionando congregação e integração. Portanto, são diversas as características que definem um evento, e prever estas informações antes de projetar uma festividade é crucial para alcançar bons resultados e evitar transtornos durante a sua concepção e realização.

1.6 Cenografia

A cenografia é a habilidade de transformar uma ideia em cenário, podendo ser considerados tanto como ambiente quanto estrutura e/ou instalação. Adiante, foi conhecida por ser trabalhada a muitos anos em teatros, desenvolvendo cenários para diversas apresentações, criando cenas, modificando ambientes, de modo que fosse possível a sensação de outra realidade. O potencial da cenografia para um espaço de evento está na forma em que permite os expectadores obterem diversas experiências. Fósforo (2015) afirma que a cenografia abrange muito mais que “desenho de cenário” que trabalham nos teatros, a cenografia pode ser definida como uma linguagem, onde, a partir de ferramentas visuais e sensoriais, somam fatores para a composição da idealização de uma narrativa. Deste modo, embora

a cenografia seja de extrema relevância para os teatros, ainda assim pode ser aplicada em outros contextos.

A cenografia se expandiu muito; hoje não está mais presente apenas no teatro, na tv e no cinema. Abriram-se outros mercados, e o cenógrafo é solicitado em diversas atividades, muitas delas novas, como a museografia, frequentemente nos museus e nas exposições, e as feira, que exigem muito a atuação desse profissional na criação de estandes. Lojas contratam o cenógrafo para produzir suas vitrines. Ele encontra trabalho na publicidade, nos lançamentos de produtos, na realização de eventos, no carnaval, nas festas, nas decorações temáticas de shoppings e bufês infantis, nos shows musicais, na arquitetura teatral, nos parques temáticos. (SERRONI, p. 28, 2013)

A cenografia não é exclusivamente utilizada em apresentações teatrais, sendo muito aplicada em diversos outros ambientes com a intenção de cativar pessoas. Segundo Tendere (2013) para criação de uma constituição visual de um ambiente, a arquitetura do entretenimento trabalha com formas, linhas, cores, volumes e luzes que atualmente vai muito além dos teatros, sendo trabalhados em apresentações, shows e demais ambientes que se envolve a experiência do usuário. Fósforo (2015, p.12) também afirma que “a cenografia se manifesta na relação entre: espaço, luz, arquitetura, contexto, lugar, superfície, forma etc.” Nesse sentido, para a composição de um ambiente com características que levam os espectadores a terem sensações, são aplicadas técnicas que demonstram uma simbologia em sua combinação. São muitas as técnicas que podem ser utilizadas para transmitir uma ideia cenográfica, entre ela temos as cores, que quando aplicadas ajudam a transmitir a sensações. As cores podem ser utilizadas como técnica em um projeto cenográfico que tem como intenção oferecer um ambiente sensorial a quem utiliza do espaço, isso porque, as cores nos permitem captar estímulos e informações do ambiente que alimentam o nosso sistema sensorial (FREZZARIN, 2016). Sendo assim, antes de projetar qualquer cenário se torna relevante definir qual a mensagem precisa transparecer, e diante disso escolher as cores que irão compor o espaço.

A cor como elemento integrante da arquitetura não apenas estética, mas com importância psíquico-sensorial, permite com que sensações sejam passadas através do uso adequado e da escolha adequada, porém quando o assunto referir-se a composição de uma cena para retratar um sentimento, ou uma vontade, aspectos simbólicos, ficam subjetivamente interpretados através da escolha da paleta de cores utilizadas pelo diretor arte responsável e por isso deve ser escolhida com cuidado e precisão, levando em consideração todos os fatores influenciadores. (FOLLADOR, 2019)

Além do uso das cores, outra escolha que muda o ambiente e a sensação dos expectadores no ambiente é o som. De acordo com Frezzarin (2016) o som é outra maneira de estimular as sensações dos expectadores, pois a audição também é capaz de

mexer com os sentidos sensoriais do ser humano, seja com efeitos sonoros, música ou até mesmo o silencio pode ser um componente cenográfico, afirma o autor. Ademais, o som é muito utilizado em teatros e filmes para transmitir sensações de suspense, drama, terror etc. Deste modo, nos ambientes os efeitos sonoros têm potencial para transmitir sensações diversas ao público. A iluminação também é uma característica determinante em qualquer espaço. De acordo com autor Frezzarin (2016) um dos principais elementos para compor um espaço cenográfico é a iluminação que consegue dar ênfase em detalhes importantes e tem uma ótima repercussão na percepção humana com seus efeitos luminotécnicos que definem cenicamente p tempo e espaço da ação. Com isso, trabalhando a iluminação e suas possibilidades de efeitos no espaço pode-se trazer uma sensação aos espectadores.

De todas as relações existentes entre a cenografia e os demais componentes do espetáculo, uma é fundamental: a iluminação. Ao trabalhar a cenografia, deve-se pensar de que maneira ela vai interagir com a luz. Que possibilidades ela está criando para que a luz entre no espaço e o transforme? De que maneira ela pode enriquecer os signos montados pela espacialidade? (SERRONI, p. 28, 2013)

Para Fósforo (2015), a cenografia é muito importante para transmitir sensações por quem utiliza dos espaços e por isso, é essencial o uso destas técnicas em shows e festivais, para que o projeto apresente uma identidade ao evento, de modo que conecte naturalmente o artista, público e espetáculo. Sendo assim, para a concepção de eventos e festivais o projeto que seguir as técnicas aplicadas a cenografia proporcionará ao público experiencias e sensações. Assim, a aplicação da cenografia em eventos é primordial. Um belo exemplo de cenografia aplicada em eventos se trata do palco Espaço Favela (Figura 2) apresentado no Rock in Rio de 2019 traz uma identidade, buscando representar o público, trazendo a simplicidade das favelas brasileiras em cores vivas que trazem uma sensação de alegria, uma simbologia que diz muito sobre a realidade de uma grande parcela da população que resiste mesmo em meio a tantos desafios.

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