O arquiteto como mediador de informações: o caso do Lucas.

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O ARQUITETO COMO MEDIADOR DE INFORMAÇÕES: AMPLIAÇÃO DE POSSIBILIDADES EM PROCESSOS DE PROJETOS COMPARTILHADOS. O CASO DO LUCAS. Juliana de Faria Linhares

Trabalho Final de Graduação Orientadora: Fernanda Nascimento Corghi 30 de Novembro de 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI - ARQUITETURA E URBANISMO /DAUAP


SUMÁRIO: AGRADECIMENTOS AMPLIAÇÃO DAS POSSIBILIDADES EM PROCESSOS DE PROJETO COMPARTILHADOS

03 05

O ARQUITETO COMO MEDIADOR DE INFORMAÇÕES

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ESTUDO DE CASO

08

QUEM É O LUCAS?

09

CONHECENDO O LUCAS

11

O AUTISMO O AUTISMO E A ARQUITETURA O LOTE DA TIA ANTÔNIA

12 12 13

O BAIRRO ÁGUAS GERAIS A REDE

14 19

O PROJETO

22

CROQUIS

23

CAMPANHA

24

O CANTEIRO DE OBRAS

26

ANÁLISES

48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

50

O habitante como parte do processo de projeto

A troca de saberes por uma arquitetura mais democrática A experimentação da mediação

A situação encontrada

Como passei a participar do projeto

O local doado para a construção da casa do Lucas

A criação da rede multidisciplinar de parceiros

O ponto de partida para o Mundo do Lucas sair do papel O registro manual do processo de projeto A criação da rede online

O arquiteto em 1ª pessoa - participante RECONHECIMENTO DO TERRENO FUNDAÇÃO DE PEDRA - COMO NOS ADAPTAR? ENCONTRAMOS ÁGUA CORTE FEITO PELOS PEDREIROS ADAPTAÇÕES DRENAGEM FUNDAÇÃO O PROJETO É PROCESSO, NÃO RESULTADO FINAL SEGUNDA CHUVA TROCA NOVA DEMARCAÇÃO NÃO TERMINA AQUI A arquiteta de antes e a de agora


AGRADECIMENTOS Este trabalho é fruto de muito amor. Tanto do meu amor por esta arquitetura, quanto do amor daqueles que acreditaram neste projeto. Agradeço aos meus pais, à Carol e ao André por serem tão presentes e por lutarem comigo pelos meus sonhos. Aos meus avós, padrinhos e família, obrigada por todas as doações e pelo envolvimento com o projeto. Aos meus amigos agradeço pela companhia, alegria e por todas as “orientações” que tornaram meu processo mais leve. Aos meus professores, por toda a disponibilidade e cuidado. Agradeço, em especial, à Helena e Fernanda por serem tão inspiradoras. Ao Dr Paulo Maurício, pela oportunidade de trabalharmos juntos e por me permitir (re)conhecer a medicina. Ao Nino, ao “Dão” e a Toninha, por me receberem tão bem no mundo deles e acreditarem nessa “pequena arquiteta”. ele.

E ao Lucas, agradeço pela oportunidade de aprender tanto com


“A gente não constrói casa, a gente constrói pedaços de cidade.” IPPUR, 2011.


AMPLIAÇÃO DAS POSSIBILIDADES EM PROCESSOS DE PROJETO COMPARTILHADOS

O habitante como parte do processo de projeto

Esta pesquisa se propôs a investigar as possibilidades advindas de processos compartilhados de decisão de projetos e de produção do espaço urbano, promovendo a mediação como forma de ampliação dos limites pré-estabelecidos para o arquiteto. Apresento a ampliação desses limites na medida em que as práticas mediadas entre o arquiteto-urbanista e o habitante são um instrumento de pesquisa que propõe a troca de informações como possível de construções mais democráticas que reflitam o mundo de vida dos usuários dos espaços, “permitindo tanto a transformação do saber prático de moradores como o do saber científico dos arquitetos, assim como a promoção da autonomia” (MORADO NASCIMENTO et al., 2010).

SABER

PROJETOS

COMPATILHADOS

CIENTÍFICO

SABER PRÁTICO

MEDIAÇÃO

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O cidadão de baixa renda, seguindo os modelos capitalistas de produção do espaço urbano brasileiro, é visto pelo poder público como consumidor do espaço em que vive e não como ator de suas transformações, sendo ele negligenciado tanto nos processos de participação do planejamento e gestão da cidade quanto nas ações de produção do espaço, sendo em sua maioria ignoradas. O habitante, na primeira escala citada, está excluído da possibilidade de interferir na tomada de decisões sobre as transformações e de participar da concepção de espaços para sua cidade. A população é apenas a receptora de um planejamento que pensa e analisa o ambiente urbano em uma “visão de sobrevoo”, como é chamada por Souza (2011), de maneira absolutamente desassociada do diálogo com os usuários do espaço. Essa postura de olhar de longe, apresentada por Souza como “típica do aparelho de Estado”, apenas tangencia as situações vividas por essa população, “bate-se à porta, conversa-se um pouco com o dono da casa, mas... não se adentra a casa” (SOUZA, 2011), resultando em uma análise que não agrega os modos de vida desses moradores e acaba por refletir em projetos que, muitas vezes, não são apropriados pelos mesmos. Isso porque esse espaço, por melhor qualidade técnica que tenha, pode não corresponder às demandas reais dos usuários desse local. Esse autor expõe também que esse modelo de planejamento e de gestão

ignora a potência “autogestionária” e “autoplanejadora” dos usuários do espaço ao subestimar e não levar em conta as práticas arquitetônicas e as transformações dos espaços promovidas pelos moradores. É preciso enxergar que as práticas sociais de transformação do espaço que estão acontecendo sem o auxílio técnico e/ou o financiamento do poder público refletem em ações baseadas na própria realidade dos habitantes. As pessoas constroem o espaço urbano, ainda que partindo de dentro de suas casas, de acordo com suas necessidades, seus “mundos de vida” e maneiras de enxergar a cidade, elas se apropriam do que consideram relevante e modificam e produzem aquilo que acreditam trazer melhorias. Morado Nascimento e Santos (2014) reafirmam o posicionamento da população sobre a postura do poder público de secularização dos desejos coletivos e das necessidades da população frente aos interesses do capital: “a população de baixa renda foi obrigada a buscar alternativas de produção e apropriação do espaço para garantir o direito à cidade”. Em uma grande escala de transformação e de produção da cidade, têm-se as favelas, loteamentos irregulares e ocupações urbanas como as únicas alternativas de moradia para o pobre na luta pelo direito a cidade. E ao mesmo tempo, logo depois de serem ignorados pelo poder público, esses mesmos espaços exemplificam a atuação tecnocrática do saber técnico ao ser palco de programas de urbanização nos quais a lógica da

produção espacial da cidade formal é reproduzida em lugares autoconstruídos (SANTOS e MORADO NASCIMENTO, 2014). Pode-se reafirmar então que para atuar em espaços que contrariem as lógicas da produção formal do espaço urbano é preciso respeitar e identificar suas peculiaridades e enxergá-los como um reflexo do modo de vida de uma população que, deixada de lado pelo Estado, passa a transformar e produzir seu próprio espaço. E isso não significa não atuar nos espaços autoconstruídos da cidade informal, mas sim saber identificar que a lógica de produção desta população é absolutamente distinta da lógica de investigação que os profissionais planejadores foram ensinados academicamente. É preciso somar e unir o conhecimento técnico ao saber popular, enxergar que as transformações destes espaços são diárias e constantes e por isso utilizar das mesmas ferramentas utilizadas para ler a cidade formal (mapas e cadastros) é continuar ignorando as ações e as realidades dos moradores. Jacques (2002) aponta que “seria o caso de tentar mudar a mentalidade dos arquitetos príncipes contemporâneos por um estado de espírito de arquitetos-cidadãos, ou como os chamamos, arquitetos-urbanos” (JACQUES, 2002). Ouvir os moradores é visto então como essencial, o conhecimento popular permite-nos transformar nosso saber técnicoteórico. A vivência prática da população e seus processos de decisão sobre o espaço transformam a percepção do profissional a


respeito do processo de projetar próprio do campo de conhecimento da arquitetura. “Quando o usuário do espaço passa a decidir sobre a obra, ele propõe ações baseadas em sua própria realidade e seu saber empírico” (LINHARES apud MORADO NASCIMENTO, 2015). Ao mesmo tempo, o profissional tem conhecimento científico para “atuar na qualidade de consultor ou assessor dos cidadãos, prestando esclarecimentos fidedignos imprescindíveis aos processos de tomada de decisão” (SOUZA, 2008). Para ler e atuar no espaço urbano sob essa lógica proposta é preciso desenvolver e experimentar ferramentas alternativas de leitura e de diálogo com os usuários que possibilitem a promoção de desenhos urbanos flexíveis e/ou intervenções capazes de permear o “mundo de vida” dos usuários e refletir os usos já atribuídos aos espaços preexistentes. E aqui apresento a mediação como este instrumento de pesquisa que agrega benefícios para todos os envolvidos no processo de projeto.

O ARQUITETO COMO MEDIADOR DE INFORMAÇÕES

A troca de saberes por uma arquitetura mais democrática

“A mediação é o lugar da informação compartilhada em rede, presente nas interrelações entre políticos, técnicos, empresários e cidadãos, exigindo o reconhecimento do espaço social ocupado por cada ator social. Em outras palavras, a construção das práticas e das ações mediadas se dá pelo encontro da situação particular de cada ator social e da objetividade de todos, em um processo interativo, dinâmico e concreto, alimentado por visões de mundo e por tomada de decisões, nomeado Diálogos.” “Nosso argumento é a favor da mediação como lugar onde a prática social acontece. Isso quer dizer que arquitetos/pesquisadores podem interagir com moradores com o objetivo de, socialmente, promover a troca de informações e de experiências (na troca de ideias ou no acesso à informação técnica). “ “Nesse sentido, arquitetos/pesquisadores, bem como todos os outros envolvidos nos processos produtivos da moradia e do espaço público, podem tornar-se mediadores da informação técnica se agem no processo social de interlocução recíproca e desejada. Meios (ferramentas, suportes, instrumentos e metodologias) é tudo que potencializa a interlocução entre atores sociais, tornando-se possível a mediação.” (MORADO NASCIMENTO, 2015) Saberes autoconstruídos, p. 23.

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O objetivo desta pesquisa é colocar em prática a proposta da mediação como promotora de processos de projetos mais participativos, abrindo a discussão sobre a colaboração do habitante na elaboração e implantação da intervenção, levando em conta suas demandas e “mundos de vida” e promovendo seu papel de sujeito do seu próprio espaço.

ESTUDO DE CASO

A experimentação da mediação

Essa prática será experimentada, tanto no âmbito arquitetônico como urbano, em um caso real que se apresentou como demanda a partir da proposta de diálogo desta pesquisa. O caso do Lucas, portador de autismo e residente do assentamento informal “Águas Gerais” na cidade de São João del-Rei foi apresentado por alunos do 3o período da faculdade de medicina da Universidade Federal da cidade orientados pelo professor Dr. Paulo Maurício. Pela situação de vulnerabilidade identificada nas condições de vida do adolescente foi proposto um trabalho interdisciplinar para atuar na melhoria de qualidade de vida do Lucas e sua família. Para isso propuseram, além do tratamento clínico, a presença de um arquitetourbanista para que fosse desenvolvido o projeto de uma residência adaptada as necessidades do Lucas e, a partir da casa, seriam discutidos também a sua inserção no espaço urbano do bairro e da própria cidade. Além do processo de projeto levantar análises críticas sobre projetos colaborativos e níves de envolvimento dos moradores na gestão do seu espaço, uma autocrítica também pode ser desenvolvida, descrevendo os entraves, limites e possibilidades de atuação dos especialistas na mediação. Este estudo poderia se estender também para, partindo da unidade mínima, a casa, analisar as políticas públicas urbanas e confrontá-las as situações encontradas, contrapondo a experiência vivida à práxis vigente de planejamento, gestão e intervenção no espaço. Essa análise abre espaço então para pesquisas posteriores e reafirma a hipótese sobre a mediação ser uma possível solução para projetos mais democráticos e que realmente sejam condizentes com uma atuação menos tecnocrática do especialista. É aplicando esse exercício em uma escala menor de trabalho que dados e conhecimentos sobre o assunto poderão ser aplicados em universos ainda maiores possibilitando um novo “caminho para experiências ulteriores mais arrojadas” (SOUZA, 2008).

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QUEM É O LUCAS?

A situação encontrada

+

Lucas tem 14 anos e é portador de autismo.

Ele morava no bairro Barro Preto desde criança com sua mãe e seu pai. Mas desde o falecimento de seu pai, em 2014, Lucas foi morar no bairro Águas Gerais com sua mãe.

Marta, mãe de Lucas, tem deficiência intelectual e precisava de alguém para auxiliála nos cuidados diários. A mudança de bairro foi motivada então pela presença da irmã de Marta, a Antônia - residente do Águas Gerais, que se propôs a ajudá-los.

A renda da família é de um salário mínimo referente ao BPC - Benefício de Prestação Continuada - do Lucas.

Atualmente mãe e filho moram em uma casa alugada na mesma rua de Antônia. Pagando 100,00 referentes ao imóvel e aproximadamente 50,00 de energia.

Ele frequenta a APAE desde 2005.

O bairro não possui transporte público e a instituição não oferece transporte especial, assim, Lucas ficou um período sem frequentar a APAE. Agora duas ONGS da cidade pagam um carro particular que o leva e busca da entidade.

A proposta apresentada pelo médico de Lucas, o Dr Paulo Maurício, foi que as intervenções na vida do garoto fossem além do tratamento médico: a transformação da sua moradia para a promoção da melhoria das suas condições de vida, de saúde e de inserção na cidade.

A Tia Antônia doou metade de seu lote para a construção de uma moradia adaptada para a irmã e sobrinho. O lote da tia fica na mesma rua da casa alugada por Lucas e sua mãe.

A moradia atual, além de precária, não é adaptada as necessidades da família.

Segundo a família, Lucas gosta da APAE e essa instituição ajuda muito na sua estimulação. Em conversa com a professora do Lucas ela me diz que os trabalhos iniciados na APAE não continuam em casa, resultando em uma dificuldade em obter resultados no desenvolvimento do garoto.

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Lucas tem um “mundo de vida” muito particular, que é só dele e que dificilmente ele deixa alguém entrar. Ele tem 15 anos, não se comunica através da fala, tem certa dificuldade para se locomover e interage com o espaço de outras maneiras. Lucas é portador de autismo. Ele foi diagnosticado aos 3 anos de idade e desde então frequenta a APAE da cidade de São João del-Rei. Ele perdeu o pai há apenas 1 ano e sua mãe, Marta, tem deficiência intelectual e problemas psicológicos que têm se agravado nos últimos tempos, segundo a irmã Antônia. Em conversas com Marta é possível identificar sua deficiência e também sua preocupação com Lucas. O convívio entre os dois ainda é uma questão intrigante: qual seria a relação estabelecida entre mãe e filho com dificuldades de interação e de comunicação? Lucas, ainda que tenha voltado a frequentar a APAE, passa a maior parte do dia em casa, com sua mãe. Ele é um garoto tranquilo e não é agressivo, mas por ser muito grande a mãe não consegue controlá-lo. Além disso, por não saberem lidar com o autismo, a família, acaba optando por isolá-lo e mantê-lo preso em seu quarto para deixá-lo seguro. Essa solução ainda é muito comum em famílias de autistas (ISUPERAÇÃO, 2011). Ele convive então, durante a maior parte do dia sob quatro paredes, uma cama, janela e porta com grades - pra ele não fugir. A tarde Lucas assiste a televisão na sala de estar da casa, com sua mãe Marta. Ela conta que ele adora música e televisão e por isso ele não tenta fugir nessa situação - inclusive é bem comum encontrar a rádio ligada em qualquer hora do

dia. Quando Lucas foge de casa ele vai ou para a casa da tia Antônia ou para o meio da vegetação. Mesmo que consiga ir a APAE, Lucas não tem acesso aos serviços urbanos e a vida da cidade. A impossibilidade do transporte público se coloca como limitador de possibilidades de acesso às atividades urbanas. Sendo a cidade, segundo SOUZA E SPOSITO (2004), o conjunto de funções sociais diversas, ela é lugar de coexistências e de partilha de territórios comuns, sofrendo então transformações contínuas e diversas. Mas como poderia um autista, por exemplo, atuar na transformação do espaço urbano se ele está em uma posição de segregado, se ele não coexiste e não tem acesso aos espaços de coletividade? É Antônia que o apronta para a APAE, dá banho e escova seus dentes na parte da manhã. Marta conta que ela que cozinha para o filho, mas que ele só gosta de comer a mesma coisa todos os dias - marca característica do autismo. Se ele está com fome, pega um prato, se quer café, mostra a xícara, se quer biscoito, mostra o pote. É preciso enxergá-lo para identificar suas necessidades. Lucas não gosta de usar calças, por exemplo, então assim que possível ele as tira. E também não tem muita intimidade com o banheiro, é no próprio quarto que ele faz suas necessidades, gerando dificuldades de adaptação da moradia a seus habitantes. Isto porque o piso é de cimento, dificultando ainda mais a limpeza e estimulando a família a adotar soluções alternativas para o problema - a abertura de um furo de cerca de 15 centímetros de diâmetro na parte inferior da parede do quarto.

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CONHECENDO O LUCAS

Como passei a participar do projeto Sigo o estudo baseada em Souza (2011), o qual propõe que o interessado em estudar as práticas sociais deva “permitir-se interagir com os atores sociais (e que são, também, agentes modeladores do espaço) em uma escala verdadeiramente humana” (SOUZA, 2011). Essa etapa compõe a fase prática de contato, busca de demandas, interação e construção do projeto junto aos habitantes. No caso apresentado, a aproximação com o Lucas e sua família, o estudo de suas necessidades e demandas, a situação do bairro e da vizinhança... Experimentei diferentes métodos de diálogo de acordo com as particularidades dos sujeitos, seus interesses e suas expectativas para que o espaço seja um resultante desta interação.

Este é o Lucas!

A partir daí o primeiro desafio já se apresenta: o da comunicação. Como estabelecer diálogo com um indivíduo que tem dificuldades exatamente de se comunicar? Para entender as necessidades e peculiares desta família, seus interesses e necessidades é preciso percepção e intuição, atuar como arquiteto-mediador em conexão com o cotidiano dos habitantes. Além disso, foi indispensável a presença de uma equipe interdisciplinar apontando os cuidados necessários para adaptar a moradia aos modos de vida destes indivíduos e a experimentação de linguagens e diálogos que se aproximem das especificidades desta família.

Durante as visitas realizadas os assuntos foram conduzidos de maneira informal para que a realidade fosse preservada, a liberdade das expressões não fossem privadas e o caminho das ideiais não fosse induzido. Além disso, começei a fazer parte do cotidiano da família, fazendo visitas constantes e, durante a obra, estando presente diariamente. Os relatos que aqui constam são resultado das informações fornecidas nestes encontros e fruto de minhas percepções individuais. Os dados apresentados aqui de maneira narrativa já revelam ações em potencial, mas como mediadora tenho o papel também de tradutora das relações e dos símbolos desta realidade, principalmente ao tratar do Lucas: um indivíduos que se comunica de uma maneira que exige um outro olhar sobre os objetos e ações.

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O AUTISMO

O AUTISMO E A ARQUITETURA

“O autismo é um Transtorno Global do Desenvolvimento (também chamado de Transtorno do Espectro Autista), caracterizado por alterações significativas na comunicação, na interação social e no comportamento da criança. Essas alterações levam a importantes dificuldades adaptativas.” (DPESP, 2011) Autistas com frequência rejeitam o toque físico, não gostam de manter contato olho-a-olho, e optam muitas vezes por uma existência isolada, focada mais em sensações físicas e no interesse por objetos que na vida social.

Uma casa acessível e que possibilite a autonomia

A moradia que o Lucas vive hoje não é adaptada ao mundo dele, não promove estímulos e não favorece sua autonomia. Sua casa deve ser acessível, possibilitar sua autonomia, estimular suas potencialidades e agregar cuidados específicos da sua rotina para que haja assim melhoria das suas condições de vida, saúde e inserção na vida urbana. “Destaque-se que o conceito de acessibilidade pressupõe autonomia, nos termos da Lei no BY10.098/00.” 2012) PRODUCED AN AUTODESK(MPESP, EDUCATIONAL PRODUCT Quintal (relevo irregular não representado) Varais

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

*Apoio ou suporte significa todo e qualquer equipamento, adaptação ou ajuda de pessoa ou serviço que visa a possibilitar ou facilitar o desempenho de funções, atividades ou participação de pessoas que possuam qualquer limitação funcional ou deficiência. “Na medida em que as barreiras físicas e atitudinais forem gradativamente reduzidas e os apoios disponibilizados, as limitações originadas da deficiência reduzirão o impacto sobre a capacidade funcional da pessoa, que passará a atuar em um ambiente que favorece a sua autonomia e independência.” (MPESP, 2012)

Goteiras 04

Aparelho som e tv

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03 06

02

01 Porta com grades Contra-piso

01 - Quarto Lucas 02 - Sala 03 - Quarto Marta 04 - Corredor 05 - Banheiro 06 - Cozinha

Furo para saída da água da limpeza do quarto

Imagem 05: Modelo tridimensional da moradia alugada que Lucas vive com sua mãe no bairro Águas Gerais.

O furo no quarto do Lucas foi feito para facilitar a limpeza do quarto, já que ele faz suas necessidades aí mesmo.

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“Para minorar uma deficiência não se pensa unicamente em intervir sobre a pessoa e sim em reduzir barreiras e disponibilizar apoios*.” (MPESP, 2012)

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O LOTE DA TIA ANTÔNIA

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O local doado para a construção da casa do Lucas

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Imagem 01: Fachada. Imagem 02: Sala de Estar. Imagem 03: Banheiro. Imagem 04: Quarto Lucas (Fotos tiradas em 03.06.2015 por Juliana Linhares)

A casa que Lucas e sua mãe vivem hoje é alugada e não apresenta situação adequada para a moradia, mas ainda que apresentasse condições ideais para ser habitada Lucas poderia ter um lar inadequado, que não se adaptasse ao seu mundo particular. Por mais urgente que seja a situação, como é apontado por uma ONG que apoia o projeto, conceber uma moradia de soluções pré-concepção e baseada em uma praxis de projeto distante do morador seria apenas reproduzir as ações tecnocráticas apontadas nesse projeto como principais causas da não-identificação/apropriação dos espaços pelos seus usuários. É preciso enxergar o morador, ouvir o que ele diz, atuar junto e se comunicar - ainda que essa seja a maior dificuldade deste projeto. É preciso criar ferramentas e instrumentos que possibilitem adentrar o “mundo de vida” do principal receptor das melhorias para que elas realmente influenciem em sua qualidade de vida, para além da edificação bem acabada e bem projetada. A casa do Lucas vai ser um ponto de partida para o seu desenvolvimento. “...projetar para um autista não quer dizer fazer um abiente totalmente isolado e alienado ao que ele pode encontrar no mundo externo (...), mas sim projetar espaços que permitam ser a ponte entre o mundo deles e o resto da sociedade do mundo, que seja favorável às suas necessidades, mas sem fugir da realidade.” (HO,Luiza. FAU-USP)

Córrego passando ao fundo do lote. (Fotos tiradas em 15.05.2015 por Juliana Linhares)

Vista da casa de Antônia vista da parte do lote doada.

abastecimento de água: encanada, mas vem de reservatórios de chuvas. Esgoto: jogado direto no córrego aos fundos do lote ENERGIA: CEMIG COLETA DE LIXO: Sim ÁREA TOTAL: 660m2 (IPTU) Área da unidade: 54m2 (IPTU) Testada principal: 55m2 (Ficha cadastral) SITUAÇÃO DA TERRA:Aforamento em nome de outra pessoa. Terra de aforamento: Não podem ser vendidas ou doadas. Antônia comprou “de boca” do morador que recebeu o aforamento.Ou seja, ela não tem o registro legal do lote.

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O BAIRRO ÁGUAS GERAIS MINAS GERAIS

MANCHA URBANA SJDR (64km²) BAIRRO ÁGUAS GERAIS

SÃO JOÃO DEL-REI Área 1.464,327 km² População 84.469 hab. (IBGE 2010)

Segundo registros de Carneiro e Pinto (2007) o povoamento do bairro Águas Gerais se liga ao período de exploração do ouro em São João del-Rei no século XVIII. Da serra de onde originam as nascentes que formam o córrego que corta o bairro, o Águas Gerais, ainda podem ser encontradas ruínas de um muro de pedras que abrigava anteriormente os dutos que levavam para os locais de lavra, água das nascentes. Ainda segundo os autores (apud RODRIGUES E COTA 2014) a partir do século XIX é que a região foi ocupada pelo processo de aforamento de terras constituindo comunidades ao longo de um ribeirão composto por várias nascentes, motivo pelo qual o nome do bairro foi dado de “Águas Gerais”. Segundo o PLHIS de São João del-Rei o bairro é composto por 50 residências (algumas em situação irregular) e se encontra em Zona de Reabilitação Urbana (ZRU). A distância média do Águas Gerais até o centro é de 2,5km.

X4

46%

Renda per capita menor que 1/4 salário mínimo abaixo da “linha de miséria” - IPEA (CANEIRO E PINTO, 2007).

O traçado viário acompanha as margens do córrego, a travessia para o outro lado é feita por pinguelas (PLHIS, 2010). A rua principal é asfaltada (dado obtido em visitas ao local).

SÉCULO XVIII

Ocupações pela extração aurífera

Sistema “engenhoso e precário” de encanamento para captar água potável em minas e distribuir para residências elaborado pelos moradores

1940

Adensamento populacional

1960

1985

32 casas

Trilhas abertas pelos próprios moradores

54 casas

Construção de rua íngreme e calçada com pedras locais pelos moradores (CARNEIRO E PINTO, 2007)

Inexiste rede pública de distribuição de água e esgoto. A rede construída pelos moradores e a barragem são precários (CARNEIRO E PINTO, 2007). Segundo o PLHIS (2010) todas as unidades tem água e energia elétrica. Não existe transporte público no bairro (dado obtido em visitas ao local).

64%

Domicílios são servidos pela coleta pública de lixo. (CANEIRO E PINTO, 2007)

O esgoto é despejado diretamente no córrego. (PLHIS, 2010) Problemas de segurança pública e criminalidade (PLHIS, 2010) Constantes disputas pelo acesso e controle da distribuição da água potável, pelas possibilidades de obtenção de cargos e favores do poder público, etc. (CANEIRO E PINTO, 2007)

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São João del-Rei, MG

4,8km

2,5km Bairro Águas Gerais

Centro Bairro Tejuco

APAE


BAIRRO ÁGUAS GERAIS A água vem de um reservatório de dentro do próprio bairro, mas ela é controlada por alguns moradores.

Lote da Tia Antônia

Trilha 1,5km

Bairro Senhor dos Montes

Igreja do bairro

Reservatório Córrego Águas Gerais

O bairro Tejuco tem escolas e postos de saúde, sendo o principal ponto de apoio aos moradores.

Casa do Lucas Via formal (asfaltada)1,2km

As trilhas são os principais caminhos utilizados pela população para chegar ao centro, Tejuco ou Sr dos Montes.

Trilha 1km

Rua General Osório - Bairro Tejuco Córrego do Lenheiro

Igreja São José Posto de Saúde Escola Estadual Iago Pimentel


A bacia hidrográfica do Córrego Águas Gerais

Reservatório

Casa do Lucas

A casa onde a tia do Lucas mora e doou metade do lote fica ao lado do córrego

Lote da Antônia

Trilha Igreja do bairro Córrego Águas Gerais Trilha

Bairro Águas Férreas

Via asfaltada


Fotos tiradas em 03.06.2015 por Juliana Linhares

Situação do córrego

Lixo

Ponte sobre o córrego

Igreja católica/rua principal

Quadra ao lado da igreja

Animais no córrego

Situação encanamentos

Criação de gado


A REDE

Ecomapas de duas etapas da rede produzidos pelas alunas Ana Carolina Lemos de Oliveira, Lydiane Coelho de Macedo Andrade, Nayara Ellen Bertoli Costa e Victória Maria de Amorim Romualdo.

A criação da rede interdisciplinar de parceiros O trabalho com o Lucas se iniciou então na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São João del-Rei, em uma disciplina orientada pelo Dr. Paulo Maurício na qual um grupo de alunos trabalha com um caso indicado pela APAE como necessário de maior acompanhamento. Este grupo então mapeou os envolvidos com o caso do Lucas, mobilizou novos agentes e acompanhou o trabalho desenvolvido e o nível de atuação da rede (Ecomapa ao lado). A ong são joanense APAB - Associação Projeto Amigos do Bem - se apresentou, desde o princípio, como principal agente no caso do Lucas. Se propuseram a arcar com os custos do projeto arquitetônico e apresentaram a necessidade da concretização do projeto com urgência, indicando o início da construção para os próximos dias e enfatizando a situação precária da moradia atual, apresentando inclusive “soluções arquitetônicas” pré concebidas. Para eles o importante era a conclusão deste projeto - quarto, cozinha e banheiro em 30m² - e não o seu processo e participação da comunidade e da família. Como parte envolvida no projeto, passei a expor sobre a importância do envolvimento dos moradores, da preocupação na identificação da comunidade e sobre a casa do Lucas ser o ponto de partida das suas melhorias de condições de vida, saúde e inserção na comunidade. Propus uma nova forma de trabalhar, que não fosse “para alguém” e sim “junto com esse alguém” e envolvendo diversas áreas de conhecimento e atuação. Tivemos um processo conturbado e de desentendimentos, acredito que eles nunca haviam trabalhado em rede e por isso tiveram dificuldade em descentralizar o poder que geralmente lhes cabia. O projeto só saiu do papel e da sala de reuniões da APAB a partir do momento que eu enxerguei a situação como uma dificuldade da sociedade em trabalhar em rede. A partir daí, aos poucos, os integrantes foram acreditando que poderíamos chegar em um bom resultado se tivéssemos um processo também construtivo. Como resposta a isto a rede ganhou forças, meu papel de mediadora se fortaleceu e a APAB, apesar de continuar participando do projeto, se eximiu de algumas responsabilidades antes propostas.

APAB

REDE

o arquiteto como mediador de informações

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Primeira reunião em que saímos do escritório da APAB - apresentação de um pré-projeto na forma de maquete. Eu mostrava como o projeto poderia influenciar na vida do Lucas. Detalhe para a presença do Dr Paulo Maurício, que até então não participava das reuniões propostas pela ong.

Segunda reunião: presença de mais uma ong - Associação Comunitária Yochanan -, representantes da APAB, Assistente Social do CRAS do bairro Tejuco, Antonia - tia do Lucas - e do presidente da Associação de Bairro do Tejuco. Estabelecemos a rede e direcionamos os próximos passos: uma campanha para arrecadar doações e uma reunião no próprio bairro Águas Gerais para reunir envolvidos e contabilizar a mão-de-obra.


Mãe do Lucas e o primeiro contato com a maquete

Nino: Tio do Lucas e pedreiro

Como não haviam regras e convenções sobre como apresentar o projeto e sabendo que a linguagem do arquiteto não é comumente democrática, experimentei diferentes formas de comunicação entre os diferentes receptores das informações. Com os habitantes do bairro e a família do Lucas utilizei da maquete, no canteiro de obra fizemos desenhos no chão e fiz impressões coloridas e ilustrativas, com os possíveis financiadores a linguagem era o menos técnica possível.

Lucas e sua tia Toninha em frente a casa atual dele. Ele, da sua maneira, particiou deste encontro.

O Dr Paulo Maurício é médico do Lucas desde os 5 anos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São João del-Rei e orientou o trabalho das alunas em sua disciplina convidando e sugerindo agentes para atuarem no projeto. Foi ele quem me apresentou à família de Lucas e sua atuação é muito importante. Ele participou muito do momento de concepção de espaços estimulantes, na identificação de potencialidades e dificuldades de Lucas e nas discussões sobre integralidade. Discutimos o projeto, ele me apresentou construções antroposóficas e continuamos buscando maneiras de estimular o Lucas atavés da sua rotina em sua casa.

Segundo o Dr. Paulo Maurício, “na saúde a tendência é a visão ecossistêmica onde fatores ambientais, econômicos e comunitários se entrelaçam.”

Terceira reunião na Igreja do bairro Águas Gerais e contamos com a presença de 2 tios do Lucas que se ofereceram para trabalhar na obra diariamente - 1 servente e 1 pedreiro. A mãe do Lucas também participou da reunião. O envolvimento com a maquete foi muito interessante, o pedreiro se apropriou dela e ele mesmo explicou o projeto, eu apenas acrescentei algumas informações. Marcamos o primeiro mutirão e fizemos uma visita ao Lucas.

O arquiteto-urbanista: Meu papel neste estudo de caso vai além de projetar espaços tecnicamente adequados a moradia. Busco promover uma habitação saudável através de processos adequados a realidade da população local e oferecendo conhecimento científico para “atuar na qualidade de consultor ou assessor dos cidadãos, prestando esclarecimentos fidedignos imprescindíveis aos processos de tomada de decisão” (SOUZA, 2008). Para isto me propus primeiramente a enxergar o indivíduo para assim trabalhar sua casa como tradução do seu mundo de vida e, a partir daí ,chegar a formulação de um espaço que extrapole seus limites e que convide o sujeito a interagir com a comunidade e com o espaço urbano.

o arquiteto como mediador de informações

21


O PROJETO

O ponto de partida para o Mundo do Lucas sair do papel

Lote da tia Antônia

Futura casa do Lucas

Rua Água Geral

Casa da Tia Antônia

Córrego Águas Gerais

Precisávamos de um ponto de partida para que o Mundo do Lucas saísse do papel. E esse ponto de partida foi o próprio projeto arquitetônico, que foi desenvolvido conforme fui entendo as necessidades e peculiaridades da família e seguindo as possibilidades de custear a obra e executá-la. O projeto não é o resultado final deste trabalho, ele é o processo de pensamento desta arquitetura compartilhada. Lucas não tem muita intimidade com o banheiro. Por isso as formas deste cômodo se assemelhem a de seu quarto, propiciando a ele maior familiaridade. Lucas adora TV e música e fica bem quietinho quando está com sua mãe na sala de estar. Entrada principal Diferentes texturas e sensações, liberdade e segurança.

Lavanderia O pátio interno é um espaço para que Lucas possa interagir com a casa sem precisar de alguém que o dedique máxima atenção. Além de o dar a possibilidade de escolha: se isolar ou interagir. Parede que direcione Lucas ao banheiro a partir do escoramento e movimento de seu corpo. Linhas diagonais permitindo cantos que provoquem sensações diferentes: proteção ou abertura.

COZINHA BANHEIRO QUINTAL DO LUCAS

Visão do quarto de Lucas para a rua. Quintal que se extenda às proximidades da casa da tia, de modo que possibilite o contato visual entre eles e proporcione a ele o contato com a natureza, escutando inclusive o som da água do córrego que passa.

QUARTO MARTA PÁTIO INTERNO SALA DE ESTAR CORREDOR

o arquiteto como mediador de informações

22


CROQUIS

O registro manual do processo de projeto

“A arquitetura orgânica visa formas, expressões e estruturas dinâmicas, centra a atenção do projeto no Homem e suas necessidades de desenvolvimento.” (ABMA,2011)

Imagem: Sede da SAB no Brasil. Fonte: SAB, 2013.

o arquiteto como mediador de informações

23


A CAMPANHA

A criação da rede online

Lançamos então uma campanha para arrecadar doações e compartilhar a ideia do projeto. A partir deste momento a rede se expandiu ainda mais, ainda mais pessoas passaram a fazer parte do projeto, seja com doações, com opiniões, com sugestões, oferecendo seu conhecimento técnico, com parcerias...

Minha irmã publicitária campanha

matérias sobre o projeto em 2 jornais da cidade: vanS (UFSJ) e gazeta

parceria com prefeitura através da Secretária Municipal de Cidadania, Desenvolvimento e Assistência Social parceria com custom skate art - camiseta inspirada no mundo do lucas para arrecadar lucros para o projeto

Eu faço parte cada vez mais deste projeto e envolvo cada vez mais gente para contribuir com ele. Por um lado, o fortalecimento da rede foi muito importante para poder contar com pessoas de áreas diferentes. Por outro, a medida que estes parceiros percebiam a força da rede, eles passam a me ver como gestora e participarem apenas como ponto de apoio.

Vídeo produzido para explicar o Mundo do Lucas

Mais uma experimentação de linguagem.

www.facebook.com/omundodolucas


Vídeo postado no canal Youtube. Essa outra forma de comunicação testada teve um resultado bastante positivo. Os próprios alunos do curso de arquitetura se interessaram pelo projeto e se apresentaram como apoiadores - mão de obra, trabalhos com a comunidade...

Campanha produzida por Carolina Linhares e Jean D’Oliveira para a página do Facebook

Camiseta lançada para a linha “Divirta-se”. A ideia é colorir o mundo do Lucas e as camisetas terão um valor mínimo (preço de custo), o cliente paga o quanto quiser e o lucro vai para o projeto.

o arquiteto como mediador de informações

25


"Muda, que quando a gente muda, o mundo muda com a gente. A gente muda o mundo na mudança da mente. E quando a mente muda, a gente anda pra frente” (Gabriel O Pensador)

O CANTEIRO DE OBRAS

O arquiteto em 1ª pessoa - participante

Meu papel de arquiteta não se reduziu à elaboração de um projeto arquitetônico e de desenhos técnicos a serem entregues para a execução. Nem mesmo se reduziu a permitir a participação dos usuários durante sua fase de criação. O compartilhamento do projeto se expandiu também para o canteiro de obras e a todo momento apareciam novas questões a serem solucionadas e discutidas, adaptando cada vez mais o edifício ao seu contexto. “O ato de projetar ganhava novas dimensões e múltiplas escalas, do urbano ao design”(MORADO NASCIMENTO, 2015). É uma nova maneira de olhar a arquitetura e vivenciar a prática. “A presença (do arquiteto) no canteiro de obras fica na contramão do distanciamento recorrente entre projetistas/arquiteto e canteiro/pedreiros, conformando outra instância de discussão e de negociação sobre as decisões a serem tomadas.” (MORADO NASCIMENTO, 2015.) Os habitantes envolvidos no projeto passam a fazer realmente parte dele, eles entendem o conceito do objeto proposto, se identificam com a execução, tem poder de influencia sobre as definições e assim se emponderam da sua lógica. Permiti que muitas das soluções durante a obra fossem dadas pelos próprios pedreiros já que, além do conhecimento prático, eles tem identificação e vivência locais e são também a família do Lucas, eles entendem as necessidades diárias do garoto e sua mãe. Como resposta eu era também consultada e eles se interessavam pelo que a universidade ensinava e se propunham a também aprender.

o arquiteto como mediador de informações

26


Primeiro dia de obra: 26.09.2015

Primeiro contato com a planta: curiosidade e troca de saberes.

Presença dos 2 tios do Lucas: mão-de-obra “fixa”diária e mutirões aos sábados.

Fundação antiga de pedra é encontrada - nativos contam história do local e dos moradores. Conversamos sobre nos apropriar dela, ela é parte do terreno, parte da história...

Reconhecimento do terreno ,

do relevo e primeira demarcação da locação da residência.

o arquiteto como mediador de informações

27


CORTE ESQUEMÁTICO Fundação de pedra: como nos adaptar?

nível 1

Rua

Bambus nível 2

Fundação pedra

Córrego Águas Gerais

nível 3

Córrego

Fundação pedra Casa apoiada na fundação de pedra

Sentido do declive do terreno

nível 3

CASA TONINHA

nível 2

Locação do projeto nível 1

RUA ÁGUA GERAL

o arquiteto como mediador de informações

28


Como Lucas e sua mãe tem dificuldades de locomoção o terreno teve que ser aplainado para que a construção ficasse em um só nível. A medida que a terra foi movimentada

encontramos água!! A movimentação de terra gerou um desnível maior do que o previsto: 1,10m. Com isso, além da água encontrada no solo, a casa ficaria abaixo do nível da rua e necessitaria de uma contenção - arrimo.


Filhos no canteiro de obras - a construção é familiar e o conhecimento é passado assim.

Por mais que eu previsse que o terreno e as condições exigiriam de mim alterações e adaptações no projeto eu não poderia ignorar o trabalho que havia sido feito. É uma luta diária, todo serviço é precioso.

Esposa de um dos pedreiros quase mestre de obras - “Eu que fiz minha casa, do chão até o teto”. Se apropria das plantas e desenhos técnicos.

Corte feito pelos pedreiros alinhado a rua. Me

espantei quando encontrei essa situação!

30


AA A A

-3,10

CÓRREGO ÁGUAS GERAIS CÓRREGO CÓRREGOÁGUAS ÁGUASGERAIS GERAIS CÓRREGO ÁGUAS GERAIS

1 : 100

1 : 100

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

CORTE A-A TERRENO CORTE A-A TERRENO

60

60

60

60

60

projeção atual fachada projeção atual fachada

projeção atual fachada

60

60

projeção atual fachada

projeção atual fachada

projeção atual fachada

projeção atual fachada

AA

AA A A

ESCALA

DRENO 100mm

60

200 200

200

A200200

A

A

200

3

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT PRODUCED PRODUCEDBY BYAN ANAUTODESK AUTODESKEDUCATIONAL EDUCATIONALPRODUCT PRODUCT PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

A

-2,70 LOTE

projeção atual fachada

CAMINHO ÁGUA CAMINHO ÁGUAPLUVIAL PLUVIAL CAMINHO ÁGUA PLUVIAL CAMINHO ÁGUA PLUVIAL CAMINHO ÁGUA PLUVIAL CAMINHO ÁGUA PLUVIAL

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

2

CORTE A-A TERRENO

PLUVIAL

0,00 RUA

0,00 RUA

CASA LUCAS

PRODUCED BY BY AN AN AUTODESK AUTODESK EDUCATIONAL EDUCATIONAL PRODUCT PRODUCT PRODUCED

200

-50 CASA LUCAS

ESCALA

ESCALA

PLUVIAL

-50 CASA LUCAS

PRODUCED BY AN AUTODESK

1

CÓRREGO ÁGUAS GERAIS

0

-3,10

1 : 200

CÓRREGO ÁGUAS GERAIS

ESCALA

-3,10

-1,10 -3,10 ALICERCE -50 -1,10 -50 -1,10 CÓRREGO ALICERCE CASA LUCAS ALICERCE CASA LUCAS -2,70 -1,10 -1,10 -3,10 -2,70 -2,70 -2,70 LOTE ALICERCE -2,70 -3,10 LOTE ALICERCE -3,10 CÓRREGO CÓRREGO LOTE CÓRREGO -3,10 -2,70 CÓRREGO LOTE -3,10 -2,70 CÓRREGO LOTE CORTE A-A TERRENO MURO ARRIMO

-50 CASA LUCAS -1,10 -1,10 SOLO SOLO

-1,10 -50 -1,10 -1,10 ALICERCE CASA LUCAS SOLO -2,70 ALICERCE-50 LOTE -50 CASA LUCAS

CASA TONINHA

-2,70 LOTE

CASA TONINHA

MINAS ÁGUA

-1,10 ALICERCE

CÓRREGO ÁGUAS GERAIS

DRENO

CASA TONINHA

IMPLANTAÇÃO ESCALA 1 : 200 IMPLANTAÇÃO IMPLANTAÇÃO IMPLANTAÇÃO ESCALA 1 :1200 ESCALA : 200

0,00

-3,10

CASA TONINHA

DRENO

0,00

1 : 200 1 : 200

DRENO MINAS ÁGUA CASA TONINHA DRENO MINAS ÁGUA PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT DRENO MURO ARRIMO MINAS ÁGUA

-1,10

MURO ARRIMO MINAS ÁGUA

ESCALA ESCALA

MURO ARRIMO

IMPLANTAÇÃO IMPLANTAÇÃO

CÓRREGO ÁGUAS GERAIS

CÓRREGO ÁGUAS GERAIS

MURO ARRIMO

1 : 200

-2,70

-3,10

-3,10

CASA TONINHA PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT DRENO DRENO Locação da MURO ARRIMO CISTERNA MURO ARRIMO DRENO CISTERNA MINAS ÁGUA 0,00 0,00 construção MINAS ÁGUA MINAS ÁGUA já não é mais MINAS ÁGUA MURO ARRIMO possível CISTERNA 0,00 Água do solo MURO ARRIMO MURO ARRIMO CISTERNA CISTERNA-3,10 -3,10 CÓRREGO ÁGUAS GERAIS CÓRREGO ÁGUAS GERAIS 0,00 0,00 MURO ARRIMO CISTERNA

Com as duas novas questões encontradas: o desnivel em relação a rua e a mina, eu já me preparava para grandes mudanças, apesar de A os pedreiros me sugerirem pequenas adaptações . Eles falavam sobre um cano com furos em sua superfície e que passaria ao centro do projeto e levaria a água para fora da casa e não viam problema nenhum em uma casa abaixo do nível da rua - “aqui tem várias casas que são assim”. Discutimos sobre a origem dessa -1,10 água e eles me contaram SOLO que havia uma mina de água do outro lado da -1,10 rua e que ela por -1,10estava passando SOLO SOLO -1,10 debaixo do asfalto. Somada a água 0,00 SOLO RUA sudoeste eu 0,00 -1,10 da chuva e a fachada RUA SOLO previa uma área alagável. Assim, 0,00 0 1 2 RUA 3 apropriando do cano 0 1 da2 solução 3 0,00 apresentada pelos pedreiros propus ESCALA RUA ESCALA um dreno externo a construção e 0 1 fachada 2 3 em relação a um recuo da rua - causando assim uma alteração 0 0 1 1 2 ESCALA 3 3 2 no projeto. 0 1 2 3

PRODUCED BY AN AUTODESK

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

CASA TONINHA CASA TONINHA

MINAS ÁGUA MINAS ÁGUA DRENO

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

CISTERNA

A A A

CASA TONINHA

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

-2,70

-2,70

-1,10

-1,10

-1,10

-1,10

0,00

0,00

-1,10 -1,10 -1,10

-2,70

-2,70

DRENO DRENO

-1,10

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

CASA TONINHA TONINHA CASA

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

200

-1,10 200 -1,10 200

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

-2,70 -2,70 -2,70

A A A A 0,00

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

-2,70

CISTERNA

CISTERNA

CISTERNA

200

0,00

CAMINHO ÁGUA PLUVIAL

Àrea de alagamento por possível cheia do córrego

-2,70 CAMINHO CAMINHO ÁGUA CAMINHO ÁGUA PLUVIAL CAMINHO ÁGUA PLUVIAL ÁGUA PLUVIAL PLUVIAL -2,70

CISTERNA

Declividade natural somada a adaptações feitas pelos moradores 1 : 200

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

ESCALA

SCALA

IMPLANTAÇÃO ESCALA 1 : 200 IMPLANTAÇÃO ESCALA 1 : 200 IMPLANTAÇÃO ESCALA 1 : 200 IMPLANTAÇÃO

Fundação de pedra

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT PRODUCED AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT PRODUCED BY AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT PRODUCED BYAN ANBY AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

CÓRREGO ÁGUAS ÁGUAS GERAIS GERAIS CÓRREGO

-3,10 -3,10 -3,10

MPLANTAÇÃO

O

-3,10 -3,10

ESCALA ESCALA ESCALA

DRENO 100mm

o arquiteto como mediador de informações 31 DRENO 100mm DRENO 100mm

DRENO 100mm


DRENAGEM

CORREDOR

ENTRADA QUARTO MARTA

SALA ESTAR JARDIM DE CHUVA: 1.MANTA GEOTEXTIL 2.CANO 3.BRITA 4.TERRA 5.VEGETAÇÃO

RESERVATÓRIO

A 600

1020

300

INÍCIO DA CASA A 2M DA RUA. ALTURA = 60CM

MEIO-FIO DO JARDIM DE CHUVA (10cm) REVESTIDO DE MANTA GEOTEXTIL ALTURA "MURO"= 70CM

30 80

20 30

60

90

VALA DE DRENAGEM 30CM PROFUNDIDADE

900

PASSEIO

60

200

CANO 100mm FURADO INCLINAÇÃO=1%

SUSPIROS DO MURO DE ARRIMO AO JARDIM DE CHUVA

DRENAGEM 1 : 50

PASSEIO SOBRE O MURO DE ARRIMO

A

ESCALA

SUSPIROS DO MURO DE ARRIMO AO JARDIM DE CHUVA

RUA ÁGUA GERAL

CASA DO LUCAS - DRENAGEM ARQUITETA: JULIANA LINHARES

PROJETO: ARQUITETÔNICO

o arquiteto como mediador deDATAinformações 32 : NOTAS: FOLHA : - CONFERIR MEDIDAS NO LOCAL - COTAS EM CENTÍMETROS - NÍVEIS EM METROS

AGOSTO/2015

REVISÃO: 15/10/15

01/02


DRENO 100mm

CORTE JARDIM DE CHUVA

1 : 25

Foi alterada para que funcionasse como um passeio externo a casa - 60cm de largura. Utilizamos impermeabilizante para que ela protegesse as sapatas da umidade - 80 cm de profundidade.

O tempo da obra é um tempo bem diferente da Universidade. A tomada de decisões no canteiro de obra é imediata e reflete o saber comum e as típicas soluções empregadas na autoconstrução. Para o nivelamento do terreno os pedreiros fizeram um corte de 90 graus na linha da rua para que fosse feito um muro de arrimo. A solução foi incorporada ao projeto como forma de incentivar a autonomia do saber comum, mas ao mesmo tempo, dialogamos sobre os prejuízos de cortes de terra feitos nessa angulação e apresentei outras possíveis soluções, algumas inclusive incorporadas na drenagem: cano parra passagem de água.

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT CALÇADA MATERIAL VEGETAL VALA CALÇADA

"VALA DE CONCRETO"

RUA FUNDAÇÃO CASA

110

ARRIMO

45

70

60

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

ESCALA

“Aqui não tem calçada em casa nenhuma. Todo mundo anda na rua mesmo.”

SOLO

MANTA GEOTEXTIL SAPATA CASCALHO 10 10

100

Cano que permita que a água não acumule atrás do muro de arrimo A manta foi substituída por capim material utilizado pelos pedreiros. “O capim junto com o cascalho e vira como se fosse um tecido”. Com pequenos furos em sua superfície para captar a água e levá-la ao reservatório

80 DRENO 100mm

o arquiteto como mediador de informações

33


Marcação do fim da vala de drenagem.

Imagem do resultado

2m Cano que drena água do muro de arrimo.

Meio-fio

Arrimo drenado

Dreno - área superior destinada a jardim de chuva Contenção de concreto impermeabilizado


Primeira chuva depois da instalação do dreno: Como ainda não havia o reservatório nem uma vala para encaminhar a água acumulou terra em sua saída.

Dreno finalizado. Vala de contenção aberta.

Concretagem da vala com impermeabilizante junto ao cimento

o arquiteto como mediador de informações

35


A Fundação Desenho impresso para conversar com os pedreiros sobre a fundação. Como a vala do alicerce já estava pronta, a diagonal foi mantida

Muro de arrimo RUA ÁGUA GERAL

Dreno

600

Fundação de pedra MARTA

ESTAR

BANHO

0

34

Radier: Concreto magro + armações transversais + armações longitudinais + contrapiso

Acesso 250

LUCAS PÁTIO COZINHA

5

30

60

27

Casa da Toninha

0 40

Pátio - aberto também para a área externa

0

35

390

Cintas da fundação Mangueira - sombra e ambiência

Aterro + Alicerce de concreto

Lavanderia

Balanço integração com área mais próxima ao rio, com as árvores e com o muro de pedras.


O projeto é o 340

S8

COZINHA

250

FUNDAÇÃO PRÉ-EXISTENTE UTILIZADA COMO BASE PARA P1 E P2

P13

310 P1

100

160 250

80

375

15 220 140

SALA ESTAR

10

265

P7

PLANTA BAIXA ESCALA

S3

300

20 600

JARDIM DE CHUVA + DRENAGEM

1 : 75

PASSEIO

RUA ÁGUA GERAL

320

5

300 P8 S5

15

130

125

380 P5

80

10

10

310

QUARTO MARTA

36

0 50

P9

310

80

490

QUARTO LUCAS

215

400

CIRCULAÇÃO

310

0

10

130

100 10 70

10 315

PILARES P7, P9 E P11 APOIADOS NA CINTA

225

150 220

BANHO

410

465

210

S6 P10

Casa da Tia Antônia

P3

R25

PÁTIO 225

0

P11

0 21

S1

P2

430

50

resultado final.

380

210

ARMÁRIO EMBUTIDO SHAFT PARA TUBULAÇÕES

processo, não o

SAPATAS S7 E S8 = 80x80x120 PILARES P12 E P13 = 20x20

275

P12

280

390

S7

P6 S4

250

P4 S2

C


BANHO P12

275

PÁTIO 430

80

375 10

380

125

140

5 36

0

P8 S5

PLANTA BAIXA ESCALA

SALA ESTAR

QUARTO MARTA 1 : 75

ESCALA 1 : 125

280

310

10

CASA TONINHA

P4

S2

CASA TONINHA

380 P5

250

S3

P4 S2

P6 S4

20 600

280

RUA ÁGUA GERAL

COBERTURA

265

P7

300

S3

140

QUARTO LUCAS

QUARTO 250 LUCAS

P5

80

SALA ESTAR

SALA ESTAR RUA ÁGUA GERAL 300 PASSEIO

410

265

20 600

JARDIM DE CHUVA + DRENAGEM

PLANTA BAIXA

LAYOUT

125

P7

QUARTO 300 MARTA

P8 S5

ESCALA

10

10 215

490

10

310

50

P9

310

80

300 PILARES P7, P9 E P11 APOIADOS NA CINTA

130

130

10

310

5

36

0

10 70

0

315

400

CIRCULAÇÃO

100

P9

50

10

BANHO CIRCULAÇÃO QUARTO QUARTO CIRCULAÇÃO SALA MARTA ESTAR LUCAS

PILARES P7, P9 E P11 APOIADOS NA CINTA

QUARTO LUCAS

15

130

465

80

225

10

PÁTIO

P3

R25

320

80

S1

P2

220

225

CIRCULAÇÃO

380

410

465

15 225

PÁTIO

P3

375

210

310

220

490 BANHO

150

10 400

S1

R25

320

310

100

250

160

150 10 70

210 315

0

21

S6 P10

P6 S4

ESCALA

JARDIM DE CHUVA + DRENAGEM

1 : 100

1 : 75

PASSEIO

PASSEIO

COBETURA

RUA ÁGUA GERAL

RUA ÁGUA GERAL

ESCALA

COBETURA

RUA ÁGUA GERAL

ESCALA

1 : 125

RUA ÁGUA GERAL

1 : 125

RUA ÁGUA GERAL

RUA ÁGUA GERAL 2,40 SOLO

3,50 RUA

3,00 CASA LUCAS

275

60

LAVANDERIA

LOTE CÓRREGO

DRENO 100mm

CORTE TERRENO ESCALA

1 : 100

275

275

LAVANDERIA

3,00 CASA LUCAS

3,00 CASA LUCAS

2,40 SOLO

2,40 SOLO

3,50 de informações o arquiteto como mediador RUA

CASA DO LUCAS

60

UARTO MARTA

100 130

0 50 BANHO P11

220

SHAFT PARA 0 21 TUBULAÇÕES

0

QUARTO PÁTIO MARTA

S6 P10

380

310

P11

ARMÁRIO EMBUTIDO 210

P2

430

225

P1

250

50

SALA ESTAR

220 80 15

250

160

0

210 COZINHA

100

Lúdico, educativo, terapêutico

SAPATAS S7 E S8 = 80x80x120 PILARES P12 E P13 = 20x20

15

250

COZINHA 310

P1

FUNDAÇÃO PRÉ-EXISTENTE ARMÁRIO COMO BASE UTILIZADA EMBUTIDO PARA P1 E P2 SHAFT PARA TUBULAÇÕES

P13

275

COZINHA

FUNDAÇÃO PRÉ-EXISTENTE UTILIZADA COMO BASE PARA P1 E P2

COZINHA

S8

215

CIRCULAÇÃO

SAPATAS S7 E S8 = 80x80x120 PILARES P12 E P13 = 20x20

P13

340

S7

390

S8

P12

390

340

S7

10

5

LUCAS

38

3,50 RUA

NOTAS: - CONFERIR MEDIDAS NO LOCAL


o arquiteto como mediador de informaçþes 39

CROQUIS

O registro manual do processo de projeto


Vala para receber alicerce

Drenagem, contenção e arrimo finalizados.

Segunda chuva

(maior que a primeira): dreno testado e aprovado! “Essa é a única casa do Águas Gerais que tem um dreno” (Pedro Paulo servente).


Eu!


Primeira sapata finalizada com as esperas do pilar já prontas.

Vivenciei na prática as experiências de tirar níveis e de esquadriar esquinas. A presença do arquiteto na obra me fez perceber que a apropriação do projeto por parte dos trabalhadores é maior.

“Nunca trabalhei em uma obra que tinha arquiteto nem engenheiro todo dia. A gente aprende muito quando você vem e ensinamos pra você também. É uma troca” (Messias - pedreiro)

o arquiteto como mediador de informações

42


As mulheres da família já disseram sobre montar um horta nesta área. Sugeri que fizéssemos a comemoração da obra aí também.

Os pedreiros gostaram da ideia de utilizar desta área também. “Aqui tem uma sombra boa e vai dar um porão alto.” (Nino)

Nova demarcação. Quarto do Lucas bem pertinho da Mangueira e na direção da área de serviço da tia.


Sapatas finalizadas.

Formas para alicerce e cintas - nivelamento da base.

Primeira cinta: referĂŞncia de nĂ­vel. A cinta tem 40 cm de altura e, para manter o nivel em ĂĄreas mais baixas do terreno, ela se apoia em alicerces.


o arquiteto como mediador de informaçþes

45


Participação de um pedreiro voluntário nos finais de semana. Betoneira emprestada: facilita o serviço e contribui na qualidade do concreto.

Alicerce para deixar a casa em um só nível.

Um dos pedreiros que trabalham diariamente na obra faria um procedimento cirúrgico e ficará 3 semanas sem trabalhar. “Mas a obra não vai parar!” (Messias, pedreiro).

Conversas com desenhos no chão feitos pelo pedreiro Ilustrações coloridas cores diferenciam etapas e maneiras de execução

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Este projeto não termina aqui, pelo contrário, é aqui que ele abre espaço para ainda mais discussões e ações em escalas ainda maiores de atuação. Me envolvi em questões que me fizeram expandir meus horizontes sobre a arquitetura, como na análise sobre a influencia da arquitetura em portadores de necessidades especiais, a linguagem e representação de projetos e projetistas, a presença do arquiteto no canteiro de obras, o saber popular e prático como instrumento de pesquisa importante para o arquiteto e a força da autoconstrução na sociedade. Sai do papel de arquiteto-narrador para arquiteto-participante e permiti a mudança o papel do morador-receptor para o morador-participante. Imagens do dia 24.11.2015

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ANÁLISE

A arquiteta de antes e a de agora

A experiência de mediadora em um projeto real e compartilhado reafirmou a minha teoria inicial de que a troca de conhecimentos e a participação dos habitantes refletem em uma arquitetura mais democrática e em objetos que correspondem ao mundo de vida de seus habitantes. Na busca pela participação efetiva foi aberto espaço para a discussão da importância da autonomia dos habitantes sobre as decisões e ações no espaço. Sendo essa autonomia resultante de um processo no qual a informação é um elemento presente em todos os agentes participantes e fruto também da consciência dos limites de cada área de conhecimento, do fortalecimento de ações praticadas pelos habitantes locais e da concepção da moradia vista “como um processo não restrito à sequência convencional de projeto, construção e uso”, mas como processo contínuo de transformação diária de seus moradores (KAPP E CARDOSO, 2013). O principal e primeiro desafio que se apresentou foi o da própria comunicação, premissa básica para a realização de projetos compartilhados. Mas este desafio foi também potencial, ele ampliou a necessidade de buscar linguagens mais democráticas e claras e de traduzir símbolos e ações. Lucas se comunica de uma maneira diferente e este é o principal estímulo para repensarmos nossa comunicação e representação de mundos. É preciso se conectar com o outro, ouvir e entender este ser, enxergar sua realidade através de apresentações espontâneas e cotidianas. E para adentrar estes mundos de vida a presença de uma equipe interdisciplinar foi essencial para que as intenções projetuais possibilitassem refletir as demandas e necessidades dos moradores em todos os sentidos.

Além disso há de se esclarecer que outras ações e atores poderão ter (e tiveram) premissas diferentes das tomadas por este trabalho e que foram também questionadas e discutidas durantes esta pesquisa - como na dificuldade encontrada na atuação de agentes sociais que não estão adaptados a trabalhar em rede. Descentralizar o poder, aprender a ouvir a opinião do outro e trabalhar de uma forma diferente da que se está adaptado e arriscando-se a experimentar, apesar de não ter sido fácil, foi um comportamento que teve de ser tomado por todos os envolvidos no projeto. Eu considero essa mudança de postura bastante importante e transformadora principalmente para mim enquanto pesquisadora de processos que tem como premissa básica o diálogo. O exercício da mediação se fez presente a todo momento, inclusive no respeito ao tempo e rotina dos indivíduos. O tempo da vida é diferente do tempo da universidade, assim como o cotidiano, as rotinas e os imprevistos que surgiram no decorrer deste trabalho - tanto meus quanto da família do Lucas. Um dos pedreiros, por exemplo, precisou fazer uma cirurgia e a obra fica apenas com uma pessoa trabalhando. Algumas outras questões se apresentaram para discussão e, apesar de não terem sido aprofundadas, abriram portas para questionamentos. Eu gostaria de ter me dedicado mais aos estudos e pesquisas sobre moradias econômicas envolvendo técnicas e materiais alternativos para a construção da casa do Lucas. Mas o meu grau de envolvimento com o projeto estava muito forte e eu não pude deixar de me dedicar ao caminho entre a obra e suas necessidades e o cálculo dos quantitativos para buscar as doações e comprar os materiais.

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Eu também acreditava que o envolvimento da comunidade seria maior, mas até o presente momento ele foi menor do que o esperado e desejado. Os familiares do Lucas me dizem que é muito difícil as pessoas ajudarem na etapa da fundação, por exigir muita força física, mas que acreditam que no momento de levantar as paredes isso irá mudar. Eles também têm certo receio da participação de outros moradores do bairro, pois relatam de históricos de roubo de materiais. As pessoas passam em frente a obra e se interessam, dão opiniões, até sugerem doações e dizem que vão aparecer para ajudar, mas as que realmente ajudam são poucas. Apesar disto, ainda existem planos de fazer com que obra funcione como um canteiro-escola no sistema de Corte longitudinal Corte transversal tratamento de esgoto, por exemplo. Sistema de tratamento de esgoto alternativo Acredito ter ficado sobrecarregada de funções, talvez Fonte: MORADO, 2015. pela minha própria postura de assumir muitos compromissos e isto me trouxe prejuízos e autocríticas. Ainda espero trabalhar junto de especialistas das áreas da psicologia, terapia ocupacional e pedagogia algumas técnicas de comunicação que envolvam diretamente o Lucas. O desenvolvimento desta pesquisa caminhou junto às ações de atuação no espaço e a mediação é apresentada nestes dois mundos: na vida e na universidade. Enquanto universidade busco linguagens, métodos e caminhos e enquanto atuante busco conversas, realidades e ações. É preciso um questionamento constante sobre nossa própria atuação e limitação e sobre a reprodução de modos de vida no espaço urbano para que as diferentes faces desta pesquisa sejam expostas e analisadas criticamente. Este trabalho se apresentou potencial como exercício de pensar a mediação e as ações junto a comunidade despidas de um posicionamento que considera a atuação do seu saber como superior. Me posiciono aqui como aprendiz e como conhecimento técnico limitado, buscando respostas para a vida do objeto e para meu próprio repertório enquanto arquiteta.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE Sテグ JOテグ DEL REI - ARQUITETURA E URBANISMO /DAUAP


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