O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

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Estudo de caso: UnB

O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

Juliana Lopes Vasconcelos AUTORA

Prof.ª Me. Carolina Pescatori Candido da Silva ORIENTADORA

Prof. Dr. Benny Schvarsberg AVALIADOR

Prof. Dr. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto AVALIADOR

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DE BRASÍLIA DEPARTAMENTO DE TEORIA E HISTÓRIA CAMPUS UNIVERSITÁRIO DARCY RIBEIRO – ASA NORTE – BRASÍLIA/DF +55 61 3107.7439 FAU@UNB.BR WWW.FAU.UNB.BR

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“Caminhar é o início, o ponto de partida. O homem foi criado para caminhar e todos os eventos da vida – grandes e pequenos – ocorrem quando caminhamos entre outras pessoas. A vida em toda a sua diversidade se desdobra diante de nós quando estamos a pé.” Jan Gehl

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Apresentação

Atualmente, a mobilidade urbana nas cidades é um conceito fundamental dentro da sociedade. Segundo o dicionário, Michaellis, a mobilidade é o deslocamento de indivíduos, grupos ou elementos culturais no espaço social. A importância desta questão incentivou a criação da Lei Federal nº 12.587/2012, que trata da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Nela constituem fundamentos e diretrizes para incentivar o uso de meios não-motorizados de transporte. Dessa forma, é fundamental que as soluções para os espaços urbanos, destinados à circulação de pedestres, contemplem as necessidades das pessoas, em especial as com dificuldade de locomoção, para que possa ser garantida a acessibilidade universal. Pode-se dizer que pensar em mobilidade de pedestre é pensar em acessibilidade. (AGUIAR, 2011). O pedestre, então, é a temática central desse estudo, em que se depara com o questionamento de como ele percorre o espaço do campus. Esse espaço está estruturado para o uso do pedestre? Qual é o lugar do pedestre no campus? Portanto, esse estudo se manifesta para investigar e descobrir essas indagações dentro do cenário do Campus Universitário Darcy Ribeiro, na Universidade de Brasília.

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Conteúdo

Apresentação ................................................................................................................... 4 Introdução........................................................................................................................ 7 Objetivos .......................................................................................................................... 8 Justificativa ...................................................................................................................... 9 Campus _ Por quê? ................................................................................................................................ 9 Pedestre_ Por quê? ................................................................................................................................ 9 Fundamentação Teórica ............................................................................................... 12 2.1 Breve histórico ............................................................................................................................. 12 2.1.1 O modelo de campus universitário ............................................................................... 12 2.1.2 O surgimento do campus universitário no Brasil .................................................... 14 2.2 Brasília, cidade planejada. ..................................................................................................... 16 2.2.1 O projeto de Brasília ........................................................................................................... 16 2.2.2 A cidade universitária de Brasília ................................................................................... 17 2.3 A criação da Universidade de Brasília .............................................................................. 19 2.3.1 Plano Pedagógico ................................................................................................................ 19 2.3.2 O projeto urbanístico e arquitetônico ......................................................................... 20 2.4 A evolução do espaço físico do Campus ........................................................................ 22 2.4.1Período de 1960-1970 ......................................................................................................... 22 5


2.4.2Período de 1970-1980 ......................................................................................................... 22 2.4.3Período de 1980-1990 ......................................................................................................... 24 2.4.4Período de 1990-2000 ......................................................................................................... 25 2.4.4 Período de 2000 até hoje .................................................................................................. 25 2.5 O espaço do pedestre dentro do Campus ..................................................................... 26 Diretrizes para análise do espaço do pedestre ........................................................... 28 3.1 Aspecto da Acessibilidade ..................................................................................................... 31 3.2 Aspectos da Segurança e Proteção ................................................................................... 33 3.3 Aspecto do Conforto Ambiental ....................................................................................... 34 3.4 Aspecto da Atratividade ......................................................................................................... 36 3.5 Síntese das diretrizes a serem analisadas ...................................................................... 38 Estudo de Casos: Campus Darcy Ribeiro - UnB .......................................................... 40 4.1 Percurso Longitudinal .............................................................................................................. 41 4.1.1 Estação “A” ................................................................................................................................... 42 4.1.2 Estação “B” ................................................................................................................................... 44 4.1.3 Estação C ....................................................................................................................................... 45 4.1.4 Estação D ...................................................................................................................................... 48 4.1.5 Estação “E” .................................................................................................................................... 49 4.1.6 Estação “F” .................................................................................................................................... 50 4.1.7 Estação “G” ................................................................................................................................... 51 4.1.8 Estação “H” ................................................................................................................................... 53 4.2 Quadro Resumo .......................................................................................................................... 54 Considerações Finais ..................................................................................................... 56 Referências Bibliográficas ............................................................................................ 58

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Introdução

A intenção deste trabalho está em descobrir o verdadeiro espaço do pedestre dentro do campus universitário. A configuração dos edifícios no campus universitário e os caminhos traçados a partir disso são características fundamentais para o entendimento da circulação do pedestre na universidade. Para isso, inicia-se o estudo fazendo um panorama da evolução dos campi universitários até chegar à organização obtida nos dias de hoje. E depois parte-se para o entendimento das dimensões e conceitos que valorizam a prática da mobilidade sustentável na sociedade até chegar ao estudo de caso. Procura-se entender quais são as diretrizes para valorizar e estimular os percursos e caminhos e, consequentemente, o pedestre. Além disso, a análise da (1) qualidade dos percursos e da (2) acessibilidade são conceitos-chave que servem para compreender se o usuário utiliza ou não esse espaço dedicado a ele e em que condições esses percursos se apresentam para o pedestre. Para ilustrar essa compreensão do espaço, utilizar-se-á o campus universitário Darcy Ribeiro para a aplicação da metodologia elaborada. Sendo assim, o estudo de caso na Universidade de Brasília serve para colocar em prática os aspectos estudados, para que se obtenha um diagnóstico do cenário das calçadas, percursos e demais espaços dedicados a esses pedestres.

Palavras-chave: Mobilidade; Pedestre; Campus universitário; 7


Objetivos

O objetivo principal é identificar as condições de mobilidade do pedestre no Campus da Universidade de Brasília para verificar se os resultados apresentados atendem às necessidades dos usuários. Para alcançar o objetivo principal, é necessário: 1. Compreender a configuração do espaço físico do campus; 2. Adotar um método para avaliar os espaços destinados ao pedestre; 3. Mapear os percursos utilizados pelo pedestre; 4. Diagnosticar as condições das calçadas; 5. Diagnosticar o conforto do pedestre ao utilizar essas calçadas.

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Justificativa Campus _ Por quê? O campus é o lugar de manifestações culturais e acadêmicas dentro da perspectiva de uma cidade. É uma importante área de estudo, pois abrange uma quantidade de pessoas significativa que fazem o uso desse espaço, diariamente. Além disso, o campus universitário é o espaço e ambiente que o estudante vai utilizar por uma média de 5 a 6 anos. Sendo assim, as condições físicas do espaço universitário são fundamentais para o desenvolvimento apropriado das atividades acadêmicas pelo estudante. Para essa análise, o campus Darcy Ribeiro é um importante objeto de estudo, pois representa uma instituição de forte nome e estrutura no país. A Universidade de Brasília além de ser uma entidade de ensino, também prioriza a pesquisa e extensão, o que a leva ao papel de formadora de opinião e, consequentemente, um agente importante na solução de problemas dentro da sociedade. No Brasil, o Código Brasileiro de Trânsito, por lei, prioriza o pedestre dentro do sistema, porém, na prática, sabe-se que a prioridade é dada ao transporte individual. Dessa forma, se a universidade não privilegia os pedestres no seu espaço, de certa forma ela vai mostrar à sociedade que essa condição é aceitável, o que se sabe não ser verdade. Além disso, ela representa uma área de intenso valor simbólico e arquitetônico para os usuários que de alguma forma utilizaram ou ainda utilizam esse espaço. Portanto, nada mais coerente do que adotar esse espaço como um estudo de caso para diagnosticar a mobilidade do pedestre dentro de um importante campus universitário.

Pedestre_ Por quê? Baseado no PPGT, Programa de Pós-Graduação em Transportes - Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB, sabe-se que atualmente 70% dos usuários do campus, estudantes e trabalhadores, percorrem o espaço do campus diariamente caminhando a pé, (TACO, DAFICO e SEABRA, 2011). Com isso, estimando que a quantidade de estudantes, funcionários e professores compõe uma população total de 30.000 pessoas, aproximadamente 21.000 pessoas transitam pelo campus diariamente e, consequentemente, percorrem o espaço destinado ao pedestre. Com isso, o pedestre é uma peça fundamental no aspecto de sociabilidade e interação no espaço do campus. Ele vai ser o objeto de maior importância no cenário da universidade. Pelo menos deveria ser. A integração do espaço físico, a acessibilidade e a qualidade dos espaços são fundamentais para a mobilidade efetiva do pedestre no campus. O direito de ir e vir, além de ser um direito constitucional do cidadão, é a forma mais simples e democrática de locomoção no espaço e não depende de nenhum meio para que isso aconteça. No âmbito atual da mobilidade sustentável, o estímulo da valorização do pedestre, a partir de pesquisas que enfoquem isso, é primordial para começar a mudança de hábitos e paradigmas urbanos. 9


Análise do espaço do pedestre Para analisar o objeto em pauta, estudam-se métodos e procedimentos de análise da qualidade do espaço para a circulação dos pedestres, para a aplicação prática dentro de um estudo de caso. Para isso, a estruturação do trabalho irá se dividir em cinco partes. A metodologia vai estar voltada para a observação estruturada do espaço físico, com a coleta de dados a partir da criação de mapas, de onde se fará a análise espacial do meio estudado, e a partir da documentação fotográfica do objeto de estudos, o campus universitário Darcy Ribeiro. Essa análise espacial seria, basicamente, atentar para as condições físicas do ambiente em relação aos aspectos que levam ao conforto e uso adequado da pessoa que percorrer esse caminho. Para isso, é necessário o estabelecimento de diretrizes de avaliação do espaço, a partir do uso de fontes de apoio como (GEHL, 2013) e (ECHAVARRI, DAUDÉN e SCHETTINO, 2013). Esses autores discorrem sobre o conceito do espaço ideal dentro da dimensão humana, e com isso compõe uma ferramenta que possibilite estabelecer os critérios de avaliação do espaço do pedestre dentro do campus.

Para ilustrar o desenvolvimento do estudo, foi realizado um diagrama da estrutura de trabalho para o melhor entendimento do conteúdo (ver página seguinte). Na primeira coluna, localizam-se as etapas de desenvolvimento do projeto, na segunda coluna os capítulos referentes a cada etapa e, na última coluna, os assuntos abordados em cada capítulo. O primeiro capítulo introduz a temática proposta, o espaço do pedestre dentro do campus, assim como as justificativas e os objetivos para o estudo. Já no segundo capítulo, procura-se contextualizar o problema da mobilidade do pedestre na literatura disponível. Posteriormente, tem-se o levantamento de material teórico para a fundamentação do tema e de conceitos e diretrizes que permeiam a questão discutida. Esse argumento vai se desenvolver ao longo do terceiro capítulo, enquanto o quarto capítulo retrata a aplicação da metodologia citada e os aspectos encontrados. Já o último capítulo, apresenta as conclusões e as opiniões discutidas a respeito dos resultados gerados.

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Figura 1- Diagrama da Estrutura de Trabalho

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Fundamentação Teórica 2.1 Breve histórico

O território da escola definia-se por seus edifícios, e não por um sítio, isto é, uma área delimitada, fechada e apartada da cidade. As escolas se integravam à malha urbana e constituíam elementos do seu crescimento. O conjunto de escolas e a cidade não eram divididos por limites físicos que as separassem; o limite da escola, como dissemos, era próprio o edifício e, ao redor, a cidade fluía e crescia livremente. (PINTO e BUFFA, 2009, p. 34).

2.1.1 O modelo de campus universitário A ideia da formação de um campus universitário surgiu no Brasil no século XX, a partir do modelo criado nas universidades americanas, no séc. XIX, para estruturar e organizar o espaço acadêmico dessas universidades. Porém, antes de entender o modelo americano, é preciso perceber que algumas características desse modelo foram importadas dos já consolidados “colleges” britânicos, principalmente Oxford e Cambridge, para a configuração do espaço universitário. As construções universitárias inglesas começaram a se formar a partir do processo de urbanização das cidades europeias. Sendo estas localizadas dentro do espaço urbano das cidades, configuraram uma nova e diferente tipologia de edifícios que, com seu conjunto de edificações, vai acabar delimitando uma área destinada unicamente para o espaço universitário em cada cidade.

As edificações da universidade representadas em roxo e o restante da cidade em vermelho Figura 2- Plano da Cidade e da Universidade de Oxford, 1890. Feito por George Bacon Fonte: www.antiquemapsandprints.com

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Sendo assim, essas universidades, que (PINTO e BUFFA, 2009) designam como sendo escolas, serão livres de limites ou barreiras, ou seja, o espaço da universidade vai ser configurado pela formação e disposição dos edifícios resultando em uma relação aberta com os espaços públicos e a estrutura da cidade, aspecto que pode ser observado a partir da Figura 2. Essa característica fundamental, dos edifícios serem abertos aos espaços públicos, vai ser levada para o modelo americano e, mais tarde, para os modelos brasileiros também, com suas devidas adaptações. A partir desse panorama das universidades inglesas, as universidades americanas vão transformar esse modelo vigente atribuindo a esse espaço da universidade um valor de comunidade independente. Essa comunidade seria como uma pequena cidade que teria sua autonomia por meio de regras e costumes, além de possuir equipamentos comunitários, serviços gerais e atividades voltados para esses usuários como uma real cidade deve ter. Esse modelo foi assim chamado de “cidade universitária”, onde esse complexo acadêmico deveria ser implantado em um campo distante das cidades e exclusivamente para abrigar as atividades acadêmicas. Na época, acreditava-se que a implantação da universidade distante do meio urbano e perto do campo favoreceria a promoção do ensino, pesquisa e extensão sem a influência da sociedade urbana.

Nos EUA, os câmpus tornaram-se verdadeiras cidades especiais, cercadas, com o decorrer do tempo, pela malha urbana das cidades próximas e existentes, mas continuando fechadas, com seu território definido e limitado e com o privilégio de estabelecer, dentro de certos limites, suas normas, regras e padrões. O campus tornava-se o território de privilegiados: local destinado à formação de dirigentes, à pesquisa e à produção científica sem a interferência nefasta das cidades. (PINTO e BUFFA, 2009, p. 41).

As diferenças entre o modelo europeu e o modelo americano estão na sua localização e nos seus limites territoriais. Enquanto as universidades europeias estão ajustadas dentro das cidades e não constituem uma delimitação física entre o campus e a cidade para dividir esses dois espaços, o campus americano já tem a sua posição afastada dos grandes centros urbanos, com certas barreiras físicas e com o caráter de serem autossuficientes e isoladas. Porém, a grande característica que se destaca para os dois modelos está na configuração do espaço interno do campus universitário. A implantação das edificações vai estar configurada de forma livre em que a edificação, independentemente de seu uso, vai estar disponível para a livre passagem dos usuários no espaço universitário. O direito de ir e vir do estudante pelo campus é assegurado em ambos os modelos e é característica fundamental para manter o critério de unidade e interação entre todas as partes do campus.

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2.1.2 O surgimento do campus universitário no Brasil No período que precede a existência de campus universitário no Brasil, as faculdades brasileiras apresentavam uma estrutura acadêmica de ensino fraca e espaços físicos isolados, sem que houvesse uma proximidade ou interação entre faculdades da mesma cidade. (PINTO e BUFFA, 2009). É assim que, visando à concentração de um polo único acadêmico, se propõe uma mudança estratégica para aproximar essas instituições. O objetivo era unir as faculdades existentes para organizá-las em um espaço único voltado para a concentração do ensino acadêmico, ideia essa resgatada do modelo americano já citado. Sendo assim, a Universidade do Rio de Janeiro surge em 1920, como o primeiro campus universitário brasileiro em que a tentativa de criação e implementação vai dar certo. Mais tarde, viriam as universidades de Minas Gerais (1927) e São Paulo (1934). Segundo (PINTO e BUFFA, 2009, p. 46). O ensino superior brasileiro foi tradicionalmente marcado pelo crescimento do número de escolas isoladas. Entretanto, nos dez anos que antecederam o golpe militar de 1964, a organização universitária tornou-se predominante. Assim, em 1945, havia 5 universidades no Brasil e, em 1964, já eram 37.

O desejo inicial, na formação desses primeiros campi universitários brasileiros, era que configurassem verdadeiras cidades universitárias, apesar da intenção, nunca existiu uma real cidade universitária no Brasil porque nenhuma foi completamente autossuficiente em relação à cidade em que

estava inserida. (Pinto e Buffa, 2009). Ao contrário do pensamento das universidades federais que compunham um cenário de configuração de espaços abertos e públicos agindo como parte integrante das cidades, as universidades privadas, PUC’s; Pontifícia Universidade Católica; configuravam-se em campi fechados e delimitados em que existia uma divisão entre a cidade e a universidade. É importante neste instante ressaltar a diferença entre a cidade universitária e o campus universitário. É comum, muitas vezes, serem utilizados esses dois nomes para exprimir o mesmo significado, entretanto eles representam ideias semelhantes e não idênticas. O campus universitário é um conjunto de edificações que agrupa unidades de ensino e residências, podendo existir serviços e atividades ligadas à área acadêmica. Sendo assim, está compreendido nesse espaço, além das instituições de ensino, um suporte ao estudo e pesquisa aos estudantes e professores, tais como residências, biblioteca, centros de convivência, refeitórios, papelaria, bancos e outros serviços ligados à necessidade diária do campus. Já a cidade universitária, compreende o campus, mas numa relação de autossuficiência em relação a cidade que está ao seu redor, ou seja, a cidade universitária seria capaz de gerir e produzir tudo para seu campus sem que houvesse a necessidade de subsídios da cidade próxima. (PINTO e BUFFA, 2009). A partir de 1968, essas recém-criadas universidades passaram por reformas universitárias para alcançar a qualidade das instituições universitárias americanas. Apresentaram algumas mudanças no sentido organizacional do sistema de ensino, para a modernização das instituições. Além do modelo americano, nessa 14


época o país também se atentava para as estruturas de ensino que estavam funcionando bem e que já tinham um caráter inovador e de qualidade. Um exemplo que foi estudado e observado na época foi o Instituto Tecnológico da Aeronáutica – ITA, criado em 1947. Segundo Meneghel, (apud OLIVEIRA, DOURADO e MENDONÇA, 2006, p. 147), o ITA: Foi concebido como uma estrutura curricular totalmente inovadora: tinha departamentos, e não as tradicionais cátedras; os alunos somavam créditos sendo alguns a sua escolha, e não apenas cursavam a disciplinas obrigatórias; havia oportunidade de desenvolver projetos de pesquisa; propiciava ao estudante um período de formação básica, para posterior formação profissional, dentre outros. Embora o ITA fosse uma escola, não uma Universidade (ou seja, essa ocupava apenas uma área do conhecimento- a Engenharia), foi um marco fundamental para a assimilação, no Brasil, da estrutura tecnocrática da educação superiorde produtividade, eficácia e eficiência – característica de escolas norte-americanas.

Além do ITA, as universidades que vão ser criadas ou reformuladas, a partir dessa época, serão planejadas de forma a atingir os princípios de uma universidade moderna. Para que isso seja possível, serão propostas reformas acadêmicas que vão promover a relação entre as faculdades e estimular uma maior interação entre elas e, para isso acontecer de forma apropriada, consequentemente a formulação do espaço já vai ser configurada de modo diferente. Esses espaços começam espontaneamente a se configurar de forma em que exista uma ligação e interação entre eles. O estudante provavelmente ao longo dos primeiros anos acadêmicos vai visitar diversos núcleos de faculdade, dentro

do campus, e consequentemente vai utilizar várias partes físicas desse espaço universitário. Dentro desse contexto, é importante perceber que a criação da Universidade de Brasília, em 1961, vai constituir um modelo de referência para as demais universidades que passarão por reformas modernizadoras. Além da criação inteiramente nova de uma universidade de ensino, a universidade passa a ser um projeto de representação do ideal da qualidade do espaço físico e acadêmico que se buscava no Brasil. A partir desse panorama geral, entra-se, então, no campus universitário a ser estudado: a Universidade de Brasília.

Figura 3 - Maquete do ITA em 1950 Fonte: http://democraciapolitica. blogspot.com.br

Figura 4 - Vista aérea do complexo do ITA Fonte: http://www.aereo.jor.br/

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2.2 Brasília, cidade planejada. 2.2.1 O projeto de Brasília Para entender como foi configurado o campus universitário de Brasília, é necessário primeiramente compreender a história da construção e a proposta urbanística para Brasília. A ideia de se criar a nova capital do Brasil, no centro do país, existe desde o século XIX, quando em 24 de fevereiro de 1891 foi promulgada a primeira Constituição da República que estabelecia no Planalto central do Brasil, uma área de 14 mil quilômetros quadrados para a construção da futura capital do país. (Arquivo Público/GDF). Porém, essa ideia permaneceu dormente durante mais de meio século, até a retomada do plano pelo Presidente da República, Juscelino Kubitschek, em 1956. Para o Presidente Juscelino, a mudança da capital para o centro do país, além de representar o desenvolvimento do interior do território, iria também caracterizar a situação política e econômica que o país estava enfrentando na época. Sendo assim, Brasília vai representar mais do que uma a implantação de uma nova capital no país, Ela é a realização da conquista do centro subdesenvolvido do país; ela é o ícone maior do projeto desenvolvimentista do Brasil nos anos 50 e uma expressão física daquela nova era política. Brasília nasceu do sonho de se conquistarem as terras do interior, de escapar da corrupção do Rio de Janeiro e de formular uma nova visão de país, tudo incorporado pelo então presidente Juscelino Kubitschek. Para ele: a nova capital deveria refletir este novo Brasil: moderno, integrado à economia

mundial e avançado tecnologicamente. (PESCATORI e BOWNS, 2008, p. 299 e 300).

Dentro desse ideal de concepção da capital para o país, o Presidente da República vai organizar um concurso público para eleger o projeto urbano para a criação de Brasília. Dentre os critérios para avaliação dos projetos, o concurso exigia que os arquitetos apresentassem propostas que fossem diferentes das cidades brasileiras da época e que apresentasse um caráter moderno e atual. Foram então apresentadas 26 propostas, dentre elas estava a de Lúcio Costa, que foi o projeto vencedor. Lucio Costa apresenta então o Relatório do Plano Piloto de Brasília (1956), um documento com alguns croquis onde ele demonstrava a suas intenções ao longo de 23 pontos, que seriam as diretrizes de projeto. Antes de descrever o projeto de Lucio Costa, é importante entender o contexto histórico que se configurava o mundo e o Brasil, consequentemente. Nessa época, o país se deparava com os reflexos da 2ª Revolução Industrial, em que se observava a intensa modernização, e o automóvel era a forma de transporte a ser incentivada nas cidades. O planejamento de uma nova cidade, nesse período, irá se configurar a partir dessa popularização dos carros com a sistematização de outra dinâmica urbana. Questões como mobilidade urbana sustentável e a valorização do uso de meios não motorizados ainda eram questões que não correspondiam ao ideário urbano presente. A intenção era promover o consumo e uso dos automóveis como reação ao estilo moderno a ser adotado.

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Tendo isso dito, a proposta de Lúcio Costa vem a afirmar o paradigma da época, com soluções em que o transporte viário era o mais valorizado e a noção das distâncias foi dimensionada a partir do uso do carro e ônibus, pelo transporte coletivo. Com isso, o traçado inicial de Brasília foi obtido a partir de dois eixos que se cruzavam, onde um seria o eixo monumental e ou outro o residencial. Figura 5 - Croquis do Plano Piloto de Brasília, realizado por Lucio Costa. Fonte: concursosdeprojeto.org

2.2.2

A cidade universitária de Brasília

No eixo monumental, dentre várias outras edificações representativas, estaria localizada a esplanada dos Ministérios que formaria uma composição para se chegar ao clímax da perspectiva: a praça dos três poderes. O Ministério da Educação, localizado ao longo do eixo monumental, caracterizava em uma importante estratégia de projeto para a cidade universitária, pois o ministério e cidade universitária seriam projetados de forma que fosse um ao lado da outro, para que houvesse ligação direta entre o poder e a instituição. Ao longo dessa esplanada – o Mall dos ingleses -, extenso gramado destinado a pedestres, as paradas e a desfiles, foram dispostos os ministérios e autarquias (...), sendo o último o da Educação, a fim de ficar vizinho do setor cultural, tratado à maneira de parque para melhor ambientação dos museus, da biblioteca, do planetário, das academias dos institutos, etc., setor este também contíguo à ampla área destinada à Cidade Universitária (...). (COSTA, 1956).

Figura 6 - Arquiteto e urbanista Lucio Costa e o Presidente Juscelino Kubitschek Fonte: cartasdebrasilia.blogspot.co m.br (site)

A ideia de localização da cidade universitária em relação à cidade foi proposta por Lucio Costa de forma diferente na época. Primeiramente ele se localizava no atual Setor de Embaixadas Norte, que seria ao lado dos Ministérios e a Asa Norte, portanto, na área central urbana. Prevendo um campus integrado à cidade e aberto para toda a comunidade, não contava, entretanto, com a oposição de algumas autoridades. A oposição surgiu em função da proximidade da área do campus com os locais da administração política do país – o Congresso e a própria Esplanada. Entendiam 17


que essa proximidade poderia ser uma ameaça, sobretudo num momento em que os movimentos estudantis passavam por um período de intensa atividade. (PINTO e BUFFA, 2009). Ainda assim, apesar de não estar localizada na ideia inicial do plano piloto de Lucio Costa, a universidade tem sua proposta de implantação no Plano Piloto de Brasília, porém com certo distanciamento em relação aos ministérios, em que uma área destinada às embaixadas separava o setor de cultura e o setor de educação. Com essa mudança projetual, é possível perceber que a relação do campus universitário com a cidade já vai se configurar de forma diferente, onde a universidade vai estar em um terreno mais isolado e consequentemente a sua interação com a cidade vai se transformar também. Uma importante modificação da proposta inicial de Lúcio Costa foi a introdução do Setor de Embaixadas Norte entre a Esplanada dos Ministérios e a Cidade Universitária, onde seria implantada a Universidade de Brasília. Esse Setor de Embaixadas Norte criou um enorme bolsão subaproveitado, de urbanização precária, que intriga o analista do desenho urbano acabado. Outros bolsões de uso criticável também ao norte da Esplanada dos Ministérios vieram a ser criados, na proposta do Setor de Mansões situado ao longo da via L4 e a fração do Setor de Clubes Norte, que acabou por abrigar as estatais Telebrasília e IBAMA, confrontantes com o citado Setor de Embaixadas Norte. A crítica a esses usos é inevitável, dado que a solução final de modo algum contribuiu para formar o complexo (…“tratado à maneira de parque”…) de Educação e Cultura concebido por Lúcio Costa e que certamente teria sido decisivo para evitar o desolamento existente na imensa área

adjunta à Esplanada dos Ministérios. (FLÓSCULO, FARIA, et al., 1998, p. 12).

Essa modificação a partir da inserção do Setor de Embaixadas Norte contribuiu para desintegrar o campus, isolando-o assim da cidade, trazendo como consequência a dificuldade de locomoção do pedestre e a falta de urbanidade do espaço.

Figura 7 - Projeto do Plano Piloto por Lucio Costa e a atual posição da UnB Fonte: concursosdeprojeto.org (site)

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2.3

A criação da Universidade de Brasília

2.3.1

Plano Pedagógico

Em 1960, no mesmo ano da inauguração de Brasília, foi criada a comissão para elaborar, começar e estruturar a Universidade de Brasília. Foram convidados os professores Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira, dentre outros intelectuais participantes dessa comissão, para a elaboração do Plano Orientador da Universidade. Para o antropólogo, Darcy Ribeiro, era fundamental uma reforma universitária no sistema de ensino superior brasileiro, para que houvesse a renovação e o avanço das universidades. Sendo assim, a Universidade de Brasília surgia como uma perfeita oportunidade para a implantação de um sistema de ensino que se distanciasse do modelo tradicional, para ser estruturada desde o início da sua concepção em um modelo moderno dentro do panorama da capital do país. Segundo Darcy Ribeiro, este modelo, que na época já funcionava adequadamente nas universidades europeias, se caracterizava basicamente pela criação de Institutos para ministrar cursos introdutórios nos dois primeiros anos de universidade, a fim de dar preparo intelectual e científico básico para depois seguir para os cursos profissionais nas Faculdades. Além disso, os Institutos Centrais deveriam ministrar cursos de bacharelados, cursos de formação científica e programas de estudos para pós-graduados.

terceiro já com tendência à especialização. Após esses dois a três anos, o estudante poderá permanecer no Instituto, se for aceito como aluno para a formação especializada em um dos departamentos, com o objetivo de fazer-se antropólogo, psicólogo, sociólogo, analista-econômico, demógrafo, historiador, etc. A maioria dirigir-se-á, naturalmente, para as Faculdades citadas, onde receberá formação profissional através de dois a três anos mais de estudos. (RIBEIRO, 2012, p. 23).

Com isso, Darcy Ribeiro elimina por completo a composição do ensino superior por cátedras, onde cada faculdade delimita o seu conhecimento por âmbitos rígidos e bem delimitados, e insere em seu lugar a composição por departamentos. A partir do diagrama que Darcy Ribeiro elabora, é possível compreender a disposição desses departamentos que ele distribui de forma racional como se fosse um fluxograma da organização espacial de cada ensino dentro da universidade. (Figura 8). Esse moderno padrão de organização, segundo Darcy, proporciona aos estudantes um ambiente ideal para a transmissão de experiências, não apenas por meio de atividades curriculares, mas também no convívio e na interação pessoal dentro dos Institutos Centrais. O desenvolvimento de uma nova proposta pedagógica define quase que naturalmente novos programas arquitetônicos e outra hierarquia para a implantação de edifícios e urbanização diferenciada do território. (PINTO E BUFFA, 2009. p. 122).

No Instituto, os alunos realizarão cursos introdutórios de dois a três anos, o primeiro dedicado a estudos gerais que completem a formação básica, dando-lhes nível universitário; o segundo e o

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Além do caráter social do campus, o resultado dessa organização será base para a concepção e desenho do campus universitário da Universidade de Brasília, porque com uma nova circulação consequentemente se tem uma nova conformação do espaço arquitetônico.

2.3.2 O projeto urbanístico e arquitetônico O plano pedagógico e o projeto urbanístico foram realizados ao mesmo tempo, para que a Universidade de Brasília começasse a ser construída de modo mais rápido possível. Após dois anos da inauguração de Brasília e do início do estudo do plano orientador da UnB, Lucio Costa elabora um projeto urbanístico para o campus da universidade de Brasília. (Figura 9). Neste projeto, o campus estaria de frente para a via L4, sob a qual seria a porta de entrada da universidade com a configuração da Praça Maior no centro. Nessa praça estariam os principais edifícios representativos que levariam aos Institutos Centrais (ICs), na parte central do campus e, mais tarde, se configurariam as faculdades, localizadas em áreas intermediárias. A implantação dos edifícios seria feita de forma dispersa com grandes espaços abertos, como se fossem parcelados em quadras internas. (FLÓSCULO, FARIA, et al., 1998).

Figura 8- Fluxograma de distribuição do campus Fonte: (RIBEIRO, 2012)

Figura 9 - Croqui de Lucio Costa para o campus Fonte: (FLÓSCULO, FARIA, et al., 1998, p. 11)

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É importante perceber que para a elaboração desse projeto, o urbanista Lucio Costa tem como referência para a configuração dos espaços, o modelo das universidades americanas e também às características do movimento urbanístico moderno. A configuração de grandes áreas verdes e espaços abertos para a divisão desses edifícios são elementos fundamentais desses dois pensamentos. Logo após essa proposta de Lucio Costa, é criado o CEPLAN – Centro de Planejamento da Universidade de Brasília, para dar continuidade ao projeto e ao planejamento do campus sob a coordenação de Oscar Niemeyer. A partir de então, o projeto de Costa vai sofrer algumas alterações em relação aos Institutos Centrais, onde Niemeyer vai unir esses institutos em apenas uma única edificação: o Instituto Central de Ciências (ICC) em detrimento do caráter da Praça Maior, que seria a de ser uma porta de entrada marcante para o campus, para ter como referência principal o ICC na parte central do campus.

expansão da Universidade nos seus setores ao sul e ao norte do núcleo central dominado pelo Minhocão - ICC. O padrão de distribuição dos demais edifícios assemelhava-se à proposta de Lúcio Costa: isolados, num mosaico para o setor urbano em que o sistema viário seria o principal delimitador dos espaços, na escala geral da nova cidade universitária. (FLÓSCULO, FARIA, et al., 1998, p. 13).

Consequentemente, Niemeyer atribui ao Instituto Central um caráter simbólico e de forte identidade do campus da UnB. Sua edificação vai estar disposta no terreno de forma centralizada e emoldurando a Praça Maior, que vai ser executada posteriormente. O principal e mais icônico prédio da UnB, que abriga a maioria dos institutos, faculdades, salas de aula, laboratórios e anfiteatros, teve seu início em 1963. De acordo com o professor aposentado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, José Carlos Coutinho, a espinha dorsal da Universidade, de quase 700 metros de cumprimento, dividido em duas alas, com três andares cada, foi inaugurado em 1971, após oito anos de obras. A partir de estruturas pré-moldadas, foi ocupado em partes, na medida em que as seções ficavam prontas. “Sem dúvida, uma concepção admiravelmente inovadora: praticamente toda a Universidade é alojada ao longo de uma rua.” (UNB AGÊNCIA, 2012)

Figura 10 - Croqui de Niemeyer com o ICC no campus Fonte: (FLÓSCULO, FARIA, et al., 1998, p. 13)

.

O projeto físico e a localização dos edifícios, tal como proposto e executado à época, criaram um núcleo de ocupação em meio à grande gleba concedida para a sua fundação. Essa decisão veio a mostrar-se valiosa para o ulterior planejamento da

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2.4

A evolução do espaço físico do Campus

2.4.1

Período de 1960-1970

O ICC e os pavilhões de serviços gerais foram construídos de imediato para abrigar as principais atividades da UnB. Os primeiros prédios que são construídos são realizados com rapidez de forma a começar a utilizar o espaço físico do campus, para que não fosse preciso mais o uso do Ministério da Educação para ministrar as aulas da universidade. Sendo assim, com uma inovação e praticidade, os pavilhões são concebidos na parte noroeste em relação ao ICC, também na área central do campus. Dentre eles, estava o Instituto Central de Artes (SG1), o Departamento de Música (SG2) e o prédio do CEPLAN (SG10).

Os pavilhões de Serviços Gerais compõem um dos mais significativos e emblemáticos conjuntos arquitetônicos da UnB. Expressivos não apenas do ponto de vista funcional, mas também do sistema construtivo, a intenção de Niemeyer foi constituir um espaço multifuncional, flexível e econômico. Seguindo essa concepção, as unidades de apenas um pavimento, a partir de estruturas pré-moldadas de concreto armado, assumiam versatilidade ao possibilitarem diversos arranjos internos. Como regra geral, os prédios dispõem de um jardim em cada extremidade e pelo menos mais um na porção central. (UNB AGÊNCIA, 2012).

O campus universitário de Brasília funcionava como um lugar onde se expunham as ideias e se colocavam em prática experimentos educacionais, arquitetônicos e tecnológicos; agindo como um verdadeiro canteiro de obras, passava por um momento onde todas as propostas eram levadas em consideração para alcançar o objetivo de uma universidade moderna. Entretanto, o golpe militar de 1964 acabou por desacelerar esse desejo da formação do campus e caracterizou um período de paralisação das obras e estudo na universidade.

2.4.2

Figura 12 - Ocupação do campus nas décadas de 60-70 Fonte: (ABREU, 2013, p. 34)

Período de 1970-1980

Após um período de grandes tensões entre os estudantes e o governo militar, no final da década de 60, tem-se o reaparecimento de algumas propostas e, aos poucos, vai se retomando o discurso da organização universitária e do estabelecimento de diretrizes para a continuação dos projetos. Sendo assim, a partir de 1969, são elaboradas propostas de implantação de edifícios na Praça Maior (Reitoria, Biblioteca, Aula Magna e área de convivência) e no Centro Olímpico, que atendia 22


às aspirações iniciais dos arquitetos Costa e Niemeyer anos antes. Apesar de estarem em projeto, a Aula Magna e a área de convivência não foram construídas nessa época.

A ocupação com longos afastamentos dos edifícios acabou por revelar um espaço com aspecto despovoado e de difícil circulação. As áreas de vivência não eram utilizadas e o aspecto de desolamento prevalecia. A alternativa foi redirecionar o plano de ocupação no sentido de adensar as massas dos edifícios. (PINTO e BUFFA, 2009, p.127).

No início da década de 70, os projetos continuam a ser elaborados e o espaço do campus vai se configurando a partir de decisões tomadas pelo CEPLAN. Determina-se, então, a locação do restaurante universitário acima do ICC e não na praça maior, configurando assim um novo eixo importante para o campus, que mais tarde será chamado de eixo de vivências, enquanto o do ICC será chamado de eixo de ensino e pesquisa. Além dos edifícios principais, tem-se a construção da Faculdade de Tecnologia, da Faculdade de Ciências da Saúde e da Faculdade de Estudos Sociais Aplicados sempre próximos ao ICC, intensificando assim, ainda mais, o caráter de centralização do Instituto Central de Ciências, em relação ao campus. Figura 13 - Ocupação do campus nas décadas de 70-80 Fonte: (ABREU, 2013, p. 38)

Nesse momento também aparecem o Hospital Universitário – HUB, que está localizado na parte mais alta e mais próxima à cidade em relação ao campus por estar situado entre as vias da L2 e L3 norte, o conjunto de habitações da Colina, mais a leste em relação ao ICC e o Centro Olímpico perto do Lago Paranoá. Construções que na época se caracterizaram por serem as primeiras a estarem afastadas desse núcleo principal, consequentemente, aumentando as distâncias relativas do espaço do campus.

Além disso, a partir da figura 14, é possível observar a configuração das edificações existentes até então e se destacam também nesse momento o espaço dedicado aos estacionamentos nessa porção central do campus. Esses eixos que são áreas de importantes centralidades para os estudantes e trabalhadores do campus, também são áreas de intensa concentração de estacionamentos em detrimento de um espaço para o pedestre.

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Figura 14 - Localização das edificações na área central do campus e a composição dos eixos. Fonte: FLOSCULO et. al. 1998 p.16

2.4.3

A Prefeitura passa a ser o órgão responsável por obras, pela manutenção e pela coordenação de projetos no Campus, realizando o conjunto de edifícios de múltiplo uso, o Laboratório de Física Experimental (que, ao lado do módulo inicial do Centro de Vivência inaugurado em 94, amplia a ocupação da “rua do restaurante”) e a expansão de edifícios residenciais na Colina (que, ao lado da sede da Prefeitura, amplia a ocupação das áreas do Campus ao longo da via L3). Outros empreendimentos também marcam os primeiros anos de trabalho da Prefeitura, como as construções de edifícios de habitação multifamiliar nas superquadras de propriedade da Fundação Universidade de Brasília – FUB (SQN 109, SQN 309 e SQN 310). (FLÓSCULO, FARIA, et al., 1998, p. 17).

Período de 1980-1990

Na década de 80, segundo FLOSCULO et. al, (1998), o campus passa por um período sem grandes investimentos significativos e sem um planejamento efetivo, desde as grandes obras realizadas em 1974. Somente em 1986, é então criada a Prefeitura do Campus, com os objetivos de planejar e promover a manutenção do campus sob a coordenação do prof. Arq. Erico Weidle. Nesse período desenvolvem-se estudos como a “Ideia de Desenvolvimento Físico Espacial do Campus da UnB” e o “Planejamento da Extremidade Sul do Campus”, para a definição de um plano viário e ocupação da parte sul do campus.

Figura 15 - Localização das novas edificações na área central do campus e a composição dos eixos. Fonte: FLOSCULO et. al. 1998 p.17

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2.4.4

Período de 1990-2000

2.4.4

Período de 2000 até hoje

Na década de 90, a universidade procurou institucionalizar o planejamento, criando medidas e instrumentos para isso. Foram criadas comissões para estudo e coordenamento do campus e, em 1995, inicia-se a elaboração do Plano Diretor Físico do campus. Nesse mesmo ano, recebe a denominação de “Campus Universitário Darcy Ribeiro”, em uma homenagem ao seu primeiro reitor e idealizador da Universidade de Brasília.

Já no início dos anos 2000, tem-se uma grande expansão da parte sul do campus em relação à parte central do campus. Edifícios como o CESPE – Centro de Seleção e Promoção de eventos, CME – Centro de Manutenção de Equipamentos Específicos e algumas empresas privadas foram localizadas nessa parte sul, sem que houvesse um planejamento de integração com o espaço físico do campus, e que acabaram se tornando isoladas.

Além disso, nessa época a universidade começa a considerar diversas parcerias com organizações públicas e privadas dentro do campus, com a construção da AUTOTRAC (empresa privada de monitoramento de transporte de cargas por satélite, 1994), da FINATEC (Fundação privada de fomento à pesquisa, 1997) e do CEFTRHU (Centro de Formação de Recursos Humanos em Transportes Urbanos, organização pública, 1998), sendo essas edificações localizadas na parte sul do terreno.

Uma década mais tarde, também foram implantados os MASCs – Módulos de Apoio e Serviços Comunitários, que seriam unidades pequenas de serviços para evitar a concentração de barracas e quiosques que ocupam uma área irregular nas áreas do campus.

Figura 16 - Ocupação do campus nas décadas de 90 a 2000 Fonte: (ABREU, 2013, p. 44)

Figura 17 - Ocupação do campus no presente Fonte: (ABREU, 2013, p. 56)

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Além disso, foram criadas novas edificações perto dos pavilhões e da Colina para abrigar as faculdades de Computação, Direito, Contabilidade e outros cursos. Estratégia realizada para atribuir mais espaço físico para o crescente número de estudantes dentro da universidade, em que o Instituto Central não consegue mais proporcionar o espaço para todas as atividades acadêmicas. É preciso ressaltar que existe um alto nível de complexidade para a elaboração de um campus universitário, e com isso a configuração do espaço muitas vezes gera um resultado inesperado ao usuário e ao desenho urbano da universidade. O desenvolvimento do campus Darcy Ribeiro partiu da ideia principal de que as instituições mais importantes ficariam no centro do espaço físico, para depois ir sistematizando os edifícios auxiliares ao redor dessa área. É possível notar que as disposições dos edifícios ocorrem de forma radial em relação à Praça Maior em que estão as principais edificações, o Instituto Central de Ciências, o Restaurante Universitário, a Biblioteca e a Reitoria. Logo, podemos prever que as relações dos edifícios com os espaços abertos e os percursos configurados no campus vão ter uma relação direta com esses edifícios e principalmente com o ICC, que é a principal composição do campus. Porém, a leitura da Praça como um todo ainda é dificultada pelo fato das grandes áreas abertas e da articulação entre esses edifícios. Cabe avaliar agora como será a solução da universidade na articulação e integração do espaço a partir de percursos que os interliguem.

2.5

O espaço do pedestre dentro do Campus

O pedestre é muito importante para qualquer espaço urbano, pois a forma como ele se relaciona com esse espaço já é um indicador da qualidade desse ambiente, isto é, se ele é intensamente utilizado, significa que existe algo ali que agrada o usuário de alguma forma. Cabe então entender quais são as características desse espaço, que faz dele um local agradável para as pessoas que passam por ali. Segundo Gehl (2013), o potencial de uma cidade, para ser considerada uma cidade viva, é quando as pessoas se sentem convidadas a caminhar, pedalar ou permanecer nos espaços dela. Além disso, o autor salienta que o fato de percorrer o espaço e nele permanecer “é muito mais uma questão de se trabalhar cuidadosamente com a dimensão humana”. (Gehl, 2013, p.17). Trazendo o conceito que o autor se refere de uma “cidade viva” para o nosso objeto de estudo seria como observar em uma microescala o que proporciona o campus em ser “vivo”. Em que “vivo” seria no sentido de que pessoas compartilham o espaço público, circulam pelo campus e tem uma vivência com o espaço a elas destinado. Sendo assim, para perceber se existe a vivência do espaço ou não, seria interessante observar atentamente o comportamento da dimensão humana. Esse termo que Gehl utiliza como “dimensão humana” seria justamente para o aspecto da grandeza do ser humano, em que se coloca em evidência o pedestre como principal elemento de um espaço, pois ele representa a menor e mais frágil parte de todo o sistema de uma cidade, como se fosse o átomo da cidade em que o organismo seria a cidade. O caráter sociológico, 26


também implícito, expressa que, apesar de utilizarmos diversos meios de transporte, todos os seres humanos nunca deixam de ser primordialmente um pedestre dentro de uma cidade, sendo ela grande ou pequena. Com isso, atentando-se a “dimensão humana”, é possível entender uma série de aspectos que vão atribuir qualidade a esses espaços, o que vai ser determinante para a escolha do pedestre na forma como ele vai usar ou não aquele espaço.

seu ato de caminhar pelas áreas do campus. Sendo assim, teoricamente, não existem barreiras que impeçam o pedestre em caminhar no campus, mas cabe agora entender se os percursos elaborados para ele no espaço universitário condizem com as suas necessidades na prática e se são realmente livre de barreiras físicas. Para isso, foram traçadas diretrizes para analisar a qualidade desses espaços e se esses espaços atingem seus objetivos propostos.

A boa qualidade ao nível dos olhos deve ser considerada como direito humano básico sempre que as pessoas estejam nas cidades. Na escala menor, a paisagem urbana dos 5km/h, é que as pessoas se encontram de perto com a cidade. Aqui o pedestre tem tempo para fruir a qualidade ou sofrer com sua falta. (GEHL, 2013, p. 118).

Percebe-se que o pedestre tem um papel muito importante no que diz respeito ao uso dos espaços públicos. Apesar de a sua importância ter sido aparentemente reduzida pelo intenso consumo do automóvel, em que grande parte das cidades e, consequentemente do campus, priorizaram a máquina, a valorização do pedestre ainda é essencial para qualquer espaço e deve ser tratado como um direito a ser preservado. (GEHL, 2013). A partir do estabelecimento do pedestre como elemento fundamental de um espaço público, é necessário entender o seu papel dentro do campus. A construção e a disposição, ao longo dos anos, das edificações dentro da universidade, resultaram em uma configuração espacial que é caracterizada pelos grandes espaços abertos entre uma edificação e outra. A partir dessas características urbanísticas é que o pedestre vai desenvolver o 27


Diretrizes para análise do espaço do pedestre A partir do cenário traçado para contextualizar o leitor dentro do espaço físico do campus, é necessário agora estabelecer as diretrizes que caracterizam a qualidade de um espaço público ou de um percurso que seja agradável e confortável para o pedestre. A discussão sobre a importância da qualidade dos espaços públicos já vem sendo tratada há muitos anos por arquitetos e estudiosos e é crescente o debate desse tema que, atualmente, compõe uma característica fundamental para atribuir um valor positivo a uma cidade. Jane Jacobs, em seu livro Morte e Vida de Grandes Cidades (1961), vai abordar essa temática de forma intensa para criticar a forma de projetação dos urbanistas em relação ao planejamento da cidade. Segundo a jornalista, o planejamento realizado, a partir de conceitos do movimento moderno, vai 28


caracterizar a morte dessas grandes cidades por não valorizar o que acontece na “altura dos olhos”, ou seja, em um projeto que inicialmente se pensa na macroescala e no desenho urbano da cidade, para depois ser pensado no usuário dessa cidade e os bairros que configuram a microescala. Essa crítica se refere aos urbanistas que, em meados do século XX, utilizaram o modernismo como premissa para conceber as cidades planejadas. Apesar de o urbanismo moderno apresentar pontos negativos como todas as premissas urbanísticas a serem implantadas, Jacobs não leva em consideração o contexto histórico e os paradigmas da época, que resultaram nessa forma de projetação. Gehl, em Cidade para Pessoas (2013), vai ser outro importante autor a discriminar e criticar esse modelo como sendo sem qualidade urbanística, não buscando compreendê-lo. No presente estudo, não se pretende entrar no mérito de avaliação dos diferentes tipos de concepção urbanística para as cidades. Entretanto, cabe dizer que Brasília é resultado de uma concepção urbanística moderna, idealizada por uma época em que esse modelo apresentava uma solução projetual para a capital do país. Sendo assim, apresenta uma configuração espacial com baixas densidades demográficas e espaços públicos com grandes áreas verdes de intenso valor simbólico, que a caracterizam como sendo uma cidade dispersa ou cidade parque, denominada por Jacobs. Essa configuração vai influenciar diretamente no traçado urbano da cidade e, consequentemente, no campus universitário que se insere nessa cidade.

Portanto, serão apreendido dos autores, Jacobs e Gehl, aspectos que influenciam no conforto e na qualidade urbana da microescala, em que vão discorrer sobre a importância das calçadas e da dimensão humana dentro de uma cidade, reforçando indicadores que são fundamentais para atingir tal conforto e qualidade. Mais tarde, Echavarri, Daudén, Schettino; (Architecture & Pedestrians, 2013); vão se concentrar dentro desse mesmo discurso, sempre se atentando para o papel da cidade como uma ferramenta para estimular e valorizar o pedestre dentro do seu meio, ou seja, para que o usuário da cidade possa percorrer e interagir com seu espaço. Sendo assim, a partir da leitura desses autores e das suas respectivas análises dos espaços públicos é que são elaboradas as diretrizes deste capítulo. Para a análise do espaço do pedestre, devem ser levados em consideração vários critérios que vão influenciar na configuração do espaço e na sua utilização pelo pedestre. Echavarri, Daudén, Schettino (2013), para organizar esses critérios, fazem uma divisão em 4 principais dimensões para análise que são definidas pela (1) Acessibilidade, (2) Segurança e Proteção, (3) Conforto Ambiental e (4) Atratividade. Com a composição desses quatro grandes grupos, os autores vão relacionar os elementos, dentro de cada dimensão, com as principais necessidades do pedestre em relação ao percurso em que ele está inserido. A partir da Figura 18, nota-se de imediato que são vários os elementos que interferem na dinâmica e na interação do pedestre em um espaço público, isto é, a frequência e a maneira como é utilizado o espaço depende de um conjunto de fatores físicos, ambientais, sociais e estético. 29


Figura 18 - A influência dos elementos projetuais arquitetônicos no caminhar. Fonte: Autoria própria realizada através da tradução da tabela elaborada por (ECHAVARRI, DAUDÉN e SCHETTINO, 2013, p. 16 e 17)

30


3.1 Aspecto da acessibilidade Utilizando como parâmetro a divisão realizada por (ECHAVARRI, DAUDÉN e SCHETTINO, 2013) é possível compreender os fatores que influenciam e caracterizam cada dimensão. A primeira a ser tratada é sobre a dimensão da acessibilidade. Pela sua definição, o dicionário Michaellis descreve que acessibilidade seria a facilidade de acesso, de obtenção e a facilidade no trato. Para garantir a facilidade no âmbito do pedestre, essa dimensão se concentra principalmente nas condições da pavimentação que o indivíduo vai percorrer ao longo do seu caminho, atentando-se sempre se esse caminho favorece a acessibilidade para todos que o utilizam, incluindo pessoas com mobilidade reduzida, para que possa ser garantido um desenho de calçadas que seja universal por meio do uso de rampas e de percursos mais suaves quando necessário. As características físicas da pavimentação é o primeiro aspecto que surge, a ser abordado quase que naturalmente, para evidenciar a qualidade desse espaço. A falta de uma pavimentação adequada e bem instalada ou a falta de um espaço delimitado de calçadas para o pedestre já configura uma grande deficiência do percurso para o pedestre, pois reduz e dificulta a sua mobilidade no espaço. É claro que a pavimentação tem um papel importante no conforto do pedestre. No futuro, a qualidade da pavimentação e das superfícies será essencial, para um mundo com mais idosos e pedestres com mobilidade reduzida, mais tráfego de cadeirantes e mais pessoas querendo levar crianças para a cidade. É necessário ter superfícies niveladas e não

escorregadias. Paralelepípedos tradicionais e cacos de pedra ardósia têm muita personalidade, mas raramente atende às exigências modernas. (GEHL, 2013, p. 132-133).

O tipo de piso, como salienta Gehl, é fundamental para favorecer a caminhada confortável do pedestre; além disso, a preocupação com os nivelamentos das calçadas é a característica primordial para garantir a total acessibilidade do sistema. Dentro do aspecto do nivelamento de calçadas, também deve ser avaliada a existência de rampas em lugares em que o acesso se dá por meio de escadas ou degraus. O acesso para aqueles que possuem mobilidade reduzida ou por portadores de necessidades especiais deve ser garantido através de rampas, que respeitem as normas de acessibilidade, para que todos possam circular em todos os espaços. O estado de conservação da pavimentação é outra característica importante para garantir a utilização devida do pedestre. Sem uma boa manutenção das calçadas, o pedestre fica suscetível a perigos que podem resultar em acidentes e até quedas. Além disso, o espaço destinado apenas ao pedestre é determinante para o caminhar livre de barreiras e obstáculos, sem que haja a dificuldade de locomoção. Porém, muitas vezes não é o que acontece. (GEHL, 2013, p. 123), em seu livro, pontua que “... sinais de tráfego, postes de iluminação, parquímetros, todos os tipos de aparelhos de controle são colocados na calçada. Bicicletas, anúncios, placas.” Isso é resultado de um paradigma em que é evidente a prioridade dada ao carro e seus equipamentos viários, em detrimento da circulação do pedestre nas calçadas.

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Calçadas com nove ou dez metros de largura são capazes de comportar praticamente qualquer recreação informal – além de árvores para dar sombra e espaço suficiente para a circulação de pedestres e para vida pública e o ócio dos adultos. Há poucas calçadas com largura tão farta. Invariavelmente, a largura delas é sacrificada em favor da largura da rua para os veículos; em parte, porque as calçadas são tradicionalmente consideradas um espaço destinado ao trânsito de pedestres e ao acesso a prédios. No entanto, continuam a ser desconsideradas e desprezadas na condição de únicos elementos vitais e imprescindíveis na segurança da vida pública e da criação de crianças nas cidades. (JACOBS, 2011, p. 95). Com a invasão dos carros, os pedestres foram empurrados. Primeiramente contra as fachadas dos prédios e, depois, apertados em calçadas cada vez menores. Calçadas lotadas são inaceitáveis e é um problema no mundo todo. (GEHL, 2013, p. 122).

A partir das afirmações dos autores, conclui-se que é necessário observar, então, se esses equipamentos urbanos constituem uma barreira dentro do espaço que é destinado ao pedestre e se essa calçada compõe uma dimensão confortável para todos os pedestres que a utilizam simultaneamente, ou não. Além de promover o passeio de pedestres, essa calçada pode ser dimensionada de forma mais generosa para proporcionar ao usuário a permanência no local, a partir da disposição de cadeiras ou de um ponto de parada que permita ao pedestre conversar sentado, admirar as pessoas ou somente descansar da caminhada.

Outro aspecto que é importante ser analisado, também, está na existência de uma continuidade do percurso do usuário, a partir do ponto de encontro entre o sistema viário e o das calçadas. Dependendo da forma em que isso é implantado, pode haver uma barreira ou diferença do tratamento do piso nesses pontos de encontro, que pode resultar em uma dificuldade para o pedestre, na travessia dessa rua ou avenida. Ainda se atentando para a conexão da pavimentação, a mudança do tipo de piso entre diferentes calçadas também pode ser evidenciada como outro impedimento para o pedestre. Portanto, esses possíveis desencontros entre o sistema viário e as calçadas, ou entre duas calçadas diversas, que são realizados de forma indevida, vão ser denominados como “pontos de desconexão”. Com isso, elaboram-se de maneira geral os aspectos a serem analisados no que diz respeito à acessibilidade. (1) Tipo de piso, (2) nivelamento de piso, (3) conservação do piso, (3) dimensão da calçada, (4) existência de barreiras e (5) existência de “pontos de desconexão” serão critérios para que sejam avaliados os aspectos físicos das calçadas, para a plena acessibilidade. Esta dimensão compõe a primeira análise do espaço do pedestre, em que a partir do diagnóstico in loco das calçadas já é possível estabelecer percepções e resultados tangíveis em relação às condições do espaço analisado.

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3.2 Aspectos da segurança e proteção Ao se tratar do aspecto da segurança, pretende-se observar se o pedestre vai ter ou não a sensação de segurança ao usar o seu espaço. Sendo assim, por ser uma questão pessoal e subjetiva, onde um usuário pode se sentir inseguro ou não no mesmo espaço, atribuem-se algumas características que são consideradas indicadores que podem levar à sensação de insegurança do pedestre. O primeiro indicador seria a questão da movimentação das ruas e das calçadas em que o usuário vai promover sua caminhada. Segundo Jane Jacobs, uma rua movimentada consegue garantir a segurança de um lugar enquanto uma rua deserta, não; e ainda acrescenta que: ...devem existir olhos para rua, os olhos daqueles que podemos chamar de proprietários naturais das rua. Os edifícios de uma rua preparada para receber estranhos e garantir a segurança tanto deles quanto dos moradores devem estar voltados para a rua. Eles não podem estar com os fundos ou um lado morto para a rua e deixa-la cega. (JACOBS, 2011, p.35 e 36)

Fazendo um paralelo entre o discurso de Jacobs para as cidades e trazendo para o campus universitário, seria possível transferir a ideia de que as edificações acadêmicas e institucionais devem ser “fachadas vivas” e devem interagir com o espaço urbano de forma que proporcionem a sensação de segurança ao pedestre. A arquitetura que deve ser evitada e que traz insegurança é aquela arquitetura que Jacobs cita como “cegas”. Essas fachadas “cegas” seriam edificações em que sua arquitetura não permite uma interação do edifício com o espaço e que geralmente se caracteriza por fachadas sem janelas e portas ou

com poucas janelas ou nenhuma porta que, consequentemente, são definidas como fachadas sem função social, para promover a agradabilidade e a segurança para o espaço público. O percurso escolhido pelo pedestre geralmente é o mais agradável e seguro e não necessariamente o mais curto. Outro indicador que pode trazer a insegurança para o pedestre está no tratamento de passarelas e passagens subterrâneas ao longo do percurso do pedestre. Essas formas de caminhos constituem uma solução para se evitar o conflito do automóvel com o pedestre. Com isso, o carro, para ter seu acesso desimpedido, vai ocasionar a construção desses tipos de recursos para evitar que o pedestre atravesse pelo sistema viário. Segundo Gehl (2013), essa construção, além de colocar o pedestre de frente com novos obstáculos, como escadas, ela parte de uma solução em que não prioriza o pedestre e apenas mantém a cultura do carro em primeiro plano e do pedestre em segundo. Além disso, o problema das passagens subterrâneas, segundo Gehl (2013), é que Passagens subterrâneas para pedestres tinham ainda desvantagens de serem escuras e úmidas, e se as pessoas, em geral, ficam inseguras se não podem ver muito à frente. Em suma, as passagens subterrâneas e passarelas para pedestres, em geral caras, conflitavam com a premissa básica de uma boa paisagem para pedestres. (GEHL, 2013, p. 122)

Através da provável dificuldade gerada pelas passagens subterrâneas, esse aspecto já entra em outra questão a ser abordada: a iluminação. O espaço deve ser projetado para que o seu uso seja feito em qualquer momento do dia e, com isso em mente, dependendo da forma como se resolve a iluminação do 33


espaço e da frequência do seu uso, ele pode acabar perdendo seu potencial de utilização em determinadas partes do dia, principalmente à noite, em que não existe a iluminação solar.

mobilidade fluida do pedestre é denominada como um “ponto de conflito viário” e constitui um parâmetro para a avaliação da proteção do pedestre em relação ao seu meio.

A iluminação é crucial à noite. Uma boa iluminação sobre as pessoas e rostos e uma iluminação razoável em cantos e recuos é necessária nas principais vias de pedestre, para reforçar a sensação de segurança, a real e a percebida; é preciso ainda haver iluminação nos pisos, superfícies e degraus, para que o pedestre possa se movimentar com segurança. (GEHL, 2013, p. 133)

Elaboram-se, então, as diretrizes para a segurança e proteção do pedestre dentro do seu espaço. Resumidamente, têm-se a análise: (1) passagens subterrâneas e passarelas, se existirem; (2) tratamento das fachadas, (3) iluminação das calçadas e (4) dos “pontos de conflito viário”. Todos esses aspectos são ferramentas para a análise da sensação de segurança do pedestre em relação ao meio externo, que vai compor um cenário de bem-estar, ou não, ao usuário.

Poder enxergar com clareza o percurso e não ter eventuais surpresas nele já propicia ao pedestre uma noção de segurança, e sendo assim, ele se sente mais confortável a andar por esse espaço com mais frequência e naturalidade. Além disso, a boa iluminação noturna de edificações, e a forma como ela está projetada, contribuem para estimular ainda mais o bem-estar e confiança do usuário para percorrer o espaço interno das edificações e, portanto, em seu entorno. Coloca-se como um aspecto incorporado à segurança, o tópico da proteção. Além de todos os indicadores estarem relacionados com a sensação de proteção do usuário, nesse caso, ela vai estar relacionada ao cuidado e cautela com o pedestre dentro do sistema viário do campus universitário. Para isso, é preciso analisar se durante o percurso do pedestre, em que se tem o encontro entre pedestre e ciclistas ou pedestres e automóveis, existe uma situação de perigo, que caracterize determinado ponto em uma área que coloque o pedestre em risco. A possibilidade de acidentes ou de impedimento à

3.3 Aspecto Ambiental O aspecto climático é fundamental para incentivar, ou não, a caminhada do pedestre em uma determinada área do espaço, isto é, a condição climática em que as calçadas estão inseridas, pode definir se o pedestre vai optar por caminhar ali, ou não. Segundo (GEHL, 2013), Poucos tópicos tem maior importância para o conforto e bemestar no espaço urbano do que o clima no local onde se está sentado, caminhando ou andando de bicicleta. O trabalho com clima e proteção climática concentra-se em três níveis: macroclima, clima local e microclima. O macroclima é o clima regional geral. O clima local é o clima das cidades e do ambiente construído, moderado pela topografia, paisagem e construções. O microclima é o clima numa zona atmosférica local. Pode ser tão pequeno como uma única rua, em reentrâncias e recuos, ou em torno de um banco no espaço público. (GEHL, 2013, p. 168).

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Através da divisão definida por Gehl, ao analisar o espaço do pedestre, atenta-se principalmente para o clima local e o microclima específico. É possível considerar o campus universitário como sendo o clima local do objeto em estudo e os trechos de passagem do pedestre, dependendo da sua localização no percurso dentro do espaço universitário, como o microclima. Para avaliar esse clima, encontram-se quesitos em que é possível estabelecer se determinada área é confortável, ou não, climaticamente. Os autores (ECHAVARRI, DAUDÉN e SCHETTINO, 2013) dividem em quatro os quesitos, resumidamente: sombreamento, vento, radiação solar e

intempéries. Gehl relembra que, para esses fatores de clima e conforto, devem ser levadas em consideração as estações do ano e a localização geográfica. O sol é um grande atrativo e é valorizado nas regiões temperadas, enquanto que a sombra é uma qualidade muito importante para regiões em que o clima é quente e seco. Sendo assim, para países em que o clima é quente e com altas temperaturas durante todo o ano, a necessidade de um caminho, para o pedestre, que seja sombreado é fundamental para que traga conforto para seus usuários. Além disso, ventos relativamente rápidos podem compor um cenário de

35 Figura 19 - Elementos do clima a serem controlados. (ROMERO, 2000, p. 51)


agradabilidade e bem-estar. A radiação solar acaba por compor um fator a ser evitado para a promoção da caminhada do pedestre nessas regiões.

ou não. Também, deve-se atentar para áreas em que o intenso tráfego urbano caracteriza um desconforto ao pedestre. Segundo Gehl,

A radiação solar refletida pelas superfícies num espaço densamente ocupado pode ser minorada pelo uso de materiais e cores pouco refletidos, de vegetação que absorve a radiação solar e a utiliza na evaporação que se processa nas folhas, sem elevar a temperatura de suas superfícies e aumentando a umidade do meio. (ROMERO, 2000, p. 50).

O passeio nas ruas de tráfego intenso é uma experiência totalmente diferente. O ruído de carros, motocicletas e, principalmente, ônibus e caminhões rocheteia entre as fachadas, criando um nível de ruído contínuo praticamente impossibilita a conversa. (...) Não só a comunicação efetiva entre as pessoas perde o sentido, como também o nível de estresse. (GEHL, 2013, p. 153).

Para regiões quentes, em que o espaço não é densamente ocupado, a solução para a intensa radiação está relacionada, principalmente, ao fator da arborização do espaço, isto é, o sombreamento de percursos para o pedestre a partir da arborização do espaço público. Além de estimular a caminhada confortável do percurso, a arborização pode ser uma ferramenta de acessibilidade, para identificação dos percursos em locais com grandes áreas públicas e, se realizada de forma intencional, para delimitar áreas em um espaço urbano disperso. A partir da tabela realizada por Romero (2000), que resume os elementos do clima a serem controlados a partir de cada situação climática, é possível compreender o que deve ser levado em consideração para se atinja um conforto térmico para cada tipo de região. Além da busca pelo conforto térmico, o conforto sonoro é outro fator que influencia no bem-estar de um usuário. Dependendo da intensidade de uma atividade ou do tipo de atividade desenvolvida em um determinado espaço, isso vai ser importante para a pessoa escolher caminhar por aquele espaço

A partir desses indicadores, é possível elaborar as diretrizes para análise ambiental que são definidas pela (1) radiação solar, (2) sombreamento, (3) vento, (4) chuvas e (5) ruído. O clima é um fator importante para estimular as atividades e o uso do espaço público. De acordo com Gehl, sem uma boa condição climática para se realizar uma caminhada, é possível que as atividades ao ar livre sejam reduzidas ou até tornem-se impossíveis.

3.4 Aspecto da Atratividade O último aspecto a ser discutido é o aspecto da atratividade. A sensação de atratividade por um lugar, apesar de ser um aspecto subjetivo e ter um caráter psicológico individual, pode ser atribuída à qualidade de um determinado espaço traçado a partir de alguns critérios, que podem estimular ou até mesmo intensificar o uso de calçadas e do espaço público do pedestre. Segundo Gehl (2013), esses critérios vão desde a qualidade visual do espaço projetado, e do mobiliário urbano, às atividades que um determinado local oferece; dependendo da sua configuração esses elementos são determinantes para que o 36


pedestre se sinta confortável a percorrer um determinado espaço. A qualidade visual de um determinado espaço é o primeiro aspecto que traz atratividade a um local. A configuração de um espaço público ordenado e bem projetado em conjunto com as edificações arquitetônicas, que evidenciam o belo, é fundamental para atraírem pessoas a caminhar ou permanecer por ali. Jacobs (2001) salienta que “é preciso haver pontos que simplesmente atraiam o olhar”; o que vem através de recortes visuais das ruas, ou do tratamento de fachadas, com a utilização de uma cor, já podem proporcionar um interesse e realce do espaço por meio dessa sugestão. Nada fala mais alto sobre a “vida entre edifícios” como um atrativo do que as perspectivas dos arquitetos. Não importa se a dimensão humana, nos projetos, é tratada com cuidado ou completamente negligenciada; os desenhos estão cheios de pessoas alegres e animadas. As pessoas ali retratadas emprestam aos projetos uma aura de felicidade e atratividade, enviando um sinal de que ali são encontradas boa qualidades humanas em abundância, seja esse o caso ou não. É evidente que as pessoas constituem a maior satisfação das pessoas- pelo menos nos desenhos! (GEHL, 2013, p. 25).

Porém, devido aos inúmeros critérios que definem uma arquitetura como bela ou não, observar-se-á a qualidade daquela que se preocupa com a interação da edificação e a conexão com o espaço público. Outros critérios, relativos à qualidade visual, como cor, escala, proporção, por exemplo, serão reconhecidos no estudo como elementos fundamentais para a atratividade de um local, porém não serão avaliados, para que não se desvie da

principal temática do estudo. Todavia, pode-se dizer que a partir de um espaço físico que se preocupe com a qualidade visual, os pedestres sentem o bem-estar para utilizar aquele espaço e, consequentemente, passam a utilizá-lo ainda mais, fazendo com que seja um espaço de uso frequente e que renda uma atração ainda maior para o local. Como dito por Gehl, as pessoas são fundamentais para que outras pessoas sejam atraídas para aquele espaço. Para isso, retoma-se a ideia das “fachadas vivas” definidas, previamente, como elemento de segurança para o espaço público e, agora, também como elemento de atratividade a um local. A forma como são implantadas, as edificações são fundamentais para estabelecer uma conexão entre o espaço público e o privado, garantindo assim uma permeabilidade do espaço. Com isso, procura-se analisar se os acessos e aberturas a ela são bem definidos e bem localizados para que possa promover a interação do edifício com seu meio. A existência de um mobiliário urbano de qualidade vai ser fundamental para definir pontos de encontro entre pedestres que utilizam esse espaço diariamente. A partir de um fluxo bem estabelecido e uma estrutura física, mesmo que mínima, que possibilitem a permanência no espaço, vai ser revelado, quase que espontaneamente, um ponto de encontro dentro do percurso de pedestre, sendo assim considerado um aspecto positivo e qualitativo do espaço desse pedestre. Outro aspecto a ser notado está em relação às distâncias percebidas e às reais que o pedestre apreende ao caminhar por 37


certo percurso, e se este o conduz ao destino que se pretende alcançar. A distância que a maior parte dos pedestres considera aceitável é a de quinhentos metros, mas essa não é uma verdade absoluta, já que o aceitável sempre é uma combinação de distância e qualidade do percurso. Se o conforto for baixo, a caminhada será mais curta, ao passo que se o percurso for interessante, rico em experiências e confortável, os pedestres esquecem a distância e fruem das experiências que ocorrem. (GEHL, 2013, p. 127).

A partir de Gehl, é possível perceber que a noção de distância de um caminho percorrido vai ser relativa, e vai entrar em correspondência com todos os indicadores que atribuem qualidade e atratividade de um determinado local e a demais aspectos já citados, principalmente ao ambiental. Para resumir e adotar como quesitos de análise da atratividade de um espaço vão ser considerados os tópicos da (1) permeabilidade do edifício, (2) qualidade do mobiliário urbano, (3) “pontos de encontro” (4) distâncias relativas percebidas.

3.5 Síntese das diretrizes a serem analisadas A definição de diretrizes para a obtenção de um modelo metodológico, para aplicação em um estudo de casos, é fundamental para se alcançar resultados tangíveis e para entender o comportamento de determinado espaço. A partir disso, pode-se elaborar uma tabela-resumo que irá compor os aspectos abordados e os respectivos indicadores a serem analisados. Porém, antes da sua aplicação, é importante ressaltar que um indicador pode estar colocado de forma abreviada para descomplicar a leitura da análise, mas que pode representar alguns critérios que estão implícitos a ele. Para exemplificar isso, pode-se usar o indicador do mobiliário urbano como um quesito que depende de vários outros intrínsecos a ele. Ao avaliar um mobiliário urbano, estamos levando em consideração sua estética, ergonomia, funcionalidade e relação com o espaço em que está inserido. Sendo assim, ao atribuir um valor positivo ou negativo a certo mobiliário, em determinado lugar do percurso do pedestre, estão sendo levados em consideração todos esses outros aspectos também. Tendo isso dito, é possível traçar um panorama da aplicação da metodologia elaborada através do seguinte proposição (Figura 20). Com isso, tem-se o conteúdo para que seja possível realizar o estudo de campo, no Campus Universitário Darcy Ribeiro na Universidade de Brasília, em que, a partir de documentação fotográfica, será razoável analisar a qualidade do espaço a partir das diretrizes estabelecidas. 38


Figura 20 - SĂ­ntese dos aspectos a serem analisados

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Estudo de Casos: Campus Darcy Ribeiro - UnB

Figura 21- Mapa de localização dos edifícios do campus

Após a elaboração das diretrizes para análise do percurso do pedestre, parte-se agora para a aplicação do modelo sugerido para diagnosticar a situação do pedestre em seu espaço. Portanto, utiliza-se o campus universitário Darcy Ribeiro para exemplificar e aplicar o método descrito a partir da definição de um percurso importante dentro desse espaço universitário. A partir da configuração atual do campus (Figura 21), será traçado um percurso longitudinal que escolhido pela sua importância dentro do campus ao longo de sua história. BAES - Bloco de Salas de Aula Eudoro de Sousa BCE - Biblioteca Central BSAS - Bloco de Salas de Aula Sul CC – Centro Comunitário CDT - Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico CESPE - Centro de Seleção e de Promoção de Eventos CET - Centro de Excelência em Turismo CIC/EST – Departamento de Ciências da Computação e Estatística CO - Centro Olímpico FD - Faculdade de Direito FE - Faculdade de Educação FEF - Faculdade de Educação Física FM - Faculdade de Medicina FS - Faculdade de Saúde FT - Faculdade de Tecnologia FUB - Fundação Universidade de Brasília HUB - Hospital Universitário IB - Instituto de Biologia ICS –Instituto de Ciências Sociais ICC - Instituto Central de Ciências IQ - Instituto de Química MASC - Módulos de Apoio e Serviços Comunitários MDR – Memorial Darcy Ribeiro NMT – Núcleo de Medicina Tropical PAT - Pavilhão Anísio Teixeira PJC - Pavilhão João Calmon PRC - Prefeitura do Campus REI -Reitoria RU - Restaurante Universitário SG 9,11,12 – Laboratórios da Engenharia SG 2,4 e 8 – Departamento de Música e Auditório SG10- Centro de Planejamento Oscar Niemeyer

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4.1 Percurso Longitudinal Tem-se como ponto de partida, a observação do eixo longitudinal da universidade, que se inicia no lado sul e vai até o lado oposto, lado norte do campus, (Figura 22). Traçando-se o eixo que permeia o percurso realizado, procura-se percorrer esse espaço para perceber aonde esse percurso nos conduz e como se configura, a partir dos critérios estabelecidos, a qualidade desse caminho ao longo desse espaço que foi d e l i m i t a d o .

hor compreensão do percurso, utilizam-se pontos de parada, denominadas estações e nomeadas de A a H, para que seja possível entender a progressão e o desenvolvimento do pedestre na sua trajetória ao longo do caminhar. Esses pontoschave são escolhidos estrategicamente para que se possa avaliar com mais cuidado e minuncia elementos, que se evidenciam ali, que interferem no espaço do pedestre.

Tendo isso dito, inicia-se a partir do Instituto de Biologia, para depois chegar ao Instituto Central de Ciências, que é o principal edifício articulador do campus, para então seguir para os Pavilhões e as novas edificações implantadas nos anos 2000, localizadas na parte leste do campus.

P a r a m e l

Figura 22 - Mapa esquemático do percurso longitudinal

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4.1.1 Estação “A” O início desse percurso é o extremo sul do campus universitário, e a primeira estação está localizada ao lado da via L4 Norte, no estacionamento que dá acesso à parte posterior do Instituto de Biologia e à lateral do Instituto de Química. Esse estacionamento possui apenas esse acesso, e por se localizar na parte posterior do IB, preserva a fachada frontal do edifício para os pedestres, valorizando a escala humana e reforçando a relação do Instituto com o ICC. Aqui é possível observar a preocupação com o tratamento do piso na entrada do IB pelo nivelamento e conservação do piso para o pedestre. Esse percurso nos leva até o outro lado da edificação de forma planejada e livre de barreiras. A acessibilidade às edificações é garantida por meio de uma pavimentação que direciona o pedestre ao interior dos dois pavilhões dentro do Instituto de Biologia. Apesar de ter o acesso bem resolvido a partir da entrada da edificação, a existência da grade ao redor do Instituto de Biologia, delimita o espaço físico do complexo de edifícios, dificultando o acesso ao Instituto de Química e impedindo a

Figura 23 - Vista Geral da Estação "A"

circulação transversal. Sendo assim, o pedestre que deseja passar de um instituto ao outro tem que usar o estacionamento como espaço de locomoção, pois não existem calçadas que conectem completamente o pedestre de uma entrada a outra, ocasionando assim em um conflito viário entre pedestre e automóvel. Isso de reflete na questão da segurança e proteção do pedestre, e a um ponto de desconexão entre as calçadas.

Instituto de Biologia O Instituto de Biologia foi projetado no ano de 2004, pela coordenação do arquiteto e professor Frederico Flósculo, e inaugurado em 2009. Nessa época, procurava-se a expansão do campus da UnB a partir da construção de novas áreas devido à necessidade de salas e laboratórios maiores para que fossem proporcionadas melhores condições de trabalho. Foi levado em consideração, para a implantação do projeto, a relação com as edificações existentes e, principalmente, o Instituto Central de Ciências (ICC). Portanto, o complexo de edifícios é concebido de maneira longitudinal, em forma de um “H”, para ter sua entrada principal voltada para a

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ala sul do ICC. No outro acesso, na parte posterior da edificação, o acesso se encontra voltado para o estacionamento do complexo. Sendo assim, a entrada principal do IB prioriza o acesso exclusivo aos pedestres e ciclistas. Na parte intermediária, que divide o complexo em dois blocos principais, existe uma marcação do acesso transversal a partir de uma cobertura metálica que permite o acesso às laterais do edifício. Com isso, o caminho do pedestre por meio das edificações do IB é agradável no ponto de vista do aspecto ambiental e da atratividade. O percurso entre os edifícios fornecem um sombreamento ao pedestre, com uma circulação de ar adequada e um paisagismo diferenciado o que proporciona ao pedestre uma caminhada tranquila. Além disso, o espaço fornece mobiliário urbano para o pedestre permanecer nesse espaço, estimulando o percurso a ser um ponto de encontro e permanência.

A permeabilidade da edificação e o tratamento das fachadas são outros pontos que acrescentam à atratividade do local, pois o pedestre caminha por esse espaço sem precisar se importar com a real distância entre um ponto e outro da edificação.

Figura 25 –Mobiliário urbano do Instituto de Biologia

Figura 26 – Marcação do acesso transversal do IB

Figura 27 – Espaço de permanência do IB Figura 24 – Detalhe da configuração dos percursos das estações A. B e C

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4.1.2 Estação “B” A estação B está na entrada principal do Instituto de Biologia. Após ter percorrido todo o complexo do IB longitudinalmente, depara-se com a região central do campus Darcy Ribeiro. Nesse momento, o pedestre consegue alcançar uma grande amplitude visual e percebe diversas edificações ao logo do seu horizonte, entre eles o ICC. Porém ao chegar nesse ponto de conexão com os outros edifícios do campus, o caminho do pedestre se ramifica em vários percursos de pequenas dimensões, para então ser direcionado para cada edificação a que se pretende chegar. Com isso, o eixo do pedestre sofre uma abrupta quebra de continuidade e, consequentemente,em uma desconexão de seu percurso. Assim, depara-se com o momento de escolha de um trajeto, sem que necessariamente faça o uso de uma calçada, dependendo de onde ele quer chegar. Um dos pontos de desconexão está entre o IB e a nova edificação implantada recentemente, o Blocos de Salas de Aula Sul, BSAS. O edifício que está ao lado esquerdo da entrada do

Figura 28- Vista Geral da Estação "B"

IB não possui uma calçada que dê acesso direto ao Instituto de Biologia,dificultando assim a circulação de pedestres entre essas edificações. Tem-se também uma obstrução visual, por meio de um estacionamento improvisado na frente o edifício do BSAS, que separa essas duas edificações e o transforma um ponto de conflito viário. Outro ponto de conflito viário que se nota é na travessia do pedestre para chegar ao Instituto Central. Para isso o usuário é forçado a interromper a sua ação natural de prosseguir em linha reta para acessar o edifício do outro lado da rua. Ao invés disso, o pedestre deve percorrer uma calçada implantada diagonalmente ao seu destino para poder passar na faixa de pedestre em relativa segurança. Dentre os aspectos desfavoráveis estão a má conservação dessa pavimentação, e a dimensão insuficiente para acolher a quantidade de pessoas que passam por ali no dia a dia das atividades acadêmicas.

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Figura 29- Calçada que dá acesso à faixa de pedestres

Além disso, um outro critério a ser levado em consideração, é o aspecto ambiental. A cobertura da entrada do Instituto de Biologia e da configuração da edificação promove o sombreamento em partes do percurso do pedestre, o que rende conforto para o caminhante. Já nesse ponto, depara-se com um espaço a ser percorrido, em qualquer direção do campus, com intensa radiação solar e altas temperaturas. A necessidade de um sombreamento por meio de uma arborização ou de uma cobertura melhoraria as condições de caminhada nesse espaço.

4.1.3 Estação C Figura 30- Estacionamento implantado na frente da BSAS

Figura 31- Cobertura da entrada do Instituto de Biologia

Ao atravessar a faixa de pedestres e se aproximar do Instituto Central de Ciências, a questão do sombreamento e da radiação solar já se inverte, e com isso existe um maior conforto do usuário em relação aos aspectos ambientais. Porém, um outro conflito que se observa é o conflito viário entre bicicleta e pedestre. Antes da entrada do ICC existe uma ciclovia que interrompe abruptamente esse percurso, sem qualquer sinalização ou medida para evitar o choque entre o pedestre e ciclista. A situação ainda se agrava no momento em que o pedestre começa a usar a própria ciclovia para caminhar e alcançar a entrada do ICC. Isso acontece pelo motivo da calçada não existir mais, apenas a ciclovia e com isso o pedestre se vê obrigado a utilizar esse sistema viário. Esse conflito entre ciclovia e percurso do pedestre existe em alguns pontos da área central do campus, onde há 45


descontinuidade entre calçadas, ou onde não existem calçadas para o pedestre caminhar. Devido à falta de calçada para o caminhante, o usuário opta pela ciclovia para percorrer os espaços. Nessa mesma estação, existem alguns pontos de desconexão e de conflito viário deste tipo Mesmo assim, apesar desses problemas, esse mesmo ponto constitui um lugar de encontro no espaço universitário. A ampla área sombreada por árvores e algumas “barracas” de alimentação ao redor do edifício contribuem para dinamizar e atrair pessoas para esse espaço. Além disso, existe a possibilidade de permanecer no espaço a partir de um mobiliário urbano improvisado, mas que propicia o bem estar do usuário nessa região. Percebe-se que mesmo não existindo uma estrutura de qualidade arquitetônica e conforto, esse espaço se configura como um ponto de encontro do campus Darcy Ribeiro. O verde na fachada do ICC, a própria configuração do edifício e do espaço público lateral contribui para conferir agradabilidade ao local.

Figura 32 - Vista Geral da Estação "C"

Figura 33- Conflito viário

Figura 34- Mobiliário urbano

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Instituto Central de Ciências O Instituto Central de Ciências, como já dito anteriormente – ver capítulo 2, é o principal edifício que caracteriza e identifica o campus na cidade de Brasília. O início da sua construção, em 1963; realizado pelo arquiteto Oscar Niemeyer; foi importante para a composição do espaço físico da universidade e da consequente definição dos principais percursos do pedestre por meio e ao redor do ICC. Trata-se de um volume baixo, linear e curvo, com 696m de extensão, composto de dois blocos paralelos, afastados um do outro por uma faixa ajardinada de 15m. O bloco voltado para oeste apresenta 25 m de largura e foi pensado para abrigar, ao longo de seus dois pavimentos e subsolo, os anfiteatros e as salas de professores. Já o bloco leste, com 30m de largura, apresenta parte de sua área com pé direito duplo, e foi pensado para abrigar, em dois pavimentos, os diferentes laboratórios da instituição e as salas de aula (com dimensões variáveis). (Schlee et al. 2014, pg 50- 52)

Figura 35- Vista Geral do Instituto Central de Ciências

Pela sua relativa dimensão, a edificação do Instituto Central acaba, então, por compor um verdadeiro espaço para o caminhar do pedestre ao longo desses quase 700m de extensão, em que, mais tarde, o prédio vai ser dividido em Ala Sul e Ala Norte para facilitar a orientação do usuário no espaço. Fica evidente que, a partir de um programa de necessidades variado, o edifício vai se estabelecer como uma centralidade chave e, consequentemente, como um ponto de encontro para os usuários desse campus. Iniciando-se pela Ala Sul do ICC, o trajeto do pedestre pelo edifício é feito através de pórticos estruturais que proporcionam o sombreamento, a proteção a radiação solar e às chuvas. Além disso, o jardim central e os jardins de inverno, que se concentram ao lado do percurso do pedestre, contribuem para o bem-estar do pedestre e para a atratividade do local.

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Como outros aspectos relativo à atratividade do local, pode-se citar a qualidade do mobiliário urbano e as distâncias percebidas para o caminhante. Ao longo do percurso, existem vários momentos em que o pedestre pode parar e permanecer, tanto nos bancos que se repetem frequentemente durante o percurso e nos jardins centrais. Além disso, é possível caminhar por esse espaço sem perceber a distância percorrida devido à quantidade de atividades que o edifício oferece e de pessoas que utilizam o ICC. O caminhar pode ser lento ou rápido dependendo da intenção do pedestre.

4.1.4 Estação D Durante o percurso do ICC, existem dois pontos estratégicos intermediários que conectam e que fazem o acesso à esse grande prédio longitudinal, o “Udefinho” e o “Ceubinho”, que foram assim nomeados pelos estudantes. A estação “D”, ponto relativo ao espaço do “Udefinho”, é o principal acesso à Ala Sul da edificação e à passagem lateral para edifícios

Figura 36- Vista Geral da Estação “D”

localizados na parte leste do campus, como a Reitoria e Biblioteca. Essa marcação do acesso, por meio de amplas aberturas transversais do edifício nesse ponto, permite que o pedestre opte por continuar caminhando pelo ICC ou simplesmente possa acessar outras áreas a que se pretende alcançar. Esse espaço configura um verdadeiro nó entre o eixo transversal e longitudinal do campus. A quantidade de pessoas que fazem o uso desse espaço é fundamental para render a ele um grande potencial de atratividade e de permanência. Estas características acabaram por atrair uma concentração de atividades comerciais informais nesse espaço, que se estabelecem nesse nó para proporcionar ao estudante ou ao trabalhador uma opção de alimentação e de serviços ligados à atividade estudantil, como copiadoras, papelaria, alimentação entre outros. Com essa variedade de atividades, o usuário fica convidado a permanecer ali e a utilizar esses serviços. Porém, ao mesmo tempo que isso amplia a atratividade do espaço,

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compromete sua acessibilidade plena e limpa, pois estes estabelecimentos configuram barreiras físicas e visuais que dificultam o caminhar do pedestre dentro desse espaço.

Figura 37- Vista do percurso do pedestre na Ala Sul

Figura 38- Vista Geral da Estação “E”

4.1.5 Estação “E” O mesmo acontece caminhando mais a frente, com o “Ceubinho”, que é o ponto de conexão e acesso ao espaço da Ala Norte no Instituto Central. A permeabilidade da edificação permite atravessar transversalmente a edificação de um lado a outro, assim como no “Udefinho”. Entretanto, existem também pontos de barreiras e equipamentos localizados no percurso desse pedestre. É evidente que esses serviços são importantes e fundamentais para o usuário que permanece no edifício durante as suas atividades acadêmicas, porém em termos de acessibilidade, compõem um aspecto não desejável ao espaço. Além disso, a maneira improvisada como são instalados esses equipamentos, acaba por denegrir a imagem visual dessa edificação que é tão importante ao campus universitário.

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Ainda percorrendo o ICC, pode-se dizer de forma geral, que o edifício proporciona segurança e proteção ao usuário, pois se configura como uma via essencialmente destinada para os pedestres. Sendo assim, a dimensão humana, que foi ponto de grande atenção e importância dado pelo autor Gehl (2013), se apresenta dentro do campus na forma de uma única e grande edificação, onde que o pedestre é o personagem mais importante para o seu espaço.

Figura 39- Perspectiva da Ala Norte - ICC

Figura 40- Vista Geral da Estação “F”

4.1.6 Estação “F” Ao fim de todo o percurso do ICC, chega-se ao lado oposto da edificação, onde o pedestre novamente se encontra em um espaço público amplo e aberto, com várias possibilidades de percurso. Essa variedade de percursos, porém, não se reflete por meio de calçadas bem definidas que conduzam naturalmente o pedestre para o outro lado, isto é, os percursos sofrem rompimentos em suas conexões e o piso não é uniforme e nivelado. A falta de sinalização informando onde estão localizadas as edificações dessa região também é outro aspecto que causa a desorientação do pedestre. A partir desta saída do ICC o pedestre pode acessar o estacionamento à sua esquerda, outras edificações à sua frente e a Biblioteca Central à sua direita. Essa possibilidade de caminhos confere ao pedestre em uma indecisão de um percurso, já que não apresenta muito bem uma leitura do espaço e nem de uma dimensão de calçada satisfatória para o usuário.

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Ao prosseguir para as edificações à sua frente, o pedestre se depara com um conflito viário fruto da estrutura viária que privilegia os automóveis, onde a passagem é feita por meio de uma faixa de pedestres, mal sinalizada e pouco iluminada. Entretanto, na lateral do ICC, ainda se preserva o mesmo aspecto de ponto de encontro observado na outra extremidade do ICC. O espaço com a presença de algumas árvores e um ponto de alimentação é ideal para promover o encontro e a permanência de pessoas nesse lugar.

Figura 41- Espaço de permanência no final da Ala Norte

4.1.7 Estação “G” A estação “G”, foi colocada no mapa, no início deste capítulo, como um ponto disperso e fora do percurso longitudinal do estudo de caso em análise. A explicação para isso é que o pedestre, ao chegar nesse ponto, se depara com uma grande barreira formada pelos estacionamentos da Faculdade de Economia e Contabilidade, FACE; dos Pavilhões Anísio Teixeira e João Calmon; dos Institutos de Relações Internacionais e Ciências Política; e o prédio do Departamento de Ciências da Computação e Estatística, CIC e EST. Esta situação se caracteriza como um grande conflito viário que gera, inevitavelmente, uma dificuldade de acesso à essas edificações. Portanto, ao estabelecer esse estacionamento como principal elemento de conformação desse espaço, o pedestre não compreende, de imediato, qual o espaço é dedicado a ele, nem qual caminho percorrer para acessar as edificações dessa área. É importante salientar que todas as edificações possuem um acesso com calçadas e uma delimitação do espaço do pedestre. Porém, todos esses acessos são alcançados a partir desse conflito viário. O estacionamento se transforma, então, no principal lugar de locomoção do pedestre.

Figura 42- Detalhe da configuração dos percursos das estações F. G e H

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Pavilhões Anísio Teixeira e João Calmon

Módulo de Apoio e Serviços Comunitários

Para continuar esse percurso longitudinal, utiliza-se então o Pavilhão Anísio Teixeira; PAT; que é a edificação mais próxima ao ICC. O PAT, assim como o PCJ, foram construídos simultaneamente nos anos de 1999 e 2000 em uma tentativa emergencial para suprir uma carência de espaço de diversas unidades acadêmicas dentro do Instituto Central. (Schlee et al. 2014, pg 110).

Ao atravessar o Pavilhão Anísio Teixeira para o MASC, Módulo de Apoio e Serviços Comunitários, encontra-se, novamente, o estacionamento como um conflito viário para o pedestre alcançar a outra edificação. O MASC, realizado pelo CEPLAN, sob a coordenação do diretor e arquiteto Alberto Faria, foi construído em 2012 com o objetivo de abrigar e centralizar em pontos estratégicos no campus as funções relacionadas às atividades de serviço e comércio da UnB, (Schlee et al. 2014, pg 142).

O autor do projeto, o arquiteto e professor Cláudio Queiroz, procurou implantar esses edifícios de forma harmônica com o projeto do Minhocão. Pode-se perceber que, apesar de a sua implantação estar dentro de um grande estacionamento, o acesso à esse edifício busca se conectar ao ICC, por meio da continuação do eixo da edificação consolidada, o ICC, com a nova, o Pavilhão. Em relação à acessibilidade e permeabilidade do edifício, ele permite a continuação do percurso do pedestre de forma coerente e integradora, mas suas condições externas de conservação da pavimentação não são adequadas para o pedestre.

É uma edificação térrea configurada a partir de um pátio central que dispõe de um mobiliário destinado para refeições e lanches. A sua planta, em forma retangular, distribui ao longo de suas laterais atividades como lanchonetes, bancas e fotocopiadoras. O edifício apresenta acessibilidade em emtrês das suas quatro fachadas e contribui em um espaço de passagem do pedestre por meiodele. A permeabilidade do espaço permite o contato visual do edifício com a FACE, Faculdade de Economia e Contabilidade, com os pavilhões PAT e PJC.

52 Figura 43- Vista Geral da Estação “G”


Porém, apesar de apresentar acessibilidade para todas as faces de seu edifício, a implantação do MASC em uma base retangular dentro de um estacionamento, conforma em um espaço totalmente rodeado pelo sistema viário e com isso, o pedestre acaba por se concentrar em uma área “ilhada” e sem a existência de um percurso definido e dimensionado para o pedestre continuar o seu caminhar nesse eixo.

Figura 44- Acesso à FACE

4.1.8 Estação “H” Ao chegar à estação “H”, observa-se que, ao se deparar com as últimas edificações na parte norte do campus, consequentemente, o pedestre também se depara com o fim do seu percurso por meio da inexistência de qualquer calçada depois do sistema viário. A edificação que está sendo construída à sua frente ainda não possui uma indicação de seu acesso, e as edificações recentemente inauguradas; o BAES Bloco de Salas de Aula Eudoro de Sousa, à direita; e o Instituto de Ciências Sociais – ICS; à esquerda; não possuem acesso a partir dessa estação. A locomoção nesse espaço, então, é feita apenas a partir da estrutura viária dedicada aos carros, enquanto que o pedestre não tem mais o espaço físico da calçada para poder caminhar. Esta implantação infeliz é sintomática do privilégio que o automóvel possui em nossas cidades e, infelizmente, também no campus universitário. O acolhimento experimentado até então no percurso escolhido se dissolve completamente na parte norte do campus, uma área projetada e construída recentemente, e onde fica clara a perda de qualidade espacial das áreas públicas/abertas do campus, e o completo abandono do homem como referência projetual do espaço urbano.

Figura 45- Acesso do estacionamento ao MASC

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4.2 Quadro Resumo

Figura 46- Fim do percurso do pedestre

No sentido de sintetizar todas as informações coletadas, criou-se uma tabela-resumo onde todos os itens foram avaliados segundo três critérios: ótimo/bom; regular/satisfatório; ruim/insatisfatório. Pode-se exemplicar a partir do critério do sombreamento que a definição de ótimo/bom será atribuído para espaços em que existam um bom sombreamento, regular/satisfatório para áreas relativamente sombreadas e ruim/insatisfatório pela ausência de sombras. O contrário, por exemplo, pode ser estabelecido na avaliação dos conflitos viário. Se existirem vários conflitos viários este critério será avaliado como ruim/insatisfatório, onde ocorrem alguns conflitos será considerado como regular/satisfatório e quando não houver nenhum conflito, ou poucos, será atribuído ao espaço o critério de ótimo/bom. A intenção está em resumir todos os aspectos avaliados durante o percurso em uma única tabela para que se estabeleça o comparativo entre a qualidade espacial de cada estação.

Figura 47- Acesso ao BAES

Figura 48- Vista Geral da Estação “H”

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Figura 49- Quadro-Resumo Avaliação Final das Estações

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Considerações Finais O estabelecimento de uma contextualização histórica, a partir do panorama da criação dos campi universitários no mundo, para se chegar ao Brasil, foi realizado para se adquirir o entendimento dos paradigmas que deram fundamento à elaboração e construção do campus Darcy Ribeiro. O espaço físico do campus foi o resultado da concepção urbanística da cidade de Brasília com a união de um pensamento acadêmico voltado para a concepção uma universidade-modelo para o Brasil. Sendo assim, percebe-se a importância da qualidade desse espaço tanto para os estudantes e trabalhadores que fazem o uso dessa universidade diariamente, quanto para manter o seu caráter simbólico para a cidade de Brasília e também como modelo para as outras universidades do Brasil.

Com isso, a partir da compreensão da configuração do espaço da universidade de Brasília, foram traçadas as diretrizes para a análise do espaço do pedestre dentro do campus. Essas diretrizes, obtidas por meio da leitura de importantes referências bibliográficas, foram importantes para a composição de um quadro-resumo de critérios a serem analisados no estudo de caso, presente mais tarde nesse trabalho. Os critérios estabelecidos, para cada dimensão analisada, podem ser aplicados a qualquer área sob o qual se queira obter um levantamento do espaço físico em estudo e resultados da qualidade da configuração de um determinado espaço. Para isso, basta apenas aplicar a metodologia elaborada de forma criteriosa e analítica. Diante da análise realizada a partir do estudo de caso do principal percurso do campus, foi possível perceber que o lugar do pedestre na universidade apresenta diferentes qualidades que dependem da sua localização no espaço. Isto é, em determinados lugares onde a implantação da edificação em relação ao espaço público é bem resolvida, contribui para que o espaço do pedestre seja mais bem tratado e ofereça uma qualidade adequada. Enquanto que, em lugares em que a edificação não procura se conectar com o espaço à sua volta, o espaço para o pedestre perde a sua qualidade, sendo pouco utilizado e até mal conservado. Outro padrão que pode ser observado, é que as primeiras edificações construídas no campus mostram uma relação maior com o espaço público por meio da busca por uma acessibilidade coerente e uma maior permeabilidade do seu edifício com o entorno. Estas edificações estabelecem 56


relações não apenas com seu entorno imediato, mas consideram e se integram com os principais caminhos do campus, conectando as diversas edificações umas às outras por meio dos percursos dos pedestres. Enquanto que, atualmente, pela necessidade da construção de novas áreas para atender às demandas institucionais do campus, as edificações perderam o caráter de ser parte da composição do espaço público do campus, para compor um sistema de prédios onde cada curso tem a sua edificação, sem necessariamente se relacionar com as demais. Obviamente que, não se pode fazer disso uma regra, pois existem alguns espaços já consolidados na área central do campus que ainda apresentam irregularidades em seus percursos, mas as áreas mais antigas do campus oferecem, geralmente, maior qualidade de percurso e permanência aos pedestres A partir da análise da configuração do espaço no campus Darcy Ribeiro, pode-se perceber que em determinados lugares, principalmente na área central do campus, o espaço do pedestre existe como um lugar confortável, atraente e dimensionado para ele. As primeiras edificações do campus, e algumas mais recentes, se preocupam com o pedestre dentro do seu espaço e do conforto ambiental que a ele devem ser garantidos. Porém, os espaços públicos intermediários que conectam essas edificações ainda devem ser aprimorados para garantir segurança ao pedestre minimizando o conflito viário com bicicletas e carros, a partir da atribuição do ser humano como a escala de maior importância dessa hierarquia.

Os percursos, de forma geral, devem ser mapeados e fiscalizados para que haja a constante renovação, atualização e troca de piso para promover a sua conservação. Além disso, a arborização e a delimitação do percurso a partir de calçadas que definam o espaço do pedestre, especialmente em regiões menos consolidadas do campus, devem ser projetadas para a permanência da boa qualidade do espaço em todo o campus. Diante disso, deve-se atribuir mais valor à universidade, não só como um ensino acadêmico, mas também como um ensino à sociedade, a partir da composição de um espaço urbano de excelente qualidade e bons parâmetros, para que assim possam ser levados à sociedade, e consequentemente, às cidades, como um modelo de espaço e conformação a ser seguido e implementado. A escolha de um campus universitário, para exemplificar essa análise, é justificada pelo fato de que esse espaço é uma referência para a sociedade, pois abriga uma série de unidades acadêmicas em que se procura, constantemente, pesquisar, estudar e aprimorar determinados cenários urbanos que precisam ser melhorados ou modificados. Logo, a universidade possui uma responsabilidade social por ser uma ferramenta de disseminação de ideias e de mudança de paradigmas, que são definidas a partir das soluções encontradas no mundo acadêmico.

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