AMARELO CIAN MAGENTAPRETO E1 - Cuiabá, terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
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OSCAR
Interpretando o gênio da informática, ator alemão pode ganhar seu primeiro Oscar. No ápice da carreira, ele aparecerá em sete novos filmes até 2017
Michael Fassbender ‘veste’ Steve Jobs Londres- Um ator entregue, versátil e, acima de tudo, talentoso. Michael Fassbender é tudo isso e ainda tem vaga cativa como o Magneto, em X-Men, cuja conclusão da trilogia iniciada com X-Men: Primeira Classe(2011), Apocalipse, chega aos cinemas em 26 de maio de 2016. O diretor de Steve Jobs, Danny Boyle, prefere chamar esse ator mutante de “guerreiro”. Não, Danny não está se referindo ao filme errado: Macbeth - Ambição e Guerra, em que o ator de 38 anos, nascido na Alemanha e criado na Irlanda, interpreta o conflituoso e célebre personagem de Shakespeare (que completa 400 anos de morte este ano). Ao contrário da agitação que passa encarnando Jobs no cinema, Michael Fassbender é calmo pessoalmente e fala manso – até quando o time de rugby irlandês estava perdendo da Argentina, na Copa do Mundo de Rugby 2015. A notícia foi dada durante a entrevista coletiva no 59o. BFI London Film Festival, em outubro do ano passado, encerrado por Steve Jobs. “Quanto tempo falta de jogo?”, o ator pergunta. “Vinte minutos”, responde um jornalista preocupado. “Ah, então acho que ainda vamos ganhar”, diz, tranquilamente. A Irlanda perdeu, mas Fassbender ficou ali, firme. “Michael é um ator que não se assusta com desafios e isso eu posso dizer sem medo de errar”, incensa Danny Boyle. “Ele levou todos nós a abraçarmos o enorme desafio que foi transformar a mais completa biografia de Steve Job, um calhamaço, num filme com duas horas de duração, mostrando não só as glórias mas principalmente os conflitos desse gênio. Nesse caso, não tínhamos como abrir exceções, por
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mais controverso que Jobs pudesse parecer”. “Fiz muitas coisas que não acho louváveis, como ter engravidado minha namorada aos 23 anos de idade e a maneira como encaminhei a questão”, disse Jobs a Walter Isaacson, autor de Steve Jobs - A Biografia (Cia das Letras), que fez cerca de 40 entrevistas com o criador da Apple, ao longo de dois anos, e entrevistas com mais de cem familiares, amigos, colegas, adversários e concorrentes. “Mas não tenho nenhum segredo a esconder”, continua Jobs no livro de 624 páginas no qual o roteiro do filme se baseou. Embora tenha cooperado com a obra, Jobs não pediu nenhum tipo de controle sobre o conteúdo, nem mesmo para lê-lo antes de ser publicado.
Ao contrário, incentivou seus ao Oscar 2016 de Melhor Ator. conhecidos a falarem com Michael Fassbender pode franqueza soaté ganhar seu bre ele – isso Perfeccionista, primeiro Oscar inclui a filha de este ano, apesar Jobs, Lisa (in- obsessivo, canalha, da forte concorterpretada bri- ególatra, indomável, rência. Mas o fato lhantemente Jobs pode ser o que é que, até 2017, pela brasileira for como pessoa. poderá ser visto Perla Haney- Mas o fato é que seu em nada menos Jardine, em sua ‘moto’ revolucionou que mais sete filfase adolescen- quatro indústrias – a mes. Ainda assim, te), com quem informática, o cinema, o requisitado ator o gênio tinha tremeu ao topar um relaciona- a música, a telefonia (re)encarnar Jobs. mento instável. – e o mundo. Esse Cabe a ele, como Talvez essa li- personagem marcante ator pri ncipal c e n ç a d a d a revive, no cinema, de um roteiro por Jobs ao bi- consagrando mais uma premiado com o ógrafo tenha vez a arte de atuar Globo de Ouro e deixado Fass- do ator alemão marcado por dibender menos intensos, Michael Fassbender álogos apreensivo manter a “eletripara aceitar o cidade”, como ele papel – pelo qual está indicado bem define, do filme a mil. Perfeccionista, obsessivo, canalha, ególatra, indomável, Jobs pode ser o que for como pessoa. Mas o fato é que seu ‘moto’ revolucionou quatro indústrias – a informática, o cinema, a música, a telefonia – e o mundo. A seguir, Michael Fassbender fala do desafio de viver Steve Jobs sem sequer se parecer fisicamente com o pai da Apple. O que interpretar Steve Jobs significou para você? MICHAEL FASSBENDER - Não acompanhei muito a vida de Jobs, só o conheci mais por meio do script e do que as pessoas dizem dele. Mas o respeito muito – mesmo quando ele passou a usar aquela espécie de uniforme (camiseta preta, tênis e calça jeans) [risos]. Acho que não foi uma decisão consciente – era só a primeira roupa que ele encontrava para vestir de manhã. O que fiz foi tentar extrair minhas próprias impressões do homem por meio do roteiro e de todo o material que encontrei disponível sobre ele, como filmes, discursos, seminários,
etc. Posso dizer que foi assim que preenchi meus próprios parênteses, mas as respostas podem ser totalmente furadas. Só sei que fui me encontrando com um personagem fascinante, cheio de histórias ruins e boas, e tentando achar um meio termo entre elas. O que mais admira no homem e empresário Steve Jobs? MF - Sua visão, sua energia e paixão, além do comprometimento com um futuro o qual todos vivemos hoje. É incrível o efeito que suas invenções no nosso dia-a-dia. Qualquer pessoa que tenha jogado os dados como ele jogou merece muito respeito. Ainda mais depois de ele ter ganhado tanto dinheiro com a Pixar e ter voltado à direção da Apple, arriscando tudo de novo. Quão preocupado você ficou em interpretar alguém mítico e polêmico como Steve Jobs? MF - Acho que tive sorte deste projeto cair no meu colo pois não é sempre que temos roteiros como este (coescrito por Walter Isaacson e Aaron Sorkin, de A Rede Social) . Os scripts modernos têm cenas com dez falas quando muito. Diante desse texto extraordinário, tive de admitir que as férias que eu estava planejando acabavam ali mesmo. Eu e Kate (Winslet) arregaçamos as mangas e começamos a trabalhar intensamente no que considero uma oportunidade única para qualquer ator. Você achou que ter ensaiado bastante antes de filmar ajudou a memorizar o texto? MF - O fato de Danny (Boyle) vir do teatro foi importante para que ele tivesse o approach certo na condução do filme – desde os ensaios, até os planos-sequência. Devo dizer que ele foi tão generoso comigo que não tenho palavras para agradecer. Ele
arrumou todo o ambiente para que a gente se sentisse imerso naquela realidade de Steve, no mundo que ele criou, na força que ele tinha de lutar pelo que acreditava sem descanso. Toda aquela energia emanava no set. O fato de as filmagens terem como locação lugares onde Jobs realmente viveu e trabalhou ajudou nessa aclimatação? MF - Acho que foi fundamental estarmos em São Francisco. De novo, Danny poderia ter nos levado a lugares mais baratos mas a energia certa estava nos domínios da Apple, desde a garagem, onde a empresa foi fundada, até outros lugares, como escritórios, auditórios… Há uma fala de Steve Jobs no filme em que ele diz: “Eu só conduzo a orquestra”. Mas como ator principal do filme, que instrumento você seria nesse concerto? MF - O oboé! [risos] Há informações que membros da família de Jobs não gostaram de como ele foi retratado na tela. O que tem a dizer sobre isso? MF - Para ser honesto, eu confesso que hesitei em interpretar alguém da envergadura de Jobs, que já morreu, que fez o que fez e que provoca muitos julgamentos. Fiquei muito preocupado como esse homem, marido, pai e chefe seriam interpretados. Conversei sobre isso com pessoas da minha confiança e eles me convenceram que o que eu faria é como jornalismo: é preciso ter a responsabilidade de buscar a verdade e pesar ambos os lados de uma história. E é preciso fazer isso com respeito. Foi o que fiz. Tenho por Steve Jobs e sua família o maior respeito e espero que meu trabalho não os incomode nem os machuque.
AMARELO CIAN MAGENTAPRETO
JULIANA RESENDE Da BR Press