Isabelle Huppert for Harper's Bazaar Brazil

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RADAR

A CARA DE CANNES

Isabelle Huppert é representante do projeto Women in Motion na 70ª edição do festival de Cannes e pode ser vista em nove novos longas por Juliana Resende

EDIÇÃO FELIPE STOFFA @F.STOFFA
Cena de Isabelle Huppert no longa Elle (2016)

sabelle Huppert é a antítese do lugar-comum na indústria cinematográfica. Ainda assim, conquistou Hollywood. A atriz parisiense já passou dos 60 e não é lá aquele padrão de beleza. Exatamente por isso, é a representante do 3º Women in Motion 2017, programa patrocinado pelo conglomerado de marcas de luxo Kering, que premia e discute a contribuição de atrizes no Festival de Cannes, cuja 70ª edição acontece em maio.

A França se dobrou ao talento de Huppert há décadas - ela já foi indicada ao 16º César, em 1991, tipo de “Oscar” francês. Mas só concorreu e ganhou seu primeiro Globo de Ouro de Melhor Atriz em 2016, por Elle – o mesmo filme pelo qual foi indicada (também pela primeira vez) ao Oscar 2017 de Melhor Atriz e eleita, pelo público e pela crítica, a Melhor Atriz Internacional do Festival dos Melhores Filmes do ano passado do Cine Sesc, em São Paulo.

No Festival de Cannes, cujo júri Isabelle presidiu em 2009, já levou o prêmio de Melhor Atriz por A Professora de Piano (2001) e Violette (1978). Sua carreira e magnetismo único, aplicado a papéis pouco convencionais, têm inspirado desde mulheres comuns até atrizes jovens e consagradas.

Como acontece todo ano, o Woman in Motion contempla duas atrizes: uma cujo trabalho no cinema seja emblemático para a causa feminina, e outra no início de carreira, que tenha a pegada da premiação, escolhida pela vencedora veterana. Ambas dividem 50 mil euros para que sejam

RADAR CINEMA 94 HARPER’S BAZAAR | MAIO 2017
À esq. e abaixo, Isabelle Huppert com o diretor Paul Verhoeven e o ator Laurent Lafitte em cenas Elle (2016)

usados em projetos cinematográficos liderados por mulheres. No ano passado, o prêmio sênior foi para Geena Davis e Susan Sarandon, celebrando 25 anos de Thelma & Louise O Young Talents Award foi para três jovens diretoras: Leyla Bouzid, Gaya Jiji e Ida Panahandeh. “Com esta ação de empoderamento e apoio às mulheres na indústria cinematográfica, envolvemos não só seus integrantes, mas o público que acompanha o evento”, afirma Pierre Lescure, presidente do Festival de Cannes.

Além disso, a atriz poderá ser vista em nove novos longas, incluindo a comédia dramática francesa As Falsas Coincidências, que estreou no Brasil em abril, na qual contracena com o jovem galã francês Louis Garrel.Versátil, Huppert passa por dramas, como Happy End, sobre a crise dos refugiados na cidade portuária de Calais, no norte da França, a documentários como Close Encounters With Zsigmond, em que várias personalidades, como a própria atriz e John Travolta, entrevistam o fotógrafo de cinema Vilmos Zsigmond, responsável pelo enquadramento de filmes clássicos, como Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977) e O Franco Atirador (1978).

Para nossa alegria, ela também volta à cena como uma femme fatale no remake do suspense Eva – papel que foi de Jeanne Moreau, musa da nouvelle vague -, dirigido pelo francês Benoit Jacquot (O Diário de uma Camareira).

A NOVA AVENTURA DE COPPOLA

DEPOIS DE CONTAR as aventuras da gangue adolescente que roubava casas de celebridades hollywoodianas e entrar na luxúria e riqueza da vida privada de Maria Antonieta, Sofia Coppola retorna ao século 19 em seu novo filme, The Beguiled. Baseado no livro A Painted Devil, do escritor americano Thomas P. Cullinan, a narrativa teve sua primeira versão para o cinema em 1971, estrelada por Clint Eastwood e que ganhou no Brasil nome de O Estranho Que Nós Amamos.

O remake gira em torno de um soldado da Guerra Civil americana, interpretado por Colin Farrell, que se fere em batalha e é acolhido em um internato feminino. Lá, ele se envolve com algumas garotas – papéis de Nicole Kidmant (foto acima), Kirsten Dunst e Elle Fanning –, arrebata corações e instaura o caos na casa.

O filme resgata um tema recorrente na obra de Sofia: mulheres que vivem em comunidades isoladas. Assim como em As Virgens Suicidas, as meninas do internato de The Beguiled não têm muito contato com o mundo exterior. “O ponto crucial da história é a dinâmica de um grupo de mulheres presas juntas e a mudança de poder entre os gêneros”, explicou a diretora em entrevista à imprensa americana.

A cineasta reproduz com fidelidade o clima do sul dos Estados Unidos do século 19, que chama atenção principalmente pelos figurinos.As protagonistas surgem com vestidos brancos impecáveis, com qualidade de detalhes que Coppola já evidenciou muito bem em trabalhos anteriores, como Maria Antonieta.“As peças foram lavadas mil vezes e deixadas sob o sol. Elas ficaram muito femininas, quase como roupas de fantasmas esquecidos”, disse a diretora. A visão um tanto angelical das garotas cria um interessante contraste com o desenvolvimento da história, que assume tons violentos após a chegada do soldado. . Com currículo extenso de longas imersivos, Coppola tem tudo para elevar a história a um novo patamar. Ainda sem título em português, The Beguiled chega aos cinemas no segundo semestre. (CAIO MENEZES)

FOTOS: DIVULGAÇÃO E CORTESIA FOCUS FEATURES
MAIO 2017 | HARPER’S BAZAAR 95

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