R A DA R MÚSICA
M A N UA L DE
SOBREVIVÊNCIA
Iggy Pop completa 70 anos e ensina, no filme A Arte de Permanecer Vivo, como fazer biquinho recitando poemas do francês Michel Houellebecq por Juliana Resende Michel Houellebecq e Iggy Pop em cena do filme A Arte de Permanecer Vivo
JEITÃO DE GAROTO ROCK’N’ROLL, Iggy Pop, o pai do punk, rocker-mor, papa da loucura, exu de jaqueta de couro surrada e calça skinny rasgada sem nada por baixo completa, em 2017, 70 primaveras. O aniversário da lenda foi em 21 de abril, mas a festa segue sem data para acabar.Além de lançar o álbum Post Pop Depression, está em turnê pela Europa e América do Norte, onde recentemente levou à loucura 62 mil fãs do Metallica em um épico show na Cidade do México. Último dos moicanos, brother de Bowie e queridinho dos beatniks e poetas malditos, Mr. Pop sobreviveu a toda sorte (e azar) dos turbulentos anos 1970 até hoje, passando pelo apogeu da contracultura, sexo, drogas e rock’n’roll. Heavy metal e new wave, atravessou o grunge, funk carioca, hip hop, brit pop, e, mesmo aparentemente mancando de uma perna, está aí para contar a história de A Arte de Permanecer Vivo – título do filme que foi um dos destaques do É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários 2017, exibido em São Paulo e Rio de Janeiro. Dirigido por Erik Lieshout, o longa tem como atração o próprio cantor, interpretando poemas do francês Michel Houelle-
becq na tela. Em 1991, inspirado pelas histórias de pessoas com distúrbios psiquiátricos, o escritor escreveu o provocativo ensaio Rester Vivant (Permanecer Vivo).Vinte e cinco anos depois, Iggy extrai do ensaio trechos que correspondem a alguns de seus próprios desafios pessoais, como quando, ainda jovem, descobriu-se à beira da insanidade. São dicas para se levar a sério, ainda mais vindas de quem diz ter Keith Richards como ídolo. O filme é enigmático, como o olhar de Iggy, e pesado, como suas mãos grandes com dedos deformados pela idade, descansando sobre as páginas. Mas traduz perfeitamente a vitalidade e fonte da juventude do nosso (anti)herói, que, no ano passado, posou nu para estudantes de arte em Nova York. De óculos, livro em punho, recitando trechos de poesia francesa, Iggy Pop adquire ares existencialistas mais sofisticados do que sua exuberante presença de palco quando se contorce sem camisa, cuspindo versos como os da música Some Weird Sin, do Metallica. Se existe idade-limite para cantar sem camisa? “Não. E o público pode beijar minha bunda também. Nua”, disse Iggy, em uma recente entrevista.
98 HARPER’S BAZAAR | MAIO 2017
RADAR BEATLES + IGGY POP.indd 98
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