3. Por entre fotos e nomes, os olhos cheios de cores. Compondo um objeto-disco, a capa e as músicas produzem conjuntamente uma significação geral, alegórica, enunciada como a fala de um sujeito que se figura no próprio enunciado. (...) Veja-se a capa: ela compõe a alegoria do Brasil que as músicas apresentarão fragmentariamente. Na primeira face sobressai a foto do grupo, à maneira dos retratos patriarcais; cada integrante representa um tipo.65
Conforme referido anteriormente, o objeto enfocado nesse capitulo é a capa do disco-manifesto tropicalista. O objetivo é traçar uma análise desse objeto cujas leituras desenvolvam-se por trilhas conformes às propostas no capítulo anterior, ou seja, operando em possibilidades de intersecção entre situações paradoxais tais como as de um discurso da diversidade e uma diversidade de discursos. Para dar início a essa abordagem, segue uma leitura descritiva dos elementos gráficos componentes desta capa, seguida de uma análise inicial da composição desses elementos. Emoldurada sobre um fundo preto, temos uma foto do grupo manifestante. Esta foto localiza-se sobre um grid diagonal em degradê com as cores da bandeira do Brasil. O posicionamento da foto em relação ao grid aponta uma noção de perspectiva, tridimensionalidade; podendo ser facilmente interpretada como, a um tempo, movimento e/ou com uma noção de deslocamento, aproximando ou afastando-se. Nas laterais encontram-se letreiros com, à esquerda, a palavra "TROPICALIA" – em maiúsculas e sem acento – e, à direita, em tipografia ligeiramente menor, "OU PANIS ET CIRCENSIS" – a palavra "circensis" grafada com "i" e não com "e", como em Circenses, sua grafia adequada de acordo com as normas do latim. A tipografia desses letreiros remete diretamente à do poema concretista ―LuxoLixo‖, de Augusto de Campos66. Sobre isso, há apontamentos diversos
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FAVARETTO, Op. Cit,, p. 79. RIOS, Sebastião, e BRUZADELLI, Victor Creti. Na frente do Espelho: a construção de imagens na Tropicália. In: Cadernos de Pesquisa do CDHIS — n. 38 — ano 21. EDFU, Uberlândia, 2008. p. 135-146. 66
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