JULIANO AUGUSTO DE ARAÚJO MARQUES
“Deus maravilhoso, aleluia!” o fenômeno contemporâneo da religiosidade popular: a Igreja Universal do Reino de Deus
BELO HORIZONTE - 2004
AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais e irmãos que sempre ajudaram-me quando necessário, não negando a mão amiga sempre que pedi. Agradeço em especial aos meus amigos do Centro de Referência e Memória Sindical do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região, que auxiliaram-me com pesquisas feitas na internet, principalmente à Vani Guimarães, Marcelo Campos, Bruno Vilela, Vladimir de Paula Brito, Marco Aurélio Alves. À Dalgiza Andrade e Gliciany Brito pelo auxílio na formatação das referências. Ao Epaminondas Cassemiro da Silva e Rogério Eli, pela leitura dos originais e pelas discussões sobre o tema. Agradeço, principalmente a Deus que mostrou-me o caminho da coerência e da parcimônia diante de um objeto de estudo tão delicado que é a fé humana. Agradeço aos fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, que, mesmo sem saberem contribuíram para o sucesso de minha pesquisa.
RESUMO Esta pesquisa tem como objetivo discutir o fenômeno da religiosidade popular brasileira dos últimos anos: a Igreja Universal do Reino de Deus. Não pretendo com esta fazer um estudo minucioso da estrutura e organização da instituição religiosa supracitada. O que pretendo apenas é compreender como uma igreja que foi fundada no galpão de uma funerária no Rio de Janeiro em 1977 chegou onde chegou. Para tanto faço um breve estudo sobre a história do pentecostalismo no Brasil, dividindo-o em três ondas: a primeira onda, chamada de “pentecostalismo clássico”, a segunda onda, classificada de “deuteropentecostalismo” e a terceira onda, denominada de “neopentecostal”. Uma análise mais profunda de seus métodos deixarei para uma outra oportunidade, que espero não estar muito longe.
“MOSTRE-ME O BISPO QUE NÃO PROCURE ESVAZIAR OS BOLSOS DO SEU REBANHO MAIS DO QUE SUBJULGAR OS VÍCIOS” (SÃO BERNARDO DE CLARAVAL - SÉCULO XII)
“Você pode ter uma casa grande com piscina e carro do ano. Mas tem que se mexer. Não adianta só dar o ‘sacrifício’ e ficar acomodado. Tem que dar o ‘sacrifício’ e pedir a conta no emprego, abrir um negócio qualquer. Como empregado você nuva vai ficar rico” (Sermão da Igreja Universal do Reino de Deus, 1991)
“Deus maravilhoso, aleluia!” o fenômeno contemporâneo da religiosidade popular: a Igreja Universal do ReinoJuliano de Deus Augusto de Araújo Marques 1
2
(juliano.marques@gmail.com)
1. INTRODUÇÃO Constantemente são publicados trabalhos que discutem aspectos da religiosidade popular: folclore religioso, festas católicas e experiências dos primeiros romeiros norteiam este tipo de publicação. Mas um fato é consenso: durante séculos a Igreja Católica brasileira foi soberana entre as classes inferiores na competição pelo mercado dos bens simbólicos. Nos últimos anos, o campo religioso brasileiro sofreu profundas modificações que abalaram as estruturas da religiosidade popular brasileira. A hegemonia católica não é mais tão visível e novas formas religiosas assumem posturas proselitistas arrojadas, principalmente nas camadas miseráveis dos centros urbanos. Max Weber acreditava que a emoção religiosa é efervescente e volátil. Tão volátil que não pode ser objeto de estudo. Com a abertura do campo da análise do discurso, hoje não ocorre o mesmo. A emoção religiosa é, de fato, discurso e, como tal, objeto de estudo. Devemos precisar: a emoção religiosa não é menos construída em linguagem do que os tratados mais abstratos de teologia. Os “aleluia”, “os glória à Deus!” lançados nos cultos não são menos teologia do que a Suma Teológica de Santo Tomas de Aquino! Devemos dizer mais ainda, e isto é fundamental: esse discurso constrói a experiência divina do contato direto com Deus pelo fiel. Ele constrói a adoração mais silenciosa como a louvação mais barulhenta, ou seja, temos uma teologia mais discursiva distinta da definição canônica. Na América Latina surge um novo discurso que o observador olha sem ver. Ele olha as “gesticulações grotescas” das pessoas reunidas nos templos pentecostais, ouve seu canto “histérico”, constata um “despotismo dos costumes”, vê a “pululação” das igrejas, em particular nas periferias das grandes cidades: Assembléia de Deus, Deus É Amor, Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus, Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, Igreja Pentecostal Jesus é o Salvador, entre outras. Mas simplesmente se recusa a vê-lo como discurso. Ora, elabora-se ao nível da emoção um discurso sobre o sofrimento, um discurso de consolação. Neste contexto é impossível falar de religiosidade popular, de protestantismo popular, ou de neopentecostalismo nos dias de hoje sem falar da Igreja Universal do Reino de Deus. Isto se dá porque ela representa um exemplo típico da construção de um discurso religioso voltado especificamente para as massas populares alijadas do processo de consumo dos dias atuais, ou seja, IURD procura canalizar todos os sentimentos de derrotas, tais como doenças, vícios, desemprego, endividamentos, crises conjugais na construção do discurso da existência “real” e “física” do mal, tendo, dessa forma, uma re-elaboração do sofrimento humano. Para se alcançar os seus objetivos – que é a derrota do Mal, a Igreja Universal, em 25 anos de existência, não aparenta sinais de fraqueza e vêm mostrando um crescimento fantástico em seu tamanho, seja em número de fiéis, seja em número de templos e empreendimentos. A velocidade em que são construídos templos assusta a qualquer cidadão comum. A mesma velocidade não é dispensada quando se trata de criar movimentos com o objetivo de lotá-los, seja através de campanhas ou de correntes. Para tanto, utilizam-se de todo o seu aparato de marketing para alcançarem o seu objetivo: jornais, revistas, programas em rádio e televisão, comerciais na rede Record de Televisão, entre outros. De acordo com BONFATTI (2001), a igreja Universal não mede esforços para aumentar o seu número de fiéis. Para ele, a IURD “entende que não há territórios cativos ou demarcados e com isso, vem conseguindo se indispor com grandes e tradicionais instituições brasileiras, formadoras de opinião como a Igreja Católica e a Rede Globo”. A emoção é um objeto de estudo através do discurso. As práticas religiosas vêm empregando a retórica tanto quanto outras áreas da vida humana. O objetivo desta utilização é persuadir, construir cosmogonias e teodicéias, além de aumentar o número de seguidores e praticantes. Por isso Kenneth Burke subordinou o tema religião à retórica. Nenhum discurso, independente da sua tipologia ou objetivo, é desarticulado do seu contexto social. Ele é transmitido por locutores, que representam certos aspectos de seu campo, e absorvido por destinatários específicos. Assim, podemos dizer que os discursos religiosos, inclusive os neopentecostais, se relacionam diretamente com as transformações internas e 1. Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em História do Brasil no XXIX PREPES da PUC Minas em 2002. 2. Juliano Augusto de Araújo Marques, é Licenciado e Bacharel em História, Especialista em História do Brasil pela PUC Minas. Foi diretor, por doze anos do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região e por nove anos foi Diretor de Pesquisa e Coordenador do Centro de Referência e Memória Sindical (CRMS). Atualmente leciona História como professor efetivo nas Redes Municipal (Prefeitura Municipal de Contagem) e Estadual (Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais) de Ensino. Esta pesquisa foi apresentado no VII Simpósio da Associação Brasileira de Histõria das Religiões e I Simpósio de Ciências da Religião da PUC Minas, promovido pela Associação Brasileira de História das Religiões e PUC Minas. Página - 4
externas da sociedade atual e está a serviço de uma ideologia, mesmo que seja o discurso mais anti-ideológico. Sabemos que a retórica estuda, desde Aristóteles, o papel da linguagem verbal e não-verbal na mobilização de pessoas, com o objetivo de alterar as percepções na orientação da ação dos agentes numa direção desejada. Neste sentido, não podemos deixar de dizer que o discurso articulado pela Igreja Universal do Reino de Deus pretende convencer, excitar, provocar e inibir ações de um público, que ela tenta atrair ou manter sob o seu domínio. De acordo com CAMPOS (1997: 311), “A retórica ocupa um importante lugar nos processos de trocas, simbólicas ou não, estabelecidas pelos seres humanos. Afinal de contas, o homem é um ser criador e intercambiador de símbolos e consegue também direcionar seus discursos para determinados objetivos e auditórios, previamente selecionados. Nesse contexto, na retórica usam-se as palavras como se fosse armas de guerra, moedas de intercâmbio, na forma de slogans e palavras de ordem” .
Desde a sua fundação, a Igreja Universal do Reino de Deus tem procurado cumprir este objetivo, construindo um edifício de representação simbólica para expressar a sua força, legitimidade e eficiência na distribuição dos bens da “economia da salvação”, assim “(...) a retórica iurdiana apresenta como credenciais de sua legitimidade, exemplos de milagres e prodígios, palavras de ordem, slogans e narrações, devidamente arranjadas na forma de ‘histórias de vida’ ou de ‘testemunho da fé’, largamente apresentados em seus meios de comunicação de massa. Levar o receptor da mensagem a aceitar a sua legitimidade organizacional é fundamental para a continuidade da Igreja Universal, diante de um intenso processo de trânsito religioso, realidade que ela assume e pretende mudar”. (ibid., pp. 301)
Por isso não podemos deixar de concordar com CAMPOS (1995:300) que afirma na necessidade de compreender os “procedimentos retóricos da Igreja Universal que ao construir uma realidade a ela propícia, legitima-se num contexto social no qual, há pouco mais de quinze anos, era totalmente desconhecida, e ainda hoje, é objeto de desconfiança”.
Como forma de construção simbólica da realidade, o discurso iurdiano está presente diretamente nos meios de comunicação de massa da igreja, tendo como finalidade atrair novos adeptos e manter os que já aderiram à sua pregação. Assim, os membros fiéis e os flutuantes são induzidos em suas emoções, além de receberem promessas de solução para seus inúmeros problemas, independentemente da origem deles, pois como afirma o próprio lema da Igreja Universal do Reino de Deus: “Pare de Sofrer!” Algumas peças do discurso iurdiano estão voltados para se conseguir a adesão contínua, principalmente daqueles até então em permanente trânsito religioso – os chamados flutuantes. Para se atingir este objetivo – fundamental em uma instituição com um alto índice de rotatividade de seus membros – empregam-se argumentos fortes, como a reafirmação contínua de sua excelência em milagres e prodígios, autoridade esta exercida pelo poder do “Espírito Santo de Deus”, ao lado de argumentos intimidatórios, que apontam para quem não aderir à sua pregação ou arrefecer de seus “compromissos assumidos com Deus”, as conseqüências terríveis do inferno ou descenso social inevitável, com a respectiva perda da prosperidade adquirida através da “intermediação da IURD junto à Deus”. Aliás, perder a prosperidade adquirida representa, por analogia simbólica, na sociedade consumo moderna, o mesmo que viver (ou voltar a viver) no inferno. É exatamente essa crença no “poder” da Igreja Universal do Reino de Deus de intermediar junto à Deus a aquisição da prosperidade material – algo tão precioso na sociedade de consumo pós-moderna – e como ela constrói este discurso de possibilidade que nos leva a acreditar ser a Igreja Universal uma forma autêntica de religiosidade popular em pleno século XXI . Não nos propomos discutir a ética do discurso neopentecostal, muito menos se os fiéis são ou não são manipulados pelas lideranças religiosas. O que nos interessa nesta pesquisa é, antes de mais nada, compreender como o discurso neopentecostal, principalmente o iurdiano, consegue uma ampla aceitação e legitimação por parte daqueles que crêem. É preciso dizer que o ato de crer em algo é por si fundador de um discurso legitimador ontológico. A crença no poder da Igreja Universal do Reino de Deus pelos seus fiéis não é, para nós, objeto de pesquisa, ou seja, não estamos interessado se essa crença é verdadeira ou não, mas como se dá a legitimação da crença neste poder. Para a maioria das pessoas, o que mais chama a atenção nas práticas da Igreja Universal do Reino de Deus é a forma como se dá a relação com o dinheiro. Provavelmente este fator é o que é mais discutido em nossa sociedade, em que o aspecto da troca monetária e acumulação de riquezas assumem papéis preponderantes, digo até mesmo que fundador da própria sociedade moderna. Mas, concordando mais uma vez com BONFATTI (2001) “é sempre bom lembrar que os fiéis desta igreja não concebem em hipótese alguma, que estariam sendo manipulados por seus dirigentes na exploração de dinheiro – e dentro de nossa abordagem, nem é nosso objetivo tentar provar se esta afirmação é verdadeira ou falsa” (os grifos são meus.) Página - 5
Mas antes de iniciarmos a nossa pesquisa sobre a Igreja Universal e o seu discurso, torna-se necessário compreender o ambiente em que ela surgiu. O velho Marx já afirmava que os homens fazem história sob as condições dadas e herdadas do passado. Assim, compreender o histórico do pentecostalismo no Brasil é uma condição sine-qua-non para situarmos a IURD e seu discurso no seu tempo e espaço. A pesquisa foi estruturada de forma a dar uma inteligibilidade global ao texto. No capítulo dois esboço uma breve história do pentecostalismo no Brasil, utilizando para tal a escassa bibliografia existente acerca do assunto. Neste capítulo discuto os três momentos do pentecostalismo no Brasil: o da primeira onda, chamado de pentecostalismo clássico; o da segunda onda, classificado como deuteropentecostalismo e o da terceira onda, denominado de neopentecostalismo. No capítulo três procuro compreender três aspectos que considero ser importante para entender melhor a Igreja Universal do Reino de Deus: a sua origem, a centralidade na Teologia da Prosperidade e como esta centralidade é trabalhada teologicamente, sem contudo, desempenhar um tratado teológico. Na conclusão, esboço as minhas opiniões sobre o campo religioso brasileiro atual e os problemas que estão colocados para a sociedade resolver. Durante a pesquisa, foram necessárias inúmeras visitas a diversos cultos pentecostais – sempre com a Bíblia na mão, para não gerar constrangimentos e desconfianças –, principalmente da Igreja Universal do Reino de Deus e da Igreja Internacional da Graça de Deus em Belo Horizonte e Santa Luzia (MG) e às vezes, em São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ). Freqüentei, também, alguns cultos da Assembléia de Deus (Convenção e Madureira – estes termos serão explicados durante a pesquisa), Igreja Pentecostal Varões de Guerra (nessa eu quase sofri agressões físicas...), Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja Pentescotal Deus é Amor, Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, Igrejas Presbiterianas e Batistas e da Renovação Carismática Católica. Asssiti a muitos programas radiofônicos e televisivos das mais diversas denominações religiosas e acessei inúmeras páginas de Igrejas e feitas por fiéis na Internet. Assinei algumas publicações evangélicas e acompanhei de perto as matérias jornalísticas sobre os evangélicos. Deve-se ressaltar que as pesquisas feitas nas igrejas não foram oficiais, uma vez que os pastores e os fíéis têm uma certa aversão a pesquisadores. Todo o cuidado foi tomado para que os instrumentos da pesquisa não ficassem expostos ao público. A única vez que isto aconteceu, quase resultou em violência contra a minha pessoa, uma vez que os fiéis acreditaram que eu estava “possuído pelo demônio” e queriam fazer o exorcismo. A minha relutância era vista como resistência do demônio ao poder de Deus. Mas – graças à Deus – consegui sair ileso do templo, protegido por um fiel que deu-me cobertura. Foi uma saída típica de qualquer ator de filme de ação Hollywoodiano.
2 - “E CONHECENDO A VERDADE, A VERDADE VOS LIBERTARÁ”: UMA BREVE HISTÓRIA DO PENTECOSTALISMO BRASILEIRO Para compreendermos o fenômeno da Igreja Universal do Reino de Deus temos que, antes de mais nada, contextualizá-la no tempo e no espaço.
2.1 A Fé na pós-modernidade. Há alguns anos a maioria do meio acadêmico acreditava que, com o avançar das ciências, das tecnologias e do conhecimento, a tendência do ser humano seria um distanciamento paulatino das religiões. A modernidade levava a crer que os seres humanos confrontados à morte e à adversidade devem aprender a viver sem consolo. O homem da modernidade, acreditavase, perderia a fé, como um objeto que se perderia porque não seria praticado. Existem também aqueles que acreditam que o rádio e a televisão, em especial o advento da ‘cultura da imagem’, tenham dado o golpe de misericórdia na velha retórica ou reduzido consideravelmente o poder da palavra. Para CAMPOS, não há nada mais distante da realidade, uma vez que “a nova tecnologia dos meios de comunicação de massa, simplesmente expandiu as paredes do ‘templo’, do ‘teatro’ e do ‘mercado’” (CAMPOS, 1997:299). Contudo, o que se tem observado, é exatamente o contrário. Indo de encontro ao que pensava ser uma característica da modernidade, o que se percebe é que as religiões, que pareciam estar nos seus últimos suspiros, principalmente as de caráter popular, estão num crescente, num – digamos – novo reavivamento, numa profusão de novas expressões, rearticulações, denominações e matizes teológicas. Neste sentido, ELIADE (1996:27) “uma tal existência profana jamais se encontra no estado puro. Seja qual for o grau de dessacralização do mundo a que tenha chegado, o homem que optou por uma vida profana não consegue abolir completamente o comportamento religioso (...): veremos que até a existência mais dessacralizada conserva ainda traços de uma valorização religiosa do mundo”.
Desde o final da década de 1970, vários cientistas sociais, entre eles historiadores, antropólogos, sociólogos, teólogos vêm tentando explicar o crescimento, digamos, “milagroso” das igrejas pentecostais e o aumento considerável do número Página - 6
de fiéis que a cada dia que passa convertem-se à essa nova forma de religiosidade. Estima-se que nos últimos 20 anos, oito milhões de brasileiros foram convertidos às mais de 100 denominações protestantes, perfazendo um crescimento na ordem de 100%, num período em que a população brasileira cresceu 31%, ou seja, os evangélicos se multiplicaram a uma taxa de 3:1. O maior país católico do mundo é, também, agora, um dos maiores países protestantes do globo. Atualmente o tamanho do rebanho protestante no Brasil é de 16,5 milhões, sendo o terceiro país do mundo em número de pentecostais (perdendo apenas para os Estados Unidos e para a China) e o maior da América Latina. Durante algum tempo, este processo de crescimento fora qualificado pejorativamente de fanatismo, de manipulações de almas alienadas e ignorantes, de charlatanismo e de exploração da fé das pessoas humildes por espertalhões que criam fortuna sobre a pobreza e a crendice de milhares. Segundo o censo realizado em 1991 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE –, havia no Brasil 13.189.282 evangélicos (8,98%) da população brasileira, mostrando um crescimento de 67,3% em relação ao censo de 1980, 2,8 vezes mais do que o crescimento da população brasileira no mesmo período . A pesquisa Novo Nascimento, realizado entre 1990 e 1992 pelo Instituto Superior de Estudos da Religião – ISER – , e compilada pelo Prof. Rubens César Fernandes (1996) , em alguns municípios da região metropolitana da capital do Rio de Janeiro, demonstrou que a cada semana 05 (cinco) novas igrejas evangélicas – 710 templos aproximadamente – e 204 templos kadercistas solicitavam registro nos Cartórios de Registros do Estado do Rio de Janeiro e apenas uma paróquia católica foi aberta. Dos 3.477 templos levantados pelo ISER, 61% eram pentecostais e 39% pertencentes ao chamado “protestantismo histórico. De acordo com o sociólogo Ricardo MARIANO (1999:11), “o Censo do IBGE e as pesquisas citadas demonstram, de modo inequívoco, que a notável expansão numérica dos evangélicos nos últimos anos resulta sobretudo do crescimento acelerado do pentecostalismo”.
É interessante destacar que este crescimento explosivo dos pentecostais acontece numa direção inversamente proporcional ao movimento católico das Comunidades Eclesiais de Base. É um fato o crescimento do pentecostalismo entre os setores economicamente menos privilegiados, não significando, contudo, de se tratar de uma religião exclusivamente formada por pobres. A terceira onda do pentecostalismo vem derrubar esta tese. Segundo a pesquisa Novo Nascimento, realizada pelo ISER na região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro em meados dos anos 1990, mostrou que o crescimento evangélico-pentecostal entre a população se dá de forma desigual, senão vejamos: 61% dos fiéis pentecostais recebiam até dois salários mínimos, 29% entre dois e cinco salários mínimos e apenas 10% ganhavam mais de cinco salários mínimos; 42% tinham menos de quatro anos de escolaridade, 35% entre cinco e oito anos e 23% nove anos ou mais de formação acadêmica. Pelos dados podemos dizer que a maioria expressiva dos pentecostais é formado principalmente pelos setores mais excluídos do processo de consumo que a sociedade moderna proporciona. Até há pouco tempo, as denominações evangélicas, principalmente as pentecostais, que estão no momento em maior evidência no cenário religioso brasileiro, tinham seus membros vistos como “coitados manipulados”, “pobres” e “ignorantes”. Para o pentecostalismo nunca se economizou adjetivos pejorativos. De acordo com FONSECA (1995: 50), tais adjetivos com valoração negativa sempre estiveram acompanhadas de termos “alienados”, “seitas”, “refúgio das massas” e como “alternativa para os desesperados”. As críticas mais freqüentes e mais contundentes às igrejas pentecostais, principalmente à sua vertente neopentecostal, é que elas exploram financeiramente os pobres e que os pastores se enriquecem com o dinheiro doado às igrejas pelos fiéis, seja através dos dízimos, “ofertas de amor” ou das campanhas evangelísticas. Mas, nada como um dia depois do outro. Hoje, os pentecostais, principalmente os neopentecostais, já começam a ser vistos de forma diferente: são tidos como argutos, concorrentes e empreendedores não só no mercado religioso como também no mercado financeiro. Além disso, o número de templos e de denominações crescem de maneira espetacular. Seus membros já não se escondem mais, seus templos estão por todas as partes, em lugares destacados, onde outrora eram antigos e amplos cinemas e casas de espetáculos, ou então são simplesmente construídos em pouquíssimo tempo. Eles estão nas ruas, realizando passeatas e anunciando, em alto e bom tom, “Jesus Cristo como o único Salvador da Humanidade”, em diversos locais públicos ou em ginásios e estádios lotados. De acordo com Paulo BONFATTI (2001) “as mudanças que vem ocorrendo no campo religioso brasileiro tem sido tão rápidas que podemos nos lembrar que até há alguns anos atrás, o revelar-se evangélico era se expor a ser visto como alguém um tanto alienígena, distante da sociedade, ou seja, algo bastante pejorativo. Os crentes, como eram todos confundidos e chamados, estavam quase sempre sendo associados aos estereótipos de homens vestidos de terno, com uma Bíblia debaixo do braço, e de mulheres com saias abaixo do joelho e cabelos compridos. Eram vistos sempre distantes e arredios ao mundo e às outras pessoas de fora de suas igrejas.”
Continua com autor, “Com o tempo esta visão veio se modificando pois, ser evangélico hoje tem tido uma conotação bem diferente. Atualmente, não há mais a discrição ou timidez em revelar-se, ao contrário, os evangélicos não têm Página - 7
se apresentado nada discretos ou tímidos e vêm crescendo e se assumindo a cada dia e cada vez mais” .
Neste sentido, podemos dizer que as mudanças ocorrem até mesmo no modo que os evangélicos de linha neopentecostal se comportam na sociedade diante da realidade material. Ao invés de negarem o mundo terreno como espaço sagrado e, consequentemente negarem a própria existência material preparando a alma para a salvação – postura ascética adotada pelos primeiros pentecostais–, os neopentecostais afirmam o mundo, idealizando-o como local de expressar e de manifestar o poder de Deus nos convertidos. O que pretendemos demonstrar neste trabalho é que se tais práticas religiosas adquirem uma importância cada vez maior em nossa sociedade, é porque respondem aos anseios e aspirações daqueles que os procuram, uma espécie de utilitarismo com a economia do sagrado, porque de alguma maneira a religião acabou sendo útil de uma forma ou de outra aos convertidos. Seria difícil compreender o raciocínio dos que freqüentam as religiões pentecostais, mesmo que temporariamente na condição de membros flutuantes, não estivessem tendo em troca, pelo menos, algum significado ou sentido para suas vidas, ou seja, os fiéis não estariam estabelecendo nenhuma relação utilitarista com o sagrado . Neste sentido, o próprio Edir Macedo, fundador e líder da Igreja Universal do Reino de Deus, afirmou, em uma entrevista à Revista Veja de 06.12.95, que o crescimento da sua igreja está diretamente relacionado à capacidade de trazer benefícios para os seus fiéis. Assim, ele afirma que “as pessoas estão recebendo. Está havendo uma troca com o criador”. Em outras palavras, “é dando que se recebe”.
2.2 - “Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados”: a gênese do pentecostalismo O pentecostalismo é uma religião evangélica, nascida do protestantismo , no começo do século XX. Os pentecostais crêem no poder do Espírito Santo como crença maior, em torno da qual giram outras crenças e as práticas religiosas. Revivem a passagem bíblica de Atos 2, 1-13 , que tem como referência o evento de Pentecostes, uma festa religiosa judaica, realizada durante cinqüenta dias (aproximadamente sete semanas) após a páscoa, esta festa também leva o nome de “Festa das Colheitas” ou “Festas das Semanas”. Neste dia o Espírito Santo “desceu” sobre os Apóstolos, sob a forma de línguas de fogo, dando-lhes os dons de falar em línguas estrangeiras, curar e de fazer exorcismo sempre em nome de Jesus. São geralmente estes dons que são manifestados nos cultos pentecostais, que, ao se manifestar no fiel, demonstra que o mesmo foi agraciado pelo ‘batismo do Espírito Santo’. Tal ritual constitui-se, dessa maneira, no centro litúrgico do pentecostalismo. Assim, podemos dizer que o Pentecostalismo é um movimento religioso que tem a convicção de que os dons milagrosos ou os sinais que Deus deu aos apóstolos e às igrejas primitivas ainda estão disponíveis, podendo ser exercitados pelos cristãos hoje, portanto, o Pentecostalismo reivindica que Deus dá dons milagrosos para as pessoas No pentecostalismo, o Batismo no Espírito Santo, não é um rito simbólico-sacramental como o batismo com água, feito pela Igreja Católica Apostólica Romana, e sim uma presença do Espírito Santo, que tem como sinal exterior proferir algumas palavras estranhas – conhecida como glossolalia. Ou seja, o batismo dos pentecostais é um batismo emocional e não sacramental. Para os pentecostais, Jesus Salva, Batiza e Liberta, efetivamente aqui e agora. O fenômeno glossolálico – dom, concedido pelo Espírito Santo, de falar em línguas estrangeiras – em si não era a novidade do movimento pentecostal do iní-cio do século XX, mas sim a elaboração doutrinária que lhe dava uma centralida-de teológica e litúrgica. Armado com esse distintivo, o pentecostalismo se espa-lhou rapidamente pela grande rede organizada do movimento de santificação (ho-liness). Entretanto, os pentecostais que surgiram no início do século XX não foram os primeiros a recorrerem à glossolalia e ao poder do Espírito Santo. Há na tradição religiosa brasileira os movimentos messiânicos, que é uma outra forma de religiosidade popular pentecostal . Paul Freston classifica estes movimentos de protopentecostalismo , pela sua natureza popular, autônoma e, às vezes, pela manifestação de carismas como a profecia e a glossolalia. De acordo com FRESTON (1994:110) “os últimos grandes movimentos messiânicos coincidem com os primeiros passos tímidos do pentecostalismo. Depois, com o crescimento econômico continuado (1930-1980), a mobilidade social individual e a centralização burocrática e militar do país, não há mais movimentos messiânicos. Mas o pentecostalismo pode representar um redirecionamento histórico da articulação da desconformidade através do religioso, já em forma pacífica, institucionalizada, integrada ao processo produtivo e aparentemente apolítica”.
Os pentecostais enfatizam a proclamação de Jesus enquanto Salvador e Senhor, levando a aceitação pessoal e consciente, à conversão do indivíduo; a um novo nascimento, como em Jo 3,3 . Acreditam que a sua missão na terra é a de evangelizar o mundo antes do novo advento de Cristo (cf. At 2,14-17 ; Jl 2,1-4,17 ) fazendo discípulos conforme instrução de Jesus no Grande Mandato (Mt28,19-20 ). O adventismo – a crença na volta iminente do Messias – é, dessa forma, uma das marcas fundamentais deste movimento, o que levam a defender a concepção Arminiana de salvação, ou seja, propõem uma concepção de sensação imediata de salvação, dando, neste sentido, uma grande importância aos sentimentos. Essa sensação imediata de salvação experimenta-se no contato “direto” com Deus ou pelo menos na lembrança deste encontro místico. Este encontro é reavivado pela participação ao culto, em que se é testemunho da presença do Espírito Santo, em especial Página - 8
no dom de falar em línguas. Além desse adventismo, a ênfase que os pentecostais dão à manifestação dos dons do Espírito Santo é, também, uma outra marca fundamental no movimento. Os dons do Espírito Santo são oito, no total: falar em línguas desconhecidas (ou línguas dos anjos), também conhecida como glossolalia, de interpretação das ditas línguas, de evangelização, de cura, de profecia, de sabedoria, de discernir os espíritos (ler os pensamentos), de fazer milagres. O pentecostalismo, principalmente a sua vertente neopentecostal, propõe uma “teologia” que não se apóia muito numa doutrina hermética, mas faz referência a uma experiência emotiva partilhada pelos crentes. Assim, têm uma certa aversão à teologia, afirmando que ela racionaliza a “fé dos crentes” e que a teologia tem sido o “estudo dos estudos sobre Deus”, neste sentido, afirma o Bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, “o ‘Deus’ dos cristãos modernos não é mais o ‘Deus’ da Bíblia, mas o ‘Deus’ dos teológos dos concílios e das teses” . Edir Macedo chega a afirmar que “todos os ramos da teologia são fúteis. Não passam de emaranhados de idéias que nada dizem ao inculto; confundem os simples, iludem os sábios. Nada acrescentam à fé; nada fazem pelo homem senão talvez aumentar sua capacidade de discutir e discordar (...) A teologia de um modo geral, enche a mente do homem, porém jamais o seu coração. Não se pode entender Deus através de idéias e argumentos, por mais sólidos ou científicos que possam parecer. Deus é Espírito e importa que O adoremos em Espírito e em Verdade. Os teólogos criam tantas ‘verdades’ que chegam a confundir aqueles que desejam adorar a Deus”. (MACEDO, 1993: 18).
Os pentecostais acreditam que o papel da teologia é reduzir a distância entre o fiel e Deus, no efetivo exercício da fé, além de ser um fator de separação entre os cristãos, pois o verdadeiro cristão, de acordo com líder da Igreja Universal do Reino de Deus, não foi chamado para estudar a natureza de Deus, mas para crer n’Ele . Neste sentido, CORTEN (1996:53) afirma que “(...) o pentecostalismo correspondem ao que Spinoza espera da ‘boa teologia’, isto é, não apelar à razão – este é o papel da filosofia – mas ensinar e incitar à devoção. E citando Spinoza, “Nós mostramos que a Escritura não ensina filosofia, mas somente a devoção, e que todo o seu conteúdo foi adaptado à compreensão e às opiniões preconcebidas no vulgo. (...) Os profetas, foram dotados não de um pensamento mais perfeito, mas do poder de imaginar com mais vivacidade, e as narrações da Escritura o provam abundantemente”.
Podemos dizer que o Pentecostalismo defende uma experiência religiosa concreta, física, com manifestações do poder de Deus em todos os momentos, como nos tempos dos apóstolos. Aliás, a concepção de Tempo dos pentecostais é cíclico, ou seja, estar-se-ia vivendo agora o momento da igreja primitiva, quando Deus, de acordo com os escritos bíblicos, manifestava seu poder. Em outras palavras, os pentecostais acreditam que, em termos sagrados, vivem o mesmo Tempo dos apóstolos. Neste sentido, ELIADE (1996:64) é esclarecedor: “o homem religioso vive assim em duas espécies de Tempo, das quais a mais importante, o Tempo sagrado, se apresenta sob o aspecto paradoxal de um Tempo circular, reversível e recuperável, espécie de eterno presente mítico que o homem reintegra periodicamente pela linguagem dos ritos”
Ou seja, a experiência religiosa pentecostal é concreta e prática, sem abstrações. Para o fiel pertencer, plena e inteiramente ao pentecostalismo é necessário viver três momentos necessários. A etnóloga Marion Aubrée, citada em CORTEN (1996:47) define estes três momentos, que não precisam seguir, necessariamente, uma ordem cronológica. Para ela, “o primeiro momento é um ato individual que consiste numa declaração em voz alta, (...) de que ‘aceita Jesus’ (como Salvador). Não existe ordem cronológica para os dois outros já que um é o ‘batismo da água’ [por imersão], cerimônia coletiva que acontece uma ou duas vezes por ano, segundo o número de adesões novas; ele corresponde ao reconhecimento oficial do adepto pela seita. O outro é o ‘batismo do fogo’, isto é, a irrupção da glossolalia [espécie de transe verbal que se caracteriza pela emissão espontânea de uma seqüência mais ou menos longa de sons que não fazem sentido fora do campo místico], ela é o sinal do reconhecimento do fiel pela divindade. Ela pode intervir, segundo as disposições de cada um, quase imediatamente ou muito tempo depois da ‘aceitação de Jesus’. Todavia é preciso assinalar que a glossolalia é a condição sine-qua-non de acesso a uma ou outra das hierarquias que se entrecruzam e se entrecortam no interior das seitas. A primeira, que poderíamos qualificar de ‘espiritual’, corresponde a uma acumulação de dons do Santo-Espírito sobre o fiel.”
A origem do movimento pentecostal remonta ao avivamento metodista ocorrido no século XVIII, que introduziu o conceito de uma segunda obra de graça distinta da salvação, a qual Wesley chamava de perfeição cristã. De acordo com Paul Freston (1994:110), “na segunda metade do século XIX, o movimento de santidade (holines) nos países de língua inglesa, sob a influência cultural do romantismo, democratizou o conceito de wesleyano: em lugar da busca demorada, a experiência rápida e disponível a todos chamada “batismo no Espírito Santo”, a piedade intensificada pela mística escapista do Romantismo. O movimento de santidade, além de penetrar muitas denominações, produziu uma franja separatista de pequenos grupos de holines. Foi entre estes que o pentecostalismo nasceu”. Página - 9
Continua o autor, “havia nesses grupos uma expectativa, atiçada pela virada do século, de que o iminente fim do mundo fosse precedido por um grande avivamento marcado pelo fenômeno da glossolálico da igreja primitiva. Em meio a exemplos esporádicos de glossolalia, a síntese doutrinária que permitiu o surgimento do pentecostalismo como movimento distinto foi alcançada por volta de 1900 por um dono de escola bíblica chamado Charles Parham: as línguas eram a evidência do batismo com o Espírito Santo. Mas o estopim do movimento pentecostal não foi esse admirador da Ku Klux Klan que permitia que negros ouvissem suas aulas somente do lado de fora da porta, e sim um aluno negro chamado W. J. Seymour” (FRESTON, 1994:111)
Assim, podemos dizer que o pentecostalismo moderno tem origem numa igreja negra de periferia em Los Angeles – Estados Unidos –, onde por volta de 1906, um pastor negro, Willian J. Seymour, um batista nascido como escravo, que era cego de um olho e trabalhava como garçom, é expulso da Igreja dos Nazarenos pela pastora também negra, Neeley Terry, por defender que Deus tinha uma outra bênção além da conversão e da santificação: o batismo no Espírito Santo, baseado na passagem bíblica de At 2,4. Depois desta expulsão, Willian J. Seymour ele começa a pregar em casas particulares e, conforme relatos, no dia 06 de abril de 1906, um garoto negro de oito anos, além de outras pessoas, começaram a falar em línguas estranhas - glossolalia. Alguns dias depois, Seymour e seus seguidores alugaram um antigo espaço que pertencia à Igreja Metodista Episcopal Africana e ali iniciaram um movimento que tomou o nome de “The Apostolical Faith” (A Fé Apostólica). O endereço desta nova igreja – Azuza Street, 312 – ficou famoso e mundialmente conhecido como a base da formação e divulgação mundial do moderno movimento pentecostal. Protestantes de vários países recorriam até o templo e saíam dali maravilhados e missionários para outros países . O que havia sido, com Parham, um movimento relativamente pequeno e localizado, assumiria proporções internacionais através do ministério em Los Angeles de um negro obscuro. No início do movimento, os pentecostais pretendiam apenas uma renovação das igrejas tradicionais – um reavivamento. Entretanto, o preconceito que os grupos tradicionais manifestaram em relação às práticas pentecostais, empurrou-os para formarem as suas próprias denominações religiosas independentes, separados por querelas doutrinárias. Dentro de cada segmento, a separação racial se deu dentro de uma década. Os brancos que haviam recebido a ordenação da Igreja de Deus em Cristo (predominantemente negra) saíram para fundar a Assembléia de Deus, no Brasil.
2.3 - “Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã”: o preconceito acadêmico. O pentecostalismo brasileiro já tem 90 anos de existência e talvez 17 milhões de adeptos, mas ainda a discussão acerca deste movimento está permeado de preconceitos pelo meio acadêmico que enfatizam apenas o aspecto dessas igrejas serem resultados de interferências externas, principalmente, norte-americanas . Ora, a Igreja Católica também é resultado de interferências estrangeiras, implantada pelos portugueses que oprimiram e assassinaram milhares de nativos que professavam outra religião. Em outras palavras, se o pentecostalismo foi a forma encontrada pelos EUA para inserir no povo brasileiro o sentimento de acomodação e aceitação da realidade mundana, a Igreja Católica também o fez. Mas este não é o nosso objetivo. O problema que se coloca é que a academia, formada majoritariamente por membros da classe média, não é capaz de compreender (ou, não era) movimentos que lhe são exógenos e fechados ao seu acesso. O Pentecostalismo existe, não se pode negar. De acordo com CAMPOS (1995:15), o pentecostalismo é um “fenômeno social impossível de ser negado, especialmente pelo impacto de sua ação no interior do campo religioso e na cultura brasileira”. Mesmo assim, as ciências humanas se deparam com uma lacuna em suas produções. Trabalhos que consideram esta nova variável são escassos e carecem de informações empíricas que lhe atribuiria a tão buscada “objetividade científica”. Poucos são os estudos que tentam, antes de mais nada, compreender, historicizar e localizar no tempo e no espaço o discurso evangélico-pentecostal. Ora, o pentecostalismo é composto por homens – agentes históricos por excelência – o que por si só deveria justificar a existência de pesquisas sérias e não inquisitoriais. Como disse anteriormente: se os pentecostais crescem é porque respondem aos anseios dos que procuram. Mas, todavia, é verdade que a pesquisa histórica entre os pentecostais sofre da relativa escassez de fontes escritas. Outro problema na pesquisa histórica entre pentecostais é a dificuldade destes em aceitar que as ciências do homem analisem as sua práticas religiosas. Em certo grau, todas as igrejas se incomodam com isso, mas, quanto mais sectárias e mais recentes historicamente, maior a resistência. A denominação religiosa evangélico-pentecostal tende a uma ideologia totalitária, e grupos totalitários não aceitam que um não-membro possa ter uma visão válida da sua estrutura e comportamento, por isso são comumentemente denominadas de seitas. Mas nem todos os pentecostais se encaixam, nesse aspecto, no tipo ideal da seita e, de qualquer maneira, o desconforto diante da investigação não é traço exclusivo das religiões.
Página - 10
2.4 - “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século”: o pentecostalismo no Brasil O pentecostalismo brasileiro resultou de um movimento que surgiu nos Estados Unidos em 1906. Quando chegou ao Brasil, o movimento pentecostal norte-americano estava apenas na sua infância, o que contribuiu, sobremaneira, para a sua autonomia. Os pentecostais estavam muito mais interessados numa última arrancada evangelística antes do advento de um possível retorno de Jesus Cristo, do que na criação institucional. Neste sentido, o movimento não estabeleceu as relações de dependência que caracterizavam as denominações evangélicas históricas, o que contribuiu para a heterogeneidade teológica e institucional do movimento pentecostal no Brasil. Desde o início conteve divergências internas, mas mesmo assim podemos dividi-lo em três momentos especiais, ou como afirma FRESTON (1994:108), “três ondas”. MARIANO (1999:23), classifica essas três ondas de: pentecostalismo clássico, deuteropentecostalismo e neopentecostalismo. Dentro deste contexto de efervescência evangélico-pentecostal, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) é a que mais se destaca. Ela tem sido na atualidade, entre muitas igrejas surgidas, a expoente de um pentecostalismo que se diferencia do chamando pentecostalismo tradicional, até então vigente no Brasil. Justamente em virtude de se tratar de uma prática evangélico-pentecostal diferente, faz-se necessário um nova tipologia das formações pentecostais brasileiras, conferindo a cada igreja evangélico-pentecostal um conjunto de características que permitem classificá-las. Deve ressaltar que tal classificação serve apenas para fins acadêmicos, uma vez que o fiel destas igrejas pouco se importam com a tipologização de sua denominação religiosa. Porém, longe de um consenso, há uma tensão entre os estudiosos na tentativa de tipologizar o pentecostalismo brasileiro . Há grande diversificação quanto à maneira de considerar esta questão, principalmente, no que diz respeito a estas novas igrejas evangélicas pentecostais e também no que as diferenciaria das demais. As novas igrejas, como a IURD, têm sido classificadas pelos pesquisadores de “pequenas seitas”, “agências de cura divina”, “pentecostais autônomas”, “igrejas da terceira onda”, “neopentecostais” e “pós-pentecostais”. Adotaremos aqui a classificação de “neopentecostal”, defendida por vários pesquisadores, principalmente pelo sociólogo Ricardo Mariano , por entendermos ser a que melhor contempla este movimento evangélico-pentecostal.
2.4.1 - O Pentecostalismo Clássico O pentecostalismo clássico, ou “primeira onda” pentecostal tem início na década de 1910, com a fundação quase simultânea da Congregação Cristã no Brasil (1910) – CCB –, no Bairro do Brás, em São Paulo e da Assembléia de Deus (1911), em Belém do Pará. Estas duas igrejas têm o campo para si durante 40 anos, pois as suas rivais (vindas do exterior, como a Igreja de Deus, ou de cismas da Assembléia, como a Igreja de Cristo) são inexpressivas. Mesmo pertencendo à mesma geração, ambas as denominações em pouco se assemelham. Sempre apresentaram corpo doutrinário-teológico diferenciados, o que gerou formas e estratégicas evangelísticas diferenciadas de inserção social e de proselitismo religioso. É interessante perceber que o pentecostalismo desenvolve-se com o empobrecimento da população e atinge em particular as camadas mas desfavorecidas, e se desenvolve igualmente com a urbanização. Desde o princípio, estas novas igrejas assustaram a burguesia católica e evangélica tradicional. As igrejinhas da Assembléia de Deus e da Congregação Cristã no Brasil se multiplicaram pelas cidades e interior do país, reunindo, pessoas das classes sociais menos favorecidas que se vestiam de acordo com os moldes dos seus fundadores: terno escuro para os homens e vestido longo e cabelos compridos para as mulheres. Na Congregação as mulheres deveriam usar (e ainda o usam) um véu sobre suas cabeças, durante o culto. A Congregação Cristã no Brasil, a primeira Igreja Pentecostal brasileira, foi fundada pelo imigrante italiano Luigi Francescon, de raízes valdenses e que professara o presbiterianismo nos Estados Unidos, onde também tivera algumas experiências carismáticas. Francescon não se encontrava ligado a nenhuma organização eclesiástica estrangeira. A fundação da Congregação Cristã no Brasil é resultado de um cisma na Igreja Presbiteriana do Brás (SP), motivado na crença que Francescon tinha do poder do Espírito Santo. Inicialmente freqüentada por agricultores italianos e seus descendentes que, juntamente com a expansão da cultura cafeeira levaram a igreja para o interior paulista, Minas Gerais e Paraná, e daí para o restante do Brasil. Até o dia de hoje, a CCB conserva características próprias e mantém-se independente de qualquer outra denominação estrangeira e nacional. Essa originalidade será uma constante no surgimento de novas denominações pentecostais, mas, após grande êxito inicial, permanece mais acanhada. É, sem sobra de dúvida, a denominação evangélico-pentecostal mais ascética em relação à pesquisa acadêmica. Com a Assembléia de Deus acontece exatamente o contrário. Fundada por dois missionários batistas suecos – Gunnar Vingren e Daniel Berg – que tiveram uma passagem pelos Estados Unidos, onde experimentaram o batismo no Espírito Santo na Azuza Street, adotam, primeiramente, o nome de “Missão de Fé Apostólica”. Inicialmente, os fundadores defendiam uma igreja “leiga” e contracultural, “resistentes à erudição teológica e modesta nas aspirações sociais” , uma vez que eram oriundos de uma Suécia do início do século XX, onde a existência de um Página - 11
Estado unitário, portador de uma cultura cosmopolita homogênea não permitia manifestação de outras formas de religiosidade que não fosse aquela adotada pelo Estado. Por outro lado, os missionários suecos, que passaram pelo EUA antes de chegarem ao Brasil, perceberam que existem formas alternativas de manifestação da religiosidade popular, fora do establishment cultural e religioso das elites. Nos Estados Unidos, “as periferias podiam se defender culturalmente, criando redes de instituições alternativas” . Assim, num hibridismo entre práticas religiosas populares suecas e norte americanas, surgiu a Assembléia de Deus. Mas o ethos da Assembléia de Deus é, sem dúvida, sueco, o que pode ser percebida no movimento de santificação (holines) no início da igreja, quando se exigia do fiel uma postura de marginalização, sofrimento, martírio e marginalização cultural , à espera da salvação da alma que viria “d’além-túmulo”. A mentalidade da Assembléia de Deus carrega as marcas dessa dupla origem: da experiência sueca das primeiras décadas do século XX, de marginalização cultural; e da sociedade patriarcal e préindustrial do Norte/Nordeste dos anos 1930 a 1960. Um exemplo da marca de paternalismo nesta igreja é sua forma de governo , de acordo com FRESTON (1994:118) “o sistema de governo da AD [Assembléia de Deus] pode ser caracterizado como oligárquico e caudilhesco. Surgiu para facilitar o controle pelos missionários e depois foi reforçado pelo coronelismo nordestino. A AD, na realidade, é uma complexa teia de redes compostas de igrejas-mães e igrejas e congregações independentes (...). O pastor-presidente da rede é, efetivamente, um bispo [embora não adotem esta nomenclatura], com talvez mais de cem igrejas e uma enorme concentração de poder (...). Embora aconselhado pelo ministério, o pastor-presidente permanece a fonte última da autoridade em tudo... assim como o patrão da sociedade tradicional que, mesmo cercado de conselheiros, maneja sozinho o poder (...). Esse sistema de feudos é uma forma de manter o crescimento da igreja como um todo sem tocar na estrutura de poder”.
A Assembléia de Deus, após o seu início tímido e às margens da religiosidade oficial , fundada na “ilustração” e no forte “clericalismo católico”, conhece uma expansão sem precedentes na história do protestantismo brasileiro, que em poucos anos tornou-se na maior a igreja pentecostal nacional por excelência (FRESTON, 1994). Seu ímpeto proselitista não foi (e ainda não o é) obstaculado por nada e ninguém, ao ponto do atual presidente Convenção Geral das Assembléias de Deus, Pastor José Wellington Bezerra da Costa afirmar em uma reportagem à Revista VEJA que, “onde tem Coca-Cola, Correios e Bradesco, tem Assembléia de Deus” . A Assembléia de Deus expandiu-se não só com a ação planejada de seus líderes, mas, principalmente, através de frentes de migração entre Norte e Nordeste, uma vez que Berg evangelizava ao longo da Estrada de Ferro Belém-Bragança e na Ilha de Marajó, enquanto Vingren pastoreava a igreja em Belém . Com o fim do ciclo da Borracha, no Norte, a Assembléia resolveu seguir para o Sudeste. Ou seja, sua expansão seguiu os fluxos da população trabalhadora nas diferentes frentes de trabalho. Em alguns estados do Norte, o protestantismo, e não só o pentecostalismo, praticamente se reduz a ela. Para todos os efeitos, a única igreja protestante a implantar-se e irradiar-se fora do eixo RioSão Paulo, a Assembléia de Deus firmou, nas primeiras décadas do século XX, uma presença nos pontos de saída do futuro fluxo migratório. No início tais denominações foram formadas, majoritariamente, por pessoas humildes, excluídos do processo de consumo, com pouca experiência educacional-acadêmica, discriminados pelos protestantes ditos históricos e perseguidos pela Igreja Católica. Ambas se caracterizam, neste sentido, por um anticatolicismo e antiecumenismo , por enfatizar o dom de línguas (glossolalia), a crença na volta iminente de Cristo, na salvação paradisíaca, pela crença de que somente eles possuem a verdade evangélica, pelo comportamento de radical sectarismo diante das outras igrejas, e um ascetismo de rejeição ao mundo exterior. Atualmente, a Assembléia de Deus tende a mudar este perfil. Ao contrário da Congregação Cristã no Brasil, que ainda mantêm vivo alguns hábitos e costumes, exigindo do fiel a rejeição ao mundo profano, com o objetivo de preparar a alma para a salvação, a Assembléia de Deus muda os seus hábitos e, com isso, consegue aumentar o seu rebanho junto a pessoas que não são capazes de negar o mundo. A própria Assembléia, desde 1989, “caiu no mundo”, ao se mostrar disposta a acompanhar certas mudanças que estão ocorrendo no universo pentecostal, principalmente no que diz respeito à utilização dos meios de comunicação de massa. De acordo com Mariano (1999:30), a Assembléia de Deus ao ingressar no mundo da política partidária e passar a se utilizar da mídia impressa, televisiva e falada, em busca de poder, de maior visibilidade e com isso ampliar o seu proselitismo e aumentar a sua respeitabilidade social, aliada ao fato de transformações internas, “sinaliza de modo irrefutável sua tendência à acomodação social, à dessacralização”. É interessante ressaltar que, por serem formadas majoritariamente por pessoas das classes pobres, o nível de alfabetização era muito baixo. Como a versão de santificação das igrejas do pentecostalismo clássico se dá através da conjugação de dois fatores, a imersão no Espírito Santo e a leitura da Bíblia, tornou-se necessário alfabetizar os seus fiéis. No caso particular da Assembléia de Deus, a forte influência da teologia batista – de que cada membro deve ser um missionário – o obriga à leitura da Bíblia para aumentar o seu poder proselitista, pois cada fiel pode se sentir chamado para a abertura de uma Assembléia de Deus. Neste sentido, as escolas dominicais se transformaram, rapidamente, em escolas de alfabetização de adultos com o único objetivo de capacitar o fiel para a leitura da Palavra de Deus. Acredito que, exatamente por dar ênfase à cultura da leitura da Bíblia, negando, de certa forma, uma cultura laica, dessacralizada, as igrejas da primeira onda pentecostal afastaram de um público mais intelectualizado, ou, destarte, de um público com mais tempo de academia e da classe média. Este é um dos motivos que nos permite afirmar que o pentecostalismo se restringiu, num primeiro momento, nas classes populares. Página - 12
Mas, quais as razões permitem-nos afirmar que, apesar da forte presença do transcendente e do mágico e de elegerem como público-alvo de seu proselitismo religioso as camadas pobres de nossa sociedade, a Assembléia de Deus e a Congregação Cristã no Brasil não podem ser consideradas formas de religiosidade popular protestante? Baseando a nossa argumentação em FONSECA (1995), podemos dizer que ambas as denominações religiosas possuem um forte apelo a um movimento de santificação da vida, o que obriga o seus fiéis a negarem o mundo, a negarem a própria cultura do povo. Ou seja, tudo o que não for para a “honra e glória do Senhor” não deve servir para o fiel. Assim, o lazer, o carnaval, a televisão, a desordem, e até mesmo a internet não dignificam a “obra do Senhor”. FONSECA (1994:52) afirma que tal exigência mostrar-se uma “carga às vezes demasiadamente pesada para as camadas populares, caracterizando-a como responsável por uma grande descontinuidade de ações e expressões daqueles que ingressam na igreja”. Mesmo com o atual movimento de renovação da Assembléia de Deus, a sua postura no momento, ainda abriga, a concepção de vida santa . O único momento de subversão admitida na ordem da Assembléia é o momento da manifestação do Espírito Santo, considerado festivo, mas sem dicotomia sagrado/profano que permeia as festas católicas. A “festa” aqui é somente sagrada. É o momento do Espírito Santo manifestar o seu poder, tal como Ele se manifestou na época dos apóstolos. De acordo com ELIADE (1996:79), “os participantes da festa tornam-se contemporâneos do acontecimento mítico, Em outras palavras, ‘saem’ de seu tempo histórico – quer dizer, do Tempo constituído pela soma dos eventos profanos, pessoais e intrapessoais – e reúnem-se ao Tempo primordial, que é sempre o mesmo, que pertence à Eternidade”.
Em outras palavras, é a revivificação do Tempo Sagrado, assim, “O homem religioso sente a necessidade de mergulhar por vezes nesse Tempo sagrado e indestrutível. Para ele, é o Tempo sagrado que torna possível o tempo ordinário, a duração profana em que se desenrola toda a existência humana. É o eterno presente do acontecimento mítico que torna possível a duração profana dos eventos históricos” (ibid, idem).
Entretanto, até para a manifestação do Espírito do Santo existe uma regra. Somente ao pastor que conduz culto cabe “ascender o estopim” para a explosão da catarse coletiva. Um outro fator que permite-nos não classificá-las como pertencentes à forma de religiosidade popular centra-se na questão da erudição. Para se tornar um pastor nestas duas denominações, exige-se a formação em Teologia . Ora, a maioria dos membros destas duas denominações, como vimos, não possuem condições objetivas de freqüentar um seminário, uma vez que possuem pouco tempo de permanência na academia. A Assembléia de Deus apresenta-nos, mais um fator que não nos permite classificá-la como expressão de uma religiosidade popular. Trata-se da questão da aceitação ou não de práticas sincréticas. Ao negar qualquer forma de sincretismo religioso popular, marca peculiar de nossa cultura, e orgulhar-se de sua doutrina como a única verdadeira, detendo desta forma, exclusivamente, a fórmula da salvação das almas, a Assembléia de Deus nega a própria cultura popular brasileira. Para eles, todas as outras denominações religiosas estão, no mínimo, equivocadas – para não dizer que elas estão possuídas pelo demônio! – e deveriam segui-la, copiando as suas doutrinas, ritos e carismas, pois têm muito a aprender com a Assembléia. Este status de ser um “escolhido de Deus”, está marcado na crença de que a sua igreja é a legítima igreja de Deus na Terra .
2.4.2 - O Deuteropentecostalismo O Deuteropentecostalismo , ou “segunda onda” pentecostal tem início em meados dos 1950, quando a urbanização e a formação de uma sociedade de massas possibilitam um crescimento pentecostal que rompe com as limitações dos modelos existentes, especialmente em São Paulo. Com a chegada de dois missionários e ex-atores de Hollywood, Harold Willians e Raymond Boatright, vinculados à International Church of The Foursquare Gospel, que no Brasil adotou o nome de “Cruzada Nacional de Evangelização”, vinculado à Igreja do Evangelho Quadrangular , teve início a fragmentação denominacional do pentecostalismo brasileiro, e a relação com a sociedade se dinamiza. Eles trouxeram para o Brasil o evangelismo centrados em métodos arrojados, forjados precisamente no berço dos modernos meios de comunicação de massa, voltado para uma mensagem de cura divina. Deve-se ressaltar que neste mesmo período o Brasil vivia um momento de euforia industrial, afinal estávamos entrando na era JK (50 anos em 5), na era do desenvolvimentismo com dependência, no modernismo industrial, na Guerra Fria. Neste mesmo período começaram a surgir as grandes empresas de comunicação de massa, além de se democratizar o acesso aos bens de consumo duráveis. É interessante ressaltar que, como o pentecostalismo se identificava com as camadas mais desfavorecidas – excluídos – da sociedade e com a crescente urbanização da mesma, torna-se mais importante ainda o processo de dessacralização do Página - 13
mundo, uma vez que ele – o mundo – está carregado de pecados. De acordo com CORTEN (1996:139) “no caso do Brasil, o crescimento espetacular do pentecostalismo coincide com a aceleração da urbanização. É de fato nos anos 50 que se constata o começo do deslocamento maciço das populações em direção às cidades. Em 1940, 31,2% da população brasileira encontra-se na cidade. Em 1950, a porcentagem passa para 36,2%. Em 1990, 75% da população brasileira é urbana. A cada década, desde 1950, 10% da população deslocou-se das zonas rurais em direção às cidades”.
Após a Segunda Guerra, a atenção americana em geral, e missionária (católica e protestante) em particular, se volta para a América Latina, impulsionada pelo novo papel internacional americano, pela importância estratégica do “hemisfério ocidental”, e pela mão-de-obra missionária deslocada após o fechamento da China. Mas quem lucra com o novo modelo, no primeiro momento, não é a Quadrangular, demasiadamente estrangeira, mas sim a adaptação nacionalista, a Igreja Pentecostal Brasil para Cristo. É através deste deuteropentecostalismo que a utilização dos meios de comunicação de massa para a difusão da mensagem “Quadrangular” adquire importância, uma vez que as igrejas pentecostais clássicas que por sectarismo ou por considerá-los diabólicos não recorriam à TV e ao Rádio como estratégia proselitista . A sua mensagem será difundida também através de tendas itinerantes de lona, de concentrações em praças públicas, em quadras e campos de futebol, teatros e cinemas. Com mensagem sedutora e métodos inovadores e eficientes, atraíram, além de fiéis e pastores de outras confissões evangélicas, milhares de indivíduos dos estratos mais pobres da população, muitos dos quais migrantes nordestinos. Causaram escândalo e reações adversas por toda a parte. Mas, ao chamarem a atenção da imprensa, que os ridicularizava e os acusava de charlatanismo e curandeirismo, conseguiam pela primeira vez dar visibilidade a este movimento religioso no país. Com o êxito de sua missão, provocaram a fragmentação denominacional do pentecostalismo brasileiro. Foram formadas inúmeras igrejas, mas quatro se destacam: a Igreja do Evangelho Quadrangular (São Paulo, 1951), A Igreja Pentecostal “O Brasil para Cristo” (São Paulo, 1955) e a Igreja Evangélica Pentecostal Deus é Amor (São Paulo, 1962), Casa da Benção (Belo Horizonte, 1964). Tais igrejas caracterizam-se por dar ênfase à teologia da “CURA DIVINA”, por incorporarem em suas estratégicas proselitistas os recursos tecnológicos possíveis e por uma preocupação em adequar o seu ritual a um público composto cada vez mais de uma massa urbana. Enquanto as igrejas “Evangelho Quadrangular” e “Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo” se dirigem basicamente para o mesmo público, ou seja, para as classes mais humildes, a “Igreja Pentecostal Deus é Amor”, dirigida pelo Missionário David de Miranda, se dirige para a classe média. Como o Brasil passava por um momento de exaltação populista, as igrejas deuteropentecostalistas se caracterizavam, também, por uma exaltação de suas lideranças – fundadores – pelas massas. Entretanto, com a morte dos seus fundadores, tais igrejas entraram em “crise institucional” em virtude, principalmente, da incapacidade de reprodução das suas estruturas pela falta do líder carismático. A principal igreja a sentir isso foi a Igreja Pentecostal “O Brasil para Cristo” que, se não foi extinta, se reduz a uma pequena participação em São Paulo e Rio de Janeiro. A adoção da teologia da CURA DIVINA foi fundamental, de acordo com Mariano (1999:31), “para a aceleração do crescimento e diversificação do pentecostalismo brasileiro. As maiores e mais representativas denominações da segunda onda (...) continuam a enfatizá-la, visto que a cura constitui um de seus mais poderosos recursos proselitistas”. As igrejas desta onda acreditam que todas as doenças que não possuem um diagnóstico confiável ou que os diagnósticos fracassam na tentativa de indicar uma cura são manifestações demoníacas, e portanto, o poder do Espírito Santo é suficientemente capaz e forte para curar o enfermo espiritual. André Corten, citado em ORO (1996:56) afirma que o “o discurso medical é apreciado porque ele permite identificar, pelo seu fracasso, uma doença não-natural, além de ser valorizado na medida em que dá ainda mais força ao discurso do ‘milagre’. Ainda de acordo com MARIANO (1999:31), as quatro décadas que separam estas duas ondas, justificam o corte histórico-institucional proposto para distingui-las. Quanto à teologia, entretanto, as duas primeiras ondas pentecostais apresentam diferenças apenas nas ênfases que cada qual confere a um ou outro dom do Espírito Santo. A primeira enfatiza o dom de línguas, a segunda, o dom de cura. O que não quer dizer que não haja manifestações de cura divina na primeira onda e ausência de fenômenos glossolálicos nas igrejas da segunda onda. O núcleo doutrinário permanece inalterado, assim, “justifica-se, assim, a divisão das duas primeiras ondas pentecostais pelo critério do corte histórico-institucional, mas não pela existência de diferenças teológicas significativas entre ambas. Tendo em conta que a segunda onda mantém o núcleo teológico do pentecostalismo clássico, mas se estabelece quarenta anos depois e com distinções evangelísticas e ênfase doutrinárias própria, optamos por nomeá-la de deuteropentecostalismo. O radical deutero (presente no título do quinto livro do pentateuco) significa segundo ou segunda vez, sentido que o torna muito mais apropriado para nomear a segunda vertente pentecostal. Temos, assim, primeiro o pentecostalismo clássico, seguido pelo deuteropentecostalismo” (MARIANO 1999:32. Os grifos são do autor).
Entretanto, o deuteropentecostalismo, como as igrejas pentecostais clássicas, também não podem ser consideradas como Página - 14
expressão popular da religiosidade protestante. Por que? Acredito que as mesmas respostas que dei para justificar o porque das igrejas da primeira onda pentecostal não serem classificadas como manifestações da religiosidade popular, também se aplicam para estas denominações. Principalmente no que diz respeito à sua postura ascética em relação ao mundo, ao exigir do fiel uma vida “santa”, negando todos os avanços – e o luxo – que a sociedade de consumo pode oferecer. Entretanto, algumas igrejas classificadas como deuteropentecostais, como a Igreja do Evangelho Quadrangular, está se remodelando com a aceitação do mundo, tal como ocorrem nas igrejas da terceira onda. O principal objetivo é atrair novos fiéis e evitar a fuga dos atuais. Entretanto, estas denominações sofrem hoje com um arrefecimento de seus membros, que a cada dia que passam são convencidos do “poder” que as igrejas neopentecostais (que estudaremos a seguir) têm contra o Diabo. Na verdade, as igrejas deuteropentecostais sofrem com o resultado de sua própria estrutura. Por serem igrejas criadas no bojo do populismo no Brasil, têm uma tendência à exaltação dos líderes fundadores. De acordo com MAFRA (2001:36) este apego aos seus líderes custará para essas igrejas na incapacidade relativa de reprodução das suas estruturas internas pela falta do “primeiro líder”.
2.4.3 - O Neopentecostalismo A “terceira onda” pentecostal ou neopentecostalismo, começa no final dos anos 1970 e ganha força nos anos 1980. O movimento neopentecostal tem início após a modernização autoritária do país, principalmente na área das comunicações, quando a urbanização já atinge dois terços da população, o milagre econômico está exaurido e a “década perdida” dos anos 80 se inicia. O movimento neopentecostal ganha força num Rio de Janeiro economicamente decadente, com sua violência, máfias do jogo e política populista. Neste sentido, FRESTON (1994:109, 131) é esclarecedor. Para ele, “o país é outro, e o pentecostalismo da terceira onda adapta-se às mudanças do período militar: o aprofundamento da industrialização; o inchamento urbano causado pela expulsão de mão-de-obra do campo; a estrutura moderna de comunicações de massa que, no final dos anos 70, já alcança quase toda a população; a crise da Igreja Católica e o crescimento da umbanda; e a estagnação econômica dos anos 80”.
Em 1960, com a fundação da “Igreja de Nova Vida” pelo missionário norte-americano Robert McAlister, começa a transição para a terceira onda pentecostal no nosso país. Embora estrangeiro, o fundador da “Nova Vida” tentou uma forte adaptação aos costumes e à idiossincrasia do país. Ele próprio tomou o título de “bispo”, por achar que seria mais compreensível para o povo brasileiro do que o de “Pastor Presidente”. A moral puritana começou a ser suavizada. O público alvo deixaram de ser as massas populares dos marginalizados em favelas e curtiços para se expandir para a decadente classe média “baixa” e na sua ânsia de prosperidade material. A demonização do mundo, que já era forte nas igrejas deuteropentecostais, tornou-se quase uma obsessão, identificando os cultos afro-brasileiros com cultos demoníacos. McAlister tomou pessoalmente parte nas conversações entre católicos e líderes pentecostais em nível mundial . Assim, tal denominação religiosa está na origem desta terceira onda, uma vez que os principais líderes das igrejas que viriam a formar o conjunto das denominações neopentecostais saíram de suas fileiras : a Igreja Universal do Reino de Deus (Edir Macedo), a Igreja Internacional da Graça de Deus (Romildo R. Soares), a Igreja Cristo Vive (Miguel Ângelo). De acordo com FRESTON (1995: 132 ss.), a Igreja Nova Vida foi “pioneira de um carismatismo de classe média um tanto à frente de seu tempo no Brasil”, continua o autor, “a Nova Vida tem um momento de vanguardismo, mas ficou amarrada pelo personalismo e pelas ambições dinásticas. Sua maior contribuição foi ter sido um ‘estágio’ para futuros líderes” Estas três, juntamente com a Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (Goiás, 1976), Comunidade da Graça (São Paulo, 1979), Renascer em Cristo (São Paulo, 1986), e Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo (São Paulo, 1994), constam entre as principais denominações surgidas nesse período. Contudo, as representantes máximas deste movimento são as igrejas Universal do Reino de Deus e Internacional da Graça de Deus. Novamente, essas igrejas trazem uma atualização inovadora da inserção social e do leque de possibilidades teológicas, litúrgicas, éticas e estéticas do pentecostalismo. O contexto da terceira onda é fundamentalmente carioca. A terceira onda demarca, neste sentido, o corte histórico-institucional da formação de uma corrente pentecostal: o neopentecostalismo. Tal termo praticamente já está consagrado pelos pesquisadores brasileiros para classificar as novas igrejas pentecostais, em especial a Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja Internacional da Graça de Deus. O prefixo neo utilizado mostra-se mais adequado para designá-la pois remete à sua recente formação institucional e ao caráter inovador do movimento pentecostal. De acordo com MARIANO (1994:33), o termo neopentecostal já foi cunhado há vários anos nos Estados Unidos: “Lá [nos EUA], na década de 1970, ele designou as dissidências pentecostais das igrejas protestantes, movimento que posteriormente foi nomeado de carismático. Como deixou há muito de ser empregado nas tipologias norte-americanas, não confunde, nem atrapalha nossa tarefa de classificação”.
A vantagem dessa maneira de colocar ordem no campo pentecostal é que ressalta, de um lado, a versatilidade do pentecostalismo e sua evolução ao longo dos anos e, ao mesmo tempo, as marcas que cada igreja carrega da época em que nasceu, por isso é possível historicizá-las, contextualizá-las. À cada época histórica, uma forma distinta de religiosidade popular. Página - 15
O pentecostalismo seria a expressão religiosa de uma sociedade periférica marcada pela exclusão contínua de pessoas aos bens de consumo de uma sociedade por excelência consumista? Algumas das principais características das igrejas pentecostais da primeira e da segunda onda, são também válidas para as da terceira onda, tais como, antiecumenismo, anticatolicismo, líderes fortes e carismáticos, uso de participação na política partidária, pregação da cura divina. Mas as igrejas neopentecostais apresentam marcas próprias, que, em nossa opinião, são quatro:
a) exacerbação da guerra espiritual contra o diabo e seu séquito de anjos decaídos; b) pregação enfática da Teologia da Prosperidade, rompendo com o sectarismo e ascetismo puritano diante do mundo (as igrejas neopentecostais não negam o mundo, muito pelo contrário, acreditam que o mundo é o local para demonstrar o poder de Deus, através da prosperidade); c) liberalização dos estereotipados usos e costumes de santidade; d) a administração da igreja se dá de forma empresarial. Exatamente por possuírem estas quatro características que é possível classificá-las como neopentecostais. Ou seja, nem toda a denominação religiosa pentecostal criada a partir de 1980 é neopentecostal. Mas toda igreja neopentecostal fora criada a partir de meados dos anos 1970. De acordo com MARIANO (1999:36-37), “Enquanto as duas primeiras ondas pentecostais não apresentam diferenças teológicas significativas entre si, verifica-se o oposto quando se compara o neopentecostalismo às vertentes precedentes. E é com base nas distinções apontadas que o neopentecostalismo está sendo caracterizado enquanto tal. Fica claro, portanto, que, além do corte histórico-institucional em ondas, as diferenças teológicas e (em parte decorrentes dessas) as comportamentais (abandono do ascetismo intramundano) e sociais (diminuição do sectarismo) compõe os critérios adotados para classificação do neopentecostalismo. Tendo em vista tais critérios, verifica-se que o neopentecostalismo não é definido isoladamente nem em si ou por si mesmo. Pelo contrário, é construído a partir da adoção de parâmetros relacionais, tendo como referências contrastivas o pentecostalismo clássico e o deuteropentecostalismo”.
Uma das principais marcas destas igrejas é a afirmação do mundo como espaço para demonstração do poder de Deus. Desta forma, o neopentecostalismo “vem promovendo uma radical acomodação à sociedade e aos seus valores e interesses notadamente mundanos” (MARIANO, 1996:124) O que marca a divisão histórico-institucional das duas primeiras gerações de igrejas pentecostais é, exatamente, a existência de quarenta anos de separação entre um e outro movimento. Já com o neopentecostalismo, que surge na sombra do deuteropentecostalismo torna-se necessário frisar as contendas doutrinárias e comportamentais, suas formas arrojadas de inserção social, muito mais agressivas que as adotadas pelas igrejas da segunda onda, e seu ethos de afirmação do mundo. Assim, denominações dissidentes da Assembléia de Deus, por exemplo, fundadas nos anos 1990, podem muito bem representar uma postura doutrinária-comportamental de retorno às origens, de proximidade teológica com suas matrizes. Com isso, tais igrejas não podem ser designadas como neopentecostal e sim uma proximidade muito maior com a forma pentecostal aqui denominada de “pentecostalismo clássico”. Nesta questão Ricardo Mariano é esclarecedor. Segundo ele ao analisar qualquer denominação religiosa não se pode perder de vista as “genealogias e os vínculos institucionais na hora de analisá-las e classificá-las” (MARIANO, 1999:37). Assim, uma igreja para ser considerada como pertencente ao ramo das denominações religiosas neopentecostais deve apresentar as características distintivas dessa corrente. Quanto mais próxima destas características estiver, tanto mais adequado será classificá-la como neopentecostal. (ibid., ibidem). Deve-se ressaltar que, como as outras ondas do pentecostalismo brasileiro, os neopentecostais não possuem uma unidade teológica. Para se ter uma idéia, a Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo é sabatista, ou seja, defendem a guarda do sábado como dia sagrado, destinado a adoração do Senhor, como os adventistas. Tal doutrina provoca reações adversas em quase todos os meios religiosos cristãos. Miguel Ângelo, apóstolo, profeta, televangelista e fundador da Igreja Evangélica Pentecostal Cristo Vive defende a doutrina da predestinação (calvinista), opõe-se ao batismo nas águas, à guerra espiritual e à prática de jejum e de vigília. Mas uma coisa é certa: o poder que o demônio ocupa nestas denominações é tão importante quanto o poder de Jesus Cristo, entretanto, sempre o poder deste é superior e vencerá o poder daquele, o que representa, por um lado a continuidade do universo religioso brasileiro popular que crê na existência do diabo e, por outro lado, representa também uma ruptura a este mesmo universo, na medida em que atribui centralidade ao demônio, força superável somente pelo poder de Deus. A Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja Internacional da Graça de Deus estão entre as denominações neopentecostais de maior renome nacional que dão uma ênfase ao poder do Diabo. Para eles, o demônio não é tão somente a antítese do poder de Deus, o seu arqui-inimigo, mas, sobretudo, a própria encarnação do Mal, uma presença constante e ameaçadora na vida e no cotidiano das pessoas, causador de todos os problemas físicos e mentais. O fiel é visto como uma vítima e somente Página - 16
com o poder de Deus e com a fé é que será capaz de combatê-lo. Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, critica como manifestação demoníaca o ato do fiel cair durante o culto por ocasião de oração, imposição das mãos e até quando soprado, de longe, do alto do púlpito, pelo pastor, como sinal de manifestação do Espírito Santo. Esta experiência extática, foi importada dos Estados Unidos e praticada principalmente pelos televangelistas, tendo em Benny Himm o seu principal praticante e propagandista. No momento da “queda”, o crente é comumentemente amparado por obreiros . Os neopentecostais acreditam que o que se passa na vida terrena é uma cópia do que se passa na vida espiritual. Ou seja, um constante conflito entre o bem e o mau, uma batalha espiritual. Assim, a Guerra não está restrita apenas no campo espiritual, a Guerra é repercutida na terra, no campo da existência material, em outras palavras, a Guerra espiritual não está circunscrita apenas ao duelo entre “Deus/anjos” de um lado e “Diabo/demônios” do outro. De acordo com MARIANO (1999:113), “Os seres humanos, conscientes disso ou não, participam ativamente de uma ou de outra frente de batalha. Agem, cada qual, segundo seu livre-arbítrio. Voluntariamente engajados no lado divino, crêem deter poder e autoridade, concedidos a eles por Deus, para, em nome de Cristo, reverter as autoridades do mal. Isto é, acreditam-se capazes de alterar realidades indesejáveis do ‘mundo material’ por meio de seu vínculo de fé com as forças divinas”.
Assim, todos estão convocados a participarem ativamente da luta entre o bem e o mal. E é aqui que reside um aspecto importante da religiosidade popular, característico das igrejas neopentecostais. Os fiéis deixam a sua postura passiva no culto, para se tornarem “soldados de Cristo”, tomando parte ativa na eterna luta entre o bem e o mal. Neste sentido, temos uma espécie de inversão de postura social, ou seja, o fiel que na sociedade está subjulgado a uma posição subserviente, obedecendo ordens de patrões, adquirem, no ritual neopentecostal, posição de fundamental importância. Assim, o seu “ego” é massageado, em outras palavras, enquanto na sua vida normal/profana, o fiel se sente substituível, na sua vida religiosa/sagrada ele se sente o mais importante dos soldados. Para os fiéis das igrejas da terceira onda, aqueles que não vivem em um mundo similar aos deles estão adorando, mesmo que não tenham noção do que fazem, seus próprios deuses e submetendo-se a eles. Por isso MAFRA (2001:70) afirma que “sua seriedade no enfrentamento do inimigo e sua persistência em um espírito proselitista são a garantia de uma interação com o exterior sem que seu próprio mundo se dissolva. Ou melhor, a atenção e respeito do crente à diferença da sua perspectiva com relação à do não-crente é fundamental para que sua alma não seja capturada pelo inimigo, transformando a si próprio em Inimigo”.
Para os crentes, ainda de acordo com MAFRA (2001:71), a “guerra espiritual é ganha principalmente na defesa de uma certa postura na interação com o Inimigo, sendo especialmente valorizada uma postura firme, serena e autocentrada”. As igrejas desta terceira onda, por sua singularidade, pertencem àquilo que pretendemos classificar como manifestação popular da religiosidade popular. Vamos então justificar a nossa postura, utilizando como objeto de estudo a Igreja Universal do Reino de Deus. Mas antes de mais nada vamos tentar compreender a sua história (e é aí que reside a chave para a compreensão do fenômeno “Universal”).
3 -“FOI UM PRAZER TÃO GRANDE QUE É ATÉ INDESCRITÍVEL. MUITO MAIS GOSTOSO DO QUE O GOZO DE UM HOMEM COM UMA MULHER”. A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS: O FENÔMENO CONTEMPORÂNEO DA RELIGIOSIDADE POPULAR A Igreja Universal do Reino de Deus é o exemplo mais típico de uma organização religiosa ligada à personalidade carismática de seu líder. Sem o gênio empreendedor de Edir Macedo, ela seria incompreensível. Edir Macedo, um obscuro funcionário da LOTERJ (a administradora de loterias do Estado do Rio de Janeiro), nascido a 18 de fevereiro de 1945, de família católica praticante, passou pela Umbanda e Candomblé, pelo pentecostalismo clássico e pelas ondas renovadas do pentecostalismo norte-americano, particularmente pela Igreja de Nova Vida . Em 1975, Edir Macedo junto com Samuel Coutinho da Fonseca e Romildo Ribeiro Soares, fundaram o Salão da Fé ou “Cruzada do Caminho Eterno”, depois Igreja da Bênção e, finalmente, em 09 de julho de 1977, fundam a Igreja Universal do Reino de Deus. Esses três líderes, extremamente personalistas, não puderam permanecer muito tempo juntos. Pouco depois, em 1980, Romildo, ou “R. R. Soares” como gosta de ser chamado, cunhado de Macedo, fundou o seu próprio grupo, a “Igreja Internacional da Graça de Deus”. Edir Macedo chegou ao ponto de afirmar ao jornalista Morris Kachani, em entrevista concedida à Revista Veja (06.12.95), que o seu contato com Deus foi mais prazeroso do que um contato sexual com uma mulher: “foi um prazer tão grande que é até indescritível. Muito mais gostoso do que o gozo [sic] de um homem com uma mulher”. E é um “prazer” que, acredito, sente até hoje, pois ao ouvi-lo no rádio e na televisão é quase impossível não acreditar de que tem, no final, um verdadeiro orgasmo espiritual. Página - 17
Para Macedo, o “encontro” com Deus que aconteceu por volta de 1963, na Igreja Pentecostal Nova Vida, é muito mais forte do que a morte, “mais forte que tudo, seu coração passa a ser só d’Ele. Você não dá para mais ninguém. Eu amo minha mulher, amo meus filhos, o meu coração eu não dou nem empresto à ninguém. É d’Ele. É muito forte. Todas as vezes que oramos, nos comunicamos diretamente com Deus (...) Há momento da busca em que a gente sente o gozo da alegria, mais gozo do que o gozo de um homem com uma mulher [sic]. É mais gostoso do que a mulher. É uma coisa indescritível, uma alegria indizível [sic]. É a coisa mais gloriosa do mundo” .
Inicialmente, os cultos daquilo que viria a ser a Igreja Universal do Reino de Deus, começaram a ser feitos no Coreto do Méier, na cidade do Rio de Janeiro, com o crescimento do número de fiéis, tiveram que mudar de local. A procura de lugares insólitos irá caracterizar o processo de crescimento da denominação fundada por Macedo, que conheceu uma rapidíssima expansão, nos quinze primeiros anos de vida. De acordo com a história oficial da igreja, publicada no seu Web site , Edir Macedo seguiu a ordem emanada por Jesus Cristo a seus discípulos: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” . A primeira pregação oficial da Igreja Universal do Reino de Deus aconteceu no galpão alugado de uma funerária carioca, no bairro da Abolição, em 1977. “Muitas orações e jejuns foram feitos com o propósito de Deus mostrar um lugar nas imediações do bairro para as necessidades da Igreja que crescia muito rapidamente” . E Deus deu o sinal. De acordo com site oficial da IURD, “Uma antiga fábrica de móveis no número 7.702, da Avenida suburbana parecia ser o local ideal. O galpão se tornou o grande templo da Abolição com capacidade inicial para 1.500 fiéis. Logo, foi preciso ampliar a capacidade para duas mil pessoas.
Quando o bispo Macedo alugou o galpão, isto foi considerado um gesto louco, pois o aluguel do imóvel era muito caro. Essa ousadia, entretanto, contribuiu para fazer da Universal o que ela é hoje: uma igreja que não pára de se expandir” . Para o fundador da Igreja, o Bispo Edir Macedo, o crescimento espetacular de sua denominação é resultado direto da interferência divina, um verdadeiro milagre de Deus, que não tem nada a ver com ações humanas. Para ele, o verdadeiro ator de construção e fortalecimento da Igreja é o Espírito Santo: “atribuo à ação do Espírito Santo o crescimento da Igreja. Não se trata de marketing bem feito, boa administração, nem qualquer outra razão humana. É ação do Espírito Santo mesmo!” .
Atribuir a fatores exógenos à vontade do homem, o crescimento de denominações e comunidades religiosas, faz parte, de acordo com CAMPOS (1999:13), do discurso da maioria das organizações que estão fundadas e se legitimam por meio de lideranças carismáticas, por isso, “esperar que a Igreja Universal do Reino de Deus atribua à ‘boa administração’ e ao ‘marketing’ a sua origem, expansão e sucesso seria no mínimo ilógico e incoerente”. O carisma de Macedo é tão forte que Bispos e Pastores, obreiros e evangelistas, fiéis e flutuantes o consideram a própria encarnação do Todo-Poderoso, em todos os sentidos. Acima do bem e do mal. Dentre todas as igrejas neopentecostais, a Igreja Universal do Reino de Deus costuma ser a mais criticada, por uma série de razões: pela exposição constrangedora dos fiéis nos rituais de exorcismo, por invocar os deuses dos cultos afro-brasileiros, pelos insistentes e nada recatados pedidos de oferta, pela utilização de um sistema de magia organizada numa postura sincrética com fenômenos da religiosidade popular brasileira, tais como o uso ritual da arruda, do sal grosso, de água fluidificada, das correntes de oração etc. Mas, acredito que o principal motivo das críticas que a Igreja Universal do Reino de Deus recebe está no fato dela estar apresentando altos índices de crescimento real do seu tamanho, seja ele financeiro ou de membresia. Nenhuma igreja brasileira conseguiu atingir tamanha repercussão em tão pouco tempo de existência. Atualmente, a Igreja Universal do Reino de Deus encontra-se em todos os Estados brasileiros, assim como – segundo alegações próprias e não confirmadas – em 50 países, entre os quais os Estados Unidos, a Espanha, Portugal e Angola. Cinemas desativados, antigas agências bancárias, velhos galpões de fábricas e outros locais, comprados ou alugados permitiram multiplicar os locais de culto. De acordo com Mariano, “em 1998, a Universal estava fundando um templo por dia em média e possuía mais de três mil deles” . O crescimento da igreja também foi acompanhado de seu crescimento financeiro. A IURD possui, além da Rede Record de Rádio e Televisão: o Banco de Crédito Metropolitano (antigo Banco Dime, adquirido por US$ 3 milhões), diversos jornais, e emissoras de rádio, uma agência de Viagens (New Tour), as empresas Unimetro Empreendimentos, Cremo Empreendimentos, uma empresa de processamento de dados (Uni Line), uma construtora (Unitec), uma seguradora (Unicorretora), uma gravadora (Line Records), uma produtora de vídeos (Frame), uma empresa de investimentos com sede nas Ilhas Cayman (Insvestholding Limited), duas editoras gráficas (Editora Gráfica Universal e Edminas, que em Belo Horizonte publica, além de outros impressos, o Jornal Hoje em Dia, de propriedade de testas de ferro de Edir Macedo) e uma fábrica de móveis que faz os bancos da igreja . A década de 1980, a “década perdida” da economia brasileira, foi a “década prodigiosa” para a Universal. Entre 1980 Página - 18
e 1989, ano que a IURD comprou a Rede Record de Rádio e Televisão por US$ 45 milhões (quarenta e cinco milhões de dólares), ela cresceu de forma meteórica. De acordo com Ricardo MARIANO (1999:65), em pesquisa feita na Revista Plenitude, revista oficial da igreja, “em julho de 1980, quando completou três anos, tinha apenas 21 templos em cinco Estados brasileiros. Em 1982, dobrou de tamanho, passando a contar com 46 templos em oito Estados. Em abril de 1983, chegou a 62 templos e alcançou mais um Estado. Em agosto de 1984, avançou para 85 templos em 10 Estados. No mesmo mês do ano seguinte, saltou para 195 templos em 14 estados e no Distrito Federal. Em agosto de 1986, ano em que Macedo se mudou para os EUA, a igreja avançou para 240 templos em 16 Estados. No final de 1987, com 356 templos em 18 Estados, 2 em Nova York e mais 27 ‘trabalhos especiais’ em cinemas alugados, já reunia gente suficiente para promover sua primeira grande exibição de força: lotar o Maracanã e o Maracanãzinho concomitantemente. Até então suas anuais concentrações evangelísticas no Rio de Janeiro eram realizadas (desde 1981) apenas no Maracanãzinho, jamais no estádio. Em agosto de 1988, além de 26 ‘trabalhos especiais’, possuía 437 templos em 21 Estados e Brasília, 3 deles fincado nos EUA e 1 no Uruguai. Em abril de 1989, (...), somava 571 templos”.
Sem dúvida, o seu crescimento é um fenômeno. Mesmo batendo de frente com os setores mais poderosos de nossa sociedade, a igreja Católica e a Rede Globo de Televisão, além de problemas com a Justiça Brasileira e com a Receita Federal, ela continua crescendo. Em um culto de Libertação em que participei recentemente (11 de Janeiro de 2002), o pastor afirmou que o “trabalho de Jesus não pode parar, e já estamos em mais 60 países, evangelizando e salvando almas”. Assim, não adianta tentar explicar o fenômeno Universal partindo da sua imagem que é construída exteriormente. Temos que entendê-la na sua individualidade e interioridade. Neste aspecto, concordo com BONFATTI (2000:04), quando afirma que “uma das abordagens que talvez nos ajudaria a desvendar esta outra lógica seria justamente, a tentativa de compreender a Igreja Universal do Reino de Deus de dentro, a partir de seus próprios valores, concepções ou categorias”.
É na Igreja Universal do Reino de Deus que encontraremos as marcas da religiosidade popular protestante. A massa popular que é oprimida, silenciada, destinada a receber e obedecer ordens, vilipendiada em seus direitos básicos, excluída pelas elites sócio-econômico-cultural dos espaços de convivência e de consumo da pós-modernidade, encontra na Igreja Universal do Reino de Deus exatamente o seu espaço pós-moderno. A nossa hipótese é de que o crescimento da Universal está estreitamente ligado à adequação deste espaço em que ela está situada. Isto se torna claro até em seu nome, Igreja Universal do Reino de Deus. Nome perfeito para um momento de unificação mundial que vivemos (Euro, Nafta, Mercosul, ALCA, Tribunais Internacionais, etc), em que a concepção de Estado Nacional, conforme estabelecida nos séculos XVI e XVII, começa a entrar em crise e dar sinas de putrefação com a universalização cultural e econômica e a quebra das fronteiras através da informação. Para o Pe. João Valle, o público alvo da Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil e nos países hispânicos são os católicos, que, dissolvidos nas grandes metrópoles, perdem a referência religiosa com a Igreja de origem . Seiscentos mil católicos deixam a cada ano a guarda do Vaticano para ingressar no pentecostalismo. Acrescento que não só os católicos são alvos da estratégica proselitista da IURD, mas seguidores das religiões do panteão afro-brasileiro, de outras religiões protestantes e orientais. Ou seja, utilizando um bordão popular, podemos dizer que a Igreja Universal “atira para todos os lados”. A não-exigência de uma vida santa por parte dos fiéis é uma característica marcante da IURD, o que facilita o ingresso e a permanência do fiel na igreja. Como vimos anteriormente, não há uma negação do mundo, como nas igrejas pentecostais da primeira e da segunda onda. De acordo com o Bispo Macedo, “os pentecostais tradicionais fundamentam-se em doutrinas baseadas nos costumes da época de Jesus. Nós, ao contrário, não vetamos nada. Na Igreja Universal do Reino de Deus é proibido proibir. A pessoa é livre para fazer o que bem entende” (BARBOSA, citado por VALLE, 1998:354).
A Igreja Universal do Reino de Deus ao se considerar a verdadeira “Igreja de Jesus Cristo” uma vez que a sua missão é, como já falamos, baseada no Evangelho de Marcos, capítulo 16, versículo 15 , ou seja, ser uma igreja mundial com a tarefa de anunciar o Evangelho a toda a língua e nação, nega legitimidade às outras igrejas como mediadoras para a salvação, classificando-as como demoníacas. Ontologicamente, podemos dizer que a eficácia da Igreja Universal do Reino de Deus só se explica em relação às outras práticas religiosas. A ritualística das Correntes é um exemplo disso. Assim, ao afirmarem o lado demoníaco das mesmas, reafirma-se ao mesmo tempo a necessidade da existência própria da IURD, como a única combatente capaz das mesmas. Por isso, BONFATTI (2001) afirma que “qualquer proposta ecumênica é vista como diabólica e as religiões católicas, afro-brasileiras e kardecista são tidas como enganadoras e representantes religiosas máximas do demônio”.
A capacidade de se adequar ao campo religioso e interpretar a necessidade religiosa da região em que o templo da IURD está instalado é um fator característico de sua estratégia proselitista. Assim, o ataque à Igreja dominante em uma determinada região e às outras menores fazem parte da estratégia proselitista de qualquer religião. Enquanto no nordeste do Brasil, a Igreja Universal do Reino de Deus procura “atacar” o catolicismo popular e as igrejas do pentecostalismo clássico, na Bahia e no Rio de Janeiro, o alvo prioritário são as religiões do panteão afro-brasileiro. No Sul do país, as igrejas Página - 19
protestantes tradicionais de origem européia (devido à imigração) são vistas como adversárias na disputa do “mercado da salvação”. Mas os alvos prioritários em todas as regiões brasileiras são a Igreja Católica e as religiões afro-brasileiras. Mas essa prática não uma exclusividade da Igreja Universal. O próprio cristianismo para se propagar teve de vilipendiar os deuses romanos. Para isso Macedo afirma que quem está ao seu lado é de Deus, quem não é do Diabo. BONFATTI (2001) afirma que “se estamos em plena era do demonismo, estabelece-se uma política de uma guerra santa plena, em que todos os fiéis são vistos e vivem como guerreiros do Senhor. O tempo todo e em tudo que se faz, este aspecto bélico religioso em relação ao mundo está presente”.
É interessante perceber que a IURD, fundada por um ex-umbandista, desencadeou uma guerra espiritual contra a Umbanda, chegando em alguns casos às vias-de-fato e continua empenhada em prossegui-la, ainda que, em decorrência dos processos judiciais e dos inquéritos policiais que sofreu, o faça de modo mais soft e menos visível. Em meados dos anos 1980, o Brasil foi palco de uma guerra santa, com a eclosão de conflitos, ataques e agressões entre membros das religiões afro-brasileiras. O fenômeno, embora de proporção e gravidade infinitamente menores comparados (se é que se pode comparar) à guerra religiosa, política, econômica e territorial travada entre árabes e judeus, protestantes e católicos na Irlanda, conforme classificou a mídia os confrontos entre os praticantes das religiões afro-brasileiras e os fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus que identificavam as divindades da umbanda e do candomblé como demoníacas. É um fato interessante, senão curioso, o embate entre estas frentes religiosas. O Brasil, que é conhecido e reconhecido como um país com forte sincretismo religioso e tolerante em relação às práticas religiosas. Deve-se ressaltar que tal tolerância foi uma construção histórica e só possível em meados do século XX. Apesar de não ser totalmente inesperado, o fenômeno causou estranheza. Afinal de contas, a agressão partia de um grupo religioso bastante cioso da liberdade de culto e religião, e, ainda por cima, no Brasil da “abertura” democrática. Entretanto, após o episódio do “chute da santa” ocorrido em 12 de outubro de 1995, em que o Bispo Sérgio Von Helde literalmente chutou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida exatamente no dia em que os católicos comemoram o sua dia, a Igreja Universal do Reino de Deus vem mudando a sua postura em relação às religiões católica e afro-brasileira. Não se percebe mais invasões de terreiros, admoestações públicas, vilipendio a culto. Sem dúvida, tal episódio, provocou uma fissura permanente na imagem da IURD . Para o Bispo Primaz da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, a principal tarefa da igreja é a Cura Divina, ou seja, servir de pronto-socorro dos acidentados espirituais, causa principal da pobreza e dos males físicos que acometem os fiéis. O Bispo Macedo prega sem nenhum escrúpulo de que a bênção divina é refletida no fiel através da abundância: financeira, de saúde e de felicidade. Eis a essência da Teologia da Prosperidade. Mas para isso é necessário um trato com Deus. E o fiel testa o merecimento dessa bênção ao fazer “apostas” com Deus, na forma das “ofertas em dinheiro”, além do pagamento mensal do Dízimo. Se Deus acreditar na sinceridade do ofertante, dizem os pastores, concederá a graça desejada. Para isso citam a passagem bíblica, onde duas pessoas morrem de forma fulminante quando tentaram enganar Pedro (Apóstolo) acerca do dízimo: “Ora, um homem chamado Ananias, junto com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade, mas, com o conhecimento da mulher, ficou uma parte do dinheiro e depositou só uma parcela aos pés dos apóstolos. Então, Pedro disse ‘Ananias, porque Satanás encheu teu coração, para que mintas ao Espírito Santo e retenhas uma parte do preço da propriedade? Ficando como estava, não permaneceria tua? E vendendo-a, o dinheiro não ficaria teu? Como pôde tal coisa passar por tua cabeça? Não é a homens que mentiste, mas a Deus’. Ao ouvir estas palavras, Ananias caiu morto. Grande temor apoderou-se de todos os que ficaram sabendo. Vieram então os jovens para envolver o corpo e o levaram à sepultura. Umas três horas depois, entrou sua mulher, sem saber do acontecido. Pedro lhe dirigiu a palavra: ‘Foi por essa quantia mesmo que vendeste a propriedade?’ Ela confirmou: ‘Sim, foi’. Pedro replicou: ‘Por que combinastes pôr à prova o Espírito Santo? Olha, os pés dos que enterraram teu marido estão à porta para levar a ti também!’ No mesmo instante, ela caiu morta diante de seus pés. Ao entrarem, os jovens a encontraram morta e levaram-na para sepultá-la junto do marido. Grande temor apoderou-se de toda a igreja e de todos os que ficaram sabendo do acontecido”. (Atos dos Apóstolos, Capítulo 5, versículos do 1 ao 11).
De acordo com Edir Macedo, não é do caráter de Deus deixar de cumprir o que Ele um dia teria prometido. “É dando que se recebe”, afirmaria o Bispo Macedo, baseando a sua afirmação no Evangelho de Lucas, capítulo 6, versículo 38: “daí, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também”. De acordo com Macedo, “A Bíblia tem mais de 640 vezes escrita a palavra oferta. Oferta é uma expressão de fé. Se Deus não honrar o falou há três ou quatro mil anos atrás, eu é que vou ficar mal”. (jornal O Globo, 29.04.1990). Assim, “Temos não mais um ser humano endividado, mas sim, um ‘Deus endividado’. Essa dívida para com Deus começa quando o filho de um iurdiano ainda é um recém-nascido. Para as crianças não há o batismo, mas sim o ‘dízimo mirim’, uma oferta dada pelos pais para garantir o crescimento da criança com Página - 20
saúde e prosperidade” (CAMPOS, 1997:371).
Assim, o “Deus” que emerge das pregações iurdianas é uma divindade escrava de suas promessas, Ele [Deus] tem que cumprir aquilo que prometeu para os patriarcas de Israel: prosperidade e saúde para aquele que é fiel e contribui para a “casa de Deus”. Essa contribuição para a Casa de Deus é composta de duas fontes: os dízimos, que representam a décima parte daquilo que o fiel recebe mensalmente; e de “ofertas de amor”, que são contribuições espontâneas que o fiel dá para a Igreja, geralmente essas ofertas são feitas durante a realização de alguma Corrente. Assim, cumpridas todas as exigências, com muita fé e nenhuma dúvida, o milagre só tem que acontecer. Basta exigir de Deus a realização de tais desejos. Se não der certo, a culpa é do fiel, que deve ter tido falta de fé em algum momento. Para a Igreja Universal do Reino de Deus ser dizimista é pertencer à Igreja de Deus, aquele que não o é, é considerado “ladrão” e, para justificar essa posição teológica, MACEDO (1998:100) se utiliza da seguinte passagem bíblica: “Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda” (Antigo Testamento, Livro de Malaquias, capítulo 3, versículos 8 e 9).
De acordo com CAMPOS (1997:370), “Além do dízimo, o fiel deve dar a Deus tudo o que ele tem de precioso. No caso, o dinheiro e os bens materiais são as coisas mais importantes para o homem na sociedade capitalista. Ao oferecê-los a Deus, o ser humano arranca parte de suas entranhas, principalmente se lhe der tudo o que tem.
Mas, adverte MACEDO (1986:106): “Deus nunca vê a importância que a pessoa traz em seus mãos, mas sim aquela que restou em seu bolso”. Nesta afirmação está a diferença da teologia iurdiana das demais concepções protestantes e pentecostais”. Assim, os pastores argumentam que Deus quer o essencial e não as sobras. De acordo com o Bispo Edir Macedo (CAMPOS, 1997:370), ‘É necessário dar o que não se pode dar. O dinheiro que se guarda na poupança para um sonho futuro, esse dinheiro é que tem importância, porque o que é dado por não fazer falta não tem valor para o fiel e menos para Deus”.
Este forte apelo ao dízimo e às ofertas causa uma certa repugnância às outras igrejas evangélicas. O pastor José Cabral, teólogo da Igreja Universal do Reino de Deus afirma que as ofertas e os dízimos sempre foram uma característica do povo de Deus, e cita a seguinte passagem do Antigo Testamento: “Alguns dos cabeças de famílias, vindo à Casa do Senhor, a qual está em Jerusalém, deram voluntárias ofertas para a Casa de Deus, para a restaurarem no seu lugar. Sendo os seus recursos, deram para o tesouro da obra, ouro, sessenta e um mil daricos, e, em prata, cinco mil arratéis, e cem vestes sacerdotais” (Antigo Testamento, Livro de Esdras, capítulo 2, versículos 68-69)
E continua CABRAL (1997:24), “pode até uma igreja, por sentir-se satisfeita apenas com os dízimos, dispensar a coleta das ofertas, mas essa é uma decisão particular e que não pode ser entendida como uma prática bíblica para a manutenção do culto. Da mesma forma, o procedimento de apenas recolher ofertas no lugar do dízimo é uma atitude peculiar a uma ou outra igreja. As ofertas que acompanham o dízimo revelam a disposição e a responsabilidade do cristão para contribuir com a manutenção e o crescimento da obra de Deus”.
A interpretação das promessas de Deus para com os membros que contribuem fielmente com o dízimo e participam das ofertas, levam pastores da Igreja Universal do Reino de Deus a pedirem uma contribuição maior que o dízimo de 10%, estimulando os fiéis a doarem 20% ou 30%, ou seja, neste caso o dízimo seria divido entre as três pessoas da Santíssima Trindade: Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo (MARIANO, 1995:37). Porém, embora a oferta de todos os bens materiais seja encarada como uma loucura, para quem está na miséria, doente e infeliz, o “pouco não lhe importa, pois, persegue-se o muito que Deus lhe promete através da Igreja Universal” (CAMPOS, 1997:371). Mas o fato de pregar o fato de que o paraíso é aqui e agora, tem conseguido movimentar uma legião de miseráveis, que não se acabrunham diante das vicissitudes da vida, à espera do paraíso de além-túmulo, assim, é entre os pobres que a Igreja Universal do Reino de Deus apresenta um maior índice de penetração, justamente porque se apresentam como capazes de operar o milagre da prosperidade. De acordo com Edir Macedo, a “pessoa quando chega até nós é porque chegou até o fim do poço. E quando ela está lá tende a subir ou morrer. Baixar mais não pode” . A prosperidade sempre foi uma preocupação da Igreja, desde o seu nascedouro, assim, “a primeira campanha de Prosperidade aconteceu quando, certo dia, o então pastor Macedo, ficou preocupado porque o povo não estava sendo abençoado financeiramente. Depois de orar, pediu que alguém escrevesse um pedido e separasse 12 toalhas e 12 bacias com água. Doze obreiros foram escolhidos para Página - 21
ajudar. Essa corrente passou a ser realizada todos os sábados. Na primeira vez, apenas metade do templo ficou cheio. Na segunda a igreja ficou quase lotada e, na terceira, os lugares já eram disputados. As ofertas foram dadas espontaneamente pelo povo e Deus honrou os sacrifícios com bênçãos financeiras” .
A prosperidade financeira na vida de um fiel é vista na Igreja Universal do Reino de Deus como um sinal claro presença do poder de Jesus Cristo na vida do convertido e batizado. Eles ensinam que Deus deseja abençoar os seus tementes de todas as formas, tanto física, quanto espiritual e financeiramente. E baseiam o seu ensinamento na passagem bíblica em que o Apóstolo João, em uma carta a Gaio, afirma: “Amado, acima de tudo faço votos por tua prosperidade, assim como é próspera a tua alma” (3 Jo:2). De acordo com a sua Profissão de Fé, a prosperidade financeira é muito bem vista, além de ser considerada um “direito do cristão”. Senão, vejamos: “Nós cremos que a parte financeira do cristão é tão importante quanto a parte espiritual, até porque se o seguidor do Senhor Jesus não for abençoado financeiramente, de que forma ele poderá dar um testemunho de vida abundante para os que vivem nas trevas? Deus está assentado num trono de glória e Seus filhos devem usufruir dos seus direitos e mostrar com suas vidas a diferença entre aqueles que são de Deus e aqueles que não são! Portanto, a vida espiritual, física e financeira abençoada é, no mínimo, um direito de cada cristão!” . Ainda sobre a prosperidade financeira é interessante ressaltar que a Igreja precisa de dinheiro para fazer a sua obra, pois num “mundo, onde a sociedade estabeleceu o dinheiro por viga-mestra, sem a qual, infelizmente, quase nada pode ser feito, a Igreja também, desde o seu nascimento com o Senhor Jesus, necessita usá-lo para o desenvolvimento de suas atividades quer evangelísticas, quer sociais. Todas as vezes que Deus fala em dinheiro na Bíblia, promete retorno multiplicando e, não fora isso, vemos ser a vontade de Deus abençoar financeiramente o seu povo .
E dá exemplos de homens e mulheres citados por Deus na Bíblia que eram prósperos financeiramente, e que isso não foi nenhum obstáculo para o seu contato com Deus. “Os maiores homens de Deus mencionados na Bíblia foram ricos e prósperos. Adão, Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Davi, Salomão e Ezequias, são exemplos do Velho Testamento. Nicodemos, Zaqueu e José de Arimatéia, no Novo Testamento, foram homens ricos que mantiveram contato com o Senhor Jesus, fora “algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens” (Lc 8.2,). Essas mulheres tinham condições para prestar assistência ao Senhor Jesus” .
O dízimo e as ofertas são, como vimos, as formas pelas quais o dinheiro circula na IURD. Deve-se dizer que o valor monetário do dinheiro dentro da Igreja Universal não é levado tanto em conta, uma vez que para o fiel o que se está dando não são apenas 10% dos rendimentos, quando se trata do dízimo, ou um outro valor quando se tratam das ofertas. O que se leva em consideração é a justificativa bíblica para o ato do dízimo e das ofertas, em outras palavras, o relevante nesta prática é o tamanho do sacrifício. Se o fiel quer uma “obra grande” tem que fazer um “sacrifício proporcional”. Por isso os fiéis não admitem serem chamados de manipulados e coitados. O ato de dar o dízimo e ofertas é plenamente consciente e voluntário. Com este ato estabelecem, esperam, um contrato com Deus. As ofertas, especificamente, adquirem um caráter de barganha com a divindade. Em momento algum, o ato de dar “ofertas”, como vimos o Pr. José Cabral afirmar anteriormente, exclui o fiel da obrigação mensal do dízimo. De acordo com BONFATTI (2001), “na oferta, o dinheiro adquire a conotação de canal de comunicação, de intermediação e barganha com o sagrado, numa forma direta com Deus”. As ofertas são utilizadas nas correntes de fé que a Igreja Universal do Reino de Deus realiza constante e continuamente. Sempre há na IURD uma corrente. As “correntes de fé” são reuniões que acontecem em dias e horários específicos e possuem objetivos determinados. Geralmente, as correntes visam a prosperidade financeira, a quebra de maldições e exorcismos com a consequente a cura, de libertação. Levam nomes de batalhas ou eventos bíblicos, tais como: “Fogueira Santa de Israel”, “Corrente dos 70 homens de Fé”, “Corrente do Monte Calvário”, “Semana de Libertação” entre outros. Quando o fiel começa uma corrente, sabe que ela não pode ser quebrada e que durará um período determinado de tempo, durante várias semanas. De acordo com BONFATTI (2001) “o aspecto simbólico mais contundente da oferta está no fato dela implicar no risco do fiel. Quanto maior a oferta em dinheiro, maior será o risco de sobrevivência de quem a dá, se o fiel se arrisca é porque ele tem fé em Deus. Se tem fé n’Ele a ponto de arriscar sua própria sobrevivência, Ele não irá lhe decepcionar. Estabelece-se assim um pacto coercitivo direto com Deus, em que Ele não poderá ficar impassível diante de uma fé demonstrada desta forma tão evidenciada”. Página - 22
Continua o autor, “No ato da oferta, Deus se transforma em credor do ofertante e terá que honrar seu compromisso com seu filho. Porém, se houver dúvida ou apego do membro nesta hora, o que pode ser ardilosidade do demônio, Deus não o abençoará porque não se está firme na sua fé - o que fecha mais uma vez uma coerência simbólica. Certa vez um pastor disse em uma reunião da igreja: “Fé é fácil de falar que tem... todo mundo fala que tem fé! Quero ver você provar que tem. Não basta ter fé, tem que ser louco! Se você não tiver fé, não adianta nem tentar que vai perder tudo, depois não venha falar que eu não avisei. O que sempre dizem não ‘é dando que se recebe’?”. Neste momento, assiste-se a uma inversão de costumes se levarmos em comparação a promessa católica. A atitude passiva do católico diante da promessa é substituída pela atitude ativa do iurdiano, no caso, diante da oferta. Na IURD, o fiel é credor de Deus, uma vez que já fez a sua parte. Com a promessa na Igreja Católica, acontece exatamente o caminho inverso: o fiel pede ao “seu” santo padroeiro para que interceda perante Deus a solução de sua missiva; passivamente espera com rezas e novenas. O fiel iurdiano, além de estreitar o caminho, uma vez que está em contato direto com Deus, paga, antecipadamente, o pedido que será realizado por Deus, uma vez que Ele não pode deixar de cumprir o que prometeu, sob o risco de ser taxado como mentiroso. Um Deus mentiroso não existe, logo, a realização do seu pedido será concretizada em breve. Edir Macedo chegou afirmar em um programa de televisão que, quando o fiel tem fé e cumpre com todas as “obrigações de um fiel”, Deus já realizou o seu pedido no plano espiritual e que em breve será materializado. Neste aspecto, temos uma aproximação com as práticas dos trabalhos dos cultos afro-brasileiros. Assim, podemos dizer que na IURD, o dinheiro é visto, além destas conotações simbólicas acima, como algo limpo, desprovido de maldição, uma vez que ele é manipulado pelos fiéis como algo que dá prazer e que é bem vindo pois, sofrimento, pobreza e doença fazem parte dos planos do Demônio e não de Deus. De acordo com BONFATTI (2001), “a Teologia da Prosperidade é amplamente pregada nesta igreja, rompe-se com a idéia de que de que sofrimento e pobreza são caminhos para redenção. O paraíso é o aqui e agora e se não está sendo, é porque alguma coisa está errada!”.
Por isso concordamos com GOMES (1996:231) quando afirma que a mola mostra das religiões populares é a idéia de posse. Para ele, as religiões ao afirmarem que “os fiéis devem tomar posse daquilo que é necessário para uma vida feliz” querem transmitir uma mensagem de que a vida humana, conforme a vontade de Deus é aquela em que os homens possuem e desfrutam dos bens do mundo. Assim, “tomar posse, portanto, não significa outra coisa senão realizar aquilo para o qual se está destinado. As coisas são nossas enquanto Deus as fez para nós, para delas fruirmos. Vir a possuir, portanto, significa bem mais uma reintegração de posse, um ter à disposição aquilo que nos é devido por direito de criação”.
Assim, a categoria de posse ocupa um espaço privilegiado dentro da teologia da prosperidade da Igreja Universal. O homem deve ir até o templo da Universal para tomar posse daquilo o Diabo lhe roubou. É claro que, nessa primeira fase da atração não se diz o preço, que será pago por tal recuperação. Porém, embora a oferta de todos os bens materiais seja encarada como uma loucura, para quem está na miséria, doente e infeliz, o pouco não lhe importa, pois, persegue-se o muito que Deus lhe promete através da Igreja Universal Não há uma preocupação escatológica e nesta perspectiva, os filhos de Deus estão destinados a serem prósperos, saudáveis, felizes e vitoriosos em todos os seus empreendimentos terrenos. A questão mais interessante, que reforça esta lógica teológica e simbólica da IURD, é o fato de realmente muitos conseguirem se reestruturar econômicamente, adquirindo um maior conforto e tranqüilidade financeira nunca antes experienciados. Assim, rompe-se com a idéia de que o sofrimento e a pobreza são caminhos para a redenção, tal como pregava as igrejas do pentecostalismo clássico. São nas correntes em que a dimensão sincrética da IURD é mais exposta. O interessante é que, ao negar legitimidade às outras religiões, a Igreja Universal do Reino de Deus utiliza de seus meios de proselitismo ao incorporar em seus ritos, “pontos de ligação” com a cultura religiosa da população brasileira. Ao fazer isso, a IURD e as outras igrejas que adotam tal postura, não só legitimam as outras práticas religiosas, como creditam “poder sobrenatural” a elas. A própria concepção de Corrente se assemelha em muito às novenas católicas. Assim temos nas correntes práticas ritualísticas de “sessões de descarrego para abrir os caminhos e fechamento do corpo”, “benzimento com galhos de arruda”, a invocação das entidades do panteão afro-brasileiro com o fim de exorcismo, distribuição de objetos “benzidos” dotados de poderes divinos como rosas brancas, água com sal grosso, sabonetes, chaves, espadas de plásticos, réplicas da Arca da Aliança etc. Das religiões espíritas ou Kadercistas, a Igreja Universal do Reino de Deus adotou o uso da água fluidificada, que sempre aparece nos programas de televisão da Igreja Universal com o objetivo de “purificar” o ambiente; nos programas de rádio, os locutores pedem para que os fiéis coloquem um copo com água sobre o aparelho para que após a “oração purificadora” a mesma possa servir como uma ferramenta de “Libertação”. Para os fiéis da IURD e de outras igrejas neopentecostal, o copo com água após a oração possui o mesmo poder que a “água benta” da pia batismal dos católicos. Ou seja, ao mesmo tempo que combate as outras práticas religiosas, ela absorve elementos e concepções das mesmas. Página - 23
Mas para se alcançar a tão almejada prosperidade financeira, torna-se necessário, antes de mais nada, que o fiel se liberte dos demônios, através da prática de rituais de Libertação, atingindo dessa forma a cura divina da alma, condição sine-quanon para se atingir a prosperidade. Por isso, o ritual mais importante na Igreja Universal do Reino de Deus é o exorcismo. Toda a panacéia iurdiana está centrada no ritual do exorcismo, uma vez que crêem “ser praticamente impossível a uma pessoa possessa ou influenciada pelos espíritos imundos ter a verdadeira compreensão da vida cristã, motivo pelo qual ministramos primeiramente a libertação, ponto de partida para uma vida cristã normal” (os grifos são meus).
O exorcismo é um ritual que tem toda uma metodologia. Inicialmente, o pastor começa com uma oração conclamando a presença do Espírito Santo na reunião. Alguns começam a dar sinais de histerismo. Gritos se ouvem. Aclamações de “Aleluia”, de “Amém”, de “Deus Maravilhoso, poderoso” entre outras são ouvidas. O pastor, com total controle sobre o seu rebanho, “invoca” os demônios a se manifestarem. Os obreiros ficam andando e orando o tempo todo, com o objetivo de perceber alguma manifestação “diferente” que possa ser caracterizada como demoníaca. Geralmente estes demônios são identificados com o panteão simbólico das religiões afro-brasileiras (pretos-velhos, pombas-giras, exus, caboclos...). Muitas das pessoas chegam a entrar em transe catártico, como o ocorrido na catarse da umbanda e do candomblé. Após a “manifestação” demoníaca, os obreiros “amarram” o demônio e tentam fazer o exorcismo no local em que o fiel se encontra, mas geralmente o cavalo (nome que recebe a pessoa que se diz incorporada por um “espírito”) é conduzido até o púlpito onde os pastores iniciam, formalmente, o “espetáculo” do exorcismo. As cenas vistas são de fazer inveja à qualquer filme hollyoodiano sobre o assunto. A platéia agora se transforma em assistência, gritando “sai! sai!”, “queima!, queima!”, “Glória à Deus!”, assumindo uma postura claramente ativa no ritual. O pastor, geralmente acompanhado de outros pastores (chamados de pastores-auxiliares), pede para que o “espírito” se identifique. Diante da recusa da entidade incorporada, o pastor, conclamando o poder que Jesus Cristo deu para ele e para a Igreja para expulsar demônios, exige que ele se identifique. Neste momento, não resta ao demônio outra alternativa a não ser sua humilhação e dizer o seu nome, uma vez que o poder de Jesus Cristo é sempre superior. Feito isso, o pastor começa a “brincar” com o demônio que, amarrado, insulta o pastor com palavras de baixo calão, provenientes das gírias populares, além de ameaçar de destruição e de morte a vida do cavalo. O pastor começa um interrogatório com perguntas que variam: “quem te mandou aqui?”; “o que você quer com esta pessoa?”; “fale para nós como é o inferno?”; “por que você não gosta da Igreja Universal?”, entre outras. O “demônio” responde a todas as perguntas, aos berros diga-se de passagem, sendo que as mais repetidas estão na descrição do que ele pretende fazer com o seu cavalo, de como é o inferno e porque ele não gosta da Igreja Universal. Neste caso específico, os demônios chegam a afirmar que “não gostam da Igreja porque ela é forte!”. Durante o interrogatório, o pastor joga água benta no cavalo que se contorce todo, dando gritos altos que combinam dor e ódio, tal como numa cena do filme O Exorcista. O interessante é que em todos os rituais sempre “aparecem” vários demônios. O mesmo ritual se repete com todos. Depois de humilhá-los, expulsa-os em “o nome de Jesus”, invocando a autoridade que Jesus deu aos seus apóstolos de expulsarem demônios e fazerem milagres . É interessante ressaltar que as mulheres são as que mais se manifestam . Os fiéis, que saem do ritual de exorcismo, agora libertos, aparentam-se profundamente emocionados e, na maioria das vezes, chorando. Logo após o exorcismo são entrevistados pelo pastor onde relatam como é a sua vida e somente um “milagre” pode ajudá-los a melhorar de vida. Também afirmam que não viram, ouviram ou sentiram nada; que estão se sentido mais leves, algo que não conseguem explicar. A assistência, mais uma vez louva o Espírito Santo, com gritos de “Amém! Amém! Amém Jesus!”, “Aleluia Jesus!” . Mais uma vez, de acordo com CAMPOS (1997:297), “a Igreja é apresentada como a responsável pelo desencadeamento daquela ação e por ter criado condições para a inibição das forças contrárias ao processo de transformação. Por isso é fundamental ‘colocar a fé em ação’ e isso acontece graças a um forte choque retórico. O pastor é o ‘homem de Deus’, encarregado de seduzir o público, despertar esperanças de uma vida melhor, enquanto vai afastando tudo que obstaculariza o progresso do fiel no novo caminho de fé. Para isso ele emprega com energia a deprecação, pedindo, insistindo com ardor para que as pessoas procurem um templo de sua Igreja e assim encontrem a ‘verdadeira felicidade’”.
Com o ritual do exorcismo, mais uma vez a IURD manifesta o seu caráter de religiosidade popular, ao legitimar a presença de demônios – fato recorrente no universo católico português popular (bem contra o mal) que influenciou a religiosidade popular brasileira desde o início de nossa colonização, fortalecido pela entrada das religiões e manifestações religiosas dos negros africanos que chegaram à colônia portuguesa na América como escravos - na vida cotidiana do brasileiro. Laura de Melo e SOUZA (1986:138) chega a afirmar que a dicotomia bem/mal estava enraizada na cultura popular colonial brasileira, assim, “num mundo não racionalizado, tudo podia ser explicado pela ação de forças sobrenaturais: ou Deus, ou o Diabo. Nenhuma delas parecia anormal, e a mentalidade popular aproximava uma da outra. Conforme o cristianismo ia triunfando sobre as reminiscências pagãs e sobre a religião folclorizada os diabos da teologia cristã perdiam a função de ‘forças operadoras de magia’, tornando-se sobretudo tentadores e inimigos Página - 24
de Deus, ‘aqueles que procuram seduzir as almas para arrancá-las de Deus e arrastá-las para o inferno. (...) No catecismo do jesuíta Canisius, o nome Satã é citado 67 vezes, enquanto o de Jesus o é apenas 63(...)”.
A relação com o demônio é fundamental para a Igreja Universal do Reino de Deus; sem a sua presença, a igreja não teria sustentação. Afinal ele (o demônio) é o principal causador de todas as desgraças da humanidade. GOMES (1996:234), chega a afirmar que “do ponto de vista existencial, pode-se, portanto, afirmar que a vida humana no mundo é incessantemente cercada de demônios, cujo interesse exclusivo é desviar os mortais da divindade”. Assim, a guerra contra o diabo assume feições nunca antes ministrada pelas religiões populares brasileiras. “Na prática, porém, o que sempre importou e ainda importa é quem mais interfere nos interesses do indivíduo na vida cotidiana, se o deus [sic] teoricamente ‘supremo’ ou os espíritos e demônios ‘inferiores’. Se são os últimos, então a religiosidade popular está determinada sobretudo pela relação com estes, independentemente de como se apresente o conceito oficial do deus da religião racionalizada” (WEBER, citado em MARIANO, 1999:112. Os grifos são meus).
Assim, a Igreja Universal aproxima-se do universo cultural brasileiro que trata a questão do mal de forma emocional não-racional, assim “a IURD se aproxima da nossa cultura, mais uma vez ligando-se a matriz religiosa brasileira de uma forma sincrética, trazendo o mal e o demônio para o cotidiano de seus rituais e concepções. Ela rompe radicalmente com estes artifícios teológicos e filosóficos que lidam com o mal. Aliás, tudo que é racional ou intelectual não é muito bem aceito por esta igreja, já que a única dimensão verdadeira é a bíblica e a única verdade é Jesus Cristo” (BONFATTI, 2001)
A conseqüência do exorcismo é a cura divina, que na Igreja Universal do Reino de Deus adquire uma força central juntamente com o ritual do exorcismo. Para o Bispo Edir Macedo, “é incrível o número de pessoas que consultam os médicos, cheias de doenças e ouvem a tradicional frase: ‘pode ficar tranqüila e sossegada’. Algumas teimam e fazem exames, porém estes também nada acusam A explicação do médico é aquela de sempre: mania de doença, impressão, etc. Alguns chegam a encaminhar seus clientes a um psiquiatra.
Afirmo categoricamente que todas as pessoas possessas têm algum enfermidade, doença ou dor. Ao ‘descansarem’ nos corpos das pessoas, os espíritos demoníacos contamina-os, fazendo com que o sofrimento físico tome conta da pessoa. Existem algumas doenças que caracterizam a possessão. Durante os anos do meu ministério, tenho que notado que os sintomas são sempre os mesmos” . Assim, o líder da Igreja Universal lista uma série de sinais que auxilia o fiel a descobrir se está ou não “endemoniado”, ou seja, possuído por espíritos obsessores. Os sinais, totalizando dez, são os seguintes: 1 – Nervosismo; 2 – Dores de cabeça constantes; 3 – Insônia; 4 – Medo; 5 – Desmaios ou ataques; 6 – Desejo de suicídio; 7 – Doenças que os médicos não descobrem as causas; 8 – Visões de vultos ou audição de vozes; 9 – Vícios; e 10 – Depressão.
Dada à trivialidade de alguns desses sinais, podemos dizer que a maioria esmagadora das pessoas estão possuídas pelo demônio. Os rituais da Igreja Universal do Reino de Deus acontecem todos os dias da semana, seguindo uma ordem, como nas correntes do espiritismo kardecista. A cada dia da semana, um ritual específico para determinado fim. Assim, temos: • Nas segundas-feiras: Corrente da Prosperidade – ligados a problemas financeiros; • Nas terças-feiras: Corrente da Cura Divina. Para todas as doenças que estão sempre ligadas, de uma forma ou de outra, aos demônios; • Nas quartas-feiras: louvor ao Espírito Santo; • Nas quintas-feiras: Corrente da Família – ligada a problemas familiares com os filhos, e problemas conjugais; • Nas sextas-feiras: Corrente da Libertação – é o grande dia de exorcismos. Neste dia há mais manifestações demoníacas e a quantidade de exorcismos é maior. • Nos Sábados: Louvor e agradecimento. Geralmente nos sábados há a Corrente do Amor, quando as oraPágina - 25
ções se revertem para aqueles que procuram um (a) companheiro para sua vida. • Nos Domingos: é o dia Família. Dedicado ao culto de adoração ao Espírito Santo.
Apesar da sexta-feira, ser o dia de libertação, há manifestações demoníacas todos os dias de culto, que ocorrem, no mínimo, três vezes ao dia (09:00 horas, 15:00 horas e 19:00 horas). É sintomático a escolha da sexta-feira para a libertação, uma vez que é também neste dia que as religiões afro-brasileiras fazem os seus cultos com exus (considerados a encarnação do próprio Diabo) e os despachos são colocados nas encruzilhadas. Temos aqui, mais uma característica do sincretismo religioso popular que a Igreja Universal do Reino de Deus adota. Preocupada em conseguir respeitabilidade confessional a IURD logo procurou institucionalizar a sua prática, ritual e o seu credo de fé. A Igreja Universal do Reino de Deus segue os mesmos princípios doutrinários das demais igrejas evangélicas pentecostais, “diferenciando apenas em alguns costumes e dando ênfase a alguns aspectos do ministério de Senhor Jesus Cristo e Seus Apóstolos” . Descrevo a seguir a Profissão de Fé da Igreja Universal do Reino de Deus: “A Igreja Universal do Reino de Deus expressa a sua fé, tendo por fundamento de sua pregação, as seguintes afirmações: 1 – Há um só Deus Vivo, Verdadeiro e Eterno, de Infinito Poder e Sabedoria, Criador e Conservador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Na Unidade de sua Divindade, Poder e Mistério há três Pessoas distintas, de existência Eterna, iguais em Santidade, Justiça, Sabedoria, Poder e Majestade, a saber: Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo. 2 – O Deus-Pai foi o Primeiro a manifestar-se ao homem, desde Adão, até ao nascimento do Senhor Jesus Cristo, para lhe trazer a Lei o os Mandamentos. 3 – o Deus-Filho, o Senhor Jesus Cristo, que foi o Segundo a manifestar-se ao homem, nasceu no ventre da Virgem Maria, por obra e graça do Espírito Santo. Ele que é a Palavra encarnada do Pai, tomou a natureza humana, reunindo assim duas naturezas inteiras e perfeitas; a Divina e a humana, para ser conhecido por verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, que sofreu, foi crucificado, morto e sepultado, reconciliando-nos assim com o Deus-Pai, fazendo a expiação pelos nossos pecados e nos garantindo a cura e a libertação de todos os nossos sofrimentos. O Senhor Jesus Cristo verdadeiramente ressuscitado dentre os mortos, e tomou outra vez o seu corpo original, com todas as coisas pertencentes à perfeição da natureza humana e subiu ao céu. Ele assentou-se à direita do Deus-Pai, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos. O profeta Isaías falou a Seu respeito quando disse: “Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores e que sabe o que é padecer; e como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso. Certamente ele tomou sobre si nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi transpassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53:3-5) 4 – A manifestação da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, o Deus-Espírito Santo, é feita no coração humano para convencê-lo do pecado, da justiça e do juízo. Quando cometemos algum deslize, então Ele logo mostra por meio da nossa consciência que pecamos e permite o nosso arrependimento. Ele procede do Deus-Pai e do Deus-Filho e leva o ser humano a ter um encontro real com o Senhor Jesus; opera a santificação no seguidor do Filho, guia a Igreja, dá condições para que o cristão tenha o seu caráter e, para que ele faça o mesmo e muito mais que o Seu Filho fez durante o Seu ministério terreno, conforme as próprias palavras do Senhor: “Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço, e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai” (João 14.12). 5 – A Bíblia é a palavra de Deus, foi escrita por homens divinamente inspirados. Ela é o padrão infalível pelo qual a conduta humana e as opiniões devem ser julgadas. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3.16,17). 6 – A justificação do homem somente se realiza pela fé no Senhor Jesus Cristo, pelo que está escrito: “Todavia, o Meu justo viverá pela fé, e: Se retroceder, nele não se compraz a minha alma” (Hb 10.38). Significa que todas as obras assistenciais, embora sejam muito importantes dentro do cristianismo, todavia elas jamais poderão conduzir o homem à salvação. 7 – O batismo com o Espírito Santo é um ato da graça de eus; é uma experiência adquirível pela fé apropriada da parte daquele que deseja a purificação e santidade em sua vida. Esse batismo é realizado pessoalmente pelo Senhor Jesus e tem por real evidência a transformação do caráter humano pelo caráter de Deus além das línguas estranhas. 8 – O batismo nas águas por imersão, em o Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, não por meio exclusivo de salvação, mas feito parte dela. O batismo nas águas é um ato de profissão de fé público com vistas ao sepultamento do corpo do pecado ou da natureza pecaminosa para se viver em novidade de vida. Após o batismo nas águas é preciso acontecer obrigatoriamente uma mudança de vida, ou seja: o batizado jamais deve ter os mesmos hábitos errados de antes, tais quais: vícios, gênio ruim, egoísmo, prazer em agir mal, em discordância do caráter de Deus etc. Página - 26
9 – Todos os nove [sic] dons do Espírito Santo são perfeitamente para os nossos dias também, feito partes integrantes da obra expiatória do Senhor Jesus Cristo. Com respeito a dom de profecia nós temos visto o grande engano que o diabo e seus demônios vêm espalhando entre os cristãos sinceros e desavisados. Muitas pessoas têm perdido até a salvação por terem sido iludidas por “profecias” que jamais saíram da boca de Deus; casamentos têm sido feitos e casamentos têm sido desfeitos por intermédio de profecias. Daí a Igreja Universal do Reino de Deus adota o sistema de fundamentar a sua fé exclusivamente na Palavra de Deus escrita, isto é: a Bíblia Sagrada. SE por acaso, alguém disser alguma profecia, então o testemunho dela deve ser bem investigado não apenas na igreja, mas sobretudo na sua casa e trabalho. Além disso, deve-se esperar que aquela profecia se cumpra para então se acreditar nela. Isto tudo ainda não confirma ser aquele cristão é um profeta (sic), pois os dons do Espírito Santo pertencem somente à Ele; e Ele usa aqueles cujas vidas são um exemplo dentro de suas respectivas casas, trabalhos e igrejas. Por uma questão apenas de zelo e cuidado nós temos preferido deixar que o Espírito Santo apenas nos fale pela Sua Palavra e até hoje isso tem dado certo, pois a Igreja Universal tem crescido em todo o mundo e sustentada somente pela Bíblia Sagrada. 10 – a Santa Ceia é a cerimônia mais importante do cristianismo. Ela não é apenas um símbolo da participação do corpo e do sangue do Senhor; ela realmente é uma participação física de um Senhor espiritual com a finalidade de fortalecer a Igreja física e espiritualmente, relembrando a morte do Senhor até que Ele venha. Além disso, a Santa Ceia serve par uma renovação dos votos de aliança com Deus por meio do sangue do Senhor Jesus. 11 – Os dízimos e as ofertas são tão sagrados, tão santos quanto a Palavra de Deus. Os dízimos significam fidelidade, e as ofertas o amor do servo para com o Senhor. Não se pode dissociar os dízimos e as ofertas da obra redentora do Senhor Jesus, significarem, na verdade, o sangue dos salvos em favor daqueles que precisam da salvação. 12 – A Igreja visível do Senhor Jesus é a reunião de todos os cristãos fiéis, unidos uns aos outros na fé e na comunhão do Evangelho, observando os mandamentos do Senhor, governados pelo Seu Espírito, pela Sua Palavra e pelo Seu Nome. 13 – o Senhor Jesus Cristo concedeu autoridade espiritual aos Seus seguidores, não somente para curar os enfermos e expulsar demônios, mas sobretudo levar a Sua palavra com o poder do Espírito Santo a todo o mundo e fazer discípulos. 14 – Todos os cristãos têm o direito à vida abundante conforme as palavras do Senhor Jesus: “... eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”. (João 10.10) 15 – Todos os cristãos devem desejar a volta do senhor Jesus o mais breve possível. A Sua vinda será de improviso, pessoal e pré-milenial, significando que todos os cristãos devem sempre estar preparados para recebê-lo nas nuvens. 16 – O objetivo final de um relacionamento permanente com o Senhor Jesus pela Fé é a vida eterna, a qual Ele prometeu ao todos os que perseverarem até o fim. “Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber a segunda morte” (Ap. 21.8) .
Enfim, concordando com FRESTON (1995:139), podemos dizer que a IURD é a “atualização das possibilidades teológicas, litúrgicas, éticas e estéticas do pentecostalismo”. Mas antes de concluirmos o trabalho, é interessante destacar que o Bispo Edir Macedo, exerce um estreito controle sobre a organização administrativa e eclesiástica da igreja. A diversificação da sua base social que a IURD atingiu em pouco tempo de existência é uma marca significativa da estratégia proselitista da igreja e do controle pessoal que Macedo exerce sobre a mesa, chegando ao ponto de ter o controle absoluto sobre todos os atos dos “caciques” da igreja, evitando as dissensões internas e a saída de bispos e de pastores consagrados. A Igreja Universal do Reino de Deus é governada pelo sistema eclesiástico episcopal , ou seja, verticalizada e centralizada em torno de seu líder carismático, que é uma herança do Pastor McAlister, da Igreja Pentecostal Nova Vida. Sua estrutura de poder chega a ser despótica. A instância máxima de deliberação é o Conselho Mundial de Bispos, seguido abaixo pelo Conselho de Bispos no Brasil e, na base da pirâmide hierárquica, pelo Conselho de Pastores. Contudo, quem realmente detém o poder é o Bispo Primaz Edir Macedo, escudado pelo seu poder vitalício e ancorado no discurso de que o seu mandato é uma determinação divina e que sua autoridade não pode ser questionada. Por esta organização nem pastores, nem igrejas possuem autonomia administrativas, apesar dos pastores deterem grande liberdade de direção dos cultos. As comunidades não têm a liberdade para a escolha dos pastores, estes são indicados pelos Bispos que comandam um Estado e obedecem uma espécie de rodízio e muito menos administram os recursos arrecadados. Os pastores da Universal, seguindo uma tradição pentecostal não possuem formação superior. Geralmente freqüentam um cursinho rápido, de duração de seis meses, ministrado pelo Instituto Bíblico Universal. Tal curso não exige freqüência obrigatória e destina-se tão somente à aplicação prática no trabalho pastoral. A capacidade de promoção na hierarquia eclesiástica da Igreja Universal do Reino de Deus está diretamente relacionada à capacidade de arrecadação de recursos e Página - 27
mobilização de fiéis por parte do pastor. “Os mais bem-sucedidos na coleta financeira e no crescimento da membresia dos templos sob sua direção tendem a obter acesso a programas de rádio, espaço na TV e ter suas reivindicações atendidas. Logo são removidos para dirigir templos maiores.” (MARIANO, 1999:63).
É o próprio Macedo que controla a vida pessoal dos outros bispos e dos pastores mais famosos, exigindo uma postura exemplar. Para Macedo, o pastor que se divorcia, por exemplo, está assinando a sua carta de demissão. Mas para compreender o fenômeno Igreja Universal do Reino de Deus e seu crescimento, precisa-se, também, compreender a construção de sentido que ela tem oferecido explicitamente, que tem sido reconhecido e aceito por seus membros tanto fixos quanto flutuantes. Ou seja, torna-se fundamental compreender que a sua estratégia proselitista . De acordo com CAMPOS (1997:297), a Igreja Universal do Reino de Deus “é um empreendimento religioso, cujo objetivo fundamental é convencer as pessoas da legitimidade e funcionalidade de sua mensagem. A propósito, não teria existido religião, cristianismo, protestantismo, pentecostalismo e nem neopentecostalismo, sem o largo emprego dos atos retóricos persuasivos. Daí ser impossível conhecer bem uma determinada instituição religiosa sem uma avaliação de sua retórica”.
Embora fartos de simbolismos e pródigos em manifestações sobrenaturais, os cultos da Universal caracterizam-se pela simplicidade. Além de simples, sua liturgia é despojada, sem roteiro rigidamente preestabelecido. O pastor tem liberdade, dentro dos parâmetros permitidos pela direção, de determinar o final de todos os cultos. Entretanto devem seguir, à risca, as “Correntes” determinadas pela direção da igreja. A televisão revela-se, nesse momento, o principal meio de comunicação entre a direção da denominação e os pastores. O pentecostalismo, por ser um sistema de comunicação fortemente ‘oral-auditivo’, valoriza a exposição verbal, seja ela um sermão ou um ‘testemunho’. Por isso, um dos pilares fundamentais do proselitismo da Universal é o testemunho de transformação. Baseados em Mc 5:19-20 , os crentes dão o seu testemunho de conversão, exorcismo e cura. A utilização dos meios de comunicação, em uma sociedade de massa, é fundamental para a divulgação de qualquer proposta, seja ela religiosa ou não. Tanto é que, desde o nascimento da Igreja Universal, a utilização destes meios de comunicação é parte essencial da estratégia proselitista da Igreja Universal do Reino de Deus, assim, temos “os planos para a Igreja sempre foram grandes. Já nas pregações realizadas no coreto do Méier, o pastor Macedo costumava dizer que a Universal tinham por objetivo pregar o Evangelho aos quatro cantos do mundo e, para isso, seria necessário usar de meios de comunicação” .
Entretanto, “a centralidade do sermão no culto é uma herança protestante, sustentada por agentes treinados no seminário para pregar. Nas igrejas presbiterianas, por exemplo, não se consagra um novo pastor sem que ele faça o seu ‘sermão de prova’, diante do Concílio que irá consagrá-lo. É fundamental que ele saiba produzir uma peça retórica, que contenha além dos mecanismos racionais, aqueles aspectos emocionais de persuasão. Quando isso ocorre, diz-se que o discurso foi um ‘sermão de muito poder’” (CAMPOS, 1997:305).
Os testemunhos de fé, geralmente seguem uma ordem cronológica: antes do contato com a igreja (“eu era um drogado, entregue no mundo da prostituição”; “o meu casamento era uma desgraça, brigas violentas, desemprego, os meus filhos estavam desorientados”, “eu fui homossexual, tinha AIDS, estava desenganado pelos médicos”) e depois do contato da igreja (“Jesus me libertou, me curou”, “hoje tenho um casamento maravilhoso, meus filhos estão na obra do Senhor, temos uma loja – para honra e glória do Senhor – em que somos os patrões de dezenas de empregados”, “hoje deixei o homossexualismo, estou casado, tenho dois filhos e uma esposa maravilhosa – para honra e glória do Senhor Jesus Cristo – e não tenho mais AIDS, está aqui os comprovantes médicos, o Espírito Santo de Jesus Cristo me libertou. Amém!” ). Seria uma espécie de demonstração da aplicação da temporalidade cristã, ou seja, “antes de Cristo”, “depois de Cristo”, há uma re-elaboração do sentido da vida. Com isso a IURD tenta mostrar que o verdadeiro poder de Deus está na sua igreja. O fiel não tem vergonha do seu passado, uma vez que, por estar endemoniado, o que fez não foi obra da sua livre e espontânea vontade, mas vontade do demônio. Agora, convertido, exorcizado e curado, o fiel faz somente a vontade – para honra e glória – do senhor. Todas as ações futuras serão pautadas por esta vontade. Durante o discurso do fiel que é transmitido pela televisão e rádio, os responsáveis pelo programa realizam estratégicas intervenções, de forma a garantir uma melhor transmissão da mensagem: Jesus opera milagres na Igreja Universal do Reino de Deus. Em outras palavras, utilizando um jargão da própria IURD: “Igreja Universal: onde um milagre espera por você!”. Assim, de acordo com CAMPOS (1997:306) “a coerência no discurso do ‘depoente’, apresentado na mídia da Igreja, é gerada através da intervenção do entrevistador durante a sua tomada na ‘sala de entrevistas’ e depois, na respectiva editoração eletrônica. Durante a entrevista fazem-se perguntas chaves, produzem-se interrupções estratégicas e, insere-se no discurso do entrevistado uma segunda narração, um discurso sobre o discurso do fiel, orientando a ação retórica para a concretização das estratégias de comunicação já delineadas, cuja finalidade é criar o melhor Página - 28
impacto lógico possível no receptor final do discurso”.
Na produção do discurso, ou Testemunho de Fé, a existência do mal é sempre identificado como causador de todos os problemas. De acordo com BONFATTI (2000:93), “a existência do mal sempre foi algo que intrigou e incomodou o homem. Desde a ascensão do cristianismo, com a teologia cristã via Igreja Católica, que o Ocidente vem tentando lidar com esta dimensão. Contudo, parece ainda não ter conseguido avançar em direção a um conforto ou alívio razoável para o homem diante deste grande enigma”.
A ênfase na cura divina e nos rituais de libertação aliada à possibilidade das camadas populares de se incluírem legal e legitimamente no processo de consumo capitalista através da Teologia da Prosperidade e a oposição ao erudito, uma vez que a religiosidade da IURD é utilitária, leva-nos a concluir que a Igreja Universal do Reino de Deus é uma construção típica de manifestação e expressão religiosa das camadas populares.
4 - CONCLUSÃO: “SER OU NÃO SER” Acredito que a sociedade moderna, marcada pela gritante diferenciação social, é uma das causas que levam ao crescimento de formas pentecostais de religiosidade popular. Ao povo, excluído, marginalizado, espezinhado de suas condições mínimas de existência, restam apenas duas alternativas para conseguirem o mínimo de uma sociedade de consumo: consumir. De um lado seguir o caminho da marginalidade, que às vezes é o mais rápido, mas não é eticamente aceitável; do outro lado, acreditarem na possibilidade de um milagre divino que possa garantir o acesso aos bens de consumo. A crença neste segundo caminho se dá através de uma intensa batalha espiritual. Os pentecostais, principalmente a Igreja Universal do Reino de Deus, acreditam que os problemas dos homens são de ordem espiritual, portanto, o remédio deve ser espiritual. Não negam a existência do diabo como força propagadora e causadora do mal. Muito pelo contrário. Defendem, e com veemência, a sua existência. Para um Diabo forte, um Deus mais forte ainda, pois o final do duelo já está posto: Deus sempre vence. Mas para que isso ocorra, é necessário que o fiel acredite no poder de Jesus Cristo, e deposite n’Ele todas as suas esperanças e fé. Esta crença deve ser materializada através das “ofertas”. O dízimo não conta, uma vez que é uma obrigação do fiel repassar para Deus a décima parte daquilo que ele conquistou, que, para o fiel, foi Deus que o concedeu. O que as pessoas querem é consumir. Nem que para isso tenham que recorrer para a ajuda divina. O medo da exclusão e a revolta pela exclusão é o combustível mais apropriado para aglutinar pessoas ao redor de uma pregação, cujo eixo é a promessa de uma reversão divina dessa situação. Em outras palavras, podemos dizer que a saída pentecostal, principalmente a sua vertente neopentecostal, é a expressão genuína da vontade popular de consumir. Em outras palavras. Os neopentecostais não negam o capitalismo, como faziam as Comunidades Eclesiais de Base – CEB’s – da Igreja Católica. Muito pelo contrário. Os neopentecostais querem ser capitalistas. Nos testemunhos de fé amplamente divulgados nos meios de comunicação dessas igrejas, principalmente da Igreja Universal do Reino de Deus, o que mais se exalta são as manifestações do poder do Espírito Santo na vida dos fiéis tirando-os de uma situação de mendicância, de “fundo do poço” para uma situação onde são patrões, possuem inúmeros empregados, carros importados, casas luxuosas. Ou seja, o que se procura nas igrejas neopentecostais é o sucesso capitalista. De acordo com CORTEN, a Teologia da Prosperidade seria uma caricatura de um novo espírito do capitalismo. CAMPOS (1997:373), afirma também que a Igreja Universal prega uma mensagem que mobiliza revoltados e desenganados, que ainda não perderam toda esperança. O caminho é irreversível. Não se pode negar a existência de uma nova ética protestante no Brasil. O pentecostalismo assusta a Igreja Católica, que perdida em meio aos escândalos de pedofilia dos seus padres e bispos, assiste atônita, sem saber o que fazer, o crescimento desta “nova-velha” roupagem religiosa. Esboça-se uma reação com a Renovação Carismática Católica, que está ainda muito aquém da prática proselitista dos neopentecostais. Os pentecostais, principalmente os neopentecostais por terem uma postura mais agressiva, se destacam dos outros protestantes e estão em todos os lugares: escolas públicas e privadas, times de futebol, repartições públicas, associações de bairros, partidos políticos conservadores e progressistas, na Câmara dos Deputados, no Senado Federal, nos governos estaduais e municipais, na magistratura, na Academia, nas Delegacias de Polícia entre outros; possuem bares, casas de Shows, bandas de Rock, de Axé-Music, de Pagode, de Samba; nas propagandas das empresas, mensagens religiosas são transmitidas; camisas com estampas gospel ganham a juventude que não mais tem vergonha de assumirem a sua religiosidade; organizam passeatas e eventos com milhares de pessoas; os programas evangélicos no rádio e na televisão estão assumindo uma dimensão nunca antes vista no Brasil. Na internet, cresce a olhos vistos os web sites religiosos. Em outras palavras, o campo religioso brasileiro está mudando. Não podemos mais ser considerados um país católico, e o Censo 2000, feito pelo IBGE, mostrou isso. Os protestantes estão assumindo espaços vitais para a direção da sociedade. É necessário um aprendizado diferente, tanto do lado católico, quanto do protestante. A nova sociedade brasileira é uma sociedade que em termos de religião é uma esponja, ou seja, um conjunto formado pelas mais diversas formas de manifestação religiosa. Saber conviver com o outro que é diferente do “eu” e respeitar as opiniões são as tarefas que se colocam para a sociedade brasileira. Caso contrário, nos transformaremos em uma Irlanda. Página - 29
Como fazer história do presente é fazer história daquilo que ainda não foi, pois ainda está, não podemos dizer se a Igreja Universal do Reino de Deus continuará a ser, daqui a alguns anos, a expressão religiosa das camadas populares. Se se fosse feita tal afirmação, estaríamos sendo anti-dialéticos, afinal, como dizia Bertold Brecht “o que é, por ser exatamente por ser tal como é, não vai ficar tal como está”.
5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Ronaldo R. M. de. A universalisação do Reino de Deus. Novos Estudos CEBRAP. n.44, p.12-23. mar. 1996. ALVES, Rubens. O que é Religião. 14ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. Coleção Primeiros Passos. ANTONIAZZI, Alberto, MARIZ, Cecília Loreto, SARTI, Ingrid, et all. Nem anjos nem demônios. Interpretações sociológicas do Pentecostalismo. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1996. BÍBLIA SAGRADA DE ESTUDO ESPERANÇA. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 2000. BONFATTI, Paulo. A Expressão popular do Sagrado: uma análise psico-antropológica da Igreja Universal do Reino de Deus. São Paulo: Paulinas, 2000. ________________. Sobre as categorias universais: relevantes aspectos observados na Igreja Universal do Reino de Deus. Extraído do site: http://www.artnet.com.br/~bonfatti/index.html disponível em 15/06/2001 às 15:00 horas. 2001. BURKE, Kenneth. Retórica de la religion. México: Fundo de cultura Econômica, 1975. CABRAL, Pr. José. A Deus o que é de Deus. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Universal, 1997. CADERNOS DO ISER. O pentecostalismo. Rio de Janeiro, 1977. CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, templo e mercado: organização e marketing de um empreendimento neopentecostal. Petrópolis, São Paulo: Vozes, Simpósio Editora/Universidade Metodista de São Paulo, 1997. CESAR, Waldo. Sobrevivência e Transcedência: vida cotidiana e Religiosa no Pentecostalismo. Religião e Sociedade. Rio de Janeiro, v. 16, nº 1 e 2, 46-59, novembro de 1992. ____________ e SHAULL, Richard. Pentecostalismo e futuro das igrejas cristãs: promessas e desafios. Vozes/Sinodal: Petrópolis (RJ)/ São Leopoldo (RS), 1999. CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Declaração Dominus Iesus: sobre a unicidade e universalidade da salvífica de Jesus Cristo e da Igreja. Paulinas: São Paulo, 2000. CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A PROMOÇÃO DA UNIDADE DOS CRISTÃOS. Diálogo Católico-Pentecostal: Evangelização, proselitismo e testemunho comum. Relatório sobre a quarta fase (1990-1997) do Diálogo Internacional entre a Igreja Católica Romana e as Igrejas Pentecostais tradicionais, bem como outros responsáveis pentecostais. Paulinas: São Paulo, 1999. (Coleção a Voz do Papa, nº 162). CORTEN, André. Os pobres e o Espírito Santo: o pentecostalismo no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1996. ______________. O ano mil. Tradução Teresa Matos. Lisboa: edições 70, 1992. DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália. Tradução de Joaquim Pereira Neto. São Paulo: Paulinas, 1989. ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano: a essência das religiões. Tradução de Rogério Fernandes. São Paulo: Martins Fontes, 1996. _______________. Tratado de História das Religiões. Tradução de Fernado Tomaz e Natália Nunes. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. ______________, COULIANO, Ioan P. Dicionário das Religiões. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 1999. FONSECA. Alexandre Brasil. A igreja Universal do Reino de Deus: a forma protestante de religiosidade popular. Caderno do CEAS. Salvador, n. 155, 45-61, jan/fev 1995. FRESTON, Paul. Breve História do Pentecostalismo Brasileiro. IN. ANTONIAZZI, Alberto, MARIZ, Cecília Loreto, SARTI, Ingrid, et all. Nem anjos nem demônios. Interpretações sociológicas do Pentecostalismo. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1996. Pp. 67-159. ______________. Uma breve história do pentecostalismo brasileiro: a Assembléia de Deus. Religião e Sociedade. Rio de Janeiro, v. 16, nº 03, 104-129, maio de 1994. Publicação do ISER. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. _______________. Nova luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro: JZE, 2001 GONZALEZ, Rev. David Fonseca. El Pentecostalismo en Cuba. Documento eletrônico, encontrado no site: http://www.geocities.com/ CapitolHill/Congress/2866/his-cuba.html, disponível no dia 12/03/1999. GOUVEIA, Gualberto L. N. Xô Satanás!!! Mas afinal o que é Satanás? Cultura Vozes. Petrólpolis, n.90, n.2, p.20-31 mar./abr. GUREVITCH. Aron I. As categorias da Cultura Medieval. Trad. João Gouveia Monteiro. Lisboa: Caminho, 1990. HERMANN, Jacqueline. História das Religiões e Religiosidades. IN: CARDOSO, Ciro Flamarion, VAINFAS, Ronaldo (org). Domínios da História: ensaios de Teoria e Metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. 329-352. HORTAL, Pe. Jesus (S.J)Um caso singular de pentecostalismo autônomo: a Igreja Universal do Reino de Deus. Teocomunicação. Porto Alegre, v.24, nº 106, 547-559, dezembro de 1994. HUNT, Lynn. A nova História Cultural. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1992. Página - 30
JUSTINO, Mário. Nos bastidores do reino. A vida secreta na Igreja Universal do Reino de Deus. Prefácio de Marcelo Rubens Paiva. São Paulo: Geração editorial, 1995. KACHANI, Morris. Fanático e muito rico: morando nos Estados Unidos há nove anos, Edir Macedo caça fiéis com uma boa oratória, muito senso teatral e um discurso no limite da paranóia. Revista Veja (editora abril). São Paulo, 1421, ano 28, nº 49. 64-75. 06 de dezembro de 1995. LE GOFF, Jacques. O Nascimento do Purgatório. Trad. Maria Fernandes Gonçalves de Azevedo. 2ª ed. Lisboa: Estampa, 1995. __________________ e NORA, Pierre (dir). História: Novas Abordagens. Tradução de Theo Santiago. 4ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995. ___________________________________. História: Novos Objetos. Tradução de Theo Santiago. 4ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995. __________________________________.. História: Novos Problemas. Tradução de Theo Santiago. 4ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995. LIBÂNEO, João Batista e MARTINS FILHO, Miguel. A busca do Sagrado. São Paulo: FTD, 1991 (Coleção Biblioteca de Ensino Religioso). MACEDO, Edir de. Doutrinas da Igreja Universal do Reino de Deus. Rio de Janeiro: Universal, 1999. Vol. II. _________________. A libertação da Teologia. 9ª ed. Rio de Janeiro: Editora Gráfica Universal, 1993. _________________. Doutrinas da Igreja Universal do Reino de Deus. Rio de Janeiro: Universal, 1998. Vol. I. _________________. Doutrinas da Igreja Universal do Reino de Deus. Rio de Janeiro: Universal, 2000. Vol. III. _________________. Orixás, deuses e caboclos: guias ou demônios. Rio de Janeiro: Igreja Universal do Reino de Deus, s/d. MAFRA, Clara. Os Evangélicos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. MARIANO, Ricardo. A Igreja Universal do Reino de Deus: a magia institucionalizada. Revista USP. São Paulo, n.31, p. 120-131, set./nov. 1996. MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1999 _________________. Os Neopentecostais e a teologia da Prosperidade. Novos Estudos CEBRAP. n.44, p.24-44 mar. 1996. MOLLAT, Michel. Os pobres na Idade Média. Tradução de Heloisa Jahn. Rio de Janeiro: Campus, 1989. MOTT, Luiz. Dedo de anjo e osso de defunto. Revista USP. São Paulo, n.31, p.112-119 set./nov.1996. O Globo, 29.04.1990 REIS, José Carlos. A Escola dos Annales: a inovação em História. São Paulo: Paz e Terra, 2000. SOUZA, Laura de Melo e. Deus e o Diabo na Terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade popular no Brasil colonial. São Paulo: cia das letras, 1986. TODOROV, Tzvetan. Os Gêneros do Discurso. Tradução de Elisa Angotti Kossovitch. São Paulo: Martins Fontes, 1980. VAINFAS, Ronaldo. História das Mentalidades e História Cultural. IN: CARDOSO, Ciro Flamarion, VAINFAS, Ronaldo (org). Domínios da História: ensaios de Teoria e Metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. 127-162. VALLE, João Edênio dos Reis. A “Universal”: fenômeno mercadológico x fenômeno religioso. REB – Revista Eclesiástica Brasileira. Petrópolis, n. 58, p. 350-384, jul. 1998. Revista Eclésia. Ano VII, n. 73 Revista Veja de 06.12.95
Página - 31