AÇÃO NA OCUPAÇÃO VICENTÃO Após o conhecimento e o levantamento da Ocupação Vicentão pelos alunos, foi proposta uma ação de Microplanejamento. Os alunos, então se dividiram em grupos, que consistiam em grupo do bazar, responsável pela arrecadação de dinheiro para a ação; grupo do carpete, responsável por planejar e executar a retirada do carpete do primeiro andar do edifício; grupo da cozinha, responsável por mudanças na parte hidráulica da cozinha; grupo do subsolo+5º andar, responsavel por estudos estruturais e elétricos; grupo da creche/ biblioteca, do qual fiz parte, responsável por pensar mobiliários, brinquedos e livros. Escolhi este grupo por ser um trabalho de maior criatividade, por me interessar muito por crianças e educação e pela oportunidade de pesquisar referências nessa área e aprender mais sobre marcenaria.
O PLANEJAMENTO A fase de planejamento consistiu na arrecadação de artigos de vestuário para o bazar, livros para a biblioteca e materiais necessários para o mutirão. Além disso, o gripo da creche/ biblioteca decidiu por uma prévia construção de mobiliários na Escola de Arquitetura, já que concluiu-se que não seria possível fazer tudo apenas nos dois dias de mutirão. O bazar foi divulgado em redes sociais, por meio das quais, amigos e familiares se manifestaram oferecendo doações. Busquei as doações daqueles que não poderiam levar à escola de arquitetura, mas não participei diretamente das vendas do bazar, já que estava participando da produção prévia dos mobiliários.
O PLANEJAMENTO O grupo da creche/ biblioteca se organizou para pesquisar referências e conseguir os materiais. Alguns objetos foram pensados previamente e, a partir das ideias, buscamos os materiais necessários, como é o caso do banco de pneus. Em outros casos, pensamos os objetos a partir dos materiais que já havíamos conseguido. Eu me dispus a ir na fazenda da minha família buscar alguns materiais que pudessem ser úteis, como placas de madeira, engradados de plástico, móveis velhos e portas de armário, que foram levados para a Escola de Arquitetura. Além disso, consegui doações de muitas tintas com uma pessoa conhecida, que também foram levadas para a EA. Alguns materiais não foram usados, mas ao final do mutirão, muitos moradores nos perguntaram se podiam usá-los para resolver demandas individuais ou outras demandas coletivas, o que foi muito positivo.
O PLANEJAMENTO
Materiais organizados na peixaria, Escola de Arquitetura.
A PRODUÇÃO PRÉVIA Na semana que antecedeu o mutirão, meu grupo frequentou a peixaria para a produção de bancos de pneus, bancos de papelão, prateleiras de pallets, bancos de pallet e bancos de madeira. Participei de algumas tentativas que não funcionaram ao final, como uma prateleira de caixotes de madeira presos em um perfil metálico, que não conseguiu se sustentar. Essas situações foram de grande importância para termos a experiência de desmontar e tentar de novo e assim, perdermos o receio de testar coisas novas. Além disso, aprendi técnicas novas com outros alunos, como o banco de pneu e de papelão, além de algumas técnicas de marcenaria e o manuseio de algumas ferramentas que eu nunca tinha usado. Ficou evidente a falta de conhecimento, tanto minha, quanto de outros colegas, sobre a execução das ideias, o que demonstra a enorme distância entre os ensinamentos da academia e as necessidades práticas.
Produção do bancos de pneus
A PRODUÇÃO PRÉVIA
Manuais feitos pelo grupo para explicar o processo de produção do mobiliário, para que eles possam ser replicados
O MUTIRÃO O mutirão começou com o transporte dos materiais e mobiliários para a ocupação. Alguns alunos ficaram na EA, enquanto outros foram para a ocupação, descarregar os materiais. Fiz uma das últimas viagens com o professor Tiago e fiquei na ocupação para o início dos trabalhos.
O MUTIRÃO Quando cheguei à ocupação, junto a algumas crianças que queriam ajudar, fiz os cartazes de organização das tarefas a serem feitas pelo grupo: cortar o drywall, montar o mobiliário, pintar o mobiliário e organizar os livros. A tentativa de incluir as crianças nas atividades foi um trabalho desafiador - já que tínhamos objetivos e prazos bem definidos - mas muito importante, para o aprendizado de se trabalhar em grupo e para que os trabalhos realizados tivessem também o jeito delas.
O MUTIRÃO Novamente, a fata de conhecimento prático, muitas vezes me deixou sem saber “por onde começar”. Dependíamos da disponibilidade dos moradores para ensinar e ajudar, já que alguns deles tem muito mais experiência prática que os estudantes.
Corte das paredes de gesso, ensinado por Wallyson, morador da ocupação.
O MUTIRÃO Após a retirada do carpete, os grupos se uniram para uma lavagem do local onde seria a creche/ biblioteca. Vale ressaltar que a ação de retirada do carpete e lavagem do local mobilizou muito mais moradores que os outros grupos e se configurou em um trabalho de uma grande equipe. As outras atividades contaram com a ajuda de poucos moradores (sempre os mesmos) e a ajuda das crianças que estão sempre em busca de alguma atividade para se ocuparem. Essa situação me deixou muito reflexiva, tanto em relação ao processo de construção da nossa parceria com a ocupação, quanto em relação à prória dinâmica da ocupação, que me parece ter um sentimento de coletividade ainda em construção.
O MUTIRÃO As crianças se envolveram principalmente na pintura dos pallets e caixotes de madeira, como era o esperado. Acredito que essa participação é muito importante no sentido de construção de um sentimento de pertencimento e, como consequência de cuidado com o local.
O MUTIRÃO Os livros foram separados em categorias: infantis, infatojuvenis, adulto, psicologia e didáticos/pré-vestibular. Houve uma discussão acerca da possibilidade de manter os livros trancados em um quartinho perto da creche, já que algumas moradoras estavam preocupadas com a sua possível degradação. Porém, a professora Leta e alguns estudantes as convenceram com a ideia deixar os livros disponíveis e acessíveis para todos. Eu concordo com a ideia de deixar a biblioteca acessível às crianças, mas acredito que seja necessário um trabalho de educação das crianças e um incentivo à leitura, para elas sentirem vontade de cuidar do espaço.
O MUTIRÃO
MONTAGEM COM EXPLICAÇÃO GERAL
O MUTIRÃO
O MUTIRÃO Os últimos detalhes da creche fizeram toda a diferença. Os bichinhos de EVA feitos por uma colega, e os tecidos que levei da minha casa, que estavam esquecidos num armário, deixaram o espaço muito mais vivo e colorido. Um cantinho com uma cortina colorida, um tapetinho e umas almofadas se transformou em um “esconderijo”, um espaço aconhegante e muito convidativo para as crianças.
CONCLUSÃO A entrega do espaço da creche/ biblioteca aconteceu ao final do domingo. Após a colocação dos últimos objetos e mobiliários nos devidos lugares, a professora Leta propôs um momento de “entrega oficial” aos moradores. Neste momento, as poucas crianças que se encontravam perto do local, já estavam brincando e se apropriando das espacialidades criadas. O momento contou com poucos moradores e poucos estudantes, pois muitos já haviam ido embora. O retorno dos moradores e das lideranças dos movimentos foi positivo e os estudantes também falaram suas impressões, dificuldades e realizações. Um ponto interessante a ser destacado na entrega foi o posicionamento de alguns moradores e líderes a partir de falas que demonstravam um entendimento de que arquiteto deveria ser aquele com mais voz no processo de tomadas de decisões, por deter o saber técnico. Essa questão foi debatida junto aos alunos e a professora, na tentativa de que se ficasse claro a importância da troca de saberes e que, as pessoas que vivem o cotidiano do lugar são as que, de fato, conhecem as suas demandas e dinâmicas espaciais.