Entrevista - Thomaz Wood Jr. Thomaz Wood Jr. é professor da FGV-EAESP e sócio da Matrix/Consultoria e Desenvolvimento Empresarial e escreveu o livro "Executivos neuróticos, empresas nervosas", da Negócio Editora. Você dedica seu novo livro a "a todos os profissionais seriamente comprometidos com seu trabalho ... e mais seriamente comprometidos ainda em livrar-se dele". Como autor, você deve estimar que este seja um público bem numeroso, não? Thomaz Wood Jr. - Com certeza! Convivo com executivos, empresários e empregados todos os dias. E o que mais escuto são reclamações e queixas. Do dono da empresa ao estagiário: ninguém escapa! É claro que o trabalho é algo importante na vida das pessoas, mas as relações entre as pessoas e o trabalho, e entre as pessoas e as empresas são marcadas por conflitos e frustrações. Aliás, este foi um dos motivos que me levou a escrever o livro. De certa forma, foi um longo exercício para entender um pouco mais essas relações e essas sensações. Executivos Neuróticos, Empresas Nervosas é uma crítica ao trabalho e às empresas? Thomaz: Em certos aspectos sim, mas o livro não foi escrito com esta intenção. A idéia central foi fazer um contraponto aos best-sellers de gestão, quem pintam um mundo cor de rosa e tem a profundidade de uma poça d´água. Executivos Neuróticos fala de temas variados como liderança, tomada de decisão, MBAs, e também da relação entre o indivíduo e seu trabalho. São temas usuais do mundo corporativo, mas tratados com uma perspectiva que foge do usual. Procurei trabalhar sempre com um ponto de vista crítico, tentando mostrar um pouco do que está nos bastidores da industria do management, que raramente é visto. Ao mesmo tempo, tentei fazer um texto leve, de leitura fácil. O que é exatamente a indústria do management? Thomaz: É uma forma de enxergar um fenômeno, que é a popularização das idéias de gestão e sua aplicação (às vezes de forma absurda) à cultura, às artes, à educação e em muitos outras dimensões da vida social. A industria do management tem como componentes as escolas de administração, as empresas de consultoria e as mídias de negócios. Estes componentes se articulam de forma mais ou menos livre, mas reforçam uns aos outros e estão todos crescendo bastante. É um setor próspero! A industria do management gera produtos e serviços relevantes, mas também aprendeu a explorar a insegurança e o medo de seus clientes, e vive de alucinações e miragens criadas com a sofisticação dos grandes estúdios de cinemas. São as modas gerenciais, os livros de auto-ajuda nos negócios, os cursos e palestras com gurus etc. Você abre um dos capítulos com uma frase do Oscar Wilde - "O mundo pode ser um palco, mas o elenco é um horror". Como isso se aplica ao mundo corporativo? Thomaz: A idéia de que o mundo é um palco não é nova. Aparece em Shakespeare e Cervantes, há 500 anos. A diferença hoje no mundo das empresas é a qualidade dos "roteiros" e dos artistas: um monte de canastrões desempenhando papéis de segunda - ou terceira - categoria. E não faltam primas-dona e celebridades. Estes "artistas" fazem curso para falar em público, aprendem o jargão do momento e vão enfrente, praticando alpinismo corporativo. Mais vale a imagem que a realidade. O importante é parecer dinâmico e empreendedor, estar em dia com as idéias gerenciais e conhecer as pessoas certas. Toda esta "teatralidade" não seria um risco para as empresas? Thomaz: Com certeza. E não só para as empresas. São um risco também para seus funcionários e para os acionistas. É só ver o que aconteceu com muitas empresas ponto-com, que viviam de vapor, ou recentemente com a Enron e com a MicroStrategy. São casos extremos, mas os elementos da tragédia potencial estão em todos os lugares. Alguns capítulos do livro trazem críticas aos programas de MBA. Eles também fazem parte do teatro corporativo? Thomaz: Acredito que o aperfeiçoamento profissional é hoje uma obrigação. Quem não cuidar de si mesmo corre enorme risco. Por outro lado, seguindo essa idéia do teatro corporativo, acho que os MBAs acabam funcionando como uma escola de artes dramáticas onde, mediante uma quantia que não costuma ser modesta, o aspirante a gerente aprende a linguagem, o discurso e os "efeitos especiais". Isso não quer dizer que ele saia mais capacitado, obviamente. Mas que engana bem, engana. E os livros de gestão, que você chama de trash-management? Thomaz: Os livros de gestão constituem outra faceta interessante do mundo corporativo moderno e da industria do management. Há uns 20 anos, era muito difícil achar um livro de gestão. Hoje,