por dentro
mobilidade
COMO OBTER AJUDA PARA VIVER FORA DE CASA Não é fácil chegar a uma cidade desconhecida, longe de casa e da segurança dos pais, carregando uma mala com o que irá ser sua nova vida. Mas, calma, as instituições de Ensino Superior têm obrigação de prover a infraestrutura necessária para que os alunos obtenham condições de continuar estudando.
1 INFORME-SE Como as universidades têm autonomia para gerir seus recursos, cada uma escolhe a maneira como irá distribuir as bolsas de ajuda e seus critérios. Antes mesmo de decidir em qual universidade estudar, é possível pesquisar na internet o que cada uma oferece. De modo geral, elas seguem padrões. Mostramos a seguir como garantir a ajuda necessária para cursar o Ensino Superior.
2 PROCURE A PRÓ-
3 VOCÊ SE ENCAIXA NOS
REITORIA DE ASSUNTOS ESTUDANTIS
CRITÉRIOS DE SELEÇÃO?
A grande maioria das instituições seleciona os bolsistas por critérios socioeconômicos, como o rendimento da família e as condições para pagar uma moradia e para permanecer estudando.
Normalmente, ela é a encarregada da distribuição de benefícios e auxílios aos estudantes. Dependendo da instituição, pode ser também uma secretaria com o mesmo objetivo.
DOCUMENTAÇÃO EXIGIDA Como o critério é socioeconômico, os documentos geralmente são comprovantes de rendimento familiar e o preenchimento de uma ficha de dados pessoais.
CONHEÇA OS DIFERENTES TIPOS DE AUXÍLIO
mario kanno/multi/sp
Os nomes podem variar, mas quase todas as universidades possuem estes auxílios
Bolsa-permanência ou manutenção
Moradia estudantil
Aos estudantes que não têm como se manter, a instituição oferece uma bolsa em dinheiro. Normalmente, para receber o benefício, o aluno deve – além de frequentar as aulas – exercer um trabalho de apoio às atividades acadêmicas por um período, em média, de 12 horas semanais. O trabalho pode ser em projetos de extensão, secretarias ou unidades administrativas. Valor: entre 200 e 400 reais mensais.
A maioria das universidades possui alojamento no próprio campus destinado a estudantes carentes. Quando não há moradia estudantil, muitas vezes é oferecido o auxílio-moradia, que consiste em uma bolsa para ajudar nas contas com habitação. Os valores variam muito, mas, na maioria dos casos, ficam entre 100 e 500 reais ao mês.
De malas prontas Com o Enem e o Sisu, um número crescente de estudantes tem a possibilidade de mudar de cidade ou estado para cursar a universidade Por Bellé Jr.
Auxílio-alimentação Em algumas instituições, essa ajuda é concedida em forma de passes para refeições no restaurante universitário. Em outras, trata-se de um valor em dinheiro, que varia entre 60 e 200 reais, para que o aluno complemente os gastos com comida.
A
o tornar o Enem um vestibular único para ingresso em universidades públicas de todo o Brasil, em 2009, um dos objetivos do Ministério da Educação (MEC) era favorecer a mobilidade dos estudantes universitários por todo o território brasileiro – incentivando-os a sair de casa para estudar em outras cidades, estados e regiões do país. Os oito anos da iniciativa mostram que a estratégia vem funcionando: desde a implementação do Sistema de Seleção Unifcada (Sisu), que permite o uso da nota do Enem para obter uma vaga no Ensino Superior, houve um grande crescimento na chamada mobilidade acadêmica.
32 GE enem 2017
11.mobilidade_JVrev2.indd 32
5/23/17 11:48 AM
MAIS DE UM AUXÍLIO
4 FIQUE ATENTO AO
5 NÚMERO DE BOLSAS
PERÍODO DE INSCRIÇÕES
Com o Sisu, o número de alunos de outras cidades aumentou nas universidades públicas e, consequentemente, as instituições de ensino viram os pedidos de auxílio crescer muito. Várias universidades passaram a não limitar a quantidade de bolsas oferecidas: se for comprovada a necessidade do estudante, a ajuda é concedida. Mas nem todas adotaram esse padrão e, nessas instituições, ganha quem consegue comprovar que precisa mais.
Em várias universidades, assim que o aluno realiza a matrícula, é possível se inscrever para receber uma bolsa-auxílio. O período de solicitação é normalmente no início de cada semestre, mas há instituições que permitem que o estudante faça o pedido em qualquer momento do ano letivo.
As instituições permitem que os alunos obtenham mais de uma bolsa ao mesmo tempo, de acordo com as necessidades de cada um.
6 TEMPO DE ESPERA Depois de realizado o pedido, a ajuda pode demorar um pouco. Algumas instituições esperam até a última chamada do vestibular para selecionar os contemplados. Assim, a espera pode ser de até dois meses. Por isso, algumas instituições decidiram conceder a bolsa de forma retroativa se o pedido for aceito.
7 RENOVAÇÃO DA BOLSA
Auxílio-transporte
Para continuar a receber o auxílio, é necessário renovar o pedido e levar novamente comprovantes de renda. Além disso, muitas universidades exigem que o aluno esteja em dia com suas obrigações acadêmicas, ou seja, que esteja frequentando as aulas e não tenha sido reprovado nas matérias cursadas.
É oferecido por poucas universidades. A ajuda varia conforme o valor do transporte público da cidade, e também se já há ou não desconto dado pelas prefeituras.
Outras possibilidades Há outros tipos de auxílio, como a bolsa-atleta e a bolsa-creche, além de bolsas de extensão e de pesquisa.
Até 2009, o MEC registrava que o percentual nacional de universitários recém-ingressos em estados diferentes dos de origem era de apenas 1%. Em 2010 houve um salto: cerca de 10 mil dos quase 40 mil estudantes que se matricularam em um curso superior pelo Sisu foram estudar fora de seu estado de origem, o que representa uma taxa de mobilidade interestadual em torno de 25%. Em 2015 a taxa de mobilidade caiu para 12,5%. Já em 2016, ano em que mais de 27 mil estudantes migraram de estado para estudar, a taxa de mobilidade subiu para 13,5%. Para o MEC, a diminuição do percentual em relação a 2010 se deve à maior oferta de vagas próximas, o que reduz os deslocamentos.
Saindo de casa
Depois de 2012, com a implementação das cotas para estudantes vindos de escolas públicas e com baixa renda, o perfl dos ingressos mudou. A estudante de 21 anos Larissa Soares Rosa é um exemplo dessa transformação. Natural de Bragança Paulista, interior do estado de São Paulo, ela foi aprovada no vestibular de 2016 e entrou como cotista de escola pública no curso de Administração da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Como os pais não tinham condições de mantê-la em Belo Horizonte, já na matrícula Larissa deu entrada nos pedidos de auxílio para estudantes em situação de vulnerabilidade social, que inclui moradia, alimen-
tação e transporte. Como o processo para ingresso na moradia universitária é burocrático e leva alguns meses, Larissa passou a receber uma bolsa. “Ela me dava direito a três refeições gratuitas no restaurante universitário, 165 reais em vale-transporte e outros 400 para ajudar a pagar aluguel e contas.” A capital mineira é uma cidade cara, e, mesmo dividindo quarto com uma colega, Larissa tinha difculdade para se manter. “O auxílio é fundamental pra mim e pra muitos amigos, que como eu não conseguiriam estar lá sem isso. Mas já pensei até em trancar a faculdade e voltar pra casa, porque às vezes tenho de escolher entre gastar dinheiro com comida ou com uma passagem para GE enem 2017 33
11.mobilidade_JVrev2.indd 33
5/23/17 11:48 AM
mobilidade
por dentro
NOVOS HORIZONTES Veja para onde foram os mais de 27 mil estudantes que se mudaram após garantir uma vaga com o Sisu 2016 Estudantes fora de sua região
Proporcionalmente, Rondônia teve a maior porcentagem de estudantes que foram estudar fora: 84%
NORTE
De 0 a 100
5,4
De 101 a 200
NORDESTE
De 201 a 350 1,3
De 351 a 700 Mais de 700
0,0
7,4
% de estudantes que saem da região
CENTROOESTE
13,3 SUDESTE
52% dos estudantes que foram estudar em Goiás vieram de unidades da federação que não fazem fronteira com o estado. Quase 30% deles vieram de São Paulo
2,4
Algumas unidades federativas do Nordeste têm baixa mobilidade: apenas 2,6% dos estudantes alagoanos e 3% dos sergipanos e paraibanos saíram de seus estados Em números absolutos, Minas Gerais foi o estado que mais recebeu estudantes de fora: 4.820. Apenas 6,9% dos mineiros deixaram o estado para estudar 35% dos matriculados via Sisu em Santa Catarina vieram de fora, enquanto 16% dos catarinenses foram estudar em outros estados. A maioria, 81%, migrou para o Paraná e o Rio Grande do Sul
SUL
13,5%
dos 201 mil matriculados pelo Sisu foram estudar fora do estado de origem
visitar minha família”, conta. Mas as coisas melhoraram e, após dois meses de espera, Larissa pôde se mudar para a moradia da UFMG e seguir recebendo os auxílios alimentação e transporte.
A verba para os auxílios Quando lançou a proposta de transformar o Enem em vestibular para universidades federais, o MEC sabia que, com o aumento da mobilidade pelo país, haveria a necessidade de ampliar os auxílios moradia, alimentação e transporte para os estudantes vindos de fora. Por isso, reforçou o repasse fnanceiro às instituições que aderem ao Sisu, ampliando em 100% os recursos do Plano Nacional de Auxílio Estudantil
(Pnaes) – dinheiro destinado a ajudar na permanência de estudantes de baixa renda matriculados em cursos de graduação nas instituições federais de Ensino Superior que aderiram. Ano a ano, a verba destinada ao Pnaes aumenta. Em 2015 atingiu 895 milhões de reais; e em 2016 chegou a 941 milhões de reais. A previsão para 2017 é de 987 milhões de reais. Ao receber a verba do MEC, cada universidade fca responsável por usar o dinheiro em projetos que ajudem na sobrevivência dos alunos na cidade em que estuda.
Difculdades Mesmo havendo mais dinheiro federal, os estudantes têm difculdades
para receber o auxílio assim que chegam à universidade. A assistência demora, em geral, por causa da burocracia. Há diversas etapas no processo de seleção dos estudantes carentes. As universidades alegam que, para atender todos que realmente precisam, o processo de avaliação dos pedidos leva tempo: envolve o preenchimento de um questionário socioeconômico, apresentação de documentação comprobatória e, em alguns casos, entrevista com um profssional do serviço social. “Eu levei a documentação necessária e passei por várias entrevistas com a assistente social, que conversa bastante com cada um para ver direitinho nossas necessidades. A partir delas, os estudantes
34 GE enem 2017
11.mobilidade_JVrev2.indd 34
5/23/17 11:48 AM
MATRICULADOS VIA SISU Total de alunos matriculados por estado, pelo Sisu “EXPORTADORES” DE ALUNOS Número de alunos que saíram de seus estados
AP
RR
MA
AM
PA
CE PI
AC
TO
RO
Paranaenses espalharam-se por todos os estados do Brasil. O mesmo quase aconteceu com paulistas, mineiros, goianos e paraenses, que só não migraram para Rondônia
DF GO
PR
TOTAL
27.308
MG MS
ES SP
RJ
PR
“IMPORTADORES” DE ALUNOS Número de alunos que cada estado recebeu 0 a 100 alunos 101 a 300 alunos 301 a 600 alunos 601 a 900 alunos Mais de 901 alunos
SC RS
Em números absolutos, Minas Gerais e Paraná foram os estados que mais receberam estudantes de fora. Em termos percentuais, os campeões são Santa Catarina (35%) e Paraná (25%)
são classifcados em quatro categorias de vulnerabilidade, e os que mais precisam são chamados antes”, lembra Larissa. Para que todos os estudantes possam participar da seleção, é preciso esperar até a última lista de chamada, que por vezes só é divulgada após o início das aulas. Algumas instituições adotaram novas fórmulas para ajudar os calouros desde a primeira semana, visando a evitar a evasão de estudantes em difculdade desde o primeiro dia de aula. Os alunos preenchem um questionário socieconômico ao efetuarem a matrícula. Se forem enquadrados nos requisitos, recebem um “auxílio emergencial” para se manter até que o resultado fnal da seleção seja divulgado.
Há universidades que acabaram com a limitação do número de bolsas do auxílio-permanência. A partir da mudança, todos os que comprovarem precisar do apoio fnanceiro passam a receber ajuda da universidade.
Diversidade
Segundo o pró-reitor de assuntos estudantis da UFMG, Tarcísio Vago, as medidas relativas ao Enem e ao Sisu trouxeram um aumento sem precedentes na mobilidade acadêmica, e explica a priorização dos alunos com vulnerabilidade social. “A nossa política não é universal, a UFMG parte do princípio de que a universidade federal é aberta a todos, mas a assistência estudantil tem
MG PR
TOTAL
27.308
mario kanno/multi/sp
Total de matriculados 0 a 600 alunos 601 a 2.900 alunos 2.901 a 5.000 alunos 5.001 a 10.000 alunos Mais de 10.000 alunos
SE
BA
MT
RN PB PE AL
0 a 100 alunos 101 a 300 alunos 301 a 600 alunos 601 a 900 alunos Mais de 901 alunos
um foco, tem um público específco, formado por estudantes em vulnerabilidade socioeconômica.” O aumento da mobilidade acadêmica decorrente do Sisu mudou a realidade das universidades federais e o perfl de seus alunos. Para Tarcísio Vago, as mudanças são benéfcas: “A UFMG fcou mais BR do que MG – hoje temos estudantes de todos os estados brasileiros. Não só a UFMG, mas as federais como um todo agora são mais a cara de um Brasil verdadeiro. Antes ela era preponderantemente branca e de classe média, e o Brasil tem uma população preponderantemente negra, que não tinha condições de ingressar na universidade. Agora tem”. • GE enem 2017 35
11.mobilidade_JVrev2.indd 35
5/23/17 11:48 AM