Expedição marambaia

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z BAURU, DOMINGO, 19 DE FEVEREIRO DE 2017 z

ANO L - Nº 17.114

EXEMPLAR AVULSO R$ 3,00

z NOSSA MISSÃO: PROMOVER A CIDADANIA DEMOCRATIZANDO O ACESSO À INFORMAÇÃO z

NESTA EDIÇÃO, 2.070 CLASSIFICADOS COM MAIS DE 4 MIL OFERTAS Divulgação

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Exercícios físicos contra as drogas

ENTREVISTA DA SEMANA LUIZ FERREIRA MARTINS

O criador da Unesp Prepare a fantasia

Ele também implantou a primeira pós-graduação de odontologia no Brasil. Foi figura-chave no Centrinho, deputado federal e secretário estadual da Educação. Vive em Bauru e relembra sua vitoriosa trajetória.

Ansiedade: mal do século Cerca de 33% da população de todo o mundo sofre com esse problema, informa a OMS.

Criançada adora a folia de Carnaval e ir às matinês.

SER

JC Criança

Entrevista da Semana/Página 10

Saúde

Douglas Reis

De volta aos bons tempos

Pais se unem e criam projeto para filhos brincarem com pés no chão Samantha Ciuffa

‘Agora ou Nunca’ fez a grande festa O bloco desfilou na maior animação, ontem. PÁG. 4

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e um encontro não programado entre pais e mães que buscavam oportunidade de convivência sem amarras com suas crianças surgiu um programa inédito em Bauru que está reunindo pais e filhos para fomentar o “brincar livre” e o contato direto com a natureza, como antigamente. O “Lá vou eu”, um imóvel no Jardim Colonial, com amplo quintal, alugado pelos pais, é um lugar onde as crianças têm contato com a terra e, também, trocam convivências entre brincadeiras e faixas etáPÁG. 12 rias diferentes.

Pais atuam diretamente Show de imagens.

JC Cultura

Bom dia: lembrou de atrasar o relógio?

“Agora ou Nunca” levou milhares de foliões às ruas da zona Sul de Bauru, no final da tarde e noite de ontem, em explosão de alegria

Noroeste espera casa cheia hoje novamente O Noroeste conta com o apoio total de sua torcida, mais uma vez, para seguir embalado na Série A3 do Campeonato Paulista. O jogo é contra o Atibaia, às 10h, no Alfredão. PÁG. 13

Corinthians vence por 1 a 0 PÁG. 14

Palmeiras pega o Linense às 17h PÁG. 15

EM BAURU

Tempo parcialmente nublado com pancadas de chuva. Temperatura estável. PÁG. 22

Marambaia é ‘refúgio’ de aves como no Pantanal Na altura da usina hidrelétrica de Bariri e Boraceia, existe um recanto de alagados e várzeas que é um verdadeiro ‘refúgio’ para aves migratórias, à semelhança, em menor proporção, ao ecossistema do Pantanal do Mato Grosso. O local abriga também outras espécies de animais. Fotógrafos e biólogos promovem expedições. PÁGs. 17 a 19

Pássaros Talha-mar em sobrevoo na área da Marambaia, na região de Bariri e Boraceia

Duas jovens morrem em rodovias Uma delas caiu da motocicleta e foi atropelada; outra colidiu seu carro contra uma defensa metálica.

SELIC - 13%

DÓLAR

COMPRA VENDA 3,083 3,084 3,050

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COTAÇÃO 17/2 POUPANÇA 19/2 - 0,6525% 20/2 - 0,6296%

22°C

Paulo Guerra/Divulgação

Região

34°C OS RESULTADOS DAS LOTERIAS ESTÃO NO SITE DO JORNAL DA CIDADE: WWW.JCNET.COM.BR

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OPINIÃO DESTAQUES ESPORTES

2 REGIONAL 6 BRASIL 13 TRIBUNA DO LEITOR

17 INTERNACIONAL 21 RESUMO 26 CLASSIFICADOS

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e-mail: jc@jcnet.com.br


BAURU, domingo, 19 de fevereiro de 2017 17

Cardeal do Banhado

Freirinha fêmea

Paulo Guerra

Junior Esteves

Região tem ‘refúgio’ de ave migratória igual ao Pantanal Fotos: Paulo Guerra/Divulgação

Localizada na altura do remanso da Usina Hidrelétrica de Bariri e Boraceia, a Marambaia é uma área com alagados e várzea AURÉLIO ALONSO

U

ma imensa área com aves características do Pantanal tem atraído observadores da região de todo o país. Localizada entre os municípios de Jaú, Itapuí e Bariri, o bairro rural Marambaia no passado chegou a ser populoso e teve até uma estação de trem, antigo ramal da Estrada de Ferro Dourado desativada em 1964. Com a construção da hidrelétrica Álvaro de Souza Lima, entre os municípios de Bariri e Boraceia, parte dessa área ficou alagada em 1965 o que fez desaparecer a fauna e a vegetação, mas ao longo dos anos ressurgiu várzeas e brejos com aparecimento de aves migratórias. Entre 10 e 12 de fevereiro, um grupo de fotógrafos de natureza, biólogos composto de mais de 30 pessoas de diversas cidades, promoveu uma expedição a essa região localizada perto de Jaú para divulgar a importância de preservar a área de reserva legal. De acordo com o supervisor de Ensino de Jaú, Paulo Guerra, coordenador do grupo, há três anos é feita campanha para divulgar o local. “Tem muita água, brejo e várzea. Quando chove muito alaga e chega muita ave migratória do Pantanal e do Sul do País, mas infelizmente o local dá sinais de degradação”, cita o professor que, nas horas vagas, tem o hobby de fazer fotos da natureza já com premiação em exposições nacionais e internacionais. Mas a Marambaia encanta tanto para os observadores de aves como para atividades de turismo, o local já é considerado um dos melhores destinos para observação de aves no Estado de São Paulo. A bióloga Martha Argel, de São Paulo, conheceu a área no ano passado e foi a incentivadora da expedição deste ano. “Toda essa área não é natural foi criada quando o reservatório de Bariri encheu. Existe vegetação e até mata ciliar, mas ela surgiu a partir da formação da represa”, conta a bióloga e ornitóloga que, na quarta-feira, estava se preparando para uma viagem à Colômbia onde ia participar de um evento sobre aves. A biólogo explica que a Marambaia é uma grande área úmida que abrange a foz do Rio Jaú até o Rio Tietê, na altura do remanso da Usina Hidrelétrica entre Bariri e Boraceia. Neste local onde há uma avifauna, já foram fotografados o tuiuiú (ave símbolo do Pantanal mato-grossense), colhereiro, cabeça-seca, anhuma, entre outras aves. “Você percebe muito bem a supressão das matas ciliares pela cor do Rio Jaú a montante da Marambaia: é um rio marrom. Essa cor nada mais é do que a terra que foi carregada para dentro do manancial pela água da chuva. Se tem a mata ciliar e vegetação nativa, as en-

Gavião Caramujeiro em pleno voo em flagrante feito na Marambaia, essa é uma das 185 aves que foram catalogadas nessa área rural xurradas são barradas, porque tem a possibilidade dessa água se infiltrar no solo e depositar essa terra antes de chegar ao rio. Quando tem o desmantamento toda essa proteção desaparece”, explica a bióloga. A área tem as mesmas características do chamado Pantaninho existente em Ibitinga. Leia mais nas páginas 18 e 19

Preservação Fotógrafos e biólogos promoveram expedição para defender a preservação do bairro Marambaia

Por do sol na Marambaia

Tuiuiú, conhecido como Jaburu e símbolo do Pantanal mato-grossense, é encontrada na região

Alexandra Orfão

Inseto do gênero Micrathyria


18 BAURU, domingo, 19 de fevereiro de 2017

REGIONAL Alessandra Orfão/Divulgação

Grupo defende a preservação da Marambaia Junior Esteves

AURÉLIO ALONSO

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Marambaia ganhou atenção dos fotógrafos de natureza, ornitólogos e biólogos que visitam o local com frequência nos últimos anos, porque faltam ações concretas para a preservação e há sinais de degradação. Mas não é só isso: o local é um potencial espaço para o turismo ecológico, porém esquecido pelos municípios de Jaú, Itapuí e Bariri. “O jauense mais velho conhece a Marambaia. No passado foi uma área rural bem populosa”, conta Paulo Guerra, supervisor de ensino e fotógrafo de natureza. Ele tem um mapa bem antigo com demarcação da estação ferroviária da Marambaia, o ramal de Jaú-Dourado que foi inaugurado em 1913, partindo de Posto Rangel, no ramal de Bariri, também da Douradense, e chegando à estação de Jaú-Dourado, próximo à estação Paulista. Esse ramal desapareceu em 1964 e o local foi inundado pela represa Bariri no ano seguinte. O engenheiro agrônomo e atual diretor regional da Coordenadoria de Assistência Integral (Cati) em Jaú, João de Almeida Prado, é um dos entusiastas pela preservação da Marambaia. Também conhece o local pelas incursões que faz nos finais de semana para fotografias de natureza, seu hobby preferido. “Vamos sempre à Marambaia para a prática de fotografia e passeio ecológico. Ao longo do tempo, temos visto que essa área não está tendo a atenção necessária para ser preservada e de sustentabilidade. Encontramos muito lixo e nenhum tipo de cuidado. Estamos preocupados com uma área tão linda”, conta Almeida Prado. Conforme a bióloga Martha Argel, a Expedição Marambaia desenvolvida na semana passada foi organizada para dar maior visibilidade a essa região, que até o momento não conta com nenhuma proteção legal. O engenheiro agrônomo da Cati explica que a partir dessa expedição pretende criar mecanismos para a criação de uma unidade de preservação da Marambaia. “Ela pode ser municipal, estadual ou federal. Tem várias modalidades. Assim a área fica protegida por lei”, explica Almeida Prado. A região é formada na foz do Rio Jaú com o Rio Tietê. Com o represamento da barragem de Bariri ficou alagada. “Toda a área de alagamento pertence a AES Tietê (concessionária) por isso ela é responsável pela manutenção das bordas, despoluição e plantio de árvores, mas fora dessa área de concessão há sítios e fazendas de particulares. Também interfere devido a ocorrência de erosão e uso do solo. Então é um trabalho na

Arthur com o pai Gustavo fazem observação na área durante Expedição Marambaia na semana passada Alessandra Orfão

bacia inteira”, afirma o engenheiro agrônomo. O tamanho da área ainda não foi dimensiondo. O grupo pretende fazer o levantamento para demarcar onde fica a área de avifauna. “Não temos os dados, mas para se ter ideia o ponto inicial é do Ribeirão Pouso Alegre até o Rio Tietê numa extensão de cerca de 10 quilômetros, onde há muitos alagados, porque na época de chuva o Rio Jaú transborda e forma os brejos e várzeas. No inverno, vai secando e vem as aves migratórias”, cita.

Porto de Areia no Rio Jaú, localizado na Marambaia

Alagado Quando chove muito cria os brejos e várzeas

Macaco comendo milho é flagrado por fotógrafa em árvore Alessandra Orfão

Borboleta Monarca dá um colorido todo especial ao local Junior Esteves Alessandra Orfão

Junior Esteves

Fazenda Salto São Pedro foi a base da expedição

Freirinha fêmea, Arundinicola leucocephala

Gavião-caramujeiro em galho próximo a um banhado

Junior Esteves

Mãe-da-lua com nome científico de Nyctibius Griseus


BAURU, domingo, 19 de fevereiro de 2017 19

REGIONAL

Incursões nas matas duram um dia Expedição Marambaia ocorreu entre os dias 10 e 12 de fevereiro com participação de fotógrafos, biólogos e jornalistas; no local foi possível captar várias tipos de fotos Fotos: Junior Esteves/Divulgação

AURÉLIO ALONSO

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Expedição Marambaia usou a Fazenda Salto São Pedro para reunir mais de trinta participantes de cidades de Jaú, Bauru, São Paulo, Barra Bonita, Mineiros do Tietê, Americana, Bragança Paulista, Sorocaba e Mairinque. No grupo havia os chamados fotógrafos de natureza e que trabalham com observação de aves, dentre eles Paulo Guerra, João André Almeida Prado, Junior Esteves, Waldete Cesari, Alessandra Órfão entre outros. O JC conversou com Junior Esteves, de Bauru, que desde julho do ano passado descobriu a Marambaia para fotografar. Ele é dono da empresa ClickNatureza.com e esteve junto com Alessandra Órfão fazendo várias fotos. JC - Que tipo de foto você se especializou? Junior Esteves - Na fotografia de natureza, astronômica, macro fotografia e Birdwatching. Desde o primeiro contato com a Marambaia, que foi em julho do ano passado, apresentado por uma amigo de Jaú, me apaixonei por lá. É uma explosão de vida. Rica em avifauna, paisagens e insetos de vários tipos...O que me proporcionou uma experiência completa. JC - Nessas incursões nas matas você fica dias para conseguir fotos de animais e insetos? São tiradas centenas de fotos? Como é o procedimento para fazer as fotos? Junior - As incursões normalmente são na parte da manhã e de apenas um dia. A gente acampa lá e fica uns três dias para aprimorar a experiência, normalmente chegamos a fazer um pouco mais de 100 fotos. Quando as aves estão em voo configuro a máquina no modo de prioridade de velocidade para aves que costumam ficar em galhos e para as macros (insetos), configuro no modo manual e usando sempre que possível o monopé. Outro acessório muito usado é o flash dedicado (uso só do flash em foto de coruja e outros animais em matas fechadas).

Porteira de fazenda na Marambaia possibilita também imagens mais bucólicas, o local é conhecido por possuir mais de 185 espécies de aves Gabriel Bitencourt/Divulgação

de potencial para a observação de fauna, flora, como também grande potencial turístico, porém muito tem que ser feito lá. A área esta sob ameaça, há informações de que existe uma empresa graxeira, que é altamente poluente, para se instalar em uma área de 1 alqueire que foi comprada por uma mineradora, para criação de um porto de areia, por isso que entrei na luta por essa bela e importante área. Divulgação

JC - Dessas fotos que você tirou tem material seu publicado em revista especializada? Junior - Ainda não, mas faço parte do projeto de levantamento da avifauna do município de Bauru, juntamento com outros fotógrafos, projeto do Zoológico de Bauru. Esse projeto resultará na confecção de um guia de aves que será distribuído nas escolas dos município. E também fui convidado para participar de um calendário de uma empresa na cidade de Jaú.

Os fotógrafos, com poderosas lentes, aguardam o melhor momento para fotos em área de alagado

JC - A Marambaia tem potencial para só observação ou turismo? Junior Esteves - Acredito que tem gran-

Bióloga se encantou com a beleza da área

No foco No local também é possível belas fotos de insetos, aves e vegetação Junior Esteves conta sobre fotos da expedição

Na observação também se dá destaque a registrar plantas existentes na área da Marambaia

A bióloga Martha Argel se encantou com a Marambaia depois que visitou no ano passado o local. Autora de vários livros, incluindo os guias Aves do Brasil - Mata Atlântica do Sudeste e Aves do Brasil, Pantanal e Cerrado, ela considera o local como um dos melhores destinos para observação de aves do Estado de São Paulo. O professor Paulo Guerra afirma que a ideia de realizar a Expedição Marambaia partiu da bióloga para divulgar a avifauna riquíssima, que inclui aves características do Pantanal, como tuiuiú, cabeça-seca, água-pescadora, colhereiro e anhuma. Para a reportagem entrevistar Martha foi via WhatsApp antes de ela embarcar para uma viagem à Colômbia onde faria palestra em uma Feira Internacional de Aves. “Desculpe, mas é corrido”, disse. Conforme a professora, o cenário da área onde se insere o baixo curso do Rio Jaú é uma paisagem muito alterada pelo ser humano. “Pode se dizer degradada. As matas e o cerrado que existiam deram lugar a plantações e pastos. Com isso se perdeu uma parte da fauna original da região. Então, quando você percorre ao longo do Rio Jaú nota que a mata ciliar foi muito sacrificada e o ideal seria que se voltasse a plantar novas muda de árvores nessa porção ribeirinha”, citou. A bióloga afirma que essa revegetação proporcionaria a volta de aves e outros animais também. “Essa revegetação é uma questão polêmica em todo o Estado de São Paulo. A maior parte do estado foi toda desmatada. A perda de diversidade é espantosa, mas depende de parceria do poder público, parceria e conscientização dos proprietários que os benefícios poderão ter com o aumento da área florestada, principalmente à beira do rio para proteger o lençol freático e de erosões”, declarou Martha.

Fotógrafos registram tudo na Expedição


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