Matéria JC 09092018

Page 1

BAURU, domingo, 9 de setembro de 2018 17

Vendo o céu Observatório da Unesp desenvolve atividade de ensinar a astronomia nas escolas

+ Brasil & Mundo

Fazenda vira observatório do cosmo Museu do Café de Piratininga promove eventos em parceria com a Unesp para observar estrelas e tem até curso de fotografia da via láctea Junior Esteves

AURÉLIO ALONSO

Unesp/Divulgação

O

céu sempre foi um enigma e ao mesmo tempo a explicação para a humanidade. Esse costume dos antigos é feito em eventos que une ciência e aprendizado de fotografia. A Fazenda São João, no município de Piratininga, tem servido de experiência para levar o conhecimento da astronomia básica para as pessoas. Numa parceria com o Observatório da Unesp de Bauru, são realizadas sessões para observar estrelas, planetas, nebulosas e a via láctea. O professor-doutor Rodolfo Langhi explica que a parceria com o Museu do Café possibilitou levar os telescópio para a fazenda por ter menos poluição visual. “É possível visualizar até a via láctea o que não dava no Observatório da Unesp. Também pode ver pelo telescópio aglomerados de estrelas, nebulosas e planetas. Já a lua é praticamente a mesma observação feita em outros locais”, explica. Nesses eventos é levado um telescópio que é instalado em uma carreta. Na última vez cerca de 100 pessoas participaram do astronomia com caldinho. O próximo evento será no dia 22 de setembro, batizado de “Equinócio no Museu do Café”. O dono da fazenda São João, Guilherme do Amaral Carneiro, explica que desde quando criou o Museu do Café no município de Piratininga a concepção não foi de um museu histórico, mas a proposta de divulgação da ciência neste local. No convívio na pós-graduação com o professor Langhi veio a ideia de fazer as observações na zona rural. Em julho deste ano teve os eventos no inverno na fazenda, que incluiu ainda a gastronomia caipira: foi servido caldinho. O museu iniciou as atividades em 2014, mas a atividade de astronomia tem dado certo e atraído um público de 70 a 100 pessoas, embora no local já houve outras atividades como o bazar do museu realizado em 2016 com bastante público e no ano passado houve muitas atividades com escolas. Junto com a observação astronômica também são promovidos curso para fazer fotografias da via láctea com Junior Esteves, que se especializou na região de Bauru em fazer essas fotos de super exposição. Leia mais nas páginas 18 e 19.

Lunetas para observações astronômicas Junior Esteves

Caldinho com astronomia foi na fazenda

Ciência Proposta do Museu do Café da Fazenda São João é espaço pedagógica para a divulgação da história, de atividades científicas e de meio ambiente Imagem da via láctea feita com super exposição na fazenda São João, no Museu do Café de Piratininga

Carreta em atividade em Bauru, que percorre a região


18 BAURU, domingo, 9 de setembro de 2018

REGIONAL

Fazenda serve de ‘observatório do céu’ Museu do Café de Piratininga tem servido como local para as pessoas aprenderem astronomia e visualizar nebulosas, via láctea e planetas AURÉLIO ALONSO

A

observação astronômica na zona rural é uma modalidade científica que vem ganhando adeptos e tem sido uma extensão das atividades do Observatório da Unesp, pioneiro na região na divulgação do ensino da astronomia. O Museu do Café de Piratininga na Fazenda São João tem realizado eventos noturnos no período de inverno, incluindo ainda um curso para tirar fotografias da via láctea. O professor-doutor Rodolfo Langhi explica que a parceria com o Museu do Café possibilitou levar os telescópio para a fazenda por ter menos poluição visual. “É possível visualizar até a via láctea o que não dava no Observatório da Unesp. Também pode ver aglomerados de estrelas, nebulosas e planetas. Já a lua é praticamente a mesma observação que é feita em outros locais”, explica. O pouco brilho das nebulosas é muito prejudicado na visualização em outros pontos por causa do excesso de iluminação das cidades. Na área rural é bem mais escuro. Nesses eventos é levado um telescópio, que é instalado em uma carreta. Na última vez cerca de 100 pessoas participaram do “astronomia com caldinho”. O próximo evento será no dia 22 de setembro, batizado de “Equinócio no Museu do Café”. Na astronomia, equinócio é o instante em que o Sol, em sua órbita aparente (como vista da Terra), cruza

o equador celeste (a linha do equador terrestre projetada na esfera celeste). Ele ocorre duas vezes no ano, em março e em setembro. No equinócio ambos os hemisférios da Terra encontram-se igualmente iluminados pelo Sol. “O equinócio começa no dia 22 de setembro no hemisfério sul no período da primavera. O início do verão e inverno é chamado de solstício”, explica o professor. Nesse período, tanto na primavera como no outono, são os únicos dias do ano todo em que o Sol nasce exatamente no ponto cardeal leste e se põe no ponto oeste. De acordo com o professor, nos demais dias do ano, o sol não nasce exatamente no leste dos pontos cardeais. A astronomia tem uma importância para a humanidade. Sem as estrelas, a navegação marítima jamais seria possível e possibilitado as grandes descobertas de novos continentes. Langhi conta que as civilizações mais antigas estudavam a posição das estrelas para saber a época certa de plantio de determinadas culturas agrícolas. Os índios brasileiros sabiam quando era época certa de caça e pesca. Se era fase de chuva, eles sabiam que já estava aproximando esse período. “Eles olhavam para determinadas constelações para saber que estava terminando a época da seca e se iniciava o período chuvoso. Muitos outros povos também tinham esse conhecimento”, conta o professor ao destacar a importância da astronomia.

Carreta com telescópio percorre a região O Observatório Didático de Astronomia “Lionel José Andriatto” da Unesp Bauru tem uma carreta que é destinada para atividades itinerantes e de divulgação astronômica num raio de 100 quilômetros. No dia 8 de setembro esteve na cidade de Duartina. De 2012 até este ano contou com participação de 19.853 pessoas - média anual de 3.309 assinaturas conforme dados do livro de visitas, principalmente estudantes de escolas que tiveram contato com o Observatório. No ano passado foram 6.255 participações. O coordenador do projeto professor-doutor Rodolfo Langhi conta que o Observatório teve sua criação motivada pelos próprios estudantes do curso de licenciatura em física, da Faculdade de Ciências de Bauru, que manifestaram o interesse e motivação para o estudo de conteúdos de astronomia básica. A origem do projeto remonta a 2004, com o surgimento de projetos coordenados pela professora doutora Rosa M.F. Scalvi voltados à

Unesp/Divulgação

Carreta faz parte do Observatório Didático de Astronomia “Lionel José Andriatto”, da Unesp construção de telescópios artesanais, culminando na criação do grupo de astronomia local, no ano seguinte. A concretização da instalação do observatório ocorreu numa parceria com o Instituto de Pesquisas Meteorológicas da Unesp (IPmet), com cessão de um prédio ocioso, que foi parcialmente adaptado para abrigar o Observatório. De acordo com informações do professor Langhi, o Observatório conta com um telescópio Celestron adquiri-

do com verba de órgão de fomento externo à Unesp. Além deste, há mais quatro telescópios artesanalmente construídos com a ajuda de Lionel. Outros dois telescópios foram doados por pessoas do público visitante. Há também um radiotelescópio que estuda faixas de frequências emitidas pela atividade solar. O maior atualmente no Observatório é um telescópio newtoniano de 250 mm de diâmetro (atualmente, finaliza-se a construção de um espelho de

500 mm de diâmetro). Um dos diferenciais deste Observatório, em relação aos demais observatórios do Brasil, cita o professor, é que ele possui uma oficina pública de construção de espelhos, lentes e montagens de telescópios. Além dos telescópios, o Observatório possui um acervo de equipamentos de exposição, materiais didáticos, livros, banners, astrofotografias, pôsteres e outros instrumentos de interesse do público.

Junor Esteves

Fazenda São João tem o Museu do Café, em Piratininga

Objetivo da fazenda é divulgar a ciência O dono da fazenda São João, Guilherme do Amaral Carneiro, explica que desde quando criou o Museu do Café no município de Piratininga a concepção não foi de um museu histórico, mas de divulgação da ciência neste local. Ele faz doutorado na Unesp e sua tese é sobre como deve funcionar um museu de ciência para a educação. A propriedade rural é um empreendimento voltado principalmente ao universo pedagógico, destinado ao público escolar, com visitas agendadas, mas possui ainda outra vertente pedagógica: meio ambiente. É também uma alternativa de turismo rural. Os edifícios da propriedade datam do início do Século XX, com barracões e maquinários de café dos anos 1940 e 1950. Além disso, ele está situado em uma região privilegiada do ponto de vista ambiental. Os morros presentes na Fazenda São João fazem parte da Serra da Jacutinga (continuidade das Cuestas de Botucatu), formando dois afluentes do rio Batalha, que abastece grande parte do município de Bauru. A visita inclui um passeio por uma bela trilha ecológica em meio à Mata Atlântica, com presença de pequenas cachoeiras. A casa sede da fazenda comporta também um espaço de atividades lúdicas para crianças, um empório rural com produtos da roça (produção própria) e uma lojinha de artesanato para servir aos visitantes. A parceria com a Unesp possibilitou levar o Observatório para a fazenda, o local é bom para a luz difusa. “É praticamente ausente lá. Para observações astronômicas quanto mais escuro é melhor. Na cidade a iluminação pública atrapalha muito a visualização de estrelas”, conta. No convívio na pós-graduação com o professor Langhi veio a ideia de fazer as observações na zona rural. Em julho deste ano teve os eventos no inverno na fazenda, que incluiu ainda a gastronomia caipira: foi servido caldinho. O museu iniciou as atividades em 2014, mas a atividade de astronomia tem dado certo e atraído um público de 70 a 100 pessoas, embora no local já houve outras atividades como o bazar do museu realizado em 2016 com bastante público.


BAURU, domingo, 9 de setembro de 2018 19

REGIONAL

Fotógrafo ensina a fazer foto da via láctea Evento de observação astronômica oferece curso para quem quer aprender a tirar fotografia de longa exposição, no Museu do Café, na área rural Fotos: Junior Esteves

AURÉLIO ALONSO

A

s observações astronômicas na fazenda São João de Piratininga ganharam também a participação de uma especialidade: fazer fotos da via láctea. Exige técnica, paciência e conhecimento de fotografia. A via láctea está entre as centenas de bilhões de galáxias do Universo e onde está situado o Sistema Solar. O nome latino – via láctea – deriva da palavra grega “Kiklios Galaxios”, cujo significado é círculo leitoso. Esse conglomerado de pontos luminosos tem aproximadamente 14 bilhões de anos terrestres e contém um objeto central massivo, que acredita-se ser um enorme buraco negro. O fotógrafo Junior Esteves é especialista em fotografia de natureza com participações em concursos internacionais e na região de Bauru e pioneiro na região em fotografar a via láctea. Para visualizá-la é necessário um local que não tem a concorrência de luzes do espaço urbano. A zona rural é o local ideal. Junior Esteves ensina como preparar o equipamento para fazer foto de longa exposição. “Comecei a fazer a foto da via láctea na região e descobri que a fazenda do Museu do Café tem potencial, o local é bem escuro. Esse período é propício para a visualização e coincidiu um evento junto com o Observatório da Unesp. Foi assim que iniciou esse trabalho do curso de fotos com atividade astronômica”, conta. Durante os eventos são feitos cursos para esse tipo de fotografia de longa exposição, que tem algumas particularidades. “A fotografia tem relação de como é feita a abertura de lente com a velocidade de exposição, para não pegar o arrasto das estrelas. Há detalhes a serem observados, mas é uma fotografia de longa exposição feita com câmera em um tripé. O que faz a foto da via láctea ser diferente é a composição artística: só a via láctea é um céu bonito, tem que compor com a paisagem: uma casa, uma igreja, uma lagoa, alguma coisa que vai complementar”, explica Esteves. O ideal nestas fotos é não ter “poluição luminosa”. No Estado de São Paulo as cidades são muito próximas uma das outras, o que dificulta achar um local ideal para fazer essa foto. “Muitas vezes a gente precisa andar bastante para achar um local sem a poluição de luzes. A fazenda mesmo distante da cidade tem ainda uma concorrência de luminosidade. Quando se conhece a técnica é possível fazer a fotografia mesmo quando não está favorável. A poluição luminosa faz você perder os detalhes, principalmente as cores e as luz que emite”, explica. A localização da via láctea é feita com base nos pontos cardeais. Ela nasce no leste e vai se pôr no oeste. A extremidade desse conglomerado de estrelas está entre o sul e o norte. Junior Esteves conta que é possível visualizá-la observando o céu, embora bússola e aplicativo ajudam a posicionar o ponto que ela está. “Há uma parte da via láctea que é mais colorida, extensa. O aplicativo possibilita ver onde está e o que deixa a foto mais bonita”, conta o fotógrafo. Junior Esteves explica que é necessário um bom equipamento, lente grande angular e um tripé, para deixar a máquina estável. A exposição depende da distância focal da lente para determinar qual o tempo de exposição, que deve variar de 15 a 40 segundos. Um detalhe que o fotógrafo destaca é o tratamento final da foto, devido a necessidade de equilibrar as luzes do ambiente com a luzes e detalhes da via láctea. “A própria Nasa faz esse tratamento das fotos, inclusive as tiradas pelo telescópio Hubble. É possível fazer a foto sem o tratamento em computador, mas não vai ter tantos detalhes”, explica.

Fazenda São João no Museu do Café em Piratininga, onde também tem aula de fotografia astronômica João Bispo

Junior Esteves é especializado em imagens de natureza

Fotografia da Via Láctea no Museu do Café de Piratininga


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.