SENEPOL 15 ANOS: GADO CARIBENHO SE DÁ BEM NA CRUZA COM NELORE A P A L AV R A D O C A M P O
globorural.globo.com
Assista na TV a esta reportagem, domingo, 9/8, às 8h; na Globo News, às 9h05
FAÇA VOCÊ MESMO Monte um aerador para seus peixes
ENTREVISTA DELFIM NETTO Crise econômica não contamina o agronegócio
Isabela Pascoal na Fazenda Daterra, campeã do Prêmio Fazenda Sustentável
As fazendas mais sustentáveis do Brasil De bicicleta, Isabela Pascoal percorre as trilhas no cafezal saudável e vistoso da Daterra. Conheça a receita da campeã e das outras duas vencedoras do prêmio
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Com cercas Belgo, seu gado vai precisar de outros planos de fuga. COLHA S E
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SUMÁRIO
AGOSTO 2015
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PECUÁRIA
Rebanho de gado senepol cresce no país motivado pela cruza com o zebu
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83 PRODUTOS FORAM CITADOS NESTA EDIÇÃO: açúcar, açúcar de beterraba, água, álcool, algodão, amêndoa, amendoim, arroz, azeitona, bagre, batatadoce, bezerro, boi, cacau, café, cana, cânhamo, canola, capim, carne bovina, carneiro, cavalo, cebola, celulose, cereja, cerveja, chá, chocolate, codorna, compota, ema,
etanol, eucalipto, farelo, faveira, feijão, fertilizante, figada, frango, fumo, fungicida, galinha, garapa, girassol, goiaba, goiabada, hortelã, inseticida, jegue, laranja, leite, linho, mamona, marmelada, mel , melão, milheto, milho, morango, novilha, noz, óleo, ovo, ovo de codorna, palhada, pão, papel, peixe, pequi, pintinho, porco, queijo minas, raiom, rapadura, sacarina, semente, soja, sorgo, touro, trigo, vaca, vinho, xarope de milho
© FABIO FARTORI/DIVULGAÇÃO
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CIDADES BRASILEIRAS FORAM CITADAS NESTA EDIÇÃO: Água Azul do Norte (PA), Antonina (PR), Ariquemes (RO), Bagé (RS), Barretos (SP), Boa Esperança (MG), Bom Jesus (PI), Bom Princípio (RS), Bonfinópolis de Minas (MG), Brasília (DF), Brotas (SP), Cachoeira Dourada (GO), Camapuã (MS), Campinas (SP), Campo Grande (MS), Campo Verde (MT), Capitólio (MG), Cascavel (PR), Castelo (ES), Colatina (ES), Conceição da Barra (ES), Coromandel (MG), Coronel Macedo (SP), Cubatão (SP), Currais (PI), Esteio (RS), Fortaleza (CE), Foz do Iguaçu (PR), Goiâniaa (GO), Guararapes (SP), Holambra (SP), Jaboticabal (SP), Jataí (GO), João Pessoa (PB), Juiz de Fora (MG), Londrina (PR), Lucas do Rio Verde (MT), Machadinho D’Oeste (RO), Manhuaçu (MG), Monte Carmelo (MG), Montividiu (GO), Muriaé (MG), Muzambinho (MG), Nova Marilândia (MT), Nova Mutum (MT), Nova Odessa (SP), Paranaguá (PR), Passo Fundo (PR), Patrocínio (MG), Pinhais (PR), Piracicaba (SP), Piumhi (MG), Porto Alegre (RS), Quixadá (CE), Ribeirão Preto (SP), Rio Grande (RS), Rio Verde (GO), Rondonópolis (MT), Salvador (BA), Santa Fé do Sul (SP), Santo André (SP), Santos (SP), São Carlos (SP), São Francisco do Sul (SC), São João do Buriti (MS), São João do Manhuaçu (MG), São Paulo (SP), São Pedro (SP), Serra (ES), Sertãozinho (SP), Silvianópolis (MG), Taquari (RS), Uberaba (MG), Uberlândia (SP), Várzea Grande (MT)
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AGOSTO 2015
NESTE MÊS
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ENTREVISTA Delfim Netto, economista e professor, afirma que o agronegócio continua crescendo, imune à derrocada da economia brasileira
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CAPA As campeãs da sustentabilidade. GLOBO RURAL revela quem são as três vencedoras do Prêmio Fazenda Sustentável
30 CERRADO
Localizada em Patrocínio (MG), a Daterra Atividades Agrícolas é a grande campeã. Veja por que a fazenda foi reconhecida como a mais sustentável do Brasil
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NO MORRO
No topo das montanhas de Minas, a Fazenda Água Limpa, de Manhuaçu, une qualidade com sustentabilidade e é vice
38 FRONTEIRA
A piauense São João do Pirajá conquistou o terceiro lugar pelo carinho devotado a solo e água
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PECUÁRIA O touro senepol, que demonstra bom desempenho sob clima tropical, é bastante demandado pelos produtores comerciais
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BOLSA Refletindo a competitividade do setor, ações de empresas de carnes e commodities têm ganhos na Bolsa de São Paulo
Capa: Fernando Martinho/Ed. Globo
SEMPRE EM
Globo Rural CARTA DO EDITOR...............................12 ONLINE.................................................... 14
CAMPO ABERTO INTERNET ..........................................................19 ZOOM ................................................................... 22 RADAR.................................................................24 LIVROS................................................................ 26 CENÁRIOS ............................................. 48 TENDÊNCIAS......................................... 64
LEILÕES & CRIAÇÃO EXPOINTER ................................................... 65 NEGÓCIOS...................................................... 68 VARANDA......................................................... 74 MERCADO ....................................................... 76
PRODUTOS E MERCADOS MÁQUINAS ..................................................... 77 EMPRESAS E NEGÓCIOS .................... 80 VITRINE............................................................. 84 MAPA DA SAFRA ....................................... 86 TEMPO.............................................................. 88 AGENDA ........................................................... 90 ANÁLISE........................................................... 94
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VIDA NA FAZENDA
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COMO PLANTAR....................................... 101 COMO CRIAR ............................................. .104 TABULEIRO.................................................. 106 GRU RESPONDE ..................................... .108
COMO FAZER Para renovar o oxigênio dos tanques de criação de peixes, piscicultor capixaba inventa um aerador que é simples e barato CAMINHOS DA SAFRA Exportações pelos terminais do Arco Norte acirram concorrência e forçam portos do corredor Santos-Sul a focar a modernização
FECHA ASPAS .................................... 114
© FERNANDO MARTINHO/ED. GLOBO
SUMÁRIO
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Conheça os desafios da soja Nossa agricultura evoluiu muito até que a cadeia da soja se consolidasse como um dos principais motores da economia brasileira. Desde a adaptação da planta às condições tropicais, a soja tem sido alvo de ganhos tecnológicos expressivos. O ciclo médio da cultura, que era de 150 dias, diminuiu para 110 dias, enquanto a produtividade praticamente dobrou. Os produtores conseguem obter o rendimento máximo do potencial produtivo da soja evitando ao máximo interferências e investindo na proteção das lavouras, contra o ataque de pragas e doenças.
Segundo a Embrapa:
O plantio ocorre entre 16 de setembro e 16 de dezembro, variando de acordo com as regiões produtoras e as condições climáticas.
A colheita da soja se estende de janeiro a abril, dependendo das regiões produtoras, do ciclo da variedade e das condições climáticas.
Hoje o produtor pode comprar
as sementes já tratadas com fungicidas, inseticidas e nematicidas. Elas podem ser tratadas industrialmente, com equipamentos específicos, embaladas e enviadas para o produtor. O tratamento de semente é fundamental para proteger a soja nas fases iniciais e possibilitar uma lavoura mais produtiva.
O Tratamento de Semente Industrial (TSI) dá segurança e comodidade ao produtor. Veja mais sobre o tratamento de sementes completo, que combate as doenças, pragas e nematoides:
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A cor vermelha indica que a semente passou por tratamento com produtos Syngenta
Em média, 5 dias depois do plantio, a planta emerge no solo e a partir desta fase ela se torna suscetível a diversas pragas e doenças. Uso agrícola. Venda sob receituário. Consulte um agrônomo.
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5 Maiores Estados produtores de soja
http://bit.ly/ciclosojasyngenta
( Produção – em milhões de toneladas)
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Dentro do complexo de lagartas, a cada ano uma espécie diferente se destaca, de acordo com a condição climática e outros fatores, portanto é fundamental o uso de um inseticida de amplo espectro de controle. Saiba mais sobre o inseticida contra lagartas que tem ação imediata por muito mais tempo:
Fonte: Conab ( estimativa para a safra 2014/15)
www.lavourasempragas.com.br A ferrugem é hoje uma das principais preocupações dos agricultores. Quanto mais cedo a doença aparece, maior o seu impacto na lavoura. No período reprodutivo, a soja fica mais suscetível às doenças, portanto, o manejo deve ser feito com produtos de alta eficiência e de forma preventiva. Acesse e compare os resultados do fungicida que aplicou, rendeu:
www.aplicourendeu.com.br O percevejo, nas fases ninfa e adulto, é uma das preo ocupações do produtor. Ele pode aparecer em varia ações (marrom, rajado, verrde, pequeno). A mosca branca também se tornou uma praga importante. Conheça o inseticida que combate os percevejos com ação de choque e residual por muito mais dias: www.lavourasempragas.com.br
Hoje a ferrugem asiática é a doença que mais preocupa o produtor rural, pois se não houver controle adequado ela pode provocar até 100% de redução da produtividade. Para combatê-la são necessárias aproximadamente 3 aplicações de fungicidas nas lavouras precoces ou de ciclo médio. É a doença mais agressiva e com maior poder destrutivo.
Durante o enchimento de grãos, as folhas estão
completamente desenvolvidas. O crescimento da planta se estabiliza e ela atinge o peso total máximo das vagens. É preciso redobrar os cuidados com as pragas e doenças.
DIRETOR-GERAL Frederic Zoghaib Kachar DIRETOR DE MERCADO ANUNCIANTE Alexandre Barsotti DIRETORIA DE MERCADO LEITOR Luciano Touguinha de Castro
DIRETOR DE GRUPO AUTOESPORTE, PEQUENAS EMPRESAS GRANDES NEGÓCIOS E GLOBO RURAL Ricardo Cianciaruso DIRETOR DE REDAÇÃO Bruno Blecher EDITORES Cassiano Ribeiro, Sebastião Nascimento, Venilson Ferreira e Vinicius Galera de Arruda EDITORA-ASSISTENTE Viviane Taguchi REPÓRTERES Raphael Salomão e Teresa Raquel Bastos DIRETORA DE ARTE Sueli Issaka DESIGNERS Filipe Borin e Valter de Oliveira Silva ESTAGIÁRIOS Fernando Bumbeers e Lucas Alencar ASSISTENTE DE REDAÇÃO Ana Paula Santana COLABORADORES João Mathias, Luiz Antonio Cintra, Nina Horta, Paulo Etchichury, Priscila Brandão e Roberto Rodrigues (texto); Emiliano Capozoli, Fernando Martinho, Marcelo Curia, Marcelo Min, Rogério Albuquerque e Sérgio Cardoso (fotos); Diego Cardoso (revisão) SERVIÇOS EDITORIAIS Pesquisa: CEDOC/Globopress MERCADO ANUNCIANTE UNIDADE DE NEGÓCIOS PEGN, GR, AE, GALILEU – Diretor de Negócios Multiplataforma Renato Augusto Cassis Siniscalco, Executivos de Negócios Multiplataforma Diego Fabiano, Joao Carlos Meyer, Priscila ferreira da Silva e Cristiane Soares Nogueira; UNIDADE DE NEGÓCIOS DIGITAL – Diretora Renata Simões Alves de Oliveira, Executivos de Negócios Digitais Bianca Ramos Piovezana, Lilian Ramos Jardim e Andressa Aguiar Bonfim; CONSULTORA DE MARCAS EGCN Olivia Cipolla Bolonha, GERENTE ESCRITÓRIOS REGIONAIS Sandra Regina de Melo Pepe, Executiva Multiplataforma Alexandra Caridade da Silva Azevedo; RIO DE JANEIR0 – Gerente Multiplataforma Rogerio Pereira Ponce de Leon, Executivos Multiplataforma Pedro Paulo Rios Vieira dos Santos, Suellen Silva de Aguiar, Daniela Nunes Lopes Chahim, Katia Cilene Pinto Correia, Maria Cristina Machado e Andréa Manhães Muniz; BRASÍLIA – Gerente Multiplataforma Barbara Costa Freitas Silva, Executivas Multiplataforma Camila Amaral da Silva; DIRETOR ESTÚDIO GLOBO Rafael Kenski; GERENTE Eduardo Watanabe; GERENTE DE EVENTOS Daniela Valente; OPEC OFFLINE José Soares, Carlos Roberto Alves de Sá, Douglas Vieira da Costa INOVAÇÃO DIGITAL DIRETOR DE INOVAÇÃO DIGITAL Alexandre Maron GERENTE DE ESTRATÉGIA DE CONTEÚDO DIGITAL Silvia Balieiro GERENTE DE TECNOLOGIA DIGITAL Carlos Eduardo Cruz Garcia DESENVOLVEDORES Bruno Agutoli, Everton Ribeiro, Jeferson Mendonça, Leonardo Turbiani, Marcio Esposito, Tcha-Tcho e Victor Hugo Oliveira da Silva OPEC ONLINE Rodrigo Santana Oliveira, Danilo Panzarini, Higor Daniel Chabes, Henrique Firmino, Rodrigo Pecoschi e Thiago Previero MERCADO LEITOR DIRETOR DE MARKETING: Cristiano Augusto Soares Santos GERENTE DE VENDAS DE ASSINATURAS Reginaldo Moreira da Silva GERENTE DE OPERAÇÕES E PLANEJAMENTO DE ASSINATURAS Ednei Zampese
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O Bureau Veritas Certification, com base nos processos e procedimentos descritos no seu Relatório de Verificação, adotando um nível de confiança razoável, declara que o Inventário de Gases de Efeito Estufa - Ano 2012, da Editora Globo S.A., é preciso, confiável e livre de erro ou distorção e é uma representação equitativa dos dados e informações de GEE sobre o período de referência, para o escopo definido; foi elaborado em conformidade com a NBR ISO 14064-1:2007 e Especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol.
CARTA DO EDITOR
O Brasil que dribla a crise
Onde estivemos
A
Bruno Blecher Diretor de Redação bblecher@edglobo.com.br
ROGÉRIO ALBUQUERQUE E VIVIANE TAGUCHI Bom Jesus (PI) AP
VIVIANE TAGUCHI E FERNANDO MARTINHO Patrocínio (MG)
PA
MA
CE PI
RN PB PE AL SE
TO BA
MT DF
GO
MG MS
ES SP
RJ
VENILSON FERREIRA E SÉRGIO CARDOSO Manhuaçu (MG)
PR SC RS
PRISCILA BRANDÃO E SÉRGIO CARDOSO Castelo (ES)
RODRIGO VARGAS E MARCELO CURIA De Campo Grande (MS) a Rio Grande (RS)
SEBASTIÃO NASCIMENTO E MARCELO MIN Barretos (SP)
RÁDIO CBN
CBN Agronegócio, com Bruno Blecher. Às terças, às 13h05, no CBN Brasil, comandado por Carlos Alberto Sardenberg
TV GLOBO
Programa Globo Rural: aos domingos, às 8h (reapresentação na Globo News, aos domingos, às 9h05)
© FOTOS ARQUIVO PESSOAL
montanhosa São João do Manhuaçu, no sudeste de Minas, está em pleno emprego nesta safra do café, ao contrário do Brasil que aparece nos jornais e na TV. Só a Fazenda Água Limpa, com seus 3 milhões de pés de café, vai ocupar 400 trabalhadores nesta colheita, dos quais 50 moram na propriedade, relata o editor Venilson Ferreira nesta edição. RR Em média, uma dupla de colhedores vai tirar até R$ 250 ao dia, mas há quem consiga mais, como Maicon Leite Martins e a mulher, Rosilane, que faturaram mais de R$ 30 mil em cinco meses de colheiAM ta em 2014 e compraram à vista um Voyage “velhinho em folha”. Do outro lado do Estado, a quase 700 quilômetros dali, a pacata RO Patrocínio, no Cerrado mineiro, também cheira a café, uma bebida que gera renda e trabalho a cerca de 650 mil brasileiros em 1.900 municípios do país, movimentando R$ 18,3 bilhões por safra (US$ 6,6 bilhões com exportações). A editora-assistente Viviane Taguchi acompanhou a efervescência da safra na Daterra, onde 300 pessoas estão empenhadas em colher, até o final deste mês, 100 mil sacas de café, a maior parte destinada a satisfazer o paladar apurado de apreciadores da bebida nos EUA, Japão, Austrália, Ásia e Europa. Em julho, Viviane e o fotógrafo Rogério Albuquerque também conheceram as chapadas de Bom Jesus, no Piauí, terras a 600 metros de altitude onde as emas, os tatus, os lobos-guará e o pequi disputam hoje espaço com a soja, o milho e o feijão. Depois de enfrentar os buracos da BR-135 nos 465 quilômetros entre Barreiras (BA) e Bom Jesus (PI) e desviar de meia dúzia de jegues abandonados, chegaram a tempo de ver a colheita do milheto na Fazenda São João do Pirajá, uma das pioneiras da nova fronteira agrícola. Essas três propriedades, vencedoras do Prêmio Fazenda Sustentável deste ano, comprovam que o Brasil rural é mais forte do que qualquer crise e ainda não foi contaminado pelo pessimismo e pela frustração reinantes nas grandes cidades do país. O apocalipse não nos espera na esquina, disse o economista – e genial frasista – Antonio Delfim Netto ao editor Sebastião Nascimento na entrevista deste mês: “Fique tranquilo. Nós não temos competência para impedir o crescimento do Brasil no longo prazo.” É isso aí. Não vamos perder esse jogo.
Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Piauí, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul
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globorural.globo.com por Vinicius Galera de Arruda vgalera@edglobo.com.br
DESTAQUES CAFÉ
10 curiosidades O café é uma das bebidas mais populares do mundo. A propagação do grão levou centenas de anos. Vamos mostrar como isso aconteceu com uma lista de curiosidades sobre o produto. Qual foi o primeiro país produtor? Por que o grão é torrado? Qual foi a primeira cafeteria do mundo? Qual é a diferença entre as principais variedades? Estas e outras curiosidades você lê em
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CULTURA
Patrimônio mineiro
Desde 2008, o queijo minas artesanal é considerado Patrimônio Cultural Imaterial brasileiro. No site, você confere uma matéria especial sobre a origem do produto, o modo de preparo e sua importância para a economia e a construção da identidade do Estado de Minas e do Brasil. Basta acessar em
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http://bit.ly/10curiosidadescafe
http://bit.ly/queijomg
AS + LIDAS CURIOSIDADE
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Patrus Ananias fala ao CBN Agronegócios
Plantas ouvem quando estão sendo comidas
AGRICULTURA FAMILIAR
http://glo.bo/1MomDYC BOMBA D’ÁGUA
Como fazer o carneiro hidráulico http://bit.ly/infocarneirohidraulico
Sebastião Nascimento
APLICATIVOS
PECUÁRIA
44 frigoríficos já fecharam neste ano
Agricultura de precisão pode sofrer revolução
http://glo.bo/1KkuvtQ
http://glo.bo/1LDhF8Q FLORES
10 flores para cultivar em casa
Direto de Chicago
http://glo.bo/1SBQY4S
COMMODITIES
Milho e soja entre a emoção e a razão
SANIDADE
http://glo.bo/1fm4vR5
Identificado o causador da soja louca 2 http://glo.bo/1IekYxH
MOBILE TABLET
A revista digital com conteúdo extra iPad
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14 GLOBO RURAL |
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COLUNAS
COMENTÁRIOS CEBOLA CARA É o fim da picada um país do tamanho do Brasil precisar comprar cebola. Claro que não é por preguiça do trabalhador rural, e sim pela incompetência de nossos governantes (“Alta de preços de hortifrutigranjeiros perde força em junho, diz Conab”). Ulisses Croti via Facebook
LIMA DUARTE Que bom que aceitou, querido Lima Duarte. Eu estava morrendo de medo de acabar o programa. Graças a
Deus escolheram a pessoa certa. Parabéns a você e à Cultura (“Lima Duarte pode ser o novo apresentador do Viola, minha viola”).
caiu 69,2% no primeiro semestre”)? Elgio Antonio Gomes via Facebook
Maria Isabel Oliveira
ETANOL EM ALTA
via Facebook
Quando ninguém queria, o álcool custava R$ 0,80 por litro. Hoje, com os carros flex, o preço aumentou junto com o interesse. Pura pilantragem, uma vez que com a economia de escala deveria abaixar. (“Etanol cai em 11 Estados, sobe em 12 e no DF e fica estável em 3”).
CARNE EM QUEDA Como os pecuaristas estão exportando bovinos vivos quando estão alegando baixa produção? Os frigoríficos correndo atrás de gado para abater e o preço só subindo devido à falta. Advinha qual é a jogada (“Exportação brasileira de bovinos vivos
Silvio Roperto via Facebook
ERRATA
Na reportagem “Floresta sem crise”, publicada na edição 357 (julho de 2015), informamos que o setor de celulose deverá investir R$ 150 bilhões até 2020, quando o valor correto é R$ 53 bilhões, conforme a Ibá (Indústria Brasileira de Árvore. Segundo Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Ibá, no Brasil, apenas as florestas plantadas para fins industriais já absorvem 1,69 bilhão de tonelada de CO2 da atmosfera, o equivalente a um ano das emissões nacionais. E estima-se ainda um estoque de 2,4 bilhões de toneladas de CO2 em suas áreas de preservação e conservação, por meio de Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPNs).
ENTREVISTA
Antonio Delfim Netto, economista e professor universitário
“O Brasil não é mais uma bananalândia” x-ministro da Fazenda (1967-1974) e da Agricultura (1979), Delfim Netto continua bastante otimista em relação ao agronegócio, por conta da produtividade, da genética de ponta e do ajuste cambial, entre outros motivos. Para ele, a produção de soja e de carnes deve continuar crescendo, graças à demanda por alimentos no mundo. “A China não importa commodities, e sim água, o que é diferente.” Na outra ponta, açúcar e etanol vão mal, “sacrificados que foram por uma política burra de combate à inflação”. Delfim falou ainda sobre EUA, ajuste fiscal, Kátia Abreu, impeachment – ele é contra – e do futuro promissor do campo. Revelouà GRa maior alegria de sua vida: o nascimento do neto, Rafael, quando o avô completou 82 anos. Hoje, Delfim está com 87 anos. 16 GLOBO RURAL |
Globo Rural O senhor sempre foi um entusiasta do agronegócio. Como vê o setor no meio do atual mar revolto da economia? Delfim Netto É um setor que está relativamente imune à confusão armada não apenas no Brasil, mas no mundo. O agronegócio é produto de um planejamento de longo prazo. Quando ocupamos, em 1967, o Ministério da Fazenda, 70% das exportações brasileiras eram café. O doutor Eugênio Gudin (economista e ex-ministro da Fazenda de 1954 a 1955) dizia então que café é câmbio. Quando o café vai bem, o câmbio se desvaloriza. Quando o café vai mal, o câmbio é valorizado. As flutuações precisavam ser reduzidas. O Brasil vivia um ciclo produzido pelo café. A partir de 1967, o objetivo foi diminuir sua importância – não a da indústria do café – e estimular o crescimento de outros produtos. Ao deixarmos o governo, em 1974, o café representava 10% das exportações. Globo Rural As exportações foram se diversificando? Delfim No início da década de 1970, a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi decisiva. Ela criou massa crítica ao enviar para o exterior milhares de jovens profissionais. Após estudos lá fora, eles retornaram para colocar em marcha nosso setor agropecuá-
rio e florestal. Sim, tínhamos um programa de floresta que não deu certo, mas que já era um projeto de integração agricultura, pecuária e floresta. A Embrapa produziu a maior revolução da economia brasileira. Fez o país transformar um passivo enorme, que era a região do Cerrado, em seu maior ativo. Destaco também o papel do Banco do Brasil, que ajudou a transformar a soja numa cultura importante. Em pouco tempo, a produção deu um salto de 300.000 toneladas ao ano para 6 milhões de toneladas. Assim, a expansão de outros produtos, caso do milho também, foi tamanha que fez o câmbio ficar relativamente independente das flutuações do preço do café. Globo Rural E a produção de carne, a pecuária, que o senhor destaca sempre? Delfim Foi um dos poucos setores em que a política governamental de forjar grandes campeões encontrou uma boa solução. Seria injusto não reconhecer que a operação carne foi um grande sucesso. O Brasil é hoje o principal exportador do mundo e vai continuar na ponta. O agronegócio espalhou riqueza pelos interiores do Brasil. Cresce num ritmo de 3% ao ano. É o maior incremento de todo o mundo. Globo Rural Aliás, no mês passado, os EUA suspenderam o embar-
© MARCELO MIN/ED.GLOBO
E
Por Sebastião Nascimento
Pode ficar tranquilo. Nós não temos competência para impedir o crescimento do Brasil no longo prazo” go para a carne brasileira in natura. O Japão sinalizou também. Delfim Essas conquistas estimulam a pecuária. Faz o Brasil melhorar suas pastagens degradadas, aumentar o número de animais por hectare, e o aprimoramento genético do rebanho é visível. Além disso, as disposições de saúde pública são controladas, enfim, temos tudo para continuarmos os primeiros desse setor. O mundo vai continuar demandando proteínas, e o Brasil mostra que tem competência para usar seus recursos de forma sustentável. Globo Rural Não há muito a temer, então, apesar da recessão? Delfim Eu analiso que os males da política econômica pouparam o agronegócio. Um dos grandes problemas, a valorização do câmbio, foi sendo substituído primeiro pelo grande aumento de produtividade e depois pela correção nos preços externos. Na safra atual, acaso o câmbio não tivesse sofrido um ajuste, a soja de Mato Grosso, por exemplo, não seria competitiva. As coisas estão caminhando na direção de manter o agronegócio como a atividade de melhor produtividade e
| GLOBO RURAL 17
ENTREVISTA
A Embrapa fez uma revolução ao transformar um passivo enorme do país, que era o Cerrado, em seu maior ativo” de maior taxa de retorno do país. Lembro que a agricultura deixa sempre um resíduo, ou seja, não é o lucro do ano, e sim a valorização da terra. Quando você soma, constata que não houve atividade mais rentável do que a agroindústria. Globo Rural Mas há setores do agronegócio que não vão bem. Delfim Há exceções, caso da produção de etanol e de açúcar, que foi sacrificada por conta de uma política extremamente burra de valorização cambial para combater a inflação. Resumo: não combateu a alta dos preços e conseguiu destruir o setor. Globo Rural Em setembro, o país começa o plantio da soja. Quais as suas expectativas? Delfim As estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) têm mostrado um otimismo justificado. A previsão é de safra recorde de mais de 206 milhões de toneladas de grãos. Eu registro que é necessário fazer um pouco de justiça. É que os últimos planos de safra têm sido de muita qualidade. A agricultura está bem servida, e destaco o trabalho da ministra Kátia Abreu. Ela, além de conhecer o setor, é uma brava e tem consciência cristalina de seu papel. De forma que estou bastante otimista com relação ao setor agrícola. E o Plano Safra está caminhando na direção correta, ao estimular também a tecnologia de integração entre agricultura, pecuária e floresta.
18 GLOBO RURAL |
Globo Rural Há anos eu leio previsões de que a China vai diminuir a compra de commodities. Agora, o PIB chinês está diminuindo. O senhor acha que o país asiático vai desacelerar as importações? Delfim Veja bem, o Brasil não exporta commodities para a China. Exporta água. A China tem uma população gigantesca e muita terra para produzir soja, mas não tem água e irá continuar não tendo. E não é só a soja. São outros produtos também. Um quilo de carne precisa de 15.000 litros de água. Globo Rural A crise econômica merece esse barulho colossal? Em 2014, o senhor disse que o pessimismo era exagerado. E agora? Delfim Acho que continua exagerado, mas é importante compreender que a situação ficou delicada. A eleição, que poderia ter dado uma solução ao pessimismo, infelizmente complicou a situação. A presidente Dilma foi reeleita com uma promessa e a negou no dia seguinte à eleição. Seus eleitores jamais entenderam isso. Depois, ela reconheceu implicitamente, mandando um ajuste fiscal para o Congresso. A Câmara devolveu o projeto de ajuste como um aleijão, infestado de carrapatos. O que acontece? Hoje, chegamos a um ponto grave e, à medida que não há desenvolvimento, diminui mais a crença na presidente. E eu acho pouco provável acontecer um acidente de crescimento que devolva a credibilidade.
Globo Rural O senhor disse também que o apocalipse não nos esperava na esquina... Delfim Pode ficar tranquilo. Nós não temos competência para impedir o crescimento do Brasil no longo prazo. Globo Rural Como o senhor vê a “guerra” entre a Presidência da Câmara e o Planalto? Delfim Tem de haver entendimento. Lembro o doutor Ulisses (Ulisses Guimarães, presidente da Câmara de 1985 a 1989), que dizia: “Quando o problema é grande, está na hora de sentar e conversar”. Globo Rural E as ameaças de impeachment da presidente? Delfim É aventura ficar imaginando impeachment. A não ser que se prove alguma coisa. A solução está dentro das instituições. Não se deve cair na tentação de resolver esses problemas com truques políticos, deixando de observar a Constituição. O Brasil não é mais uma bananalândia. Homem inteligente, vivido, Fernando Henrique Cardoso (presidente de 1995 a 2002) alertou que um curto-circuito pode queimar muita gente. Globo Rural Professor, afinal, o país melhorou socialmente nos últimos anos ou não? Delfim É impossível negar esse fato. É ridículo. O Brasil melhorou dramaticamente nos últimos 20, 25 anos. Em todos os setores, e isso não se deve a um só governo. A construção foi a partir da Constituição de 1988. Fernando Henrique Cardoso teve o seu papel, o Lula (presidente de 2003 a 2010) teve o seu papel. Espero que a presidente Dilma também tenha o seu papel.
CAMPO ABERTO
TECNOLOGIA+MEIO AMBIENTE+ INOVAÇÃO + GENTE
Em busca do sinal
O acesso à internet nas fazendas é hoje fundamental, mas os produtores têm de investir alto para dispor de um bom serviço
© CORBIS
Texto Teresa Raquel Bastos, com Rennan A. Julio
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CAMPO ABERTO INTERNET
Saiba gratuitamente qual é a velocidade de sua internet:
brasilbandalarga.com.br
Antonio José Gazarini, de Jataí (GO), investiu, em 2009, R$ 150 mil para ter conexão banda larga
20 GLOBO RURAL |
Tecnologias mais utilizadas Reforçador de sinal de serviço móvel pessoal (SMP): é conhecido como amplificador ou repetidor de sinal. A antena deve ser homologada pela Anatel. Serve para ampliar o serviço de internet e a voz das operadoras de telefonia móvel disponíveis na região. Custos: a partir de R$ 1.190, sem mensalidade. Velocidade: de 1 megabyte a 5 megabytes
Satélite geoestacionário KU: o satélite recebe o sinal de internet da Terra e replica para a antena instalada na fazenda. Cobre todo o território nacional. Antes, o serviço era cobrado por minuto, mas hoje já há a opção ilimitada. Custos: a partir de R$ 600. Velocidade: 1 megabyte até 4 megabytes
Banda larga por satélite KA: ainda é usado em pequena escala, mas deverá ser popularizado em 2016. Continua sendo satélite, o que muda é a frequência usada. Cobrirá 90% da população, inclusive da zona rural. Custos: a partir de R$ 250 mensais. Velocidade: de 1 megabyte a 5 megabytes Fontes: Hughes e Neger Telecom *Valores aproximados, que podem variar de acordo com a empresa e o perfil do usuário
dez anos. Ele gasta, por mês, R$ 8 mil com rádio, internet, telefone fixo e sinal de satélite, o que lhe permite operar as máquinas agrícolas usando as técnicas da agricultura de precisão. “O consumidor não fica sentadinho esperando uma política pública resolver seu problema. Ele mesmo procura uma solução”, diz Eduardo Neger, presidente do conselho consultor superior da Associação Brasileira
Charles Louis Peeters, pecuarista e produtor de grãos em Montividiu, no sudoeste goiano
de Internet (Abranet). Nas grandes e médias fazendas, o sistema via satélite hoje é o mais utilizado. Mas a relação custo-benefício não favorece muito o produtor. “Não é qualquer um que pode pagar cerca de US$ 13 mil para a instalação da antena, mais R$ 600 mensais por uma banda com velocidade de 1 megabyte”, diz o presidente da Abranet. Enquanto mapeava o uso da rede pelo país, a Abranet verificou
Vilymar Bissoni, produtor de Rondonópolis (MT), usa a internet na fazenda há mais de dez anos
© EMILIANO CAPOZOLI/ED. GLOBO
A
internet completou 20 anos no Brasil, mas o seu acesso ainda é muito caro no meio rural. Para levar a internet de Rio Verde (GO), onde fica seu escritório, até sua fazenda no município vizinho de Montividiu, no sudoeste goiano, o produtor rural Charles Louis Peeters gasta R$ 500 por mês no serviço a rádio, sinal que percorre 85 quilômetros e, consequentemente, perde força no caminho. “Foi o jeito que achamos para ter acesso”, diz Charles, que cria gado e produz soja, milho e feijão. A provedora garante conexão de 1 megabyte no campo, velocidade que dá para as coisas básicas, como trocas de e-mails, controle da venda de grãos e comunicação via aplicativo WhatsApp entre os funcionários da fazenda. Mas, para a emissão de notas, por exemplo, essa velocidade não é suficiente. “Não dá para baixar vídeos e filmes. E a maioria das notas fiscais, eu ainda mando por malote”, conta. Em sua casa no centro de Rio Verde, Charles acessa a web com 25 megabytes de velocidade pagando R$ 75 mensais. Vilymar Bissoni, de Rondonópolis (MT), usa a internet na Fazenda Boca do Mato há mais de
que muitos produtores utilizam reforçadores de sinais móveis pessoais (SMP) para ter acesso à rede. O sistema foi criado inicialmente para ampliar a cobertura de telefonia móvel em ambientes fechados como galpões industriais, túneis e subsolos, mas hoje é muito utilizado para replicar o sinal de telefone em áreas externas das fazendas. O aparelho aumenta o alcance das operadoras, possibilitando o uso de serviços de voz, dados e internet. Segundo dados da Abranet, mais de 2 milhões de reforçadores já estão em uso na zona rural, e o número continua crescendo. O sistema custa cerca de R$ 2 mil e tem velocidade de até 3 megabytes. A situação no campo já foi
bem pior, como lembra Antonio José Gazarini, produtor em Jataí (GO). Ele diz que, em 2009, investiu R$ 150 mil na estrutura completa de conexão banda larga, logo após o governo estadual exigir a emissão de nota fiscal eletrônica. “Na época, o técnico que implantou a conexão disse que o custo era o mesmo para implantar internet em uma cidade de 20 mil habitantes”, diz. “O governo na época estipulou uma data para a obrigatoriedade da nota eletrônica, mas não levou a internet para o produtor. Então fomos obrigados a instalar por nossa conta e risco.” Na ocasião, Gazarini comprou todos os aparatos para receber o sinal via rádio. Hoje, ele mantém a conexão
Principais municípios do agro Município Sapezal (MT)
População
% com acesso à internet
21.811
7,9
São Desidério (BA) Petrolina (PE)
32.078 326.017
1,2 4,8
Campo Verde (MT)
36.800
8,5
Sinop (MT) Sorriso (MT)
12.6817 77.735
8,3 8,9
Unaí (MG) Nova Mutum (MT)
82.298 38.206
8,4 6
Primavera do Leste (MT) 56.450 Uberaba (MG) 318.813
12 20,8
Fonte: Anatel (2015)
com um gasto mensal de R$ 2 mil, com um serviço cuja qualidade oscila muito. “Além de tudo, cai muito quando venta demais e quando chove. O problema maior não é estar conectado, mas de maneira precária”, diz ele.
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CAMPO ABERTO SOJA 100 ANOS NAS PRÓXIMAS EDIÇÕES:
A rota da oleaginosa
Primeiro dos três infográficos da série mostra a história do grão que nasceu na China e conquistou o mundo
Texto Odilon Guimarães (pesquisa)
*
Edição Venilson Ferreira
Infográfico The Infographic Company
*
H •A
I S TÓ R I A
Setembro As mil e uma aplicações Outubro Desafios da produção
Manaus
•
Da China ao Brasil
5000 a.C. - 1910 d.C O caminho percorrido pelos grãos até chegar ao sul do país 1765
Inglaterra
EUA
Introdução na Europa teria ocorrido no século XV, com plantio em jardins
China 1929
Primeiras citações da soja datam de 5 mil anos atrás, em estudos na China pelo imperador Shen-Nung
Bahia
IM
P
ER
1765 Primeiro plantio nos Estados Unidos. Um ex-marinheiro da Companhia das Índias Orientais trouxe as sementes de Londres
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1870 Aumenta plantio de forragem para alimentação do rebanho bovino nos Estados Unidos
NG
Campinas
AD
OR S H E
1882 Primeiros materiais genéticos da soja, trazidos dos EUA, foram introduzidos em 1882 na Bahia
N N-
U
1895 Agrônomos do IAC, em Campinas, fazem primeiros estudos sobre a possibilidade de plantio no Brasil
1904 O químico americano George Washington descobre que a soja é uma fonte valiosa de proteína e óleo
1914/1915 Município gaúcho de Santa Rosa, com plantio em 1914, é chamado de “berço da soja no Brasil”
Iniciativa editorial
Do Sul ao Cerrado
de G R com patrocínio:
1914-2015
ESCALA
LEGENDA 275
Produção de soja
550 KM
Exportação
•
A
P O RTAÇ Ã
O
•
Portos
EX
Do Brasil para o mundo
São Luís
safra 2013/2014
Destino da soja em grãos em % Outros países 1,7%
Sorriso
EUA/Nafta 2,5%
Sa
Ásia*
ad lv
7,7%
or
Rússia/CEI 1,2%
45,692
Vi t ória
Campinas
Sa Para n
nto
MILHÕES DE TONELADAS EXPORTADAS EM 2014
71,5%
13,4%
s
Oriente Médio
aguá
São Fra ncisco do Sul
Santa Rosa
China
União Europeia
África
1%
1%
* Menos China
Rio Grande
Evolução do plantio em 40 anos
1975 6.949
1919 Existiam apenas 20 variedades de soja aprovadas nos Estados Unidos
Fonte: IBGE, Conab e MDIC/Secex
1980 8.693
1929 William Morse passa dois anos na China e volta para os EUA com 10 mil variedades para ser estudadas pelos cientistas
(em mil hectares)
1990 9.743
2000
1941 Segunda Guerra Mundial restringe a oferta da China, principal fornecedor do mundo, e alavanca a produção americana
13.970
2010
2015
24.181
1975 Produção do Brasil é de 10 milhões de toneladas, concentrada na Região Sul; é criada a Embrapa Soja
31.908
2011 Sorriso (MT) assume a liderança como maior produtor brasileiro de soja
2015 Área de soja aumenta no país e colheita alcança 96 milhões de toneladas
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CAMPO ABERTO RADAR por Viviane Taguchi vtaguchi@edglobo.com.br
SUSTENTÁVEL
O fio do resíduo do fio
N
o Brasil, a marca de linhas Círculo, de Santa Catarina (SC), está apostando na utilização de resíduos de algodão para fabricar um novo tipo de fio, o LIX. Antes, todos os resíduos da fabricação de linhas para crochê, tricô e tecidos eram processados e voltavam para as lavouras
em forma de adubo. “Nosso novo desafio é unir o design com a sustentabilidade”, disse Osni de Oliveira Junior, gerente de marketing da companhia. Ele contou que a ideia surgiu após o evento Santa Catarina
Moda e Cultura, em 2014. “Pensamos: por que não aproveitar esses resíduos e fazer um novo fio? Deu certo.” De acordo com Oliveira, a ideia agora é colocar o fio 100% sustentável no mercado.
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BIODEGRADÁVEL
Jeans fértil
A ROBÓTICA
Luz na lavoura
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© 1 THINKSTOCK; 2 E 3 DIVULGAÇÃO
m abril, o robô Rover Curiosity encontrou evidências de água em Marte. A tecnologia usada pela engenhoca tem nome complicado: Espectroscopia de Emissão Óptica em Plasma Induzido por Laser (Libs). Basicamente, ele usa a emissão de luz oriunda de átomos em um plasma para analisar solos. Agora, é a vez de a tecnologia ser testada nas lavouras. O robô Mirã, desenvolvido pela Embrapa Instrumentação e pelo Laboratório de Robótica Móvel da USP de São Carlos (SP), é quem faz o trabalho. O equipamento foi apresentado
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na 67a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em julho, em São Carlos (SP). O robô analisa solos (estima quantidade de matéria orgânica, fertilidade e pH) e plantas (analisa nutrição e detecta doenças). “O robô permite um mapeamento preciso da lavoura, considerando que a aplicação de insumos é determinada pela média de amostras, com análise de solo espaçada. Isso gera uma grande economia de insumos a ser aplicados”, explica a pesquisadora Débora Milori, coordenadora do projeto.
marca de roupas suíça Freitag criou uma calça jeans que pode virar adubo. A ideia surgiu de um problema grave: para fabricar cada calça tradicional, são utilizados, em média, 11.000 litros de água. A marca, então, decidiu pesquisar matérias-primas alternativas em vários países e conseguiu um jeans 100% biodegradável. A calça da grife é produzida com fibras de cânhamo, raiom, um tipo de fibra de celulose e linho, cultivados em lavouras próximas à fábrica, em Zurique. Essas plantas, segundo a empresa, não exigem tanta água quanto o algodão para ser cultivadas. “A maioria das empresas usa poliéster em suas roupas. As nossas são biodegradáveis, com exceção dos botões de metal”, explicou Oliver Brunschwiler, CEO da grife. Esses aviamentos, segundo ele, são parafusados e fáceis de ser retirados. “Quando o dono da peça se cansa, ele tira os botões, coloca a calça na terra e ela vira adubo”, diz. ©3
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NÃO É SÓ A COR QUE FAZ A DIFERENÇA NUM TRATOR.
• Menos trocas de óleo • Custo de manutenção até 55% menor • Alta reserva de torque. Economia de até 11% de combustível • Apoio da maior e melhor rede de concessionários do país Testes de campo realizados com o modelo 5075E. Estimativa baseada em preços de tabela de dezembro/2014, nas primeiras duas mil horas, comparando-se os intervalos de manutenção dos Tratores John Deere versus a concorrência. Economia de combustível em hectares por hora.
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CAMPO ABERTO LIVROS por Vinicius Galera de Arruda vgalera@edglobo.com.br
A centésima vez de um clássico
Fábio Girardi, diretor do segmento de agroindústria da TOTVS
Edição especial celebra o romance O quinze, da escritora cearense Rachel de Queiroz
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O QUE ESTOU LENDO
á 100 anos, o Sertão nordestino foi assolado por uma das piores secas da história. A fome e a miséria geradas pelo fenômeno marcaram a vida e o imaginário dos nordestinos. Tanto que serviram de matéria-prima para um dos principais romances da chamada geração de 1930. Quando escreveu O quinze, Rachel de Queiroz ainda não tinha completado 20 anos. O livro saiu em 1930 e, agora, a Editora José Olympio lança uma versão especial para comemorar a centésima edição do romance, com apresentação de Nélida Piñon. Conhecedora da realidade do Sertão, onde sua família tinha uma fazenda, em Quixadá (CE), Rachel de Queiroz situa a narrativa em dois planos em que são contadas as histórias da professora Conceição, que vive um caO QUINZE – EDIÇÃO so de amor com o criador Vicente, e a COMEMORATIVA AUTOR: Rachel de Quiroz de Chico Bento, obrigado a migrar a EDITORA: José Olympio pé com a família do sertão de QuixaPREÇO: R$ 42,00 dá para a capital, Fortaleza. Essas histórias, contadas em uma prosa simples e comovente, fizeram com que o romance se tornasse um dos clássicos da literatura brasileira. Como diz Nélida Piñon, “conquanto cada releitura de O quinze moderniza a visão que temos dele, o romance preserva intactos seus fundamentos universais, os princípios estéticos que pautaram sua verdade narrativa”.
‘‘E
stou dividindo meu tempo de leitura com dois assuntos muitos distintos. O primeiro sobre a arte de fazer pães, por meio do livro de Michael Kalanty, intitulado Como assar pães: as cinco famílias de pães, em que o autor compartilha seu conhecimento, ensinando técnicas, contando um pouco da história dessa arte e apresentando receitas desse milenar e simples alimento que acompanha a humanidade. O outro livro é Tecnologias emergentes, de Cezar Taurion. O autor apresenta conceitos com um olhar de diferentes perspectivas sobre temas como computação em nuvem, internet das coisas, big data, inteligência artificial e a convergência entre essas tecnologias. Taurion convida o leitor a pensar sobre a revolução tecnológica social que está em curso, por meio da reflexão desses temas e da construção de uma nova ordem de TI em nossas vidas.”
TECNOLOGIAS EMERGENTES AUTOR: Cezar Taurion EDITORA: Évora PREÇO: R$ 59,90
COMO ASSAR PÃES: AS CINCO FAMÍLIAS DE PÃES AUTOR: Michael Kalanty EDITORA: Senac PREÇO: R$ 139,90
CAFÉ ARÁBICA: DO PLANTIO À COLHEITA AUTOR: Aluízio Borém, Hermínia Martinez, Ney Sakiyama e Marcelo Tomaz EDITORA: UFV PREÇO: R$ 53
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AGRICULTURA IRRIGADA NO FOCO DA GEOTECNOLOGIA AUTOR: Gracielly Carneiro e Noris Costa Diniz EDITORA: EDU-DEG PREÇO: R$: 35
BRASIL BEER – O GUIA DE CERVEJAS BRASILEIRAS AUTOR: Helcio Drumond e Henrique Oliveira EDITORA: Gutenberg PREÇO: R$ 59
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AS 10 FINALISTAS
Inspire-se no exemplo das campeãs de 2015 Conheça as três propriedades que se destacaram entre mais de 120 inscritas
2 LUGAR O
BOA VEREDA Pecuária, grãos e eucalipto (ILPF) – Cachoeira Dourada (GO)
CAMPEÃ
U
DATERRA ATIVIDADES AGRÍCOLAS Cafeicultura - Patrocínio (MG) DON ARO Pecuária e grãos – Machadinho D’Oeste (RO) MATINHA Cafeicultura – Piumhi (MG)
Texto Viviane Taguchi
m jeito novo de pensar e encarar o agronegócio. Com esse objetivo, G R lançou, em janeiro, a segunda edição do Prêmio Fazenda Sustentável, em parceria com a Fundação Espaço ECO e o Rabobank. Durante seis meses, engenheiros agrônomos, especialistas em sustentabilidade e jornalistas trabalharam duro para selecionar e classificar as propriedades mais sustentáveis. Neste ano, uma novidade: todas as propriedades rurais competiram pelo índice geral de sustentabilidade, e não por categorias (no ano passado, o prêmio foi dividido em setores – cultivos perenes, semiperenes, pecuária e silvicultura). Isso possibilitou que as fazendas que praticam a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) participassem com todas as atividades com o mesmo peso. As inscrições vieram de várias partes do país e somaram 124 participantes. Todas as propriedades passaram por uma rigorosa análise, com base em metodologias científicas que medem o seu índice de ecoeficiência, social e financeiro. Em maio, tínhamos em mãos uma lista composta por 47 fazendas ecoeficientes. Classificá-las em um ranking “top 10” exigiu grande empenho, mas chegamos lá – e então partimos para o campo. Durante dois meses, as equipes se dividiram para auditar as finalistas. No caminho, surgiram surpresas, obstáculos e,
ÁGUA LIMPA Cafeicultura - Manhuaçu (MG)
o mais importante, a certeza de saber que o agronegócio brasileiro está caminhando no rumo certo e que há mais produtores engajados em produzir com responsabilidade do que podemos imaginar. De volta a São Paulo e com os relatórios em mãos, uma comissão julgadora, composta por três pessoas, foi convidada a participar do projeto. Após avaliar os relatórios detalhados de cada fazenda, eles apontaram as três vencedoras. Fizeram parte dessa turma o coordenador-geral nacional do Senar, Matheus Ferreira Pinto da Silva; Eduardo Pinheiro Cavalcante, responsável pelo Programa de Agricultura da WWF/Brasil; e o vencedor do Prêmio Fazenda Sustentável 2014, José Luiz Niemeyer dos Santos, proprietário da Fazenda Terra Boa, de Guararapes (SP). “É extremamente importante que iniciativas como essa mostrem que há um trabalho sério e respeitoso no campo”, afirmou Silva, que percorre o país inteiro em suas jornadas técnicas e educativas. José Luiz Niemeyer, pecuarista que aprendeu com o pai a importância da conservação do meio ambiente na fazenda, arremata: “Eu sei que não é fácil fazer um trabalho baseado na sustentabilidade. Mas eu também sei quanto é compensatório ao longo dos anos”. Nas páginas a seguir, você confere o trabalho das três vencedoras e por que elas mereceram o reconhecimento.
SANTA MARIA Grãos - Coronel Macedo (SP) SÃO FRANCISCO Pecuária e eucalipto - Uberaba (MG)
3O LUGAR
SÃO JOÃO DO PIRAJÁ Grãos - Bom Jesus (PI) SÃO JOSÉ Cana-de-açúcar – Jaboticabal (SP) UNIÃO Pecuária, grãos e cana-de-açúcar – São João do Buriti (MS)
100 PERGUNTAS GUIA DE BOAS PRÁTICAS
PRÊMIO
Realização:
Metodologia:
Comprometimento:
Durante os seis primeiros meses do ano, GLOBO RURAL trouxe em suas edições o Guia de boas práticas. Com 100 perguntas e respostas, buscamos dar dicas a agricultores e pecuaristas sobre como produzir mais com menos, cumprir a legislação, respeitar a natureza, inovar e obter lucro. http://glo.bo/JKRot2
PRÊMIO
CAMPEÃ
Respeito pela natureza e pelas pessoas dá um café cheio de atributos” ISABELA PASCOAL
FAZENDA
DATERRA
A cafeicultura como paixão Unir qualidade, pessoas e natureza é a receita da Fazenda Daterra para fazer um café muito apreciado no exterior Texto Viviane Taguchi * Fotos Fernando Martinho, de Patrocínio (MG)
O
sol ainda abria os olhos sobre o Cerrado mineiro, e Isabela já pedalava sua bicicleta de muitas marchas e quadro de alumínio entre as árvores de café. Às vezes, atolava na palhada de capim que forra o chão. Em outras, saltava da magrela para olhar uma aranha, um bichinho que se mexia numa folha. A menina – na verdade, uma mulher, mas, pequenininha e espoleta que é, parece uma garota – cresceu ouvindo o pai, Luís, e o ‘tio’ Leo falando com paixão sobre aromas e sabores de uma bebida de qualidade, o café. Ela diz que não sabe se foi isso que a levou também a ser apaixonada pela cafeicultura, mas Isa, de 41 anos, é hoje uma das maiores produtoras e vendedoras de cafés especiais do mundo. Na fazenda da família, em Patrocínio (MG), ela conta como aprendeu a fazer um bom café. “Respeito pela natureza e pelas pessoas dá um produto cheio de atributos valorizados pelo mercado.” Em 1993, Isabela Pascoal só pensava em qual carreira seguiria. No mesmo ano, o pai dela, Luís Norberto Pascoal, empresário do ramo de serviços automotivos,
e o engenheiro agrônomo Leopoldo Santanna, o Leo, tinham um objetivo: encontrar terras para investir no agronegócio, especificamente na cafeicultura, já que as experiências deles na pecuária e em reflorestamento, em Goiás, tinham ficado no passado. Leo viajou pelo Brasil todo e um dia parou numa fazenda de 6.000 hectares fincada entre as cidades de Patrocínio e Coromandel, em Minas, onde a altitude chega a 1.200 metros. “Eu sabia que era o lugar ideal, telefonei para o Luís e falei: ‘Achei, achei’”, lembra ele, braço direito dos Pascoal no campo e diretor da Daterra Atividades Agrícolas, gestora das fazendas Boa Vista e Tabuões. Apesar da propriedade já ostentar muitas árvores de café de variedades arábicas (os pés mais antigos são da década de 1970 e produzem os grãos mais valorizados da fazenda), foi com a nova gestão que o negócio ganhou a forma atual, uma fazenda que trabalha pensando na sustentabilidade o tempo todo, com 15 milhões de pés de cafés, plantados em 2.800 hectares, e produtividade média de 58 sacas por hectare. “Ele (Luís) dissemina em suas empresas uma filosofia, a sustentabilidade no seu mais puro signi-
LOCAL Patrocínio (MG) ÁREA TOTAL 6.000 hectares ATIVIDADE PRINCIPAL Cafeicultura ÁREA PRESERVADA 3.000 hectares CERTIFICAÇÕES RainForest, UTZ Certified, ISO 14001, IBD e Esalq Ambiental MERCADO Externo
DESTAQUES Recuperação de matas Separação de lixo Reaproveitamento de água Armazenagem de defensivos Atendimento à NR 31 Incentivo à educação por meio da Fundação Educar/ DPaschoal Uso de defensivos biológicos Plano de carreira Monitoramento de pragas e doenças Inventário de créditos de carbono Pesquisa científica Certificações internacionais Boas práticas agrícolas Tratamento de resíduos – óleo, defensivos, efluentes, sementes e água Viveiro de mudas Programas sociais
| GLOBO RURAL 31
PRÊMIO
CAMPEÃ ficado. Se uma ponta do negócio não sustenta o outro, não terá vida longa”, diz Leo. “Na agricultura, estamos falando de recursos naturais, pessoas e dinheiro. Se não minimizarmos os impactos gerados pela produção, uma hora isso acaba.” Em sua opinião, a filosofia contagia. “Quando um empreendimento nasce com essa essência, contamina todos.” Leo lidera uma equipe de 300 pessoas em plena safra. Encerrará a colheita, no final deste mês, com 100.000 sacas de café. Isa, no ano passado, vendeu 95% disso tudo no mercado externo: Japão, Austrália, Inglaterra, Estados Unidos, Coreia, China e Escandinávia. Os clientes mais exigentes do planeta, mas que pagam mais por bons cafés. “O importador exige qualidade. Na cafeicultura, isso quer dizer que
o grão tem de ter suas características preservadas ao máximo”, diz ela, graduada em comércio exterior pela Harvard Business School (EUA). “O café tem de chegar ao outro lado do mundo parecendo que acabou de ser colhido. Só que não temos como controlar a viagem dele até lá. São muitas variáveis. Cuidamos aqui para a qualidade chegar lá.” Esse cuidado vai do campo à saca pronta para exportação, que hoje segue mundo afora em embalagens chamadas Pentabox, que comportam 24 quilos de café e garantem que todo o trabalho feito na fazenda dure mais.
Cuidados básicos
A demanda por qualidade também foi o que levou os importadores mundiais a exigir dos fornecedores certificações socioambientais. Elas avali-
zam que a fazenda respeita os limites da natureza e as pessoas e que tenha viabilidade econômica. A Daterra tem a RainForest, a UTZ Certified, a ISO 14001, a IBD (orgânicos) e a Esalq Ambiental. “As certificações exigem que o produtor tenha o controle efetivo das atividades”, diz Leo. Ele lembra que a fazenda foi a primeira no Brasil a fornecer grãos para a torrefatora italiana Illy, em 1994. “Eles nem cogitavam comprar cafés brasileiros. Hoje, como os outros grandes importadores, não imaginam o mundo sem o nosso café.” Para conquistar os europeus, ele precisou mostrar o que a Daterra fazia, ao vivo e em cores: atendimento às legislações ambientais e trabalhistas, prevenção à poluição, educação e conscientização ambiental, reflorestamento de matas nativas, bom uso
INVESTIR EM BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS NÃO É BRINCADEIRA, GERA BEM-ESTAR E ECONOMIA Trabalhador espalha o café no terreiro
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Leo e as embalagens Pentabox; e Edna, de assistente à classificadora
da água, desenvolvimento do capital humano, segurança no trabalho. “Práticas como conservação de solo, proteção de nascentes, fauna, manejo e cultivo integrados são só a porta de entrada para as certificações internacionais”, conta o agrônomo. Hoje, na propriedade, existem 3.000 hectares de matas nativas, que, segundo ele, vão continuar lá. “O objetivo não é aumentar a área de plantio, e sim a produtividade, com a tecnologia que temos disponível.” “Para a produtividade aumentar, os cuidados básicos com o cafezal e o compromisso com as instituições de pesquisa são fundamentais.” Em todos os cantos da propriedade, há placas indicando experimentos em parcerias com essas instituições, como o IAC (Instituto Agronômico de Campinas) e universidades de todas as regiões do país. E os cuidados, como investir em cobertura de solo, com plantio de capim nos corredores, são uma preocupação constante. “Não é brincadeira. As boas práticas agrícolas não são boas só para a natureza ou para obter a certificação. São boas para o bem-estar das pessoas, para a economia da fazenda.” Esse bem-estar pode ser também o das árvores. A colheita é, em sua maior
parte, mecanizada, mas pés jovens, de até 3 anos de idade, têm colheita manual, para não estressar a planta. As colheitas são feitas ordenadamente, de acordo com o ponto de maturação de cada lote. Da lavoura, os grãos chegam à área de processamento, para limpeza e secagem. Seguem para o terreiro, secadores, classificação e prova. “Tem de ser tudo rastreado”, afirma Leo. “O produtor aprende a trabalhar de forma organizada e descobre que é mais fácil.”
Jogador de futebol
Para Isa, as certificações trilharam um caminho do bem para os produtores, mas, no futuro, a relação de confiança e transparência entre fornecedor e comprador é o que deve ditar as regras do jogo. “O importador saberá onde é feito um bom trabalho e não precisará de rótulos”, acredita. “Por enquanto, é essencial.” Devido a essa relação próxima, Isa sempre leva os compradores para um giro de bike pelo cafezal. “Eles olham de perto, escolhem os cafés que querem (a fazenda tem 219 lotes com diferentes cafés, e os compradores escolhem quais vão comprar), dão sugestões”, diz ela. Essa iniciativa ela chamou de “plot of farm” (lo-
tes da fazenda). Na Fazenda Daterra, é comum ver Isa, os gringos e quem quer conhecer de verdade a fazenda numa bike. “Andam para lá e para cá, o dia todo”, conta o coordenador de processos Renato Rosa dos Santos. “Eles (os compradores) gostam de ver que sustentabilidade não é teoria, é prática”, diz. “É uma relação transparente.” Renato trabalha na Daterra faz 15 anos. Começou varrendo o terreno, de 30 metros quadrados, porque “para participar do time de futebol da fazenda tinha de ser funcionário”. Foi subindo de cargo e, após passar por todos os setores, inclusive pela lavoura, virou especialista em aromas, sabores e surpresas. “As boas e as más”, destaca ele. O sonho de ser jogador ficou para trás. Hoje, até a esposa dele, Edna, entrou no mundo cafeeiro. “Nos conhecemos aqui há nove anos, eu era assistente”, diz ela, hoje classificadora e provadora de cafés. “É uma família.” Isabela também trabalha na Fundação Educar/DPaschoal e ressalta a importância de incentivar os colaboradores. “Estimular as pessoas é essencial para descobrirmos líderes, empreendedores e ideias novas. Essas pessoas são a essência de todo esse trabalho. São eles que fazem o gol.”
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PRÊMIO
2O LUGAR
A inovação na colheita aumentou o rendimento do trabalho, além de reduzir o esforço físico e o risco de acidentes” WALTER CESAR
O monitoramento das pragas e doenças reduziu a aplicação de pesticidas e fungicidas nas lavouras” EDNILSON ALVES
FAZENDA
ÁGUA LIMPA
Café na montanha Os irmãos Dutra produzem grãos especiais respeitando o meio ambiente na região de montanhas do sudeste de Minas Gerais Texto Venilson Ferreira * Fotos Sérgio Cardoso, de São João do Manhuaçu (MG)
A
morte do patriarca José Sobrinho, seu Zeca, num acidente ocorrido em setembro de 1999, às vésperas de completar 60 anos, marcou para sempre a família Dutra, que colocou uma cruz de lembrança onde o acidente aconteceu – na rua de maior movimento da fazenda e que leva ao secador de café e à sede. Seu Zeca foi atropelado por um caminhão quando faltavam apenas dois dias para encerrar a colheita. A tragédia abalou, mas a dor uniu ainda mais os filhos Ednilson Alves e Walter Cesar. Com o apoio da mãe, Osvaldina, os irmãos assumiram a direção dos negócios e se tornaram os maiores produtores de café da região de Manhuaçu, que fica no sudeste de Minas Gerais, na divisa com o Espírito Santo e o Rio de Janeiro. Dinho e Waltim, como são conhecidos na região, lembram com orgulho do pai, que lhes transmitiu a paixão pelo café e ensinou os primeiros passos sobre como cuidar dos cafezais numa região montanhosa, onde, no sobe e desce dos morros, o uso intensivo de mão de obra é fundamental para o sucesso da empreitada. Eles apreenderam isso ainda adolescentes, realizando todas as tarefas, da capina e colheita a podas das árvores e beneficiamento do café. A diferença de idade entre os simpáticos e hospitaleiros
irmãos Dutra é pouca. Dinho, mais sério, tem 46 anos assumidos, mas o jovial Waltim reluta em aceitar seus 47 anos, ainda mais tendo três filhos com menos de 4 anos. Eles lembram que o pai começou com apenas 1 hectare, no sítio onde nasceu, e ao morrer lhes deixou 300 hectares. Com muito trabalho e superando as adversidades, os irmãos ampliaram a área para 1.000 hectares, distribuídos hoje em sete propriedades. A área de café ocupa 750 hectares, onde são cultivados 3 milhões de pés. Algumas árvores têm mais de 40 anos. Eles narram que a ideia de produzir respeitando o meio ambiente e os direitos dos trabalhadores também é uma herança paterna. Desde o início, seu Zeca cuidou de preservar a vegetação nativa nos topos dos morros e nas nascentes, dizem eles, acrescentando que o respeito aos empregados vem da própria experiência de vida do pai, que como pequeno sitiante garantia o sustento da família trabalhando em terra alheia, inclusive na Fazenda Água Limpa, que mais tarde viria a comprar. A Fazenda Água Limpa, situada no município de São João do Manhuaçu, tem 358 hectares, dos quais 280 hectares são ocupados por cafezais. A propriedade fica ao lado do Pico da Taquara Preta, de onde, no topo, avista-se o Pico da Bandeira (2.892 metros de altitude). O Parque Nacional do Caparaó está a 50 quilô-
LOCAL São João do Manhuaçu (MG) ÁREA TOTAL 1.000 hectares ATIVIDADE PRINCIPAL Cafeicultura ATIVIDADES COMPLEMENTARES Gado leiteiro e frutas ÁREA PRESERVADA 300 hectares CERTIFICAÇÕES UTZ, 4C, ABSC, RainForest MERCADOS Interno e exportação
DESTAQUES Recuperação de matas Separação de lixo Reaproveitamento de água Armazenagem correta de defensivos Atendimento à NR 31 Incentivo à educação infantil e aos esportes Uso de defensivos biológicos Monitoramento de pragas e doenças Pesquisa científica Certificações internacionais Tratamento de resíduos – óleo, defensivos, efluentes, sementes e água Viveiro de mudas
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PRÊMIO
2O LUGAR
Casas onde moram os trabalhadores fixos da Fazenda Água Limpa
CASCAS DE CAFÉ SÃO USADAS EM FORNOS PARA SECAGEM DOS GRÃOS E NA ADUBAÇÃO ORGÂNICA metros dali. Os cafezais sobem na encosta da montanha, partindo de 1.000 metros até atingir 1.300 metros de altitude, mostrando que os irmãos Dutra superaram com mérito o desafio de trabalhar integrado ao meio ambiente, pois conseguem bom rendimento respeitando as regras da sustentabilidade. A fazenda conquistou o reconhecimento de certificadoras internacionais importantes, como RainForest Aliance, UTZ Certified, 4C Association, além da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) e do programa estadual Certifica Minas. Mas o certificado que mais marcou os irmãos Dutra foi o prêmio de melhor fornecedor brasileiro, concedido em 2009 pela torrefatora italiana Illy, uma espécie de passaporte para o seleto grupo dos produtores de cafés especiais. A qualidade é as-
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segurada no pós-colheita, com a lavagem e despolpa do café, que começou com seu Zeca e foi aumentando com os investimentos feitos pelos irmãos nos últimos anos. Eles recirculam a água utilizada na lavagem dos grãos e depois armazenam em tanques, a fim de evitar a contaminação do solo. Do volume de biomassa formado pela casca do café, 40% são utilizados nos fornos para secagem dos grãos, dispensando o uso de lenha. Os outros 60% de biomassa são colocados nos currais, onde os Dutra criam 100 vacas leiteiras da raça girolando. O resíduo do curral, formado pela casca e pelo esterco, é depois utilizado na adubação orgânica das lavouras, em média 10% da área a cada ano. Essas práticas sustentáveis e a qualidade do café permitem que os Dutra ven-
dam cerca de 20% da produção como grãos especiais para compradores da Itália, Alemanha, Japão e Bélgica. Nos dois dias em que receberam a reportagem da G R, os irmãos Dinho e Waltim também hospedavam um grupo de cinco belgas, liderados por Tom Janssen, dono de uma rede de cafeterias. Janssen importa 800 sacas de café por ano, metade do Brasil. Ele conta que costuma visitar os fornecedores e se possível leva também um de seus 20 baristas, para que todos conheçam no campo as diversas etapas da produção. Os belgas são apenas um dos vários grupos de estrangeiros que os irmãos Dutra hospedam na fazenda todos os anos. Alguns visitantes fazem questão de escolher as árvores que produzirão os cafés que irão comprar. Outras pessoas chegam a trabalho,
como o renomado fotógrafo Sebastião Salgado, que ficou 15 dias na fazenda realizando um ensaio que estará exposto até outubro na mostra do pavilhão temático dedicado ao café na ExpoMilão, na Itália. Entretanto, a modernização na fazenda Água Limpa aos poucos está acabando com as tarefas que tradicionalmente ilustram as fases da cafeicultura, como a colheita manual, o carregamento de sacos nas costas pelos trabalhadores e a secagem no terreiro. A modernização faz-se necessária, pois os Dutra têm um imenso patrimônio a céu aberto. Cuidar de 3 milhões de árvores não é uma tarefa fácil. Para isso, eles contam com 50 funcionários fixos para as tarefas ao longo do ano e até há pouco tempo contratavam até 800 trabalhadores no pico da safra do café. Neste ano, serão necessários no máximo 350, graças ao uso na colheita de uma máquina motorizada chamada derriçadeira. Além de vibrar, a ferramenta, que fica na ponta de uma haste, tem garras como os dedos das mãos, que arrancam os grãos dos galhos das árvores.
Paca e tatu
Cada trabalhador tem sua própria derriçadeira, que custa entre R$ 1.300 e R$ 1.500. Dinho Dutra explica que, manualmente, um trabalhador colhe por dia oito balaios de café (60 quilos) e, com o uso da máquina, pode colher em média 25 balaios. Como o ganho é de R$ 10 por balaio, a renda diária sobe de R$ 80 para R$ 250. Como a garra é acoplada à derriçadeira, durante a entressafra o trabalhador troca a peça e transforma a máquina numa roçadeira. Assim pode ganhar até R$ 100 por dia na capina dos cafezais, o que permite aos Dutra uma redução no uso de herbicidas para controlar o mato. Os cafeicultores também conseguiram reduzir o uso de insetici-
Secagem dos grãos de café
das e fungicidas. Trabalhadores conhecidos como “pragueiros” percorrem as lavouras para avaliar o estágio de incidência das pragas e doenças. Os agrotóxicos são aplicados apenas quando o nível de infestação ameaça comprometer a produtividade das lavouras. Graças ao menor uso de venenos, as aranhas formam suas teias entre as árvores, o que contribui para controlar os insetos. Os bichos também são preservados. A fazenda tem uma variedade enorme de pássaros e animais em extinção, como a jaguatirica, o lobo-guará, o veadocampeiro, a paca e o tatu. Outra iniciativa para facilitar o trabalho no campo foi a substituição na colheita dos tradicionais sacos de 50 quilos por grandes bolsas (bags) com capacidade para mais de 300 quilos, que são içados por um trator e colocados dentro de um caminhão. No guincho do trator, os irmãos Dutra adaptaram uma balança para medir o volume de café colocado dentro do bag, o que permite saber quanto foi colhido pelo trabalhador. A inovação reduziu o esforço físico e o risco de acidentes dos trabalhadores, que antes arremessavam os sacos de café para cima do caminhão. Ou-
trora, o trabalhador ganhava por saco de café e agora ganha exatamente por quilo colhido, o que torna a remuneração mais justa, explica Waltim Dutra. Wagner Silva Teles, o Waguinho, de 39 anos, na fazenda há mais de 20 anos, é um dos dois gerentes, juntamente com Alexandre Mendes Dutra. Em vez do cavalo, Waguinho usa uma moto para percorrer diariamente mais de 150 qulômetros no monitoramento das turmas na colheita. Na lida ele teve uma ideia que recebeu apoio dos patrões, que foi “fidelizar” os trabalhadores a determinados talhões de café. “Se forem maltratadas na colheita, as plantas produzirão menos na safra seguinte, e com isso a turma terá menor remuneração”, afirmou. O sistema deu certo, pois os trabalhadores não danificam as lavouras. Waguinho é um exemplo do comprometimento dos trabalhadores dos Dutra com os resultados da fazenda. “Dependemos deles para que todas as metas de sustentabilidade sejam atingidas”, explica Waltim, lembrando mais uma das lições aprendidas com o pai, de que a cada dia é preciso celebrar a vida.
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PRÊMIO
3O LUGAR
Esse trabalho nunca vai acabar, o nosso dever é sempre melhorar” EMILIANO MELLIS, DIRETOR DE OPERAÇÕES DA YBY AGRO
O crescimento tem de ser ordenado para ser sustentável” AMILTON KANIESKI, GERENTE DE MEIO AMBIENTE DA SÃO JOÃO DO PIRAJÁ
FAZENDA
Parceiros da ema Fazenda produtora de grãos no Piauí tem de zelar pela água e pelo capital humano para atingir bons resultados financeiros
Texto Viviane Taguchi * Fotos Rogério Albuquerque, de Bom Jesus e Currais (PI)
I
r a Bom Jesus, no Piauí, não é tarefa fácil. A BR-135 é o melhor caminho para chegar lá, não importa se a origem é a capital, Teresina, distante 652 quilômetros, ou a Bahia, cuja fronteira está a 350 quilômetros. De um lado e de outro, a estrada é ruim, sem acostamento, abarrotada de carretas e cortada por corrutelas. Ao anoitecer, há congestionamentos de jegues. Esses bichos foram o meio de transporte mais comum por ali e agora, substituídos por motocicletas, ficam à beira da pista, ao deus-dará. Hipnotizados com os faróis dos carros, não se mexem. É preciso desviar e, de novo, não há acostamento. Um perigo! Mesmo com tantas dificuldades, foi essa a região escolhida por um grupo de executivos do mercado financeiro para apostar no setor mais forte da economia: a agricultura. Em 2007, quando adquiriram a Fazenda São João do Pirajá, com seus 29.000 hectares, eles sabiam que o acesso precário seria o menor dos problemas. Na região, a agricultura é praticada em chapadas que estão a 600 metros de altitude. Lá em cima, onde a paisagem é típica de Cerrado, não há uma só gota de água. Este recurso, essencial para a plantação, está lá embaixo, onde predomina a Caatinga. “Não há nascente, não há rio. A água vem de poços profundos e do céu. Se quisermos produzir grãos aqui, e esse é o
objetivo, precisamos cuidar da água e do solo com o maior carinho do mundo”, diz Emiliano Mellis, o Sabugo, diretor de operações da Yby Agro, gestora da São João. E não para por aí: lá embaixo, perto da água, também está a mão de obra. “É como se passássemos por um portal místico que nos transporta em segundos para outro mundo”, brinca Sabugo. As adversidades guiaram a São João até agora. A meta sempre foi produzir grãos: soja, milho e feijão. No início, tentaram parcerias com grupos de produtores, até que, em 2011, resolveram agir por conta própria. O agrônomo Sabugo, que já atuava na empresa, teve o aval dos sócios para formar uma equipe do seu jeito, e hoje, divididos em quatro frentes de trabalho, profissionais jovens – com idade média de 35 anos – tocam a fazenda com facilidade. “Não é facilidade, é organização e planejamento”, defende. “Nossa missão é desenvolver a agricultura piauiense com todo o conhecimento que temos, com tecnologia acessível. Sabemos como produzir com responsabilidade”, diz Sabugo. Amilton Kanieski, engenheiro florestal e gerente de meio ambiente, diz que planejamento é a palavra de ordem na rotina da fazenda. Reuniões periódicas acontecem na sala dos técnicos, uma espécie de QG de decisões, e de lá eles saem com duas, três safras planeja-
SÃO JOÃO DO PIRAJÁ LOCAL Bom Jesus (PI) ÁREA TOTAL 29.000 hectares ATIVIDADE PRINCIPAL Soja, milho e feijão ATIVIDADES COMPLEMENTARES Milheto ÁREA PRESERVADA 11.289 hectares MERCADO Interno e externo
DESTAQUES Recuperação da fauna e flora Separação de lixo e compostagem Reaproveitamento de água Armazenagem correta de defensivos Atendimento à NR 31 Incentivo à educação por meio da Fundação Vibração Uso de defensivos biológicos e fisiológicos Boas práticas agrícolas Pesquisa científica em parceria com a Universidade Federal do Piauí (UFPI) Tratamento de resíduos – óleo, defensivos, efluentes, sementes e água Viveiro de mudas Programas sociais Programa de prevenção de acidentes
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PRÊMIO
3O LUGAR SE QUISERMOS PRODUZIR GRÃOS AQUI, TEMOS DE CUIDAR DA ÁGUA E DO SOLO COM CARINHO das. “Planejamos e investimos agora olhando para o futuro. O crescimento tem de ser ordenado para ser sustentável”, diz Kanieski. Na safra 2014/2015, 12.500 hectares foram cultivados: 8.000 hectares com soja, o que rendeu 300.000 sacas; 2.500 hectares de milho; 1.000 hectares de feijão; e 2.000 hectares de milheto. Em 2015/2016, serão 16.500 hectares cultivados, com 12.500 hectares de soja, para produzir 600.000 sacas, metade já vendida. E, para 2016/2017, a área cultivada pode chegar perto de 20.000 hectares. “Esta-
mos desenvolvendo as áreas safra a safra. A diferença pluviométrica chega a ser de 150 milímetros de um talhão para o outro. Temos de cuidar de cada talhão com atenção”, diz ele. Isso vale também para os 11.200 hectares de áreas preservadas com mata nativa (37% da propriedade). Esse pedaço da fazenda fica sob os cuidados de Kanieski. Inserida no bioma Cerrado, pelo Código Florestal, 20% da área deve ser preservada, mas no Piauí não é assim. “A legislação estadual exige 10% a mais que a lei federal e temos duas espécies protegi-
No Piauí, a agricultura é praticada nas chapadas; Ricardo e Juliano analisam a soja; e as crianças agradecem
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das, a faveira e o pequi. Temos várias, e elas não podem ser derrubadas onde quer que estejam”, lembra. “Localizamos cada uma delas.” O engenheiro também trabalha em um projeto de reflorestamento na fazenda. Estão sendo cultivados 26 hectares com eucaliptos, para consumo próprio. “Não vamos derrubar árvores para ter energia, vamos produzir árvores.”
Com carinho
As áreas abertas na fazenda seguem um ritual: correção de solo, cultivo de milheto para formação de palhada, cultivo de soja por três safras consecutivas e cultivo de milho. “Com pouca água e temperaturas altas (em fevereiro, a temperatura externa do solo chega aos 62 °C e sob a palha cai até 20 °C), a adoção do plantio direto é essencial”, explica Kanieski. “É carinho para o solo. A cultura não vai elevar a produtividade das lavouras, mas vai minimizar riscos climáticos.” Em janeiro deste ano, a região ficou 37 dias sem chuvas. “Foi o que salvou.” Ricardo Appelt, supervisor agrícola, destaca outros carinhos que fazem uma baita diferença, como o manejo integrado de pragas. “Sabemos da importância de não criarmos resistência nas pragas com o uso descontrolado de defensivos. Investimos em defensivos biológicos e fisiológicos para equilibrar as pragas. Dá trabalho, é caro, mas, se não tomarmos esses cuidados, como espalhar 1 milhão de ovos de vespas para controlar lagartas, perdemos alguma etapa do processo lá na frente.” A São João “trabalha” com parcerias inéditas. Por ter grandes áreas preservadas, inclusive com aceiros,
Colheita do milheto para a palhada e as instalações
que evitam incêndios, prática comum na região, devido à ação de caçadores, a fauna na propriedade é rica. “Loboguará, onça, tatu, coruja, siriemas”, conta Sabugo. “As emas são nossas amigas. Elas mostram se há infestação de lagartas em determinados pontos da lavoura, às vezes de difícil acesso. São verdadeiras parceiras”, diz ele.
Turno virado
No Piauí, o trabalho noturno não para nem na entressafra. Ventanias carregadas de poaca, uma poeira fina capaz de fazer um grande estrago, atingem a região e aí não adianta insistir. “Preparação de solo, só à noite, senão o vento espalha todo o fósforo”, diz Appelt. “É dinheiro voando.” Quem coordena a infraestrutura para que o trabalho aconteça sem problemas é Juliano Schaurich. “A lógica é simples: adaptamos nosso trabalho à região, e não o contrário”, diz. Isso vale para tudo, até para os aparelhos de ar-condicionado dos alojamentos. “Quem trabalha à noite dorme durante o dia, quando as temperaturas são altas. Eles só descansam em quartos com ar-condicionado, senão o sujeito não aguenta o calor”, conta. Schaurich aproveitou a situação com uma ideia. Como são muitos apa-
relhos de ar-condicionado ligados durante o dia, toda a água que escorre deles é aproveitada. “Vai para os reservatórios das máquinas agrícolas, para lavar a mão, as ferramentas.” Um dos maiores investimentos feitos na São João foram as estruturas para descontaminação das águas (lavagem de máquinas, de ferramentas, de tratamento de sementes). Há áreas isoladas para esse serviço, e, após passar por filtros, a água vai para a piscina de evaporação. “Entendemos que sustentabilidade não é só conceito. É bonito falar, mas, para tê-la e ter seus benefícios em longo prazo, é preciso investir.”
Hino Nacional
O planejamento dos gestores inclui o cuidado com o capital humano, um grande desafio. “A natureza você estuda, há tecnologias para lidar com ela, mas as pessoas não”, diz Sabugo. “Mais difícil que lidar com as adversidades da região é captar mão de obra.” Durante a safra, a fazenda tem 200 trabalhadores e, na entressafra, 50. O salário mínimo pago é de R$ 1.200. Neste ano, quando muitas fazendas dispensaram funcionários por causa da crise, a São João contratou. “E tem vindo gente com muita experiência”, comemoram. “Graças a Deus.”
Todos têm café da manhã, refeições e lanches, áreas de convívio (uma área nova está sendo construída, com auditório) e os alojamentos são divididos por área de atuação. Silvio Coelho, técnico de segurança do trabalho, também mora na fazenda e não deixa ninguém ir para o campo sem proteção. “Tem cobra, bicho, farpa.” Graças a ele, a São João está perto dos 500 dias sem acidente de trabalho. “É só seguir a regra, manter a linha.” Mas ninguém ali conseguiu manter a linha quando as crianças da Escola Joaquim Fernandes de Castro os homenagearam cantando o Hino Nacional. A São João investiu R$ 60 mil na escola, que antes não tinha nem banheiro. “Eles pediram para eu discursar e fiquei desconsertado”, lembra Sabugo, que fala mais que o homem da cobra. A Yby Agro instalou dois banheiros, computadores e pintou a escola. “É a melhor escola do mundo”, disse Kaylon, de 12 anos. “Minhas colegas estão loucas para estudar aqui”, completou a prima dele, Ilayne, de 10 anos. “Esse trabalho nunca vai acabar. Temos o dever de melhorar se quisermos ser sustentáveis e fazer a diferença no crescimento e no desenvolvimento do Piauí”, diz o grupo.
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PECUÁRIA
Ao ritmo do Caribe
A senepol, raça forjada em clima tropical, tem crescido no Brasil por conta da cruza com o rústico nelore Texto Sebastião Nascimento * Fotos Marcelo Min
Ricardo Arantes, de 45 anos, à frente do senepol puro-sangue
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A
raça bovina senepol, originária do Caribe, está comemorando 15 anos da chegada dos primeiros animais ao Brasil. O bom resultado do cruzamento industrial com a zebuína nelore, principalmente sob o clima tórrido de Estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, regiões onde a pecuária tem se desenvolvido a passos largos nos últimos anos, ampliou sem limites o mercado para a raça. Cresce o número de criadores, de animais registrados na Associação Brasileira de Bovinos Senepol, de leilões anuais e de doses de sêmen ofertadas. É difícil encontrar tourinhos disponíveis hoje, o que atesta a fase efusiva do gado senepol. Os 300 criadores registrados na associação irão dar uma parada para avaliação do mercado, do aprimoramento genético da raça e do futuro dela, na convenção nacional que irão realizar em Uberlândia (MG), sob a batuta de especialistas experimentados (leia o quadro à pag. 38). Quem primeiro trouxe animais para o Brasil foi João Arantes Júnior. Ele foi chamado de louco ao insistir em montar um laboratório para fertilização in vitro (FIV) em plena Floresta Amazônica e em pouco mais de três meses. Em 2000, o pecuarista trouxe 56 vacas senepol puras de origem (POs) dos Estados Unidos em voo fretado, com a intenção de multiplicar o número de animais. Ele tinha pressa. Além das fêmeas, chegaram quatro touros e 12 bezerros. “Foi ousadia. No meio do nada, com as vacas puras, meu pai queria produzir 2 mil animais em um ano e meio. Nós o apoiamos, é claro, mas o receio era natural, diante do porte da empreitada,” lembra Ricardo Arantes, que tinha 30 anos quando a experiência foi feita. Naquele tempo, a FIV, que permite acelerar a produção de bovinos geneticamente superiores, não havia ainda sido testada no país e se restringia às universidades americanas. João Arantes Júnior, que não recuou um passo, morreu em 2003, aos 63 anos. Ele já estava doente quando investiu no projeto. Viveu para testemunhar a concretização de seu sonho: o nascimento dos bezerros senepol em Ariquemes, Rondônia. João é reconhecido hoje como um visionário da pecuária de corte. Tinha convicção de que somente o cruzamento industrial, tecnologia que patinava entre altos e baixos, daria resposta à demanda por carne, que crescia mais que a oferta, e também à impossibilidade de raças taurinas puras e sensíveis produzirem
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com escala sob o clima tropical do Brasil. Para João, a senepol era a aposta certa para a heterose com os zebuínos, principalmente o nelore, por conta da sua precocidade reprodutiva e bom ganho de peso. “Meu pai depositava muita esperança na capacidade do touro senepol cobrir a vacada a campo, atributo que não é característica de todas as raças taurinas selecionadas no Brasil. Demorou um pouco, mas o tempo lhe deu razão”, diz Ricardo. Após a morte do pai, Ricardo passou a conduzir as rédeas da Nova Vida junto ao irmão João Arantes Neto, de 41 anos. “Recentemente, montamos uma fazenda-vitrine em Cesário Lange, a 146 quilômetros de São Paulo, onde está concentrado o rebanho de elite. No ano passado, alugamos uma propriedade de senepol nos Estados Unidos e ela funciona como plataforma de distribuição de sêmen, embriões e touros para o Brasil e também para Costa Rica, Colômbia, Venezuela, Chile, Argentina, Uruguai e México”, informa Ricardo. “A proposta inicial era abastecer exclusivamente o Brasil de material genético. Foi uma grata surpresa constatar que quase toda a América Latina demanda o sangue senepol”, diz. “O objetivo do trabalho nos EUA é oferecer variedades genéticas distintas aos clientes. Como a da Sacramento, que é nossa marca americana”, afirma Ricardo. A expansão da raça levou também a família Arantes a trocar o nome da Agropecuária Nova Vida para Senepol Nova Vida. A seleção de nelore foi liquidada.
A famíliaGarcia, em Barretos,e oclone da vaca SCR 1411
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PECUÁRIA
“ANIMAL DE CRUZAMENTO CHEGA A 18 ARROBAS EM UM PERÍODO MÉDIO DE 18 A 22 MESES” GILMAR COUDARD
Os números comprovam a forte expansão da raça senepol nos últimos anos. Em 2014, foram comercializadas 143.567 doses de sêmen, salto de 22% em relação às 117.750 de 2013 e de 63% em comparação às negociadas em 2012. Enquanto isso, nas pistas de leilões, os negócios com o senepol movimentaram R$ 33,6 milhões no ano passado, o que equivale a um crescimento de 107% em relação a 2013. A Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol, de Uberlândia (MG), informa que tanto a produção de sêmen como os negócios nos pregões deverão crescer “no mínimo” 30% até dezembro próximo. Segundo Gilmar Goudard, presidente da associação, a raça permite a agregação de valor à carne e este é um dos motivos que a tornam muito procurada. Ele relaciona ainda a adaptação ao clima e o encurtamento do ciclo do boi gordo, pois um ani-
“No caso do senepol, o touro pode ser utilizado para a monta natural, e isso é vantajoso” ROBERTO ALMEIDA JÚNIOR, DA EMBRAPA GADO DE CORTE DE CAMPO GRANDE
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Opinião de doutor
O desembarque do senepol mudou tudo. “Sua rusticidade igualmente nos impressionou”, diz. Hoje, a família opera com gado comercial no Estado goiano e deu um passo além. “Fazemos o tricross, ou seja, a vacada F1 angus com nelore é coberta pelo touro senepol, unindo assim a melhor genética de três raças.” Segundo Neto, em Goiás são produzidos 1.200 bezerros ao ano. Já em Barretos (SP), a família mantém o gado senepol puro. “Aqui está nossa vitrine”, diz Neto. São 150 vacas doadoras. Delas são coletados os oócitos e eles viram embriões. Foram os embriões a sensação de um leilão que a marca Senepol 3G realizou este ano em Barretos. “Em poucas horas, vendemos 680 embriões à média de R$ 2 mil. No final, constatamos que, se tivesse maior oferta, os pecuaristas teriam levado tudo”, ressalta Neto. Em outro pregão um dia depois, a 3G comercializou 50 touros pela média de R$ 15.500 e 42 fêmeas à média de R$ 60 mil. “Foi muito bom. A raça realmente está consolidada. Quer uma confirmação? Fazíamos um leilão há quatro anos. Hoje, são seis vendas e a demanda nos leva a pensar em expansão.” Doutor em melhoramento genético, Roberto Augusto de Almeida Torres Júnior, da Embrapa Gado de
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Ivo Reich,pai,faze vende tourinhosem Mato GrossodoSul
mal de cruzamento chega a 18 arrobas num período médio de 18 a 22 meses. Já o número de criadores associados foi de 133, em 2012, para 189, em 2013, e fechou o ano de 2014 em 273. Passados cinco meses deste ano, foi a 300 associados. Pois Sebastião Garcia Neto, o Neto, e sua família, ficaram impressionados ao terminar meio-sangue senepol e nelore com um pouco menos de 15 meses de idade e peso de 17,5 arrobas. Foi em 2009, quando Neto começou a trabalhar com a raça caribenha. “Comprovamos a precocidade e aderimos ao senepol”, diz Neto. Em 2007, ele, que é veterinário e tem 28 anos, fazia um curso nos EUA quando conheceu a raça numa das fazendas de lá. Ao retornar, convenceu o pai da potencialidade do senepol e deram início à importação de embriões. Até então, a família produzia gado comercial de vários tipos em Goiás. Era uma mistura geral.
Corte de Campo Grande (MS), concorda que o senepol e outras raças taurinas dão respostas positivas no cruzamento industrial com as zebuínas. “No caso específico do senepol, o touro pode ser utilizado para a monta natural, e isso é muito importante, pois baixa os custos”, explica. Outras raças, segundo Torres, possuem carne até mais macia e saborosa do que a de senepol, porém, sentem intensamente o ambiente tropical severo. Há mais de dez anos, o especialista percorre as fazendas de corte do Centro-Oeste, região que é um verdadeiro laboratório agropecuário. Em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul estão concentrados os maiores rebanhos do país. Torres observa que é a angus, raça originária da Escócia, a maior vendedora de sêmen para o cruzamento industrial. A limitação da angus é a dificuldade para cobrir as fêmeas a campo, o que leva ao uso da inseminação artificial, método que torna a atividade mais onerosa. Uma coisa é certa, e importante, pontua Torres: a demanda pela genética do senepol e outros taurinos está vinculada à retomada robusta da cruza no país. Ele revela ainda que os produtos meios-sangues são até mais fáceis de lidar no calor do que o próprio nelore. Outra vantagem específica do senepol é que a raça é mocha e a ausência de chifres facilita o manejo. É comum, por exemplo, as reses não mochas se ferirem nas cercas. Segundo Torres, ao que tudo indica, os cruzamentos industriais estão sendo conduzidos com seriedade e correção no Brasil, e desta vez a possibilidade de erro está distante. O que atrapalhou essa ferramenta tecnológica decisiva, principalmente nos anos 1990, foram as dificuldades das raças europeias para se adaptar aos trópicos e à criação a pasto, com altas temperaturas e ataques constantes de pragas como o carrapato. Os touros europeus sofriam com o calor, e a monta no campo foi dificultada.
Plataforma mundial
O rancho de Ricardo Arantes nos EUA fica na cidade de Okeechobee, na Flórida, a cerca de 120 quilômetros de Miami. Chamado Sacramento Ranch, foi alugado pelos Arantes pelo período de dez anos e aloja 300 vacas e 18 touros de central. “A previsão inicial era produzir embriões e sêmen e trazer tudo para o Brasil. Porém, o interesse de países da América Latina pelo senepol fez com que mudássemos
A origem da raça Inglaterra EUA
Senegal
Ilhas Virgens Brasil
X
N’dama Originário do continente africano (Senegal), é bastante rústico e resistente a doenças
Senepol
Red poll A raça britânica é responsável pela ausência de chifre do senepol, pela precocidade reprodutiva e pelo sabor da carne
A raça surgiu nas Ilhas Virgens, no Caribe, de clima tropical como o Brasil, resultado do cruzamento do red poll com o n’dama
Em 1940, a senepol foi considerada raça de sangue puro e em 1954 o primeiro animal foi registrado com a junção dos nomes Senegal com red poll O touro é indicado para cobertura de matrizes F1 (resultado da cruza de duas raças puras). Ele consegue manter o nível alto de heterose e avançar nas características principais da raça, como a docilidade, o peso e o sabor da carne, sem perder a rusticidade do zebu
No Brasil
As experiências iniciais datam da década de 1990. Foi em 2000, porém, que os primeiros animais desembarcaram por aqui, vindos dos EUA
O crescimento acelerado do senepol no Brasil é devido à cruza industrial com os zebuínos, principalmente nelore Sediada em Uberlândia (MG), a associação do senepol foi fundada na virada do século. O quadro associativo tem crescido e hoje chega a 300 criadores
Venda de sêmen (mil doses)
117,7
Negócios em leilões (R$ milhões)
33,6
143,6 16,2
2013
2014
2013
2014
Fonte: Senepol Nova Vida
| GLOBO RURAL 45
PECUÁRIA
“Na convenção nacional, vamos mostrar que o crescimento do senepol é com solidez” GILMAR GOUDARD, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA RAÇA
a estratégia de negócios. Estamos produzindo também touros para exportação”, afirma Ricardo. Ele informa que os EUA podem vender animais para o mercado internacional. “O Brasil não”, diz Ricardo. Quem conduz o trabalho por lá é João Arantes Neto, de Boca Raton, outra cidade da Flórida. “O grande mercado é o Brasil. Já trouxemos pelo menos 25 mil doses de sêmen para cá, e os produtores pedem mais”, observa Ricardo. Ele informa
15 anos de Brasil
o
s criadores de senepol irão comemorar 15 anos da chegada dos primeiros animais ao país na convenção nacional da raça, que começa no final deste mês, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, durante a exposição agropecuária da cidade. “Vamos mostrar a solidez do crescimento do senepol no Brasil, sua aptidão aos trópicos e os excelentes resultados do cruzamento com os zebuínos”, adianta Gilmar Goudard, presidente da associação. Segundo ele, especialistas experimentados vão analisar, por exemplo, o desempenho da raça nos Estados de Mato Grosso e Mato
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Grosso do Sul, regiões de pecuária em franca evolução e de climas inóspitos. “É notório que muito gado europeu tem dificuldade para prestar serviço sob o calor e a infestação de pragas. Resistente, a caribenha senepol demonstrou que é a ideal para os criadores de lá.” A associação editou um belo e informativo livro acerca da aventura da criação da raça no Brasil, que será distribuído em Uberlândia. Goudard espera receber mais de 600 criadores para a convenção. Convenção Nacional do Senepol 30 de agosto a 7 de setembro. Uberlândia (MG). senepol.org.br
que a Venezuela, com sua economia cambaleante, também tem solicitado a genética senepol. “Teve um produtor que comprou 1.500 embriões.” Ricardo informa que o rebanho de 300 fêmeas é um dos maiores dos EUA do senepol. “Naquele país, as propriedades são pequenas e dispõem de alta tecnologia, o que se reflete na alta produtividade dos animais.” No Brasil, a produção da Nova Vida é em escala. Somente no laboratório de Ariquemes, serão produzidas 2.500 prenhezes de senepol PO neste ano. Na “vitrine” de Cesário Lange, estão 50 vacas doadoras de embriões, 70 novilhas filhas das doadoras e entre 15 e 20 tourinhos erados. “As matrizes doadoras valem de R$ 50 mil a R$ 70 mil. Tudo é vendido. Hoje, estamos à frente de cinco pregões ao ano, por conta de um mercado em evolução.” Esse cenário positivo é confirmado por Ivo Reich Filho, fazendeiro de 28 anos e dono de um plantel de 800 cabeças na cidade de Camapuã, em Mato Grosso do Sul. “Estamos vendendo 150 tourinhos ao ano, volume 300% superior ao de três anos atrás”, diz. Esses reprodutores valem R$ 15 mil cada. “Acontece, porém, que, se você chegar hoje à minha fazenda procurando um tourinho, não vai encontrar.” Ivo Reich Filho e seu pai, Ivo Reich, de 56 anos, selecionam senepol há 11 anos. Segundo o filho, no início, os tourinhos da raça tinham de ser emprestados para outros criadores cruzarem com o nelore. Era uma tática para valorizar os reprodutores – e que deu certo. “O desempenho dos tourinhos era excelente, e os pecuaristas que os usavam vinham depois comprá-los em nossa fazenda.” Ele atribui ao cruzamento industrial, fundamentalmente, o crescimento do senepol. Ivo Filho dá um exemplo da boa fase da raça: “No dia de campo que realizamos em maio passado, um criador comprou nove bezerros de uma vez só. Sua finalidade era recriar e fazer touros, pois ele não encontrava machos erados no mercado”. Além dos tourinhos, a família, que possui 60 matrizes doadoras em seu rebanho, negocia doses de sêmen, embriões e também as doadoras.“A demanda por reprodutores para a cruza deve durar, por conta do número baixo de criadores que produz genética”, diz.
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A RAÇA CRESCE NO PAÍS NA VENDA DE SÊMEN, NOS LEILÕES E NO NÚMERO DE CRIADORES
CENÁRIOS
LUIZ CARLOS CORRÊA CARVALHO
O agronegócio atenua crise entra num ciclo econômico marcado pela tradicional dificuldade em dar sequência a momentos oportunos para fazer deslanchar os mercados e, em decorrência, os investimentos produtivos, fato que realimentaria a roda do desenvolvimento. Vivemos uma espécie de armadilha do baixo crescimento cuja causa principal parece ser um anacrônico modelo marcado pelo excesso da presença do Estado na economia, com intervencionismo, regulamentação excessiva e uma ânsia fiscal que dificulta a geração de riqueza, a renda e o progresso econômico e social. Nós, que somos do lado empreendedor da história, estamos convencidos de que é possível fazer de outra forma, mais produtiva e com maior eficiência, valorizando efetivamente um modelo em que a lógica de mercado prevalecesse, a meritocracia fosse a tônica principal e os mais competentes triunfassem. Nesse ambiente, teríamos mais investimentos em desenvolvimento tecnológico, com liberdade da entrada de parceiros de toda parte do mundo, sem as amarras burocráticas ou ideológicas que afugentam ideias e capitais. Teríamos mais acordos comerciais com blocos econômicos que realmente são relevantes no mundo desenvolvido, numa verdadeira integração com a economia global, alavancando negócios e dinamizando todos os segmentos econômicos. Também estaríamos investindo mais em logística e infraestrutura, o que resultaria
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em menores custos e maior competitividade de todas as empresas. De certa forma, é essa a trajetória que os empresários do agronegócio vêm tentando trilhar, apesar dos entraves colocados por um governo que apenas tolera a iniciativa privada e o capitalismo de mercado. Fazer mais com menos é o tom que vem sendo adotado pelos produtores rurais brasileiros há vários anos. Traduzido em medidas concretas, isso significa elevado investimento em tecnologia e novas formas de manejo que têm proporcionado um aumento de produção sem praticamente nenhum aumento na área plantada; diversificação produtiva e realização de até três colheitas por ano; intensa recuperação de solos degradados; rotação de cultura e disseminação do conceito de ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta).
Em razão dessa atuação, o segmento se consolida como o grande esteio do recente período de estabilidade econômica vivida pelo país, pois representa 40% das exportações, 25% do PIB, além de ter dado relevante contribuição ao manter estáveis os preços dos alimentos no mercado interno, impedindo um descontrole inflacionário ainda maior. Tudo isso com uma atuação cuja marca é a da sustentabilidade ambiental, à medida que o setor consegue se colocar como uma alternativa global para garantir o atendimento da demanda por alimentos e energia, mesmo com as projeções de crescimento efetivo da população, aumento da renda per capita, acompanhado do acelerado processo de urbanização e dos novos hábitos alimentares, que deverão ser confrontados com os limites dos recursos materiais no planeta. Todos esses aspectos serão detalhados no 14o Congresso Brasileiro do Agronegócio, programado para os dias 3 e 4 de agosto, em São Paulo, cujo tema, Sustentar é integrar, deverá trazer luz aos debates sobre as possibilidades e oportunidades proporcionadas pela diversidade e eficiência da agropecuária tropical brasileira. Especialistas das mais diferentes correntes de pensamento foram convidados para oferecer ao público uma análise completa e pluralista sobre os principais desafios a ser enfrentados nos próximos anos pelo nosso setor, assim como para pensar, junto com uma plateia de 800 personalidades do meio, soluções para os nossos entraves.
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LUIZ CARLOS CORRÊA CARVALHO é presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag)
© CLEIBY TREVISAN/EDITORA GLOBO; ILUSTRAÇÃO THINKSTOCK
M
ais uma vez, o Brasil
BOLSA
“Blue chips” do agro Empresas de carnes, papel e celulose e grãos têm valorização entre 16% e 48% no primeiro semestre
E
m meio à onda de notícias ruins deste ano, algumas ações do agronegócio brilharam em grande estilo na BM&FBovespa, a principal bolsa de valores da América Latina. Sete delas foram particularmente bem tratadas pelos investidores, com alta generosa acumulada no primeiro semestre entre 16% e 48%, segundo levantamento da consultoria Economática. Renderam no período muito mais que as aplicações em fundos de renda fixa (6,7%), da combalida caderneta de poupança (3,7% líquidos), superando de longe a inflação do período (6,17%). Segundo os analistas que acompanham as ações de perto, o desempenho positivo tem relação direta com a competitividade do agronegócio brasileiro na disputa acirrada do mercado internacional, ampliada pelo novo patamar do dólar. “São poucos os mercados em que o Brasil tem condições de produzir a um custo baixo e competir no exterior. Mas isso acontece em papel e celulose, proteína animal, soja, milho, algodão e alimentos processados. E as ações
“Nos papéis mais negociados, é mais fácil para o investidor entrar e sair de uma ação” CELSON PLÁCIDO, DA CORRETORA XP INVESTIMENTOS ©2
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mais negociadas, de modo geral, têm refletido essa vantagem”, diz Celson Plácido, estrategista-chefe da corretora XP Investimentos, que prefere concentrar suas análises em BRF, JBS, Marfrig e Minerva. “Esses papéis são os mais negociados, por isso é mais fácil para o investidor entrar e sair de uma ação, tanto para realizar seu lucro como para evitar prejuízos maiores”, diz Plácido, dando uma dica relevante para quem deseja se aventurar pelos altos e baixos da bolsa. Na primeira metade do ano, por conta da conjuntura doméstica negativa, saíram-se melhor aquelas companhias com mais faturamento em dólares, destaque para as de papel e celulose, soja e carnes. A Suzano, a primeira colocada do ranking do agronegócio na bolsa no período, subiu invejáveis 48%, quase empatada com o gigante JBS, com alta de 47%. As ações da Klabin, que em maio fechou parceria com a Fibria para ampliar a atuação fora do país, registraram valorização de 32%, quase igual à da Fibria (31%). As da Minerva, frigorífico voltado exclusivamente às exportações, registraram valorização no período de quase 16%. Parcela considerável dessas altas é atribuída ao retorno dos investidores estrangeiros ao mercado acionário brasileiro. Eles ampliaram a presença aqui aproveitando a valorização da moeda americana, que barateou os ativos em reais. A despeito das turbulências na economia e na política, a expectativa é o volume de capital injetado em 2015 bater o recorde histórico, estabelecido em 2009, inclusive porque sobram recursos mundo afora em busca de boas taxas de lucro. Não parece exagero: nos primeiros seis
© 1 ARQUIVO ED. GLOBO; 2 DIVULGAÇÃO
Texto Luiz Antonio Cintra
BOLSA
AÇÕES DO AGRONEGÓCIO RENDERAM MUITO MAIS QUE AS APLICAÇÕES EM FUNDO DE RENDA FIXA meses, a chamada entrada líquida de capital estrangeiro, ou seja, descontadas as saídas, somou R$ 21,5 bilhões – acima do registrado ao longo de todo o ano passado (R$ 20,3 bilhões).
Troca de ativos
As empresas de proteína animal também foram beneficiadas pela perspectiva de abertura do mercado americano para a venda de carnes in natura. Como a JBS – hoje com valor de mercado de R$ 47 bilhões – já possui operações nos EUA, não será diretamente afetada, ao contrário da Minerva. Esta, como as demais do setor, contará com a chancela do governo dos Estados Unidos para comercializar
Evolução das ações do agro no primeiro semestre de 2015 ATIVOS Suzano PNA JBS ON Klabin S/A PN A Fibria ON SLC Agrícola ON Brasilagro ON Minerva ON BRF S/A ON São Martinho Marfrig ON Cosan ON V-Agro ON Biosev ON Tereos ON Fert. Heringer ON Nutriplant ON Renda fixa Inflação Poupança
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SEGMENTO Papel e Celulose Carne e Derivados Papel e Celulose Papel e Celulose Agropecuária Agropecuária Carne e Derivados Carne e Derivados Açúcar e Álcool Carne e Derivados Açúcar e Álcool Agropecuária Açúcar e Álcool Açúcar e Álcool Fertilizantes Fertilizantes
VARIAÇÃO (%) 48,4 47,7 32,4 31,3 24,7 22,7 16,0 4,4 3,5 -6,7 -11,9 -14,7 -31,0 -51,8 -62,8 -74,6 6,7% 6,1% 3,7%
seus produtos em outros países. Segundo analistas, Japão, Indonésia, China e Coreia do Sul são alguns dos mercados considerados mais promissores. Luciana Carvalho, da BB Investimentos, chama a atenção para o fato de os frigoríficos brasileiros terem aproveitado o momento difícil vivido em 2014 por concorrentes de peso. “No ano passado, os EUA e a Austrália conviveram com uma baixa disponibilidade de carne, o que elevou os preços internacionais”, diz Luciana. Mais recentemente, contudo, começou a haver escassez de bois no Brasil, o que elevou os preços também no mercado interno e provocou o fechamento de vários frigoríficos pelo país. Com foco na venda de alimentos, a BRF é a preferida dos investidores. No mês de junho, os negócios com suas ações movimentaram, em média, R$ 185 milhões ao dia, à frente de JBS (R$ 111 milhões) e muito mais que Marfrig (R$ 25 milhões) e Minerva (R$ 8 milhões). A empresa não tem decepcionado, inclusive por causa das decisões tomadas por Abílio Diniz e sua equipe no sentido de ampliar a participação dos produtos de maior valor agregado. Por meio de uma troca de ativos com a Minerva, a BRF entregou sua operação de carne in natura para se concentrar nos processados. No primeiro trimestre, registrou lucro líquido de R$ 462 milhões, 43% acima do alcançado no mesmo período de 2014. Apesar de a alta das ações ter sido modesta no primeiro semestre, apenas 4,4%, registra em 12 meses uma valorização considerável, de cerca de 30%. “Com a saída dos lácteos, a BRF ficou com um grau de endividamento relativamente baixo e poderá ir às compras nos próximos meses, provavelmente para ampliar sua presença no exterior”, diz Bruno Piagentini, analista da corretora Coinvalores. A expectativa dos analistas é a BRF apresentar um resultado igualmente forte no balanço consolidado do semestre. Nos próximos meses, a companhia também se beneficiará da retomada de vários
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produtos da marca Perdigão, à medida que vençam as restrições impostas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para aprovar a fusão com a Sadia. Essas restrições serão canceladas gradativamente. Com alto grau de endividamento, a Marfrig vive a outra face da alta da moeda americana. Uma parcela expressiva de suas dívidas – que totalizam mais de R$ 11 bilhões – foi contraída em moeda americana. “Mesmo com a venda da Moy Park, especializada em frangos e alimentos processados, para a JBS por US$ 1,5 bilhão, a Marfrig ainda carrega uma dívida pesada, de 6,5 vezes a sua geração de caixa, o que é preocupante”, diz Piagentini. Para a JBS, o maior conglomerado de carnes do mundo, o negócio “fez sentido”, ao reduzir sua dependência das carnes bovinas e, como a BRF, aumentar a participação dos itens de maior valor agregado. A mesma justificativa serviu para o segundo negócio de peso da JBS no semestre, a compra da divisão de suínos da americana Cargill, um negócio fechado por US$ 1,2 bilhão cujos resultados serão sentidos a partir dos próximos meses. O negócio foi selado por meio da Swift, controlada da JBS com atuação forte no mercado dos Estados Unidos. No setor sucroalcooleiro, a situação melhorou ao longo do primeiro semestre na comparação com 2014, dizem os analistas, mas ainda preocupa por causa do nível de endividamento do setor. Apenas a
“Os frigoríficos brasileiros aproveitaram o momento difícil vivido em 2014 por concorrentes de peso” LUCIANA CARVALHO, DA BB INVESTIMENTOS
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São Martinho conseguiu que suas ações fechassem o período com alta, uma valorização de 3,5%. Os fatores positivos que influenciaram o negócio foram o reajuste da gasolina e a maior parcela de etanol usada na mistura com o combustível fóssil. “A São Martinho é uma empresa de alta produtividade, considerada referência no setor. Com forte presença na região de Ribeirão Preto, possui localização privilegiada e se beneficia disso no custo do frete de seus produtos”, explica Márcio Montes, analista especializado no setor da BB Investimentos. Ainda entre as maiores altas, a SLC Agrícola, especializada no cultivo de soja, milho e algodão, também se beneficiou da valorização da moeda americana, diz Daniel Marques, da Gradual Investimentos. “Como várias outras grandes empresas do agronegócio, a SLC depende dos preços internacionais para vender seus produtos. E tem ampliado a presença em novos mercados, além de vender mais nos países onde atua. Por isso, mesmo com quase tudo caindo no semestre, essas empresas conseguiram se manter em alta”, avalia Marques. Em alguns casos, para além da conjuntura, uma grande tacada pode afetar o resultado positivamente. Foi o que ocorreu com a Brasil Agro, cujas ações subiram 22% no semestre. Especializada em comprar e recuperar terras agriculturáveis, além de produzir grãos, fez no segundo trimestre deste ano a sua primeira venda de peso. Conseguiu R$ 270 milhões pela Fazenda Cremaq, de 27.700 hectares, localizada no interior do Piauí. A propriedade fora adquirida em 2006 por um valor equivalente a R$ 63 milhões. A companhia ainda possui 51.000 hectares que poderão ser vendidos a qualquer momento, além de outros 73.000 em fase de produção. E ainda deu sorte com as chuvas. “Mesmo com a crise hídrica em várias regiões do país, os resultados da SLC na produção agrícola não chegaram a ser afetados”, diz Piagentini, da Coinvalores.
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A SITUAÇÃO MELHOROU, MAS O ENDIVIDAMENTO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO AINDA PREOCUPA
EU FAZER BONS NEGÓCIOS Os pequenos negócios fazem parte da história de todos os brasileiros. Geram empregos, fortalecem a economia local, impulsionam o desenvolvimento do país. E para valorizar as micro e pequenas empresas, vem aí o 5 de outubro, o Movimento Compre do Pequeno Negócio. Um dia para incentivar, fortalecer e comprar dos pequenos negócios. Acesse compredopequeno.com.br, faça seu cadastro e saiba mais.
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5 DE OUTUBRO M OV I M E N TO CO M P R E D O P E Q U E N O N E G Ó C I O E S S E N E G Ó C I O TA M B É M É S E U
Iniciativa:
COMO FAZER
O instrutor e criador Fabiano Giori demonstra como funciona o aerador
Oxigênio renovado
Piscicultor inventou um aerador simples e barato, que recicla a água sem gastos com energia elétrica
O
Texto Priscila Brandão* * Fotos Sérgio Cardoso, de Castelo (ES) instrutor e criador de peixes Fabiano Giori já estava na metade de um curso de 40 horas de aula quando um dos alunos, o franzino e tímido Samuel da Costa, pediu a palavra. Samuel mostrou ao professor uma invenção que de tão simples levou todo mundo a se perguntar “como eu não pensei nisso antes?”. Inclusive o próprio Fabiano. Samuel, também criador de
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tilápias em um pequeno sítio em Castelo, município cercado de montanhas no sul do Espírito Santo, criou um aerador de oxigênio para tanques de criação de peixes muito simples. A aula era do curso de piscicultura, promovido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) do Espírito Santo. O aerador é um equipamento que serve para aumentar o teor de oxigênio da água dos tanques-redes ou dos viveiros escavados, onde os peixes são
Passo a passo Montagem
Instalação 1 cano de 20 cm
1 tampão
(PVC de 3/4)
(PVC de 1/2) Com um furo de 5 mm
O aerador deve ser fixado a uma estaca de forma que o cano de 20 cm fique com a ponta para fora d’água
1 cano de 10 cm (PVC de 3/4)
1 cano de 10 cm
(PVC de 1/2)
INFOGRÁFICO: FILIPE BORIN
água
ar
2 Devido à pressão, o ar é sugado para dentro do sistema
1 A água entra pelo cano de 3/4 e cria pressão ao passar pelo furo de 5 mm no tampão
3 O ar se mistura com a água, oxigenando-a
1 T (PVC de 3/4)
criados. Existem vários tipos de aeradores no mercado. Os mais comuns são os que jogam a água para cima, conhecidos como aquamix – recomendados para ambientes menores, com até 2.000 metros quadrados –, ou os do tipo pá, usados em ambientes maiores, de até 1 hectare. Ambos precisam de uma bomba conectada à energia elétrica para funcionar. O diretor do Museu de Anatomia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), professor Francisco Javier Hernandez Blazquez, explica que a água naturalmente já contém oxigênio dissolvido, mas o teor varia muito e depende de vários fatores, como a concentração de matéria orgânica e a temperatura.
Falta de ar
Como funciona
Na maioria dos sistemas de criação de peixes, a água dos tanques é renovada muito lentamente. Isso acontece porque os próprios peixes usam o oxigênio disponível na água. A matéria orgânica que eles produzem também absorve oxigênio, assim como os micro-organismos que vivem dessa matéria orgânica. Com o passar do tempo, o nível de oxigênio na água do tanque-rede vai caindo. Há duas maneiras de repor o oxigênio consumido, a fim de manter o nível considerado ideal para a sobrevivência dos peixes, que varia entre 5 e 13 miligramas (mg) de oxigê-
nio por litro de água, dependendo da espécie. A primeira é a renovação constante da água no tanque. “Mas o consumo é elevadíssimo”, afirma o professor. Ou a reintrodução do oxigênio na água por meio do “borbulhamento” de ar. “Quando o ar borbulha na água, estamos na realidade dissolvendo esse ar na água e, portanto, dando oxigênio. Isso ocorre porque a quantidade de oxigênio no ar é muito superior à existente na água”, completa o doutor Blazquez. Aí que entra o aerador. Samuel percebeu que seus peixes estavam subindo toda hora à superfície, abrindo e fechando a boca, e muitos estavam morrendo. Juntando os conhecimentos já adquiridos no curso do Senar, ele deduziu que o problema podia ser a falta de oxigênio na água. E pensou: se está cheio de oxigênio aqui fora, por que não posso levar isso lá para dentro? Foi quando ele teve a ideia de roubar o ar da atmosfera, colocando na água um cano com a boca virada para cima. Como faz serviço de pedreiro nos sítios da vizinhança, Samuel pegou três pedaços de cano de PVC e os uniu com uma conexão T, colocando no tanque. Não aconteceu nada. Então, veio a solução: um tampão com um furinho no centro, para dar pressão à água que entra no cano. O instrutor do Senar Fabiano Giori explica que, quando a água passa por essa abertura, chamada de porta de sucção, suga o
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COMO FAZER
O piscicultor Samuel da Costa mostra o modelo do aerador que ele inventou
A UTILIZAÇÃO DO SAMUCA PODE GERAR ECONOMIA DE ATÉ 70% NO CONSUMO DE ÁGUA Como o peixe respira
O
professor Francisco Blazquez, da USP, explica que o aparelho respiratório dos peixes é adaptado para retirar o oxigênio da água, e não do ar. A respiração do peixe depende da passagem de uma corrente de água constante pelas brânquias, e essa mecânica é ineficiente no ar. Além disso, as brânquias devem ficar o tempo todo molhadas, pois ao ar livre secariam rapidamente e o tecido se romperia. Às vezes, quando o nível do oxigênio cai muito, os peixes
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sobem até à superfície, apenas porque a lâmina superior da água, como está em contato com o ar, tem mais oxigênio dissolvido que nas camadas inferiores. O peixe abre e fecha a boca e se agita para oxigenar a água superficial, mas não tenta respirar o ar. A exceção são os peixes que têm, além das brânquias, um órgão especial que pode absorver oxigênio do ar. Esses são chamados peixes pulmonados, como alguns bagres (bagre-africano), mas o nome não é correto, porque não se trata exatamente de um pulmão.
oxigênio e depois é devolvida para o tanque, já muito mais oxigenada, pelo outro lado do cano acoplado pela conexão T. Esse aerador tem inúmeras vantagens, explica o instrutor Fabiano. Primeiro, diz ele, proporciona uma redução do consumo de água de até 70% em relação ao modelo tradicional. Segundo, o produtor não tem gasto com energia elétrica para fazer funcionar. Terceiro, o material custa, em média, R$ 3. Em viveiros escavados, na fase de berçário, o recomendado é usar um equipamento para cada 100 metros quadrados de lâmina d’água, levando em conta uma população de 100 peixes por metro quadrado. Na fase de engorda, quando há de dois a cinco animais por metro quadrado, pode-se usar um equipamento para cada 200 metros quadrados de lâmina d’agua. Já em tanques-redes, onde a densidade populacional é maior, o recomendado é um equipamento para cada tanque. O aerador do Samuel já tem nome: Samuca. Mais simples, impossível. *Priscila Brandão é repórter do Programa G R
ESPECIAL CAMPO GRANDE (MS)
Santos (SP): obras de ampliação do Tiplam
RIO GRANDE (RS)
Paranaguá (PR): novos carregadores
Cais para o futuro
Concorrência gradativa com os terminais do Arco Norte leva corredor Santos-Sul a investir na modernização Texto Rodrigo Vargas * Fotos Marcelo Curia
A
consolidação das exportações pelos terminais do Arco Norte coloca os portos de Santos e da Região Sul diante de algo que jamais enfrentaram em décadas: concorrência. Retração à vista? Não é o que pensam empresários, gestores e investidores locais. Segundo eles, a expansão da malha logística pelo país vai impulsionar a produção agrícola e também a demanda por novas e antigas rotas de escoamento. Além disso, permite aos terminais tradicionais apostar em novas soluções para agilizar cada vez mais seus embarques e conquistar maior credibilidade junto aos exportadores. Na última fase de viagens do projeto Caminhos da Safra neste ano, a reportagem de G R percorreu mais de 2.600 quilômetros, a partir de Campo Grande (MS), e visitou em sequência os portos de Santos (SP), Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC) e Rio Grande (RS), o corredor Santos-Sul. Na viagem, a equipe testemunhou como o futuro
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se materializa em investimentos bilionários, canteiros de obras e oferta de serviços especializados, como o transporte de grãos em contêineres, na região que ainda concentra a maior parte das exportações brasileiras. Em São Paulo, ao pé da Serra do Mar e na margem esquerda do Canal de Piaçaguera, no limite entre Santos e Cubatão, uma obra fervilha a todo vapor, com gente e máquinas pesadas a abrir buracos, fincar estacas e erguer peças de concreto pré-moldado. Em ritmo acelerado, um projeto de R$ 2,7 bilhões começa a ganhar a forma de armazéns, esteiras, trilhos, estruturas de carga e descarga, píer e berços para a atracação de navios. Trata-se da ampliação do Tiplam (Terminal Integrador Portuário Luiz Antonio Mesquita), maior investimento portuário privado em andamento no litoral paulista. Hoje especializado em fertilizantes, o porto se prepara para também escoar grãos e açúcar e será operado com uma lógica de integração de cargas, que manterá os caminhões a quilômetros de distân-
Realização:
São Francisco do Sul (SC): estufagem de contêineres com grãos
cia. “O terminal será 100% integrado à ferrovia. Todas as descargas rodoviárias serão feitas em nossos terminais integradores no interior do país”, explica Rodolfo Schuh, especialista em desenvolvimento e implantação de grandes projetos da VLI, holding de logística responsável pelo investimento. O transporte será feito pela Ferrovia CentroAtlântica (FCA). Quando estiver concluído, estima a empresa, o novo complexo logístico irá retirar cerca de 1.500 caminhões por dia das rodovias brasileiras. O objetivo é ampliar em seis vezes a atual movimentação do Tiplam e atingir 15 milhões de toneladas anuais – sendo 5,5 milhões de toneladas de grãos e 4,5 milhões de toneladas de açúcar. “O propósito é buscar eficiência e ampliar a capacidade”, diz o diretor comercial da companhia, Fabiano Lorenzi. O terminal deve estrear as operações a partir do primeiro trimestre de 2017. Entre as obras em andamento estão um novo píer, quatro armazéns, com capacidade para 83.000 toneladas cada, e duas linhas de descarregamento de vagões com quatro moegas – cada uma com capacidade para receber até 3.000 toneladas por hora. Os três berços de atracação terão dois carregadores em linha, que permitirão atender até dois navios ao mesmo tempo. “O projeto foi desenvolvido para, futuramente, contemplar até os navios do tipo Post-Panamax, com capacidade para 90.000 toneladas. Só dependeria de adequações no calado. Mas toda a estrutura já estará pronta para isso”, aponta. No Paraná, o Porto de Paranaguá, responsável pelo escoamento de 21% da soja em grão e de 42% do fa-
Patrocínio:
Rio Grande (RS): ampliação do cais do porto
relo do país no ano passado, teve um primeiro semestre marcado por recordes na movimentação e na produtividade nas operações de carga e descarga tanto de navios como de caminhões. Quatro novos shiploaders (robôs carregadores) foram comprados para substituir equipamentos que estavam em operação desde a década de 1970. Dois deles já estão funcionando, trazendo um incremento de 30% na velocidade da operação. Os dois restantes serão instalados nos próximos meses. O gerenciamento das cargas rodoviárias, que já era tido como modelo para os demais portos brasileiros, ganhou reforço com a implantação de um
TRAJETO PERCORRIDO (2.600km)
Rodovia percorrida
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ESPECIAL
A FERROVIA CENTRO-ATLÂNTICA VAI RETIRAR DAS ESTRADAS 1.500 CAMINHÕES POR DIA Soja que sai pelo corredor Santos-Sul Santos, Paranaguá, São Francisco do Sul e Rio Grande (em milhões de toneladas de grão, óleo e farelo de soja) Santos-Sul (% do total Brasil)
Total Brasil
26,1
2011
20,9 (80%) 2012
25,0 (80%) 2013
26,4 (81%)
31,5 32,5
2014
30,8 (79%) 2015
29,9 (74%)
39,0 40,3
Fonte: Secretaria de Comércio Exterior (Secex)
sistema mais robusto de controle eletrônico, a ampliação de pátios de triagem e a criação de filas segregadas por tipo de produto. E não para por aí. Em março, a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) contratou uma nova dragagem que, com orçamento de R$ 394 milhões, irá ampliar para 16 metros a profundidade do canal principal e para 14 metros a chamada bacia de evolução – espaço para manobra e atracação de navios, hoje com 12 metros. O montante de investimentos privados, considerando apenas os projetos que obtiveram o licenciamento ambiental, soma quase R$ 1 bilhão. “O primeiro pensamento é que temos de atender melhor nosso cliente. Se conseguirmos isso, ele não irá embora de Paranaguá. Além disso, 75% do que movimentamos vêm do Paraná”, afirma o superintendente da Appa, Luiz Henrique Dividino. Em Santa Catarina, entre 2011 e 2014, as exportações de soja em grão pelo Porto de São Francisco do Sul cresceram 88%, atingindo quase 5 milhões de toneladas, que correspondem a 10% das vendas brasileiras. E o ritmo não parece diminuir. Nos próximos
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anos, a conclusão de dois projetos de novos terminais promete colocar o litoral catarinense ainda mais na linha de frente das opções de logística no Brasil. O mais adiantado deles é o Terminal de Grãos de Santa Catarina (TGSC), investimento de R$ 500 milhões, capitaneado pela empresa LOGZ Logística Brasil. No início de julho, o projeto recebeu do governo federal a Declaração de Utilidade Pública, documento que faltava para o início das obras. Planejado para operações com soja, milho e farelo, o terminal será erguido junto ao Porto Público, na Baía da Babitonga, e terá capacidade para movimentar até 6 milhões de toneladas de grãos por ano. A empresa prevê que as obras comecem ainda neste ano e a previsão é de entrada em operação em 2018. Outro empreendimento em gestação é o do Terminal Graneleiro da Babitonga, iniciativa privada orçada em R$ 500 milhões e que recebeu recentemente o aval do governador catarinense, Raimundo Colombo. A estrutura, com área prevista de 600.000 hectares e capacidade para movimentar até 14 milhões de toneladas de grãos por ano, será construída em parceria entre o grupo argentino Nidera Sementes e a Al Khaleej Sugar, refinaria de açúcar com sede em Dubai, nos Emirados Árabes. “O novo terminal será capaz de virar a balança comercial catarinense, exportando mais que importando”, diz o secretário de Desenvolvimento Econômico Sustentável, Carlos Chiodini. O Rio Grande do Sul também vive um clima de renovação. Com quase 2.000 metros de extensão, o cais do Porto de Rio Grande está passando por uma
“O pensamento é que temos de atender melhor nosso cliente, para ele não ir embora” Luiz Henrique Dividino, superintendente dos portos de Paranaguá e Antonina (PR)
reforma geral. A ampliação dos primeiros 450 metros foi concluída no ano passado, com recursos do próprio porto. Até o final de 2015 devem ficar prontos mais 425 metros, custeados pelo governo federal. Essas obras serão complementadas pela dragagem de 18 milhões de metros cúbicos de sedimentos. O serviço prevê aprofundar o calado do canal de acesso de 16 para 18 metros. Com isso, o porto amplia a possibilidade para atrair navios maiores e mais cargas do oeste paranaense e de Mato Grosso do Sul. A expectativa é baixar o tempo médio de espera dos navios para atracação. Em 2015, é de 53,5 horas. Em 2014, a média ficou em 57,1 horas. “Melhorando a infraestrutura, ficamos em condições de reduzir os custos finais dos produtos que passam por aqui”, diz o engenheiro Darci Tartari, da diretoria técnica do porto.
Mais contêineres
Entre os diferenciais que os portos de Santos e os do Sul oferecem, um dos mais promissores é a exportação em contêineres. No ano passado, somente o TCP (Terminal de Contêineres de Paranaguá) embarcou o equivalente a 30 mil contêineres de soja rumo ao mercado externo. “A expectativa é dobrar essa movimentação em cinco anos, considerando soja, farelo e milho”, diz Alexandre Teixeira Pinto, diretor da empresa. Considerando um frete a partir do norte do Pa-
“Com uma divisão racional das cargas, a tendência é de ganho operacional em nossas rotas” Lucas Galvan, gestor técnico da Famasul (MS)
raná, é possível obter uma economia de até R$ 1,21 por tonelada com a operação, conforme o TCP. Uma das vantagens é que a movimentação não é interrompida em dias de chuva. “A chave é a confiabilidade, ou seja, ter data de embarque e de entrega, com rastreabilidade. Para determinados lotes de soja, como os que possuem quantidade maior de proteína, por exemplo, isso agrega muito valor”, explica Alexandre Teixeira Pinto. Para Paulo Bertinetti, presidente do Terminal de Contêineres (Tecon), do Porto de Rio Grande, a estufagem de grãos também é um bom negócio: “Em vez de voltarem vazios para a Ásia, os contêineres são alugados mais baratos para atender a clientes pequenos, de fora do eixo dos grandes importadores da Ásia e da Europa,”diz. Em 2013, o Tecon estufou 350 contêineres de soja e sorgo (10.000 toneladas) para compradores alternativos de Taiwan, Tailândia e Malásia. Outros 1.400 devem ser enchidos com trigo neste ano. Os investimentos logísticos no Sul e no Sudeste beneficiam o setor produtivo num raio que vai do Rio Grande do Sul a Mato Grosso do Sul. O Estado do Centro-Oeste deverá continuar concentrando os embarques em direção à região, diz Lucas Galvan, gestor técnico da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul). “Isso não significa que não seremos beneficiados com o Arco Norte. Somos grandes concorrentes pelo uso de Santos e Paranaguá. Com uma divisão mais racional das cargas, a tendência é de ganho operacional em nossas rotas, como o desafogamento das rodovias”, afirma Galvan. Somente 1% dos 2,4 milhões de toneladas de soja em grão exportadas pelos sul-mato-grossenses não saiu pelo Sul ou Sudeste; 40% foram para São Francisco do Sul; 38% para Paranaguá; e 21% via Porto de Santos. Colaborou Geraldo Hasse
Carregamento de soja em Paranaguá (PR); o Caminhos da Safra percorre a Rodovia Raposo Tavares
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TENDÊNCIAS
ROBERTO RODRIGUES
Nem tanto ao mar... televisão, ouvir as últimas pelo rádio, ler os jornais são todos exercícios que vão intimidando a gente. É muita coisa ruim, dando a impressão de que estamos sem rumo. O pior é o aumento da inflação e do desemprego, porque
ambos afetam duramente as camadas mais pobres, exatamente aquelas que ascenderam ao mercado consumidor e de trabalho nos últimos anos, graças, inclusive, a políticas sociais estabelecidas pelo governo que surfava uma onda positiva da economia mundial, especialmente com bons preços das commodities. Depois de 2010, com a crise financeira internacional e os erros de política econômica do novo governo, tudo se complicou. Na política, as coisas também se desarranjam, partidos perdem a unidade de posturas, porque seus representantes buscam atendimento a interesses regionais ou pessoais que não chegam, a base aliada não está alinhada (sem jogo de palavras), a oposição também não se entende, e uma confusão geral imobiliza quem busca alicerces sólidos para investir. Crises externas só pioram o ambiente – caso recente da Grécia frente à UE e ao euro ou da queda das ações na China –, e no palco econômico-político nacional se movem, mesclados, interesses legítimos em defesa do país e outros menores, de jogadas oportunistas ou golpistas de governo e de oposição.
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Sem falar na corrupção alarmante, que vai da Fifa à Petrobras, assombrando toda gente pela extensão e profundidade. E ainda por cima a seleção de Dunga apanha do Paraguai e da Colômbia, sem contemplação. Clima péssimo... Mas, será mesmo? Vejamos as coisas pelo lado positivo. Afinal, a agropecuária continua segurando a economia: no primeiro trimestre, o PIB nacional caiu e o do agro aumentou mais de 4%, repetindo o que aconteceu no ano passado, e no outro, e no outro. O saldo comercial do agronegócio foi de mais de US$ 80 bilhões em 2014, salvando esse segmento de um fracasso rotundo. Vamos estabelecer mais um recorde de produção de grãos este ano, chegando a 206 milhões de toneladas! E, ao que tudo indica, nossos heróicos agricultores vão plantar outra safra gigante, dependendo a colheita mais de São Pedro e da liberação dos re-
cursos do bom Plano Safra. O Plano ABC, que precisa ser revisado este ano por lei, é um trunfo espetacular para o Brasil mostrar em Paris em dezembro, durante a COP 21, na qual os países do mundo todo se comprometerão a reduzir o crescimento das emissões de gases de efeito estufa. O ajuste fiscal vai lentamente sendo implementado, mesmo com as dificuldades que os partidos da base do governo e da oposição vivem criando. A presidente, fora alguns escorregões discursivos, parece ter se conformado com a necessidade de corrigir os erros cometidos no primeiro mandato e vai aceitando a dura travessia desenhada por Levy e Barbosa. Nossa ministra da Agricultura sabe o que faz e, com o titular do MDIC, busca aberturas comerciais essenciais – e vai conseguindo. E as instituições estão firmes. Portanto, nem tudo está tão péssimo. E mais uma vez o setor rural vai mostrar que sabe construir o progresso e o desenvolvimento com grandeza, baseado em tecnologia moderna e gestão sofisticada. Na hora certa, vamos semear de novo, mesmo sabendo que 2016 será um ano de margens apertadas, por causa dos custos elevados e preços caindo. Com trabalho e perseverança, vamos continuar a fazer nosso próprio e difícil ajuste, vamos mostrar como se constrói uma sociedade equilibrada a partir do campo. Nada de otimismo infantil e desligado da realidade. Mas também nada de pessimismo imobilizador. A crise traz oportunidades, e estamos atentos a elas.
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ROBERTO RODRIGUES é coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e embaixador especial da FAO para as cooperativas
© SERGIO DUTTI; ILUSTRAÇÃO THINKSTOCK
A
ssistir a noticiários pela
LEILÕES &CRIAÇÃO
NEGÓCIOS +GESTÃO+ GENTE + GENÉTICA+ MERCADOS
Sotaque gaúcho
Expointer reúne 4 mil animais, de 29 de agosto a 6 de setembro, em Esteio (RS) Edição
Sebastião Nascimento
© DIVULGAÇÃO
A raça braford, fruto da cruza do inglês hereford com o indiano nelore, é um dos destaques
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LEILÕES &CRIAÇÃO EXPOINTER
Churrasco saboroso no parque é a tônica; e prova com o cavalo crioulo
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Silva Remates, que comanda vários pregões na Expointer. Devido à diversificação, a Expointer é a maior da América Latina. Ela recebe anualmente 500 mil visitantes do Brasil e de outros países para julgamentos de bovinos, equinos, caprinos e ovinos e exposição de máquinas agrícolas. No total, computandose todas as raças de animais, serão mais de 4 mil. Realiza ainda leilões concorridos e é um dos palcos prediletos das indústrias de tratores e colheitadeiras – estas últimas esperam realizar firmes negócios impulsionados pela safra recorde de grãos colhida no Rio Grande do Sul. A receita com as máquinas totalizaram R$ 2,713 milhões em 2014. Na Expointer, é promovida a final do Freio de Ouro, competição que reproduz a lida com o cavalo crioulo nos pampas. A raça foi forjada no Rio Grande e é uma das grandes paixões dos gaúchos. A competição teve início em 1977, em Jaguarão. As primeiras eram exclusivamente morfológicas. Elas ganharam importância mais tarde, quando passaram
a ser funcionais também. Antes da grande final, em Esteio, são disputadas 12 classificatórias e mais de 1.000 animais concorrem. A Expointer ganhou mais representatividade e porte a partir da maior participação de raças zebuínas puras no Parque Assis Brasil, local onde a feira é realizada. Antigamente, o evento era limitado ao gado europeu, como hereford, angus, charolês, devon, simental e outras. Hoje, o branco e o cupim do gado indiano também sobressaem. Mudou e avançou a pecuária com a incorporação do cruzamento industrial, e a Expointer ofereceu resposta às novas exigências do mercado.
Touros
Segundo Felipe Azambuja, gerente de operações da Associação Brasileira dos Criadores de Hereford e Braford, sediada em Bagé, pelo menos de 45 mil a 50 mil novos animais da raça braford são registrados anualmente. A demanda pelo braford, diz ele, levou um leilão recentemente realizado em Brasília (DF) a vender tourinhos a uma média
© DIVULGAÇÃO
U
ma das grandes atrações da Expointer de Esteio, no Rio Grande do Sul, é a raça bovina braford, cujo mercado tem sido ampliado aceleradamente nos últimos anos, por conta, entre outros fatores, do bom desempenho dos touros a campo em Estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. A Expointer (Exposição Internacional de Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários) será realizada no período de 29 de agosto a 6 de setembro na cidade gaúcha. A braford nasceu da cruza do taurino hereford com o zebuíno nelore – no Brasil, prepondera a raça nelore, em outros países, o cruzamento é feito com o brahman, por exemplo. O produto obtido do choque de sangue reúne a carne saborosa e a precocidade do inglês hereford com a rusticidade da raça que veio da Índia, a nelore. “O gado braford – junto com o brangus – está sendo bastante demandado pela pecuária moderna. É difícil encontrar oferta de animais diante da procura”, afirma o leiloeiro Marcelo Silva, diretor da Trajano
AGENDA DE LEILÕES
Carneiro,um símbolodo Rio Grande,em julgamento em ediçãoanterior da Expointer
27/8 Cabanha do Barulho e Convidados de Cavalo Crioulo | 21 h Cabanha Vendramin de Cavalo Crioulo | 21 h
28/8 Crioulo da Cabanha BT | 21 h
29/8 Cabanha Santa Angélica de Cavalo Crioulo | 21 h
30/8 Crioulo da Cabanha Reconquista | 20 h
31/8 de R$ 15 mil, valor acima do alcançado por outras raças, mesmo no cenário atual de demanda acesa por reprodutores. Entre animais hereford e braford, a previsão é colocar 300 deles na Expointer. Serão realizados dois leilões. No dia 1o de setembro, o Leilão Elite oferta embriões, prenhezes e animais que se destacam nos julgamentos. Já no dia 2 de setembro, o Leilão Prime apresenta somente gado a campo, mais rústico. Mais de 30 leilões estão programados para a mostra neste ano. Marcelo Silva, da Trajano Silva Remates, comanda oito deles, sendo seis de cavalo crioulo, um de quarto-de-milha e outro de hereford e braford. Segundo Marcelo, a qualidade dos animais é decisiva para os bons resultados dos negócios, já que a economia do país não vai bem e vive momento de indecisão. “Mesmo assim, esperamos uma média de R$ 30 mil pelo cavalo crioulo, que pode ser considerada boa”, afirma. O empresário confia na procura e uso do crioulo em Estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás para estimular os negócios. “São Estados nos
quais a pecuária é incrementada a olhos vistos. E o cavalo crioulo é um cavalo vaqueiro”, afirma ele. Os pregões totais faturaram R$ 12,5 milhões na versão 2014 da Expointer. Os organizadores esperam repetir a cifra neste ano. Quem deverá levar mais de 100 animais ao parque é a Associação Brasileira dos Criadores de Dorper e White Dorper. Essas duas raças têm crescido e se espalhado pelo país, conforme a associação. De um total estimado em 17 milhões de cabeças entre todas as raças ovinas criadas no Brasil, 2 milhões resultam de cruzamento com as duas raças. Um bom leilão de dorper e white dorper será realizado no dia 3 de setembro. É o White Dorper, cuja oferta reúne 45 lotes entre machos e fêmeas, informa a leiloeira Knorr Leilões. Em dezembro de 2014, o Parque Assis Brasil foi alvo de um temporal. Boa parte de sua estrutura foi avariada. No final de junho último, as obras de recuperação estavam 90% concluídas. Segundo os responsáveis pelo parque, elas já terminaram.
Leilão Merino Australiano | 18 h Leilão de Gado Simbrasil | 18 h Leilão de Gado Brangus | 18 h Cabanha Boa Vista de Crioulo | 21 h Angus Catanduva Red Concert | 21 h
1/9 Leilão Corriedale | 9 h Leilão de Gado Simental | 19 h Leilão de Ovinos Suffolk | 19 h Remate Cabanha Maufer de Crioulo | 21 h Elite Embriões e Prenhezes HB | 21 h Angus Catanduva Red Concert | 21 h Crioulo da Cabanha Boa Vista | 21 h Leilão de Gado Brangus | 21 h
2/9 Ovinos Ille de France | 16 h Leilão Top Texel | 17 h Leilão Prime HB de Touros Rústicos | 18 h Ovinos Hampshire Dow | 19 h Leilão de Gado Jersey | 19 h Leilão Crioulo Faceiro | 19 h Leilão de Gado Charolês | 20 h Leilão Angus Red Black | 20 h Leilão de Charolês | 20 h Cavalos Quarto-de-Milha | 20 h
3/9 Leilão Poll Dorset | 15 h Ovinos Naturalmente Coloridos | 16 h Leilão de Texel | 18 h Leilão Holandês Top Leite | 18 h Leião Top Devon | 19 h Novilhas Selecionadas (várias raças) | 19 h
4/9 Bovinos de Várias Raças em Geral (virtual) | 17 h Leilão de Pôneis | 19 h Exposição Internacional de Animais e Produtos Agropecuários (Expointer). De 29/8 a 6/9, Esteio (RS) expointer@agricultura.rs.gov.br
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LEILÕES &CRIAÇÃO NEGÓCIOS ANIVERSÁRIO
Peão de Barretos comemora 60 anos Peão salta na prova de cutiano, criada no Brasil
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ca country americana. Ele canta numa ação beneficente em prol do Hospital do Câncer de Barretos. As provas e os shows acontecem de 20 a 30 deste mês naquela cidade paulista. O rodeio sempre foi febre no Brasil. Deriva das origens caboclas de seu povo. A Festa do Peão de Barretos foi a primeira do gênero da América Latina. Hoje, ela tem repercussão internacional e faz parte do Calendário Mundial de Peões. As principais modalidades de provas são originárias dos EUA, país onde os caubóis usavam o cavalo para levar o gado às regiões recém-descobertas. Há dezenas de filmes mostrando as viagens épicas. De lá vieram a sela americana, que é a mais tradicional delas, a bareback, a
CRIOULO
Aptidão vaqueira
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o rastro do boi rumam os cavalos. Em Mato Grosso, Estado que concentra o maior rebanho bovino do Brasil, a raça crioulo, originária do Rio Grande do Sul, cresceu 13,3%
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no ano passado e hoje são contabilizados 1.450 exemplares por lá, informa a Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos. Em toda a Região Centro-Oeste, o incremento foi de 12,23%, acima da média nacional, que foi de 7,3%. O plantel brasileiro é de 377 mil animais em todo o país. O atrativo mercado abre-se a galope por conta da aptidão vaqueira do crioulo no campo. Ele é rústico e apto ao trabalho na pecuária extensiva, explica Onécio Prado Júnior, vice-presidente da associação da raça.
de touros, considerada a mais radical, entre outras. O Brasil deu a sua contribuição: criou a modalidade chamada cutiano. Cutiano é uma espécie de arreio, e a prova é praticada com acessórios especiais. Os cavaleiros devem se manter por oito segundos no costado do cavalo. Desde sua fundação, a Festa do Peão Boiadeiro é realizada pela Associação Os Independentes. Barretos tem seus hotéis, restaurantes e pousadas lotados durante o evento. Para se ter ideia, o público gira ao redor de 900 mil pessoas nos dez dias festivos. Já o número de touros, cavalos, bezerros e carneiros supera 1.500. MAIS INFORMAÇÕES: independentes.com.br
VIRTUAL
Tourada montana
N
este mês de agosto, dia 27, o Programa Montana realizará o seu Megaleilão Virtual. Serão oferecidos bons touros das regiões Sudeste e Centro-Oeste. O leilão contará com várias facilidades de frete e pagamento.
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© 1 E 3 DIVULGAÇÃO; 2 ERNESTO DE SOUZA/ED.GLOBO
A
Festa do Peão de Barretos está comemorando 60 anos. Na pista, touros e cavalos indômitos jogam na poeira o sonho dos peões. Já no palco, a grande atração é Garth Brooks, um dos ícones da músi-
CARACTERÍSTICAS
Alta libido Adaptabilidade Rusticidade Fácil manejo
Caráter mocho dominante Monta natural Na monta natural índice de prenhez superior a 80% Abate precoce - antecipando em até 12 meses Valorização do produto final em até 30% a mais que a média di
O Touro Senepol é considerado a mais eficaz ferramenta para produção de carne de qualidade a pasto, de forma simples e lucrativa, por ser o um taurino puro dotado de precocidade de acabamento com qualidade de carcaça e de carne, totalmente adaptado ao clima tropical. Portador destes atributos conjugados, o Touro Senepol acompanha e cobre a campo, com excelente vigor, qualquer fêmea. Quando utilizado no cruzamento industrial é capaz de transmitir aos seus filhos a chamada Heterose máxima, capaz de incrementar em até 30% a produtividade do rebanho de corte. Utilize Touros Senepol e se beneficie da verdadeira Heterose a pasto, simples e lucrativa.
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LEILÕES &CRIAÇÃO NEGÓCIOS
Zebu discute genômica ©1
As raças zebuínas, como a guzerá, na ótica das discussões
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uiz Antonio Josahkian, da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), Sergio De Zen, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Urbano Abreu, da Embrapa/Pantanal, e outros do primeiro time de espe-
cialistas e estudiosos da pecuária comandam as mesasredondas do 9o Congresso Brasileiro das Raças Zebuínas, que acontece de 17 a 19 deste mês, no Parque Fernando Costa, em Uberaba (MG). Genética e sustentabilidade, genética e economia e genômica na seleção das raças zebuínas são as pautas principais do congresso. “A proposta é contribuir para promover a sustentabilidade da produção de carne e leite, tornar a atividade cada vez mais produtiva e economicamente sustentável e atrativa, e por fim encontrar soluções para incluir as tecnologias genômicas na seleção”, informa Josahkian, que é superintendente técnico da ABCZ. MAIS INFORMAÇÕES: abcz.org.br
AFTOSA
KATAYAMA
Controle eficaz em SP
16 anos de seleção
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lgo que funciona bem no país é a vacinação contra a febre aftosa. No Estado de São Paulo, na última campanha, encerrada no mês passado, o índice de imunização de bovinos e búfalos foi de 99,43%, informa a Coordenadoria de Defesa Agropecuária. Foram vacinados 4,2 milhões de animais com até 24 meses de idade. A próxima campanha de vacinação será em novembro próximo.
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Katayama Pecuária, de Guararapes (SP), coloca à venda 500 touros nelore KA em seu leilão anual, no dia 15 deste mês, na Estância Cachoeirinha, naquela cidade. A seleção é especial e inclui reprodutores jovens com 20 a 24 meses, rigorosamente avaliados no programa de melhoramento genético da Katayama (PKGA). O programa de seleção completou 16 anos.
COLUNA DO PH
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Mercado inovador
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omprar e vender é prática antiga, mas fazer a melhor oferta, encontrar o momento oportuno, valorizar o produto do cliente, isso é para especialistas. Há muito tempo o mercado encontrou nos leilões uma fórmula justa e vantajosa para comercialização. Saímos das pistas e tatersais e chegamos ao mundo especializado neste tipo de negócio. Os lances ganharam outra dimensão quando os animais começaram a ser filmados no campo e entraram na mídia televisiva dos compradores, que podem comparecer aos recintos ou dar seus lances do sofá de casa. A imaginação não tem limite. Para levar o produto, são escolhidos os mais diferentes lugares, que podem ser nos parques de exposição ou na fazenda do produtor, mas também em resorts, hotéis, centros de eventos e até navios. A inovação é permanente no setor: os leilões de gado também estão na internet e se mantêm na vanguarda. Hoje, a operação financeira não é feita apenas em boletos. O gado é vendido como outros produtos, e agora a última novidade é que se pode comprar com cartão de crédito e com possibilidade de até 24 parcelas sem juros. Equilíbrio é a palavra ideal. Tem de ser bom para quem produz e para quem investe. Em um mercado que fatura mais de R$ 1 bilhão por ano, vender e comprar genética ou gado de cria, recria e engorda é sempre um grande acontecimento. PAULO HORTO é presidente da Programa Leilões, de Londrina
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LEILÕES &CRIAÇÃO NEGÓCIOS ANGUS
ABATE
Megarremate Casa Branca
Circuito Boi Verde
Gado da raça angus na Casa Branca
NELORE E BRANGUS
Terra Boa rende R$ 1,7 mi
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erca de 400 fazendeiros participaram do Leilão Touros Terra Boa, realizado no mês passado, em Guararapes (SP). O organizador do pregão, José Luiz Niemeyer dos Santos, ficou satisfeito com o faturamento de
R$ 1,687 milhão na venda de 114 animais das raças nelore e brangus. Os touros nelore saíram pela média de R$ 12.250, enquanto os animais brangus receberam cotação média de R$ 16.200.
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AGOSTO QUA
QUI SEX SÁB DOM SEG TER QUA QUI SEX SÁB DOM SEG TER QUA QUI
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Leilão Sabiá 25 anos – Nelore PO – Capitólio (MG). Programa, tel. (43) 3373-7077
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SETEMBRO SÁB
Leilão do Torneio Leiteiro – Boa Esperança (MG). Embral, tel. (11) 3864-5533
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o mês passado, em Colatina (ES), foi realizada a primeira etapa do Circuito Boi Verde de Julgamentos de Carcaça. Foram abatidos, no Frigorífico Frisa, 660 machos nelore de cinco pecuaristas. O evento é organizado pela Associação Brasileira dos Criadores de Nelore do Brasil e pela Associação Capixaba dos Criadores de Nelore, com apoio da Zoetis. Todos os animais eram castrados e 64% deles apresentaram acabamento de carcaça mediano ou uniforme, nos padrões requisitados pelo mercado, segundo os organizadores. Além disso, 66% dos animais pesaram entre 17 e 21 arrobas, enquanto 71,4% deles tinham até 24 meses de idade. O lote campeão teve 100% dos animais castrados, sendo que 93,4% deles pesaram entre 17 e 21 arrobas (75% dos animais tinham 24 meses). O diferencial do lote campeão em relação aos demais foi o acabamento de carcaça, com 95,8% mediano ou uniforme. O proprietário do lote vencedor é Arthur Arpini Coutinho, de Conceição da Barra (ES). Seu lote tinha 120 animais.
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são rigidamente avaliadas.” “Trata-se de um leilão especial, organizado para multiplicar a genética Casa Branca para os produtores que focam seu trabalho na pecuária de ciclo curto, que impulsiona a oferta de carne bovina de qualidade superior”, afirma Paulo Marques. Ele continua: “A pecuária brasileira é um gigante que oferta quase 10 milhões de toneladas de proteína vermelha por ano e gerou, em 2014, US$ 8 bilhões só em exportação. A Casa Branca dá sua contribuição para o aumento da produtividade e da qualidade”. A Casa Branca já comercializou mais de 2.500 reprodutores para projetos pecuários. O leilão será na Fazenda Ester, em Silvianópolis (MG).
Casa Branca Agropastoril comanda, no dia 12 deste mês, o maior leilão comercial de sua história. Irá ofertar 500 de seus melhores machos e fêmeas das raças angus, brahman e simental sul-africano, informa Paulo de Castro Marques, da Casa Branca. “Os touros estão prontos para o trabalho na próxima estação de monta e as fêmeas
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Plano Agrícola e Pecuário 2015/2016
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O Governo Federal está ajustando gastos e investindo mais de R$ 180 bilhões em crédito para você que é produtor rural. A hora é de avançar e fortalecer o nosso País. Para saber mais, acesse agricultura.gov.br.
Mais de R$ 180 bilhões para o produtor rural.
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
LEILÕES &CRIAÇÃO VARANDA Boi 777, não Boeing Stefan Mihailov, presidente da Phibro Saúde Animal, diz que a proposta do “Boi 777” é produzir um animal com 21 arrobas aos 24 meses de idade. O boi é jovem e tem mais peso. O ganho é de 7 arrobas em cada uma das fases de produção: cria, recria e engorda.
Devemos investir em comunicação para desmistificar a pecha de vilão ambiental do produtor. Ele protege a natureza” Xico Graziano, ex-secretário do Meio Ambiente de SP
Antônio Camardelli, presidente da Abiec, que representa as indústrias exportadoras, pinça uma das vantagens da liberação de carne in natura para os EUA: o gordo mercado para cortes dianteiros do boi, usados para a produção de hambúrguer.
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Apelo social O leite no Brasil tem um forte apelo social por conta da quantidade de produtores familiares envolvidos, afirma Paulo do Carmo Martins, chefe geral da Embrapa Gado de Leite. “Tem relação ainda com o desenvolvimento regional, pois o leite é uma das três principais fontes de geração de emprego e renda em municípios com até 50 mil habitantes. Sem contar o fator abastecimento.”
ExpoCorte em Uberaba No mês passado, foi em Campo Grande. Agora, a ExpoCorte itinerante ruma para Uberaba, a pátria do zebu, onde acontece nos dias 24 e 25 de setembro. Será durante a Expoinel Nacional, informa Carla Tucílio, da Verum, empresa que promove o evento.
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Alcides Torres, da Scot Consultoria, avisa que os fundos de investimentos, que estão novamente mostrando interesse em financiar confinamentos de bois, devem escolher plantas bem administradas e efetuar auditorias fiscais, e não somente técnicas. Conferir não somente se irão entregar gado em quantidade, mas também se os confinamentos estão em dia com os impostos.
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LEILÕES &CRIAÇÃO MERCADO BOI GORDO
Custos
Ajuste forte
A
pressão negativa sobre os preços do boi gordo, que normalmente ocorre nesta época do ano, foi marcante em função dos ajustes promovidos pelos frigoríficos. O primeiro semestre foi, aparentemente, de margens historicamente baixas para os frigorífi-
Preços do boi gordo em São Paulo (em R$/@, a prazo) 150,5 134,3
149,0 147,8
146,2
144,7
143,9
146,1
144,5
144,1
129,7 123,9 AGO SET
OUT
NOV DEZ JAN
FEV MAR
*Até o dia 14
ABR
MAI
JUN
JUL*
Fonte: Scot Consultoria
cos, abate em queda e consumo lento. As indústrias decidiram enxugar as operações. Nos últimos 18 meses, até meados de julho, a Scot Consultoria estima que as paralisações e reduções de jornada de trabalho, para se ajustar ao mercado, tenham atingido 46 plantas. Na média da primeira quinzena de julho, a arroba em São Paulo foi cotada a R$ 146,11, a prazo, queda de 1,4% frente à primeira quinzena de junho. O mercado futuro reagiu negativamente ao cenário e, em um mês, caiu 5,1% no vencimento de outubro. Em meados de julho, o contrato de outubro apontava para uma arroba de R$ 145,69, a prazo (ajustada pelo CDI).
O
s custos de produção subiram em função principalmente do aumento de preço dos alimentos concentrados energéticos, dentre eles o milho (leia mais na análise de milho). A expectativa de redução da produção nos EUA e as dificuldades na colheita no Brasil alavancaram os preços. Em um ano, o custo da pecuária de corte subiu 9,7% e 11% (alta e baixa tecnologia, respectivamente). Para a pecuária leiteira, o aumento foi de 5,5%. Em julho, o custo da pecuária leiteira subiu 1,7%, a de corte de alta tecnologia subiu 0,5% e a de baixa tecnologia ficou estável.
LEITE
Preço sobe 7% desde fevereiro
O
preço do leite subiu 2,3% no pagamento de junho referente à produção de maio. Considerando a média nacional, o produtor recebeu R$ 0,95 por litro. Desde fevereiro, o preço subiu 7,4%. A oferta mais ajustada, com a entressafra no Brasil Central e na Região Sudeste, mantém a firmeza na
Preço do leite pago ao produtor (em R$/litro) 0,996
0,989
0,990
0,986 0,992 0,932
0,950
0,894 JUN
JUL
AGO SET
OUT NOV DEZ
*Estimativa
76 GLOBO RURAL |
0,885 JAN
0,894 0,914 FEV MAR
0,962
0,929
ABR
MAI
Média nacional ponderada Fonte: Scot Consultoria
JUN*
ponta produtora. O volume de leite captado (média nacional) estava em queda desde dezembro de 2014, pico de produção. Em maio, porém, o volume captado teve ligeiro aumento, de 0,6% em relação a abril, e subiu mais 1,2% em junho (dados parciais), com grande peso da Região Sul e de Estados do Sudeste nesse aumento. Para o pagamento de julho (produção de junho), 57% dos laticínios pesquisados acreditam em alta dos preços, 40% em manutenção e os 3% restantes em queda. Para as indústrias que trabalham com cenário de alta, os aumentos deverão ser mais comedidos em curto prazo.
Para o pagamento de agosto (produção de julho), aumentou o número de laticínios que acreditam em estabilidade e queda no preço do leite ao produtor, em especial no sul do país. Com relação às importações, em junho o Brasil comprou US$ 38,9 milhões em lácteos, aumento de 0,2% em relação a maio e de 2,3% na comparação com igual período de 2014.
Hyberville Neto (boi gordo) e Juliana Pila (leite e custos de produção da pecuária) scotconsultoria.com.br Tel. (17) 3343-5111
PRODUTOS E
MERCADOS
ECONOMIA + NEGÓCIOS + ANÁLISES + TENDÊNCIAS
© JOSÉ MEDEIROS/ED. GLOBO
Indústria de máquinas adota sistema de troca Utilizado geralmente nas negociações com insumos, barter é alternativa em ano de crédito restrito e queda nas vendas Texto
Raphael Salomão
| GLOBO RURAL 77
PRODUTOS E MERCADOS MÁQUINAS
M
ais utilizadas na troca de produtos agrícolas por insumos, como fertilizantes e sementes, as operações de barter (confira abaixo como funciona) vêm ganhando força na indústria de máquinas agrícolas. As incertezas na política econômica, a restrição do crédito e a alta da taxa de juros, que derrubaram as vendas no mercado interno (25,1% a menos só no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período em 2014), são os principais motivos para a adoção de alternativas de comercialização de tratores e colheitadeiras. As empresas pesam o uso do barter diante da possibilidade de vender ainda menos. Entre as que começaram a operar nesse modelo de negócios neste ano está a New Holland, do Grupo CNH. “A gente vislumbrou uma dificuldade de crédito e foi atrás dessa solução”, diz Jefferson Kohler, gerente de marketing da companhia. Segundo ele, é possível trocar até 100% da máquina por
soja, mas, de modo geral, o agricultor tem usado a produção para abater 10% do valor do bem, com alguns negócios variando de 20% a 40%. Nesses casos, o restante é financiado pelos bancos. É possível também adquirir implementos e tecnologia de agricultura de precisão. Para operações de até US$ 250 mil, as garantias são a Cédula de Produto Rural (CPR) e um aval. Acima disso, é necessário também uma hipoteca. “Com os juros subindo, não precisa de desembolso inicial. Entrega o grão no futuro e recebe o equipamento já”, diz ele. O sojicultor só pode empenhar a produção correspondente a até metade da área. A viabilidade é calculada pela Cargill, trading parceira da New Holland. O fabricante pretende neste ano negociar R$ 20 milhões em soja, que, em média, dariam suporte a pelo menos R$ 100 milhões em máquinas. Produtor rural em Bonfinópolis de Minas (MG), Edson Luiz Marques viu no barter a possibi-
lidade de comprar uma nova colheitadeira. “O banco não tinha crédito para 100%”, conta. Filho e neto de produtores, está desde 1987 à frente dos negócios em uma fazenda de 2.200 hectares, onde produz, em sua maior parte, soja, mas também milho, sorgo e feijão. Com a oleaginosa, custeou o equivalente a quase 40% do valor da máquina, que custou pouco mais de R$ 800 mil. O restante foi financiado pelo Moderfrota ainda nas condições da safra 2014/2015. Ele comprometeu 5% da produção da safra 2015/2016, ao preço de R$ 47,30 a saca, com entrega até 30 de abril do ano que vem. “A conta para definir o volume considera também o risco de quebra. Dá para cumprir”, explica ele, que colhe, em média, 50 sacas por hectare. “Tendo necessidade, faria de novo.” O gerente de marketing da New Holland explica que o contrato permite comprometer apenas uma safra futura de soja. Trabalhar no prazo mais curto, neste caso, é uma questão de segurança, já que a lavoura po-
Como funciona a operação
Barter é um modelo de negociação baseado em permuta, usado geralmente na troca por insumos
1
Revendedor
A trading e o produtor assinam um contrato de compra da produção agrícola
2
A CPR (Cédula de Produto Rural) é a base da operação e pode cobrir até 100% do valor e paga em mais de um ano, dependendo da empresa
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Trading
Na compra da máquina, o produtor emite uma CPR, que é repassada ao revendedor
CPR
COLHEITA
Produtor
As principais máquinas negociadas são tratores, colheitadeiras e equipamentos para agricultura de precisão
Máquina
3
Produto agrícola
Após a colheita, o agricultor entrega o produto à trading e resgata a CPR Além do café, existem operações de barter para troca de maquinário por soja
4
Dinheiro
A trading vende o produto e repassa os recursos ao revendedor Os valores são vinculados às cotações dos contratos futuros negociados nas bolsas de commodities
de ter uma área maior ou menor a cada safra. É diferente no café. Como a lavoura tem vida longa, traders e montadoras contratam mais de um ciclo futuro. Na LS Tractor, pode chegar a quatro. O diretor comercial André Rorato afirma ter negócios com entrega até 2018. A expectativa da empresa é de que, até o fim do ano, o barter represente 35% dos negócios na cafeicultura. É possível trocar até 100% do valor com café ou dar parte em dinheiro. Entre as garantias, estão a CPR física registrada e a alienação do equipamento. “É vantajoso porque não compromete o limite de crédito do produtor”, diz Rorato. A maior demanda está em Minas Gerais, mas há negócios na Bahia. Um dos clientes é Gustavo Grossi, de Monte Carmelo (MG). Ele administra com o pai e os irmãos uma propriedade de 1.228 hectares de café, hortaliças e grãos. O cafezal, com mais de 30 anos, está sendo renovado. Hoje, está em 180 hectares, mas a meta é ter, em três anos, 500 hecta-
res irrigados, para elevar a produtividade das atuais 40 a 42 sacas para 50 sacas por hectare. Grossi conta que, em 2014, fez um barter na compra de cinco tratores. Deu 10% do valor à vista e travou três colheitas futuras de café a R$ 350 por saca. Segundo ele, o único “arrependimento” foi não esperar um pouco mais, já que, algum tempo depois, a saca chegou a R$ 480. “Deveria menos sacas. Mas a gente não tem bola de cristal.” Mesmo assim, diz estar tranquilo, pois com-
Recomendações para o produtor rural Fernando Pimentel, sócio-diretor da Agrosecurity
O produtor deve avaliar se há a necessidade de comprar a máquina. “Muitas vezes, ele antecipa a demanda.” A partir disso, ele deve avaliar as alternativas para financiar a aquisição do equipamento. Crédito em dólar: depende da commodity produzida, se ela é “dolarizada” e se fica atrelada à taxa de câmbio.
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Crédito em reais: o produtor deve observar, especialmente, as taxas, porque o financiamento de longo prazo pode ser oneroso. “Pode encarecer a máquina lá na frente e ele pode ficar com o risco.” Troca: é preciso avaliar, principalmente, qual o limite dessa parcela (em produto). Deve dar segurança ao agricultor para honrar a dívida com a produção comprometida. “Vamos supor que o contrato seja a fixar (preço em aberto) e, caso a cotação caia fortemente em reais, ele vai ter maior volume da produção comprometida.”
prometeu menos de 10% da produção. “É cômodo. Independentemente do que acontecer, devo sacas de café.” A primeira parcela já foi paga, a segunda será este mês e a terceira em 2016. Trading parceira da LS, a Mercon Coffee repassa os preços, registra operações e classifica o café, explica o trader Alessandro Pontes. Na outra ponta, gerencia o risco de preço nas bolsas de Nova York e Londres. Na liquidação, se a cotação estiver abaixo do contrato, o produtor entrega o volume acordado. Mudança só se não estiver conforme a especificação do contrato. Se o preço de mercado estiver maior que o travado, “a LS repassa a diferença em crédito ou serviços”, diz ele. A Mercon movimenta por ano 5 milhões de sacas de café (1 milhão é originado no Brasil). O barter de maquinário representa 25% das operações de troca e deve chegar à metade em dois anos. “Estamos tentando cobrir todas as demandas do café”, explica Pontes, mencionando que a trading negocia com fábricas de implementos e sistemas de irrigação.
Edson Luiz, de Bonfinópolis de Minas (MG), usou soja para pagar 40% da colheitadeira
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PRODUTOS E MERCADOS EMPRESAS E NEGÓCIOS por Cassiano Ribeiro cassianor@edglobo.com.br
Chegada nipônica
Terminal da empresa em Luisiana (EUA), à beira do Mississippi
U
m dos maiores compradores de milho do mundo acaba de se instalar no Brasil com o objetivo de formar alianças estratégicas e realizar investimentos na área de infraestrutura e na cadeia de fornecimento de grãos. A Zen-Noh, cooperativa japonesa com mais de 10 milhões de produtores associados e um faturamento anual equivalente a R$ 200 bilhões, pretende fortalecer parcerias comerciais com os exportadores brasileiros, especialmente
os de soja e milho. Este é o segundo passo do gigante asiático fora de seu país de origem. O primeiro foi em 1979, quando inaugurou um terminal de grãos à beira do Rio Mississippi, na Luisiana (Estados Unidos), que hoje movimenta 1 milhão de toneladas ao mês. Com uma tecnologia de ponta, tem capacidade para carregar um navio Panamax em 18 horas na principal hidrovia da agricultura americana. No Brasil, a empresa está de olho em negócios voltados à armazenagem e terminais portuários. Neste ano, a cooperativa estima comprar 15 milhões de toneladas de grãos, a maior parte dos Estados Unidos. “Por ter duas safras ao ano, o Brasil é uma excelente alternativa para suprir nossa demanda durante a entressafra americana”, afirma o presidente da Zen-Noh Brasil, Ricor F. da Silveira.
ADAMA
Aposta na gestão
A
gestão de pessoas da Adama está sob o comando de Johannes Castellano. O executivo, que tem ampla experiência na área de startups, fusões e integração de culturas organizacionais, assume o cargo com a missão de atrair e reter novos profissio-
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nais. Apesar do cenário econômico desfavorável, a companhia acredita na retomada do crescimento nos negócios e, nos próximos três anos, planeja aumentar em 30% o quadro de funcionários. A multinacional possui ao todo 550 colaboradores nas duas unidades industriais brasileiras – Londrina (PR) e Taquari (RS) – e outras 17 regionais.
INVESTIMENTOS R$ 1,5 bilhão
é o valor da construção do Porto Pontal, na Baía de Paranaguá (PR). O novo terminal privado de embarques terá pedra fundamental lançada até o final deste ano e será dedicado a atender principalmente à cadeia de frango. A conclusão da primeira etapa da obra está prevista para 2017.
R$ 1 bilhão
deve ser investido pela BRF nos próximos três anos para ampliar a capacidade das unidades de aves e suínos em Mato Grosso. As plantas beneficiadas ficam em Nova Mutum, Várzea Grande, Nova Marilândia, Lucas do Rio Verde e Campo Verde. O valor representa mais de 50% do investimento a ser feito pela empresa no país.
R$ 900 milhões
serão investidos pela Brasil Kirin na ampliação das operações na unidade de Igarassu (PE). As obras já começaram e devem terminar em cinco anos. O projeto prevê aporte em uma área de 38.000 metros quadrados em três linhas de produção de bebidas.
R$ 100 milhões
é quanto a JBS pretende gastar para construir um novo frigorífico no Paraguai, em Concepción. A unidade terá capacidade para abater 1.200 animais ao dia e as obras devem começar este mês. A empresa já está negociando a compra de bois e iniciando a contratação de 800 funcionários.
R$ 100 milhões
foi quanto a cooperativa Copacol investiu na construção de uma nova unidade de recebimento, secagem e armazenagem de cereais que acaba de ser inaugurada em Nova Aurora (PR). A planta conta com 17 silos metálicos e mais dois graneleiros, que somam capacidade de 123.500 toneladas.
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ZEN-NOH
“Este é meu compro romisso o com a terra agora e no futuro ro. o Uma agricultura sustentável.” José Joaquim Ferreira - Agricultor
Agricultura, o maior trabalho da Terra.
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O planeta caminha para um futuro com mais de 9 bilhões de pessoas. E o desafio do agricultor José Joaquim é produzir mais e melhor, garantindo boas práticas para uma agricultura sustentável que preserve as riquezas naturais hoje e no futuro. O compromisso da BASF é inovar e desenvolver novas tecnologias para ajudá-lo a alimentar, vestir e mover o mundo. Com o José Joaquim, fazemos a agricultura avançar.
PRODUTOS E MERCADOS EMPRESAS E NEGÓCIOS DSM TORTUGA
Troca de líderes
O
argentino Ariel Maffi é o novo vice-presidente da área de ruminantes da DSM Tortuga no Brasil. Médico-veterinário com especialização prática no setor de saúde animal, o executivo ocupa o lugar de Antonio Ruy Freire, que se aposentou após quatro décadas de traba-
lho na empresa. Com a mudança, outros líderes trocaram de posição na DSM. Augusto Adami, que estava à frente de produtos monogástricos no Brasil, agora responde pela área em toda a América Latina. Quem fica com o cargo da área nacional é outro argentino, Rodolgo Pereyra.
CNHI
TROUW NUTRITION
Comando feminino
Expertise leiteira
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A
safio de coordenar lançamentos de uma nova linha de produtos voltada aos pecuaristas no segundo semestre deste ano. Médico-veterinário, mestre em zootecnia e especialista em economia aplicada ao agronegócio, o jovem executivo tem contato com a atividade desde pequeno. Ele é filho de produtores de leite em Minas e busca viabilizar tecnologias do exterior para aumento de produtividade em território nacional.
ADM
Logística em nova direção
E
duardo Rodrigues foi contratado pela Archer Daniels Midland (ADM) como diretor de logística no Brasil. Ele é formado em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia (UFM) com especialização em negócios nos Estados Unidos. Rodrigues tem no currículo passagens pela Multigrain e América Latina Logística (ALL), sempre no comando das áreas de transportes. Na ADM, será ponsável por toda a
operação em terminais ferroviários, portuários e de transporte fluvial e marítimo, além das operações rodoviárias.
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grupo CNH Industrial (CNHI) posicionou Annalisa Stupenengo ao cargo de presidente global da FPT, braço de fabricação de motores da companhia. A executiva substitui Giovanni Bartoli, que se aposenta depois de trabalhar 40 anos nas empresas do grupo. A nova líder mundial da companhia era diretora de compras, área que passa a ser gerida por Sergio Carpentes, que ocupava o cargo de chefe do departamento de compras de motores para EMEA e Fiat Chrysler. No Brasil, a FPT fez mudanças recentes ao dar o comando para Marco Aurelio Rangel.
Trouw Nutrition tem um novo gerente nacional para a área de gado leiteiro. Aos 30 anos, Geraldo Filgueiras Neto assume o cargo com o de-
PRODUTOS E MERCADOS
VITRINE
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por Cassiano Ribeiro cassianor@edglobo.com.br
Nativo para café O fungicida Nativo, da Bayer CropScience, ganhou uma versão para a cultura do café. O defensivo já vem sendo usado por produtores de cítros, hortifrútis e em plantações de outros grãos. A empresa recomenda a aplicação do químico no manejo das doenças de florada dos cafezais e ele pode ser usado em todas as fases de desenvolvimento dos fungos. “O produto age protegendo a flor do café, promovendo mais produtividade e qualidade do grão”, acrescenta
Bruno Santos, gerente de clientes da divisão de café da companhia. bayercropscience.com.br
Catálogo de reprodutor O catálogo Corte europeu 2016, da CRV Lagoa, acaba de ser lançado pela empresa em versão impressa e também está disponível na internet. A versão conta com 27 novos reprodutores, e os já consagrados em diferentes sistemas de produção (extensivo, semiextensivo, semi-intensivo e intensivo) também estão no
material. O catálogo aponta o Ifert – índice de fertilidade de reprodutores utilizados na inseminação artificial por tempo fixo (IATF) –, um dos métodos que mais crescem no Brasil. A publicação digital está disponível no site da CRV Lagoa, onde também é possível fazer download dos aplicativos compatíveis com os sistemas Apple e Andoid.
Arroz adubado A Yara está lançando o YaraVera, fertilizante voltado especificamente às áreas de cultivo de arroz inundado. O adubo reúne nitrogênio e enxofre com a mesma granulação, o que tende a facilitar a aplicação e uniformidade da lavoura. A solução chega ao mercado após três anos de pesquisas em campo, principalmente no Rio Grande do Sul, Estado que mais produz arroz no país pelo método de inundação. Os técnicos da empresa afirmam que a formulação diminui as perdas por volatilização em relação à ureia, reduzindo o desperdício. yarabrasil.com.br
crvlagoa.com.br
A sueca Husqvarna está com três novidades para cortadores de grama. Segundo a empresa, os equipamentos são ideais para campos de golfe e futebol,
além de canteiros de rodovias e grandes jardins. Com alta tecnologia embarcada, os modelos se destacam pelo conforto oferecido aos operadores, além da potência, sistemas de segurança e controle digital, diz o fabricante. Os modelos top de linha possuem opção de piloto automático, para trabalhar em velocidade constante até em terrenos irregulares. Todos os equipamentos contam ainda com faróis para poderem ser operados em locais com baixa luminosidade. husqvarna.com.br
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Conforto no gramado
PRODUTOS E MERCADOS MAPA DA SAFRA
Com safra recorde, soja responde por 46,6% da produção brasileira de grãos A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que os produtores deverão colher 96,2 milhões de toneladas de soja na temporada 2015/2016 Algodão
A área plantada no Piauí aumentou 18,4%, para 14.400 hectares, impulsionada pela expectativa de preços na colheita acima de R$ 70 a arroba, o que não se confirmou. Os preços em junho oscilavam entre R$ 55 e R$ 61 por arroba
RR AP
PA
AM
Girassol
As estimativas indicam queda de 44,5% na produção em Mato Grosso, para 112.800 toneladas, por causa da redução de 41,5% na área cultivada. A retração se deve ao aumento dos custos, provocado pela alta do dólar
MA PI
AC TO
RO MT
BA
Feijão
A expectativa de aumento do plantio da terceira safra em Minas Gerais não havia se confirmado até o início de julho. A estimativa até então era de retração de 5,5% no plantio, para 80.400 hectares
GO
DF
MG ES
MS SP
RJ
PR SC ©1
Santa Catarina, maior produtor nacional, neste ano espera colher 557.327 toneladas. Os preços elevados estimulam o plantio. A área deve crescer 7,3%, para 20.772 hectares
Canola
RS
A área cultivada no Rio Grande Sul recuou 10,2% na safra 2094/2015, para 35.000 hectares, devido à falta de sementes
51,548 milhões de toneladas
É A PRODUÇÃO ESTIMADA PARA A SAFRINHA DE MILHO, QUE CORRESPONDE A 63% DO VOLUME TOTAL DO CEREAL
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©1 THINKSTOCK; 2 JOÃO RAMID/ED.GLOBO
Cebola
Calendário rural
Café
As temperaturas elevadas e a grande insolação provocaram quebra de safra no Espírito Santo. Houve queda de 18% na produção, sendo 3,9% para a variedade arábica e 22% para o conilon
REGIÃO
Colheita
CENTRO-OESTE Goiás Mato Grosso
2ª 2ª
NORDESTE Bahia Ceará Maranhão
CE
RN
PB PE AL SE
Plantio
2ª
Mato Grosso do Sul
NORTE Pará Rondônia Roraima
AGOSTO
3ª
2ª
2ª
2ª
SUDESTE Espírito Santo Minas Gerais São Paulo
3ª
2ª
P/M
2ª
©2
Arroz
A área cultivada recuou 40% no Rio de Janeiro, para apenas 900 hectares, devido à substituição pelo cultivo do tomate e de outras olerícolas, além da escassez de chuvas no início do plantio
SUL Paraná Rio Grande do Sul Santa Catarina
2ª
*VARIEDADES DE LARANJA - P (precoces): hamilin, pineapple, rubi e westin; M (meia-estação): pera; T (tardias): valência e natal 1ª, 2ª e 3ª se referem à 1ª safra, 2ª safra e 3ª safra respectivamente
CULTURAS
Mundo UNIÃO EUROPEIA
A produção de milho é estimada em 65,8 milhões de toneladas, volume 9,3 milhões de toneladas menor que o colhido no ano passado
NICARÁGUA
A produção de café na safra 2014/2015 é estimada em 2 milhões de sacas de 60 quilos, volume 14% superior ao do ciclo anterior. A seca afetou a floração e provocou atraso na colheita e má formação dos frutos
Algodão
Café
Feijão
Laranja*
Milho
Amendoim
Cana
Fumo
Mamona
Soja
Arroz
Cacau
Girassol
Melão
Trigo
RÚSSIA
As chuvas favorecem a produtividade do trigo, mas a safra, estimada em 57 milhões de toneladas, ainda é inferior à colhida no ciclo passado
JAPÃO
A área cultivada com morangos caiu 25% nos últimos dez anos, para 5.500 hectares, devido a questões como o envelhecimento dos agricultores e a falta de sucessores no campo
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PRODUTOS E MERCADOS TEMPO
Chuvas podem atrapalhar a colheita do trigo
A
s lavouras de trigo do Paraná e do Rio Grande do Sul estão entre as mais afetadas pelos períodos de dias chuvosos e redução de nebulosidade. Para a primavera, permanecem os riscos de chuvas fortes, que podem provocar transtornos na fase final de desenvolvimento e na colheita do trigo. Mesmo com uma redução das chuvas entre o final de julho e o início de agosto, para a Região Sul ainda podem ser esperados alguns episódios de chuvas fortes até a prima-
vera e não está descartado o risco de alguns eventos de enchentes e inundações. Mas o efeito mais evidente associado ao El Niño nesse período está relacionado às temperaturas acima da média e à redução do risco de frio tardio. Para as regiões Sudeste e Centro-Oeste, a presença do El Niño reduz o risco de seca extrema e prolongada, com possibilidade de alguns episódios de chuvas em agosto, principalmente em São Paulo. Para o restante dessas regiões, as chuvas devem retor-
nar a partir da segunda quinzena de setembro, o que, em geral, beneficia as lavouras de cana-deaçúcar e café, além das pastagens e da produção de carne e leite. Já para o Norte e Nordeste, o El Niño não tem uma influência direta no clima durante o inverno e a primavera. Continuam as chuvas no leste do Nordeste (Zona da Mata) e no extremo norte e oeste do Brasil, que têm neste período a sua estação chuvosa.
El Niño deixa mercado em alerta
A
s variações observadas entre junho e julho no comportamento do clima em diferentes países, com impacto direto e ameaçando a produção de diversas lavouras, colocaram os mercados de commodities agrícolas em alerta. O El Niño é um fenômeno caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, o que gera muitas expectativas e tem ampla repercussão, em função do impacto no clima em diversas partes do globo. E neste ano não está
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sendo diferente, tendo em vista o excesso de chuvas nas lavouras americanas de soja e milho do Meio Oeste, os episódios de chuvas fortes e tormentas no sul do Brasil, que prejudicaram o desenvolvimento das lavouras de trigo e também a fase final e a colheita do milho segunda safra do Paraná e de Mato Grosso do Sul. Já para as regiões da Ásia e Oceania, o efeito do El Niño está relacionado com a redução das chuvas. Entre junho e julho, já se observava escassez em várias regiões, com destaque para o
nordeste da Austrália, Nova Zelândia, Indonésia e sudeste da China. Em algumas regiões da Índia também se observa uma redução das chuvas neste verão. Isso se dá porque a presença do El Niño também reduz o efeito das monções, que estão relacionadas com as águas quentes do Oceano Índico. Durante o verão, os ventos de monções sopram do oceano para o continente, transportam umidade e são responsáveis pela formação de nuvens e fortes chuvas sobre a Índia. No inverno, ocorre o inverso.
Brasil Umidade do solo (%) (em 18/07/2015)
Níveis críticos 0% 10% 20% Níveis desfavoráveis 30% 40% 50% Níveis confortáveis 60% 70% 80% 90% 100% Fonte: Agritempo/Somar
Nova (14/8)
Crescente (22/8)
Ameaças e riscos
A
s projeções de julho indicavam que o El Niño continua em evolução e deve atingir seu pico de intensidade entre outubro e novembro. A temperatura das águas superficiais no Pacífico Central - que em julho oscilava em torno de 1,5 °C – subiu para até 3 °C. Só que neste mesmo período se observava uma redução do aquecimento da parte leste do oceano, próximo da costa do Equador e do Peru, devendo passar de anomalia positiva de 3,3 °C para em torno de 0,5 °C. Essa característica evidencia que o fenômeno não terá um aquecimento em sua condição clássica, denominado El Niño Canônico. Esta condição, de aquecimento ora na parte leste, ora na parte central, não sustentando o aquecimento simultâneo em toda a extensão do Pacífico Equatorial, é chamada cientificamente El Niño Modoki, e seus impactos no clima são reduzidos. Essa configuração de El
Niño potencializa os episódios de chuvas fortes, porém, intercalados com períodos um pouco mais secos, reduzindo os riscos de eventos extremos e duradouros, como enchentes e inundações. Os últimos três meses sobre o sul do Brasil ilustram bem esse comportamento, no qual o padrão de chuvas alternou de um mês para outro. Maio teve chuvas dentro da média, junho foi mais seco, enquanto julho já foi chuvoso na primeira quinzena e mais seco na segunda quinzena. Em Passo Fundo (RS), entre maio e julho, o acumulado de chuvas ficou em torno de 600 milímetros (mm), com um desvio positivo de 160 mm. Já em Cascavel, oeste do Paraná, nas duas primeiras semanas de julho, choveu praticamente todos os dias, com um acumulado próximo de 400 mm, quando a média para o mês gira em torno de apenas 100 mm.
Cheia (29/8)
Fonte: Observatório Nacional
ESTADOS UNIDOS
Verão chuvoso no Meio-Oeste
A
presença do El Niño confirmou a expectativa do risco de alguns episódios chuvosos durante o verão americano. Entre o final de maio e a primeira quinzena de julho, uma sequência de frentes frias provocou chuvas sobre as principais regiões produtoras, incluindo os quatro Estados considerados os maiores produtores de milho e soja. A região de Springfield, no sul do Estado de Illinois, está entre as localidades onde mais choveu. De 1o de junho até a primeira quinzena de julho, choveu mais de 400 mm, o que corresponde a mais que o dobro esperado para o período. O Estado de Iowa, depois de um maio com baixa precipitação, enfrentou em junho um período chuvoso, tendo registrado chuva em 14 dias. Já em Indiana e Ohio, as chuvas se concentraram entre a segunda quinzena de junho e a primeira quinzena de julho. As frequentes chuvas, embora não necessariamente em grandes volumes, mas associadas com as condições de solo e relevo (planícies) das lavouras na região do Corn Belt, dificultam o escoamento das águas pluviais e contribuem para potencializar os riscos de alagamentos, o que compromete o desenvolvimento das lavouras de soja e milho.
Estados Unidos
Condições de umidade do solo no país em julho de 2015 excessivamente seco seco anormalmente seco pouco seco/favoravelmente úmido anormalmente úmido úmido excessivamente úmido
Fonte: NOAA
Minguante (6/8)
As informações são de Paulo Etchichury, da Somar Meteorologia paulo@met.com.br, tempoagora.com.br
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PRODUTOS E MERCADOS AGENDA
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Agosto/Setembro 2015 Eventos que você não pode perder nestes meses AGOSTO A SETEMBRO
27 a 29 o
6 Congresso Leite e Queijo Minas
29/8 a 6/9
Expointer
Muzambinho (MG) Tel. (35) 3697-1551 falecom@gsceventos.com.br www.leiteequeijominas.com.br
A Feira Internacional de Animais, que já está em sua 38a edição, movimenta mais de R$ 2 bilhões e recebe, pelo menos, 500 mil pessoas
27 a 28
I Simpósio Sul Brasileiro de Pecuária de Corte Porto Alegre (RS) simpeccsul@gmail.com www.simpeccsul.com
Esteio (RS) www.expointer.rs.gov.br ©1
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DOM
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ExpoGenética Uberaba (MG) Tel. (34) 3319-3900 pmgz@abcz.org.br www.abcz.org.br
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25 o
5 Congresso Brasileiro de Fertilizantes São Paulo (SP) www.anda.org.br
25 a 28 19 a 21
Feira de Máquinas e Tecnologias para Madeira Pinhais (PR) Tel. (41) 3075-1100 diretriz@diretriz.com.br www.feirafenam.com.br
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Fenasucro e Agrocana
Sertãozinho (SP) www.fenasucro.com.br
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VI Aquishow
Santa Fé do Sul (SP) Tel. (17) 3631-2821 www.aquishow.org.br
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Bio Energy Conference
Sertãozinho (SP) Tel. (54) 3226-4113 bioenergy@porthuseventos.com.br www.porthuseventos.com.br
26 QUA
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SEG
27 a 30
39a Exposição Agropecuária do Estado do Espírito Santo Serra (ES) - Tel. (27) 3281-8006 www.granexpoes.com.br
28
IV Encontro de Bovinocultura de Corte Piracicaba (SP). Tel. (19) 3417-6600 fealq.org.br
28/8 a 27/9
Expoflora
Holambra (SP). Tel. (19) 3802-1421 expoflora@expoflora.com.br www.expoflora.com.br
©1 DIVULGAÇÃO;
AGOSTO
PRODUTOS E MERCADOS AGENDA 1o a 3
8a9
27o Simpósio sobre Manejo da Pastagem
Frutal
Tel. (85) 3246-8126 geral@frutal.org.br www.frutal.org.br
Piracicaba (SP) Tel. (19) 3417 6600 – cdt@fealq.org.br www.simposiodapastagem.com.br
8 a 10
a
16 Festa Nacional do Moranguinho
7 a 11
Goiânia (GO) - Tel. (62) 3432-0395 www.interconf.org.br
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SETEMBRO
1 a 4/9 o
10o Congresso Brasileiro do Algodão O evento organizado pela Abrapa vai promover debates e compartilhar informações sobre toda a cadeia produtiva, da lavoura até o produto final Foz do Iguaçu (PR) Tel. (61) 3963-5769 contato@congressodoalgodao.com.br www.congressodoalgodao.com.br
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Eco Bahia
Salvador (BA). Tel. (71) 3014-2054 delfim@multifeirascongressos.com.br www.multifeirascongressos.com.br
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Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola
São Pedro (SP). Tel. (16) 3203-3341 sbea@sbea.org.br/conbea.sbea@gmail.com www.sbea.org.br
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XIX Congresso Brasileiro de Sementes Foz do Iguaçu (PR). Tel. (43) 3025-5223 cbsementes2015@fbeventos.com.br www.cbsementes.com.br
©1 ERNESTO DE SOUZA/ED. GLOBO; 2 THINKSTOCK
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O encontro dos confinadores visa fomentar o uso dos sistemas intensivos de produção para bovinos de corte
Rio Verde (GO) Tel. (19) 3417-6600
Tel. (19) 3243-0396 eabramides@terra.com.br www.cbfpo.net.br
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Conferência Internacional de Confinadores
2o Encontro Nacional da Soja
20 Congresso Brasileiro de Floricultura e Plantas Ornamentais
QUA
15 a 17
9 a 11
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1
SETEMBRO
Juiz de Fora (MG) Tel. (31) 3371-3377 brasilfoodshow@minasplan.com.br www.brasilfoodshow.com.br
Bom Princípio (RS) Tel. (51) 3634-1122 www.festanacionaldomoranguinho.com.br
TER
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Brasil Food Show
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SETEMBRO
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MINAS GERAIS A POTÊNCIA DO AGRONEGÓCIO O AGRONEGÓCIO MINEIRO É DESTAQUE NACIONAL. MINAS ESTÁ NO TOPO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA E PECUÁRIA DO BRASIL. n 1º lugar em produção de café – 23,3 milhões de sacas n 1º lugar em produção de leite – 9,3 bilhões de litros n 1º lugar em produção de batata – 1,17 milhão de toneladas n 1º lugar em área de florestas plantadas – 1,53 milhão de hectares n 1º lugar em criação de equinos – 760 mil cabeças n 2º maior rebanho bovino – 24,2 milhões de cabeças n 2º lugar em produção de feijão – 529 mil toneladas Com o apoio do SISTEMA FAEMG, nosso campo leva mais alimentos de qualidade até a sua mesa. Acesse: www.sistemafaemg.org.br
A UNIÃO E A FORÇA DO CAMPO
PRODUTOS E MERCADOS ANÁLISE Scot Consultoria www.scotconsultoria.com.br
MILHO
Chuvas na colheita sustentam mercado
A
s chuvas atrapalharam a colheita da segunda safra nas regiões CentroOeste e Sul, o que impulsionou as cotações do milho. No relatório de julho, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) revisou para baixo sua estimativa da safra americana, o que contribuiu para dar mais sustentação aos preços. A produção é estimada em 343,68 milhões de toneladas em 2015/2016, ante os 346,22 milhões previstos em junho e os 361,09 milhões de toneladas da
safra passada. A menor oferta americana pode elevar a demanda pelo milho brasileiro. No Brasil, já estão sendo fechados contratos para exportação com embarques previstos para este semestre. As expectativas apontam para um volume embarcado acima de 21 milhões de toneladas na safra 2014/2015, mas este número poderá ser recalculado para cima. Segundo levantamento da Scot Consultoria, na região de Campinas, em São Paulo, a saca de 60 quilos ficou cotada, em
Preço médio em Campinas-SP (em R$/saca de 60 kg) 29,7
2014 2015 23,0
AGO
22,0 SET
26,7
26,5
26,5
27,9
27,6
26,2
25,2
25,0
MAI
JUN
23,0
OUT
NOV
DEZ
JAN
FEV
MAR
ABR
Indicador Esalq/BM&F, mercado de milho – média mensal por saca de 60 kg, descontado prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip, base Campinas (SP). Compilado pela Scot Consultoria (*até o dia 14)
SUÍNOS
FRANGO
JUL*
média, em R$ 26,15 na primeira quinzena de julho. Os preços subiram 4,5% em relação à média de junho. O milho já está custando 11,1% mais na comparação com o mês de julho do ano passado. Em curto e médio prazos, a expectativa é de preços firmes e em alta. No mercado futuro, houve forte valorização dos contratos com vencimento em setembro de 2015 e novembro de 2015. Porém, o avanço da colheita é um fator limitante para as altas de preços. Até o final da primeira quinzena de julho, 25% da área plantada com milho safrinha foi colhida no país. Ou seja, há bastante milho para chegar ao mercado nas próximas semanas. A produção brasileira está estimada em 81,81 milhões de toneladas em 2014/2015, sendo 51,55 milhões de toneladas na segunda safra, ou 63% do total.
ALGODÃO
69,0
JUL*
68,5
JUN
MAI
JUL*
JUN
MAI
JUL*
JUN
63,1
MAI
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68,6
Em junho, os preços caíram em resposta à baixa demanda da indústria. A firmeza retornou em julho, com as estimativas de menor oferta mundial, por conta da redução da produção no Brasil e nos EUA. Média mensal** O avanço da colheita brasi- do algodão em leira é um fator baixista em pluma Cepea - em R$/arroba curto e médio prazos, que, *Até 13/7 no entanto, pode ser com- **Principais Estados produtores pensado pelo aumento das exportações. Até meados de julho, foram colhidos 10% da área plantada em Mato Grosso, principal produtor.
2,60
As exportações brasileiras de carne de frango aumentaram em junho, atingindo recordes no ano. Na comparação ano a ano, o faturamento aumentou 9,8% e o volume 31,4%. O aumento das vendas externas contri- Média mensal do buiu para reduzir os esto- frango vivo em Paulo – R$/kg ques. Os preços internos São *Até 13/7 tiveram recuperação expressiva. Até a primeira quinzena de julho, o frango vivo em São Paulo foi negociado, em média, por R$ 2,60 o quilo, alta de 5,3% na comparação com junho último. 2,47
A retração do mercado interno dificulta o escoamento da produção. Com isso, no mês a cotação média caiu 2,4%. Em relação a igual período do ano passado, a queda é de 10,5%. A carcaça especial, que era negociada por R$ Preços médios 5,30 o quilo em junho, re- do suíno em cuou para R$ 5,20 o qui- terminado, São Paulo – R$/@ lo na primeira quinzena de julho. A exportação de *Até 13/7 carne in natura em junho foi de 40.600 toneladas, aumento de 4,2% em relação ao mesmo período do ano anterior.
2,17
Menor oferta
66,3
Vendas externas 67,9
Mercado reprimido
PRODUTOS E MERCADOS ANÁLISE SOJA
Dólar e exportação impulsionam preços
O
s preços subiram com os atrasos no plantio nos Estados Unidos, devido às chuvas em importantes regiões produtoras. A semeadura foi concluída em julho. No Brasil, o dólar valorizado e o ritmo forte das exportações contribuíram com a firmeza das cotações. Em Paranaguá (PR), a saca de 60 quilos ficou cotada, em média, em R$ 71,75 na primeira metade de julho. Os preços subiram 5,5% em relação a junho. Na comparação com julho do ano passado, o produtor está recebendo 6,9% mais pela saca. A recente alta de pre-
ços aumentou a exportação, que somou 9,81 milhões de toneladas em junho. A média diária foi de 467.150 toneladas e o volume mensal foi recorde. No acumulado do primeiro semestre, a exportação foi de 32,25 milhões de toneladas, 1,4% maior frente aos 31,80 milhões de toneladas embarcadas em igual período do ano passado. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que as exportações brasileiras sejam novamente recordes neste ano, com um volume estimado em 46,77 milhões de toneladas, frente ao recorde de 2014,
cujo volume foi de 45,69 milhões de toneladas. Nos Estados Unidos, a produção está estimada em 105,73 milhões de toneladas em 2015/2016, em comparação aos 108,01 milhões de toneladas colhidas anteriormente. Não estão descartadas revisões para baixo na produção americana, em função dos estragos causados pelas chuvas. Os estoques mundiais, por sua vez, estão estimados em 91,80 milhões de toneladas em 2015/2016, frente aos 81,68 milhões de toneladas em 2014/2015.
Preço médio em Paranaguá-PR (em R$/saca de 60 kg) 2014 66,3
65,6 61,4
AGO
SET
66,2
61,6 OUT
62,1 NOV
DEZ
JAN
2015
69,5
71,8 67,5
66,8
68,0
64,1
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL*
Juliana Pila (leite, frango, suíno), Maisa Módolo (algodão e café), Paola Jurca (Etanol e arroz), Rafael Lima (milho e soja) Coordenação: Alcides Torres e Milena Zigart Marzocchi scotconsultoria.com.br Tel. (17) 3343-5111
Preço médio da soja em Paranaguá (PR), saca de 60 kg. Fonte: Scot Consultoria (*até o dia 14)
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Preço médio mensal da saca de 50 kg de açúcar cristal em São Paulo, em R$/saca, com impostos, sem frete *Até 10/7
33,7
33,7 JUL*
JUL*
33,6
Médias mensais do arroz em casca Cepea/Esalq/ BM&FBovespa – por saca de 50 kg, tipo 1,58/10, posto indústria RS, prazo de pagamento descontado pela taxa CDI/Cetip *Até 13/7
33,6
As exportações bateram recorde na safra 2014/2015, totalizando 36,49 milhões de sacas de 60 quilos, volume 6,9% maior que no ciclo anterior. No mercado interno, as negociações estão lentas por causa do atraso na colheita e da baixa demanda, o que vem pressionando as cotações. Ainda assim, os preços estão 5,6% maiores em relação ao mesmo período do ano passado. A expectativa de uma produção menor este ano tem limitado as quedas.
JUN
A Farsul e a Federarroz buscam apoio do governo federal para melhorar os preços mínimos. O valor estipulado pela Conab foi de R$ 29,68 por saca, mas o custo de produção está em R$ 38 por saca. Diante dessa disparidade, a comercialização travou, os investimentos foram suspensos e as indenizações de seguro pararam. A expectativa é de preços firmes em curto prazo, com os produtores retraídos nas vendas.
34,9
Exportação recorde 34,9
Preços mínimos
JUN
47,6 JUL*
49,0 JUN
MAI
A região centro-sul processou 200,53 milhões de toneladas de cana até 1o de julho, uma queda de 1,2% frente à safra passada. As chuvas devem estender a safra atual até dezembro. A renovação dos canaviais deverá ser menor que os 18% estimados pela Unica, em função do aumento das taxas de juros e do corte de créditos do Prorenova, que caiu para R$ 1,5 bilhão nesta safra – ante os R$3 bilhões em 2014/2015.
51,2
Atraso na safra
CAFÉ
MAI
ARROZ
MAI
AÇÚCAR
Indicador Cepea/Esalq mercado físico de café arábica – em R$ por saca de 60 kg líquido, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, valor descontado o prazo de pagamento pela taxa da NPR, posto-praça da cidade de São Paulo (média mensal) *Até 113/7
AGOSTO/2015 – SEBRAE.COM.BR – 0800 570 0800
EXCELÊNCIA RECONHECIDA
Três cachaças brasileiras ganharam a medalha duplo ouro no Concurso Mundial de Bruxelas
Foto: Rodrigo Villar
N
o início do mês passado, foi realizada a edição Brasil do Concurso Mundial de Bruxelas na categoria Vinhos e Destilados. No evento, três cachaças nacionais ganharam o duplo ouro, oferecido às bebidas que ultrapassaram os quesitos máximos de qualidade exigidos pela competição. “De 51 medalhas, 33 ficaram com empresas apoiadas pelo Sebrae”, comemora Sylvia Pinheiro, analista do Sebrae à frente dos projetos de derivados de cana e uva.
Debutante: em seu primeiro concurso, a cachaça Prosa Mineira, dos amigos Rodrigo Lopes (foto) e Denis Machado, ganhou o duplo ouro
CACHAÇAS PREMIADAS
Ivandro Remus e Michel Bettinelli
A Locomotiva: cachaça gaúcha foi premiada no Concurso Mundial de Bruxelas e consagrou o trabalho das famílias Remus e Bettinelli
2
EMPREENDER
Fotos: Isabel de Moraes
O APOIO DO SEBRAE AOS PRODUTORES DE CACHAÇA FICOU EM EVIDÊNCIA NO ÚLTIMO CONCURSO MUNDIAL DE BRUXELAS. AS TRÊS EMPRESAS PREMIADAS COM DUPLO OURO TIVERAM CONSULTORIA DA INSTITUIÇÃO Há mais de duas décadas, a instituição apoia os produtores de cachaça presentes de norte a sul do país. Neste ano, o destaque ficou com uma empresa mineira e duas gaúchas. A mais novata no ramo é a Prosa Mineira, que nasceu em 2010 da paixão dos amigos Denis Machado e Rodrigo Lopes pela bebida. “Sempre apreciamos uma boa cachaça e sentíamos falta de um produto de qualidade na nossa região”, explica Lopes. Planejamento O gosto em comum levou os amigos a sonhar com um alambique próprio. Em 2009, eles fizeram uma pesquisa de mercado, estudaram o assunto e participaram de palestras sobre o tema. Machado participou do seminário de capacitação de empreendedores do Sebrae, o Empretec. No ano seguinte, os amigos montaram o alambique em Santa Rita de Caldas, no sul de Minas Gerais. A capacidade de produção da fábrica é de 100 mil litros de cachaça ao ano. Em 2014, foram produzidos 60 mil litros. A edição Brasil do Concurso Mundial de Bruxelas foi a primeira participação da Prosa Mineira em competições e a empresa saiu com duas premiações. A cachaça Prosa Mineira Ouro, armazenada por dois anos em barril de amburana, ganhou o duplo ouro. Já a versão Prosa Mineira Carvalho, com quatro anos em barril de
carvalho, levou o galardão de ouro. “Nossa expectativa é que este reconhecimento abra novos mercados. Já começaram a aparecer novos clientes e futuros distribuidores”, diz Lopes. Gaúchos do alambique Outra agraciada com o duplo ouro na competição foi a cachaça Locomotiva, de Santa Tereza (RS), no Vale dos Vinhedos. A bebida é fruto da parceria de Ivandro Remus e Paulo Bettinelli. Em 2001, as duas famílias iniciaram a agroindústria RemusBettineli e começaram a produzir cachaça com a marca Velho Alambique, aproveitando a expertise de Bettinelli, que vinha produzindo cachaça no sistema tradicional. A grande guinada aconteceu sete anos depois: a empresa se certificou no sistema de produção orgânica e participou da primeira feira fora do Estado. Em 2010, com as notícias de que o Brasil seria sede da Copa do Mundo e das Olimpíadas de 2016, os sócios resolveram criar uma nova marca, a Locomotiva. A estratégia ajudou nas vendas: o fato de ter duas marcas fez com que os clientes aumentassem o volume de compra. Também nessa época, os sócios Remus e Bettinelli – por intermédio da Aprodecana, associação que reúne o grupo dos alambiques gaúchos – fizeram cursos de produção de cachaça de qualidade. “Resolvemos in-
INFORME SEBRAE. Presidente do Conselho Deliberativo Nacional: Robson Braga de Andrade. Diretor-Presidente: Luiz Barretto. Diretora-Técnica: Heloísa Guimarães de Menezes. Diretor de Administração e Finanças: José Claudio dos Santos. Gerente de Comunicação: Cândida Bittencourt. Edição: Ana Canêdo, Antônio Viegas. Fone: (61) 3348-7494
Tradição Com quase 70 anos de trajetória, a agroindústria Weber Haus, de Ivoti (RS), também conquistou o duplo ouro. A cachaça premiada foi a Weber Haus Playboy, uma bebida orgânica, envelhecida durante 30 meses em barril de carvalho americano. “Este foi um produto que fizemos para a
sebrae.com.br
facebook.com/sebrae
Playboy Enterprises, que veio ao Brasil conhecer alguns alambiques e fechou contrato conosco”, diz Evandro Weber, diretor administrativo da empresa, que tem 22 funcionários, sendo nove da família. Por esse acordo, a Weber Haus produzirá 90 mil garrafas por ano da cachaça que será vendida pela empresa, no Brasil, e pela Global WorldwideTraders no mundo. O duplo ouro no Concurso de Bruxelas é mais uma medalha para o rol da empresa, que conquistou mais de 50 premiações nacionais e internacionais. Nada mal para uma agroindústria que começou com imigrantes alemães em 1924. A ligação da família com a cachaça começou em 1948, quando a família descobriu o alto teor de sacarose da cana-de-açúcar. Até então, os Weber seguiam a tradição germânica e faziam schnaps, um destilado de batata inglesa. Mas eles trocaram a raiz pela cana ao descobrir o teor de sacarose da planta. No início, faziam para consumo próprio, depois, começaram a vender a granel e, a partir de 1968, passaram a engarrafar o produto. Em 2001, os Weber apostaram na diferenciação da cachaça, passaram a investir na qualidade e também em embalagens e rótulos caprichados. Ao longo destes 14 anos, o apoio do Sebrae tem sido essencial. “Começamos com cursos de atendimento ao público e hoje estamos com consultoria de planejamento estratégico”, diz Weber. “Nós alemães, por cultura, somos mais fechados. Aprender a lidar melhor com as diferenças das pessoas e com os turistas foi fundamental”, finaliza. E
twitter.com/sebrae
youtube.com/tvsebrae
Fotos: Isabel de Moraes
vestir em tecnologia: substituímos o processo produtivo de fermentação com levedura criolla por fermentação com levedura biológica”, explica Remus. O produto vencedor do duplo ouro é fruto deste investimento. A Locomotiva é um blend de cachaças envelhecidas por dois anos em três madeiras: carvalho, grápia e angico. Trata-se de uma bebida leve, adocicada e extremamente aromática. “O fato de fazermos controle de temperatura na fermentação faz com que o aroma da cana permaneça na cachaça”, explica Remus. A agroindústria RemusBettinelli é gerida a dez mãos: Remus e a esposa; Bettineli, a esposa e o filho Michel. As duas famílias tomam conta de tudo: dos 15 hectares de cana-de-açúcar, da produção anual de 25 mil litros de cachaças e da parte comercial. O empenho tem surtido resultado e hoje as cachaças Velho Alambique e Locomotiva são vendidas no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal e Minas Gerais. Remus se orgulha de ter conseguido entrar em Minas Gerais, terra das cachaças. “Nas primeiras feiras em Minas, os comerciantes diziam: ‘Cachaça gaúcha? Eu só compro se for mineira’”, lembra.
Evandro Weber
Sob encomenda: feita a pedido da Playboy Enterprises, a cachaça Weber Haus Playboy será comercializada no Brasil e no mundo
plus.google.com/sebrae
AGOSTO 2015
3
VIDA NA FAZENDA CULINÁRIA + CRIAÇÃO + CULTIVO + CULTURA
© THINKSTOCK
Batata-doce
De ciclo curto e baixo investimento, planta de alto valor nutritivo e fácil de plantar, pode ser uma boa fonte de renda para o pequeno produtor Texto João Mathias
* Consultora Sônia Maria Nalesso Marangoni Montes*
| GLOBO RURAL 101
O
COMO PLANTAR
momento não poderia ser mais propício para o plantio de batata-doce. Apesar de ser antiga conhecida nas refeições dos brasileiros, mais recentemente tem sido a hortaliça que todos querem no prato. Fonte de energia liberada gradualmente no organismo, ela tornou-se base da dieta de atletas, esportistas amadores e de toda a população que reserva algum período do dia para se dedicar aos exercícios físicos.
102 GLOBO RURAL |
O baixo índice glicêmico e a sensação de saciedade por tempo prolongado também fazem da batata-doce um alimento indicado para o consumo entre pessoas sedentárias, mais pesadas e portadoras de diabetes. Na moda, a hortaliça ainda passou a ser ingrediente cobiçado por muitos chefs em receitas culinárias de grandes restaurantes. Sua utilidade, no entanto, vai além da cozinha, despertando crescente interesse como
insumo para a produção de etanol (álcool combustível). As vantagens da cultura da batata-doce começam no plantio, atividade que pode ser exercida por produtores ainda pouco experientes na lida com a terra. De ciclo que pode variar de pouco mais de três a cinco meses, dependendo da variedade e das condições climáticas locais, o trato da hortaliça é considerado bastante fácil por aqueles que o conhecem.
© THINKSTOCK
VIDA NA FAZENDA
A hortaliça passou a ser ingrediente cobiçado por chefs de grandes restaurantes e desperta também interesse como insumo para a produção de etanol”
MÃOS À OBRA >>> INÍCIO Além de viveiristas com re-
ainda pode obter novas plantas das
gar o plantio nos períodos secos. Pa-
ferência e que possuem material livre de vírus, as mudas de batata-doce
batatas retirando ramas-semente ou estacas de uma cultura em desenvol-
ra o controle de pragas e doenças,
podem ser compradas em laboratórios de institutos de pesquisa que re-
vimento. Nesse caso, armazene as raízes tuberosas ou batatas em local
alizam micropropagação da planta. O
ventilado e fresco por alguns dias an-
preço de cada exemplar no mercado oscila entre R$ 2,50 e R$ 5.
tes da multiplicação. >>> PLANTIO Pode ser realizado em
>>> AMBIENTE A batata-doce prefere
variados tipos de solos, pois a batata-
regiões de clima temperado a quente, com temperaturas acima de 10 ºC.
doce desenvolve-se em solos franco- arenosos até em argilosos. Con-
Locais onde mantém-se a média de
tudo, os solos mais leves, bem estru-
20 ºC por quatro meses são os maiores produtores da hortaliça. A cultu-
turados, com fertilidade média a alta, bem drenados, e com boa aeração
doce está pronta para ser colhida em um período de 100 a 150 dias após o início do plantio. Em áreas pequenas, é
ra se dá muito bem também onde as
produzem as raízes mais uniformes e
possível fazer manualmente a extra-
chuvas anuais variam de 750 a 1.000 milímetros ou são registrados de 500 a 600 milímetros durante o ciclo. Con-
de melhor aparência. >>> ESPAÇAMENTO O mais utilizado para o plantio da batata-doce varia de
ção das raízes tuberosas da terra.
tudo, a batata-doce não gosta de so-
80 a 100 centímetros entre leiras e de
los sujeitos ao encharcamento. >>> PROPAGAÇÃO Embora possa ser feita por meio de mudas, estacas, sementes e enraizamento de folhas ou cultura de tecidos, o uso de ramas é considerado técnica e economicamente o meio mais recomendado para propagar batata-doce. Retire um ou dois pedaços por haste a partir da extremidade de lavouras com até 90 dias de plantio. Para a implantação de uma lavoura comercial, o produtor
25 a 40 centímetros entre plantas. Para solos mais férteis, no entanto, a recomendação é de espaçamentos menores. As ramas são plantadas em leiras de 20 a 40 centímetros de altura. >>> ADUBAÇÃO Deve ser formulada com base em análise de solo. Em geral, os nutrientes minerais mais exigidos pela batata-doce são o K, N, P, Ca e Mg. A cultura também responde muito bem à adubação orgânica. >>> CUIDADOS É necessário irri-
O cultivo da batata-doce pode ser feito a partir de uma batata ou de ramas, inclusive em vasos com pelo menos 15 litros de capacidade, volume que oferece espaço suficiente para o desenvolvimento do tubérculo. A planta é dotada de duas raízes, sendo a de reserva, ou tuberosa, a que tem apelo comercial. As funções de absorção de água e extração de nutrientes do solo são realizadas pela raiz absorvente. Facilmente identificada pe-
la espessura grande, pouca presença de raízes secundárias e por se originar dos nós, a raiz tuberosa tem como destino, sobretudo, o consumo in natura. Uma parte menor da produção é recrutada pela indústria de processamento de doces e para a elaboração de alimentos para animais. Encontrada na região da América Latina que vai da Península de Yucatán (México) até a Colômbia, a batata-doce tem crescimento rastejante, caule herbáceo e fo-
podem ser adotadas medidas como uso de material resistente e de mudas livres de vírus e rotação de cultura. Ressalte-se que para a cultura não há defensivos agrícolas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. >>> PRODUÇÃO Como trata-se de
RAIO X Solo: adapta-se a diversos tipos, dos francoarenosos até os argilosos Clima: temperado para quente, acima de 10 ºC Área mínima: plantio pode ser feito em vaso Colheita: de pouco mais de 3 até 5 meses após o plantio Custo: preço da muda varia de R$ 2,50 a R$ 5 a unidade
uma cultura de ciclo curto, a batata-
lhas largas, com formato, cor e recorte variáveis. Da fertilização das flores hermafroditas até a abertura espontânea do fruto, transcorrem seis semanas. *Sônia Maria Nalesso Marangoni Montes é pesquisadora do Departamento de Descentralização do Desenvolvimento – Polo Apta – Alta Sorocabana, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo ONDE COMPRAR: em viveiristas idôneos produtores de mudas oriundas de material livre de vírus e em laboratórios de micropropagação, como o Instituto Osvaldo Cruz, tel. (18) 99784-1488 (falar com Elcio Rodrigo Rufino) MAIS INFORMAÇÕES: detalhes sobre a cultura podem ser consultados no livro Cultura da batatadoce – Do plantio à comercialização, publicação da Apta disponível em www.fundag.br
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VIDA NA FAZENDA
COMO CRIAR
Codornas
Antes de iniciar a criação, é preciso definir se a opção será pelo ciclo completo e se o sistema de produção será manual ou automatizado *
Consultor José Evandro de Moraes*
A
demanda dos restaurantes que servem comida a quilo tem incentivado o aumento da produção de ovos da ave, que também fornece carne e exige baixo investimento para a criação e pequena área para o manejo Basta dar uma passada em uma feira, mercearia ou supermercado para comprovar que as versões branca e vermelha dos ovos de galinha predominam no varejo alimentício. No entanto, produzidas por diferentes aves, existem muitas outras variedades de ovos de tamanhos e cores diversos, que também são nutritivos, podem satisfazer muitos consu-
104 GLOBO RURAL |
midores e dar lucro aos produtores. Apesar de não ser tão raro, o ovo de codorna é um exemplo de boa opção disponível a quem se interessa em investir na diversificação do mercado e deseja aumentar a renda mensal. Nos últimos anos, o pequeno ovo de casca branca com manchas pretas e marrom tem conseguido ainda mais popularidade. Com o crescente mercado de alimentação fora de casa, graças às mudanças socioeconômicas dos brasileiros em recentes décadas, como maior distância entre o local de trabalho e o de moradia, além do aumento do número de mulheres com emprego, pro-
liferaram pelas cidades os estabelecimentos que oferecem refeições no modelo chamado self service (sirva-se). Como não faltam ovos cozidos nos cardápios, certamente esses restaurantes foram, em parte, responsáveis pelo aumento anual de 13% no número de aves alojadas e de 18% na postura de ovos de codorna produzidos recentemente no país. Se o mercado aquecido já é um fator que atrai investimentos, a criação de codornas se apresenta como uma ótima oportunidade de negócio, pois conta com outros bons motivos para se iniciar o empreendimento: demandam poucos recursos para o manejo,
© FABIO COLOMBINI
Texto João Mathias
A reprodução pode ser uma boa alternativa, mas a atividade requer maiores investimentos. As aves não chocam em cativeiro. É preciso o uso de chocadeiras”
MÃOS À OBRA >>> INÍCIO Certo de que na região há
para aves adultas em produção. Ins-
>>> ALIMENTAÇÃO Tem de ser de
mercado comprador de ovos de codorna, faça cursos e visite criado-
tale no galpão, onde as gaiolas ficarão acomodadas, cortinas de cores
acordo com a idade e a finalidade da criação da codorna (carne ou ovos).
res e fornecedores ligados à ativida-
preferencialmente azuis ou verdes.
Tecnicamente, as dietas são dividi-
de de criação da ave. Treinamento e conhecimento devem ser contínuos,
>>> GAIOLAS De arame galvanizado, podem ficar dispostas na posição pi-
das nas fases de cria, que vai de um a 21 dias de vida; recria, de 21 a 35
para a boa evolução do manejo, que também deve contar com os servi-
ramidal ou em baterias – uma em cima da outra. Indicam-se as de ta-
dias; e produção, de 35 dias até o fim do período produtivo. A recomen-
ços necessários para o bom funcionamento do negócio. O investimento
manho de 30 x 30 x 30 centímetros com altura de 12 a 15 centímetros.
dação é usar rações para fase inicial, de crescimento e de postura, com
inicial pode variar de R$ 7 a R$ 18 por
Vendidas em lojas de produtos agro-
25% de proteína bruta, 3.000 quilo-
ave alojada, dependendo do sistema adotado (convencional ou auto-
pecuários, como os comedouros e os bebedouros tipo nipple, elas pos-
calorias por quilo de alimento, 3,5% de cálcio e 1,1% de fósforo. A alimen-
matizado) e se o criador produz suas
suem extensão com declive para o
tação representa de 70% a 80% dos
próprias pintainhas (codorninhas de um dia de vida). O valor de uma co-
deslizamento dos ovos e bandeja na base, para depósito das fezes sem
custos de produção. >>> REPRODUÇÃO A fêmea inicia
dorna sexada de um dia de vida para
contato com os pés das codornas.
o período de reprodução entre 35 e
postura oscila entre R$ 2 e R$ 3. >>> AMBIENTE Deve ser tranquilo, com boa ventilação, mas livre de correntes de ar, e iluminação programada entre 14 e 16 horas por dia, porém, sem entrada de luz solar direta sobre as aves. Melhor se a temperatura for mantida entre 24 ºC e 27 ºC e a umidade relativa próxima a 60%
>>> CUIDADOS Sem um protocolo de vacinação específica, proteja as codornas. Evite o fluxo de pessoas no local e impeça o acesso de predadores fechando o galpão com telas de arame de, no máximo, meia polegada de largura. Aplique medidas profiláticas contra roedores, moscas e outras pragas.
42 dias de vida, enquanto o macho aos 75 a 90 dias. Contudo, sugerem-se para incubação ovos férteis com peso superior a 11 gramas obtidos após 42 dias de vida da mãe. Depois de 16 a 17 dias incubados, os ovos eclodem para o nascimento dos filhotes de codorna, com peso próximo a 6 gramas.
Com postura diária, os ovos in natura, cozidos ou em conservas têm um comércio mais fácil para criadores iniciantes. Com pouco colesterol e muita proteína, vitamina B1 e B2 e nutrientes, como ferro, fósforo e cálcio, os ovos são um alimento saudável. A codorna tem forma semelhante a de uma galinha, porém, em proporções menores. As de linhagem de postura são de pequeno porte, têm corpo camuflado com pigmentação marrom e peso que varia de 120 a 130 gramas. Além de ser produtiva, a ave
é fácil de lidar e tem a vantagem de crescer rápido. Mas, para isso, é bom assegurar a procedência dos exemplares, oferecer alimento de qualidade e mantê-los em ambiente limpo e livre de doenças.
não necessitam de grandes áreas para implantação do criatório em sítios ou chácaras e são precoces produtivamente. Pertencente ao gênero Coturnix e predominante nos plantéis daqui e de muitas partes do mundo, a ave conhecida como codorna japonesa (Coturnix japonica) foi domesticada para a produção de carne. O desenvolvimento da ave para reprodução pode ser mais uma finalidade da criação, porém, a atividade é cara, pois as codornas não chocam em cativeiro, exigindo o uso de chocadeira.
RAIO X
Custo: de R$ 7 a R$ 18 por ave alojada, de acordo com o sistema adotado Retorno: a primeira postura ocorre, em geral, entre 35 e 42 dias Reprodução: na época de postura, um ovo por dia
*José Evandro de Moraes é pesquisador científico da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Brotas, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), vinculada à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento. Rua Sebastião Soares, s/no, Caixa Postal 105, Brotas (SP), CEP 17380-000, tel. (14) 3653-1102, joseevandro@apta.sp.gov.br ONDE ADQUIRIR: de criadores de codornas de boa qualidade produtiva e sanitária MAIS INFORMAÇÕES: Instituto de Zootecnia (IZ), em Nova Odessa (SP), tel. (19) 3466-9441; contate também fornecedores de ingredientes para dietas das codornas, de embalagens para os ovos e outros profissionais com atividades relacionadas à atividade
| GLOBO RURAL 105
VIDA NA FAZENDA TABULEIRO por Nina Horta
História açucarada sentiu quando mordeu uma cana, debaixo do sol da tarde, no sítio? Do primeiro pedaçode rapadura? De garapa bem-feita e gelada? E nem se importou, não levou susto? Era muito doce mas era bom?
Os europeus custaram a ter esse prazer, a comida era adoçada com mel. Atrás da impressão de doçura, de coisa usada só para divertir o paladar, o açúcar revolucionou o mundo. O açúcar geralmente está ligado à escravatura, mas além disso foi ele sozinho, pelo seu gosto maravilhoso, que seduziu o mundo. Quase todo o ritual exige açúcar. Os bolos de casamento, os coelhinhos da Páscoa, bombons das namoradas. E não contentes só com o açúcar apareceram as imitações, açúcar de beterraba, sacarina, xarope de milho. Foi sendo usado sem nenhuma discriminação, e começou a engordar pessoas e a ser olhado com cuidado pelos médicos, mas bastava uma pessoa estar triste em frente à TV, se tivesse uma caixa de bombons, acabaria com cada um sem pensar em proibições. Começou a tomar o mundo. Duas religiões já o queriam a toda hora. Os cristãos para remédios, e O Corão dos muçulmanos, ao proibir o álcool, fez com que se acostumassem a beber chá com bastante mel e hortelã. Claro que as primeiras pessoas a se aproveitar para comer bastante açúcar foram os ricos, reis para começar. E com bastante exagero. Árvores de açúcar en-
106 GLOBO RURAL |
AÇÚCAR
feitadas com penduricalhos, trabalhos de arte, castelos, estátuas. Até uma mesquita feita de açúcar, depois doada aos pobres. Em festas como bar mitzvah, procissões de bichos de açúcar, elefantes, leões, girafas. Ao começar a se industrializar, a produção de açúcar fez o que pôde e o que não podia, confundiu civilizações, a agricultura e até o próprio solo do Novo Mundo, o capitalismo triunfou, houve genocídios, formaram-se rotas do açúcar, o gosto foi redefinido, a diabetes estourou, o planeta sofreu como nunca, degradou-se o mundo com a escravidão. Do outro lado da balança, os confeiteiros se divertiam moldando e puxando e inventando moda. Um casamento de nobres era em mesa coberta de doces devorados pelos convidados sobre pratos de açúcar, cortavam os bolos com facas de açúcar, e aproveitavam o caldo molhando os doces num pão de açúcar. Um dos maiores divertimentos eram tortas de açúcar que
ao ser abertas soltavam pássaros vivos, ou sapos. Ideias para sobremesas não faltavam. A novidade foi baixando, apareceram livros para doces que poderiam ser feitos em casa, principalmente o sorvete, que de imediato caiu no gosto de todos. Sem contar uma coisa que parecia óbvia: o açúcar no chá, no café e no chocolate. Aqui no Brasil podemos ter certeza que foram os portugueses que nos ensinaram a fazer os doces mais interessantes, compotas, doces de ovos. Até hoje, o docinho mais delicado posto em pequenas formas não tem igual no mundo. Semelhante tem, mas não igual e tão delicado. Em Portugal, que eu me lembre, via muitos docinhos em formato de sapos, de coelhos, e doces de tamanho mais avantajado como os que se vendem aqui nas padarias. As compotas vieram com certeza da terra-mãe, nós brasileiros não tínhamos compromisso com guardar doces para outra estação. Aqui teve enorme sucesso a lata de goiabada, ou caixeta, pois antigamente era colocada numa espécie de gaveta de madeira. Logo no começo, quando o açúcar começou a se democratizar, usavam-se muito essas caixetas, que foram desaparecendo e dando lugar às latas de figada, marmelada, goiabada. As senhoras da casa tinham suas pequenas cozinhas separadas da cozinha grande para que não houvesse desperdício de açúcar e elas pudessem lidar com nozes, amêndoas em pequenos alguidares. A história dos nossos doces precisa ser contada, quem se habilita?
NINA HORTA
é cozinheira, escritora e proprietária do bufê Ginger. É autora dos livros Não é sopa (uma mistura saborosa de crônicas e receitas) e Vamos comer
© VÂNIA TOLEDO; ILUSTRAÇÃO THINKSTOCK
V
ocêselembradogostoque
VIDA NA FAZENDA GLOBO RURAL RESPONDE Meu pai está começando uma criação de galinha caipira, mas pintinhos e franguinhos com até seis meses emagrecem, ficam fracos, o peito seca e morrem. Como ele pode salvar o seu plantel?
Roberta Dias Muriaé (MG)
POPULARMENTE conhecida como peito seco, a coccidiose tem como um de seus principais sintomas a inapetência, além de apatia, palidez e fezes moles. Ataca sobretudo aves adultas, porém, quando atinge os filhotes, interfere no crescimento, devido a um retardamento do desenvolvimento dos pintinhos. Separe os exemplares doentes para evitar contaminações. A transmissão da doença, de origem parasitária, ocorre por meio do contato do animal com fezes, camas
©1
úmidas e água suja. São propícios para a incidência da coccidiose ambientes com temperatura e umidade elevadas. A boa higienização do local de criação é a prevenção que mais produz efeitos positivos. Também é importante cobrir o piso com maravalha ou outro material e assegurar a desinfecção da instalação e de acessórios como bebedouro e comedouro. CONSULTORA: MARIA VIRGÍNIA F. DA SILVA, Associação Brasileira dos Criadores de Aves de Raças Puras (ABC Aves); endereço para correspondência: Rua Ferrucio Dupré, 68, CEP 04776180, São Paulo (SP), tel. (11) 5667-3495, abcaves.com.br
Pium ou borrachudo tem programas de combate Há algum meio de combater um inseto conhecido por pium, praga agrícola que se reúne aos milhares na região sul do Pará?
Gerilson Pereira da Rocha Água Azul do Norte (PA)
TAMBÉM CONHECIDOS popularmente fora da região amazônica como borrachudos, o pium é um simulídeo, mosquito (Diptera) da família Simuliidae formada por um grupo de insetos hematófagos de tamanho muito pequeno. São cerca de 1.200 espécies no mundo, várias delas presentes no Brasil, das quais cerca de 27 estão localizadas no litoral sudeste. Apenas uma ou duas delas preferem o sangue do ser humano. As outras espécies picam aves e outros animais. No passado, para controlar ou manejar as populações e reduzir os danos que provocam, eram usados inseticidas químicos aplicados nos rios e riachos onde as larvas se criam. Já há mais de duas décadas, programas estaduais de controle como o do Rio Grande do Sul e de São Paulo e ainda programas municipais usam larvicidas biológicos à base da bactéria Bacillus thuringiensis israelensis com grande sucesso. CONSULTOR: CARLOS FERNANDO S. ANDRADE, professor do Departamento de Biologia Animal, IB, Universidade de Campinas (Unicamp), Campinas (SP), cfeandra@unicamp.br
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Goiabas ensacadas O que está acontecendo com a goiabeira plantada no quintal de casa, que alterna as safras de produção de frutos bichados com as de sadios?
Vera Lúcia Ribeiro de Lima João Pessoa (PB)
LARVAS ENCONTRADAS nos frutos da goiabeira são, em geral, oriundas de moscas-das-frutas, que depositam ovos debaixo da casca da goiaba. A goiabeira é uma planta que, manejada adequadamente por meio de podas de produção e tratos culturais, produz frutos durante boa parte do ano, sendo que a incidência de mosca-das-frutas pode ser menor com a variação de temperaturas amenas e períodos de estiagem. Recolha do chão os frutos danificados e enterre-os em local fora da área de cultivo da fruteira. Para evitar novos ataques dos insetos, recomenda-se o ensacamento dos frutos ainda pequenos, quando estão do tamanho de uma azeitona, com aproximadamente 2 centímetros. Os saquinhos podem ser adquiridos em lojas de produtos agropecuários. CONSULTOR: DIEGO XAVIER, técnico de pesquisa do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, tel. (11) 4582-7284, dxavier@iac.sp.gov.br
©1 E 2 THINKSTOCK; 3 ARQUIVO ED.GLOBO
Pintinhos com peito seco
©2
Fungicidas afastam ferrugem de cerejeira Como devo combater uma praga parecida com ferrugem, de tom amarelo, que tomou a cerejeirade-rio-grande, inclusive folhas e frutos, instalada no quintal de casa?
Maria de Fátima Marrero Venancio Santo André (SP)
COMUM EM várias espécies de fruteiras, a ferrugem é uma doença que interfere no desenvolvimento dos frutos da cerejeira, reduzindo o seu valor de mercado. Evite o ataque da enfermidade, que também danifica as folhas da planta, realizando um controle preventivo. A cada término da colheita, aplique fun-
gicidas à base de tebuconazole ou mancozeb. A aplicação no inverno – que evita a instalação da doença durante o ciclo produtivo – é outra recomendação, assim como realizar uma poda de limpeza dos ramos internos e secos ou ainda dos ramos secos do interior da copa da cerejeira. No entanto, é importante consultar um engenheiro agrônomo para mais orientações, visto que existem diversos produtos no varejo que podem ser prejudiciais para diferentes espécies de plantas cultivadas. Além disso, há a opção de levar a uma loja de produtos agropecuários
©3
uma amostra da planta com os sintomas da doença, para avaliação do agente causador e indicação do controle mais adequado. CONSULTOR: LUIZ CARLOS DONADIO, engenheiro agrônomo, consultor TodaFruta, Via de Acesso Prof. Paulo Donatto Castelane, s/no, Jaboticabal (SP), CEP 14884-900, tel. (16) 3209-2692
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FECHA ASPAS “Avaliaremos o retorno financeiro do etanol 2G antes de anunciarmos futuros projetos. O momento é de cautela” Rubens Ometto, presidente do conselho da Cosan, ao jornal O Estado de S.Paulo ©1
“Desmatar o Cerrado é fechar a torneira da água” Mercedes Bustamente, bióloga e professora da Universidade de Brasília, no jornal Valor Econômico (21/7/2015)
Umberto Eco, escritor italiano
Trecho do hino do XV de Piracicaba, time de futebol, cantado pela presidente Dilma Rousseff, durante visita a Piracicaba (SP), em julho
“Apesar de escrever muito, ou quase sempre, sobre o interior, sou um cara da cidade. Gosto mesmo é de barulho, de zoeira, gente em volta. Não fico três dias num sítio nem que me paguem” Dias Gomes, escritor e roteirista (1922-1999), em artigo publicado na GLOBO RURAL de novembro de 1985 ©2
“Falta boi e sobra carne” Wesley Batista, presidente da JBS, sobre a queda no consumo interno e nas exportações de carne bovina, em entrevista à Folha de S.Paulo (22/7/2015)
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“As redes sociais dão o direito à palavra a uma legião de imbecis, que antes falavam apenas em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade”
“Óculos de raiban, carcanhar de bode, toceira de grama, já que tá que fique, XV, crá, crá, crá”