Avaliacao do controle postural de criancas na atividade fisica

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AVALIAÇÃO DO CONTROLE POSTURAL DE CRIANÇAS PRATICANTES E NÃO PRATICANTES DE ATIVIDADE FÍSICA REGULAR 1

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T. P. Oliveira , A. M. C. Santos , M. C. Andrade , A. O. V. Ávila Universidade do Estado de Santa Catarina ­ UDESC 2 Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçados e Artefatos ­ IBTeC 1

Resumo: O objetivo do estudo foi analisar o controle postural de crianças Praticantes de Atividade Física (PAF) e Não Praticantes de Atividade Física (NPAF). Participaram 25 crianças (14 PAF e 11 NPAF) de 8 a 11 anos. Foram verificados os valores de amplitudes de deslocamento do Centro de Equilíbrio nas direções Antero­Posterior (AP) e Médio­Lateral (ML). As variáveis foram observadas em: Apoio Bipodal Olhos Abertos (BOA); Bipodal Olhos Fechados (BOF); pé Dominante Olhos Abertos (DOA); pé Dominante Olhos Fechados (DOF); pé Não Dominante Olhos Abertos (NDOA); pé Não Dominante Olhos Fechados (NDOF). Foi utilizada a plataforma de força Chattex Balance System, com tempo máximo de coleta 25s. Os dados foram adquiridos no Balance System Software. O tratamento estatístico foi composto de análise descritiva exploratória e a análise variância ANOVA (p≤ 0,05), com SPSS®. Foi observado baixo valor de amplitude de oscilação do Centro de Equilibrio ML e AP, para os dois grupos, com apoio Bipodal (BOA e BOF) e maiores valores para apoio unipodal. Para todas as condições e variáveis estudadas, não foram encontradas diferenças significativas entre os PAF e NPAF. Porém, foi observado maior número de quedas antes de completar o tempo máximo na condição de apoio unipodal das crianças NPAF. Os praticantes de Atletismo e Karatê permaneceram por menor tempo na condição Unipodal, comparado aos de Ginástica Artística e Capoeira. Assim, sugere­se um novo estudo, para observar dentro destes grupos a influência das quedas ocorridas.

Palavras­chave: biomecânica, controle postural, crianças. Abstract: The purpose of this study was to analyze the postural control in children who practice of physical activities (PPA) and who do not practice physical activities (NPPA). Twenty­five children, between 8 and 11 years old, participated (14 PPA and 11 NPPA). The displacement amplitude of Center of Balance values were verified in directions forward/backward (F/B) and side to side (S/S). The conditions were: Bipedal with Open Eyes (BOE), Bipedal with Closed Eyes (BCE), Dominant Unipedal with Open Eyes (DOE); Dominant Unipedal with Closed Eyes (DCE), Non­Dominant Unipedal with Open Eyes (NDOE), and Non­Dominant Unipedal with Closed Eyes (NDCE). The force plate used was the Chattex Balance System, with maximum time of 25s. The data were acquired in the Balance System Software. The statistical treatment was composed of exploratory descriptive statistics and an analysis of variance (ANOVA) (α≤ 0,05), SPSS® was used. Low values of oscillation amplitude of the Center of Balance for F/B and S/S were observed, in both groups with Bipedal Stance (BOE and BCE). Higher values of oscillation amplitude for Unipedal Stance conditions were observed. There were no significant differences between groups (PFA and NPFA) for all conditions studied. However, for NPPA was observed a higher number of falls before finishing the maximum time, for Unipedal condition. The practice of Athletics and Karate stayed in Unipodal condition for a shorter time compared to the Artistic Gymnastics and Capoeira. Thus, a new study is suggested in order to observe the influence of the types of activities and the falls.

Keywords: biomechanics, postural control, children

INTRODUÇÃO O controle da postura pode ser definido como a habilidade de manter o centro de gravidade dentro da base de apoio do corpo. A manutenção da postura

depende de uma complexa interação e integração entre o sistema visual, vestibular, somatossensorial e músculo­esqueléticas (NICHOLS et al, 1995). Assim, conforme o corpo se movimenta, os sistemas de referência auxiliam para que todos os mecanismos


Controle Postural de Crianças

se adaptem às demandas das novas posturas, podendo assim ser mantidas em equilíbrio. A maturação dos sistemas controladores da postura inicia no nascimento e se prolonga ao longo do desenvolvimento normal da criança, sendo que o estágio final da obtenção do controle postural é apontado por volta de 8 à 12 anos de idade (Gallahue e Ozmun, 2005). Uma série de processos associados à prática ou à experiência levam a mudanças relativamente permanentes na capacidade de produzir uma ação hábil que é descrita como aprendizagem motora (SHUMWAY­COOK e WOOLLACOTT, 2003). Da mesma forma que as experiências durante a infância aprimoram os padrões de controle postural, a manutenção do mesmo, é um fenômeno crucial para a realização das atividades da vida diária. A prática de atividade física regular incorpora e automatiza algumas habilidades devido à estimulação da estrutura neuromuscular, que é essencial no controle postural. Assim, alguns autores como Gallahue e Ozmun (2005) indicam que o exercício físico é essencial para desenvolver, manter ou recuperar alterações no controle postural. Porém, para os mesmos autores, a atividade física geralmente tem efeito positivo sobre o crescimento, exceto em casos de nível excessivo de exercícios. Alguns estudos que avaliam o controle postural de crianças de diversas idades são realizados para tentar verificar influências advindas da prática de diferentes atividades físicas como a ginástica artística, futebol, handball e/ou efeitos do meio em que vivem, no caso de crianças com algum tipo de lesão como a paralisia cerebral (BUCCI et al 2006, VUILLERME et al 2004 e FERBER­VIART et al 2007, GRAAF­PETERS et al 2007). No entanto, são poucas as evidências que permitem afirmar se as práticas de atividades físicas regulares durante o processo de maturação e refinamento da estrutura neuro­músculo­esquelética tem maior efeito sobre o desenvolvimento do controle postural. Assim, o presente estudo pretendeu verificar se o desenvolvimento e a maturação do controle postural são atribuídas às mudanças de crescimento e maturidade normais, ou se atividade física regular contribui de forma significativa para esse processo.

MATERIAIS E MÉTODOS Esta pesquisa foi avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina ­ UDESC, Florianópolis­SC no dia 26/06/2007.

Amostra Participaram do estudo 25 crianças de idade entre 8 e 11 anos, de ambos os sexos (15 feminino e 10 masculino), Praticantes de atividade física regular (PAF) e Não Praticantes de Atividade Física Regular (NPAF). Foram 8 praticantes de Ginástica Artística, 3 praticantes de Atletismo, 2 praticantes de Capoeira, 1 praticante de Karatê e 11 crianças que não praticavam de atividade física regular. Foram excluídas as crianças que apresentavam qualquer patologia neurológica, ortopédica ou outra que pudesse interferir no controle motor. Todos os participantes foram devidamente autorizados pelos pais e/ou responsáveis a participar do estudo. As coletas de dados foram realizadas em dois locais: Laboratório de Biomecânica do CEFID­UDESC e Escola de Ensino Básico Lauro Muller, ambos em Florianópolis­SC.

Instrumentos de coleta de dados Foi utilizada a Plataforma Dinâmica e Estática, Chattex Balance System (Figuras 1­a e 1­b). Esse equipamento consiste em quatro plataformas móveis e ajustáveis para o tamanho dos pés, sendo duas plataformas para a colocação do antepé e duas plataformas para a colocação do retropé. As plataformas são posicionadas acima de uma superfície plana que possui uma grade de referência. Através do software é permitida a sua reprodução no computador para que o mesmo calcule o centro geométrico entre as plataformas. Estas são compostas por sensores de força do tipo strain gauge. A freqüência de aquisição é de 100Hz e o tempo máximo de aquisição por avaliação de 25 segundos. O instrumento era zerado antes de iniciar cada coleta. (Chatanooga Group Incorporation, sd).

Variáveis Analisadas Foram analisadas as seguintes variáveis: Amplitude de deslocamento do centro de equilíbrio nas direções Antero­Posterior (AP) e Médio­Lateral (ML). Estas foram analisadas em seis circunstâncias: apoio Bipodal Olhos Abertos (BOA); apoio Bipodal Olhos Fechados (BOF); apoio pé Dominante Olhos Abertos (DOA); apoio pé Dominante Olhos Fechados (DOF); apoio pé Não Dominante Olhos Abertos (NDOA), apoio pé Não Dominante Olhos Fechados (NDOF).

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maneira aleatória, sendo que a cada coleta necessitava que um colaborador estivesse próximo à criança para evitar a queda em caso de desequilíbrio.

Arquivamento e Processamento dos Dados Os dados coletados foram exportados para uma planilha do Microsoft Excel para Windows XP para que fossem calculados os valores médios das Amplitudes em AP e ML. O tratamento estatístico foi composto de uma análise descritiva exploratória e análise de variância ANOVA – One way para a comparação entre os grupos, adotando um nível de significância de α≤ 0,05. Foi utilizado o pacote estatístico SPSS® versão 14.

Figura 1a ­ Plataforma de força Chattex Balance System

RESULTADOS

Figura 1b ­ Plataforma de força Chattex Balance System com placa de adaptação para coletas em apoio unipodal.

Procedimentos para a coleta de dados Inicialmente foram selecionadas as crianças e encaminhado o termo de consentimento aos pais e/ou responsáveis. Primeiramente, antes da coleta de dados, foi preenchida a ficha de avaliação para caracterização e identificação da amostra e realizado o teste de dominância para verificar a lateralidade da criança, proposto por Rosa Neto (2002). Em seguida, cada criança passou por um período de adaptação ao local da coleta até o mesmo apresentar­se familiarizado com o equipamento e com o ambiente. Os sujeitos foram orientados a permanecer sobre a plataforma de força, com os braços ao longo do corpo, o mais imóvel possível, sempre descalços. Nas coletas com olhos abertos permaneciam olhando um ponto fixo na parede que estava à uma distância de dois metros conforme proposto no estudo de Gandelman­Marton (2006). As plataformas foram ajustadas pelo tamanho dos pés das crianças e a distância entre as plataformas esquerda e direita foi baseada na distância natural entre os pés de cada criança na posição natural bipodal semi­estática. Para a coleta de dados na condição unipodal as plataformas foram ajustadas e a placa de adaptação foi colocada seguindo o mesmo cuidado de alinhamento. As coletas foram realizadas nas seis condições já descritas, sendo que o tempo máximo de aquisição para cada condição foi de 25 segundos. As coletas somente eram iniciadas a partir do domínio da criança na posição semi­estática sobre as plataformas. A ordem das condições foi de Revista Brasileira de Biomecânica, Ano 9, n.16, Maio 2008

Os valores das amplitudes, apresentados em centímetros, apontam a oscilação média da amplitude Médio­Lateral (ML) e da amplitude Antero­ Posterior (AP). Dessa forma, pôde­se perceber que para a condição BOA (Tabela 1) os valores da oscilação Antero­Posterior foram maiores que os valores de Médio­Lateral. Os valores médios de amplitudes de BOA foram bastante semelhantes para os dois grupos pesquisados. Tabela 1 ­ Indica a amplitude média em centímetros nas direções Antero­Posterior e Médio­Lateral para as condições BOA e BOF de ambos os grupos.

Variáveis AP_BOA ML_BOA AP_BOF ML_BOF

Grupos comparados NPAF

n

Amplitude x (cm)

S

33

2,36

1,07

PAF

42

2,33

0,75

NPAF

33

1,75

0,71

PAF

42

1,76

0,64

NPAF

33

2,65

1,25

PAF

42

2,56

0,65

NPAF

33

1,67

0,72

PAF

42

1,88

0,62

Os valores de amplitude antero­posterior e médio­lateral de BOF (Tabela 1) apresentaram o mesmo comportamento da condição de olhos abertos, onde os valores de oscilação antero­ posterior foram maiores que os valores de médio­ lateral. Observou­se que na condição de apoio do pé dominante com olhos abertos (DOA) as oscilações ântero­posteriores e médio­laterais foram muito superiores à condição bipodal em ambos os grupos, ainda demonstrando maiores números para a 43


Controle Postural de Crianças

amplitude na direção antero­posterior que na médio­ lateral (Tabela 2). Para a condição de apoio de pé dominante e olhos fechados (DOF) notou­se ainda um aumento de oscilação nas direções antero­posterior (PAF 8,93±2,2cm; e NPAF 7,51±3,04cm) e médio lateral (PAF 5,19±1,53cm; e NPAF 4,54±1,5cm), sendo também considerados altos os valores de desvio padrão (Tabela 2). Na condição de apoio de pé não­dominante com olhos abertos (NDOA) as amplitudes demonstram grande semelhança com a condição DOA os valores foram parecidos em ambos os grupos (Tabela 3). Para a condição apoio de pé não­dominante com olhos fechados (NDOF) foram observados os mais altos valores de amplitude antero­posterior (PAF 9,03±2,31cm; e NPAF 8,41±1,74cm) e médio lateral (PAF 5,15±1,57cm; e NPAF 4,71±1,02cm) (Tabela 3).

diferenças significativas entre os grupos comparados (NPAF e PAF). Outro dado importante de ser apresentado é a quantidade de quedas ocorridas durante a as coletas na condição unipodal de Olhos Fechados (Dominante e Não Dominante) antes do tempo máximo de aquisição (25 segundos). Foram 25 quedas na condição DOF e 23 quedas para NDOF nas coletas do grupo de crianças NPAF; já para o grupo de PAF foram 9 quedas na condição DOF e 13 quedas em NDOF. Os praticantes de Atletismo e Karatê, destacam­se com sendo os responsáveis pela maior parte das quedas ocorridas entre os PAF, pois juntos, foram responsáveis por 67% das quedas ocorridas na condição DOF e 62% na condição NDOF.

Tabela 2 ­ Indica a amplitude média em centímetros nas direções Antero­Posterior e Médio­Lateral para as condições DOA e DOF de ambos os grupos.

Os resultados obtidos são compatíveis com o que Mochizucki e Amadio (2003) afirmaram sobre o conhecimento das relações entre oscilação ântero­ posterior e médio­lateral da postura ereta de curta duração. Eles apontam que a oscilação média da amplitude antero­posterior é aproximadamente o dobro da oscilação média da amplitude médio­lateral, porém a variável utilizada para esta verificação foi o Centro de Pressão (COP). A diferença da amplitude de oscilação apresentada entre os apoios bipodal e unipodal já foi observada por Assaiante (1998) quando relatou que a dificuldade de manutenção do equilíbrio é mais acentuada na condição em que o do peso do corpo é suportado apenas por um membro, justificando que as estratégias de equilíbrio adotadas por adultos e crianças envolvem dois princípios funcionais: primeiro a escolha do quadro de referência no qual o equilíbrio se baseia, este pode ser a base de suporte que o sujeito está quando em pé; o segundo princípio é a escolha sobre o grau de liberdade de cada articulação do corpo que deve ser controlada simultaneamente durante o equilíbrio dinâmico. Faquin (2005), também não encontrou diferenças no equilíbrio quando observado atletas e não atletas, para a posição de apoio bipodal. No presente estudo também ficou evidente a importância da dependência visual nas crianças estudadas, principalmente na condição Unipodal com Olhos Fechados. Do mesmo modo, Ferber­Viart et al. (2007), verificaram que essa dependência visual é significativamente maior nas crianças com idade entre 6 a 14 anos quando comparadas a adultos jovens com 20 anos de idade. Um fator determinante, com relação aos resultados encontrados, foi o número de quedas observadas durante as coletas na condição unipodal de Olhos Fechados (Dominante e Não Dominante) para o grupo de Não Praticantes de Atividades Física. Visto que, 60% das crianças NPAF que

Variáveis AP_DOA ML_DOA AP_DOF ML_DOF

Grupos comparados NPAF

n

Amplitude x (cm)

S

33

5,86

2,50

PAF

42

5,48

1,97

NPAF

33

3,43

0,85

PAF

42

3,33

0,70

NPAF

31

7,51

3,04

PAF

41

8,93

2,20

NPAF

31

4,54

1,50

PAF

41

5,19

1,53

Tabela 3 ­ Indica a amplitude média em centímetros nas direções Antero­Posterior e Médio­Lateral para as condições NDOA e NDOF de ambos os grupos.

Variáveis AP_NDOA ML_NDOA AP_NDOF ML_NDOF

Grupos comparados NPAF

n

Amplitude x (cm)

S

33

5,67

1,93

PAF

42

5,33

1,46

NPAF

33

3,43

0,72

PAF

42

3,30

0,60

NPAF

31

8,41

1,74

PAF

42

9,03

2,31

NPAF

31

4,71

1,02

PAF

42

5,15

1,57

No entanto, foi observado para as condições de Olhos Fechados que, tanto no apoio do membro Dominante, quanto para o membro Não Dominante, o grupo de Não Praticantes de Atividades Física apresentaram menores amplitudes de oscilação. Todavia, para todas as variáveis acima descritas, a análise de variância não apontou 44

DISCUSSÃO

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tiveram queda na condição de apoio do pé Dominante não conseguiram permanecer 15 segundos sobre a plataforma. Este mesmo fato foi relatado no estudo de Bucci et al (2006) que verificaram a influência da atividade física no controle postural através do COP, participando 20 atletas de nível competitivo e 20 indivíduos sedentários saudáveis. Os autores também apontaram que as diferenças são mínimas entre os grupos, porém, ao relacionar as quedas durante as coletas, puderam­se diferenciar os tais grupos na manutenção da posição unipodal, apontando o melhor desempenho dos atletas. Mesmo com o grande número de quedas ocorridas, considerou­se adequado o tempo de coleta escolhido, visto que estudos da área utilizam esta faixa de tempo para as pesquisas de controle postural em curta duração (BUCCI et al, 2006; FERBER­VIART et al, 2007; VUILLERME et al, 2004). Gallahue e Ozmun (2005), colocam que a maturação dos sistemas controladores da postura atinge o estágio final por volta de 8 à 12 anos de idade, porém existe a possibilidade que, as crianças utilizadas no presente estudo, ainda encontram­se em fase de maturação e não terem alcançado o seu pico de desenvolvimento. Ferber­Viart et al. (2007), observaram esse fato em estudo com 195 crianças saudáveis (6 a 14 anos) comparado com 64 adultos jovens também saudáveis (20 anos) e concluíram que o nível de estabilidade corporal aumenta de acordo com a idade e a organização sensorial, sendo a de uma criança significativamente inferior que a de um adulto jovem. Em concordância, Ionescu et al. (2006) compararam o sistema vestibular e somestésico de crianças (12 anos) e adultos jovens (20 anos) e verificaram também que as relações vestibulares em crianças quando comparadas com as adultas são inferiores. Porém, diferentemente de Ferber­Viart et al. (2007), observou que as relações somestésicas são similares em ambos os grupos e a dependência visual é significativamente maior nas crianças. Com relação ao tipo de prática de atividade física, algumas modalidades esportivas praticadas pelas crianças deste estudo podem ou não ter como prioridade o desenvolvimento de habilidades que estimulam o controle postural semi­estático. Fato que pode estar relacionado com o maior número de quedas dos praticantes de Atletismo e Karatê comparado aos praticantes de Ginástica Artística e Capoeira. A escolha da modalidade esportiva também foi observada no estudo realizado por Vuillerme e Nougier (2004), com ginastas profissionais (mais de 10 anos de prática) comparado à atletas de outros esportes (futebol e handball), em que verificaram que ginastas necessitam de uma demanda menor de atenção para manter o equilíbrio em relação aos outros atletas. Revista Brasileira de Biomecânica, Ano 9, n.16, Maio 2008

Já, Vuillerme et al. (2001) comparando a estabilidade postural de ginastas com atletas de outras modalidades, através da análise do Centro de Pressão, observam resultados que não demonstram nenhuma evidência direta que ginastas possuem um melhor senso de controle postural do que o outro grupo. Entretanto, os ginastas se mostraram menos dependentes nas condições em que os testes eram feitos com olhos abertos do que os outros. Os autores justificam este fato por duas possibilidades: os ginastas podem comutar entre o sistema visual e outros sistemas mais eficientes, ou então, possuem o sistema sensório mais eficiente quando comparado aos outros atletas. Na comparação feita por Faquin (2005) entre atletas que treinam utilizando calçado, atletas que treinam descalços e não atletas observou que a dependência da informação visual para se manter na posição unipodal foi maior para o grupo de atletas que treinam utilizando calçado do que para os outros dois grupos.

CONCLUSÃO Os resultados indicaram os valores mais baixos para a amplitude de oscilação nas condições Biopodais (BOA e BOF) para os dois grupos e maiores valores de amplitude de oscilação médio­ lateral e antero­posterior para as condições de apoio unipodal em apoio não dominante (NDOA e NDOF). Para as variáveis estudadas, a análise de variância não demonstrou diferenças significativas entre as crianças Praticantes e Não Praticantes de Atividade Física. Porém, cabe ressaltar que houve maior número de quedas antes de completar o tempo máximo estipulado na condição de apoio unipodal das crianças NPAF. Do mesmo modo, as crianças que praticavam Atletismo e Karatê permaneceram por menor tempo em posição semi­ estática, na condição unipodal, comparado aos praticantes de Ginástica Artística e Capoeira. Assim, pode­se afirmar que para as variáveis analisadas não há diferença estatisticamente significante dentro destes grupos avaliados. No entanto, diante das inesperadas quedas ocorridas durante as coletas, sugere­se que um novo estudo seja realizado para verificar se estas falhas serão um fator de diferenciação entre grupos de crianças praticantes regular de atividade física e não praticantes.

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