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Revista JM - Paradoxos da existência: navegando contradições

Paradoxos da existência: navegando contradições

Entre a Harmonia e o Conflito: Encontrando Equilíbrio na Diversidade do Ser

A paradoxologia é uma reflexão sobre as contradições cotidianas, pode causar alegria, mas ao mesmo tempo uma reflexão triste. É uma palavra pouco comum, mas registrada no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, e, refere-se, teoricamente, ao estudo de paradoxos (contradições) ou a uma inclinação para fazer declarações paradoxais (contraditórias).

De maneira mais livre, os paradoxos podem provocar pensamentos ou ilustrar pontos de vista que desafiam a intuição comum. Além disso, podem também referir-se a um estilo de argumentação ou retórica que se apoia fortemente na utilização de antíteses, de contrastes, para explorar complexidades em temas variados, desde ética até ciência e religião. Dessa maneira, como podemos tecer esses fios de contrastes em nosso cotidiano, transformando o embate entre o visível e o invisível, o tangível e o intangível, em uma tapeçaria que enriqueça a nossa experiência humana?

Vejamos:

- Quando fixamos prazos longos em nossas vidas para cumprirmos algo, não o fazemos; mas, com prazos menores, realizamos. É a dança ao ritmo de prazos divergentes,

compondo uma sinfonia de cores que transforma a procrastinação em produtividade, permitindo-nos saborear o doce aroma do sucesso concluído com a urgência de um momento fugaz.

- Por que nos lançamos em uma corrida frenética contra o tempo quando o verdadeiro triunfo reside no ritmo sereno da paciência? A sabedoria ancestral, imortalizada nas páginas sagradas, desde o fruto do Espírito em Gálatas: 5-22,23 até a valorização do fim sobre o começo em Eclesiastes: 7-8, nos sussurra que, na tessitura do destino a paciência é o fio dourado que costura momentos de plenitude. Assim, enquanto o mundo insiste em acelerar, que possamos escolher o caminho menos percorrido: o do vagar consciente, onde cada passo é uma meditação e cada respiração uma lição de eternidade.

- No turbilhão luminoso das telas, onde cores e sons entrelaçam-se em um frenesi que seduz os sentidos, paradoxalmente encontra-se o convite silencioso para o retiro escuro e sereno? Provavelmente, sim. Às vezes, tudo que precisamos é de um sono quieto, com um silêncio penetrante, para continuarmos a nossa história. Assim, ao desligarmos a tela, abrimos as portas para uma escuridão acolhedora, onde cada sonho é uma estrela que ilumina, suavemente, o caminho da consciência.

- Por que buscamos nas palavras alheias a confirmação do que internamente já conhecemos? Esse

paradoxo revela a complexidade humana: uma sede por validação externa que, ironicamente, nos reconecta com as verdades que silenciosamente habitam em nós, talvez o desejo de compreender nossas verdades sob novas luzes?

- Desejamos, muitas vezes, a sensualidade, o desregramento, a incontinência, de maneira bem egoísta. Contudo, isso pode nos conduzir a caminhos estreitos, confusos e sem saída. É paradoxal, não é?

- Quão prestativos somos no dia a dia? Ao perseguirmos a amorosidade e a gentileza, enfrentamos o desafio de alinhar nossas ações diárias com esses ideais, muitas vezes encontrando um contraste entre o que esperamos dos outros e como realmente agimos. Esse paradoxo reflete a complexidade humana e a dificuldade em manter consistentemente comportamentos que valorizam o bem-estar alheio, exigindo de nós uma reflexão contínua e o esforço para superar nossas próprias limitações.

- Não conhecemos a pessoa, nem a sua história, mas estamos frequentemente tirando conclusões precipitadas. Paradoxal? Bom, isso pode destruir qualquer relação, combinado com dores, ressentimentos, suspeitas, ameaças etc. Dessa maneira, julgar sem conhecer a história completa de alguém pode levar a conclusões precipitadas, alimentando um ciclo destrutivo em relações interpessoais. Isso destaca o paradoxo humano de avaliar sem empatia. Reconhecer

essa tendência e buscar compreender os outros antes de julgar é crucial para construir relações mais saudáveis.

- Por que fechamos o nosso mundo se o nosso desejo é perceber que existe vida em todos os lugares? Tudo respira vida. O paradoxo de fecharmos nosso mundo enquanto ansiamos por reconhecer a vida em sua plenitude reflete uma contradição intrínseca à condição humana. Esse comportamento pode ser um mecanismo de defesa contra o desconhecido. Reconhecer e explorar essa contradição pode abrir caminhos para uma maior abertura e apreciação da vida em todas as suas formas.

- Quantas vezes somos filhos do passado e estamos quase sempre representando as nossas velhas ideias, por quê? O interessante é que muitas vezes só queremos saborear o momento. Este paradoxo destaca a tensão entre a influência do passado em nossas ações e o desejo de viver plenamente o presente. Somos frequentemente moldados por experiências e ideias anteriores, o que nos faz repetir padrões, mesmo quando aspiramos a experiências novas e imediatas. Isso ocorre porque o passado fornece um senso de identidade e segurança, enquanto o presente exige abertura e vulnerabilidade para ser verdadeiramente saboreado. Mas esse senso de segurança e identidade pode derivar de uma falsa percepção do passado, e, além disso, podem ser limitantes e potencialmente enganosas, porque

são filtradas através das lentes da memória, que é seletiva e subjetiva, podendo distorcer as lentes da realidade.

- Olha, existem pessoas azedas em qualquer ambiente. Contudo, será que sempre devemos opinar? Muitas vezes, o melhor a fazer é nos recolhermos, embora o “paradoxal” queira o contrário. Assim, o paradoxo apresentado reflete a tensão entre a

necessidade de expressar opiniões frente a comportamentos negativos e a sabedoria em escolher o silêncio como resposta. Por um lado, há um impulso natural de confrontar ou corrigir atitudes “azedas” para promover um ambiente mais positivo. Por outro, reconhece-se que, em determinadas circunstâncias, abster-se de comentar pode ser a ação mais prudente e eficaz, evitando-se conflitos desne-

cessários e preservando a própria paz interior. Esse paradoxo sublinha a complexidade das interações humanas, em que a assertividade e a reticência podem ser igualmente valiosas, dependendo do contexto.

- O pretexto também pode ser usado para uma boa causa, e siga adiante, pois, às vezes, o que parece uma desculpa pode esconder uma chance de fazer o bem. Como o amargo e o doce que se misturam, convidamos você a olhar além das aparências. Mesmo nas desculpas, podemos encontrar motivos nobres. Vamos juntos descobrir o bem escondido nas

entrelinhas.

- Estamos sempre querendo a felicidade, mas seria muito paradoxal doarmos um pouco de felicidade? Poderíamos ser alívio para a vida de alguém? Onde estamos colocando a nossa felicidade? Buscar a felicidade é humano, mas compartilhá-la é divino. Ao doar felicidade, nos tornamos faróis na escuridão alheia. Será que nossa busca por alegria nos cega para o poder de iluminar vidas? Talvez a verdadeira felicidade resida no ato de compartilhar, não apenas no ter.

Enfim, o Amor é o remédio para

o mal. Troca-se a morte pela vida. Assim, O Amor, em sua essência mais pura, é a força transformadora capaz de transmutar as sombras mais profundas em luz radiante. Ele é o bálsamo que cura, a ponte que une o abismo entre o desespero e a esperança, entre a morte e a vida. Nessa troca, não apenas sobrevivemos, mas verdadeiramente vivemos. O Amor não é uma mera emoção, mas uma prática diária de compaixão, empatia e bondade. Ao escolher o Amor, escolhemos a vida em sua plenitude, rejeitamos as cadeias da negatividade e do mal. Essa escolha é um ato de rebeldia contra a indiferença, um compromisso com a construção de um mun-

do onde a vida é celebrada em todas as suas formas. O Amor, portanto, é o remédio mais potente capaz de curar não só o coração individual, mas também o tecido social, trazendo à tona o melhor da humanidade.

Obrigado!

Autor: Wagner Lourenço, advogado e escritor.

E-mail: advwagner1212@gmail. com

Instagram:@wagneriuris

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