plan magazine #3

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Revista

Plan edição#3 julho de 2009

jovens

Lições de cidadania no discurso e na ação

conhecimento Encontros discutem como educar melhor

despertar voluntário no Norte As chuvas que desabrigaram 450 mil pessoas r fundamental e Nordeste do Brasil trouxeram à tona um valo para a transformação social: a solidariedade

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Plan w w w. p l a n . o rg.br

Plan Brasil Diretor Nacional: Moacyr Bittencourt Gerente de Programas: Gualberto Aldana Gerente de Finanças: Lisya Said Gerente de Recursos Humanos: Suzy Veruschka Gerente de Construção de Relacionamentos: Alexandre Lima Gerente de Mobilização de Recursos: Flavia Lang Coordenadora de Comunicação e Marketing: Cristina Bodas

Escritório Nacional Estrada da Batalha, 1200/38, Módulo 1, Prazeres, Jaboatão dos Guararapes/PE, CEP 54315-570 Tel.: 81 2119-7575 / Fax: 81 2119-7581

Escritório São Paulo Rua Carlos Petit, 161, cj. 81, Vila Mariana, São Paulo/SP, CEP 04110-000 Tel.: 11 5576-8625 / Fax: 11 5576-8624 plan@plan.org.br

Diretor Executivo: Rodrigo Pipponzi Diretora Editorial: Roberta Faria Diretora de Arte: Claudia Inoue

Revista

Plan

Coordenação: Amanda Rahra e Cristina Bodas Edição: Dilson Branco Reportagem: Larissa Soriano Revisão de texto: Eduardo Toaldo Design e ilustração: Juliana Martinhago e Mariana Coan Produção: Laura Sobenes e equipes da Plan em São Luís (MA) Fotos: Christian Knepper, Leo Drumond / Agência Nitro e equipe Plan Foto de capa: Christian Knepper Tratamento de imagens: Leandro Marcinari Impressão: Gráfica Ibep Papel: Reciclato 150 gr. (capa) e Reciclato 120 gr. (miolo) Tiragem: 3 mil cópias

Compromisso reafirmado A Plan realiza projetos de desenvolvimento comunitário que garantem a ativa participação das crianças e suas famílias, nas áreas de saúde, educação, promoção dos direitos da criança e apoio à geração de meios de vida sustentáveis. Dado o estado de emergência determinado pelas inundações no Maranhão, a Plan prontamente disponibilizou recursos humanos e financeiros. Toda a equipe de programas e administração tem trabalhado intensamente em São Luís e Codó com apoio de nossos colaboradores. Em coordenação com a Defesa Civil, com o governo do estado e com as prefeituras, a Plan destinou mais de R$ 500 mil em gêneros de primeira necessidade, medicamentos, roupas, apoio ao transporte

de pessoas e manutenção de abrigos, além dos investimentos na reconstrução de residências e infraestrutura de captação, armazenamento e distribuição de água potável. A Plan também contribuiu incessantemente para a divulgação da situação das famílias. No momento, a equipe da Plan e seus voluntários trabalham no planejamento do labor pós-emergência, articulando parcerias para a reconstrução de moradias, o restabelecimento de vias de acesso e o apoio à economia familiar dos afetados. Reafirma-se, assim, nosso propósito de garantir que as crianças, suas famílias e comunidades possam retomar suas atividades regulares com a consciência de seus papéis de ativos agentes de desenvolvimento.

Moacyr Bittencourt Diretor Nacional da Plan Brasil

Quem somos

Visão

A Plan no Brasil

A Plan nasceu em 1937 para dar suporte

A visão da Plan é a de um mundo onde

No Brasil desde 1997, a Plan está presente

a crianças afetadas pela Guerra Civil

todas as crianças realizem seu pleno

no Maranhão – nas regiões de São Luís

Espanhola. Hoje é uma das maiores ONGs

potencial, em sociedades que respeitem

e Codó – e em Pernambuco – em Cabo

internacionais de desenvolvimento,

os direitos e a dignidade das pessoas.

de Santo Agostinho e Jaboatão dos

trabalhando com 1,5 milhão de crianças. Está presente em 66 países.

Como trabalhamos

Missão A Plan trabalha para conseguir melhorias

Guararapes. Os projetos da organização atendem mais de 75 mil crianças.

duradouras na qualidade de vida das

Mobilização de recursos

A Plan aposta no desenvolvimento

crianças menos favorecidas de países

Sua participação é fundamental para

autônomo das comunidades em que atua.

em via de desenvolvimento. Para isso,

manter nosso trabalho. Você pode

O enfoque principal é nos direitos das

baseia-se em processos que unam pessoas

contribuir de várias formas: doando,

crianças e dos adolescentes, considerados

de diversas culturas e acrescentem

prestando serviços ou divulgando

protagonistas desse processo.

significado e valor em suas vidas.

nossos projetos. Entre em contato!


e? fr so o lh fi u se : la co es na ia nc lê io V para um tipo de agressão cujas cicatrizes A sala de aula muitas vezes serve de cenário nda a identificar possíveis vítimas podem levar anos para sarar: o bullying. Apre

tão temida pelos pais, a violência pode estar presente em um ambiente tradicionalmente considerado seguro: a escola. Apelidos maldosos, piadas humilhantes e até agressões físicas não são brincadeiras inofensivas. O bullying, como é conhecido, pode causar graves danos ao aprendizado e à formação psicológica das crianças. Combater essa ameaça exige a participação de pais, professores e alunos. O primeiro passo é identificar o problema. Faça o teste e veja se seu filho pode ser uma vítima.

1. Qual é o comportamento da criança em relação aos estudos e compromissos escolares?

© Leo Drumond/Agência Nitro

a) Frequentemente cria motivos para não ir às aulas ou falta sem avisar os pais. b) Às vezes inventa razões para evitar ter de ir à escola. c) Pode até resistir à ideia de ir às aulas, mas não tem problemas de frequência.

2. Como a criança se relaciona com a família? a) Não fala sobre si mesma e se torna agressiva com facilidade. b) Com frequência, faz birra. c) De forma normal; eventualmente, pode ser mal-educada.

3. Como você avalia a autoestima do seu filho? a) Muito baixa: dificilmente acredita no próprio potencial. b) Baixa: não raro, seu comportamento é marcado pelo pessimismo. c) Normal: tem medos, mas não deixa de enfrentá-los.

4. Como seu filho se comporta quando é perguntado sobre a vida escolar? a) Fica irritado, grita e se isola. b) Troca de assunto instantaneamente. c) Às vezes demonstra algum desconforto.

5. Qual é a postura da criança em relação ao futuro? a) Não tem nenhuma motivação em seguir estudando nem de construir uma carreira profissional. b) Não traça planos muito ousados. c) Fala com naturalidade sobre o tema.

Qual foi a resposta que mais apareceu no seu teste? Confira o resultado abaixo. Mais A É provável que seu filho seja vítima de bullying. Cheque na escola se é verdade e fale com os educadores para encontrar soluções. Se possível, busque ajuda de médicos e terapeutas.

Mais B Vale ficar atento a um possível estágio inicial de bullying. Quanto antes o quadro for identificado, mais fácil de resolvê-lo. Promova o diálogo e incentive o jovem a praticar esportes ou a participar de outros programas que estimulem o convívio social.

Mais C Pode ser uma implicância normal entre colegas. Mesmo assim, é válido conversar e mostrar à criança que só em um ambiente de convivência saudável é possível desenvolver todas as nossas habilidades.

Campanha global contra a violência nas escolas Bullying, castigos corporais ou violência sexual: a cada dia, 1 milhão de crianças sofrem algum tipo de violência escolar. O dado faz parte de uma pesquisa mundial realizada pela Plan. O levantamento serviu de base para o lançamento da campanha Aprender Sem Medo, que pretende promover um esforço global pela paz nas escolas. No Brasil, o foco é o bullying. A ideia é mobilizar famílias, comunidades, escolas e governos em busca de soluções. Acesse o site oficial e participe: www.aprendersemmedo.org.br.


COMUNIDADE

Tragédia e solidariedade

As fortes chuvas que recentemente atingiram o Norte e o Nordeste do país ressaltaram a importância de uma questão central na atuação da Plan: o trabalho voluntário


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O Maranhão foi um dos estados que mais sofreram com as enxurradas: 165 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas. Nas imagens, as ruas alagadas de Codó

ra madrugada quando Frankllinne Silva, de 21 anos, percebeu que a chuva, que caía desde a tarde na periferia de São Luís (MA), estava invadindo sua casa, feita de taipa. Era preciso agir rápido. Ela pegou os dois filhos – um de 3 e outro de 1 ano –, um colchão, algumas roupas e foi buscar abrigo na casa da sogra. Assim que possível, voltou a sua rua para ajudar os vizinhos. “As pessoas estavam desesperadas, as famílias chorando porque tinham perdido tudo. Algumas casas foram levadas pela correnteza”, conta. Frankllinne é uma das cerca de 450 mil pessoas que tiveram de abandonar suas residências devido às enchentes que recentemente atingiram os estados do Norte e Nordeste do Brasil. A tragédia causou a morte de 64 pessoas, segundo o Ministério de Integração Nacional. Apesar do número de atingidos ser bem superior aos 80 mil afetados pelas inundações em Santa Catarina, no ano passado, a ajuda das demais regiões do país chegou de forma mais lenta e escassa. Segundo a Defesa Civil do Maranhão, nas três primeiras semanas de campanha foram arrecadados apenas R$ 21 mil, em comparação aos R$ 3 milhões doados em sete dias para as vítimas catarinenses. Um dos estados mais prejudicados foi o Maranhão: mais da metade dos municípios – 119 de um total de 217 – foi atingida. Cerca de 165 mil maranhenses tiveram de abandonar suas casas – o maior número entre os estados afetados. “Toda nossa equipe parou suas atividades e foi às áreas de risco fazer o levantamento das vítimas com a Defesa Civil”, afirma Suelma Kzam, assistente técnica de saúde da Plan de São Luís. Desde o primeiro momento, foi fundamental a participação de voluntários da comunidade, como Frankllinne: “Por conhecer melhor as pessoas, eu ajudei a Plan e a Defesa Civil a localizar as áreas mais afetadas”, conta.


Emergência e prevenção Concluído o cadastramento, a Plan deu início à distribuição de kits com alimentos, material escolar, produtos de higiene, filtros de água, botijões de gás e fogões. Foram destinados mais de R$ 500 mil para ajudar cerca de mil famílias em todo o estado. “Essa é a ação emergencial, com duração de dois meses. Ela serve de base para um projeto de longo prazo, que se estenderá por dois anos”, afirma Suelma. Foram selecionadas 200 famílias da região de São Luís para participar da Formação de Agentes de Defesa Civil e Cidadania, na qual os moradores aprenderão a prevenir, identificar e agir em situações de emergência. O projeto também inclui oficinas de prevenção de acidentes domésticos, preservação ambiental, autoestima e perspectiva de futuro, protagonismo juvenil e aproveitamento total de alimentos. “Mais do que ações de emergência, esse era um momento-chave para trabalharmos outras situações das quais essas famílias são vítimas”, diz Suelma.

Em Codó e Timbiras, onde a situação foi ainda mais grave do que na capital maranhense, as ações emergenciais incluíram, além das doações, oficinas de convivência comunitária pacífica, já que muitas famílias foram obrigadas a dividir o mesmo espaço em abrigos. “As dinâmicas também tratam de violência doméstica e da preparação psicológica para o retorno às casas. Cuidamos para que essa situação não se torne tão traumática, principalmente para as crianças”, diz Patrícia Barroso, gerente da Plan em Codó. Agora que as famílias já voltaram para suas residências, as oficinas continuam em pontos estratégicos das comunidades, como associações de moradores e escolas. Outra estratégia no interior do estado foi a capacitação das Comdecs (Comissões Municipais de Defesa Civil), ligadas às prefeituras. O treinamento, oferecido pelo assessor de emergências da Plan de Honduras, Dax Martinez, também se estendeu a professores, agentes comunitários de saúde, funcio-

nários da Plan e voluntários. “Dax ensinou, por exemplo, como formalizar uma comissão de atuação de emergência e quais os cuidados de higiene que se deve ter quando a água de uma enchente baixa, para evitar a disseminação de doenças”, diz Patrícia. Um dos participantes foi o voluntário Marcelo Cenzala, de 28 anos, de Codó. Ele teve atuação importante no auxílio aos atingidos pelas chuvas na cidade. “Minha casa não foi afetada, mas quando você vê alguém passando dificuldade, sente vontade de ajudar. Fosse sábado, domingo, manhã, tarde ou madrugada, com chuva ou sol, eu pegava o barco e ia ajudar as pessoas a tirar as coisas das suas casas”, conta. Ele acredita que a capacitação foi muito útil para a comunidade: “Aprendemos o que fazer ao ver uma pessoa desmaiada, o que falar quando vir uma criança brincando na água suja, como se preparar para essas catástrofes. Acho que, se houver outra enchente, as pessoas estarão mais preparadas”, conta. 1

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além de alimentos e filtros, Plan incluiu a doação ximas cheias pró A ação emergencial da das s ito efe os ir como diminu de capacitações sobre


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Com seu trabalho voluntário, Magali viu meninos se tornarem músicos e teve a satisfação de se sentir útil

© 1 Christian Knepper 2 Leo Drumond/Agência Nitro

A transformação deve ser feita não por agentes externos, mas pela própria comunidade

Questão estratégica A ação solidária de pessoas como Marcelo e Frankllinne irrompe com beleza sobre um cenário de tanto sofrimento. “Essa situação trouxe à tona a questão da solidariedade, de as pessoas se ajudarem sem esperar nada em troca”, diz Patrícia. Mas o trabalho voluntário não é importante apenas em momentos de emergência. Na Plan, ele tem relevância estrutural. “O voluntariado é uma questão absolutamente estratégica para nossa proposta de desenvolvimento”, afirma Dov Rosenmann, gerente da Plan em Cabo de Santo Agostinho (PE). “A gente entende que a transformação deve ser feita não por um agente externo, mas pela própria comunidade, por pessoas comuns. Essas pessoas participam de forma voluntária das oficinas que oferecemos e então se tornam multiplicadoras desse conhecimento. São voluntárias da comunidade, não da Plan”, acrescenta Dov.

É o caso de Magali Araújo, de 46 anos, que atua como voluntária em projetos da Plan em Cabo desde os 34. Nessa época, nem sabia o que era um voluntário. “Então eu descobri que é alguém que trabalha sem interesse, com coração, para o bem da sua comunidade”, diz. Há cerca de dois anos, quatro jovens procuraram o diretor da escola para ajudá-los a formar uma banda. Ele pediu auxílio a Magali, que recorreu às orientações da Plan. Daí nasceu o projeto A Música É Minha Vida, do qual Magali é vice-presidente. Hoje, a banda conta com 60 integrantes. “Quando eu os vi participando do desfile de 7 de Setembro, eu chorei. Um dos meninos tinha problemas em casa, e a mãe veio agradecer porque agora ele está se comportando, tirando boas notas. Isso faz a gente ficar contente, ver que nosso trabalho está valendo a pena, e dá força para seguir em frente.”


jovens

Geração cidadã

Juventude alienada? Que nada. Conheça histórias de meninos e meninas que não só lutam para serem ouvidos como põem a mão na massa para melhorar o lugar onde vivem 1

Após audiência na Assembleia, a escola que André (à dir.) e seus amigos reivindicaram começou a ser construída

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ra mais uma reunião na Assembleia Legislativa do Maranhão. Em meio aos participantes, er­gueu-se uma voz condenando o absurdo de não haver uma escola de ensino médio na comunidade de Cidade Olímpica, na periferia de São Luís, onde vivem 65 mil pessoas. O discurso firme e articulado vinha de um garoto de 15 anos, André de Araújo. Havia meses ele e um grupo de amigos tentavam marcar essa audiência pública. “Eu nunca imaginei que um dia falaria lá na Assembleia. Foi uma experiência muito boa”, diz. Passados dois anos, a reivindicação foi parcialmente atendida. “Eles construíram o muro. Mas queremos a escola pronta, com os professo-

res dentro, funcionando. Continuamos pres­­sionando o governo”, afirma. André faz parte do projeto Protagonismo Infanto-Juvenil, desenvolvido pela Plan em parceria com o Grupo de Apoio às Comunidades Carentes (Gacc). “Somos um grupo de jovens que se reúne para discutir políticas públicas a favor da juventude”, resume André. “Visitamos escolas, grupos de dança e bandas, por exemplo, e conversamos com o pessoal sobre temas como a gripe suína, a crise mundial, saúde sexual, profissionalização, sobre como os jovens se veem no meio disso tudo, e discutimos o que podemos fazer para atingir nossos sonhos”, explica André. “No início, eles precisa-

vam pedir espaço para falar. Hoje, são convidados por escolas e fóruns municipais, estaduais e até nacionais de discussão de jovens”, diz Nerinalva Azevedo, assistente técnica em direitos das crianças da Plan em São Luís. Se na capital maranhense os jovens foram até a Assembleia reivindicar seus direitos, em Cabo de Santo Agostinho (PE) aconteceu o inverso: a sociedade convenceu a câmara dos vereadores a ir até ela. Uma vez por mês, acontece uma assembleia itinerante em escolas, associações de moradores ou outros espaços públicos, com boa participação de jovens. Assim, a população, que muitas vezes não sabe


© 1 Christian Knepper 2 Selma Rosa

Da reivindicação à ação Manter diálogo constante com os governantes é fundamental para exercer um papel ativo nas políticas públicas. Mas é possível ir além, atuando na prática. Quem dá um bom exemplo disso é o pessoal do projeto Saúde Sexual e Reprodutiva, das comunidades de Itaqui-Bacanga e Cidade Olímpica, ambas em São Luís. Estudantes a partir de 12 anos passam por uma capacitação sobre doenças sexualmente transmissíveis e métodos contraceptivos, e então repassam esse conhecimento para outros adolescentes por meio de encontros em associações e panfletagens nas ruas. “Às vezes, os jovens se sentem intimidados em conversar com adultos sobre sexualidade. Quando é alguém da mesma idade que fala, eles ficam mais seguros”, diz a participante Angélica Soares da Silva, de 21 anos. Realizado em parceria com a ONG Bem-Estar Familiar no Brasil (Bemfam), o projeto se encerra no segundo semestre de 2009. A última etapa é a permanência dos participantes em unidades de saúde, para que auxiliem no atendimento aos jovens que procuram a rede pública. A experiência já foi realizada em uma unidade, e os resultados foram animadores. “Os diretores e médicos dos postos nos recebem muito bem. Brincamos que viramos celebridades lá!”, diverte-se Angélica. André e seus amigos do Protagonismo Infanto-Juvenil também se orgulham de pôr a mão na massa. Após realizar um levantamento para identificar os principais problemas da Cidade Olímpica,

eles decidiram centrar esforços contra a desnutrição infantil. Passaram por uma capacitação e começaram a visitar famílias, ensinando a produzir o composto alimentar conhecido como multimistura. “Nós percebemos que há uma carência enorme de atendimento a essas famílias por parte do poder público. Então partimos para a prática”, diz André. Com o fim do projeto, em julho, os jovens protagonistas pretendem seguir com suas próprias pernas. “Estamos buscando orientação da Plan e do Gacc para fundar nossa própria ONG, para manter e ampliar a atuação. Criar uma nova visão da juventude toda, não só da Cidade Olímpica”, afirma André, sem limites para sonhar – nem para agir.

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que as sessões são abertas ao público, comparece para cobrar seus representantes. “A participação da população é muito boa. Tanto para eles, que se aproximam do poder público, quanto para nós, que assim ficamos sabendo, diretamente com a população, quais são suas necessidades”, diz o vereador José de Arimatéia Jerônimo.

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“Quando o projeto acabar, queremos fundar nossa própria ONG, para manter e ampliar nossa atuação” 2

Falando a mesma língua: Angélica auxilia jovens que vão ao posto de saúde com dúvidas sobre saúde sexual


conhecimento 1

Em seminário em São Luís (MA), Verônica contou a outros professores como desperta em seus alunos o prazer de ler

Educação em todas as idades A melhoria do ensino fundamental por meio da leitura e da informática e a importância de garantir o direito à educação a adultos não alfabetizados foram os temas de dois encontros realizados no último trimestre no Maranhão

E

m uma escola primária de Codó (MA), a aluna Waldelice Cruz estava ansiosa, com um cartaz nas mãos. Era a primeira vez que ela apresentava um texto em voz alta, na frente dos colegas. “Senti medo, vergonha, mas foi legal de­ mais”, conta. “Se tiver que fazer de novo, eu faço”. Waldelice tem 32 anos e é mãe de três filhos. Ela parou de estudar aos 16, quando casou, pois o marido a proibiu de ir à escola. Este ano, com o apoio dos fi­ lhos, da mãe e do companheiro – que ao ver o gosto da mulher pelo estudo, mu­ dou de ideia – ela voltou. Está cursando a 3ª e a 4ª séries do programa de jovens e adultos do colégio municipal São Luís. A apresentação oral de Waldelice fez parte de uma das atividades realizadas pela Plan durante a Semana de Ação Mundial de Educação para Todos, que

aconteceu de 23 a 29 de abril. A semana é uma iniciativa da Campanha Global pela Educação (GCE), com apoio da Unesco. Cerca de 250 alunos, de sete escolas de Codó, participaram das oficinas, que dis­ cutiram a importância da alfabetizacão de jovens e adultos. “Quando a gente lê, está vendo o mundo, a vida das pessoas. E eu acho isso muito bonito”, afirma Waldelice.

Troca de experiências Tão importante quanto assegurar a edu­ cação a quem não teve oportunidades na infância é garantir a qualidade do ensino das crianças. Esse foi o objetivo do II Se­ minário de Professores dos 1º e 2º Ciclos da Rede Municipal de Educação de São Luís, realizado pela Plan em parceria com a prefeitura da capital maranhense, em 6 de junho. Um dos temas discutidos foi

a violência escolar, contra a qual foi lan­ çada a campanha Aprender Sem Medo (leia mais na página 3). Mas o objetivo principal foi a troca de experiências so­ bre como a leitura e a informática podem aprimorar o ensino. Uma das iniciativas compartilhadas foi o projeto Corujinhas do Saber, da escola Roseno de Jesus Mendes. “Na hora do in­ tervalo, a gente distribui livros por vários espaços da escola, até no gramado ao lado da quadra de esportes, para mostrar que a leitura pode ser feita em todos lugares”, explica a professora Verônica Machado. A maioria dos participantes do semi­ nário é ligada ao projeto Letramento e Alfabetização, que acaba no fim deste ano. “O encontro é uma forma de perpe­ tuar os resultados do projeto”, diz a pro­ motora comunitária Bianka Marques.


Contra a violência sexual

Mais de 400 pessoas, na maioria crianças e adolescentes, alunos de escolas públicas, participaram de uma caminhada contra a violência sexual, no dia 18 de maio, em Codó (MA). Os manifestantes empunharam faixas e bandeiras e distribuíram panfletos a fim de chamar a atenção da sociedade para o problema. O ato foi organizado pelo Conselho Tutelar de Codó, com o apoio da Plan e de outras instituições, e marcou o encerramento da Semana de Enfrentamento à Violência. 2

Atletas unidos pelas crianças

Iker Casillas, goleiro do Real Madrid e capitão da seleção espanhola de futebol, lançou campanha mundial, junto à Plan, para reduzir a pobreza infantil. Ele pretende mobilizar 100 mil “goleiros solidários”. O dinheiro arrecadado será destinado ao combate à violência escolar, que afeta mais de 350 milhões de crianças em todo o mundo por ano. Ao melhorar a educação, criam-se condições para a transformação social. A campanha já conta com o apoio de outros craques espanhóis, como o ex-jogador do Real Madrid Emilio Butragueño e o tenista vencedor de cinco Grand Slams Emilio Sánchez Vicario.

De olho no lixo

Diagnosticar e propor soluções aos problemas ambientais e sociais ligados ao lixo: este foi o objetivo do I Seminário de Gestão do Lixo para a Inclusão Social de Codó e Timbiras (MA), realizado em 19 e 20 de junho. Estiveram presentes catadores, secretários municipais e pesquisadores da Fundação Agente, que propuseram saídas para as deficiências sanitárias das cidades. Também foram abordadas iniciativas para melhorar as condições de trabalho dos catadores. Realizado em parceria com as prefeituras, o evento faz parte do projeto Gestão e Beneficiamento do Lixo.

© 1 Christian Knepper 2 Selma Rosa 3 Divulgação

Ganhadores do Oscar fazem doação Os produtores do filme Quem Quer Ser um Milionário?, grande vencedor do Oscar 2009, doaram cerca de US$ 750 mil para a Plan. O dinheiro será usado em programas para melhorar a vida de crianças que moram nas comunidades mais pobres de Mumbai, na Índia, onde se passa a história do filme. Danny Boyle, o diretor, disse que as crianças mais pobres de Mumbai deveriam se beneficiar do sucesso do filme, assistido por multidões e premiado em todo o mundo. 3

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NOTAS

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