Revista GOL

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GOL Edi巽達o 0 - Dezembro 2013

O mais odiado Por que alguns grandes atletas s達o amados e respeitados, enquanto outros s達o Cristiano Ronaldo?

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Nesta edição

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04 Frases do mês 06 Preconceito 07 Nostalgia 08 Cristiano Ronaldo 12 Futebol e Literatura 14 Copa do Brasil 15 Futebol e Música ©1

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18 Adeus à Nilton Santos

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©1 - Getty Images | ©2 - Bruno Veiga (Placar) © FOTO CAPA: Jonathan Nackstrand - AFP

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Editorial

Bom Senso FC: a greve é o antídoto contra a CBF Por Fabio Chiorino Não há mais espaço para cautela. O movimento Bom Senso F.C. já conta com mais de mil jogadores e apoio entre os torcedores. Os protestos simbólicos nas últimas rodadas já não terão mais impacto se não for dado o passo seguinte: a greve. A gota d´água foi o bate-boca que Paulo André, líder do Bom Senso, travou com Eurico Miranda, ex-presidente do Vasco, durante evento da Federação Nacional de Atletas Profissionais de Futebol. Eurico chamou o movimento de elitista e ignorou que a agenda de reinvindicações inclui justamente o aumento de jogos para times pequenos e teto salarial para os grandes clubes. A CBF dá sinais claros de que deseja “cozinhar” o debate. O presidente José Maria Marin reiterou que a negociação depende também da Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão dos principais campeonatos. O vice Marco Polo Del Nero transferiu a responsabilidade para os próprios atletas, aconselhando-os que pleiteiem com os clubes um revezamento no elenco para diminuir o desgaste. O próximo passo deve ser calculado. Uma interrupção na última rodada pode ser o subterfúgio que os clubes em risco podem articular com a CBF para uma “virada de mesa”. Ainda mais que dois clubes do Rio de Janeiro estão muito próximos da segunda divisão. Para evitar esse retrocesso, após o apito final da 38ª rodada do Brasileirão, o movimento deveria anunciar que os jogadores não disputarão os estaduais enquanto as pautas não forem discutidas, já com um cronograma futuro acertado entre as partes. O próprio movimento já assume publicamente que as mudanças seriam efetivadas para 2015, após a ressaca da Copa do Mundo. Adia-se a greve, mas não a decisão. O Bom Senso precisa endurecer o discurso, para não se tornar uma confraria. Não seria o primeiro país a adotar a paralisação, mas seria a primeira vez que o futebol brasileiro não aceitaria as exigências comerciais pré-estabelecidas em detrimento dos ideais do profissionalismo no esporte. Braços cruzados, chuteiras penduradas. É assim que se negocia com dirigentes que se recusam a abandonar o coronelismo.

GOL Expediente Diretor de Redação Tomás Barreiros

Editores Antônio Mazetti Jane Machado Juvenal Junior Luana Kammer

Colaboraram nesta edição Fabio Chiorino Tim Lewis Jorge Murtinho Luiz Veter Luciano Potter Mauro César Pereira Lucas Amorim

GOL é uma publicação fictícia produzida para a disciplina de Diagramação do curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo do Bom Jesus/Ielusc, de Joinville/SC. © Folhapress

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Frases do mês

“Ele é uma máquina. Seria uma injustiça se Cristiano Ronaldo não ganhasse [a Bola de Ouro]”. Miguel Veloso, meiocampo do Dynamo Kiev e de Portugal.

"Um Mundial sem mim não merece ser visto" Zlatan Ibrahimovic, jogador sueco, após a partida que eliminou a sua seleção da disputa da Copa do Mundo.

“Quero continuar jogando porque eu sou bom e me divirto com isso. Não sei se farei isso na Juventus ou em outro clube” Andrea Pirlo, ao ser questionado sobre o fim de seu contrato com a Juventus que encerra no fim desta temporada, em junho.

© Dean Mouhtaropoulos - Getty

©2 Fabio Ferrari

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Preconceito

O zagueiro que chorou por causa do racismo Por Luciano Potter

© Jaime Roldán

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Maradona conta na sua autobiografia que quando o Nápoli, do Sul pobre italiano, ia jogar no norte rico, faixas apareciam no aeroporto: “bem-vindos à Itália”. Era mais um combustível para que o clube da Campania ganhasse dos de Turim, de Milão, de Roma e do resto do norte. Mas a faixa era racismo. Me criei com o Nêgo Mauro. Mauro é negro, era colega de escola e dono da camisa 1 do time. Goleiro razoável e hoje treinador da várzea no Alegrete colecionando taças. Um Guardiola dos pampas o Nêgo Mauro. Mas atentem vocês que há um prefixo no nome: “Nêgo”. No Alegrete, pelo menos na minha geração, era assim. O Nêgo Nélson – que certa vez ficou com a Marta manca, mas essa conto outra hora -, o Nêgo Mateus, o Nêgo Tiago, o Nêgo Fábio. Era um processo natural na nossa infância e adolescência esse prefixo. Racismo? Nem lembrávamos da cor da pele. Era um apelido como Gabriel Cabeçudo, Luciano Baiano, Janaína Cambota, etc. Cresci com negros ao meu lado, toda a população brasileira tem uma grande possibilidade de ser parda, negra ou ter muitos negros e pardos em volta. Portanto é um processo normal não ficar atento à cor da pele. Mas você sabe que não é assim que funciona. Cabeçudo e Cambota lembravam da cabeça grande e das pernas tortas. Baiano do nordeste e Nêgo da cor da pele. Os brancos Cassio e Maurício não recebiam prefixos. Racismo oculto, incrustado? Entre a gente, não. Crescemos em paz, nos criamos rindo, brincando e jogando bola sem dar bola aos defeitos físicos. Sem nos importarmos com a cor da pele. Mas lembro de situações que os “Nêgos” da turma sofriam quando entravam em alguma loja e os atendentes ficavam de olhos atentos neles e não em mim, no Cassio e no Maurício, os branquelos. E não eram olhos que queriam atender os meninos com afinco e simpatia. Domingo, o Bétis perdeu o clássico para o Sevilla na Espanha por 4 a 0. Paulão, brasileiro do Betis, foi expulso aos 41 minutos da primeira etapa. Ao sair do campo ouviu e viu insultos racistas. Não aguentou e chorou. Deve ter sido um amontoado de más emoções para o jogador: a expulsão e os xingamentos contra a cor da pele. Paulão sentou na escada e lágrimas caíram. Maradona, Nêgo Mauro e Paulão tem histórias para contar sobre preconceito social e racial. E gerações ainda terão. Por isso sou a favor de cotas. Até esquecermos cor e uma verdadeira igualdade social brotar e emparelhar todos. Aos racistas de Sevilla? Leis apontam o que fazer.

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Rapelei! Hoje peço licença para falar de algo um pouco diferente. Não necessariamente um esporte, mas algo que remete à ele. Mais precisamente ao futebol. Conversando aqui com os meus botões, me ative à minha infância, às brincadeiras, às molecagens de criança e me recordei de algo que talvez seja o que mais curti, o que mais gostava: colecionar álbuns de figurinha. De futebol, naturalmente. As pessoas se apaixonam pelo futebol por várias razões: por herança familiar (meu caso), por ser bom de bola (meu caso também), devido à condição econômica ( na falta de recursos financeiros, uma bola e duas pedras na rua já resolvem), devido a morarem próximos à clubes ou estádios...Enfim, incontáveis são os motivos. No meu caso particular, os álbuns de figurinhas de futebol têm enorme parcela de culpa. Felizmente! Mais do que torcer pelo time e colecionar as “quadradas”, chamavame a atenção os detalhes de cada álbum. Fazia questão de saber onde nasceu o Taffarel, qual o número da camisa do Falcão, por qual outro clube jogou Sócrates, qual era o número da figurinha do Zico. Meu primeiro álbum foi o da Copa União de 87, pelo menos que eu me lembre. O mais bacana eram as figurinhas especiais, aquelas que traziam os distintivos dos clubes, os técnicos, os mascotes. Em todos os álbuns existiam figurinhas fáceis, difíceis e aquela “carimbada”, ou seja, aquela raridade que sempre faltava para o complemento do livro ilustrado e sem a qual você perdia o direito ao prêmio da Editora, fosse uma bola de futebol ou um pôster autografado. Raridades que levavam a um verdadeiro comércio nos recreios e nas saídas da escola. Certa feita, um “Paolo Rossi” me custou 10 figurinhas na troca, mas valeu a pena. Quem nunca jogou bafo? Aquele que virasse qualquer quantidade levava o “bolo”. Inúmeras vezes rapelei e fui rapelado, ganhava tudo e perdia tudo também. Era o nosso vídeo-game! Atualmente as crianças também colecionam álbuns de figurinhas. Na Internet! Verdadeiros nerds cibernéticos estão sendo formados neste sentido. Basta se cadastrar. O papel auto colante e o livro de capa dura e ilustrado deram lugar as figurinhas e álbuns virtuais. Não se troca mais figurinhas com os amigos na escola ou na rua. Sem nostalgia (ou com mesmo) é um tempo que não volta mais. Quantos de nós não sonhávamos em aparecer naqueles álbuns, em atuar por aqueles times, em ter nossos dados ali, estampados e idolatrados?

Nostalgia

Por Luiz Vetere

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© Imagens: Reprodução

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8 | Novembro Dezembro de 2013 | Revista GOL © Divulgação / Nike


Cristiano Ronaldo

Craque odiado Por Tim Lewis

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lgumas semanas atrás, perguntaram a Sepp Blatter na sociedade de debates Oxford Union em Londres quem ele considera o melhor jogador: Ronaldo, o atacante de 28 anos do Real Madrid e da seleção portuguesa, ou Lionel Messi, seu grande rival no Barcelona e na Argentina? Bem, poderíamos ter esperado que o presidente da Fifa, o órgão internacional que administra o futebol, percebesse a armadilha e se posicionasse em cima do muro. Mas não. “Lionel Messi é um bom menino, o filho que toda mãe e todo pai gostariam de ter”, disse. “Ele é um homem bom... gentil... é isso que o torna tão popular.” Blatter não parou aí. Decidiu que era o momento de revelar a imitação de um Ronaldo pretensioso que ele vinha ensaiando a portas fechadas, e declarou: “Um gasta mais com o cabeleireiro que o outro”. E concluiu: “Gosto dos dois, mas prefiro Messi”. Foi uma apresentação extraordinária, quase tão ultrajante e chocante quanto a que o próprio Ronaldo fez nas últimas semanas. Mas Ronaldo não precisou de palavras: nos 38 minutos do segundo tempo, marcou o terceiro gol de Portugal contra a Suécia e garantiu um lugar para seu país na próxima Copa do Mundo. Enquanto a torcida sueca gritava “Messi, Messi” – uma tentativa de irritar Ronaldo que costuma funcionar; certa vez ele ergueu o dedo médio em resposta –, o jogador ofereceu um dos grandes espetáculos individuais do futebol. Na verdade, Ronaldo se manifestou. Depois de marcar o segundo gol, ele parou, apontou

teatralmente para o chão e gritou: “Eu estou aqui!” Apesar de basicamente não ter sentido, a declaração pareceu bastante reveladora: lá estava alguém totalmente seguro de sua própria grandeza; um homem demonstrando seu desdém por um esporte supostamente de equipe. É essa arrogância descarada que Blatter e outros acham tão decepcionante em Ronaldo. É uma questão recorrente em qualquer discussão sobre o jogador. Quando o nome de Messi surge, falamos sobre seus dons sublimes em campo, como a bola parece magnetizada por sua chuteira esquerda, como o pequeno garoto com uma deficiência de crescimento passou a dominar o futebol mundial. Com Ronaldo é diferente. Somos distraídos pelo uso excessivo de produtos no cabelo e por sua predileção por posar de cuecas. Desdenhamos de sua natureza teatral, seja cavando um pênalti ou derramando lágrimas de crocodilo. Seu físico cinzelado cheira a privilégio de rico, assim como o fato de ele namorar a modelo de maiôs russa Irina Shayk. Manchetes dúbias giram ao seu redor: ele foi preso e liberado sob suspeita de estupro em um hotel em Londres em 2005. Em 2010, anunciou o nascimento de seu filho, Cristiano, em sua página do Facebook; a identidade da mãe continua um mistério, mas reportagens sugerem que ele pagou a uma mãe de aluguel mexicana 10 milhões de libras pela “guarda exclusiva” da criança. Certa vez perguntaram a Ronaldo por que as multidões o vaiam. Ele revidou: “Porque sou

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Cristiano Ronaldo rico, bonito e um ótimo jogador”. Sim, essa última parte: ele é um ótimo jogador, no entanto, bizarramente – por causa das outras coisas, como às vezes usar sungas de banho –, consegue ser subvalorizado. Seu brilhantismo ficou evidente na noite de terça-feira 19 em Estocolmo. Quando gritou “Eu estou aqui!”, tinha razão, não tinha? Havia marcado todos os gols de Portugal na vitória por 3 a 2; e também fez o único gol no primeiro tempo da partida. Mesmo que você acredite que seus motivos para querer que seu país jogue na Copa do Mundo fossem totalmente egoísticos – um argumento radical –, você também poderia ver seu desempenho como uma inspiradora demonstração de patriotismo. Essa foi exatamente a reação em Portugal. Os comentaristas de TV gritavam “Obrigado, Cristiano”, enquanto o jornal esportivo diário O Jogo previa: “Se fosse preciso, ele pilotaria o avião [para o Brasil]”. Depois de marcar o terceiro gol, Ronaldo foi soterrado por um monte de companheiros de time e reservas em jaquetas acolchoadas, em uma demonstração de exuberância ingênua que se poderia esperar de garotos de 8 anos, mais que de jogadores profissionais. Não está na hora de deixarmos de lado nossos preconceitos e admitir que Cristiano Ronaldo não apenas é realmente ótimo, como talvez seja o melhor jogador do mundo hoje? Todo mês de janeiro, a Bola de Ouro da Fifa é concedida ao principal jogador dos 12 meses anteriores. O prêmio é votado por jogadores, treinadores e jornalistas, e se isso faz parecer que tem elementos de um concurso de popularidade os

resultados recentes são claros: desde 2009 Messi ganhou todos os anos, com Ronaldo na disputa por três vezes. Apesar de todas as suas supostas diferenças, as origens dos dois jogadores são semelhantes. Ronaldo cresceu pobre, dividindo um quarto com seu irmão e duas irmãs na ilha da Madeira. Seu pai era um jardineiro e sua mãe, cozinheira, e ele deixou a escola aos 14 anos, expulso depois de atirar uma cadeira contra o professor. Ele diz que nunca teve brinquedos ou presentes de Natal, e a primeira vez em que viajou de avião foi em 2003, aos 18 anos, quando foi contratado pelo Manchester United. Quando Ronaldo ganhava espaço em seu primeiro time, em 2005, seu pai morreu de uma doença do fígado causada pela bebida. Embora Messi possa parecer o mais humilde dos dois – ele só jogou para o Barcelona e diz que sempre o fará –, fora de campo há pouco que os separe. A revista Forbes classificou Ronaldo em nono e Messi em décimo lugar em sua lista de atletas mais bem pagos em 2013: Ronaldo recebeu 23 milhões de dólares do Real Madrid e 21 milhões em merchandising da Nike, Castrol e Konami; enquanto isso, Messi ganhou a mesma quantia de seus patrocinadores (Adidas, PepsiCo e Electronic Arts entre eles), mas teve um salário do Barcelona de 20 milhões de dólares. Enquanto Ronaldo posou para Armani, pode ser uma surpresa saber que Messi tem um relacionamento com a grife de moda Dolce & Gabbana e não é difícil encontrar fotos dele todo azeitado, usando cuecas justas

© Getty Images

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Cristiano Ronaldo United e a Bola de Ouro em 2008 – e certamente será popular: Ronaldo tem 65 milhões de fãs no Facebook, mais que qualquer outro atleta do 31 JOGOS 2002-2003 mundo; Messi tem 50 milhões. Um 5 GOLS bônus é que todo mundo hoje pode fazer piadas sobre o egomaníaco 39 JOGOS 2003-2004 que abre um museu dedicado a si 6 GOLS mesmo. Depois da semana passada, 50 JOGOS 2004-2005 Ronaldo talvez esteja mentalmente 9 GOLS deixando espaço no museu para a estátua da Bola de Ouro 2013. 47 JOGOS 2005-2006 A votação termina na sexta-feira 12 GOLS 29, embora haja uma sugestão de que ele vai boicotar a cerimônia, 53 JOGOS em troco pelas gozações de 2006-2007 23 GOLS Blatter. Ronaldo certamente é um forte candidato: até agora nesta 48 JOGOS temporada marcou 32 gols em 20 2007-2008 42 GOLS partidas, incluindo três gols em cinco delas. Neste ano-calendário, 53 JOGOS seu total é de 66 gols em 50 jogos. É 2008-2009 26 GOLS um desempenho que certa vez levou o ex-atacante do Chelsea Didier 35 JOGOS Drogba a descrever Ronaldo e Messi 2009-2010 33 GOLS como “monstros”, por demolirem completamente os recordes 54 JOGOS modernos de gols. 2010-2011 53 GOLS Perguntaram a Ronaldo na terçafeira 19 à noite se estava jogando 55 JOGOS melhor que nunca. “Talvez, em 2011-2012 60 GOLS relação à quantidade de gols que estou marcando, este seja o melhor 55 JOGOS momento da minha vida”, admitiu. 2012-2013 55 GOLS “Talvez esta seja minha melhor temporada, mas acredito que isso 23 JOGOS acontece todo ano. Não quero mais 2013-2014 30 GOLS falar sobre a Bola de Ouro.” Ronaldo talvez ainda não seja amado, mas hoje é impossível não D&G – se você gostar desse tipo de coisa. respeitar seu talento. Enquanto isso, Messi está afastado por Na verdade, quanto mais se mergulha na vida de alguns meses depois de sofrer uma lesão na panturrilha e teve Ronaldo, mais se percebe como sabemos pouco sobre ele. de enfrentar a mancha em sua reputação de ser acusado nos Quando Cristiano Jr. nasceu, uma postagem no Facebook tribunais espanhóis por uma fraude fiscal de 3,4 milhões de disse: “Não serão dadas mais informações sobre este libras – ele foi totalmente inocentado no mês passado. assunto” – e ele não cedeu, deixando escapar raros Mesmo que as discussões sempre sejam acirradas sobre vislumbres de seu relacionamento. Depois do primeiro seus respectivos méritos, todos podem concordar que a Copa tempo do jogo de Portugal contra a Suécia, Ronaldo foi do Mundo 2014 será mais interessante, agora que Ronaldo interrompido na área de mídia por seu filho de 3 anos, que confirmou sua participação. perguntou: “Papai, posso dormir com você esta noite?” Ele Nascido em 5 de fevereiro de 1985 em uma casa de dois riu, e foi um momento realmente encantador. quartos na ilha da Madeira. A casa foi considerada feia e É possível que saibamos mais sobre Ronaldo quando demolida há cinco anos. Ronaldo hoje vive em uma mansão de ele inaugurar um museu dedicado a sua pessoa em 5 milhões de libras (18,5 milhões de reais) em Madri, com sua Funchal (Madeira) no ano que vem. Ele vai abrigar suas marca registrada “CR7” a enfeitar as janelas, a mesa de jantar medalhas – ganhou quatro campeonatos na Inglaterra e e os pratos. na Espanha, uma Liga dos Campeões para o Manchester

NÚMERO DE GOLS POR TEMPORADA

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Questões Questões do do futebol futebol

Futebol e literatura

Por Jorge Murtinho

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© Reprodução


Questões do futebol O conceito clássico de drible é mais ou menos esse: parar com a bola à frente do marcador, olhar dividido entre o rosto do adversário, para intuir suas reações, e o gramado, para observar-lhe o movimento dos pés. E aí, na hora precisa, frações de segundos antes do bote, dar o toque, arrancar, surpreender. O futebol dos dias de hoje, feito de velocidade e marcação, com drástica redução de tempos e espaços, transforma o drible aí de cima em algo cada vez mais raro. Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar são muito mais jogadores de soluções inesperadas, e de ótimo controle de bola em velocidade, do que de drible. O mais driblador dos três, no conceito clássico, é Neymar, certamente por causa do nosso jeito de jogar. (Não me lembro de nenhum exímio driblador no futebol alemão. Não está no sangue.) A diminuição dos tempos e espaços significa que os românticos dribladores da antiga não fariam hoje o que fizeram no passado? Calma. Se o Paulinho do Flamengo foi capaz de destroçar a defesa do Botafogo, na vitória por quatro a zero, imaginem o que não fariam Garrincha e Canhoteiro. Futebol tem certas curiosidades. Depois da conquista do tricampeonato mundial, o pessoal do Canal 100 pediu ao capitão Carlos Alberto que fizesse três ou quatro minutos de embaixadinhas – eles queriam usar a imagem, sem corte, em um dos instantes iniciais do documentário Brasil bom de bola, dirigido por Carlos Niemeyer. Autor do gol mais bonito da história e talvez o maior lateraldireito de todos os tempos, Carlos Alberto declinou, com a alegação de que era jogador de futebol e não foca amestrada. A cena foi filmada com Marquinhos, mediano armador que passou pelo Fluminense no final dos anos sessenta e começo da década seguinte. Mais recentemente, Pelé afirmou que jamais conseguiu fazer com a bola os malabarismos que Ronaldinho Gaúcho faz. São coisas distintas. Mas voltemos ao drible. Além de

Garrincha e Canhoteiro, o futebol brasileiro sempre teve renomados especialistas no assunto. Julinho, Joel, Dorval, Edu, Rogério, Joãozinho, Eduardo (que inventou o drible da vaca, nome que costuma ser erroneamente atribuído à meia-lua), Júlio César, Denílson. E a partir de agora, a essa lista temos a obrigação de acrescentar o nome de Sérgio Rodrigues, autor de O drible, lançado pela Companhia das Letras. Muito já se falou sobre a ausência do futebol como tema ou pano de fundo de romances brasileiros, mas

Se o Paulinho do Flamengo foi capaz de destroçar a defesa do Botafogo, na vitória por quatro a zero, imaginem o que não fariam Garrincha e Canhoteiro.

há uma geração de escritores virando esse jogo. Michel Laub, gremista que acaba de conquistar a Copa de Literatura Brasileira com seu Diário da queda, usou o futebol em O segundo tempo. André Sant’Anna, torcedor do Fluminense, fez o mesmo em O paraíso é bem bacana – grande livro. E agora Sérgio Rodrigues, que eu não sei para qual time torce, publica O drible, romance que tem o futebol como cenário e pelo qual passam bambambãs da imprensa (Mário Filho, Nelson Rodrigues, João Saldanha) e dos gramados, desde Friedenreich até Neymar. Há momentos sublimes, como quando o autor define o estilo de certos craques e fala no “quase dandismo nabokoviano de Didi, Falcão e Zidane”. Na mosca. O livro também bebe – na verdade,

toma porres homéricos – na cultura pop: de forma clara, nos momentos em que cita Michael Jackson, Rick Wakeman, Velvet Underground etc., ou quando o personagem Neto vara noites ouvindo Pink Floyd (Atom heart mother, o disco da vaca, que não tem nada a ver com o drible inventado pelo cruzeirense Eduardo); e de um jeito menos explícito, no nome do duo caipira-hardcore Kopo Deleche & Kopo Derrum, aparentemente tirado de uma das falas do filme Amores brutos, de Alejandro González Iñárritu, ou na situação entre Neto, seu pai Murilo Filho e a bela Lúdi, semelhante ao trágico triângulo de Perdas e danos, de Louis Malle. O drible é cheio de achados, e o maior deles é a teoria de Murilo Filho de que o futebol brasileiro deve muito de sua evolução ao abismo existente entre a realidade do que acontecia em campo e as narrações de futebol pelo rádio. A tese é um primor e se apoia no “esforço sobre-humano que os jogadores tiveram que fazer para ficar à altura das mentiras que os radialistas contavam”. Genial. É bastante possível que a literatura brasileira ainda abrigue menos futebol do que seria razoável, pela paixão que o jogo provoca em nós. Mas não dá mais para dizer que estamos no zero a zero. O segundo tempo de Michel Laub, O paraíso é bem bacana de André Sant’Anna e, agora, O drible de Sérgio Rodrigues são belos exemplos de que futebol e literatura não merecem mais ser tratados como água e azeite.

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Jorge Murtinho nasceu no Rio de Janeiro em 1956. Formado em Comunicação pela PUC-RJ, sempre trabalhou em agências de propaganda e hoje é redator da Y&R de São Caetano do Sul. Criado numa família lotada de torcedores do Fluminense, passou a infância e a adolescência morando ao lado do estádio do Botafogo, mas torce pelo Flamengo. Só o futebol explica.

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Copa do Brasil

Flamengo, um campeão improvável, de heróis Por Mauro Cesar Pereira

Hernane, o Brocador, era apenas o reserva de Vágner Love, que se foi porque era caro. Fez gols no começo do ano, mas não despertava segurança, talvez pela sua dificuldade para tratar bem a bola. Então o Flamengo foi buscar Marcelo Moreno. Nem é possível criticar o boliviano, afinal, ele mal tem chance de jogar. O Brocador não deixa. A dificuldade no trato da pelota ele compensou com colocação e frieza para empurrá-la até as redes adversárias. O artilheiro do ano, da Copa do Brasil, do hat-trick contra o Botafogo, do gol que sacramentou a conquista da Copa do Brasil nos 2 a 0 sobre o Atlético Paranaense. O goleador de um toque só, o homem que mais gols marcou na temporada. Amaral não jogava quando Mano Menezes era o técnico. Volante de poucos recursos, mas eficiente, é uma nova versão de Williams, hoje no Internacional, e campeão brasileiro com o Flamengo em 2009. Quando Jayme de Almeida assumiu o comando do time, ele foi efetivado entre os 11, deu segurança ao meio-campo, protegeu a defesa, liberou gente como Elias para atacar mais e fez o gol do empate no 1 a 1 com o Furacão em Curitiba. Paulinho se destacou no XV de Piracicaba, desembarcou na Gávea num lote oriundo do interior paulista com Val, Diego Silva e Bruninho. Entrava e saia do time, até que Jayme, no comando, o colocou como titular de verdade. Brilhou, infernizou marcadores, ajudou a marcar, fez golaço, deu passes decisivos. Ele sozinho valeu pelo grupo inteiro de jogadores de São Paulo, uma relação custo-benefício altíssima.

Quem imaginaria tamanho retorno? Jayme de Almeida, citado anteriormente neste post, é técnico faz tempo. Voltou ao Flamengo, onde surgiu zagueiro nos anos 1970, quando Vanderlei Luxemburgo retornou ao clube. Era auxiliar do ex-colega de defesa no time rubro-negro daquela década. Calmo, ponderado e conhecedor de futebol, melhorou o time que herdou de Mano, o técnico caro que foi embora sabe-se lá porque e a essa altura deve estar se sentindo no mínimo um tolo. O sucesso de Jayme derruba em parte os mitos de que treinador tem que ser um louco a berrar à beira do gramado. Fica evidente que não é preciso palavriado complexo, empolado, repleto de clichês e frases de pretenso efeito. A simplicidade unida à capacidade tem vez no futebol para quem se aventura na função de técnico. Jayme é a prova viva disso. O Flamengo com poucos recursos e pagando parte de suas muitas dívidas, com jogadores que despertavam mais desconfiança do que qualquer outro sentimento, com um técnico que jamais foi grife. O Flamengo improvável, que parecia apenas cumprir tabela em 2013, fecha o ano campeão, classificado para a Libertadores, em lua-de-mel com a torcida... O Flamengo improvável, mas campeão depois de bater quatro dos cinco times mais bem colocados do campeonato brasileiro. O Flamengo campeão. E que campeão!

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© Folhapress

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Futebol e Música

Tabelinha de sucesso desde 1912 Por Lucas Amorim

De Jorge Ben a Pelé, centenas de craques da música e da bola mostram que o esporte combina com todos os ritmos porque é a cara do Brasil O casamento de Garrincha com Elza Soares não foi o único evento a unir futebol e música no Brasil. Desde 1912, quando Bonfiglio de Oliveira fez um choro batizado de Flamengo, a união faz sucesso em todo país. Depois dele, Pixinguinha, Wilson Batista e Noel Rosa também fizeram músicas inspiradas sobre o esporte. O namoro virou casamento quando Lamartine Babo foi desafiado a compor hinos para os grandes clubes da cidade, em 1929. Em uma só tacada, lançou as músicas que até hoje são cantadas pelas torcidas nas arquibancadas. Não são simples gritos de guerra, são canções lindas, melodiosas, diz o cantor Wilson Simoninha, palmeirense, apaixonado por futebol e autor da música Aquele Gol. Em uma reportagem publicada em 1978, a revista Placar levantou que existiam, à época, 150 títulos ligados ao futebol. De lá para cá, vieram outras centenas. Sucessos de cantores e grupos de todos os estilos, como Chico Buarque, Elis Regina, Jorge Ben, Jackson do Pandeiro, João Bosco, Skank, O Rappa. O futebol combina com todos os ritmos porque é a cara do Brasil,

explica Simoninha. O Brasil é um país muito variado, com grandes diferenças culturais, e tanto o futebol quanto a música refletem isso. A tabelinha fez sucesso até com quem não é cantor profissional. Silvio Santos lançou Coração corintiano. Pelé tocou com Roberto Carlos e Elis Regina. O excentroavante do Santos e da seleção brasileira Serginho Chulapa também se arriscou no microfone. Seu companheiro na Copa de 1982, o lateral Júnior, exFlamengo, chegou a lançar dois discos. Às vésperas do mundial da Espanha, ele gravou Voa Canarinho, música que virou fenômeno de futebol-arte. Depois, em 1995, gravou um CD só com músicas em homenagem a seu querido Flamengo. Desde criança, o craque participava de rodas de samba e aprendeu cedo a tocar pandeiro com um tio, em Copacabana. Mas nunca teve a pretensão de se tornar profissional. Todo jogador gostaria de ser um pouco cantor, e todo cantor gostaria de ser um pouco jogador de futebol, afirma. Simoninha concorda. Não sei o que é mais legal: a emoção de marcar um gol na pelada ou a de subir num palco com milhares de pessoas me aplaudindo, compara.

Veja uma linha do tempo com as músicas mais marcantes dessa parceria:

1912 - Flamengo - Bonfiglio de Oliveira

Uma das primeiras músicas inspiradas em futebol no Brasil. Há divergência sobre sua criação, se em 1911 ou 1912. O certo é que o chorinho é uma homenagem do trompetista Bonfiglio de Oliveira à entrada do Clube de Regatas Flamengo no campeonato de futebol do Rio de Janeiro.

1919 - 1 X 0 - Pixinguinha, Benedito Lacerda e Nelson Ângelo

Pixinguinha teve a idéia de compor a música em homenagem a um gol marcado pelo grande craque brasileiro do início do século, Arthur Friedenreich, na decisão contra o Uruguai no Campeonato Sul-Americano de 1919. Após marcar de voleio o gol da vitória, o craque foi carregado pelos braços do estádio das Laranjeiras até o centro do Rio de Janeiro. Durante anos, Pixinguinha apenas tocou o choro, que passou a ser cantado somente muito tempo depois.

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Futebol e Música

1956 - Na cadência do samba/Que bonito é - Luis Bandeira

Apesar de não ter sido composta para homenagear o futebol, a música que exalta a mulata e a gafieira virou sinônimo do esporte. A relação começou quando, nos anos 1950, foi escolhida como trilha sonora do cine-jornal Canal 100, que exibia semanalmente no cinema documentários sobre os grandes craques da época. O Canal 100 funcionou até 2000, mas a música de Luis Bandeira até hoje tem tudo a ver com futebol.

1954 - Um a um - Jackson do Pandeiro Para Alceu Valença, Jackson do Pandeiro é o Garrincha da música. Na década de 1950, o paraibano radicado no Rio de Janeiro encantou o país com a irreverência de suas composições. Ficou célebre com Um a um, em que exalta o futebol ofensivo da época em que a seleção não entrava © Reprodução em campo com três volantes: um empate pra mim já é derrota. A música foi mais tarde regravada pelos Paralamas do Sucesso, que deram um toque moderno à letra. O centerforward virou centroavante, e Romário e Bebeto entraram no jogo.

1969 - Aqui é o país do futebol - Elis Regina

© Reprodução

Milton Nascimento e Fernando Brant compuseram a música para o filme Tostão, a Fera de Ouro, lançado em 1970. Dirigido por Paulo Leander e Ricardo Gomes Leite, o documentário narra a vida do craque e sua consagração na Copa de 1970. A música entra no ufanismo do título e entoa que o Brasil fica vazio nas tardes de domingo porque é dia de futebol.

16 | Dezembro de 2013 | Revista GOL


Futebol e Música

1972 - Fio Maravilha - Jorge Ben A mais conhecida de todas as canções em homenagem a jogadores foi inspirada em um atacante que nunca foi craque. Longe disso. João Batista de Sales, o famoso Fio Maravilha, defendeu o Flamengo e era desengonçado e folclórico. Uma espécie de Obina dos anos 1970. Na época, a música era cantada por milhares de flamenguistas no Maracanã. O curioso é que Jorge Ben teve que mudar sua letra para Filho Maravilha e só foi autorizado pelo jogador a retomar o refrão original em 2007.

© Reprodução

1976 - Gol anulado - João Bosco e Aldir Blanc

João Bosco e Aldir Blanc exploram outro grande filão das músicas sobre futebol: misturam o drama do esporte à paixão pelas mulheres. Eu aprendi que a alegria de quem está apaixonado é como a falsa euforia de um gol anulado, diz a letra da canção, lançada no LP Galos de briga. Junto com a música O ronco da cuíca, Gol anulado ajudou a dupla a ganhar, em 1976, o troféu de Compositores do Ano.

1982 - Povo feliz/Voa canarinho - Memeco e Nono

A música virou símbolo da Copa de 1982 após o lateral Júnior, ex-Flamengo, gravá-la num LP às vésperas do Mundial. O disco, com a cabeleira de Júnior estampada na capa, vendeu mais de 600 mil cópias em 1982. Até hoje, Júnior dá suas palhinhas e a canção composta por Memeco e Nonô é identificada com uma das melhores seleções brasileiras de todos os tempos.

1996 - É uma partida de futebol - Skank Até hoje a música dos mineiros do Skank é trilha sonora de clipes de futebol de todo o Brasil. Na história das canções sobre o esporte, é uma das composições mais detalhistas. Cada detalhe do jogo é contemplado. A bola na trave que não altera o placar, a chuteira que veste o pé descalço, o torcedor que chora pelo seu time. Afinal, quem não sonhou em ser um jogador de futebol? 1

© Divulgação

Revista Gol | Dezembro de 2013 | 17


Adeus Nilton Santos

Um dia de fúria

© Bruno Veiga

N

o mês em que Nilton Santos, bi-campeão mundial pela Seleção, deixa o mundo dos vivos e o futebol carente de mais um ídolo, relembramos um bate-bola histórico realizado com o ex-craque, em 2005. Naquele dia, a ‘Enciclopédia’ não estava lá de muito bom-humor... O senhor está completando 80 anos... (Interrompendo) Já passei um monte de aniversário e ninguém me ligou. Mas agora é 80 anos, né? Não quero homenagem alguma! O Botafogo inventou isso, mas eu não estou interessado! Não sou herói. Quem vai para a guerra é que é, não eu. Eu quero ser esquecido!

O senhor tem alguma mágoa do futebol? Não tenho mágoa. O futebol me salvou. Eu era filho de pescador. Mas foi uma fase. Não quero viver isso para o resto da vida. Já foi! Comprei uma casa em Araruama, onde eu atravesso a rua e estou na praia. Era isso o que eu queria para mim, mas quase não tenho tempo de ficar lá. Aí, a prefeita me chamou para fazer uma campanha: “Remédios a 1 real”. E eu fui. Eu e mais três ex-jogadores. Só que o pessoal falta. E eu não posso faltar. Nílton Santos não pode faltar! Eu não dou entrevista, mas não sou mal-humorado. Só que, se eu não desabafar com você, meu bem, eu enfarto... sério. Ficam me ligando e perguntando das Copas de 1950, 54... Vai pesquisar!!! Querem ganhar dinheiro em cima de mim? Não falo mesmo. E aí depois ficam me chamando de mascarado. Safados, sem-vergonhas! Querem ganhar dinheiro comigo? Aí, eles devem falar que eu sou esclerosado... Eu vivi em um meio danado, sei muito bem como são as pessoas. O senhor ainda acompanha o futebol? Sou desligado pra caramba, não acompanho nada. Pode até ser que seja a velhice. Mas não acompanho jogo nenhum. O que a gente vê aqui é resto! Os bons mesmo estão lá fora. Na minha época não era assim, não. Quando o Dino (da Costa) ia para a Itália, ele falava assim: “Garrincha, tenho chance de ir para lá (Itália). Passa a bola para mim, para eu fazer gol?”... Aí, o Garrincha driblava todo mundo e passava a bola para ele. Aí, eu falava: “Não vai dar nada para o Garrincha, não?” Eu falava na brincadeira, mas era sério. Para o Garrincha nada? Ninguém dava nada mesmo para ele. Eles estão lá até hoje. Devem estar ricos. O senhor... Eu queria mesmo era viver isolado. Mas hoje estou aqui,

18 | Dezembro de 2013 | Revista GOL

na Senador Vergueiro, na praia do Flamengo. Mas a culpa é minha. Eu que quis ajudar o governo. É um bem que eu faço pela velhice. Negar, faria de mim um bandido. Mas eu quero ficar isolado. Minha vida foi muito agitada: Seleção, Botafogo, viagens... Minha mulher sabe disso. Hoje eu acordo cedo e vou para a praia. Eu e o “Podi”, um vira-lata que vive comigo (um cachorro atropelado que a mulher encontrou na rua). Ele é esperto, viu? Precisa ver... Afinal, é melhor um cachorro amigo do que um amigo cachorro, né? Porque eu já tive muitos amigos cachorros. Pô, tô sozinho. Não tem mais ninguém da minha época. Aí, ficam te perguntando: “Lembra de 1948?” Pô, se eu não me lembro, sou mascarado... É um saco isso!

Quais as funções que o senhor recebeu agora no Botafogo? No Botafogo, eu não queria aquela incumbência de ter de ir lá. Mas aceitei. Vou de vez em quando, para falar com os atletas. Mas está cheio de gente enciumada... Fui na vitória do Botafogo diante do Vasco, parecia que eu havia jogado! “Ah, Nílton, você é pé-quente!” Sim, sou pé-quente mesmo, nunca perdi uma decisão! Tenho 26 títulos... Mas eu vim aqui para torcer, aí vem a pessoa e fala: “Gostou de ganhar?” Dããããã! Não... odiei. Eu gosto é de perder (irônico). Dá licença, né? Cada perguntinha...

Mas... Pô, eu vou para a praia, chegam e me falam: “Olha, estou te conhecendo de algum lugar...” Ah, fica quieto, né? Se as pessoas soubessem que o que eu quero é sossego... Eu quero tranqüilidade! Quero ser esquecido! Tanta gente que quer aparecer... Por que eu? Aí ficam me falando... “Ah, esse aqui jogou com o Pelé....” Não senhor! Pelé é que jogou comigo; eu já estava lá quando ele chegou! Ficam me chamando de Enciclopédia do Futebol. Que Enciclopédia, o quê! Desculpeme por estar desabafando com você, mas isso está me fazendo um bem enorme... Se eu não falar, eu enfarto, sério! Pô... Chegam para um menino de 10 anos e me apontam: “Sabe quem é ele, Zezinho?” E eu fico ali... Feito um boneco, olhando para os dois. Pô, não sou retardado! É claro que o moleque não sabe!!! Olha, me desculpe de novo, mas eu precisava falar. Agora vou parar porque isso já está me cansando... Tchau!

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VENCER VEM DE DENTRO 20 | Dezembro de 2013 | Revista GOL


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