NÚMERO 426 > 10 DE NOVEMBRO DE 2004
Director Miguel Pereira Lopes Director-adjunto André Fonseca Ferreira e Patrícia Palma Equipa de Redacção Bruno Noronha e João Gonçalves ÓRGÃO OFICIAL DA JUVENTUDE SOCIALISTA
Editorial UM GOVERNO EM “PART-TIME” As medidas anunciadas pelo governo sobre a gestão (entenda-se, a redução!) dos recursos humanos da Administração Pública constituem um acto de extremo egocentrismo que não devemos deixar de fazer notar. Não obstante a potencial pertinência e a eficácia de tais planos para lidar com as problemáticas da flexibilização laboral e a urgência em incrementar a eficiência da Administração, é notório o autointeresse de muitos dos actuais membros do governo em obterem para si próprios condições semelhantes ás que apregoam para Miguel Pereira Lopes os trabalhadores da >DIRECTOR DO JOVEM SOCIALISTA Administração Pública. Uma novidade em política e um acto que é, no mínimo, admirável! Senão vejam-se os casos do Ministro com a pasta das Obras Públicas e dos Transportes, do Ministro do Ambiente, ou mesmo do próprio Ministro das Finanças...não parecem encontrar-se eles num regime de part-time, divididos entre os afazeres no Ministério e os seus “trabalhos empresariais”? Reunião no Ministério...telefonema para o “trabalho”. Aparições públicas de manhã...negócios na empresa de tarde. Será por isso que defendem o regime de part-time para os trabalhadores da Administração Pública? Será a vontade de proporcionar a todos os trabalhadores da Administração Pública as condições de que eles Ministros já usufruem? Ou tudo se resume a uma única intenção que é cortar os custos com o recurso mais vital de qualquer organização, os seus trabalhadores? Certo é que os resultados desta lógica de part-time na condução do país, conduzida de forma até muito profissional, diga-se, se tem revelado clara. Basta olhar para os níveis de desemprego, para a incapacidade em controlar o défice orçamental e o crescimento da dívida pública, para o crescimento da pobreza, para a degradação da qualidade de vida das pessoas, o desrespeito pelo ambiente, as gaffes no ensino, o desinvestimento científico e tecnológico... O país precisa de uma governação a tempo inteiro. Por razões óbvias e pelas outras razões que se sabe...a bem da transparência, da democracia e do país. Bom é que estes senhores ministros se vão preparando para o dia próximo em que os Portugueses lhes aplicarem as mesmas regras e tomarem uma decisão: negociar a rescisão com esta maioria. E neste caso, sem direito a qualquer indeminização! miguellopes@juventudesocialista.org
Desemprego
não pára de
aumentar!
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> ENTREVISTA A HÉLDER SPÍNOLA P2 > JS COM PAPEL FUNDAMENTAL P4 POR PATRÍCIA PALMA NAS ELEIÇÕES REGIONAIS > PALESTINA DEPOIS DE ARAFATP4
POR BRUNO NORONHA
POR ANDRÉ FONSECA FERREIRA
Envia-nos os teus contributos, criticas ou sugestões! jovemsocialista@juventudesocialista.org
Entrevista com Hélder Presidente da Direcção Nacional da Quercus Na linha da estratégia de aproximação ás ONG’s que foi aprovada no último Congresso Nacional da JS, o Jovem foi visitar a QUERCUS nas instalações do seu Núcleo de Lisboa e entrevistou o Presidente da Direcção Nacional Hélder Spínola, Biólogo a trabalhar na área da Genética Molecular, num encontro onde esteve também presente a Vice-Presidente da Direcção do Núcleo de Lisboa da QUERCUS Dalila Antunes, Psicóloga do Ambiente. Hélder Spínola falou-nos do estado do ambiente em Portugal e dos grandes desafios que vamos enfrentar. Num tom marcadamente apolítico, fez um breve balanço das políticas ambientais que foram implementadas em Portugal pelos diferentes governos e reconheceu a importância que os jovens portugueses têm tido para a promoção do ambiente em Portugal. Falou-nos ainda da “completa asneira” que representa o Túnel do Marquês, uma obra que saiu da cabeça do Dr. Santana Lopes. Todos nós já ouvimos de uma forma ou de outra falar na QUERCUS, mas concretamente, o que é e o que faz? HS: A QUERCUS é uma organização que se dedica à promoção do ambiente. Mas temos um conjunto de projectos que nos permitem nalguns aspectos trabalhar de uma forma mais concreta e mais prática. E claro, temos a nossa actividade que é a mais conhecida, aquela que é mais mediática, de terreno, de indicar determinadas soluções para os inúmeros problemas que infelizmente continuam a existir. Acabamos por ter como objectivo chamar a atenção para os problemas ambientais, chamar a atenção para as soluções já existentes para esses mesmos problemas ambientais e por outro lado também, embora esse trabalho seja menos conhecido, desenvolver determinado tipo de acções que são elas próprias uma parte das soluções. Que balanço faz das políticas ambientalistas dos governos socialistas do Engº António Guterres? HS: O governo socialista teve em alguns aspectos acções muito positivas. Estou-me a lembrar, por exemplo, da questão das embalagens. Foram criados mecanismos legais que em parte conseguiram resolver os problemas ligados à reutilização das embalagens. Era um aspecto que vínhamos defendendo há muito tempo, não ir perdendo as quotas de reutilização, porque significam menos resíduos a ir para o lixo. E nesse aspecto penso que foi um momento de clareza. Também uma parte positiva foi o encerramento das lixeiras, se bem que nesse processo de pudessem ter esquecido de algumas componentes de maior sustentabilidade da gestão dos resíduos. Encerrar as lixeiras foi importante, mas é preciso evitar que se criem novas lixeiras e é importante evitar que o tratamento de resíduos sólidos urbanos, os lixos domésticos, passe apenas por um destino final. Obviamente que a reutilização é um componente importante, mas se calhar é necessário que a par do encerramento das lixeiras uma maior intervenção na forma como os municípios gerem esta problemática. Outros aspecto, com aspectos tanto positivos como negativos, diz respeito à co-incineração. A QUERCUS até poderia aceitar a co-incineração para a gestão de alguns resíduos perigosos, mas nós entendemos que essa não era a melhor solução para a gestão de todos os resíduos. Estávamos a esquecer outros aspectos que são prioritárias a esse género de solução, nomeadamente a regeneração dos óleos usados, os mecanismos de redução da própria produção desses resíduos, componentes que devem estar numa primeira linha da solução que nós procuramos, que é uma filosofia muito semelhante àquela que defendemos para os lixos domésticos. É preciso primeiro tentar evitar primeiro a produção, tentar reutilizar os materiais quando é possível, recuperá-los, reciclá-los. A co-incineração deve ser uma solução de fim de linha, havendo outras medidas implementadas anteriormente. Que balanço faz do actual e anterior governo PPD/PP em matéria de política ambiental? HS: Este governo teve um problema, os dois da coligação, para já na área do ambiente nós tivemos uma instabilidade enorme. Este já é o quarto ministro, o que significa que não se conseguiu fazer quase nada. As coisas começam, ficam a meio, depois vem outro e começa outra vez de novo. Uma instabilidade que nos fez perder imenso tempo na resolução de vários problemas ambientais. Nalguns aspectos particulares pode até ter sido benéfico, porque como se havia decidido mal, alguma instabilidade permitiu adiar algumas decisões que nós consideramos erradas. De qualquer das formas, de uma forma geral, esta questão da instabilidade é manifestamente má para as soluções que se pretendem ver implementadas. Depois, agora talvez não tanto, mas na altura de Durão Barroso, notava-se que as questões ambientais não tinham qualquer prioridade para o governo e isso notava-se na própria forma com o ministério foi constituído. Neste momento, ainda estamos na expectativa. Quais os maiores desafios que o nosso país vai enfrenta no que respeita ao ambiente? HS: Infelizmente os desafios são assustadoramente grandes. Grandes dossiês, como a questão das emissões de gases com efeito de estufa, em nós tivemos algum tempo para preparar as coisas de forma adequada e para implementar as soluções de uma forma progressiva, fomos deixando o problema de tornar cada vez maior e o tempo cada vez mais escasso. E o pior é que estamos a ir no sentido de piorar e não de melhorar. E quando sabemos que a última versão do Plano Nacional para as Alterações Climáticas já admite que teremos de recorrer ás chamadas soluções extraordinárias para cumprir...os chamados mecanismos de desenvolvimento limpo, a aquisição de licenças de emissão...ou seja, quando o próprio plano assume que mesmo que as recomendações existentes sejam implementadas nós teremos que recorrer a outros mecanismos extraordinárias para cumprir o que nos cabe, de certa forma compreendemos, por mais optimistas que pretendamos ser, que a situação está num ponto mesmo muito complicado. Ainda mais quando neste cenário, Portugal apresenta um plano de atribuição de licenças de emissão de gases com efeitos de estufa que a União Europeia obviamente não aceita, que vai pedir que seja reformulado, o governo diz...nós vamos atribuir às indústrias a possibilidade de atribuir mais do que já emitem, ou seja, é um contra-senso com as necessidade de reduzir. Isto é apenas um exemplo de como a situação está feia. Depois também quando ao analisar os dados da qualidade do ar nos centros urbanos, principalmente Lisboa e Porto, constatamos inúmeras situações de ultrapassagem dos limites estabelecidos, atingindo níveis tão preocupantes ao nível da saúde pública, principalmente ao nível das partículas inaláveis, mesmo com casos de excesso de ozono troposférico...é mais um exemplo de como as
coisas estão mesmo más. Quando sabemos também que nas questões relacionadas com a camada de ozono, Portugal continua a não fazer nada para recuperar o CFC´s que existem nos equipamentos velhos que vão para o lixo, quando sabemos que todos os anos vão para o lixo...mais de 500 toneladas de CFC vão para a atmosfera...mais uma vez constatamos que, na prática, também nesse caso em concreto, Portugal não está a dar o seu contributo. Quando falamos da conservação da Natureza e quando sabemos que ano após ano o Instituto de Conservação da Natureza vê o seu orçamento ver reduzido e quando sabemos que as áreas protegidas se deparam com enormes dificuldade em questões simples como a falta de combustível para os vigilantes fazerem as rondas nos Jipes, falta de pessoal para fazer vigilância...nós temos 150 vigilantes para fazerem a vigilância de todas as áreas protegidas do país, que juntamente com as áreas classificadas são 22% do território..., que existem dificuldades financeiras para ter os cartuchos para a impressora, o papel, e depois se constata este corte de verbas...e que os planos de ordenamento das áreas protegidas se encontram quase todos por fazer...portanto o futuro tem um cenário não muito animador. Mas temos de tentar manter a esperança e de a transmitir aos outros. Como avalia o conhecimento, as atitudes e o interesse dos jovens portugueses pelas questões ambientais? HS: Muitas vezes as pessoas dizem que os jovens são os que estão mais próximos das questões ambientais e é verdade, isso é uma realidade. Mas muitas vezes dentro dos jovens há momentos em que as pessoas estão mais próximas dessas questões ambientais se começam a interessar menos. Tem a ver com a maturidade. Portanto, não podemos dizer que os jovens estão todos a favor do ambiente e os adultos são aqueles que não se interessa, não é assim. Mas a verdade é que muitas das campanhas de educação ambiental têm sido dirigidas aos jovens na premissa de que são mais facilmente educáveis e que os adultos terão mais dificuldades em aceitar novas regras, orientações e ideias. Mas eu julgo que nesta estratégia nós temos perdido algumas das potencialidades do trabalho que temos dedicado aos jovens esquecendo os adultos, ou seja, muitas vezes os jovens também procuram referencias nos adultos e quando os adultos continuam a não ter determinados comportamentos compatíveis com as questões ambientais, estes jovens ao chegarem ao seu estado adulto acabam por regredir na forma como pensam, nos seus comportamentos. Podíamos ter um ritmo muito maior de aceitação das questões ambientais se direcionássemos também para os adultos muita da nossa actividade de educação e sensibilização ambientais. Mas sem dúvida que hoje são os jovens que participam mais nas actividades ambientais do dia a dia, na separação dos lixos, no evitar poluir, na preservação da natureza, de uma forma geral continuam a ser os jovens a ter mais consciência nestas questões ambientais. De que forma podem os partidos políticos colaborar com a QUERCUS na persecução dos seus objectivos? HS: A relação que temos com os partidos políticos é uma relação equidistante entre todos, uma relação que muitas vezes não permite muita coisa em comum em termos de actividade, mas nós sabemos que são os partidos políticos que podem no nosso sistema ocupar determinadas posições de decisão, quer seja na Assembléia da República, quer seja também ao nível das Autarquias, do próprio Governo e dos diferentes ministérios. Neste sentido, procuramos que os partidos políticos assumam aquilo que nós consideramos prioritário e fundamental na defesa do meio ambiente como sendo também objectivos deles próprios. Nós não temos poder de decisão, não nos submetemos a eleições para cargos desse género e portanto a relação que procuramos ter com os partidos políticos é a de que possamos passar a nossa mensagem de forma a que eles também a tomem como sua e quando tiverem as oportunidades de actuar, de fazer mudanças, que o façam de acordo com esses princípios, com essas informações.
Spínola
> ENSAIO POR JOÃO GONÇALVES joaogoncalves@juventudesocialista.org
O Desemprego não pára de aumentar!
> DISCURSO DIRECTO POR PATRÍCIA PALMA patricia.palma@juventudesocialista.org
DA: Para mim há um aspecto importante que é a comunicação fazer-se quase apenas num sentido, da QUERCUS para os partidos políticos. Ás vezes até pedem opiniões, sobre determinadas leis ou outros assuntos e nós damos os nossos contributos, mas depois não há diálogo. Nós temos uma reunião, expomos as ideias, os partidos por vezes até concordam, mas depois esquecem tudo. E nós não compreendemos porquê, do gênero, estivemos a analisar as vossas propostas mas chegamos há aqui problemas econômicos que é difícil de conciliar e tentarmos encontrar novas estratégias para alinhar os vários objectivos. Nós compreendemos que há condicionantes políticos. Se calhar não preciso fazer tudo de uma vez, mas então expliquem-nos isso. Como não é estabelecido esse diálogo, nós não compreendemos. Quais deveriam ser as prioridades assumidas em termos de intervenção nos próximos tempos? HS: São muitas as soluções necessárias porque estão todas encadeadas. Mas em temos de prioridades para o nosso país, uma coisa fundamental em termos ambientais, mas também em termos econômicos, é a questão da eficiência energética. Quando nós falamos deste problema econômico que é o aumento dos combustíveis, que é importado e tem uma vertente econômica e também social, quando falamos dos problemas de excesso de emissões de gases com efeitos de estufa, quer do parque automóvel, quer das indústrias, quando falamos de questões de mobilidade como a utilização excessiva do transporte individual, com o congestionamento do transito e as suas consequências de poluição, muitas vezes podemos resolver uma parte substancial desses problemas apostando de uma forma forte na eficiência energética. Fala-se cada vez mais na necessidade de aproveitarmos cada vez mais os nossos recursos energéticos renováveis, mas se não formos mais eficientes no consumo de energia, só o aumento no consumo que temos de ano para ano, que anda à volta dos 6%, a aposta nas renováveis não é suficiente sequer para tapar esse buraco. É algo que exige um conjunto de medidas, muito descentralizada, muito diversificada, que passa por renovações ao nível da indústria em termos de tecnologias, na questão da mobilidade por utilizar meios de transporte público mais eficientes. E a este respeito o actual ministro dos transportes tem dito algumas coisas incoerentes. Quando inaugurou a linha até Setúbal, era o melhor do mundo, e é realmente, mas depois quando fala do aumento do transporte público e de não meter o valor dos passes no IRS, diz que isso é uma coisa marginal sem qualquer importância. Portanto, parece usar os argumentos consoante aquilo que eles querem fazer. Mas a verdade é que o transporte público, e este governo tem alguma dificuldade em compreender isso quando aumenta os preços, não é o transporte dos pobrezinhos, como diz o ministro. O transporte público é uma necessidade da sociedade em termos sociais, em termos ambientais e mesmo em termos econômicos, porque estamos a economizar recursos, estamos a economizar tempo e de stress e eficiência no trabalho. É, portanto, uma componente que não pode deixar de ter um apoio do estado. Portanto quando se pensa em querer aproximar o transporte público de um cenário muito semelhante a qualquer empresa que vende um produto ou serviço e se faz pagar por ele ao consumidor, está-se a esquecer a enorme quantidade de problemas que se resolve e que se não forem resolvidas, vamos ter de pagar de outras formas, na saúde, na perda de eficiência e eficácia no trabalho, na maior importação de combustíveis, na perda de tempo no congestionamento do trânsito...portanto, os custos que nós teremos de depender não apostando e subsidiando os transportes públicos são muito superiores a esse subsídio, nem se comparam. Outros desafios que se nos colocam são, por exemplo, a gestão dos resíduos. Outra área fundamental é a conservação da natureza. Obviamente a questão da qualidade da água e da qualidade do ar são aspectos fundamentais porque tocam directamente na qualidade de vida das pessoas e na saúde pública. Infelizmente no que diz respeito ao ar, a situação torna-se de ano para ano mais complicada, no que diz respeito à água há uma melhoria ligeira, mas em meios pequenos nem sempre tem ocorrido. Outro aspecto fundamental é o ordenamento do território. Se não ocuparmos o nosso território de forma adequada, acabaremos por ter problemas em todas as outras questões. Nesta gestão do território é muito importante ter uma visão nacional. Deverá ser colocado para discussão publica dentro de meses um plano nacional de política de ordenamento do território ao nível regional e ao nível local. E já agora não resisto a perguntar-lhe...o que acha do “Túnel do Marquês”? HS: Acho uma completa asneira, porque é uma incoerência em termos daquilo que se quer em termos de mobilidade para uma cidade. Penso que é fundamental cada vez mais evitar que o transporte individual aceda ao centro das cidades e o túnel acaba por ser na prática e em temos individuais também um incentivo ás pessoas para utilizarem o transporte individual, pensando que vão ter um acesso mais fácil porque há um túnel. Penso que com aquele investimento teríamos conseguido com outros mecanismos soluções muito melhores para o ambiente, para a mobilidade, para a economia da própria cidade e muito mais sustentáveis em termos temporais. O túnel pode ficar obsoleto para aquilo que pretende corrigir, em poucos anos. E depois não se compreende que o que é mais fácil não se faz, como a colocação de separadores no bus para que os carros não invadam as suas faixas, e o que custa milhões como o túnel faz-se. É a questão da obra... DA: O problema é que não corrige nada. A questão aqui é que normalmente se pensa que para fazer investimento no transporte colectivo fazemos investimento directo nas empresas, o que não resolve nada porque em termos concretos quem gere as empresas pode fazer o quê? Não pode criar os corredores bus e esse tipo de coisas. Então temos o problema do tráfego e o que é que fazemos...construímos mais uma estrada. Há estudo que mostram que cada vez que se constrói mais uma estrada, no dia seguinte há mais 11% de carros novos que apareceram não se sabe de onde. E mais, como numa primeira fase esses 11% não vão ocupar essa estrada toda, acontece que há uma maior distribuição e a curto prazo parece que há uma redução de tráfego e como tal, temos outros carros e outros novos carros a virem para a cidade, e portanto, a médio prazo, estão as duas estradas congestionadas. E o que é que se faz? Criam-se mais duas estradas...isto não é solução possível. O principal problema do túnel do marquês é a que nem se falou com ninguém. Eram pedidos estudos de tráfego à Câmara, eram pedidas informações sobre o projecto e nunca nos foram dadas informações. É querer tudo, o túnel e a continuação do tráfego à superfície, com a consequente degradação das pessoas que ali vivem. Podiam ao menos ter construído o túnel para que à superfície houvesse uma requalificação do espaço no sentido de o tornar mais arbório, que é precisamente o oposto do que está a fazer.
Esta é a conclusão que se tira após a análise dos dados estatísticos do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), relativos ao mês de Setembro deste ano comparativamente com o mês anterior, assim como, com o mês homólogo de 2003. Efectivamente Portugal tornou-se no país recordista da U.E. onde a taxa de desemprego mais aumenta, contrariando a tendência dos Governos liderados pelo Eng. António Guterres durante os quais se assistia a uma progressiva diminuição do número de desempregados, atingindo-se mesmo dos valores mais baixos da Europa. A situação que actualmente se vive em Portugal gera, nos portugueses em geral e na classe trabalhadora em particular, um enorme clima de instabilidade. As classes mais atingidas por este cenário são os jovens à procura do primeiro emprego, os desempregados de longa duração e os profissionais de nível intermédio, nomeadamente directores e gerentes de pequenas empresas, bem como outros operários artífices e trabalhadores similares, operários e trabalhadores similares da construção civil, e os trabalhadores afectos à Função Pública. De seguida apresentam-se alguns dados estatísticos que registam a evolução do desemprego em todo o Território Nacional, nos meses de Setembro de 2003 e Setembro de 2004 que espelham bem o que se vem dizendo. Desde logo, é de salientar o aumento do nº de desempregados registados há 1 ano ou mais nos diversos Centros de Emprego espalhados pelo país, designado “desemprego de longa duração”, que em Setembro de 2003 correspondia a cerca de 38% do total de desempregados e que em Setembro de 2004 aumentou para mais de 42%, o que significou uma variação de 18%.
Do ponto de vista regional, verifica-se um aumento global do desemprego em todo o Território Nacional, com excepção para a região Autónoma dos Açores que, no período em análise, sofre uma diminuição da taxa de desemprego de mais de 12 pontos percentuais. Em contra-partida a região Norte é a mais afectada com este flagelo cujo aumento do desemprego atinge valores muito próximos dos 13%.
Efectivamente, a política regional de emprego protagonizada pelo Governo Regional dos Açores, em particular pelo Camarada Carlos César, está a produzir resultados, exemplo este que deveria ser seguido pelo Dr. Santana Lopes & “Companhia”. Relativamente ao desemprego segundo as habilitações literárias é claro que o actual Governo não aposta na formação profissional e na qualificação do emprego. O único escalão em que o desemprego não aumenta é nos profissionais que possuem “nenhum nível de instrução” contrariando todos os outros escalões cujo aumento da taxa varia entre 4 e 7,5%. Nada se faz para alterar esta situação! O Orçamento de Estado para 2005 (OE) é mais uma oportunidade perdida! Das alterações que se verificam nenhuma visa, concretamente, o combate ao desemprego! Nenhuma visa, concretamente, a aposta na formação profissional e na qualificação no emprego! Efectivamente, as alterações na atribuição do Subsídio do Desemprego vão fazer com que os cidadãos vejam diminuir os seus direitos, nomeadamente no que toca à redução das suas pensões e serão os mais jovens os principais prejudicados com esta nova política. Com estas políticas outro cenário não se podia esperar que não o significativo aumento do desemprego entre 2002 e 2004, conforme apresenta o gráfico seguinte:
As estratégias de combate ao desemprego são pilar essencial para garantir a equidade de um Estado justo e equilibrado. Este Governo já provou e continua a provar que não tem estratégias. Já é tarde! Já se perdeu muito tempo! Já não há tempo para mudar de politicas! É urgente mudar estes políticos!!!
JS com papel fundamental nas
> INTERNACIONAL André Fonseca Ferreira fonseca_ferreira@cabovisao.pt
Eleições Regionais > NACIONAL POR BRUNO NORONHA brunonoronha@juventudesocialista.org
Realizaram-se no passado dia 17 de Outubro as Eleições Regionais nos Arquipélagos da Madeira e dos Açores. Quer num quer noutro o Partido Socialista mostrou uma vez mais que se encontra no caminho certo para formar Governo em 2006 no Continente (não nos esqueçamos do chumbo explícito à Coligação PSD/DCDS-PP nas eleições para o Parlamento Europeu). Contudo, os resultados da abstenção foram elucidativos do panorama: na Madeira alcançou os 39,64% e nos Açores os 44,34%. E convém não esquecer o significativo número de eleitores-fantasma! Situação insólita, e paradoxal, terá sido a de Zuraida Soares, candidata pelo BE nos Açores que não constava nos cadernos eleitorais por falecimento. Torna-se urgente, perante estes acontecimentos, uma profunda reforma no seio da Comissão Nacional de Eleições no sentido de conferir a credibilidade que a democracia em Portugal merece. As eleições ficaram fortemente marcadas por críticas à gestão levada a cabo pelos Governos Regionais em funções. Se na Madeira foi apontado o caso de alegada corrupção entre um fiscal de obras e uma arquitecta da autarquia de Ponta do Sol (PSD) já nos Açores a oposição atacou com o Plano Regional de Água e com a lagoa do Faial. Uma coisa é certa. As dúvidas estão levantadas e esclarecimentos, ou a acção da justiça, impõem-se. Pelo bem da democracia. Outro facto marcou indelevelmente estas eleições: a “passerelle” de ministros (Santana Lopes, Paulo Portas, Carlos Costa Neves, Morais Sarmento e Maria do Carmo Seabra) e as infindáveis promessas feitas pelo 1º Ministro aos Açorianos, nomeadamente a resolução do problema das tarifas aéreas, o perdão da dívida do Serviço Regional de Saúde, o transporte de correio mais rápido, os helicópteros para acudir a grávidas e doentes e as viagens grátis para todos os estudantes açorianos a estudar no Continente. Subsiste agora a pergunta: quanto tempo demorará a coligação a contradizer-se, desmentir-se e afirmar que as suas palavras não foram bem interpretadas? Nestas eleições, grande destaque se deve dar ao papel fundamental da JS em todo este processo eleitoral, liderada por Nuno Tomé nos Açores e por Célia Pessegueiro na Madeira. Tanto um como outro foram eleitos como deputados às respectivas Assembleias Regionais. Segundo Nuno Tomé a coligação teve uma projecção especialmente reduzida junto do eleitorado jovem, que representa uma das principais preocupações da JS Açores na medida em que se prevê o aparecimento de 5000 novos jovens trabalhadores nos próximos 10 anos neste arquipélago. Entre outras medidas a JS Açores preconiza a formação profissional como meio de garantir o pleno emprego. Já na Madeira a JS elegeu como principais bandeiras o ambiente, a educação e as questões sociais, bem como a elevação do nível do debate na Assembleia Parlamentar, contrastando assim com as conhecidas tendências de Alberto João Jardim para as obras e inaugurações bem como para um discurso pol(u)ido, pobre e desvalorizador da classe política. Na campanha participou também o Secretário-Geral da JS, Pedro Nuno, que se deslocou à Madeira nos dias 12 e 13 e aos Açores entre os dias 14 e 18 de Outubro. Os seguintes dados recolhidos no INE, na Direcção Regional de Estatística da Madeira e no Serviço Regional de Estatística dos Açores, permitem-nos construir ideia sobre as mudanças que se têm operado nos arquipélagos.
Em 10 anos (1991-2001) a taxa de actividade na Madeira subiu 8,9% e a taxa de desemprego desceu 30,3%, sendo que no 2º trimestre de 2004 a taxa de desemprego era de 2,7% contrastando com a média nacional de 6,3%. Nos Açores verificou-se entre 1992 e 2002 um aumento de 12,2% da população empregada e uma descida de 30% na taxa de desemprego, contrastando com os 6,3% da média nacional no 2º trimestre de 2004 com o valor de 3,1%. Um exemplo para o continente?!
Palestina depois de
Arafat O desaparecimento politico de Yasser Arafat enche o mundo de dúvidas e emerge a questão da sucessão. Por um lado, quem substitui este líder carismático, laureado com o prémio Nobel da paz, de 75 anos, que agora sucumbe num hospital em Paris. Mas mais importante saber quem é que o substitui, importa saber o que representa para o turbulento conflito Israel/palestiniano. Ansiosos pela manutenção da normalidade, o comité da Organização para a Libertação da Palestina mantém a sua conferência semanal no escritório de Arafat em Ramallah. Arafat tem sido cercado por Israel durante os últimos três anos até ter sido, há poucos dias levado para Paris para tratamento médico. Apesar da imagem que pretendem fazer passar, todos os hipotéticos candidatos à sucessão estão já nas estratégias de bastidores para manterem as suas posições. Mahmoud Abbas, o secretário-geral do comité executivo da OLP, presidiu à reunião com uma dúzia de membros mas oficialmente todos se recusaram a ver isso como um sinal de que está preparado para suceder a Arafat. “É uma reunião normal para discutir a situação”, disse Saeb Erekat, um dos membros do comité. E reforçou: “Não penso que vamos ter uma situação de vácuo político”. A morte de Arafat é eminente, senão for mesmo certa, e o próprio Primeiro-Ministro palestiniano já referiu que se encontra disponível para assumir os poderes de Arafat. Quando Arafat deixou Ramallah pela primeira vez em três anos, apenas estavam alguns apoiantes para se despedirem dele. Contudo, as pessoas nas cidades insistem que o seu líder mantém um lugar especial nos seus corações. Os líderes palestinianos contudo mentiram ao seu povo alegando que a saída de Arafat do território palestiniano foi por uma questão de negócios. Mas o medo da instabilidade é constante. Arafat nunca nomeou nenhum sucessor, e sempre retirou as expectativas de alguém que progressivamente fosse ganhando muito poder. Há que reter as palavras de Mohamad Hourani, um membro do Conselho Legislativo Palestiniano, que afirmou a não existência de um vácuo de poder e que a maioria dos políticos estavam presentes da sensibilidade do momento que se vive, deixando a ideia de que a maioria dos líderes querem mostrar que podem fazer as coisas sem Arafat, que é necessário uma mudança lenta e progressiva onde o objectivo comum é a mesma luta de sempre, a luta pela constituição de um estado independente e livre de Israel. Kais Abu Leila, o líder da Frente Democrata para a Libertação da Palestina e um confidente de Arafat, disse que há o perigo de alguns elementos tirarem partido desta situação e lançarem um caos para legitimar a escalada de violência quer com os israelitas, quer entre as diversas facções, visto que agora não há uma figura consensual que preconize a unidade na luta pela libertação da palestina. Contudo, há quem garanta, pela manutenção deste objectivo comum, que os ataques seriam essencialmente verbais e não tanto físicos. A liderança da Organização para a Libertação da Palestina, volta a reunir-se, agora com uma regularidade quase permanente, e já transferiu a maioria dos poderes de Arafat para o Primeiro-Ministro, Ahmed Qureia, como solução aparentemente provisória. Qureia e Nabil Shaath, ministro para os negócios estrangeiros, são esperados na Faixa de Gaza para reunir com as facções palestinianas para evitar o conflito entre elas durante esta crise. No território palestiniano, o ambiente não é só de consternação, mas também de profunda preocupação sobre a possibilidade de se estar à beira de um conflito civil. Os palestinianos temem que a morte de Arafat traga o caos e abra uma luta pelo poder. Curiosamente, a notícia da morte eminente de Arafat coincide com o segundo discurso oficial de Bush depois de ter ganho, onde a pedido de uma reacção por parte dos jornalistas, Bush responde, “A minha primeira reacção é que Deus abençoe a sua alma” e , “A minha segunda reacção é que vamos continuar a trabalhar para um Estado Palestiniano livre em paz com Israel. Interessa notar que a reeleição de George W.Bush pode constituir, juntamente com a possível morte de Arafat, um rastilho de pólvora potenciadora da ainda maior deterioração das relações entre palestinianos e israelitas, juntando-se o movimento islâmico radical e o terrorismo. Contudo, não nos podemos abstrair que o terrorismo de Estado protagonizado por Israel, com a mão protectora de Bush é que têm sido os principais inimigos da resolução definitiva do problema. Qualquer que seja o futuro líder dos palestinianos terá de contar com muitas adversidades. A agitação crescente das facções fundamentalistas, e a continuidade da cumplicidade entre Israel e os EUA não vão facilitar as negociações para a Paz.
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