Trabalhos de Arqueologia da EAM, 6, Lisboa, Colibri, 2000, pp.1-23
ORCA 2 DE OLIVEIRA DO CONDE, CARREGAL DO SAL, VISEU José Manuel Quintã VENTURA* RESUMO
Apresentam-se aqui os dados adquiridos nos nossos últimos 7 anos de investigação arqueológica, na Plataforma do Mondego, no âmbito do megalitismo, em particular os obtidos com a escavação deste monumento. A Orca 2 de Oliveira do Conde, Carregal do Sal, apresenta-se como um monumento de câmara megalítica, aberta. Por outro lado, o presente monumento apresenta uma série de estruturas complexas, nomeadamente um "corredor intratumular". Apesar da sua arquitectura, os depósitos votivos onde se destaca a total ausência de olaria pré-histórica nos sedimentos associáveis à câmara, juntamente com as características do restante espólio recolhido são de molde a considerá-lo integrável na fase inicial do megalitismo regional (cf. SENNA-MARTINEZ, 1994a e 1995; VENTURA, 1998a). A desmontagem da mamoa permitiu detectar um conjunto de materiais, provenientes, provavelmente de um habitat existente da zona envolvente do monumento, antes da construção do mesmo. A análise morfométrica dos mesmos permite-nos inseri-los em ambientes afins de um Neolítico antigo ou Neolítico antigo evoluído, tendo em conta os contextos regionais e supra-regionais conhecidos para este momento. Palavras-Chave: Megalitismo, Neolítico antigo evoluído, Beira-Alta
ABSTRACT
Megalithic Tomb 2 of Oliveira do Conde, Carregal do Sal, Viseu. In this paper we present an analysis of the fieldwork we have done throughout the last 7 years on Mondego’ s Platform, concerning the megalithic phenomena, particularly those from the excavation of this monument. The Tomb 2 of Oliveira do Conde, Carregal do Sal, presents as a megalithic tomb with an open chamber, and complex structures on the frontal area, with an intratumular passage. While this architecture is more like to be presented in later monuments, the materials found point toward the inclusion of this monument in an early moment of the regional Megalithism within the Middle Neolithic (cf. SENNA-MARTINEZ, 1994a and 1995; VENTURA, 1998a). The excavation of the tumulus, revealed the existence of a group of artefacts, probably, from a previous habitat in the close scrutiny of the monument, before it's construction. The associated artefacts lead us to think it can be dated to a late phase of the recently identified regional early Neolithic, Key-words: Megalithism; Late early Neolithic, Beira Alta
1. INTRODUÇÃO Apresentam-se aqui os resultados das seis campanhas de intervenção arqueológica realizadas neste monumento megalítico, que se integra num Núcleo Megalítico, constituído por mais cinco monumentos megalíticos. Na sequência dos reconhecimentos efectuados em 1990 e 1991 (VENTURA, 1993) e das cinco campanhas realizadas entre 1994 e 1999 (VENTURA, 1998b e 1998d). Os trabalhos decorreram nos âmbitos dos 9º a 16º Campos Arqueológicos de Canas de Senhorim (organizado com o apoio da Associação para o Estudo Arqueológico da Bacia do Mondego - EAM), tendo sido apoiados pelo Instituto Português de Arqueologia (IPA) — no âmbito do Projecto PAISAGENS (cf. SENNA-MARTINEZ & VENTURA, 1999a), Câmara Municipal de Carregal do Sal, pela Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Canas de Senhorim (Núcleo Filatélico e Numismático), Escola EB2.3/S de Canas de Senhorim e pela Junta
de Freguesia de Canas de Senhorim), Instituto Português da Juventude (IPJ - Delegação de Viseu) e Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico (IPPAR), tendo também participado nos trabalhos diversos alunos universitários e do ensino secundário, a quem agradeço o empenho nos trabalhos apesar de todas as dificuldades. 2. LOCALIZAÇÃO E ANTECEDENTES A Orca 2 de Oliveira do Conde (OROC 2) localiza-se no topo do interflúvio, a uma altitude aproximada de 301m, entre o Mondego, a sul, e a ribeira da Azenha, o noroeste (cf. Fig. 1). As suas coordenadas são 64º00'00"N/152º00'00"W, freguesia de Oliveira do Conde, concelho de Carregal do Sal, distrito de Viseu. A área aplanada, rasgada pelo vale do Mondego, onde se situa o sítio arqueológico, é constituída, a nível geomorfológico, maioritariamente por granitos,
* Mestre em Pré-História e Arqueologia pela F.L.U.L., Investigador do PEABMAM - PAISAGENS e Investigador Exterior do Instituto «Alexandre Herculano» de Estudos Regionais e do Municipalismo da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. <jmqtventura@yahoo.com>