tfg caderno intermediário

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centro universitário barão de mauá faculdade de arquitetura e urbanismo 2019

poéticas_____ _percorridas de memórias e sentimentos a arquitetura

_caderno itfg1 kaique de s. xavier orientador: Fernando Gobbo Ferreira



ruas

há mais de meio século ando por aí há sessenta e um anos cruzo rio brasília londres são paulo quito cidade do méxico lisboa amsterdan nova york a pé mix de finalidade interior e casualidade exterior tudo me interessa os olhos não usam viseira nem os ouvidos capota o nariz eu trago atento o tato bem apurado absorvo impressões de outros que caminharam por mim em minha caminhada pelos outros paisagens urbanas suburbanas superurbanas me constroem o tempo todo em que eu ando e paro paro e ando reparando do que é feito o conteúdo da caixa preta do planeta


Ricardo de Carvalho D. Chacal.


sumário

motivação vocabulário inserção I I. I.I

08 09 11 25

partida o homem e sua afirmação derivas

13 21

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continuidade cidade e suas possibilidades

45

. .

distânciamento lugares sentimentos, memórias e imaginação

63 77

I I . I .

reaproximação dissolução estudos de arquitetura

95 107

da rua ao rumo bibliografia

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motivação

A aspiração por atingir a etapa do tfg foi intensa durante todo o período acadêmico do curso de arquitetura, mesmo sem saber ao certo o que se iria trabalhar, existia o anseio de desenvolver um trabalho cujo tema possuísse um significado pessoal e ao mesmo tempo tratasse de um assunto pertinente no campo da arquitetura. Vejo que todas oportunidades que surgiram e escolhas que tive que tomar ao longo dos anos foram essenciais para se buscar algo que acreditava, desenhando um caminho bastante sólido para que fosse possível realizar esse trabalho. As Lembranças, experiências, sonhos e fantasias que se iniciam na minha infância, passam pela juventude - um tanto perdida ao aproveitamento da cidade e conhecimento de si próprio – e chegam então na fase acadêmica, onde um mundo se abriu e se mostrou possível para buscar novos percursos, é de onde as motivações surgem, e é a partir delas que permito aplicá-las em uma etapa na qual um ciclo se encerra. A maneira como as coisas se dão sempre me interessaram no campo da arquitetura e da sociedade. Vejo que a busca e entendimento dos significados estão associadas sempre a consciência e inconsciência, na qual respondem a ideia de percepção e memórias, essas, portanto, ligadas à imagem do homem e sua evolução natural. A ideia de mostrar a percepção do significado da arquitetura por meio das memórias e sentimentos pessoais são leituras em que decidi me debruçar, e por diante traduzi-las em arquitetura. Acredito que o privilégio de ter morado em Évora um semestre, quando fiz intercâmbio, despertou em mim uma relação com a cidade que antes jamais existiu. Senti então ao regressar ao meu País a necessidade de explorar, compreender e entender a área central de minha cidade, Ribeirão Preto. Esse projeto se apresenta de forma poética, não utópica, acredito. Penso que a partir do momento que se desprende de um pensamento externo que não lhe pertence e se permite conduzir de uma forma intima, colocando no ensaio as experiências vivenciadas no meio, é onde se encontra resposta para se chegar em espaços mais humanos.

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vocabulário

¹ caminhar, v.i. 1. Andar, percorrer caminho a pé; 2.v.t.d. percorrer andando; 3.v.t.i. encaminhar-se, dirigir-se deriva, s.f. 1. Derivação; 2. deslocação, desvio do rumo; 3. Loc. Adj. À deriva: desgarrado, ao sabor de corrente; 4. desnorteado espaço, s.m. 1. Extensão indefinida; 2. o Universo; 3. extensão superficial limitada; 4. Período de tempo lugar, s.m. 1. Espaço ocupado, ou que pode ser ocupado por um corpo; 2. povoação; localidade; 3. cargo; 4. ordem; posição; 5. classe; 6. ponto de observação; 7. trecho de livro; 8. circunstâncias especiais; 9. destino. memória, s.f. 1. Faculdade de reter as ideias adquiridas anteriormente, de conservar a lembrança do passado ou da coisa ausente; 2. reminiscência; lembrança; recordação; 3. fama; nome; crédito; 4. parte do computador que armazena informações; 5 s.f.pl. notas ou narrações históricas, escrita por pessoa que as presenciou ou que nelas tomou parte; livro em que alguém descreve sua própria vida movimento, s.m. 1. Ato de mover-se; 2. deslocação; 3. afluência de gente movendo-se; 4. animação; 5. revolta; sedição; 6. andamento musical percurso, s.m. 1. Ato de percorrer; 2. andamento; 3. caminho, espaço percorrido; 4. movimento; trajeto. saudade, s.m. 1. Lembrança triste e suave de pessoa, de um bem passado ou de coisa extinta ou distante, acompanhada do desejo de as tornar a possuir ou ver presentes; 2. o nostalgia; 3. designação comum a diversas plantas da família das dipsacáceas, principalmente da espécie scabiosa marítima, e às suas flores; escabiosa. 4. planta da família das asclepiadáceas (Asclépias umbellata)

1. Minidicionário Antonío Olinto da língua portuguesa, editora Moderna.

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inserção

O homem e sua relação com o espaço que ele ocupa – afim de compreender seus significados e sentidos aplicados no espaço construído – a arquitetura -, buscando fazer uma analogia da relação percurso, espaço e memórias, é o caminho no qual esse trabalho se debruça para tentar encontrar respostas ou caminhos do porquê há uma certa perda de sentido das coisas e afastamento da arquitetura em relação ao homem urbano. Como estrutura, o trabalho segue um caminho que parte do descobrimento do território no início da pré-história. Em a partida, é onde o trabalho se inicia, e apresenta as relações do homem e o seu movimento no espaço, e o descobrimento que se dá pela vida nômade, que parte da necessidade de sobrevivência através das errâncias, em contraposição, o estilo de vida sedentário, que se baseia na fixação do local e se mantem a partir daquilo que se tem a sua volta. Adiante, em derivas, o corpo se lança no território e faz leituras, afim de encontrar respostas no espaço por meio do ato de caminhar. Por sua vez, o percurso no espaço desperta imaginações que antecedem a memória e o que está por vir. Em a continuidade, como já diz a palavra, permearemos a partir do processo evolutivo da relação do homem e da criação dos espaços feitos por si, como resultado, a cidade. O objetivo não vai em direção ao processo evolutivo da cidade ao passar dos séculos, mas as possibilidades e significados das diversas cidades dentro de uma única a partir das experiências subjetivas de cada um. Em um segundo momento, enfoco Ribeirão Preto como território, seu descobrimento e desenvolvimento ocorrido na área central da cidade, em busca de compreende-la e perceber suas diversas possibilidades. Em distanciamento, o tempo já é passado, e as lembranças, memórias e imaginação animam a ideia de significado e singularidades aos lugares que contam momentos vivenciados e ficções imaginárias. As reflexões ignoram a ordem de organização no qual se apresentam. Fazem parte da ideia de pensamento que se deram no ano que se passou, e revelam os primeiros apontamentos em direção a esse trabalho. Por fim, em reaproximação, passado, presente e futuro se fundem através do corpo no território, memória imaterial vivenciada, e imaginação do espaço em matéria. As leituras dos projetos escolhidos e todo o contexto apresentado até o momento indicam a passagem de uma etapa teórica reflexiva, para a etapa prática imaginatória - para a possibilidade de se fazer arquitetura.

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partida

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o homem e sua afirmação

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“A história das origens da humanidade é uma história do caminhar, é uma história de migrações dos povos e de intercâmbios culturais e religiosos ocorridos ao longo de trajetos intercontinentais. É as incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o início da lenta e complexa operação de apropriação e de mapeamento do território. ” 2

O homem atual é resultado de um processo evolutivo que teve origem a mais de seis milhões de anos atrás. Registros como os Passos de australopitecos marcam a presença do homem desbravando territórios de forma ereta. O homem Neanderthal, considerado como subespécie do homem moderno, (Homo sapiens) foi quem iniciou o processo de construção de abrigos, vestimentas e ferramentas para caça. Da pré-história é onde ocorre a separação da humanidade em estilos de vidas diferentes e da forma como o ser se relaciona com o território, o nomadismo e sedentarismo. Do nomadismo, a vivência nos diferentes tipos de territórios e paisagens, do repouso embaixo das tendas que se movem na superfície terrestre sem se afirmar, da vivência do dia-a-dia, da dispersão horizontal. Já no sedentarismo, a vida em uma vista, da criação do lar a partir das entranhas da terra, à afirmação do local. Duas maneiras opostas de levar a vida, a necessidade daquilo que ainda não se encontrou, e partir daquilo que não se tem, e é por meio desse pensamento distinto que se dá o surgimento da arquitetura no âmbito da construção de espaços – os espaços de ir e os espaços de estar. Entretanto, a uma ligação entre o nomadismo e sedentariedade, pois existe a necessidade continua de troca de produtos entre agricultores e pastores. Em Walkscapes, Careri descreve que a agricultura e o pastoreio são duas atividades originadas da colheita e da caça, e que ao passar dos tempos a domesticação dessas atividades, animais (pastoreio) e das plantas (agricultura) geraram o espaço sedentário e o espaço nômade. Ou seja, a partir das errâncias intercontinentais dos primeiros homens paleolítico.

2. Careri, 2002, p.44

Sahel, do árabe; “costa” ou “fronteira”,ou até mesmo divisa, é a região do continente Africano que se estende por mais de 5.400km desde o Oceano Atlântico até o Mar Vermelho, onde ocorre a integração entre as duas atividades: a agricultura sedentária e o pastoreio nômade, formando um cinturão entre cidade sedentária e cidade nômade, entre cheio e vazio, agre

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gação e dissolução, pontos e linhas. Segundo Careri, o espaço sedentário é estriado por muros, recintos e percursos entre os recintos, ao passo que o espaço nômade é liso, marcado somente por ‘traços’ que se apagam e se deslocam com o trajeto 3. “[...] tenha sido originalmente uma invenção sedentária que evoluiu da construção dos primeiros vilarejos agrícolas até a das cidades e dos grandes templos. Segundo a convicção comum, a arquitetura teria nascido como necessidade de um espaço de estar em contraposição ao nomadismo, entendido como espaço de ir. ” 4

A prática do caminhar como meio de vida, em busca de informação e alimentos se inicia como pensamento de sobrevivência, e a medida que se vai adquirindo interesses e conhecimentos, tal sobrevivência vai se transformando em prática simbólica que permite com que o homem explore territórios. O arquiteto Francesco Careri descreve, que o nomadismo se concretiza a partir das errâncias, sendo o erro uma função essencial para o descobrimento de novos territórios, resultando em uma relação direta com a paisagem vista, tendo-a como meio de orientação. Portanto, afirmar que o percurso ou a errância é detentora da arquitetura, não de uma arquitetura vista como a construção do espaço materializado – físico -, mas como uma construção simbólica da paisagem, é dizer que a arquitetura nasce do espaço vivenciado, do espaço com significado e compreendido. De tal maneira que, o ato de se perder nunca foi tão importante para a evolução humana e da arquitetura. O território portanto, é indispensável e dele podemos extrair o sentido das coisas. “Foi caminhando que o homem começou a construir a paisagem natural que o circundava. Foi caminhando que, no último século se formaram algumas categorias com as quais interpretar as paisagens urbanas que nos circundam.” 5

3. Careri, 2002, p.40 4. ibid. 5. ibid.

Passando do percurso para o espaço como resultado de descobrimento, em tempos e contextos diferentes, Careri e Norberg refletem sobre os espaços quantitativos e qualitativos, e afirmam que há uma abstração do pensamento perante o lugar. Careri diz que para o homem primitivo, o espaço era empático, irracional e casual, e se foi transformando em espaço racional e geométrico, gerado pela abstração do pensamento, passando de um espaço quantitativo a um espaço qualitativo, preenchendo vazios que o circundavam com cheios – paisa-

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gens – que serviam como orientação6. Já Norberg retrata que as cidades e as casas consistem em uma “multiplicidade de lugares” e associa o lugar em um sentido quantitativo, respondendo apenas a questões de funções – ou seja, funcionais, porém, relata que as funções por mais “similares” – como ele chama – que sejam, se dão de maneiras diferentes - mesmo as mais simples como comer e dormir -, e termina dizendo que a única saída para esse comportamento é de resgatar o “retorno das coisas” – a fenomenologia 7. Ambos arquitetos explicitam a importância do território (lugar) como meio em que o homem vive, e que aplicação de sentidos aos espaços, seja ele construído pelo homem ou pela natureza, são essenciais para a vida humana. Entretanto, parece que à medida que avançamos em sentido a uma evolução, em um determinado momento ouve uma ruptura de significado empregado nos espaços construídos pelo homem moderno. “O senhor do mundo, patrão da natureza, o homem se utiliza do saber cientifico e das invenções tecnológicas sem aquele senso de medida que caracterizará as suas primeiras relações com o entorno natural. O resultado, estamos vendo, é dramático.”8

Será que a busca incessante pelo progresso da vida em resposta às nossas necessidades se perdeu pela ganância? Ou quais são as necessidades de que tanto buscamos? Ou até mesmo, que as necessidades que tanto buscamos já não se fazem tão necessárias assim? Os questionamentos são inevitáveis à medida que não acreditamos naquilo que não nos agrada.

6. CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática estética. p.51, São Paulo: GG Brasil, 2013. 7. NORBERG, C.S. O fenômeno do lugar. In: NESBITT, K. (Org). Uma nova agenda para a arquitetura: Antologia teórica (1965-1995). São Paulo: Cosac Naify, 2008. p. 443-459. 8. BUCCI, 2010, p.23, apud BACHELARD, 2000)

Se analisarmos como a palavra abstração é colocada na fala dos dois arquitetos e teóricos, na de Careri ela é empregada como fundamental para o descobrimento de novos territórios. A falta do conhecimento, do pensamento, a errância, da sentido aos lugares. Já na de Norberg, - em um tempo mais próximo ao nosso - a abstração do pensamento atua como “espaçador” do sentido aos lugares. Contudo, a forma como intervimos e usufruímos do território, seja natural ou construído pelo homem causa certos problemas no espaço em que vivemos. A presença do homem e a travessia em um espaço não mapeado transforma a paisagem e modifica culturalmente o signi-

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ficado desse espaço e o transforma em lugar. A compreensão do espaço e paisagem vem com o menir, primeiro objeto cravado na paisagem descoberta pelo homem – fruto da errância. É o momento em que se estabelece a primeira relação de diálogo entre o natural e o artificial – a natureza e o objeto arquitetônico, os interlocutores do sentido. Se faz a criação do espaço habitado, de crenças, representações e interpretações, do sentido e da importância daquilo que nos abriga, protege e presenteia, do recebimento do corpo e mente – á vivencia. Os menires – pedra alongada -, são monumentos megalíticos do período neolítico de formatos e dimensões variáveis. O objeto é fixado verticalmente no solo, podendo estar disposto em fileiras, círculos e individualmente. Com densos significados, o erguimento e fixação da pedra do solo representa muito mais do que crenças e representações religiosas e festivas e simbólicas, ele transforma a paisagem e o significado do território. “O menir contém em si a arquitetura, a escultura e a paisagem”.9 A afirmação do local por meio do objeto ‘cravado na terra’, leva ao objeto minimalista, a land art – o campo da arte como um todo. Careri diz que a land art tende à arquitetura e à paisagem, como objeto inanimado que tem o poder de transformar o território. Para Careri, a land art, a partir da viagem de Tony Smith por uma estrada em construção na periferia de Nova York, ganha proporções e se desvincula do pequeno terreno aberto que correspondia a arquitetura - totem -, e passa a utilizar o território como objeto principal, extraindo dele a matéria e insere o corpo como ferramenta para a criação e compreensão da obra. Carl Andre, Richard Long, Robert Smithson, são alguns dos artistas dentro dos muitos outros que se dedicaram ao estudo do objeto perante a paisagem. Para Careri, a estrada é vista por Smith de duas maneiras; a estrada como sinal e como objeto sobre qual acontece o atravessamento, e a outra é o próprio atravessamento como experiência 10. Insiro nesse contexto a experiência de Smith não como um movimento e pensamento referente a arte, mas como leitura do espaço a partir do movimento, seja pelo corpo do homem ou ao objeto que lhe permite discorrer sobre o território, portanto, do percurso ao menir e do menir ao percurso. 9. Careri, 2002, p.120 10. CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática estética. p.110-122, São Paulo: GG Brasil, 2013.

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1. Menir dos Almendres, Évora. 2. New Jersey Turnpike, Tony Smith, 1950.

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3. Richard Long, Circke in alaska, 1977. 4. Carl Andre, Sixteen Steel Cardinal, 1974.

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“O segundo objetivo é compreender a inserção do percurso na história dos arquétipos da arquitetura. Nesse sentido, realiza-se uma excursão as raízes da relação entre percurso e arquitetura, e por isso entre errância e menir, numa época em que a arquitetura ainda não existia como construção física do espaço, mas que existia- dentro do percurso- como construção simbólica do território.” 11

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“O caminhar condiciona a vista e a vista condiciona o caminhar a tal ponto que parece que apenas os pés podem ver. ”12

11. Careri, 2002, p.31 12. Careri, 2002, p.110, apud SMITHSON



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derivas

09.12.18 Nesse primeiro percurso saio de casa sem definir ao certo qual rumo tomaria; ruas, pontos articuladores, busca de um local definido. Apenas sigo em direção ao quadrilátero central; área de estudo. A caminhada se inicia no Palacete Jorge Lobato (palacete 1922), na Rua Álvares Cabral. Sigo em direção Rua Américo Brasiliense, com o intuito de ir para a zona mais alta do centro, mas meu roteiro logo se desfaz, visto que decido adentrar a “feira de arte e artesanato” na praça das Bandeiras. Com suas barraquinhas organizadas em eixos paralelos, há cruzo sem muita pausa; todavia, sigo meu caminho. Continuo caminhando pela Rua Florêncio de Abreu sem rumo definido. A cada passo o alvoroço do centro e as pessoas desaparecem em meio as ruas e edifícios. Nesse instante vejo um único senhor em toda a rua; parece estar perdido, a procura de algo que nem ele mesmo sabe o que é. Nessa altura percebo que estou à procura de qualquer coisa e o questionamento da minha caminhada fica evidente; opto em fazer uma pausa. Daí em diante, sigo para a praça XV de Novembro. A medida que vou avançando, a paisagem se modifica; comércios de roupa, brinquedos, bares e restaurantes; o calçadão te mostra que o centro é a cidade, e ela – cidade, é de todos. Antes de continuar a percorrer o calçadão até seu fim, em direção à “baixada”, faço uma pausa com meu cão em um dos bancos do calçadão; estou de costas para a praça, de frente para o comércio; é um domingo ensolarado, todos estão a fazer compras para o natal, seja em um dos milhares lojas físicas ali no centro, do comércio ambulante de roupas, sapatos e acessórios, que faz do piso do calçadão sua vitrine, ou dos hippies, com suas peças que aproximam ou afastam aqueles que vem. Vou descendo e já não sei mais para onde direciono meus olhares; a multidão sobe e desce, fachadas coloridas puxam o olhar; as músicas em alto som freiam os pensamentos. Nessa altura pareço ser o “moleque” de Victor Hugo de Os miseráveis; segundo leitura do arquiteto Ângelo Bucci o moleque, “é apenas mais um que se perde no meio da multidão, mas ao se perder se encontra”.

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6. Feira de arte e artesanato, Praรงa das Bandeiras.

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5. Calรงadรฃo Rua General Osรณrio.

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10.02.19 “[...] tenha sido originalmente uma invenção sedentária que evoluiu da construção dos primeiros vilarejos agrícolas até a das cidades e dos grandes templos. Segundo a convicção comum, a arquitetura teria nascido como necessidade de um espaço de estar em contraposição ao nomadismo, entendido como espaço de ir. ”13

Iniciei esse percurso a partir da leitura de “Walkscapes – o caminhar como prática estética” de Careri. O livro intensificou-me a explorar a cidade de uma forma mais crítica. Nessa fase o tema já não é mais o mesmo do primeiro percurso percorrido em dezembro. Assim como Careri, as obras de Bruno Zevi “Saber ver arquitetura”, e Bucci “São Paulo, razões de arquitetura: Da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes”, me prepararam para uma jornada que de fato estava começando. Inicio a caminhar pela Rua Cmte. Marcondes Salgado, local de grande movimentação durante os dias de semana devido ao seu uso diversificado. Entretanto, aqui já percebo que será um dia de poucas trocas de olhares – o centro se demonstra desprovido de atividades. Sigo caminho pela Rua São Sebastião, sentido a Avenida Independência, em busca de conhecer um pouco mais está zona do quadrilátero. Ando um pouco mais de sessenta metros e meu olhar é puxado para duas empenas com mais de quarenta e cinco metros de altura que, cercam um terreno desocupado, vedado com telhas trapezoidais na cor verde, e com pequenas frestas da dimensão exata para se encaixar a retina. Decido olhar – me surpreendo. Estreito, profundo e exprimido por altos muros vizinhos que o sombreiam quase por completo. Penso que está à espera de alguém e, qualifico o sitio para uma futura intervenção. Logo me entusiasmo.

13. Careri, 2002, p.31

Sigo descendo em direção à Avenida Francisco Junqueira. A cada quadra que atravesso a ausência de pessoas aumenta, então decido me adentrar um pouco mais ao centro, sinto que por esse caminho coisas boas podem acontecer. Na Rua Mariana Junqueira, por onde continuo minha deriva, escuto o som de uma sirene e sigo em sua direção. Para mim não é apenas um alarme tocando, é um grito de socorro ensurdecedor que parece cada vez mais alto. É o cento pedindo atenção e querendo ser notado por qualquer um que passa e hoje o despreza, um pouco diferente da passagem do século XIX para o

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século XX, onde o quadrilátero vivia seu apogeu – pulmão ou coração da cidade, onde edifícios de grande valor enalteciam o centro, dando-lhe grandeza, como veremos mais à frente. Desde o início a caminhada se demonstrou uma sucessão de euforia e melancolia, mas continuo o percurso desbravando quadra a quadra em busca de momentos. Pela Cerqueira César subo em direção as imediações ao verdadeiro marco zero de Ribeirão Preto, onde hoje se encontra o atual Palácio do Rio Branco, sede da prefeitura da cidade, área de enorme valor para a formação de Ribeirão Preto como aponta Lages: “Entretanto, informam velhos moradores de Ribeirão Preto, dentre os quais o Sr. Inocêncio Celso de Abreu e o Dr. Osmani Emboaba, baseado em informes de um avô materno, Joaquim Moura de Oliveira, filho de Ribeirão Preto, falecido em 1941 com 80 anos, que mais ou menos no local da atual sede da Sociedade Recreativa (atual MARP), que já foi também sede da Câmara Municipal, existia um rancho com um altar, no qual eram feitos os batizados, isso possivelmente desde antes de 1863.”14

Estou percorrendo à pouco mais de meia hora e decido parar para fazer algumas fotos do Palácio. O descuido e abandono do Palácio, assim como outros patrimônios como também áreas de valor social, cultural e histórico são presentes nas diversas gestões que administram a cidade. O centro carrega consigo não só o abandono por parte da população como também do próprio poder público, que busca jogar uma lona em seus patrimônios, para sair em busca de novos valores. Nessa altura me encontro próximo à praça XV de Novembro. Aqui a paisagem se modifica e aos poucos, ganho companhias efêmeras ao caminhar. No meu primeiro percurso ao atravessar a praça me descrevo como o ‘moleque’ de ‘os miseráveis’, obra de Victor Hugo, como cita Angelo Bucci “é apenas mais um que se perde no meio da multidão, mas ao se perder se encontra”.

14. Lages, 2002, apud SANTOS, p.55

Nesse momento da deriva, me impulsiono a fazer um caminho simplesmente para olhar uma casa que tanto me interessa, mas antes de continuarmos no assunto da residência e de chegar até ela, mudemos um pouco. Na Rua Barão de Amazonas me deparo com um sítio que me interessa desde o início deste trabalho, mas que caiu no esquecimento de certa forma. É um terreno subutilizado, com dimensões médias. Em

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boa parcela funciona um estacionamento, e uma loja de roupa em uma porcentagem menor do lote. Esse de todos os sítios que me chamam atenção, é o que menos se destaca, pois se encontra inserido e não isolado. A rua tem um fluxo intenso de transporte público, veículos em geral e de pessoas indo de um lado para o outro. Acredito ser um espaço a me agarrar e o nomeio como segundo lote. Passado esse momento, voltemos ao assunto da casa. Se trata de uma residência na Rua Américo Brasiliense, ao lado da praça das Bandeiras. Uma casa de muro baixo com uma árvore de porte médio na sua entrada. A residência parece estar parcialmente abandonada não tem nada de extraordinário à não ser sua delicadeza que ainda mantem de pé em uma rua onde os comércios apontam ser soberanos. Faço alguns registros e continuo. Retorno ao percurso pela Alvares Cabral, e chego a praça XV. Conhecido como quarteirão paulista, zona que abriga edifícios de grande valor social, cultural e econômico para a formação da cidade - Museu de arte de ribeirão preto (MARP), edifício Cine Centenário, Palacete Albino Camargo, Palacete Camilo de Mattos, Palace Hotel, Teatro Dom Pedro II, edifício Meira Junior e edifício Diederichen. Aqui acontece um verdadeiro museu a céu aberto. Como citado no texto do percurso da exposição Diálogos não definido; “Aqui o percurso não tem início, meio e fim, é livre e precisa ser sentido, apreciado e vivenciado. A praça XV de novembro é o coração, o colo de mãe, e palco de eventos, manifestações e da vida urbana em constante movimento. ”15

15. próprio autor, Projeto Diálogos não definidos, exposição de arquitetura, 2017

Continuemos à caminhar, e por mais uma vez em um instante pragmático opto por seguir um caminho sem muitas delongas. Vou descendo a General Osório em direção à Gerônimo Gonçalves - nesse momento me surpreendo. Não dou dez passos e é uma torre de circulação de cinco pisos, sem acabamento, com suas quatro janelas empilhadas uma em cima da outra, com seus vidros despedaçados que me chama atenção. Ela faz parte de um edifício de salas para alugar, e está encostada ao edifício Meira Júnior (famoso Pinguim). Vejo uma fresta na porta e me arrisco a adentrar. Vou subindo os degraus até chegar no último andar. De lá tenho uma perspectiva que sempre me interessou, a vista direta, nesse caso não é uma vista frontal, mas se encontra em uma altura perfeita para dialogar

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7. Rua Cerqueira César, altura 500.

com aqueles edifícios intocáveis e esquecido dos olhares de quem caminha por essa área. Acredito ser aqui mais um lugar. Avançamos ao caminhar em baixo das marquises que seguem o alinhamento do Meira Júnior. Vou derivando, continuo a descer o calçadão, passo pelo Mercadão Central, retorno a subir passado pela Américo Brasiliense até chegar na Lafaiete, uma rua de fluxo intenso de pedestres e automóveis que liga os novos terminais de ônibus até a Av. Francisco Junqueira, na altura da Av. Plinio de Castro prado. Não é à toa que me refiro a essa rua citando suas extremidades – se caracterizou com uma via de passagem, tendo apenas dois pontos de permanência em toda sua extensão – as costas da Catedral metropolitana e a Praça XV de Setembro, com distância de aproximadamente seiscentos e cinquenta metros uma da outra. Mas é nessa rua que encontro o aquele que acredito ser o quarto ponto de uma possível intervenção. Assim como o primeiro, possui características similares, estreito, cumprido e vazio. Nessa altura o sol de Ribeirão já me desgasta. O olhar não permanece o mesmo. Acredito que seja a hora de parar e ir para casa.

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8. Rua Cmte. Marcondes Salgado.

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9. Palรกcio do Rio Branco.

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04.04.19 “Em meu trabalho tem que haver um procedimento, alguns interesses, algumas ferramentas. Me observo agora a mim mesmo e me conto em nove mini capítulos o que eu tenho encontrado no caminho, o que me leva a uma direção quando tento gerar essa atmosfera em minhas obras. Essas respostas são extremamente pessoais; não tenho outras. São altamente sensíveis e individuais; de fato, provavelmente são produto de sensibilidades próprias, pessoais que me levam a fazer coisas de uma determinada maneira.”15

Meu retorno ao centro para uma nova deriva parte do pensamento até agora compartilhado, da sensibilidade e da vivência do espaço como ferramenta e resposta. Compartilho do pensamento de Zumthor e nesse momento não enxergo o percurso só como objeto arquitetônico, mas também como investigativo, investigando o meio e o próprio eu. Diferente dos dois primeiros percursos ao quadrilátero, a visita agora acontece em um dia da semana e em horário de alto movimento. Dessa vez, inicio em um ponto mais alto e afastado do ‘miolo’ do centro que concentra o maior número de pessoas e usos diversos. Assim como nas demais bordas do quadrilátero – exceto na ‘baixada’, o que mais se vê na rua é a presença do automóvel, e devido ao encontro com as grandes avenidas que cercam essa zona, o caos fica por conta dos motores e não pelos corações humanos. É paradoxo pensar que tal área, resultado das primeiras expansões da cidade, contava com um cemitério que, mais tarde dava lugar as “árvores robustas, flores, fontes luminosas, coretos, multidão de vivos” (Elizia et al., 2002, p. 127-129) que se reunia para distrair e comemorar a vida e que hoje, tais distrações ficam por dentro das altas ‘muralhas’ dos edifícios verticais que desenham a paisagem típica de uma metrópole brasileira.

15. ZUMTHOR, Peter, Atmosféras, Entornos arquitectónicos - l Las cosas a mi alrededor. p. 20-21, Barcelona: GG , 2006

Por mais semelhante e característica que seja as grandes cidades, os centros urbanos por sua vez são tão carregados de informações que a cada instante te apresenta novas imagens, sensações e descobertas que jamais imaginamos. Bucci aponta que as possibilidades de convívio se perderam devido a inversão de valores e que é necessário construir a noção de habitar. O apagamento daquilo que faz parte do nosso passado nos leva a perca dos significado e sentidos aplicados, em especial no campo da arquitetura.

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“A possibilidade da explosão da imagem poética prescindindo das antecedências e precondições representaria a possibilidade de atribuição de valores propriamente humanos ao ambiente construído. Enfim, possibilitaria a existência, e resistência, do ambiente urbano como espaço realmente habitado. ”16

Volto para o percurso e decido seguir caminho em direção a Av. Nove de Julho pela Rua Mal. Deodoro. No segundo lote, ao lado direito no sentido de quem sobe, avisto um terreno com algumas paredes em alvenaria construída espalhadas, um canteiro que o circunda, marcações no solo e ferramentas típicas da construção civil, e sem nenhuma presença humana. A primeiro momento, imagino a construção de mais um empreendimento residencial vertical, porém, percebo que não. Se trata de uma instituição de ensino voltada para a formação profissional destinada a mão de obra na construção civil. Fico pensando, e imagino quantas paredes foram erguidas e destruídas, quantas janelas e portas foram instaladas e arrancadas depois de um curto tempo, dando lugar a novas instalações. Um ciclo em direção única, com início, meio e fim sem colocar em discussão, mas de certo modo uma construção sem fim, e isso me intriga. Continuo a dobrar as esquinas, e não leva muito tempo, avisto uma loja de antiguidades. Logo na porta vejo uma chapa de aço cortada e dobrada que formam figuras geométricas. Adentro a loja e pergunto ao senhorio: -Está à venda essa peça? E ele responde: -Sim, está à venda, ela é de um artista famoso. E torno a perguntar: -Onde à encontrou, e como conseguiu? E o senhorio responde: - Encontrei na cidade de Petrópolis, em um ‘antiquado’ Me interesso pela peça e pergunto seu valor e ele responde que seu custo é de 4.000,00 R$. Nesse momento percebo que tal objeto tem nome e identidade. Se parece com as peças de Amílcar de Castro, artista e escultor Brasileiro do século passado. Tal situação mostra que as descobertas podem vir a qualquer momento, só precisamos estar dispostos a ‘garimpar’ o meio que vivemos em busca de novas imagens. 16. Bucci, 2010, p.24

Continuo meu percurso vagando em busca de imagens,

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sons, cheiros, pessoas e espaços. Avisto uma casa modernista com um jardim na esquina, um edifício com traços art decó, algumas construções e muitos edifícios verticais que criam pequenas ilhas dentro de si, a fim de tentar proporcionar aquilo que já supostamente não encontram na cidade. Quando percebo, meus passos estão indo em direção ao tal ‘miolo’. É inevitável, parece que existe um fascínio, um magnetismo que te puxa, e quando vejo, já estou em frente ao Cine Cauim, na Rua São Sebastião, uma rua com um dos maiores fluxos de pedestres e veículos. Aqui, não só a paisagem, mas os diversos sons e usos, e o fluxo são intensos e bem diferentes do restante. Continuo minha caminhada e me dirijo ao quarteirão paulista. Apenas faço alguns registros fotográficos e sigo a diante passando pelo Theatro Dom Pedro II, ao Centro Cultural Palace, e a Biblioteca Altino Arantes. Dou uma pequena pausa e observo do terreno ao lado os operários trabalhando no ‘restauro’ da biblioteca. Sinto uma mistura de sentimentos ao vê-la abandonada, assim como muitos outros patrimônios da cidade, e por isso decido sair dali e avançar. Nessa altura, sinto que o percurso já está para acabar, e decido encerrar em direção ao Palácio do Rio Branco. Nesse ponto a presença dos automóveis novamente ganha destaque e em diante a história se repete. Ando cerca de três quadras e então o calor intenso de Ribeirão me induz a encerrar a deriva.

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10. Praรงa VII de Setembro. 11. Rua Campo Salles, altura 1169.

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12. Rua Campo Salles, altura 1169. 13. Marquise do Cineclube Cauim, Rua São Sebastião.

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14. Calรงadรฃo da Rua Tibiriรงa. 15. Rua General Osรณrio.

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mapa 1 - percurso 09.12.18 percurso representado por uma linha pontilhada com inĂ­cio em frente ao Palacete Jorge Lobato (1922), na rua Alvares de Cabral. percurso, 2.640 mts

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mapa 2 - percurso 10.02.19 percurso representado por uma linha pontilhada com início na rua Cmte. Marcondes Salgado, próximo ao Casarão Murdocco. percurso, 3.280 mts

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mapa 3 - percurso 04.04.19 percurso representado por uma linha pontilhada com início na Praça Sete de Setembro. percurso, 3.300 mts

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mapa 5 - combinação a união dos três percursos realizados com espaçamento de 2 meses revela o movimento do corpo no território. percurso total, 9.220 mts

09.12.18 10.02.19 04.04.19

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continuidade


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cidade e suas possibilidades

A palavra continuidade é sinônimo de vida e morte, na lógica de permanência. Se aplicada à forma, continuidade se traduz em linha, respectivamente em horizonte, paisagem, desbravamento do território. Em arquitetura, horizontalidade, verticalidade, em cima, para baixo, esquerda e direita, meio, fim e recomeço, entrar e sair, ou seja, resulta em momentos. A cidade, por sua vez, nasce e se mantem viva devido a essa continuidade que possibilita instantes e sentidos positivos e/ ou negativos, mesmo sabendo que para cada ser humano, a cidade possui significados diferentes – e aí está sua graça -, portanto, a cidade, se traduzida em vocábulo se torna possibilidades – há continuidade de possibilidades, de se criar, recriar, viver e reviver momentos. Tal compreensão se dá pela consciência de vivência do ‘espaço cidade’, não cabendo uma única definição concreta do seu significado. “[...]. Na verdade, o mundo vivenciado está mais próximo da realidade dos sonhos do que de qualquer descrição cientifica. A fim de distinguir o espaço vivenciado do espaço físico e geométrico, podemos chama-lo de espaço existencial. O espaço existencial e vivenciado estrutura-se na base dos significados, intenções e valores refletidos sobre ele por um indivíduo, seja de modo consciente, seja inconsciente; assim o espaço existencial possui uma característica única interpretada por meio da memória e da experiência do sujeito. ” 17

Em Metamorfoses do espaço habitado, Santos nos apresenta a definição de cidade a partir da visão do fisólofo Sorre. [...] “uma aglomeração de homens mais ou menos considerável, densa e permanente, altamente organizada, geralmente independente para sua alimentação para sua existência uma vida de relações ativa, necessária à mantença de sua indústria, do seu comércio e das demais funções”. Continuando, Santos mostra o pensamento do filósofo George sobre a cidade “formas de acumulação humana e de atividades concentradas, próprias a cada sistema econômico e social, reconhecidas a partir dos fatos de massa e arquitetônico”.18

17. BUCCI, 2010, p.23, apud BACHELARD, 2000 18. SANTOS, Milton, Metamorfoses do espaço habitado, 1959ª, p. 9 19. Pallasmaa, 2002, p. 25

Pallasmaa no entanto, aponta que a cidade é onde as trocas de experiência acontecem, no qual, o dar e receber se fundem. “[...] à medida que me assento em um espaço, o espaço se assenta em mim. Vivo em uma cidade e a cidade vive em mim. Estamos em constante intercâmbio com nossos entornos”.19 Portanto, que a ideia de cidade é variável e interdisciplinar,

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ganha definições de modo em que o tema é debatido, seja no âmbito político, social ou qualquer outro, a sua pluralidade se torna singular na visão de cada indivíduo. Dessa forma, a cidade se concretiza com a presença do homem. Podemos então considerar que a ideia de cidade ganha força e significado na coletividade – coletividade humana e de tudo aquilo que a define, se identificado por palavras, cidade é paisagem e espaço habitado. “Essa cidade que não se elimina da cabeça é como uma armadura ou um retículo em cujos espaços cada um pode colocar as coisas que deseja recordar: nomes de homens ilustres, virtudes, números, classificações, vegetais e minerais, datas de batalhas, constelações, partes do discurso. Entre cada noção e cada ponto do itinerário pode-se estabelecer uma relação de afinidades ou de contrastes que sirva de evocação à memória. ” 20

Se aproximando do nosso contexto, Bucci, diferente dos demais, nos apresenta a cidade, em especial São Paulo, com outra perspectiva. Para o arquiteto, a violência presente no cotidiano do espaço urbano, informa padrões de comportamento da sociedade, e a forma como nós nos relacionamos com o ambiente urbano, acarretando em um processo de inversão de valores – como já citado no texto da deriva 05.04.19 – e acaba por colocar em crise a própria ideia de cidade, consequentemente, põe em crise o propósito da arquitetura, respingando diretamente na formação do arquiteto, pois aqui, a violência passa a atuar como norma, e extrapola os espaços públicos e invade pelas portas e por entre as frestas os nosso abrigos mais íntimos – nossa casa. Bucci ainda questiona “como podemos propor projetos em uma cidade que parece já ter perdido o sentido?”

20. CALVINO, Ítalo. As Cidades Invisíveis. 2º edição, São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p.19

No caso de Ribeirão Preto, como cidade em estudo, o pensamento de Bucci resulta tanto na violência, como na forma de se pensar a cidade, e abre margem para que o mercado imobiliário entre de maneira profunda na consciência da sociedade, configurando então em alguns fenômenos urbanos. A interferência da violência na cidade por exemplo, modifica a maneira como as pessoas as pessoas à utilizam. Segundo o Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento de Delinquente (Ilanud), 50% dos moradores das capitais brasileiras evitam sair à noite com medo de serem assaltados; 38% não circulam por algumas ruas que consideram perigosas, e 24% modificaram o percurso até o trabalho

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afim de poupar locais duvidosos. Em Ribeirão, a área central passa hoje por uma degradação e desvalorização que tange tanto da violência, quanto a uma série de fatores que contribuem para o afastamento da população com a cidade. Continuando com o significado, continuidade de possibilidades, arrisco em definir Ribeirão Preto a partir daí, em especial, seu centro, onde tudo começou, e assim por dizer, começou de maneira calorosa. Foi na justiça onde aconteceu o alvoroço, a divisão de terras devido a legitimidade em nome dos proprietários. Se fizermos uma analogia com Caim e Abel, filhos de Adão e Eva, à uma semelhança se considerarmos a questão do território como necessidade de mover-se e para viver, a presença do homem na demarcação da terra, portanto é um conflito antigo. De tal modo, a cidade tende a gerar conflitos desde sempre, de diversas escalas, assuntos e meios - seja conflitos de interesses por terras, conflitos urbanos entre a cidade e tudo que a compõe; mobilidade, urbanização, infraestrutura, atividades, enfim, diversos antagonismos que acabam por resultar em fenômenos sociais, culturais e econômicos. A também os conflitos entre humano e cidade, esse gerado por desentendimento maiores como dito acima ou conflitos internos – pessoais. Que a presença do homem no território como afirmação de presença, - espaço habitado - existe não temos dúvida, tão pouco a afirmação do local como ato simbólico, religioso, representativo, a partir do objeto. O menir, antes utilizado como pedra alongada, no caso de Ribeirão se apresenta como outro tipo de material e forma – a capelinha de pau-a-pique, como cita Lajes. “[...]resolveu construir uma tosca capelinha, de pau-a-pique, coberta de palha. Estes mineiros e paulistas eram mesmo muito religiosos. Mas onde ficava esta ermida? Na atual praça Barão do Rio Branco, ao lado do Palácio Rio Branco (sede da Prefeitura Municipal), ocupando o lugar do prédio de nº 342, conforme opinou o pesquisador Pedro Miranda. Outros pesquisadores afirmam que ela ficava aos fundos do terreno onde hoje se situa o Museu de Arte de Ribeirão Preto (MARP), antiga sede da Sociedade Recreativa. Isso, com certeza, antes de 1856.” 21 21. (LAGES et al., 2002, p. 63-64)

Porém, o ano que marca a “fundação” da cidade ainda é um assunto colocado em discussão, e a forma como à originou

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não é o interesse maior, portanto, seguimos adiante em uma leitura mais dinâmica e rasteira sobre as ações do homem no território. Assim como em muitas cidades, a produção cafeeira nas terras paulistas foram responsáveis por atrair as diversas movimentações na região, mas é com a chegada da ferrovia que a mudança dos moradores da zona rural em direção as cidades se potencializa. Tais movimentações no caso de Ribeirão, aconteceram principalmente na área central. Com isso, mais uma vez a continuidade ou melhor dizendo aqui, o deslocamento provoca, da origem e significado para o território, em consequência a criação de equipamentos, e o seu desenvolvimento acontecem de forma espontânea. Novamente podemos citar o pensamento de Careri. “O caminhar tem produzido arquitetura e paisagem[...]”. Assim, o centro se apresenta como o meio mais forte por natureza e se enriquece a partir da sua utilização, e é pelo interesse do significado do território e a relação do espaço com o homem que partiremos daqui em diante, afim de tentar entender o fenômeno “lugar” e suas leituras.

15. Santos, 1959ª, p. 9, apud, Sorre, p. 63, 1996 16. Santos, 1959ª, p. 9, apud, George, 1996 17. Pallasmaa, 2002, p. 25

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16. MercadĂŁo Municipal de RibeirĂŁo Preto, simbolo de democracia.

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mapa 5 - 1872 após a instalação da capelinha entre o cruzamento dos córrego ribeirão e retiro saudoso, um arraial começa a surgir em torno da capela.

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mapa 6 - 1884 em 1883 a companhia mogiana chega em ribeirão preto com uma estação provisória, com isso moradores da zona rural se mudam para a cidade se instalando nas ruas e nos terrenos mais próximo.

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mapa 7 - 1911 no século seguinte a cidade ja está formada e conta com escolas públicas, o cemitério da saudade e com a presença do automóvel, que chega na cidade em 1907.

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mapa 8 - 1949 em 1949 a cidade ja passou por uma das maiores enchentes, conta com edificios importantes como o teatro pedro ll, edĂ­ficio diederichsen, entre outros e com o incĂŞndio que destruiu totalmente o mercadĂŁo municipal da cidade.

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mapa 9 - topográfia a geografia do território se apresenta como uma cavidade em duas direções dividida pelo córrego retiro e ribeirão preto.

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mapa 10 - gabarito e ocupação densidade de ocupação e altura dos edifícios são relevantes para o estudo da paisagem que compõem o território.

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edifícios notáveis edifícios de arte e cultura 1. teatro dom pedro II 2. centro cultural palace 3. edifício meira junior (pinguim) 4. banco safra

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5. biblioteca altin arantes 6. palacete camilo de mattos 7. marp 8. cine centenário 9. edifício diederichsen 10. edíficio padre euclides 11. edifício agulhas negras 12. palacete jorge lobato (1922) 13. catedral metropolitana 14. palácio episcopal 15. casa da memória italiana 16. 17. cine clube cauim 18. palácio do rio branco 19. edifício ida 20. sesc 21. escola fábio barreto 22. centro popular de compras 23. mercadão municipal 24. rodoviária de ribeirão preto 25. armazém da baixada mapa 11 - edifícios de arte e cultura + notáveis o centro conta com poucos espaços voltado a cultura e ao lazer, e edíficios de grande valor para a cidade, entretanto, boa parte estão em mal estado e abandonados.

26. cervejaria paulista (estúdio kaiser) 27. memorial da classe operária (ugt) 28. tpc 29. tpc 30. casarão murdocoo

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mapa 12 - percrso sobre 2019 a combinação dos percurso sobre a malha atual do quadrilåtero central.

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distâncimento


lugares

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Talvez, nessa altura, seja o momento de maior inquietude e aspiração, acreditando ser a palavra “lugar” – como diz no próprio título, porém no plural – a fonte de toda sustentação entre o que passamos até o momento; a ideia de lugar deu início a partir da presença do corpo e mente humana em um determinado território, originando a própria arquitetura, e o que virá a seguir; o fenômeno lugar, “como produto da atividade humana, e como ambiente que configura as atividades humanas.” 22 Em vocabulário (p.09) a palavra lugar é definida como: 1. Espaço ocupado, ou que pode ser ocupado por um corpo; 2. povoação; localidade; 3. cargo; 4. ordem; posição; 5. classe; 6. ponto de observação; 7. trecho de livro; 8. circunstâncias especiais; 9. destino. Algumas dessas definições assim como o próprio sentido da palavra, estão presentes na arquitetura. Norberg diz que a vida cotidiana consiste em “fenômenos” concretos: “[...]Pessoas, animais, flores, árvores e florestas, pedra, terra, madeira e água, cidades, ruas e casas, portas, janelas e mobílias, no sol, na lua e nas estrelas, na passagem das nuvens, na noite e no dia, e na mudança das estações. Mas também compreende fenômenos menos tangíveis, como os sentimentos.” Norberg ainda afirma que devido a sua dimensão e variável - fenômenos naturais e fabricados pelo homem - tais fenômenos podem compreender outros “A floresta compõe-se de árvores e a cidade é feita de casas”. 23

22. KARSTEN, H. A função ética da arquitetura In: NESBITT, K. (Org). Uma nova agenda para a arquitetura: Antologia teórica (1965-1995). São Paulo: Cosac Naify, 2008. p. 424-4427. 23. 7. NORBERG, C.S. O fenômeno do lugar. In: NESBITT, K. (Org). Uma nova agenda para a arquitetura: Antologia teórica (1965-1995). São Paulo: Cosac Naify, 2008. p. 443-459. 24. ibid. p.449

Com isso, o teórico afirma que os fenômenos, agrupados ou não formam um ambiente, ou seja, um lugar. Portanto, a localização como único elemento de identidade de um lugar não representa em sua totalidade o seu caráter, apenas o associa à um dado geográfico. Para Norberg, o lugar é constituído de coisas concretas substanciais, e essas definem a qualidade ambiental que é a essência do lugar, em outros termos, é aquilo que lhe dá caráter e significado e o torna singular. O filósofo então garante que o fenômeno do lugar resulta em sua estrutura que deve ser apontada como “paisagem” e “assentamento”, e analisadas por categorias como “espaço” e “caráter”, e define: “Enquanto espaço indica organização tridimensional dos elementos que formam um lugar, o caráter denota a “atmosfera” geral que é a propriedade mais abrangente de um lugar”. 24 Nesse sentido, Norberg define que “paisagem” e “assentamento” possuem ligações, de modo que tudo que fica encerrado se torna um centro, e é definido por uma fronteira, como afirma Heidegger “a fronteira não é aquilo em que uma coisa

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termina, mas como já sabiam os gregos, a fronteira é aquilo de onde algo começa a se fazer presente. Podemos então seguir o pensamento de Heidegger e afirmar que todo espaço detém algumas fronteiras como o chão, a parede e o teto, assim, fenômenos apresentados como limites, ou seja, início. “[...]. É importante assinalar que geralmente todos os lugares possuem um caráter, e que essa qualidade peculiar é a maneira básica em que o mundo nos é dado. Até certo ponto, o caráter de um lugar é uma função do tempo; ela muda com a estações, com o correr do dia, e com as situações meteorológicas, fatores que, acima de tudo determinam diferentes condições de luz. O caráter é determinado pela constituição material e formal do lugar. Devemos então perguntar como é o solo em que pisamos, como é o céu sobre nossas cabeças, ou de modo mais geral, como são as fronteiras que definem o lugar. ” 25

Como já dito, não há uma definição única de significado de lugar e o caráter a ser empregado no desenvolvimento da arquitetura. Se acredita que nesse sentido de “não definição” é onde as possibilidades ganham sentido - e por isso o centro da cidade como área de estudo. Assim, se considerarmos o lugar como ponto de partida, também, ponto de chegada – o descobrimento, esse, não tem que ser visto como uma área que possui informações quantitativas – largura e comprimento, metragem quadrada, suas taxas de ocupação e aproveitamento, localização e etc., isso é consequência, é necessário extrair suas possibilidades, potenciais, relações e diálogos, enfim, compreender sua identidade e trazer identidade a si, inserindo a presença do corpo do homem no jogo, e seus respectivos sentidos. Zumthor descreve que quando vemos uma pessoa pela primeira vez obtemos uma primeira impressão, logo, tal pensamento acontece igual na arquitetura. Ao entrarmos em um edifício, olhamos o espaço e percebemos a atmosfera e em décimos de segundo temos uma sensação do que é. 26

25. ibid. p.451 26. ZUMTHOR, Peter, Atmosféras, Entornos arquitectónicos - l Las cosas a mi alrededor, Barcelona: GG , 2006

A atmosfera que Zumthor descreve, se conecta simultaneamente com a mente e o corpo humano através da sensibilidade, e é a partir dessa relação que Zumthor aponta a explicação para o desenvolvimento de sua arquitetura, transformando e aplicando observações e suas experiências durante seu caminho - ‘pensamentos atmosféricos’ – em procedimentos e instrumentos para gerar a atmosferas em suas obras (p.30 na deriva 04.04.19).Portanto, a partir do “espaço vivenciado” onde ele se auto insere no espaço, serve como alicerce para se gerar uma arquitetura que se aproxima do corpo humano.

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Zumthor procura, então, suscitar novamente as emoções sentidas, recuperando nos projetos recentes os elementos que compõem as antigas memórias Diante da leitura de Atmosferas, o arquiteto cita nove pensamentos que deixa explicito a importância de tratar arquitetura como um processo, evidenciando que o experimento é uma das partes chaves do resultado do pensamento e da obra. Diante dessas nove respostas que Zumthor cita, extremamente sensíveis e individuais, frutos da sensibilidade própria do arquiteto, vejo a oportunidade de agarra-las para estudar, ensaiar, argumentar, me apropriar, para que possa expandir e intensificar meus pensamentos. A seguir, apresento aqui as nove “atmosferas”, juntamente com uma sequência de imagens retiradas do seu livro como forma de revelar e registrar a influência do seu pensamento neste trabalho. 65

1. o corpo da arquitetura 2. a consonância dos materiais 3. o som do espaço 4. a temperatura do espaço 5. as coisas que me rodeiam 6. entre a serenidade e a sedução 7. a tensão entre interior e exterior 8. degraus de intimidade 9. a luz sobre as coisas


17. ResidĂŞncia dos estudantes, Hans Baumgartner, Zurique, 1936.

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18. Termas de vals, Peter Zumthor, Schweiz, 1996. 19. Maquete do Centro de formação e um parque junto ao lago Zug, Peter Zumthor.

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20. Interior da Capela de campo Bruder Klaus, Peter Zumthor, Mechernich, 2007.

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21. Amostra do solo de chumbo, Capela de campo Bruder Klaus, Peter Zumthor, Mechernich, 2007.

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22. PavilhĂŁo do som, Peter Zumthor, Hanover, 2000.

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23. Villa Sarabhai, Le Corbusier, Ahmedabad, 1951.

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24. Cortinas de seda de Koho Mori, Casa Zumthor, Peter Zumthor, 2005.

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25. Vila rocca, Vicenzo Scarnozzi, Pisana, 1575. 26. AdĂŠga domĂ­nio de pingus, Peter Zumthor, Valladolid, 2003.

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27. Museu de art kolumba, Peter Zumthor, ColĂ´nia, 2007 .

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28. Villa Rotonda, Andrea Palladio, Vicenza, 1550.

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sentimentos, memórias e imaginação

Esse subcapitulo assim como o anterior, é de suma importância para a reflexão do tema, e como todo o conteúdo apresentado até o momento. O capitulo e o subcapitulo anterior são a base para se iniciar a discussão. O assunto iniciado no momento poderia estar adjunto com o anterior – lugares -, pois aqui, o lugar é de onde tudo acontece. Entretanto, optei por dividi-los, acreditando ser a melhor forma para se discutir algo mais íntimo. O nome dado ao título se baseia nos textos elaborados pelo arquiteto Juhani Pallasma, que em muitos de seus escritos, evidência a presença do homem na arquitetura, apresentando como coordenada o pensamento de que a arquitetura se faz em sua dimensão maior quando revela a presença do homem. Assim, textos como “arquitetura como jogo de formas”, “arquitetura das imagens”, “eidos da arquitetura”, “arquitetura sem arquitetos”, arquitetura e a memória”, “ espacialidade e a implantação da memória”, “o mundo vivenciado”, “memória corporificada”, “amnésia arquitetônica”, “tatilidade e materialidade e luz”, “o valor da incerteza”, dentre outros, é por onde permearemos adiante. Por que tão poucas construções modernas tocam nossos sentimentos, quando qualquer casa anônima numa velha cidadezinha ou o mais despretensioso galpão da fazenda nos dá uma sensação de intimidade e prazer? Por que as fundações de pedra que descobrimos num campo de mato crescido, um celeiro desabado ou um hangar abandonado despertam nossa imaginação, enquanto as casas em que moramos parecem sufocar e reprimir nossos devaneios? As construções de nosso tempo talvez despertem curiosidade pela ousadia e criatividade, mas dificilmente provocam uma percepção do significado do mundo ou de nossa própria existência. ” 27

27. PALLASMAA, J. A geometria do sentimento: um olhar sobre a fenomenologia da arquitetura fenômeno do lugar. In: NESBITT, K. (Org). Uma nova agenda para a arquitetura: Antologia teórica (1965-1995). São Paulo: Cosac Naify, 2008. p. 482-489. 29. PALLASMAA, 2018, p.17, apud BRODSKY, 1997, p.43

Tal empobrecimento do significado aplicado na arquitetura, seus sentidos, a falta de diversidade elevada em seu mais alto nível, a coerência que Zumthor cita, de fato, será que estamos enfrentando uma crise na arquitetura, ou uma dificuldade de entender e compreender um pouco mais os seres humanos assim como nós mesmo? Brodsky, confirma esse pensamento “[...]para a imaginação, é mais fácil invocar a arquitetura do que os seres humanos”.29 Zevi em seu livro Saber Ver a Arquitetura, nos relata aquilo que ele denomina como A ignorância da arquitetura, um pensamento crítico direcionado para produção da arquitetura, onde para ele à um desinteresse tanto por parte dos arquitetos que produzem arquitetura de fato, como tam-

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bém para críticos da área e a própria mídia. Para Zevi, o desinteresse pela arquitetura está em uma possível “interpretação clara e válida da arquitetura”, e é inerente à “natureza humana. ” 30 “[...] a permanência da mentalidade romântica que, anulando o espaço e a matéria, se fundamenta no fragmentarismo psicológico, na incapacidade de síntese e de atuação, no gosto pelo que é efêmero, incompleto, em vias de formação, e pelo que é avesso a tudo o que, como um edifício, está inteiramente realizado.” 31

Adiante, Zevi nos aponta uma característica na qual a “arquitetura” se prolifera na sociedade, assim como em qualquer outra área. A forma como lidamos com os edifícios, são apreciados como se fossem esculturas e pinturas, ou seja, superficialmente, apenas seu invólucro. Se a arquitetura não é simplesmente uma combinação de formas geométricas, e sua própria composição formal, qual seria seu significado? Pallasmaa relata de uma forma mais curta e enfática, que a arquitetura tem sido dominada pelo apreço daquilo que é novidade, ou seja, daquilo que é novo, instantâneo, de se consumir e logo esquecer, uma arquitetura do consumismo. Para o arquiteto, a tecnologia, por exemplo, está mais presente do que nunca, e vem ditando o ritmo de se pensar arquitetura, ou talvez de não se pensar a arquitetura na sua abrangência. Pallasmaa diz que a arquitetura se afastou progressivamente das suas intenções e de seus antecedentes, e que cada vez mais é determinada por suas próprias regras e sistemas de valores, associando o formalismo – jogo de forma como ele descreve – a o sentido visual, e que a experiência da arquitetura vem sendo negligenciada dia após dia. 32

30. ZEVI, Bruno, Saber Ver a Arquitetura, São Pualo, WMF Martins Fontes , 2009. p.1-17 31. ibid. p.219 32. Pallasmaa. 1986, p.482-489 33. PALLASMAA, Juhani, Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos, Porto Alegre, Bookman , 2011. p.1519

A supremacia da visão perante aos demais sentidos é clara, e muito se deve a evolução tecnológica e sua presença no mundo. Na opinião de Pallasmaa, a visão é o único sentido que consegue acompanhar a evolução da tecnologia. Entretanto, vem nos reprimindo e afastando os outros sentidos. “O único sentido que é suficientemente rápido para acompanhar o aumento assombroso da velocidade do mundo tecnológico é a visão. Porém, o mundo dos olhos está fazendo com que vivamos cada vez mais em um presente perpétuo, oprimidos pela velocidade e simultaneidade” 33. Contudo, Pallasmaa ressalta que é importante analisar criticamente o papel da visão em relação aos outros sentidos, principalmente no campo da arquitetura.

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“Acho apropriado desafiar a hegemonia da visão – o privilégio dos olhos dado pela nossa cultura. E acho que precisamos examinar de maneira muito crítica o caráter da visão que atualmente predomina em nosso mundo. Precisamos urgentemente de um diagnóstico da patologia psicossocial da visão cotidiana – e de uma compreensão crítica de nós próprios como seres visionários. ” 34

De fato, a visão é o sentido do corpo humano que mais está presente no cotidiano e na arquitetura devido à sua singularidade. Porém, devido à sua grandeza, a visão pode acabar por prejudicar os demais sentidos e bloquear emoções. A visão tem esse poder – de cegar – e minimizar as possibilidades de se absorver um espaço, um lugar, um momento entre outros, por isso a importância de permitir enxergar tais circunstâncias de outra forma é essencial para a compreensão e formação do que podemos chamar de momentos versados – ou seja, como já dito no âmbito da arquitetura, momentos vivenciados. A visão ainda tem um papel grandioso no que diz respeito a consciência humana. Pallasmaa diz que a edificação tem o papel de materializar e preservar a passagem do tempo, e “entendemos e lembramos quem somos por meio de nossas construções tanto materiais como mentais”, e conclui “aquele que não consegue se lembrar, tem muita dificuldade para imaginar, pois a memória é o solo da imaginação. A memória também é o terreno da identidade pessoal: somos o que lembramos. ” 35 A partir desse pensamento, tentaremos explorar a arquitetura de um modo mais presente, com corpo e mente, afim não de encontrar uma resposta certa do significado do que é arquitetura, mas com um pensamento mais distante de teorias e do ensino vinculado as formas - como Pallasmaa mesmo sugere em um de seus textos -, mas sim, a partir de imagens e de sentimentos básicos que unificam o homem e o espaço a partir da experiência de estar presente.

34. PALLASMAA, 2011, p.17, apud LEVIN, 1993, p.205 35. PALLASMAA, Juhani, Essências São Paulo, GG , 2018. p.15-19 36. ibid. p.9

“Penso que as experiências tocantes da arquitetura surgem de memórias e significados bioculturais secretos e préconscientes, bem como de encontros existenciais e ressonâncias, em vez de uma estética puramente visual. Essas características poderiam ser chamadas de ‘essências arquitetônicas’.” 36

Que a visão tem um papel fundamental na ativação da memória, lembranças, imaginação e fantasias não à duvidas,

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29. Os amantes, Rene Magritte, 1928.

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[29]


entretanto, não recordamos visualmente de imagens, exatas de acontecimentos passados. Odores, toques, sensações marcantes que nos penetram, e daí vem as lembranças, como sugere Pallasmaa: “Já escrevi sobre minhas próprias memórias da humilde casa de campo do meu avô e ressaltei que a casa da memória de minha infância é uma colagem de fragmentos, odores, condições de luz, sensações especificas de fechamento e intimidade, mas que raramente são recordações visuais precisas e completas. Meus olhos já esqueceram o que viram outrora, mas meu corpo ainda se lembra.” 37

A vivência é sinônimo de lembranças, fantasias e imaginação, e é na época de infância, quando ainda tudo é brincadeira que as memórias são mais suscetíveis de esquecimento, porém, com altas energias emocionais. As lembranças nem sempre tão exatas nos proporcionam admiração do período que muitos gostariam de viver até os últimos dias de vida. A seguir, os meus primeiros escritos produzidos no ano de dois mil e dezoito, são baseados nas memórias resgatadas a partir do simbolismo presente em alguns lugares no qual, corpo e imaginação, por um determinado momento existiram, despertando então o interesse em investigar a relevância da memória afetiva, do sentimento e da imaginação. Tais escritos não descrevem o território vivenciado durante a infância e adolescência, mas sim apresentam os artefatos (miradouro, piscina, jardim) que marcaram uma trajetória e que se tornaram ativadores da memória que desencadeiam as inquietações e desejos atuais.

37. ibid. p.19

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observar, miradouro 26/05/2018

se me vejo em um espaço novo sinto a necessidade de explorar, de conhecer. Muitas das vezes nem sei onde estou, mas continuo a andar, vou observando tudo que está a minha volta, mesmo que seja uma pequena observada, algo me encanta e canta ao meu ouvido, sempre sozinho. É engraçado, vou observando, mas acho que estou sendo observado, talvez pelos pássaros que sobrevoam ou que descansam e observam tudo lá de cima, seja da fiação elétrica, da copa da árvore, do telhado da casinha, ou em um esconderijo secreto. queria eu poder olhar tudo de cima, cara a cara, claro, sempre sozinho. Mas não se engane, a solidão é temporária, o caminho me leva a multidão pessoas, ou a meia dúzia de amigos, e até mesmo ao encontro de uma pessoa se quer. Enquanto isso vou caminhando e percorrendo ruas rodeadas de prédios que me guiam a cada esquina que viro, e a cada praça que cruzo. Mal sabe eles que os desejo e os invejo, mal sabe eles que poder olhar de cima te mostra o quão tudo é grande e como somos nada. Um infinito azul, o verde denso, o horizonte como lugar mais desejado.

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respirar, jardim 26/05/2018

na verdade, eu gostaria de voltar a ser criança, deitar na grama, me desligar desse caos todo e só imaginar desenhos nas nuvens. Gostaria de sentar na cadeira de praia colocada em cima da relva rasteira e não em bancos desconfortáveis, onde se pisa no chão de concreto, sem ao menos poder tirar o chinelo, me sentir em paz e novamente observar. de um jardim não tenho muito a falar, pois sou suspeito, assim como todos que um dia deitaram na grama. Para mim é indiferente qual jardim estou, seja no Campo de Marte em Paris, no Jardim da Torre de Belém em Lisboa, no Parque Bicentenário em Santiago, ou no jardim da Casa 2 da Chácara Santa Terezinha na avenida Pio XII.

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sentir, piscina 25/05/2018

necessidade de sentir, de tocar, de estar dentro e fora, de tocar, nem que seja só com a pontinha do pé, ou até mesmo só olhar. Olhar com admiração e intriga, como pode ser tão leve, fluida, de uma sensibilidade sem tamanho, seja por isso que é o líquido da vida. A cada gota que cai do céu, que toca nossos corpos, o alivio de todos os problemas. Quem nunca teve o desejo de correr na chuva que atire a primeira pedra, mas que seja no rio, na lagoa, no mar ou até mesmo na piscina, assim vamos ver quem joga a pedra mais longe no líquido da vida. Tudo é brincadeira, tudo se torna sorriso, que engraçado. já pensei em ser um pássaro, mas acho que me tornaria um peixe simplesmente por viver na água. Viver a água não, pensando bem seria um surfista, assim conseguiria sentar na minha prancha e observar o horizonte sem fim, a praia e as pessoas, e o morro lá no fundo bem distante, assim como as praias são de ribeirão. Vai ver seja esse o desejo de me mudar...

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30. Sobrevoo sobre a cidade de CĂşcuta, COL, 2017.

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30. Theatro Dom Pedro II, Edifício Diedesrichen e Casarão Murdocco.

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31. Jardim na casa 02, Chรกcara Sta. Terezinha, Ribeirรฃo Preto.

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32. Jardim da chรกcara Sta. Terezinha.

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33. Chuveirada.

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[33]


34. Laguna Cejar, CL, 2018. 35. Oceano Atlântico e Forte de São João Batpista, 2016. 36. Menino brincando na água, Sesc 24 de Maio, Paulo Mendes da Rocha, 2019.

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“A experiência de um lugar ou espaço sempre é uma troca curiosa: à medida que me assento em um espaço, o espaço se assenta em mim. Vivo em uma cidade e a cidade vive em mim. Estamos em um constante intercâmbio com nossos entornos; internalizamos o entorno ao mesmo tempo que projetamos nossos próprios corpos – ou aspectos de nossos esquemas corporais – no entorno. Memória e realidade, percepção e sonho – tudo se funde.” 38

O raciocínio de Pallasmaa exemplifica meu pensamento, e afirma que a memória pode ser gerada a partir do corpo, gerando experiências multissensoriais, e não somente da imagem que deriva da visão. O filósofo Maurice Merleau ressalta que as percepções coletadas se dão de forma integrada nos âmbitos sensoriais: “Minha percepção não é uma soma de dons visuais, táteis e auditivos: eu percebo em uma maneira total com todo o meu ser – percebo uma estrutura única da coisa, uma maneira ímpar de ser, que fala a todos os meus sentidos ao mesmo tempo.” 39 Pallasmaa acredita que os lugares e edificações são sentidos como experiências multissensoriais, pois “o confrontamos com todos os nossos sentidos de uma só vez e o vivenciamos como parte do nosso mundo existencial. ” Edifícios, casas e qualquer obra arquitetônica ou de arte possui características auditivas, táteis, olfativas e gustativas que conferem a nossa percepção visual, diz Pallasmaa. 40 Ainda na abordagem da supremacia da visão sobre os demais sentidos, se acredita que a experiência multissensorial acontece no momento em que colocamos nosso corpo no centro, a fim de extrair daí uma experiência corporal. Pallasma, baseado na teoria de Merleau, descreve “as experiências sensoriais se tornam integradas por meio do corpo, ou melhor, na própria constituição do corpo e no modo humano de ser. ” 41 38. PALLASMAA, Juhani, Essências São Paulo, GG , 2018. p.23 39. ibid. p.9 40. ibid. p.56-58 41. PALLASMAA, Juhani, Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos, Porto Alegre, Bookman , 2011. p.3738 42. ibid. p.39-41

A arquitetura é sentida pelo corpo, na superfície da pele, que absorve as emoções a partir das modalidades de sentidos. O filósofo Steiner, pressupõe que usamos doze sentidos ao invés de cinco; “tato, senso de vida, senso de auto movimento, equilíbrio, olfato, paladar, visão, senso de temperatura, audição, senso de linguagem, senso conceitual e senso de ego. ” 42 As nove “atmosferas” citadas por Zumthor, se equiparado com o pensamento dos dozes sentidos de Steiner, possui semelhanças por meio dos próprios sentidos. A leitura indivi-

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dual e sensível de Zumthor sobrevém da aspiração coletada pelo corpo e mente a partir dos sentidos recolhidos durante suas experiências vividas, de tal maneira que se incorpora no próprio pensamento de Steiner e se tornando uma coisa única.

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mapa 10 - fusão entre atmosferas e sentidos as nove atmosferas de Zumthor e os dozes sentidos de Steiner se unem, se tornando um só.


9

o corpo da arquitetura

o som do espaço a consonância dos materiais

a temperatura do espaço entre a serenidade e a sedução

as coisas que me rodeiam a luz sobre as coisas 93

a tensão entre interior e exterior

12

tato

senso da vida senso de automovimento equilíbrio

paladar

olfato

visão senso de temperatura audição

senso de linguagem senso conceitual senso de ego


reaproximação


.

dissolução

“A arquitetura não é produzida simplesmente pela adição de planos e seções a alçados. É algo diferente e algo a mais. É impossível explicar precisamente o que é – seus limites não estão, em absoluto, bem definidos. De um modo geral, a arte não deve ser explicada; deve ser sentida. Mas por meio de palavras é possível ajudar outros a senti-la, e é isso que eu tentarei fazer aqui ” 43

A escrita desde o início se mostrou uma das principais ferramentas e meio no qual enxerguei a possibilidade de expressar minhas ideias e sentimentos. Assim como Rasmussen, em seu livro Arquitetura vivenciada, busco mais uma vez compartilhar através das palavras o meu pensamento e entendimento sobre três projetos de escalas e finalidades distintas, porém, com um ponto semelhante: o movimento do corpo no espaço, seja no urbano como no projeto Tussem-ruimte, no interior do edifício, Pavilion Saya Park, ou em uma pequena transição entre exterior e interior, no Serpentine Gallery Pavillion de Zumthor. A dissolução aqui acontece não no objeto edifício, mas no movimento do corpo ao percorre-lo, como se a cada passo dado, o sentimento fosse se diluindo e ficando retido em cada pedaço do projeto, restando apenas os sentimentos de lembranças e memórias, que só podem ser acessadas novamente ao retornar no território. P serpentine gallery pavilion, Peter Zumthor, 2011

M

pavilion saya park, Alvaro Siza , 2018

G

43. RASMUSSEN, S.E. Arquitetura vivênciada, São Paulo, Martins Fontes, 1986. p.1

tussem-ruimte, Jarrik Ouburg, 2010

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Iniciaremos os estudos da maior para a menor escala. Amsterdan, a cidade holandesa dos canais possui desde seu início uma forte relação com a água. Foi a partir da construção de um dique para o rio que se originou o povoado e a cidade de Amsterdam. Tal relação entre território e agua – nomadismo, ou seja, aquele que não se finca e está sempre a flutuar - e terra - sedentarismo -, ao passar dos séculos foram desenhando o espaço urbano. Ao longo dos quatrocentos anos da ocupação dos canais, Amsterdam colecionou diversos “becos e fendas” – espaços residuais – de dimensões mínimas que eram utilizados para transporte de cargas por cavalos e ligações entre os canais. Hoje eles deixam de lado sua subutilização e passam a receber novos usos e significados para a cidade. O projeto Tussem-ruimte (espaço entre) desenvolvido inicialmente por três escritórios (Jarrik Ouburg, Non-fiction e TAAK) e apoiado pela prefeitura da cidade de Amsterdam, buscou mapear e propor instalações arquitetônicas nos becos. A iniciativa colocada em discussão é necessária no pensamento de possibilidades de intervenções em nossas cidades, em especial, os centros urbanos. A decisão por leitura deste projeto é distinta do motivo da escolha do projeto de Museu de arte Saya Park, mesmo compreendendo que o espaço percorrido se resulta em um fim, seja no projeto de Siza, um percurso interno e assim, portanto, na escala do próprio edifício, ou como neste estudo de caso, onde o percurso se dá em busca de espaços que constituem a cidade, logo, em uma escala maior. O que motiva a escolha do projeto como estudo de referência é a sua afirmação como sobrevivente de alguma forma, mesmo sabendo que seu surgimento se dá pela sobra, os espaços com suas características singulares, são atribuídos valores nos quais o qualificam e por consequência se lançam como pontos nodais no território. Em outros pensamentos - ja mostrado anteriormente - a presença de dois elementos; os becos como menires, como território, e a deriva meio - o descobrimento e o movimento.

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36. Cinquenta e seis becos encontrados no canal de Amsterdam, Office Jarrik Ouburg, Non-fiction e TAAK, 2013.

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[37]


38. Interior da primeira intervenção nos ‘becos’ de Amsterdam, Office Jarrik Ouburg, 2013.

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39. Fotos das fachadas dos ‘becos’ para a cidade de Amsterdam, Office Jarrik Ouburg, Non-fiction e TAAK, 2013.

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[39]

O mapeamento dos cinquenta e seis becos ao longo da região dos canais, intensifica a ideia de dissolução na malha urbana por meio de terrenos vazios ou subutilizados no quadrilátero, assim como as incontáveis possibilidades que esses “becos” - por assim dizer - podem originar. O estudo de caso nessa ocasião, passou não só a abrir meus olhos, como a abrir as possibilidades a todos. Passamos da escala territorial para a escala do edifício. O Museu para dois Picasso (1992) projeto pensado para a maior cidade da Espanha - Madri, foi desenvolvido para abrigar duas obras de Picasso - Guernica e La femme enceite, dispostas separadamente, ou melhor, dispostas exclusivamente cada uma em uma galeria, e assim o projeto se fez. Em sumo; Duas obras, duas galerias, duas entradas, ou como diz Siza, duas escolhas em momento diferentes - a cidade e a natureza, a vida e a morte – “confinadas” em um único objeto - a arquitetura a seu favor. Para Siza o oposto, a alteridade como ele mesmo fala, é essencial para a concepção do projeto. Compreendo assim tal alteridade que o arquiteto cita, e como se converte em elementos que compõem o próprio edifício; a partir de


40. Luz sobre interior, Saya Park Pavillion, Alvao Siza, 2018.

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41. Divisão entre as galerias, Saya Park Pavillion, Alvao Siza, 2018.

uma pequena “marquise” ao adentrar no espaço - que por sua vez é coberto -, no dentro e fora, no jogo de altura, ou na quina que avança sobre o corpo e que divide as duas galerias criando um percurso arquitetônico mais compreendido como uma escolha arquitetônica, assim como da busca da luz e sua própria ausência, que, em contraposição geram um jogo de sombra que te enlouquece ao mesmo tempo que te possibilita a vivenciar o espaço. Essa última citada, em especial, é essencial na arquitetura, como mesmo cita Zumthor – “a luz sobre as coisas” - talvez pelo fato de estar tão presente a vida cotidiana e a um dos sentidos do corpo mais relevantes no mundo contemporâneo – a visão.

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42. Croqui da planta e elevações, Serpentine Gallery Pavillion, Peter Zumthor, 2011.

Talvez, podemos arriscar em dizer que a palavra transposição é outra que o arquiteto explorou. De acordo com o dicionário; s.f. Ação ou efeito de transpor. Transpor por sua vez; v.t.d.1. Pôr (alguma coisa) em lugar diverso daquele em que ele estava; 2. Inverter a ordem de; 3. Passar efeito de transplantar. Tais mudanças são características de Siza e podemos visualizar em outros projetos como as Piscinas de Leça das Palmeiras, onde um muro de concreto, delimita a praia, as rochas e o oceano da zona urbana. Em ambos projetos, o acesso não é colocado apenas como caráter de começo, mas como limite daquilo que se inicia pela contextualização daquilo que já se faz presente e não pela soleira da porta – se levarmos ao pé da letra. O projeto Museu para Dois Picasso (1992) no qual me debruço em tentar compreender é citado aqui como referência com outro nome - Pavilhão de arte Saya Park (2018). Ambos projetos são um só, a alteridade - diferença – fica por conta do próprio território, pois agora o projeto se concretiza em terras orientais, na Coreia do Sul. Ainda na escala do edifício, porém, em uma dimensão mais próxima a escala humana, o Serpentine Gallery Pavillion, ou como eu gosto de chamar, ‘os jardins da vida’ de Peter Zumthor é o estudo de caso no qual direcionamos a atenção nesse momento.

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43. TensĂŁo entre interior e esterior, Serpentine Gallery Pavillion, Peter Zumthor, 2011.

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44. Tela que envolve e reveste toda estrutura em madeira, Serpentine Gallery Pavillion, Peter Zumthor, 2011.

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45. Jardim central, Serpentine Gallery Pavillion, Peter Zumthor, 2011.

A escolha pelo projeto se dá não só por si mesmo, como também o interesse em se estudar um projeto de Zumthor. O Serpertine Gallery do arquiteto foi concebido no ano de 2011, cinco anos após sua palestra ‘Atmosferas’. O projeto se desenha através de uma forma retangular, envelopada por uma fina camada de um tecido preto sobre uma estrutura de pórticos de madeira. O projeto é sutil, porém, visível, entretanto, não se mostra por inteiro, apenas conduz o visitante para dentro do jardin. A condução fica “na soleira da porta”, e desse momento em diante a sedução entra em jogo – entre a serenidade e a sedução. O acesso ao jardim é dado por aberturas que projetam a luz no corredor que rodeia todo o projeto. Podemos visualizar aqui a tensão entra interior e exterior, a luz sobre as coisas. Da passagem para a segunda porta para o interior, não se vê nada mais do que um jardim central, com inúmeras espécies de flora, de diferentes cores, tamanho, cheiros. Alguns bancos e mesas espalhados em torno do jardim, e o corpo da arquitetura que cria uma simples atmosfera paralela do exterior. Aqui tudo é interior, desde cores a sentimentos. É possível visualizar neste projeto quase todos os aspectos atmosféricos que Zumthor evidência. A consonância dos materiais, as coisas que me rodeiam, entre a serenidade e a sedução, a tensão entre interior e exterior, o som do espaço, a luz sobre as coisas. Com isso, Zumthor cria não só mais um pavilhão anual, mas sim um momento, que para alguns, assim como para ele, faz reviver algumas lembranças da vida.

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105



.

arquitetura

“Portanto, a dissolução do edifício, ao contrário do que se poderia supor numa primeira impressão, multiplica o seu interesse arquitetônico e a sua potência discursiva, porque ele agora “fala” através de cada coisa que compõe o ambiente no qual ele se insere. ” 44

O caminho até aqui construído, delineia as ações e as hipóteses de operações para se fazer arquitetura em um espaço no qual, por muita das vezes é dado como obsoleto. Tais operações são lançadas na cidade como respostas práticas. Me baseio em Bucci, acreditando fazer do edifício explodido e logo dissolvido na cidade, portas para a multiplicação do seu potencial no ambiente urbano. O quadrilátero como estudo de caso, informa o modo de operar. As quatro operações antecedem o pensamento de programa. Retiro das relações encontradas no ‘lugar’, inserido na cidade e do homem que nela a faz presente. As operações a seguir mantem os ativadores das memórias iniciais deste trabalho; o jardim, a piscina e o miradouro, com tudo, mais do que meras funções, os três desejos iniciais, mais a comedoria e cine, surgem como resposta para se pensar em espaços público na cidade, afim de intensificar a relação do homem com a área central. Assim, os edifícios desse estudo são extensões das possibilidades de ambientes de lazer com frequentação diária. Espaços de encontro, pausa e apreciação.

44. BUCCI, A. São Paulo, razões de arquitetura; Da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes, São Paulo, Romano Guerra, Coleção RG bolso, 2010. p.131

O percurso apresentado é o resultado das três derivas realizadas na área central de Ribeirão Preto, bem como a seleção dos quatro terrenos. O trajeto com setecentos e vinte metros e envolve uma malha perimetral de cento e onze mil e duzentos e vinte e cinco metros quadrados que inicia na Rua São Sebastião, em frente ao primeiro terreno, seguindo em um sentido único, que passa pelo segundo e terceiro terreno, com distâncias semelhantes entre si. A medida que avança, o trajeto passa pelo calçadão da Visc. De Inhaúma até chegar no calçadão da Rua General Osório, onde se encontra o ultimo terreno, sendo esse o único com uma pré-existência relevante. A escolha dos terrenos se deu de forma natural à medida que as derivas aconteciam, sendo eles, resultados de momentos de um olhar mais direcionado para seus usos. Os lotes possuem similaridades entre si, estão vazios ou subutilizados. Estão inseridos sempre no meio de algo, seja do fluxo intenso de pessoas, automóveis, entre edifícios e usos diversos.

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teoria

eu

significado

vivido

I.

memó-rias

espaço vivênciado

I.I

II.

transitar

sentimentos território significado na arquitetura

cidade homem vivências

I.I

sentimento e sentidos memórias

II.I

mapa 13 - fluxograma do eu a arquitetura, desenvolvimento em forma de fluxo esquemático. se le da direita para esquerda, de cima para baixo, do eu a arqutietura.. resultado base


território

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espaço vivênciado/ existêncial deriva

I.II

memória perceptiva

II.I

referências

prática

imaginação

arquitetura


+534,00

+541,00 +538,30

+540,00

mapa 15 - percurso definido

mapa 16 - malha perimetra

resultado das trĂŞs derivas feitas com os quatro terrenos selecionados.

o trajeto definido abrange um de mais cento e vinte mil me quadrado, envolvendo todo torno.

percurso, 720 mts


111

al

mapa 17 - momentos

ma ĂĄrea etros o en-

os terrenos escolhidos sĂŁo reflexos de momentos de euforia que alimentavam as derivas constantemente.

1:6000


1

2


mapa 18 - percurso + lotes resultado das três derivas feitas com os quatro terrenos selecionados em perspectiva. percurso, 720 mts

miradouro rua general osório, 373

113

jardim rua barão do amazonas, 568

comedoria e cine

3

rua são sebastião, 373

4

piscinas rua são sebastião, 1030


1.miradouro

endereço: rua general osório, 373 dimensão: 5,40m x 4,75m área: 25,75m² cota trajeto: +534,00 uso: miradouro Sempre a olhar para frente, pessoas cruzam de um lado para o outro, sobem e descem o calçadão, a todo momento anunciam seus produtos, andam sem parar, e só param para comprar. Aqui não se respira, parece faltar ar, como diz chacal, “mix de finalidade interior e casualidade exterior”, assim como ele, aqui tudo me interessa, pessoas e imagens, pausar e respirar, talvez para se encontrar em meio a tudo isso. A torre existente se eleva em mais alto nível de casualidade com seus seis pavimentos existentes que passa carregar a oportunidade de ver a cidade e tudo aquilo que está em baixo de outra forma. Dois momentos de parada, no primeiro se vê a multidão que passa de um lado para o outro. Mais dois pisos acima e o segundo momento chega. Aqui Já não se ouve as vozes lá de baixo, apenas se ouve.

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46. Vista para a torre a partir do calçadão.

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[46]


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croqui 01 - calçadão e o térreo o fluxo intenso do calçadão da general osório sobre a entrada da torre


47. Vista do terceiro piso para o calรงadรฃo da General Osรณrio.

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[47]


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croqui 02 - a torre e suas imagens as diversas possibilidade de vistas da torre com a cidade.


48. Vista do terceiro piso para o edĂ­ficio Diederichsen.

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1º pavimento 2º pavimento 3º pavimento (existente)

4º pavimento (existente)

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5º pavimento (desocupar)

5º pavimento (proposto)

croqui 03 - planta a torre de acesso ganha outra função, se torna miradouro e coloca a cidade e as pessoas como protagonistas.

s/n


49. Interior da torre.

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pav

ime

nto

4º to en m vi pa

pav

ime

nto

pav

ime

nto

1º pa m

vi to

en

o rre té

diagrama 01 - torre existente

diagrama 02 - fluxos

diagrama 03 - função

a torre existente se encontro na área de maior fluxo no quadrilatero, em frente ao calçadão da General Osório.

o sentido e os fluxos dos usuários são diarios, e sobem e descem o calçadão sem apreciar a cidade a sua volta.

a torre existente tem o uso dar acesso ao edíficio ao meio das escadas e do el


o único de lado por levador.

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diagrama 04 - verticalizar para ver

diagrama 05 - proposta

a torre se abre para a população, e os eleva, promovendo dois momentos de pausa e apreciação.

a intervenção acontece em apenas dois pisos, no terceiro, enquandrando o calçadão da general osório e os usuários, e no quinto, abrindo uma vista panoramica para se ver a cidade e o céu azul de ribeirão.


rua amador bueno


miradouro

edíficio meira junior

rua álvares cabral

elevação 1:250


2. jardim

endereço: rua barão do amazonas, 568 dimensão: 26,70 x 9,50 área: 253,65m² cota trajeto: +541,00 uso: jardim Parado estou, estacionado no meio da quadra, entre edifícios verticais em uma malha horizontal que escorre feito água em uma canaleta, assim são os automóveis que percorrem a cidade que se adentram para aqui estacionar. Toda hora, entra por um dos cantos, sai ao lado, e o meio, bem, o meio sempre fica vazio. O estacionamento aqui citado tem uma forte relação com o meio. Nele o espaço se organiza, e se faz funcional para sua função. Agora o meio é ocupado, e é o espaço que organiza, que conecta, mas que separa os ambientes adjacentes. Seu contato com o exterior é sútil, instiga aquele que passa por alí.

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50. Vista frontal do estacionamento.

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croqui 01 - meio a partir do meio o espaรงo se organiza e se movimenta criando um fluxo que circunda todo o terreno.


51. Vista áerea a aprtir da rua de trás Visconde de Inhaúma.

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[51]


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croqui 02 - interno e externo possibilidades de relaçþes entre interior e exterior estudando acessos mais pontuais.


131

croqui 03 - planta o jardim denso no meio organiza, conecta e divide o espaço, o contato externo é sútil e instigante, não revela por todo o jardim no meio da quadra.

s/n


íd

sa a

da

tra

en

diagrama 01 - estacionamento existente. o estacionamento existente se organiza através de um centro para a acomodação e manobra dos automóveis.

diagrama 02 - meio vazio

diagrama 03 - meio chei

se retira os automóveis afim de compreender como o espaço se organiza.

o meio vazio passa a ser o por, um jardim denso é im


133

io

diagrama 04 - relação

diagrama 05 - proposta

ocupado mplantado,

o jardim central conecta e divide os lados, criando um sentido de fluxo perimetral no terreno.

o jardim se insere no meio da malha urbana ocupada, e se apresenta de uma forma um pouco diferente de uma vitrine de uma loja qualquer do centro. os olhares diversos, a pausa e os encontros compeltam o espaço.


jardim

rua amĂŠrico brasiliense


rua são sebastião

elevação 1:250


3. comedoria e cine

endereço: rua barão do amazonas, 568 dimensão: 24,00 x 21,50 área: 516,00m² cota trajeto: +538,20 uso: comedoria e cine Estou de cara para o caos, pessoas, motos, carros, ônibus e qualquer outro meio de transporte cruzam a minha frente todo dia. Das 07:00 as 19:00 é frenético, logo depois todos se recolhem e fico à mercê de mais um dia que se aproxima, pois os carros que me habitam não compartilham do contato. Me afasto, mas não me desvinculo do caos. Dos ruídos dos automóveis passamos as conversas, aos encontros – ao contato. O Estacionamento se rebaixa, mas se eleva, se divide em dois, dia e noite, noite e dia, em continuidade. Dia comedoria, servindo a quem quiser se servir, e noite cinema, como uma extensão do cine clube cauim.

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52. Vista frontal da rua Cerqueira CĂŠsar.

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138

croqui 01 - relação entorno o terreno de esquina tem um contato diário e intenso com os automóveis que a cruzam e adentram, e com os pedestres que rodeiam a todo momento.


53. vista de esquina entre o cruzamento das ruas cerqueira césar e são sebastião.

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croqui 02 - cheio e vazio acima a ocupação através dos automóveis, e abaixo a ocupação daqueles que opeção o espaço cheio, os funcionários.


54. Vista de dentro do estacionamento.

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[54]


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croqui 03 - de dentro para fora o contato agora passa a se dar tambĂŠm de dentro para fora, se tornando tudo um sĂł.


55. De dentro para fora, vista para a rua Cerqueira CĂŠsar.

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croqui 04 - rebaixo o espaรงo se prolonga para a calรงada e se rebaixa a partir de uma pequena arquibancada.


56. Brita que reveste o chĂŁo do estacionamento.

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croqui 05 - planta o rebaixo define o projeto, pessoas sentam e deitam, conversam ou não. o bloco de apoio, a escadaria e todo o espaço dividem suas funções entre dia e noite, noite e dia.

s/n


57. Vista dos brises verticais do cine cauim a pouco mais de 50 metros do lote.

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da en tra

a íd sa

diagrama 01 - estacionamento existente o estacionamento se encontra na esquina do cruzamento das ruas são sebastião com a cerqueira césar, uma das áreas que dividem o centro em dois se analisado seus usos e fluxos.

diagrama 02 - barreira e espaç

o espaço subutilizado ocupa um área generosa do quadrilatero e recebe olhares diários daqueles passam por si, entretanto se fec

diagrama 04 - rebaixo

diagrama 05 - inserção

o terreno é rebaixado setenta centimetros e prolonga a calçada afim de tornar o espaço um só.

seus novos usos fazem uma leit do entorno que o cerca, um esp para refeições durante o dia e u cine durante a noite.


da en tra

a íd sa

ço

diagrama 03 - ô abre alas

ma e s que cha.

o terreno se abre para receber novo uso e se tornar um espaço de uso público e coletivo

tura paço um

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diagrama 06 - proposta uma grande cobertura pousa sobre espaço, além de um bloco de apoio que divide sua funçaõ para o dois programas do espaço.


cine clube cauim

rua cerqueira cĂŠsar


comedoria e cine

elevação 1:250


4. piscinas

endereço: rua barão do amazonas, 1030 dimensão: 46,50 x 7,00 área: 325,50m² cota trajeto: +540,00 uso: piscinas Estou onde não sou visto, exprimido entre duas empenas que faz parecer a imagem de um cânion. Talvez seja por isso que nada existe aqui. A percepção do terreno sem ocupação na são sebastião me faz pensar sobre nosso olhar e contato com os rios que deram início na cidade e que aos poucos vão sendo canalizados e esquecidos pela malha urbana que cresce e se modifica a cada vez que se faz necessária para ‘reparar’ alguma problemática, na maioria das vezes viária. O vazio é inundado por água e nela se faz presente em três momentos diferentes; 1. Rasteiro, com a ponta dos pés os usuários se permeiam sobre o térreo molhado. 2. Com mais da metade do corpo, nas piscinas de relaxamento e piscinas infantis. 3. Com os olhos, no imenso céu azul de ribeirão. O espaço vazio agora é ocupado pelo elemento que nos mantem vivos, a água em suas diferentes formas.

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58. Vista frontal entre as duas empenas.

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croqui 01 - contexto se inicia pela leitura do entorno e da relação da cidade com os rios. o rasgo não segue só o mesmo alinhamento dos edíficios, faz uma analogia as constantes instersecções realizadas nos cursos de rio da cidade.


59. Vista frontal do terreno vazio entre os edĂ­ficios.

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croqui 02 - água no espaço se pensa ná agua em três momentos; sobre ela, dentro dela, e em baixo de onde ela cai, o céu.


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croqui 03 - planta o espaço se organiza pelo rasgo entre as lajes, e Ê acessado pela rampa que o circunda, criando momentos com alturas e vistas diferentes.

s/n


?

diagrama 01 - vazio existente o terreno se encontra entre duas torres residências laterais com mais de dez pavimentos e outras duas a sua frente, projetando sombra na maior parte do dia.

p

diagrama 04 - disposição o acesso aos pavimentos é feito por rampa no mesmo alinhamento do rasgo, distribuindo e organizando o espaço de forma flúida.


3

2 1

diagrama 02 - projeção

diagrama 03 - choveu molho

se projeta mais dois pisos afim de propor três contatos diferentes com a água.

os pisos são abertos no mesmo alinhamento das torres vizinhas para receber claridade e criar um contato com a os demais pisos e o céu.

as

in isc

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pis

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na i c s

diagrama 05 - piscinas

diagrama 06 - proposta

os blocos com as piscinas e os demais espaços são inseridos intercalados a cada lance de escada.

a idéia é evidênciar a importância da água na cidade, surge como um desejo e uma crítica ao esquecimento de um dos espaços públicos que envolvia toda uma comunidade, os rios.

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piscinas

rua são josé


rua cmte. marcondes salggado

elevação 1:250



da rua ao rumo

O desenvolvimento deste trabalho até aqui se mostrou uma tarefa árdua e diária desde o seu início, porém apaixonante. O tema escolhido e linha de pesquisa seguida refletem meus pensamentos e desejos atuais, sendo assim, esse trabalho apresentado a todos aqueles que leem conta muito mais do que uma pesquisa teórica e prática, mostra os meus sentimentos mais sinceros daquilo que penso e sou como pessoa, assim como a própria montagem e organização do caderno contam um pouco do meu gosto pessoal e um tanto obcecado por se pensar em coisas simples e limpas. Para a continuidade desse estudo, os próximos passos a dar são em direção aos estudos e desenvolvimento dos projetos, que desde já se mostrou uma atividade desafiadora pela proposta de se pensar em quatro projetos ao mesmo tempo. Acredito que me debruçar sobre tudo aquilo que desenvolvi, em especial, as teorias, os momentos vivenciados, assim como defender aquilo que apresento irão me dar força e suporte para o próximo semestre.

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