Karina Zen Somatรณrio dos meios
Os fazedores de mundo Paula Braga
O espaço ocupado por alguém é sempre um espaço novo, criado naquele instante. Duas fotografias mostram um coqueiro à beira de um lago. É o mesmo coqueiro? Mesmo se for, será elemento de um espaço diferente em cada fotografia, pois é ocupado por uma pessoa diferente de cada vez. A experiência de cada um, naquele espaço com o coqueiro, é única. Na video-instalação E.N. & L.I. Karina Zen explicita essa ideia do espaço que nunca é o mesmo. Quantos coqueiros existem naquela paisagem? Quantos forem as pessoas a vivenciarem aquele espaço. As duas projeções de fotografias da década de 1950 ora mostram o coqueiro ocupado por um homem, ora por uma mulher. E eles nunca se encontram, como nunca se encontram as percepções de mundo de duas pessoas diferentes ou da mesma pessoa em tempos diferentes. Passa o tempo, muda o coqueiro, o dela é um, o dele é outro. O coqueiro continua lá até hoje, em um sítio em Brusque, Santa Catarina. Mas não é nenhum dos coqueiros dessas fotografias do suposto mesmo coqueiro. Então isso que chamamos de mundo é uma convenção que tenta unificar experiências múltiplas, distintas. Cada um faz o mundo com seu corpo, na experiência individual e incompartilhável de percepção das coisas. Cada um faz o mundo com seu sopro, moldando-o, inflando-o, fazendo-o ser aquele mundo específico, que se desfará quando o fazedor de mundo não estiver mais agindo para constituir mundo. Para o sopro, murcha o mundo. Outros se inflam no mesmo instante. A paisagem de mundos que existem em paralelo, mundos criados por corpos diferentes, e que chamamos, no singular, de mundo, como se fosse único, intriga Karina Zen, que adota a fotografia e o vídeo, esses supostos registros mecânicos do real, para investigar a simultaneidade de mundos. O real talvez seja uma garrafa cheia de mundos, tantos quantos forem os grãos de areia de uma paisagem praiana. No vídeo Garrafinha, a paisagem construída com areia colorida é derramada em sua multiplicidade de grãos num espaço indefinido, vazio,
desorganizando a cena típica do artesanato brasileiro; o casebre à beira do mar com coqueiros e passarinhos volta a ser uma mancha informe de grãos, volta a ser o material de que é feito o mundo antes de ser moldado por um entendimento específico e singular. Reorganizando todos aqueles grãos coloridos, quantas outras cenas conseguiríamos gerar? Depende de quantos estiverem a organizar a mancha, aplicando-a a conceitos de real. Os personagens vegetais da série de fotografias Dona Morellli - Família Pereira – Dona Jandira vivem um mundo que é só deles, aqueles interiores domésticos calmos, sem eventos, que adivinho quando, passando por uma pequena cidade desconhecida, vejo cadeiras na calçada, ocupadas por um fazedor de mundo para mim incompreensível, que assiste a paisagem, sem sair do lugar, experimentando um tempo que se mede nos mesmos segundos que o meu, e que aparentemente habita o mesmo espaço que eu, e cujo mundo é completamente outro. Se estivermos na mesma beira de lago, sentados no tronco inclinado do mesmo coqueiro, nunca nos encontraremos, eu e você. Estaremos cada um numa duração específica, em mundos simultâneos que não se sobrepõem. Karina Zen acredita nesses mundos paralelos. // Texto produzido para a exposição Somatório dos Meios
D. Morelli, Família Pereira e D. Jandira, 2009 Fotografia Tríptico 25 x 38 cm
Josué Mattos: Em sua videoperformance Mundo (2013) há um sujeito por trás da manifestação do mundo, figurado em seu trabalho por um planeta inflável, que depois volta ao seu estado não manifesto, perdendo o ar que o dá forma. Qual é a origem desse projeto? Vale pensar aqui na noção de autorrepresentação, algo próximo, inclusive, do que a artista Lia Chaia realizou em 2002 no vídeo Big Bang. Contudo, ainda que haja alguma proximidade entre eles, Lia permanece com o objeto em suas mãos, mesmo no momento da dissolução. O que em comum é o fato do sujeito estar por trás da criação de mundos, enquanto você decide pendurar na parede o globo inflável até que ele perde o ar que o torna mundo. O que há nesse gesto? Karina Zen: Este projeto não teve origem em um momento específico, pois a representação do mundo, seja ela por meio de mapas ou globos, esteve presente em meu repertório desde a infância. Quando me vi com um planeta inflável nas mãos, percebi que tinha intimidade suficiente para realizar um trabalho. São dois corpos que ocupam a cena: o meu e o corpo planetário. O ar inspirado que me dá vida não me pertence. Não posso retê-lo; tenho que devolvê-lo ao espaço para que se crie o fluxo que nutre meu corpo. Reforço essa ideia com o corpo planetário que, depois de cheio, esvazia-se. Considero esse gesto também uma metáfora sobre a propriedade da criação, pois o que coloco no mundo não me pertence; vai ser preenchido com os olhos de quem o vê; vai ser visto a partir de suas experiências, filtros e conceitos. Quando vazio, o espaço é restrito, mas existe a possibilidade de expansão a partir da nossa relação com o mundo. JM: A ideia de um corpo ocupando a cena me fez pensar em O Sujeito Depois de Esculpido e Fotografado (2009). Sem qualquer relação imediata, esses trabalhos parecem fazer o mesmo movimento de agregar valor ao sujeito-objeto que, por intermédio de mídias distintas, como a fotografia e a escultura, recebem novas camadas de significação. Penso também no sujeito que é paisagem, em Dona
Morelli, Família Pereira e Dona Jandira (2009). Em todos os casos, a paisagem, a fotografia e a escultura podem ser vistas como estratégias de encobrimento e revelação parcial do sujeito. KZ: Enquanto realizava O Sujeito Depois de Esculpido e Fotografado, percebi que a revelação do sujeito passava por varias instâncias: imaginário do escultor, escultura, fotografia. As esculturas de arte sacra no Museu Arquidiocesano Dom Joaquim, em Brusque/SC, simbolizam uma presença espiritual, mas é a partir do retrato, a meu ver, que o objeto é animado e faz-se sujeito. No vídeo Mundo acontece algo semelhante: um objeto assume papel de corpo na videoperformance. A mídia é fundamental para que o estatuto dos objetos seja mudado. Uma das camadas de significação destes trabalhos é o paralelo que se pode fazer com a revelação da personalidade do indivíduo. Da mesma forma que mídias distintas informam o objeto, conferindo a ele uma personalidade, o indivíduo se faz presente a partir de sua relação com o mundo. As ações e vivências do dia a dia o compõem e, a partir das camadas de valores adquiridos, o sujeito é revelado. As obras Dona Morelli, Família Pereira e Dona Jandira seriam somente fotografias de plantas se não recebessem como título o nome da pessoa que as cultiva. O sujeito passa a ser representado por sua planta. A narrativa sugerida por estas imagens está localizada em um confinamento doméstico arraigado pela paisagem cultural na qual elas estão inseridas. Em Família Pereira, o tamanho do suporte das plantas indica genealogia; o comprimento das plantas e a sua espécie fazem uma alusão aos papéis de pai, mãe e filho. A posição das plantas em Dona Morelli e Dona Jandira aponta hábitos das senhoras que lhe dão nome; a paisagem domesticada se reforça por intermédio da pintura pendurada na parede. A cortina na janela, o formato do suporte fornecem indício espaço-temporal. Sem nunca sair de sua zona de segurança, sem transitar pelo mundo, o sujeito sobrevive e cria raízes que podem não caber nos espaços que assume; se há um aparente conforto neste ambiente, há também a possibilidade de morte pela ausência de espaço.
espaço-temporal. Sem nunca sair de sua zona de segurança, sem transitar pelo mundo, o sujeito sobrevive e cria raízes que podem não caber nos espaços que assume; se há um aparente conforto neste ambiente, há também a possibilidade de morte pela ausência de espaço. A ficção permite referir um enredo sobre a vida de cada sujeito representado na imagem. JM: A relação do sujeito com a paisagem, alternando a ideia de encontro e desencontro é presente em E.N. & L.I. Para além da ideia de arquivo, o encontro fortuito gera uma implacável sensação de perda iminente. Pois no encontro há também o desencontro. KZ: As fotos que utilizei para a videoinstalação E.N & L.I, encontradas em um álbum virtual, foram feitas por Érico Zendron em Brusque/SC, nos anos de 1950. Reconheci a paisagem, pois frequentava este lugar nos anos de 80 onde o mesmo coqueiro curvo ainda pendia sobre o lago. Quando realizei este trabalho, tive a sensação de poder comprimir o tempo: 1950, 1980, 2013, todos em uma só imagem, o que me levou a pensar em planos distintos que ocupam o mesmo espaço, como se fossem universos paralelos que, quando se tocam, promovem pontos de entrada e saída temporais. A projeção justaposta e alternada me remete ao momento em que a inspiração encontra a expiração, o lugar onde pode acontecer a meditação. Naquela brecha na qual o cheio e o vazio suscitam, ao mesmo tempo, construção e dissolução. Vida e morte se unem com a chance de encontrar o que é imutável, permanente, eterno. A questão do gênero entra neste trabalho como metáfora. Assim como cada inspiração vem seguida de uma expiração e somente na existência de ambas é possível a vida, masculino e feminino aqui representam os opostos que, somados, promovem o inteiro, o que me faz pensar em plenitude; neste instante onde há a possibilidade desta fusão, o indivíduo assume outra conotação. Ele deixa de ser físico para assumir a unidade divina; é ali onde o bem e o mal deixam de existir.
E.N. & L.I., 2013 Projeção de fotografias Dimensões variáveis
E.N. & L.I., 2013 Projeção de fotografias Dimensões variáveis
JM: Em que outro trabalho aparece esse encontro entre o inspirar e o expirar? KZ: A ação que é composta por duas etapas complementares está presente também em Mundo, em que o encher e o esvaziar do corpo planetário traz consigo a ideia de inspirar e expirar. No vídeo Garrafinha de Areia, o processo de desconstrução ― construção se repete tanto pelo fato de o vídeo ser exibido em looping quanto pelo processo de extrair a paisagem de dentro da garrafinha para depositá-la em outro território. Essa é a questão que mais me interessa no trabalho: a do espaço ocupado. Em contraponto com Dona Morelli, com Família Pereira e com Dona Jandira, que permanecem eternamente em seus territórios conhecidos, aqui a paisagem confinada pode se reconstruir em outro território. A meu ver, existem várias realidades para serem exploradas pelo sujeito. Conhecer outros territórios sugere expansão.
Sem Título, 2013, fotografia, tríptico 60 x 60 cm
JM: Outro ponto que mereceria aparecer nesta conversa é o próprio título da exposição individual que você realizou no espaço independente NaCasa, em Florianópolis. O que significa, neste contexto, a ideia de Somatório dos Meios? KZ: Somatório dos Meios é a sobreposição das realidades que cada um vive, para formar o que conhecemos por mundo. Gosto do que diz Paula Braga em seu texto: “O real talvez seja uma garrafa cheia de mundos, tantos quantos forem os grãos de areia de uma paisagem praiana.” A meu ver, o real é o que fazemos de nós mesmos, por intermédio de nossas experiências. A visão de cada um sobre o mundo se dá a partir da fração que cada um pode ver, do que lhe é possível compreender a partir do ponto de vista em que se encontra. Meu mundo está cheio de um ar que jamais será o seu; meu território pode ser qualquer um, de qualquer jeito. A percepção de um não é a realidade do outro. É a partir desse somatório que damos sentido à vida. Ali, neste espaço, se alcançássemos a plenitude, os conflitos deixariam de existir.
JM: O trecho do texto da Paula Braga ao qual você se refere faz alusão ao vídeo que você produziu com um objeto trazido do nordeste para o sul do país. O que te interessou neste ato de devolver à paisagem aquilo que a constitui, além da ideia de pensar a possibilidade de identificar “mundos no mundo” ou de praticar deslocamentos improváveis da paisagem nordestina no sul do Brasil? KZ: Esse objeto me fascina desde criança, quando apareceu lá em casa trazida como lembrança de uma viagem. A garrafinha cheia de areia colorida ficava na prateleira e não podia ser tocada. Eu imaginava como é que teriam sido feitos aqueles desenhos e sempre tive vontade de abri-la, o que teria me custado no mínimo um castigo. Foi então que tempos depois ganhei uma dessas garrafinhas e na hora pensei que aquela poderia ser aberta. Perguntei-me se, ao fazer o registro desse ato, eu poderia dar à garrafinha a condição de se transformar em outra coisa além de voltar a ser uma garrafa vazia e um montinho de areia. Até 2008, ano em que foi feito o videorregistro, nunca havia experimentado outro meio além da fotografia; era uma experiência nova para mim e, assim como no ato do esvaziamento no qual a extração forçada desta imagem de mundo contida dentro da garrafinha foi depositada sob a imprevisibilidade do vento para que a imagem seja transformada, meu território foi desconstruído. Acabei percebendo que foi aquela garrafinha que me deu a condição de ser diferente do que eu era.
Sem Título, 2013 Fotografia 30 x 30 cm
Vista da exposição Arte Pará - Ano Trinta, 2011 Belém MHEP - Museu Histórico do Estado do Pará
Vista do 43º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba, 2011 Piracicaba Pinacoteca Municipal
Vista da exposição-debate no Teatro Studio Scandicci, 2013 Florença Prêmio Belvedere Paraty, RJ
Sem título, 2011 Agulheiro de papel e agulhas 210 x 143 x 20 cm
Sem título, 2011 Agulheiro de papel e agulhas 220 X 170 X 20 cm
Sem título, 2011 Agulheiro de papel e agulhas 160 X 118 X 20 cm
Sem tĂtulo, 2011 Agulheiro de papel e agulhas 160 X 118 X 20 cm (Detalhe)
Sem tĂtulo, 2011 Agulheiro de papel e agulhas 210 x 143 x 20 cm (Detalhe)
Aquário, 2009 Fotografia 20 x 30 cm
Inversões no Aquário É recorrente na produção recente de Karina Zen uma atitude de deslocamento de procedimentos e possibilidades técnicas da fotografia, invertendo o sentido usual da construção da imagem fotográfica. Karina concebe contra-dispositivos fotográficos que deslocam as imagens do campo estabelecido da fotografia convencional para um espaço de discussão de verdades e aparências. Em Aquário, Karina registra numa única abertura de diafragma dois momentos diferentes no tempo. Tendo como recurso visual imediato a aproximação por zoom de um mesmo elemento referencial. O que podemos ver na superfície de sua imagem é a suspensão desses dois momentos e o espaço de tempo entre um e outro. Nessas imagens, as diferenças entre os elementos visuais é índice do tempo decorrido no ato de fotografar. Como em outros trabalhos de Karina, os procedimentos técnicos são redirecionados, e conduzidos para operar como instrumentos do conceito, no sentido de liberar a imagem das convenções do meio. // Para a exposição Aquário, 2009
Aquário, 2009 Fotografia 20 x 30 cm
Aquário, 2009 Fotografia 20 x 30 cm
Garrafinha de areia, 2008 Vídeo 3’54”
Sobrevida, 2010 FotograďŹ a 80 x 100 cm
Sobrevida, 2010 FotograďŹ a 80 x 100 cm
Procura-se, 2010 Fotografia Díptico 80 x 80 cm
O sujeito depois de esculpido e fotografado, 2010 FotograďŹ a 80 x 80 cm
O sujeito depois de esculpido e fotografado, 2010 FotograďŹ a 80 x 80 cm
O sujeito depois de esculpido e fotografado, 2010 FotograďŹ a 80 x 80 cm
Retratado, 2010 FotograďŹ a 80 x 65 cm
Retratado, 2010 FotograďŹ a 80 x 65 cm
Imenso, 2008 FotograďŹ a, 80 x 110 cm
Imenso, 2008 FotograďŹ a, 80 x 110 cm
Mundo, 2013 Vídeo 4’36"
The makers of the world The space that is occupied by someone is always a new space, created at that precise moment. Two photographs depict a coconut tree by a lake. Is it the same coconut tree? Even if it is, in each photograph it will be the element of a different space, because at each time different person is there. The experience of each one, in that space with the coconut tree, is unique. In the video installation E.N. & L.I. Karina Zen elaborates the idea of this ever-changing space. How many coconut trees are there in the landscape? As many as there are people who experience that space. Both of the 1950s photo projections show the coconut either with a man or a woman. And they never meet just like the world views of two different people or of the same person in different times. As time goes by, the coconut tree changes, her coconut tree is different form his coconut tree. The coconut tree is still there until today, in a small property in Brusque, Santa Catarina. But it is not the same coconut tree seen in any of these photos. Thus, this thing we call ‘world’ is a convention that tries to bring together multiple and different experiences. Each person makes the world with his/her own body, by means of the individual and unshared experience of perceiving things. Each one makes the world with one´s own air, shaping the world, inflating the world, turning it into that unique world that will be undone when its maker is no longer acting to constitute the world. When the blow stops, the world shrinks. Other worlds are inflated simultaneously. Karina Zen is intrigued by the landscape of parallel worlds that were created by different bodies that we call, in the singular, world, as if there was only one. She uses photography and video, these alleged mechanical forms of recording reality, to investigate the simultaneity of worlds. It is possible that reality is a bottle full of worlds, as many as the grains of sand on the seashore. In the video entitled Garrafinha, the landscape that was built with colored sand is spilt to reveal its multiplicity of grains in an empty and imprecise space. Thus, it disorganizes the typical scene found in Brazilian handcraft pieces,
which is the small house by the sea surrounded by coconut trees and birds, and returns to its primordial state: a shapeless stain of grains, the material out of which the world is made before it is shaped by a specific and unique understanding. If we reorganize all those colored grains, how many more scenes would we be able to create? It depends on how many people are organizing the stain, applying it according to concepts of reality. The vegetable characters of the photography series Dona Morellli Família Pereira – Dona Jandira live in their own world, those quiet house interiors where nothing happens. I imagine these interiors when I pass by a small and unknown town and I see chairs on the sidewalk. Sitting on one of these chairs there is a world-maker whom I don´t understand. He observes the landscape without going anywhere, he experiences a time measured by the same seconds that I measure my world, he apparently inhabits the same space that I inhabit, but his world is completely different from mine. If we are by a lake, sitting on the same inclined coconut tree, we will never meet, you and I. Each one of us will be in a specific duration, in simultaneous worlds that cannot be superposed. Karina Zen believes in these parallel worlds. Paula Braga for the exhibition Somatório dos Meios // Josué Mattos: In your video performance entitled Mundo (2013) there is an individual behind the manifestation of the world, which is represented in your work by an inflatable planet that later goes back to its empty state, losing the air that shapes it. What is the origin of this project? It is worth mentioning here the notion of self-representation, something that is close to what artist Lia Chaia did in 2002 in her video Big Bang. However, although there is a similarity between them, Lia keeps the object in her hands even during the dissolution. What they have in common is the fact that
the individual is behind the creation of the world, and you decided to hang the inflatable globes on the wall until the air that makes it a world was fully released. What is behind this gesture? Karina Zen: The project was not conceived in a specific moment, because the representation of the world, by means of either maps or globes, has been present in my repertoire since childhood. When I saw myself with an inflatable planet on my hands, I realized that I had enough intimacy with it to create a work. Two bodies occupy the scene: the globe and I. The inhaled air that gives me life does not belong to me. I cannot keep it; I have to return it to the space so that the flow that nurtures my body continues. I reinforce this idea using the planetary body that, after being full, becomes empty again. I also see it as a metaphor for the appropriation of creation, because what I put in the world does not belong to me; it will be filled by the eyes of those who see it; it will be seen according to different experiences, filters and concepts. When the space it empty, it is limited, but the possibility of expansion exists as a result of our relation with the world. JM: The idea of a body occupying the scene made me think of O Sujeito Depois de Esculpido e Fotografado (2009). These works are not immediately related, but seem to make the same movement toward aggregating value to the subject-object that receive new layers of meaning intermediated by different media, such as photography and sculpture. I also think about the landscape as individual in Dona Morelli, Família Pereira e Dona Jandira (2009). In all of these cases, the landscape, photography and sculpture may be seen as strategies to partly hide or reveal the individual. KZ: When I was making O Sujeito Depois de Esculpido e Fotografado, I noticed that the revelation of the individual included several levels: the imaginary of the sculptor, sculpture, photography. The religious art sculptures in the Museu Arquidiocesano Dom Joaquim, in Brusque/SC, symbolize a spiritual presence, but to me the object both animated and seen as subject after the portrait. Something similar
takes place in the video Mundo: an object takes on the role of body in the video performance. The medium is a fundamental aspect when it comes to changing the status of the object. One of the layers of meaning that exist in these works is the parallel we can make with the revelation of the personality of the individual. Just as the different media form the object, giving a personality to it, the individual exists based on its relation with the world. The every-day actions and experiences are part of the individual, and as a result of the layers of acquired values, it is revealed. The works Dona Morelli, Família Pereira and Dona Jandira would be only pictures of plants if their title were not the name of the person who grows them. The individual is represented by his/her plant. The narrative suggested by these images is located in a domestic confinement rooted in the cultural landscape where they exist. In Família Pereira, the size of the plant supports indicates genealogy; the size and species of these plants and are related to the roles of father, mother and son. The position of the plants in Dona Morelli and Dona Jandira indicates the habits of the old ladies after who the works are named; the domesticated landscape is reinforced by means of the painting that hangs on the wall. The drapes in the window, the shape of the support give evidence of space-time. Without never leaving his/her comfort zone, without going out in the world, the individual survives and establishes roots that may not fit in the spaces he/she takes on; this environment expresses both a seemingly comfort and the possibility of death due to the absence of space. Fiction allows us to infer a plot regarding the life of each individual represented in the image. JM: The relation between the individual and the landscape, as well as the idea of convergence and divergence is present in E.N. & L.I. Beyond the idea of archive, the fortuitous encounter generates an inexorable feeling of an imminent loss. Because the divergence also exists in convergence.
Getting to know other territories suggests expansion. JM: Another topic that I would like to talk about is the title of your solo show at the independent gallery NaCasa, in Florianópolis. What does it mean, in this context, the idea of Somatório dos Meios [Sum of the Media]? KZ: Somatório dos Meios is the superposition of realities experienced by each individual that forms what we know as world. I like what Paula Braga wrote in her text: “Reality may be a bottle full of worlds, as many as the grains of sand on the seashore.” To me, reality is what we make of ourselves by means of our experiences. Each person sees the world based on the small portion he/she perceives, on what he/she is capable of understanding according to where he/she stands. My world is full of an air that will never belong to anyone; my territory can be any territory. The perception of a person is not the reality of another person. And we give meaning to life based on this sum. There, in that space, if we were able to reach plenitude, conflicts would no longer exist. JM: The excerpt of Paula Braga’s text you’ve just quoted is talking about the video you’ve produced using an object you brought for the Northeast to the South of the country. What were you interested in when you gave back to the landscape something that is part of it, besides the idea of thinking about the possibility of identifying “worlds within the world” or of practicing unlikely displacements from the Northeastern landscape to the Southern Brazil? KZ: I’ve been fascinated by this object since I was a child, when someone brought it to my a house as a souvenir from a trip. The small bottle full of colored sand used to be on a shelf and no one could touch it. I used to imagine how those drawings were made and I’ve always wanted to open it, but I knew I would be punished if I did that. Years later, someone gave me one of these small bottles and I immediately thought “this one I can open.” Then I thought that if I recorded it, the small bottle would be turned into something else
besides an empty bottle and a pile of sand. Until 2008, the year when the video recording was made, the only support I had experienced was photography. It was a completely new experience and, just as in the act of emptying, in which the removal of the image of the world from inside the bottle was put under the unpredictability of the wind and the image was transformed, my territory was deconstructed. I ended up realizing that that bottle enabled me to be different from what I used to be. // Inversions in the Aquarium Karina Zen’s latest work often presents an attitude characterized by the displacement of photography procedures and technical possibilities that inverts the usual meaning of the construction of photographic images. Karina conceives photographic counter-devices that displace the images from the established field of conventional photography to discuss truth and appearances. In Aquário, Karina records in one single opening of the diaphragm two different moments in time. As her immediate visual resource, she uses the zoom approximation of one single referential element. What we see in the surface of the image created by the artist is the suspension of these two moments and the time gap between them. In these images, the differences between the visual elements indicate the time that passed during the act of photographing. As in other works by Karina, the technical procedures are re-directed and serve as instruments of the concept, in the sense of setting the image free from the conventions of the medium. Fernando Lindote For the exhibition Aquário, 2009
3C | Centro de Criação contemporânea Exposição Karina Zen - O Somatório dos meios de 19 a 31 de julho de 2013 Curadoria e edição Josué Mattos Coordenação executiva Suzy Araújo Design gráfico Moysés Lavagnoli
Textos Paula Braga Fernando Lindote Josué Mattos Design gráfico Ingryd Calazans Produção Suzy Araújo Tradutora Márcia Macedo Revisão Denize Gonzaga
oBRA é uma coleção de livros monográficos eletrônicos que pretende fazer circular a produção de artistas visuais residentes no Brasil, de diferentes gerações. Ao desmembrar a palavra “obra,” a sigla BRA sugere o cenário geopolítico com o qual trabalharemos, na intenção de reunir ao longo dos próximos anos um fragmento considerável da cena artística de um país com dimensões continentais. Isso resultará em agrupamentos críticos e teóricos, além de entrevistas, escritos de artistas e um conjunto significativo de repertório visual, capaz de participar da formação de amantes da arte. Visto que a coleção será bilíngue (português-inglês), pretendemos, também, participar da circulação da arte brasileira em escala internacional.
3C - Centro de Criação contemporânea é uma incubadora de projetos que atua em rede e de modo colaborativo com artistas, curadores e amantes da arte em todo território nacional. Tem por intenção publicar livros, revistas e catálogos virtuais, disponíveis em seu website www.3c.art.br A realização da exposição e da edição deste livro eletrônico foi possível graças ao apoio dos associados do Programa de Múltiplos do 3C.