história Idealizado pelos antropólogos Berta e Darcy Ribeiro, o Memorial dos Povos Indígenas abriga um acervo de centenas de artefatos e peças de artesanato indígena, coletados desde os anos 1940 até hoje, assim como arquivos e fotografias. A coleção principal conta com cerca de 380 peças doadas em 1995 ao Governo do Distrito Federal pelo casal Ribeiro, mas também conta com contribuições de Eduardo Galvão e de outras figuras importantes do campo das pesquisas antropológicas no Brasil. Entre os itens, pode-se citar material pesqueiro, colares de dentes de onça, cerâmicas e trançados, entre outros.
O Memorial é, ao mesmo tempo, museu, centro cultural e instituição de pesquisa, com a missão de colecionar, preservar, valorizar e divulgar o conhecimento e as expressões dos diversos povos autóctones que habitam o Brasil, com suas línguas, culturas e produção material, de modo dinâmico e vivo. Além disso, busca promover a participação dos índios por meio de sua integração aos processos curatoriais, por meio do estímulo a sua produção e por meio da realização de eventos dentro dessa temática. Darcy Ribeiro (1922-1997) foi um importante antropólogo, político e educador brasileiro, tendo sido o primeiro reitor da Universidade de Brasília e Ministro da Educação durante o governo João Goulart. Casou-se em 1947 com a também antropóloga Berta Gleizer Ribeiro (1924-1987). O casal iria construir ao longo dos anos carreiras paralelas em prol da causa indígena no Brasil.
o papel do memorial /um projeto em construção
Atualmente, o Memorial dos Povos Indígenas está se mobilizando para reorganizar suas ações, de modo a retomar os objetivos iniciais de modo pleno e enriquecê-los. Efetivamente, o Memorial foi construído em um momento histórico, no qual a luta pelos direitos indígenas ganhava novo fôlego. Em 1988, foi criado o primeiro museu indígena no país de que se tem notícia, o Museu Magüta, no Amazonas, formulado pelos Ticuna, que perceberam, na fundação da instituição, um respaldo da sua luta pela demarcação de terras. O museu indígena se diferencia do museu etnográfico pelo agente criador – nesse caso, os próprios índios. A demanda por envolvimento dos índios na condução do Memorial explicitouse pelo papel ativo que exerceram em sua reabertura, em 1999, e na pessoa de diversos de seus gestores, índios como Marcos Terena e Álvaro Tukano. Efetivamente, de acordo com a pesquisadora Fabíola Andréa da Silva, “As experiências colaborativas com os povos indígenas mostram que há uma diversidade de expectativas e demandas deles em relação aos museus”. A participação dos indígenas na formulação das políticas e na curadoria do espaço é avaliada como fundamental para que possa cumprir sua missão de apresentar a cultura indígena para brancos e para os próprios índios. No que se refere ao acervo, o estudo e a exposição dos objetos exigem o conhecimento do contexto e da finalidade para que eram criados. Desse modo, vislumbra-se que o museu deve visar a apresentar e promover a grande diversidade e riqueza cultural indígenas, de forma dinâmica e viva. Além disso, deve discutir a relação dos índios entre si e com a sociedade por meio de exposições, palestras, cursos, oficinas e mostras audiovisuais. Além disso, deve realizar e estimular a pesquisa sobre a história e a herança indígena. Seu acervo deve ser conservado, apresentado e ampliado. Deve, sempre, lembrar que essa é uma cultura viva e em constante transformação, ao invés de algo rígido, isolado e calcado em estereótipos. Para isso, seu programa educativo, reativado recentemente, é parte fundamental da sua atuação.
acervo O núcleo principal do acervo do Memorial dos Povos Indígenas constitui-se de cerca de 380 peças doadas por Darcy e Berta Ribeiro e Eduardo Galvão. A coleção compõe-se de documentos, fotografias e, principalmente, artefatos indígenas coletados em expedições antropológicas. No correr dos anos, novos itens foram incorporados ao acervo do Museu, com maior ou com menor critério curatorial, gerando, atualmente, um conjunto de centenas, ou mesmo milhares, de obras com pouca relação entre si ou com a missão do Memorial, a exemplo de algumas pinturas a óleo representando índios, de caráter intrinsecamente artístico, mas que pouco ou nada dizem sobre a cultura indígena em si.
acervo Atualmente, o acervo passa por um processo de inventário e higienização. Concomitantemente, começa-se a realizar um processo de correta identificação das peças, de modo a corrigir informações imprecisões. Esse trabalho também permitirá discernir quais povos ainda não estão representados na coleção, de modo a suprir eventuais lacunas. Um controle efetivo dos objetos que pertencem ao Memorial permitirá não apenas reformular sua exposição de longa duração, como facilitará a curadoria de exposições temporárias.
acervo Darcy concebia o Memorial dos Povos Indígenas como um local em que o visitante pudesse conhecer todas as facetas das civilizações autóctones. Segundo ele, o museu permitiria ao frequentador “ver o que é mais original para o Brasil, que é a criatividade indígena”. Na instituição, seriam apresentados não apenas artefatos produzidos pelos índios, como aspectos de sua cultura, abrangendo desde suas línguas a sua agricultura e hábitos alimentares – que seriam, em grande parte, herdados pelos brasileiros.
acervo
O acervo de um museu etnográfico indígena cumpre uma importante missão não apenas entre os brancos, mas também entre os índios. Conforme explica Marília Xavier Cury, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, Os diversos grupos indígenas passam a procurar os museus etnográficos para ver, rever, conhecer ou (re)aprender técnicas, a partir de coleções de artefatos ou registros fotográficos dos seus povos no passado, gerando um movimento de reconhecimento institucional e apoio à preservação cultural indígena. Ainda, os indígenas estão nos museus atuando em exposições e outras ações, reformulando as narrativas e discursos. Também, os antropólogos e museus passam a requalificar as coleções indígenas outrora formadas, com a direta participação indígena na curadoria por meio de processos colaborativos/participativos.
O Memorial dos Povos Indígenas busca, portanto, acolher não apenas o branco que deseja conhecer o índio, mas também o índio que deseja se reconhecer.