Livro de Resumos - Aled Brasil 2010

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Recife. Outubro, 2010 © Reservados todos os direitos desta obra. Reprodução proibida, mesmo parcialmente, sem autorização expressa das organizadoras.

III Colóquio da Aled Brasil Discurso e práticas sociais. Um tributo a Luiz Antonio Marcuschi. Entidade organizadora Associação Latinoamericana de Estudos do Discurso do Brasil - Aled Brasil Entidades promotoras Núcleo de Estudos da Língua Falada e Escrita - NELFE Programa de Pós-graduação em Letras – Universidade Federal de Pernambuco Coordenação Kazue Saito M. de Barros (Nelfe/PPGL) Vice-coordenação Judith Hoffnagel (Nelfe/PPGL) Secretaria Rosane Alencar (Nelfe/Departamento de Ciências Sociais) Comissão de infraestrutura Beth Marcuschi (PPGL) Comissão de comercialização Marigia Aguiar (Nelfe/Unicap) Comissão de divulgação Karina Falcone (Nelfe/PPGL) Comissão científica Beth Marcuschi (PPGL); Doris Arruda (Nelfe/PPGL); Judith Hoffnagel (Nelfe/PPGL); Karina Falcone (Nelfe/PPGL); Kazue Saito M. de Barros (Nelfe/PPGL); Marigia Aguiar (Nelfe/Unicap); Rosane Alencar (Nelfe/Departamento de Ciências Sociais) Capa, Projeto Gráfico e DIAGRAMAçÃO Karla Vidal e Augusto Noronha (Pipa Comunicação - www.pipacomunicacao.net) Revisão As organizadoras


comitê científico Angela Paiva Dionisio (UFPE, Dep. Letras) Benedito Gomes Bezerra (UPE / Garanhuns) Cristina Teixeira Vieira de Melo (UFPE, Dep. Comunicação) Denize Elena Garcia da Silva (UnB) Diana Luz Pessoa de Barros (USP e U.P. Mackenzie) Doris Arruda Carneiro da Cunha (UFPE, Dep. Letras) Elizabeth Marcuschi (UFPE, Dep. Letras) Judith Hoffnagel (UFPE, Dep. Letras) Karina Falcone (UFPE, Dep. Letras) Kazue Saito M. de Barros (UFPE, Dep. Letras) Luciano Meira (UFPE, Dep. Psicologia Cognitiva) Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante (UFPB) Marigia Aguiar (UNICAP) Maria Virginia Leal (UFPE, Dep. Letras) Maria das Graças Soares Rodrigues (UFRN) Maria Eulalia Sobral Toscano (UFPA) Marli Leite Quadros (USP) Marlos de Barros Pessoa (UFPE, Dep. Letras) Mercedes Fátima de Canha Crescitelli (PUC-SP) Monica Magalhães Cavalcante (UFC) Remo Mutzenberg (UFPE, Dep. Ciências Sociais) Rosane Alencar (UFPE, Dep. Ciências Sociais) Rosangela Tenório (UFPE, Dep. Educação) Silke Weber (UFPE, Dep. Ciências Sociais) Sueli Cristina Marquesi (PUC-SP e UNICSUL) Wander Emediato (UFMG) Zilda Gaspar Oliveira de Aquino (USP)



Índice

APRESENTAÇÃO

11

PROGRAMAÇÃO

15

CONFERÊNCIAS

21

MESAS-REDONDAS

27

COMUNICAÇÕES COORDENADAS

75

COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

205

PÕSTERES

419



Apresentação



Apresentação III COLÓQUIO ALED BRASIL Discurso e práticas sociais O III Colóquio da Aled - Brasil tem como tema Discurso e práticas sociais. Um tributo a Luiz Antonio Marcuschi. Será realizado na Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, de 13 a 15 de outubro de 2010. O evento, organizado pela Associação Latinoamericana de Estudos do Discurso do Brasil - Aled Brasil, e promovido pelo Núcleo de Estudos da Língua Falada e Escrita - NELFE, e pela Pós-Graduação em Letras da UFPE, será uma homenagem ao Professor Dr. Luiz Antonio Marcuschi, que se aposentou recentemente. Marcuschi é um dos fundadores da Asociación Latinoamericana de Estudios del Discurso e primeiro vogal da Aled Brasil. É o fundador do Nelfe, núcleo que coordenou por vários anos, e um dos primeiros professores do Curso de Pós-Graduação em Letras da UFPE. O colóquio pretende contribuir para a construção de uma visão global dos estudos do discurso no Brasil e para a consolidação de uma rede de pesquisadores da área, com o intuito de fortalecer o debate entre analistas de diferentes temas e posições teóricas. A programação inclui conferências, mesas-redondas, comunicações e pôsteres. O evento acolherá propostas tanto de sócios efetivos da Aled quanto de pesquisadores não filiados à associação.

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Programação



Programação

Legendas: CI

Sessão de comunicações individuais

CC

Sessão de comunicações coordenadas

MR

Mesas-redondas

PO

Sessão de pôsteres

A

Dia 14 de outubro de 2010

B

Dia 15 de outubro de 2010

DIA 13/10 09h 14h

Credenciamento

14h 16h

Abertura (Auditório do CFCH) Homenagem a Luiz Antonio Marcuschi

16h15 17h15

Conferência Prof. Dr. SIRIO POSSENTI (UNICAMP). O campo do humor

17h30

Momento musical: Pianista Marco Antônio Caneca (Auditorio 2 do CAC) / 15 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

DIA 14/10 (A) Salas

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8h30 10h

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10h15 11h45

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Salas

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13h30 15h

PO 01A – 26A (Hall do CAC)

15h15 16h45

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17h 18h

Conferência Prof. Dr. TEUN VAN DIJK. Auditório do CFCH Conhecimento ou ideologia? Livros didáticos sobre imigrantes e minorias

18h

Lançamento de livros

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PROGRAMAÇÃO

DIA 15/10 (B) Salas

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8h30 10h

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Salas

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13h30 15h

PO 01B – 25B (Hall do CAC)

15h15 16h45

MR 01B

17h 18h

Conferência Profa. Dra. DIANA LUZ PESSOA DE BARROS. Auditório do CFCH Estudo discursivo da intolerância: das paixões, do ódio, do medo.

18h

Encerramento

MR 02B

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CI 26B

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CI 23B

CI 24B

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ConferĂŞncias



Conferências

CONFERÊNCIA - 13/10 - AUDITÓRIO DO CFCH/UFPE

O campo do humor SÍRIO POSSENTI Universidade Estadual de Campinas Para Bourdieu e Bakhtin, a noção de campo (ou esfera) é de fundamental importância para a compreensão dos discursos. Quer se trate de sua emergência, de sua organização ou da circulação dos discursos que neles se produzem, o que inclui sua recepção, a noção é crucial. Em primeiro lugar, porque é por meio dela que se compreende melhor que a relação entre sujeitos e discursos não é direta, mas sempre mediada por aparelhos, mais ou menos institucionalizados, e exatamente de acordo com a “natureza” de cada campo. Os “domínios” que mais claramente se organizam como campos são o científico, o religioso, o literário, o político. Mas, certamente, deve-se considerar que são campos o jornalístico e o publicitário. Creio que se pode ganhar em clareza considerando o humor como um campo, pois se ganhariam instrumentos para verificar sua organização numa sociedade. Para mencionar apenas alguns aspectos, / 21 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

pode-se levar em conta sua distribuição nos espaços midiáticos (horários de TV, sessões de jornais e de revistas), o estatuto de seus praticantes (autores, comediantes, apresentadores, chargistas, cartunistas etc.). A apresentação considerará diversos elementos de comparação do funcionamento de um possível discurso humorístico com o discurso literário, com o que, parecem, se torna mais claramente possível postular sua existência. CONFERÊNCIA - 14/10 - AUDITÓRIO DO CFCH/UFPE

Conhecimento ou Ideologia: livros didáticos sobre imigrantes e minorias TEUN VAN DIJK Universitat Pompeu Fabra As teorias da ideologia, desde Marx-Engels no século XIX e desde Mannheim no século XX, sempre enfatizavam a distinção entre ideologia e conhecimento. As ideologias foram representadas como sistemas de crenças negativas, inculcadas pelos dominantes para manter e reproduzir a sua dominação. Conhecimento, por outro lado, são crenças de fatos verdadeiros, como a ciência. No marco de um projeto novo sobre discurso e conhecimento, esta palestra trata da distinção clássica entre conhecimento e ideologia, como uma ilustração na análise de passagens de livros didáticos sobre imigrantes e minorias étnicas.

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CONFERÊNCIAS

CONFERÊNCIA - 15/10 - AUDITÓRIO DO CFCH/UFPE

Estudo Discursivo da Intolerância: as paixões do ódio e do medo DIANA LUZ PESSOA DE BARROS Universidade Presbiteriana Mackenzie Universidade de São Paulo CNPq Nesta conferência, apresentam-se alguns resultados de um projeto sobre a construção discursiva da identidade intolerante, desenvolvido no âmbito do Laboratório de Estudos sobre a Intolerância e com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq. Na perspectiva teórica da semiótica discursiva de linha francesa, o objetivo do projeto é mostrar como se constroem os discursos intolerantes (racista, fascista, separatista, etc), e qual a identidade, o éthos intolerante, que neles se cria. Com esse fim, são examinados os procedimentos linguístico-discursivos usados e o quadro de valores em que os discursos se colocam. Na apresentação, serão observadas principalmente as paixões, tal como a semiótica as concebe, ou seja, com base nos estudos da modalização, da aspectualização e da moralização discursivas. Para tanto, destacam-se dois aspectos característicos dos discursos intolerantes: trata-se, na narrativa, de um discurso de sanção aos sujeitos considerados como mal cumpridores de contratos sociais; os sujeitos intolerantes são sempre sujeitos apaixonados, diferenciando-se, dessa forma, a sanção apaixonada da intolerância, da sanção desapaixonada da justiça. A paixão caracteriza, assim, a / 23 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

intolerância. Predominam nos discursos intolerantes dois tipos de paixões: as paixões ditas malevolentes (antipatia, irritação, ódio, raiva, xenofobia, etc) ou de querer fazer mal ao sujeito “diferente” que não cumpriu os acordos sociais, mas também as paixões benevolentes do patriotismo e do amor aos “iguais”; a paixão do medo do “diferente”.

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Mesas-Redondas



Mesas-Redondas

MR 01A

DISCURSO E GRAMÁTICA Denize Elena Garcia da Silva (Coordenadora) Maria Medianeira de Souza Orlando Vian Jr Mergulhar na relação entre discurso e gramática, buscar descrever e interpretar o lado funcional da linguagem, mediante análise linguísticodiscursiva que envolve processos, participantes, bem como circunstâncias em que emergem os eventos comunicativos (textos orais, escritos e multimodais), equivale a sondar níveis da linguagem, desde o estrato léxicogramatical até o semântico-discursivo. Nessa perspectiva, procuramos refletir sobre o papel de atividades discursivas que, concretizadas em algum gênero textual, implicam uma forma de ação e, sobretudo, de exercício do controle social. Para tanto, tecemos nossas reflexões tomando como ponto de partida idéias defendidas por Marcuschi (2004, 2005, 2008), as quais entrelaçamos com os estudos críticos do discurso (Fairclough, 2003), conjugados com princípios teórico-metodológicos da Linguística SistêmicoFuncional (LSF) propostos por Halliday (1994) e desenvolvidos por Kress & van Leeuwen (1996) e Martin e Rose (2003, 2008) entre outros.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

Discurso, gramática e intergenericidade na mídia Denize Elena Garcia da Silva Universidade de Brasília Na esteira dos ensinamentos de Marcuschi (2005), bem como nos princípios teórico-metodológicos da Análise de Discurso Crítica (ADC) e da Linguística Sistêmico-Funcional (LSF), comungo a ideia de que o funcionamento da língua falada, ouvida e escrita, além de constituir o âmbito apropriado para se estudar a interioridade da linguagem (gramática), permite analisar de maneira crítica a sua exterioridade (discurso), historicamente situada. Entre os caminhos para uma reflexão analítica, destaca-se uma variedade de ofertas de produtos no contexto da propaganda, cujas imagens verbais e nãoverbais costumam ser deslocadas de seus enquadres formais e funcionais, assim como dos tipos e dos gêneros textuais esperados, o que costuma resultar o que Marcuschi (2008:166) sugere como “intergenericidade”. Busco mostrar que a mídia, enquanto instituição social, não é uma entidade que existe fora do discurso, uma vez que tanto as palavras quanto as imagens veiculadas em vários suportes posicionam os sujeitos envolvidos no processo de produção publicitária, além de projetar representações sociais (Fairclough, 2003; Halliday e Mathiessen, 2004). Nessa perspectiva analítica, discuto também o fênomeno da multimodalidade - interrelação entre texto escrito, imagens e outros elementos gráficos - estudada por Kress & van Leeuwen (1996) na gramática do design visual. A abordagem semiótica social para a multimodalidade, baseada em Halliday (1994), assume que todos os modos semióticos possuem recursos específicos para realizar três funções comunicativas básicas: construir representações da realidade (função ideacional); estabelecer relações sociais e interações (função interpessoal); organizar combinações de representações e interações em tipos de conjuntos chamados textos ou eventos comunicativos (função textual).

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MESAS-REDONDAS

Discurso Opinativo e Gramática: grupos nominais no gênero editorial Maria Medianeira De Souza Universidade Federal de Pernambuco Para construir suas experiências do mundo, o usuário, na perspectiva da Gramática Sistêmico-Funcional (Halliday, 1978, 1994, 2004), recorre ao sistema de transitividade e realiza escolhas com as quais organiza seu texto para configurar o conteúdo que pretende colocar em jogo na interação. Composto por participantes, processos e circunstâncias, o sistema de transitividade é o componente da metafunção ideacional da linguagem, a qual codifica os conteúdos, os significados de nossa experiência do mundo exterior ou interior. O sistema de transitividade permite identificar que ações e atividades humanas são expressas no discurso e que realidade é retratada. Por esse viés sistêmico-funcional, investigamos a função dos participantes, sintaticamente realizados como sujeito, na expressão do ponto de vista institucional apresentado pelo editorial, conforme perfil desse gênero. Intentamos demonstrar como os referentes encapsulam significados específicos ao associarem-se a determinados processos – material, relacional, mental, verbal, comportamental e existencial – em consonância com o caráter opinativo do editorial e com seu propósito comunicativo na construção de teses sobre temas da esfera pública como política, economia, educação, saúde, entre outros. Observaremos, ainda, como fatores políticos, culturais e ideológicos podem determinar o modo pelo qual um conteúdo pode ser significado em um tipo específico de discurso através dos participantes escolhidos pelo editorialista. Nossos dados advêm de editoriais de jornais como Folha de São Paulo, Jornal do Commércio e Folha de Pernambuco, e de revistas como Veja e Época. A análise, empreendida nos moldes sistêmico-funcionais, permite-nos observar a oração e seus entornos, desde o imediato ao mais geral, o que

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

nos permite postular que os participantes-sujeitos refletem experiências e vivências, ressaltam sentidos e pontos de vista, enfim constroem uma representação de idéias, elaboram um determinado frame com o objetivo de fazer o leitor tornar-se cúmplice dessas idéias e desse frame, justificando assim as práticas sociais realizadas pelos e nos editoriais.

Teia e Trama/Gramática e Discurso: a tessitura dos significados nos textos Orlando Vian Jr. Universidade Federal do Rio Grande do Norte Aproprio-me da metáfora da relação teia/trama, como dois fios perpendiculares que criam um tecido, para discutir a relação gramática/ discurso e como os significados discursivos são construídos a partir das realizações léxico-gramaticais, indo ao encontro da afirmação de Halliday (1985, xvii) de que o texto é uma unidade semântica e não uma unidade gramatical, mas que os significados são realizados por meio de fraseados e que, portanto, sem uma teoria de fraseados não é possível tornar a interpretação dos significados de um texto explícita. A perspectiva metodológica adotada é a de que a Linguística Sistêmico-Funcional procura desenvolver tanto uma teoria sobre a linguagem como processo social e uma metodologia analítica que permite a descrição sistemática e detalhada dos padrões da linguagem (Eggins, 1994, pp. 22-23). Discuto, desse modo, as propostas de trabalho com o discurso sugeridas por Martin e Rose (2003, 2008) com o objetivo de compreendermos a relação entre discurso e gramática, entre os estratos léxico-gramatical e semânticodiscursivo e como as realizações em um nível implicam construções de significados em outro, tendo como base as metafuções e seus respectivos sistemas subjacentes no nível da léxico-gramática e sua relação com o nível da semântica do discurso e aos sistemas discursivos propostos por

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MESAS-REDONDAS

Martin e Rose (2003, 2005) a partir da gramática de Halliday (1985, 1994, 2004). Essa relação, ainda, servirá de base para o estabelecimento da interface entre a Linguística Sistêmico-Funcional e a Análise de Discurso Crítica, principalmente a partir de Chouliaraki e Fairclough (1999) e Fairclogh (2003). MR 02A

CONTRIBUIÇÃO DOS ENFOQUES RETÓRICOS PARA OS ESTUDOS DO DISCURSO Lineide Salvador Mosca (Coordenadora) Ivo José Dittrich Luiz Antonio Ferreira Partimos do conceito amplo de que os discursos são construções retóricas de representações sociais, políticas e culturais, tal como vem sendo tratado pelos estudiosos contemporâneos, responsáveis pela revitalização dos estudos já feitos desde a Antiguidade Clássica acerca das manifestações discursivas em seu caráter persuasivo. Tratar-se-á, pois, de uma concepção integrada que se baseia num fazer retórico, constituinte do fazer sobre o outro e sobre o mundo, daí as suas implicações políticas, no sentido amplo do termo, tal como tomado por Aristóteles em suas sistematizações. Assim é que todo e qualquer pronunciamento, em todas as manifestações discursivas têm um impacto retórico, quer isto seja intencional ou não. Na base teórica das apresentações desta mesa-redonda estará o princípio de que a argumentação pressupõe a negociação das distâncias entre as partes envolvidas a propósito das teses que se colocam, idéia essa cara a Michel Meyer, para quem falar em retórica é falar em diferença e diminuição desta / 31 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

entre os interlocutores para chegar a um acordo ou a um poder decisório. As várias instâncias compreendidas na dinâmica da prática argumentativa compreendem uma dimensão racionalizadora, uma estética e uma natureza política, profundamente imbricadas. A elas pode se ligar a trilogia retórica do logos, do páthos e do éthos, também em íntima relação. Nosso o bjetivo é, pois, dentro dessas perspectivas, repensar o discurso institucional, o das relações internacionais, assim como os movimentos passionais envolvidos nos interesses em jogo e o quanto a eficácia argumentativa determina o êxito das operações.

NEGOCIAÇÃO E RETORICIDADE EM TEMPOS DE CRISE Lineide Salvador Mosca Universidade de São Paulo Dentro de um quadro interdisciplinar, levar-se-ão em conta os aspectos sociais e históricos das manifestações discursivas em seu desenvolvimento. Nesse sentido, a própria História é vista em sua retoricidade, isto é, por sua estrutura retórica, na medida em que dimensiona o mundo, ordena os fatos e apresenta recortes da realidade. Partindo do princípio de que os discursos são construções retóricas, - tais como postuladas por Aristóteles e redimensionadas por Perelman, Meyer e outros,- constituem eles a instância que materializa a conexão entre o lingüístico e o não-linguístico, atestando investimentos sociais, históricos e psíquicos, por meio da ação de sujeitos que se interrelacionam em situações concretas. Desse ponto, passa-se à questão da negociação envolvida nos trâmites que se apresentam nas práticas sociais. Considerando a diferença entre sujeitos como o cerne da situação argumentativa, - parte central do enfoque retórico,- a aproximação entre os partícipes da negociação constitui o foco a ser alcançado, uma vez que argumentar nada mais é do que trazer o outro para junto de si, de suas posições, no respeito às possibilidades de pontos de vista diversos / 32 /


MESAS-REDONDAS

dos seus. Isto não se dá sem entraves, evidentemente. Que problemas há que se enfrentar em situações de confronto, em que a controvérsia é acirrada e em que as partes se fixam em seus próprios interesses? Qual o papel da mediação nesses casos e como se processam os avanços e recuos, as concessões, enfim, de cada parte envolvida? Serão analisadas manifestações discursivas do cenário internacional em que as relações se dão de forma tensa e conflitiva. Poder e controle subjazem a essas situações, especialmente em tempos de crise, em que não há isentos no que toca à mundialização das questões. Nesse ponto, o estudo das estratégias em jogo permite enxergar de forma menos nebulosa a possibilidade de um acordo, alvo desejado, ainda que insatisfatório em sua plenitude.

Dimensão Política do Discurso: instâncias argumentativas e estratégias retóricas Ivo José Dittrich Universidade Estadual do Oeste do Paraná O ponto de partida aqui estabelecido é o de que a retórica de um discurso se configura na dinâmica entre três dimensões argumentativas que se integram e complementam na prática discursiva da argumentação: racionalizadora, estética e política. Na primeira, a argumentação se configura como sustentação de uma tese; na segunda, como construção artística desenvolvida por diferentes recursos e linguagens; na terceira (dimensão política), como relação intersubjetiva entre quem propõe e defende uma tese - Orador - e aqueles a quem é dirigida - Auditório. Esta última dimensão será privilegiada no presente estudo, considerando sua complexidade e relevância na situação argumentativa. Todavia, por representarem lugares sociais ou posições históricas onde se constituem as crenças, valores ou conhecimentos a partir das quais uma tese é fundamentada, desenvolvida e / 33 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

negociada, Orador e Auditório serão caracterizados, respectivamente, como instância argumentativa Proponente e instância argumentativa Propositária. A relação entre estas duas instâncias é, por princípio, tensa: implica posicionamento divergente e, portanto, desencadeia relações de poder no discurso, o que incide no uso de diferentes estratégias retóricas por parte do Proponente - legitimação, identificação, antecipação e aproximação - no intuito de superar possíveis barreiras (estratégias) virtualmente atualizáveis pelo Propositário - rejeição, indiferença ou refutação. Neste sentido, uma teoria retórica nos termos aqui invocados pode contribuir para aprofundar a compreensão dessa dimensão política nos discursos, constituindo-se como suporte técnico e teórico para a práxis argumentativa.

LUGARES RETÓRICOS, MOVIMENTOS PATÊMICOS E QUESTÕES PROBLEMÁTICAS NOS DISCURSOS INSTITUCIONAIS Luiz Antonio Ferreira Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Todos os discursos institucionais são, por natureza, autoritários e, portanto, nada retóricos. Quando, porém, o discurso polêmico se infiltra nas decisões institucionais, configura-se uma situação retórica e, com ela, surgem graus de problematicidade que precisam ser identificados e solucionados. Como as instituições são regidas por leis, regimentos e regras fixas, o ato retórico (proclamado pelos representantes das instituições, investidos, desse modo, de discurso autorizado) envolve apelos de diversas ordens ligados a três questões fundamentais: por que surgiu esta questão? Por que está em discussão? Como devemos respondê-la? As respostas possíveis implicam outras questões de ordem ética ou política e exigem argumentação sustentada por lugares retóricos e movimentos passionais capazes de se mostrar efetivos e eficazes. Com base nas ponderações / 34 /


MESAS-REDONDAS

sobre questões de retórica feitas por Michel Meyer, no estudo dos lugares comuns repensados por Perelman e Tyteca e nas reflexões aristotélicas sobre as paixões humanas, é possível verificar, no discurso institucional, como os movimentos patêmicos se revestem de forte poder argumentativo, requalificam o problema em conformidade com os desejos imediatos dos interessados e exercem potência persuasiva capaz de criar um discurso instituinte que se infiltra no discurso dominante e o modifica sólida e competentemente. MR 03A

ACONTECIMENTO, MEMÓRIA E TRAJETOS DE SENTIDO NA CONSTRUÇÃO DA NOTÍCIA LUCIA MARIA ALVES FERREIRA (Coordenadora) ANNA MARIA G CARMAGNANI MARISA GRIGOLETO Como discursividade constitutiva do sujeito contemporâneo, o discurso jornalístico nos interpela, produzindo um saber que orienta a produção de sentidos, a percepção, a inteligibilidade e a interpretação dos acontecimentos que impactam nosso cotidiano, passando a tecer as redes de sentido a que serão filiados. As notícias e narrativas jornalísticas fazem circular e ressignificar sentidos, recortando a memória, em um movimento que se faz entre o dizer e o silenciar. Com base em teorização acerca do discurso em M. Pêcheux e M. Foucault e em conceitos relativos à imagem em Kress e T. van Leeuwen, esta mesa analisa alguns trajetos de sentido acerca de acontecimentos recentes em matérias jornalísticas. Procurando identificar os processos enunciativos que operam para que / 35 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

determinados sentidos se tornem hegemônicos e outros silenciados, são examinados recortes em diferentes materialidades significantes – verbal e imagética. Nosso objetivo é o de problematizar os meios utilizados para controlar os sentidos produzidos nos textos e imagens. São constantes os deslocamentos e realocamentos da memória que, orientados por uma visão já configurada ideológica e politicamente, constroem um efeito de consistência e coerência no discurso. Trata-se de um dizer que, explorando cada vez mais as imagens, fixa determinados sentidos e ressignifica outros, silenciando outros tantos sentidos presentes na memória.

ACONTECIMENTO, MEMÓRIA E REDES DE FILIAÇÃO DE SENTIDOS NO DISCURSO Lucia Maria Alves Ferreira Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Ao engajar-se nas práticas discursivas do cotidiano, o sujeito interpreta e constrói a realidade, retomando e ressignificando os processos de significação que constituem a sua historicidade, mas que não se iniciaram nele. Há cerca de um ano, os cariocas vêm testemunhando a construção de muros em torno de algumas favelas da cidade. Na medida em que ganham sua forma no concreto, o acontecimento dos muros reclama sentidos, vinculando-se à memória de outros muros, a episódios da história política da cidade e de seus habitantes e a muitos outros sentidos disponibilizados pela memória. Para a maioria dos habitantes da cidade, no entanto, a novidade e a polêmica desencadeada sobre a funcionalidade dos muros só se tornaram conhecidas pelos relatos dos jornais e dos telejornais. Por seu intermédio conhecemos os projetos de urbanização e ouvimos as vozes das autoridades responsáveis, das lideranças comunitárias e dos especialistas - urbanistas, cientistas sociais, historiadores – atores sociais convocados para dar sentido ao acontecimento. À luz da Análise do Discurso de / 36 /


MESAS-REDONDAS

filiação francesa, este artigo examina algumas das redes de sentido tecidas pelo discurso jornalístico sobre a construção dos muros. Mobilizando os conceitos de acontecimento, memória, formação discursiva e sujeito, são examinadas matérias publicadas pelo jornal O Globo e pelas revistas Veja e Isto é, entre abril de 2009 e fevereiro de 2010, procurando identificar os processos enunciativos que operam para que determinados sentidos se tornem hegemônicos e outros sejam silenciados.

IMPRENSA E REPRESENTAÇÃO: MODOS DE (RE) CONTAR E DE (RE)VER UM ACONTECIMENTO Anna Maria Grammatico Carmagnani Universidade de São Paulo O questionamento do discurso da mídia, mais especificamente, o discurso jornalístico há muito ocupa os estudiosos da linguagem em suas diversas abordagens teóricas. Constata-se, em grande parte dos trabalhos, o questionamento da objetividade da mídia impressa e os meios usualmente utilizados para o controle dos sentidos, o apagamento de algumas personagens em detrimento de outros, os recortes das notícias através de pautas pré-estabelecidas em cada instituição, enfim, o desejo de uma apresentação controlada daquilo que ocorre em cada cidade, país e mundialmente. Constata-se, também, que cada vez mais, esse controle do(s) acontecimento(s) é feito através de imagens (fotos, diagramas, etc.) que não visam ilustrar ou complementar a informação. Ao contrário, essas imagens constroem a notícia, buscando na imediatez das cores, dos contornos, dos flagrantes, construir a “realidade” para o leitor. Partindo dessa constatação, o objetivo deste trabalho é analisar e discutir a construção da notícia numa perspectiva discursiva, considerando o papel desempenhado pelas imagens nessa construção. Como base teórica, utilizamos os conceitos de discurso de M. Pêcheux e de M. Foucault, e os conceitos relativos à imagem de

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

Kress e T. van Leeuwen. O corpus utilizado para análise é composto de artigos jornalísticos retirados de jornais e de revistas semanais relativos às próximas eleições presidenciais. O recorte resulta de reflexões acerca dos modo(s) de (re)contar uma história, re(construir) um determinado fato através de certas formas de “dizer” e de “mostrar” um acontecimento. Nosso objetivo é o de problematizar os meios utilizados para controlar os sentidos produzidos através de imagens, convocando formas de dizer que corroboram aqueles sentidos. Entendemos que a imprensa elabora novas formas de homogeneizar sentidos, explorando cada vez mais as imagens, não apenas para atestar a veracidade dos fatos, mas para construí-los a partir de uma perspectiva particular.

INGLÊS NO DISCURSO JORNALÍSTICO: RESSIGNIFICAÇÃO, MEMÓRIA E SILENCIAMENTO EM TORNO DE DOIS ACONTECIMENTOS Marisa Grigoletto Universidade de São Paulo Dois acontecimentos políticos recentes vêm produzindo efeitos na discursividade em torno da necessidade de os brasileiros falarem inglês: a realização, no Brasil, da Copa do Mundo de Futebol em 2014 e das Olimpíadas em 2016, acompanhada da decisão do governo municipal do Rio de Janeiro de implantar o ensino de inglês desde o primeiro ano do ensino fundamental, e a inclusão da prova de língua estrangeira (inglês ou espanhol) no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), a partir de 2010. No bojo das notícias e comentários sobre esses acontecimentos, o discurso jornalístico vem fazendo circular e ressignificando sentidos sobre o ensino e o aprendizado do inglês nas escolas brasileiras e, consequentemente, produzindo “mexidas” na rede de sentidos sobre o tema. Com base no referencial teórico da Análise do Discurso de filiação francesa que tem seus fundamentos em Pêcheux, esta apresentação / 38 /


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analisa alguns desses trajetos de sentido, focalizando, em especial, o modo como o discurso jornalístico recorta a memória discursiva sobre o tema, em um movimento que se faz entre o dizer e o silenciar. Trata-se de um dizer que fixa determinados sentidos e ressignifica outros e do silenciamento de outros tantos sentidos presentes na memória. Para esta análise, trabalha-se principalmente com os conceitos de acontecimento, memória discursiva, memória das palavras e silenciamento, sobre um corpus composto de matérias publicadas nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em 2009 e 2010. MR 04A

SUBJETIVIDADES E PRÁTICAS DISCURSIVAS CONTEMPORÂNEAS EVANDRA GRIGOLETTO (Coordenadora) BETHANIA SAMPAIO CORRÊA MARIANI FABIELE STOCKMANS DE NARDI A proposta da presente mesa é mobilizar a noção de subjetividade, tal como a concebe a teoria francesa de Análise do Discurso, com o intuito de discutir movimentos de subjetivação em práticas discursivas contemporâneas. Partimos da consideração de que o processo de inscrição do sujeito na língua, seja ela materna ou estrangeira, implica, necessariamente, um movimento de subjetivação que já está pré-determinado, uma vez que a construção desse lugar pelo/para o sujeito, por ser da ordem do simbólico, pressupõe sua inserção em redes significantes. Embora pré-determinando, esse movimento não é nem homogêneo, nem único tampouco estável. Ao contrário, ao falarmos dessa subjetividade, a tomamos como heterogênea, por sofrer constantes processos de (des)estabilização, o que imprime

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seu caráter provisório. Dessa forma, toda vez que o sujeito inscreve-se em diferentes práticas discursivas novos movimentos de subjetivação, determinados sócio-historicamente, são colocados em jogo, imprimindo outras marcas de singularidade no/ao sujeito. Esses mecanismos de subjetivação permitem analisar a fragilidade da identidade do sujeito da contemporaneidade que, afetado pela efervescência de novos lugares e papeis sociais, cada vez mais instáveis e provisórios, não está à margem desses processos, mas imerso nessa rede de significantes, tem sua singularidade desestabilizada o tempo todo. Essa desestabilização provoca no sujeito, na sua relação com a língua, uma ilusão necessária de encontrar nessa materialidade a possibilidade de um lugar de dizer que o torne singular, possuidor de uma identidade que lhe assegure o reconhecido pelo outro do seu lugar social.

PRÁTICAS DISCURSIVAS CONTEMPORÂNEAS: O SUJEITO ENTRE A SINGULARIDADE E A DISPERSÃO Evandra Grigoletto Universidade Federal de Pernambuco Pensar em práticas discursivas contemporâneas supõe, de imediato, contemplar a noção de heterogeneidade, não só dos sujeitos que se inscrevem e constituem essas práticas como também dos discursos produzidos por tais sujeitos. Partindo desse pressuposto, a proposta do presente trabalho é discutir como o sujeito contemporâneo se subjetiva, produz singularidade em determinados espaços virtuais, marcadamente heterogêneos, e que requerem dele a ocupação de novos papeis sociais e, por sua vez, outras posições-sujeito. Para observar tal movimento do sujeito, elejo espaços virtuais distintos: os ambientes virtuais de aprendizagem e sites de relacionamento, como Orkut. Em ambos os espaços, o sujeito

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produz movimentos de interlocução com o outro, expondo-se, portanto, ao reconhecimento desse outro. Pautada na teoria francesa de Análise do Discurso e considerando o modo de o sujeito relacionar-se com o outro, apresento as questões que nortearão, metodologicamente, a análise das sequências discursivas coletadas nesses espaços: como na relação com o outro o sujeito se singulariza, produzindo subjetividade? A subjetividade está mais cerceada no caso dos ambientes virtuais de aprendizagem, onde há um direcionamento de sentidos previamente definido pelo professor? Por outro lado, em sites de relacionamento como o Orkut, onde o sujeito possui a ilusão de “tudo” poder dizer, esse cerceamento não acontece? Trabalho com a hipótese de que, caracterizados pela dispersão e determinados pelas condições de produção em que inscrevem seu discurso, os sujeitos, nesses espaços, buscam no outro o reconhecimento do seu papel social, da sua identidade. O outro, portanto, controla o modo desses sujeitos relacionarem-se com a língua e, por sua vez, de produzirem subjetividades.

DISCURSOS ANESTESIADOS Bethania Sampaio Corrêa Mariani Universidade Federal Fluminense O trabalho a ser apresentado se inscreve em dois projetos mais amplos: Uma proposta de arquivo sobre o sujeito da cidade do Rio de Janeiro: inventário de heranças, cicatrizes e esperanças, que recebe apoio da FAPERJ na forma de uma bolsa Cientistas do Nosso Estado, o qual está vinculado, por sua vez, a um outro - Nacionalismo Lingüístico e historicidade: a construção do sujeito nacional -, que recebe financiamento do CNPq. Com corpora diferentes, os dois projetos visam discutir os vários e heterogêneos ângulos de constituição e representação do sujeito. Com o projeto apoiado pela FAPERJ, constituiu-se o Laboratório Arquivos do Sujeito (LAS), que objetiva coletar, organizar e analisar tanto os discursos produzidos pelo segmento jovem da população / 41 /


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carioca quanto os discursos que circulam sobre essa posição de sujeito. O objetivo é analisar a posição sujeito como foco de comunidades sociais na internet que tematizam uma espécie de adoração aos ansiolíticos. Com base no arcabouço teórico-metodológico da Análise do Discurso (Pêcheux, 1969 e Orlandi, 1988), pretendemos, com esta pesquisa, compreender a representação de sujeito que se constrói na contemporaneidade, época em que evitar a angústia parece ser um dos maiores desejos sociais. Assim, buscando depreender e analisar como é falado o lugar sócio-cultural no qual essas comunidades e blogs se constituem, e atuam, interessa discutir a discursividade cosntitutiva dessa forma de estabelecimento de laços sociais com a apologia do uso de ansiolíticos.

EM REDE: OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO DO PROFESSOR-APRENDIZ EM ESPAÇOS VIRTUAIS E OS SEUS DIZERES SOBRE/NA LÍNGUA Fabiele Stocmans de Nardi Universidade Federal de Pernambuco Este trabalho se propõe a analisar as formas de subjetivação e os dizeres sobre a língua que se produzem em espaços virtuais, de modo mais específico em blogs e wikis cujo tema central é o ensino-aprendizagem de língua espanhola. O crescente interesse pelas tecnologias, em especial as chamadas “novas tecnologias”, e sua relação com os processos de ensino-aprendizagem, principalmente se considerarmos a expansão de oferta de ensino a distância em nosso país, exige a construção de um olhar cada vez mais atento para esses espaços, que aparecem, muitas vezes, como a possibilidade de que, por meio deles, sejam estreitados os laços entre aqueles que aprendem e os que ensinam uma língua, e desses sujeitos com a língua e com os saberes sobre ela produzidos. As análises que investigam a potencialidade dessas ‘ferramentas’ para os / 42 /


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processos de ensino têm ressaltado o dinamismo que seu uso pode trazer para o trabalho do professor, bem como a possibilidade de exposição de sua ideias e dos conhecimentos construídos, constituindo-se como um espaço de conhecimento de/sobre o sujeito, aparentemente democrático. O que observamos, com essa análise, são justamente os mecanismos de legitimação do dizer mobilizados por esse sujeito que fala sobre a língua, ao mesmo tempo em que se diz por meio dela (quem é ou quem deseja ser), ou seja, se expõe na/pela língua que ensina-aprende, produzindo marcas de uma singularidade em construção, apoiada, muitas vezes, nesse saber a língua que o legitima. MR 05A

OS ESCRITOS DO CÍRCULO DE BAKHTIN: DISCUSSÕES CONCEITUAIS, TEÓRICAS, EPISTEMOLÓGICAS E FILOSÓFICAS DORIS DE ARRUDA C CUNHA (Coordenadora) MARIA BERNARDETE FERNANDES DE OLIVEIRA MARIA CRISTINA HENNES SAMPAIO Nessa mesa-redonda, serão discutidas as posições de alguns estudiosos que tratam os escritos de Bakhtin como teoria dialógica de discurso, abordagem dialógica, filosofia, ou hermenêutica. Estabelecem um diálogo entre Bakhtin e outros filósofos sobre os conceitos de alteridade e ética. Nesse contexto, a apresentação trará contribuições para se discutir questões relativas à teoria dialógica do discurso e a sua contribuição para a análise dos “combates dialógicos”; à alteridade na / 43 /


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contemporaneidade e sua relevância para o estudo de práticas sociais linguageiras; e à Ética para o pensamento e o fazer científico nas Ciências Humanas na atualidade.

A TEORIA DIALÓGICA DE DISCURSO – CONTRIBUIÇÕES PARA A COMPREENSÃO DA CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS EVENTOS MIDIÁTICOS Dóris De Arruda Carneiro Da Cunha Universidade Federal de Pernambuco Nos últimos anos, fala-se no Brasil de uma análise ou teoria dialógica do discurso, (Brait, 2006) enquanto na França pesquisadores preferem se referir a uma abordagem dialógica do discurso. François se interroga se é possível haver uma “verdadeira teoria” do dialogismo (aspas do autor), uma vez que não se pode escapar da heterogeneidade de perspectivas e de sentidos (François, 2006, p. 50). Perrier (1992, apud Demerson, 1992, p. 240) adverte que é necessário empregar o termo teoria com precaução, enquanto Faraco (2003) considera-o um pensador e Grübel (2005, p. 85) concebe a obra de Bakhtin como uma filosofia da comunicação criativa. Nessa comunicação desenvolvo uma discussão epistemológica em torno de noções como teoria, ciência, hermenêutica para mostrar que o dialogismo, além de uma teoria, é uma categoria enunciativa incontornável. Em seguida, tentarei mostrar como a articulação entre o conceito de dialogismo e de noções de teorias enunciativas tem conseqüências na metodologia e análise dos dados empíricos: definição do objeto de estudo, constituição do corpus, recorte do que será analisado. Com base nessa discussão, apresento os resultados da análise de textos da imprensa nos planos da materialidade lingüística e do discurso, evidenciado os “combates dialógicos”, o modo como as palavras / 44 /


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são objeto de lutas entre interlocutores pela atribuição de sentidos. Os resultados mostram que, na circulação discursiva, as palavras, formulações e discursos contribuem a criar eventos discursivos ou a dar um sentido social aos eventos.

ALTERIDADE E PRÁTICAS DISCURSIVAS: REVISITANDO CONCEITOS Maria Bernadete Fernandes de Oliveira Universidade Federal do Rio Grande do Norte Discutir os desafios que se colocam para produção do conhecimento na área dos estudos da linguagem no século XXI implica, de um lado, em conceber a linguagem, como um nas quais a linguagem é indispensável, na seguinte ordem: a- resenhas de alguns estudos sobre as formas de manifestação da alteridade; b- apresentação do papel da alteridade na visão de alguns autores filiados ao campo teórico dos estudos culturais; ce, por último, uma leitura da alteridade nos escritos de M.Bakhtin.objeto concreto, vivido, real, construído na “vida e na arte” (Voloshinhov, 1926) e, de outro em inserir essa investigação nos marcos de um paradigma, cujo pressuposto fundamental é o de adotar uma caminho diferente das formas “modernas” de interpretar o fato social, questionando as verdades absolutas, buscando trazer contribuições para a compreensão do “malestar da civilização”. Nesse contexto, essa apresentação objetiva discutir a questão da alteridade na contemporaneidade e de sua relevância para o estudo de práticas sociais.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

ÉTICA E CIÊNCIAS HUMANAS: DIÁLOGOS FILOSÓFICOS ENTRE M.BAKHTIN E E. LÉVINAS Maria Cristina Hennes Sampaio Universidade Federal de Pernambuco O presente trabalho tem por objetivo explicitar o diálogo instaurado pelo filósofo russo M. Bakhtin (1993), na obra Por uma Filosofia do Ato Ético, com o filósofo lituano-francês Emmanuel Lévinas (2009), na obra Entre Nós: Ensaio sobre a alteridade, acerca da Ética, e encontrar os argumentos filosóficos e empíricos para repensar sua pertinência para o pensamento e o fazer científico nas Ciências Humanas na atualidade. Para esse fim será aplicado o método dialógico que consiste em evidenciar as relações de sentido estabelecidas entre os enunciados concretos e os discursos contidos nas obras disputadas e as práticas linguageiras historicamente situadas acerca do pensamento e o fazer científico. Enquanto o primeiro propõe um paradigma filosófico moral de interpretação da realidade de atos responsáveis por sujeitos responsáveis, sugerindo que uma filosofia do ser-evento unitário e único, tanto em relação ao seu conteúdo-sentido como de um produto objetivado, não pode ser abstraída do ato-ação real, único e de seu autor – aquele que está pensando teoricamente, contemplando esteticamente e agindo eticamente, o segundo vai propor a própria ética como filosofia primeira, retomando o conceito do ser como processo ou acontecimento de ser na dimensão da alteridade, dedicandose à análise intersubjetiva da relação de um-(mesmo)para-o-outro (nós) que instaura o sujeito ético e o acontecimento ético. A dimensão ética, para ambos os autores, pressupõe um novo paradigma de pensamento e de ação, oferecendo um novo olhar acerca da alteridade humana e suas formas de expressão, além de importante contribuição para se pensar o papel do sujeito, da subjetividade e da intersubjetividade na pesquisa nas Ciências Humanas, em relação ao método científico, riscos e benefícios.

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MESAS-REDONDAS

MR 06A

A LINGUÍSTICA COGNITIVO-FUNCIONAL EM FOCO EDVALDO BALDUINO BISPO (Coordenador) JOSE ROMERITO SILVA MARIA ANGÉLICA FURTADO DA CUNHA Esta mesa-redonda propõe-se a reunir e apresentar estudos dedicados à análise de construções morfossintáticas em consonância com as funções a que servem na comunicação. O material básico para a investigação consiste dos Corpora Discurso & Gramática, composto por depoimentos de informantes de diferentes níveis de escolaridade que produziram, cada um, cinco tipos distintos de textos orais, a partir dos quais elaboraram cinco textos escritos, a fim garantir a comparabilidade entre as modalidades oral e escrita. Os estudos em questão objetivam, em termos teóricos e empíricos, melhor compreender a evolução da gramática. Para tanto, aplicam, testam e refinam princípios e categorias do funcionalismo norte-americano contemporâneo e da linguística cognitiva na descrição e na interpretação de diferentes fenômenos. Segundo Tomasello (1998), essas duas áreas de investigação linguística, embora ainda não tenham se articulado satisfatoriamente, apresentam pontos de convergência, na medida em que rejeitam a autonomia da linguagem e a consideram como um mosaico complexo que reflete atividades cognitivas e sociais. Na busca de articulação entre essas abordagens, interessa verificar em ação diferentes motivações cognitivas e comunicativas e avaliar o efeito de cada uma delas na configuração concreta da reorganização morfossintática e/ou da trajetória de itens específicos, quer do léxico à gramática, quer de um certo estágio gramatical para um estágio ainda mais avançado. / 47 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

Com fundamentação no pressuposto de que a gramática de uma língua exibe recursos de codificação morfossintática emergentes, ao lado de mecanismos regulares e estáveis, focalizam-se os princípios motivadores tanto dos aspectos emergentes quanto dos aspectos rotinizados da gramática. Esses estudos têm trazido contribuições significativas para o ensino de gramática, buscando estabelecer uma ponte entre os achados a respeito do comportamento de construções morfossintáticas no português brasileiro e o processo de ensino-aprendizagem de língua materna.

MOTIVAÇÕES SOCIOINTERACIONAIS E COGNITIVAS NO USO DAS RELATIVAS NÃO-PADRÃO Edvaldo Balduino Bispo Universidade Federal do Rio Grande do Norte Analiso, neste trabalho, as estratégias de relativização do PB numa abordagem cognitivo-funcional, com ênfase na relativa cortadora, de modo a verificar de que forma a recorrência a essa estratégia atende a necessidades sociointeracionais e cognitivas. Considero, para isso, tanto as formas padrão (com ou sem preposição) quanto as não-padrão (copiadora e cortadora), e investigo as ocorrências de cada uma delas a partir da observação dos seguintes fatores: nível de escolaridade dos informantes, modalidade de língua empregada (se oral ou escrita), o pronome relativo utilizado, o papel sintático do relativo, a classificação prototípica da relativa (restritiva ou explicativa) e o nível de integração sintático-semântica das relativas em relação à oração principal.Utilizo-me do banco de dados que constituem os Corpora Discurso & Gramática Natal e Discurso & Gramática Rio de Janeiro e ocupo-me, particularmente, do conjunto de textos, orais e escritos, produzidos pelos informantes concluintes de três níveis de ensino: fundamental, médio e superior. Como suporte teórico, adoto a proposta defendida por autores como

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Tomasello (1998) e Langacker (1987, 1998) de conjugação da Linguística Funcional à Linguística Cognitiva, resultando na abordagem denominada cognitivo-funcional. Sigo alguns pressupostos teórico-metodológicos dessa abordagem e aplico, em especial, algumas das categorias centrais do funcionalismo, a saber, os princípios de marcação e de iconicidade e o processo de gramaticalização, além do princípio da expressividade proposto por Dubois e Votre (1994). Com a pesquisa, pude verificar, entre outras coisas, que a recorrência à cortadora em detrimento da relativa padrão preposicionada deve-se tanto a uma questão de redução de esforço de elaboração e processamento, o que corresponde a um menor custo cognitivo, quanto a pressões decorrentes das mais variadas situações de interação social e da rotinização de uso por que passam as estruturas relativas. Esses achados trazem contribuições para o ensino de língua que também elucido.

UMA PROPOSTA PARA A ABORDAGEM DA INTENSIFICAÇÃO EM SALA DE AULA José Romerito Silva Universidade Federal do Rio Grande do Norte O tratamento dado ao fenômeno da intensificação (convencionalmente denominada “grau”) nas aulas de língua portuguesa, não obstante as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), mais especificamente as que dizem respeito à reflexão sobre a língua(gem), tem-se caracterizado pelo enfoque de natureza descritivo-normativa, portanto, ainda bastante atrelado à tradição gramatical. Isso pode ser constatado na forma como os livros didáticos adotados nas escolas de ensino fundamental e/ou médio, quer públicas ou particulares, exploram esse tema, o que leva a inferir igual tendência na prática dos professores em sala de aula. O que se observa nesses livros é a descrição das tradicionais

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

categorias de grau seguida de atividades, em certos casos, com base em alguns textos, em que se pedem o reconhecimento dessas categorias e a repetição de padrões formais segundo a norma culta. Diferentemente desse modelo, neste trabalho, apresento uma proposta alternativa de abordagem da intensificação, considerando sua multifuncionalidade semântico-pragmática em diferentes contextos discursivos. Como ponto de partida, utilizo quatro manuais didáticos efetivamente adotados em escolas públicas e paticulares de Natal/RN, sendo dois de cada nível de ensino, na intenção de estebelecer um confronto entre a perspectiva de enfoque verificada nos livros analisados e a proposta sugerida. Para tanto, lanço mão das contribuições teórico-metodológicas da Linguística Funcional norteamericana, nos termos defendidos por pesquisadores como Croft (1990), Tavares e Furtado da Cunha (2007), Görski e Freitag (2007), e de autores como Espíndola (2004), Travaglia (2004), Gonçalves (2007), entre outros.

CONSTRUÇÕES DE ESTRUTURA ARGUMENTAL NO PORTUGUÊS DO BRASIL Maria Angélica Furtado Da Cunha Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte Este trabalho tem como tema duas construções de estrutura argumental do português do Brasil, mais especificamente, a construção transitiva e a construção bitransitiva. O objetivo é examinar a constituição interna dessas construções em termos sintáticos e semânticos, observando as condições pragmáticas que motivam seu uso discursivo. Em termos sumários, a construção é um pareamento forma-significado que não depende de verbos particulares. Isso significa que a própria construção tem significado, independentemente das palavras que a constituem, servindo como um esquema ou modelo que reúne o que é comum a um conjunto de verbos. A análise segue os pressupostos teóricos da / 50 /


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Gramática de construções, tal como formulados por Goldberg (1995), entre outros, e da Linguística funcional na vertente norte-americana, de inspiração em Givón, Hopper e Thompson. Metodologicamente, a pesquisa conjuga fatores quantitativos e qualitativos no exame do objeto de estudo. Os dados empíricos correspondem a oito narrativas faladas e suas correspondentes escritas extraídas do Corpus Discurso & Gramática: a língua falada e escrita na cidade do Natal (FURTADO DA CUNHA, 1998), produzidas por quatro estudantes do terceiro ano do ensino médio. O material analisado consiste de 55.827 palavras, sendo 49.042 dos textos falados e 6.785 dos textos escritos correspondentes. A investigação comprovou que o padrão estrutural e o enquadre semântico das construções transitivas estão diretamente relacionados à expressão do evento transitivo prototípico, em que um agente intencional causa o afetamento de um participante paciente; com relação às construções bitransitivas, seu sentido central é “agente faz com que o recipiente receba o paciente”, isto é, o significado de transferência associado a verbos de oferecimento, cujo protótipo é dar.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

MR 01B.

PERSPECTIVAS SOCIOCOGNITIVAS E SOCIODISCURSIVAS SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE TEXTO E SOCIEDADE INGEDORE GRUNFELD VILLAÇA KOCH (Coordenadora) ANNA CHRISTINA BENTES e CÁSSIA M. A. NOGUEIRA NEYLA GRACIELA PARDO ABRIL A mesa redonda em questão pretende discutir como a Linguística Textual tem contribuído de maneira fundamental para a compreensão dos impactos dos processos multimodais de produção textual nas relações sociais. Para isso, pretendemos trazer, em primeiro lugar, um retrospecto das tarefas desenvolvidas pela LT nos últimos 20 anos, principalmente no que diz respeito à maneira como essa disciplina tem participado da renovação e do aperfeiçoamento constante das formas de cognição social que são os textos. Em seguida, teremos a apresentação de análises de como determinados recursos simbólicos e tecnológicos de diferentes gêneros textuais e de diferentes naturezas podem estar a serviço da (des)construção de identidades sociais e do reforço à manutenção do racismo e das desigualdades sociais.

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A LINGÜÍSTICA TEXTUAL NO SÉCULO XXI: TAREFAS E PERSPECTIVAS Ingedore Grunfeld Villaça Koch Universidade Estadual de Campinas Tomando por base o conceito de texto apresentado por Antos (1997), pode-se pleitear uma Lingüística de Texto fundamentada numa Teoria da Evolução Cultural, que objetive explicitar a evolução cultural da (re)geração, organização e transmissão de formas de cognição social e de formas de uso social do conhecimento, incluindo as formas de distribuição sociocomunicativa. Ou seja, a LT tem por tarefa explicitar todo e qualquer aspecto da evolução do conhecimento que diga respeito a seus modelos e formas lingüísticas conceptuais e perceptuais, assim como seus modos de seu emprego comunicativo. Como afirma o autor, em sendo os textos formas de cognição social, eles permitem ao homem organizar cognitivamente o mundo e, em razão dessa capacidade, são também excelentes meios de intercomunicação, bem como de produção, preservação e transmissão do saber. Determinados aspectos de realidade social só são criados por meio da representação dessa realidade e só assim adquirem validade e relevância social, de tal modo que os textos não apenas tornam o conhecimento visível, mas, na realidade, sociocognitivamente existente. Assim sendo, a revolução e evolução do conhecimento exige, permanentemente, formas de representação novas e eficientes. Cabe, pois, à Lingüística Textual a tarefa de acompanhar a renovação e o aperfeiçoamento constante dessas formas de representação.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

ESTUDIO MULTIMODAL DE LA DISCRIMINACIÓN Neyla Graciela Pardo Abril Universidad Nacional de Colombia Este trabajo se propone integrar algunas categorías de la sociología, de la antropología cognitiva y de las ciencias económicas sobre la pobreza y los grupos étnicos para, en el marco de los Estudios Críticos del Discurso Multimodal –ECDM-, dar cuenta de las especificidades que adquieren los discursos contemporáneos y su papel en el reforzamiento del racismo, la desigualdad y la exclusión social. Se parte del supuesto de que los problemas estructurales de las sociedades se representan, debaten y reflexionan en los medios de comunicación, que en las sociedades actuales han articulado una variedad de recursos y sistemas sígnicos en la producción y reproducción de significados. Se asume que la multimodalidad discursiva, es decir, la coexistencia de múltiples sistemas sígnicos, así como la hibridación de géneros, formatos, técnicas y herramientas, se ha constituido en una manera cotidiana de representar la realidad. En este trabajo se propone verificar e interpretar el conjunto de recursos simbólicos y tecnológicos que apropia el discurso en YouTube, para dar cuenta de dos problemas sociales estructurales en la sociedad colombiana como lo son la pobreza y el racismo. Se desentraña el carácter hibrido y multimodal del discurso, y se exploran las estrategias y recursos en la producción de significados. Para este propósito se analiza el vídeo, “Los niños de Hollywood” elaborado por Telepacífico, que concursó en el Festival Iberoamericano de Televisión Educativa en el año 2001 y ganó mención especial. El video se propone como una mirada realista y cruda de la situación de los habitantes de la ciudad de Buenaventura. El material de análisis forma parte de un corpus más amplio que se estudia en el proyecto “Análisis crítico del discurso: representaciones mediáticas de la pobreza”. El material objeto de esta investigación circula por YouTube y se recopiló en el año 2008. / 54 /


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DAS RELAÇÕES ENTRE TEXTO E SOCIEDADE: A CONSTRUÇÃO TEXTUAL DE ESQUETES DE RÁDIO Anna Christina Bentes Universidade Estadual de Campinas

Cássia M. A. Nogueira

Universidade Estadual de Campinas Neste trabalho, nosso objetivo geral é o de apresentar alguns recursos textuais que constituem esquetes humorísticos de rádio, mais especificamente, os esquetes do programa “Os manos”, produzidos e encenados pelo grupo humorístico denominado “Os dedés” e que são veiculados por rádios paulistas e nacionais. Os recursos textuais analisados são o détournement, a construção cooperativa do referente e a narrativização dos conhecimentos de mundo. Os resultados revelam que os recursos textuais mobilizados fazem parte de “uma rede de recursos que se interligam e se reforçam mutuamente na construção de uma imagem social para os ditos manos, imagem esta que se encontra ligada a modos de ser/estar no mundo, sabidamente desprestigiados e/ou questionáveis se consideradas as escalas de valores dos grupos dominantes” (Nogueira, 2010). Além disso, cabe ressaltar que compreendemos que o trabalho textual envolvido na produção dos esquetes de rádio faz parte do processo mais geral de estilização paródica da linguagem dos manos. Em outras palavras, os processos de produção construção textual estão a serviço do trabalho ideológico e discursivo de uma voz representar outra não de modo produtivo, mas sim por meio da destruição desmascaradora dessa outra voz. (Cf. Bakhtin, 1981, 1988, 1997).

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

MR 02B

ORGANIZAÇÃO DO DISCURSO EM REDES SOCIAIS: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E NOVAS FORMAS DE ANÁLISE LAFAYETTE BATISTA MELO (Coordenador) FLAVIA MENDES DE ANDADE E PERES LUCIANO ROGÉRIO DE LEMOS MEIRA Nesta mesa redonda, serão discutidas as formas de análise e avaliação da interação em redes sociais da Internet. Estas redes sociais têm demonstrado um crescimento muito grande e há necessidade de saber se as abordagens científicas sobre discurso e interação precisam seguir novos caminhos ao investigarem como as pessoas utilizam ambientes como orkut, twitter, facebook e buzz. Há peculiaridades a serem investigadas, como a interação em rede e sua multimodalidade, a integração com dispositivos móveis, a utilização de jogos digitais e a aplicação em áreas específicas como a educação. Pretende-se compreender se há transformações no discurso ou novas formas de interação nas redes sociais da Internet em relação às redes sociais do dia-a-dia fora dela. Serão abordadas as relações reais e concretas que os usuários/interagentes estabelecem entre si e a maneira como os seus discursos são desenvolvidos para se comprender como pesquisas em áreas da linguística, da cognição e da interação humano-computador podem ajudar a compreender melhor o fenômeno. Serão tomados como ponto de partida os estudos tradicionais de análise de redes sociais e pesquisas sobre interação social com enfoque sócio-cultural. Como resultado, pretende-se traçar diretrizes para as pesquisas sobre interação / 56 /


MESAS-REDONDAS

no contexto da Internet nas várias redes sociais, procurando desvendar se formas tradicionais de pesquisa sobre interação precisam ser reformuladas e quais são os seus limites.

EVOLUÇÃO DA ANÁLISE DE INTERAÇÃO EM REDES SOCIAIS: DA ESTRUTURA AO CONTEXTO E DO CONTEXTO À ESTRUTURA Lafayette Batista Melo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba As formas tradicionais de análise de redes socias levam em consideração a estrutura e a maneira como os vários atores da rede se relacionam. Problemas na análise de redes sociais devem-se a vários fatores, dentre eles o fato de não se captar as transformações das relações no tempo nem a natureza da interação. Desse modo, ferramentas de modelagens visuais de redes sociais, representando as ligações dos diversos atores e baseando-se em poucos parâmetros pré-definidos mostram apenas um momento, sem considerar a dinâmica interacional. Teorias do contexto podem proporcionar uma compreensão melhor da natureza dos fenômenos, levando em consideração estudos sobre a relevância e o papel dos dêiticos dentro de um processo interativo. Neste trabalho, estaremos nos embasando em estudos de linguística sobre contexto, co-texto e processos de textualização para compreender as relações nas redes sociais em situações concretas de interação. Este estudo acrescenta aspectos próprios aos contextos de interação na Internet como a função de diferentes interfaces mediando a comunicação em uma mesma aplicação, o uso de dêiticos para indicação de situações espaço-temporais no mundo virtual e o papel de novos instrumentos computacionais como os dispositivos móveis. Há aspectos próprios não só na maneira de se comunicar como também na de investigar como ocorre / 57 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

a interação. Desse modo, é proposta uma forma de análise interacional que parte inicialmente de uma definição de contexto comunicativo para depois investigar as relações dos atores em rede segundo os conceitos tradicionais da análise de redes sociais. Pode-se assim, definir um contexto comunicativo de alunos de um curso de informática segundo os parâmetros relevantes para o momento (por exemplo, perfil, objetivos, escola em que estudam e local de onde estão acessando a Internet) para em seguida verificar conceitos como grau de centralidade, componentes, clique, densidade e conectividade da rede.

DO DESENVOLVIMENTO AO USO DE REDES SOCIAIS NA INTERNET: OS OUTROS QUE NÃO VEMOS EM NOSSA LISTA DE CONTATOS Flavia Mendes de Andade e Peres Universidade Federal Rural de Pernambuco As redes sociais na internet estão em nítida expansão desde a década de 90, se definidas como sites que permitem aos indivíduos, entre outras coisas: a construção de um perfil público limitado pelas bordas de um sistema pré-definido; a articulação em uma lista de outros usuários com os quais compartilham conexão; a percepção e realização de ações sobre/para sua lista de conexões e outras geridas através do sistema. Neste trabalho, ofereço algumas considerações sobre essas práticas contemporâneas, tomando como cenário o contexto menos observado dos ambientes de desenvolvimento de sites com essas finalidades. Discutirei como as ações de desenvolvedores alcançarão as ações dos usuários, e em pólo complementar, como as práticas de uso atualizam o processo anterior. Em outras palavras, como desenvolvedores e usuários regulam-se uns aos outros, como sujeitos das relações humanocomputador. As regularidades nas ações desses sujeitos são analisadas / 58 /


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a partir de ferramentas da Análise Interacional, a qual assume que, na constituição da ação humana, a participação dos “campos semióticos” (gesto, artefatos, registros e representações) configura o contexto em que certas atividades podem acontecer, bem como outras podem não acontecer. Veremos que as práticas dos desenvolvedores envolvem uma montagem intricada de escolhas, condicionadas por um conjunto enorme de circunstâncias, quase sempre de natureza relacional e histórica. Os caminhos tomados ganham certa estabilidade com o tempo, pois inscritos em arranjos sociais e gêneros discursivos específicos. Nossas análises focam em unidades que se estendem ao longo do processo, unindo os desenvolvedores e seus usuários numa teia dialógica ampla e dinâmica, antes mesmo da rede social em que se empenharão estes últimos. Os desenvolvedores de sistemas para redes sociais, e não menos os usuários desses sistemas, estão envolvidos em relações dialógicas não apenas com outros humanos que gesticulam e falam, mas outros sociais que se enunciam também em artefatos e registros.

O PROBLEMA DAS INTERAÇÕES HUMANO-COMPUTADOR-HUMANO EM REDES SOCIAIS NA INTERNET Luciano Rogério de Lemos Meira Universidade Federal de Pernambuco O estudo da formação de redes sociais deve tratar de forma central o problema da interação humana. Perspectivas tais como a Análise Interacional e a Teoria dos Sistemas Dinâmicos oferecem um conjunto de conceitos potencialmente muito relevantes para a compreensão de redes sociais. Três destes conceitos são especialmente importantes para a reflexão acerca da emergência e manutenção de redes sociais e do desenvolvimento de sistema informatizados que lhes dê suporte: / 59 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

(i) Colaboração: Tendência à realização de ações de forma orquestrada, através do compartilhamento de estratégias de produção de significados e negociação de objetivos, mesmo que apenas provisoriamente; (ii) Auto-organização: Idéia segundo a qual, uma vez estabelecido um nível mínimo de colaboração entre os participantes de um grupo social, o conjunto de interações possíveis e seus efeitos no sistema não obedecem a causas centrais, sendo, ao invés disso, distribuídos ao longo da rede; (iii) Mudança: Redes sociais colaborativas e auto-organizadas possuem um caráter evolutivo, ou seja, estão sujeitas a mudanças no tempo e o reconhecimento de sua historicidade é fundamental para a análise de sua emergência e manutenção. Estes conceitos têm um importante papel na compreensão da estrutura e do funcionamento de redes sociais (em sua dimensão macro) a partir de interações locais (dimensão micro). Estas idéias sobre colaboração, auto-organização e mudança têm orientado de forma consistente e mais ou menos explícita, o desenvolvimento de sistemas Web de suporte a redes sociais mais ou menos estáveis. Nesta apresentação, utilizarei estes conceitos para discutir características e peculiaridades das interações humano-computador-humano em redes sociais na Internet, oferecendo também reflexões acerca de possíveis aplicações destas redes para o design de processos e cenários educacionais na escola.

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MR 03B

RETEXTUALIZAÇÃO, INTERTEXTUALIDADE E EMOÇÕES NA ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA REGINA LÚCIA PÉRET DELL’ISOLA (Coordenadora) ANGELA PAIVA DIONISIO MARIA BEATRIZ NASCIMENTO DECAT Nesta mesa redonda serão apresentados três trabalhos cujo foco é a organização discursiva da produção oral e escrita. No primeiro trabalho, RETEXTUALIZAÇÃO: A ARTICULAÇÃO DE CLÁUSULAS NA ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA, será apresentado o resultado de investigação do processo de articulação de cláusulas em português decorrente de retextualização da oralidade para a escrita. Baseando-se na “regras de transformação” tal como propõe Marcuschi (2001), a pesquisadora analisa as relações de caráter adverbial, com o objetivo de demonstrar como a combinação de orações pode estar a serviço dos diferentes propósitos comunicativos do usuário da língua. No segundo trabalho, A INTERTEXTUALIDADE E A ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA NA RETEXTUALIZAÇÃO, será apresentado o resultado de pesquisa em que se investiu na análise do intertexto presente na retextualização de gêneros textuais, procedimento didático associado à premência de se desenvolverem novas perspectivas educacionais relativas à linguagem e ao seu uso. A proposta pauta-se pela urgência em se promoverem atividades voltadas para a formação de leitores e escritores capazes de compreender e interpretar as relações sociais por meio da leitura e escrita de textos. No terceiro trabalho, EMOÇÃO SEM AFETAÇÃO: UM DESAFIO ACADÊMICO serão apresentados resultados de investigação cujo objeto de análise são as manifestações de gratidão nos gêneros / 61 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

agradecimentos e dedicatórias, em dissertações e teses produzidas pelo Programa de Letras da UFPE, entre 1978 e 1998, com o foco na construção identitária dos pós-graduandos, numa perspectiva comparativa entre as áreas de Linguística e Teoria da Literatura do referido programa.

A INTERTEXTUALIDADE E A ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA NA RETEXTUALIZAÇÃO Regina Lúcia Péret Dell’Isola Universidade Federal de Minas Gerais Temos alertado que é urgente a promoção de atividades voltadas para a formação de leitores e escritores capazes de compreender e interpretar as relações sociais e para a capacitação de falantes e ouvintes que compreendam a diversidade de formas de interação veiculadas através dos gêneros de texto, em variadas circunstâncias. Nosso trabalho com leitura e produção de texto tem nos levado a investir em pesquisas que envolvem a verificação da compreensão do leitor e de sua expressão escrita. Por isso, nos últimos anos, tentamos comprovar como o processo de retextualização tem se mostrado um excelente recurso para o trabalho com os diversos textos em atividades de linguagem no ensino. Com base no pressuposto de que os textos se constroem com a presença de intertextos, defendemos que os textos – orais ou escritos – orientam-se por condições de produção que estão diretamente vinculadas à função de cada gênero textual, ao objetivo almejado, às situações de uso e aos propósitos comunicativos. O processo de retextualização envolve operações que demonstram o funcionamento social da linguagem e nele evidencia-se a intertextualidade ou retomada do texto fonte na construção do novo texto. Neste trabalho, procuramos demonstrar os diferentes modos de organizar o texto, evidenciando resultado de pesquisa em que se analisou a presença de intertexto na retextualização. Com vistas a delinear um procedimento didático associado / 62 /


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à premência de se desenvolverem novas perspectivas educacionais relativas à linguagem e ao seu uso, apresentamos o conjunto de procedimentos que envolvem a análise da intertextualidade como elemento constitutivo da reescrita.

EMOÇÃO SEM AFETAÇÃO: UM DESAFIO ACADÊMICO Angela Paiva Dionísio Universidade Federal de Pernambuco A produção de uma dissertação/tese é uma prática consolidada, é uma ação sócio-histórica em nossas universidades, pois mestrandos e doutorandos sabem que, do frame que organiza a sua vida acadêmica, esta escrita consiste na etapa final e decisiva do processo de avaliação do curso. Um aspecto que nos parece interesse analisar é como esses autores expressam gratidão na escrita acadêmica, ou seja, como manifestar socialmente o objeto e a causa da emoção sem causar uma impressão inicial infeliz aos leitores/examinadores de sua dissertação/tese? Quem são os eleitos pelo mestrando/doutorando como os que mais apoiaram a realização do trabalho? A quem ou a que são direcionados os agradecimentos? Quem os autores consideram merecedores do ato de dedicar a pesquisa realizada e por quais razões? Como os mestrandos e doutorandos constroem a identidade daqueles a quem eles agradecem e dedicam suas dissertações e teses? Este trabalho tem, portanto, como objetivo investigar as manifestações de gratidão nos gêneros agradecimentos e dedicatórias, em dissertações e teses produzidas pelo Programa de Letras da UFPE, entre 1978 e 1998, observando a construção da identidade social da gama de pernonae social mencionada, numa perspectiva comparativa entre as áreas de Linguística e Teoria da Literatura do referido programa. De acordo com observações preliminares, podemos destacar as seguintes estruturas linguísticas como as recorrentes: (i) preposição + profissão + / 63 /


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nome próprio, (ii) artigos + expressões indicadora de grau de parentesco + nome próprio, quando do agradecimento pessoal e (iii) preposição + nome próprio, quando do agradecimento a órgão ou instituições; já em relação ao uso de intertextos, mais presentes no ato de dedicar, provenientes do domínio literário, religioso, musical, ou ainda, criação do próprio mestrando/ doutorando.

RETEXTUALIZAÇÃO: A ARTICULAÇÃO DE CLÁUSULAS NA ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA Maria Beatriz Nascimento Decat Universidade Federal de Minas Gerais Neste trabalho investiga-se como se processa a articulação (ou combinação) de cláusulas em português, a partir da atividade de retextualização de textos orais para escritos, com ou sem mudança de gênero textual. É dado enfoque à organização discursiva da produção oral e escrita, sobretudo às operações que seguem regras de transformação, através de estratégias de substituição, acréscimo, reordenação e condensação. Trabalhando com as operações propostas no modelo de Marcuschi (2001), principalmente com as “regras de transformação”, são analisadas especificamente as relações de caráter adverbial, procurando verificar de que maneira as proposições relacionais desse tipo que emergem no texto-base são mantidas no texto-final e como elas ali se materializam linguisticamente. Objetiva-se focalizar a articulação de cláusulas, mostrando como a combinação de orações pode estar a serviço dos diferentes propósitos comunicativos do usuário da língua quando da organização/reorganização de um texto, após o processamento da retextualização. Por exemplo, interessa saber o que conduz ao uso da estratégia de condensação, que fator sintáticodiscursivo ou pragmático leva à reordenação, ou à substituição de uma estrutura por outra. A descrição aqui proposta visa explicar como as / 64 /


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orações se tornaram objeto dessas transformações/operações/estratégias para servirem a funções discursivo-pragmáticas de tópico, fundo, guia, entre outros, atendendo aos objetivos do usuário na atividade de retextualização. MR 04B

PERCURSOS E AVANÇOS DO TEXTO MULTIMODAL: NOVAS PERSPECTIVAS NA CONTEMPORANEIDADE JOSENIA ANTUNES VIEIRA (Coordenadora) JANAINA DE AQUINO FERRAZ JOANA S ORMUNDO Atualmente, verifica-se transformação profunda no sistema de mídia e nos modos de representação e de comunicação. Assim, devemos pensar em uma teoria multimodal para explicar essas mudanças e repensar as práticas discursivas em ambientes on line e off line. Por isso, o objetivo desta comunicação é discutir como a perspectiva multimodal pode de fato contribuir para a configuração e reconfiguração das mídias circulantes. Para tanto, a discussão é orientada segundo os seguintes autores: para a Ideologia, Thompson (2000); para a Semiótica Social, Hodge e Kress (1988), Kress, Leite Garcia e van Leeuwen, (2000); para a Análise de Discurso Crítica, Fairclough (1989, 1992a, 1992b, 2000 e 2003) e Chouliaraki e Fairclough (1999); para a Multimodalidade, Kress (1996); Kress e van Leeuwen (2001); e para a análise multimodal, Kress e van Leeuwen (1996) e Royce e Bowcher (2007). O enfoque investigativo é na configuração dos gêneros circulantes em ambientes web, mídia impressa, televisa e a possibilidade de sua aplicação no ensino de português com direcionamento crítico.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

A RESSEMIOTIZAÇÃO DO DISCURSO SOB A PERSPECTIVA MULTIMODAL Josenia Antunes Vieira Universidade de Brasília Este trabalho debate os Gêneros Multimodais, sob a ótica do discurso e da Semiótica Social, associando-o com a teoria Multimodal do Discurso, (KRESS; van LEEUWEN, 1996, 2006; van LEEUWEN, 2005) e com a Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH 2003, 2006). Embora os estudos do gênero tenham considerado a regularidade de linguagem em uso em certa cultura (MARTIN, 1985), os modelos de estudos do gênero que elegem o papel do sujeito do discurso e a funcionalidade de cada gênero em particular têm sido preteridos. Desse modo, a teoria Multimodal aliada a uma perspectiva transdisciplinar articulam a reflexão sobre as estruturas semióticas com as práticas sociais na constituição dos processos geradores dos gêneros multimodais. A Teoria Multimodal constitui relevante abordagem sociossemiótica das comunicações visuais e dos novos géneros. O corpus constituído no contexto do gênero, por meio de categorias análiticas que governam a construção sintática do significado social de cores, desenhos e das composições em textos midiáticos indicam que certos padrões e arranjos de mudanças surgem quando determinado anúncio é transferido de mídia. Daí a ressemiotização do discurso nos novos gêneros.

MULTIMODALIDADE E SEGUNDA LÍNGUA EM AMBIENTES ONLINE Janaina de Aquino Ferraz

Universidade de Brasília

Analiso os reflexos de mudanças recentes na linguagem para a reconfiguração de práticas discursivas em segunda língua. A habilidade / 66 /


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de lidar com a multiplicidade e a integração de todos os modos de fazer sentido exige do leitor construção de inferências em diversas semioses. Lançou-se mão da proposta da Análise de Discurso Crítica e da Semiótica Social para a investigação sobre mudanças sociais e seu impacto na utilização da linguagem em eventos discursivos. Para contemplar a Multimodalidade, recorreu-se aos trabalhos de van Leeuwen (2005), Kress e van Leeuwen (1996), Kress (2001), Royce e Bowcher (2007). O corpus constitui-se em sites destinados ao estudo de segunda língua para aplicação de categorias da Gramática Visual e da ADC. A análise revela que idéias pré-concebidas baseadas em estereótipos culturais podem refletir na própria configuração de textos circulantes na web, o que resulta em uma adaptação do modelo de estudo tradicional de língua ao ambiente online. Essas constatações revelam, ainda, pistas significativas sobre como a reconfiguração de recursos linguísticos, utilizados pelos produtores de textos, refletem uma memória coletiva, social e institucionalizada sobre a dinâmica de estudo de segunda língua.

RECONFIGURAÇÃO DA LINGUAGEM NAS MÍDIAS SOCIAIS Joana da Silva Ormundo Universidade Paulista Discuto a reconfiguração da linguagem nas mídias sociais. O objetivo é a compreensão sobre a importância da linguagem nas formas de interações estabelecidas nas redes sociais, conforme os aspectos tecnológicos disponíveis em determinada rede, na forma como os sujeitos interagem em determinado campo linguístico e os efeitos semióticos orientados pela análise da gramática da sintaxe visual e da modalização. O termo mídia social está inserido no discurso sobre as práticas de linguagem na globalização e influenciado pelas novas

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

tecnologias distinguindo mídia tradicional de mídia social. A teoria enquadra-se nos estudos da Análise de Discurso Crítica, da Semiótica Social, da Multimodalidade, da Teoria Social e da Teoria Social da Mídia. Analiso o evento social e sua realocação nas mídias sociais (blog, youtube, orkut, twitter), constituindo semioses que exijam do leitor novas habilidades centradas nas práticas sociais inerentes ao ambiente online e aos elementos semióticos. Essa nova realidade desencadeia a maneira pela qual os elementos representacionais e interativos são estabelecidos naquele campo. O olhar transdisciplinar revela o papel da Multimodalidade, da Teoria Social e das relações econômicas, políticas e culturais na constituição de sentidos. A linguagem nesse evento configura-se em luta em que o poder, o discurso e a ideologia produzem mudanças nas estruturas sociais e nas ordens do discurso onde os links convidam-nos a interagir no ambiente virtual. MR 05B

PROSÓDIA E INTERAÇÃO MARIGIA ANA DE MOURA AGUIAR (Coordenadora) DILMA TAVARES LUCIANO SEVERINA SÍLVIA MARIA OLIVEIRA FERREIRA O tema para a mesa ora proposta volta-se para a organização discursiva, enfocando a relação prosódia e interação, na linguagem oral. Parte-se do princípio de que a escolha de padrões entoacionais pelo falante pode ser favorável, ou não, ao êxito na construção do seu discurso e, conseqüentemente, para o sucesso da interação. A prosódia é vista como determinante para o processo interacional, imprimindo-lhe marcas da intencionalidade do locutor a serem identificadas pelo interlocutor. A perspectiva aqui adotada é a de que a intencionalidade está vinculada / 68 /


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a padrões entoacionais bem definidos, utilizados para proporcionar ao ouvinte pistas associadas à informação compartilhada para a construção de sentido, com maior/menor grau de envolvimento, podendo sugerir solidariedade e confidencialidade, ou afastamento/distanciamento entre os interlocutores. Por isso, é preciso, no estudo da linguagem, uma atenção não apenas à sintaxe, à semântica ou fonologia, mas também, e particularmente, aos traços prosódicos.

MARCAS DE INTERATIVIDADE, CONTORNO ENTOACIONAL E CONSTRUÇÃO DE SENTIDO Marigia Ana de Moura Aguiar Universidade Católica de Pernambuco Este trabalho destaca a importância das marcas de interatividade relacionadas às escolhas tonais do falante na produção de gêneros textuais orais, possibilitando um aprofundamento nos estudos da relação fala e escrita. O pressuposto utilizado é o de que as escolhas tonais, que vão sendo feitas ao longo da interação, são responsáveis pela construção de um contexto e as opções de proeminências tonais vão construindo o sentido do texto, simultaneamente. O contexto interativo implica o reconhecimento de que o comportamento prosódico do falante constrói um contorno entoacional significativo, sendo interpretado pelo ouvinte como constitutivo de conteúdo informacional, mas, ao mesmo tempo, pode veicular pistas com relação às marcas de interatividade, ao manter a proximidade/distanciamento entre os interlocutores, associadas a padrões típicos (referring tones) de referência ao conhecimento prévio partilhado ou a informações novas (proclaiming tones). Com este trabalho, espera-se contribuir para um aprofundamento sobre os estudos sociointeracionistas, além de oferecer dados para aplicação de uma proposta para o ensino/aprendizagem da leitura no ambiente escolar e na clínica fonoaudiológica. / 69 /


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ENVOLVIMENTO E EXPRESSIVIDADE NO TELEJORNAL: O TOM EM AÇÃO Dilma Tavares Luciano Universidade Federal de Pernambuco Este trabalho tem como proposta destacar aspectos prosódicos da locução do Telejornal. Mais especificamente, busca-se demonStrar como os padrões prosódicos na leitura em voz alta realizada pelo locutor do Telejornal opera na expresividade do texto, aumentando sua legibilidade. Nessa discussão, o comportamento entoacional do locutor é deslocado de sua dimensão linguística stricto sensu e relacionado à organização multidimensional da Linguagem, logo, à construção de sentido como fenômeno da enunciação. O fenômeno linguístico escolhido para análise do papel da entoação segundo modelo teórico proposto por Brazil (1985) na expressividade do Telejornal é a noção de envolvimento/ distanciamento (CHAFE, 1981), permitindo a identificação de dois diferentes tipos de leitura em voz alta - leitura natural (LN) e leitura padrão (LP) - com consequências para a compreensão do telespectador. Essa afirmativa resultou da análise de um corpus constituído de 20 edições de Telejornais nacionais, e da aplicação de um teste de compreensão com 20 informantes de mesma faixa etária, sendo divididos em dois grupos de diferentes graus de escolarização. Os resultados representam uma primeira sistematização do papel dos padrões entoacionais na composição do gênero Telejornal e sua implicação para a construção de sentido do texto.

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MESAS-REDONDAS

MARCADORES PROSÓDICOS NA FALA MATERNA Severina Sílvia Maria Oliveira Ferreira Faculdade de Ciências Humanas de Olinda Este trabalho visa identificar os marcadores prosódicos da fala materna asseguradores do desencadeamento e manutenção do processo interativo mãe-bebê. Os pressupostos utilizados dizem respeito à constatação de que mães das mais diversas culturas dirigem-se à criança pequena utilizando padrões prosódicos acentuados (“manhês”), convocando o bebê à interação. Invocado dialogicamente pela voz materna, carregada de marcadores prosódicos como as curvas entoacionais que conferem musicalidade à enunciação, a criança participa ativamente do processo interativo. As enunciações maternas, plenas de recursos prosódicos, atribuem significação às manifestações da criança, mas também oferecem pistas sobre a intenção comunicativa do seu interlocutor (a mãe), favorecendo a estruturação de uma interação cujo sentido é construído conjuntamente passo a passo, com cada interlocutor emergindo como sujeito. Esta experiência precoce da criança vai favorecer a sua inserção na linguagem, cujo primeiro tempo se notabiliza pelo reconhecimento e apropriação dos padrões prosódicos percebidos. Com base nessa suposição, será investigado se a instalação de quadros patológicos como o autismo pode estar associada à ausência dessa experiência no início da vida. Faz parte ainda do trabalho identificar se o conjunto dos elementos que compõem o diálogo (discurso oral) construído interativamente pelos dois participantes (mãe e bebê) pode ser considerado um gênero textual.

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Comunicações Coordenadas



Comunicações Coordenadas

CC 01A

AS FÓRMULAS E QUESTÕES DE CORPUS EM ANÁLISE DO DISCURSO SIRIO POSSENTI (Coordenador) CARLA DA SILVA LIMA DIEGO APARECIDO ALVES GOMES FIGUEIRA MARCELA FRANCO FOSSEY Em sociedades como a nossa, circulam muitas fórmulas (palavra que tem diversos sentidos), muitas delas mais tradicionais, com sentidos “densos”, como provérbios, aforismos e alguns slogans. Outras têm menor duração no tempo, como manchetes e algumas expressões ligadas à política (mensalão, lulismo, este é um país de todos), questão que obrigaria a considerar relações entre discurso e história. Ao lado delas, há expressões populares, de forte conteúdo cultural, mas também ideológico, bordões ligados a programas de TV ou de rádio, ou a eventos muito comentados (como competições esportivas). Debates culturais e de determinadas épocas também podem ser condensados em certas / 75 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

expressões. Campanhas políticas ou educacionais, muito frequentemente, baseiam-se em slogans e outras fórmulas, que são retomadas, debatidas, interpretadas, alteradas etc. Ao mesmo tempo em que tais formas exigem um aparato relativamente complexo de análise, podem funcionar como corpus, ou, ainda mais claramente, como entrada em certos tipos de corpus que se revelam relevantes, discursivamente, em determinadas épocas, especialmente em fases aparentemente decisivas da história, ou da história de certos campos (como a literatura ou o jornalismo). Esta sessão de comunicações coordenadas pretende analisar um conjunto dessas fórmulas, algumas mais antigas, talvez duradouras, outras possivelmente transitórias, que ocorrem em campos diversos, com a finalidade de verificar que tipos de discursos condensam e para testar, de alguma forma, determinados conceitos da análise do discurso, especialmente os desenvolvidos por Dominique Maingueneau. Serão consideradas expressões regionais gauchescas, fórmulas ligadas a campos culturais (jornalismo, literatura, internet), campanhas educacionais (sexo seguro e direito à vida sexual plena) e bordões de programas televisivos, em especial alguns com aspectos humorísticos. Alguns dos efeitos dessas fórmulas são relativos a seu tom, e, portanto, implicam um certo ethos dos enunciadores, caminho pelo qual se relacionam estreitamente a estereótipos, sejam eles culturais, sejam ideológicos.

FÓRMULAS: CULTURA E IDEOLOGIA Sírio Possenti Universidade Estadual de Campinas As introduções aos estudos de linguagem em geral tocam na questão “língua / cultura”. Um dos tópicos é a relação natureza / cultura, e os exemplos característicos são relativos ao léxico mais ou menos numeroso relativo a certos fenômenos, como a neve, ou a determinados animais, como os camelos. Outro corpus que revela de alguma forma relações entre língua / 76 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

/ natureza / cultura são os provérbios, que exploram a avaliação de certas leis ou fatos, transpostos para outros domínios, morais ou comportamentais (filho de peixe peixinho é, é de pequenino que se torce o pepino, pau que nasce torto morre torto). “Gauderiadas: a sabedoria gaúcha em frases definitivas”, de L. A. Fischer e I. Abreu (Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2004) organiza por temas um conjunto de frases que, expressam uma cultura, mas também ideologias, por exemplo, avaliando comportamentos, com base em comparações entre objetos da natureza (árvores), animais (cães) ou grupos humanos (mulheres, filhos). Por exemplo, “assanhado como mosca em charque”, “pior que pulga na virilha”, “mais bisbilhoteiro que filho de empregada”. Com base na noção de fórmula, muito valorizada em diversos trabalhos recentes, em filosofia, em análise do discurso, em estudos culturais etc., este trabalho analisa um conjunto de “frases” constantes no livro mencionado, com o objetivo de verificar os seguintes aspectos: a) a relevância para a cultura regional do “objeto” que é base da comparação; b) os temas (morais, comportamentais etc.) que são avaliados nas referidas comparações; c) a ideologia que tais comparações expressam (machismo, regionalismo, racismo). O objetivo central é ampliar os estudos sobre as fórmulas em análise do discurso, explorando um corpus habitualmente relegado a estudo de caráter preponderantemente antropológico.

O “FIM DO LIVRO” E O “FIM DOS JORNAIS”: FÓRMULAS E CIRCULAÇÃO DISCURSIVAS Carla da Silva Lima Universidade Estadual de Campinas / Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia A generalização e expansão do uso das tecnologias de informação e comunicação digital, em diversos domínios da vida social, têm suscitado discussões sobre os deslocamentos e transformações / 77 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

provocados pela cultura digital, especificamente a multiplicação dos suportes digitais. A digitalização de conteúdos, a ascensão do Twitter, a metamorfose tecnológica gerada pelo livro eletrônico e pelos e-readers, a transformação do papel em bits – menor unidade de informação que integra um computador – coloca em evidência “o surgimento de uma nova paisagem midiológica” (Maingueneau, 2006) e acentua os debates em torno do futuro da indústria da informação. Cresce a circulação de discursos, particularmente no campo jornalístico, que apostam na subversão da mídia impressa pelos novos meios de produção da era digital e defendem que livros, jornais e revistas vão acabar. Considerando que os textos não são veiculados apenas por um suporte, mas por um mídium, conceito de natureza eminentemente discursiva, regulador dos procedimentos de organização e distribuição do discurso, conforme Maingueneau (2006), interessa-nos a polêmica que a transição entre o regime tradicional de dominação do impresso e um regime digital, em constante mutação, vem constituindo no campo jornalístico. Dentre os vários desdobramentos assumidos por esta polêmica, o presente trabalho analisa o modo como os enunciados “o fim do livro”, “o fim dos jornais” estão circulando em textos que discutem a questão dos novos mídiuns eletrônicos e digitais, bem como os efeitos que tais enunciados produzem no embate entre os diferentes posicionamentos discursivos envolvidos na discussão. Inscritos no campo teórico da Análise do Discurso, estamos assumindo que tais enunciados podem ser considerados como “um referente social” e tratados, portanto, a partir da noção de fórmula, tal como proposta por Krieg-Planque (2003).

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

BORDÕES INSERIDOS EM PROGRAMAS DE TELEVISÃO Diego Aparecido Alves Gomes Figueira Universidade Estadual de Campinas Tornou-se comum em programas de televisão que fazem algum tipo de combinação entre jornalismo e humor o uso de frases e expressões retiradas de contextos diversos como bordões em meio a suas reportagens que funcionam como espécie de “piada interna” entre o programa e seus telespectadores. Exemplos de programas desse tipo seriam o CQC, da TV Bandeirantes, o Pânico na TV, da RedeTV, e o Globo Esporte, da Rede Globo, transmitido para o estado de São Paulo. Em comum, esses programas apresentam o fato de que os bordões que tomaram para si são inseridos em um sofisticado jogo de edição, que interrompe o desenrolar tradicional do discurso para mostrar tanto o áudio quanto a imagem da declaração que dá origem ao bordão, muitas vezes sobrepondo os dois locutores. Propomos uma análise de um desses bordões no Globo Esporte – SP, a frase do técnico Zagallo “Aí sim, fomos surpreendidos novamente”. Essa frase é a mais significativa entre as várias usadas na edição do programa, que, de tão repetida em contextos diversos, passou a circular também fora do programa e em situações que não se restringem à temática esportiva. Assim, com base nos estudos de Maingueneau (2005, 2006) sobre fórmulas, destacabilidade e ethos, analisamos esse enunciado como indício de tudo que compõe o estilo desse telejornal esportivo, que vem se diferenciando dos demais programas de mesmo assunto da emissora por uma série de práticas diferentes em relação à linguagem televisiva. Entre essas práticas, podemos citar o abandono do uso do mecanismo de teleprompter e o enquadramento mais aberto, que conferem maior individualidade à figura do apresentador, que assim passa a demonstrar um estilo pessoal mais marcado. A partir desse estilo pessoal, configura-se um novo ethos para o enunciador desse programa, a ser reiterado mesmo por outros apresentadores. / 79 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

SEXO, CAMISINHA E SAMBA: FÓRMULAS E ESTEREÓTIPOS EM CAMPANHAS DE EDUCAÇÃO SEXUAL Marcela Franco Fossey Universidade Estadual de Campinas Vivemos em um mundo em que educar as pessoas para exercerem sua sexualidade de modo positivo parece ser uma necessidade evidente e um dever de todo governo comprometido com os direitos humanos. Dentre as várias estratégias adotadas pelo governo brasileiro, como a inserção da orientação sexual no ensino fundamental e médio e a distribuição de anticoncepcionais nos postos de saúde, estão as campanhas de prevenção ao contágio pelo HIV realizadas anualmente por ocasião do carnaval. Essas campanhas são compostas por vídeos curtos, jingles, folders e outros materiais que buscam conscientizar a população a respeito da importância da prática do sexo seguro e, para tanto, fazem circular abundantemente o slogan “use sempre camisinha”. Uma das características que mais chama a atenção nestes materiais é a maneira bastante explícita e, em boa medida, sem preconceitos, com que a atividade sexual é tratada, como no jingle“Com 1, com 2 ou com 3/ Com camisinha eu vou, sem camisinha eu não vou!/ Com homens, mulheres, não sei/ Com camisinha eu vou, sem camisinha eu não vou” (Carnaval/2008). Vemos, assim, que ao menos nessas campanhas, o slogan “use camisinha” (e variantes, como “faça sexo seguro”), remete a um certo imaginário social a respeito do que sejam i) o carnaval no Brasil e ii) jovens e adultos sexualmente ativos. Meu objetivo, neste trabalho, é demonstrar como esse slogan condensa uma ideologia a respeito das práticas sexuais dos indivíduos e como ele está associado à circulação de alguns estereótipos. É também discutir o papel desta categoria de análise (desenvolvida por diversas disciplinas, em especial pelas ciências sociais) nos estudos discursivos. Para tanto, recorro aos trabalhos de Maingueneau (2006), Krieg-Planque (2007) e Amossy & Pierrot (1997). / 80 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

CC 02A

A REPRESENTAÇÃO E A IDENTIFICAÇÃO EM DIFERENTES GÊNEROS DISCURSIVOS MARIA APARECIDA RESENDE OTTONI (Coordenadora) LUCIANE CRISTINA ENEAS LIRA LUZIA RODRIGUES DA SILVA MARIA CECÍLIA DE LIMA Esta sessão coordenada reúne pesquisadoras interessadas nas contribuições da Análise de Discurso Crítica (ADC) e da Linguística Sistêmico-Funcional (LSF) para a investigação de questões discursivas e sociais. Três dessas estudiosas são vinculadas ao Grupo de Pesquisas e Estudos em Análise de Discurso Crítica e Linguística Sistêmico-Funcional do Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia. Os trabalhos apresentados nesta sessão voltam-se para a análise da representação e da identificação em diferentes gêneros que circulam na sociedade. Em dois deles, as pesquisadoras trabalham com gêneros da mídia impressa; em outro, a estudiosa analisa textos de entrevista produzidos em pesquisa etnográfica; e, em outro, a atenção volta-se para o gênero poema. As quatro pesquisadoras apóiam-se no tripé da proposta de Análise de Discurso Crítica de Fairclough (2003), significados acional, representacional e identificacional, e nos pressupostos da Linguística Sistêmico-Funcional. Elas mostram a potencialidade do diálogo entre as duas teorias, o qual vem sendo cada vez mais reforçado por Fairclough em diferentes obras (FAIRCLOUGH, trad. 2001, 2003; CHOULIARAKI & FAIRCLOUGH, 1999), por entender que a LSF é profundamente preocupada com a relação entre a linguagem e outros elementos e aspectos da vida / 81 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

social, e sua abordagem para a análise linguística de textos é sempre orientada para o caráter social dos textos. Assim, ela se coaduna com os princípios da ADC como teoria e método centrados na análise crítica do discurso, relacionando-o às práticas sociais e aos seus elementos.

ANÁLISE DA REPRESENTAÇÃO DE ATORES SOCIAIS NA MÍDIA IMPRESSA: UM OLHAR PARA O SIGNIFICADO REPRESENTACIONAL Maria Aparecida Resende Ottoni Universidade Federal de Uberlândia Neste trabalho apresento resultados parciais do projeto de pesquisa intitulado OS GÊNEROS DA MÍDIA IMPRESSA: A REPRESENTAÇÃO DE FATOS E DE ATORES SOCIAIS, cujo objetivo geral é investigar, nos gêneros reportagem, notícia, editorial, artigo de opinião e carta do leitor, veiculados em jornais e revistas de circulação nacional, como se dá a representação de um mesmo fato e dos atores sociais nele envolvidos. Para isso, adoto os pressupostos da Análise de Discurso Crítica (ADC) e da Linguística Sistêmico-Funcional (LSF). A metodologia adotada é de natureza qualitativa e de cunho analítico-descritivo-interpretativo. Neste estudo, investigo, em textos de gêneros do jornalismo informativo e opinativo, a representação discursivo-semiótica da candidata à presidência da república Dilma Rouseff. Considerando que o discurso pode ser entendido “como modos de representar aspectos do mundo” (FAIRCLOUGH, 2003, p. 124) e que tais aspectos podem ser representados diferentemente de acordo com a perspectiva adotada, analiso como as escolhas lexicais e imagéticas contribuem para a construção de diferentes representações em diferentes gêneros. Por meio da análise dessas escolhas, foi possível identificar ora uma representação favorável à candidata, em que são ressaltadas suas qualidades, ora uma representação desfavorável, que / 82 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

evidencia aspectos negativos de Dilma. Acreditamos que esses diferentes modos de representar o ator social estão associados ao tipo de jornal e revista, ao público a que se destina, à ideologia e ao posicionamento do/a produtor/a e do veículo de comunicação. Eles desempenham papel fundamental na vida social, pois contribuem para moldar o modo como os leitores/as-eleitores/as representam o mundo e, especialmente, a candidata petista e podem influenciar no resultado das eleições brasileiras em 2010.

ÍDOLO MEU: A CELEBRIDADE NA REVISTA FEMININA PARA ADOLESCENTES Luciane Cristina Eneas Lira Universidade de Brasília O mundo das celebridades recebe grande destaque nas revistas destinadas às adolescentes. Um simples olhar sobre as capas das edições permitem constatar o realce dado às figuras públicas. Enquanto facilitadoras e ‘amigas das garotas’, tais revistas femininas assumem o papel de informar e guiar, tratando os tópicos que consideram relevantes para o dia a dia das meninas. Em geral, não parecem existir notícias mais importantes ou secundárias que as relacionadas com os ídolos ou com os avanços na estética ou moda. Desse modo, o enfoque dado a famosos nessas publicações constitui uma das principais características que distinguem a revista para adolescentes das demais revistas femininas. A partir de considerações teóricas de Fairclough (2003), sobre os significados do discurso, e de Halliday (1976, 1978 e 1994), sobre as funções da linguagem, este trabalho ocupa-se da análise do tratamento dado à constituição de um dos tópicos mais recorrentes no discurso de publicações femininas destinadas às jovens brasileiras: a celebridade. São aqui analisadas edições das revistas Atrevida, Atrevidinha, Capricho, Loveteen, Teen Mania e

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Todateen. Os resultados permitem constatar que a figura do ídolo é acionada para legitimar posturas normatizadas, para impressionar e emocionar a leitora, envolvendo-a em uma atmosfera de identificação marcada pela aproximação entre celebridade e garota, e desta com a redação. Assim, as imagens públicas de homens e mulheres que traduzem ideais de juventude e sucesso colaboram para a normatização de regras de boa conduta, que objetivam recompensas imediatas e individuais.

AS PROFESSORAS: ENTRE OS DOMÍNIOS PÚBLICO E PRIVADO Luzia Rodrigues da Silva Universidade Federal de Goiás Com este trabalho, proponho-me a apresentar um recorte de uma pesquisa - de caráter metodológico qualitativo e etnográfico - realizada em escolas do Ensino Básico. Analiso textos de entrevista proferidos por professoras e indico os modos como elas se auto-representam e representam as/ os estudantes, bem como as implicações dessas representações para a construção de suas identidades. Para essa investigação, como suporte teórico-metodológico, recorro à Análise de Discurso Crítica (Chouliaraki e Fairclough, 1999 e Fairclough, 1992 e 2003) e à Linguística SistêmicoFuncional (Halliday, 1994). Parto da perspectiva de que a linguagem é prática social e, como tal, configura-se um sistema aberto (Chouliaraki e Fairclough, 1999), que, dialeticamente, interage com os vários domínios da vida social. Defendo que a construção do discurso das professoras está associada aos significados do seu mundo social. Dessa maneira, enfatizo que elas interiorizam valores, crenças, desenvolvendo modos de resistir ou de consentir aos efeitos do poder (Foucault, 1979). Esse pressuposto está relacionado à concepção de que, ao realizar o discurso em situações sociais, as pessoas, ativamente, constroem suas identidades. Na análise, interpreto aspectos ideológicos, identificando como as ações e as / 84 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

atividades humanas são representadas no discurso e como as professoras posicionam-se e são posicionadas. Indico que essas profissionais encontram-se entre os domínios dos mundos público e privado, pois, apesar de assumirem discursos emancipatórios, ainda, interiorizam discursos que expressam as relações sociais do domínio doméstico.

ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA E UMA DAS POSSÍVEIS INTERFACES COM A LEI 10.639/03: A ANÁLISE DE GÊNEROS DISCURSIVOS Maria Cecília De Lima Universidade Federal de Uberlândia Esta comunicação tem como objetivo a apresentação da representação do negro no poema “As faltas do negro”, como forma de contribuir para a implementação da lei 10.639/03, que “torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.(...), bem como a apresentação da luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil”. Tudo isso deve ser dar em todo o currículo escolar, em especial, nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. Por isso, justificamos o nosso trabalho, pois, por intermédio dele, desvelamos ideologias presentes na representação que podem contribuir para a não emancipação de povos subjugados; bem como apresentamos a Análise de Discurso Crítica (ADC), que é profícua para trabalhos críticos no contexto escolar. Além do arcabouço teórico da ADC, empregamos também a Lingüística SistêmicoFuncional (LSF). A ADC, por considerar a linguagem como prática social e por ser teoria e método que, a partir de um problema no discurso, propõe um roteiro de análise para desvelar as ideologias subjacentes, o que pode ser uma forma de luta, de resistência e de emancipação,

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por fornecer subsídios para que as pessoas tomem consciência de discursos que as subjugam. A LSF, por considerar a linguagem em uso nos mais diversos contextos e por oferecer categorias analíticas que são profícuas para a análise de gêneros. Nossa análise, que se soma a outras, apontam para representações negativas do negro brasileiro em um passado remoto, o que ainda reflete na constituição de sua identidade na contemporaneidade. CC 03A

ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS E PERSPECTIVA TEXTUALINTERATIVA: QUESTÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS A PROPÓSITO DE UM DISCURSO POLÍTICO LUIS PASSEGGI (Coordenador) CLEMILTON LOPES PINHEIRO MARIA DAS GRAÇAS SOARES RODRIGUES MARISE ADRIANA MAMEDE GALVÃO A sessão coordenada apresenta e problematiza diversas categorias de análise do texto / discurso propostas pela Análise Textual dos Discursos – ATD (Adam, 2008) e pela perspectiva textual interativa (Jubran; Koch, 2006), em torno de um mesmo discurso político: o discurso de renúncia de Severino Cavalcanti ao cargo de deputado federal e, portanto, à Presidência da Câmara de Deputados, proferido em 21/09/2005. As categorias da ATD focalizadas são: a responsabilidade enunciativa (Adam, 2008; Rabatel, 2008, 2009, 2010) e, correlativamente, a noção / 86 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

de quadro mediativo (Guentchéva, 1994). Também, analisam-se as representações discursivas (do locutor, do interlocutor e dos temas tratados). Na perspectiva textual-interativa, examina-se a correlação entre a estrutura sequencial e a organização tópica do texto, assim como o sentido global do pronunciamento do deputado Severino Cavalcanti, e as conexões textuais entre as partes constituintes do todo, por meio da categoria de centração. A análise de um mesmo texto de diferentes pontos de vista permitirá identificar convergências e complementações entre a ATD e a perspectiva textual-interativa, num diálogo teórico e metodológico relevante para o enriquecimento de ambas as perspectivas.

AS REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS NA PERSPECTIVA DA ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS Luis Passeggi Universidade Federal do Rio Grande do Norte A Análise Textual dos Discursos – ATD (Adam, 2008) propõe a noção de “representação discursiva” (Rd) para abordar o nível semântico do texto. Uma Rd mínima é expressa por uma proposição enunciada – um enunciado mínimo – e corresponderia ao seu conteúdo referencial (Adam, 2008, p. 104-115). Tipicamente, em um texto, uma representação discursiva é construída por um conjunto de proposições, não necessariamente contíguas e que, portanto, podem remeter à estruturação não linear do texto. Mais exatamente, a Rd pode ser entendida como a “imagem” de um conteúdo referencial. O termo “imagem” enfatiza que um conteúdo referencial, não é “neutro” ou “objetivo”, mas é sempre categorizado e simbolizado pela linguagem. Todo falante tem a capacidade de conceitualizar ou perspectivar linguisticamente uma mesma cena ou / 87 /


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situação, de diferentes maneiras, dependendo de suas escolhas lexicais, gramaticais e composicionais de textualização (é um princípio da linguística cognitiva, cf. Langacker, 2008; Geeraerts; Cuyckens, 2007). Sugerimos que um texto apresentaria, além de uma representação discursiva global, três Rds, ou grupos de Rds principais: – Rd do locutor / – Rd do interlocutor / – Rd dos temas tratados. Cada uma delas pode desdobrar-se, por sua vez, em outras mais específicas, especialmente no que se refere aos temas. Essas Rds seriam construídas por operações como Tematização, Aspectualização e Relação (utilizadas por Adam para tratar do período descritivo), às quais acrescentamos a operação de Predicação. Para exemplificar as noções discutidas, utilizamos um discurso político, o discurso de renúncia de Severino Cavalcanti ao cargo de deputado federal e, portanto, à Presidência da Câmara de Deputados, proferido em 21/09/2005.

SEQUENCIALIDADE E TOPICALIDADE: CONVERGINDO PRESSUPOSTOS PARA DESCRIÇÃO DOS TEXTOS Clemilton Lopes Pinheiro Universidade Federal do Rio Grande do Norte Neste trabalho, pretendo estabelecer uma correlação entre os postulados da Análise textual dos discursos (ADAM, 2008) e da Análise textualinterativa (JUBRAN, 2006), relativamente à questão da composicionalidade dos textos. Na perspectiva de Adam (2008), a sequencialidade, ou seja, a constituição do texto em sequências representa um dos planos de organização da textualidade. A sequência designa uma unidade textual que se comporta como uma “rede relacional hierárquica”. Uma sequência apresenta relações internas, já que seus elementos constituintes se apresentam como interdependentes entre si. Por outro lado, ainda / 88 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

que dotada de uma relativa autonomia, não pode deixar de estar em relação com o todo maior de que faz parte, o próprio texto. Já para Jubran (2006), o texto se organiza em tópicos (convergência de um assunto proeminente). A organização tópica pode ser observada em dois níveis: no plano hierárquico e no plano linear. No plano hierárquico, os segmentos textuais se desdobram em supertópicos e subtópicos, dando origem a quadros tópicos, caracterizados, obrigatoriamente, pela centração num tópico mais abrangente e pela divisão interna em tópicos co-constituintes; e, possivelmente, por subdivisões sucessivas no interior de cada tópico co-constituinte. No que diz respeito ao plano linear, dois processos básicos caracterizam a distribuição dos tópicos: a continuidade e a descontinuidade. Tomando, portanto, como base esses postulados, o objetivo do trabalho é tentar uma associação entre a organização tópica e a organização sequencial, tendo em vista a compreensão de processos globais de composição dos textos. A questão é discutida a partir da análise de um texto empírico: o discurso de renúncia de Severino Cavalcanti.

A RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA NO DISCURSO DE RENÚNCIA DE SEVERINO CAVALCANTI Maria das Graças Soares Rodrigues Universidade Federal do Rio Grande do Norte Com este trabalho propomo-nos a discutir à luz da Análise Textual dos Discursos (ADAM, 2008), subsidiando-nos na Linguística de Texto (ADAM, 2008a; 2008b) e na Linguística da Enunciação (RABATEL, 2008, 2009, 2010), a responsabilidade enunciativa no discurso de renuncia de Severino Cavalcanti. Para tanto, também será relevante a noção de quadro mediativo proposta por Guentchéva (1994). Nesta direção, os dados se constituem da versão das notas taquigráficas e de duas versões publicadas na mídia (Folha de são Paulo e Folha online) do referido

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discurso. Buscaremos responder às questões: que vozes subjazem à voz de Severino Cavalcanti? Severino Cavalcanti faz remissões explícitas a que vozes? Trata-se de responsabilidade enunciativa ou de “quase responsabilidade enunciativa”? Para responder a essas questões, estabelecemos como objetivos identificar, descrever, analisar e interpretar a responsabilidade enunciativa subjacente e explícita ao discurso, objeto de análise. Em suma, a análise revela que Severino Cavalcanti remete a outras vozes (Euclides da Cunha, deputados e passagens bíblicas, entre outras) a fim de construir um perfil positivo de sua imagem de “homem honesto”. Igualmente, apresentaremos a imagem que ele projeta do “homem dedicado à família”, desde a infância difícil que viveu, tendo em vista sua origem no seio de uma família pobre, até seu casamento Catharina Amélia que vem de origem rica.

A ESTRUTURAÇÃO CONFIGURACIONAL DO TEXTO: UM ESTUDO ACERCA DA MACROESTRUTURA SEMÂNTICA NO DISCURSO DE RENÚNCIA DE SEVERINO CAVALCANTI Marise Adriana Mamede Galvão Universidade Federal do Rio Grande do Norte Uma forma de guiar a compreensão de um texto é estabelecer um título em sua produção ou deduzi-lo a partir da leitura ou audição. A discussão de Adam (2008) no que concerne à estruturação configuracional do texto, na perspectiva da ATD (Análise Textual dos Discursos), na qual nos inspiramos neste trabalho, privilegia a noção de tópico enquanto macroestrutura semântica, que pode ser definida pela pergunta rudimentar: “sobre o que estamos falando”? A resposta pode provisoriamente traduzir que estamos falando de alguém, ou de alguma coisa, explicita ou pressupostamente. Nesta direção, o autor / 90 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

menciona que o título é um anúncio do sentido global do texto; e que a estruturação macrossemântica pode ser aplicada tanto à totalidade do texto, como às suas partes. Além das pesquisas de Adam (2008), há outras igualmente significativas sobre este tema, com as quais podemos dialogar, entre elas destacamos as investigações na ótica textual-interativa (Jubran, 2006). Mesmo adotando categorias de análise diferentes, é possível reconhecer que ao anunciarmos ou deduzirmos um título, que resume semanticamente determinado conteúdo, estamos lidando com a centração, um dos traços definidores do tópico discursivo. Nesse sentido, a discussão que realizamos objetiva descrever e analisar o sentido global do discurso/pronunciamento do Deputado Severino Cavalcanti, bem como as conexões estabelecidas textualmente entre as partes constituintes desse todo, por meio da centração. CC 04A

A CONSTRUÇÃO DISCURSIVA DA IMAGEM DE SI, DO OUTRO E DE PRÁTICAS SOCIAIS MARIA CLARA MACIEL DE ARAUJO RIBEIRO (Coordenadora) MANUELLA FELICISSIMO MARIANA RAMALHO PROCÓPIO RENATA APARECIDA TOLEDO FLORENCIO Esta sessão é constituída por trabalhos que giram em torno do tema da construção de imagens no discurso – imagens de si, do outro, imagens de práticas sociais. A partir de distintas e complementares contribuições teóricas (BARROS 1999, CHARAUDEAU 2008, MAINGUENEAU 2005) / 91 /


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refletiremos sobre a forma a partir da qual uma presença imagética vai se corporificando nos textos, tornando-se apreensível e perceptível, apesar de não necessariamente explícita no intradiscurso. Para Grice (1966), a noção de imagem se diferencia da de representação na medida em que a última é relativa especificamente a A e B, enquanto a primeira diz respeito ao que está “visível” no texto. Delineando o (in)visível, o discurso, então, vai edificando imagens que determinam o lugar de interpretação a partir do qual ele espera ser lido. Trata-se de imagens que se dão a partir de estereótipos e do olhar do outro; imagens que se constroem a partir de historicidades e memórias discursivas; imagens que se estabelecem por meio da reivindicação de pares conceituais que se opõem; imagens que se edificam a partir da negação do simulacro do outro, como poderemos demonstrar nessa sessão. O estudo de imagens tem se revelado como um campo fecundo e promissor na Análise do Discurso.

SURDOS VS DEFICIENTES AUDITIVOS: RESTRIÇÕES SEMÂNTICAS NA CONSTRUÇÃO DE IMAGENS DE SI E DO OUTRO Maria Clara Maciel de Araújo Ribeiro Universidade Federal de Minas Gerais Partindo do princípio de que um discurso não circula em qualquer lugar, não toma livremente uma forma genérica qualquer e que não é interpretado de qualquer maneira por qualquer um, Possenti (2009) caracteriza a Análise do Discurso como um conjunto de teorias sobre as restrições que um discurso sofre em sua constituição. Neste estudo, para refletir sobre as restrições que operam na construção de imagens de si e do outro produzidas por surdos universitários, partiremos sobretudo dos estudos desenvolvidos por Maingueneau (2005). Através da análise de textos escritos por surdos universitários sobre o significado da surdez, / 92 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

buscamos delinear duas imagens identitárias que se confrontam: a imagem de surdo (si) e a de deficiente auditivo (outro). Na análise dos dados, entre outras questões, percebemos que há, entre as figuras surdo e deficiente auditivo, um “critério de avaliação ideológica” (BAKHTIN, 2006) determinante, assim como o estabelecimento de uma fronteira identificatória entre si (surdo usuário de libras) e o outro (deficiente auditivo adepto às práticas de reabilitação). As imagens delineadas a partir de tais figuras apontam para a construção de dois cenários distintos e para uma espécie de ascensão entre eles: os sujeitos passam de deficientes auditivos a surdos quando conhecem a língua de sinais e se inserem na chamada comunidade surda. Deficiente auditivo ou surdo são, assim, momentos distintos dos mesmos sujeitos. No primeiro momento vemos construídas as imagens de opessão e solidão, que constroem ethos de sujeitos amargurados; no segundo, as imagens de liberdade e coletividade, que constroem ethos de sujeitos “bem resolvidos”. As principais restrições semânticas que operam nesses discursos são, portanto, de ordens identitárias: os sujeitos se definem a partir da negação do simulacro do seu outro – outro que, não sem coincidência, constitui(u) o eu.

ONTEM E HOJE: IMAGENS DA LEITURA E DO LEITOR ESCOLAR Manuella Felicíssimo Universidade Federal de Minas Gerais O que significa ler? Ler é um ato de decodificação, é interação entre autor e leitor do texto, é construção de sentido. Estas são algumas respostas que encontram sua legitimidade em contribuições e momentos diversos dos estudos acerca da leitura no campo da linguística. Aqui entendemos que a leitura é um discurso e que, por isso, sofre todas as restrições impostas a ele. Isso significa dizer que a leitura é algo flutuante ao longo do tempo

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e dos espaços por onde circula, sendo configurada de acordo com estes tempos e espaços em virtude do controle que os mesmos estabelecem para esta prática. Deste processo, a leitura vai se constituindo e sendo concebida como uma atividade distinta; um discurso que carrega valores diferentes de acordo com a esfera sociocomunicativa de onde advém. Isso nos permite inferir que a imagem da leitura hoje não é mesma da leitura em tempos pretéritos; mais que isso, a leitura não se configura de igual modo em todo lugar nem mesmo na contemporaneidade. Diante de tal quadro procuramos conhecer a imagem do leitor escolar, mais precisamente, do leitor do ensino médio. A análise de manuais didáticos de língua portuguesa nos permitiu contemplar a imagem de uma leitura utilitária, extremamente pragmática, comprometida com a formação cidadã e com a inserção do sujeito leitor no mundo do trabalho. O leitor se constitui como aquele sujeito que deseja se apoderar desse valor utilitário (valores da ordem do inteligível), conforme Barros (1999), tendo em vista o que estes valores significam socialmente. Tecendo alguns contrapontos com as imagens do leitor em outros tempos, também no contexto escolar, procuraremos identificar as semelhanças e diferenças dessas imagens a fim de conhecermos melhor a memória desse discurso, que é a leitura, a partir do sujeito que lê.

RELAÇÃO E IMAGENS DE CAMPO E CIDADE NOS QUADRINHOS DE CHICO BENTO Mariana Ramalho Procópio Universidade Federal de Minas Gerais O presente trabalho procura analisar a construção de imagens relativas ao universo rural e ao universo urbano, utilizando como objeto de investigação histórias em quadrinhos do personagem Chico Bento, de Maurício de Sousa. Por meio de uma análise do discurso de 11 narrativas

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

que tratassem do modo de vida do campo e da cidade, buscamos identificar os principais imaginários que constituíam discursivamente a imagem de campo e cidade na perspectiva da Maurício de Sousa Produções. Nosso referencial teórico metodológico foi fornecido pelas contribuições de Charaudeau (2007; 2008), no que tange principalmente a questão dos imaginários e sobre a organização discursiva; e pelos trabalhos de Amossy (2005), sobre a construção da imagem de si nos discursos. Por meio de nossas análises, podemos dizer que a estruturação narrativa e descritiva do discurso de Chico Bento procurou expressar a relação entre campo VS cidade a partir de pares conceituais opositores, tais como, tranqüilidade VS confusão, trabalho VS preguiça e, notadamente, na oposição razão VS intuição. As imagens atribuídas ao campo e à cidade foram provenientes dessa oposição central: na cidade, há o produto da racionalidade, a tecnologia; no campo, há a sensibilidade e a intuição, dissociadas da “racionalidade”. O espaço sócio-cultural campo apresentase como uma referência paradisíaca, no qual homem e natureza convivem harmonicamente. Já o espaço sócio-cultural cidade é marcado pela modernidade e pela tecnologia.

“ÉDEN SELVAGEM”: ESTEREÓTIPOS NA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DO BRASIL Renata Aparecida Toledo Florencio Universidade Federal de Minas Gerais Desde o início da sua história, o Brasil é constituído pela fala e pelo olhar do outro. A carta do escrivão Pero Vaz de Caminha ao rei Dom Manuel de Portugal, em maio de 1500, é o primeiro documento, institucionalmente estabelecido e socialmente referendado, em que se noticia a descoberta do território brasileiro. Neste documento, Caminha inclui, entre outras, informações sobre a natureza brasileira, relatando que “(...) de ponta

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a ponta, é tudo praia... muito chã e muito formosa (...)”. Por força deste processo de “ser falado por outro”, a identidade brasileira vai se constituindo por aquilo que Ferreira (1993) chama de “ética estrangeira”, ou seja, nas palavras da autora: “Assimilamos os sentidos assim produzidos pelas ‘muitas vozes que nos definem’ e os incorporamos ao funcionamento imaginário da sociedade” (Ferreira, 1993, p. 69). No presente trabalho, pretendemos levantar algumas questões a partir dos efeitos de sentido produzidos pelo uso de estereótipos tomados como referência na construção da imagem do Brasil. Para tal, analisaremos a reportagem “Éden selvagem”, veiculada na revista francesa Vogue, edição junho/julho de 2005, por ocasião do ano do Brasil na França. Partiremos das operações de nomeação e de qualificação do processo de semiotização do mundo (Charaudeau, 2008), enquanto operações de construção de sentidos. Para que ocorra a semiotização do mundo, são necessários dois processos: o processo de transformação e o processo de transação. Como veremos, das quatro operações constitutivas do processo de transformação – a identificação, a qualificação, a ação e a causação – as duas primeiras, de maneira especial, se adequam ao objetivo deste trabalho, ajudando-nos a desvelar os sentidos implícitos que imobilizam a imagem do Brasil dentro de um cenário edênico, pré-capitalista e pré-civilizatório.

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

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ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA E SITUAÇÃO DE RUA DÉCIO BESSA (Coordenador) MARIA AVELINA DE CARVALHO THERESA CHRISTINA JARDIM FRAZÃO VERA LÚCIA GUIMARÃES SOUZA A Análise de Discurso Crítica (ADC) é um paradigma de investigação na linguística que se relaciona intrinsecamente às investigações sociais. O compromisso de tratar de questões que envolvem a sociedade, objetivando contribuir para transformações, é algo basilar para a ADC. São essas algumas das razões para tratar de “situação de rua” e compreender sua transitoriedade, suas marcas da contradição capitalista, sua relação com trabalhos humanos, sua relação com a linguagem. Essa Sessão de Comunicação Coordenada abordará a relação entre a ADC e a situação de rua ao enfocar questões discursivo-sociais que envolvem o recolhimento de materiais recicláveis e a situação de estar vivendo nas ruas (por vezes dormindo nas mesmas). Theresa C. J. Frazão desenvolve análises de “Cartas à redação” de jornais diários e destaca marcas da desigualdade e de usos da linguagem contra pessoas em situação de rua. Maria Avelina de Carvalho trilha um caminho etnográfico para tecer suas análises linguístico-sociais, passando da rotina de catação de materiais recicláveis até a catação/ construção de projetos de vida. Veralúcia G. de Souza apresenta suas reflexões com base em uma entrevista com uma mulher que trabalha recolhendo material reciclável em condição desfavorável por conta da prefeitura. Por fim, Décio Bessa discute a representação de agentes sociais com base em entrevistas semiestruturadas e com o foco nas amplas relações estabelecidas socialmente por meio da linguagem. / 97 /


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DISCURSO, AGENTES SOCIAIS E SITUAÇÃO DE RUA Décio Bessa Universidade do Estado da Bahia As formas de representar pessoas interferem nas formas de relacionamento, de tratamento, de enxergar a si e de enxergar a outrem. A problemática da situação de rua no Brasil envolve cidadãos e cidadãs, quer estejam vivendo nas ruas ou não. Este trabalho desenvolve reflexões sobre a representação de agentes sociais que se relacionam direta ou indiretamente à situação de rua, por esse motivo demanda fundamentação teórico-metodológica em uma perspectiva qualitativa e que passa pelo viés discursivo ao tratar de ideologia (Thompsom, 1995), de discurso como construção/ representação (Fairclough, 2003, 2009), de representação de atores sociais (van Leeuwen, 1997, 2008). A consideração das práticas sociais torna-se um elemento basilar para esse trabalho, pois a linguagem se relaciona com a sociedade de maneira inequívoca. Dessa forma, entender as práticas em suas relações discursivas e não-discursivas (Chouliaraki e Fairclough, 1999) é fundamental. Com base em uma análise discursivo-crítica de diferentes entrevistas semiestruturadas, os resultados apontam um processo de mudança discursiva que convive com sustentações discursivas do problema social. “Classificação”, “genericização” e “diferenciação” (van Leeuwen, 1997) são algumas das maneiras de representar agentes sociais que emergem do corpus e vêm imbricadas com perspectivas ideológicas. No contexto da situação de rua, os sentidos atribuídos a “cidadãos”, a “políticos”, à “sociedade” e a “pessoas”, que a priori são “normais”, apresentam-se como elementos que precisam ser questionados para uma melhor compreensão e ação quanto a essa realidade social.

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

CATAR MATERIAIS RECICLÁVEIS E CATAR SONHOS: UMA PERSPECTIVA ETNOGRÁFICA Maria Avelina de Carvalho Universidade de Brasília O trabalho tem como enfoque a perspectiva de investigação interpretativista, a qual se desenvolve, mais especificamente, com orientações metodológicas que adotam uma abordagem de natureza qualitativa: a pesquisa etnográfica. Observam-se, dessa forma, as ações sociais de sujeitos no contexto de um grupo de Catadores de Materiais Recicláveis – os conhecidos Catadores de Papel –, com o objetivo de interpretar o comportamento desses sujeitos em sua rotina de catar materiais nas ruas e de separar, de prensar e de reciclar esse material em seu local de trabalho, ou seja, em uma cooperativa, em uma associação, em um depósito e em um “lixão”. Os resultados desses estudos/observações têm propiciado a percepção das estratégias comunicativas em um grupo social de cultura oral, que pertence a uma sociedade urbana letrada e têm sua relação com o texto escrito na rotina de catar. Ao mesmo tempo, evidencia-se o modo como se dá essa relação diariamente na leitura da vida e dos sonhos de catar uma vida mais digna, nas práticas de uma leitura social, no dia a dia de cada catador. No trabalho de campo, o caráter dinâmico da atividade investigativa deve-se à interação entre pesquisadora e participantes da pesquisa, o que possibilita reciprocidade e inferências entre os sujeitos.

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A EXCLUSÃO SOCIAL EXPOSTA NAS CARTAS À REDAÇÃO Theresa Christina Jardim Frazão Universidade de Brasília / Universidade de Pernambuco O trabalho tem o objetivo de identificar o tratamento dispensado aos moradores de rua em cartas enviadas a jornais, quando o leitor reflete o discurso da imprensa escrita e expõe a própria observação e a sua interpretação dos fatos cotidianos, e vai além ao descrevê-los, o que resulta em comentários constituintes de um novo discurso. Como se fora também um jornalista, desta feita liberto de vínculos trabalhistas e das amarras profissionais, ele usa uma linguagem mais incisiva e marcada pela presença de disfemismos. A Análise do Discurso Crítica e a Linguística Sistêmico-Funcional subsidiam a pesquisa na seção “cartas à redação” de jornais diários, que encontra suporte, em termos de microanálise, nas metafunções, no modelo analítico de Valoração (Appraisal Systems), e na interpretação das escolhas lexicais. Os resultados demonstram que os fatos narrados pelos leitores sobre esses excluídos sociais apresentam traços ideológicos na sua construção simbólica, repetem estereótipos e são marcados pela contundência verbal. A análise dessas cartas torna possível descrever e interpretar os usos da linguagem, bem como os valores que perpassam discursos constituintes e constituídos. Isso evidencia que é pelo discurso que o poder pode ser desafiado, mantido, controlado ou alterado, sobretudo, quando fatores de realidades sociais se relacionam dialeticamente com elementos não-discursivos.

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

O PODER PÚBLICO SE NEGA A VER, MAS A FOME CHEGA Vera Lúcia Guimaraes de Souza Universidade de Brasília Este trabalho procura apresentar a situação socioeconômica e política em que catadores de materiais recicláveis de uma cidade no interior de Mato Grosso se encontram. Existe uma cooperativa que está se esfacelando por falta de apoio político do atual prefeito que proibiu a catação de material reciclável no depósito de lixo urbano da cidade. Com esta proibição, os catadores não têm como se manter, e, ainda menos, manter a cooperativa que tem gastos de manutenção. Dentro dessa problemática, por meio de uma entrevista gravada em áudio (em 2010), esta pesquisa busca desvelar as representações de uma catadora sobre seu trabalho, sobre a cooperativa e sobre a atitude do prefeito de proibir a coleta de material reciclável do depósito de lixo urbano da cidade. O embasamento teórico-metodológico considera os trabalhos de Fairclough (2003) e de Halliday (2004), compartilhando o uso do sistema de Modo (Sujeito + Finito) e Resíduo, Metafunção Interpessoal, e as discussões realizadas por Fairclough acerca de ideologia e de relação de poder. A análise do sistema de Modo no discurso da catadora revela que ela se vê como um ser à margem da sociedade, abandonada pelo poder público, com seu rendimento mensal em baixa e sem entender o motivo que fez o prefeito tomar tal atitude.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

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DISCURSO, REPRESENTAÇÕES E CONSTRUÇÃO RETÓRICA EDUARDO L PIRIS (Coordenador) CARLOS ALBERTO MAGNI CLEONICE MENDES DA SILVA RAMOS MARGIBEL ADRIANA DE OLIVEIRA Partindo do princípio de que o mundo é construído retoricamente em suas redes de relações e que isto se dá no confronto com as diferenças que agem umas sobre as outras, a presente Sessão de Comunicação Coordenada tem por objetivo apontar essa trama de procedimentos retórico-argumentativos em algumas das manifestações discursivas em circulação na sociedade. Os apresentadores dessa Sessão pertencem ao GERAR (Grupo de Estudos de Retórica e Argumentação), coordenado pela Profa Dra Lineide Salvador Mosca, que se volta para o estudo das diversas Teorias da Argumentação em desenvolvimento em nossos dias, levando em consideração as origens das sistematizações no campo da Retórica, ou seja, o seu passado greco-latino. Iniciaremos pela representação do discurso político no discurso midiático, voltando-nos à década de 1960 com o exame de coberturas jornalísticas de ocorrências relativas à deposição do então Presidente, vistas em dois jornais de grande circulação nacional, o “Correio da Manhã” e “O Globo”. Em outro trabalho, abordaremos a representação do discurso jurídico no discurso jornalístico, focalizando a análise do ethos e do pathos em notícias jornalísticas sobre o processo jurídico do casal Nardoni. Voltandose a outro segmento do discurso midiático, o de revistas de negócios, a terceira comunicação desta sessão abordará as revistas “Exame” e “Época NEGÓCIOS”, para depreender suas operações argumentativas, com base / 102 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

no conceito de auditório particular, tal como postulado pela Nova Retórica de Perelman. Por último, um trabalho que se volta para a paisagem em sua discursividade, a fim de compreender os complexos fenômenos que permeiam a percepção e a significação da paisagem. A de natureza literária (paisageria) será observada, em sua força narrativa e retórica, em crônicas de Luiz Martins, no jornal O Estado de São Paulo. Como ponto comum a essas apresentações, estarão subjacentes as crenças, intenções, ethé, afetos e paixões que fazem o tecido discursivo das manifestações em exame.

DISCURSO, ARGUMENTAÇÃO E JORNAL IMPRESSO: ANÁLISE DO ETHOS E DO PATHOS NAS PRIMEIRAS PÁGINAS DO CORREIO DA MANHÃ E D’O GLOBO Eduardo Lopes Piris Universidade Estadual de Santa Cruz / Universidade de São Paulo Esta comunicação é um recorte de nossa pesquisa de doutorado cujo objetivo central é analisar os discursos dos diários Correio da Manhã e O Globo sobre a deposição do presidente João Goulart em abril de 1964, focalizando o papel do ethos e do pathos na construção dos efeitos de identificação entre esses jornais e seus leitores e na legitimação da enunciação de seus discursos. Nesta sessão, apresentaremos os resultados parciais desta pesquisa obtidos por meio de análise de corpus constituído com base nas primeiras páginas das edições de 2 a 4 de abril de 1964 dos diários Correio da Manhã e O Globo. Os procedimentos teóricometodológicos de nossa pesquisa fundamentam-se na Análise do Discurso proposta por Maingueneau e na Teoria da Argumentação desenvolvida por Plantin e por Amossy. Sob essa ótica, abordamos as noções de ethos e de pathos sob o enfoque discursivo-argumentativo, recorrendo, inicialmente, à Retórica de Aristóteles e, posteriormente, aos trabalhos de / 103 /


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Meyer, Plantin, Mosca, Amossy, Maingueneau e Charaudeau. Quanto ao estudo dos gêneros do jornal impresso, apoiamo-nos em Bakhtin, Bonini, Mosca e Grillo. Nosso estudo observa, assim, a interrelação dos gêneros que compõem a primeira página e a constituem como um hipergênero discursivo, no qual a composição é um fator de construção da identidade do jornal e de conquista da adesão do leitor aos seus posicionamentos. Por fim, conclui-se que a diferença entre a composição da primeira página desses jornais revela dois regimes de enunciação que legitimam posicionamentos discursivos controversos. Do discurso d’O Correio da Manhã, emergem sujeitos comprometidos com os fatos políticos de 1964, enquanto que, do discurso d’O Globo, surgem sujeitos espectadores. Logo, participar ou assistir a tais fatos distingue o tipo de jornalismo praticado em 1964.

ARGUMENTAÇÃO E DISCURSO DA PAISAGEM. PAISAGERIA: O ETHOS CONSTRUINDO O MUNDO Carlos Alberto Magni Universidade de São Paulo Este artigo parte do princípio de que o mundo cultural é um reflexo da retoricidade presente nas relações de alteridade. Se admitirmos a idéia de que o mundo é construído retoricamente, podemos acompanhar as suas significações ao explorar as tramas qrgumentativas que tecem o mundo. Dessa maneira, a Nova Retórica e os estudos da argumentação serão ferramentas para ampliar as discussões acerca dos fenômenos relativos à paisagem cultural (PERELMAN & TYTECA). A paisagem é um esquivo produto da consciência humana (LOPEZ). Para a sua compreensão, será exposto um modelo a partir da retórica e argumentação (CITELLI, KOCH; MOSCA). As textualidades que recebem esse tratamento heurístico (REBOUL) são crônicas de Luís Martins, produtor da imprensa paulista durante os anos de 1940 e 1980. O termo “paisagem” agrupa uma grande / 104 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

variedade de conceitos em torno de sua significação, ele é polissêmico e associa-se a vastas percepções e idéias (KLEIN;COLLOT). O objetivo específico desse trabalho é dar relevância à discursividade para a compreensão dos complexos fenômenos que permeiam a percepção e a significação de uma paisagem. Assim, da paisagem literária será observada a sua força narrativa e retórica (entendida como paisageria), uma força discursiva explorada a partir das intenções do ethos que as produziu (MEYER). Esse modelo, a paisageria, será reconhecido como uma textualidade discursiva, plena de sugestões, de tensões afetivas, de ausências e presenças significantes (MAGNI). Assim, a paisagem – como um discurso- poderá veicular não apenas as imagens da paisagem sensível, mas também crenças, intenções, afetos e paixões. Propomos uma sistematização dessas paisagerias pelos seus recursos narrativos (BERTRAND). Assim, teríamos paisagerias pragmáticas (Luís \Martins, “Enfim o sol”,OESP, 06.02.1950), paisagens cognitivas (Luís Martins,”Monumento às Bandeiras”,OESP, 27.01.53) e paisagens patêmicas (Luís Martins, “Elegia de Maio”,OESP, 28.05.1950).

REVISTAS IMPRESSAS DO MUNDO DOS NEGÓCIOS: OPERAÇÕES ARGUMENTATIVAS Cleonice Mendes da Silva Ramos Universidade de São Paulo Este trabalho objetiva investigar construções retórico-argumentativas depreensíveis dos textos impressos veiculados nas revistas de negócios EXAME e Época NEGÓCIOS. A argumentação é ferramenta imprescindível da Retórica e tem presença, em escalas distintas, em todos os textos/ discursos. Parte-se do princípio de que a razão de ser da argumentação é alcançar consenso sobre divergências em determinado ponto de vista. Na Retórica da atualidade, com o prestígio do auditório particular, a argumentação do orador constitui-se, na prática, dentro da teoria do

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texto persuasivo. O auditório particular é constituído por um indivíduo ou um grupo segmentado de indivíduos que detêm crenças e valores mútuos: público ideal (target). De construção relativamente sistematizada, é mantido pelo orador (enunciador) tão próximo quanto possível da realidade. Por meio dele, considerado espaço facilitador na comunicação, o orador (enunciador) estabelece aproximação e acordo e obtém, mais facilmente, a adesão e o assentimento ao que propõem suas teses, conforme preceitos de Perelman e Olbrechts-Tyteca, fundamentados na Nova Retórica. Essencial é para o analista do discurso conhecer os recursos argumentativo-persuasivos ao admitir que o orador deles se serve especialmente com um auditório particular no qual haja considerável homogeneidade de conhecimento e pleno partilhamento entre sujeitos envolvidos no ato comunicativo. Os postulados teóricos das disciplinas Retórica (clássica), Nova Retórica, Semiótica (greimasiana) e Análise do Discurso serão adotados e tratados em interdependência. Com os preceitos da Semiótica, de par com os da Nova Retórica, cuja importância vem-se consolidando no exame dos textos mais diversos, busca-se depreender efeitos de sentido ao tratar da tipologia da manipulação. Espera-se, com a proposta deste trabalho, chegar a resultados satisfatórios na análise atenciosa dos textos, avançando um pouco mais nos estudos que envolvem estratégias argumentativo-persuasivas presentes nos textos das revistas do mundo dos negócios, nosso objeto de estudo.

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

O DISCURSO JORNALÍSTICO E A SENTENÇA INSTANTÂNEA DO CRIME: FORMAÇÕES DISCURSIVAS A RESPEITO DA NOTITIA CRIMINIS, SOBRE O PROCESSO DOS NARDONI Margibel Adriana de Oliveira Universidade de São Paulo A notitia criminis (notícia do crime) e a formação do éthos e do páthos no pronunciamento jornalístico constituem-se no tema central deste estudo, ou seja, analisar como o discurso da mídia antepõe-se ao discurso jurídico. Enquanto corpus serão abordadas notícias sobre o processo do Casal Nardoni. Neste sentido, tomamos por base, inicialmente, a Análise do Discurso (AD), como referencial teórico, porque queremos observar como se dá a construção do éthos do discurso jornalístico sobreposto ao discurso jurídico, e páthos enquanto reflexo desta construção do discurso jornalístico, na observação de enunciados do auditório universal. Outra área que devemos tratar é a do discurso jurídico, em virtude do tema da pesquisa: notitia criminis. Desta forma, temos de mencionar que a pesquisa estará voltada para as noções empreendidas, sobre a retórica e a argumentação, com base nos pressupostos de Aristóteles (2000), Chaim Perelman (1993), Michel Meyer (2007) e Lineide Salvador Mosca (2004). Após esta abordagem, serão tecidas considerações sobre o discurso jurídico, mais especificamente, a área de processo penal, para situarmos o tema, da notitia criminis, por isso, utilizaremos os teóricos: Edgard de Magalhães Noronha (1990), Fernando Capez (2005) e Fernando Tourinho Filho (2008). No que diz respeito ao discurso da mídia serão estudados os autores Patrick Charadeau (2006), Maria do Rosário Valencise Gregolin (2003), Lineide Salvador Mosca (2002) e Tomás Albaladejo (2009). Assim, a partir dos postulados da retórica e da argumentação, bem como os do discurso jurídico, tais áreas serão princípios norteadores fundamentais / 107 /


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para que possamos tecer comentários, em virtude das superposições e dos imbricamentos que representam para o discurso da mídia, outro campo do nosso estudo. CC 07A

LEITURAS BAKHTINIANAS DE PRÁTICAS DISCURSIVAS EM DIFERENTES ESFERAS MARIA DA PENHA CASADO ALVES (Coordenadora) MARÍLIA VARELLA BEZERRA DE FARIA ARACELI SOBREIRA BENEVIDES RENATA ARCHANJO Esta sessão coordenada abriga trabalhos em linguística aplicada voltados para diferentes práticas discursivas, em diferentes esferas, sob a perspectiva das concepções bakhtinianas que possibilitem a compreensão de estilo, leitura, subjetividade, produção do conhecimento em ciências humanas, ato ético, gênero discursivo e cronotopo.

GÊNEROS DISCURSIVOS E CRONOTOPO Maria da Penha Casado Alves Universidade Federal do Rio Grande do Norte Para Bakhtin (2003), sempre que falamos utilizamos os gêneros do discurso que são tão heterogêneos e multiformes como o são as nossas práticas sociais. o emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos, únicos, singulares, proferidos pelos integrantes / 108 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

desse ou daquele campo da atividade humana. este trabalho pretende discutir o lugar dos gêneros discursivos e sua relação com o cronotopo, considerando as injunções, o dinamismo e a mobilidade dos gêneros discursivos como também a premência classificatória e gramaticalizante que tem norteado algumas práticas de sala de aula que desconsideram o axiológico, o dialógico e a instabilidade inerente aos gêneros que circulam nas diferentes esferas sociais.  esse trabalho se insere na área de Linguística Aplicada e se constitui em um recorte de uma pesquisa maior realizada na UFRN com o apoio da PROPESQ e do CNPQ.

DISCURSO E IDENTIDADE: A CIDADE MÚLTIPLA Marília Varella Bezerra de Faria Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Este trabalho objetiva apresentar identidades da cidade de Natal a partir do discurso de poetas locais. Considerando que as cidades podem ser estudadas e interpretadas a partir de vários pontos de vista, utilizamos o discurso poético que funciona como memória da cidade e que se delineia por meio de práticas sociais historicamente determinadas. O trabalho se ancora os estudos culturais (HALL, CANCLINI), no sentido de que a cultura constrói valores e diferenças, dependendo de suas condições de produção, além de considerar, também, como fundamentação teórica o modelo sócio-histórico de linguagem de Bakhtin e do Círculo, o qual considera a linguagem como prática discursiva. Nesse contexto, procuramos “ouvir” o que dizem os poetas, na tentativa de compreender e interpretar os sentidos atribuídos à cidade por meio de seus discursos, identificando a formação de identidades, as quais emergem dos diferentes pontos de vista e das diferentes marcas estilísticas. A análise nos mostra uma multiplicidade de identidades culturais para a cidade de Natal, apresentando aspectos que vão desde uma cidade ingênua e multicolorida até uma Natal que se constrói rebelde ou usurpada. / 109 /


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O ESPAÇO DAS MÚLTIPLAS LEITURAS NA PREPARAÇÃO DE FUTUROS PROFESSORES DE ENSINO RELIGIOSO – O MUNDO DOS MITOS, CONTOS E POESIA Araceli Sobreira Benevides Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Este trabalho analisa a prática da leitura e as transformações que as ações da formação do profissional das Ciências da Religião podem ter no espaço escolar. Este estudo é resultado de uma pesquisa qualitativa interpretativista, desenvolvida com alunos do Curso de Licenciatura em Ciências da Religião/UERN/Campus de Natal que visa a interpretar as identidades que são (re)construídas durante o processo de formação docente que tem como referencial a leitura literária, enquanto um dos múltiplos saberes da profissão docente. Após o contato com textos literários cuja temática aproxima-se das questões do fenômeno religioso: mitos da criação, contos da cultura popular brasileira e de autores da literatura nacional e internacional, os/as estudantes relatam por escrito suas experiências de sala de aula, vivenciadas durante o estágio, e as relações interativas construídas com os textos selecionados, com os professores dessa disciplina e os estudantes de escolas públicas de Ensino Fundamental da região metropolitana de Natal/RN. Além dos relatos, trabalhamos com entrevistas e filmagens realizadas com os agentes envolvidos em que são observados os modos de se ensinar na disciplina Ensino Religioso em que até há pouco tempo caracterizava-se como aulas de catequese ou de caráter moralizante. Desta forma, resgata-se, através do discurso, a dimensão crítico-reflexiva da prática da leitura literária, os modos como esta prática se insere no cotidiano de cada professor em formação e em sua atuação, além da importância dessa prática na melhoria do ensino da leitura em escolas públicas. A fundamentação / 110 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

teórica do estudo está centrada nos trabalhos sobre identidades (MOITA LOPES, 2003; BAUMAM, 2006; HALL, 2002); na concepção dialógica da linguagem (BAKHTIN, 2003); nas teorias sobre leitura e letramento (BARTON, 1994; LARROSA, 2003; PENNAC, 1998) e nas teorias atuais sobre formação docente. Propondo a prática da leitura como uma experiência dialógica voltada para a autonomia. Esta pesquisa focaliza as reflexões produzidas pela compreensão do papel do/a formador/a ante as experiências vivenciadas pelos educandos e ante os conhecimentos construídos nessa vivência. Conclui-se que este trabalho contribui para a rediscussão de como as transformações e os ganhos didáticos podem ser gerados a partir de práticas significativas de leitura, construídas no espaço escolar e em parcerias constantes.

O CONCEITO BAKHTINIANO DE ÉTICA E RESPONSABILIDADE NA PRODUÇÃO DE UM CONHECIMENTO CRITICO: REFLEXÕES SOBRE A PESQUISA Renata Archanjo Universidade Federal do Rio Grande do Norte A instabilidade da sociedade moderna e do ser humano contemporâneo – seduzido por relações e associações múltiplas porém fugazes – se reflete nos discursos dos sujeitos, na produção do conhecimento, nas pesquisas e em suas metodologias. O próprio da pesquisa é a produção de conhecimento. Considerando que a noção de ética e de responsabilidade na teoria bakhtiniana estáno ato do sujeito que age na vida ou do sujeito pesquisador que, no ato da pesquisa, produz conhecimento interpretados e compreendidos segundo uma concepção valorativa individual, podemos assumir que uma produção de conhecimento critica deve pressupor uma noção de ética e de responsabilidade. Os atos éticos são atos do / 111 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

mundo vivido. As posturas e as escolhas epistemológicas no mundo da cultura, na produção do conhecimento, transformam o agir do sujeito pesquisador emagir ético. Por sua vez, esse agir ético, só pode ser descrito participativamente, ou seja, conceitualizado discursivamente segundo pontos de vista valorados para que o olhar do pesquisador não seja um olhar indiferente mas sim um olhar responsável e, portanto, responsivo à vida. Pretendemos discutir a construção discursiva da produção de conhecimento no campo da pesquisa em ciências humanas, trazendo como exemplo os discursos constitutivos da Linguística Aplicada, como também, fundamentada na teoria baktiniana, vamos procurar compreender o conceito de ética que motiva a prática dessa ciência em relação ao modo de conceituar a pesquisa que faz e o olhar sobre seus sujeitos de investigação, posicionando-se axiologicamente diante da vida e dos objetos de pesquisa, insistindo na singularidade de cada encontro e de como uma ciência que pretenda dar conta da vida precisa não esquecer das singularidades. CC 08A

O SUJEITO E O DISCURSO NA CONTEMPORANEIDADE LAURO JOSÉ SIQUEIRA BALDINI (Coordenador) ANA CLAUDIA FERNANDES FERREIRA ANE RIBEIRO PATTI FERNANDA CORREA SILVEIRA GALLI Os trabalhos organizados nesta sessão coordenada procuram tematizar as relações complexas e multifacetadas do sujeito e do discurso na contemporaneidade. Tendo como referencial teórico a Análise

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

de Discurso de linha francesa, em sua relação com a psicanálise de orientação lacaniana, buscamos compreender os movimentos dos sujeitos e dos sentidos em redes de memória, imersos em práticas sociais contemporâneas, tais como a internet, o narcotráfico, o cinismo, enfim,os modos de subjetivação e identificação hegemônicos do que se costuma chamar de sociedade de consumo ou capitalismo pós-indutrial. Esperase, assim, contribuir para a compreensão do funcionamento da ordem discursiva no mundo atual - tanto em sua vertente da constituição de uma memória disciplinada e organizada quanto em seu potencial disruptivo, caracterizado pela falha, pelo equívoco e pela errância.

DISCURSO E IDEOLOGIA NA CONTEMPORANEIDADE Lauro José Siqueira Baldini Universidade do Vale do Sapucaí O presente trabalho pretende abordar as mutações contemporâneas da subjetividade, relacionando-as à ordem discursiva e ao campo relação dos sujeitos com seu dizer. Procura-se pensar o funcionamento ideológico a partir de uma perspectiva que leva em conta que, no funcionamento social da sociedade contemporânea, os modos de subjetivação e identificação sofrem uma modificação importante para os procedimentos de análise discursiva. Para tanto, são trazidos para a reflexão autores contemporâneos que procuram abordar tais questões e propõe-se uma relação entre o conceito psicanalítico de fetiche e de estrutura perversa e o funcionamento do discurso na sociedade atual. Tais reflexões indicam que estamos diante de um novo modelo de poder, que opera de maneiras diferentes, e que isso traz consequências para uma teoria materialista do discurso, pois o que se opera, fundamentalmente, é uma relação diferente dos sujeitos com o discurso. Para o que nos interessa nesse trabalho,

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do ponto de vista da identificação do sujeito com seu discurso, parece fundamental indicar uma passagem, em vias de se tornar hegemônica, de uma sociedade de produção, cujo fundamento é a repressão, para uma sociedade de consumo, cujo paradigma é o do imperativo do gozo. O que o caso do funcionamento cínico parece explicar é justamente uma filiação do sujeito a um certo discurso, mas de um modo em que já há, em princípio, um certo distanciamento, uma certa aproximação irônica, um engajamento de outra natureza. Aqui, é preciso levar em conta a afirmação de Zizek (1992) de que seria preciso aliar a análise de discurso a uma consideração da lógica do gozo que preside a toda identificação ideológica.

OS SUJEITOS E OS SABERES EM ENCICLOPÉDIAS VIRTUAIS Ana Claúdia Fernandes Ferreira Universidade do Vale do Sapucaí Da perspectiva da análise de discurso de linha francesa, este trabalho visa apresentar algumas reflexões sobre as relações de sentido que vêm sendo produzidas para os sujeitos e os saberes no espaço da internet. O objetivo é compreender que diferentes modos de divisão/regulação dos sujeitos e sentidos se constituem nesse espaço em relação à produção e à circulação do conhecimento. Tomarei como material de análise alguns artigos sobre a cidade de Pouso Alegre presentes em duas enciclopédias virtuais: a Wikipédia e a Desciclopédia. Para a realização dessa análise, tomarei como base de comparação a estrutura de uma enciclopédia tradidional. Entre as coisas a saber sobre uma cidade que constituem o artigo de uma enciclopédia tradicional, podemos encontrar itens como: dados demográficos, história da constituição da cidade, informações sobre o processo de designação (enquanto povoado, vila, freguesia, cidade), e / 114 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

sobre os nomes de pessoas ilustres, por exemplo. Tendo isso em vista, procurarei observar o que é considerado como algo a saber sobre uma cidade para entrar como artigo nessas enciclopédias e o que nelas se pode e não se pode dizer. Buscarei, então, observar que outros sentidos podem emergir e que mesmos sentidos se mantêm para os sujeitos e os saberes em cada uma das enciclopédias virtuais.

SUJEITOS DISCURSIVOS NA CONTEMPORANEIDADE: O NARCOTRÁFICO E ALGUNS EFEITOS NOS/DE SENTIDOS DE CRIANÇA Ane Ribeiro Patti Universidade de São Paulo A partir dos pressupostos teóricos da Análise do Discurso de filiação francesa e da psicanálise lacaniana, este trabalho pretende discutir a questão do Discurso e Sociedade fazendo circular alguns dados de minha dissertação e dar seguimento à discussão e pesquisa de como alguns sentidos de criança são (des)construídos, constituídos no discurso do narcotráfico, como o sujeito interpelado por este discurso emerge em diferentes lugares: nas vozes dos filhos e netos do narcotráfico, em relatos coletados na mídia áudio-visual e em trabalhos científicos publicados no país nos últimos sete anos, tais como o livro da Professora e pesquisadora da USP, Marisa Fefferman (2006), intitulado Vidas arriscadas: o cotidiano dos jovens trabalhadores do tráfico; o livro do também pesquisador Luke Dowdney (2003), intitulado Crianças do tráfico: um estudo de caso de crianças em violência armada organizada no Rio de Janeiro; o documentário de Celso Athayde e M.V. Bill (2006a) intitulado Documentário Falcão - Meninos do tráfico, gravado do Programa Fantástico da Rede Globo de televisão, que o editou e o exibiu em 19 mar. 2006. Faremos uma análise discursiva com / 115 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

gestos de interpretação a partir de dizeres que vão entrelaçando efeitos de poder, sexo e dinheiro, realização no agora, marcando um modo de o sujeito realizar-se como pode em meio às condições de produção e à forma como a ideologia o interpela como sujeito e ainda ser criança. Apostamos que é no caminho da fala que possibilitamos a movência dos sujeitos e as (des)fixações em pontos de ancoragem para se liberarem a um vir-a-ser diferente do que se é, pois partimos da premissa de que a linguagem e o sujeito são opacos, causados por uma falta estruturante que os constitui fragmentados, falhados, incompletos, errantes, o que perpassa pelo que a psicanálise chama por inconsciente (Freud, [1915] 2006; Lacan, [1964] 1998).

TRAMAS DISCURSIVAS NA INTERNET: A(S) POSIÇÃO(ÕES)-SUJEITO EM MOVIMENTO Fernanda Correa Silveira Galli Universidade de São Paulo Tomando o discurso como ponto de partida para refletir sobre a constituição do sujeito na rede eletrônica, proponho – nesta abordagem que integra a Comunicação Coordenada O sujeito e o discurso na contemporaneidade – pensar sobre o modo de inscrição do sujeito via escrita, ou melhor, sobre a(s) posição(ões)-sujeito em movimento na trama discursiva do ciberespaço. Ancorada no referencial teórico da Análise do Discurso de linha francesa (mais especificamente, em autores como Pêcheux e Foucault), parto da hipótese de que tanto os discursos quanto o sujeito se constituem no entremeio da diferença e da repetição, num movimento entre passado e presente, cujos efeitos apontam para fios discursivos que se cruzam. Sob essa ótica, é possível pensar a rede como um (ciber)espaço em que os discursos vão se (des)dobrando, se (re) configurando, e do qual emergem efeitos de sentidos “já-ditos” em outros

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momentos históricossociais. Além da discussão teórica, trago um esboço de análise de recortes dos textos publicados no blog “Outros Cadernos de Saramago”, disponível no site da Fundação José Saramago. Ao tratar do blog como um “lugar” de inscrição do sujeito, refletirei, ainda, sobre a heterogeneidade das (várias) vozes que circulam na rede eletrônica. Esta abordagem faz parte dos propósitos do projeto de pesquisa de pósdoutorado em andamento, financiado pela FAPESP. CC 09A

DISCURSO, SOCIEDADE E A LÍNGUA PORTUGUESA: DA LITERATURA AO ENSINO ANTONY CARDOSO BEZERRA (Coordenador) PATRICIA SOARES SILVA TANY MARA MONFREDINI CORDEIRO DE MOURA THIAGO TRINDADE MATIAS O estudo das relações entre o discurso e a sociedade – também esta se compreendendo como uma elaboração linguística – tende a abranger uma plêiade de esferas, as quais, em diferentes sentidos e por diversas razões, implicam-se mutuamente. Tomando-se por certa essa asserção, soa aceitável a articulação de propostas que, ao se situarem no interior da cadeia mencionada, possam considerar problemas atinentes ao discurso ficcional produzido no âmbito da Literatura Portuguesa, bem como a Língua Portuguesa em suas dimensões de Ensino e de História. Nesse sentido, propõem-se, em integração, resultados de pesquisas que se ocupam (1) das relações entre memória e narrativa ficcional no plano do romance português da segunda metade do séc. 20, (2) de problemas atinentes à representação linguística do ambiente brasileiro numa narrativa de ficção portuguesa da primeira metade do séc. 20, (3) / 117 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

do possível diálogo entre gramáticos e linguistas – no que diz respeito ao Ensino de Língua Portuguesa – ao longo das últimas quatro décadas e (4) das estratégias discursivas entre o eu e o outro passíveis de se observar em cartas do leitor pernambucanas da primeira metade do séc. 19. Amalgamadas pela leitura do discurso como manifestação social e pela contemplação de realizações discursivas em Língua Portuguesa, as comunicações da presente sessão coordenada tanto oferecem uma contribuição multifacetada ao conhecimento dos tópicos que investiga, bem como, ainda mais, tornam possível a detecção de pontos de articulação entre os referenciais teóricos de que se lança mão. [Os trabalhos incluídos nesta sessão coordenada se situam no âmbito do Grupo de Investigações em Filologia Ibérica, vinculado à Universidade Federal Rural de Pernambuco.]

MEMÓRIA, ROMANCE E O DISCURSO FICCIONAL: A ESCOLA DO PARAÍSO, DE JOSÉ RODRIGUES MIGUÉIS Antony Cardoso Bezerra Universidade Federal Rural de Pernambuco Parece condição amplamente aceita a do romance como um gênero narrativo pautado pela abrangência, em que vários discursos se encontram por meio da mediação da ficcionalidade. A partir da análise do romance A Escola do Paraíso (1960), do escritor português José Rodrigues Miguéis, intenta-se investigar os procedimentos por meio dos quais a memória individual reconfigura-se como discurso ficcional, fazendo com que o livro em pauta seja, inclusive, usualmente empregado como fonte ao estudo da biografia de Miguéis (V. NEVES, 1990). Para que se realize o inquérito, recorre-se tanto a um referencial teórico que indique a configuração do discurso ficcional (ISER, 2002), como a estudiosos / 118 /


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que se ocupam do problema dos gêneros do discurso (BAKHTIN, 2000, e seus exegetas FIORIN, 2008, MACHADO, 2005, e RODRIGUES, 2005); contemplam-se, ainda mais, fontes que dimensionem as relações entre romance e sociedade (LANGLAND, 1984, e ZÉRAFFA, 1976). Com o fito de fazer transitarem esses conceitos à produção de Miguéis, lança-se mão de críticos que se debruçaram sobre a obra do autor (GARCIA, 2001, MOURÃO-FERREIRA, 2001, e MENDONÇA, 1973). Destacando-se as noções de memória, romance, ficção e sociedade, a pesquisa revela a expressa condição ficcional de A Escola do Paraíso, que, nem por isso, despreza o arcabouço individual e social que o torna possível, referendando-se o caráter analógico do discurso ficcional em relação à realidade como elaboração linguística. [Este trabalho está situado no âmbito do Grupo de Investigações em Filologia Ibérica, vinculado à Universidade Federal Rural de Pernambuco.]

REPRESENTAÇÃO LINGUÍSTICA DO BRASIL NO ROMANCE A SELVA, DE FERREIRA DE CASTRO Patricia Soares Silva Universidade Federal Rural de Pernambuco Escrito pelo ficcionista português Ferreira de Castro, o romance A Selva se passa na imensidão da floresta amazônica, ambiente profundamente conhecido pelo escritor, que, ainda adolescente, teve uma permanência de quatro anos nesse lugar. Cenários e personagens da região ganham descrições acuradas nas palavras de Castro. O objetivo desta investigação é sondar qual seleção lexical faz um escritor português na tarefa de descrever um cenário brasileiro. Além disso, levamos em consideração a repercussão de tais opções na representação do Brasil feita no romance em foco. Por outro lado, o papel de precursor do Neorrealismo português desempenhado por Ferreira de Castro não foi menosprezado

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

na discussão que procuramos estabelecer. Para compor o nosso esteio teórico, utilizamos as ideias de estudiosos como Blikstein (2003), Elia (2000), Ali (2001; 2006), Melo (1975), Brasil (1961), Coelho (1980), Torres (1977), Mattos e Silva (2001; 2004), Noll (2008), entre outras fontes. As nossas especulações nos conduziram à percepção de que Ferreira de Castro, de forma geral, ao longo de seu trabalho descritivo, faz uso de termos regionais, particularmente, aqueles que dizem respeito à região amazônica, estabelecendo um forte diálogo com o léxico do Português do Brasil. [Este trabalho está situado no âmbito do Grupo de Investigações em Filologia Ibérica, vinculado à Universidade Federal Rural de Pernambuco.]

ENTRE FRONTEIRAS E PONTES: DISCURSOS SOBRE A RELAÇÃO GRAMÁTICA/LINGUÍSTICA NA HISTÓRIA DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Tany Mara Monfredini Cordeiro de Moura Universidade Federal Rural de Pernambuco Trazemos para nossa discussão aqui, articulações conceituais e dados iniciais de pesquisa que estamos desenvolvemos no contexto da, já celebrada, superação da dicotomia gramático/linguística, quer pela constatação da especialização linguística de alguns gramáticos, quer pela preocupação dos linguistas com os diversos níveis gramaticais da língua (cf. CASTILHO, 2010). Essa relação, no entanto, tem uma história marcada por sucessivas aproximações e afastamentos, num desenho pendular que deixa suas marcas nos discursos dos docentes, dos acadêmicos, nas políticas públicas e nas produções didáticas da área, como constatamos em MOURA (2005). Nas décadas de 70/80, é clara a delimitação de fronteiras, que parecem legitimar a presença da, então, / 120 /


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jovem lingüística no currículo dos cursos de Letras e na formação do professor de português. Nas duas décadas seguintes, no entanto, têm sido esboçadas algumas pontes sobre essa polarização, já compreendida por alguns pesquisadores como descabida (cf. CASTILHO, 2010; FARACO, 2008; PERINI, 2006; TRAVAGLIA, 2003; e BAGNO, 2002A e 2002B, dentre outros). A área do ensino de língua materna, por sua vez, tradicionalmente território dos gramáticos, tem sido convocada por políticas públicas, nomeadamente desde a reforma dos anos 90, à proposição do estudo dos níveis gramaticais da língua num outro diapasão que não o da tradição helenística (cf., por exemplo, PCN e PNLD, em nível federal, e seus desdobramentos nas políticas estaduais/municipais). Nesse contexto, recortamos as últimas quatro décadas de produção em ambas as áreas, com o objetivo de sistematizar os diferentes discursos que alimentam a relação gramático/linguista na história do ensino de língua portuguesa, destacando, no corpus, tanto obras especializadas e didáticas quanto publicações dirigidas ao público em geral. [Este trabalho está situado no âmbito do Grupo de Investigações em Filologia Ibérica, vinculado à Universidade Federal Rural de Pernambuco.]

CARTAS DE LEITOR EM PERIÓDICOS RECIFENSES DO SÉCULO XIX: POR UMA ABORDAGEM DISCURSIVA Thiago Trindade Matias Universidade Federal da Paraíba A presente comunicação é parte dos resultados obtidos em nossa pesquisa de mestrado, na qual foi investigada a relação dialógica – relações imagéticas e discursivas – presente na materialidade linguística de cartas de leitor pernambucanas da primeira metade do século 19. Os conceitos bakhtinianos de imagem externa, o vivenciamento das / 121 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

fronteiras externas do homem e as relações dialógicas (BAKHTIN, 2003) dão conta da temática aqui proposta a fim de que se analisem as estratégias discursivas entre o eu e o outro, elemento constitutivo do discurso. Os resultados obtidos nos mostram que havia, em geral, a presença de dois interlocutores: o participante-interlocutor direto, sujeito para quem se direcionava o real endereçamento discursivo, e o participante-interlocutor indireto, o Edictor ou Redactor do jornal, para quem também o discurso se endereçava, mesmo de forma mais moderada. Quanto às posições dos interlocutores em questão, foi possível a verificação de que, em geral, havia duas intenções discursivas direcionadas, respectivamente, para os interlocutores participantes. Diante disso, podemos afirmar que, no que diz respeito à produção das cartas, havia uma heterogeneidade de outros a quem o discurso se direcionava e se constituía. [Este trabalho está situado no âmbito do Grupo de Investigações em Filologia Ibérica, vinculado à Universidade Federal Rural de Pernambuco.] CC 10A

PROJETO VIDAS: A CIDADE FALA, A UNIVERSIDADE ESCUTA PAULO RAMOS (Coordenador) FERNANDA MIRANDA DA CRUZ IARA ROSA FARIAS MÁRCIA RODRIGUES DE SOUZA MENDONÇA O Projeto Vidas foi criado em 2009 a partir de um trabalho da disciplina Língua Portuguesa: Oralidade e Letramento, ministrada no terceiro período da graduação de Letras da UNIFESP. Os objetivos iniciais do projeto são a construção, o tratamento e a exploração de um corpus oral

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de depoimentos de moradores da região de Pimentas, em Guarulhos (SP), a 17 km da capital, onde se localiza a universidade. A chegada do campus universitário à comunidade tem impacto nas práticas sociais, educacionais, cotidianas e discursivas dos moradores. A proposta de criação de um corpus composto a partir de entrevistas semiestruturadas realizadas com moradores se traduz em duas frentes de trabalho, uma de orientação linguístico-discursiva, com os objetivos de: a) analisar aspectos da interação verbal; b) constituir um acervo de memórias da região; c) reunir e identificar, nas diversas práticas discursivas do cotidiano, os valores e semantismos que circulam entre os moradores; e outra de orientação sociolinguística, com o intuito de sistematizar e analisar registros linguísticos encontrados na região. Seus primeiros dados, coletados por graduandos sob a orientação dos professores da disciplina, serão disponibilizados para pesquisadores da área de linguística e de outros campos, em uma etapa posterior do projeto. Na sessão de trabalho aqui proposta, objetiva-se apresentar e discutir três eixos de análise articulados em torno da “organização discursiva da produção oral e escrita”: 1) a relevância teórico-epistemológica da constituição de corpus oral e suas relações com as práticas de preservação e construção da memória; 2) as percepções que os moradores possuem do espaço em transformação, discutidas a partir da análise da construção das identidades discursivas dos sujeitos; 3) o impacto do processo de construção do corpus oral na formação inicial dos profissionais em Letras, e sua relação com capacidades inerentes às atividades de pesquisa acadêmica, especialmente as relativas à pesquisa de campo.

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CONTE-ME TUA VIDA E DIR-TE-EI – LINGUISTICAMENTE – QUEM ÉS Paulo Ramos Universidade Federal de São Paulo Esta exposição tem o objetivo de apresentar as discussões iniciais e as bases teórico-metodológicas que pautaram o surgimento do Projeto Vidas na área de Estudos da Linguagem do curso de Letras da Universidade Federal de São Paulo, localizada em Guarulhos, cidade vizinha a São Paulo. O projeto começou a ser desenhado no primeiro semestre de 2010 como elemento componente da disciplina de Língua Portuguesa: Oralidade e Letramento, que tinha como escopo teórico o estudo do texto oral e do diálogo existente entre fala e escrita, conforme perspectivas teóricas de Preti (1999) e Marcuschi (2001), ancoradas nos campos da Análise da Conversação e da Sociolinguística Interacional. A proposta era instigar os alunos a coletar e analisar depoimentos gravados dos moradores da região do entorno da universidade. Num segundo momento, percebeu-se que o corpus poderia ser integrado também à disciplina de Linguística, que abordaria os aspectos fonético-fonológicos da língua. Tal qual um personagem literário que ganha forma e vida próprias, o projeto cresceu e ultrapassou os limites das duas disciplinas para se verter num banco de dados da língua oral, a ser analisado por docentes da área e por alunos do campus, sejam do curso de Letras ou não. Cunhado no mesmo princípio interdisciplinar do campus de humanidades da UNIFESP, o Projeto Vidas estabelece, desde sua gestação, um necessário diálogo entre universidade e comunidade, de modo a permitir, por meio dos estudos, um maior conhecimento linguístico-discursivo da região por meio de sua fala.

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CONSTITUIÇÃO DE CORPUS DE DISCURSOS ORAIS: A VIDA SOB UM MICROSCÓPIO? Fernanda Miranda da Cruz Universidade Federal de São Paulo Nos últimos 40 anos, os corpora orais permitiram avanços importantes no campo da investigação da linguagem. O trabalho teórico-metodológico de constituição de corpora compostos por discursos orais coletados sob a forma de entrevistas, como é o caso Projeto VIDAS, mobiliza todo um conjunto de outras questões que ultrapassam a dimensão prático-metodológica e que são de ordem teórico-epistemológica, ética, jurídica, tecnológica. Na esteira dos trabalhos de sociolinguistas, conversacionalistas, diaristas (precursores dos corpora de aquisição da linguagem) e da própria Lingüística de Corpus e na tradição empírica da Lingüística, este trabalho pretende colocar a própria noção de “corpus lingüístico oral” como objeto de análise. Ao fazer isso, antigas, reformuladas e novas questões são trazidas para um primeiro plano e cotejadas com a problemática contemporânea em torno das novas formas de registro do presente, o que reforça, sobremaneira, a interação das dimensoes socio-histórico-cultural e científica, fazendo evocar aqui a formulação “social life under the microscope?” (Buscher, 2005). A análise recairá sobre a reflexão e seus desdobramentos para o campo linguístico da forma como a transformação da produção verbal (enunciada em determinadas situações interativas) em um corpus oral, passível de ser apreendido, consultado, investigado e conservado, representa, ao mesmo tempo, uma prática lingüística, uma prática de construção de um patrimônio cultural e uma forma de conservação da memória de arquivos de fala (Baude, 2006). Para tanto, a noção de corpora orais será aproximada de uma noção de texto, inspirada de Hanks (1988), entendido como um produto e processo sociocultural, que abrange também, vale lembrar, os processos envolvidos na organização do conhecimento científico.

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ENUNCIADOS COTIDIANOS, CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E PERCEPÇÕES: RELATOS SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES DA REGIÃO DE PIMENTAS Iara Rosa Farias Universidade Federal de São Paulo Esta comunicação está vinculada aos estudos desenvolvidos dentro do Projeto Vidas/UNIFESP-Guarulhos. A partir de um corpus oral, constituído por meio de entrevistas com moradores da região dos Pimentas, tecemos as primeiras considerações sobre os discursos dos sujeitos da pesquisa. Por se tratar, em sua maioria, de relatos sobre o espaço em transformação, neste caso, a região mencionada, e, ainda, de questões autobiográficas, abordagens de histórias de vida, tomamos o corpus do projeto como um conjunto de enunciados que nos apresentam recorrências semânticas. Estas apontam para a constituição de uma identidade discursiva dos sujeitos e também mostram as percepções que possuem do espaço (Fontanille, 1989) em transformação desde a chegada da UNIFESP à região. Nosso objetivo é, pois, buscar traçar um perfil semântico-discursivo do morador de Pimentas e ainda investigar como as transformações do bairro influenciaram três dimensões inter-relacionadas: a) na percepção de si (aquele que relata), b) dos outros moradores e, c) do próprio espaço. Partese da premissa (paulo comentou) de que a concepção e a percepção de si, do outro e do espaço são atravessados por significados, socializados, por meio dos quais a interação é gerada, interpretada e analisada por meio do discurso. Noutros termos, a maneira como os sujeitos pensam sobre as coisas a seu redor, isto é, o conhecimento que as pessoas têm do seu universo, é o resultado de processos discursivos socialmente construídos. O discurso enunciado, de maneira geral, oral, escrito, híbrido (verbal e não-verbal) constitui práticas cotidianas que auxiliam os sujeitos a se deslocarem pelo mundo e a entendê-lo e que por isso, paulatinamente, / 126 /


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constrói percepções e formas de vida enquanto identidades discursivas (Fontanille e Zilberberg, 2001). Para que possamos traçar e tratar de tais identidades discursivas e as percepções dos sujeitos utilizaremos, ainda, os trabalhos Discini (2003) e Coquet (1997).

CONSTRUÇÃO E DISPONIBILIZAÇÃO DE CORPUS ORAL: QUESTÕES DE APRENDIZAGEM E CURRÍCULO NA FORMAÇÃO INICIAL EM LETRAS Márcia Rodrigues de Souza Mendonça Universidade Federal de São Paulo Este trabalho discute implicações, na formação inicial do profissional de Letras, do processo de constituição e disponibilização de corpus oral composto de depoimentos de moradores da região de Pimentas, em Guarulhos (SP), desenvolvido no Projeto Vidas (UNIFESP). Pretendendo também contribuir para formar o pesquisador e o professor-pesquisador em Letras, o projeto prevê frentes de atuação dos graduandos que ultrapassam a mera aplicação de teorias: a) leitura crítica de fontes teóricas sobre oralidade, escrita e suas interfaces (Preti, 2003; Leite, 2009; Marcuschi, 2001, 2008); b) coleta de dados (seleção de informantes segundo critérios sociolinguísticos, elaboração de roteiro para entrevistas semiestruturadas que resultarão em depoimentos, gravação de depoimentos); c) tratamento dos dados (escuta, transcrição e retextualização); d) disponibilização dos dados. Tal abordagem justifica-se pela necessidade de formação para a pesquisa ao longo da graduação (CNE, Brasil, 2001, 2002), o que implica a familiarização com investigações de natureza teórica e/ou aplicada e o domínio de ferramentas de análise de fenômenos lingüísticos e textualdiscursivos. Nesse sentido, o trabalho dos estudantes no projeto pode ampliar suas capacidades de abordagem do texto oral, que incluem a percepção crítica dos fenômenos interacionais, das justificativas para / 127 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

encaminhamentos metodológicos de análise (elaboração, confrontação e aplicação de critérios de retextualização) e das especificidades da edição/produção e divulgação do gênero depoimento, na modalidade escrita. Assim, saberes variados - disciplinares, da formação profissional e da experiência, conforme Tardiff (2002) - dialogam com outros aspectos teórico-metodológicos, quais sejam: a) objetivos da pesquisa, b) relação entre escolhas lingüístico-discursivas e produção de sentido (Koch, 1998, 2002) e c) formas e objetivos de divulgação científica (Albagli, 1996, Zamboni, 2001) dos dados (impressa, eletrônica e digital). A realização do projeto como atividade de uma disciplina da graduação consolida, ainda, uma proposta curricular baseada na integração entre atividades de ensino, pesquisa e extensão, desde o início do curso. CC 11A

ESCREVEMOS E LEMOS, MAS POR QUE E PARA QUÊ(M)? O QUE DIZEM OS SUJEITOS DA LEITURA E DA ESCRITA MARIA ESTER VIEIRA DE SOUSA (Coordenadora) LAURÊNIA SOUTO SALES MARIA DE LOURDES LEANDRO ALMEIDA VERÔNICA MARIA ELIAS KAMEL Essa sessão coordenada tem como objetivo apresentar resultados de trabalhos de pesquisadores de diferentes instituições de Ensino Superior, todos voltados para a investigação acerca da leitura e da escrita, enquanto práticas sociais inseridas em contextos escolares e não-escolares. Além do objeto de pesquisa – a leitura e a escrita –, une esses pesquisadores a opção teórica pela Análise de Discurso de inspiração francesa, com uma / 128 /


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abordagem que privilegia a linguagem enquanto um trabalho simbólico. Do ponto de vista metodológico, todas as comunicações partiram da análise de dados obtidos em gravações de entrevistas e/ou aplicação de questionários com professores e alunos (de diferentes níveis de ensino). Trata-se de abordagens enunciativo-discursivas que enfocam discursos (sobre a leitura e sobre a escrita) de sujeitos que se constituem nesse trabalho de e com a linguagem. Todos os resultados convergem para a reflexão acerca do ensino e da aprendizagem da leitura e da escrita enquanto uma prática que precisa considerar os sujeitos dessas ações.

O PROFESSOR E SUA CONCEPÇÃO DE ALUNOLEITOR DO TEXTO LITERÁRIO Maria Ester Vieira de Sousa Universidade Federal da Paraíba A discussão sobre os aspectos teórico-metodológicos da leitura enquanto conteúdo de ensino já representa um capítulo significativo da história do ensino no Brasil. Ainda assim, a discussão se mantém atual, como a denunciar a falta de algo, assinalando que ainda há o que dizer. Especificamente em relação ao Ensino Médio (EM), o que se espera do leitor nessa fase de escolaridade? Que concepção de leitura e de leitor está na base dos discursos do professor sobre o aluno-leitor? Objetivo, nesta comunicação, apresentar algumas reflexões sobre o trabalho com a leitura no Ensino Médio, especificamente do texto literário, a partir do que dizem professores de escolas públicas e privadas de João Pessoa sobre o alunoleitor. Utilizamos com corpus entrevistas realizadas com esses professores, estabelecendo um recorte que contemplasse essas perguntas de pesquisa. Com base em formulações teóricas da Análise de Discurso, verificamos que o professor concebe o aluno como um não-leitor ou como um leitor imaturo, incapaz de perceber o funcionamento da linguagem literária.

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Apesar disso, em geral, as atividades que esses professores dizem realizar na aula de leitura parecem não contribuir para que esse aluno se torne um “leitor competente” do texto literário.

“ISSO EU (NÃO) LEIO!”: NO DISCURSO DE ALUNOS DE LETRAS, CONFISSÕES SOBRE LEITURA Laurênia Souto Sales Universidade Estadual da Paraíba Há um aumento quantitativo e qualitativo dos estudos sobre leitura desenvolvidos no Brasil, especialmente, nas últimas duas décadas. Os trabalhos abordam, em sua grande maioria, a leitura na sala de aula de Língua Portuguesa, na Educação Básica. Entretanto, ainda são incipientes as pesquisas que focalizam o Curso de Letras, espaço no qual podemos encontrar os responsáveis pelo trabalho com a leitura enquanto conteúdo de ensino. Quando surgem pesquisas sobre esse nível de ensino, a exemplo de Soares (2006), em sua grande maioria, buscam conhecer a prática pedagógica do profissional de Letras, desconhecendo, de modo geral, a história e as práticas de leitura desse professor. Este trabalho consiste em investigar o discurso sobre leitura de alunos concluintes do Curso de Letras, da Universidade Federal da Paraíba – Campus I, no período 2007.2. Levando em consideração a delimitação deste estudo, estabelecemos duas perguntas feitas durante a entrevista aos alunos como norteadoras de nossa análise: “Você gosta de ler?” e “O que você gosta de ler e o que você não gosta?”. A perspectiva teórica adotada para embasar nosso estudo pauta-se pelos postulados da Análise de Discurso francesa, aqui representados pelos trabalhos de Geraldi (1996, 1997, 2002), Orlandi (2001a, 2001b, 1996), Sousa (2002) e pelos estudos sobre leitura realizados por Chartier (1999, 2001), Lajolo (1986, 1993), Zilberman (2000), Sousa (2008, 2004, 2002). Os resultados da análise do corpus revelam

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que as preferências leitoras dos alunos são responsáveis, inclusive, pelo fato de eles se considerarem aptos (ou não) a trabalhar as competências leitoras em sala de aula.

“EM CASA ESCREVO MUITO...AS MINHAS COISAS/ NA ESCOLA... PRA GANHAR...GANHAR VISTO DA PROFESSORA”: O DISCURSO SOBRE O ESCREVER SOB O PONTO DE VISTA DO ALUNO Maria de Lourdes Leandro Almeida Universidade Estadual da Paraíba Tratar de questões que relacionam o sujeito e a linguagem, no contexto do ensino da produção escrita, é, na contemporaneidade, cada vez mais desafiador, uma vez que vai sempre questionar uma visão estabelecida que se tem de linguagem como instrumento e do sujeito como usuário, considerados em um espaço (a escola), cuja relação de poder circunscreve, contraditoriamente, linguagem e homem numa relação sempre marcada por uma distinção rígida de lugares. Tomando como base teórica a Análise do Discurso francesa, o presente trabalho focaliza no ensino da língua portuguesa – a produção de texto escrito sob o ponto de vista do aluno. Buscamos verificar, em entrevistas realizadas com alunos de 6º e 9º anos de escolas da rede pública do ensino, o que dizem acerca do escrever textos. A análise trabalha com a concepção de Formação Discursiva (FD) que revela o que é possível o sujeito dizer a partir do lugar que ocupa num espaço marcado pelo discurso institucional (escola) e desse lugar deslocar-se, no discurso, para falar de uma possível prática em outro ambiente (familiar). Esses discursos, materializados na “sinuosidade” da fala dos alunos, evidenciam a recorrência de um “já-dito”, trazendo um discurso marcado por “tons” (formações ideológicas) reveladores da relação do sujeito / 131 /


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com/na linguagem. São pontos de vista que demonstram a relação da linguagem com a exterioridade, como condições históricas, discursivas que interpelam a relação do sujeito com a produção de sentidos.

NOVAS TECNOLOGIAS E A PRÁTICA DOCENTE: ENCONTROS E DESENCONTROS Verônica Maria Elias Kamel Universidade Federal do Acre Com o surgimento de novas tecnologias, representadas principalmente pelo uso do computador, surgem também novas formas de leitura que sinalizam para um trabalho diferente com o texto em sala de aula. Consideramos que hoje o professor não pode ficar alheio a essa nova realidade, que exige mudanças nas práticas de ensino da leitura no espaço escolar. Nesse sentido, esse trabalho insere-se em uma pesquisa mais ampla que investiga o ensino de Língua Portuguesa no nível fundamental. Especificamente, essa comunicação tem como objetivo apresentar resultados sobre o uso das novas tecnologias enquanto recursos didáticos para o ensino de leitura. Do ponto de vista teórico-analítico, utilizamos os pressupostos da Análise de Discurso de inspiração francesa. Quanto aos aspectos metodológicos, a pesquisa foi desenvolvida em uma escola pública do município de Rio Branco, Estado do Acre. Foram realizadas entrevistas com professores de Língua Portuguesa, questionando-os acerca do uso das tecnologias em sala de aula. Verificamos que na escola visitada existem recursos tecnológicos, dentre os quais um laboratório de informática, dos quais o professor poderá dispor. No entanto, percebemos que há um distanciamento entre as novas tecnologias e a prática docente, a qual revela que o professor continua adotando métodos que desconsideram o uso desses recursos.

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O CONCEITO DE SUJEITO DA LINGUAGEM E SUAS IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS VILMA APARECIDA BOTELHO FREITAS (Coordenadora) CARLA NUNES VIEIRA TAVARES ELIANE RIGHI DE ANDRADE VILMA APARECIDA GOMES O objetivo desta coordenada é discutir como o conceito de sujeito da linguagem pode contribuir na análise da produção de sentidos sobre o que é ensinar-aprender línguas e ser professor. Apoiamo-nos no pressuposto de que o dizer nunca se completa. Nas constantes reformulações que faz de si mesmo e que o(s) outro(s) lhe endereça(m), o sujeito se (re)constrói, se (re)configura. As constantes versões que elabora para si encontramse sujeitas à discursividade do momento sócio-histórico em que vive e ao inconsciente que o atravessa. Por isso, apoiamo-nos na psicanálise no que ela postula um sujeito fragmentado e descentrado, visto que a possibilidade de totalização e de coincidência de si consigo mesmo é da ordem da utopia e da ilusão. A expressão “sujeito de linguagem” procura referir-se ao sujeito como essa resultante de duas instâncias: uma instância imaginária, que confere o efeito ilusório de um sujeito homogêneo e coerente; e uma instância simbólica, atravessada pelo real, que corresponde ao inconsciente e ao desejo que atravessam o sujeito (CORACINI, 2007). Assim, tanto a construção imaginária que alguém faz de si mesmo, quanto o que escapa dessa construção precisam ser mediadas / 133 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

pela linguagem e consideradas em uma discussão que coloca o sujeito em questão. Logo, os trabalhos procuram analisar os discursos que compõem a constituição identitária do professor de línguas , dando a ele a ilusão de completude e de pertencimento a um grupo. Concomitantemente, questionam essa completude, o desejo que move alguém a ocupar a posição de professor e os modos dessa ocupação, apontando para o fato de que, apesar das infindáveis tentativas de construir para si uma imagem unitária e totalizante, o sujeito sempre escapa pelos meandros do desejo.

O QUE NOS TORNA PROFESSORES: ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA SUBJETIVIDADE DE SER PROFESSOR Vilma Aparecida Botelho Freitas Universidade Federal de Uberlândia Nesta apresentação, recorte de nossa pesquisa que está em andamento, pretendemos discutir alguns elementos que foram flagrados nos dizeres de um grupo de professores de língua estrangeira e que apontam para uma construção subjetiva do ser professor. Dentre os vários aspectos que consideramos merecedores de atenção, elegemos para esta discussão as questões que envolvem os dizeres que sustentam a prática do professor, sua relação com o ensinar uma língua estrangeira e como essa relação ressoa em sua prática diária. Aprendemos com Lacan que o sujeito se constitui em sua relação com o outro e que esse outro será o portador do grande Outro. Daí pensar que o professor que inicia sua trajetória profissional irá articular sua experiência pessoal de aprender uma língua estrangeira (LE) à uma construção teórica, que potencialmente produzirá deslocamentos. Nesse sentido, observamos que a sala de aula se apresenta como o lugar de (de)cisão, de assunção das escolhas feitas, enfim, um lugar de se sustentar / 134 /


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a posição de professor e as implicações que disso decorrem. Percebemos, ainda, nos dizeres dos professores certos discursos que tendem a apontar para uma repetição das experiências vividas, por vezes como resposta ao Real, que sempre insiste em se fazer representar, Assim, análises iniciais nos possibilitam pensar que é no entrelaçamento discursos/transferência que o professor constrói um percurso com marcas de sua elaboração e de uma invenção.

A HETEROGÊNEA FICÇÃO DE SI NAS AUTOBIOGRAFIAS DE PROFESSORES DE LÍNGUAS Carla Nunes Vieira Tavares Universidade Federal de Uberlândia O objetivo desta comunicação é discutir a heterogeneidade da constituição identitária do professor de língua estrangeira. A discussão se apoia nos pressupostos de que a identidade é uma construção discursiva, de que a ficção de si pode (des)velar a heterogeneidade discursiva que constitui a imagem de alguém e que as autobiografias constituem modalidades de ficção de si. A ficção de si, desse modo, se refere ao movimento de narrar-se, contar-se, construir e dar para si uma ou várias histórias, ao mesmo tempo em que essa(s) história(s) possibilitará(ão) contextualizar e construir uma imagem do eu. Entretanto, à medida que se empreende a construção do eu, é possível flagrar traços do sujeito de linguagem, nos pontos em que ele aparece como efeito de linguagem. Teoricamente, portanto, o trabalho se baseia nos estudos culturais pós-estruturalistas, em alguns conceitos da psicanálise e nos estudos sobre a heterogeneidade discursiva de Authier-Revuz. Nas autobiografias é possível vislumbrar a tentativa dos professores em fazerem de suas memórias incongruentes e contraditórias um todo homogêneo que faça sentido. Entretanto, há sempre brechas no dizer que apontam para a incongruência, para

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

a contradição. Consequentemente, com base na análise discursiva de autobiografias escritas por professores brasileiros de inglês da educação básica, procuramos abordar os sentidos construídos a partir dos relatos sobre o encontro-confronto com a língua estrangeira. Discutiremos como a ficção de si, presente nas autobiografias, deixa flagrar traços das identificações aos discursos que perpassaram os processos de ensinoaprendizagem dos professores e as conseqüências desses processos para sua identidade. Enquanto empreendem narrativizações de si, os professores parecem re-afirmar pontos de sua constituição identitária que demandam uma justificação, outros que são questionados e, ainda, outros que poderão ser re-significados.

A INFLUÊNCIA DOS DISCURSOS CIENTÍFICOS NAS SUBJETIVIDADES DOS PROFESSORES DE LÍNGUA EM FORMAÇÃO Eliane Righi de Andrade Pontifícia Universidade Católica de Campinas Os discursos das ciências têm desempenhado um papel de destaque na atual constituição psíquica do sujeito, colocando-se como um discurso de autoridade, que legitima um modo de ser no mundo, uma forma de ver a educação em geral e o próprio ensino-aprendizagem de línguas. Essa influência do discurso científico sobre a construção das subjetividades aparece, na modernidade, com o enfraquecimento do discurso religioso e o da lei, que representariam uma economia psíquica ainda focada no registro do simbólico. Com seu declínio, instauram-se novas formas de subjetivação que valorizam o imaginário, apresentando um sujeito que não se impõe limites (LEBRUN, 2004). Como consequência dessa nova economia, temos, na linguagem, a tentativa de estabelecer uma relação unívoca entre palavras e coisas, reduzindo-a a uma mera função / 136 /


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instrumental, o que significa que os enunciados passam a se apresentar como independentes de sua enunciação, acarretando uma eliminação do sujeito (inconsciente) que emerge no fio discursivo. Baseando-nos em conceitos teóricos da psicanálise e na abordagem discursiva da linguagem, procuraremos discutir como esses discursos hegemônicos se revelam no dizer de professores em formação, acarretando um pensar uniformizador na educação e no ensino e aprendizagem de línguas, reforçando, nesses futuros professores, um sentimento de que as ciências, com seu discurso totalizante, podem dar conta de uma satisfação plena ao sujeito - encobrindo sua falta estrutural -, a partir do uso exacerbado das tecnologias que são desenvolvidas pelas ciências e que o discurso da educação procura assimilar, como se o ato de ensinar e aprender fosse todo ele passível de controle e racionalidade, tornando-o, assim, um objeto de consumo.

O GESTO DA ESCRITA: UMA VOZ QUE RESSOA Vilma Aparecida Gomes Universidade Federal de Uberlândia Esta comunicação tem o propósito de apresentar o desenvolvimento de uma pesquisa que tem por objetivo problematizar os discursos sobre o processo de inclusão escolar a partir dos estudos sobre a linguagem, sobre o sujeito e sobre a subjetividade. Tomando como ponto de partida um estudo de caso, apresentaremos análises preliminares de uma narrativa em que a aluna encontra na escrita o suporte para denunciar o seu suposto desamparo no contexto de sala de aula. Para fazer esse estudo, levaremos em consideração que a escrita constitui-se num espaço simbólico, lugar de interpretação e de constituição de subjetividade. Assim, refletiremos sobre o gesto da escrita, nesta narrativa, levando em consideração que ela carrega traços constitutivos de identidade, por isso produz marcas, cicatrizes nos sujeitos que vivenciam uma determinada experiência. Para isso, tomaremos / 137 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

como aporte teórico uma noção de sujeito que não se coaduna com uma concepção positivista do conhecimento. Fundamentaremos nos conceitos da Análise do Discurso de linha Francesa, com base nos estudos discursivos derivados dos trabalhos de Michel Pêchux e seu grupo, com um foco no atravessamento da psicanálise freudo-lacaniana, e em subsídios teóricos da enunciação de Authier-Revuz. CC 13A

DISCURSOS E LETRAMENTOS NA EDUCAÇÃO ESPECIAL JOSÉ RIBAMAR LOPES BATISTA JÚNIOR (Coordenador) CARMEM JENÁ MACHADO CAETANO DENISE TAMAÊ BORGES SATO LISSA MARA SARAIVA FONTENELE Os Novos Estudos do Letramento (BARTON E HAMILTON, 1998; BARTON, HAMILTON E IVANIC, 2000; BARTON, 2006; RIOS, 2009; BAYNHAM, 2009) corresponde a um tipo de abordagem em que os usos da leitura e da escrita são vistos como atividades situadas, atravessadas pela cultura e pela ideologia da prática em que se insere. Leitura e escrita, nesse sentido, tornam-se habilidades não neutras, apreendidas pela vivência e pela exposição a ideologia dominante. A Análise de Discurso Crítica (ADC) pode ser associada aos Novos Estudos do Letramento por possuírem a concepção de que a linguagem é uma instância ideológica que contribui para a manutenção da hegemonia e/ou para a quebra de articulações mantidas por ideologias naturalizadas. Segundo Fairclough (2001) a cada mudança nas práticas mudam-se as articulações, reposicionam-se os agentes e uma nova configuração se estabelece. Nesse sentido, as investigações dos letramentos associadas as investigações discursivas / 138 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

dentro dos projetos integrados “Discursos Identidades e Práticas de Letramento no Ensino Especial” e “Múltiplos Letramentos, Identidades e Interdisciplinaridades no Atendimento Educacional à Pessoa Deficiente” (ambos financiado pelo CNPq) coordenado pela Profa. Izabel Magalhães traz significativas percepções, entre elas a de que a inclusão passa sobretudo pelo fazer docente, enquanto que as iniciativas governamentais visam incluir a criança na sociedade e não na escola.

LETRAMENTO E ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA: ETNOGRAFIA E PRÁTICAS DE INCLUSÃO JOSÉ RIBAMAR LOPES BATISTA JÚNIOR Universidade de Brasília A etnografia (LOPES, 2004, ANGROSINO, 2009) como método de geração de dados associada a pesquisa discursiva tem sido recomendada por inúmeros pesquisadores do discurso (FAIRCLOUGH, 2003, WODAK & MEYER 2009, MAGALHÃES, 2006). Isso é possível pelo aspecto constitutivo do discurso (a sociedade forma o discurso e o discurso forma a sociedade). A participação do dis-curso nas práticas sociais é percebida durante o período em campo pelas marcas desses discursos nas formas de ser e nos processos adotados em cada prática social. Assim, a busca de marcas discursivas em práticas sociais, por meio da pesquisa etnográfica, corresponde a um meio eficiente de investigação porque possibilita a percepção das dinâmicas sociais de onde emergem os senti-dos. Ancorado na Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 2001, 2003; CHOULIARAKI & FAIR-CLOUGH, 1999) e adotando a etnografia, como uma das ferramentas metodológicas, buscamos nas práticas de letramento (práticas de leitura e escrita) voltadas a inclusão e ao atendimento educacional das crianças deficientes, investigar as identidades profissionais das equipes multiprofissionais inseridas nesse contexto. Como resultados preliminares, percebemos que a prática inclusiva e de atendimento as crianças especiais não permite um / 139 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

trabalho interdisciplinar real das equipes, sendo a prática marcada pelo letramento burocrático e assistencial dos governos investigados, visto que o processo de integração da criança e da família na sociedade não passa pela integração das equipes multiprofissionais.

A INCLUSÃO E SUAS REPRESENTAÇÕES Carmem Jená Machado Caetano Universidade Federal do Ceará Este trabalho direciona-se à investigação da interdisciplinaridade no Atendimento Educacional Especializado (AEE) à pessoa deficiente, buscando compreender as representações de pessoas que trabalham com portadores de necessidades especiais e suas representações acerca da educação inclusiva. O principal objetivo dessa apresentação é analisar metodologicamente como o discurso da mudança na política educacional afetou as representações identitárias de atores sociais envol-vidos com o Ensino Especial bem como demonstrar por meio de análises as representações identi-tárias de profissionais da área de Educação Especial em discursos prevalecentes nas práticas de letramento (escrita e leitura) em instituições com AEE. Para o desenvolvimento do trabalho levou-se em conta conceitos como interdisciplinaridade e representações sociais. O conceito de múlti-plos letramentos refere-se à perspectiva heterogênea, múltipla, dos usos sociais da leitura e escri-ta. A adoção desse conceito define a orientação teórica desta apresentação de acordo com os No-vos Estudos do Letramento, voltada para as práticas sociais e suas dimensões discursivas e não-discursivas (por exemplo, poder, identidades, ações, tempo-espaço). Essa concepção social do letramento foi investigada com a metodologia etnográfica combinada à análise do discurso textu-almente orientada proposto por Fairclough (2003). Será adotada a perspectiva de Street (2001) para a comparação dos múltiplos letramentos no AEE na cidade de Brasília-DF. / 140 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

A INCLUSÃO DA PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN NO DISCURSO DA FAMÍLIA Denise Tamaê Borges Sato Universidade de Brasília As mudanças ocorridas na educação brasileira transformou a forma como educadores/as e pais lidam com o atendimento educacional e terapêutico de alunas e alunos com Síndrome de Down. De pessoas incapazes passaram a ser tratados/as pela lei e pela educação formal como indivíduos capazes, cujo espaço na sociedade precisa ser conquistado no convívio com seus pares. Da prote-ção de centros especiais ao processo de inclusão em escolas regulares muitos foram os obs-táculos. Essa mudança ocorrida por motivações governamentais, incentivada pela mídia, contudo, foi operacionalizada principalmente pela escola. Nesse cenário, a família assume a função de protagonistas ao absorverem os ideais veiculados nos discursos. Alicerçada na Análise de Discurso Crítica na vertente de Fairclough (2001, 2003) e na Teoria Social do Letramento (BARTON, 1994; BARTON E HAMILTON, 1998; STREET, 1984), em nossa pesquisa intitulada “A construção das Identidades de Gênero na inclusão da pessoa com Síndrome de Down: Letramento e Discurso, realizada nas cidades de Goiânia, Planaltina de Goiás e Taguatinga, observamos os discursos das famílias e da escola nesse contexto de mudanças. Preliminarmente, pudemos observar que a família absorveu o discurso da superação sem maiores reflexões sobre as potencialidades e dificuldades existentes, bem como das implicações de tentar tal superação via escola tradicional.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

PROFESSORES QUE TRABALHAM EM CENTROS DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E RELAÇÕES INTERDISCIPLINARES - UMA PESQUISA QUALITATIVA ETNOGRÁFICA EM FORTALEZA Lissa Mara Saraiva Fontenele Universidade Federal do Ceará Visto que os centros de Atendimento Educacional Especializados (AEE) são compostos por profissionais de várias áreas como, pedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos e fisioterapeutas, espera-se encontrar entre esses profissionais relações interdisciplinares a fim de que possam interagir melhor com seus alunos e alunas com deficiência e assim melhorar seu aprendizado e, consequentemente, sua integração mais completa na sociedade. Para se perceber interdisciplinaridades entre esses profissionais é fundamental trabalhar os conceitos de múltiplos letramentos de Street (1984, 2000) que entende a leitura e a escrita como práticas sociais diretamente relacionadas ao contexto no qual se desenvolvem não se restringindo assim a somente um mais a múltiplos letramentos. A metodologia de pesquisa adotada aqui é a Análise de Discurso Crítica (ADC) (FAIRCLOUGH, 2003) em conjunto com a pesquisa qualitativa etnográfica. Essa relação é possível porque, na pesquisa qualitativa etnográfica práticas sociais podem ser observadas e através da materialidade dos textos (MAGALHÃES, 2006) é possível perceber, segundo Fairclough (2003) os vários discursos presentes entre os profissionais que compõem o AEE (Significado Representacional) e os estilos, que compõem o aspecto discursivo das identidades (Significado Identificacional). O estudo piloto desenvolvido em duas ONGs em Fortaleza tem revelado uma segregação entre muitos dos profissionais que compõem o AEE, dificultando portanto, práticas interdisciplinares entre eles.

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

CC 01B

LEITURA, ESCRITA E ENSINO: ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS SUELI CRISTINA MARQUESI (Coordenadora) ANA LÚCIA TINOCO CABRAL MARIA VALÍRIA ADERSON DE MELLO VARGAS SILVIA AUGUSTA DE BARROS ALBERT A sessão coordenada agrupa docentes e pesquisadores que se dedicam à pesquisa da mesma temática: a pesquisa de questões teóricas que orientam as práticas docentes de leitura e escrita de forma articulada, considerando o objetivo norteador da disciplina de tornar o aluno proficiente tanto em leitura quanto em escrita, ambas concebidas como processos em constante diálogo. Os trabalhos que compõem a sessão fundamentam-se especialmente nos postulados da Linguística de Texto, considerando-se o texto sob o ponto de vista sócio-cognitivo-interacional. Em uma perspectiva sócio-cognitivo-interacional, leitura e escrita constituem atividades estratégicas que envolvem a construção de uma representação coerente. Como afirma van Dijk (1998), produzir um texto é uma ação que se inicia pela concepção de uma representação mental, e compreender um discurso é construir uma representação mental. Para tanto, as pessoas têm a habilidade de usar informações de diversos tipos, de forma flexível (van Dijk, 1996:16). No mesmo sentido postula Koch (1997, p. 30) que as estratégias de ordem cognitiva têm, assim, a função de permitir ou facilitar o processamento textual, quer em termos de produção, quer em termos de compreensão. Sueli Marquesi focaliza o tipo descritivo como estratégia para o trabalho de leitura para fundamentar a escrita na universidade; Maria Valíria Anderson / 143 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

Vargas aborda questões teóricas e metodológicas que fundamentam a formação de professores para a prática de leitura e escrita; Ana Lúcia Tinoco Cabral apresenta o levantamento de fenômenos linguísticos para subsidiar o trabalho de leitura de textos predominantemente argumentativos; Silvia Albert discute em sua comunicação algumas questões a respeito da adoção dos gêneros como instrumento privilegiado para o ensino e a aprendizagem de leitura e produção de textos na escola. Os trabalhos apresentados relacionam-se a questões presentes nos diferentes níveis de ensino.

LEITURA ESCRITA E ENSINO: O TIPO DESCRITIVO NAS PRÁTICAS DE LEITURA PARA A ESCRITA Sueli Cristina Marquesi Universidade Cruzeiro do Sul / Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Os estudos da atualidade têm evidenciado que um contingente bastante elevado de alunos conclui o ensino médio com sérias dificuldades de leitura e de escrita, e, assim, o enfrentamento desse desafio por pesquisadores, professores do ensino superior, torna-se impositivo. Considerando esse contexto e entendendo o texto como evento comunicativo no qual convergem ações de natureza linguística, cognitiva e social, o trabalho apresenta a utilização de sequências descritivas como estratégia de leitura voltada para a compreensão textual que possa contribuir para o desenvolvimento da escrita na Universidade. Tomando por base os princípios teóricos da Linguística Textual (Koch2002; Adam 2008; Marquesi, 2004 e 2007), são propostas estratégias para a compreensão da progressão textual relacionadas a sequências descritivas em gêneros textuais, focalizando a progressão por meio da referenciação. O corpus de análise compõe-se de textos que circulam no contexto acadêmico, / 144 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

especificamente, artigos de divulgação da área de Engenharia, com o foco no Tipo Descritivo (Marquesi, 2004) e nos princípios de ativação (introdução de um referente não mencionado anteriormente), reativação (reintrodução do referente, por meio de uma nova forma referencial, para que ele permaneça saliente), desativação (deslocamento da atenção para outro referente, desativando o referente em foco), já que esses princípios, segundo Koch (2002) ocorrem de forma recorrente na produção textual, e os objetos de discurso, uma vez introduzidos, podem ser modificados, desativados, reativados, ou recategorizados. A metodologia de análise compreeende: i) o levantamento dos processos de refenciação; ii) a verificação de como esses processos consubstanciam as estruturas descritivas presentes nos textos analisados.

LEVANTAMENTO DE CATEGORIAS DO TEXTO ARGUMENTATIVO PARA A ELABORAÇÃO DE ATIVIDADES DE LEITURA COM USO DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO Ana Lúcia Tinoco Cabral Universidade Cruzeiro do Sul A comunicação apresenta pesquisa cujo escopo é o levantamento de taxonomias para a orientação de trabalho de leitura e escrita, numa perspectiva que parte da análise e reflexão linguística contextualizada e visa à compreensão dos fenômenos linguísticos e textuais desde a tipologia argumentativa até as escolhas lexicais que contribuem para o desenvolvimento da argumentação. Passando pelas possibilidades de combinação, articula texto, gramática e léxico. O trabalho alia a pesquisa em Linguística às tecnologias da informação e comunicação, visando ao ensino de leitura e escrita. A pesquisa tem por objetivo final a elaboração de atividades de leitura e escrita, por meio de um software, / 145 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

visando ao desenvolvimento de diferentes competências textuais, como ler, compreender, analisar e escrever textos predominantemente argumentativos de certa complexidade. Fundamentamo-nos em Linguística textual, especialmente nos estudos voltados para a tipologia argumentativa (Adam, 2008), na Teoria da Argumentação na Língua postulada por Ducrot (1981; 1984; 1985) e nas teorias de abordagem enunciativa, especialmente no que diz respeito à subjetividade e à modalização (Kerbrat-Orecchioni, 1980,1997; 1985). A fim de fornecer os subsídios necessários para a equipe de tecnologia encarregada de construir as atividades, exploram-se as categorias textuais e linguísticas, em três níveis. A partir da seleção de textos, é feito o levantamento de categorias textuais para navegação, considerando três níveis dependentes entre si e, em seguida, são elaboradas instruções para a navegação textual. Estabeleceram-se como categoria de nível superior a tipologia textual argumentativa. Em segunda instância, constituem categorias as marcas de polifonia e a modalização. Em terceiro nível, com respeito à polifonia, são verificadas as marcas de concordância/ discordância e, com relação à modalização, as marcas de adesão/não adesão, aproximação/distanciamento. Considerando que, para um mesmo texto, é possível estabelecer uma multiplicidade de percursos de leitura, espera-se construir um trabalho reflexivo de leitura que forneça subsídios para a escrita.

LEITURA ESCRITA E ENSINO: A FORMAÇÃO DO PROFESSOR COMO MEDIADOR Maria Valíria Aderson de Mello Vargas Universidade Cruzeiro do Sul Pretende-se, neste trabalho, discutir a formação do professor como leitor crítico e como mediador efetivo no processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita. Para tanto, procura-se demonstrar que o professor

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

deve, sobretudo, ser capaz de compreender os procedimentos pelos quais se cria a intersubjetividade, bem como as pressuposições de conhecimento partilhado, responsáveis pelo processamento de sentido, pela construção da coerência textual. Demonstra-se, ainda, que, para o desenvolvimento adequado das atividades didáticas que contemplam a leitura e a escrita, o professor deve compreender que linguagem e realidade se articulam dinamicamente e que os textos se configuram como formas de cognição social, como verdadeiros processos de interação e de construção social de conhecimento, que permitem ao homem organizar cognitivamente o mundo. Partindo das concepções de texto amplamente divulgadas por estudiosos da Linguística Textual (Koch, Travaglia, van Dijk, entre outros), pretende-se demonstrar que o professor, para exercer efetivamente o papel de formador de leitores e produtores eficientes de textos, deve ser capaz de perceber que a evolução do conhecimento exige a busca permanente do domínio de novas formas de compreensão do universo social e que a compreensão do texto implica necessariamente a percepção das relações entre o texto e o contexto.

QUAL O PAPEL E AS LIMITAÇÕES DA NOÇÃO DE GÊNEROS PARA O ENSINO E A APRENDIZAGEM DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS NA ESCOLA? Silvia Augusta de Barros Albert Pontifícia Universidade Católica de São Paulo A comunicação aborda o ensino de leitura e produção de textos na escola, visando levantar questões a respeito do uso dos gêneros como instrumentos privilegiados para o ensino de língua materna, como orientam os PCN. Segundo Dolz e Schneuwly, (1997) na escola, o gênero não é mais instrumento de comunicação apenas, mas passa a ser objeto de / 147 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

ensino e de aprendizagem. Nesse sentido, o presente trabalho pretende discutir se, após a adoção dos gêneros como o principal instrumento norteador para e ensino e aprendizagem de leitura e produção de textos ou como bem o definem Dolz e Schneuwly, se ao trabalhá-los como um “megainstrumento”, existem lacunas na formação de leitores e produtores de textos e de que ordem seriam elas. Com base na Linguística Textual (Adam 2008, Koch e Travaglia) em diálogo com as teorias que abordam o estudo da linguagem numa perspectiva sócio-cognitiva interacional (Marcuschi, Rojo entre outros) pretende-se refletir nesse trabalho sobre as seguintes questões: “Em que medida a adoção dos gêneros propicia ao aluno estabelecer a coesão e coerência em seus textos? Em que medida contemplar o aspecto discursivo da linguagem tem exigido que os professores abandonem o ensino e aprendizagem de aspectos linguísticos e gramaticais na leitura e nas produções de textos? Quais os reais benefícios que a adoção dos gêneros trouxe para o ensino e aprendizagem da leitura e da produção de textos na escola: em relação a avaliação?; em relação ao processo de produção de textos, incluída a reescrita?; em relação às propostas de produção de texto?”A experiência com a formação de professores tem mostrado que é preciso contrapor os modelos propostos pelos PCN em relação ao ensino e a aprendizagem de língua materna que levem a uma real proficiência leitora e produtora de textos dos alunos.

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

CC 02B

LINGUAGEM E CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO GLÓRIA MARIA MONTEIRO DE CARVALHO (Coordenadora) e ALBA GOMES GUERRA LUCIANE DE CONTI MARIA DA CONCEIÇÃO DINIZ PEREIRA DE LYRA SELMA LEITÃO Abordar a linguagem em sua função constitutiva do sujeito significa admitir, ainda que de forma implícita, um lugar ocupado pela questão do tempo nessa função. Deve-se a vários autores, dentre os quais Santo Agostinho e Kant, na filosofia, grandes revoluções ocorridas na concepção de tempo. Para Santo Agostinho, não existem, propriamente falando, três tempos: o presente, o passado e o futuro, mas somente três presentes: o presente do passado, o presente do presente e o presente do futuro. Portanto, os três tempos, por esse filósofo referidos, existem na nossa alma, não possuindo existência real. Kant, por sua vez, considera o tempo como uma forma ou categoria a priori do pensamento que, juntamente com o espaço, ordenaria os acontecimentos percebidos. Assim, esses dois filósofos deslocaram a noção de temporalidade de um lugar exterior para a interioridade do sujeito cognoscente, com as variações decorrentes da posição de cada um. Levando-se em conta vários outros movimentos produzidos nessa noção, destaca-se também a abordagem do tempo como constitutivo da subjetividade. Nessa posição, trata-se de abordar o tempo na relação do sujeito com a linguagem em vários tipos de produções lingüísticodiscursivas. Teria havido, portanto, não apenas uma reafirmação do deslocamento agostiniano e kantiano, mas também, uma quebra na idéia de tempo como sucessão. Em conseqüência de tal quebra, destaca-se uma / 149 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

heterogeneidade teórico-metodológica considerada frutífera no âmbito da ciência. Em outras palavras, trata-se de diferentes possibilidades de se investigar a constituição do sujeito, em sua relação com a linguagem. Essa heterogeneidade significa, em última análise, uma possibilidade de investigar diversos aspectos da constituição do sujeito, como por exemplo, seu processo de desenvolvimento psicológico, através de diferentes manifestações lingüístico-discursivas – tais como, o diálogo, a narrativa, o discurso poético – com fundamento em quadros epistemológicoconceituais também diferentes.

O TEMPO COMO QUESTÃO NO DISCURSO POÉTICO Glória Maria Monteiro de Carvalho; Alba Gomes Guerra Universidade Federal de Pernambuco Tomamos, como ponto de partida, uma abordagem mitológica da temporalidade, remetendo, inicialmente, ao deus Chronos. Discutimos a concepção de tempo como sucessão, bem como a sua quebra, a partir de alguns filósofos gregos. Em seguida, colocamos em destaque a dimensão trágica do tempo mítico e seu entrelaçamento com o tempo concebido pela psicanálise. Trata-se, assim, de um tempo exterior e de um tempo interior ao homem, em constante tensão. A discussão culmina com o enfoque do tempo trágico na poesia o qual se torna, especialmente, visível em alguns tipos de discurso poético. Foram recortadas uma poesia de Fernando Pessoa e uma de Rogério Luz, elegendo-se, como eixo de análise, a dimensão trágica a qual é concebida como a marca do tempo nesse tipo de produção. Assim, nessa análise, a ambivalência do poeta, visível nas produções dos dois autores, deixa explícito o conflito básico da existência: conflito entre vida e morte. Dizendo de outro modo, considerando a marca do tempo trágico, a pulsão de morte concebida como a outra face da / 150 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

pulsão de vida, dá visibilidade, no discurso poético, a um fácil deslizamento entre prazer e desprazer, vida e morte. Daí, esse tipo de discurso, com a marca trágica, ter o seu acento no fluir constante entre o horrível e o belo, o sublime da existência.

A TEMPORALIDADE NARRATIVA NOS ESTUDOS EM PSICOLOGIA Luciane de Conti

Universidade Federal de Pernambuco A perspectiva narrativista em psicologia toma a linguagem como aspecto nuclear da constituição subjetiva humana à medida que estabelece o elo entre a ordem do psicológico e a da cultura, por meio dos significados. A ênfase, assim, está no discurso e na construção de significados realizada a partir das práticas discursivas interacionais e dialógicas. Nessa concepção, a narrativa é a forma de esboçar a experiência temporal humana que, por sua vez, está articulada em nossa cultura de modo narrativo. A noção de tempo é central nessa perspectiva tendo como principais articuladores teóricos Benjamin e Ricouer. Eles afirmam que a forma narrativa contemporânea não se caracteriza por uma seqüência cronológica linear, mas sim pela sucessão entre os elementos constituintes da narrativa, que somente adquirem significação a partir do lugar que ocupam no enredo narrativo. Logo, é a ordenação semântica que permite a construção de sentidos acerca do evento narrado, dando coerência, embora provisória, à experiência colocada em cena pela narração. A partir dessas idéias pretendemos, nesse trabalho, inicialmente delimitar a noção de temporalidade que fundamenta os estudos em psicologia a partir da perspectiva narrativista. Em seguida, visamos refletir acerca das possíveis implicações metodológicas nos estudos que tomam tal perspectiva como enquadramento teórico. Para isso, recorreremos a breves recortes narrativos advindos de nossas pesquisas.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

O TEMPO E O ESPAÇO NO ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO Maria da Conceição Diniz Pereira de Lyra

Universidade Federal de Pernambuco

Discutimos o tempo e o espaço como duas noções basilares de todos os fenômenos físicos, biológicos e sociais: tempo, espaço e suas relações. Ambas são requisitos necessários à uma “Psicologia do Desenvolvimento Humano”. O estudo do desenvolvimento pode ser realizado de duas formas distintas: requerendo uma investigação do processo através do qual o desenvolvimento ocorre ou não exigindo esta exploração. Em ambas, o tempo existe mas de forma distinta. Assumindo a primeira dessas posições, somos forçados a refletir e considerar o tempo como constitutivo do desenvolvimento, considerado como um tempo irreversível. A outra alternativa assume a reversibilidade do tempo e, consequentemente, o exclui como participante ou constitutivo do fenômeno do desenvolvimento. O segundo parâmetro referido nesta apresentação diz respeito à outra dicotomia: podemos estudar o desenvolvimento como um fenômeno que ocorre nos limites de um indivíduo, física e psicologicamente delimitado pelo seu corpo, sua mente e seu cérebro (comportamentos, cognições, sentimentos, motivações, personalidade, etc) ou podemos estudá-lo como inserido em um sistema de relações. Quando situamos o desenvolvimento humano, em um sistema de relações o estamos espacializando, mais especificamente, temos que considerar o espaço-tempo no qual ocorre este fenômeno. Esta noção de espaço-tempo está presente nas perspectivas contextualistas e, é importante lembrar, na noção de cronotopos de Bakhtin. Advogamos, aqui, que o estudo do desenvolvimento é o estudo de um sistema de relações que ocorre em um tempo irreversível. Todavia, a identificação, características e dinâmica particular dependem do fenômeno ou aspecto específico do desenvolvimento que estamos investigando.

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

DOIS SENTIDOS DE OPOSIÇÃO NO DIALOGISMO BAKHTINIANO Selma Leitão Universidade Federal de Pernambuco A idéia de ‘oposição’ aparece como categoria central no pensamento bakhtiniano e em estreita relação com a noção de ‘diálogo’ – provavelmente o mais importante e unificador construto no quadro teórico proposto pelo Círculo de Bakhtin. A despeito dessa centralidade (e à semelhança do que ocorre com as categorias ‘diálogo’, ‘gênero do discurso’, ‘polifonia’, etc.), o emprego assistemático do termo, em diferentes campos disciplinares que tomam o dialogismo como referência, torna iminente o risco de confusão conceitual. No campo da psicologia, notadamente a psicologia que afirma a natureza semiótico-discursiva do psiquismo humano e toma tal afirmação como base axiomática de sua construção teórica, ‘oposição’ é vista como idéia inerente a noções variadas tais como: negação, divergência, alteridade, tensão, contradição, contrariedade, contraste, entre outras. O que não se observa, entretanto, na maioria dos casos, é uma clara indicação de como o sentido de ‘oposição’ deve ser entendido à luz das questões específicas investigadas em cada caso e/ou que diferenças de sentido são produzidas quando diferentes termos são empregados. No presente trabalho propõese que pelo menos duas concepções de oposição podem ser identificadas no dialogismo bakhtinano. Tais concepções serão contrastadas a partir de três critérios básicos: 1-a rede conceitual (no quadro do dialogismo) em que cada uma se insere; 2-a relação de essencialidade ou contingência que guardam com a noção de diálogo e 3-a forma latente ou aberta como se manifestam no discurso. Enquanto num primeiro caso (OP1) a idéia de oposição se liga conceitualmente à de alteridade, sendo, portanto, essencial (constitutiva) ao diálogo, no qual permanece latente, no segundo caso (OP2), oposição se relaciona à idéia de disacordo, é contingente a relações dialógicas específicas nas quais se manifesta de forma aberta. / 153 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CC 03B

AVALIATIVIDADE COMO RECURSO SEMÂNTICO-DISCURSIVO NA VISÃO DA LINGUISTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL FABÍOLA SARTIN DUTRA PARREIRA ALMEIDA (Coordenadora) ANAHY SAMARA ZAMBLANO DE OLIVEIRA BELIA FANTINI BONINI PINTO DE ARRUDA MARIA DO ROSÁRIO DA SILVA ALBUQUERQUE BARBOSA Esta sessão coordenada tem como objetivo contribuir para os estudos Análise do Discurso como base na Lingüística Sistêmico-Funcional (Halliday, 1994 e 2004), destacando o Sistema de Avaliatividade (Martin, 1999; Martin & Rose, 2003; Martin & White, 2005) e constará de quatro estudos em andamento que focalizam aspectos da linguagem em vários contextos sociais. A Linguística Sistêmico-Funcional tem se desenvolvido na pesquisa aplicada à língua portuguesa em diferentes contextos sociais de uso, como o jornalístico, o jurídico, o pedagógico e o científico. Os trabalhos aqui apresentados focalizam o Sistema de Avaliatividade, que se desenvolveu no interior da LSF, abrangendo os campos da atitude, engajamento e gradação. A Análise do Discurso tem sustentado o exame de práticas sociais em descrições do sistema linguístico proporcionadas pela LSF. Embora haja alguns aspectos do sistema do português já descritos, ainda há necessidade de aprofundar o estudo da estrutura e do funcionamento da língua portuguesa. Cada vez mais a Linguística Sistêmico-funcional vem merecendo espaço em diferentes programas de pós-graduação em Linguística e Letras no Brasil e na América Latina. A integração do aporte teórico da LSF com estudos em análise crítica do discurso permite-nos

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

analisar especificidades léxico-gramaticais e contextuais de diversos gêneros textuais da mídia, literatura, educação e ensino, política e cultura, com a investigação de questões tais como de gênero, poder, identidade, e/ou ideologia. Os estudos em Linguística Sistêmico-Funcional objetivam oferecer subsídios teóricos e práticos para profissionais da linguagem, preocupados com a descrição, interpretação e explicação de gêneros textuais diversos em contextos socioculturais contemporâneos.

ESTUDOS DE AVALIATIVIDADE NO BRASIL: UMA ANÁLISE DAS CATEGORIAS SEMÂNTICOFUNCIONAIS DE ATITUDE E DE GRADAÇÃO NO DISCURSO ACADÊMICO Fabíola Sartin Dutra Parreira Almeida Universidade do Estado de Mato Grosso Este estudo se insere nos estudos do DIERCT – Em Direção a Linguagem dos Negócios /PUCSP e tem como objetivo apresentar uma análise das categorias semânticas de atitude e de gradação usadas em resenhas científicas publicadas em Revistas impressas. Os dados foram coletados em Revistas acadêmicas publicadas no Brasil e no exterior. A base teórica é a Linguística Sistêmico- Funcional proposta por Halliday (1994, 2004) e centra-se no Sistema de Avaliatividade (Martin, 1992), Martin e Rose (2003) e Martin e White (2005). Esse Sistema, segundo Martin (1999, 2003, 2005) é o suporte teórico utilizado para que observemos as escolhas léxico-gramaticais avaliativas feitas pelos usuários do texto ao descrever suas experiências. Martin & Rose (2003:22) apresentam a Atitude como foco de análise de coisas, o caráter das pessoas e seus sentimentos, ou seja, como são avaliados. Nesta pesquisa, destacamos as três dimensões do Sistema de Atitude: (1) Afeto: que diz respeito às emoções, reagindo a comportamento, texto/ processo, fenômenos; (2) Julgamento: que diz respeito à ética, avaliando

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

comportamento; e (3) Apreciação: que diz respeito à estética, avaliando texto/processo, fenômenos. Além da atitude, a gradação também é um recurso semântico que produz significado. Nesse sentido, os significados podem ser ajustados de modo a refletir o grau da avaliação e podem ser da ordem da força ou do foco (Martin & White, 2005:140-154). A pesquisa é de caráter qualitativo-quantitativo e de natureza social. Utilizamos o instrumento computacional Wordsmith Tools (Scott, 1996) para descrever os dados e possibilitar uma análise mais detalhada das categorias de atitude e de gradação. O resultado da pesquisa mostra o comprometimento do pesquisador com o texto científico e o grau das informações.

EXPERIÊNCIAS DO PROFESSOR EAD EM CURSO ON LINE DE GRADUAÇÃO: UMA ANÁLISE DAS CATEGORIAS DE ATITUDE Anahy Samara Zamblano de Oliveira Universidade de Pernambuco Este pesquisa faz parte do CELLUPE – Centro de Estudos Linguísticos e Literários da UPE e do LALT – Laboratório de Leitura e Textualidade da UPE. Seu objetivo é analisar os recursos lingüístico-semânticos usados para negociar emoções, julgamentos e apreciações em interação on line, no intuito de investigar experiências do professor de Educação a Distância em Fóruns e sua relação com o processo ensino-aprendizagem de língua materna. Esta pesquisa tem como arcabouço teórico o Sistema de Avaliatividade (Martin (1992) e Martin e Rose (2003)), focando as categorias de atitude: sentimentos e emoções, julgamento, que podem ser categorizados em três tipos de recursos: (i) afeto (expressa emoção); julgamento (julga o caráter) e apreciação (atribui valor às coisas). Essas categorias são percebidas em textos orais e/ou escritos, sendo indiretamente subentendidas, pressupostas ou assumidas pelos participantes do discurso. Segundo White(2004), a Avaliatividade / 156 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

é vista como uma abordagem específica que explora, descreve e explica a forma pela qual a língua é utilizada para avaliar, adotar uma postura, construir persona textuais e lidar com posicionamentos interpessoais. Os dados foram coletados em Fóruns pertencentes ao LALT do Curso de graduação em Letras da UPE e utilizamos como recurso metodológico de análise linguística o instrumento computacional Wordsmith Tools (Scott, 1996), uma lista de palavras mais freqüentes e uma lista de palavras-chave para verificar as escolhas lingüístico-avaliativas que sinalizam avaliações de afeto, de julgamento e de apreciação. A análise permitiu verificar como as participantes dos Fóruns se auto-avaliam e como avaliam o outro, os recursos e as informações e os resultados mostram que uma avaliação (um item lexical) pode apontar a relação entre os usuários do texto e do discurso em diferentes contextos sociais.

INTERAÇÃO EM CONTEXTO ON LINE: O PERFIL DO FÓRUM EM CURSO DE APERFEIÇOAMENTO Belia Fantini Bonini Pinto de Arruda Universidade do Estado de Mato Grosso O objetivo desta pesquisa é analisar como se dá interação professor x aluno em Fóruns desenvolvidos em curso de pós-graduação lato sensu em Língua Inglesa ministrado em uma universidade no Estado de São Paulo. Esse curso encontra-se na sua quinta edição, no entanto, somente a partir da terceira edição que as disciplinas, Lingüística de Corpus Aplicada ao Ensino de Língua Inglesa e Análise do Discurso e o Ensino de Línguas foram contempladas na grade curricular. Seu arcabouço teórico é a Linguística Sistêmico-Funcional (Halliday, 1994,2004), a Lingüística de Corpus (Biber, et al 1998; Sinclair, 1991; Berber-Sardinha, 2000, 2004) e a Teoria da Avaliatividade (Martin, 1992; Martin e Rose, 2003; Marin e White, 2005). A Linguística Sistêmico-Funcional está pautada em uma teoria de linguagem que dispõe de uma gramática que descreve e analisa as realizações lingüísticas dos falantes/escritores de / 157 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

forma sistemática e funcional, levando em conta fatores sociais e semióticos. Para a Linguística Sistêmico-Funcional é por meio da função interpessoal que a língua cumpre um de seus principais propósitos de comunicação: propiciar a interação entre as pessoas. A língua é utilizada para a troca de significados entre os interactantes e, em eventos de fala/escrita, as pessoas assumem diferentes papéis de fala conforme o turno ou a posição que ocupam emitindo opiniões, fazendo avaliações e, portanto, expressando a atitude. Os participantes desse curso são professores da rede pública e particular de ensino que utilizam o contexto de sala de aula como objeto de investigação da linguagem, cujo propósito é contribuir para a melhoria do ensino de Língua Estrangeira e com a atuação do professor em sala de aula. Para análise, foi utilizado o instrumento computacional Wordsmith Tools (Scott, 1996), no intuito de descrever os elementos avaliativos freqüentes encontrados no corpus. A análise permitiu verificar como professores e alunos interagem em contexto on line e quais escolhas léxico-gramaticais interferem na comunicação.

O PERFIL DE ARTIGOS DE OPINIÃO VEICULADOS EM JORNAIS IMPRESSOS: UM ESTUDO DE ELEMENTOS AVALIATIVOS Maria do Rosário da Silva Albuquerque Barbosa Universidade de Pernambuco Este trabalho se insere nos estudos do CELLUPE – Centro de Estudos Linguísticos e Literários da UPE e do DIERCT – Em Direção a Linguagem dos Negócios /PUCSP e tem como objetivo apresentar uma análise dos recursos semânticos usados para negociar emoções, julgamentos e apreciações presentes em artigos científicos veiculados em Revistas Eletrônicas. Os dados foram coletados em jornais impressos em circulação no Estado de Pernambuco. Sua base teórica é a Linguística Sistêmico- Funcional / 158 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

proposta por Halliday (1994, 2004) e o Sistema de Avaliatividade (Martin, 1992) e Martin e Rose (2003). Segundo esses autores, focando o Sistema de Avaliatividade localiza-se no estrato da semântica do discurso e é realizado no estrato da léxico-gramática. Conforme Vian Jr (2009), “ao selecionar o léxico avaliativo quando julgamos algo, partimos de sistemas semânticos, que são realizados léxico-gramaticalmente de forma a reforçarmos, ampliarmos ou minorarmos, reduzirmos, aquilo que avaliamos”. Nesse sentido, o Sistema de Avaliatividade caracteriza-se como um sistema interpessoal no nível da semântica do discurso e seus estudos centram-se em três domínios interacionais: atitude, engajamento (envolvimento) e gradação. Trata-se de uma pesquisa sistêmico-funcional. Para análise, utilizamos o instrumento computacional Wordsmith Tools no intuito de selecionar as escolhas léxicogramaticais que evidenciam marcas avaliativas. O resultado da pesquisa mostra que a avaliatividade está relacionada ao sistema e cada uma das escolhas avaliativas realizadas pelos usuários do texto estão permeadas por outros discursos e suas experiências de mundo. CC 04B

DISCURSO, SOCIEDADE E PRÁTICAS SOCIAIS LÍVIA MÁRCIA TIBA RÁDIS BAPTISTA (Coordenadora) ARGUS ROMERO ABREU DE MORAIS GERMANA DA CRUZ PEREIRA OTÁVIA MARQUES DE FARIAS Pretende-se, na sessão coordenada intitulada “Discurso, sociedade e práticas sociais”, explorar aspectos ideológicos dos discursos, tendo em vista fundamentalmente as contribuições epistemológicas de Teun van

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Dijk (2000, 2003, 2008), no que tange às estruturas ideológicas e sua relação com as representações sociais dos diferentes grupos. Sendo assim, em torno dessa temática e consoante com uma perspectiva dos estudos críticos dos discursos, pretende-se problematizar como nas práticas sociais se definem espaços de disputa de poder através do confronto de discursos, ideologias e sujeitos e os impactos que isso produz na sociedade brasileira contemporânea. Tendo em vista essas premissas e consoante com elas, interessará examinar como nos diferentes textos difundidos pelas mais diversas mídias e concretizados nos mais diversos gêneros, são materializadas determinadas ideologias e como essas se configuram nos mais diferentes textos estruturas ideológicas que, por sua vez, se tornam estruturas mentais em nível de representações sócio-cognitivas. Assim, pretende-se nessa sessão coordenada: 1. assimilar e discutir princípios e conceitos teóricos dos Estudos Críticos dos Discursos (ECD), acordes com a perspectiva de Teun van Dijk; 2. aplicar esses conceitos e princípios a corpora pertencentes a práticas discursivas diversas, tendo como eixo a relação discurso, ideologia e textos e 3. elaborar a expor propostas de micro-análises que se centram na relação ideologia, discurso e texto.

PRÁTICAS, IDEOLOGIA(S) E MÍDIA: CONSIDERAÇÕES E ANÁLISE Lívia Márcia Tiba Rádis Baptista Universidade Federal do Ceará As questões que envolvem a produção e legitimação de sentidos em uma sociedade têm sido alvo de diferentes análises discursivas. Os estudos críticos do discurso e, particularmente, o proposto por Teun van Dijk (2000, 2003, 2008) problematizam a produção de discursos e sua difusão nas sociedades. Desse modo, voltam-se para os diferentes contextos de produção, reprodução e legitimação de discursos e ideologias que se / 160 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

concretizam em formas de controle e de disputa por representações e poder. Consoante com essa perspectiva, pretende-se neste trabalho apresentar exemplos de micro-análises nos quais se enfocará como a mídia constrói determinadas representações dos sujeitos e como se conformam as distintas identidades dos grupos e a problemática de sua inserção/inclusão social. Com esse propósito serão exploradas as relações entre discurso, ideologia e práticas cotidianas de discriminação, que permitirão observar e interpretar como o racismo manifestado por meio do discurso obedece a estruturas rígidas, em concreto, a estruturas ideológicas e a estratégias de polarização, evidenciadas nas mais diferentes práticas de linguagem nas quais se envolvem os grupos. O exame dessas representações e da dinâmica de sua organização e constituição, tal como mostrará a análise exposta, nos leva a postular que nos confrontamos, como sujeitos sociais, com distintos discursos e práticas cotidianas e que se faz necessário pensar formas de ação, de combate ao racismo, em especial, no que se refere à difusão das práticas discriminatórias na sociedade contemporânea a fim de observar e contestar sua reprodutibilidade bem como caminhar para superação dessas.

JOVEM EXCLUÍDO COMO IDENTIDADE LEGITIMADORA: UMA ANÁLISE DISCURSIVA DO PROJOVEM URBANO Argus Romero Abreu de Morais Universidade Federal do Ceará Ancorados em Castells (1999), utilizamo-nos do conceito de identidade legitimadora como categoria de análise da conformação de padrões identitários para o jovem excluído no âmbito do Programa Nacional de Inclusão de Jovens - ProJovem Urbano. Nesse sentido, consideramos que o Programa, definido como política pública de inclusão do Estado brasileiro, / 161 /


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funciona como prática social legitimadora de determinados sujeitos. Com isso, torna-se possível investigar o funcionamento ideológico do discurso da inclusão social do ProJovem Urbano. Não obstante, para viabilizar a análise, operamos uma interface entre os estudos de Castells (1990) com os estudos críticos do discurso de Dijk (1980; 2003; 2005), propondo que a diferenciação praticada pelos pronomes pessoais “nós” e “vocês” no discurso do ProJovem Urbano demonstra como o enunciador cria padrões identitários diferenciados entre aqueles que estão sendo considerados incluídos (nós) e aqueles que estão sendo considerados excluídos (vocês), estabelecendo os primeiros como modelos a serem seguidos pelos segundos. Assim, para nós, as formas ideológicas do discurso da inclusão social do ProJovem Urbano se materializam com o estabelecimento de identidades antagônicas, expressas através do nós e do vocês. Nesse intuito, selecionamos, do corpus, constituído pela Resolução nº22 de 26 de maio de 2008, pelos Manuais do Educador e pelos Guias de Estudo do ProJovem Urbano, excertos que demonstram as estratégias do enunciador, que, ao propor tal política pública como meio para a inclusão, estabelece relações de poder assimétricas entre os jovens incluídos e os jovens excluídos. Por fim, constatamos que, nesse processo, entram em cena diferentes discursos políticos, como é o caso do neoliberal, do paternal e o do Estado de Bem-Estar Social.

LATAS FALANTES: UMA ANÁLISE DA IDEOLOGIA NA CAMPANHA DA SKOL PARA A COPA DO MUNDO 2010 Germana da Cruz Pereira Universidade Federal do Ceará Como a ideologia nacionalista se manifesta em anos de Copa do Mundo da FIFA? O futebol ganha destaque nacionalmente, principalmente nos intervalos comerciais e seus filmes publicitários, tingidos de verde / 162 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

e amarelo, as propaladas cores nacionais. Com isso posto, o presente trabalho se propõe a analisar a relação ente Nacionalismo e Ideologia presente na propaganda “Latas Falantes”, da marca de cerveja Skol, em que um carregamento de latinhas de cerveja brasileira é mandado por engano para a Argentina. O filme faz parte da campanha da Skol para a Copa do Mundo 2010 e traz como mote a eterna rivalidade entre brasileiros e argentinos quando o assunto é futebol. A análise da Ideologia no discurso toma como pressuposto teórico os estudos de Van Dijk (2003) e (2008), entendendo a Ideologia como um sistema de crenças fundamentais entre os grupos e seus membros. Essas crenças e o agrupamento dos membros, segundo o autor, necessitam da existência do conflito. Portanto, a ideologia só pode ser global se os conflitos aparecem entre nações, como na rivalidade futebolística Brasil-Argentina. Ao analisarmos a propaganda em questão, foi possível perceber os conflitos entre as ideologias nacionalistas e a sua necessidade de negação do outro para uma auto-afirmação. A ideologia está presente nas cores nacionais, nas atitudes e costumes, mesmo costumes semelhantes como o ato de beber cerveja assistindo a uma partida de futebol. O conflito aqui, como é caro à publicidade, se faz por meio de humor e sátira das rivalidades clássicas entre as duas seleções.

AS REPERCUSSÕES DO ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL NA IMPRENSA SOB A PERSPECTIVA DA ANÁLISE DO DISCURSO CRÍTICA Otávia Marques de Farias Universidade Federal do Ceará A Análise do Discurso Crítica tem como fundamento (Fairclough, 2001) a idéia de que o discurso é um dos momentos da prática social, ou seja, é básica a noção de linguagem enquanto aspecto da vida social que / 163 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

se encontra conectado de forma dialética a outros aspectos da prática social. A partir disso, considerando a importância histórico-social de suas repercussões, o Estatuto da Igualdade Social e os textos escritos acerca dele configuraram-se como relevantes objetos de análise. O Estatuto da Igualdade Racial começou a ser elaborado no final da década de 90 e foi apresentado como projeto de lei em 2000. De lá para cá, seu percurso foi marcado por algumas reformulações e por muitas manifestações de vários setores da sociedade, tanto a favor quanto contra. Essa mobilização em torno do Estatuto é bastante compreensível, já que, quando entrar em vigor, não só será afetada a vida dos brasileiros negros, mas a da sociedade como um todo. A partir do momento em que o Estatuto for lei, por exemplo, caso seja aprovado com a redação atual, as cotas passarão a estar presentes tanto no processo seletivo em universidades públicas, quanto na organização dos quadros de funcionários das empresas privadas. Assim, tomando como base para análise um recorte dentro desse universo de textos sobre o Estatuto da Igualdade Racial, mais especificamente, artigos de opinião que versam sobre o tema, e utilizando como referencial teórico as propostas de Dijk (2000, 2003, 2008), investigamos o funcionamento ideológico dos discursos pró e contra Estatuto. O estabelecimento de um “nós” x “vocês”, perceptível nos artigos analisados, foi um de nossos principais focos de atenção e apontou para constituições identitárias ancoradas em diferentes práticas discursivas.

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

CC 05B

DISCURSO, SOCIEDADE E SUBJETIVIDADE: ESTRATÉGIAS E EFEITOS CÁSSIO EDUARDO SOARES MIRANDA (Coordenador) CARLOS FERNANDO JÁUREGUI PINTO POLIANA COELI COSTA ARANTES RAQUEL MANNA JULIÃO O conjunto de trabalhos que constituem esta comunicação resulta de pesquisas realizadas no Núcleo de Análise do Discurso da UFMG. Tais trabalhos abordam a multiplicidade de fazeres em Análise do Discurso, no que tange a uma análise de diversos fenômenos sociais, tais como o divórcio e o novo casamento, a construção do pathos na mídia esportiva, os aspectos sócio-culturais presentes no discurso jornalístico e, ainda, a posição limiar do discurso arquitetural entre o discurso social e as artes. Tomamos como ponto de partida a Análise do Discurso de vertente francesa, principalmente aquela inaugurada por Patrick Charaudeau (1986), bem como contribuições advindas de outros importantes teóricos como Dominique Maingueneau, Michel Foucault, Marchuschi e, ainda, contribuições advindas da filosofia e da psicanálise.

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A FRAGILIDADE DOS RELACIONAMENTOS CONJUGAIS NA CONTEMPORANEIDADE Cássio Eduardo Soares Miranda Universidade Federal de Minas Gerais Este trabalho aborda os relacionamentos conjugais contemporâneos. Parte do princípio de que, na era corrente, inauguram-se novos formatos para os laços afetivos, ao constatar a forma frágil e efêmera que as relações têm assumido. A pesquisa analisa os vínculos conjugais na contemporaneidade, ao ter-se conhecimento do aumento das práticas de divórcio, conforme censo divulgado pelo IBGE (2006, 2007). O estudo consta de uma pesquisa de campo e baseia-se em entrevistas semiestruturadas, realizadas com oito indivíduos, os quais se casaram e se divorciaram entre os anos de 2002 e 2008. O tempo da união variou entre sete meses e quatro anos. Os dados são submetidos à Análise do Discurso, que aponta para os seguintes resultados: as motivações para o enlace conjugal apóiam-se, sobretudo, nos sentimentos; os nubentes compartilham idealizações em torno do casamento e da união, as quais suscitam expectativas, que se não atendidas, prenunciam um mal-estar no relacionamento; o divórcio desponta como uma possibilidade, sendo que os fatores que o ocasionam são multidimensionais.Conclui-se que os relacionamentos conjugais contemporâneos são marcados por dilemas: a ânsia por uma relação sólida e a possibilidade de vivenciar a mobilidade nesses arranjos convivem lado a lado.

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

ESPORTE, SOCIEDADE E PAIXÃO: POR UMA COMPREENSÃO SÓCIO-DISCURSIVA DAS PAIXÕES NA MÍDIA ESPORTIVA Carlos Fernando Jauregui Pinto Universidade Federal de Minas Gerais A partir de hipóteses oriundas das ciências sociais e da análise de manchetes do jornalismo esportivo mineiro - por meio do instrumental proposto por Charaudeau (2000) e Emediato (2007) para o estudo das emoções no discurso - lançamos nosso olhar em direção os efeitos possíveis de patemização (paixão comunicada) engendrados pelo discurso da mídia esportiva. Numa proposta interdisciplinar, trazemos o páthos para o centro de nossa análise, evitando uma perspectiva internalista e, para isso, tratamos de estabelecer conexões entre evidências lingüísticodiscursivas e contribuições da sociologia e antropologia do esporte. Dentre os resultados obtidos, podemos destacar: 1) a existência de uma múltipla patemização nesse discurso – relacionada ao fato do jornalismo esportivo se dirigir a diversos destinatários-torcedores, que se posicionam na interação de diferentes maneiras, segundo sua adesão a um ou outro clube esportivo; 2) a construção de uma enunciação polifônica, que assume os pontos de vista do torcedor de diferentes equipes ou atletas, transformando o posicionamento dos diários numa delicada negociação que trata de emocionar, agradar e conquistar a adesão das várias figuras de destinatário-torcedor; 3) a existência de uma instigante comunicação das paixões ativadas pelo esporte em sua complexa e paradoxal articulação entre o mundo mítico dos heróis; os ancestrais instintos agonísticos hoje codificados na leal e higiênica competição esportiva; o consumismo de nosso mundo atual; e, por que não, o humor e a brincadeira do jogo lúdico e despretensioso.

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ASPECTOS SÓCIO-CULTURAIS NA ECLOSÃO DE GÊNEROS EM UM DISCURSO JORNALÍSTICO Poliana Coeli Costa Arantes Universidade Federal de Minas Gerais A proposta que este trabalho pretende contemplar é a análise comparativa dos Gêneros Textuais que surgem dentro do Discurso Jornalístico em dois segmentos de jornalismo popular que se situam em universos sócioculturalmente distintos, o brasileiro e o alemão. Pretende-se demonstrar que tais gêneros são, como afirma Marcuschi (2004), fenômenos históricos e estão profundamente vinculados à vida social e cultural nas sociedades em que se inserem. Pois são maleáveis e dinâmicos e surgem de acordo com as necessidades e atividades sócio-culturais, o que denota que tais gêneros situam-se e integram-se funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem. E, dessa forma, caracterizam-se menos por suas estruturas linguísticas que por suas funções comunicativas.A partir da análise das capas desses jornais é que iremos investigar a natureza discursiva e social abordada diferentemente nos dois representantes das culturas em questão. Assim, analisaremos em que medida é possível apontar características determinantes para a diferenciação desses jornais nas duas culturas; como é empregada a linguagem plástica que ambos veiculam e como a mesma seria também responsável pela construção social dos mundos e domínios discursivos e, finalmente, quais seriam as principais diferenças sociais que norteiam a produção dos jornais nos ambientes em que são construídos.Conclui-se, portanto, a partir das análises feitas, que a classificação comumente aplicada a tais jornais, de “jornal popular”, precisa ser revista e analisada dentro dos contextos sociais em que são construídos, tratando a língua em seus aspectos discursivos e enunciativos, como propõe Marcuschi (2004). Uma vez que considerar o jornal como popular somente com o foco na construção frásica e uso da / 168 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

língua não se demonstra capaz para a compreensão totalizante desses meios midiáticos, que abrangem referências sociais e culturais que vão além da compreensão semântica e sintática dos textos que veiculam.

O DISCURSO ARQUITETURAL DE OSCAR NIEMEYER: PARA ALÉM DO DISCURSO SOCIAL COMO FUNDANTE DA ARQUITETURA MODERNA Raquel Manna Julião Universidade Federal de Minas Gerais Neste trabalho abordamos a relação entre arquitetura e discurso, partindo do pré-suposto de que toda realização humana é discursivamente produzida, isto é, atravessada pelo discurso. Tomamos especificamente a enunciação arquitetural de Niemeyer a fim de compreender a maneira como dialoga com os discursos da arquitetura e da arte modernas. Examinamos a evolução do pensamento dessas disciplinas através da análise da produção teórica (normalmente na forma de manifestos) dos movimentos das artes e da arquitetura na primeira metade do século XX. Esses movimentos se caracterizam pela negação da sintaxe tradicional da arte e por pesquisas de novas formas de expressão, que começam com a tendência abstratizante/geometrizante do cubismo e culmina na ‘especificidade’ do minimalismo. Nesse contexto, enfatiza-se a importância da Bauhaus, escola alemã que influenciou toda a arte do século XX, já que, tendo absorvido as experiências dos artistas modernos anteriores a ela, foi a Bauhaus que aprofundou-as e lhes deu um fundamento e uma função prática. A Bauhaus foi responsável pela proposição de estender essa revolução estética à vida cotidiana, na medida em que se devotou à produção em série, em escala industrial, de objetos e até mesmo das edificações. De fato, a Bauhaus foi um dos pilares do movimento moderno em arquitetura, cujo discurso encontrava validação na função social da / 169 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

arquitetura. Ao cotejar a enunciação arquitetural de Oscar Niemeyer com o discurso dessas disciplinas, observa-se que ele dialoga de maneira muito mais intensa com certos movimentos artísticos do que com o discurso hegemônico da arquitetura moderna – esse profundamente ligado ao funcionalismo – para afirmar-se numa especificidade muito próxima à do objeto minimal. Argumentamos, finalmente, que a enunciação de Niemeyer filia-se, sobretudo ao neoconcretismo, movimento genuinamente brasileiro, que vai além do geometrismo e, principalmente, realça a relação intersubjetiva, na medida em a obra só se completa na relação com o espectador/usuário. CC 06B

DISCURSO E ENUNCIAÇÃO ERNESTO SÉRGIO BERTOLDO (Coordenador) CARMEN LÚCIA HERNANDES AGUSTINI JOÃO DE DEUS LEITE SIRLENE CÍNTIA ALFERES Sabemos que as várias perspectivas de se abordar o discurso, enquanto objeto de pesquisa, esbarra no tratamento que se impõe aos vários tipos de corpora que se apresenta ao pesquisador. Não raro, encontramos pesquisas no campo da Análise do Discurso, em suas diferentes práticas epistemológicas, em que os pesquisadores se perguntam sobre a questão de como tratar a materialidade lingüística que toda e qualquer construção de corpora acaba por exigir. A problematização dessa questão leva-nos, sob a nossa óptica, à consideração do conceito de enunciação. Em primeiro lugar porque esse conceito nos permite abordar algumas implicações sobre o modo de abordagem da materialidade lingüística. E, em segundo lugar, porque julgamos ser determinante um conceito bem articulado / 170 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

de enunciação para o tratamento da abordagem do discurso. Tendo em vista essas considerações, os trabalhos dessa sessão coordenada têm o propósito de problematizar as relações de implicação entre enunciação e discurso. Para isso, tomamos como referência a enunciação como algo da ordem do irrepetível e, por isso, um fenômeno que guarda algo de irrepresentável. A enunciação desenvolve-se no tempo e no espaço de sua realização, atualizando as coordenadas de pessoa, tempo e espaço. Por decorrência, mantém com as condições de sua produção uma (in) tensa relação de singularidade, implicada, aí, uma noção de sujeito do inconsciente, tal como apregoada pela psicanálise lacaniana.

DISCURSO E ENUNCIAÇÃO: ATRAVESSAMENTOS (IM)POSSÍVEIS Ernesto Sérgio Bertoldo Universidade Federal de Uberlândia Partimos do pressuposto de que uma teoria de abordagem do discurso deve contemplar um conceito de enunciação (entendida, aqui, como algo da ordem do irrepetível), que opere em seu interior, constituindo-a. Para melhor problematizar esse postulado, tomamos como objeto de estudo a Análise do Discurso, de orientação pecheuteana, cujo percurso de constituição pode ser identificado em três fases distintas. Na primeira, a AD é entendida como exploração metodológica da noção de máquina discursiva estrutural. A segunda propõe um conceito de língua natural como “a base invariante sobre a qual se desdobra uma multiplicidade heterogênea de processos discursivos justapostos”. A AD se caracteriza por assegurar procedimentos que se pretendem fixos, determinados. O conceito de formação discursiva tal como apregoado por Foucault se faz presente, fazendo com que a noção de máquina estrutural fechada seja repensada. É na terceira fase que a noção de máquina discursiva

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

estrutural é desconstruída por completo, em decorrência do primado da “alteridade sobre o mesmo” e também com o refinamento do conceito de interdiscurso. É uma fase marcada por um contato com a História, a Lingüística e a Psicanálise. As análises primam por considerar os “encadeamentos intradiscursivos, ‘interfrásticos’, que permitem abordar o estudo da construção das estruturas e dos acontecimentos, e também dos ‘pontos de vista’ e ‘lugares’ enunciativos no fio intradiscursivo” (Pêcheux, 1969/1990, p.316). Tendo em vista que, em cada uma das fases, há um conceito de enunciação operando, esse estudo tem por objetivo, portanto, discutir como esse conceito, em sua relação com a Análise de Discurso, se desloca, enfatizando, sobretudo, os deslocamentos da terceira fase, em que há um apelo para que se parta das materialidades lingüísticas para se chegar à interpretação, termo que passa a adquirir um estatuto específico: o de ser construída a cada vez, dada a inexistência de uma metalinguagem.

ENUNCIAÇÃO, DISCURSO, FALA Carmen Lúcia Hernandes Agustini Universidade Federal de Uberlândia Detemo-nos, nesse trabalho, na conjuntura da Análise de Discurso Pecheutiana em que se coloca em relação e relevo os conceitos de estrutura e de acontecimento, naquilo que esses conceitos têm a ver com a relação entre memória e acontecimento. Para tanto, pensamos um conceito de enunciação em sua relação com certo conceito de discurso e de fala. O conceito de enunciação, a nosso ver, deve comportar, em concomitância, fala e discurso. Fala enquanto aquilo que é da ordem do singular e, portanto, irrepetível, inefável e que sempre guarda algo de inapreensível e discurso enquanto algo organizado, socialmente estabilizado e que, por isso, sustenta uma regularidade enunciativa e suas representações (im)possíveis. Assim, parece-nos possível (re) / 172 /


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discutir e (re)problematizar a subjetividade de uma análise, cujo teor reside na interpretação, assim como evidenciar a importância da materialidade linguística no desenvolvimento de uma interpretação e no próprio agenciamento discursivo de uma análise que se pretenda discursiva. Tendo essas questões em vista, pretendemos, portanto, mostrar que a ordem própria da língua é o espaço limítrofe da relação constitutiva entre memória e atualização, entre discurso e fala, entre estrutura e acontecimento. Pares conceituais que trazem em si essa relação constitutiva que a enunciação mo(vi)menta e que coloca à mostra a rebeldia da significação nos pontos de deriva da produção de (ir)regularidade de efeitos de sentido.

ENTRE O LINGUÍSTICO E O DISCURSIVO: IMPLICAÇÕES TEÓRICO-ANALÍTICAS João de Deus Leite Universidade Federal de Uberlândia A partir deste trabalho, pretendemos mostrar que a especificação mais afinada da Análise de Discurso francesa (preconizada por Michel Pêcheux), com as contribuições da Linguística, em 1983, reclamou atenção especial para os mecanismos básicos de funcionamento da linguagem. Isso porque o sujeito de dizer e o sentido se constituem no circuito desse funcionamento, isto é, como efeito de tal funcionamento. Sendo assim, é possível destacar que a materialidade linguística desempenha papel crucial na (im)possibilidade de cumprimento de uma atividade teóricoanalítica em Análise de Discurso. Neste trabalho, portanto, analisaremos os (des)caminhos percorridos, por nós, na construção do recorte teórico-metodológico de nossa dissertação de mestrado, tendo em vista a hipótese e os objetivos de trabalho. O foco de nossas discussões, a partir da dissertação intitulada Discursivizações sobre Ayrton Senna

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

e o acirramento de certa representação de brasilidade, se embasou na análise dos efeitos de sentidos produzidos pela presentificação de determinadas relações de adjetivações e de adverbializações, no fio discursivo de certas reportagens que tematiza(ra)m sobre Ayrton Senna. Primeiro, porque o atravessamento dessas relações parece delinear uma modalidade de escrita jornalística diferente da escrita caracterizada como canônica (a que procura construir um efeito de exatidão dos fatos). Segundo, pois, em termos discursivos, a irrupção de tais relações parece produzir implicações para o modo como Senna é representado na sociedade brasileira. Orientar-nos-emos, aqui, pela seguinte pergunta: Quais as implicações teórico-analíticas provenientes da dimensão do acontecimento discursivo para o trabalho descritivo-interpretativo? No nosso caso, o movimento de reflexão sobre as reportagens se pautou fortemente nos limites e nas especificidades da relação entre o intradiscurso (superfície linguístico-discursiva) e o interdiscurso (efeitos do histórico, as manifestações de traços de memórias discursivas). De nossa perspectiva, compreendemos que essa relação não é marcada por uma sobreposição, pois algo se perde, via acontecimento, no processo de (re)atualização de memórias.

ESCRITA ARNALDIANA: ESTRANH(EZ)A FAMILIAR EM MEIO À(S) DIFERENÇA(S) Sirlene Cíntia Alferes Universidade Federal de Uberlândia O presente trabalho (se) (con)figura como um desdobramento de algumas reflexões que foram abordadas na dissertação de Mestrado em Linguística, intitulada “A escrita arnaldiana em seu(s) 40 Escritos: subversão e rastros de singularidade”. Nessa oportunidade, visamos a analisar a relação entre três escritos de Arnaldo Antunes, produzidos / 174 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

em meados dos anos 1990 e início dos anos 2000, quais sejam: 1) “Inclassificáveis”, canção constante do CD “O Silêncio” (ANTUNES, 1996); 2) “Riquezas são diferenças”, do livro “40 Escritos” (ANTUNES, 2000a); e 3) “São Paulo”, constante do livro “Como é que chama o nome disso” (ANTUNES, 2006), também conhecida como “Alma paulista” (ANTUNES, 2000b). De nossa parte, estes escritos parecem apontar para um ponto em comum: uma estranheza familiar em meio às diferenças. Nesse sentido, é válido pensar em, ao menos, três indagações. Quais poderiam ser as: a) implicações das condições de produção na (re)construção destes escritos?; b) (im)possibilidades de sentido(s) destes escritos no processo de se (re)atualizarem na sociedade brasileira atual?; c) (im) possíveis implicações da emergência de um sujeito representativamente brasileiro nessas produções, via materialidades discursivas e instâncias enunciativas?. Para tanto, embasar-nos-emos na perspectiva teórica da Linguística da Enunciação benvenistiana e na perspectiva da Análise de Discurso de linha francesa, notadamente aquela que fia no estatuto de discurso vinculado à noção de que “a língua se inscreve na história” (PÊCHEUX, 1994, p.62). Essa escolha se justifica porque a primeira permite pensar a relação do sujeito (enquanto representação) com aquilo que (re)produz, via análise de fenômenos enunciativos (re)correntes ou singulares que se dão em meio à vivência social; e a segunda possibilita pensar as implicações do sujeito discursivo (portanto, não empírico) com a história, a ideologia e a língua(gem).

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CC 07B

DISCURSO E SOCIEDADE: A CONTEMPORANEIDADE EM CENA LUIZA CASTELLO BRANCO (Coordenadora) ALINE MARIA FREITAS BUSSONS EDUARDO ALVES RODRIGUES TATIANA FREIRE DE MOURA Nessa Sessão Coordenada, propomos quatro trabalhos realizados por membros do penSSe (Grupo de Pesquisa em Discurso e Enunciação), que apresentam resultados parciais de pesquisas em andamento. Esses trabalhos discutem a relação Sujeito-Sentido em análises de cenas da/na contemporaneidade, tentando compreender como os discursos significam a sociedade – sua diversidade, heterogeneidade, pluralidade, suas contradições. A partir do quadro teórico da Análise de Discurso Materialista (PÊCHEUX; ORLANDI; entre outros), mobilizamos os conceitos de memória, silêncio, sujeito, linguagem, ideologia e história, para construir um dispositivo teórico-analítico que dê visibilidade ao funcionamento de práticas simbólicas que se textualizam no social. Nossas análises, nesse momento, recortam diferentes materiais em que explicitamos, pela via do exercício parafrástico, o processo de produção do efeito metafórico e, com isso, mostramos como o equívoco constitui politicamente cenas contemporâneas do social, a saber: os “Flash Mobs”; o Meio Ambiente e a sustentabilidade; o turismo regionalista; o aluno nos processos avaliativos. As análises apontam para uma tensão constituindo e significando historicamente o social: lugar onde se configuram disputas por sentido(s). Nessa tensão, materializa-se, de uma forma ou de outra, a impossibilidade de síntese ou de consenso para o social, o que determina o estatuto do social como espaço de interpretação plural, de divergência de sentidos, de polissemia. / 176 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

CIÊNCIA E GOVERNANÇA: A DERIVA DOS SENTIDOS Luíza Castello Branco Universidade Estadual de Campinas Trazemos para a discussão o tema do aquecimento global, a partir de duas formulações científicas concorrentes e em oposição, uma afirmando que o homem é o responsável pela interferência prejudicial no clima do planeta ao emitir abusivamente CO2, podendo causar a futura destruição da Terra, e outra afirmando que o excesso de CO2 não tem a principal causa na ação humana, sendo provocado pela influência da radiação solar sobre a Terra, portanto, natural, inclusive benéfico ao planeta e ao homem. Objetivamos compreender como os sentidos em disputa se constituem na relação imbricada do discurso da ciência com o discurso governamental, como essa relação pode significar sujeitos e sociedades e ser significada por eles nas relações de poder heterogêneas e contraditórias. Pensando a partir de uma perspectiva discursiva materialista (PÊCHEUX; ORLANDI) que considera não ser possível dizer tudo e que, em todo dizer, há algo inacessível ao próprio sujeito, construímos um dispositivo teóricoanalítico para dar visibilidade ao funcionamento dos processos discursivos que se materializam nos dizeres da mídia, da ciência e das políticas governamentais sobre o tema. Na análise, trazemos o texto do relatório do IPCC da ONU (“Intergovernamental Panel on Climate Change”) sobre mudança climática, dizeres de cientistas como Ralph Alexander e Robert Carter contrários à opinião do IPCC, e alguns artigos da mídia eletrônica. Nesse arquivo de textos, pelo jogo da paráfrase e da polissemia, buscamos compreender o movimento dos sentidos nos discursos científico e governamental sobre o aquecimento global. Nossas análises apontam para a constituição de uma tensa relação, atravessada pela ética, pela ideologia e significada historicamente, entre ciência e

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

governo, produzindo um efeito de credibilidade junto à sociedade, a qual, dando suporte consensual às descobertas científicas, acredita influenciar a classe política no rumo de adoção de medidas responsáveis.

TURISMO REGIONALISTA E CONSTRUÇÃO DA NACIONALIDADE/REGIONALIDADE BRASILEIRA: ANÁLISE DO VÍDEO “CEARÁ, TERRA DA LUZ” Aline Maria Freitas Bussons Universidade Estadual de Campinas O atual trabalho tem como objetivo compreender o discurso do turismo regionalista enquanto elemento de construção da regionalidade/ nacionalidade brasileira na contemporaneidade. Para tanto, utilizaremos como material de análise o vídeo “Ceará, terra da luz”, produzido pela TV Verdes Mares, afiliada cearense da Rede Globo. Como pressuposto fundamental, tomaremos a compreensão de que a linguagem não é mera representação da realidade, nem tampouco simples instrumento de comunicação. Adotamos, em contrapartida, a concepção de linguagem da Análise do Discurso Materialista (PÊCHEUX; ORLANDI, entre outros): transparente, opaca, sempre remetida à história, base material para a constituição de discursividades que significam o sujeito e sua realidade social. Esse conceito é fundamental nesse trabalho, pois permite refletir sobre o discurso do turismo regionalista enquanto prática simbólica que produz um imaginário de regionalidade/nacionalidade. Nessa perspectiava, o Brasil, o Ceará, a região Norte, por exemplo, não existem “a priori”; correspondem, ao contrário, a um imaginário construído ininterruptamente por complexas e diversas formações discursivas historicamente configuradas. Ao analisar o vídeo “Ceará, terra da luz”, em sua mutiplicidade de linguagens (letra, música, fotografia, etc.), procuraremos, através de exercícios parafrásticos, pistas que nos / 178 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

possibilitem compreender, no vídeo, o funcionamento discursivo do turismo regionalista cearense que significa o imaginário de regionalidade/ nacionalidade. A análise preliminar desse material permite-nos asseverar que o discurso do turismo regionalista brasileiro é constitutivo da imagem que construímos de nação sobre a forte tensão entre unidade/ diversidade.

O “FLASH MOB” COMO METÁFORA DA RELAÇÃO ENTRE SILÊNCIO E LINGUAGEM Eduardo Alves Rodrigues Universidade Estadual de Campinas O trabalho que proponho para integrar a Sessão “Discurso e sociedade: a contemporaneidade em cena” procura compreender, operando um dispositivo discursivo de leitura construído a partir do quadro teóricometodológico da Análise de Discurso Materialista (ORLANDI; PÊCHEUX, entre outros), uma cena da contemporaneidade conhecida como “Flash Mob” (termo em inglês que designa mobilização instantânea de pessoas com um propósito pré-determinado). Tomado como um objeto simbólico, concebo o “Flash Mob” como um acontecimento, em suas múltiplas configurações, que “irrompe” no espaço público urbano e que, de uma forma ou de outra, o significa pelos gestos de interpretação que permite; funciona como um lugar de identificação possível para o sujeito contemporâneo dado as discursividades (as redes de sentido) que o significam. Dentre estas, as que colocam em evidência, e em disputa, sentidos de/para “grupo”, “agrupamento”, “manifestação”, “homenagem”, “coletividade”, “(liberdade de) expressão”, etc., abrindo espaço para o equívoco, para a deriva de sentidos. Minha análise mobiliza o conceito de silêncio (ORLANDI, 2007), relativamente a outros conceitos e noções do quadro da Análise de Discurso, para expor ao leitor a opacidade do “Flash

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

Mob” enquanto objeto simbólico. Para isso, recortamos vídeos e imagens que circulam em diferentes mídias. Sobre esses recortes, estabeleço relações parafrásticas a partir das quais é possível dar visibilidade à deriva de sentidos que constitui o processo de significação do “Flash Mob” na sociedade contemporânea, enfatizando assim que os sentidos se constituem em “relação a”. Os resultados iniciais desse trabalho permitem afirmar que o acontecimento “Flash Mob” constitui um lugar particular de compreensão da relação entre silêncio e linguagem, e de seus efeitos sobre a significação do espaço urbano, sobretudo pelo modo como pode implicar ali o sujeito da contemporaneidade.

A CONSTITUIÇÃO DA POSIÇÃO-SUJEITO ALUNO NOS PROCESSOS DE AVALIAÇÃO DO PROFESSOR E DO ESTADO DA CONTEMPORANEIDADE Tatiana Freire de Moura Universidade Estadual de Campinas Na relação entre linguagem e história, alunos são parte constitutiva do discurso pedagógico e do discurso político-educacional; também são efeito desses discursos (do professor, da escola, do Estado). Assim, determinados efeitos de sentido se constituem na relação aluno-professor-Estado, configurando determinada posição-sujeito aluno, na contemporaneidade. Com os referenciais teórico-metodológicos da Análise de Discurso (Pêcheux, Orlandi e outros), objetivamos observar como o aluno é falado pelo professor e pelo Estado e como ele se inscreve na relação com esses outros que o falam. Em outras palavras, objetivamos dar visibilidade aos processos de identificação/subjetivação que se dão no funcionamento discursivo a respeito do papel social do aluno. Para tanto, buscamos depreender marcas do sujeito-aluno contidas: na letra do outro-professor, / 180 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

em seus relatórios; na letra do outro-Estado, em avaliações do ensino; e na própria letra, em autoavaliações. Os relatórios de aprendizagem, a Prova Brasil e textos de autoavaliação de alunos de escolas públicas de Niterói (RJ) são as materialidades significantes específicas nas quais debruçamos nosso olhar analítico. A partir das marcas depreendidas nesses materiais, operamos a análise na direção de estabelecer relações parafrásticas que apontem para uma deriva, para deslizamentos de sentidos, o que nos leva a compreender determinado funcionamento discursivo e dar visibilidade a ele. Isso nos permite um movimento de análise que mostra a opacidade da materialidade significante e os sentidos sendo constituídos em “relação a”. Os primeiros resultados desse trabalho apontam para a contradição inerente às relações de força que se estabelecem entre aluno-professor na sala de aula. Nesse espaço de contradição, funcionam (entram em tensão) imagens do que é ser aluno e o senso comum do que é (não) ser um bom aluno, tanto em termos do processo de aprendizagem quanto em termos sociais. É nesse funcionamento discursivo que observamos a constituição da posição-sujeito aluno da contemporaneidade. CC 08B

CONCEITOS FOUCAULTIANOS NAS ANÁLISES DE PRÁTICAS DISCURSIVAS CRISTINA TEIXEIRA VIEIRA DE MELO (Coordenadora) CAMILA TARGINO E SOUZA CAROLINA DANTAS DE FIGUEIREDO TALITA DINIZ RAMPAZZO Foucault é um autor profícuo. Vários de seus conceitos e noções têm possibilitado aos pesquisadores olhar de maneira diferenciada seus objetos, problematizá-los. Essa sessão coordenada é uma prova disso. / 181 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

O conceito de episteme é mobilizado aqui para trazer a luz os conflitos entre técnicas fotográficas oitocentistas. Já os conceitos de acontecimento discursivo, enunciado, vontade de verdade e formação discursiva indicam como os chamados jornais carnavalescos passaram de uma a outra positividade. A ideia de panóptico, controle e disciplina permitem discorrer sobre as distopias literárias. Por fim, as noções foucultianas de autoria, cuidado de si e subjetivação possibilitam uma análise dos documentários de Eduardo Coutinho.

EDUARDO COUTINHO E A NOÇÃO DE AUTORIA Cristina Teixeira Vieira de Melo Universidade Federal de Pernambuco Eduardo Coutinho é considerado um diretor de documentários que, como ninguém, consegue desaparecer em seus filmes fazendo com que os outros, seus personagens fílmicos, apareçam. Ele próprio diz que busca se esvaziar na hora em que está conversando com seus personagens. Paradoxalmente, Coutinho também é conhecido por seu estilo inconfundível de documentar, ou seja, pelo aspecto autoral de sua obra. Essas duas características suscitam uma problematização em torno da noção de autoria, pois, o quanto mais impessoal ele busca ser, mais pessoal é. A fim de refletir sobre estas questões da obra de Coutinho, tomaremos por base o pensamento de Foucault sobre “autoria” e “cuidado de si” e “processos de subjetivação”.

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

PRÁTICA TECNOLÓGICA E CONSTITUIÇÃO DISCURSIVA: SABER, PODER E SUBJETIVIDADE Camila Targino e Souza Universidade Federal de Pernambuco Os aparatos técnicos são dispositivos sociais que, como bem mostra Michel Foucault, articulam campos de saber, relações de poder e modos de subjetivação. Foucault chama atenção para articulação dessas três instâncias na configuração dos discursos e das coisas. A partir do que este autor fala especialmente em seu livro As palavras e as coisas, estabelecemos as relações entre as primeiras materialidades fotossensíveis da modernidade com as epistemes dos séculos XVIII e XIX, no sentido de desnaturalizar o estabelecimento de uma história da fotografia, tomada quase sempre como linear e evolutiva. Analisamos os modos de constituição dos aspectos visuais dessas tecnologias fotográficas no diálogo com os saberes e com o operador/observador

PODER E PANÓPTICO: UM OLHAR FOUCAULTIANO SOBRE AS DISTOPIAS LITERÁRIAS Carolina Dantas de Figueiredo Universidade Federal de Pernambuco As distopias literárias, obras que tratam de sociedades autoritárias onde o sujeito é absolutamente controlado, em todas as esferas de sua vida, são férteis em referências a sistemas de vigilância. Nestas obras, mais especialmente em 1984, Admirável Mundo Novo e Fahrenheit 451 a idéia de panóptico aparece presente de forma direta ou indireta. Em função disso, propõe-se aqui analisar a questão da vigilância e do controle nestas obras por meio das noções de panóptico, controle e disciplina, conforme / 183 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

elas são tratadas por Foucault. Partiremos da leitura que o autor faz de Bentham e seguiremos sobre a generalização da vigilância nas sociedades disciplinares. No caso específico das distopias é a introjeção da vigilância e da ampliação desta de todos sobre todos que permite um poder central tirânico. Trata-se da radicalização das premissas foucaultianas, mas que aponta para a eficácia desta fórmula considerada maravilhosa pelo autor, pois possibilita um poder contínuo e de custos irrisórios, tanto econômicos quanto de violência, já que o poder introjetado é interruptamente exercido.

JORNAIS CARNAVALESCOS, ACONTECIMENTO DISCURSIVO E NOVAS POSITIVIDADES Talita Diniz Rampazzo Universidade Federal de Pernambuco Interpretar a noção de acontecimento discursivo, proposta por Michel Foucault em A Arqueologia do saber, mostra-se um esforço necessário para compreender as categorias apontadas por este autor para explicar como as movimentações enunciativas ocorrem. Apesar de o conceito não está relacionado a algo jamais pronunciado, mas aos estatutos de verdade assumidos pelas palavras e as coisas, ele permite a instauração de um novo sistema de enunciabilidade, um “acontecimento de nível totalmente diferente”. A hipótese do trabalho é que a instauração desse fenômeno decorre de um desejo discursivo, transformado em vontade de verdade, capaz de inverter as relações entre as séries enunciativas da ordem do discurso. Quando essa movimentação se instala, há uma inversão de positividades e o aparecimento de uma nova formação discursiva, pois surge uma nova conformação de poderes. Para explicitar esse mecanismo, serão tomados os jornais carnavalescos pernambucanos do acervo do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (Apeje). As / 184 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

236 publicações arquivadas foram publicadas no período de 1877 e 1987. A análise, realizada por uma pesquisa de mestrado defendida no Programa de pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, mostrou que o discurso dessas publicações possui dois momentos distintos, um primeiro centrado em torno da moralidade com a defesa das normas sociais e um segundo em que os enunciados concentravam-se na profissionalização do carnaval com a amenização das críticas feitas no momento anterior. CC 09B

GÊNEROS TEXTUAIS E REFERENCIAÇÃO: ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS LEONOR WERNECK DOS SANTOS (Coordenadora) CHRISTIANA LOURENÇO LEAL MANUELA COLAMARCO CRUZ PEREIRA SYLVIA JUSSARA S. NASCIMENTO FABIANI Os trabalhos apresentados nesta sessão – resultados de dissertações de mestrado e teses de doutorado – são desdobramentos do projeto de pesquisa “Abordagem textual no ensino de Língua Portuguesa: problemas e perspectivas”, que apresenta dois objetivos principais: (1) analisar de que maneira os livros didáticos de português de Ensino Fundamental e Médio de Língua Portuguesa, publicados a partir de 2004 e aprovados nos programas de avaliação de livros didáticos do MEC (PNLD e PNLEM), estão aplicando conceitos como referenciação e gêneros textuais; (2) discutir aspectos teórico-metodológicos referentes a esses conceitos em corpora diversos. Parte-se do aporte teórico da / 185 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

linguística textual, enfatizando principalmente a relação entre esses conceitos e o ensino de Língua Portuguesa, numa perspectiva integrada das práticas de linguagem (cf. PCN) – leitura, análise linguística e produção textual. Os resultados, ainda que às vezes preliminares, alertam para a necessidade de repensar o ensino de gêneros textuais, tipologias e referenciação, devido aos problemas encontrados, em sala de aula e na análise de livros didáticos. Além disso, apontam a importância do estudo desses conceitos, ainda desconhecidos de boa parte dos professores de português.

GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO: DIFICULDADES TEÓRICO-METODÓLOGICAS Leonor Werneck dos Santos Universidade Federal do Rio de Janeiro Esta pesquisa, iniciada em 2006, tem como objetivo principal analisar de que maneira os livros didáticos de português (LDP) de ensino fundamental e médio de língua portuguesa, publicados a partir de 2004, estão aplicando conceitos referentes à Linguística Textual – e a etapa referente aos gêneros textuais (GT), que ora se apresenta, encontra-se em fase de conclusão. Os objetivos desta etapa da pesquisa foram: analisar a abordagem dos GT nos livros didáticos, elencando os equívocos teóricos referentes a esse conceito; propor estratégias de leitura para alguns GT. Os pressupostos que norteiam o embasamento teórico sobre GT encontram-se em obras recentes de autores como Koch (1998, 2003), Koch & Elias (2006), Dolz & Schneuwly (2004), Marcuschi (1996, 2001, 2002) e Travaglia (2003), dentre outros. Os resultados desta pesquisa denunciam a necessidade de repensar a abordagem dos GT no ensino, uma vez que os LDP ignoram, confundem ou abordam de maneira superficial as teorias que se baseiam em Bakhtin e que consideram os gêneros como

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

práticas sociais. Apesar do destaque que o trabalho com GT variados vem recebendo nas pesquisas acadêmicas e propostas pedagógicas, os LDP não costumam aplicar coerentemente esse conceito, nem no Manual do Professor, nem no material destinado ao aluno. É necessário, portanto, discutir o ensino de GT, pois os equívocos são muitos. Talvez ainda falte uma sistematização da nomenclatura (tipologia, sequência, gêneros textuais, gêneros do discurso...), além de uma metodologia de ensino que abarque esses conceitos sem considerá-los tópicos do conteúdo programático, mascarando a abordagem do tema.

ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA NA PRODUÇÃO ESCRITA DE ALUNOS SURDOS Christiana Lourenço Leal Universidade Federal do Rio de Janeiro Desde que a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) foi reconhecida como língua oficial de uma comunidade lingüística e, portanto, passou a ser vista legalmente como a primeira língua dos surdos, alargaram-se as discussões a respeito das estratégias de ensino adequadas ao ensino da Língua Portuguesa para o educando surdo. Segundo Quadros e Karnopp (2004:48) , as línguas de sinais, conforme apontam as mais recentes pesquisas, possuem os mesmos princípios subjacentes de construção que as línguas orais. Ambas possuem um léxico, isto é, um conjunto de símbolos convencionais, e uma gramática, isto é, um sistema de regras que regem o uso desses símbolos. Entretanto, ainda que a LIBRAS e a Língua Portuguesa possuam os mesmos princípios de construção, as duas línguas são organizadas de maneira bastante distinta e tal distinção tem como reflexo alguns problemas na organização discursiva dos textos escritos em português pelos alunos surdos. O fato é que a estrutura específica da língua de sinais acaba influenciando a / 187 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

construção de frases em Língua Portuguesa. A partir da análise de textos produzidos por alunos surdos, nosso objetivo, nesse trabalho, é o de identificar de que maneira o modo de organização do discurso da LIBRAS e suas particularidades influenciam na produção de textos escritos em Português pelos surdos. Além disso, pretendemos traçar estratégias de ensino de Português como segunda língua, levando em conta a estrutura própria da LIBRAS e as possíveis comparações desta com a organização discursiva do Português. O que pretendemos comprovar com nossa pesquisa é que o conhecimento da língua de sinais (primeira língua dos sujeitos surdos) e de sua organização discursiva exerce substanciais influências sobre a produção escrita desses sujeitos.

NARRATIVAS DE TERROR EM SALA DE AULA: UNINDO TEORIA E PRÁTICA Manuela Colamarco Cruz Pereira Universidade Federal do Rio de Janeiro Os PCN postulam que é objetivo da educação desenvolver a competência discursiva dos alunos – que, dominando os mecanismos que compõem o discurso, serão verdadeiros leitores e escritores em sua língua materna –; por isso, defende-se que o texto é a unidade básica de estudo de Língua Portuguesa. Muitas pesquisas acadêmicas têm dado destaque a esse assunto, buscando estratégias para que a teoria dos PCN se torne prática em sala de aula. No entanto, poucas são desenvolvidas também nas escolas, portanto nem sempre é tarefa fácil observar se as respostas encontradas pelos pesquisadores apresentam resultado positivo quando aplicadas a alunos dos ensinos Fundamental e Médio. A presente pesquisa, ainda em fase inicial, tem como objetivo principal estabelecer uma metodologia de trabalho que leve os alunos do 7º ano do Ensino Fundamental a desenvolverem leitura e escrita a partir da análise de

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

narrativas de terror. Para tanto, criou-se uma sequência didática (cf. Dolz & Schneuwly, 2004) em três etapas: em duplas, os alunos foram convidados a redigir “histórias de terror” sem nenhuma informação prévia sobre o gênero; a seguir, nas aulas de LP, eles analisaram, por meio da leitura comentada e de exercícios propostos pela professora, o livro FRENESI Histórias de duplo terror, de Heloísa Seixas; finalmente, uma nova produção textual foi desenvolvida pelas mesmas duplas, agora alicerçadas pelo estudo minucioso do gênero em pauta. Os pressupostos que norteiam o embasamento teórico para a análise das narrativas de terror encontram-se em autores como Koch (2008), Koch & Elias (2008), Santos (2003, 2009), Dolz & Schneuwly (2004) e Marcuschi (2008), dentre outros. Como resultados preliminares, percebemos que os alunos conseguem perceber os mecanismos linguísticos utilizados na construção dos textos e utilizá-los, eles mesmos, em suas produções, desde que a abordagem textual-discursiva una teoria e prática.

O FOLHETO EVANGÉLICO: A RELAÇÃO CAUSAL COMO INSTRUMENTO PERSUASIVO Sylvia Jussara S. Nascimento Fabiani Universidade Federal do Rio de Janeiro O tema desta pesquisa é a análise das relações causais no folheto evangélico como estratégia de textualização nesse gênero textual. O objetivo da investigação é identificar as marcas de persuasão nessa formação genérica, a partir do mecanismo de causalidade, empregado como estratégia discursiva voltada à adesão de uma tese. Como pressuposto teórico adotou-se o conceito de gênero textual como atividade de linguagem, permeada de historicidade, modelada conforme estereótipos de situações de uso e caracterizada como um conjunto de convenções linguísticas sob um relativo padrão uso (Bakhtin, 2003; / 189 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

Dolz & Schneuwly, 2004; Bazerman, 2005). Um gênero textual é, pois, “uma interconexão entre fatores textuais (da linguagem) e fatores contextuais (das relações sociais envolvidas)” (Motta-Roth, 2002: 78). O folheto evangélico apresenta-se sob uma dupla função publicitária: legitima uma ideologia e promove uma instituição religiosa. Como a organização discursiva desse gênero privilegia a tipologia argumentativa (Adam, 2001), as construções causais (sejam explicitamente marcadas por um elemento conector, sejam recuperadas por meio de inferências) colaboram notoriamente para a estruturação discursiva dos textos. A partir de corpus selecionado (trinta folhetos), a metodologia de pesquisa baseou-se na seleção de segmentos textuais relacionados por relação de causalidade (explícita ou implícita), classificando-as segundo os domínios pragmáticos (Sweetser, 1990, apud Nascimento 2009), de conteúdo (causa real), epistêmico (causa estabelecida apenas na lógica do discurso) e de atos de fala (explicitação de um ato de fala por parte do locutor). Os resultados obtidos mostram que, por meio de características típicas do discurso religioso e do discurso didático, o folheto evangélico apresenta a relação causal predominantemente sob os domínios epistêmico e de atos de fala, configurando-se o enunciador como a figura do “bom pastor”, o ungido a divulgar a mensagem do Evangelho.

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

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MÍDIA E PRODUÇÃO DE SENTIDOS: DISCURSOS SOBRE MÍDIA E SUJEITO NA CONTEMPORANEIDADE LUCÍLIA MARIA SOUSA ROMÃO (Coordenadora) HELSON FLÁVIO DA SILVA SOBRINHO SILMARA CRISTINA DELA SILVA VANISE GOMES DE MEDEIROS As questões que trazemos para esta mesa centram-se na relação entre o discurso midiático e os processos de produção de sentidos para a própria mídia e para os sujeitos na contemporaneidade. Compreendemos que a mídia, enquanto um lugar privilegiado de constituição e circulação de sentidos na sociedade contemporânea, participa dos processos de constituição de sentidos para a própria mídia, bem como para os sujeitos, uma vez que nela se inscrevem tanto dizeres desse sujeito, como se depreendem formações imaginárias sobre essa subjetividade. Filiandonos aos pressupostos teóricos e metodológicos da análise de discurso franco-brasileira, desenvolvida a partir dos trabalhos de Michel Pêcheux, na França, as pesquisas que aqui reunimos dedicam-se à análise do discurso midiático a partir de suas condições de produção, das relações de sentido em que são produzidos, de sua historicidade. Os corpora analisados são compostos por discursos da/sobre a mídia, em suas diversas materialidades, e postos em circulação em diferentes momentos históricos. Analisamos, assim, a mídia impressa, televisiva e digital, centrando-nos no papel dessas mídias na constituição de posições sujeito na sociedade, e relacionando os estudos sobre o sujeito no passado e na contemporaneidade, as reflexões sobre os modos de interpelação do sujeito na história e as análises sobre os discursos midiático. / 191 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

SUJEITO E SENTIDOS EM REDE: O ARQUIVO QUE NÃO PODE SER ACESSADO Lucília Maria Sousa Romão Universidade de São Paulo Nessa apresentação, pretendo interpretar a textualidade eletrônica e os movimentos de sujeito que estejam inscritos e materializados na malha digital, marcando como o funcionamento da linguagem manifesta-se e inscreve-se socialmente nas condições de produção atuais, derivadas das tecnologias de informação, especialmente da internet. Objetivase formular uma comunicação que marque as diferenças entre a materialidade lingüística e histórica de textos impressos e eletrônicos, observando regularidades, deslizamentos, rupturas e deslocamentos de sentidos em blogs denominados jornalísticos. Alinhada à luz da Análise do Discurso de linha francesa, busco construir um gesto de interpretação do arquivo como campo de documentos disponíveis sobre uma dada questão, tal como entendido por Pêcheux, arriscando compreender a rede como um Arquivo inacessível e inacessável, assim marcado pela letra maiúscula, posto que nele vários arquivos discursivos estão ordenados e dispersos, entremeados e costurados em uma única página (ou soltos em várias delas), sempre encadeados em rede. O Arquivo eletrônico materializa-se sob a forma de nós, links, páginas, designações que colocam em relevo o efeito de partes, fragmentos e estilhaços distantes da noção de todo ou mesmo do valor de inteireza que supostamente tinham na forma do impresso. A partir das noções de ideologia, sujeito, sentido e discurso, arquivos movem-se dentro do Arquivo, ambos a fazer falar movimentos instáveis de dizer.

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

DE VOLTA PARA MINHA TERRA: A (DE) LIMITAÇÃO E A (RE)PRODUÇÃO DE SENTIDOS SOBRE O MIGRANTE NORDESTINO E A CIDADE DE SÃO PAULO Helson Flávio da Silva Sobrinho Universidade Federal de Alagoas Este trabalho analisa o discurso produzido na mídia televisiva sobre o migrante nordestino na cidade de São Paulo e visa refletir sobre os gestos de interpretação que (de)limitam sentidos e (re)produzem evidências sobre o sujeito-migrante. Temos como objeto de estudo o quadro exibido no programa Domingo Legal (SBT): “De volta para minha terra” que apresenta nordestinos que vivem em situação de desemprego e miséria na cidade de São Paulo, e que “por isso”“desejam” “voltar para minha terra” (o Nordeste). Fundamentados na teoria da Análise do Discurso (AD), compreendemos que o funcionamento do discurso, na mídia televisiva, revela os vestígios do entrecruzamento contraditório da linguagem com a ideologia na produção de sentidos e simulação de evidências sobre o migrante nordestino. Como resultado da reflexão desenvolvida, compreendemos que há, na produção desse discurso, modos de apagar outros sentidos possíveis, e isso fica a cargo das relações e conflitos históricos, do funcionamento da ideologia e da inscrição do sujeito na rede de significantes. Daí o caráter processual e contraditório do sentido (efeitos de sentido), implicando movimentos, desdobramentos e transformações dos gestos de interpretação que são produzidos sobre a condição/vivência do sujeito-migrante nos grandes centros urbanos. A nosso ver, pensar a produção de sentidos sobre esse sujeito exige remetê-lo às lutas sociais que o constituem, pois as determinações históricas e ideológicas compõem o imaginário sobre o nordestino, e tem como base material as contradições do mundo urbano / 193 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

e os sentidos atribuídos à cidade de São Paulo como a principal cidade da América Latina. Assim, o funcionamento desse discurso midiático − que faz de uma história “comovente” um “espetáculo sensacionalista” – revela vestígios do processo sócio-histórico e delimitador de sentidos que estão ancorados nas questões contundentes vivenciadas na sociedade capitalista, como crise do capital, desemprego estrutural, miséria e fome.

MÍDIA E EDUCAÇÃO NO DISCURSO SOBRE A MÍDIA Silmara Cristina Dela Silva Universidade Cátolica de Pernambuco/GTDIS Este trabalho decorre de uma pesquisa mais ampla, que consiste na constituição de um arquivo sobre mídia e sujeito, com foco nos processos de constituição de sentidos para o sujeito urbano no discurso midiático, em desenvolvimento junto ao Laboratório Arquivos do Sujeito (LAS), da UFF, com apoio Capes/Faperj (Processos E-26/102.82/2009 e E-26/102.86/2009). Neste arquivo, que reúne dizeres da mídia sobre si mesma e sobre os sujeitos na contemporaneidade, observa-se a proximidade com a educação como um dos modos de produção de sentidos para a mídia. Com o aporte teórico e metodológico da Análise de Discurso proposta por Pêcheux, proponho pensar esta relação entre mídia e educação no discurso midiático, com foco nos modos de constituição do sentido de proximidade entre mídia (e televisão, em particular) e educação, em dois momentos históricos: (1) década de 1950, quando do início das transmissões televisivas no Brasil; (2) e o período atual, de início das transmissões da TV digital no país. As análises mostram que o atribuir à televisão e, por extensão, à mídia em geral um papel relevante na educação da sociedade é um dos gestos definidores de sentidos / 194 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

para a própria TV no país e que precede a sua existência enquanto um bem de consumo de fato disponível para a população brasileira. Esse sentido de proximidade entre mídia e educação, que constitui a formação imaginária da televisão como necessária e, posteriormente, imprescindível à sociedade em decorrência de suas funções, dentre elas a educação, constitui a relação sempre já-posta entre mídia e educação, uma memória atualizada no discurso sobre as novas tecnologias e a televisão digital, em circulação nos últimos anos. Essa proximidade traz, ainda, a discussão política sobre o papel da mídia e as suas atribuições no país, que, por sua vez, encaminham discussões sobre discurso e mídia na educação.

INSCRIÇÕES DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA Vanise Gomes de Medeiros Universidade Federal Fluminense Com este trabalho se dá continuidade a uma pesquisa acerca da inscrição, na mídia, de movimentos sociais em resposta à violência. Em trabalhos anteriores foram focalizados enunciados de mães que tiveram seus filhos mortos pela violência policial bem como um movimento social – Posso me identificar? – surgido após a morte de um morador de favela. Para esta apresentação, o foco reside não na resposta daquele que é atingido pela violência, mas sobre o comparecimento desta no espaço midiático. São muitas e diversificadas as violências que se lêem na mídia contemporânea. Atingindo diferentes segmentos sociais da sociedade, é, no entanto, sabido que não ocupam os mesmos espaços midiáticos em função da classe social por ela atingida. Podem migrar de um espaço a outro, mas há condições de produção para isso, isto é, há condições de produção que permitem suas inscrições em lugares que as exclui. Quando “furam” o espaço outro, tal emergência não ocorre, no entanto, sem conflitos e tensões com o espaço em que se inscrevem, ou ainda, com o leitor ali inscrito bem como com uma memória discursiva que tece uma rede de sentidos possíveis àquele / 195 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

espaço. Em suma, com este trabalho, objetiva-se analisar, à luz do aparato teórico da análise de discurso desenvolvida no Brasil a partir dos trabalhos de Pêcheux, a emergência, em diferentes espaços midiáticos, da violência que incide sobre classes sociais desfavorecidas. CC 11B

GÊNEROS TEXTUAIS E PRÁTICAS DE LINGUAGEM: LEITURA, PRODUÇÃO TEXTUAL E ANÁLISE LINGUÍSTICA HÉRICA KARINA CAVALCANTI DE LIMA (Coordenadora) DANIELLE DA MOTA BASTOS EWERTON ÁVILA DOS ANJOS LUNA SULANITA BANDEIRA DA CRUZ SANTOS A comunicação verbal só se concretiza mediante o texto, ou seja, por meio de algum gênero textual. Diante dessa perspectiva, surgem ideias de valorização do sujeito discursivo, crítico, que age, atua sobre outros sujeitos, produz sentidos, ou seja, interage por meio de uma língua plurisignificativa, dialógica, dotada de sentido e subjetividade. Logo, não se domina uma língua pela incorporação de itens lexicais, pela aprendizagem de um conjunto de regras nem pela apreensão de um conjunto de princípios de como produzir um texto. Aprendemos a linguagem no ato da reflexão, nas operações de construção de sentido realizados no momento da interlocução. E, nessa, conjuntura, o texto passa a ser o objeto privilegiado de qualquer programa de ensino de língua, pois nele se concretizam os saberes necessários para que a comunicação humana aconteça eficazmente (ANTUNES, 2003). Partindo desses pressupostos, a presente sessão coordenada tem como objetivo realizar reflexões sobre o / 196 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

tratamento pedagógico dado ao trabalho com gêneros textuais sob a ótica de quatro pesquisas de caráter metodológico qualitativo que abordam especificamente um dos eixos do ensino de língua (leitura, produção textual e análise linguística, respectivamente) a partir de discussões realizadas com base na análise de livros didáticos de Português, planilha de avaliação e observação de aulas. Além de referencial teórico particular a cada estudo, são utilizadas concepções presentes em Marcuschi (2002), Bakhtin (1997), Geraldi (2002). Os resultados das pesquisas, de modo geral, confirmam a necessidade do trabalho efetivo com gêneros diversificados em práticas pedagógicas de ensino e aprendizagem de língua e de investimentos em pesquisas sobre os gêneros textuais e seu ensino.

O TRABALHO COM OS GÊNEROS TEXTUAIS A PARTIR DO LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS: REFLEXÕES SOBRE PRÁTICAS DOCENTES Hérica Karina Cavalcanti de Lima Universidade Federal de Pernambuco Os gêneros textuais, de acordo com Marcuschi (2002), são fenômenos históricos profundamente vinculados à vida cultural e social. Fruto do trabalho coletivo, ajudam a ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. E, pelo fato de serem entidades sócio-discursivas e formas de ação social presentes em qualquer situação comunicativa, precisam ser ensinados na escola. Sabendo, então, da importância do trabalho com os gêneros no ensino da língua materna, realizamos uma pesquisa qualitativa com o objetivo de observar, entre outras coisas, como os professores ensinam os gêneros textuais usando ou não o livro didático de português. Para tanto, observamos as práticas de duas professoras da rede municipal da Prefeitura de Recife que lecionavam em turmas do 1º ano do 4º ciclo de aprendizagem. Os dados coletados a partir das observações foram / 197 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

analisados à luz da teoria da Fabricação do cotidiano (CERTEAU, 2002), uma vez que também foi objeto de nosso interesse observar as manobras, adaptações, reformulações etc. realizadas pelas professoras ao trabalharem os gêneros textuais no livro didático. Para fundamentar nossa pesquisa, debruçamo-nos sobre os escritos de Antunes (2002), Geraldi (1997), Lajolo (1982), Marcuschi (2005), Silva (1995), Suassuna (2006), entre outros. Dentre os resultados dessa pesquisa, podemos destacar o fato de o livro didático funcionar como um suporte textual, pois praticamente todas as ocorrências de uso desse material foram para leitura e trabalho com os textos. Além disso, foi possível perceber que, em algumas das situações de trabalho com os gêneros, a concepção de língua subjacente às práticas foi aquela que a resultados desta pesquisa provocam relevantes reflexões, não apenas acerca do ensino dos gêneros textuais, mas, sobretudo, sobre o ensino de língua portuguesa nas escolas.

A ANÁLISE LINGUÍSTICA E OS GÊNEROS TEXTUAIS: REFLEXÕES SOBRE MODOS DE FAZER DE PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO Danielle da Mota Bastos Universidade Federal de Pernambuco Conceber o texto como um evento comunicativo em que convergem ações linguísticas, sociais e cognitivas (BEAUGRANDE 1997, p.10) e a língua como uma prática sociointerativa de natureza histórica e cognitiva (MARCUSCHI, 2008, p. 61), é defender que o trabalho com a linguagem, na escola, só será produtivo se houver uma busca de novas formas de expressão e compreensão do sentido, por meio de práticas que intensifiquem o contato do aluno com a própria língua e com outros sujeitos. Em face disso, partindo da concepção de que o texto deve ser o objeto de ensino, apresentaremos uma pesquisa que surgiu da necessidade de se conhecer mais sobre as / 198 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

práticas escolares de ensino do eixo didático análise linguística e sua relação com os gêneros textuais. Nosso objetivo era compreender como se realizavam atividades de reflexão linguística levando em consideração conteúdos, objetivos, procedimentos metodológicos e o trato com o texto. Para tanto, observamos as práticas de três professores de turmas de ensino médio, cujas práticas eram consideradas bem-sucedidas, durante o 2º semestre letivo de 2008. Tratamos os dados a partir da perspectiva metodológica qualitativa e indiciária. E respaldamo-nos, do ponto de vista teórico, nos pressupostos da linguística aplicada de base interacionista e nas concepções de língua como prática sócio-histórica, especificamente sobre os escritos de Antunes (2002), Bazerman (2009) Geraldi (2000), Marcuschi (2008), Mendonça (2006), Suassuna (2006), entre outros. Dentre os resultados da pesquisa, podemos destacar que foi possível encontrar, nas aulas observadas, espaços para a interação, o diálogo, a construção de sentido, as negociações de significados nos momentos de leitura e análises dos textos. Outro aspecto é que o texto não foi pretexto para análises gramaticais convencionais, nem destituído do seu caráter pragmático, ideológico, extraverbal, mas produto de uma atividade discursiva e historicamente situada.

O GÊNERO REDAÇÃO ESCOLAR A PARTIR DA PLANILHA DO ENEM: REFLEXÕES SOBRE PRÁTICA AVALIATIVA Ewerton Ávila dos Anjos Luna Universidade Federal Rural de Pernambuco O gênero redação escolar é caracterizado neste estudo por aquele que, apesar de ser relativamente estável do ponto de vista estrutural, possui funcionalidade específica que vai além da de textos que circulam empiricamente em momentos sócio-historicamente situados. Isso porque

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possuem uma função específica: a pedagógica. No Exame Nacional do Ensino Médio, a redação é produzida e lida com a finalidade específica da avaliação. Mas como isso ocorre? Esta pesquisa visa, portanto, fazer uma reflexão a cerca das cinco competências e seus subníveis presentes na planilha de correção da redação do Enem, material proveniente de documento textual público que constitui, então, o corpus do estudo. Além da planilha, foco de análise, também é traçado paralelo com “Enem: fundamentação teórico-metodológica” (BRASIL, 2005) e com os “Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio” (BRASIL, 2000). Para a construção do aparato teórico-metodológico, foram utilizados os trabalhos de Marchuschi (2006), Geraldi (2002), Perrenoud (1999), Costa Val (1999), Koch (2002), entre outros. Os resultados indicam que a proposta de redação no Exame, principalmente se comparada a algumas provas de vestibulares e concursos públicos, se diferencia por suas intenções – como, por exemplo, a fração da pontuação atribuída a aspectos estruturais – apesar de conter alguns aspectos que merecem maior espaço para discussões – como a falta de diversidade de gêneros textuais.

OS GÊNEROS TEXTUAIS PRESENTES NOS LIVROS DIDÁDICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA DA EJA CONTRIBUEM PARA AS PRÁTICAS DE LETRAMENTO? Sulanita Bandeira da Cruz Santos Universidade Federal Rural de Pernambuco Compreendendo que o caráter interativo e dialógico da língua tem contribuído para a ocorrência de mudanças nos materiais didáticos para o ensino de língua portuguesa, fazendo com que, consequentemente, o texto seja tomado como elemento norteador para o seu ensino, entendemos que, nesse sentido, os gêneros textuais têm sido tomados / 200 /


COMUNICAÇÕES COORDENADAS

como aporte que pode colaborar para a inserção dos alunos nas práticas da leitura e da escrita. É por esse prisma também que esses livros têm sido analisados pelo PNLD (Programa Nacional do Livro Didático). É nesse sentido que nossa pesquisa se direciona, tomando como objeto de estudo os livros didáticos de Língua Portuguesa destinados à Educação de Jovens e Adultos (2º segmento): Linguagem – Expressão e Vida com objetivo de verificar se o material textual proposto contribui para as práticas de letramento. Para isso, procuramos estabelecer uma análise comparativa entre esses livros e os direcionados ao público do ensino fundamental: Português: uma proposta para o letramento (6º e 7º ano), com a finalidade de observar as possíveis diferenças, já que se destinam a públicos distintos e os livros destinados à EJA estão, ainda, isentos de um programa que os avalie. Nesse sentido, focamos nossa pesquisa no eixo da língua voltado para a produção textual e submetemos as coleções à análise de conteúdo (BARDIN, 2004) e tomamos como referencial para a construção das categorias de análise o que nos propõe o PNLD e a pesquisa desenvolvida por Morais, Albuquerque e Ferreira (2004), além de outros. Os resultados revelaram que ambas as coleções trouxeram propostas de produção textual vinculadas a diversos gêneros textuais, o que pode contribuir para inserção dos alunos nas práticas de letramento, embora algumas das propostas presentes nos livros didáticos destinados à EJA se distanciem da perspectiva da língua como ato de interlocução.

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Comunicações Individuais



Comunicações Individuais

CI 01A - Sala 01

ALFREDINA ROSA OLIVEIRA DO VALE Universidade Estadual da Paraíba

A PIADA: DA ORALIDADE À INTERNET, VIA TEXTO IMPRESSO A piada, um gênero típico da cultura oral, sobrevive na cultura eletrônica? Esta é a questão problema que nos motivou a estudar as manifestações de humor no gênero piada em diferentes períodos: da oralidade a Internet, via texto impresso. Para tanto, procuramos conhecer as fases históricas da piada nas culturas oral, escrita, impressa e eletrônica. Fazendo, posteriormente, este percurso na cultura brasileira do Século XIX até a primeira década do Século XXI. O gênero piada, objeto empírico, sobreviveu a todas esses momentos, alguns deles revolucionários, conforme verificamos no decorrer da nossa pesquisa. Em nossas leituras, descobrimos que alguns pesquisadores da Universidade de Wolverhampton, na Inglaterra, encontraram a piada de registro mais antigo, numa tabuazinha de barro cozido, narrada na Suméria (atual Iraque) por volta de 1.900 a.C. Outros estudiosos afirmam ser o Philogelos, o mais antigo livro de contos anedóticos (ou / 205 /


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simplesmente piadas). De autoria incerta, alguns atribuem a Hiérocles, outros a Philagrius, um homem das letras (grammatikos). O historiador Saliba (2002), afirma que as práticas humorísticas, no cenário brasileiro, sobreviveram a todas as mídias que se tornaram realidade a partir dos anos 30: o disco, o cinema sonoro, o rádio. E nós acrescentamos a televisão e a Internet. Portanto, nossa pesquisa ratifica a opinião de Marcuschi (2002), quando este estudioso afirma que “as novas tecnologias não mudam os objetos, mas as nossas relações como eles”. Ainda que contar piada seja uma ação social, em geral face a face, o momento em que o humorista ou narrador anônimo faz uso não apenas da linguagem verbal, como também de outras linguagens: facial, corporal, mímica, entonação. Mesmo assim, apesar dessas ausências, seja no suporte impresso ou eletrônico, o gênero em questão consegue atingir seu objetivo mais óbvio (visto que outros objetivos existem): fazer rir. CI 01A

MARIA ALDENORA CABRAL DE ARAÚJO Universidade Federal de Pernambuco

GESTÃO DE ARGUMENTOS E CONTRA-ARGUMENTOS POR ALUNOS DE INGLÊS/LE EM TEXTOS DE OPINIÃO RETEXTUALIZADOS O artigo, Gestão de argumentos e contra-argumentos por alunos de inglês/LE em textos de opinião retextualizados, tem por objetivo analisar a gestão das sequências argumentativas normativas e transgressivas relativas ao emprego e a ausência de operadores. Para isso, a pesquisa se concentra em uma abordagem objetiva e descritiva qualitativa sobre o

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lugar ocupado pelos itens lexicais, a partir do Modelo de Análise Modular do Discurso, proposto por Roulet, Filliettaz e Grobet. Tal esquema enfatiza o princípio da negociação no nível da intervenção. Para a análise do sistema de gestão, três itens foram levados em considerações: a interferência da língua materna na língua inglesa, a presença das categorias consensual e polifônica na orientação dos enunciados e a descrição das diferentes relações de marcação de idéias e de efeitos de sentido. Como pressupostos teóricos, destacam-se a Semântica Argumentativa, representada, entre outros teóricos, por Ducrot; a Linguística Textual, na figura de Koch, e a Retórica Argumentativa, por exemplo, de Perelman e Olbrechts-Tyteca. Os quatro textos de opinião analisados foram extraídos, em uma amostra aleatória, dos textos de opinião produzidos nas oficinas de retextualização do gênero editorial para o gênero de opinião entre os meses de abril a junho/2008. Tais textos foram escritos por alunos jovem-adultos de Língua Inglesa, de nível intermediário e avançado, matriculados no Curso de Graduação de Letras de duas instituições superiores de Recife: Universidade Federal de Pernambuco e a Faculdade de São Miguel. Os resultados obtidos apontam que no esquema de gestão sem a presença dos operadores há uma orientação motivada pelo discurso consensual e por fatores discursivo-pragmáticos da interferência da língua materna na língua inglesa. Quanto à gestão proporcionada pela presença de operadores, o que se observa é um uso relativo de embate de vozes que determina a força e a fraqueza argumentativa.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 01A

MARIA ELDELITA FRANCO HOLANDA Universidade Federal de Pernambuco

A LEITURA MULTIMODAL É PARTE DA COMPREENSÃO DE TEXTOS EM LIVRO DE INGLÊS INSTRUMENTAL? UMA PROPOSTA DE ANÁLISE. Este trabalho objetiva analisar como a integração da linguagem visual á linguagem verbal em dois livros de leitura de inglês Instrumental para alunos universitários contribui para a compreensão de textos acadêmicos e técnicos, e qual é o tratamento dado por esses livros ao texto multimodal, e, ainda, se a combinação do visual com o textual acontece como forma de produção de sentido. Para esta investigação foram usados três textos multimodais de dois livros de inglês Instrumental para alunos universitários com o intuito de observar como a combinação dos recursos semióticos destes textos (Imagem, layout, tipografia) são usados para produzir significado. Olharemos também para os quatro modos de representação imagem, texto tipografia e layout e as relações modais entre imagem e texto. Os textos serão analisados tomando como aporte teórico a concepção da gramática visual proposta por Kress e van Leeuwen (2006), baseada na linguística sistêmico-funcional de Halliday (1994). Nessa linha da gramática visual os teóricos apresentam modelos para observação dos elementos que compõem essas imagens tomando-os não mais como figuras, mas como sintagmas visuais.

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 01A

REGINA CÉLIA PAGLIUCHI DA SILVEIRA Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

A REPRESENTAÇÃO DA MULHER SOB O PRISMA FEMININO E MASCULINO EM TEXTOS MULTIMODAIS DE ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS Este trabalho se situa na área da Análise Crítica do Discurso de vertente cognitiva e tem por tema valores culturais/ideológicos contidos na representação da mulher brasileira em anúncios publicitários multimodais publicados em revista brasileiras, pois ela é representada, fora do Brasil, como permissiva, sensual e erótica, devido ao carnaval. Objetiva-se: 1) buscar os vínculos existentes entre modos particulares de construção textuais e a cultura dos falantes da língua alvo, decorrentes de valores inscritos nas cognições sociais de forma a guiar as pessoas a se relacionar com o mundo representando-o com especificidades; 2) discutir a construção identitária da mulher brasileira. A pesquisa fundamenta-se na Análise Crítica do Discurso integrada à teoria das representações sociais. Para a vertente sócio-cognitiva, são categorias analíticas Sociedade, Cognição e Discurso. Segundo a ACD, há uma dialética entre o social e o individual aquele guia este e este modifica aquele, numa dinâmica constante. A vertente da semiótica social da analise critica do discurso busca compreender os textos multimodais de forma a entendê-los como um tecido de sistemas semióticos. Kress e van Leeuwen (1990) investigam o valor das categorias da linguística sistêmica para análise das imagens visuais e tratam de determinar como elas se realizam nas figuras. Entre as categorias tratadas apontam as textuais sistêmicas “dado” e “novo” para a análise. Conclui-se que os valores culturais/ideológicos guiam a criação de textos multimodais publicitários, ao mesmo tempo que a representação / 209 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

imagética da mulher brasileira, pela publicidade constrói uma identidade nacional. Sendo assim, os textos multimodais publicitários contêm implícitos culturais/ideológicos que ao serem explicitados propiciam um melhor entendimento da inter-relação língua e cultura. CI 02A

ANA VIRGÍNIA LIMA DA SILVA; REGINA LÚCIA PERET DELL’ISOLA Universidade Federal de Minas Gerais

DA ESCRITA DE TEXTOS ACADÊMICOS PARA AS EXPOSIÇÕES ORAIS: OS MODOS DE AÇÃO A retextualização é o processo de transformação de um ou mais textosbase em outro texto, mantendo a base informacional do texto de origem (MARCUSCHI, 2001). No contexto de ensino universitário, a exposição oral (doravante, EO) é um gênero elaborado a partir da retextualização de textos escritos em um texto oral, além de servir como forma de construir o conhecimento e propiciar aos estudantes um papel ativo na estruturação discursiva acadêmica. Para a EO, em geral, são utilizados textos escritos de apoio, sendo os slides eletrônicos cada vez mais frequentes na realização desse gênero. Nesse sentido, analisamos EOs apresentadas por alunos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, com o objetivo de verificar se esses textos realmente orientam as EOs ou se eles não são validados nas exposições. Para tanto, apoiamo-nos na noção de gênero como ação social (MILLER, 1984; BAZERMAN, 1997), em pressupostos sobre retextualização apresentados por Marcuschi (2001) e por Dell’Isola (2007). Analisamos os textos dos slides eletrônicos quanto às convenções do gênero que serviu de referência para sua produção, a exposição oral com suporte eletrônico em softwares (Power / 210 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

Point, Keynote Impress, etc). Analisamos também os procedimentos de retextualização dos textos de escritos em EOs e a organização do conteúdo das exposições em comparação à organização do conteúdo nos textos escritos. Os resultados mostram diferentes possibilidades de uso dos textos presentes nos slides eletrônicos, que podem orientar ou não as EOs. Tal uso está relacionado a ações que denotam características e qualidade da retextualização escrita-oralidade, influenciando na eficácia das EOs. Desse modo, a escolha e o uso de textos escritos de apoio são aspectos importantes na produção de EOs e merecem atenção no ensinoaprendizagem desse gênero. CI 02A

CATIA REGINA BRAGA MARTINS Centro Universitário de Brasília / Universidade de Brasília

UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DE GÊNEROS TEXTUAIS PARA O ENSINO DE LEITURA E ESCRITA DE TEXTOS ACADÊMICOS NA DISCIPLINA LÍNGUA PORTUGUESA DO CURSO DE ARQUITETURA Uma análise das contribuições da Teoria de Gêneros Textuais para o ensino de leitura e escrita de textos acadêmicos na disciplina Língua Portuguesa do curso de Arquitetura (Dionísio, 2009). Este estudo apresenta uma proposta de emprego da ferramenta do BLOG como possibilidade de produção e circulação de gêneros textuais variados que contribuam com o letramento universitário dos alunos de graduação. A perspectiva de ensino de língua em interação com outros interlocutores sociais (Koch, 2006 e Marcuschi, 2005) contribui para / 211 /


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realizar na graduação a revisão conceitual da língua materna (categorias gramaticais) a partir de contextos discursivos ((não)acadêmicos) dos alunos na graduação. Essa perspectiva analítica de ensinoaprendizagem de leitura e escrita considera essencial o reconhecimento da funcionalidade dos textos (materialização das práticas discursivas) e de suas condições de produção e circulação em diferentes contextos sociais (Adam, 1999). A aula de língua materna passa a ser vista como a prática da linguística textual (Adam, 1999), entendendo como atividades acadêmicas contextos sociossubjetivos e material de produção dos discursos (Bronckart, 1997), a partir da análise de tipos e gêneros textuais (Marcuschi), desenvolvendo as competências linguísticas esperadas na graduação. Foram realizadas observação etnográfica de aulas de Língua Portuguesa no curso de Arquitetura e análise comparada dos textos e recursos metodológicos empregados para ensino da leitura e da escrita. Verificou-se que as aulas ministradas a partir do referencial da gramática descritiva pouco contribuíram para a ampliação do letramento universitário, em contraposição às aulas desenvolvidas em uma perspectiva sociointeracionista nas quais a análise dos textos esteve correlacionada ao contexto de leitura e escrita, ao capital cultural dos interlocutores (Bourdieu, 1998) e à funcionalidade dos gêneros acadêmicos na graduação e no exercício profissional. Observou-se também a funcionalidade do BLOG quanto à produção diversificada de gêneros, à multimodalidade discursiva, à publicação e circulação dos textos no ambiente acadêmico.

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 02A

CRISTIANE MARINHO DA COSTA; MARIA DO CARMO RAMOS SILVA Universidade Federal da Paraíba

O GENERO TEXTUAL FORUM: O DISCURSO DOS ALUNOS NA SALA DE AULA VIRTUAL DA EAD Este estudo objetiva analisar a presença do gênero textual fórum sala de bate papo no processo de ensino e aprendizagem na sala de aula virtual da EaD. Esta temática torna-se instigante e importante por estar situada num contexto de avanço dos cursos de Educação a distância oferecidos no Brasil, e em especial, na Paraíba, no curso de Letras da UFPB Virtual. Trataremos especificamente dos referidos discursos dos alunos veiculados na disciplina do 3 período - Leitura e Produção de texto II. Esta averiguação terá como base teórica o sócio-interacionismo de Bakhtin/Volochinov (1929/1981), para quem a linguagem é dialógica e um processo de interação verbal. Nesta perspectiva, a leitura e a escrita são um processo interacional e extremamente enriquecedor no ambiente virtual em que os envolvidos na interlocução deste ensino de educação à distância, agem motivados para que por meio da interação, escrevam seus discursos. Assim, surge a questão: como ocorre a interação no discurso dos alunos tutores/professores no fórum sala de bate papo? O alvo da pesquisa é focar nosso olhar para a interação entre professor/tutor e alunos no processo de ensino dos discursos postados no Fórum Sala de bate papo realizados no ambiente AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem. Investigaremos a interação como ferramenta intrínseca para a participação dos alunos no fórum Sala de bate papo e, consequentemente, a construção dos seus textos. O contexto da / 213 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

pesquisa tomará como base o registro do discurso dos alunos no fórum sala de bate papo. Identificamos também neste estudo que escrita e interação caminham juntas, em todo o processo de ensino e aprendizado do moodle, desde a postagem das atividades até as participações com temáticas e comentários nos fóruns. Assim, a interação atuou como determinante na produção do discurso dos alunos. CI 02A

DEYWID WAGNER DE MELO Universidade Federal de Alagoas

OS ASPECTOS DA ORALIDADE NA PERSPECTIVA RETÓRICA DO GÊNERO DEFESA PÚBLICA Este trabalho é uma análise retórica dos aspectos da oralidade jurídica, mais precisamente, do gênero “defesa pública”. Tem como objetivo mostrar os mecanismos linguísticos orais, de caráter retórico, utilizados pelo falante no momento da defesa de seus argumentos. Entende-se por retórica a arte de persuadir pelo discurso. Fundamenta-se, no tocante à retórica, em Reboul (2004), Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005) e Abreu (2004). Além destes autores, esta pesquisa baseia-se nas questões de texto/discurso em Fávero (2003), Koch (2009) e Marcuschi (2009) e nos estudos conversacionais, em especial, em Marcuschi (1998). É uma pesquisa de cunho qualitativo. Essa abordagem caracteriza-se pela observação naturalista do processo em que o fenômeno acontece, valendo-se de dados reais, autênticos, ricos e profundos (LARSEN E LONY, 1991). As sessões de júri constituem o corpus deste trabalho através das transcrições da fala do advogado que defende os indivíduos (réus) nos referidos eventos comunicativos judiciais, ou seja, argumenta a favor daquele que está sendo acusado de algo. Para isso, os retores da / 214 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

defesa utilizam-se de recursos da linguagem, da modalidade oral por excelência, considerando-se a exposição oral dos fatos, para buscar persuadir seus interlocutores na ocasião constituídos. Esse estudo mostra que os momentos retóricos, das sessões de júri analisadas, efetivaram-se, verificando-se isso por meio da adesão do auditório, que na ocasião, é o júri popular, conforme o resultado/sentença das referidas sessões. CI 03A

AHIRANIE SALES DOS SANTOS MANZONI Universidade Federal de Alagoas

DISCURSO, MÍDIA E SENTIDOS: A CONQUISTA E MASSIFICAÇÃO DOS OUVINTES PELO RÁDIO Este presente artigo tem como objetivo principal investigar como se dá a construção dos efeitos de credibilidade, individualização e verdade no discurso radiofônico. Por se tratar de um estudo decorrente de nossa dissertação de mestrado, serão apresentados aqui alguns pressupostos teórico-metodológicos da Análise do Discurso francesa e como se deu a nossa investigação da mídia radiofônica . Este trabalho está dividido em três partes: a introdução, onde apresentamos a nossa corrente teórica e o nosso objeto; a segunda, denominada condições de produção do discurso, onde poderemos ver como o rádio se insere no meio social e como o seu discurso se sustenta e é reproduzido – para isso apresentamos um breve contexto sócio-histórico contemplando as Condições de Produção (CP) amplas e estritas para a realização das nossas análises; e a terceira parte, onde apresentamos nosso corpus, que foi selecionado a partir de uma rádio comercial de perfil popular da cidade de Maceió-Al, e suas respectivas análises . As sequências discursivas foram dividas entre / 215 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

fala dos comunicadores e slogans da emissora. Além das CP, buscamos, em outras categorias da Análise do Discurso tais como Formação Discursiva, Interdiscurso e Silenciamento, um maior suporte para a investigação do nosso corpus, e, com isso, melhores resultados de análises. Com base na teoria Pecheutiana e com colaboração de autores como Orlandi, Adorno, Teixeira, analisamos as sequências discursivas, para, enfim, compreendermos como os sentidos são produzidos e circulam em nosso meio social, observando a relação entre língua, história e ideologia. CI 03A

ANA CRISTINA BARBOSA DA SILVA; MAGALY BUSHATSKY Universidade Federal de Pernambuco / Universidade de Pernambuco

TEMA E SIGNIFICAÇÃO EM NOTÍCIAS IMPRESSAS Esta pesquisa surgiu a partir do seguinte questionamento: como um dos jornais de grande circulação do Recife tratou a temática da mudança do vestibular das universidades nos seus noticiários no período de efervescência dessa discussão, de 11 a 16 de maio de 2009? E assim alguns objetivos foram traçados: analisar como os autores das notícias construíram o tema da enunciação, identificar os acentos apreciativos, demonstrando a individualidade do discurso e verificar a recorrência do uso das palavras Enem e vestibular e seus significados no decorrer dos textos. Portanto, foram selecionadas quatro notícias, gêneros discursivos presentes no cotidiano de grande parte da população de diversos níveis sociais, influenciando, na escolha do quê e como vai ser

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noticiado. A pesquisa foi norteada pela perspectiva dialógica do discurso sob os pressupostos teóricos de Bakhtin (2002) para tratar sobre tema, enunciação, significado, acento apreciativo (SANTOS 2008; BAKHTIN, 2003, 2005) e mobilidade específica (DIAS, 2005). Ao se propor analisar discursos, nesta perspectiva, propõe-se investigar discursos sempre inéditos, cujo sentido se dá no todo da enunciação e é denominado tema. O tema tem sempre caráter de novidade e apresenta em cada enunciação um sentido único e não reiterável. A enunciação, constituída pelo tema e significação, tem a cada momento que é proferida um sentido diferente, um outro tema. Já a significação, é constituída por “elementos da enunciação que são reiteráveis e idênticos cada vez que são repetidos” (BAKHTIN, 2002, p.129). Esses elementos são abstratos, convencionais e não têm existência concreta independente. Ao término das análises percebeu-se que os autores das notícias não expunham seus pontos de vista explicitamente, limitando-se a noticiar os fatos e respaldar suas informações com discursos de autoridades. As palavras Enem e vestibular vinham com significações constituídas historicamente e outras em conformidade às mudanças atuais sobre a realização desses dois processos avaliativos. CI 03A

ANA PAULA KUCZMYNDA DA SILVEIRA Universidade Federal de Santa Catarina

O PROFESSOR QUE SE REVELA NAS DOBRAS DO DISCURSO DO ACADÊMICO EM FASE FINAL DE FORMAÇÃO Esta comunicação representa um recorte da pesquisa que desenvolvi durante o mestrado, a qual constitui um estudo de caso que se desenvolveu com base na análise do discurso do professor em fase final / 217 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

formação no contexto Curso de Graduação em Letras Inglês/Português da Universidade Regional de Blumenau, na vigência de duas grades curriculares: a que entrou em vigor no segundo semestre de 1998 e aquela que passou a vigorar no primeiro semestre de 2004. Os dados de pesquisa compreenderam 15 Relatórios e 8 Projetos de Estágio Supervisionado elaborados na vigência da primeira grade e 17 Relatórios Analíticos de Estágio Supervisionado produzidos no contexto da segunda grade curricular estudada. A pesquisa foi balizada pelos estudos do Círculo de Bakhtin acerca: (1) da natureza sócio-histórica dos sujeitos e da linguagem; (2) da noção de horizonte axiológico; (3) da ideia de texto como enunciado; (5) da noção de gêneros do discurso. A partir da análise realizada foi possível entrever: a dualidade em que os acadêmicos se inscrevem no que tange à crítica às abordagens tradicionais de ensino da Língua Portuguesa; a instituição de um estatuto de culpa generalizada que justifica os próprios fracassos do professores em fase final de formação nas suas primeiras experiências de sala de aula; o uso do lúdico e de uma postura motivacional como estratégia de controle na sala de aula; a crença na necessidade de assumir múltiplos papéis nesse espaço; a dificulade em se reconhecer professor-pesquisador; a identificação com a figura paradoxal do herói e da vítima. CI 03A

MARIA HELENA CRUZ PISTORI Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

GÊNERO E ENSINO EM ARTIGOS DE PERIÓDICOS CIENTÍFICOS Neste trabalho, buscamos verificar que horizontes teórico-metodológicos têm fundamentado as publicações científicas que apresentam os termos / 218 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

gênero e ensino nos títulos. Considerando a importância do conceito nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa e a nítida influência teórica das obras do Círculo de Bakhtin no documento, nosso objetivo é observar não apenas como tem sido abordada a noção de gênero – textual e/ou discursivo – e sua articulação com o ensino, mas também compará-la com a abordagem bakhtiniana. Inicialmente apresentamos uma breve retrospectiva teórica do modo como o Círculo bakhtiniano, ao longo de seis décadas, desde 1920, desenvolveu os estudos dos gêneros a partir da prosa e não da poética, contrapondo-se à tradição que tem origem na Antiguidade Clássica e abarcando o discurso na vida e na arte. Nosso percurso cronológico destaca as proposições teóricas a partir de textos de Medvedev, Voloshinov e Bakhtin, visando mostrar a construção da ideia de gênero discursivo no Círculo, para então destacar o que é comum a todos eles e quais os conceitos essenciais à compreensão da noção. A seguir, selecionamos para descrição e análise quatro artigos de periódicos científicos de diferentes regiões do Brasil: o primeiro com uma ampla perspectiva histórica, mas sem definição do conceito de gênero; o segundo, com uma ampla perspectiva conceitual; o terceiro, com a análise de um gênero, mas sem definição do conceito; o quarto, uma perspectiva teórico e metodológica bakhtiniana. Para a discussão proposta, nossa descrição e análise partiu da verificação das seguintes categorias nos artigos: os objetivos (geral e específicos); a fundamentação teórica; o conceito de gênero assumido; a metodologia usada, incluindo corpus, suas características e análise. Os resultados apontam as coerências, incoerências e as compatibilidades (ou não) entre as abordagens.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 04A

FERNANDA TEIXEIRA DA COSTA MENDES Universidade Federal de Minas Gerais

UMA ANÁLISE DOS CONECTORES E DA ORGANIZAÇÃO RELACIONAL DISCURSIVA NO GÊNERO ARTIGO DE OPINIÃO O objetivo desta apresentação é analisar o emprego de conectores em textos pertencentes ao gênero Artigo de Opinião. Tendo como base teórica o Modelo de Análise Modular (MAM) proposto por Roulet, Fillietaz e Grobet (2001), pretendeu-se analisar a forma de organização relacional dos textos, que foram extraídos das Revistas Época e Veja. No modelo, essa forma de organização se ocupa da descrição das relações discursivas que se dão entre os constituintes de um texto e as informações estocadas na memória discursiva, assim como da marcação dessas relações por meio dos conectores. Para se estudar a organização relacional, tornou-se necessário descrever a estrutura hierárquico-relacional dos textos, uma vez que, para o MAM, essa estrutura permite perceber as hierarquias entre os constituintes de um texto, bem como as relações discursivas, as quais podem ou não ser marcadas por conectores. Para se atingir o propósito mencionado, partiu-se da hipótese de que o gênero Artigo de Opinião, por ser mais próximo do pólo do comentário, conforme Adam (1997), tenderia a apresentar uma forma de organização relacional evidenciada, primordialmente, pelo uso de conectores argumentativos e contraargumentativos. A partir dessa hipótese, procurou-se uma resposta para a seguinte pergunta: As relações de argumento e de contra-argumento são fundamentalmente marcadas por conectores? Ao ressaltar os conectores no presente estudo, através do MAM, confirmou-se a idéia de que / 220 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

funcionam como elementos importantes para a sinalização de relações discursivas, as quais auxiliam na construção de sentidos por parte do leitor. Nessa perspectiva, a análise da organização relacional de artigos de opinião permite evidenciar que as relações discursivas de argumento e de contra-argumento, basicamente, apresentam conectores. CI 04A

JANETE DOS SANTOS BESSA NEVES Universidade Nova de Lisboa

ABORDAGEM SEMÂNTICO-ENUNCIATIVA DA MODALIDADE LINGUÍSTICA NO CORREIO BRAZILIENSE DE 1808 O trabalho apresenta estudo da modalidade linguística – categoria gramatical que explicita as diferentes atitudes do locutor em relação a um conteúdo proposicional e a seu interlocutor – em enunciados do primeiro jornal brasileiro, Correio Braziliense, editado por José Hipólito da Costa, de junho de 1808 a dezembro de 1822. O corpus desta pesquisa se constitui dos jornais do ano de 1808 (junho a dezembro), recolhido em publicação fac-similar (2001). Identificaram-se os mecanismos linguísticos (como o uso de verbos e advérbios com valor epistêmico, modalidades apreciativas, interrogações retóricas, entre outros) utilizados com o fim de marcar a construção da modalidade e assinalar a fonte enunciativa das informações (como recurso às aspas, uso de 3ª pessoa do plural, entre outros). A investigação incluiu o estudo do recurso designado ‘mediativo’, uma subcategoria da modalidade (Campos, 2001:338), do qual o jornalista faz uso para revelar de que forma foi apurada a notícia a ser veiculada, ou seja, se constatada diretamente por ele próprio ou se conseguida de outra fonte enunciativa. O quadro teórico para a descrição e explicação dos / 221 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

valores modais dos enunciados fundamenta-se na Semântica Enunciativa de Antoine Culioli (1990) e nos postulados sobre o mediativo, segundo os estudos de Zlatka Guentchéva (1994). CI 04A

MARIA EMÍLIA DE RODAT DE AGUIAR BARRETO BARROS Universidade Federal de Sergipe

O ENSINO DE LÍNGUA NUMA PERSPECTIVA DISCURSIVA Neste trabalho adotamos a concepção de língua como acontecimento, trabalho. Debatemos sobre o ensino de Língua Portuguesa, analisando o fracasso dos estudantes, com um recorte teórico-metodológico que possibilita relacionar os sujeitos pesquisados ao seu ambiente. Entendemos que a prática de ensino utilizada pelo professor é apontada como causa precípua desse fracasso, por ele se comprometer com programas vinculados à prescrição de normas. Para a análise dessa “escolha” didática, utilizamos o pensamento de Bourdieu (1996), para quem essa língua oficial é legitimada por instituições: a família, a escola. Levamos em conta ainda as opiniões de Foucault (2003, 2008) quanto à disciplina: como um princípio de controle da produção do discurso; constituindo as relações de poder na escola. Compartilhamos também com Foucault (2003) sobre o controle da produção de discurso na sociedade. Contamos ainda com a contribuição dos conceitos da Análise do Discurso. Nesse caminho, investigamos as construções de imagens que o professor faz de si, da língua, do estudante, perguntando: qual a relação entre tais imagens e o ensino de língua? Dado o objeto

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

analisado, este trabalho configura-se como uma pesquisa qualitativa. Esta investigação se insere na grande área da Linguística do Discurso (KOCH, 1995). Os corpora são o resultado de uma pesquisa não-diretiva realizada com professores de LP em dez escolas sergipanas. Verificamos, então, que o discurso escolar acerca da língua opera na confluência dos discursos constituintes; com efeito, percebemos a tentativa de uma homogeneidade linguística, inculcada através do ensino de língua nos moldes tradicionais, promovendo o silenciamento das vozes dos sujeitos. Este trabalho constitui uma abordagem parcial da pesquisa intitulada O Professor de Língua Materna e as Imagens de Si, realizada entre 2008 - 2009, na UFS / COPES. CI 04A

SOLANGE PEIXE PINHEIRO DE CARVALHO Universidade de São Paulo

O LÉXICO COMO MEIO DE SEDUÇÃO NO ROMANCE D’A PEDRA DO REINO O Romance d’A Pedra do Reino, narrado em primeira pessoa por Dom Pedro Dinis Ferreira-Quaderna, apresenta duas partes principais: a primeira introduz os fatos relativos à história da família de Quaderna, bem como sua formação pessoal e suas pretensões literárias e políticosociais. Na segunda parte, temos o depoimento prestado por Quaderna ao Senhor Corregedor, devido a seu envolvimento na morte de seu padrinho. Quaderna afirma que deseja ser absolvido das acusações que lhe foram feitas; para tanto, ele usará o material apresentado em seu depoimento para escrever uma obra cuja finalidade é dupla: servir como testemunho para inocentá-lo no processo civil e permitir sua sagração na Academia Brasileira de Letras. Esse duplo objetivo será alcançado basicamente / 223 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

por meio da manipulação do léxico, recurso que permitirá a Quaderna apresentar-se sob seus aspectos mais favoráveis. Esse jogo de sedução de seus potenciais interlocutores é visto claramente nas criações lexicais do narrador, que mostram para os leitores da obra as tradições literárias e culturais em que Quaderna se baseia, colocando-o em um patamar social e cultural semelhante – ou até mais alto – que o de seus possíveis juízes/antagonistas. Em toda a narrativa, informações são oferecidas e negadas por Quaderna, criando diferentes níveis de (in)formalidade e tensão entre as personagens e despertando a atenção dos leitores da obra com a presença das criações lexicais. Este trabalho, baseado em estudos de Preti (1975), Urbano (2000), Marcuschi (1986), e Martins (2000), analisa como a manipulação lexical feita por Quaderna é percebida pelo Senhor Corregedor e pelos leitores da obra. Para tanto, são considerados fatores como variedades linguísticas e situacionais; bem como questões ligadas à afetividade das palavras, destacando os pontos que conferem maior expressividade à linguagem de Ariano Suassuna. CI 05A

DANIELA MARIA BARRETO MARTINS Universidade Federal de Pernambuco

MÉTODOS COMPREENSIVOS - DA AUTOCONSCIÊNCIA HISTÓRICA ÀS NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS O artigo explora a passagem às narrativas autobiográficas, a partir dos precedentes métodos historiográficos, que constituíram a base fundamental dos métodos compreensivos nas ciências humanas. São abordadas as condições propícias à cisão entre os termos de verdade (científica) e realidade (cotidiana), como acontecimentos favoráveis ao / 224 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

interesse desperto pelas narrativas, por relatos ignorados nas operações científicas até a primeira metade do século XX. Para tanto, buscar-se-á compreender as autobiografias a partir do substrato teórico que definiu a experiência hermenêutica como método de interpretação fundado numa auto-consciência que se pensa dentro da vida, em contraponto à noção de experiência científica comprometida com a lógica da indução das ciências da natureza. À medida que agregaram à experiência a dimensão subjetiva e vivencial, os métodos compreensivos tornaram os processos de rememoração partes integrantes do processo de conhecimento da realidade, momento em que a história se fez presente pelo contato com a tradição e em que novas significações puderam ser produzidas por aquele que interpreta. Para a nossa discussão, utilizamos como aportes conceituais as considerações de Dilthey e Gadamer acerca da experiência hermenêutica, estudos de Michel de Certeau acerca dos fazeres científicos, de Alain Coulon e seu clássico texto sobre etnometodologia e os referenciais das Histórias de Vida apresentados por Larrosa e Bosi. CI 05A

FABIO ELIAS VERDIANI TFOUNI Universidade Federal de Sergipe

POR QUE EXISTE LINGUAGEM? UMA ABORDAGEM DISCURSIVA E PSICANALÍTICA O presente trabalho filiado à análise do discurso pêcheutiana (AD) em interface com a psicanálise lacaniana, realiza uma investigação sobre as condições de possibilidade da existência da linguagem. A questão que embasa a investigação é: Por que existe linguagem? A lógica subjacente a esse trabalho é o principio lacaniano de que “a exceção funda a regra”, que é cotejada com a máxima da análise do discurso de que o não dito / 225 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

antecede o dito (Pêcheux, Orlandi). Para executar essa tarefa, tratamos o interdito e o silêncio como fundadores e constitutivos do discurso e, recorremos às modalidades aléticas do quadrado lógico aristotélico, o possível, o impossível, o necessário, e o contingente, levantando a questão: qual delas pode-se considerar como fundadora, ou seja: como anterior à existência da linguagem? Em resposta, criamos um quadrado do dito ou da enunciação, tomando o quadrado alético como modelo. Não se trata de um trabalho de lógica formal, mas do uso de seus fundamentos deslocados para análise do discurso e a psicanálise. A linguagem possui uma relação com o impossível, modalidade que entra aqui a partir da máxima lacaniana segundo a qual “tudo não se diz”. Então, deve haver um interdito fundante do discurso, pois, se fosse possível dizer tudo, na realidade não se diria nada (Milner). Segue-se daí que a palavra plena não existe. O dizer é sempre faltante, sempre falho, o sujeito sempre diz pela metade, diz no meio: inter-dito. A metodologia segue a análise indiciária (Ginzburg) - utilizada tanto pela AD quanto pela psicanálise - que pretende compreender os processos de produção dos discursos a partir de pistas ou marcas não interpretáveis a olho nu, fato que exige uma teorização aliada ao procedimento de análise, de modo que o processo analítico e as premissas e postulados teóricos estão o tempo todo em diálogo. CI 05A

LUIZ MARCELO ROBALINHO FERRAZ Universidade Federal de Pernambuco

A MORTE NA AGENDA MIDIÁTICA: ANÁLISE DO DISCURSO JORNALÍSTICO SOBRE A DENGUE A proposta deste artigo é refletir sobre o forte apelo que a morte tem para a mídia ao tratar de doenças infecciosas. Tomamos como exemplo / 226 /


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a dengue, virose emergente que vem afetando mais os brasileiros, para discutir sobre os sentidos construídos pela imprensa pernambucana. As matérias publicadas no Jornal do Commercio em 2002, 2004, 2006 e 2008 constituem o corpus de nossa análise, totalizando 291 textos. Baseados na Análise do Discurso (AD), procuramos identificar o papel da memória discursiva e a presença do interdiscurso no material avaliado. Também relacionamos a AD com as teorias do jornalismo a fim de compreender como os sentidos sobre as doenças foram construídos desde séculos passados e assimilados pela imprensa na publicação das notícias. Ao relacionarmos o passado e o presente das epidemias, acreditamos que os sentidos emanados dos diferentes discursos – imagéticos e/ou textuais – contribuíram por tornar a morte uma experiência traumática na atualidade. Vivenciar a epidemia torna-se, então, motivo de fetiche por parte dos veículos de comunicação, que se utilizam da morte como um dos principais valores na publicação de notícias sobre doenças. Pelo levantamento dos núcleos semânticos, os óbitos por dengue foram o quarto tema mais tratado nos textos (12%). Porém, se levarmos em conta as manchetes de capa (70 no total), as mortes apareceram como o segundo assunto mais abordado (16 manchetes – ou 22,9% do total), perdendo apenas para as ações de combate (19 manchetes – ou 27,1%). Das 70 chamadas de capa, 19 foram manchete principal. Em cinco delas, a morte foi tratada (26,3%). O número de manchetes principais é semelhante às que abordaram o avanço da doença e as ações de combate (26,3% cada). Evidentemente que os percentuais encontrados não são suficientes para embasar o nosso argumento em relação aos discursos. Porém, são o ponto de partida para análise dos mesmos.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 05A

MARIA DE FÁTIMA SILVA AMARANTE Pontifícia Universidade Católica de Campinas

REPRESENTAÇÕES DE PODER EM DISCURSOS INSTITUCIONAIS E DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA ACERCA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Na contemporaneidade, a proliferação de discursos acerca da educação a distância apresenta aos lingüistas aplicados o desafio de analisar os efeitos de sentido que estes discursos propiciam e que são constituídos e constituem os sujeitos e seus discursos. Parte de um projeto de pesquisa maior em que utilizamos aporte teórico-metodológico da Análise de Discurso de Linha Francesa, nesta comunicação pretendemos apresentar resultados da análise, realizada à luz das condições de produção, da materialidade lingüística de discursos institucionais acerca de educação a distância. Conjugamos o conceito de discurso como “como práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam” (Foucault, 1969) ao de representação enquanto marca material, inscrição, traço cuja relação com conceitos é construída na prática histórico-social, tendo, portanto, caráter ativo e criativo. Este caráter gerativo se revela no jogo discursivo em que, por meio de práticas discursivas, travam-se batalhas que visam a impor significados particulares, cujos efeitos de sentido constituem as identidades dos sujeitos (cf. Hall, 1997). A representação é, portanto, em nosso trabalho, tomada como campo atravessado por relações de poder (cf. Silva, 1999). O corpus que iremos focalizar inclui discursos institucionais encontrados nos sites de duas instituições de ensino superior, do Ministério da Educação e da Associação Brasileira de Educação à Distância bem como discursos de divulgação científica encontrados em seis diferentes periódicos. Em termos

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

gerais, os resultados indicam que o recurso a estratégias de legitimação calcadas predominantemente em valores carismáticos (cf. Weber, 1978) configura a homogeneização dos discursos institucionais, e, portanto, não se encontra aí lugar para a plurissignificação. Em outras palavras, na arena do discurso institucional somente se encontra um sujeito idealizado, pois conflitos e contradições são silenciados pela recorrente promessa da excelência representada na inovação tecnológica. CI 06A

JAQUELINE BARRETO LÉ Universidade Federal do Rio de Janeiro

REFERIR E ARGUMENTAR: DUAS FUNÇÕES DOS PROCESSOS DE REFERENCIAÇÃO INDIRETA NO TWITTER Assumindo-se a idéia de que o uso de expressões referenciais na comunicação envolve não só estratégias cognitivo-discursivas de seleção de um referente ou objeto do discurso, mas também a função sociointeracional da argumentação desempenhada pelos interactantes, este trabalho objetiva apresentar algumas considerações teóricas mais recentes sobre a natureza multifuncional das expressões referenciais, considerando-se, sobretudo, o seu papel argumentativo. Para tanto, serão abordados os processos de referenciação indireta no gênero digital twitter, tendo em vista o seu caráter interativo e os mecanismos argumentativos presentes na ativação dos objetos do discurso. O estudo está teoricamente centrado na linha funcionalista de base textual-discursiva, seguindose as propostas fundamentadas por autores como Apothéloz (2003, 1995), Mondada e Dubois (1995), Marcuschi (2001), Koch e Marcuschi (1998), Koch (2001), Cavalcante (2003), entre outros. Para efeito da / 229 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

análise funcional que aqui se pretende realizar, serão considerados os processos de referenciação indireta ativados no discurso, especialmente os casos de anáforas associativas, de anáforas esquemáticas (ou anáfora indireta pronominal) e, ainda, os de nominalização. Esses três tipos serão estudados com vistas à elucidação de aspectos argumentativos do fenômeno da referência no twitter, levando-se em conta, portanto, o aspecto sociodiscursivo da comunicação e a grande rede de inferências presentes nesse gênero da web. Destaca-se, enfim, que as funções de “referir” e “argumentar” assumidas pelas expressões nominais são, necessariamente, atividades essenciais à construção intersubjetiva do(s) sentido(s) discursivo(s), uma vez que refletem as escolhas do falante enquanto produtor e, também, revelam a sua interação e expectativa diante dos sentidos a serem ativados pelo interlocutor. Em outras palavras, correspondem, ambas, a atividades de “negociação” do sentido nas instâncias das práticas comunicativas. CI 06A

JOELMA GOMES DOS SANTOS Universidade Federal de Pernambuco

CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO NARRATÁRIO: NOTAS SOBRE O DISCURSO LITERÁRIO NO ROMANCE É nosso objetivo investigar, por meio da análise proposta, como um estudo dirigido ao narratário – aquele para quem se dirige o discurso do narrador no romance –, dos sinais dirigidos a ele e de suas relações com as personagens, pode nos conduzir a uma caracterização mais vasta do romance enquanto gênero literário, e, fundamentalmente, da personagemnarrador. Compõe o corpus de análise desta pesquisa o romance angolano / 230 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

João Vêncio: os seus amores, de autoria do ficcionista José Luandino Vieira. O recorte que fizemos do objeto desta pesquisa direcionou-nos a teorias e estudos que funcionaram como instrumentos para a análise proposta. Sob a luz do pensamento de PRINCE (1973), BOURNEUF & OUELLET (1981), REUTER (1996), JOUVE (2002), et al, lançamos um olhar analítico sobre o referido elemento estrutural pretendendo entender seu grau de importância na composição do gênero narrativo supracitado. Como instrumental da narratologia e da Linguística, tomamos como ponto de partida, respectivamente, os pressupostos teóricos de SCHOLES & KELLOGG (1977) e BAKHTIN (1997). A partir deste estudo, foi possível observar como o narratário, do mesmo modo que seu narrador, deve ser considerado elemento ativo em uma narrativa; e de modo especial, componente influenciador na forma e no conteúdo de uma narrativa literária. Acreditamos, desse modo, contribuir para a ampliação dos estudos do já citado componente narrativo, além de juntar forças para apartar do pensamento dos leitores e estudiosos da narrativa literária, a ideia de passividade que vem servindo de rótulo a este elemento. CI 06A

JULIO CESAR FERNANDES VILA NOVA Universidade Federal de Pernambuco / Universidade Federal Rural de Pernambuco

O FREVO NO DISCURSO LITEROMUSICAL BRASILEIRO: ANÁLISE DISCURSIVA DO FREVO-CANÇÃO Este trabalho é uma amostra da tese de doutoramento intitulada Posicionamentos do Frevo no Discurso Literomusical Brasileiro, em andamento pelo PPGLetras-UFPE. O objetivo principal é a definição de / 231 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

posicionamentos do Frevo a partir da análise discursiva de letras do Frevo-canção, com base em categorias como cena enunciativa e ethos discursivo, conforme Maingueneau (2008). Os pressupostos teóricos incluem reflexões acerca de gêneros (Bakhtin 2000, Marcuschi 2005), situadas num quadro geral da análise do discurso (Maingueneau 2005, 2008) e especificamente do discurso literomusical (Costa 2001, 2007). Definimos a canção como gênero multissemiótico, de acordo com Costa (2007, p.25), a partir da noção de gêneros como “formas culturais e cognitivas de ação social corporificadas de modo particular na linguagem”, segundo Marcuschi (2005, p.18). Considerando que “os posicionamentos devem ser encarados como momentos de um percurso” (COSTA 2001, p.167), analisamos a elaboração da cenografia e a constituição do ethos discursivo em frevos-canção gravados nos anos de 1940 e 1950 , a fim de verificar como se dá, no plano discursivo, a inserção do Frevo no panorama da cultura brasileira nesse momento histórico. Observamos que o projeto enunciativo das canções desenvolve-se a partir de uma elaboração do ethos marcada pela presença de um fiador, que corresponde à voz enunciativa, investido de um caráter e uma corporalidade. Segundo Maingueneau, esse enfoque extrapola a noção de ethos retórico, com o poder de persuasão do discurso advindo, em grande parte, da identificação do leitor “com a movimentação de um corpo investido de valores historicamente especificados” (MAINGUENEAU 2005, p. 73).

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 06A

LEONARDO MOZDZENSKI Universidade Federal de Pernambuco

REPENSANDO A INTERTEXTUALIDADE SOB UM OLHAR INTERDISCIPLINAR: DISCURSO, RETÓRICA, COGNIÇÃO E MULTIMODALIDADE Muitos autores vêm sugerindo diversas formas de compreender a intertextualidade. Essas propostas, no entanto, falham ao discretizar o fenômeno, compartimentalizando-o em categorias constituídas por unidades distintas, estanques e bem delimitadas, tais como ‘citação’, ‘paráfrase’, ‘paródia’, etc. Grande parte dessas teorias também se restringe ao exame dos elementos textuais verbais e utiliza classificações dicotômicas para explicar a intertextualidade: implícita x explícita, mostrada x constitutiva, captação x subversão e assim por diante. Neste trabalho, apresento um modelo de análise que procura vencer as limitações dessas abordagens tradicionais por meio de um continuum tipológico associando a forma e a função das relações dialógicas instauradas entre textos multissemióticos. Como objeto de pesquisa, optei por um gênero midiático que constitui um dos principais meios de expressão cultural e estética da contemporaneidade, mas ainda pouco explorado pelos estudos linguísticos: o videoclipe. Selecionei para o corpus os seguintes vídeos musicais, que retomam direta ou indiretamente o filme “Metrópolis” (Fritz Lang, 1927): “Radio Ga Ga” (Queen), “Express yoursef” (Madonna) e “Not myself tonight” (Christina Aguilera). Para fundamentar esta investigação, lancei mão interdisciplinarmente dos aportes teóricometodológicos advindos dos estudos discursivos, retóricos, cognitivos e multimodais, sobretudo das contribuições de Marcuschi (2007), Bazerman / 233 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

(2006, 2007), Van Dijk (2008) e Kress & Van Leeuwen (1996, 2001), entre outros. Os resultados da análise permitem concluir que só é possível perceber de maneira integrada o modo como os textos dialogam entre si através da interseção de dois critérios: quanto à forma, em termos da explicitude do texto-fonte; e quanto à função, no que diz respeito ao posicionamento da voz do autor citante diante da voz do autor citado para construir seu próprio discurso. CI 07A

GLAUCY RAMOS FIGUEIREDO Universidade Federal de Pernambuco

O GÊNERO PROVERBIAL EM JORNAIS IMPRESSOS DO SÉCULO XIX: USOS E FUNÇÕES RETÓRICAS O presente artigo tem como principal objetivo identificar as funções retóricas dos provérbios na imprensa jornalística escrita. Tal estudo parte da compreensão de que o sentido veiculado pelos provérbios não se encontra aprisionado nas ditas ‘fórmulas fixas’, mas remete à própria situação retórica. Sob este enfoque, considera-se que os provérbios constituem tanto práticas retóricas, que organizam o conjunto de comportamentos, atitudes, valores sociais, morais, éticos e religiosos de um grupo de pessoas, quanto enunciados breves que veiculam significados complexos disfarçados sob a ‘moldura’ de formas simples, e que ora tem a força de uma ordem, ora sugerem um conselho, ou ainda, advertem, ensinam, julgam, orientam, condenam, etc.; ou seja, os provérbios organizam-se em torno das exigências retóricas da situação. O aporte teórico usado na pesquisa está amparado nos estudos sobre gêneros da Sócioretórica (Bazerman, 2006; Miller, 2009; Devitt, 2006), Análise do Discurso (Maingueneau, 2008), estudos de provérbios (Mieder, 2004, 1999; Obelkevich, 1997; Xatara & Succi, 2008; / 234 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

Maingueneau, 2008; Brunelli, 2006; Lysardo-dias, 2008); e conhecimentos da História Social da Linguagem (Burke, 1997). O corpus escolhido é formado por uma amostra de textos, que circulou na imprensa jornalística paraense, durante o período que compreende os anos 1820-1920. Os resultados obtidos com a análise dos textos dos jornais evidenciam que os provérbios não estão isolados da vida social, de modo que uma observação mais cuidadosa desse material pode explicar como a escolha de um provérbio específico revela aspectos da organização social e dos modos de linguagem de uma determinada sociedade. A análise do material coletado permite concluir, também, que os provérbios assumem diferentes funções retóricas, as quais são reguladas pela relação intrínseca entre o contexto de uso, a época de circulação dos provérbios e os seus usuários. CI 07A

LENISE DOS SANTOS SANTIAGO Universidade Federal do Rio Grande do Norte

VERSOS EM PROSA: A LINGUAGEM PROSAICA DA POESIA CABRALINA A comunicação com pretensão a ser apresentada no III Colóquio Regional ALED Brasil – Discurso e práticas sociais tem como referência a obra do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto. Com o título “Versos em prosa: a linguagem prosaica da poesia cabralina” abordaremos, a partir dos poemas Morte e vida Severina, O cão sem plumas e O rio, os questionamentos estéticos da linguagem provocados pela refinada tessitura poética, em que o poeta por uma solução estilística adota a linguagem prosaica como signo metafórico para dá voz ao rio. Nisto percebemos que a poesia cabralina se apresenta como um laboratório de linguagem e no trabalho de construção e reconstrução o / 235 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

poeta constrói um rigoroso jogo de imagens cinematográficas como se fosse uma provocação ao leitor para que este possa deglutir a palavra, a linguagem, com isto fazendo surgir o efeito sinestésico configurado através dos elementos: deserto, secura, rio e pedra. Percebendo, portanto, que na obra cabralina, o trabalho consciente de ordenação das palavras trás no seu teor uma intimidade de raiz com a linguagem prosaica, possivelmente advinda da origem do cordel pernambucano, não obstante é essa forma prosaica que configura o lirismo da realidade espessa dos ribeirinhos do Capibaribe. Essa característica prosaica com aspectos de desdobramentos da linguagem tem na obra cabralina um jogo de elementos metafóricos e metonímicos que refletem a censura ao fazer poético, daí a linguagem, como signo próprio da poesia, serve aos artifícios que o poeta elege para compor o discurso prosaico. Um discurso de descrição metalingüística em que a recriação da realidade espessa entre o homem e o rio constrói numa perspectiva metonímica, um projeto de unidade poética, buscando seu lirismo, embora contido, nas zonas de transmutação entre a imagem e a palavra. CI 07A

LUDMILLA LIMA VILAS BOAS Universidade Federal de Pernambuco

CONDIÇÕES DE LEITURA E PRODUÇÃO DE SENTIDOS DE UM ALUNO CEGO COM DOMÍNIO DO BRAILLE A PARTIR DE UM TEXTO ARGUMENTATIVO Objetivou-se verificar a compreensão textual de um aluno cego com domínio do Braille frente a um texto argumentativo; averiguar as relações

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

que ele estabece entre as informações textuais e seus conhecimentos prévios durante a produção de sentidos; e investigar as condições de leitura a que o aluno tinha acesso. Para tanto, foi realizada uma entrevista semi-estruturada e uma sessão de leitura com um aluno com cegueira adquirida, 20 anos de idade, estudante do 2º ano do ensino normal médio de uma escola pública da cidade do Recife. A entrevista teve como objetivo investigar quando e como se deu a aprendizagem do Braille; identificar a história de leitura e as interações com os objetos culturais, averiguar quais eram os materiais em Braille que o aluno tinha acesso e como se dava o compartilhamento da leitura em casa. No que se refere à sessão de compreensão, esta consistiu em responder a perguntas inferenciais sobre o texto: “O papel do cheiro”. Analiticamente, utilizouse a abordagem qualitativa, levando-se em consideração a natureza das inferências, adotando-se a classificação proposta por Marcuschi. Assim, foi possível verificar que houve, por parte do aluno, um investimento em destacar e relacionar coerentemente as informações textuais necessárias para a produção das inferências esperadas, fazendo com que gerasse muitas respostas adequadas, havendo um predomínio de inferências de base textual a partir de relações entre as informações textuais e os seus conhecimentos prévios. Fato este que pode estar relacionado a diversos fatores, dentre eles: os espaços de leitura que o aluno tem acesso e as diversas experiências com variados gêneros textuais: jornais, bíblia, poesias, gênero este que, o participante referiu gostar muito de ler e escrever. Portanto, percebeu-se, através desses elementos, que houve uma promoção de leitura extremamente produtiva e positiva, que parece ter refletido na sua atividade de compreensão textual.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 07A

MARIA CLARA CATANHO CAVALCANTI Universidade Federal de Pernambuco

INTERTEXTUALIDADE NA CHARGE IMPRESSA A charge tem sido um gênero bastante utilizado tanto em pesquisas científicas, quanto em atividades pedagógicas. Talvez isso se deva à criatividade imposta pela ironia presente no gênero, ao grau de informatividade que sua compreensão pressupõe – muitas vezes devido à intertextualidade presente texto – à reflexão crítica que proporciona e ao humor que estabelece. Nosso propósito, neste trabalho, é investigar a charge impressa analisando a intertextualidade como um de seus elementos característicos, além de mostrar como esse fenômeno é constituído no gênero em questão. Nesta investigação, analisamos charges impressas baseando-nos na noção de gênero concebida pela Escola Nova Retórica norte americana, mais especificamente segundo os trabalhos de Charles Bazerman e Carolyn Miller. O conceito de intertextualidade foi revisto conforme Bazerman (2006), Koch (2004), Bahktin (1992) e Kristeva (1974). Além disso, foi tema importante na construção do trabalho a análise do caráter visual da charge e a intericonicidade, segundo Pagliosa (2005) e Arbex (2000). Para tanto, cinco charges que melhor se adequaram foram selecionadas de um corpus composto por mais de trezentas charges coletadas entre junho e outubro de 2006, durante a copa do mundo e as eleições daquele ano. Tais textos foram publicados nos três maiores jornais de Pernambuco, Jornal do Commercio, Diario de Pernambuco e Folha de Pernambuco. Como resultado, percebemos que a intertextualidade em sentido amplo está presente em todos os textos e em todos os tempos. A relação intertextual subversiva, entretanto, é característica de alguns gêneros humorísticos. Esse recurso é amplamente utilizado nas charges. / 238 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

No entanto, nas charges também ocorre intertextualidade pela simples condensação dos assuntos. Por fim, percebemos como central na análise deste gênero o fato de que precisamos compreender a força ilocucionária. Esta, mais do que nunca, está nas entrelinhas, nos intertextos. CI 08A

CAROLINA MAGALHÃES DE PINHO FERREIRA Universidade Federal do Rio de Janeiro / Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

COMPREENDENDO PADRÕES INTERACIONAIS E COMUNICATIVOS ENTRE FAMÍLIAS OUVINTES E CRIANÇAS SURDAS NO GRUPO DE PAIS DA UFRJ O presente estudo objetiva estudar padrões interacionais e comunicativos entre algumas famílias ouvintes e crianças surdas atendidas no Ambulatório Bilíngue de Surdez do Curso de Fonoaudiologia da UFRJ. O trabalho baseia-se na Análise da Narrativa (Bastos, 2008) em um viés sóciointeracional, focalizando narrativas de mães de surdos e intervenções da fonoaudióloga mediadora do grupo focal (Gaskell, 2002). A metodologia utilizada é a de natureza qualitativa e interpretativa, através da análise de transcrições de interações face-a-face. O trabalho evidencia dificuldades de comunicação e habilidades desenvolvidas pelas mães para interagir com seus filhos surdos. As intervenções realizadas pela mediadora visam conscientizar as mães sobre as suas dificuldades e habilidades, para otimizar a qualidade da interação mãe/filho/família (Goldfeld, 2006; Peterson e McCabe, 2004). A análise revela intervenções em função de oferecer informações educativas, contar histórias que possibilitam coconstruir identidades coletivas para experiências partilhadas e gerenciar / 239 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

sentidos das histórias e das identidades emergentes nas performances para estabelecer coerência às experiências vivenciadas (Hsieh, 2004), mas não demonstra que as mães problematizem as dificuldades comunicativas existentes entre elas e seus filhos. Se evidenciam estratégias na atividade de mediação realizada pela fonoaudióloga, como: busca de reflexão das mães, com a retomada de suas narrativas através de perguntas; orientação sobre formas consideradas mais produtivas de interação para o desenvolvimento da narrativa através de prescrições e exemplos de narrativas pessoais da mediadora que demonstraram uma tentativa de legitimar a orientação dada através de sua experiência como mãe. O Grupo se mostrou um ambiente fértil para reformular e reavaliar relações e papéis sociais, favorecendo a reflexividade das mães quanto aos padrões interacionais vigentes e sobre possibilidades futuras de comunicação. CI 08A

DANIELA DA SILVEIRA MIRANDA Universidade de São Paulo

TRIBUNAL DO JÚRI: AS ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS PARA A CONSTRUÇÃO DO ETHOS Este estudo tem por objetivo analisar o encaminhamento da argumentação no discurso jurídico para conhecer as estratégias selecionadas por um advogado de defesa diante de uma sessão complexa e polêmica da instância do Tribunal do Júri brasileiro. O corpus constitui-se de uma peça em que um réu confesso, a despeito de haver praticado um homicídio, foi absolvido pelo júri. Esse julgamento foi publicado pelo jurista Lima (2006) que, dado o caráter inusitado do julgamento, interessou por transcrevê-lo e torná-lo público, visto ter sido prescrito o prazo para que houvesse esse / 240 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

impedimento. Devido ao fato de se tratar de um auditório heterogêneo, jurados acima de 21 anos, com diferentes perfis, idades, profissões, níveis sociais entre outros, é possível observar que tal argumentação parte de um orador (advogado de defesa) que presume esse auditório e tenta convencê-lo sobre uma determinada verdade, construída por meio do discurso, a fim de que essas representações elaboradas contribuam para a polarização de duas imagens: propagação de imagem positiva do réu confesso (já desgastada pela ação do crime), e negativação da imagem da vítima, numa tentativa de persuadir os jurados. Observamos que os procedimentos argumentativos adotados incluíram uma seleção lexical cuidadosa que mexesse com as paixões e a escolha de valores compatíveis aos dos jurados, para que o advogado conseguisse a inversão da imagem do réu e da vítima, já preestabelecidos culturalmente, a fim de causar empatia e conseguir a adesão dos jurados acerca do que ele pretendia: a absolvição do réu. Para os propósitos da pesquisa, foram adotados, como referencial teórico, estudos sobre o auditório, valores e estratégias argumentativas de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005 [1958]); reflexões a respeito do ethos, de acordo com Amossy (2008), Reboul (2004) e de paixões, a partir dos estudos de Aristóteles (2005 [s/d]). CI 08A

EMILIA MARIA FERREIRA GOMES Universidade Federal da Paraíba

POR ENTRE OS FIOS DA MEMÓRIA: HISTÓRIAS DE LEITURA/ESCRITA NO ÂMBITO ESCOLAR/ ACADÊMICO Neste trabalho objetivamos investigar qual o impacto das histórias de leitura e escrita de alunos egressos do ensino fundamental e médio na construção / 241 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

de conhecimentos/saberes no âmbito acadêmico. Metodologicamente, no início do ano letivo de 2009, apresentamos aos alunos de Práticas de Leitura e Produção Textual, componente curricular do curso de Agroecologia da Universidade Estadual da Paraíba, uma proposta de leitura a partir de um fragmento textual de “LIVRO- um encontro com Lygia Bojunga Nunes” (NUNES, 1988). Nas aulas seguintes, sugerimos que eles registrassem suas memórias de leitura, por escrito. Os dados que constituem nosso corpus é constituído por 25 textos produzidos pelos alunos. O pressuposto teórico que subsidia nossa análise alinha-se com a perspectiva dos Estudos Culturais, com as idéias de Chartier (1990) e Certeau (1994), por entenderem que uma história cultural pressupõe a investigação sobre as representações do mundo social enquanto forma de conhecer os modos como as realidades sociais são construídas, pensadas e dadas a conhecer. Os resultados da análise indiciam que os discursos sobre a história de práticas de leitura/ escrita dos alunos, decorrem tanto das representações dos sujeitos com base nas suas experiências pessoais em práticas cotidianas (com pais, irmãos, tios, primos, amigos etc), bem como daquelas partilhadas em redes de práticas na instituição escolar, no ensino fundamental e médio, onde se espera que a aprendizagem decorra do contato do aluno com textos exemplares, desconhecendo as práticas discursivas acadêmicas das quais emergem os textos que lêem e devem produzir. Do nosso ponto de vista, esse desconhecimento tem um forte impacto nas relações sociais no âmbito acadêmico, uma vez que promovem interações culturalmente marcadas pela diferença e pela desigualdade.

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 08A

ESTAEL APARECIDA PEREIRA Universidade Federal de Minas Gerais

O DISCURSO JURÍDICO COMO PRÁTICA SOCIAL O presente trabalho constitui-se de um estudo da argumentação estruturada na instância jurídica tendo como norteamento a produção de discursos sociais. Concebendo o direito como uma ciência dogmática que pressupõe a aceitação de certas crenças e valores como “verdade”, compreendemos a linguagem como uma prática discursiva que, ao ser utilizada por um determinado grupo, instaura intercâmbios e possibilita interações entre os sujeitos sociais. O corpus desta pesquisa é constituído por uma peça de reconhecimento de paternidade, na qual são analisados os textos denominados “contestação” com o objetivo de mostrar como a instância jurídica é representada socialmente. Sendo lugar da autoridade social responsável pela manutenção da ordem e da justiça, tal instância revela a constituição dos papéis sociais, a regulação exercida pela circulação de enunciados socialmente estabelecidos e a articulação discursiva de valores e crenças partilhadas coletivamente. Como referencial teórico-metodológico utilizamos o Tratado da Argumentação de Chaim Perelman, mais especificamente os conceitos de acordo, valor e topói, articulados às noções de prática e formação discursiva de Michel Foucault no sentido de analisar os processos de retomada dos valores sociais que fazem parte da configuração do discurso. Ao relacionar o direito com o social, o situamos no mundo da cultura, ou seja, no universo do ser humano pleno de representações que fundamentam a resolução de controvérsias que caracteriza a atuação do jurídico. Assim, torna-se impossível desvinculá-lo da linguagem / 243 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

e do sistema das representações coletivas ao “remodelar” o que está instituído, sobretudo no que se refere a direitos e deveres do cidadão. CI 09A

DORALICE PEREIRA DE SANTANA Faculdade Metropolitana da Grande Recife

POESIA POPULAR NORDESTINA: UMA ABORDAGEM PARA O TRATAMENTO DA RELAÇÃO FALA-ESCRITA A poesia popular, fenômeno cultural que tem origem no Nordeste do Brasil, é uma prática social, consagrada através dos tempos pela tradição e, quando vista como fenômeno de linguagem, representa um campo da atividade humana em que gêneros textuais são materializados na oralidade e na escrita. Neste trabalho, a poesia popular nordestina é tratada do ponto de vista da relação fala/escrita no continuum linguístico. Os gêneros aqui selecionados são o cordel, gênero escrito da poesia popular; o repente, gênero ontologicamente oral no contexto da cantoria de viola, e nesse contexto de produção reconhecido como cantoria; e a peleja virtual, gênero digital emergente que reúne elementos textuais dos dois primeiros. A peleja virtual constitui-se enquanto gênero à medida que os poetas cordelistas se reunem no espaço cibernético para produzir poesia, utilizando as mesmas estratégias de textualização de suas contrapartes, o cordel e a cantoria, fazendo uso, no entanto, de uma nova tecnologia, a internet, e tendo como modo de produção a escrita digital em lugar da oralidade e da escrita tradicional dos folhetos. Esses gêneros são analisados aqui, a partir de suas semelhanças, a priori, para serem distribuídos no continuum linguístico que se dá na relação fala-escrita.

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

Aspectos como oralidade e escrita, marcas de transmutação de gêneros antigos em novos gêneros textuais, bem como a análise de gêneros e o debate sobre o hipertexto são discutidos neste trabalho. CI 09A

MARCELO CLEMENTE SILVA Universidade Federal de Pernambuco

A CONSTRUÇÃO DA REFERÊNCIA EM EXPOSIÇÕES ORAIS ESCOLARES As formas que utilizamos para nos referirmos ao mundo são marcadas por uma “instabilidade constitutiva” já que são construídas ou negociadas intersubjetivamente, no ato da enunciação, através de práticas sociais situadas (MONDADA & DUBOIS, 2003). Assim, não haveria algo como uma descrição estável do mundo, mas um processo de categorização flexível e adaptativo responsável pela construção de “objetos de discurso” ou de uma negociação de “modelos públicos do mundo” (MONDADA & DUBOIS, 2003). Este trabalho objetiva analisar como se dá a apropriação do discurso didático por alunos numa situação de exposição oral em sala de aula. Mais especificamente, pretende descrever os recursos utilizados por eles no processo de construção da referência e da progressão textual. O corpus é formado por exposições orais transcritas de três alunos pertencentes à oitava série do ensino fundamental e pelos textos-base por eles utilizados. A análise mostra que a menor densidade lexical nos textos orais dos alunos se deve ao fato de, no processo de retomada, recorrerem demasiadamente à pronominalização e ao uso da dêixis textual ‘lá’. Este uso dificulta o processamento textual por parte do ouvinte devido à distância da anáfora de seu referente e à possibilidade de mais de um referente ser retomado por um mesmo pronome ou dêitico textual. Ao mesmo tempo, / 245 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

esta característica coincide com o distanciamento eventual que o aluno faz do texto-base, apropriando-se do discurso ao invés de reproduzi-lo ipsis verbis via leitura ou memorização. CI 09A

MARIA ABADIA DE SOUSA Universidade Federal de Goiás

PÂNICO MORAL: PRÁTICAS DISCURSIVAS E SOCIAIS NA COLETÂNEA DO VESTIBULAR DA UFG 2010/1 O presente trabalho foi resultado de um estudo investigativo de cunho qualitativo, com a finalidade de avaliar as marcas discursivas dos textos selecionados para a coletânea da prova de redação do Processo Seletivo Discente da Universidade Federal de Goiás 2010/1, cujo tema foi “Pânico moral: estratégia para promover a qualidade de vida ou para controlar a sociedade pelo medo?”. Por meio desta pesquisa, foram analisadas, na referida coletânea, as formações discursivas sobre pânico moral e verificadas as relações entre os trechos selecionados para a coletânea e a noção de poder entre o tema dado e o controle sobre o corpo. A linha de análise foi a AD, segundo as perspectivas pecheutianas de formação discursiva. Observou-se como as formações discursivas dos autores dos textos selecionados para a coletânea da prova de redação foram reforçadas pelos elaboradores do referido processo seletivo. Desse modo, é possível perceber que as formações discursivas presentes nos textos selecionados pela Banca Elaboradora da prova estabelecem um diálogo de poder pelo debate entre as formações discursivas e o destaque do envolvimento do corpo no medo coletivo.

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 09A

MICHELINE BARBOSA DA MOTTA Universidade Federal de Pernambuco

A ARGUMENTAÇÃO COMO OBJETO DE PESQUISA NO ENSINO DE CIENCIAS Neste artigo mapeamos a produção brasileira sobre argumentação no Ensino de Ciências, utilizando a ferramenta investigativa Estado da Arte, a partir da qual identificamos: (1)publicações sobre argumentação em periódicos nacionais; (2)pesquisas em que a argumentação é foco central das discussões; (3)aspectos referentes a conceitos de argumentação, relação objetivo-objeto-sujeito e achados e implicações para o ensino de ciências. Selecionamos nestes periódicos os artigos publicados entre 1999 e 2009 que faziam referência aos termos argumentação, argumentativo/a, argumento ou argumentatividade, para termos uma visão panorâmica do interesse sobre o tema. De modo geral, a produção sobre a temática é tímida podendo ser reflexo da pouca vivência de práticas argumentativas na escola. Observamos, entre outros aspectos, que há dois entendimentos sobre o conceito de argumentação: (i)o conceito que pode variar mediante o nível de interação discursiva entre professor-alunos na qual se busca estabelecer consenso entre os argumentos dos alunos e os científicos e (ii)a argumentação entendida como atividade social e intelectual, cujo confronto de opiniões busca a aprovação do Outro mediante justificativas, sem que haja a priori consenso em torno de um argumento. Identificamos que a argumentação oral é objeto de investigação em todos os artigos, ora isolada(54,5%) ora associada à modalidade escrita(18,2%) ou à linguagem não-verbal (27,3%). Das implicações para o ensino de ciências destacamos que a postura discursiva do professor influencia o engajamento dos alunos na produção argumentativa, assim cabe ao professor estimular a / 247 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

participação deles e respeitar o seu tempo de reflexão. A insegurança e a ansiedade no argumentar dos docentes parecem relacionar-se ao nível de complexidade de certos conteúdos ou inabilidade de conduzir debates. Nesse sentido, alguns autores apostam na formação continuada e destacam a necessidade de esforço conjunto entre formadores e professores para a criação de espaços de ensino-aprendizagem do argumentar desde as séries iniciais. CI 10A

ADRIANO DIAS DE ANDRADE Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco

AS METÁFORAS NO DISCURSO DA HISTÓRIA As metáforas constituem a linguagem e o pensamento humanos. Elas estão presentes em todos os discursos e desempenham operações cognitivas com funções as mais diversas. As metáforas são parte intrínseca da ciência, são elementos constituintes e indispensáveis ao discurso científico. Já a ciência, por sua vez, não pode mais ser vista como uma atividade dotada de objetivismo extremo e de total neutralidade. Pelo contrário, deve ser encarada como um “produto social”, que emerge de práticas sociais e de indivíduos históricos. Assim, se a ciência não é isenta de quem a faz e se o homem pensa e se comunica muitas vezes por meio de metáforas, este trabalho propõe-se à verificar a incidência e, principalmente, a natureza das metáforas no Discurso da História. Tomamos como alicerce teórico as contribuições da Semântica Cognitiva, que trata a metáfora como uma operação cognitivo-linguística essencial para nosso entendimento do mundo. Este trabalho parte das hipóteses de que: (i) as metáforas atuam na formação de padrões textuais na área investigada e (ii) constituem-se como elementos primordiais para a / 248 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

construção e compreensão do conhecimento científico. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho hipotético-dedutivo, na qual fazemos uma análise semântico-cognitiva do corpus. Adotamos o método da leitura, complementado em alguns momentos com o método da introspecção. A escolha do gênero textual analisado se justifica pelo fato de os artigos científicos em veiculação nas revistas especializadas se constituirem como um dos principais gêneros de divulgação científica entre pares de uma mesma área. Os artigos investigados são oriundos da Revista Brasileira de História. Nossas análises mostram o predomínio das funções estruturais e orientacionais, com destaque para esta última. Também observamos que as metáforas se servem para a progressão tópica, isto é, para a manutenção e refacção de referentes ao longo dos textos vistos. CI 10A

GUILHERME LIMA MOURA Universidade Federal de Pernambuco

FRAGILIDADES METAFÓRICAS EM MANUAIS DE INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO Neste artigo apresentamos alguns dos resultados obtidos em pesquisa de doutorado, que analisou conceitos presentes em manuais de Teoria Administrativa (TA), usados como referência primária nas construções dos significados básicos, junto aos alunos dos cursos de graduação das maiores e mais importantes Instituições de Ensino Superior brasileiras. Nosso interesse analítico essencial são os problemas oriundos do uso (e abuso) de metáforas no discurso científico, como apresentado em tais manuais. Nossa perspectiva teórica, contrapondo-se a uma concepção de significado na qual o discurso científico seria o espaço de uma literalidade plena, / 249 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

apoia-se em concepções semântico-pragmáticas no campo da Linguística e da Filosofia da Linguagem, para reconhecer a presença inevitável e não necessariamente danosa das metáforas no discurso científico. A partir daí, desenvolvemos uma discussão teórica sobre metáforas, entendendo-a como um fenômeno linguístico-cognitivo de natureza semânticopragmática, e dessa forma chegamos à provocativa pergunta: “haveria falhado a metáfora?”. Com base na realização de uma pesquisa bibliográfica, analisamos manuais de TA e confirmamos a hipótese de que a literatura de formação profissional em Administração, usada na educação dos futuros administradores por todo o país, é marcada por uma série de fragilidades conceituais básicas que, ao simplicizarem a complexidade dos fenômenos organizacionais, resultam em um empobrecimento conceitual pelo uso (ou abuso) metafórico. Por fim, concluímos no presente artigo que os manuais de TA analisados, pretendendo facilitar o entendimento dos conceitos, bem como tornar a leitura acessível e agradável, abrem mão da complexidade e da riqueza explicativa dos conceitos originalmente elaborados em pesquisas científicas no próprio campo da Administração, e terminam por traduzir-se no que aqui estamos chamando de uma Pop Science. CI 10A

MARIA BERNARDETE DA NÓBREGA Universidade Federal de Paraíba

ESTUDOS ENUNCIATIVOS SOBRE A ANÁLISE DO DISCURSO LITERÁRIO: A PALAVRA E A IMAGEM EM SUA DENSIDADE DIALÓGICA - GESTOS DE LEITURA Esta comunicação esboça estudos enunciativos sobre a análise do discurso literário em sua densidade dialógica entre a palavra e a imagem: / 250 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

Murilo Mendes e Juan Gris. A textualidade expõe ordenação plástica do discurso pela seleção de signos que indexaram o código pictórico. O poema super(ex)põe a arte de perceber, ver, ler para além da palavra. Os movimentos discursivos demarcam itinerários. Delimitam gestos de leitura que nos orientam para os postulados formulados por Bakhtin/ Volochinov(1981), Bakhtin (1981, 1997, 1998), Barros(1999), Brait(1994, 2001), Cumming(1998), Greimas(1976, 1979, 1981), Marcuschi(2008), Penrose(1983), Roudaut(1988), Székely(1972). A leitura se perfaz através de recortes, montagens - o poema, o quadro - adstritos à modulação explícita nos gestos produtivos do poeta. Na perspectiva do “superolhar”, o ver para além da palavra, foca a repercussão poética no processo de seleção e relação, de índices remissivos ao idioleto do poeta Murilo Mendes. Assim, no poema Juan Gris, o poeta articula as tensões entre o Dizer e o Fazer poético e pictórico. A poética de Murilo Mendes se configura como o estilo de contrastes pela construção e densidade dialógicas em que o signo pictural é absorvido pelo discurso poético. O Fazer essencializa o discurso da arte, na dimensão da didática da criação: construir e destruir. CI 10A

SUSANA CRISTINA DOS REIS Instituto Federal Farroupilha

PRÁTICAS DISCURSIVAS DE PUBLICAÇÃO ACADÊMICA NA ÁREA DE COMPUTER ASSISTED LANGUAGE LEARNING (CALL) Pesquisas na área de ensino e aprendizagem de línguas mediados por computador têm discutido a necessidade do estabelecimento da agenda de pesquisa nessa área. Devido a isso, este trabalho descreve a prática / 251 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

discursiva de pesquisa na área de Computer Assisted Language Learning (CALL) e os discursos que emergem dessa área de investigação com relação a o que os pesquisadores dessa área concebem por linguagem e pelos processos de ensino e de aprendizagem de inglês como língua estrangeira. Para tanto, coletei 123 relatos de pesquisa em periódicos internacionais específicos da área e 14 relatos em periódicos brasileiros sobre a temática de ensino de inglês mediado por computador, os quais foram publicados entre os anos de 2005 a 2009. Na análise textual, analisei o conteúdo dos artigos acadêmicos selecionados, a metodologia e os resultados. Em seguida, elaborei entrevistas via correio eletrônico com os autores dos artigos, para confirmar ou refutar dados obtidos na análise textual. A análise textual e contextual está ancorada teoricamente pela Análise de Gêneros e pela Análise Crítica do Discurso, as quais ajudaram a descrever os procedimentos teórico-metodológicos adotados nessa área de investigação. Os resultados sugerem uma área orientada pela investigação de quatro eixos temáticos, os quais são: a linguagem, os participantes, as tecnologias e a pedagogia online. Os discursos de investigação em CALL sugerem a existência de uma área com interesse na análise de práticas tais como ensinar, ler e escrever, falar e se comunicar virtualmente, que são realizadas na Internet. CI 11A

FABIANA DE OLIVEIRA Universidade Federal de Alagoas

UMA LEITURA SÓCIO-INTERACIONISTA DO GÊNERO DE TEXTO PIADA NA ORALIDADE Inscrita no quadro teórico sócio-interacionista, esta pesquisa utiliza o modelo de análise de gênero de texto, proposto pelo grupo de / 252 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

pesquisadores de Genebra, especificamente Bronckart (2003), num corpus constituído por dois eventos orais que contêm narrações de piadas. Dessa forma, tem como objetivo analisar o funcionamento interacional e a organização textual da piada por meio dos parâmetros materiais de ação de linguagem, da infra-estrutura textual (tipos de discurso e sequencias) e dos mecanismos de textualização (conexão, coesão nominal e verbal) e enunciativos (vozes enunciativas e modalizações). O corpus deste trabalho é constituído por uma gravação, em fita cassete, com a duração de uma hora e vinte minutos de piadas, dividida em dois eventos comunicativos. As análises revelam que esse gênero de texto é composto pelo tipo de discurso relato interativo e tem as sequências narrativas como sua forma de planificação; os mecanismos de coesão nominal demonstram que a cadeia anafórica pode ser responsável pelo acionamento do desfecho risível do texto; os mecanismos de coesão verbal apresentam função de contraste entre os processos verbais; e os mecanismos enunciativos mostram-se pouco expressivos no gênero em questão. CI 11A

KARLENE DO SOCORRO DA ROCHA CAMPOS Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

GÊNEROS TEXTUAIS DIGITAIS EM EAD E MODELO BIDIMENSIONAL DE ANÁLISE: O CASO DO FÓRUM Neste trabalho, tivemos por objetivo geral verificar se é possível analisar o fórum educacional digital usando o modelo bidimensional para análise de documentos e gêneros da WEB, proposto por Askehave e Nielsen (2004), que leva em consideração não só o modo de leitura de tais gêneros, em / 253 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

uma perspectiva tradicional, de linearidade, como também o modo de navegação, em uma perspectiva hipertextual, verificando o papel dos links dos propósitos comunicativos. Askehave e Nielsen (2004) analisaram especificamente uma homepage corporativa; neste trabalho, em que fizemos um recorte de uma pesquisa mais ampla (que trata da organização retórica da informação em gêneros textuais digitais), nosso objeto de análise é o gênero fórum. Para a constituição do corpus, utilizamos fóruns extraídos de disciplinas semipresenciais do curso de Letras da PUC-SP. Como se trata de um gênero relativamente novo, também levantamos informações junto aos usuários do gênero, isto é, alunos e professores, a respeito do modo como o compreendem, conforme sugere Bhatia (2003), que considera de fundamental importância obter informações dos escritores e leitores de um gênero para sua análise. Para isso, utilizamos o instrumento questionário, que foi aplicado a um grupo de 15 alunos e 4 professores. No que se refere aos resultados, foi possível verificar, entre outros aspectos, que os links são introduzidos como componentes funcionais: não apenas permitem que o aluno avance, mas também fazem a conexão de modo significativo entre porções de texto ou itens (texto A e texto B), isto é, servem para construir uma relação semântica entre um e outro, do mesmo modo como ocorre com o gênero homepage. Em relação ao aspecto mencionado, pudemos concluir que o modelo bidimensional de análise de documentos e gêneros da WEB é adequado para a análise do gênero fórum educacional digital.

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 11A

MERCEDES FÁTIMA DE CANHA CRESCITELLI; ANDRÉA PISAN SOARES AGUIAR Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

REENGENHARIA TEXTUAL: O ALCANCE DAS PRÁTICAS INTERVENTIVAS DO COPIDESQUE No que diz respeito ao trabalho com textos, é importante a preocupação – muitas vezes única –, com aspectos relacionados à gramática e à ortografia; no entanto, o tratamento textual realizado pelo copidesque, a nosso ver, não se restringe a adequar o texto às regras de padronização ou linguísticas. Pensando nesse aspecto, nosso objetivo é refletir acerca da atuação desse profissional em relação às suas práticas interventivas. Buscamos em Hammer (1995), a noção de reengenharia e a aplicamos ao tratamento textual realizado pelo copidesque. A fim de procedermos à investigação proposta, baseamo-nos nas concepções de Swales (1990, 2009), Bhatia (1993) e Bazerman (2006a, 2006b, 2007) sobre movimentos retóricos, análise de gêneros e escrita como agência, respectivamente, e em Marcuschi (2007), que propõe o modelo de operações textuais-discursivas de retextualização, que adaptamos para este estudo. Nosso corpus é composto por textos pertencentes ao gênero introdução de dissertação de mestrado, selecionados de forma aleatória e pertencentes a áreas de conhecimento distintas. Consideramos a versão original do texto, bem como a versão póstratamento textual, de forma a procedermos à análise comparativa visando identificar os movimentos retóricos e as operações textuais-discursivas em ambas as versões. Os resultados obtidos sugerem que os conhecimentos gramaticais e linguísticos apenas não bastam para munir esse profissional do instrumental necessário para realizar intervenções que tornem o texto / 255 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

efetivamente claro. Nesse sentido, é que vimos postulando que os estudos de gênero constituem um repertório importante para que o trabalho do copidesque seja aprimorado e valorizado. CI 11A

NEWTON DE CASTRO PONTES Universidade Federal de Pernambuco

O CONTO NOS LIMITES DA FORMA: UMA TRAVESSIA DO MARAVILHOSO AO MUNDANO, DO PASSADO AO PRESENTE E DO SUBLIME AO GROTESCO NO CONTO MARAVILHOSO, LITERÁRIO E MODERNO Este ensaio tem como objetivo traçar breve percurso teórico sobre as diversas variações formais pelas quais atravessou o conto (entendido como gênero textual), analisando estas formas a partir de um ponto de vista histórico-filosófico que alia a experimentação estética aos propósitos éticos do conto como gênero, levando-se especialmente em conta suas relações com outros gêneros literários (principalmente o romance) e com a dimensão social que o conto plasma em sua estrutura arquitetônica. Para tanto, retomaremos as diversas tentativas de teorização do conto realizadas por Vladimir Propp, Edgar Allan Poe, Julio Cortázar, Ricardo Piglia, Nádia Battella Gotlib, Arturo Gouveia e Carlos Pacheco, que ora tentaram compreender o conto a partir de sua forma, ora de sua ética configuradora. Sentimos, assim, a necessidade de considerar uma tipologia do conto que, não normativa, seja capaz de levar em conta as diversas variantes formais do conto, resultantes de sua configuração histórica e portadoras de distintos significados − tentamos, portanto, aproximarmo-nos de uma “semântica / 256 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

da forma”. Neste percurso, consideramos as particularidades do que denominaremos como conto maravilhoso (ligado ao conceito de passado absoluto), conto literário (em que o maravilhoso cede lugar ao grotesco, e o passado é substituído por um presente de caráter inacabado) e o conto literário moderno (em que o enredo é destronado e trabalha-se, acima dos outros elementos, a linguagem em sua própria problemática). CI 12A

FERNANDO AFONSO DE ALMEIDA Universidade Federal Fluminense

REPRESENTAÇÕES DA COMUNICAÇÃO PELO DISCURSO DO HUMOR Pretende-se primeiramente salientar a importância do humor e do riso, a partir da referência a autores como Freud, Bergson, Bakhtin, que os consideram como uma parcela fundadora da nossa “humanidade”, capaz de relativizar o peso dos valores ligados à ordem social (produtividade, intemporalidade, razão) e de confundir os contornos do certo e do errado, do positivo e do negativo, do grave e do irrisório, do fundamental e do acessório. O humor estimula o distanciamento da consciência, abrindo caminho para a auto-reflexão e para o questionamento dos limites. Procura-se, em segundo lugar, verificar em relatos humorísticos pertencentes a diversos gêneros (piadas, história em quadrinhos, conversa etc.) a recorrência do tema “comunicação” enquanto cena explorada humoristicamente, isto é, enquanto conteúdo representado. Levandose em conta o fato de que o fenômeno humorístico se organiza em torno de um comportamento inesperado, de um desvio – cujo valor pode ser não apenas negativo, mas também positivo -, examina-se, com base em ferramentas fornecidas pela pragmática e pela sociolinguística / 257 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

interacional, a situação de comunicação e o desempenho dos personagens participantes das interações representadas, buscando evidenciar o tipo de elemento ou aspecto comunicacional sobre o qual se apoia o desvio (ou transgressão), constitutivo de toda cena humorística. Será proposto, em seguida, o agrupamento de cenas representadas com base em conceitos oriundos da linguística, da pragmática e da análise da interação (cálculo interpretativo, encadeamento, valor ilocutório, inferência, implicitação, pressuposição, polidez, enquadre, esquema de conhecimento, alinhamento), que se revelam operacionais para a análise dos desvios presentes na cena humorística. CI 12A

IRANEIDE SANTOS COSTA Universidade Federal da Bahia

A SOCIEDADE E OS PAPÉIS SEXUAIS: UMA RELAÇÃO PERPASSADA POR DISCURSOS Este trabalho ancora-se teórico e metodologicamente na Análise do Discurso (linha Francesa), eleita por trabalhar com as relações do sujeito com a língua, tomada essa como materialização discursiva, e por preocupar-se com o homem falando. Propõe-se a analisar dois cartuns – Diga quem você é e direi o que será o último a saber; Essas coisas que sempre acontecem nas melhores famílias, ambos escritos por Maitena – e a investigar como se instauram discursos sobre as identidades genérico/ sexuais na sociedade. Nessa linha de trabalho, a identidade é concebida como construto histórico-discursivo, impregnado de traços identitários variáveis, que coexistem em contradição. Recorre-se também aos postulados foucaultianos, que permitem verificar como as relações entre poder/saber definem as diferenças entre normal e anormal, procurando / 258 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

estabelecer o papel da história e da memória na constituição do sujeito e do sentido, bem como a forma pela qual a relação saber/poder aí se instaura. A partir daí, discute-se o funcionamento da relação interdiscursointradicurso e seus efeitos na materialidade discursiva. Constata-se que os textos examinados formam uma espécie de arquivo, em que relações intertextuais e interdiscursivas delineiam-se e as diversas posições-sujeito se materializam, ora se repetindo, ora se renovando, como se percebe no percurso temático de reformulação parafrástica no que se refere tanto a qual é o comportamento sexual quanto a quem é o sujeito mãe tido como normal. Verifica-se que as regularidades discursivas apresentadas na dispersão dos enunciados que compõem este arquivo reafirmam/ recuperam estereótipos tradicionais de gênero: encerram-se discursos que instituem/organizam as relações, naturalizando-se, num construto da própria sociedade, o que é cultural, categorizando indivíduos em função de atributos considerados no já-dito como “normais” e “adequados”, rejeitando os que aí não se enquadram. CI 12A

IVEUTA DE ABREU LOPES Universidade Federal do Piauí / Universidade Estadual do Piauí

OS DISCURSOS DE LETRAMENTO NUMA COMUNIDADE Vivemos numa sociedade permeada pela escrita tendo em vista as práticas sociais às quis nos expomos, diariamente, quer tenhamos o pleno domínio da leitura e da escrita ou não. Ao tempo em que nos utilizamos desse recurso nas nossas interações diárias, temos uma concepção formada sobre essa tecnologia e sobre aqueles que dela detêm o pleno domínio, especialmente as pessoas que a adquiriram em contextos / 259 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

formais de aprendizagem. Partindo destas observações, objetivamos, neste estudo, verificar o que revela o discurso de sujeitos integrantes de uma comunidade situada na periferia da cidade de Teresina, capital do Estado do Piauí, neste sentido. O estudo tem como aporte teórico a Análise de Discurso Crítica, seguindo a linha proposta por Norman Fairclough. Os dados da investigação que foram coletados a partir de uma pesquisa etnográfica. Os resultados do estudo sinalizam para um discurso que avalia positivamente aqueles que detêm o domínio da escrita, adquirida por meio de instrução formal. Observa-se, ainda, um discurso de reconhecimento da escrita como forma de enfrentamento da ordem estabelecida e da ordem que se deseja estabelecer. CI 12A

JORGE FRANÇA DE FARIAS JÚNIOR Universidade Federal do Oeste do Pará

PRÁTICAS DISCURSIVAS E IDENTIDADE SOCIAL: CONSTRUINDO IMAGENS DA CULTURA POPULAR Este estudo investiga, por meio dos processos de referenciação, as práticas discursivas e a emergência da identidade social, especificamente, aqui, a partir do discurso da mídia ao representar a voz da cultura popular. De acordo com Ernesto Laclau (1991:146), a sociedade é entendida como um vasto tecido argumentativo no qual os seres humanos constroem suas próprias realidades. Afirmar que os discursos formam os objetos tratáveis ou, como enfatiza Laclau, que não se pode falar em realidade objetiva sem se questionar como esta se constrói dentro de uma prática discursiva, implica entender a linguagem em sua dimensão linguística e extralinguística. Metodologicamente, observo os discursos por meio / 260 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

de entrevistas e textos coletados da Internet, considerando os aspectos verbais e não-verbais que compõem um texto, por estes últimos significarem ou, melhor dizendo, reforçarem o sentido da mensagem de modo mais perceptível no texto como um todo (cf. Corrêa, 2002). A partir da análise discursiva estabelecida nesta pesquisa, constata-se que os sentidos estabelecidos, em grande parte, pelas práticas discursivas da mídia, neste caso específico, têm caráter ideológico, à medida que tendem a reforçar conhecimentos e valores que contribuíram, de alguma forma, para a construção de uma identidade estereotipada do que vem a ser a imagem social que se tem sobre cultura popular. CI 12A

HERIMATÉIA RAMOS DE OLIVEIRA PONTES Universidade Federal do Piauí

RETÓRICA POLÍTICA E CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA: ANÁLISE DOS TOPOI E FALÁCIAS NO DISCURSO POLÍTICO SOBRE CORRUPÇÃO Considerando a construção discursiva do ‘nós’ e ‘dos outros’ como fundamento básico dos discursos sobre identidade e diferença nas mais variadas práticas sociais, este trabalho se propõe a analisar os principais esquemas de argumentação, em termos dos topoi e falácias típicas empregadas por políticos profissionais em seus discursos públicos sobre corrupção, para justificar suas afirmações e/ou alegações no uso da macroestratégia retórica da apresentação positiva de si e do grupo de aliados (identidade e consenso), bem como da apresentação negativa do grupo de oponentes (diferença e conflito). Para viabilizar esta análise, tomamos como referencial teórico-metodológico a abordagem histórico-discursiva de Análise Crítica do Discurso, cujo foco está voltado para o estudo dos / 261 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

discursos políticos e discriminatórios e para a promoção da interface entre discurso, sociedade, identidade e cultura (cf. Wodak et al 1999, Reisigl e Wodak 2001, 2003, 2008, de Cillia e Wodak 2006, dentre outros). Os dados para esta análise consistem em amostras de discursos políticos sobre o caso mensalão (2005), em que vários parlamentares foram implicados em denúncias de corrupção política. A análise dos esquemas de argumentação aponta para a questão atual da crise na representação política em que um tipo de identidade coletiva negativa do grupo de políticos é naturalizada, e para o abuso de poder no exercício de funções públicas representativas no cenário político e cultural brasileiro. CI 13A

LÍCIA MARIA BAHIA HEINE Universidade Federal da Bahia

UMA QUARTA FASE DA LINGUÍSTICA TEXTUAL? Como vem se observando, em finais da década de 90 do século xx, a linguística textual tem se voltado para questões que podem conduzi-la à sua quarta fase. Ressalta-se que o cadinho que vem impulsionando essas inquirições que evidenciam um avanço singular da linguística textual em direção a um quarto momento, foi a presença do filósofo Bakhtin, através de suas pesquisas voltadas sobremaneira para a realidade discursiva dos seres humanos, tendo como alicerce teórico as reflexões sócio-históricas que, por sua vez, poderão vir a nortear uma ampliação significativa na compreensão da coerência textual, haja vista a necessidade de considerar, como um dos fatores essenciais à interpretação de um texto, a ideologia − “as crenças de um grupo e seus membros” (Van Dijk 2008, p. 14-15).

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 13A

NETÍLIA SILVA DOS ANJOS SEIXAS Universidade Federal do Pará

JORNALISMO E IRONIA: PRODUÇÃO DE SENTIDO EM JORNAIS IMPRESSOS NO BRASIL Este artigo se constitui em um recorte de tese de doutorado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE sob orientação do professor Luiz Antônio Marcuschi e Virgínia Leal e busca discutir como a ironia se configura nos jornais impressos brasileiros, considerando a importância dos meios noticiosos na sociedade contemporânea como proponentes de sentidos. Embora a tese tenha tido um escopo mais amplo, neste artigo vamos nos limitar a identificar o que costuma ser motivo de ironia para a enunciação jornalística impressa, de que maneira ela é proposta e qual o principal papel que desempenha. Fizeram parte do corpus de análise jornais de cada região do país - Folha de S. Paulo (SP), O Globo (RJ), Zero Hora (RS) Jornal do Commercio (PE) e O Liberal (PA) publicados em novembro de 2002, dos quais foram lidas 10 edições de cada um, totalizando 50 exemplares. Para discutir a diversidade de propostas de ironia no meio impresso, o estudo recorreu a uma perspectiva discursiva, com auxílio das contribuições pragmáticas e enunciativas, sendo a ironia entendida principalmente – mas não só – como um efeito de sentido crítico e derrisório. A pesquisa confirmou a hipótese de que, nesse meio, a ironia desempenha uma função crítica, não estando a serviço do riso, como preconizam alguns estudos clássicos sobre o assunto, mesmo quando faz rir. No jornalismo impresso, a ironia aparece em assuntos diversos e sob variadas formas, de maneira próxima a usos cotidianos.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 13A

RENATO DE MELLO Universidade Federal de Minas Gerais

CONTRATO ENUNCIATIVO E LEITURA SEMÂNTICA E CRÍTICA EM “O AÇUCAR”, DE FERREIRA GULLAR A partir de alguns conceitos tratados, desenvolvidos pela Análise do Discurso, este texto pretende propor uma leitura semântico-discursiva do poema “O açúcar”, de Ferreira Gullar, buscando nele identificar, (1981), quatro aspectos (dois intradiscursivos e dois interdiscursivos) do “contrato enunciativo”, além de três aspectos de leitura semântica e três de leitura crítica. Veremos que as formações discursivas do poema de Gullar se relacionam interdiscursivamente com outros discursos específicos e se organizam intradiscursivamente a partir do conjunto de percursos semânticos temáticos ou figurativos também específicos. Propomos mostrar que o poema em tela se insere (e interage) em um dado universo discursivo no qual dialoga com outros discursos temáticos afins. Esta interação é constitutiva, visto que é próprio, é condição sine qua non que todo texto se relacione como outros textos, seja por adesão, por semelhança ou por oposição. Para analisarmos/interpretarmos este poema, nos valeremos de alguns textos teóricos de Maingueneau, Fiorin e Marcuschi, dentre outros, sobre os pontos teóricos acima listados, para mostrarmos as especificidades do poema de Gullar, visto aqui como parte de mais um discurso entre outros, e também, como um texto único, publicado em um tempo e em um espaço condicionantes da construção dos sentidos possíveis.

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 14A

ELIANE MARQUEZ DA FONSECA FERNANDES Universidade Federal de Goiás

GÊNEROS ACADÊMICOS EM CURSOS DE LETRAS O objetivo principal de nossa apresentação é avaliar o aprendizado de gêneros acadêmicos em cursos universitários, especificamente no curso de Letras. O gênero “Artigo Científico” tem sido trabalhado em processo de construção durante um semestre com alunos do sexto período na disciplina “Texto e Discurso” de modo que os acadêmicos desenvolvem estudos acerca do texto e dos gêneros discursivos e constroem no decorrer do semestre um artigo científico. O processo se dá em três etapas com um trabalhos de reescrita e entrevistas com o professor, o que permite o amadurtecimento das concepções da temática escolhida, bem como das exigências organizacionais e teóricas debatidas em classe. O projeto já está em andamento há dois anos e os resultados têm sido animadores, pois vários alunos têm conseguido publicar seus textos nos poucos periódicos que aceitam textos de alunos de graduação. Tomamos como pressupostos teóricos as concepções de interação, dialogismo e gêneros conforme Bakhtin (1995 e 2000), os pressupostos acerca de texto, retextualização e gêneros segundo Marcuschi (2001 e 2008), propostas sobre textualidade conforme Koch (1989, 1991, 1992, 2000 e 2002). Consideramos que o texto é uma unidade de sentido que aceita modificações constantyes com a finalidade de se obter mais clareza. As condições de processamento em etapas contribui para que o aluno-autor assuma, intercaladamente, o papel de leitor do próprio texto, possibilitando o gerenciamento das ideias com ou sem a mediação do professor. Essa estratégia permite uma ação dialógica do aluno consigo mesmo, o que o conduz a uma percepção / 265 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

mais aguda de si mesmo como sujeito histórico e social, integrado numa cultura letrada e científica. CI 14A

GLÍCIA MARILI AZEVEDO DE MEDEIROS TINOCO  Universidade Federal do Rio Grande do Norte

PROCESSOS DISCURSIVO-TEXTUAIS DO GÊNERO VERBETE EM CIÊNCIAS E TECNOLOGIA Partindo do pressuposto de que a leitura e a escrita de gêneros de divulgação científica podem favorecer a construção de um significativo lastro conceitual, desenvolvemos com os ingressantes no bacharelado de Ciências e Tecnologia (C&T) o gênero “verbete”, visando à composição de um glossário na área de C&T para ser disponibilizado no site da Escola de Ciências e Tecnologia da UFRN a partir do segundo semestre de 2010. A metodologia implementada nesse significativo trabalho de (e com a) linguagem requereu a articulação de ações de docentes de diferentes áreas de conhecimento (Práticas de Leitura e Escrita; Ciência, Tecnologia e Sociedade; e Informática) e discentes, bem como o compartilhamento de responsabilidades, um contínuo processo de ação-reflexão e uma certa flexibilidade para que, no percurso, ações fossem redefinidas em função das tarefas executadas com êxito. Essa produção foi dividida em quatro etapas ao longo de um semestre. Nosso recorte para a presente comunicação será o exame dos processos discursivotextuais desse gênero. Nesse sentido, a análise aqui proposta centrará seu foco nos movimentos de (re)elaboração do verbete, procurando captar a progressiva apropriação dos alunos-autores acerca das competências discursivo-textuais, especificamente no que se refere ao conteúdo temático,

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

à estrutura composicional e aos aspectos estilísticos do gênero em questão. Fundamentam nossa análise os trabalhos de Dionísio (2002), Motta-Roth (2006), Rojo e Lastoria (2007), Oliveira e Kleiman (2008), Tinoco (2008). CI 14A

MARIA VANICE LACERDA DE MELO BARBOSA Universidade Federal da Paraíba

O GÊNERO PROPAGANDA NA SALA DE AULA Ao entender e analisar de forma crítica um anúncio publicitário, o consumidor tem condições de avaliar criticamente o que está sendo divulgado e, ainda, é capaz de apreender as ideologias subtendidas pelo produtor, pela empresa ou pelo artigo comercializado. Tendo em vista que o gênero textual propaganda é um texto de fácil acesso, mesmo às camadas mais inferiores da sociedade, este trabalho objetiva contribuir com uma alternativa de aplicação e estudo dinâmico voltado para o ensino de língua materna na sala de aula. Como aporte teórico, pautamo-nos nos estudos de Bakhtin (2000), Meurer & Motta-Roth (2002) e Marcuschi (2008) por trabalharem os gêneros textuais, seu ensino e práticas discursivas. Para exemplificar como a propaganda tem um poder construtivo no que diz respeito à consciência crítica do cidadão no ato de escolher e comprar determinado produto, fizemos a análise de uma propaganda direcionada mais especificamente a um público infantil e infanto-juvenil, coletada na Revista Semanal VEJA da Editora Abril, de 09 de janeiro de 2008, edição 2042, ano 41, nº. 1, p. 23. A peça analisada foi produzida com muita criatividade, através da linguagem verbal e não verbal. Arranjos e artifícios foram utilizados para atingir e sensibilizar o consumidor a comprar o Franfilé Bob´s e, consequentemente, ser cliente da Lanchonete Bob´s. / 267 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

Na sala de aula, o estudo desse gênero textual é muito importante, pois, além de ser ferramenta para estudos de gramática, leitura e produção textual, contribui para formar leitores proficientes e críticos e, ainda, fornece subsídios para compor o universo habitual dos estudantes, tendo em vista que diariamente são expostos a um turbilhão de propagandas e é uma valiosa fonte de debates e estudos que fortalecem a formação do cidadão consciente e construtor da sua própria história. CI 14A

MAURICIO CANUTO Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

A FORMAÇÃO CRÍTICO-COLABORATIVA DO FORMADOR-PESQUISADOR NO SUBPROJETO: LEITURA E ESCRITA NAS DIFERENTES ÁREAS (LEDA) Esta apresentação discute a formação de pesquisadores e formadores no Programa de extensão universitária e aponta como no decorrer do processo ele se tornou um lócus de formação. O Subprojeto Leitura e Escrita nas Diferentes Áreas - LEDA, inserido no Programa Ação Cidadã – PAC -, tem como objetivo desenvolver, em escolas da rede oficial de ensino, contextos para a discussão e transformação das práticas com leitura e escrita nas diversas áreas do conhecimento. Desde o início, com o Projeto Leitura nas Diferentes Áreas –LDA- , era objetivo (Magalhães, Liberali, Lessa e Fidalgo, 2004) criar contextos de formação em que leitura e escrita embasassem a aprendizagem de conteúdos específicos de cada disciplina e a apropriação da linguagem para a constituição de alunos cidadãos. Embasado na Teoria da Atividade Sócio-Histórico-Cultural / 268 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

(TASHC), conforme discussões elaboradas por Vygotsky (1930/2008, 1934/2008), por Leontiev (1977, 1978, 1983, 2004) e por Engeström (1987, 1999a, 1999b, 1999c) sobre ensino-aprendizagem e desenvolvimento. Em termos metodológicos, está apoiada nos pressupostos da Pesquisa Crítica de Colaboração – PCCol, segundo Magalhães (2004). Com base nos dados coletados por meio de vídeo-gravações, nos relatos transcritos e na própria produção de unidade didática (no prelo, Canuto) nos projetos de formação que desenvolvemos, este texto examina como se constituiu um contexto para aprendizagem e desenvolvimento de formadores e pesquisadores. CI 15A

MARIA DAS GRAÇAS DIAS PEREIRA; CINARA MONTEIRO CORTEZ Rio Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

NARRATIVAS COMO PRÁTICAS DISCURSIVAS E PROFISSIONAIS DE AGENTES COMUNITÁRIAS DE SAÚDE DO INSTITUTO VILA ROSÁRIO NO TRATAMENTO DA TUBERCULOSE Neste estudo, focalizamos narrativas que emergem como ‘fala sobre o trabalho’ e apontam para o contexto das práticas profissionais de agentes comunitárias bem como para orientações do Diretor do Instituto sobre ‘como fazer o trabalho’, em reuniões do Instituto Vila Rosário. O objetivo consiste em mostrar como as participações indicam posturas diferenciadas sobre o trabalho e remetem a valores e responsabilidades, na tensão entre os enquadres institucional, profissional e o pessoal. A pesquisa é de natureza qualitativa, no âmbito da análise da narrativa / 269 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

como práticas, de cunho interacional e seqüencial, em interface com a abordagem de enquadres interacionais e a Lingüística Aplicada. O estudo vincula-se a projetos de pesquisa (PUC-Rio) junto ao Instituto Vila Rosário, que tem por finalidade a prevenção e educação no combate à tuberculose em Duque de Caxias – Rio de Janeiro. Os dados para análise, gravados em áudio e transcritos mediante convenções da Análise da Conversação, são segmentos de reuniões realizadas no Instituto em 2009.2. A análise dos dados mostra que, no enquadre reunião, há novos enquadres e reenquadres. As agentes enquadram a participação como um espaço para contar estórias sobre a atividade profissional, a partir de tópicos relacionados às dificuldades do tratamento da tuberculose junto aos moradores assistidos pelo Instituto. É através destas cenas, do olhar das agentes comunitárias, que podemos falar sobre as suas práticas discursivas e profissionais. O Diretor inicia sempre os tópicos e traz o enquadre de orientar sobre o fazer profissional, com reenquadres em diferentes segmentos. Os enquadres e as narrativas remetem também a diferentes valores e responsabilidades, na contraposição entre diferentes discursos: o discurso institucional sobre a saúde, o discurso social sobre a pobreza, o discurso religioso, o discurso pessoal das agentes. CI 15A

MARIA DE FÁTIMA ALMEIDA Universidade Federal da Paraíba

O DISCURSO PEDAGÓGICO NAS PRÁTICAS DISCURSIVAS NA SALA DE AULA Este trabalho objetiva relatar um programa de extensão desenvolvido por um grupo de docentes da UFPB. Trata-se de programa multidisciplinar e interdepartamental que se propõe a desenvolver ações extensionistas / 270 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

integradas, articulando projetos de pesquisa aos de ensino, envolvendo vários pesquisadores de diversas áreas do conhecimento. O aporte teóricometodológico fundamenta-se na diversidade de linguagens e nas teorias da Educação em sua variedade e qualidade. O programa versará sobre várias linhas teóricas que contemplam os campos cidadania, educação e cultura, letras e artes. O eixo central das reflexões e ações concentrase na formação continuada de profissionais do Ensino Fundamental I e II de Escolas Públicas. Articulam-se projetos de pesquisa nas áreas de educação indígena, ambiental e musical, língua portuguesa, arte e cultura, integrando docentes e discentes nesses domínios do saber. A metodologia envolve as metas de ação nas diversas modalidades propostas para os educadores e estudantes das escolas públicas e a sociedade. A formação continuada de docentes do ensino fundamental deverá ser executada a partir de um conjunto de estratégias compostas por cursos, oficinas, palestras, seminários temáticos e de avaliação. Como se prevê uma ação multidisciplinar, o planejamento e a execução de atividades não serão unificados, mas integrados a partir de ações conjuntas propostas em módulos por áreas do conhecimento. Espera-se formar educadores capazes de atuar nas escolas e formar outros membros da comunidade para uma educação cidadã. Como conclusão, almejamos contribuir para a melhoria e formação docente e de leitores críticos e criativos da sociedade multifacetada. Urge criar um programa permanente de formação continuada para acompanhar os alunos formados em cursos de licenciatura das IES Públicas.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 15A

VIVIANE CRISTINA VIEIRA SEBBA RAMALHO Universidade de Brasília

SAÚDE NA MÍDIA: REPRESENTAÇÕES E IDENTIFICAÇÃO DO MERCADO CONSUMIDOR Neste trabalho apresentamos resultados iniciais do projeto de pesquisa “Representações da saúde na mídia”, originário da tese “Discurso e ideologia na propaganda de medicamentos: um estudo crítico sobre mudanças sociais e discursivas” (Ramalho, 2008). No projeto, investigamos representações do conceito de “saúde”, bem como identificações do/ consumidor/a de medicamentos, em gêneros discursivos que circulam na mídia brasileira na conjuntura específica do novo capitalismo. À luz da Análise de Discurso Crítica (Chouliaraki & Fairclough, 1999; Fairclough, 2003), investigamos conexões entre aspectos semióticos e não semióticos implicados na preocupação social em foco com o objetivo de problematizar implicações sociais da circulação de discursos ideológicos sobre saúde. Para discutir resultados parciais do estudo, neste trabalho analisamos os textos “Sexo seguro na vida adulta” e “Na hora H, conte conosco” com base em categorias linguístico-discursivas da ADC, como transitividade, interdiscursividade, metáfora e avaliação. As análises apontam a predominância na mídia de discursos que legitimam a representação da saúde como um ideal nunca plenamente atingido, por implicar superação de limitações humanas (Bauman, 2001; Silva 2000). Tais discursos reforçam a identificação do/a leitor/a, potencial consumidor/a de produtos para saúde, como aquele/a que vive em constante estado de busca e ansiedade, dadas as infinitas possibilidades oferecidas pelo / 272 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

mercado. Com este trabalho, buscamos problematizar tais discursos hegemônicos como esforço para desnaturalizar representações da saúde como mercadoria e como um ideal inatingível, que poderia ser alcançado apenas temporariamente pelo consumo de bens e serviços. CI 15A

VIVIANE DE MELO RESENDE; VIVIANE CRISTINA VIEIRA SEBBA RAMALHO Universidade de Brasília

REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA DA SITUAÇÃO DE RUA EM UM TEXTO DE MÍDIA ESCRITA Neste trabalho, apresentamos uma análise do texto “Ivan, o andarilhojardineiro, constrói jardim em gramado da 307 Sul”. A notícia, publicada no jornal Correio Braziliense em abril de 2008, conta a história de um senhor de 57 anos que vive em situação de rua em Brasília. Por meio dos recursos linguístico-discursivos empregados no texto, constrói-se uma representação particular da situação de rua e identificações particulares para os atores envolvidos, e assim o texto age sobre seus/suas leitores/as. Com base na Análise de Discurso Crítica (Fairclough, 2003; Resende e Ramalho, 2006) e nas categorias coesão (Halliday, 2004) e intertextualidade (Fairclough, 2003), mostramos quais aspectos dessa história são privilegiados, quais são deixados em segundo plano e quais são excluídos. Na análise da coesão por conjunção, relativa a relações significativas entre frases ou orações, privilegiamos as relações de realce, em que uma oração destaca o significado de outra, montando-lhe um cenário e qualificando-a com característica circunstancial (Halliday, 2004). Nossa preferência pelo estudo das relações / 273 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

de realce entre orações no texto em foco deve-se a seu potencial para o desvelamento de vínculo do texto a uma lógica de aparências ou a uma lógica explanatória (Fairclough, 2003). Na análise da intertextualidade, exploramos a articulação da voz de Ivan por meio de discurso direto, discurso indireto e relato de ato de fala. O levantamento das instâncias de articulação da voz de Ivan no texto e dos modos como a relação intertextual se estabelece nos permite perceber como o texto trabalha ideologicamente na representação do problema da situação de rua e como, assim, legitima modos particulares de compreensão do problema. CI 16A

ALAIR RIBEIRO DA SILVA Universidade Federal de Minas Gerais

O TEXTO, SEU CONTEXTO E SEU SUPORTE A história da humanidade se confunde com a história da escrita, do texto, e, em decorrência, com a história do suporte do texto. Num crescendo continuo, passou da caverna – as escritas rupestres –; para o grunhido, de Saramago, com o twiter; para a pedra de roseta, dos hierógrifos; para invenção de Guttemberg, que dominou o universo por longos séculos, e ainda domina; até a era da cibernética e enfim da Internet que revoluciona o suporte de forma nunca dantes imaginada. O presente trabalho procura dirigir um olhar ao suporte de todos os ângulos possíveis, sobretudo a partir do artigo de Marcuschi, um pioneiro do assunto, que deixa claro sua preocupação de se estudar esse fixador do texto para melhor entender a língua escrita, os gêneros, o contexto e o receptor do texto, com seu olhar crítico a partir do lugar onde o texto se fixa. E tentar ainda lançar alguma luz sobre sua preocupação recorrente do mestre Marcuschi: o suporte do texto oral. / 274 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 16A

EDUARDO CALIL Universidade Federal de Alagoas

ESCRITURA E RELAÇÕES ASSOCIATIVAS : A SINGULARIDADE E IMPREVISIBILIDADE DA RASURA NO PROCESSO DE CRIAÇAO EM ATO DE UM POEMA Quando encontramos rasuras em qualquer forma de manuscrito não é possível precisar o instante em que ocorreu, assim como perdemos boa parte das relações associativas estabelecidas pelo scriptor durante o momento em que estava escrevendo e a grafou. De certa forma, a rasura é uma “marca apagada”, algo que se perdeu, apesar de ser evidente; sua materialidade traz, simultaneamente, presença, opacidade e mistério. Através, porém, do registro em vídeo da conversa entre dois alunos quando estão escrevendo um único texto, pudemos registrar justamente aquilo que o manuscrito acabado não permite, a saber, o exato momento da ocorrência de uma rasura e o processo que a produziu. O objetivo desse trabalho é mostrar que a rasura enquanto manifestação de um retorno do scriptor sobre o próprio texto, não pode ser interpretada unicamente em sua forma pontual e imediata como mera marca de adição, apagamento, deslocamento ou substituição de um ou mais elementos no texto, mas como o resultado de um longo processo em que as relações associativas estabelecidas pelo scriptor, de caráter altamente imprevisível e atreladas ao movimento do significante, pode ser a força motriz de sua emergência. Para isso, iremos analisar em um processo de escritura em ato, durante o qual filmamos uma díade de alunos do 2º ano do Ensino Fundamental, a rasura que fazem em um verso durante a / 275 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

criação de um poema. Tomaremos como ponto de apoio teórico os 3 tipos de relações associativas (por significado, por significante, por significado e significante) definidos por Suenaga (2005) e a dimensão trinitária da lingua, cujos operadores metafórico e metonímico sustentam toda e qualquer forma de dizer. CI 16A

FABIO ALVES FERREIRA Universidade Federal de Pernambuco

A TEORIA DO DISCURSO E ANÁLISE DO DISCURSO: DE ERNESTO LACLAU A MICHEL FOUCAULT Neste trabalho pretendemos analisar as propostas de construção social da realidade a partir da Teoria do Discurso, na perspectiva de Ernesto Laclau e da análise do discurso de Michel Foucault. Um discurso na perspectiva de Laclau ocorre pela articulação contingente de identidades, em torno de demandas hegemonizadas por uma das identidades que configuram o sentido da realidade. Esse fechamento de sentido é sempre inacabável e, portanto é contingente e temporário. Já para Foucault o sentido do discurso não está preso às suas condições de emergência passadas, e o que o define não é tanto um conjunto de aspectos comuns, mas um conjunto de regras de formação comuns e um marco institucional desde onde a autoridade do discurso emana. Aqui pretendemos expor os pressupostos epistemológicos dos dois autores e suas implicações na construção do político. Finalmente, não podemos deixar de pontuar que, o dispositivo estratégico, termo cunhado por Foucault, é, talvez, o ponto mais próximo entre Foucault e Laclau. O dispositivo seria uma

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

espécie de linha que desvenda diversas direções. Apontam as aporias constante de um discurso e elucida o processo contínuo de re-articulação, deslocamentos, e polissemia. CI 16A

SONIA CRISTINA FELIPETO Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas

O PAPEL DA INTERAÇÃO NA ESCRITA DE HISTÓRIAS INVENTADAS: A RASURA COMO ÍNDICE DE QUALIDADE DA INTERAÇÃO? O objetivo deste artigo é investigar o papel da interação na produção da rasura quando díades escrevem juntas um único texto. Tomamos como base os modos de inscrição da rasura em uma matéria linguageira sempre em movimento: falamos de processos de escritura, envolvendo inclusive as trocas verbais enunciadas por díades que frequentavam o segundo ano de uma escola pública de Maceió-AL e de uma escola particular de São Paulo. A noção de manuscrito escolar proposta por Calil (2008) e a de rasura oral, também proposta por Calil (2008), e por nós retomada (Calil & Felipeto, 2006; Felipeto, 2008) são aqui discutidas, assim como a própria especificidade metodológica. A forma com que os dados foram coletados consistiu em filmar e, posteriormente, transcrever todas as etapas do processo de escritura, o qual ocorreu sempre em contexto de classe. Inicialmente, as alunas precisavam combinar o que iriam escrever e, após, uma era responsável por escrever e a outra por “ditar” o que haviam combinado, sempre alternadamente. Analisamos seis histórias inventadas escritas por estas alunas durante o período de dois anos (três no primeiro ano do ensino fundamental e três no segundo ano). Nosso olhar dirigiu-se

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

para a questão: quando os alunos escrevem conjuntamente, o quê eles rasuram? Nosso estudo nos permitiu observar que a rasura oral residiu na maior parte dos casos sobre aspectos de ordem semântica. O que parece justificar, então, a superioridade das rasuras de ordem semântica, neste período escolar em que questões de ordem ortográficas e gráficas estão no cerne das preocupações dos alunos, é o fato de estas alunas estarem escrevendo conjuntamente. CI 17A

ANTONIO CLERISTON DE ANDRADE Universidade Federal de Pernambuco

O PROBLEMA DA LITERALIDADE DO MATERIAL IRÔNICO Neste trabalho discutiremos alguns problemas que os enunciados irônicos nos antepõem: o problema da literalidade do sentido; se há uma dicotomia entre literalidade e não literalidade; se são dois estágios que se complementam na produção do sentido irônico; ou se ocorreria um processamento em paralelo. Segundo Marcuschi (2007), não havendo uma precedência temporal entre um e outro dos processamentos, poder-se-ia admitir o enfraquecimento da distinção entre sentido literal e não-literal. Em lugar de exemplos exclusivamente textuais, em que Marcuschi discute criticamente várias posturas sobre o tema, como as de Ariel, de Recanati, de Searle, de Giora, e de Gibbs, dentre outros, vamos analisar charges, compreendidas em última análise enquanto texto. Tanto pode ser uma voz “direta” do autor para seu interlocutor, quanto vozes colocadas a partir de determinadas personalidades, podendo ser estas vozes tanto parafrásticas quanto citações literais. Então, o que se lê (e se vê lendo) de pronto numa charge: seu efeito de / 278 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

sentido, sem considerar o “sentido literal”, o parte-se deste em busca de um segundo? Pretendemos, assim, colaborar com o debate, e, mesmo que não chegue a uma conclusão definitiva, como procedeu Marcuschi, será enriquecedor para o debate analisar um tipo de enunciado como a charge, cujo humor que lhe é intrínseco, já supõe uma não literalidade de sentido, pois este é justamente o efeito divertido que se obtém a partir de uma dada literalidade... Ou não seria assim? Neste trabalho discutiremos alguns problemas que os enunciados irônicos nos antepõem: o problema da literalidade do sentido; se há uma dicotomia entre literalidade e não literalidade; se são dois estágios que se complementam na produção do sentido irônico; ou se ocorreria um processamento em paralelo. Segundo Marcuschi (2007), não havendo uma precedência temporal entre um e outro dos processamentos, poder-se-ia admitir o enfraquecimento da distinção entre sentido literal e não-literal. Em lugar de exemplos exclusivamente textuais, em que Marcuschi discute criticamente várias posturas sobre o tema, como as de Ariel, de Recanati, de Searle, de Giora, e de Gibbs, dentre outros, vamos analisar charges, compreendidas em última análise enquanto texto. Tanto pode ser uma voz “direta” do autor para seu interlocutor, quanto vozes colocadas a partir de determinadas personalidades, podendo ser estas vozes tanto parafrásticas quanto citações literais. Então, o que se lê (e se vê lendo) de pronto numa charge: seu efeito de sentido, sem considerar o “sentido literal”, o parte-se deste em busca de um segundo? Pretendemos, assim, colaborar com o debate, e, mesmo que não chegue a uma conclusão definitiva, como procedeu Marcuschi, será enriquecedor para o debate analisar um tipo de enunciado como a charge, cujo humor que lhe é intrínseco, já supõe uma não literalidade de sentido, pois este é justamente o efeito divertido que se obtém a partir de uma dada literalidade... Ou não seria assim?

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 17A

DANIELE DE OLIVEIRA Universidade Federal de Minas Gerais

O ETHOS COMO ESTRATÉGIA ARGUMENTATIVA NOS EDITORIAIS DA REVISTA CAROS AMIGOS O ethos pode ser entendido como a imagem de si mesmo que o locutor constrói em seu discurso para garantir a adesão de seu interlocutor (AMOSSY, 2005). Ou ainda, o ethos se define na e pela interação e constitui resultado das escolhas linguísticas do enunciador perante seu(s) interlocutor(es) (EGGS, 2005). Sendo assim, pode-se considerar o ethos como uma importante estratégia argumentativa a ser explorada em qualquer discurso que tenha como um de seus objetivos a persuasão. A argumentação será considerada como a expressão de um ponto de vista e também como um modo específico de organização de um grupo de enunciados com o objetivo de garantir a adesão do auditório (PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA, 2005). O objetivo deste trabalho é, portanto, fazer uma reflexão sobre como se desenvolve a construção discursiva do ethos como estratégia argumentativa no discurso veiculado em editoriais da mídia impressa. O exemplar da mídia selecionado como corpus é a revista impressa Caros Amigos, uma representante do denominado “jornalismo independente”. Deter-nos-emos na análise do editorial da revista por entendermos que é nesta seção em que se veicula a opinião do corpo editorial da revista como um todo, de seu posicionamento ou tendência ideológica. Nos textos analisados, observou-se que, em geral, o editorialista faz apelo ao pathos, concomitantemente à emergência do ethos. De fato, para Aristóteles, o orador lança mão de três tipos de provas para alcançar a persuasão, a saber: o ethos, o pathos e o logos, sendo que “o ethos constitui praticamente a mais importante das provas”. O editorial / 280 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

de uma revista tem por objetivo construir a imagem da mesma perante seus leitores. Nesse caso, o editorialista convoca valores coerentes com os habitus teoricamente característicos do pensamento “de esquerda”, ou seja, o orador procura respeitar os saberes comuns, compartilhados com seu auditório. CI 17A

ELIETE CORREIA DOS SANTOS; FRANCINETE FERNANDES DE SOUZA Universidade Federal da Paraíba / Universidade Estadual da Paraíba

MOSTRA DE LINGUAGENS: DIÁLOGOS INTERMEDIÁRIOS ENTRE MEMÓRIA E CULTURA Este trabalho é um recorte da experiência pedagógica realizada na Universidade Estadual da Paraíba, cuja finalidade é incentivar a produção do conhecimento científico, a criatividade e a consciência crítica através do estudo das diversas linguagens, memória e cultura. Trata-se de uma experiência interdisciplinar, envolvendo a área de Língua Portuguesa, Analise documentária e Administração. A metodologia empregada em três eixos temáticos: linguagem e memória discursiva, cultura e memória organizacional nos arquivos e, por fim, história e memória dos arquivos. A partir de esses princípios o corpo docente desenvolveu atividades para que o aluno Compreendesse a leitura no quadro das relações que a constituem, vale dizer, na relação entre leitor e texto, na relação entre leitor e autor mediada pelo texto, na relação entre, de um lado, leitor, texto, autor e, de outro lado, as práticas históricas e sociais que as produzem. Depois do processo de leitura, o processo de escrita se deu a critério dos discentes; / 281 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

assim, vários gêneros orais e escritos poderam ser desenvolvidos. O projeto fundamenta-se em Bakhtin (1992), Marcuschi (2001), Malheiro (2002); Pierre Levi, (2000) Le Goff (1989), entre outros. A experiência revela como resultado que o ensino de gêneros na universidade historicamente situados incita o aluno a compreender as relações sociais e ideológicas que perpassam qualquer enunciado, a função criativa e circunstancial do autor e a importância do ouvinte/interlocutor no processo da enunciação. As conclusões apontam que essa compreensão é elemento indispensável para uma posterior análise dialógica do discurso. CI 17A

HELIUD LUIS MAIA MOURA Universidade Estadual de Campinas

RECATEGORIZAÇÃO, CONTEXTO E FRAME COMO FATORES SOCIODISCURSOS E COGNITIVOCULTURAIS NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO/CONSTITUIÇÃO DE NARRATIVAS ORAIS POPULARES DA AMAZÔNIA Este trabalho objetiva apresentar o contributo da (re)categorização, do contexto e do frame no processo construção/constituição de narrativas orais populares da Amazônia, considerando o modo como tais categorias ou fenômenos atuam na atividade de produção textual, mas especificamente em narrativas míticas que envolvem entidades como: boto, cobra grande, matintaperera e curupira. No caso aqui proposto para análise, tomo como instrumentos teóricos os pressupostos da Lingüística Textual discutidos por Koch (2008), da Semântica Cognitiva postulados por Marcuschi (2006), Marcuschi (2007), Marcuschi (2008); assim como pelas concepções de / 282 /


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Feltes (2007), e Tomasello (2003), dentre outros autores ligados às ciências cognitivas e aos estudos culturais. Para a narrativa tomada aqui como referente, cujas análises podem ser estendidas para o restante do corpus, é válido postular, segundo o que nos propõe Marcuschi (2007), que a prática da (re)categorização envolve construções discursivas imersas em ações de linguagem socialmente situadas, as quais também encampam diferentes estratégias inferenciais no que concerne à “elaboração” de conceitos e aos modos de encarar as relações a partir das quais esses conceitos são valorados, (re)categorizados e (re)avaliados nas diversas instâncias da arena social, com ativação e re-ativação de sentidos advindos dessas relações simbólicas, que se transmutam ou se modificam no decorrer da história. A partir do referencial teórico, procedo a análise de uma narrativa oral popular da Amazônia, observando processos metafóricos, metonímicos ou meronímicos que expressam formas de (re)categorização de referentes no espaço textual da história em análise. A narrativa em questão faz parte de um conjunto maior de 30 (trinta) narrativas, coletadas em comunidades campesinas e, como já dito, expressam regulações socioculturais inerentes às localidades de onde foram extraídas. CI 18A

ACIR MARIO KARWOSKI Universidade Federal do Triângulo Mineiro

ETHOS DO IMIGRANTE POLONÊS NO BRASIL Ao utilizarmos palavras no processo de comunicação não temos como fugir das imagens discursivas criadas pela maneira de dizer que necessariamente remete a uma maneira de ser. O ethos enquanto imagem de si no discurso (Amossy, 1999) é um fenômeno enunciativo “inescapável”. Nosso objetivo é estudar o ethos dos imigrantes poloneses / 283 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

no Brasil do século XVII a partir da análise de 10 (dez) cartas redigidas em 1890-1891 disponíveis no site www.polonesesnobrasil.com.br. Estudar o ethos dos enunciadores e analisar o discurso oriundo de determinadas formações discursivas, tais como o discurso minoritário dos imigrantes poloneses no Brasil, numa dimensão crítica de análise de discurso, é fundamental para compreender as circunstâncias sócioideológicas em que os sujeitos interagem dialogicamente na produção de sentidos e manutenção de ideologias. Os resultados apontam para a construção de diversos ethé do imigrante polonês: ethos de um enunciador fervoroso, católico, que apela a Deus; ethos de quem reconhece a família; ethos de alguém que reconhece as coisas da terra e seu povo; ethos de um melancólico, desanimado, conformado; ethos de alguém que alimenta a esperança no “paraíso das delicias”; ethos de trabalhador. As imagens construídas nas cartas explicitam um imigrante decidido a abandonar sua terra natal e construir uma nova história no Brasil sem no entanto deixar de preservar suas raízes religiosas, culturais, familiares. CI 18A

ADRIANO DANTAS DE OLIVEIRA Universidade de São Paulo

A MANIFESTAÇÃO DO DISCURSO: ANÁLISE RETÓRICO-DISCURSIVA DE CANÇÕES BUARQUEANAS DO PERÍODO DA DITADURA Na presente exposição, teremos o objetivo de analisar os recursos retóricodiscursivos empregados nas canções buarqueanas com temática sóciopolítica durante o período da ditadura militar. Selecionamos, como corpus, uma amostra de três canções: “Apesar de você” de 1970; Acorda Amor de

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1974; e “Meu caro amigo”, de 1976. Utilizaremos, como arcabouço teórico, a retórica clássica, a nova retórica e a semiótica discursiva. A partitr dessa fundamentação teórica, abordaremos, em nossa análise, como o autor recobre os temas tratados por meio de figurativizações e a maneira como produz, a partir das canções, um discurso persuasivo que cumpre funções como: o docere – instruir, o movere – sensibilizar e o delectare - agradar. Quanto à organização do texto, na canção, consideraremos a inventio – repertório temático; a dispositio – o arranjo e a hierarquização de elementos; a elocutio – o uso dos mecanismos constituintes do plano de expressão; e a actio – os elementos não verbais, típicos em textos sincréticos. Ainda, à luz da retórica, consideraremos os gêneros retóricos, as figuras de retórica e os tipos de argumento utilizados pelo compositor. A fim de percebermos as modificações e as transformações nas narrativas, presentes nas canções, e as relacionarmos aos movimentos retóricos, utilizaremos, como parâmetros de análise e de abordagem, conceitos da semiótica discursiva. Abordaremos, no âmbito da semiótica: o conceito de atores na narrativa e as suas actâncias na esfera qualificacional e na esfera de ação; o nível narrativo - as performances, as modalizaçãoes e as manipulações; e o nível discursivo - os mecanismos de embreagem e de debreagem, a actorialização, a temporalização e a espacialização. Dessa forma, por meio de um modelo de análise interdisciplinar, temos o intuito de analisar e de evidenciar as estratégias retórico-discursivas utilizadas e que ficam muitas vezes veladas devido ao contexto histórico e às intenções argumentativas do compositor nas canções com temas socio-políticos.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 18A

CAROLINA SCALI ABRITTA Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

ENTRE MÁSCARAS E ESPELHOS: DA FACE DE CIDADÃO À FACE DE PESSOA FAVORECIDA. UM ESTUDO DE CASO Desde Goffman ([1955]1980), a questão variação cultural sempre se fez pertinente aos estudos de face (Brown e Levinson, 1987; Morisaki e Gudykunst, 1994; Spencer-Oatey, 2000). Diferenças, contudo, parecem residir no próprio conceito de cultura com que operam esses trabalhos. Na presente pesquisa, buscou-se operar com a noção de cultura como rede de significados (Geertz, 1978) e, dessa forma, verificou-se de que modo essa rede seria co-construída interacionalmente em uma audiência de conciliação gravada e devidamente transcrita (Sacks, Shegloff e Jefferson, 1974). Notou-se, nesta audiência, através de análise interpretativista (Coulon, 1995) e qualitativa (Haguete, 2003), a emergência de duas faces do reclamante atreladas às questões culturais do individualismo e do coletivismo (Dumond,1970; Velho, 2002), quais sejam, as faces de indivíduo cidadão e de pessoa favorecida. Na apresentação do self (Goffman, [1959] 2007), o reclamante reivindicou para si a face do indivíduo ou do cidadão, mostrando-se mais orientado pelas regras ou leis referentes à situação (Conley e O’Bar, 1990). Porém, como a face não aparece apenas nas máscaras, mas também nos espelhos oferecidos pela alteridade, momentos houve em que foi atribuída ao reclamante, pelos demais interagentes, a face de pessoa favorecida em oposição à anteriormente reivindicada, qual seja, a de sujeito de direitos. A máscara de cidadão e o reflexo no espelho da imagem de pessoa favorecida ratificam, de certo

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

modo, algumas teorias antropológicas sobre a cultura brasileira (DaMatta, 1980, 1986, 1997; Barbosa, 2006). Isso porque reafirmam o fato de ser esta uma sociedade relacional, ou seja, em que a busca pelo tratamento igualitário previsto na lei convive com as tentativas de favorecimento por meio da construção de relações interpessoais. CI 18A

ELAINE BARBOSA CALDEIRA GONÇALVES Instituto Federal de Brasília / Universidade de Brasília

CENÁRIOS DE NEGOCIAÇÃO DA DIFERENÇA: SIGNIFICADOS DO DISCURSO NA CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES A Análise do Discurso Crítica (ADC) compreende o discurso como ação. É assim compreendido por possuir papel fundamental na construção de identidades sociais, pois possuem efeitos construtivos contribuindo para a constituição de todas as dimensões da estrutura social (FAIRCLOUGH, 2001). Partindo destas reflexões, este trabalho tem como escopo central refletir sobre o papel dos significados do discurso (FAIRCLOUGH, 2003), especificamente do discurso identificacional, na construção de identidades nas práticas discursivas de alunos não-índios sobre alunos índios da etnia xerente de uma Escola Pública Estadual no município de Tocantínia, Tocantins. Percebemos na análise das práticas discursivas dos alunos não-índios uma representação hegemônica da identidade xerente em que a diferença é ofuscada em prol da “normalidade”. O processo de construção identitária pressupõe, dessa forma, o reconhecimento do Outro, da afirmação da alteridade e, não, o apagamento da diferença. Dessa forma, podemos afirmar que tanto a identidade quanto a

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

diferença são atos de criação lingüística (SILVA, 2000). Nesse sentido, Fairclough (2003) afirma que a subversão ou ofuscação de diferenças entre os atores sociais em representações são aspectos do processo social contínuo de classificação. Assim, a dialética entre os significados acional, representacional e ideacional pode ser ilustrada, por meio do questionamento dessa “identidade legitimadora” e da “não-diferença” e, por conseguinte, do questionamento dos sistemas legitimados que lhes servem de suporte na atribuição de sentido. É o discurso figurando na representação do mundo material, das práticas e representações sociais e culturais, na constituição de modos particulares de ser, ou seja, de identidades sociais. CI 19A

ANA PAULA SARMENTO CARNEIRO Universidade Federal de Campina Grande

A RELAÇÃO DO SUJEITO CONSIGO E COM O OUTRO: MOVIMENTOS DAS FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS SOBRE A ESCRITURA EM DIÁRIOS REFLEXIVOS Este trabalho constitui parte de nossa pesquisa de doutorado sobre o jogo de formações imaginárias entre a escritura de si e do outro a partir de diários reflexivos, produzidos por professoras-alunas (PAs) e professorasministrantes (PMs) em um curso de formação continuada para professores de língua portuguesa da rede pública. Esse curso de formação docente foi oferecido pelo Programa de Licenciatura da Universidade Federal de Campina Grande-Pb e ministrado por quatro professoras da Unidade Acadêmica de Letras dessa universidade. O corpus da nossa pesquisa / 288 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

foi coletado durante o referido curso de formação e é constituído, basicamente, por diários reflexivos sobre as aulas ministradas escritos pelas PMs e PAs. Fundamentados na Análise de Discurso francesa, mais precisamente, com base na noção de imagem estudada por Pêcheux (1990) e na noção de identidade em Orlandi (1998) e Coracini (2005), verificamos como se dá o movimento identitário da (s) imagem (ns) em relação à escritura de si e do outro. Constatamos, a partir dos diários reflexivos, que houve deslocamentos na imagem de si dos sujeitos (PAs), principalmente devido à legitimação do lugar de escreventes que as PMs conferiram aos sujeitos (PAs), como também ao resgate de uma memória de autoridade e legitimação do lugar de professor em relação às PMs construída pelas professoras-alunas durante o referido curso de formação docente. CI 19A

CLÁUDIA MENDONÇA Universidade Federal de Pernambuco

INADEQUAÇÃO LÉXICO-CONTEXTUAL: UM PROBLEMA RECORRENTE NA PRODUÇÃO ESCRITA DE ALUNOS AVANÇADOS DE PORTUGUÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA (PLE) Para todos os que trabalham com o ensino de línguas estrangeiras, é evidente o rápido progresso dos alunos até o nível intermediário, particularmente em cursos de imersão, quando os alunos se encontram no país de língua estrangeira. Assim, ao concluírem este nível, já terão adquirido proficiência suficiente a uma comunicação cotidiana. A partir daí, o aprendizado se dá de forma bastante lenta, frustrando alunos / 289 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

e professores. No caso de PLE, um dos obstáculos no enfrentamento da questão reside na escassez de pesquisas que busquem identificar as dificuldades persistentes no nível avançado e, consequentemente, na falta de materiais didáticos apropriados. Tais dificuldades se fazem mais presentes na modalidade escrita da língua, uma vez que a ausência de elementos contextuais exige não apenas maiores conhecimentos linguístico-discursivos, mas também um maior domínio da pragmática comunicativa. Pois, como bem observa Marcuschi (2001), aprender uma língua estrangeira é “um modo de ser apropriado pela língua, já que a língua é também uma forma de vida e não apenas forma”. A nossa experiência com o ensino avançado de PLE tem demonstrado que a inadequação no uso de vocábulos e expressões em relação aos contextos de uso da língua é um dos problemas recorrentes na produção escrita dos alunos. Isto porque, conforme esclarece Nation (2003), embora as línguas naturais permitam várias possibilidades de apresentação, há sempre, entre os falantes nativos, preferências socioculturalmente cristalizadas em função dos diversos contextos comunicativos, gêneros textuais e níveis de formalidade, entre outros fatores. Neste trabalho, buscamos identificar ocorrências de inadequação léxico-contextual na produção escrita de alunos dos cursos avançados de PLE, oferecidos na UFPE. Os resultados obtidos constituem subsídios relevantes para o tratamento do problema, bem como para a produção de materiais didáticos.

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CI 19A

CRISTINA MARIA DE OLIVEIRA Faculdade Cenecista de Osório

A LÍNGUA FALADA COMO OBJETO DE ESTUDO EM CURSOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES Este estudo investigativo sobre o discurso oral através da atuação de acadêmicos do curso de Letras em escolas do Ensino Fundamental, destaca a identidade cultural e interatividade discursiva em uma movimentação social com autonomia. Considerando que, no cotidiano da escola, há supremacia do ensino da língua escrita, propõe-se outra abordagem para o ensino da língua oral: objetiva-se que o aluno seja capaz de conhecer e dominar sua língua, em situações diversas, e que construa uma relação consciente e voluntária com seu próprio comportamento lingüístico. Através de propostas de vivências de gêneros orais diversos, quer-se compreender a organização e os meios linguísticos da sua oralidade. Saber falar é, segundo Schneuwly (2004), dominar os gêneros que emergiram historicamente em um idioma. A aprendizagem do oral requer, entre outros aspectos, a capacidade de ficcionalização, uma representação interna, cognitiva, da situação de interação social que o falante esteja enunciando. Esse fator torna complexo o processo da fala, considerando que o falante objetiva ser compreendido e reproduz traços da ideologia de um discurso social (Van Dijk, 1998). A questão norteadora deste estudo consiste em como desenvolver as capacidades de linguagem oral, ligadas à circulação dos saberes, à vida profissional e à cidadania (Dolz e Schneuwly, 2004). Destaca-se, como resultados, que, ao desafiar o acadêmico de Letras a discussões e organização de vivências discursivas que se configuram na dinâmica do diálogo, o estudante constrói conhecimentos em que ressalta a importância da variação das / 291 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

falas no desenvolvimento da autonomia de ação discursiva e da interação social do falante; ao atuar no projeto de pesquisa, compreende melhor a língua como organizadora do pensamento e, na modalidade oral, como um processo interativo que interfere na movimentação da sociedade (Bronckart, 1985); apropria-se de saberes que lhe facilitam compreender a importância social da língua falada. CI 19A

ROBSON SANTOS DE OLIVEIRA

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru

COGNIÇÃO CONTIGENCIADA: ATOS DE REFERÊNCIA E INFERÊNCIA NAS SALAS DE BATEPAPO NA INTERNET O objetivo do trabalho é discutir a partir dos conceitos de cognição situada e linguagem de Marcuschi (2007), numa perspectiva sócio-cognitivista e interacional, algumas questões de referência e inferência nas salas de bate-papo na Internet (chat) buscando compreender como as pessoas se entendem neste ambiente virtual (não-físico) e criam as situações discursivas para que tal ocorra. Pressupostos teóricos: Tomando como contraponto inicial as considerações etnometodológicas de Paul Grice (Logic and Conversation, 1975) e Erving Goffman (A Preservação do Eu na Vida Cotidiana, 1959) para discutir as questões de referenciação e inferenciação no chat, o estudo pretende ampliar as discussões com a noção de “ação interativa” e de “processos interativos” com Marcuschi (2007, p. 105) para se entender como são construídos alguns elementos discursivos para dar-se a noção de espacialidade e de representação do Self, através de dêiticos e outros elementos semióticos (como os emoticons, por exemplo). A noção de transposição ou transmutação de / 292 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

gêneros no chat, tomando a expressão de Aráujo (2003 e 2006) permite a compreensão de como novas formas de referenciação e inferenciação são criadas, mas sendo continuadas a partir das próprias experiências de referência e inferência da linguagem usual conforme Lakoff e Johnson (1980) propõem com sua concepção de metáforas. Metodologia: Análise da conversação nos chats e interpretação dos dados. Revisão de bibliografia a respeito da cognição situada (MATURANA & VARELA, 2001) e a noção de Metáforas (LAKOFF & JOHNSON, 1980), enquadres sociais da conversação (GOFFMAN, 1959) e princípios conversacionais (GRICE, 1975), além das discussões e proposições de MARCUSCHI (2003, 2005, 2007). Revisão de dados de pesquisas realizadas nos chats por Oliveira (2007) e Araújo (2003, 2006). Resultados obtidos: Identificação dos princípios interativos de cognição situada para a construção de elementos discursivos nos chats, permitindo-se o fluxo conversacional, a participação das pessoas nestes ambientes, a criação de vínculos afetivos e sociais no senso de comunidade, compartilhando conhecimento. Usos de enquadres conversacionais e estratégias cognitivas, semelhantes aos processos usuais da linguagem do cotidiano nas interações sociais.

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CI 20A

DEBORAH GOMES DE PAULA; MARIA JOSÉ NÉLO Pontifícia Universidade Católica de São Paulo / Universidade Paulista

GÊNEROS TEXTUAIS: UMA ABORDAGEM MULTIMODAL NA CONSTRUÇÃO DA NOTÍCIA EM JORNAIS PAULISTANOS Esta comunicação situa-se na área da Análise Crítica do Discurso (ACD) e tem por tema a expansão da opinião do jornal-empresa nos diferentes gêneros textuais publicados em jornal, como, notícia, charge e crônica de notícia. Tem-se por objetivo geral contribuir com os estudos de textos multimodais ancorados em língua portuguesa. São objetivos específicos: 1. examinar as estratégias utilizadas pelo jornal-empresa para construir a opinião de seus leitores; 2. buscar uma orientação de leitura para os textos jornalísticos multimodais 3. confrontar gêneros textuais jornalísticos e suas respectivas organizações opinativas. Justifica-se a pesquisa, pois, os textos multimodais oferecem, para os analistas do discurso, novas perspectivas de análise, na relação entre as categorias de análise da Semiótica Social: “dado” e “novo” são construídas com base nas cognições sociais do(s) grupo(s), selecionado(s) como auditório, pelo locutor. Os gêneros textuais no interior do discurso jornalístico, são construídos, com o objetivo de atingir tanto um auditório específico quanto um universal, pois depende da compreensão do interlocutor, por meio da memória social. Tem-se por base teórica a ACD na inter-relação das categorias analíticas Discurso, Cognição e Sociedade Van Dijk e Kress e van Leeuwen. O material coletado foi delimitado aos jornais Folha de / 294 /


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S.Paulo, O Estado de S.Paulo, Os resultados obtidos indicam que há um conjunto de enunciados clichês que caracterizam o português brasileiro e estes variam com os marcos de cognição social. Conclui-se que a fim de estabelecer um acordo com a opinião pública, privilegia a cultura que guia a enunciação para construir um lugar retórico para se criar, pela sedução, a opinião para o auditório. CI 20A

SÔNIA VIRGINIA MARTINS PEREIRA Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns

O GÊNERO TEXTUAL COMO OBJETO DE ENSINO: O QUE REVELA O DISCURSO DOS PROFESSORES O trabalho examina o que revelam os professores sobre o ensino de gêneros textuais, com a finalidade de conhecer os gêneros eleitos para o ensino da língua portuguesa e, assim, delinear um panorama sobre os modos de transposição dos gêneros, de eventos comunicativos a objetos de estudo; também mapeia os procedimentos metodológicos e pressupostos teóricos que alicerçam as práticas de ensino dos gêneros em busca da compreensão de como se efetivam essas práticas como eventos comunicativos, com vistas ao desenvolvimento de competências linguístico-discursivas no aluno como usuário do português intra e extraescolar. Apoia-se no pressuposto enunciativo-discursivo como fundante da teoria dos gêneros e aceita as contribuições da Escola de Genebra quanto à tomada desses eventos comunicativos como objetos de ensino, sem entendê-los, unicamente, como formas fixas a serem aprendidas. Apresenta resultados analíticos a partir de observações realizadas em encontros de formação continuada de professores de / 295 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

português, os quais foram solicitados a responder um questionário sobre aspectos do ensino de gêneros textuais em seu contexto escolar de atuação. Com os dados coletados foram categorizados os gêneros textuais ensinados, a partir de sua esfera de circulação e das capacidades de linguagem dominantes neles. Como resultado da análise constata-se que os professores privilegiam os gêneros situados na esfera literária, ainda que introduzam gêneros de diferentes esferas em suas práticas de ensino. Igualmente se verificou que os procedimentos metodológicos adotados assemelham-se ao que se consagrou como prática de ensino de tipos textuais, embora os professores enunciem que adotam perspectivas teóricas atuais para o ensino de língua materna que apontam para o uso dos gêneros. Por fim, chega-se à conclusão de que os objetos didatizados – gêneros textuais – são enfocados no contexto escolar, predominantemente, em sua estrutura composicional, o que não contribui, efetivamente, para o desenvolvimento de competências discursivas do aluno fora da esfera escolar. CI 20A

SYLVIA COUTINHO ABBOTT GALVÃO Universidade Federal do Rio Grande do Norte

DO CASTELO DE PÉRIGORD À ACADEMIA: DELINEANDO O “ENSAIO ACADÊMICO” “Professora, o que é um ensaio?” Essa indagação, ouvida frequentemente nos corredores do curso de Letras da UFRN, revela apenas a superfície de um quadro bastante complexo: professores que exigem dos alunos a produção de ensaios acadêmicos; alunos que desconhecem totalmente o gênero; teóricos que apresentam visões diversificadas acerca do gênero e, por fim, o próprio ensaio – historicamente, “um gênero sem lei”, um / 296 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

“antigênero” – que se apresenta como um gênero híbrido, multifacetado, sem fronteiras delimitadas (GOMES-MARTINEZ, 1992; MOISÉS, 1997; LARROSA, 2004; MATIAS, 2007). A necessidade de engajamento dos alunos de graduação nas atividades discursivas da comunidade acadêmica revelase imperiosa, pois é desse letramento que dependerá a aceitação desses membros (neófitos) pela academia. Diante dessas dificuldades e daquelas relativas a (im)possíveis definições do gênero, tenta-se, neste trabalho, delinear a configuração atual do gênero ensaio acadêmico, considerando o seu conteúdo, a sua seleção de recursos expressivos (estilo verbal) e sua estrutura composicional, a partir da análise de exemplares de ensaios acadêmicos publicados sob essa denominação. Fundamenta-se aqui na ideia mais geral de que ensinar linguagem sob a perspectiva do gênero (no sentido bakhtiniano do termo) é trabalhar “com a compreensão de seu funcionamento na sociedade e na sua relação com os indivíduos situados naquela cultura e suas instituições”, “com as espécies de textos que uma pessoa num determinado papel [na sociedade] tende a produzir” (MARCUSCHI, 2005, p. 10-12). CI 20A

WANDA MARIA BRAGA CARDOSO Secretaria de Educação de Pernambuco

MOVIMENTOS RETÓRICOS DO RESUMO ACADÊMICO: UM ESTUDO DE CASO Este trabalho aborda a microestrutura do gênero textual resumo acadêmico sob o ponto de vista da estrutura retórica do Modelo CARS proposto por Swales. Esse procedimento baseia-se pelo pressuposto de que na superfície do texto se projetam os conjuntos de movimentos (grandes propósitos que coincidem as partes estruturais) e passos (subpropósitos / 297 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

com os quais os movimentos são construídos) correspondentes ao propósito comunicativo do gênero. Objetiva-se, assim, verificar como se apresenta a estrutura retórica de alguns exemplares de resumo acadêmico produzidos por estudantes do curso de pós-graduação lato sensu, em Língua Portuguesa, para a composição do trabalho monográfico. Partindo de pressupostos teóricos sobre gêneros textuais, recorremos aos postulados de Swales (1990) o qual defende que os gêneros, tanto na modalidade oral quanto na escrita, são caracterizados por funções específicas e uma organização retórica peculiar. São reconhecíveis por suas características operacionais e organizacionais exigidas pelos contextos onde são utilizados. Marcuschi (2003-2005) também dá a sua contribuição acerca dos gêneros e defende que estes permeiam e circulam em uma determinada área de atividade humana com sua linguagem própria e, por conseguinte, com suas características, peculiaridades e estruturas em comuns. Assim, para compor esta análise, foram realizadas com os alunos orientações sobre a composição e estrutura do gênero em tela. Em seguida, escolhemos de forma aleatória, como amostragem, a primeira versão de dez exemplares de resumo. Os resultados obtidos por esta pesquisa mostram, não obstante a orientação acerca dos movimentos retóricos do gênero previamente trabalhada em sala de aula, que as realizações concretas do gênero resumo acadêmico não correspondem em torno de uma prototipicidade de realização concreta deste gênero, contrariando assim as nossas expectativas.

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 01B

ISABEL MARIA LOUREIRO DE ROBOREDO SEARA Universidade Nova de Lisboa / Universidade Aberta Portugal

RECLAMAR É ARGUMENTAR OU INJURIAR? TRANSGRESSÕES LINGUÍSTICO-DISCURSIVAS NA CARTA DE RECLAMAÇÃO O acto de reclamação traduz um estado de insatisfação em que se interpela o outro através de estruturas argumentativas no sentido de reivindicar o(s) direito(s) perdido(s) e exigir a compensação pelo(s) dano(s). Partindo da apresentação da estrutura prototípica da carta de reclamação, a partir da classificação pragmática dos actos de fala (Austin 1962), convocaremos e articularemos pressupostos teóricos, quer da teoria da delicadeza, de Brown & Levinson (1987), quer o arquiprincípio da delicadeza, proposto por Leech (1983), quer, finalmente, as reformulações introduzidas a estas teorias por Kerbrat-Orecchioni (1997 e 2004), a fim de mostrar que os FTA (Face Threatening Acts) se constituem, apesar de lesivos da face do interlocutor, como dominantes nestes textos epistolares. O corpus que nos permitirá esta análise é constituído por um conjunto aleatório de cartas de reclamação em meio universitário, recolhido durante dois meses, numa universidade pública de ensino a distância em Portugal. O nosso objectivo será, pois, mostrar como as escolhas lexicais depreciativas, as transgressões às regras da delicadeza, as escolhas das formas de tratamento menos formais e as modalizações (na medida em que se constituem como atenuadores ou intensificadores da força ilocucionária), subvertem a captatio benevolentiae que deveria presidir à persuasão e à reivindicação. A expressão da argumentação e/ou da / 299 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

injúria, presentes nas cartas em análise, devem, pois, ter em consideração dois eixos configuradores: se, por um lado, o eixo da relação conflito/ consenso (Cf. Marques 2008: 282) deverá ser equilibrado, por outro o eixo distância/poder não deverá ser infringido, sob pena de postergar a razão que preside ao acto de reclamação. CI 01B

MARIA HELENICE ARAÚJO COSTA Universidade Estadual do Ceará

O FENÔMENO DÊITICO E SEU ALCANCE NA INTERPRETAÇÃO DO DISCURSO A dêixis é um tema já bastante explorado, tanto no campo dos estudos lingüísticos como no âmbito das reflexões filosóficas. Apesar disso, a discussão desse fenômeno continua relevante, principalmente quando atentamos para os desdobramentos advindos de novas abordagens como a Teoria da Mudança Dêitica (Deictic Shift Theory). Tomando como ponto de partida a noção de centro dêitico, cunhada por Bühler para situar a pessoa do falante, o tempo em que este produz um determinado enunciado e sua localização espacial no momento da elocução, os proponentes da Teoria da Mudança Dêitica chamam a atenção para o papel que desempenham as mudanças dessas coordenadas na produção e na compreensão das narrativas. Neste trabalho, que faz parte de uma pesquisa ainda em início, tentamos ampliar o alcance da Teoria da Mudança Dêitica para a interpretação de outros textos que não as narrativas ficcionais. Tomando como exemplo o trabalho de Hosenfeld, Duchan e Higginbothan (1995), que investigam o processo de mudança dêitica como recurso persuasivo em anúncios, analisamos textos de gêneros diversos. Nossa hipótese é que tal fenômeno está na base da organização dos mais diferentes discursos / 300 /


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e que, assim sendo, constitui um elemento importante a ser considerado no ensino de leitura e escrita. CI 01B

ROSALICE BOTELHO WAKIM SOUZA PINTO Universidade Nova de Lisboa /Universidade Lusíada de Lisboa

ASSIMETRIA EM ATOS DE RECLAMAÇÃO INSTITUCIONAIS: UMA ANÁLISE LINGUÍSTICO-TEXTUAL Este trabalho que segue fundamentalmente uma abordagem praxiológica do discurso (Filliettaz, 2006) associada a aspectos teórico-metodógicos do interacionismo sociodiscursivo (Bronckart, 1999) visa a mostrar: (1) de que forma a relação assimétrica entre cliente e empresa é instaurada em atos de reclamação presentes em documentos de circulação institucional; (2) quais os elementos linguístico-textuais mobilizados para tal efeito. A questão da assimetria, ou melhor da dissimetria, foi trabalhada por vários autores tanto anglo-saxões (Markovà et Foppa, 1991) quanto por francófonos (Kerbrat-Orecchioni, 1992). Contudo, nesta contribuição, assumimos uma acepção praxiológica, dinâmica e discursiva da relação assimétrica, à semelhança de Filliettaz (2006). Para este autor, esta fundamenta-se tanto em relações sociais já previamente estabelecidas quanto na sua constante dinamicidade, sendo reconduzida, renegociada e reatualizada discursivamente durante a interação. A partir da estabilização desse conceito, esta contribuição parte da hipótese de que existem marcas linguístico-textuais (em especial marcadores de responsabilidade enunciativa) que semiotizam essas relações nos textos da comunicação / 301 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

corporativa. Para atingir esse objetivo, adotaremos uma metodologia descendente de análise, como preconiza Bronckart (2004). Na verdade, consideramos que a atividade social em que se instauram as relações assimétricas influencia a seleção por parte do agente produtor dos elementos linguístico-textuais observados em textos empíricos. E, ainda, essa mesma escolha é condicionada pelos papéis desempenhados pelo cliente/empresa na comunicação organizacional. Com isso, mostraremos, de um lado, a tendência do cliente/empresa de respeitar uma certa simetria imposta por regras ditadas pela própria instituição e, do outro, ressaltaremos a transgressão a essa simetria (ou assimetria) que, como constataremos, é linguisticamente marcada. Partimos de um corpus constituído de cartas de reclamação endereçadas a empresas públicas portuguesas e das respectivas respostas institucionais. Tal recolha foi efetuada durante o 1º semestre de 2010. CI 01B

ZILDA PEREIRA DA SILVA Universidade de Brasília / Vigilância Sanitária do Distrito Federal

TEXTO PUBLICITÁRIO DE PRODUTOS SOB CONTROLE SANITÁRIO: UM GÊNERO TEXTUAL Neste trabalho, parte da pesquisa Controle Sanitário: construção e desconstrução de sentidos, objetiva-se identificar princípios (sistemas de dominação) que organizam e sustentam a produção de textos publicitários de produtos interesse para saúde. Com esse propósito, a pesquisa verifica aspectos linguístico-discursivos que caracterizam essas práticas como um gênero textual específico. Tendo como fundamentação teórica os postulados por Bakhtin, em Estética da Criação Verbal, considera o conceito de gênero como tipos relativamente estáveis de enunciados / 302 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

que se caracterizam por refletir as condições específicas e as finalidades das esferas da atividade humana e da comunicação. E segue também a proposta de Marcurschi (2006), em Gêneros Textuais: configuração, dinamicidade e circulação, que relaciona o conceito de gênero a texto, afirmando que os textos são resultados de ações sociais, com a linguagem e representam um aspecto relevante que contribui para situar o enquadre dos ‘gêneros textuais’. Assim, para ele, quando se trabalha com gênero, trabalha-se com um modo de atuação sócio-discursiva e não um simples modo de produção textual. Na investigação, utiliza-se como metodologia, análise qualitativa de dados, constituídos de peças publicitárias de produtos sob controle sanitário, veiculadas na mídia televisiva. Com a análise, consta-se que os textos publicitários de produtos de interesse para saúde se caracterizam como um gênero textual específico, em que um traço característico decorre da relação instaurada pela intenção da instância de produção dos textos e os interlocutores, as instâncias de produção de sentidos dessas práticas publicitárias. CI 02B

ARTUR STANMFORD DA SILVA Universidade Federal de Pernambuco

DECISÃO JURÍDICA SOB A ÓTICA DA COMPREENSÃO COMO TRABALHO SOCIAL: UMA LEITURA DA OBRA DE MARCUSCHI APLICADA AO DIREITO As consequências da frase “direito é texto” se mantêm longe de serem exploradas, quer por juristas, filósofos e teóricos da linguagem. Essa observação se agrava quando o objeto da pesquisa é a produção de / 303 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

sentido do direito desde decisões jurídicas. Esse debate ainda se pauta pela acusação de essa decisão ser produto da arbitrariedade do julgador ou, por outro lado, resultado da discricionariedade na aplicação da legislação. Enquanto os juristas dogmáticos ainda recorrem à verdade por correspondência ou à ideia de leitura errada para abordar o assunto; os juristas “linguisteiros” reduzem o debate à ambiguidade e vagueza da linguagem. Propomos localizar na sociologia do direito com sistema de sentido, como proposto por Niklas Luhmann alternativas de explicação do paradoxo do sentido, portanto da tomada de decisão jurídica. Ideias estas também constantes em textos da autoria de Luiz Antônio Marcuschi, especificamente aqueles em que o autor explora a “teoria pragmática da cognição” e seus “aspectos sócio-interativos”, bem como nos que aborda a compreensão interdialetal. Nossa base empírica são decisões de Tribunais Superiores (STJ e STF), obtidas nos sites destes tribunais. As pesquisas já realizadas envolvem decisões sobre igualdade, reconhecimento de paternidade, homoafetividade, MST, concessão de medicamentos. As análises promovidas nos permitem observar que a decisão jurídica é constitutiva do direito da sociedade, porque nelas presentes vozes da sociedade, não apenas dos legisladores nem dos juristas. Assim, a forma de tratar do paradoxo do sentido, aplicando a teoria dos sistemas de sentido, permite-nos explicar porque a decisão jurídica, ao mesmo tempo em que produz o sentido do direito, estabelece mudanças no sentido do direito da sociedade.

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 02B

ISABEL CRISTINA SEBASTIÃO Universidade Nova de Lisboa

A ACTIVIDADE DE ESTRUTURAS DISCURSIVOTEXTUAIS NO GÉNERO EPISTOLAR Este estudo é parte integrante de uma investigação mais ampla onde se pretende analisar competências discursivo-textuais de alunos dos primeiros nove anos de escolaridade (Ensino Básico). Qualquer unidade de discurso é composta por elementos verbais que estão relacionados e organizados entre si de maneira explícita ou implícita. Esta organização e esta interrelação dão origem à tecitura do discurso que se concretiza no texto. O texto revela, assim, uma espécie de jogo onde o sujeito procede a escolhas linguísticas individuais, mas, sempre, dentro de um leque de possibilidades facultado pelos processos comunicativos em que está inserido. Quando efectua essas escolhas, toma as decisões em função da sua finalidade discursiva, de acordo com o género, o destinatário e contexto de uso da linguagem. Esse objectivo maior faz com que todos os actos linguísticos se subordinem conferindo um determinado significado. Foram recolhidos textos – cartas – em escolas do ensino básico, em duas fases diferentes (com e sem modelo textual). Na realização da análise dos textos, foram aplicados, como já se mencionou, alguns pressupostos teóricos oriundos da Linguística Textual e da Análise do Discurso. Nesta comunicação, apresentam-se alguns resultados preliminares, discute-se e reflecte-se sobre a forma como os alunos utilizam/manipulam essas estruturas discursivo textuais e como elas contribuem para a organização e construção de sentido(s) dos textos de acordo com a finalidade do acto comunicativo.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 02B

JOSÉ GASTON HILGERT Universidade Presbiteriana Mackenzie

A CONSTRUÇÃO DA COMPREENSÃO NA FALA: UM TRABALHO INTERATIVO A noção de compreensão na interação falada se fundamenta no fazer colaborativo da enunciação - condicionado por todas as suas contingências pragmáticas -, em que a ação do falante é conduzida e determinada pela ação interpretativa do ouvinte. O falante, ao construir o seu enunciado, constrói para seu ouvinte uma proposta de compreensão que é coconstruída por este. Falante e ouvinte são os sujeitos da enunciação, assim como também são os sujeitos da compreensão. Produzir o enunciado e compreendê-lo ou interpretá-lo são ações complementares constituintes da enunciação. Se enunciar é construir sentidos, então compreender também o é, o que implica afirmar que, efetivamente, compreender não é um fenômeno receptivo nem uma ação decodificadora, e sim um trabalho interativo de construção da compreensão na produção do sentido. Compreensão e sentido são as duas faces de uma mesma moeda: construir o sentido é construir a compreensão. O processo interativo de co-construção da compreensão fica particularmente explícito na fala, em que o ouvinte, enquanto acompanha face a face, aqui e agora, a evolução da enunciação do falante, dá-lhe constante feedback por meio de recursos lingüísticos, paralinguísticos, mímico-gestuais e, até mesmo, pela explícita intervenção na elaboração de seu turno. É precisamente em situações dessa natureza em que o ouvinte intervém na construção do turno do falante que pretendemos dar evidência ao processo de co-construção da compreensão na fala.

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 02B

KAZUE SAITO MONTEIRO DE BARROS Universidade Federal de Pernambuco

MARCAS DE INTERATIVIDADE NO PROCESSO DE TEXTUALIZAÇÃO NA ESCRITA Ao querido amigo Luiz Antônio Marcuschi, que tanto nos ensina sobre as coisas da linguística e do mundo, com carinho, dedico. Este texto, de forma proposital, leva o mesmo título de um trabalho de L.A. Marcuschi, em que o autor defende a tese de que “o texto escrito apresenta traços de interatividade que estabelecem uma relação direta do escrevente com seu interlocutor”. Lembra ele que como a interatividade foi mais estudada na fala, por muito tempo pensou-se que a escrita não apresentaria marcas de interatividade explícita – essa é uma afirmação ainda consideramos atual e que indica a necessidade de se dedicar maior atenção ao tema. Marcuschi propõe alguns indícios de interatividade na escrita que parecem revelar que o autor age na suposição de um envolvimento multiorientado, estabelecendo relações variadas no processo interacional. O objetivo deste trabalho desdobra-se em dois: primeiro, a partir de conceitos e pressupostos da sociolingüística interacionista, discutimos o termo marcas de interatividade que, não obstante seu uso corrente na literatura, permanece ainda bastante obscuro. Segundo, examinamos os tipos de indícios de interatividade na escrita identificados por Marcuschi. Ressaltamos aqui que, muitas vezes, na literatura o termo marcas de interatividade na escrita mesclase ao de marcas de oralidade, o que consideramos uma postura teórica

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

parcialmente inadequada. A posição que defendemos é a de que essas marcas de interatividade devem ser interpretadas como pistas contextualizadoras utilizadas pelo autor para a construção do sentido textual. Em outras palavras, elas indicam não somente a busca de envolvimento do leitor, mas sobretudo a preocupação do autor com o monitoramento da interpretação do seu interlocutor. CI 03B

FÁTIMA MARIA ELIAS RAMOS Universidade Federal de Campina Grande

DISCURSO DE PROFESSORAS DA EJA SOBRE A PROPOSTA DE LÍNGUA PORTUGUESA DO MEC E DA AÇÃO EDUCATIVA Em nossas atividades acadêmicas nos cursos de formação de professores da Educação de Jovens e Adultos - EJA, observamos a falta de conhecimentos básicos de linguística, notadamente no tocante às teorias que embasam os documentos oficiais e os métodos de ensinoaprendizagem da leitura e da escrita, além da falta de continuidade na formação desses profissionais. Partindo dessa realidade, analisamos os discursos de seis professoras da EJA sobre os fundamentos e objetivos da área de Língua Portuguesa, do documento Educação para Jovens e Adultos. Ensino Fundamental: proposta curricular 1º segmento (2001). Pedimos-lhes para comentar a Proposta, a fim de investigarmos como essas professoras retomam os conceitos básicos desse capítulo. Além disso, entrevistamos cada uma delas e solicitamos que elaborassem um relato pessoal por escrito sobre a sua história de vida e sua formação profissional. Para analisar esses discursos, tomamos por base os

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

postulados teóricos de Bakhtin e seu Círculo, e diversos estudos sobre a heterogeneidade enunciativa. Assim, investigamos os diferentes modos de retomada-modificação da Proposta no discurso dessas professoras da EJA; as concepções de língua, linguagem, leitura e escrita; e os relatos da sua formação de alfabetizadoras. Nesta comunicação, apresentaremos apenas a análise dialógica dos seis comentários da Proposta acerca das concepções de língua e linguagem, concepções que vão da retomada-modificada de fragmentos ao senso comum de pessoas não escolarizadas. Os resultados comprovam a urgência de uma contínua preparação do professor, que lhe dê condições de compreender os processos de alfabetização e letramento, de modo que seja capaz de avaliar métodos e procedimentos propostos para essas atividades; elaborar materiais didáticos adequados, entre outras exigências da prática pedagógica de alfabetizar e letrar. CI 03B

IVANDA MARIA MARTINS SILVA Universidade Federal Rural de Pernambuco

“E-COMUNICAÇÃO” E GÊNEROS DIGITAIS: IMPLICAÇÕES NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A comunicação mediada por computador ou e-comunicação (MARCUSCHI; XAVIER, 2004) vem revolucionando o conceito de gênero, na medida em que o ambiente virtual possibilita novas formas de interação, ou melhor, novos contratos comunicativos. Na e-comunicação, autores e leitores assumem outros papéis, em função da interatividade e do dinamismo no fluxo informacional. Os autores

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

caminham para uma escrita cada vez mais compartilhada, em que a contribuição dos leitores torna-se ferramenta indispensável na e-comunicação. Na web, os leitores, também chamados de hiperleitores, podem enviar recados, informar, discordar, argumentar, questionar, enfim, atuam dinamicamente, tornando-se ainda mais co-autores na leitura e produção de textos. Pretende-se discutir a “e-comunicação” e a noção de gêneros digitais no contexto da Educação a Distância (EAD). Segundo Moran (2002), a EAD pode ser compreendida como processo de ensino-aprendizagem mediado por tecnologias, no qual professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente, no entanto, permanecem conectados por uma série de tecnologias (correio, telefone, fax, Internet, etc). A EAD explora certas técnicas de ensino, incluindo as hipermídias, as redes de comunicação interativas e todas as tecnologias intelectuais da cibercultura. (LÉVY, 1999). Na era da cibercultura, em que a interatividade ganha destaque, novas competências são requeridas, devido à superabundância de informações e à mobilidade do ciberespaço, o qual funciona como uma imensa rede de conexões, promovendo a ampliação da “inteligência coletiva”. Na “e-comunicação”, as práticas de linguagem começam a sofrer transformações diante da rapidez das trocas comunicativas e dos “e-gêneros”. E-mails, chats, blogs, microblogs, entre outros, tornam-se gêneros cada vez mais conhecidos dos internautas. Os usuários da Internet se adaptam às convenções desses novos modelos e buscam aperfeiçoar estratégias comunicativas, visando à eficácia das interações no ciberespaço.

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 03B

PEDRO FARIAS FRANCELINO Universidade Federal da Paraíba

MULTIVOCALIDADE E PLURIACENTUAÇÃO NO GÊNERO DISCURSIVO VERBO-VISUAL CHARGE: IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO DE LEITURA As relações dialógicas constituem, nos escritos do Círculo de Bakhtin, o aspecto central das reflexões sobre a linguagem, razão pela qual são consideradas o objeto de estudo da Translinguística. Tal conceito recobre uma série de outras noções formuladas no âmbito dos estudos empreendidos pelos pesquisadores desse grupo, tais como as de polifonia, heteroglossia, plurilinguismo, palavra bivocal etc. O objetivo deste trabalho é o de refletir, à luz desses pressupostos, sobre a constituição e o funcionamento dialógico do gênero discursivo verbovisual charge, que circula na mídia impressa e virtual e suas implicações para o ensino de leitura, como forma de ampliar a competência sociocomunicativa dos alunos. A metodologia adotada é a da pesquisa bibliográfica e documental, cujo corpus consta de um conjunto de charges coletadas em alguns dos principais jornais e revistas do Brasil, em sua versão impressa e/ou digital, no período de março a agosto de 2010. A perspectiva teórica adotada é a que se pauta pelos trabalhos advindos da Teoria da Enunciação de Bakhtin/Volochinov ([1929]1999), Bakhtin ([1953] 2000) e dos postulados da Teoria/Análise Dialógica do Discurso, representados aqui pelos trabalhos de Brait (1997, 2001, 2005, 2006 e 2009), Faraco (2001, 2003) e outros. As análises demonstram que os gêneros pertencentes à esfera comunicativa midiática, por serem enunciados extremamente dialógicos e plurivocais, constituem um

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

recurso pedagógico produtivo para o trabalho com a leitura nas salas de aula do ensino básico, propiciando o desenvolvimento das habilidades leitoras de nossos alunos. CI 03B

VERA LUCIA PAREDES PEREIRA DA SILVA Universidade Federal do Rio de Janeiro

A LINGUÍSTICA TEXTUAL E AS ANÁLISES QUANTITATIVAS: UMA CONVERGÊNCIA POSSÍVEL? Como marcuschi, colocamo-nos na perspectiva de que a linguística de texto (LT) trabalha com a língua, mas recusa-se a vê-la como um objeto autônomo, como faz a linguística formal (cf. marcuschi 2008:76). Assim, é natural que busquemos analisar os textos do ponto de vista do uso, i.e., “metodologicamente lidamos com um domínio empírico (op.cit:76)”. Adota-se, pois, uma visão sócio-interacionista de língua, como “fenômeno interativo e dinâmico”, observada na sua funcionalidade (cf. marcuschi 2000) análises empíricas nos permitem comprovar ou descartar hipóteses referentes ao funcionamento da língua, especialmente se realizadas através de um tratamento quantitativo adequado. Pretende-se aqui demonstrar que é possível associar conceitos da LT a análises de natureza quantitativa. O caminho adotado é a análise variacionista laboviana, que permite que controlemos simultaneamente um número significativo de categorias associadas a formas alternantes encontradas no discurso. Nosso exemplo é a referenciação, como construção de objetos de discurso, expressa através de sintagmas nominais, em concorrência com pronomes ou mesmo com a omissão de um elemento (possível no português) numa cadeia tópica.

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

pode-se tratar essa alternância como uma “variável”, tomando-se o termo num sentido bastante amplo, de uma correspondência funcional entre as formas em questão, não uma sinonímia. Tal tratamento nos permite a investigação das correlações entre as três formas “variantes” (sn, pronome, ø) e possíveis fatores co-textuais e contextuais influentes nessas escolhas (por exemplo, distância referencial, animacidade, tipo de texto, repetição ou não do item léxico, etc). Os resultados estatísticos obtidos nesse tipo de análise podem nos servir como balizadores da distinção de gêneros textuais, por exemplo. em nossos estudos temos aplicado esse tratamento a gêneros da mídia impressa, com resultados bastante interessantes (paredes silva 2007, 2008). Desse modo, pretendemos demonstrar que é não só possível como proveitosa uma associação entre análises quantitativas e conceitos da LT. CI 04B

JOSÉ ARMANDO DE ANDRADE Associação Caruaruense de Ensino Superior / Universidade Federal de Pernambuco

MULHER/SEXO FRÁGIL E LEI MARIA DA PENHA: MODELOS MENTAIS E CATEGORIZAÇÃO DA MULHER VÍTIMA DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM PEÇAS JURÍDICAS A aprovação da Lei Maria da Penha é considerada um marco no sistema jurídico brasileiro. Finalmente, o legislativo aprovou uma lei específica para algo, infelizmente, tão corriqueiro que é a violência contra a mulher, ampliando o leque de punições a agressões de qualquer natureza praticada por homens. No entanto, a existência da lei é suficiente? Uma lei aplicada, na maioria dos casos, por homens, numa esfera geralmente / 313 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

não tradicional como a jurídica, garante a eficácia da lei? Qual o protótipo de mulher contemplado na Lei Maria da Penha? Como a mulher é categorizada ao ser amparada por essa lei em determinados casos de violência? Para respondermos a essas perguntas, recorremo-nos a análises, na perspectiva crítica do discurso (jurídico) (Van Dijk, 2008; Coelho, 2003, Mozdzenski, 2006), do texto da lei e de sua aplicabilidade em sentenças e despachos dados por juízes. Partindo da concepção de que a linguagem materializa sentidos situados num lastro social e cultural, intersubjetivamente partilhado (cf. Davidson, 2002; Marcuschi, 2005 e Blikstein, 2004), e com base na noção de categorização de Rosch (1978), Lakoff (1987) e Taylor (1995), percebemos que são construídos Modelos Cognitivos Idealizados (cf. Lakoff, 1987) sobre a figura da mulher em casos de agressão que acabam por definir a mulher como sexo frágil, que precisa de proteção, mas, ao mesmo tempo, não é confiável do ponto de vista processual por sua condição feminina. A conclusão a que chegamos é a de que a lei Maria da Penha atende ao anseio social em termos da existência de uma lei que coíba a violência contra a mulher. Entretanto, sua interpretação jurídica acaba por construir um estereótipo da figura feminina que acaba por favorecer a ineficácia da lei em favor dos agressores, o que compromete a sua eficácia. CI 04B

JULIANA CAU DURANTE Universidade Federal de Pernambuco

DISCURSO E PODER NA CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES: UM ENSAIO SOBRE A LOUCURA Com o intuito de retomar importantes discussões em torno da questão da loucura, elegemos enquanto objeto de estudo do presente artigo a / 314 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

produção textual-discursiva do poeta francês, ator e roteirista Antonin Artaud, escrita na década de quarenta, período pelo qual foi internado como louco, de modo incidental, por longos anos em manicômios franceses, intitulada “Carta aos Diretores de Asilos de Loucos”, em correspondência aos médicos. Esta forma de discurso denuncia veementemente a ditadura social do qual eram vítimas tais indivíduos (e será que ainda não o são?), partindo da concepção de doença mental como um desvio patológico da norma (pautados no paradigma cartesiano da razão moderna), construídos historicamente num lugar social de exclusão naturalizada, a partir de um discurso do poder psiquiátrico que cerceou a liberdade e manteve a loucura silenciada por tanto tempo (FOUCAULT, 1968; 2002; 2006; 2008). Apoiados na idéia de que a construção de identidades dá-se na interação das práticas discursivas de uma dada cultura num tempo histórico, uma vez que, tal qual propõe Foucault (1968, p.71) “a doença só tem realidade e valor de doença no interior de uma cultura que a reconhece com tal”, propomos efetuar uma análise do discurso articulada a ótica de Van Dijk (2008), no cerne de suas discussões sobre poder e controle social, a partir de um dado discurso hegemônico com fins de dominação, e das idéias de Fairclough (2001) sobre mudança e transformação social, na crença de que são tais mudanças nas ordens dos discursos que contribuem para modificar o conhecimento, as relações e as identidades sociais. Efetuar este jogo dialógico interdiscursivo (BAKHTIN, 2004) impulsionanos a apontar para a legitimação de outras formas de discursos que venham a resignificar e devolver os sentidos de dignidade, liberdade e cidadania perdidas, não mais na exclusão de suas diferenças, mais na sua positivação.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 04B

KELLY CRISTINA DE ALMEIDA MOREIRA Universidade de Brasília

REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS SOBRE FAMÍLIA NA PERSPECTIVA DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA NAS RUAS O objetivo deste trabalho é apresentar e discutir resultados da dissertação “Discurso de adolescentes em situação de rua: da ruptura familiar à exclusão social”, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade de Brasília (Moreira, 2007). Trata-se de um aprofundamento das análises feitas durante o mestrado. A pesquisa, de natureza qualitativa (descritiva e interpretativa), teve como objetivo investigar, à luz da Análise de Discurso Crítica, o discurso sobre “família” na perspectiva de adolescentes que viviam em situação de rua. Os dados empíricos que serão analisados, no caso específico deste estudo, envolvem cinco entrevistas narrativas com adolescentes que viviam nas ruas de Brasília, os quais frequentavam, no período entre 2005 e 2006, a Escola de Meninos e Meninas do Parque (E.M.M.P.). O arcabouço teóricoanalítico parte da Teoria Social do Discurso, sugerida por Fairclough (2001, 2003), que propõe uma concepção de linguagem como prática social, o que é complementado com a proposta de Halliday (1994) e Halliday e Matthiessen (2004), que fundamenta a Gramática SistêmicoFuncional. O estudo detalhado dos processos de transitividade, bem como o enfoque do tema presente no corpus analisado, permite constatar que a linguagem, além de ser uma forma de significação do mundo, é também de ação sobre o mundo e sobre o outro. Os resultados alcançados constituem uma contribuição para alertar sobre os riscos sociais na vida de

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

adolescentes em situação de rua no contexto brasileiro, além de servir de ponto de partida para projetos que revertam a situação da adolescência nas ruas, sobretudo porque desvelam as diversas representações feitas pelos jovens sobre suas famílias reais e sobre suas famílias almejadas. CI 04B

LEÔNIDAS JOSÉ DA SILVA JR. Universidade Federal da Paraíba

“DANÇA COM LOBOS” À LUZ DA SOCIOLINGUÍSTICA INTERACIONAL UM ENFOQUE ETNOGRÁFICO Este trabalho de pesquisa tem como objetivo principal descrever e analisar as trrocas conversacionais e os atos de fala do filme hollywoodiano Dança com Lobos (dirigido por Kevin Costner) a partir do comportamento conversacional de seus personagens em um processo sociolingüístico de interação que discorre aos holofotes das linhas mestras da sociolinguistica interacional. A presente pesquisa é fundamentada em teóricos como Hymes, Goffman, grandes pilares nas questões dos atos conversacionais. Eles e outros teóricos constroem um relevante ponto de partida no que tange às pesquisas da sociolingüística interacional destacando, como princípio basilar, a importância nas interações face-a-face. A prioridade é mostrar que, não só o falante/enunciador, mas também o ouvinte/ enunciatário assumem papéis de igual relevância beste tipo de processo Muitas vezes será percebida a troca de posição entre os interactantes do discurso. As relações conversacionais observadas na presente pesquisa são pertencentes ao universo de dois povos (anglo-americanos e índios Sioux). Elementos como direcionamento do olhar, pausas, retomadas de / 317 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

fala, gestos, elementos prosódicos, alternâncias situacional e metafórica de códigos fazem parte de um conjunto de pistas de contextualização as quais são aqui contempladas. O estudo desta pesquisa também funciona como bússola para outras ciências como Antropologia, Comunicação Social, Direito, Educação, Lingüística, Psicologia, Sociologia. Sempre com o intuito de que haja uma interseção e uma relação harmônica com essas outras ciências a partir de suas relações entre língua, cultura e sociedade. CI 05B

APARECIDA REGINA BORGES SELLAN Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

DISCURSO JURÍDICO: O PODER E O CONTROLE NA ARGUMENTAÇÃO Esta comunicação tem por tema um estudo do discurso jurídico com o objetivo de verificar sua construção argumentativa considerando a intertextualidade e a interdiscursividade como formas de estabelecer o poder de controlar as ações jurídicas pela vinculação direta com o que postula a legislação. Está situada na área da Análise Crítica do Discurso, com vertente sócio-cognitiva, que trata da inter-relação das categorias Discurso, Sociedade e Cognição. Tem-se por ponto de partida que a textualidade e a intertextualidade, juntamente com a argumentatividade são características da linguagem humana responsáveis por atos recursivos, no momento da produção de sentidos. Nesse sentido, a área jurídica tem se mostrado um espaço em que tais ações recursivas são preponderantes. Desse modo, a questão da intertextualidade tem merecido no discurso jurídico um tratamento específico. Compreende-se o discurso jurídico como sendo essencialmente organizado por um texto argumentativo / 318 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

que, como tal, traz em sua materialização lingüística recursos próprios da linguagem humana. Recursos esses relativos a uma prática discursiva social que permite atualizar um conjunto de outros textos e, por conseguinte, de outros discursos como forma de dar sustentação à tese defendida. Assim, a título de exemplificação, será analisado um texto relativo à “Ação de Indenização pelo Rito Ordinário”, do qual resultou “Recurso de Apelação”. Os resultados previamente obtidos indicam que a intertextualidade e a argumentatividade são relevantes recursos na construção da argumentatividade nos discursos jurídicos. Assim, analisá-los a fim de identificar o modo como se estruturam traz grande contribuição para o ensino/aprendizagem no que diz respeito à leitura e compreensão de textos cuja complexidade assemelha-se aos da área jurídica. CI 05B

BENEDITO GOMES BEZERRA Universidade de Pernambuco

REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO EM TRADUÇÕES DA BÍBLIA PARA PORTUGUÊS E INGLÊS: UMA ABORDAGEM COMPARATIVA Pesquisas sobre a leitura no Brasil ressaltam a centralidade dos conteúdos religiosos e, particularmente, da Bíblia na preferência dos leitores, ressaltando, portanto, a importância dessa literatura para a sustentação ou, eventualmente, para a mudança das ideologias defendidas pelos grupos sociais relacionados. A discussão sobre o gênero (gender) é uma das questões relacionadas com o poder e o abuso do poder (VAN DIJK, 2008) nas relações entre homens e mulheres. A teologia feminista tem

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

apontado a Bíblia como um livro “patriarcal”, responsável por contribuir para a perpetuação da desigualdade entre os gêneros, parcialmente através do processo de tradução das línguas antigas, grego e hebraico, para as línguas contemporâneas. Em parte, portanto, a desigualdade de gênero presumida no texto bíblico teria sua origem de modo específico nos pressupostos dos tradutores, e não no texto bíblico em si. Em vista disso, o trabalho propõe uma abordagem comparativa, teoricamente baseada na Análise Crítica do Discurso e na Teoria da Tradução (METZGER, 1993), sobre as representações de gênero em diferentes traduções da Bíblia das línguas originais para as línguas portuguesa e inglesa. Para a condução da pesquisa, foram selecionadas 20 bíblias, publicadas no período entre 1950 e 2010, subdivididas nas duas línguas e distribuídas por diferentes procedências editoriais, as quais foram analisadas do ponto de vista da maior ou menor sensibilidade à questão do gênero. Para a análise, foram selecionadas passagens bíblicas em que a problemática da desigualdade de gênero vem à tona com mais clareza. Essas passagens foram então comparadas nas diversas traduções em português e em inglês, à luz do texto na língua original. Os resultados indicam uma tendência para a linguagem inclusiva do ponto de vista do gênero nas versões mais contemporâneas, tanto na língua inglesa como na língua portuguesa. CI 05B

CLÉLIA BARQUETA Universidade Federal da Paraíba

IMAGENS SUJAS Este trabalho é o início de uma discussão sobre imagens televisivas que fogem ao controle das emissoras, pelo fato de serem transmitidas / 320 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

ao vivo e em ambientes onde elas não podem determinar o que está acontecendo no campo de abrangência de suas câmeras. Por isso são chamadas no jargão de telecomunicação de “imagens sujas”, pois o inesperado – seja um produto não patrocinador do evento ou algo considerado esteticamente “inadequado” para os padrões da emissora. Um exemplo disso é a cobertura dos três grandes pólos de carnaval no Brasil. Na Bahia e no Rio de Janeiro existem os chamados “corredores de folia”– no Rio, o Sambódromo; e na Bahia, os des files dos trios elétricos. No caso de Pernambuco, esse tipo de ambiente não existe, pois as manifestações carnavalescas são muito mais espontâneas e acontecem ao ar livre e em ambientes não confinados, portanto fogem do controle “estético” das emissoras. O presente trabalho também procura pesquisar imagens dos carnavais de Olinda e Recife, ainda não controladas por essas emissoras. Imagens essas que dispõem, por isso, de bem menos tempo na grade de programação das TV, durante o chamado período carnavalesco. É uma pesquisa ainda em elaboração, sobre a transmissão televisiva do carnaval de rua dessas duas cidades. O sucesso desse carnaval é tão grande que as emissoras se encontram em uma situação de beco sem saída, pois têm que cobri-los, mesmo levando em consideração o risco do surgimento de imagens incontroláveis ou “sujas” (sic). É uma comparação entre carnavais feitos em chamados “corredores da folia” e carnavais de rua com ampla participação popular e sem controle sobre imagens que surgem espontânea e inesperadamente aos “olhos” das câmeras.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 05B

SIMONE CORREIA TOSTES Centro de Estudos de Pessoal e Forte Duque de Caxias

ESTRATÉGIAS COMUNICATIVAS EM AVA Relativamente recente, a pesquisa em educação a distância é bastante fértil para investigar rotinas didáticas e implementar métodos de ensino. Compreender as trocas interacionais no ambiente virtual de aprendizagem (AVA) constitui assunto relevante para o aperfeiçoamento de processos educacionais. Tendo como base a aplicação de questionários de avaliação do professor ao término de um curso de formação de tutores, identificamos o alto grau de aprovação das rotinas utilizadas pelo professor. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, onde foram observados os “protocolos interacionais” (Bortoni-Ricardo, 2008), isto é, as sequências bem sucedidas na atuação didático pedagógica do professor. Essa investigação vem atender ao que Cook-Gumperz (1987) preconiza para a vertente etnográfica de pesquisa qualitativa, pois busca responder a questões educacionais. Nossa principal questão consiste em compreender como se efetiva a comunicação do professor com seus alunos para identificar por que suas estratégias são bem aceitas. Empregamos os procedimentos da análise etnográfica para verificar se princípios da Teoria da Polidez (Brown e Levinson, 1987) se aplicam às técnicas linguístico pedagógicas implementadas pelo professor no AVA. A coleta de dados foi realizada pela observação participante, possibilitada pela atuação como discente no curso em questão. Além do levantamento das ocorrências no discurso docente, realizamos a triangulação dos dados pela aplicação de um questionário ao professor para verificar se as estratégias arroladas se realizam de forma consciente. A apuração dos dados coletados e do questionário evidenciou um alinhamento entre as / 322 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

declarações dos alunos e as do professor. Discentes e docente apontam como atributos principais do professor para a aprendizagem em AVA a presença ativa, o relacionamento afetivo, a atenção e a dedicação. Os resultados dessa pesquisa oferecem subsídios para a formação inicial e continuada de professores com a finalidade de obterem-se melhores resultados nos esforços empreendidos para mediar o desenvolvimento da aprendizagem. CI 06B

ANDRÉ PEREIRA DE CARVALHO Universidade Federal de Pernambuco

CRÍTICA SOCIAL E POSIÇÃO IDEOLÓGICA NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS DA REVISTA RAGÚ Este trabalho mostra a capacidade de representação da sociedade presente nas Histórias em Quadrinhos (HQs), desvendada pela análise semiótica do texto e das imagens. O estudo se dá no caso da revista Ragú, publicação de quadrinhos pernambucana, e busca desvendar o percurso gerativo de sentido na construção narrativa da história e demonstrar como e por quê as escolhas de elementos fundamentais, narrativos e discursivos, em seus níveis sintáticos e semânticos, não são tomados unicamente por uma questão estética ou ao acaso, mas em conjunto formam uma isotopia no sentido da história, mostrando de maneira implícita um discurso que reflete uma crítica social e uma posição ideológica – o agente produtor do discurso não se situa fora de um contexto social, ele age a partir de seu contexto sócio-histórico (ou a partir de seu habitus, conforme Pierre Bourdieu). Como fundamentação da análise semiótica, parto principalmente dos trabalhos de José Luiz Fiorin e Diana Luz Pessoa de Barros. Também faço uso do semi-simbolismo para análises plásticas, / 323 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

como proposto por Antonio Vicente Pietroforte, e demais contribuições de Jean-Marie Floch e Algirdas Julien Greimas. A base da teoria social aplicada aqui é Pierre Bourdieu e seus conceitos de campo, habitus e capital simbólico, pois aponto a posição social retratada na HQ como uma luta, em nível simbólico, de um sujeito igualmente simbólico (independente da verdadeira posição social do autor) que busca trazer à tona questões sociais, em oposição a um grupo social hegemônico que seria, no caso da HQ estudada, a classe burguesa. As análises apontam, em última instância, para o desmascaramento da realidade das classes desfavorecidas, apontando a origem de sua desigualdade em uma construção histórica, negando assim a posição que naturaliza a desigualdade, afirmando sua eterna existência na História. CI 06B

MÁRCIA CANDEIA RODRIGUES Universidade Federal de Pernambuco

AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA: NOVOS E VELHOS DISCURSOS A aula de língua portuguesa que caracteriza os cursos de graduação em letras em nosso país tem sido constantemente alvo de investigações sobre como ela contribui para a formação de novos professores e, em igual medida, tem motivado pesquisadores de diversas áreas – Linguística, Pedagogia, Filosofia, Sociologia, Antropologia – a discutirem aspectos gerais de sua configuração, assim como as estratégias utilizadas pelos professores para melhor formularem esses momentos e deles obterem os resultados mais esperados. De uma forma geral, a aula de língua portuguesa não é mais a mesma. Em diversos aspectos ela mudou, seja em seu planejamento, em sua execução, nos objetivos que de se / 324 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

deseja alcançar, nos “espaços de fala” concedidos aos alunos, no papel um tanto descentralizado do professor. Atentando para essas mudanças e seus efeitos na academia, na formação de novos professores da área, este trabalho objetiva discutir o formato da aula de língua portuguesa a partir de narrativas escritas de alunos do 5º período do curso de letras da Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Formação de professores da cidade de Cajazeiras – PB. As narrativas, nessa perspectiva, são tomadas como uma significativa oportunidade de os alunos poderem se reportar ao início de sua trajetória acadêmica e refletirem sobre as expectativas concretizadas ou não no curso quanto às aulas objeto dessa investigação. Fundamentam a discussão, as contribuições advindas de Moita Lopes (2003), Johnstone (2003), Antunes (2003), Marcuschi (2005), Matêncio (1999) e Riessman (2008). Os discursos sinalizam pluralidade de experiências que ampliam as ações de ensinar e aprender, em um gesto despropositado, muitas vezes, mas significativo de demarcação, construção e mudança social. CI 06B

MARIA FRANSCISCA OLIVEIRA SANTOS Universidade Federal de Alagoas

A CONSTITUIÇÃO DO ETHOS NO GÊNERO “EDITORIAL”, NA CIDADE DE MACEIÓ – ALAGOAS Este trabalho tem por objetivo mostrar a importância da constituição do ethos discursivo em consonância com o logos e o pathos, por meio dos elementos verbais, em gênero textual de caráter midiático. Defende a possibilidade de descoberta do ethos em qualquer gênero textual por meio da análise dos elementos linguístico-retóricos de que se serve qualquer produtor de texto na exposição e defesa dos seus argumentos, / 325 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

para propiciar questionamentos por ocasião do processo interpessoal, os quais o suscitam ou nele são encontrados, com o objetivo de persuadir o auditório social, por ocasião das suas produções acerca de assuntos da atualidade. Esse ethos é tomado como figura central que não tem objeto próprio, mas se liga à imagem que o orador passa de si mesmo, e que o torna singular aos olhos do auditório, que, muitas vezes, fica a ouvi-lo e a segui-lo. Procura despertar as emoções e os sentimentos do outro (pathos), quando fala acerca de um objeto teórico de atenção, ou seja, o conhecimento propriamente dito (logos). Assim, o estudo busca fundamentos em Abreu (2004), Meyer (2007), Reboul (1998), Marcuschi (2008), dentre outros. A análise do gênero editorial tem um cunho interpretativo à luz da fundamentação teórica destacada, evidenciando os elementos constitutivos de caráter retórico, os quais advêm da análise textual do gênero, e os fatores ligados às relações interpessoais entre retor (editorialista) e auditório social (leitores do jornal). A grande relevância do trabalho está em observar o gênero em consonância com os estudos da retórica, podendo as suas contribuições extrapolarem o ambiente da sala de aula para outros cenários discursivos. CI 06B

MARIA INEZ MATOSO SILVEIRA Universidade Federal de Alagoas

ARGUMENTAÇÃO E PRODUÇÃO DE TEXTO – ABORDAGEM DE GÊNERO TEXTUAL NO ENSINO DE INGLÊS Nesta comunicação, apresentamos o relato de uma pesquisa-ação de intervenção pedagógica que consistiu numa experiência de ensino de

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

produção textual na língua inglesa, cuja motivação para o ato de escrever se deu através de uma abordagem centrada na noção de gênero textual, mais especificamente, no artigo de opinião, em que a subjetividade e a atividade argumentativa assumem grande importância. A experiência foi realizada com alunos de 4º ano noturno do Curso de Letras da UNEAL (Universidade Estadual de Alagoas, Campus Arapiraca) no 2° semestre de 2009. A metodologia é de base qualitativa e utilizou questionários, diários de campo, entrevistas e a análise do corpus representado pela produção textual dos graduandos. A pesquisa fundamentou-se na teoria de gêneros textuais nas concepções sociointeracional (Marcuschi, 2002) e sócio-retórica (Miller, 1994; Bazerman, 2005), focalizando a argumentação como atividade retórico-discursiva, cuja realização na superfície linguística é passível de estudos textuais e lingüístico-gramaticais. Nesse sentido, baseando-se na argumentação retórica e na linguística textual, foi dado um tratamento didático aos marcadores discursivos e lógicos, com especial ênfase nos conectores interfrasais. Do ponto de vista da ação didática, a pesquisa-ação teve duas fases distintas: a fase do ensino implícito, que serviu como imersão e exposição dos alunos ao gênero artigo de opinião, e a fase do ensino explícito, em que foram ensinados formalmente os elementos da estrutura textual do gênero, os tipos de argumento e os marcadores discursivos que regularmente aparecem nos gêneros opinativos. As análises e a avaliação dos textos se deram a partir do cotejo da produção dos alunos nas duas fases do ensino (implícita e explícita) e os resultados foram considerados satisfatórios.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 07B

LUCIANA MORAES BARCELOS MARQUES Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

COCA-COLA E SUJEITOS SOCIAIS: A CONSTRUÇÃO (CONTÍNUA) DE UMA MARCA Esta pesquisa se propõe a analisar o desenvolvimento da relação identitária entre a Coca-Cola e seus consumidores. Para tal, foram consideradas as mudanças sociais que aconteceram no decorrer dos anos e a adaptação das propagandas de acordo com as ansiedades da sociedade. As análises sustentam-se nas concepções de sujeito e na (re)construção da realidade pelo viés da Análise do Discurso, utilizando, como autores de base, as proposições de Ducrot, de Charaudeau, de Maingueneau e de Pêcheux, principalmente no que tange às condições de enunciação como fator fundamental para a produção de sentido. Como estratégia constituinte do discurso publicístico, o sujeito a ser atingido pelas peças publicitárias é incorporado pela campanha como um todo e identificado dentro de uma formação discursiva (FD) que norteia as ações de persuasão. A partir disso, objetiva-se discutir diferentes concepções de sujeito e sua relação históricosocial dentro da Análise do Discurso; investigar as estratégias persuasivas de identificação do produto por seus consumidores e da construção de identidade por extensão; e investigar as condições histórico-culturais que alimentaram três grandes campanhas da Coca-Cola, com foco específico na atual postura de sustentabilidade e de incentivo otimista (o estudo analisa a campanha de 2006, fazendo uma breve menção das campanhas de 1966 e de 1993). A escolha desse corpus justifica-se pelas mudanças das campanhas publicitárias que constituem a história da Coca-Cola, as quais ocorreram de acordo com as transformações sociais e culturais no decorrer de mais de 100 anos de comercialização. / 328 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 07B

LUDMILA MOTA DE FIGUEIREDO PORTO Universidade Federal de Pernambuco

ENTRE O ESTATUTO DO IDOSO E O GUIA PRÁTICO DO CUIDADOR, OS CUIDADORES DE IDOSOS O Brasil sofreu uma rápida mudança no seu perfil demográfico, a partir da segunda metade do século XX: de país jovem, passou a ser considerado um país envelhecido, uma vez que, segundo o IBGE, 9,3% da população brasileira já atingira 60 anos de idade, em 2002. O acelerado envelhecimento da população brasileira trouxe a necessidade de ampliação dos serviços especializados de atendimento aos idosos, para suprir as demandas que essa faixa etária exige, preservando sua qualidade de vida. Nesse contexto, a atividade do cuidador de idosos ganhou importância no mundo do trabalho e, para orientar esses trabalhadores, foi publicado o Guia Prático do Cuidador pelo Ministério da Saúde. No âmbito jurídico, o reconhecimento dos idosos como uma camada da população cujos interesses necessitavam de proteção acarretou a instituição do Estatuto do Idoso. Este trabalho objetiva estabelecer relações dialógicas entre o discurso do Guia Prático do Cuidador, do Estatuto do Idoso e dos cuidadores de idosos, a partir de entrevistas narrativas realizadas com cuidadores de idosos em instituições geriátricas de Recife/PE. As entrevistas foram transcritas, interpretadas e analisadas qualitativamente, à luz do método dialógico-discursivo, uma forma de conhecimento de natureza sócio-cultural de sujeitos históricos, através da linguagem (SAMPAIO et al., 2006). Adotou-se a perspectiva teórica da Ergolinguística, disciplina pautada na confluência da Teoria Dialógica

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

da Linguagem, desenvolvida pelo filósofo russo Bakhtin e seu Círculo, e da Ergologia (SCHWARTZ, 1997; 2000), que se debruça sobre o trabalho em situação real. Os dados analisados sugerem que esses trabalhadores refletem o discurso do Estatuto do Idoso e refratam o discurso do Guia Prático do Cuidador, através de palavras ou de ações, imprimindo suas próprias marcas em seu trabalho. CI 07B

MARIA EUGENIA BATISTA Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

O BRIC NA MÍDIA INTERNACIONAL: O DISCURSO JORNALÍSTICO E AS ESCOLHAS LÉXICO-GRAMATICAIS AVALIATIVAS Esta comunicação tem como objetivo apresentar uma análise das escolhas léxico-gramaticais contidas no discurso jornalístico de três diferentes fontes internacionais (The New York Tines, The Guardian, The Economist) para avaliar o BRIC, acrônimo criado pelo economista Jim O’Neill, chefe de pesquisa em economia global do grupo financeiro Goldman Sachs, em novembro de 2001, para referir-se os quatro principais países emergentes no mundo: Brasil, Rússia, Índia e China. Os artigos foram coletados eletronicamente e analisados à luz de instrumentos metodológicos da Lingüística de Corpus (LC) (Biber et al., 1998; Berber Sardinha, 2004) e do Sistema de Avaliatividade (Martin, 1999; Martin & Rose, 2003; Martin & White, 2005) sob a perspectiva da Língüística Sistêmico-Funcional (LSF) de Halliday (1994, 2004). Ao analisarmos o discurso jornalístico, compartilhamos a visão de Caldas-Coulthard (1997:11) de que a notícia tem um papel social, político e educacional. Ao

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

sermos expostos às notícias, fazemos conexões e buscamos entender e explicar como os eventos relatados pela mídia estão relacionados com a sociedade como um todo. Os resultados mostraram que o BRIC tende a ser avaliado positivamente por meio de apreciações que são intensificadas e amplificadas no texto. No que diz respeito ao grau de engajamento do escritor com essa avaliação, pudemos observar que o engajamento é, na maioria das vezes, realizado na forma monoglóssica, ou seja, o escritor não faz referência a outras vozes. Quando o escritor trouxe outras vozes para expressar avaliação sobre o bloco de países emergentes, o fez possivelmente com a intenção de endossar seu posicionamento e/ou o posicionamento do jornal. CI 07B

VIRGÍNIA LEAL Universidade Federal de Pernambuco

DISCURSO, DIREITOS HUMANOS E CULTURA DE PAZ Considerando a importância nas sociedades contemporâneas de estudos e pesquisas voltados à construção de uma cultura de paz, no âmbito da preservação e difusão dos direitos humanos, investiga-se como são organizados os discursos em torno da posição oficial brasileira no tocante, por exemplo, a recentes conflitos internacionais relacionados à área de defesa dos direitos humanos. O corpus analisa textos oriundos de declarações oficiais, entrevistas e reportagens que circularam na mídia por ocasião da recente visita do presidente Luís Inácio Lula da Silva a Cuba (cf. greve de fome de Farinas em prisão cubana) e do ataque israelense ao navio Mavi Marmara quando se dirigia à Faixa de Gaza. Especificamente, tem por objetivo analisar os efeitos de sentido de várias expressões, / 331 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

entre elas a expressão “ajuda humanitária”, e os modos pelos quais tais sentidos foram construídos e a quais atores encontram-se vinculados. Os primeiros resultados sinalizam a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre o fenômeno da interincompreensão, uma vez que os recortes analisados estavam constituídos por diversas zonas de “mal entendidos”. Tais “mal-entendidos” são tratados, nesta comunicação, como ambiguidades – fenômeno constitutivo da linguagem – e é essa condição de ambiguidade da linguagem que precisa ser melhor trabalhada pela diplomacia brasileira, no quadro das disposições internacionais de investimentos no campo da educação voltada à construção de um cultura de paz. A perspectiva teórica está alicerçada na Análise de Discurso Francesa, notadamente nos trabalhos de Pêcheux (1969), Maingueneau (2001, 2005, 2008) e Possenti (2004). CI 08B

ISALTINA MARIA DE AZEVEDO MELLO GOMES Universidade Federal de Pernambuco

FALA E ESCRITA E MUDANÇAS NO CONTEÚDO PROPOSICIONAL: A TRANSPOSIÇÃO DE ENTREVISTAS COM CIENTISTAS EM TEXTOS JORNALÍSTICOS DA IMPRENSA DIÁRIA O objetivo central deste estudo é apontar os fenômenos lingüísticos envolvidos na transposição de entrevistas, realizadas com cientistas, em textos jornalísticos publicados na imprensa diária. Para desenvolvêlo, utilizamos como suporte teórico, fundamentalmente, trabalhos desenvolvidos por Marcuschi, acerca da relação fala-escrita, e por Van Dijk, / 332 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

sobre a transformação de textos-fonte em textos jornalísticos. O Jornal do Commercio, do Recife, foi escolhido como veículo-alvo desta pesquisa pelo fato de o mesmo manter desde 1989 a editoria de Ciência / Meio Ambiente, com uma equipe de repórteres dedicados à cobertura de temas relacionados à ecologia, ciência e tecnologia. Tomamos como objeto de análise quatro conjuntos de textos (entrevista - matéria jornalística) que nos permitiram identificar as principais operações lingüísticas e as repercussões dessa transformação no conteúdo proposicional. Nossa análise mostrou modificações substanciais entre a entrevista e o texto jornalístico, mas normalmente a idéia básica do texto original é preservada. Conforme havíamos previsto nas hipóteses, constatamos que as imprecisões atribuídas pelos cientistas aos textos de divulgação científica são muito mais uma questão de mudança da perspectiva de interesse do que propriamente distorção de informações. Mesmo em se tratando de um estudo de caso, acreditamos que nossas conclusões indicam o que geralmente ocorre na retextualização de entrevistas em textos de divulgação científica para a imprensa diária. Mas, para que tenhamos uma visão mais ampla deste aspecto do jornalismo científico, pretendemos continuar este estudo, analisando outros periódicos, especialmente os que tenham circulação nacional. CI 08B

JUNOT CORNÉLIO MATOS Universidade Católica de Pernambuco

REDAÇÃO NO VESTIBULAR: O DISCURSO DOS MANUAIS O objetivo deste trabalho é identificar o discurso veiculado nos manuais de vestibular como um possível agente causador de problemas / 333 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

manifestados pelos candidatos em produzir a redação no Concurso. O intento será desvendar o que se quis dizer, e observar a relação de poder estabelecida entre os dois grupos envolvidos no processo, ou seja, a Comissão de Seleção e os Vestibulandos. Interessa se desvelar o poder discursivo do grupo dominador utilizando-se o Manual do Candidato como veículo. A escrita mantém uma relação estreita com padrões, regras, normas e dominação, e esse discurso acadêmico é validado e prestigiado socialmente, mesmo sendo ditatorial. A concepção dialógica da linguagem indica que ela é um fato social e se funda nas necessidades de comunicação, porém, o que se vê são orientações em linguagem impositiva e vestibulandos assujeitados, crentes de que assim não arriscarão a vaga pretendida. O estudo parte da leitura de Manuais do Candidato dos dois últimos anos, observando-se a linguagem utilizada, passando por entrevistas orais e informal com alunos e professores de uma escola pública e de cursinhos, a fim de captar suas impressões sobre as orientações constantes no manual, concluindo-se com o cruzamento das informações para ao levantamento das hipóteses. Os resultados obtidos confirmam que a maioria dos alunos/candidatos pesquisados procura seguir obedientemente o esquema de orientações indicado nos manuais, valorizando a linguagem impositiva utilizada. Os professores repassam esses esquemas e incentivam essa obediência, mas reclamam sobre o esquema proposto e a consequente argumentação repetitiva dos alunos. Assim, comprova-se que o discurso utilizado para orientar os candidatos nos Manuais do Vestibular constitui um agente causador de problemas manifestados pelos candidatos para produzir a redação do vestibular.

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 08B

LEILANE RAMOS DA SILVA Universidade Federal de Sergipe

ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA, MODALIZAÇÃO E REVISTA PERFIL EM CENA: FOCO NAS CAPAS DE 2003 A 2008 DA EDIÇÃO COMEMORATIVA DE 10 AN0S Ancorado na idéia de que a produção de uma revista segue especificidades diversas, desde a escolha de figuras para a capa até a seleção de uma notícia para manchete, passando por estratégias como o uso de elementos linguístico-discursivos capazes de “guiar” a forma como a mensagem deve ser entendida, este estudo analisa o estatuto da modalização epistêmica e avaliativa nas capas de 2003 a 2008 da edição especial de 10 anos da revista Perfil (“Retrospectiva”), uma publicação mensal das Editoras Info Graphi e Art&CIA que realça potenciais turísticos, culturais, empresariais, comportamentais e educacionais do interior sergipano. Metodologicamente, entrelaçam-se os princípios da Teoria da Modalização Linguística (CASTILHO; CASTILHO, 1993; CERVONI, 1989; KOCH, 1987 e outros) com a perspectiva de Chabrol (2001), para quem os enunciados se inscrevem em 5 esferas discursivas: da informação, da avaliação, interacional, acional e contratual. Grosso modo, destaca-se no corpus a existência de uma pseudo-informação, em que o jornalista se aproveita da oportunidade de “informar” para falar da importância que a revista tem não só para o interior de Sergipe, mas também para o Brasil. As instâncias modalizadoras avaliativas apresentam-se tanto de uma forma global (com o uso de elementos que induzem o leitor a uma concordância) quanto local (com adjetivos que incidem sobre um / 335 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

outro elemento já avaliativo e reforçam uma percepção do enunciador). Para sumarizar, dos 36 enunciados modalizados, 28 estão na esfera da pseudo-informação, 06 na da avaliação e 02 na da informação. Quanto aos tipos de modalizadores, 30 foram classificados como avaliativos e 06 como epistêmicos (02 asseverativos e 04 delimitadores). Sem dúvida, a análise reforça o entendimento de que a argumentatividade está inscrita na língua, à medida que o locutor costuma se valer de mecanismos linguísticos para arquitetar suas próprias opiniões sobre a Perfil e, claro, para convencer o público a adquiri-la. CI 08B

MARIANNE CARVALHO BEZERRA CAVALCANTE Universidade Federal da Paraíba

MAPEANDO A REFERÊNCIA EM AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM: O GESTO DE APONTAR Considerando o apontar como o mais explícito comportamento gestual, utilizado pela criança, para fazer referência a um dado objeto no mundo (Bates, O’Connell & Shore, 1987), diversos autores têm se preocupado em analisá-lo numa perspectiva ontogenética, principalmente em Psicologia (Werner e Kaplan, l963; Millicent-Shinn, l900), detendo-se nas suas origens. Neste trabalho discutimos a perspectiva que que concebe o desenvolvimento da comunicação como um processo dialógico entre parceiros (De Lemos, 1985; Fogel, 1993; Lyra & Rossetti-Ferreira, 1993), focalizando o desenvolvimento do gesto de apontar, considerado na literatura como um dos precursores da referência linguística (Werner e Kaplan, 1963; Clark, 1978; Wales, 1979; Bates, O”Connell & Shore,

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

1987; Marcos, 1992), que emerge entre o primeiro e o segundo ano de vida da criança. Com este objetivo, foram efetuados quinzenalmente registros em vídeo cassete de uma díade mãe-criança em situação natural, entre os treze e vinte meses de vida da criança. Concebendo o gesto de apontar como um elemento do processo comunicativo que se desenvolve a partir de um processo de co-construção diádica, os dados analisados sugerem um processo de transformação que pode ser descrito ao longo de três momentos de construção do gesto durante o período observado, ou seja: Primeiro, o apontar parece ser usado pela criança como um novo elemento, como um gesto especular já usado pelo adulto. Neste momento, a morfologia convencional do apontar é mais frequente, o olhar dirigido ao parceiro é pouco frequente, as vocalizações se assemelham a gritos e o episódio interativo se apresenta com pouca quantidade de turnos entre os parceiros. No momento posterior, o gesto de apontar assume diferentes morfologias - a criança utiliza-se de ambas as mãos, usando dois, três, quatro dedos ou toda a mão para apontar; o direcionamento do olhar para o parceiro é mais frequente que o momento anterior; as vocalizações aproximam-se de palavras, destacando-se uma maior freqüência no uso da entoação alta; o número de turnos aumenta, evidenciando a presença de um elevado grau de “stress” nos episódios interativos, através de um tipo de “elaboração” na forma motor/gestual. No terceiro momento, o apontar parece mais evidente em sua morfologia convencional; as vocalizações são similares a palavras da linguagem verbal; o número de turnos apresenta-se mais reduzido e os episódios menos “stressados”, salientando que o tipo de “stress” apresentado neste momento se evidencia mais através da vocalização do que através de uma “elaboração” motor/gestual. O apontar é discutido como um elemento comunicativo co-construído através de um processo de negociação co-regulada entre os parceiros, ao longo do tempo.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 09B

EDIVALDA ALVES ARAUJO Universidade Federal da Bahia

O TÓPICO: DA ORALIDADE PARA ESCRITA O objetivo deste trabalho é analisar construções de tópico típicas do português brasileiro, mostrando: a) a mudança dos parâmetros sintáticos dessa vertente do português, envolvendo as construções de tópico e a realização do sujeito; e b) como essa mudança tem atingido a escrita formal. As construções de tópico tornaram-se objeto de atenção de Eunice Pontes na década de 80 e suas observações ganharam repercussão dentro dos estudos linguísticos em função de a referida autora classificar o português brasileiro como uma língua direcionada tanto para o sujeito quanto para o tópico. Outros trabalhos foram publicados confirmando essa tendência do português brasileiro, como o de Kato (1989), o de Galves (1998, 2001) e o de Araujo (2009). O trabalho de Araujo (2006, 2009) tem enfatizado que a análise de construções de tópico deve passar por dois níveis: o da sintaxe e o da informação. No primeiro nível, enfoca-se a posição sintática do tópico; no segundo, o seu status pressuposicional. Em ambos, trabalha-se com a interface: sintaxe, informação e discurso, no sentido de que toda produção linguística é subordinada a um contexto, e a ocorrência de um tópico dá indícios de que falante/escritor pressupõe que ouvinte/leitor detém o mesmo conhecimento do assunto. O que é interessante em algumas construções de tópico do português brasileiro é que o tópico, além de indicar o direcionamento discursivo, está assumindo a posição de sujeito dentro da oração, como nesses exemplos, de escrita formal: 1) “A quantidade de água suja significa que mais pessoas morrem hoje por causa da água poluída e contaminada do que por todas as formas de violência, inclusive as guerras”, disse o Programa do Meio / 338 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

Ambiente das Nações Unidas (Unep, na sigla em inglês) . 2) “a escrita é muito difícil de existir uma mudança por ser um meio bastante sólido para ser desintegrado.” CI 09B

MARI NOELI KIEHL IAPECHINO Universidade Federal Rural de Pernambuco

REPRESENTAÇÕES IDENTITÁRIAS E CULTURAIS EM ESCRITAS URBANAS: (ENTRE)TECENDO DIÁLOGOS ENTRE A CIDADE E O SERTÃO Escolheu-se a cidade, em suas escritas, como objeto de estudo, pois nela estão imbricadas as organizações política e social, cercadas por ideologias diversas, o que suscita, em seus sujeitos, memórias individuais e coletivas que juntas formam uma história, num determinado tempo, dentro de um determinado território, e constituem identidades. A cidade revelase, dentre outras formas, em imagens que a (re)significam e permitem que seus sujeitos, pelos vieses de representações, componham suas identidades. São essas representações – da identidade e da cultura – que têm (entre)tecido diálogos entre a cidade e espaços como os do sertão, traduzidos em (xilo)grafites expostos nos muros e paredes dos bairros recifenses e recuperados neste estudo que se fundamenta na Análise Crítica do Discurso e na História Cultural. Essas bases teóricas e as análises dos (xilo)grafites têm possibilitado a percepção de um sujeito-autor das escritas citadinas; de sua história em sociedade; de transformações dos sentidos de território e de cidade inscritos em seus discursos; e da construção de sua identidade em sociedade – sujeito autor e construtor de sua história e de sua identidade em representações do urbano e do

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

sertanejo, nas quais spray e umburana não se refutam, em contrário, dividem mesma cenografia. A relevância dessa abordagem está, pois, em contribuir para o entendimento da configuração de uma identidade acionada pela leitura das representações em escritas urbanas, com imagens da cidade e do sertão em diálogo. CI 09B

SHIRLEI MARIA FREITAS DE MELLO Universidade Federal de Minas Gerais

INFORMAÇÃO, PERSUASÃO E PROPAGANDA NO DISCURSO JORNALÍSTICO Este trabalho busca pensar o discurso jornalístico sob o enfoque da análise do discurso, especificamente sob o ponto de vista da semiolinguística. Propõe verificar situações em que discursos propagandistas se revestem de discursos informativos, para persuadirem seus interlocutores; além disso, busca perceber o imaginário de crenças e valores supostamente implicados nessas situações. Conforme Charaudeau (2007, p.61), os discursos propagandistas e os discursos informativos se diferem pelo processo de veridição. Para o discurso propagandista o status de verdade é da ordem do que há de ser, enquanto que, para o discurso informativo o status de verdade é da ordem do que já foi, de algo que aconteceu no mundo. No discurso propagandista não há nada a provar, o desejo é o modelo proposto, contrariamente, no discurso informativo, é preciso provar a veracidade dos fatos transmitidos, o modelo proposto é o da credibilidade. Observa-se que, muitas vezes, os discursos aparentemente de informação direcionam a argumentação para a ordem do que há de ser, prometendo, oferecendo resultados, satisfação de necessidades. Nesse sentido, uma vez que no jornalismo o que parece evidente é a / 340 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

informação, a análise das estratégias argumentativas desses discursos aparentemente informativos pode revelar um jogo de máscaras que reveste a instância propagandística de instância informativa, levando o interlocutor primeiramente a crer, e posteriormente a desejar. CI 10B

ANA LÚCIA DE CAMPOS ALMEIDA Universidade Vale do Rio Verde

A INDÚSTRIA CULTURAL TELEVISIVA E OS DISCURSOS CONSTITUIDORES DE IDENTIDADES - A INCLUSÃO DOS DEFICIENTES COMO CONSUMIDORES NA TELENOVELA “VIVER A VIDA” Nosso trabalho apresenta uma reflexão/discussão sobre questões relacionadas ao fenômeno da indústria cultural e dos meios da comunicação de massa, seus modos de funcionamento e sua atuação na produção/transformação de mercados de consumo nas sociedades capitalistas; dentro deste panorama, desenvolvemos o estudo dos discursos utilizados pela indústria de comunicação televisiva, focalizando, neste caso específico, na novela “Viver a Vida” (produzida e exibida pela rede Globo neste ano de 2010), o discurso da política de inclusão social dos deficientes físicos. Nossas reflexões se desenvolvem sob uma perspectiva transdisciplinar sustentadas por um arcabouço teórico que convoca autores dos campos filosófico, sociológico (Adorno e Horkheimer, 1947; Bourdieu, 1997; Morin, 1984, Garcia Canclini, 1996), da teoria da enunciação (Bakhtin, 1929, 1979) e da Análise Crítica do Discurso (Fairclough,1989, 2001, Chouliaraki and Fairclough, 2002). Dialogamos criticamente com os / 341 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

referidos autores estabelecendo os pontos de convergência e divergência entre suas posições teóricas na busca de uma concepção que nos permita entender/desvelar os modos de representação do real constituído através do discurso da indústria cultural e sua relação com a produção de novos nichos de consumo/consumidores. Com o discurso da novela “Viver a Vida” é produzido um novo segmento no mercado consumidor – através das múltiplas linguagens, verbal, visual, musical, os ‘cadeirantes’ são incluídos como autênticos consumidores de produtos sofisticados, como equipamentos para banho de mar, para navegação internética, para condução de automóveis, para participação em desfiles de moda etc. As vozes dissonantes são anuladas, os conflitos e as desigualdades sociais são apagados em uma representação discursiva polianesca com inculcação de valores de aceitação das limitações e superação das diferenças. CI 10B

MARIA LUIZA MORAIS REGIS BEZERRA ARY Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas

“AOS LOUCOS O HOSPÍCIO” X “EXTINGAM OS MANICÔMIOS”: O DISCURSO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL Este trabalho analisa o discurso da reforma psiquiátrica através de documentos oficiais, em especial a Lei Federal (n° 10.216) e de depoimentos de profissionais de saúde mental de Maceió, demonstrando que esses discursos se constituem de conflitos da luta de classes. Do lugar de filiação da classe dominante é ressignificado o termo manicômio e apresentado à sociedade civil como o slogan e o principal objetivo da reforma “extingam os manicômios”. Partindo do pressuposto de que todo discurso é uma

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tomada de posição acerca de um objeto e tem como finalidade persuadir toda uma população acerca de suas propostas, a análise dos referidos discursos baseia-se no referencial teórico-metodológico da Análise do Discurso fundada por Michel Pêcheux e tem por objetivo desvelar as posições ideológicas a partir das quais são enunciados. À teoria de Pêcheux acrescentamos uma interlocução com Bakhtin, Lukács e outros teóricos que estudam o processo da ideologia. O uso desse instrumental nos possibilitou desvendar o sentido velado pela reforma e compreender as contradições e conflitos contidos no discurso dos profissionais de saúde sobre a reforma psiquiátrica. Os resultados obtidos demonstram profundas contradições na filosofia da Reforma Psiquiátrica, representados de um lado por profissionais inseridos na ideologia do capital e por outro lado, por profissionais inseridos na ideologia do trabalho. Esse cenário reproduz fielmente o funcionamento da sociedade de classes, onde poucos detêm o poder, enquanto a grande maioria não tem direito a voz. Em cima das análises concluiu-se que a reforma psiquiátrica possui sentidos diversos, dependendo do sujeito que fala, e para quem fala e que os sentidos dessa reforma só fazem sentido quando inseridos na história e se procura compreendê-los dentro do contexto sócio-histórico em que estão contidos. CI 10B

MIGUEL ESPAR ARGERICH Universidade Federal de Pernambuco

MÍDIA E DITADURA NAS PALABRAS: ANÁLISE DE UM CASO É analisado um caso visto como arquétipo da ação hegemônica da mídia no Brasil na implementação de uma verdadeira ditadura nas palavras Trata-se do caso de um jornalista gestor municipal que, na / 343 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

internet, fez críticas a práticas discursivas de jornalistas do jornal Diário de Pernambuco. A saraivada de vozes condenatórias publicadas não teve qualquer contestação pública. O deslizar semântico nas palavras, na sutileza de jogos discursivos possíveis, possibilita que sua leitura seja canalizada, por exemplo, rumo à consagração de um pensamento único hegemônico, próprio dos detentores do poder, instalando nas palavras verdadeiras ditadura de significação. Isso, mesmo que, para silenciar os diferentes ou os críticos, surja amparada no recurso ao fantasma da ameaça à liberdade de expressão como. As profundas relações entre mídia e poder subjazem à análise que procura basear-se na focalização do discurso numa perspectiva dialógica: as palavras são tratadas como expressão da interação entre interesses, em conflito ou não, portanto, como entidades sujeitas a permanentes processos de ressignificação, de caráter heterogêneo, da sua memória discursiva muito, particularmente ao serem apropriadas em função de lutas pelo controle e dominação social. Opta-se por contrastar textos escritos pelos próprios sujeitos dos discursos com textos relatados ou referidos por outros na busca de marcas como acentuações, abrandamentos, omissões, reiterações, etc., quando não da constatação da falsificações conscientes. O trabalho converge no sentido de que a análise dos discursos verificados aponta no sentido de que a interação verificada representa e expressa um arquétipo de ação hegemônica da mídia no Brasil de hoje.

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CI 10B

PAULO ROBERTO ALMEIDA Universidade Vale do Rio Verde

RESSIGNIFICAÇÃO DO DISCURSO NA NOVA/VELHA ORDEM SOCIAL DA GLOBALIZAÇÃO/“GLOCALIZAÇÃO” Num mundo marcado por profundas transformações decorrentes do processo de globalização, revela-se de fundamental importância olhar, numa perspectiva dialética, para as relações de força e poder que são estabelecidas no conflito entre os sujeitos nas relações sociais; as relações entre as estruturas sociais e suas práticas sociais através de seus discursos e suas implicações e efeitos, sobretudo no contexto educacional. Tal abordagem implica, por sua vez, a necessidade de debruçar sobre a concepção de discurso para um exame da relação dialética entre o discurso e a estrutura social, esta representada/materializada por suas instituições sociais. Na perspectiva de Kress (1988), o discurso é concebido como uma rede de enunciados sistematicamente organizados que expressam valores e significados, conceito que, poderíamos dizer, é ampliado na reflexão proposta por Fairclough ([1992), para quem o discurso é considerado como uma prática social que não só representa o mundo, mas também significa o mundo. Isto quer dizer que o discurso contribui para a constituição de todas as dimensões da estrutura social que, direta ou indiretamente, o moldam e o restringem. Assim, na medida em que o discurso constitui, naturaliza, mantém e transforma os significados do mundo de posições diversas nas relações de poder, diferentes tipos de discurso em diferentes domínios institucionais são investidos política e ideologicamente -“ordens do discurso” para Foucault (1971). Assumindo

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

pressupostos teóricos da Análise Crítica do Discurso e de Bakhtin (1929; 1979), traz-se aqui para análise e discussão um conjunto de enunciados representativos de uma ordem do discurso, publicados no jornal britânico The Guardian, elaborados por representantes ou porta-vozes de grupos e instituições envolvidas, direta ou indiretamente, no contexto educacional e que revelam seus interesses, seus valores, suas crenças, suas posições e seus pontos de vista (ou de outros) a respeito da educação. CI 11B

MARIA CARMEN AIRES GOMES; LEILA BÁRBARA Universidade Federal de Viçosa

MULHERES, POLÍTICA E MÍDIA: ALGUMAS INCURSÕES EM TORNO DA REPRESENTAÇÀO DE DILMA ROUSSEFF A idéia de que a mulher está vinculada apenas a atividades domésticas ou a cargos predominantemente femininos, geralmente de má remuneração e/ou quase nenhum reconhecimento social, é uma maneira reducionista e preconceituosa de se pensar em sua atuação no meio em que vive, uma vez que ocupa atualmente cargos de grande status social.Entretanto, mulheres em cargos públicos constantemente tornam-se alvo de postura e comentários que não são feitos aos homens que ocupam os mesmos cargos. Detalhes, descrições pormenorizadas da vida social, ou mesmo detalhes sutis que poderiam ser menos relevantes são invariavelmente na mídia impressa usados para representarem mulheres, sobretudo, aquelas que se ocupam cargos de poder (van Dijk, 1997). Tomando como ponto de partida pesquisas desenvolvidas nos campos de estudo da LSF (Halliday, / 346 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

2004), da semiótica social (van Leeuwen, 1997;2008) e dos estudos discursivos críticos (Fairclough, 2003), neste trabalho investigamos a representação do ator social Ministra Dilma Rousseff, em revistas semanais brasileiras impressas de informação geral, com o objetivo de investigar a forma como essas revistas representam o referido ator social, a partir principalmente da Teoria da Representação dos Atores Sociais (RAS) tal como é cunhada por Theo van Leeuwen (1997, 2008). O corpus foi construído e explorado com o auxílio do programa de computador, WordSmith Tools, a partir das ferramentas WordList e Concordance; a partir daí foi realizada uma análise descritivo-interpretativa à luz do inventário sócio-semântico proposto por van Leeuwen (1997;2008). Os resultados apontam para uma representação ora favorável, ora desfavorável; Dilma Rousseff é constantemente personalizada, funcionalizada, nomeada e classificada, muitas vezes com acentos irônicos. CI 11B

MARIA STELA TORRES BARROS LAMEIRAS Universidade Federal de Alagoas

BORDAS TEXTUAIS, GÊNEROS E CIRCULAÇÃO DE SENTIDOS Pensar conjuntamente em bordas textuais, gêneros e circulação de sentidos é tentar fazer o percurso dos sentidos que circulam entre os dizeres, considerando, ao mesmo tempo, suas singularidades e suas pluralidades, presentes na inegável e pródiga variedade de gêneros. As contribuições de Melvedev e Bakhtin, posteriormente retomadas por Adam, nos levam a refletir sobre a concepção de gênero considerado como algo que liga um texto ao discurso. Nesse espaço de tensões, trazemos para nossos estudos a relação entre a ação linguageira e a sua inscrição em um determinado lugar / 347 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

social, o que faz dessa ação uma prática sociodiscursiva Nosso objetivo é o de fazer essa trajetória, tentando abrir caminhos de entendimento em meio às hesitações terminológicas que envolvem as questões relacionadas a textos, discursos (interdiscursos), tipos e gêneros. Estamos, talvez, em um difícil e melindroso entrecruzamento epistemológico; entretanto, se nossa porta de entrada para nossas análises está situada nos estudos da Análise do Discurso de bases teóricas francesas (AD), quando levamos em conta questões linguístico-discursivas na esfera da troca, da interação entre seres humanos, não podemos prescindir da contribuição de Bakhtin, que associa a variedade de gêneros à variedade virtual da atividade humana. Os resultados de nossos estudos apontam para a importância de se privilegiar a circulação de sentidos favorecida pela infinitude e diversidade de gêneros postos na mediação das relações humanas. Buscamos, nas bordas dos textos, nas formulações dos dizeres e nas condições de produção muito mais do que a dita fisicalidade textual: é o gênero enquanto manifestação sociolinguageira, enquanto processo e produto das relações sociais. CI 11B

MORGANA SOARES DA SILVA Universidade Federal de Pernambuco

OS SISTEMAS DE GÊNEROS DO SITE DO UNIBANCO: A RELAÇÃO BANCO-CLIENTE A PARTIR DE PUBLICIDADES VIRTUAIS Este estudo, recorte de minha pesquisa de mestrado intitulada “As ações provocadas por publicidades virtuais e não-virtuais do UNIBANCO”, tem por objetivo precípuo analisar os sistemas de gêneros desencadeados por publicidades virtuais do site do UNIBANCO. Tal investigação é justificável

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porque a descrição dos sistemas de gêneros do Internet Banking revela como as pessoas praticam ações estimuladas por textos publicitários. Metodologicamente, procedemos ao levantamento de 9 sistemas de gêneros presentes no site e à análise qualitativa de 3 exemplares de sistemas, recorte que constitui o corpus deste trabalho. A análise ancorouse nos seguintes pressupostos teóricos advindos de Bakhtin (1992); Koch (2004, 2002); Marcuschi (2008, 2003); Marcuschi & Xavier (2004) e Bazerman (2007, 2006, 2005), este último integrante da Escola Norte-Americana de Análise de Gêneros, centro de nosso arcabouço teórico: i) linguagem como instrumento de interação social que se realiza através de gêneros (BAKHTIN, 1992; KOCH, 2004; MARCUSCHI, 2002); ii) gêneros textuais como responsáveis pelas interações sociais (MARCUSCHI, 2008) e por dar forma às ações sociais, um meio de agência (BAZERMAN, 2007, 2006, 2005); iii) sistema de atividade como conjunto das atividades humanas realizadas dentro de uma determinada esfera de comunicação (op cit), iv) sistema de gêneros como cadeia de gêneros construída intertextualmente por pessoas que trabalham juntas (BAZERMAN, 2005); v) organizações profissionais como ampliadoras do alcance de gêneros auxiliadores da administração do negócio (PARÉ E SMART, 1994) e vi) publicidades virtuais como possibilitadoras de ações/atividades. A análise dos dados contatou que, em consequência do caráter agentivo das publicidades virtuais, os sistemas de gêneros do site do UNIBANCO – compostos por instruções, formulários, contratos e senhas, entre outros – configuram-se numa cadeia intertextual de gêneros que medeiam a aquisição de serviços bancários, efetivando a compra, função do sistema de atividades bancário.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 11B

ROSEANE BATISTA FEITOSA NICOLAU Universidade Federal da Paraíba

USO DE FÓRMULAS FIXAS NO GÊNERO ANÚNCIO IMPRESSO DO SÉCULO XIX AO SÉCULO XXI: UMA ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA O emprego de determinadas expressões marca certas Tradições Discursivas, caracterizando-as ao longo da história. Como exemplo, temos o uso de verbo “comprar” nos anúncios do século XIX na fórmula: “... quem quiser comprar dirigir-se” ou no século XX, na chamada publicitária: “Compre Baton, seu filho merece Baton”. Neste trabalho, temos como objetivo estudar as transformações ocorridas no léxico dos anúncios impressos que contribuíram para o estabelecimento de um texto publicitário mais persuasivo, observando o que permaneceu e o que se modificou nessa Tradição Discursiva, a partir do uso de certas expressões. Os anúncios selecionados encontram-se em jornais e revistas de circulação nacional e local; são recortes da história desse gênero no meio impresso do século XIX, XX e XXI. Para fundamentar nosso trabalho recorremos ao modelo teórico denominado de Tradição Discursiva, proposto por Koch (1997) que permite observar a evolução da língua em função da história dos gêneros textuais bem como outros estudos que se voltam para a análise dos gêneros nos seus aspectos estrutural e lexical (NELLY CARVALHO, 1996, MARCUSCHI, 2002, 2003, 2008, entre outros). Como resultado desta pesquisa, apontamos que certas expressões são acrescentadas ou alteradas, nessa Tradição, em função da expansão das relações comerciais e da concorrência entre marcas, causando transformações do ponto de vista argumentativo numa visão diacrônica.

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CI 12B

MÔNICA DE SOUZA SERAFIM Universidade Federal do Ceará

O DISCURSO MIDIÁTICO NAS NARRATIVAS INFANTIS: UM ELEMENTO ORGANIZADOR DAS PRODUÇÕES ESCRITAS As produções escritas das crianças representam certamente um rico material a ser estudado. No entanto, esta riqueza, a fim de ser vista mais precisamente, leva-nos a fazer um recorte, necessário quando se estuda certo objeto. Sendo assim, neste trabalho escolhe-se um aspecto, dentre tantos, para analisar as produções textuais das crianças: analisar como a criança organiza a produção de narrativas escritas valendo-se do discurso midiático. Empreenderemos nosso trabalho tendo como aporte teórico as contribuições de Singer e Singer (1981), Kearney (1988), Derdyk (1990; 2004), Girardello (1998) Gomes-Santos (2003), Greig (2004) e Serafim (2008). Para realizar este trabalho, utilizamos um corpus formado pela reescrita do conto Chapeuzinho Vermelho, composto por vinte e quatro crianças de uma escola particular de classe média da capital cearense, sendo que cada uma produziu quatro versões da mesma história. Essas crianças tinham, em média 5,9 anos. Quando participaram, no momento inicial da pesquisa, encontravam-se na 1ª série do ensino fundamental. Os resultados obtidos evidenciaram que a presença do discurso midiático nas produções infantis mostra o uso de múltiplas linguagens pelas crianças, habilidade que evidencia a valorização de diversos modos de interação, incentiva os professores a valorizarem os vários discursos que permeiam a interação humana nas suas diversas instâncias, sejam elas escritas ou icônicas. Tais instâncias promovem, acreditamos, o uso de múltiplas

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linguagens na escola, como forma de valorização de diversos modos de compreensão e produção textual das crianças. CI 12B

MÔNICA MAGALHÃES CAVALCANTE Universidade Federal do Ceará

REFERENCIAÇÃO, SEQUENCIALIDADE TEMPORAL E METADISCURSIVIDADE Seguindo Aptohéloz, Grobet e Pekarek-Doehler (2007), assumiremos aqui o pressuposto de que as sequências textuais, consideradas na dinâmica de sua produção, constituem um processo em constante desenvolvimento e, em vista disso, podem ser reavaliadas a cada momento das práticas discursivas dos interactantes, os quais orientam sua atenção para a organização textual. Nosso objetivo, na presente pesquisa, é demonstrar as diferentes funções de mecanismos metadiscursivos referenciais dentro da dinâmica da sequencialidade temporal de narrativas, isto é, observar os mecanismos metadiscursivos referenciais, a fim de estabelecermos ligações entre o desenvolvimento temporal das estruturas linguísticas e o encadeamento de ações discursivas. Os marcadores metadiscursivos se fundam no quadro proposto por Hyland (2005) e são aplicados, neste trabalho, a gêneros de sequência narrativa dominante. Os parâmetros de engajamento e de posicionamento são essenciais ao uso de marcadores metadiscursivos; enquadram-se fundamentalmente na função interpessoal e se sustentam na ideia de que o metadiscurso próprio dos processos referenciais tem um caráter avaliativo, ainda que, por vezes, se revele aparentemente neutro. Desse quadro classificatório, elegemos somente os recursos metadiscursivos relacionados a processos de referenciação anafórica e dêitica (CAVALCANTE, 2010), sobretudo os tipos / 352 /


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discriminados por Cabrera (2004) como atenuadores e intensificadores. Discutimos, a partir desse referencial teórico, as funções persuasivas de tais elementos em textos organizados composicionalmente como narrativos, mas elaborados pragmático-discursivamente para argumentar. CI 12B

NEUSA MARIA OLIVEIRA BARBOSA BASTOS Universidade Presbiteriana Mackenzie / Pontifícia Universidade Católica De São Paulo

FORMAÇÕES SOCIODISCURSIVAS, GÊNEROS DE DISCURSOS E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Abordaremos, neste trabalho, a noção de gêneros de discursos, vistos como o locus da estabilização pública e normativa que opera no quadro do sistema de gêneros de cada formação discursiva (Adam, 2008), como base para o ensino de Língua Portuguesa assentado na educação lingüística que põe em relevo a necessidade de que deve ser respeitado o saber lingüístico próprio de cada um, garantindo-lhe o curso na intercomunicação social e o direito de ampliar, enriquecer e variar esse patrimônio. O estudo dos gêneros dos discursos se fará a partir dos seguintes aspectos: a) gêneros de discurso (em sua dimensão textual-discursiva como estudo da articulação entre modos de organizações textuais e situações de comunicação, por meio da escrita ou da oralidade, concebidos como outras instituições que regem o exercício da fala num lugar determinado e em sua abordagem interacionista como reconhecimento dos tipos diferentes de textos, com formas diversas de textualização, visando a situações várias de interlocução e busca da classificação de diferentes gêneros discursivos); b) formações sócio-discursivas (entendidas como as diferentes formas de representação humana em funcionamento na sociedade) e c) relações / 353 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

entre contexto, co-texto e texto(s). Entendendo, então, por Educação Linguística o conjunto de atividades de ensino/aprendizagem que dêem conta de levar ao aluno à percepção de que os recursos da sua língua tornam-no capaz de bem utilizá-los na produção de textos adequados a cada uma das situações comunicativas em que estiver inserido, deternos-emos nos gêneros com base em dois princípios: 1º os gêneros se agrupam a partir de uma organização textual; 2º os gêneros se agrupam a partir da prática discursiva (formações sócio-discursivas) em que o sujeito esteja inserido. Discutido isso, basear-nos-emos em textos concretos dos diversos ângulos do discurso, para apresentar nossa postura em relação às atividades de linguagem na prática docente. CI 12B

ROSA MARIA DA SILVA PINTO Faculdade Frassinetti do Recife

LÉXICO E PERSUASÃO: UM ESTUDO EM ANÚNCIOS CLASSIFICADOS É possível dizer que o elemento persuasivo está presente em toda forma discursiva. Em algumas, mais ou menos perceptível; em outras, mais ou menos mascarado. Mas é no discurso publicitário, cuja função principal é conquistar o público-alvo, que a persuasão se faz mais presente. Este trabalho pretendeu demonstrar de que maneira a seleção lexical atua enquanto instrumento de persuasão em anúncios classificados de vendas de imóveis novos, denominados anúncios classificados destacados, publicados em jornais. A pesquisa baseou-se em BAKHTIN (1979), MARCUSCHI (2000; 2002; 2003), KOCH (2000; 2001; 2002; 2003), CARRASCOZA (1999), CARVALHO (2002), CITELLI (1991; 1994), FARIAS (1996) e outros. O corpus, constituído de dez anúncios classificados / 354 /


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destacados, foi coletado aos domingos no Jornal do Commercio e no Diário de Pernambuco, entre 2003 e 2004. Na investigação constatou-se que a seleção lexical está diretamente relacionada à classe socioeconômica do destinatário e reflete-lhe os anseios, o estilo de vida e os valores ideologicamente consagrados pela classe social a que ele pertence. Sendo assim, a escolha do léxico exerce papel decisivo na definição da estratégia persuasiva dessas publicidades. Isso nos levou a considerar a necessidade de dotar os usuários da língua de instrumentos que possibilitem, a partir do léxico, uma leitura mais crítica desses textos. CI 13B

DYLIA LYSARDO-DIAS Universidade Federal de São João Del-Rei

ESTEREOTIPIA E AFETIVIDADE DOS DIZERES PROVERBIAIS As emoções são vividas na linguagem e pela linguagem e não podem ser desvinculadas das formas de convivência de uma dada coletividade nem da racionalidade que direciona as trocas verbais. Em termos de estudo da linguagem, isso implica situar as emoções no aqui e agora das interações verbais, articulando seu duplo caráter de reação individual e de prática socialmente inscrita à sua dimensão linguística-discursiva. A reflexão que propomos gira em torno de alguns aspectos relativos aos enunciados proverbiais utilizados como meios discursivos que suscitam estados emocionais e despertam afetos. Interessa-nos discutir como estes enunciados, tomados como fatos de linguagem, logo inscritos em um dado universo enunciativo, envolvem estados patêmicos já que a subjetividade inerente à atividade discursiva compreende sujeitos interlocutores dotados de estados emocionais. Para tanto, apresentaremos / 355 /


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a análise de textos diversos que mobilizam enunciados proverbiais na sua configuração com o intuito de relacionar a estereotipia inerente ao provérbio à dimensão afetivo-interacional do seu uso nas interações verbais. Basearemo-nos nos postulados teóricos da análise do discurso, com ênfase nos conceitos de contrato de comunicação (Charaudeau, 2008) e de ethos discursivo (Maingueneau, 2001) a partir dos quais procedemos a um estudo empírico de diferentes práticas discursivas. Veremos como este estudo sinalizou a articulação dos dois níveis de análise, o nível do enunciado e o nível da enunciação no que se refere aos efeitos de sentido. Ficará evidente, ainda, que os processos de estereotipia envolvem a natureza histórico-cultural dos discursos e fazem apelo aos pré-construídos socialmente partilhados. CI 13B

ELIZABETH MARCUSCHI Universidade Federal de Pernambuco

SOBRE O AUTOR E O LEITOR DO LIVRO DIDÁTICO À medida que a disciplina Língua Portuguesa foi se consolidando, ao longo do século XX, apareceram, no mercado editorial, obras como seletas, crestomatias e antologias de textos de leitura. Na segunda metade do século XX, o livro didático começou a assumir o formato e o espaço a ele hoje consagrado na cultura escolar brasileira. Visto desta perspectiva, pode-se afirmar que as obras direcionadas para o público escolar publicadas no período constituem uma fonte relevante para a compreensão de como a autoria e o leitor presumido dos materiais didáticos foram se constituindo, modificando, ajustando, reordenando, consolidando ao longo do século XX. Nessa comunicação buscamos caracterizar a autoria de livros direcionados para a escola de uma / 356 /


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perspectiva discursiva e sócio-histórica. Para tanto, consideramos não apenas os nomes dos escritores individuais, mas, com base na “Apresentação” introdutória a obras didáticas de diferentes décadas do século XX, investigamos o lugar ocupado pelo autor, a que grupo ele pertence, que noções de língua defende, que recorte realiza sobre os conteúdos que no seu entendimento merecem ser de abordados na educação básica e, sobretudo, a que leitor se dirige e como o caracteriza. Na análise e discussão dessas questões nos pautamos nas concepções de língua como atividade sociointerativa, de autoria enquanto tomada de posição, singularidade discursiva, de leitor como interlocutor ativo, noções essas alicerçadas em teóricos, tais como: Possenti (2000; 2005) e Marcuschi (2008), entre outros. Os dados evidenciam que as noções de autoria e de leitor expressas na “Apresentação” das obras didáticas agenciam condicionamentos históricos e desvelam perspectivas de ensino de língua culturalmente situadas. CI 13B

SONIA BITTENCOURT SILVEIRA; THENNER FREITAS DA CUNHA Universidade Federal de Juiz de Fora

AS ESTRATÉGIAS DE FORMULAÇÕES EXTREMAS NA CONSTRUÇÃO DE PONTOS DE VISTA NO PROCON O presente trabalho tem como objetivo identificar como ocorrem as reclamações em audiências de conciliação realizadas no PROCON através das descrições feitas pelas partes envolvidas, uma vez que ao descrever as pessoas fazem atribuições oferecendo versões que tornam a acusação (reclamação) relevante e digna de crédito. Uma asserção sobre os fatos só é feita quando as pessoas têm diferentes versões e/ou diferentes interesses, / 357 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

desta forma vamos ver como diferentes versões são contrastadas para a construção do fato, observando as formulações extremas utilizadas pelas partes na construção de seus pontos de vista. As Formulações Extremas serão aqui estudadas como um poderoso mecanismo utilizado pelas partes envolvidas em um encontro para dar credibilidade a suas versões apresentadas e torná-las mais eficazes. Em uma interação, estamos sempre argumentando, ou seja, tentando convencer o outro a chegar a certas conclusões que sejam de nosso interesse. O corpus analisado corresponde a uma audiência de conciliação realizada no PROCON de uma cidade de Minas Gerais. CI 13B

TERESA NEUMA DE FARIAS CAMPINA Universidade Estadual da Paraíba

EM FOCO O DISCURSO PUBLICITÁRIO: OS EFEITOS DE SENTIDO NAS NEOLOGIAS LEXICAIS A dinamicidade de uma língua dá-se, em parte, pela emergência das inovações lexicais, favorecidas pela diversidade de usos, advinda do momento histórico e cultural em que se organizam as sociedades pós-modernas. As mudanças no léxico, dessa forma, são análogas às transformações históricas, o que notadamente evidenciam as produções dos discursos e seus efeitos. Este viés nos orientou a realização de um estudo que contempla os itens lexicais neológicos no texto publicitário, relacionando-os aos efeitos de sentido produzidos em função do usuárioconsumidor. Assim, objetivamos: a) investigar a ocorrência do fenômeno linguístico da neologia, constituído pelo vocábulo MOTO; b) identificar os efeitos de sentido, advindos do uso dos neologismos no discurso publicitário. Em termos operacionais, o corpus restrito é formado por quatro / 358 /


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publicidades, coletadas, em épocas diferentes, na revista Veja, periódico de circulação nacional. Os textos se caracterizam por serem todos relacionados a um único objeto, com vistas à adesão do consumidor. O foco teórico desta pesquisa fundamenta-se nos conceitos apresentados por Orlandi (2003, 2008a, 2008b), Gregolin (2003), Gregolin e Baronas (2007) quanto à noção de discurso, de formação ideológica e de efeitos de sentido; e em questões do léxico e de itens neológicos, fundamenta-se na contribuição de Carvalho e Silva (2004), Carvalho (2000, 2009), Valente (2000), Isquerdo e Krieger (2004), Isquerdo e Alves (2007). A pesquisa aponta para o fato de que a criação neológica, no texto publicitário, gera sentidos que influenciam o usuário-consumidor quanto ao desejo de consumir o produto oferecido. Pretendemos, então, contribuir para outras abordagens do ensino da língua que favoreçam uma formação leitora crítica, distanciando-se de um ensino ancorado nos moldes da tradição tributária ao estruturalismos ainda reinante em boa parte de nossas escolas. CI 14B

ELCIVANNI SANTOS LIMA Universidade de Brasília

UMA ANÁLISE DISCURSIVA SOBRE A PRÁTICA DA INTERPRETAÇÃO DE LIBRAS/PORTUGUÊS A ascensão da pessoa com surdez e sua circulação nos espaços sociais está proporcionalmente ligada à emergência e atuação dos profissionais intérpretes de língua de sinais (no Brasil, denominada Libras). A prática em questão ocorre em meio a construções discursivas por vezes contraditórias, a depender das representações sociais sobre a pessoa surda, sua língua e suas peculiaridades. À luz da Análise de Discurso Crítica, aporte teórico e metodológico deste trabalho (Chouliaraki & Fairclough, 1999; Fairclough, / 359 /


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trad. 2001; Fairclough, 2003), o discurso como uma prática de significação do mundo e como parte da prática social que se revela nos textos (tessituras sociais) será analisado, buscando-se chegar ao significado representacional, isto é, aos sistemas de conhecimento e crença, modos de representar o mundo subjacentes à prática da interpretação. A categoria de análise textual utilizada será a interdiscursividade, com o objetivo de identificar quais discursos constituem esta prática e como eles se articulam. Na pesquisa, de cunho qualitativo, os dados foram coletados a partir de entrevistas semi-abertas feitas com os atores sociais participantes da mesma – intérpretes de Libras – e textos de domínio público, também de autoria de intérpretes. A proposta visa uma discussão sobre os efeitos sociais dos textos, que envolvem modos de se auto-representar no contexto de trabalho, representar a Libras, as pessoas com surdez e sua própria prática. Os resultados apontam para a oscilação entre discursos assistencialistas e discursos pró-profissionalização neste contexto específico. Esta co-ocorrência de discursos pode interferir no avanço das discussões sobre a legitimidade da profissão, gerando a acomodação em práticas caritativas, o que emperra o processo de fortalecimento e consolidação do referido profissional no Brasil. CI 14B

ELIANA AMARANTE DE MENDONÇA MENDES Universidade Federal de Minas Gerais

A ARGUMENTAÇÃO/PERSUASÃO NA SUPREMA CORTE BRASILEIRA Neste trabalho, analisa-se o papel da argumentação como praticada no Supremo Tribunal Federal do Brasil. Neste Tribunal, − diferentemente, por / 360 /


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exemplo, da Suprema Corte dos EUA e do da Alemanha, em que todos os membros têm que apresentar seus argumentos para fundamentar seus votos e em que se exige que a maioria dos membros chegue a um acordo não só quanto aos resultados, mas também quanto ao fundamento − apenas o relator tem a obrigação de fundamentar seu voto e, para a contagem dos votos, não importa se os argumentos apresentados são os mesmos ou se são pelo menos compatíveis, bastando que levem a conclusões idênticas − ou seja, acolher ou rejeitar os casos em juízo. A não exigência de fundamentação do voto leva à prática de se “votar com o relator”, gerando uma ambiguidade: Votar com o relator significa a concordância apenas com a decisão ou também com os fundamentos que o levaram à decisão? Quando um ministro vota com o relator, ele pode querer dizer tanto uma coisa quanto outra. Não se pode identificar o real significado do voto: conhece-se o resultado, mas não se conhecem as fundamentações que levaram a esse resultado. A não exigência de consenso, por sua vez, leva a casos em que a decisão do órgão é tomada por uma maioria que não só não foi formada em torno de um argumento comum, mas que também se apoiou em argumentações divergentes, havendo até mesmo ocorrências de argumentos incompatíveis entre si. Um exemplo autêntico desse tipo de ocorrência será apresentado e discutido. Pretendo mostrar, apoiando-me num exemplo verídico, que o papel da argumentação no STF é muito restrito, permitindo que cada ministro atue de forma independente e pouco transparente, levando a decisões não consensuais e mesmo questionáveis.

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CI 14B

ROSANIA DE ALMEIDA DE LIMA Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

A CONSTRUÇÃO DE COERÊNCIA NA ESTÓRIA DE VIDA DE UM MIGRANTE NORDESTINO NO RIO DE JANEIRO Este trabalho focaliza a construção de coerência em narrativas de estória de vida de um migrante nordestino que sai da Paraíba e vai para cidade do Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida. As pesquisas sobre migrantes, freqüentemente, dão mais enfoque aos aspectos quantitativos, pouco abordando o aspecto individual do nordestino como agente social. Nesse sentido, estórias de vida possibilitam não apenas conhecer a diversidade das culturas, que nos leva a entender as diferenças para não estigmatizá-las, mas também entender como a vida social se processa em contextos sócio-culturais específicos (Abu-Lughod, 1993). O trabalho insere-se no âmbito dos estudos socioculturais ((Duranti, 2003; Pereira, 2009) e desenvolve-se em uma perspectiva sociointeracional para análise do discurso (Goffmanm, 1959; 1981; Gumperz, 1982), analisando o processo da construção de coerência nas narrativas de estórias de Vida (Linde, 1993), construídas durante duas entrevistas de pesquisa, gravadas em áudio. Entende-se a entrevista, na pesquisa qualitativa, como um instrumento de reflexão, produto da interação entre entrevistador e entrevistado (Gubrium e Holstein, 2003). Sr. Francisco, o entrevistado, natural de Lagoa da Roça, PA, tem 50 anos de idade e é porteiro há vinte e oito anos no prédio onde foram realizadas as entrevistas. São analisadas narrativas construídas pelo Sr. Francisco em torno do processo de migração, da família e do trabalho. Os / 362 /


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resultados deste estudo mostram que o entrevistado procura interpretar coerentemente seu processo de migração através da crença cultural de que o campo é o lugar subdesenvolvido em relação à cidade, metrópole desenvolvida, com a influência dos laços familiares. Evidencia-se a busca do Sr. Francisco em tornar coerente uma situação incoerente em seu sonho de vida quando morava em sua terra: trabalhar na roça. CI 14B

SILVIO LUIS DA SILVA Universidade Potiguar

EM CANTO DE MULHER: MIGALHAS E IDENTIDADE FEMININA Este trabalho analisa como se presentifica textualmente a construção da identidade feminina em canções. Seu objetivo principal é verificar a autoimagem da mulher e a sua relação com o outro tanto na canção, especificamente, como nas relações sociais que se estabelecem a partir dos papéis sociais assumidos ao se tomar o discurso . Os pressupostos teóricos adotados são os postulados pela Análise Crítica do Discurso, com base especialmente nas postulações de Teun van Dijk e Norman Fairglough, acrescida da perspectiva foucaultiana da produção do discurso em sociedade e sua forma de perpetuar, propagar, retratar e reconstituir o poder subscrito nas relações interpessoais da sociedade moderna. Para tanto, toma por corpus analítico a canção Migalhas, escrita por Erasmo Carlos, que trouxe de volta a cantora Simone às paradas de sucesso no Brasil no ano de 2010, e verifica o percurso textual de produção de sentido e identidade na sociedade contemporânea, analisando como as relações de poder, especialmente quanto aos gêneros masculino e feminino em situação social de comunicação, / 363 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

podem ser reconstituídas e demonstrar os papéis sociais de ambos. Os resultados nos levam a compreender que, mesmo na tentativa de se mostrar forte com a recusa em ser submissa, a identidade feminina é retratada e refratada no texto com indicativos de subserviência e autocomiseração da mulher. CI 15B

BRUNA TARCÍLIA FERRAZ; EDSON FRANCISCO DE ANDRADE Universidade Federal de Pernambuco

ANÁLISE DE DISCURSO NA PESQUISA DOCUMENTAL: UMA DISCUSSÃO NO CAMPO DA POLÍTICA EDUCACIONAL Este trabalho tem por objetivo problematizar a contribuição da análise de discurso para a pesquisa documental, evidenciando alguns apontamentos teóricos e metodológicos para as pesquisas em educação. Para tanto, abordaremos primeiramente, aspectos referentes à Teoria do Discurso, destacando as contribuições do modelo analítico de Norman Fairclough, além de conceitos como enunciado e formação discursiva, trazidos por Foucault, para a análise de documentos, como a legislação educacional, materiais comumente utilizados no âmbito dos estudos sobre políticas públicas. Posteriormente, tecemos considerações sobre a possibilidade de interpretação de documentos através da utilização de categorias da análise de discurso, uma vez que os mesmos são construídos a partir de grupos de interesses que disputam hegemonia. Apontamos como necessário apreender a ordem do discurso a qual um texto documental se insere, considerando o lugar onde o mesmo se produz e reproduz, evidenciando / 364 /


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suas repercussões nas práticas discursivas e sociais, favorecendo assim, a investigação da historicidade dos documentos sob análise. CI 15B

DARIO BRITO ROCHA JÚNIOR Universidade Católica de Pernambuco

A CULTURA PARTICIPATIVA NO “MÊS VERMELHO”: COLABORAÇÃO DE INTERNATURAS EM MATÉRIA SOBRE PROTESTOS DO MST A partir da cobertura on line do protesto do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra no dia 19 de abril de 2010, no Recife, propomos uma reflexão sobre a colaboração dos internautas para a construção do texto jornalístico. Neste evento, cerca de dois mil manifestantes marcharam pela capital pernambucana, na manhã de uma segunda-feira, bloqueando três de suas principais avenidas: Norte, Caxangá e Abdias de Carvalho. O ato resultou num congestionamento de 1,5 quilômetro no horário de pico do trânsito matinal e causou um impacto na população que se viu afetada diretamente pelo protesto. Através da análise de conteúdo e da interpretação de diversos comentários enviados por webleitores ao veículo JC OnLine (www.jc.com.br), na página de cobertura do fato jornalístico, percebemos uma espécie de “partilhamento de autoria”, que ficou situada ora entre os repórteres encarregados de apurar e registrar o acontecimento, ora entre os seus colaboradores virtuais. Para refletir sobre esse fenômeno, resgatamos conceitos de Charaudeau, entre outros, e os colocamos diretamente em diálogo com postulados de Toffler e Castells, além de discutirmos as contribuições de Jenkins no novo ambiente midiático e seus comportamentos, apontando para a materialização efetiva do internauta / 365 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

como co-enunciador (visto como igualmente ativo nessa enunciação, inclusive perante os demais leitores) que acaba por revelar-se uma parte cada vez mais decisiva nesse processo. CI 15B

ISMAR INÁCIO DOS SANTOS FILHO Universidade Federal de Pernambuco

EM TEMPOS DE SEXUALIDADE PLÁSTICA, O ITEM LEXICAL “HETEROAFINIDADE” A nossa atual sociedade ainda lida com as condutas sexuais pela ótica do sistema de gênero inteligível, aquele para o qual existe uma sexualidade verdadeira, natural, divina: a heterossexualidade. Nessa percepção, a identidade sexual é algo que faz parte da essência de cada sujeito. Assim, toda e qualquer outra conduta diferente da heterossexualidade é encarada como desviante; não natural. Entretanto, a homossexualidade mesmo sendo compreendida como desviante a cada é mais “aceita”. Nesse bojo de questões, a conduta sexual de um sujeito deve ser única e eterna (ou se é heterossexual, ou se é homossexual), caso contrário, o sujeito é tomado como “problemático”. Porém, em meio a esse emaranhado de percepções, os estudos acerca da sexualidade nos permitem compreender que a mesmidade não existe nos sujeitos contemporâneos, e que nunca mesmo tenha existido em outros sujeitos, em outras épocas. Diferentemente, o que existem são posições de sujeito, assumidas; aceitas, mas não eternas (Butler, 2001; Cameron e Kulick, 2003; Lopes Louro, 2001; Moita Lopes, 2003 e 2006; Parker, 2001 e Weeks, 2001). Logo, a sexualidade pode ser/é plástica (Bauman, 2003, 2004, 2005 e 2007). Nesse contexto, e dentro de uma pesquisa de doutoramento acerca da construção sociodiscursiva da bissexualidade, resolvemos refletir sobre / 366 /


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a declaração de um gay, em entrevista à impressa: “Sou 100% gay, mas, às vezes, tenho devaneios de heteroafinidade”. Nesta, focalizamos a análise sobre a palavra “heteroafinidade”, pois compreendemos que a palavra é discurso (Bakhtin, [1929] 2004; Cereja, 2005; Fairclough, [1991] 2001; Stella, 2005, dentre outros). E, tendo a ACD como suporte teóricometodológico, desenvolvemos um estudo lexical-discursivo, com o objetivo de depreender o uso (político, ideológico) desse item lexical. As reflexões apontam para uma lexicalização de significados da sexualidade contemporânea: o diálogo de “confronto” com os valores arraigados na sociedade no tocante à sexualidade única, bem como para uma estratégia de defesa da face. CI 15B

MARIA LUIZA MONTEIRO SALES COROA Universidade de Brasília

PRÁTICAS DISCURSIVAS NA ESCOLA: ATOS DE APRENDIZAGEM LINGÜÍSTICA Ao se considerar a relevância da escola na formação de sujeitos e cidadãos, lócus de práticas discursivas específicas inseridas em práticas sociais que as condicionam, já é senso comum considerarmos que as atividades escolares devem estar o mais próximo possível da diversidade de usos lingüísticos do nosso cotidiano. Nessa perspectiva, estudos que tomam o discurso como foco de investigação permitem constituir categorias com as quais é possível não apenas analisar para compreender e explicar o fenômeno da linguagem, mas sobretudo analisar para sistematizá-lo em práticas sociais e discursivas. Nessa orientação teórica, a reflexão aqui proposta apresenta alguns fundamentos que deram origem a vários programas e projetos de formação continuada (Gestar II e Alfabetização e / 367 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

Linguagem, por exemplo), ao associar a perspectiva de discurso aos atos de aprendizagem linguística. Considera-se, assim, que as interlocuções que se estabelecem entre os “atores sociais” envolvidos (professores e alunos), e destes com os “meios” (os materiais de aprendizagem), são consideradas integrantes de uma interação lingüística “situada”, cujos limites extrapolam os tradicionais conteúdos e objetivos escolares. A partir de um referencial teórico que permite analisar tais interlocuções como relações dialéticas que escapam a posições predeterminadas, é possível chegar a práticas específicas capazes de lidar com a fluidez das interações pessoais, permeadas por tempo e espaço, como também com as interações com os materiais que (in)formam o conhecimento – materiais didáticos. Como resultado, as práticas sociais e discursivas das aulas de português se constituem em interlocuções múltiplas e complexas que representam uma condensação das práticas discursivas constituídas em uma sociedade. CI 16B

DALCYLENE DUTRA LAZARINI; LUCIANA MARTINS ARRUDA Universidade Federal de Minas Gerais

EFEITOS DE SENTIDO EM ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS DIRECIONADOS AO PÚBLICO FEMININO A publicidade se caracteriza por exercer forte influência no contexto social ao veicular mensagens comerciais criativas, sendo que os publicitários tentam convencer/seduzir o seu público alvo a adquirir um determinado produto, e dificilmente deixam transparecer suas / 368 /


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verdadeiras intenções. Mesmo cientes de que uma pesquisa na recepção apresenta muitas lacunas, para o presente estudo tentamos fazê-la a partir da seleção de alguns anúncios publicitários. Durante a exposição desses anúncios, adotamos uma metodologia experimental, baseada em recursos atencionais mobilizados, memorização, compreensão e avaliação. Mais especificamente, optamos por aplicar um protocolo de pesquisa, a fim de verificar como se dava a sua recepção. Também examinamos e comparamos as competências leitoras dos sujeitos com as nossas expectativas. Como ponto de partida, utilizamos o quadro teórico-metodológico da Análise do Discurso, embasando-nos em Emediato (2007) ao se referir às competências de leituras – linguística, enciclopédica, axiológica, praxeológica e a lógica - inscritas no texto como lugares de pré-validação. Já para se verificar os efeitos de sentidos, tomamos a seguinte divisão elaborada por Chabrol (2008): efeitos de sentido mais ou menos garantidos, efeito ilocutário visado e impressões de sentido (marcadores psicossociais). Além dos teóricos supracitados, Marcuschi (2002) afirma que os gêneros são fenômenos dinâmicos, já que são peças da sociedade, ou seja, lançamos mão de determinados gêneros com o objetivo de interagir, essa interação não é neutra, e, sim uma forma de controle social no contexto de uma prática discursiva, configurando-se assim um exercício de poder sobre o outro. Logo, uma pesquisa na recepção seria algo interessante para se verificar se as múltiplas semioses empregadas nos anúncios conseguiram produzir os efeitos de sentido previamente planejados, isto é, se foram percebidos pelos sujeitos da pesquisa. Nesse sentido, tanto o público feminino quanto o masculino confirmaram a eficácia dos efeitos de sentido pretendidos pelos anúncios publicitários.

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CI 16B

GERALDA DE OLIVEIRA SANTOS LIMA Universidade Federal de Sergipe

ATIVIDADES DE REFERENCIAÇÃO COMO PRÁTICA DE CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS O nosso trabalho parte do pressuposto de que a referenciação é uma atividade discursiva (KOCH; MARCUSCHI, 1998; BENTES; RIO, 2005; CAVALCANTE, 2003).) e de que a memória coletiva é uma realidade social transmitida pelas práticas discursivas dos grupos sociais. No que diz respeito aos processos de referenciação, Koch (2004) postula que são escolhas do próprio sujeito do discurso em função de um querer dizer, e os objetos-dediscurso (MONDADA; DUBOIS, 1993) não se confundem com a realidade extralingüística, mas a (re)constroem interativamente. Dessa forma, desde que se passou a ver a língua como um fenômeno de interação social, tem-se concebido o referente textual como um objeto construído e reconstruído nas práticas discursivas. Nosso propósito, aqui, é destacar o tratamento dado a essas estratégias na construção de sentidos do texto. Tem-se assim em vista a construção de sentidos a partir da hipótese de que é por meio de cadeias referenciais que os sujeitos, nas suas práticas sociais, produzem e reproduzem os sentidos necessários para a compreensão e interpretação de textos. Os exemplos, elencados para análise, foram extraídos de alguns produções de alunos da educação de jovens e adultos (EJA). Valendo-nos desses exemplos, pretendemos mostrar que as expressões referenciais desempenham uma série de funções cognitivo-discursivas relevantes na construção e reconstrução dos sentidos. Assim sendo, centramos nossa atenção no desenvolvimento de estudos sobre atividades de linguagem, ou seja, toma-se a referenciação como objeto de estudo, sob a perspectiva sociocognitiva. / 370 /


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CI 16B

TATIANA SIMÕES E LUNA Faculdade São Miguel

O POSICIONAMENTO DISCURSIVO NO GÊNERO GUIA ELEITORAL Este trabalho é resultado da minha dissertação de Mestrado, que teve como objetivo investigar a construção do posicionamento discursivo nos guias eleitorais dos principais candidatos às eleições majoritárias de Recife em 2004, João Paulo e Cadoca. O estudo fundamenta-se na teoria enunciativa de Bakhtin e na tendência de análise do discurso francesa, representada por Authier-Revuz, Maingueneau e Moirand, sobretudo no princípio do dialogismo. Articulando essas teorias, definimos o posicionamento como a identidade enunciativa que um discurso constrói em um determinado campo, a partir das relações dialógicas que trava com os discursos antagonistas. A análise contempla os aspectos lingüístico e discursivo, obedecendo à seguinte ordem metodológica: as estratégias argumentativas; os movimentos dialógicos; e, por fim, a construção do posicionamento discursivo. O corpus consiste de 43 programas eleitorais, sendo 19 da Frente de Esquerda de João Paulo e 24 da Frente de Direita de Cadoca, os quais foram delimitados a partir dos temas mais recorrentes, a saber: saúde, habitação, emprego e renda. Os resultados mostraram que os recursos linguísticos, as estratégias discursivas e os movimentos dialógicos mobilizados pelas frentes partidárias são similares. A análise do corpus também mostrou que as frentes estruturam os programas eleitorais com base no formato de um jornal radiofônico, ancorando-se nos valores que os noticiários remontam à memória discursiva, para dar legitimidade ao discurso político. A despeito dessas semelhanças, constatamos que elas constroem posicionamentos discursivos distintos. O posicionamento da Frente de Esquerda é construído na defesa da participação do Governo / 371 /


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nos aspectos socioeconômicos, da inclusão social das pessoas carentes e das ações em pró do bem-estar social. Já a Frente de Direita constrói posicionamentos antagônicos: simula filiar-se ao discurso da solidariedade para criticar a atuação do adversário, no entanto, marca sua posição conservadora e neoliberal ao defender uma participação mínima do Governo na resolução das questões socioeconômicas. CI 16B

WANILDA MARIA ALVES CAVALCANTI; FLÁVIA ABDON TAVARES DA COSTA SILVEIRA Universidade Católica de Pernambuco

O QUE PENSAM OS PROFESSORES DE ENSINO SUPERIOR SOBRE OS TEXTOS ESCRITOS POR ALUNOS SURDOS Um dos maiores problemas gerados pelas perdas auditivas observa-se nos efeitos sobre o desenvolvimento lingüístico tanto oral quanto escrito em língua portuguesa. Sabe-se que em Pernambuco, durante a década de 80 e parte da década de 90, crianças surdas, filhas de pais ouvintes que cursaram a Educação Básica, tiveram como língua de instrução a portuguesa. Portanto, era de se esperar que quando os alunos chegassem ao ensino superior apresentassem melhores habilidades para a escrita nessa língua. A língua brasileira de sinais embora aprendida posteriormente influencia diretamente a escrita em português, pois há uma migração de fatos dinâmicos de uma modalidade para outra. Procuramos não esquecer a face heterogênea das línguas, revisando os conceitos básicos de cada uma. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi verificar como os professores de ensino superior analisam a competência lingüística geral de seus alunos surdos na Língua Portuguesa considerando a forma culta / 372 /


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dessa língua. Dezessete professores participaram deste estudo, no qual utilizamos uma metodologia qualitativa e quantitativa. A coleta dos dados foi realizada através de um questionário e uma entrevista semi-estruturada aplicada aos sujeitos. Os dados foram categorizados trazendo as idéias apresentadas em narrativas dos professores e descritos de forma literal. Os resultados foram analisados e discutidos à luz do referencial teórico proposto por Minayo que serviu como referência de aspectos analíticos, além de Quadros, Lacerda, Karnopp e Rabelo que trouxeram os aspectos teóricos referentes às questões da surdez. A análise dos dados, permitiu sugerir que os professores observaram na escrita dos surdos dificuldades já identificadas por outros pesquisadores em outras cidades brasileiras, o que demandou a observância de estratégias dirigidas para aquisição de 2ª língua, que não foram feitas pelos entrevistados. CI 17B

NOARA PEDROSA LACERDA Universidade Federal da Paraíba

A COSNTRUÇÃO DO SENTIDO NO DISCURSO POLÍTICO EM CHARGES PUBLICADAS NO WEBSITE “ CHARGES NA RUA” O discurso político é, por excelência, o lugar de um jogo de máscaras que se fundamenta em previsões e decisões futuras, são dizeres que se estruturam em um tempo e um espaço na história da humanidade. Esses aspectos constituem o sentido veiculado pelo discurso característico do campo político e pode oferecer um interessante espaço de visibilidade para o cidadão, seja enquanto indivíduo social ou como pesquisador. O trabalho propõe uma análise sobre a construção do sentido no discurso político apresentado em charges publicadas em um website denominado / 373 /


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“Charge na rua”, neste corpus, foi possível analisar a força persuasiva das palavras articuladas na perspectiva política e os recursos estéticos, como certas construções, metáforas, imagens e jogos lingüísticos. Para dar respaldo as análises, pautamo-nos em concepções baktinianas como, o conceito de tema e significação e dialogismo para compreendermos a construção do sentido e em Patrick Charaudeau para embasarmos o discurso político contemporâneo, esse fascinante espaço de investigação, no corpus charges na rua. Uma importante análise de como o discurso e os dizeres políticos produzem e reproduzem sentidos na sociedade moderna e, acima de tudo, uma discussão crítica e científica à luz dos estudos linguísticos e filosóficos, sobre conceitos que apresentam o discurso em seus aspectos sócio-históricos e culturais, em toda sua dinamicidade e pluralidade. O resultado deste trabalho aponta que a análise do discurso político veiculado através das charges pressupõe um dizer, um sentido construído a partir da atividade específica de uma dada esfera de produção, circulação e recepção. CI 17B

RIVALDETE MARIA OLIVEIRA DA SILVA Universidade Federal da Paraíba

DISCURSO POÉTICO EM SALA DE AULA: UMA LEITURA SOCIOINTERACIONSITA DE O CÃO SEM PLUMAS Partindo do princípio de que todo processo do pensamento de Bakhtin(2002) se fundamenta no texto artístico e das reflexões de Brandão(1997) sobre a natureza dialógica da linguagem em sala de aula, esta comunicação busca uma concepção sociointeracionista do discurso na poesia, apresentando uma proposta de leitura do texto poético, para / 374 /


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alunos de terceiro ano do ensino médio, vivenciada nos movimentos dialógicos do discurso, enquanto processo contínuo de criação que se efetiva na interação verbal. Percorrendo os labirintos de “O cão sem plumas” de João Cabral de Melo Neto, esta contribuição pretende uma abordagem das formas enunciativas e estruturais do texto como forma de ampliar modos de ler em contextos educacionais. O método, utilizado na investigação, é o qualitativo de caráter documental, onde se analisam os mecanismos enunciativos do discurso, suas condições de produção e de circulação, visando a uma compreensão real de leitura contextualizada, fruto das atividades do professor, em sua tarefa de formar alunos capazes de desvelar vozes e ideologias contidas nas articulações discursivas e de assumir posições pertinentes frente aos textos que leem. A partir de observações realizadas em sala, baseadas nas relações autor/texto/leitor, esta contribuição se realiza, no sentido de verificar como este dizer legitima espaços, transcendências do homem, metalinguagens, pela heterogeneidade das vozes que perpassam o discurso e produzem sentidos, sem a obediência, ainda tão visível, à visão dos textos literários nos bancos escolares. CI 17B

RONY PETTERSON GOMES DO VALE ; RENATO DE MELLO (UFMG) Universidade Federal de Minas Gerais

DISCURSO HUMORÍSTICO, SEMIOLINGUÍSTICA E PIADAS: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE O presente artigo procura mostrar uma proposta de análise do Discurso Humorístico, tendo como base os postulados da Teoria Semiolinguística aliados aos critérios descritivos propostos por Patrick Charaudeau no seu / 375 /


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texto “Des catégories pour l’humour” de 2006. Assim, imersos no campo da Análise do Discurso, vamos apontar as principais características do Discurso Humorístico a partir da descrição da sua mise en scène triádica (locutor, destinatário e alvo), ressaltando o papel dos sujeitos envolvidos tanto no plano ficcional (quando dentro de uma “histoire drôle”) quanto no plano não ficcional. Verificaremos os procedimentos linguísticos e discursivos e os efeitos pretendidos, visando uma adaptação desses critérios de análise/ descrição às particularidades de um grupo de piadas produzidas em língua portuguesa. Desse modo, podemos dizer que essa análise tem a capacidade de indicar não somente um modo de ver como representações e imaginários sociodiscursivos podem ser identificados dentro de textos ditos humorísticos ou que podem ser caracterizados pela presença em potencial de atos humorísticos, mas também como tais mecanismos linguísticos e discursivos se complementam com o objetivo de formar estratégias mais complexas. Estas últimas baseadas na confluência de modalidades enunciativas que podem ser sobremodalizadas dentro de determinados contextos na busca da conivência do “outro” pelo sujeito locutor contra um determinado alvo. CI 17B

SANDRO XAVIER DA SILVA Universidade de Brasília

O SILENCIAMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO DISCURSO DA PEDOFILIA: UMA RELAÇÃO DE PODER A pedofilia é tema que atinge a todo o mundo atualmente, especialmente por casos divulgados na imprensa relacionados ao clero da Igreja Católica Apostólica Romana. Contudo, esse não é um problema somente dessa agremiação eclesiástica, posto que se encontra em toda a sociedade, / 376 /


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sendo, inclusive, no seio da família os casos mais frequentes. Muitas organizações não governamentais e órgãos públicos têm trabalhado a questão e estimulado a sociedade a denunciar casos existentes. Diante disso, muitas situações têm surgido e a população busca uma maneira de se defender e punir os responsáveis. Por intermédio da Análise de Discurso Crítica (ADC), estudaremos discursos relacionados à questão do abuso sexual a crianças e adolescentes. Buscaremos no discurso do abusador como aquele que reconhece a criança e o adolescente como um indivíduo incapaz não somente de responsabilidade social, mas até mesmo de ter voz ativa. O poder que o adulto tem sobre a criança, na ótica do cuidado, transforma-se em um abuso de poder que se aproveita da condição da identidade da criança e do adolescente, por vezes apagada, por isso mesmo tem sua voz silenciada. Assim, a análise de discursos relativos à prática da violência pedófila pode demonstrar o que a sociedade pensa a respeito do assunto e o que ela está fazendo para controlar essa prática hoje. Com o confronto da realidade do silenciamento das crianças e adolescentes, verificamos que esse fenômeno é base para a continuidade da atividade do abusador. Dessa forma, por meio de estudos da realidade discursiva, podemos buscar meios de superar essa nefasta prática. CI 18B

ANA CAROLINA DA SILVA LEMOS ARAÚJO; MOAB DUARTE ACIOLI Universidade Católica de Pernambuco

O DISCURSO DA MARGEM: UM ESTUDO SOBRE A PALAVRA DE UMA MULHER RECLUSA POR TRÁFICO DE ENTORPECENTES O objeto da presente pesquisa é a rede do domínio social sobre delito, formada pelos dizeres dos atores sociais que habitam o território das / 377 /


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práticas discursivas pertinentes ao fenômeno desviante. Para tanto serão aqui desenvolvida a Análise Crítica do Discurso a destacar o papel da linguagem entre práticas sociais e práticas discursivas. Para tanto, são pensados como objetivos: estudar criticamente o lugar da ideologia e do poder na construção do domínio discursivo; escutar a comunicação entre prática social e prática discursiva; analisar o discurso do ator social desviante sobre o delito. Em termos de metodologia, o estudo foi qualitativo e empírico, tendo como campo a Colônia Penal Feminina do Recife. Foi aplicado um roteiro de entrevista semidiretiva a uma mulher de 42 anos de idade, sumariada como traficante de entorpecentes, reclusa há um ano e onze meses. Na análise dos resultados, destacaram-se os seguintes marcadores discursivos na perspectiva de Fairclough (2001). Existe uma percepção do status social deste delito, numa perspectiva da margem para o centro, através de superlativos: “O delito mais poderoso é o tráfico!”. Entretanto, a contrapartida deste centro é visível através de um ethos da exclusão e descrédito sociais, conforme é dito: “Você se afasta do mundo, você perde a credibilidade”. Entretanto, estando encarcerada a polêmica entre o “poder” e a “exclusão”, a mulher desenvolve uma outra estratégia interdiscursiva, reproduzindo este discurso institucional: “O crime não compensa! Já escolhi minha opção, eu saí dess, dess, desse mundo”. Concluindo, os territórios discursivos sejam na margem, na periferia, ou no espaço do cárcere são lugares para a produção social de discursos muitas vezes antagônicos, mas referenciados pela lógica de cada território.

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 18B

CLÁUDIA GOULART MORAIS Universidade Federal De Uberlândia

QUESTÕES DE ESTILO EM CARTAS ARGUMENTATIVAS PRODUZIDAS POR PROFESSORES EM UM CONTEXTO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Com o advento das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTICs), a Educação a Distância (EAD) tem se tornado uma alternativa para se enfrentar o desafio da formação docente num momento em que a palavra de ordem do governo federal é ampliar os programas de formação – inicial e continuada – com o objetivo de melhorar a qualidade da educação brasileira. Sabe-se que os professores da Educação de Jovens e Adultos (EJA) encontram em suas salas de aula verdadeiros mosaicos culturais constituídos por estudantes procedentes das mais variadas faixas etárias e grupos étnicos e que, por isso mesmo, tais professores têm papel fundamental nos processos de legitimação dos saberes e na promoção dos letramentos desses sujeitos que, muitas vezes, vivem à margem da sociedade letrada. Nossa proposta neste trabalho é apresentar marcas textuais de estilo, tanto do ponto de vista do gênero discursivo, quanto das marcas de estilo da escrita individual, em cartas argumentativas produzidas por professores do Ensino Fundamental II (Educação de Jovens e Adultos) em um contexto de Educação a Distância: o ambiente virtual de aprendizagem Moodle. Tais marcas evidenciam o sujeito na linguagem e sinalizam a necessidade de se desenvolver, em cursos de formação continuada, práticas de letramento com os professores para que eles possam se apropriar discursivamente de diferentes gêneros e, assim, alargar as possibilidades de letramentos adequados para seus alunos. / 379 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 18B

VIVIANE RAPOSO PIMENTA Universidade Federal de Uberlândia

AS NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO E O JUDICIÁRIO BRASILEIRO Com o surgimento das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC) temos vivenciado a produção de “gêneros textuais emergentes mediados por computador” (MARCHUSCHI, 2002). O judiciário não pode ficar alienado a esta realidade, que cerca a sociedade contemporânea, e tem aderido à utilização das novas tecnologias, como a videoconferência utilizada nos tribunais, a fim de preservar os princípios da economia e celeridade processuais. Nesse sentido, propomos um estudo que se inicia pelo exame de três questões básicas: a primeira diz respeito à compreensão do fenômeno Sociedade da Informação, a segunda versa sobre a utilização das NTICs como ferramentas para o exercício das profissões jurídicas e atividades de apoio a estas, bem como para o acesso da população às informações jurídicas de seu interesse e, finalmente, a terceira examina as NTICs como fenômeno social cuja utilização é capaz de causar, ou de sofrer, impactos com reflexos de ordem jurídica. Sabe-se que na base de uma sociedade estão os valores como a vida, a liberdade e a segurança. Os valores em que se funda uma sociedade são intrínsecos a ela, ou a várias sociedades, e mudam com o tempo. Novas relações entre as pessoas surgem a cada dia, ditadas pela vontade humana de realizar. Assim, diante dos novos fatos sociais que se apresentam na sociedade pós-moderna, normas devem ser criadas pelo sistema para a manutenção do equilíbrio entre os povos de uma nação. Nessa perspectiva, o judiciário vem incorporando o gênero discursivo videoconferência a fim de atender às demandas sociais. / 380 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 18B

WALLESKA BERNARDINO SILVA Universidade Federal De Uberlândia

OS MULTILETRAMENTOS NAS PROPOSTAS DE ENSINO DE GÊNERO NO PORTAL DO PROFESSOR/MEC A partir do surgimento das NTICs, novos rumos foram tomados no tratamento da significação. O ensino/aprendizagem da língua deixou de considerar focadamente o plano linguístico para buscar nas multissemioses sua forma mais produtiva de interação. Nessa perspectiva, os gêneros discursivos que recobrem os usos sociais da língua numa perspectiva dialógica (Bakhtin, 2003) contribuem para a sistematização de atividades que visam à ampliação dos letramentos múltiplos (ROJO, 2009). Assim, esse trabalho privilegia a esfera escolar para tratar das práticas sociais de leitura levando em consideração atividades desenvolvidas por meio do estudo de gêneros no Portal do Professor/MEC. Este Portal configura-se como uma possibilidade digital de diálogo entre os professores por meio da apresentação de suas experiências pedagógicas formalizadas em planos de aulas e acessíveis a qualquer navegador. Neste estudo, foram consideradas, então, algumas atividades de leitura que compõem sequências didáticas (DOLZ e SCHNEUWLY, 2004) para o estudo de gêneros. Procurou verificar se essas atividades possibilitam a ampliação dos letramentos múltiplos, levando em consideração as diferentes modalidades de significação, a multimodalidade (LEMKE, 2002). O que pôde ser observado é que as sequências didáticas já privilegiam, em grande parte, formas multimodais para ampliação do letramento, o que revela novas preocupações para o ensino/aprendizagem da língua. / 381 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 19B

FERNANDA LUZIA LUNKES Universidade Federal Fluminense

OS SENTIDOS SOBRE O PROZAC NA REVISTA VEJA Quais os sentidos construídos pela mídia sobre o sujeito com depressão na contemporaneidade? Esta pergunta abrange em grande medida nossa atual pesquisa, que se encontra em fase preliminar. Neste momento, é importante empreendermos nossos gestos de leitura sobre os sentidos produzidos sobre a medicalização pela Revista Veja nas décadas de 80 e 90 do século XX. Não queremos supor com isso que chegaremos a uma leitura do sentido original. Interessa-nos perceber os movimentos ideológicos, que tomamos como constantes na história. Nosso percurso teórico e analítico se embasa na Análise do Discurso franco-brasileira, sustentada principalmente por Michel Pêcheux (2002; 1997) e Eni Orlandi (2002; 2001; 1998) e por outros pesquisadores (HENRY, MARIANI). Temos como objetivo analisar o que compreendemos como uma das primeiras matérias da Revista Veja sobre o Prozac, de 20 de dezembro de 1989, na edição 1110, que trata sobre a repercussão do medicamento entre os americanos. As sequências discursivas recortadas da matéria pretendem trazer os processos de sinonímia, os processos de adjetivação e outras marcas linguísticas que deem conta de explicitar as formações ideológicas e as formações imaginárias às quais a Revista Veja se filia naquele momento sócio-histórico e as representações construídas relacionadas à medicalização. Nossa análise aponta para alguns sentidos: processo sinonímico entre depressão e outros significantes, produzindo um efeito generalizante da depressão; na valorização do medicamento, estabelece-se, a nosso ver, uma relação condicional entre índice de / 382 /


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vendas e necessidade de consumo; os sentidos sobre a depressão são construídos em torno de uma falta química orgânica, cuja compensação será, portanto, dada por outro agente químico. CI 19B

LÍVIA LETÍCIA BELMIRO BUSCÁCIO Universidade Federal Fluminense

EM QUE LÍNGUA TECER A PRÓPRIA LITERATURA BRASILEIRA? UMA QUESTÃO ESTÉTICA PARA JOSÉ DE ALENCAR E MÁRIO DE ANDRADE A preocupação com o nomear a língua em que se escreve literatura atravessa autores de países historicamente assinalados pela colonização, o que se mostra bastante presente em autores africanos, como Mia Couto e Luandino Vieira, através do conflito em inscrever a africanidade no literário entre a língua oficial portuguesa e as línguas africanas. E na literatura do Brasil, país também marcado pela colonização linguística, conforme professa Mariani (2004), imprime-se um discurso sobre em que língua escrever? Esta questão impele a formação de um arquivo de saberes sobre a língua e a literatura no Brasil, a partir da presença nos discursos de autores da afirmação da identidade linguística brasileira concernida à própria criação estética. Neste artigo, a proposta é engendrar uma leitura de José de Alencar e Mário de Andrade sobre este prisma. José de Alencar, em carta publicada como posfácio de Iracema, busca afirmar a identidade nacional por meio da presença da “língua dos selvagens”, tendo sido acusado pela crítica da época de corromper o idioma lusitano com “americanismos”. Mário de Andrade, na obra A Gramatiquinha de Mário de Andrade, publicada por Edith Pimentel na Gramatiquinha da fala brasileira (1990), defende a escrita literária em “Língua brasileira”. / 383 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

Nos anos 1940, em O empalhador de passarinho e em Vida literária, o autor contrapõe-se ao priorizar a noção de “língua nacional”. Com base no entrelaçamento da Análise do discurso de Pêcheux com a História das Ideias Linguísticas, bem como com a Teoria da Literatura, pretende-se verificar: as noções de sujeito e formação discursiva (PÊCHEUX, 2009); os conceitos de saber linguístico (AUROUX, 1990) e de língua (ORLANDI, 2009); a ideia de função-autor (FOUCAULT, 1992) e a relação entre estética e política (BENJAMIN, 1996). CI 19B

SOLANGE MARIA DE BARROS Universidade do Estado de Mato Grosso / Universidade Federal de Mato Grosso

REALIDADES OCULTAS DE ADOLESCENTES POBRES EM SITUAÇÃO SOCIAL DE RISCO: UM ENFOQUE CRÍTICO-EMANCIPATÓRIO COM BASE NO REALISMO CRÍTICO E ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA Nas últimas décadas, a ciência social crítica contemporânea tem demonstrado especial interesse à compreensão dos fenômenos sociais concernentes às questões ontológicas e epistemológicas, com seus mecanismos, poderes e causas. O movimento filosófico britânico conhecido como Realismo Crítico (RC) surge para acirrar ainda mais o debate na filosofia das ciências sociais. Enquanto filosofia de cunho emancipatório, o RC tem servido de base para a reflexão teórica e metodológica de um grande número de cientistas sociais, interessados em compreender a inter-relação dialética entre sociedade e indivíduos. / 384 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

Ancorado na filosofia do RC (Bhaskar, 1998; 2002), Análise de Discurso Crítica (Fairclough, 1989, 2003) e Linguística Sistêmico-Funcional (Halliday, 2004), este trabalho apresenta relatos de histórias de vida de alunos pobres, considerados infratores e que estão sob guarda judicial e em situação social de risco. Procuro desvelar suas experiências vividas no Centro Sócio-Educativo do Pomeri. Os dados foram coletados através de gravações de conversas informais com os alunos, incluindo relatos de suas histórias de vida (com e sem o uso de gravador). Os relatos das histórias de vida revelam o modo como experienciamos o mundo. Contudo, nem sempre o pesquisador consegue captar toda a história de vida do sujeito. Quase sempre há um ocultamento de experiências tristes vivenciadas por ele. Nesse caso, os elementos discursivos que poderiam ser cruciais para a análise deixam de ser revelados e o analista acaba não conseguindo captar outros discursos da vida desse sujeito. Desde 2006 participo de Grupos de Estudos com Professores na Escola Meninos do Futuro, localizada no Centro Sócio-Educativo do Pomeri- Cuiabá/MT. As experiências já compartilhadas com os professores, bem como o contato com os alunos contribuíram para uma melhor compreensão dos significados construídos por eles em seus discursos. CI 19B

VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO Universidade do Estado do Rio Grande do Norte /Universidade Federal do Rio de Janeiro

UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE CHARGE E NOTÍCIA A propriedade circunstancial da charge faz com que dialogue com discursos em geral sobre os assuntos mais recentes em voga. Tendo / 385 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

em vista a relação entre os assuntos abordados em charges e notícias, pretende-se no presente estudo identificar as perspectivas ideológicas que perpassam esses dois gêneros jornalísticos. A charge constitui linguagem verbal e não-verbal, humor e crítica, enquanto a notícia definese pelo próprio nome, ou seja, visa noticiar um fato, informá-lo, seja com a assinatura ou não do autor. Para isso, será utilizada uma fundamentação teórica baseada na Análise do Discurso franco-brasileira, que tem como seu precursor o teórico Michel Pêcheux. Dentre os autores que contribuem para a abordagem dessas noções, destacam-se Pêcheux (1999), Mariani (2000), Orlandi (1999) e Courtine (2008). De acordo com Courtine (2008, p. 71), “cada formação ideológica constitui assim um conjunto complexo de atitudes e representações”, as quais serão apontadas nos discursos, visando à identificação de duas ou mais perspectivas. Acredita-se que esse aparato metodológico comparativo possibilite uma análise do grau de crítica dos fatos retratados nas duas materialidades discursivas, considerando que todo o discurso remete a uma formação ideológica, e esta só pode ser determinada por meio da caracterização da formação discursiva da qual ele faz parte, cf. Orlandi (1988). Será selecionada charge de Angeli, que publica diariamente na Folha de São Paulo, e uma notícia que dialogue com o fato abordado na charge, ambos publicados em uma mesma edição. O objetivo, portanto, é verificar os posicionamentos ideológicos presentes nesses discursos mediante o confronto entre dois gêneros distintos em situação de diálogo. Espera-se que o presente exame contribua para a leitura crítica de discursos, bem como revele propriedades concernentes aos dois gêneros.

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 20B

LEILA BARBARA; CÉLIA MACEDO DE MACEDO

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

O DIZENTE EM TEXTOS ACADÊMICOS: UM ESTUDO DE ALGUNS VERBOS MAIS FREQUENTES Esta comunicação relata alguns resultados da pesquisa intitulada‘Processos verbais da gramática ao discurso em textos acadêmicos do português do Brasil’, parte do projeto ‘Systemics Across Languages (SAL)’. O projeto é desenvolvido em parceria com pesquisadores da China , Argentina, México e Tailândia que estudam outras línguas procurando entender suas características específicas e universais que partilham. O objetivo central da pesquisa realizada no Brasil é a análise das ocorrências de processos verbais em artigos científicos de diferentes áreas, procurando entender seu significado, estrutura e distribuição. Dentro do arcabouço teórico da Gramática sistêmico-funcional (Halliday, 1994; Halliday e Matthiessen, 2004), serão focalizadas as realizações dos participantes-dizentes – tais como eu, o autor, o trabalho etc. - a freqüência relativa de cada escolha, sua relação com a parte do trabalho em que ocorre. O estudo enfocará, portanto, as escolhas no âmbito da metafunção ideacional em relação ao contexto de situação, ou seja, às variáveis de Registro (campo, relação e modo). Os resultados mostram que há relação entre a escolha do dizente e as características do verbo usado e o estágio do texto; são fatores intervenientes as características do elemento reportado e sua relação com o autor, outros interactantes e as informações veiculadas no artigo. O corpus de estudo consta até o momento, de cerca de 30 milhões de palavras, em artigos de diversas áreas da ciência retirados da base de / 387 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

dados www.Scielo.br. Para a análise dos dados, é utilizada a ferramenta computacional da Lingüística de Corpus Wordsmith Tools.50 (Scott, 2008). A análise se concentra em alguns verbos com alta freqüência de uso incluindo analisar, avaliar e propor. Os resultados desses elementos é complementar e, ao mesmo tempo, enriquecida pelos resultados de trabalhos anteriores que focalizam aspectos do modo e da modalidade e as características da mensagem. CI 20B

MARIA LÚCIA FERREIRA DE FIGUEIRÊDO BARBOSA Universidade Federal de Pernambuco

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO DE ADULTOS: POR UMA NOÇÃO DE FACE O tema central do trabalho é a adoção do conceito de face no âmbito da alfabetização e letramento de adultos. Nessa perspectiva, o objetivo do estudo é propor o conhecimento sobre a dinâmica das faces dos aprendizes, com base na ideia de que o discurso é revelador das faces. Os pressupostos teóricos que orientam a proposta, em tela, partem de uma abordagem analítica dos atos de fala (Austin, 1962; Searle, 1969) para uma análise desses atos na perspectiva dos atos de ameaça às faces (Brown e Levinson, 1987). Durante a investigação foram entrevistados dez adultos em processo de alfabetização e letramento, cujas entrevistas, de natureza semiestruturada, buscaram, sobretudo, revelar o modo como os entrevistados mostram as suas faces quando avaliam a sua relação com a leitura e escrita, antes e depois do ingresso no processo de alfabetização e letramento. Os resultados demonstram que a escrita é vista pelos educandos como tendo grande importância para a mediação das práticas discursivas inseridas / 388 /


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nas relações sociais cotidianas. Os sujeitos pesquisados apresentam uma imagem negativa de si quando se referem a forma como se sentiam antes de ingressarem no aprendizado da leitura e da escrita. Já quando se referem à forma como se sentem depois de ingressarem no aprendizado da escrita, incorporam atributos positivos à sua auto-imagem. CI 20B

PAULO FERNANDO DE CARVALHO LOPES Universidade Federal do Piauí

UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA: O ACONTECIMENTO MIDIÁTICO “BARRAGEM DE ALGODÕES I” UM ANO DEPOIS DO ACONTECIDO No dia 28 de maio de 2009, os meios de comunicação da cidade de Teresina (PI) circularam anunciando que parte da Barragem de Algodões I, no município piauiense de Cocal da Estação, rompeu causando mortes e destruições. Este artigo tem por objetivo analisar as estratégias enunciativas mobilizadas, um ano depois do acontecido, por dois veículos de comunicação com linguagens diferentes: o jornal de circulação diária O Dia e o programa de televisão Jornal do Piauí ,da TV Cidade Verde. A escolha dos mesmos deve-se ao fato de serem somente estes dois veículos que se propuseram em primeiro lugar, a retomar o acontecido e em segundo lugar, fazerem reportagens especiais da tragédia a partir do primeiro momento e suas conseqüências durante o primeiro ano. Toma-se por base conceitualmetodológica a proposta da Teoria dos Discursos Sociais, de Pinto (1999,2003). Ele entende que é no cotidiano, por meios dos textos, neste caso, das notícias, que batalhas são travadas. É sempre através da mediação de textos, via trabalho do sujeito, que há a transformação de uma ordem / 389 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

plural e complexa para uma ordem singular. Faz-se necessário balizar que as notícias são consideradas, neste texto, como práticas sociais construídas mediante o emprego de linguagem verbal ou de outros recursos semióticos que integram um contexto social e histórico. A partir das considerações finais pode-se identificar que os dois meios de comunicação não silenciam a tragédia. Eles dão um espaço, pouco usado na imprensa local, que é o das reportagens especiais. Do seu modo, cada um dos veículos analisados se posicionou na cena enunciativa-midiática mostrando o acontecimento a partir dos moradores que viveram a tragédia, dos heróis locais e dos atos do governo do Estado. CI 20B

ROSÂNGELA TENÓRIO DE CARVALHO Universidade Federal de Pernambuco

O SUJEITO DA INTERCULTURALIDADE: UMA ANÁLISE DO DISCURSO NO CAMPO CURRICULAR DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS O discurso pela interculturalidade no campo curricular na Educação de Jovens e Adultos, ao contrapor-se às formas homogeneizadoras de diversos e diferentes processos educativos, apresenta uma vontade de saber/poder, problematiza experiências dominantes de currículos monoculturalistas, ao mesmo tempo em que produz subjetividades multidimensionais de classe, gênero, raça, etnia, geração. Em relação à produção de subjetividades no discurso curricular pode-se afirmar, numa perspectiva nietzschiana, que, ao dizer-se da interculturalidade em substituição da homogeneização cultural, diz-se daquilo que também se é. Sob o enfoque da análise foucaultiana do discurso desenvolveu-se um estudo das regras e dos / 390 /


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eixos da formação discursiva da interculturalidade no campo discursivo da Educação de Jovens e Adultos com vistas a analisar os enunciados que conformam o sujeito da interculturalidade. Examinou-se nos enunciados pela interculturalidade o jogo de poder/saber subjacente às verdades do discurso pela interculturalidade que afirmam o cidadão coletivo e/ou cidadão multicultural. Para essa análise das formas de subjetivação do sujeito da interculturalidade, foram selecionados enunciados que indicam no discurso pela interculturalidade, como se diz das práticas de objetivação do ser jovem e adulto na sociedade e em relação a si próprio. Isto é, em enunciados que indicam os processos de governamentalidade - técnicas de si - dos sujeitos da educação. CI 21B

GUILHERME ROCHA BRENT Universidade Federal de Minas Gerais

A REPRESENTAÇÃO DE REALIDADES DE CORRUPÇÃO NO DISCURSO JORNALISTICO: ESCOLHAS LINGUÍSTICAS E CUSTOS SOCIAIS O objetivo desta comunicação é analisar o funcionamento do discurso jornalístico da Revista Veja na representação de eventos de corrupção política, buscando mostrar como seu discurso constroi realidades sociais para os eventos representados, assim como para aqueles sujeitos neles envolvidos. À luz disto, adotamos como aporte teórico a relação dialógica entre os estudos da Linguística Sistêmico-Funcional proposta por Halliday (1978; 1994) e Halliday e Matthiessen (2004) e o modelo de Análise Crítica do Discurso orientado para a investigação social proposto por Fairclough (1989; 1995; 2001; 2003). Empreendemos o exame do discurso de VEJA mediante os componentes do Sistema de Transitividade (processos, participantes / 391 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

e circunstâncias), assim como por meio do significado representacional (modos particulares de representar aspectos do mundo) de modo a identificar as representações subjacentes. Os resultados iniciais sugerem o discurso de Veja como palco de intervenção política, onde representações são construídas de modo a legitimar uma realidade para os eventos e para aqueles sujeitos neles envolvidos. As escolhas de processos em seus diferentes tipos, associadas a participantes específicos, e isso sob elementos circunstanciais, indicam uma representação da experiência calcada em relações de poder. Ao dar visibilidade a determinados participantes e a suas atividades, o discurso de Veja constroi e controla sentidos para exercer seu poder‘oculto’, ou seja, ele constroi uma realidade através do controle do texto – quem incluir/excluir, como incluir/excluir, quais realidades construir para aqueles incluídos. E ao fazer isso regula o que saber e o que dizer sobre o evento. Isso garante ao discurso de Veja conteúdos ideológicos e interesses particulares na divulgação das informações. CI 21B

IRAN FERREIRA DE MELO Universidade de São Paulo

TEORIAS SOBRE REPRESENTAÇÃO EM HALLIDAY, FAIRCLOUGH E VAN LEEUWEN Em nosso dia-a-dia, usamos formas explícitas e latentes para representarmos pessoas e grupos. Todas elas consistem em ferramentas discursivas que os sistemas linguísticos possuem e que, conforme nossos propósitos comunicativos, operamos de maneira diferente, escolhendo uma ou outra a depender da relação ideológica que construímos com nossos interlocutores. Os efeitos de sentido decorrentes dessa relação constituem os principais fatores responsáveis pela formação de / 392 /


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identidades e representações sociais. Diante dessa tese, investigações caras aos estudos linguísticos fazem dessa ciência uma arena produtiva de pesquisas que, por meio de vários paradigmas, ajudaram a repensar as teorias sobre o lugar e o papel da linguagem na construção social da realidade. Em nossa comunicação apresentaremos alguns dos mais profícuos quadros teórico-metodológicos de descrição, interpretação e explicação dos meios pelos quais as categorias linguístico-discursivas constituem a representação das identidades sociais contemporâneas de indivíduos e grupos. Trata-se das abordagens desenvolvidas pela Linguística Sistêmico-funcional de Michael Halliday (2004) e seus postulados sobre a transitividade verbal, bem como pela Análise Crítica do Discurso e as propostas de Norman Fairclough (2003) sobre o estudo do significado representacional do discurso e de Theo van Leeuwen (2008) acerca da representação das ações e dos atores sociais. Neste trabalho, apontaremos as principais contribuições desses empreendimentos teóricos e revelamos os impactos de suas aplicações em análises de textos de diversos domínios. CI 21B

JACIARA JOSEFA GOMES Universidade Federal de Pernambuco

ELES TAMBÉM TÊM MEDO “DO MESMO” E VOCÊ? A CONSTRUÇÃO DE PRECONCEITOS NO DISCURSO ACADÊMICO O uso, supostamente indiscriminado, da expressão “o mesmo” como recurso de retomada anafórica continua causando bastante polêmica. Se, a princípio, a utilização do termo foi analisada por professores, sob o ponto de vista (a)gramatical, como “erro” e ganhou popularidade e rejeição. / 393 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

Hoje, para professores e alunos de pós-graduação em Letras, embora sob hipóteses “científicas” (perspectivas teóricas mais funcionalistas), a expressão também é bastante recusada. Ademais, há uma comunidade no orkut chamada “eu tenho medo do mesmo”, e alguns blogs que discutem a questão. Devido a esse espaço que a discussão tomou na mídia, na educação básica e na universidade, julgamos pertinente analisá-la com base em estudos da Linguística Textual e da Análise Crítica do Discurso. Buscamos desvelar as ideias que subjazem aos debates e verificar como o estudioso da linguagem, enquanto sujeito social e histórico, fala de um lugar discursivo que o situa no grupo, mas não está livre de reproduzir preconceitos, sobretudo ao fazer generalizações. Posto isso, o que se observa é que a expressão “o mesmo” se tornou extremamente recorrente na linguagem de policiais, chegando inclusive a ser reconhecida como parte do jargão da categoria. Nossa análise aponta para a tese de que esse aspecto é o fato gerador da rejeição por ser esse trabalhador, social e culturalmente, apontado como um cidadão com baixo grau de letramento. Logo, parece inaceitável o uso do termo no centro do saber, a universidade, principalmente e, contraditoriamente, se o usuário for um estudioso da língua. Contraditório porque não se espera que um especialista compartilhe de opiniões superficiais, já que nem sempre o uso é inadequado e, muito menos, agramatical, uma vez que “mesmo” é substantivado quando antecedido do artigo “o”. Dessa maneira, considerando a recusa ao uso da expressão preconceito linguístico e social, situamos esse estudo na interface discurso e sociedade.

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CI 21B

JOÃO BENVINDO DE MOURA Universidade Federal do Piauí / Universidade Federal de Minas Gerais

O PIAUÍ É AQUI: CONSTRUÇÃO E DESCONSTRUÇÃO DE IMAGENS EM EDITORIAIS DA IMPRENSA ESCRITA O objetivo deste trabalho é analisar as principais estratégias discursivas utilizadas nos editoriais do Jornal Meio Norte, do estado do Piauí, no período de 2007 a 2010, ou seja, durante o segundo mandato do atual governador do estado, Wellington Dias, do PT. Foram escolhidos 4 editoriais para análise, sendo um de cada ano. Durante tal percurso, observamos os liames da mídia e da política tendo como fio condutor o exame das provas persuasivas aristotélicas: ethos, pathos e logos. A partir dos pressupostos teóricos da Teoria Semiolinguística de Patrick Charaudeau (1983, 1992), da Retórica de Aristóteles (2005) e da Nova Retórica de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), procedemos à análise dos contratos comunicacionais estabelecidos neste gênero discursivo, bem como das estratégias agenciadas pelo sujeito falante. Postulamos que as provas ethos, pathos e logos constituem, com destaque, o plano argumentativo do discurso do Jornal, podendo, inclusive compor um modo de organização discursiva, o retórico. Portanto, o modo enunciativo argumentativo dos editoriais constitui a viga-mestra do modo retórico, sustentando-o como se fosse um guarda-chuva: seus recursos linguísticos e/ou discursivos foram agenciados, mobilizados e organizados em função da constituição das imagens de si e do outro (dimensão representacional), da patemização (dimensão emotiva) e dos argumentos lógicos (dimensão técnica), sendo a dimensão representacional a principal prova persuasiva utilizada durante o período de análise. As dimensões argumentativas / 395 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

foram mobilizadas tendo em vista as representações sociodiscursivas do grupo social no qual o sujeito falante está inserido. CI 22B

MARCELA REGINA VASCONCELOS DA SILVA Universidade Federal Da Paraíba

O TRATAMENTO DE GÊNEROS DO DISCURSO NO ENADE: UMA ANÁLISE DAS QUESTÕES DISCURSIVAS DE ADMINISTRAÇÃO E SECRETARIADO EXECUTIVO Este trabalho tem como objetivo analisar a abordagem de gêneros discursivos no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), no componente específico destinado aos estudantes dos cursos de Administração e Secretariado Executivo. Para tanto, procedemos à revisão dos estudos teóricos de Bakhtin ([1979], 2000), Dias Sobrinho (2003), Hoffmann ([1991] 2005), entre outros autores. Em seguida, analisamos as questões discursivas presentes no componente específico de cada um dos cursos mencionados acima, elencando os gêneros discursivos solicitados e averiguando se essa solicitação é feita de modo produtivo e pertinente. Tal pesquisa se justifica pelo fato de que todos os profissionais lidam, em suas atividades diárias, com inúmeras práticas sociais, as quais incluem aquelas que se constituem por meio da linguagem. Por isso, julgamos importante verificar se existe, nesse teste, um trabalho relevante com os gêneros discursivos necessários à atuação dos profissionais formados nos cursos em análise. Consideramos imprescindível que haja esse tipo de trabalho, visto que o ENADE exerce um papel de grande importância / 396 /


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na avaliação do Ensino Superior brasileiro e ainda costuma interferir na escolha do currículo dos cursos que avalia. Os resultados obtidos sinalizam a ausência ou precariedade da relação entre o que se solicita dos estudantes no ENADE e o que é necessário para que os profissionais se engajem efetivamente nas práticas comunicativas próprias de sua esfera de atuação. Além disso, foi possível constatar que há uma discrepância em relação à abordagem dos gêneros discursivos entre as provas analisadas. Enquanto a prova referente ao curso de Secretariado Executivo se mostra mais consistente quanto ao papel dos gêneros no âmbito profissional, a prova de Administração sequer contempla tal abordagem, o que não se justifica, já que todas as atividades humanas se realizam por meio da linguagem, que não deve ser considerada mais importante para um curso do que para outro. CI 22B

RITA DE CÁSSIA LADEIA Universidade Estadual de Campinas

LITERATURA E COMPLEMENTAÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS DE INGLÊS PARA O ENSINO MÉDIO: OS PCNS EM ENFOQUE DISCURSIVO Partindo do entendimento da língua como fenômeno social inerente ao discurso (Foucault 1995, Pêcheux 1990, Bakhtin 1992, Marcuschi 2002) e baseado em estudos curriculares multidimensionais e de concepção discursiva (Stern 1993; Coste (1996), Serrani 2005a), este trabalho ressalta a importância do componente sócio-cultural no planejamento de cursos de línguas, uma vez que tal componente é fundamental no tratamento das diferenças ideológicas entre línguas e povos. O enfoque discursivo justifica-se também pela compatibilidade com as diretrizes oficializadas / 397 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

pelos Parâmetros Curiculares Nacionais. Num primeiro momento, discutimos as concepções de língua, discurso, ensino e aprendizagem que norteiam a adoção de livros didáticos e a escolha de recursos complementares, do ponto de vista de professores e escolas na cidade de São Paulo. Foram pesquisadas as escolas que obtiveram avaliação de aprendizagem superior a 70% (setenta por cento), de acordo com o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) nos anos de 2006, 2007 e 2008. Propomos, então, que práticas pedagógicas de enfoque discursivo sejam desenvolvidas a partir dos livros didáticos, por meio de relações não dicotômicas entre língua e literatura. Finalmente, relatamos um estudo de caso com foco na formação de professores para o ensino de língua numa ótica discursiva. CI 22B

SANDRA HELENA DIAS DE MELO Universidade Federal Rural de Pernambuco

PRODUÇÃO ESCRITA E LIVRO DIDÁTICO Como o desenvolvimento das práticas de leitura e escrita na escola se dá ou pode ser explorada, é objeto de muitos estudiosos interessados na discussão do letramento na sala de aula (cf. BUNZEN; MENDONÇA, 2006). Desde a década de 90, tanto o objetivo do ensino quanto os objetos de ensino têm sido redefinidos em prol de uma educação que pretende ser basilar na construção da cidadania. Esse ideal colaborou com o fortalecimento de estudos cujo objetivo era investigar os materiais didáticos, promotores das práticas de leitura e escrita, na educação brasileira. Nessa esteira de pensamento, se encontra este trabalho, que objetivou discutir como o Livro Didático de Geografia tem se comprometido com a produção escrita do alunado e a promoção dessa / 398 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

autonomia. Para tanto, foram analisadas as atividades propostas em duas coleções de livros didáticos de geografia, aprovados no Programa Nacional de Livro Didático (2008). A seleção do material didático deveu-se à necessidade de observar como áreas diferentes da de língua portuguesa, tradicionalmente vista como responsável exclusiva pelo ensino da escrita, têm se debruçado no trabalho de formar alunos mais competentes na leitura e produção de texto. Entre os livros didáticos de geografia, foram selecionadas duas coleções entre as quatro mais usadas na escola pública de Pernambuco (INEP, 2008). Como resultados, observaram-se (a) falta de clareza quanto ao gênero textual a ser produzido pelo aluno bem como (b) insuficiente orientação para a atividade escrita proposta. CI 22B

VÂNIA MARIA DE VASCONCELOS Universidade Federal da Paraíba

AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS NA FORMAÇÃO DOCENTE O discurso científico geralmente é hermético e nem sempre se justifica como única forma de entendimento de sistemas complexos como é o caso da linguagem, que na prática é comum a todos. Como já se sabe, podemos comprovar tal evidência a partir da competência lingüística entendida por Chomsky como intuição do falante. A abordagem semiótica, aqui adotada, é a mais adequada para a interpretação de sistemas semióticos complexos como a linguagem verbal e não verbal. A proposta do referido trabalho concentra-se, portanto, nas áreas de Lingüística e Semiótica, mais especificamente no âmbito das semióticas verbais e sincréticas. Interessa-nos, aqui, as questões que norteiam a relação teoria e prática, cujos conflitos resultam em possíveis paradoxos que, conforme podemos / 399 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

observar nas mais variadas ciências são inerentes a todo comportamento humano. Nesse caso, a metalinguagem assume o seu papel de descrever uma ou outra linguagem (dependendo do âmbito teoria/prática) de sistemas de significação difusos, estabelecendo a partir do signo a sua função de representação da ciência ou da estética em relação à linguagemobjeto. Essa proposta de interação entre a qualificação docente e o estudo da semiótica vem contribuir para uma maior aproximação entre teoria e prática nas mais variadas áreas. Entretanto, nosso intuito é adequar a formação aos mais variados aspectos concernentes à representação, em nível teórico e conceitual, à aplicação desses saberes e constituição da prática no uso de linguagens no cotidiano a partir de interações nas artes, no cinema, no jornalismo. Dessa forma, buscou-se incentivar a realização de atividades como entrevistas a artistas regionais ou pessoas públicas ou, ainda, confecção de contos que envolveram experiências dentro e/ ou fora da sala de aula, a partir do entorno da escola ou de visitas aos museus, cinemas, teatros, jornais ou telejornais da cidade. CI 23B

CRISTIANO LESSA DE OLIVEIRA Universidade Federal de Alagoas

OS ESTUDOS INTERATIVO-CONVERSACIONAIS EM SALA DE AULA: O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE SENTIDO BASEADO NO CONTINUUM LINGUÍSTICO-NÃO-VERBAL Este trabalho centra-se nos estudos interativo-conversacionais da linguagem, baseados nas contribuições teóricas dos estudos da Análise da Conversação, pois aceita o aspecto comunicativo da linguagem verbal / 400 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

e não verbal como sendo um exercício interativo por natureza, uma vez que os interlocutores engajados nessa dinâmica estabelecem uma rede de influências mútuas: falar é trocar e, nessa troca, mudar. Admite ainda que existe um continuum nos processos não verbais e verbais nas interações humanas, significando que a comunicação não verbal não pode ser investigada isoladamente do processo de comunicação verbal. Nesse sentido, parte-se do pressuposto de que a comunicação verbal e não verbal são inseparáveis, devendo seu estudo considerar a existência da unidade linguístico-não-verbal. Trata-se de uma pesquisa de doutoramento, utilizando para análise um corpus provindo de gravações em vídeo de momentos interativos de sala de aula, em uma escola pública da cidade de Maceió-Alagoas. Opta-se por trabalhar com a pesquisa qualitativa de cunho etnográfico, já que para essa vertente metodológica a interpretação é o foco de análise, interessando-se em observar a situação de estudo em processo, dando atenção também ao contexto, tomado como intimamente ligado às ações das pessoas. Fundamentase em Knapp e Hall (1999), Rector e Trinta (1999), Santos (2004), Oliveira (2008), Santos e Oliveira (2009), Marcuschi (1997), Kerbrat-Orecchioni (2006), Hecht et al (1999), dentre outros. Observa-se que as questões aqui levantadas estão diretamente ligadas às de ensino e aprendizagem, porque as relações que se instauram no ambiente escolar não se efetivam, excepcionalmente, pelos recursos linguísticos, mas também e, de igual valor, pelos elementos não verbais, permitindo que os significados que permeiam a sala de aula sejam construídos e apreendidos. Dessa forma, as situações de sala de aula exigem uma competência comunicativa de professor e alunos, explicitada pelo uso dos não verbais e verbais, podendo extrapolar a outros lugares sociais, o que certamente justifica a importância desse trabalho.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 23B

ENI ABADIA BATISTA Universidade de Brasília

SIGNIFICADOS QUE CONSTITUEM IDENTIDADES: UMA ABORDAGEM MULTIMODAL O objetivo deste trabalho é refletir sobre a importância da abordagem multimodal no ensino da Língua Portuguesa para estabelecer os diferentes sentidos que envolvem a constituição de identidades. Para tanto apresentarei a análise de produções textuais que foram construídas com base no filme Vida Maria, curta metragem de Márcio Ramos (2006), cujos autores são alunos do curso de Letras da Universidade Aberta do Brasil – UAB. O estudo compreende uma reflexão sobre a constituição de identidade na perspectiva da Análise do Discurso Crítica proposta por Fairclough (1992) e da Teoria da Semiótica Social sob a ótica de Chouliaraki e Fairclough (1999), de Kress (1982, 1989, 1995), de Kress e van Leeuwen (1996) e de Kress et al. (1997). Constitui um contraponto às teorias sobre gêneros textuais que se restringem aos recursos verbais, mostrando os elementos não verbais que se articulam nos textos como recursos ideologicamente assinalados. Enfatiza a contribuição de Blommaert (2005) que postula a identidade como potencial semiótico podendo ser construída de forma flexível, sendo que cada meio semiótico pode ser empregado para construir identidades. Para ele, a conexão com a estratificação e desigualdade, permite um procedimento performático, focalizando a identidade como uma forma de prática socialmente significativa.

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 23B

FLÁVIA GIRARDO BOTELHO BORGES Universidade Federal de Pernambuco

COGNIÇÃO E DISCURSO: REFLEXÕES SOBRE A TEORIA SOCIOCOGNITIVISTA DE TEUN A. VAN DIJK Os temas cognição e discurso à primeira vista podem parecer incompatíveis, campos epistemológicos irreconciliáveis, ainda mais quando se trata da disciplina de estudos da Análise Crítica do Discurso. Entretanto, os estudos linguísticos desenvolvidos e aplicados pelo linguista Teun A. van Dijk, iniciados em literatura, avançandos à pragmática e, na década de 80, embarcados pelos estudos cognitivos de Kintsch, voltaram-se ao processamento cognitivo do discurso, enfocando o estudo das estruturas, produção e compreensão do discurso do noticiário jornalístico e a ênfase na análise dos preconceitos étnicos em vários tipos de discurso. Dessa forma, estes estudos têm reforçado uma nova corrente das pesquisas nessa área, incorporando à análise crítica do discurso, o ponto de vista da cognição e sua inter-relação com a sociedade. Este artigo tem como objetivo apresentar alguns dos conceitos teóricos que sustentam a linha sociocognitiva dentro da Análise Crítica do Discurso desenvolvida por van Dijk, com mais ênfase nos conceitos de contexto e modelo mental. E, para tanto, para que possamos analisar e perceber a forma como as notícias colaboram para a formação de modelos mentais, que podem se tornar preconceitos contra uma categoria social, como os professores da educação pública, foi selecionado uma notícia divulgada na internet no site jornalístico “www.pe360graus.globo.com”, sobre a greve dos professores da rede pública de Recife-PE, no ano de 2009, para uma possível análise.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

CI 23B

JOSÉ RICARDO CARVALHO DA SILVA Universidade Federal de Sergipe

A RETEXTUALIZAÇÃO NA DINÂMICA DA PRODUÇÃO TEXTUAL Um dos grandes desafios da escola tem sido a promoção de uma reflexão sobre o funcionamento da oralidade e da escrita nos diferentes textos que circulam socialmente. As propostas metodológicas de ensino da língua materna têm enfatizado a supremacia da escrita sobre a oralidade na maioria das dinâmicas escolares. Com isso, observamos que as práticas de ensino não estimulam o desenvolvimento de competências no campo da fala em seus currículos, concentrando suas atividades em exercícios escritos. Para destacar o papel da oralidade no processo de compreensão do discurso escrito, este trabalho discute as mudanças ocorridas na passagem de um texto oral para o texto escrito a partir dos estudos de retextualização proposto por Marcuschi. Para tanto, a investigação se constitui de um relato de experiência de retextualização com uma turma de Ensino Médio de uma escola localizada no município de Itabaiana-Sergipe. Descreve-se, então, o trabalho de produção textual realizado, em sala de aula, a partir do filme “Pequenas Histórias”, seguido do registro do discurso oral e escrito produzido por seis alunos. Os dados obtidos revelam um conjunto de possibilidades de se trabalhar oralidade e escrita em uma perspectiva dialógica e não dicotômica, rompendo assim com predominância do ensino da gramática normativa sobre as atividades voltadas para o domínio da escrita. A partir da coleta de dados, apresentamos uma breve análise dos recursos utilizados para recontar a narrativa, avaliando o aparato teórico-metodológico da retextualização para compreender a passagem do discurso oral para o discurso escrito. / 404 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

CI 24B

CARLA MACEDO MARTINS Fundação Oswaldo Cruz

MANUAIS DE SAÚDE COMO INSTRUMENTOS LINGÜÍSTICOS A proposta de comunicação se vincula ao projeto “Discursividade e políticas de saúde: configuração e análise de um corpus sobre a noção de comunicação no trabalho e na formação do agente comunitário de saúde (ACS)”, financiado pelo CNPq e desenvolvido pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). No campo da saúde, podemos afirmar que as cartilhas e os manuais dirigidos aos ACS constituem hoje um importante material didático e uma ferramenta de gestão e organização da Atenção Básica. O presente trabalho busca explorar este tipo de material como “instrumento lingüístico” - produção textual que administra o uso e os sentidos da língua, desempenhando um papel relevante na normatização lingüística, na produção ideológica e, assim, também na institucionalização do sujeito na língua, como podemos identificar, por exemplo, nas gramáticas, nos dicionários, nas cartilhas e nos manuais de língua (Auroux, 1992; Orlandi, 2001, 2007; Nunes, 2006a, 2006b, 2006c). A caracterização dos materiais de saúde como “instrumentos lingüísticos” se justifica, já que neles se observa a presença de prescrições de caráter lingüístico-discursivo, inclusive definindo as formas de interação verbal entre agente e comunidade. A metodologia de análise considera o “gênero textual-discursivo” (Bakhtin, 2000, Maingueneau, 2001, entre outros), compreendendo “gênero” como formas verbais tipificadas, historicamente constituídas, para a produção de sentido. Como resultado, identificam-se três gêneros distintos, a saber, os glossários, / 405 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

as definições e as seqüências pergunta-resposta. Tais gêneros confluem para caracterizar as cartilhas e os manuais de saúde como instrumentos lingüísticos, ou seja, como materiais destinados também ao controle e à gestão de sentidos sobre a língua, a cidadania, o discurso, profissional de saúde e comunidade. CI 24B

EDILEIDE DE SOUZA GODOI Universidade Federal da Paraíba

MARCAS DE SUBJETIVAÇÃO NO CORPO: ESCRITA DE SI PARA SI Aceitando a afirmação que os sujeitos se subjetivam na e pela linguagem, pois, segundo Foucault (2004), no funcionamento da linguagem temos um complexo processo de constituição do sujeito e produção de sentidos, que propomos investigar no funcionamento discursivo da escrita do corpo (tatuagem) como o sujeito se constitui enquanto sujeito de uma prática articulada às relações interdiscursivas e à memória discursiva, buscando na dispersão enunciativa as unidades discursivas que apontam não apenas uma forma de comportamento na sociedade, mas que produzem um determinado saber que permite investigar os sujeitos e seu processo de identificação; analisar também que identidade é construída dentro da rede discursiva que toma a tatuagem como objeto? Há um acontecimento discursivo em que se exploram novas formas de significar o corpo ou há um acontecimento discursivo em torno da escrita do corpo que sofre interdição ? Quais processos simbólicos irrompem nessa prática discursiva da escrita no corpo na contemporaneidade? Há um deslocamento de sentido operado por uma nova ordem do discurso em torno dos discursos da tatuagem?Para / 406 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

tanto tomaremos como suporte teórico a Análise do Discurso francesa. A escolha se explica devido essa teoria nos permitir compreender que a textualização no corpo é em alguma medida compreender as novas formas de significar o corpo e significar os sujeitos. Conforme Ravel (2005, p.83) o processo de subjetivação são práticas de objetivação que permite constituir-se sujeito de sua própria existência. “Trata-se de compreender as modalidades de uma relação consigo, que envolve a realização de uma prática continua de procedimentos de escrita de si e para si”. CI 24B

JÚLIA MARIA COSTA ALMEIDA Universidade Federal do Espírito Santo

DISCURSO E CRÍTICA PÓS-COLONIAL: PRODUZIR CONHECIMENTO NA AMÉRICA LATINA O trabalho pretende estabelecer um diálogo entre a análise discursiva brasileira e os estudos pós-coloniais latino-americanos com o propósito de problematizar a produção situada de conhecimentos no cenário da América Latina contemporâna. Partindo da perspectiva das geopolíticas do conhecimento (Walter Mignolo e Santiago Castro-Gómez) de que existem lugares, processos e operações hegemônicos e subalternizantes de produção do conhecimento, pretende-se analisar como as práticas da análise do discurso no Brasil tem trabalhado pela explicitação de discursos colonizadores (e neocolonizadores) e seus modos particulares de legitimação e estigmatização de certas práticas epistêmicas. Nosso objetivo será assim situar certas pesquisas do discurso no contexto da crítica pós-colonial e indagar seu potencial na elaboração de recursos / 407 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

teóricos e analíticos para superação das fronteiras que hierarquizam o conhecimento: entre sujeitos/fontes de conhecimento e objetos de conhecimento (que não são reconhecidos como fontes legítimas de conhecimento); entre conhecimento e cultura; entre culturas de investigação do norte e culturas a serem investigadas no sul. Conjugando esforços na compreensão das sujeições e das novas possibilidades com que se defronta o analista do discurso em tempos de crítica pós-colonial, somos chamados a rever o papel da área, no sentido de ampliar sua participação na proposição dos conhecimentos, métodos e teorias que de fato necessitamos produzir e compartilhar para construir a sociedade que queremos. CI 24B

MARIA EMMANUELE RODRIGUES MONTEIRO Universidade Federal da Paraíba

LONGEVIDADE, SEXO E AMOR: OS DISCURSOS DA MÍDA SOBRE O CORPO VELHO O envelhecimento, enquanto discurso construído entorno da noção de corpo discursivisado está relacionado à como a mídia propõe os conceitos de beleza, de sexo e de longevidade. Assim, a mídia produz uma outra identidade que subverte o estereótipo da “vovozinha”, construindo uma positividade para o corpo velho e ratificando um modelo de beleza, que desloca os sujeitos e constrói outras identidades para os velhos. Dessa maneira, o objetivo desse trabalho é analisar a produção discursiva midiática sobre o corpo velho presente nos gêneros de nosso corpus. Dessa forma, vale ressaltar que a noção de corpo com a qual trabalhamos / 408 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

é a noção de corpo discursivisado, o corpo em quanto representação, seguindo as orientações do Prof. Nilton Milanez (2009, p.215) “o que inicialmente identificamos como corpo, podemos compreendê-lo não somente como uma simples prática corporal e objetivante, mas como prática discursiva”. Escolhemos a linha teórica da Análise do Discurso (AD) francesa para discutir identidade e memória social, pois ela é uma disciplina que se faz no “entremeio” (Orlandi, 2005) das ciências humanas e sociais, e por isso nos possibilita abordar os aspectos sociais, históricos e psicanalíticos que envolvem e determinam as construções identitárias e a memória social sobre o corpo velho discursivisado e suas especificidades. Nosso corpus é composto pela capa da da revista Veja, publicada em 12 de janeiro de 2009, por uma propaganda de um banco de investimentos publicada na página 89 da revista Época em 18 de novembro de 2009 e uma reportagem publicada em 19 de outubro de 2009, nessa mesma revista. Nossas análise mostraram que, na mídia, a representação do corpo velho é construído a partir de um ideal de beleza, longevidade e produtividade. CI 25B

JUDITH CHAMBLISS HOFFNAGEL Universidade Federal de Pernambuco

MENÇÃO DE SI NO DISCURSO CIENTÍFICO Este trabalho examina o lugar da voz do autor no discurso científico/ acadêmico escrito através da análise da prática denominada “menção de si”. Por muito tempo a escrita científica/acadêmica foi vista como um relato objetivo, impessoal e livre de qualquer viés pessoal dos atores sociais que a produzem. Estudos mais recentes derrubam essa concepção de total imparcialidade da escrita científica e contestam a / 409 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

ideia positivista da ciência como um relato objetivo, realizado sem a influência da agência humana. A prática de menção de si é empregada em todas as áreas de conhecimento, mas varia muito em termos não só da freqüência, mas nas formas que apresenta e as funções a que serve. Examinamos aqui dois aspectos da menção de si em artigos científicos de áreas das ciências humanas e sociais: a autocitação (referência a trabalhos anteriores do autor) e o uso de pronomes pessoais e voz na primeira pessoa. Os resultados sugerem que a prática de menção de si (se, como e onde usar) 1) é dependente em grande parte das convenções de escrita científica estabelecidas em cada comunidade disciplinar, 2) é relacionada a concepção do papel do autor/cientista na escrita científica que cada comunidade tem, 3) serve a diferentes funções retóricas. CI 25B

KARINA FALCONE Universidade Federal de Pernambuco

REFRAMING: UMA ABORDAGEM DISCURSIVO-COGNITIVA PARA O PROCESSO DE MUDANÇA SOCIAL O objetivo deste trabalho é discutir o fenômeno do reframing como um dos propulsores para o processo de mudança social. O cerne da questão estudada é a constituição discurso ↔ cognição ↔ sociedade, a relação de interface entre esses três aspectos, e como tal relação opera nas práticas públicas. Este estudo tem como base a Análise Crítica do Discurso, em sua abordagem cognitiva, e o conceito de reframing proposto por Lakoff (2004). Para o autor, se os frames são estruturas mentais que orientam a nossa concepção de mundo, a mudança dessas estruturas pode operar

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

no processo de reconceitualização do conhecimento, pois os frames são ordenadores de nossas performances cognitivas, devido à sua na natureza de constituição sociointeracional. Os nossos sistemas de crenças são profundamente elaborados cognitiva e historicamente. Por isso, uma mudança social requer não só uma mudança discursiva, mas uma mudança cognitiva. Dessa forma, podemos pensar que a mudança social exige uma mudança da constituição do individual em interação com o social, que construiria a reconceitualização dos objetos do discurso. Ou ainda: reframings. A proposta de Lakoff se apresenta pertinente para a discussão sobre mudança social, pois traz a perspectiva cognitivista para a sua fundamentação, o que caracteriza um estudo não unilateral das práticas sociais, entre elas a discursiva. CI 25B

MARIA INÊS GHILARDI-LUCENA Pontifícia Universidade Católica de Campinas

DISCURSO, GÊNERO E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NA MÍDIA Esta pesquisa examinou representações de gênero na mídia impressa, como parte dos trabalhos do grupo de pesquisa (CNPq/PUC-Campinas) Estudos do Discurso. O tema abrange os espaços do gênero masculino no mundo atual, em que se pressupõem significativas alterações em comparação com tempos passados. Analisou-se a imagem masculina em revistas da atualidade – de 2001 a 2009 –, objetivando compreender o que mudou ou foi conservado no comportamento dos homens, em relação ao tema vaidade. Os veículos midiáticos, por meio das matérias jornalísticas e da publicidade, retratam os passos da jornada rumo à “independência masculina” em relação aos tabus historicamente presentes no imaginário / 411 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

coletivo, ao mesmo tempo em que a incentivam, colaborando para a construção de um discurso do e sobre o homem da atualidade, que tende a minimizar as diferenças sociais de gênero. À luz da Análise do Discurso de linha francesa, estudaram-se não só os efeitos do discurso midiático, que sugere o culto ao belo na sociedade contemporânea, como também sua influência na construção da identidade masculina. As conclusões mostram que a vaidade, aquela ânsia por ser admirado e elogiado, está se tornando um dos valores da contemporaneidade e, ultimamente, mais especificamente do gênero masculino, que caminha velozmente em direção ao que ocorre no universo feminino. A análise do discurso dos meios de comunicação comprova a importância da valorização da boa aparência dos seguidores de Adão. Estatísticas, pesquisas de opinião, fotografias, entrevistas e reportagens confirmam que os cuidados com a imagem visual fazem parte do mundo dos homens, que, agora, podem se mostrar vaidosos. CI 25B

ROSANE ALENCAR; REMO MUTZENBERG Universidade Federal de Pernambuco

PROCESSOS DE CATEGORIZAÇÃO E INTERAÇÃO DISCURSIVA NAS PRÁTICAS SOCIAIS No âmbito das práticas sociais no interior de grupos e organizações, constata-se que os diversos agentes aí envolvidos – conselho de administração, gestores e associados – estão, cada vez mais premidos pela tentativa de conciliação entre atender as demandas sociais contidas no ideário da economia social e as demandas dos diversos mercados, / 412 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

típica de uma economia globalizada. Essa, aliás, é considerada como uma das principais fontes de tensão na literatura, que ganha sentido na tentativa em compatibilizar um projeto societário e as práticas locais. Nessa análise coloca-se um duplo desafio: por um lado, o contexto de significados articulados no âmbito das formações discursivas, do imaginário social e, por outro, o aspecto pragmático da ação coletiva efetivada na interação face a face, contexto em que o processo de categorização se constrói. No campo analítico, há que se considerar dois níveis, o do discurso abordado a partir da Análise do Discurso e o da interação, objeto da análise da conversação em que a partir das posições seqüenciais na conversa as categorias são confirmadas ou reformuladas. No debate teórico-metodológico dessas duas perspectivas parte-se de pressupostos distintos que tem sido objeto de mútuas críticas. O texto não busca uma composição dessas abordagens, mas a partir da análise de um mesmo corpus explicitar as especificidades e aprofundar o diálogo entre as mesmas. Tal corpus constitui-se de documentação, registro em vídeo de assembléias e anotações em campo, centrados na articulação de sentidos, práticas e acordos no desenvolvimento de uma ação coletiva específica. CI 26B

LÚCIA DE FÁTIMA SANTOS Universidade Federal de Alagoas

INDÍCIOS DE ATITUDES ATIVAS E TÁTICAS NO GÊNERO RESENHA ACADÊMICA Nesta comunicação, temos como objetivo refletir sobre os indícios de atitudes ativas e táticas em resenhas acadêmicas produzidas por alunos do curso de Letras que participam do Programa Institucional de Bolsa / 413 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

de Iniciação à Docência- PIBID. Como se trata de um Programa que objetiva contribuir para a melhoria das ações acadêmicas voltadas à formação inicial de professores, buscamos, na análise realizada do gênero resenha, observar os posicionamentos assumidos pelos professores acerca da compreensão do texto resenhado e interferir nas dificuldades de compreensão apresentadas.Para fundamentar a análise, recorremos às discussões sobre gêneros de Bakhtin (1997), correlacionando-as com as ideias de Marcuschi (2002 e 2005). Adotamos também o conceito de atitude ativa e de tática, de Bakhtin (1992 e 1997) e de De Certeau (2002 e 2005), respectivamente. As resenhas analisadas resultam de leituras relacionadas ao ensino e aprendizagem da língua portuguesa, realizadas pelos alunos durante as atividades desenvolvidas no PIBID, a partir das experiências vivenciadas no cotidiano das escolas públicas. Trata-se de um trabalho de pesquisa-ação em que buscamos a integração entre a educação superior e a educação básica. Pelo fato de caracterizar-se como um trabalho de formação de professores ainda em fase inicial, os dados obtidos até então têm um caráter preliminar e apontam para poucos indícios de atitudes ativas e táticas dos alunos nos posicionamentos sobre os textos lidos. CI 26B

VIVIANE DOS RAMOS SOARES Fundação Oswaldo Cruz

O PAPEL DA LINGUAGEM NA PRODUÇÃO DO DISCURSO CIENTÍFICO Este trabalho tem por objetivo discutir a representação da relação entre linguagem científica e linguagem não científica em materiais didáticos voltados a alunos de nível médio. O entendimento do papel da linguagem / 414 /


COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

na produção do discurso científico é fundamental para que o estudo da língua no contexto da compreensão, produção e análise textual seja concretizado no âmbito da produção social da ciência, uma vez que a sala de aula de língua portuguesa deve ser entendida como um espaço dedicado à construção de significados e de crítica às formas vigentes de produção da sociedade. Ressalta-se, portanto, a necessidade de reflexão sobre a caracterização do gênero científico e sobre a produção de textos científicos como espaço para a crítica às formas de produção naturalizantes da ciência contemporânea, a fim de que se possa ensinar a língua por meio de textos sem enfocar exclusivamente as regras normativas que subjazem ao sistema lingüístico. Essa reflexão sugere que reconheçamos, por exemplo, a linguagem como condição essencial para o conhecimento, o discurso subjetivo da ciência, a análise do componente lingüístico e extralingüístico para determinação do componente situacional, a tensão entre dialogismo e monologismo, a variabilidade lingüística e a influência da construção histórica da disciplina Língua Portuguesa no Brasil na utilização de métodos tradicionais de ensino-aprendizagem em razão de boa parte das atividades estarem associadas a práticas normativas e descritivas. Nesse sentido, a introdução da discussão proposta neste trabalho no currículo escolar de língua portuguesa por intermédio do material didático, o qual atualmente privilegia uma visão normativa do ensino da língua, permitirá ao aluno co-construir conhecimentos junto ao professor e aos outros alunos, relacionando facilmente o universo da sala de aula e sua figura enquanto sujeito inserido discursivamente no mundo social.

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P么steres



Pôsteres

PO 01A

ANA JOSIL SÁ BARRETO MONTENEGRO Universidade Federal de Pernambuco

ANDAIMES: OCORRÊNCIA EM LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA A partir da perspectiva interacionista de Vygotsky, conceituamos o aprendizado como um fenômeno que ocorre na interação social, envolvendo inter-relações entre aprendiz/tutor, aprendiz/meio, aprendiz/aprendiz. A apropriação do conhecimento só é possível através da experiência, que se atualiza a partir do contato com alguém que já o tenha internalizado. Com base na teoria de Vygotsky (2003), outros conceitos foram desenvolvidos, dentre os mais produtivos está a metáfora da Andaimagem (Scaffolding) utilizada por Bruner (2002) para caracterizar uma espécie de suporte que, em uma atividade interativa, alguém mais capaz dá ao aprendiz, com o intuito de que este solucione um problema o qual não resolveria sem o auxilio externo. Alguns estudos, a exemplo de Bortoni (2005), a partir dos conceitos e pressupostos de Vygotsky e Bruner, trataram das estratégias de andaimagem em contextos de ensino. A presente proposta alinha-

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

se a estes estudos. O foco, porém, é a identificação desse tipo de estratégia na produção escrita (e não na fala como a maioria), mais especificamente em livros didáticos. Escolhemos a coleção de livros didáticos de Língua Portuguesa Português: linguagens de Cereja & Magalhães (2009) composta por quatro livros, indicados para o Ensino Fundamental II. Os resultados, ainda parciais, mostram que vários tipos de andaimes descritos por Wood et al (1976) no estudo inicial deste tema foram também utilizados nos livros didáticos da amostra, entre eles: Recrutamento, Redução em graus de liberdade, Manutenção de direção, Controle de frustração e Demonstração. Estabelecemos a frequência com que ocorrem, suas variações formais e pontos de ocorrência em relação aos diferentes momentos das lições. Para o estudo quantitativo deste trabalho, concentramos a análise nos três tipos mais recorrentes Recrutamento, Redução em graus de liberdade e Demonstração –, já que estes estavam presentes nos diferentes modelos de atividades propostas pelos autores. PO 02A

BRUNA QUARTAROLO VARGAS Universidade Federal do Rio Grande do Norte

REPRESENTAÇÕES PESSOAIS E PROFISSIONAIS NO DISCURSO DE PROFESSORES DE LÍNGUA INGLESA DE NATAL, RN O estudo das representações sobre ensino e aprendizagem de línguas é um dos campos de investigação que tem crescido na área da linguística aplicada brasileira (Silva, 2008) em busca de melhor qualidade de ensino de línguas estrangeiras. Este trabalho tem por objetivos identificar, interpretar e discutir representações no discurso de alguns / 420 /


PÔSTERES

professores de inglês como língua estrangeira de Natal, RN, a respeito de si mesmos e da profissão. Como base teórico-metodológica, usamos a Linguística Sistêmico-Funcional (LSF) de Halliday (1994; Halliday & Mathiessen, 2004; Eggins, 1994, entre outros) buscando evidenciar as representações expressas pelo discurso dos professores participantes. Utilizamos a metafunção ideacional, mais especificamente o sistema de transitividade explicitado pela LSF, pois esta função utiliza recursos léxico-gramaticais responsáveis pela construção de nossas experiências de mundo concretizadas pela linguagem, nos permitindo construir representações em contextos comunicativos. O corpus de pesquisa é formado por 21 narrativas de professores, sendo estas organizadas em dois grupos – professores de escolas públicas (Grupo 1) e escolas particulares (Grupo 2), respectivamente. Os resultados preliminares parecem indicar que os professores do Grupo 1 utilizaram mais processos, evidenciando mais informações a respeito de suas representações. Com o auxílio da ferramenta computacional WordSmith Tools 5.0 (Scott, 2009), percebemos que o tipo de processo mais recorrente foi o relacional, que é o responsável por indicar relações entre entidades, classificando, identificando e, definindo-as. Este fato pode ser um indicativo da forma como os professores identificam e definem a si mesmos e a profissão. Os resultados desta pesquisa poderão ser utilizados, futuramente, como base para cursos de formação inicial e continuada dos professores de inglês.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

PO 03A

CATIA MICHELI DOS SANTOS

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

O DISCURSO EM PORTFÓLIOS COMO RECURSO PARA FORMAÇÃO DO PROFESSOR REFLEXIVO: UMA ANÁLISE SISTÊMICO-FUNCIONAL Este trabalho pretende apresentar resultados parciais de uma pesquisa em andamento sobre o discurso de professores de inglês em formação. Sob a perspectiva da metafunção ideacional da Gramática Sistêmico-Funcional de Halliday (1994), além de trabalhos como o de Eggins (1994), são analisadas as marcas linguísticas que evidenciam o processo reflexivo em relatos de experiências de aprendizagem de professores de Inglês como Língua Estrangeira em processo de formação. Como principal recurso para geração dos dados, foram utilizados portfólios de aprendizagem produzidos em uma universidade federal do estado do Rio Grande do Norte, em uma turma de Aspectos Morfossintáticos da Língua Inglesa, no segundo semestre do ano de 2009. A pesquisa pode ser classificada como quali-quantitativa, pois parte de um corpus que procura mensurar, a partir do uso da ferramenta computacional WordSmith Tools (Scott, 2009), marcas linguísticas que evidenciem o processo de reflexão no discurso dos alunos-professores. Nesta investigação, o problema de pesquisa surge da maneira como se desenvolve a formação do professor reflexivo de línguas atualmente, partindo do pressuposto de que os professores não refletem suficientemente sobre sua prática, o que traz algumas consequências para o ensino como planejamentos fixos, utilização de material didático pouco significativo e desconhecimento

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dos fatores linguísticos que envolvem o contexto da sala de aula. Como resultados parciais, observou-se que os professores em formação, ao refletirem sobre sua prática cotidiana, procuram justificar suas ações comparando-as com antigas situações vivenciadas durante seu tempo escolar. Percebe-se ainda uma crescente preocupação em não repetir tais atitudes, inclusive apontando exemplos dessas ocorrências, que comprovadamente não são efetivas ao ensino da Língua Inglesa. PO 04A

CHIRLENE SANTOS DA CUNHA MOURA; MARÍGIA ANA DE MOURA AGUIAR Universidade Católica de Pernambuco

MARCAS DE ORALIDADE NA ESCRITA: ESTUDOS DE CASO EM AFASIA A pesquisa volta-se para a organização do discurso do portador de afasia, entendida como uma alteração no sistema lingüístico proveniente de lesão cerebral. O afásico sente dificuldade em transmitir emoção e significado pela fala, em ser compreendido, em comunicar o conteúdo pretendido. Com vistas a favorecer à reorganização da linguagem, a atividade envolvendo gêneros textuais na clínica fonoaudiológica na terapêutica do afásico, através do uso de diferentes modalidades (oral e/ou escrita) como aporte em que uma favorece a outra, tem apontado para resultados bastante positivos no que se refere ao deslocamento dessa linguagem. O presente estudo teve como objetivo geral investigar o uso de marcas de oralidade na produção escrita de dois estudos de caso, já publicados, com sujeitos afásicos, como estratégias para a organização discursiva. Buscou-se investigar o uso dos gêneros textuais pelo sujeito afásico como estratégia de superação de dificuldades / 423 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

na oralidade e analisar o uso de estratégias da oralidade na escrita. Tomando por base os resultados e discussões de uma dissertação de mestrado sob o título “Marcas de oralidade na escrita de um afásico com dificuldades expressivas”, e de uma monografia (TCC) intitulada “Produção escrita e oralidade: favorecendo a interação lingüística do afásico”, foram investigados os gêneros textuais produzidos pelos sujeitos afásicos, com características da oralidade. A partir destes estudos, conclui-se que o afásico com dificuldades comunicativas por via da modalidade oral, usa a escrita como estratégia para superação de dificuldades comunicativas, estratégias estas percebidas através do uso de marcas de oralidade na escrita. Embora apresentem uma escrita bastante fragmentada, observou-se que esta modalidade serviu de facilitador para a comunicação e para o processo de reabilitação da oralidade. PO 05A

JOÃO BATISTA DA COSTA JÚNIOR Universidade Federal do Rio Grande do Norte

EFEITOS MIDIÁTICOS E IDEOLÓGICOS: A COLONIZAÇÃO PUBLICITÁRIA NO DISCURSO EDUCACIONAL A relação intrínseca entre linguagem e sociedade tem provocado, na contemporaneidade, estudos que tendem a investigar as mudanças nos eventos discursivos que ocorrem nas práticas sociais. Na visão de Fairclough (2008), a comodificação é o processo pelo qual os domínios e as instituições sociais, cujo propósito não seja produzir mercadorias no sentido econômico, vêm a ser definidas em termos de produção, distribuição e consumo de mercadorias. Neste sentido, este trabalho, / 424 /


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ancorado no aporte teórico da Análise Crítica do Discurso (ACD), segundo a perspectiva social, esboçada por Fairclough (2008), tem como objetivo lançar algumas considerações sobre a comodificação do discurso educacional, verificando os aspectos semióticos e as escolhas lexicais do gênero anúncio que materializam os efeitos ideológicos e marcas hegemônicas da publicidade para colonizar as práticas discursivas das instituições educacionais. A abordagem metodológica da pesquisa é de natureza qualitativo-interpretativista. O corpus foi constituído por meio de 02 anúncios publicitários radiofônicos de 02 instituições de ensino da rede privada, os quais circulam no suporte midiático Rádio Princesa do Vale na cidade de Açu/RN. Os dados evidenciam que os aspectos semióticos e as escolhas lexicais dos anúncios radiofônicos comodificam efeitos ideológicos e aspectos hegemônicos que tendem a provocar mudanças na ordem do discurso educacional, este configurando-se como um dos instrumentos de controle social que simula igualitarismo, removendo da estrutura de sua superfície os indicadores de autoridade e poder, substituindo-os pela linguagem da sedução. Portanto, a pesquisa autorizanos a inferir que a colonização publicitária no discurso educacional confere implicações ideológicas e hegemonia imbuídas de um caráter midiático e manipulador.

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PO 06A

KALL ANNE SHEYLA AMORIM BRAGA; EDUARDO CALIL Universidade Federal de Alagoas

DISCURSO REPORTADO EM HISTÓRIAS EM QUADRINHOS “INVENTADAS”: FORMAS DE REPRESENTAÇÃO INICIAIS NA APROPRIAÇÃO DE UM GÊNERO Reconhecido por atuais documentos curriculares (BRASIL, 1997), programas de formação continuada de professores (PROFA, Projeto Toda Força ao Primeiro Ano, Pró-Letramento, PRALER, GESTAR) e em vários livros didáticos, as histórias em quadrinhos têm sido objeto de aprendizagem envolvendo os diferentes eixos de ensino. Contudo, poucos estudos existem sobre o modo como os alunos podem se apropriar de um de seus elementos principais, a saber, o discurso reportado, mais especificamente, o discurso direto que caracteriza a fala dos personagens representados pela imagem. Essa é nossa questão de base que está sendo investigada a partir de uma metodologia especifica (CALIL, 2008), quando propomos a alunos de um 2º ano do Ensino Fundamental, organizados em díades, a “invenção” do texto que deveria acompanhar uma história em quadrinhos da Turma da Mônica. Filmamos a execução do projeto didático “Gibi na sala” e, em especial, uma díade em 6 processos de escritura em ato, quando estavam conversando e combinando o que deveriam escrever em cada história proposta. Nesse trabalho, pretendemos descrever, com o apoio do programa ELAN usado para a transcrição do material coletado, as diferenças entre o que os alunos de uma díade conversam sobre a imagem e o que efetivamente escrevem, destacando o modo como o discurso / 426 /


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reportado é representado. Nossos resultados preliminares indicam que, ao contrário da suposta transparência e evidência que possa ter o uso do discurso direto que caracteriza fortemente esse gênero textual, os alunos constroem enunciados cuja estrutura descreve a imagem referida, sem observarem nem sua relação sequencial, nem o caráter “falado” dos textos dos quadrinhos. PO 07A

LARISSA DE PINHO CAVALCANTI Universidade Federal de Pernambuco

AS ANOTAÇÕES DE SALA DE AULA E A RETEXTUALIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO As pesquisas com gêneros exploram principalmente como abordá-los em sala de aula, procurando mudar a metodologia e o foco das aulas de línguas para o caráter comunicativo da língua. Apesar das muitas sugestões de gêneros a serem trabalhados em sala de aula, os professores parecem alheios à ocorrência de um gênero pertinente ao ambiente escolar: as anotações de sala de aula. Na sala de aula brasileira, os alunos aprendem a anotar pela prática desde a Escola Básica, quando copiam o que o professor coloca no quadro. Com o avanço da vida escolar, o estudante tende a se tornar independente das instruções do professor e anotar não somente aquilo disposto na lousa, mas apropriar-se das palavras do professor. Assim, as anotações se evidenciam como um exercício constante de retextualização para o qual podem contribuir (ou não) os materiais de apoio utilizados em aula. Baseados em Marcuschi (2002, 2007), Piolat (2004), Kiewra (1991), Soares (2007) e Moraes (2005), estudamos o processo de retextualização em anotações de aulas da área de Saúde de uma universidade pública de Pernambuco – a qual / 427 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

se configurou pela fala da professora a partir de uma apresentação de slides. Nas anotações analisadas observamos o desenvolvimento de três estágios de retextualização: o primeiro concentra-se na informação visual, com pouca ou nenhuma contribuição do oral; o segundo admite maior influência do oral; no terceiro, todavia, não há distinção entre oral e visual. PO 08A

LÍLIAN NOEMIA TORRES DE MELO; RINALDA FERNANDA DE ARRUDA Universidade Federal de Pernambuco

CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO PARA O TRABALHO COM LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA Partindo do pressuposto de que, para a Análise Crítica do Discurso, o discurso passa a ser analisado não apenas como objeto ‘verbal’ autônomo, mas também como uma interação situada, com um viés ideológico e uma forma de ação social (VAN DIJK, 2005), este trabalho tem por objetivo analisar até que ponto as reflexões feitas por tais teorias poderiam servir de embasamento crítico para a utilização do livro didático pelo professor em sala de aula, como também, investigar se os discursos vinculados neste material subjazem ideias que compõem uma visão de mundo e auxiliem os aprendizes na tomada de posição frente aos problemas contemporâneos. Os textos de Fairclough (1989, 1999, 2001, 2003), dentre outros, serviram de aporte teórico para embasar o trabalho, uma vez o autor postula que a prática discursiva é “constitutiva tanto de matéria convencional como criativa: contribui para reproduzir a sociedade como é, mas também contribui para transformá/ 428 /


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la” (2001, p.92). Partindo de uma perspectiva qualitativa de análise dos fenômenos observados, procuramos identificar nas coleções de Willian & Teresa e Magda Soares do Ensino Fundamental II de Língua Portuguesa as ideologias presentes nas temáticas abordadas nos textos e nas atividades propostas. Como resultado inicial de nossa análise, chamamos atenção para o fato de que um olhar mais crítico dos professores sobre os discursos eleitos para serem representados nos livros didáticos de língua portuguesa proporciona um trabalho no qual se desperte nos educandos a observância de como o discurso põe em ação formas de ver o mundo, refletindo ideologias e formas de poder, já que acreditamos ser a seleção dos discursos veiculados nos livros uma contribuição para a continuidade ou transformação de hegemonias. PO 09A

MAÍRA CORDEIRO DOS SANTOS Universidade Federal da Paraíba

MANUSCRITOS CULINÁRIOS DO SÉCULO XXI: ORGANIZAÇÃO E MEMÓRIA DISCURSIVA DA MODERNIDADE O artigo pretende revelar a memória feminina presente nos manuscritos culinários do século XXI da cidade de João Pessoa - PB, analisando a presença dos discursos da modernidade nos cadernos de receitas. O estudo do percurso do manuscrito culinário ao longo do século XX e XXI reflete as transformações pelas quais passou a história feminina: seus gostos, seus gestos, influência das novas mídias, das novas tecnologias, dos novos sabores, das novas identidades globalizadas, da nova cultura. Analisar os manuscritos culinários é revelar, a partir da comida, a memória social e lingüística da mulher. No século XXI, com a pós-modernidade, / 429 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

modificam-se as relações, o tempo, os gostos e a memória: quando a saúde e a beleza tornaram-se cada vez mais estreitamente associadas, a informação sobre a quantidade de calorias do prato passou a fazer parte da “redação” de uma receita. Esse é um exemplo de outra voz, que, em tese, nada tem a ver com a comida. Foram utilizados cinco manuscritos culinários de mulheres habitantes em João Pessoa e, para a análise dos dados, foram realizados dois tipos de inventários: um de tabelas e um lexical, contendo os tipos de receita, utensílios, pesos e medidas, ingredientes e variações lingüísticas na escrita, derivadas da oralidade. Da análise dos manuscritos culinários, obtiveram-se como resultados, a maior presença de ingredientes naturais como frutas, legumes e verduras. Assim, pode-se apontar que há uma referência a novas mídias, a identidades globais, influências de novas vozes e discursos da modernidade. Os dados encontrados permitem inferir uma tendência a um aumento no consumo de receitas com frutas, legumes e verduras, revelando, possivelmente, uma maior preocupação com a alimentação saudável, verificada na atualidade. Utilizar-se-ão as teorias de BHABHA (1998), ZUMTHOR (1993), MARCUSCHI (2008), POSSENTI (2009), FOUCAULT (2006), BAKTHIN (1999), MONTANARI (2008), BOURDIEU (2003) e BOSI (1994). PO 10A

MANOEL SOTERO CAIO NETTO Universidade Federal de Pernambuco

O COMPARTILHAMENTO LIVRE DA MÚSICA E SUAS PRÁTICAS DISCURSIVAS Procuro compreender o fenômeno de compartilhamento livre de músicas por meio da internet, identificando as reverberações prática discursiva no entorno da música, uma vez que envolvem também condições de / 430 /


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produção e consumo de textos. Diante dos fóruns e Blogs de discussão, buscamos ir além de descobrir porque as pessoas deixaram de consumir cópias industriais serializadas nos suportes e mídias tradicionais, mas estamos interessados em analisar como a decisão de se compartilhar é legitimada pelos porta-vozes, consumidores e colaboradores, como eles respondem a críticas potenciais, ou como eles formam uma autoidentidade positiva. Trato, portanto, desse arranjo colaborativo em torno da música que, por sua vez, vem acompanhado de uma elaboração discursiva em torno dos aspectos de legalidade e legitimidade. Neste sentido, buscamos analisar os tipos de discursos que justificam tal prática, seja ela ajustada a preocupações com novas éticas que se fundam (criativas e colaborativas), dificuldades de acesso, estéticas, posições políticas, entre outras possíveis. Fairclough formula uma proposta de análise de discurso de síntese, interdisciplinar e tridimensional, onde qualquer evento discursivo é avaliado simultaneamente como um texto, um exemplo de prática discursiva e exemplo de prática social. Esta, por sua vez, permite-nos analisar as relações entre mudança discursiva e social e relacionar os textos às propriedades sociais de eventos discursivos como instâncias de prática social. A análise multifuncional permite o tratamento das práticas discursivas como provedoras de elementos que, não raramente, modificam as crenças e percepções, além de redefinir relações de poder. A ênfase ou o método histórico procura dar conta dos processos articulatórios na formulação dos textos, já que leva em consideração a idéia de intertextualidade. Em nosso caso, ambicionamos analisar os discursos do compartilhamento e as cristalizações que buscam ser modificadas. O uso do método crítico, por último, procura dar conta das relações mais complexas que estão envolvidas, porém ocultadas, na prática discursiva em torno da música compartilhada.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

PO 11A

MARGARETH ANDRADE MORAIS; WELINGTON DE ALMEIDA CRUZ Universidade Federal do Rio de Janeiro

ESTRATÉGIAS DE REFERENCIAÇÃO NO DISCURSO ORAL Este pôster procura discutir as estratégias de referenciação que estabelecem a coerência e a progressão referencial no debate/entrevista sobre futebol exibido em um programa de televisão. Pretende-se explicar como os referentes são introduzidos, conduzidos, retomados, apontados e identificados no texto oral. Trata-se de estratégias por meio das quais são construídos os objetos-de-discurso, que são mantidos ou desfocalizados na plurilinearidade do texto (KOCH, 2009), toda atividade de fala ou escrita pressupõe, em seu desenvolvimento, que se faça referência a algo/alguém e que se mantenha ou se mude o foco do referente para que outros sejam inseridos no discurso. É nesse âmbito que se situa o trabalho aqui postulado. A progressão referencial se realiza de maneira extremamente variada e dinâmica, sobretudo na oralidade, pois os interlocutores estão juntamente empenhados na produção do texto. Eles não só procuram ser cooperativos, como também conegociam dentro de uma situação imediata de comunicação. Assim sendo, o texto oral apresenta uma estruturação que lhe é própria, ditada pelas circunstâncias sociocognitivas de sua produção. A relevância desta investigação está no estudo de formas que contribuem para a construção de sentidos dentro do texto. O presente trabalho fundamenta-se em autores que abordam a referenciação, os objetos-dediscurso, e a interação e comprometidos com o estudo da referenciação enquanto processo de negociação na atividade discursiva: Marcuschi, Koch, Mondada & Dubois, Schwarz, Apótheloz, entre outros. / 432 /


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PO 12A

MARIA DO SOCORRO CORREIA LIMA Universidade Estadual de Campinas

SEGREDOS DA CARNE: VITIMIZAÇÃO E RESILIÊNCIA NOS DISCURSOS DE/SOBRE DEFICIÊNCIA, CORPO E SEXUALIDADE Atualmente, os discursos voltados para a deficiência e, sobretudo, para os sujeitos deficientes, buscam, em seus conceitos, etiologias e classificações, elementos que possam introduzir uma nova maneira de dizer, de escrever e de refletir sobre o modo como as pessoas e a sociedade contemporânea devem se comportar diante das diferenças, ou ainda, como podem se manifestar a respeito de temas como: inclusão/exclusão; capaz/incapaz; normal/anormal; eficiente/não-eficiente; integração/desintegração; vantagem/desvantagem. Contudo, há nessa terminologia utilizada para se referir às pessoas com deficiência, uma visão dicotômica, pois quem não é uma coisa será outra. O que significa dizer que uma pessoa ora é chamada normal ora é chamada anormal caso ela se afaste de parâmetros tidos como concernentes à normalidade. Essas visões dicotômicas estão atreladas ao saber médico, ou seja, enfatizam os fatores biológicos ligados à saúde (homem/mulher saudável) e à doença (homem/mulher desviante). Este estudo se insere na Análise do Discurso de orientação francesa, apoiado sob os postulados de Michael Foucault e tem como objetivo analisar a construção discursiva de depoimentos de homens e mulheres deficientes que residem no Distrito Federal (DF), tendo por base a veiculação de seus discursos de/sobre deficiência, corpo e sexualidade. Os discursos sobre beleza incutem na mente de homens e mulheres (deficientes ou não) que um corpo escultural, musculoso e viril é sinônimo de sensualidade e competência sexual e que seu poder de sedução / 433 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

depende de sua plasticidade e da inexistência de um corpo mais atraente do que o seu. O convívio com restrições, o medo ocasionado pela pouca informação veiculada pelos meios de comunicação referente à sexualidade e à deficiência e o modo como a mulher e o homem com deficiência é retratado histórica e culturalmente provoca barreiras na relação sexualafetiva entre sujeitos ditos normais e sujeitos deficientes. PO 13A

MARIA ROZIANE DE SOUSA BRITO Universidade Federal do Piauí

O TÓPICO DISCURSIVO E OS GÊNEROS ARTIGO CIENTÍFICO E PIADA Os estudos linguísticos acerca de tópico discursivo, um dentre os variados temas de que trata a linguística textual, são ainda raros. Tendo em vista, porém, que o estudo desse tema é importante para compreender, dentre outras coisas, como se dá a organização de argumentos e/ou ideias em um texto, propusemo-nos a estudar como isso ocorre em dois diferentes gêneros: o artigo científico e a piada, por acreditarmos que a organização tópica se apresenta de forma variada nos diferentes gêneros, em virtude da função comunicativa desses. Dessa maneira nos apoiamos em Marcuschi (2002) quando afirma que os gêneros textuais são formas históricas, culturais e sociais por meio das quais as pessoas se comunicam em face de uma função, e a respeito de tópico discursivo tomamos Jubran et al (2002) para quem o tópico discursivo é decorrente do processo de interação entre os participantes dessa, o qual envolve alguns fatores contextuais, como as circunstâncias da interação, o conhecimento partilhado, a visão de mundo e as pressuposições desses participantes. Para discutirmos essas ideias, selecionamos dois artigos científicos apenas, tendo em / 434 /


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vista a extensão desses textos, e algumas piadas, nos quais procuramos identificar, separadamente, os tópicos discursivos apresentados, bem como a organização desses para posterior comparação desse processo em ambos os gêneros. Essa é uma pesquisa que ainda está sendo desenvolvida, mas podemos perceber, pelas análises prévias, que em gêneros de escrita mais padronizada ou prototípica, como é o caso dos artigos científicos, cuja função comunicativa é apresentar ideias de forma a serem compreendidas por uma determinada comunidade acadêmica, a organização tópica tende a ser mais sequencial e linear, ao passo que em gêneros como a piada, por exemplo, isso não ocorre, posto sua função permitir uma maior descontinuidade do segmento tópico. PO 14A

NATHALIE LIA FOOK MEIRA BRAGA Universidade Federal de Campina Grande

A CONFIGURAÇÃO DE PROCESSOS DE REFERENCIAÇÃO NA ESCRITA DE CRÔNICAS POR ALUNOS DE 9˚ ANO No estudo da língua em uso, alguns modelos funcionalistas consideram que o processo de referenciação envolve interação e intenção. Ao estabelecer a interação, os falantes elegem os objetos-de-discurso, que instituem a noção de construção de referentes e a de identificação de referentes. Desse modo, pode-se falar de dois tipos de referenciação textual: o construtivo, em que o ouvinte constrói um referente a partir do termo utilizado pelo falante o introduzindo em seu modelo mental; e o identificador, em que o ouvinte deve identificar um referente de algum modo já disponível(NEVES,2006). Na visão do funcionalismo linguístico, a referenciação diz respeito à própria constituição do texto / 435 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

como uma rede em que referentes são introduzidos como objetos-dediscurso(APOTHÉLOZ e RICHLER-BÉGUELIN, 1995-apud NEVES, op.cit.), e como tais permanecem, de acordo com determinadas estratégias que dependem da formulação do texto. Este trabalho, que faz parte de uma pesquisa em andamento, tem como objetivo identificar e descrever os modos como são realizados (introduzidos, retomados e identificados) os processos de referenciação em crônicas escritas por alunos de 9˚ ano. Os dados foram gerados em eventos preparatórios para a 2ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, que foi promovida pelo MEC. As atividades, realizadas em sala de aula pela própria pesquisadora e por uma aluna bolsista PET/UFCG, contaram com a colaboração da professora titular da turma, e basearam-se em uma sequência didática proposta no Caderno do Professor - a ocasião faz o escritor, a qual foi dividida em onze oficinas. A metodologia de análise desse estudo é de natureza descritivo-interpretativista e está orientada pelos pressupostos da linguística funcional e da linguística de texto(MARCUSCHI e KOCH, 1998;NEVES, op.cit.). Como resultados preliminares, constatamos que os textos dos alunos apresentam de forma acentuada a correferencialidade, uma vez que um mesmo referente é introduzido e mantido durante todo o texto.

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PO 15A

PAULA MANUELLA SILVA DE SANTANA Universidade Federal de Pernambuco

A NOITE É LONGA...: APONTAMENTOS METODOLÓGICOS SOBRE AS IDAS E VINDAS ENTRE O TEXTO E O CONTEXTO SOCIAL NUM ROMANCE ANGOLANO Evidentes em tantos níveis, as relações entre Brasil e Angola mantêmse sob a égide de uma fantasmagoria nebulosa. Sua história tem sido estudada quase como uma via de mão única, em que os pesquisadores procuram refazer as rotas durante séculos percorridas por navios responsáveis pelo tráfico de mão-de-obra escrava. Todavia, a reflexão sobre as obras literárias produzidas em língua portuguesa em Angola, com endosso especial para o lugar que a literatura ocupa na configuração do mundo social, vem sendo amadurecida ao longo das últimas décadas por um número cada vez mais expressivo de estudos. Nesta senda, a presente comunicação se propõe a trazer alguns apontamentos metodológicos de minha pesquisa para a dissertação de mestrado em Sociologia, em que analiso as obras em prosa do escritor angolano Ondjaki. Para este artigo, no entanto, buscarei traçar vários níveis da correlação entre o romance “Quantas madrugadas tem a noite”, de 2004, e as suas interlocuções e diálogos com a sociedade brasileira, onde o autor notadamente atem-se à retratação social e ao registro da memória do país. Para tanto, partirei das noções de dialogismo e polifonia propostas por Bakhtin, a fim de verificar como se dá a apreensão do discurso de outrem, buscando nas formas discursivas os meandros da fragmentação das personagens e da vida cotidiana. Segundo Bahktin, a língua é o palco de conflitos sociais,

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

saturando-se, assim, de ideologias e significados. Tendo em vista isto, a proposta deste autor será de grande valia para o tratamento do texto literário de Ondjaki, uma vez que a língua e a linguagem caracterizam-se como a convergência de forças sócio-ideológicas tanto internas quanto externas à obra, sinalizando a projeção das marcas, limites, dilemas e contingências do tempo e do lugar do artista nas narrativas de um país ainda tão jovem. PO 16A

PEDRO LAZÁRO DOS SANTOS Universidade Estadual de Campinas

O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA PARA JOVENS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL: UM ESTUDO SOBRE GLOBALIZAÇÃO E IDENTIDADE As oportunidades de educação para jovens provenientes de comunidades menos favorecidas são escassas e esses jovens dependem de iniciativas públicas e de empreendimento social que são realizadas, em grande parte, através de parcerias entre Organizações Não-Governamentais e empresas multinacionais e ocorrem na forma de cursos de capacitação profissional. Um dos frutos de tais parcerias são cursos de inglês como Língua Estrangeira para que adolescentes em situação de risco se preparem para conseguir um emprego melhor, ou mesmo o primeiro emprego, e que possam promover mudanças em suas comunidades através da replicação do conhecimento conseguido graças à ajuda das empresas patrocinadoras, seguindo a proposta de protagonismo difundida pelas ONGs. Observando o processo de seleção de uma ONG / 438 /


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na cidade de São Paulo vimos que, antes mesmo de ingressar no curso de inglês, os jovens em situação de vulnerabilidade social atribuem à língua inglesa características como: a solucionadora de seus problemas, a porta para se obter sucesso profissional e uma maneira de mudar sua condição social. Motivados pelo exposto acima, decidimos, em nossa dissertação de mestrado em andamento, refletir a respeito das relações entre esses adolescentes selecionados pela ONG e seu processo de aprendizagem de inglês como LE, dirigindo nosso foco para a maneira como essas relações podem trazer mudança na realidade desses alunos e (re)constituir sua(s) identidade(s), tendo em mente o discurso do inglês como língua imperialista, internacional e a língua da globalização. Dados de entrevistas e grupos focais da pesquisa em andamento serão analisados à luz da Análise de Discurso Crítica (Fairclough, 1995, 2001; Resende & Ramalho, 2006; van Dijk, 2008), dos Estudos Culturais (Hall, 2001, 2003; Mattelart & Neveu, 2006; Silva, 2000; Giddens, 1991; Thompson, 1990) e da Filosofia da Linguagem (Rajagopalan, 2003, 2005, 2009; Rajagopalan & Silva, 2004; Canagarajah, 1999; Pennycook, 1994). PO 17A

RAQUEL MEISTER KO. FREITAG Universidade Federal de Sergipe

PROCEDIMENTOS DISCURSIVOS NA FALA E NA ESCRITA DE ITABAIANA/SE: ESTRATÉGIAS DE EVIDENCIALIDADE/MODALIZAÇÃO Construções formadas por verbo + complemento oracional, em dados contextos, podem funcionar como marcadores de processos interacionais atuantes no planejamento e na verbalização da situação comunicativa. Particularmente, construções de verbo dicendi cognitivo/perceptual na / 439 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

1ª pessoa do singular, como: “eu acho que”, “eu penso que”, etc., pela 3ª pessoa do singular, como: “parece que”, “diz que”, etc. e: pela 1ª pessoa do plural, como: “vamos dizer que”, “vamos supor que”, “digamos”, etc., podem funcionar como estratégias de evidencialidade/modalização (FREITAG, 2003). Evidenciais são marcadores que indicam algo sobre a fonte de informação da proposição (BYBEE; PERKINGS; PAGLIUCA, 1994, p. 184). A evidencialidade pode, então, ser reconhecida como uma categoria modal, que marca o distanciamento do falante em relação ao conteúdo proposicional, na medida em que marca a origem da informação. Assim, busca-se, a partir da constituição de um banco e dados de fala e de escrita, investigar o funcionamento destas construções verbais como marcadores de evidencialidade/modalização, na fala e na escrita. A perspectiva teórica adotada para a análise reúne pressupostos da Sociolinguística Variacionista (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968; LABOV, 1972, 1982, 1994) e da teoria funcionalista de linha norte-americana,segundo a qual a gramática, motivada e explicada pela situação comunicativa, é estruturante de aspectos comunicativos da linguagem (a estrutura é vista como maleável e dependente da função), englobando, além da fonologia, morfossintaxe e semântica, também aspectos pragmáticos inferenciais (HOPPER; TRAUGOTT, 1993; HEINE et al., 1991; TRAUGOTT, 1995; GIVÓN, 1995). Os resultados obtidos apontam para a correlação entre formas e contextos de uso, sugerindo a especialização de marcadores de evidencialidade/modalização da fala e da escrita.

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PÔSTERES

PO 18A

RITA DE KÁSSIA KRAMER WANDERLEY Universidade Federal de Pernambuco

LINGUAGEM JORNALÍSTICA PERNAMBUCANA NOS MEIOS DIGITAIS E IMPRESSOS: CONGRUÊNCIAS E DISTINÇÕES As mudanças causadas pela modernidade no funcionamento social deixam seus vestígios nas encenações linguísticas e comunicativas. As mídias eletrônicas estão cada vez mais disseminadas na atualidade em diversos níveis sociais; e os meios digitais já não podem mais ser definidos como novos em nosso contexto. No entanto, devido às alterações e atualizações constantes nas interfaces desse suporte, a linguagem utilizada no meio continua necessitando de novas investigações. O presente trabalho busca investigar a ocorrência de variações na organização linguística e textual dos enunciados em dois suportes usados contemporaneamente para veiculação da notícia jornalística: o impresso e o digital. Procura-se perceber a relação de implicatura entre o crescente consumo de textos digitais e uma possível revisão nas especificidades do gênero “notícia”. Há, afinal, hoje, distinções entre o jornalismo no meio digital e impresso? São referenciados como principais bases teóricas desta investigação Baserman (2006), Marcuschi e Xavier (2004), Marcuschi (2004) e Storrer (2009) - sobre gêneros texuais e gêneros digitais; Maingueneau (2005) e Charaudeau (2006) - sobre análise do discurso e das mídias; Carvalho (1983), Lage (1999) e Silva (2006) - sobre linguagem jornalística; entre outros. Para as análises, foram coletas notícias de primeira página de quinze exemplares consecutivos do Jornal do Commercio (PE) em cotejo com suas respectivas notícias da página principal do mesmo periódico na internet (http://jc3. uol.com.br/jornal/). Os dados expostos no artigo como exemplos foram / 441 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

selecionados em caráter quantitativo e qualitativo. As primeiras análises demonstram que, na internet, há uma tendência a se reduzir a extensão das notícias ou compactá-las. Atribui essa manifestação ao fenômeno hipertextual do link, explorado pelo suporte digital em grande escala. No meio impresso, a tendência segue o digital. PO 19A

ROSANGELA MARIA DA CRUZ; DANIELLE DO AMARAL PESSOA; LUCIANA MORENO DE OLIVEIRA Universidade Federal de Minas Gerais

PARALELOS DA ESTRUTURA RETÓRICA & ENSINO DE GRAMÁTICA EM LIVROS DIDÁTICOS  Este pôster pretende apresentar os resultados de um trabalho realizado pelas mestrandas: Danielle do Amaral Pessoa, Luciana Moreno de Oliveira e Rosângela Maria da Cruz, durante a disciplina Estrutura retórica e gramática de usos ministrada pela professora Maria Beatriz Nascimento Decat na Universidade Federal de Minas Gerais. Nossa pesquisa buscou, com base nos conceitos de William Mann (1988) da Teoria de Estrutura Retórica (RST), observar como os livros didáticos de Língua Portuguesa dos anos finais do Ensino Fundamental abordam as relações entre as orações nas atividades que envolvem a reflexão Lingüística. A RST “tem como objetivo descrever textos, mais do que os processos de criação ou leitura e de compreensão dos mesmos, propondo uma série de estruturas possíveis (diferentes tipos de unidades fundamentais cuja ocorrência pode se observar no texto), proporcionando uma explicação da coerência textual independente das formas lexicais e gramaticais do texto,”. Nessa perspectiva que iremos trabalhar. O livro escolhido para a análise foi Português Linguagens de / 442 /


PÔSTERES

William Cereja e Tereza Cochar Magalhães, amplamente utilizado pelas escolas em Belo Horizonte e com avaliação do PNLD 2010. Percebemos que, embora muito se discuta sobre as mudanças em relação ao ensino de gramática, os livros analisados trabalham as estruturas gramaticais de forma tradicional, com ênfase na lista de conjunções do papel marcante ainda exercem no ensino das orações compostas. Segundo Decat(1993,2001), as proposições relacionais – ou, em outras palavras, o significado implícito que emerge da combinação entre partes do texto – surgem independentemente de qualquer marca de sua existência. Tomando como ponto de partida esse posicionamento, nosso objetivo é mostrar, através de alguns exemplos extraídos dos livros didáticos, o trabalho desenvolvido pelos autores nesse aspecto do ensino de Língua Portuguesa. PO 20A

SARA HELENA QUINTINO Universidade Federal de Ouro Preto

O JOGO DA[NA]IRONIA:UMA LEITURA DAS CARTAS CHILENAS O intuito desse estudo é investigar os processos discursivos envolvidos no jogo irônico constitutivo dos textos que compõem a obra As Cartas Chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, poeta- simbólico da Inconfidência Mineira, e analisar os discursos que perpassam tal corpus, em especial o jurídico e o político, sobre o olhar da Teoria Semiolinguística. Nestas “cartas”, escritas por Critilo e direcionadas a Doroteu, são narradas, num engenho satírico e irônico, as desventuras do Fanfarrão Minésio, governador do Chile.Além de leituras das teorias linguísticas-discursivas, principalmente as que se dedicam ao estudo dos sujeitos envolvidos nas trocas linguageiras, foi necessário um estudo cultural, social, político e / 443 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

econômico da sociedade mineira de Vila Rica (hoje Ouro Preto-MG) do século XVIII, para que se pudesse delimitar o quadro das condições de produção discursiva.A partir dos estudos sobre a posição/ouvidor de Gonzaga na sociedade, chegamos a uma elaboração da cena enunciativa, que é aquela do tribunal de júri, onde as ações do governador são julgadas sob o ponto de vista da virtude do bom governo e dos interesses políticos. Esta pesquisa permite-nos afirmar que a ironia é uma estratégia do sujeito, que não é totalmente determinado e nem totalmente livre, que por meio da criatividade recria o mundo pela e na linguagem. PO 21A

SIMONE PATRÍCIA DA SILVA; PEDRO DE OLIVEIRA FILHO Universidade Federal de Pernambuco

DISCURSOS DE PROFESSORES SOBRE A VIOLÊNCIA NA ESCOLA PÚBLICA Esta pesquisa teve como principal objetivo analisar, em discursos de educadores, os significados atribuídos ao termo “violência” quando tal se refere às relações interpessoais que ocorrem no contexto escolar. Para efetivar o estudo foram entrevistados 10 educadores da rede pública de ensino em Pernambuco, cujo tempo de exercício profissional é igual ou acima de 10 anos. Para analisar os dados adotamos a abordagem teórico-metodológica da Psicologia Social Discursiva, cuja ênfase está na função, variabilidade e efeitos do discurso e que traz como principais teóricos Jonnathan Potter, Margaret Wetherell, Michael Billig e Derek Edwards. A multiplicidade de significados atribuídos ao termo “violência” é evidente nos discursos dos educadores. Além disso, eles mobilizam pressupostos de várias áreas de conhecimento para justificar a / 444 /


PÔSTERES

inadaptação de alunos advindos de classes populares no contexto escolar, produzindo discursos que culpabilizam estes sujeitos e suas famílias pela violência que acorre na escola. Os recursos discursivos,utilizados pelos professores, tendem a potencializar os estereótipos contra estes sujeitos e favorecem o surgimento de discursos deterministas, que associam o fenômeno da violência apenas a causas exógenas ao ambiente escolar, sejam elas de cunho socializante ou psicologizante. O estudo é relevante para o campo discursivo, pois problematiza as produções discursivas elaboradas no espaço escolar e revela como estas produções tendem a gerar desigualdades. Além disso, propicia uma reflexão crítica sobre os argumentos que embasam os discursos dos profissionais da educação e no uso de tais para perpetuar o preconceito no contexto escolar. Mostra, portanto, uma análise reflexiva sobre os repertórios discursivos instituídos nesse contexto e a necessidade de uma visão crítica sobre eles. PO 22A

SUELI FERNANDES DA SILVA RACHED Universidade Católica de Pernambuco

ANÁLISE DO DISCURSO EM “MAPAS DE COMUNICAÇÃO”: UMA POSSIBILIDADE DE VER E OUVIR A SURDOCEGUEIRA As dificuldades sensoriais em crianças surdocegas comprometem bastante a comunicação, por conseguinte, interferem nas interações sociais. O presente estudo teve como objetivo compreender os diferentes discursos presentes nos enunciados dos “Mapas de Comunicação”, realizados com as famílias dessas crianças no processo de avaliação. Para tal, sustentamo-nos na Análise do Discurso de linha francesa e nos estudos de Orlandi. Esse instrumento representa uma avaliação informal, / 445 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

que leva ao processo de inventário de programas a serem realizados com surdocegos. Esse instrumento busca informações sobre preferências, necessidades e expectativas dos pais diante da dificuldade de seus filhos. Não se trata de uma entrevista, mas sim de uma reunião entre a família e os terapeutas envolvidos no contexto; no qual utilizam-se de desenhos, figuras, colagens e escrita. Através dessa avaliação, obtivemos as informações necessárias para planificar uma intervenção, tendo em vista aspectos funcionais da surdocegueira. A Análise do Discurso trabalha com materialidades discursivas das mais diversas, e por não se deter na linguagem verbal, vimos a possibilidade de ver e ouvir a surdocegueira. Esperamos, com esse estudo, ter contribuído para uma melhor compreensão dos discursos intrínsecos existentes nos “Mapas de Comunicação” e os seus achados subsidiarem uma releitura das práticas interventivas realizadas até o momento.verbal, vimos a possibilidade de ver e ouvir a surdocegueira. Esperamos, com esse estudo, ter contribuído para uma melhor compreensão dos discursos intrínsecos existentes nos “Mapas de Comunicação” e os seus achados subsidiarem uma releitura das práticas interventivas realizadas até o momento. PO 23A

SUELY MARIA DE SOUZA Universidade Federal de Pernambuco

Recursos Linguísticos e ethos: uma análise qualitativa dos textos de alunos de algumas escolas da rede pública estadual Este trabalho traz como tema o ethos e as estratégias do processamento textual. O propósito desta pesquisa, de abordagem qualitativa, é investigar / 446 /


PÔSTERES

quais as contribuições dos recursos lingüísticos para a construção do ethos do enunciador e das instâncias as quais ele si dirige, em especial em textos dissertativo-argumentativos. Como metodologia recolhemos e analisamos textos de alunos do ensino médio de algumas escolas da rede pública estadual, também aplicamos um questionário sócio-econômico cultural com o objetivo de investigar se a situação sócio-econômica cultural dos alunos influênciavam em suas produções textuais. A pesquisa foi realizada no município do Cabo de Santo Agostinho- PE, em três escolas públicas estaduais. Foram analisados cento e trinta e cinco textos dissertativoargumentativos, buscando observar especificamente se os alunos do ensino médio utilizavam-se dos recursos da estilística da enunciação e das estratégias do processamento textual na construção do ethos, em suas produções textuais. Também procuramos identificar como a estilística da enunciação e as estratégias do processamento textual contribuem na construção do ethos. A fundamentação teórica teve como base os estudos de Koch (2004, 2006, 2008), Van Dijk e Kintsch (apud Koch 2008), Martins (2003), Maingueneau (apud Martins 2003), Pêcheux (2002), Possenti (2001), Marcuschi (1983), Maingueneau et al in Martins (2003),Faria (1989), Maingueneau(1997), Riffaterre (apud Martins 2003), Fiorin (2008), Barthes (apud maingueneau 2008), Ducrot (apud Maingueneau 2008), Costa Val (2006) entre outros. Como resultado, descobrimos que todos os recursos lingüísticos pesquisados colaboram para a construção do ethos. Os alunos dão maior ênfase as estratégias do processamento textual e menor a estilística da enunciação, mas, esses recursos nem sempre leva, a priori, a escrita de bons textos. Aos recursos pesquisados contribuem como articuladores do discurso, algumas vezes, aparecem dentro de um argumento, outras vezes como reforço para a idéia principal do texto. Tudo isso faz com que tais recursos contribuam com o ethos que o enunciatário faz do enunciador no momento da interação com o texto. Temos como perspectiva futura pesquisar qual a visão do professor paulista em relação ao uso dessas estratégias no ensino médio.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

PO 24A

THIAGO DA CAMARA FIGUEREDO Universidade Federal de Pernambuco

NA FRONTEIRA ENTRE OS DISCURSOS HISTÓRICO E LITERÁRIO: FATO E FICÇÃO EM FERNÃO LOPES E AMADIS DE GAULA A fronteira é o lugar onde se estabelece o limite entre duas áreas. É região de encontro e separação. A aproximação entre a historiografia e a literatura se dá pelo fato de ambos os campos discursivos compartilharem o mesmo real como referente e exporem-no através da construção narrativa. Considere-se que a linguagem opera a construção do real ou, ao menos, suplementa-o; que é por meio da linguagem que acessamos e nos relacionamos com a realidade, com o meio, conosco e com os outros; estar na fronteira entre tais discursos significa observar a relação do homem com o mundo, da linguagem com o mundo ou da elaboração de uma concepção de mundo. O trabalho procurará, dessa forma, analisar a relação entre a escrita da história e a escrita ficcional da transição da Baixa Idade Média para a Idade Moderna a fim de descrever de que maneira os conceitos de fato e ficção são estabelecidos e como a ideia de verdade é falível. O corpus eleito compõe-se da Crónica de el-rei D.Pedro I de Fernão Lopes (historiador português incumbido do registro das memórias dos reis de seu país) e da novela de cavalaria Amadis de Gaula (sem autor definido e com primeira publicação documentada em 1508). Sob a luz da Análise do Discurso e da Teoria da Literatura - especial referência se fará aos trabalhos de Maingeneau e Costa Lima, a abordagem comparativa dos textos supracitados será suporte para a exposição do círculo de intersecção presente na fronteira entre a historiografia e a literatura.

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PÔSTERES

PO 25A

WALDÊNIA KLÉSIA MACIEL VARGAS SOUSA Universidade Federal de Goiás

O RISO: ENUNCIADO, ENUNCIAÇÃO E PRODUÇÃO DE SENTIDO Partindo do pressuposto teórico de que um enunciado mantém relações com outros ditos e de que o enunciado é singular, porém sua materialidade o torna repetível, nos propomos a descrever, interpretar e analisar, sob o enfoque da Análise do Discurso de orientação francesa, bem como sob as noções apresentados por Mikhail Bakhtin, textos chárgicos nos quais observamos deslocamentos de enunciados do campo discursivo político para o campo discursivo humorístico e, a partir disso, averiguamos como a repetição da materialidade linguística produz sentidos diferentes daqueles que foram possibilitados durante a enunciação primeira. Isto ocorre porque o enunciado repetido em outras condições de produção nos revela a presença de um novo enunciado, que, contudo, se remete ou responde ao primeiro. O processo discursivo de derrisão é evidente nas charges objeto de nosso estudo, já que o objetivo de tal repetição é a utilização de enunciados contra quem os proferiu, produzindo o humor crítico característico do gênero charge. Inferimos, então, que o signo é arena de lutas ideológicas, pois o signo dialógico é de natureza ideológica. Assim, o mesmo signo comporta duas (ou mais) facetas, utilizadas pelo locutor de acordo com o seu objetivo comunicativo. Ainda, conforme apontam os estudos de Michel Foucault (autor que não que utiliza o termo ideologia), é no/pelo enunciado que podemos observar as relações de poder e, no caso de charges, essas relações se mostram também através do riso derrisório. Em síntese, observamos a produção do riso, atentando para as noções de enunciado, enunciação/condições de produção e produção de sentidos produzidos por deslocamentos de enunciados. / 449 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

PO 26A

VIRGINIA CELIA PESSOA DE FREITAS Universidade Federal de Pernambuco

PALAVRA-EVENTO E PALAVRA-ARGUMENTO: UMA ANÁLISE DIALÓGICA DAS NOTÍCIAS Este estudo pretende analisar o modo como mídia utiliza as palavras para criar e representar um evento e uma memória interdiscursiva; e para se posicionar diante dos acontecimentos noticiados. A partir disso, observamos também outros aspectos da linguagem, em particular, o ato de nomear. Para tanto, selecionamos as notícias, publicadas entre os dias 23/01/08 e 31/01/08, no jornal folha de São Paulo, a respeito do momento discursivo (Moirand, 2004) relacionado aos usos dos cartões corporativos do governo federal para constituir o corpus. À luz dos textos de Bakhtin/ Voloshinov (1930), Bakhtin (1992 e 2003), Cunha (2002) e Moirand (2004, 2003 e 2007), a análise dialógica desse corpus revela que a freqüência do surgimento de determinadas expressões configura a construção de um evento discursivo. Nessa perspectiva, as palavras apresentam diferentes significados que vão adquirindo ao longo do instante discursivo e são portadoras de memórias. Sob a perspectiva dialógica adotada, a palavra usada numa enunciação tem um sentido, o qual comporta o valor apreciativo. Segundo Bakhtin/Voloshinov (1997: 132), “sem acento apreciativo, não há palavra”. Também analisamos esse aspecto, observando a ocorrência de nomeações, adjetivações e construções verbais. Assim, foi possível verificar que as palavras-argumento e as palavras-evento são fenômenos constitutivos das notícias, por meio das quais,o jornalista deixa transparecer seu posicionamento axiológico.

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PÔSTERES

PO 01B

HEBER DE OLIVEIRA COSTA E SILVA; LILIANE FELIX VALENÇA CINTRA Universidade Federal de Pernambuco

ESTUDO DE UM CONCEITO BAKHTINIANO: POLIFONIA Dentre os diversos conceitos do universo bakhtiniano, um dos mais comentados e empregados é o conceito de polifonia, mas este nem sempre é bem compreendido. Para melhor entender esse fenômeno e identificar suas ocorrências, buscamos saber definições de polifonia, qual a distinção entre polifonia e dialogismo, em que gêneros em que podemos encontrá-la, e sua relação com outros conceitos importantes da obra bakhtiniana, como autoria, idéia e o próprio romance — gênero estudado por Bakhtin para desenvolver o conceito e descrito por ele como polifônico por excelência. A partir disso, tentando também prover ao menos um ponto de vista sobre o conceito em questão, colhemos exemplos de gêneros considerados incomuns — peça publicitária e texto dramatúrgico — para o fenômeno polifônico e os analisamos para compreender se a polifonia pode ocorrer nessas situações e as possíveis causas para ela ocorrer ou não, recorrendo a autores como Maingueneau, Brait, Fiorin e, claro, ao próprio Bakhtin para respaldar nossas conclusões. Ainda que não se trate de uma pesquisa exaustiva sobre o tema, esse sucinto estudo observou que nem todo romance é polifônico, que o texto publicitário, devido à sua finalidade, tende a fugir da polifonia e usamos um texto de Luigi Pirandello para ilustrar o conceito polifônico de forma mais concreta e mais esclarecedora.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

PO 02B

ANA CAROLINA GONÇALVES REIS Universidade Federal de Minas Gerais

INTERGENERICIDADE DISCURSIVA: A SUBVERSÃO DO GÊNERO PUBLICIDADE EM REPORTAGEM SOB UMA PERSPECTIVA DA ARGUMENTAÇÃO O objetivo deste trabalho foi averiguar a transgressão do gênero publicidade em reportagem, através da análise de uma publicação em mídia impressa (revista). Especificamente, buscou-se, a partir do estudo da argumentação na reportagem “Chegou a nova escova progressiva de silicone” (publicada na seção “Mais bonita” da revista “Sou mais Eu!”, de 6 de maio de 2010), verificar como se dá a subversão de um gênero em outro. Os autores tomados para respaldar teoricamente nossas discussões foram Marcuschi (2007, 2008), Maingueneau (2005) e Perelman (2005), em seus conceitos sobre gênero, transgressão e argumentação. Nossas análises nos permitiram constatar que a subversão da ordem genérica instituída é produto de um reenquadramento da publicidade, de um novo enfoque, o que pode colaborar com a “perspectiva propagandística” do enunciador em questão. Tomando como premissa a concepção de que a publicidade visa argumentar no intuito de persuadir o outro a adquirir um produto, o discurso veiculado na revista, embora se apresente como fato (típico de uma reportagem), ao elencar valores e lugares comuns, passar da ordem do preferível à validade universal, leva o interlocutor a assumir um papel de potencial consumidor (e não apenas de leitor de uma publicação). Esse “mascaramento” da publicidade poderá levar a um “ludibriamento” do leitor, em especial o de classe C e D (público-alvo da

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PÔSTERES

revista), uma vez que este, tendo um olhar talvez menos crítico em relação ao que lhe é apresentado, poderá tomar o discurso como informação (e não como propaganda), sendo induzido a aceitar o produto específico abordado como se esse fosse o único no mercado que se prestasse ao efeito anunciado. PO 03B

ANDRÉA DANUTA AGUIAR COSTA DE FRANÇA; MONIQUE ALVES VITORINO Universidade Federal de Pernambuco

DA TRAGÉDIA À COMÉDIA: A PRODUÇÃO DE INFERÊNCIAS EM MANCHETES DO JORNAL AQUI PE Por apresentarem uma linguagem ambígua, permeada por gírias e expressões populares, que dão um caráter cômico aos fatos abordados, as manchetes de capa do Aqui PE distanciam-se da linguagem jornalística típica, geralmente mais formal e com uma abordagem de conteúdo centrada na função referencial, direta e objetiva. Dessa forma, pretendemos, a partir de uma análise qualitativa das manchetes de capa de dez exemplares coletados ao longo do mês de maio de 2010, identificar quais os recursos visuais e verbais utilizados na construção do sentido, levando em conta gírias, expressões populares, frases conotativas, além de recursos de pontuação recorrentes (as reticências, os sinais de exclamação, interrogação); e a presença/ausência de enquadramento, saliência, plano de fundo, disposição gráfica das imagens, letras e tipografias. Observamos ainda quais tipos de operações inferenciais são exigidas / 453 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

para sua compreensão. Assim, nosso referencial teórico fundamentase em Marcuschi (2008), Van Dijk (2005), Koch (2006), Dell’Isola (2001), entre outros, os quais entendem que a atividade de leitura não se limita simplesmente a extrair conteúdos ou identificar sentidos préestabelecidos. Para Marcuschi, ler é um ato incompleto de apropriação e produção de sentido, visto que tal ato se liga a esquemas cognitivos, bem como a nosso sistema sociocultural internalizado. Desse modo, tomando a língua como atividade sociointerativa e cognitiva, e texto como evento comunicativo, entendemos a leitura como processo de compreensão que envolve atividades inferenciais. Os resultados iniciais mostram que são mobilizados, principalmente, conhecimentos lingüísticos e factuais (enciclopédicos) em operações inferenciais de associação e reconstrução. É possível afirmar que, frente a isto, o jornal parte do pressuposto que seus leitores compartilham o conhecimento necessário para leitura das manchetes, visto que estas são permeadas por implícitos, o que requer um leitor colaborativo. PO 04B

BRUNA TOSO TAVARES

Universidade Federal de Minas Gerais

AS EMOÇÕES COMO ESTRATÉGIAS DE PERSUASÃO NO DISCURSO POLÍTCO DE CANDIDATAS À PRESIDÊNCIA DO BRASIL Pela primeira vez na história do Brasil, duas mulheres se enfrentam em eleições para a Presidência da República. De acordo com o senso comum, as mulheres são mais emotivas que os homens e também são mais eficientes quando o objetivo é emocionar. Pensando nisto, propomos uma análise de duas propagandas eleitorais – uma da candidata Dilma / 454 /


PÔSTERES

Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, e uma de Marina Silva, candidata pelo Partido Verde –, em que buscamos estudar a relação entre o discurso político e a argumentação, visando observar quais as estratégias utilizadas por elas para persuadir e se, realmente, as candidatas buscam a persuasão prioritariamente através de efeitos de patemização. Depois de um mapeamento das estratégias utilizadas pelas candidatas, ou seja, de descrever como elas construíram as imagens de si (ethos), como utilizaram a racionalidade persuasiva (logos) e como buscaram suscitar emoções no auditório (pathos), faremos uma análise contrastiva entre os dois discursos, visando observar quais os imaginários sociodiscursivos e valores foram apresentados na cena discursiva. Para isso, utilizaremos a Teoria Semiolinguística de Charaudeau (2008) e as reflexões do mesmo autor sobre o pathos, além de Plantin (1996), Amossy (2000) e a própria Retórica aristotélica. Por meio da análise proposta foi possível perceber que as candidatas buscaram ativar certas memórias discursivas dos eleitores a fim de levar a identificação e patemização, além de utilizarem imaginários exclusivamente femininos, relativos a maternidade, por exemplo. Observamos também que os discursos de ambas são bastante patêmicos – apesar de não podermos afirmar que isto é uma exclusividade dos discursos das mulheres políticas –, e estes efeitos de patemização puderam ser notados através da utilização de palavras que descrevem emoções, de palavras que, embora não descrevam emoções, têm uma carga patêmica e de enunciados, que através de memórias discursivas, apesar de neutros, naquela situação tornam-se patemizantes.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

PO 05B

BRUNO DIEGO DE RESENDE CASTRO; LEILA RACHEL BARBOSA ALEXANDRE Universidade Federal do Piaui

#MARCAR PORQUE – FUNÇÕES E RELAÇÕES DISCURSIVAS DAS HASHTAGS NO TWITTER No twitter, é comum a marcação das postagens com hashtags, “etiquetas” precedidas de uma hash (#), como por exemplo: #dicadodia, que também são hiperlinks que acessam outras postagens possuidoras da mesma hashtag. Com base nessas características, podemos inferir que as hashtags se apresentam como uma possibilidade dada ao “tuiteiro” para organizar suas postagens, identificá-las para os outros e visualisar outras postagens marcadas. Dessa forma, objetivamos verificar funções discursivas que as hashtags desempenham tanto para um perfil específico quanto para todo o universo do twitter. Além disso, pretendemos analisar as formas de adoção das hashtags pelos tuiteiros e a relação mantida entre a hashtag e a postagem em que se insere. Huang et al (2010) dizem que essa marcação é feita a priori, ou seja, as pessoas fazem postagens marcadas por causa de outras postagens com a mesma marca. A partir dessa noção, observamos funções e propriedades discursivas das hashtags no twitter a partir da sua composição, acreditando que exercem também funções referenciais, além da de marcação tópica, e assim verificamos os motivos da marcação na postagem. Para tal, utilizamos, principalmente, Marcuschi (2000) e Pinheiro (2005). O corpus analisado possui 60 postagens que contêm as hashtags: #sennavive, #Atitudesdepobre, #dicadodia e #prontofalei. De posse desse corpus, observamos as posições das hashtags dentro da postagem, o nível de conhecimento compartilhado necessário para relacionar hashtags e postagens e as funções que mais recorrentemente / 456 /


PÔSTERES

exercem. Como resultados principais, observamos que nem sempre há relação clara, observável textualmente, entre hashtags e postagens, já que muitas vezes, essa relação só é entendida através de inferências e conhecimento partilhado entre os tuiteiros, que pode ser recuperado clicando nas hashtags para ver sua construção pelos outros tuiteiros. Além disso, as hashtags usadas dentro de um mesmo perfil do twitter podem funcionar como rótulos das postagens, salientando suas temáticas. PO 06B

CAROLINA LEAL DE LACERDA PIRES      Universidade Federal de Pernambuco

ESTRATÉGIAS DE LEGITIMAÇÃO, CREDIBILIZAÇÃO E CAPTAÇÃO ACIONADAS NA PUBLICIDADE TURÍSTICA DE PERNAMBUCO Neste trabalho, que apresenta parte de pesquisa desenvolvida no mestrado em Letras da UFPE, analisamos algumas estratégias discursivas utilizadas na publicidade turística oficial de Pernambuco, visto que desde a criação do Ministério do Turismo, em 2003, tem-se ampliado os investimentos em comunicação no setor não só em âmbito federal, mas também estadual e municipal. Diante deste cenário e na esteira de Maingueneau (2005), acreditamos que a trivialidade dos textos publicitários no mundo contemporâneo não torna desnecessária uma análise mais elaborada desses. Assim, para orientar esse olhar mais acurado sobre a publicidade turística, escolhemos como aparato teóricometodológico a Análise Semiolinguística do Discurso (CHARAUDEAU, 2006, 2008), que postula estar todo ato de linguagem relacionado a um quadro de coerções (o contrato de comunicação) que, no entanto, também oferece espaços de manobra para que os sujeitos possam pôr / 457 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

em cena o seu projeto de fala utilizando-se de estratégias discursivas. Dois folders e catorze anúncios da Empresa de Turismo de Pernambuco, veiculados entre 2004 e 2006 no Brasil e no Exterior, constituem o corpus de nossa pesquisa. Constamos que, se as imagens de Pernambuco construídas na publicidade turística oficial do estado se mostraram limitadas (PIRES, 2009), as estratégias discursivas utilizadas para legitimar a instância destinatária, para dar credibilidade ao discurso e para captar a instância destinatária são mais diversificadas. PO 07B

DANIEL VITOR DA SILVEIRA DA COSTA Universidade Federal da Paraíba

ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS SOBRE O NEGRO NO CONTEXTO DA PARAÍBA DO SÉCULO XIX: UMA POSIÇÃO IDEOLÓGICA Este trabalho parte do princípio de que o gênero anúncio publicitário do século XIX em jornais paraibanos, no ceio da interação verbal, revela o caráter ideológico do signo. Como objetivo geral, procura-se revelar que o signo é transpassado por uma ideologia que, diante de uma mudança do contexto, toma novo posicionamento. Especificamente, delimitamos a análise para o gênero anúncio publicitário no século XIX com relação ao negro. Como objetivo especifico, buscou-se identificar, nesses anúncios, o posicionamento ideológico associado às mudanças sócio-econômicas da época. Do ponto de vista analítico, recorreu-se a conceitos baktinianos de gêneros discursivos - tipos de enunciados relativamente estáveis caracterizados a partir do seu conteúdo temático, estilo e construção composicional – signo ideológico – onde há signo há ideologia, pois a existência de um depende da do outro – e contexto, / 458 /


PÔSTERES

imprescindível na significação durante a interação verbal. A metodologia consistiu na seleção do corpus, seguida da revisão bibliográfica referente às teorias citadas, para se fazer as análises através dos métodos dialético e indutivo. As análises mostram que o gênero anúncio no século XIX foi utilizado pela sociedade escravocrata para compra, venda e busca de escravos, contudo, após a abolição, os rumos dos anúncios referentes ao negro tomam outro posicionamento. Assim, o anúncio reflete o contexto de uma dada época e sociedade de forma mais ou menos implícita ou explícita, revelando um panorama das condições em que aquele fora produzido. PO 08B

DEUZINA ELAINE MELO CASTELUBER Universidade Federal de Minas Gerais

INTERGENERICIDADE DISCURSIVA: A SUBVERSÃO DO GÊNERO PUBLICIDADE EM REPORTAGEM SOB UMA PERSPECTIVA DA ARGUMENTAÇÃO O objetivo deste trabalho foi averiguar a transgressão do gênero publicidade em reportagem, através da análise de uma publicação em mídia impressa (revista). Especificamente, buscou-se, a partir do estudo da argumentação na reportagem “Chegou a nova escova progressiva de silicone” (publicada na seção “Mais bonita” da revista “Sou mais Eu!”, de 6 de maio de 2010), verificar como se dá a subversão de um gênero em outro. Os autores tomados para respaldar teoricamente nossas discussões foram Marcuschi (2007, 2008), Maingueneau (2005) e Perelman (2005), em seus conceitos sobre gênero, transgressão e argumentação. Nossas análises nos permitiram / 459 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

constatar que a subversão da ordem genérica instituída é produto de um reenquadramento da publicidade, de um novo enfoque, o que pode colaborar com a “perspectiva propagandística” do enunciador em questão. Tomando como premissa a concepção de que a publicidade visa argumentar no intuito de persuadir o outro a adquirir um produto, o discurso veiculado na revista, embora se apresente como fato (típico de uma reportagem), ao elencar valores e lugares comuns, passar da ordem do preferível à validade universal, leva o interlocutor a assumir um papel de potencial consumidor (e não apenas de leitor de uma publicação). Esse “mascaramento” da publicidade poderá levar a um “ludibriamento” do leitor, em especial o de classe C e D (público-alvo da revista), uma vez que este, tendo um olhar talvez menos crítico em relação ao que lhe é apresentado, poderá tomar o discurso como informação (e não como propaganda), sendo induzido a aceitar o produto específico abordado como se esse fosse o único no mercado que se prestasse ao efeito anunciado. PO 09B

DIGENÁRIO PESSOA DE SOUSA Universidade Federal de Piaui

AÇÃO RETÓRICA: TENSÕES ENTRE ESTABILIDADES E INSTABILIDADES NO FUNCIONAMENTO DO GÊNERO EDITORIAL DE JORNAL Teoricamente, se tem defendido que o gênero é um construto social, mutável e dinâmico e que reflete as nuances do contexto social (BAKHTIN, 2003; MILLER, 2009; DEVITT, 2004; entre outros). Nesse sentido, a complexidade e heterogeneidade das relações sociais, inevitavelmente, / 460 /


PÔSTERES

encontrar-se-iam marcadas nos enunciados pertencentes a um gênero. Todavia, muitas vezes, esta realidade tão complexa é homogeneizada, porque manuais, assim como muitos trabalhos em linguística textual e análise de discursos discutem sobre o gênero a partir de uma visada dogmático-normativa, tendendo a estabilizar ação sócio-retórica, situação e padrões de interação. Em virtude disso, busca-se com este trabalho, refletir sobre os gêneros de discurso levando em consideração a tensão existente entre estabilidade e instabilidade, conforme Alves Filho (2009), mas tomando como parâmetro a ação retórica desempenhada pelo gênero editorial em função do tema e da interdiscursividade constitutivos dele. Para este propósito tomam-se, para elaboração do nosso referencial teórico-metodológico, os trabalhos de Bakhtin (1997) e (2003), Miller (2009), Bazerman (2005) e Alves Filho (2009). O corpus foi selecionado por empresa jornalística, focando no jornal teresinense O Dia, de onde se coletou trinta editoriais publicados no período de janeiro a abril de 2010. Os textos são organizados por tema debatido e buscase ver regularidades na ação sócio-retórica. Conclui-se que, mesmo em uma mesma empresa jornalística, a ação retórica desempenhada pelo gênero editorial é instável e contribui para isso o tema debatido e as vozes sociais presentes no enunciado. No entanto, quando se passa a ver os gêneros por tema e interdiscursividade, o comportamento retórico tende a uma estabilização.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

PO 10B

FRANCISCO BARBOSA DE OLIVEIRA Universidade Federal de Pernambuco

AS ARTIMANHAS DO DISCURSO: A CONSTRUÇÃO DISCURSIVA DA IDENTIDADE RELIGIOSA COMO INSTRUMENTO DE LUTA EM ESPAÇOS MIDIÁTICOS IMPRESSOS O presente trabalho investiga como o discurso religioso promovido pela Igreja Universal do Reino de Deus – IURD e veiculado em um de seus instrumentos midiáticos, o jornal Folha Universal contribuem para a fabricação de uma identidade religiosa nos adeptos da igreja, e servem como instrumento de disputa de poder no mercado religioso. A pesquisa se fundamenta na proposta da Análise do Discurso desenvolvido pela Psicologia Social Discursiva e abordada nos trabalhos de (Potter, J. & Wetherell, M. 1987, 1992) e (Billig, M. 2008). Os elementos discursivos mapeados durante a análise dos dados nos revelam como este grupo religioso neopentecostal tem utilizando-se de elementos simbólicos para fabricar uma identidade religiosa em seus adeptos, no sentido de traçar as fronteiras desse sujeito, como sendo “vitorioso”“abençoado” e “liberto” traços característicos do discurso da Teologia da Prosperidade e da libertação espiritual, que norteia os sermões da igreja. Outros elementos importantes identificados foram os recursos retóricos utilizados nos jornais para posicionar discursivamente outros grupos religiosos, como os católicos e as religiões de matriz afro, a trama discursiva que é apresentada nos jornais joga com vários elementos simbólicos no sentido de construir através do posicionamento negativo de outros grupos religiosos a própria identidade da IURD, afirmando-se como a igreja escolhida por Deus

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PÔSTERES

para transformar a vida dos sujeitos. A pesquisa apresenta-se com uma importante reflexão para se compreender as formas como instituições religiosas neopentecostais tem utilizado recursos midiáticos como ferramenta de poder no mercado religioso nacional. PO 11B

GUIANEZZA MESCHERICHIA DE GÓIS SARAIVA MEIRA Universidade Federal de Rio Grande do Norte

IMAGENS DE SI NO DISCURSO: A CONSTRUÇÃO DO ETHOS NAS CARTAS DO LEITOR VEICULADAS NA REVISTA FEMININA “CLAUDIA” As revistas femininas têm como objetivo fundamental provocar algumas reflexões sobre a representação da mulher brasileira, solidificando conceitos e estereótipos que buscam enraizar padrões estéticos e comportamentais idealizados no público feminino. Elas atuam como um marco significativo da história contemporânea, que documenta tanto a evolução da imprensa na modernidade, quanto da história social da mulher. Nesse viés, o objetivo deste trabalho é analisar a construção do ethos nas leitoras/autoras de cartas do leitor, veiculadas na revista feminina “Claudia”, no intuito de compreender melhor os discursos que permeiam essas publicações e suas relações com as diversas práticas sociais na contemporaneidade. Metodologicamente, o trabalho consiste em analisar duas cartas do leitor, veiculadas na revista em questão, na seção Sua opinião. A partir dos pressupostos teóricos da Análise Crítica do Discurso, com foco na corrente social desenvolvida por Fairclough, verificaremos como a revista “Claudia” concebe a interação com as

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

leitoras, criando um tipo particular de envolvimento, chegando mesmo à cumplicidade. Os resultados apontam para a influência dessa mídia de massa no comportamento feminino, ou seja, na constituição identitária das leitoras, a partir das palavras escolhidas para compor as cartas do leitor, funcionando assim, como uma estratégia de persuasão que legitima os padrões ideológicos existentes em nossa sociedade neste início de século XXI. PO 12B

JAIRO VENÍCIO CARVALHAIS OLIVEIRA Universidade Federal de Minas Gerais

INTERGENERICIDADE DISCURSIVA: A SUBVERSÃO DO GÊNERO PUBLICIDADE EM REPORTAGEM SOB UMA PERSPECTIVA DA ARGUMENTAÇÃO O objetivo deste trabalho foi averiguar a transgressão do gênero publicidade em reportagem, através da análise de uma publicação em mídia impressa (revista). Especificamente, buscou-se, a partir do estudo da argumentação na reportagem “Chegou a nova escova progressiva de silicone” (publicada na seção “Mais bonita” da revista “Sou mais Eu!”, de 6 de maio de 2010), verificar como se dá a subversão de um gênero em outro. Os autores tomados para respaldar teoricamente nossas discussões foram Marcuschi (2007, 2008), Maingueneau (2005) e Perelman (2005), em seus conceitos sobre gênero, transgressão e argumentação. Nossas análises nos permitiram constatar que a subversão da ordem genérica instituída é produto de um reenquadramento da publicidade, de um novo enfoque, o que pode colaborar com a “perspectiva propagandística” do enunciador em questão. Tomando como premissa a concepção de que / 464 /


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a publicidade visa argumentar no intuito de persuadir o outro a adquirir um produto, o discurso veiculado na revista, embora se apresente como fato (típico de uma reportagem), ao elencar valores e lugares comuns, passar da ordem do preferível à validade universal, leva o interlocutor a assumir um papel de potencial consumidor (e não apenas de leitor de uma publicação). Esse “mascaramento” da publicidade poderá levar a um “ludibriamento” do leitor, em especial o de classe C e D (público-alvo da revista), uma vez que este, tendo um olhar talvez menos crítico em relação ao que lhe é apresentado, poderá tomar o discurso como informação (e não como propaganda), sendo induzido a aceitar o produto específico abordado como se esse fosse o único no mercado que se prestasse ao efeito anunciado. PO 13B

JOSÉ MOACIR SOARES DA COSTA FILHO Universidade Federal da Paraíba

A MULTIMODALIDADE NO GÊNERO DESENHO ANIMADO Nos últimos anos, com o avanço dos recursos midiáticos, os desenhos animados têm se tornado presença marcante no cotidiano infantil. Dentro deste contexto, na produção de desenhos animados voltados para crianças em idade pré-escolar podemos destacar o desenho animado espanhol Pocoyo, o qual apresenta uma estrutura que possibilita a interação dos telespectadores (crianças) com o desenho e as situações retratadas dentro do mesmo. Neste sentido, baseamo-nos na ideia de que a imagem visual oferece mais complexidade que a linguagem verbal, percebemos que o uso de imagens nos mais diversos contextos sociais torna-se responsável por efeitos que podem estar para além dos limites dos efeitos causados / 465 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

pela linguagem verbal somente (LEMKE, 2002). Assim, concebemos o desenho animado como um gênero textual essencialmente multimodal, em que gesto e fala formam um conjunto único de significação (MCNEILL, 1985). Neste trabalho, buscamos analisar como um episódio do desenho animado Pocoyo se organiza para atrair a atenção da criança, voltando nossa análise à atenção conjunta (TOMASELLO, 2003) e aos gestos (KENDON, 1982), bem como à relação entre os aspectos verbais e nãoverbais. Utilizaremos como corpus um episódio do Pocoyo numa versão de português brasileiro, com duração aproximada de oito minutos. Através de uma observação inicial, percebemos que o uso dos gestos e a estratégia da atenção conjunta são significativos para a interação da criança com o gênero desenho animado. PO 14B

JOSELY TEIXEIRA CARLOS; ELIZABETE ENZ HUBERT Universidade de São Paulo

RETÓRICA E ARGUMENTAÇÃO: EXAME DE PROCEDIMENTOS DISCURSIVOS A presente exposição pretende, por meio deste pôster, delinear os objetivos do GERAR (Grupo de Estudos de Retórica e Argumentação), o modus operandi (Seminários de pesquisa, Conferências, grupos de trabalho), os resultados de suas atividades, quer na produção acadêmica de mestrados, doutorados e pós-doutorados, quer nas publicações do grupo de base (orientandos) e dos colaboradores, nacionais e internacionais. O Grupo foi formado em 1994, juntamente com o projeto do coordenador, intitulado “Retórica e Argumentação: exame de procedimentos discursivos”. Mestres e doutores têm sido formados, / 466 /


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contando-se com a colaboração de professores e pesquisadores nacionais e do exterior, seja em suas vindas ao Brasil, seja na co-orientação de bolsas de estágio no exterior (bolsas-sanduíche). Em 2008, a coordenadora do GERAR, Profa Dra Lineide Salvador Mosca, recebeu para pós-doutorado o Prof. Dr. Ivo Dittrich, da UNIOESTE/Paraná, que também colaborou nas diversas atividades do grupo. Atualmente, outro pós-doutorando está sendo supervisionado. É objetivo do GERAR propiciar reflexão sobre a importância dos componentes retórico-argumentativos nas atividades discursivas dos falantes, assim como apontar as contribuições das diversas abordagens das Teorias da Argumentação. Seu ponto de partida é a retórica greco-latina, reexaminada à luz dos estudos contemporâneos. O enfoque adotado é o da interdisciplinaridade, conforme se pode observar na realização dos Seminários de Pesquisa, com especialistas dos diversos campos, envolvidos no tema em debate : Ciências jurídicas, Ciências da Religião, Ciências da Educação, Ciências da Informação, História Cultural, além dos estudos do discurso publicitário, midiático e literomusical. Sub-grupos se formam em torno dessas diversas áreas, de acordo com os conhecimentos dos participantes do grupo. A atuação do grupo se faz presente em eventos diversos (ABRALIN,GEL, EPED,EPOG, ALED, INTERCOM, entre outros).Pretendese que a sigla GERAR que o denomina expresse a dinâmica que está à sua base. De igual modo, o logotipo que o representa quer transmitir a idéia de observador, sob a forma metonímica do olho, e sobretudo de ponto de vista, cerne da teoria retórica.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

PO 15B

LILIANE FELIX VALENÇA CINTRA Universidade Federal de Pernambuco

A CONSTRUÇÃO DA IRONIA Este trabalho intitula-se “A Construção da Ironia” e tem como objetivos caracterizar e definir a ironia, investigando suas diferentes estratégias de construção. Geralmente, este recurso é associado a um ato de ameaça à face, tomando-se como definição de face o que Brown e Levinson chamam de imagem pública de cada membro perante a sociedade – a imagem que cada participante da interação tenta construir e manter perante os interlocutores. Baseamo-nos também em estudos de Tannen e Wallat, que afirmam que todo tipo de interação é construída sobre estruturas de expectativa, isto é, noções do que seria comum ocorrer em determinadas situações comunicativas. Nosso corpus compõe-se de propagandas veiculadas em outdoors e dos romances A Caverna e A Jangada de Pedra, ambos de José Saramago. Defendemos que a ironia não aparece apenas como um meio de expressar o contrário do que é dito, mas como modo de significar algo diferente – o contrário, às vezes, mas, não sempre – do enunciado. Essa diferença entre o que é dito e o que se quer dizer gera uma quebra nas estruturas de expectativa, o que ocasiona um efeito cômico, o qual, somado à crítica, produz a sensação de ironia. O fenômeno pode revelar-se sob três aspectos: (1) através de ditados populares, repetições e demais recursos linguísticos capazes de possibilitar uma interpretação dialética; (2) por meio da multimodalidade, em que fotos, desenhos e cores diferenciadas unem-se a recursos linguísticos para a produção de sentido; (3) por meio exclusivamente verbal, porém gerando uma imagem que, uma vez concluída, dispensa a linguagem utilizada em sua formação e inscreve-se como desenho crítico na mente dos leitores. Nosso conceito / 468 /


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de ironia envolve, então, pelo menos três características: (1) a quebra das estruturas de expectativa, (2) a crítica e (3) a possibilidade de interpretação em ao menos dois sentidos distintos.       PO 16B

LUÍS RODOLFO CABRAL SALES Universidade Federal do Piauí

A CONSTRUÇÃO DO REFERENTE GOVERNADOR JACKSON LAGO NOS EDITORIAIS DE O ESTADO DO MARANHÃO Proposta de investigação de como é construído, nos editoriais de O Estado do Maranhão, o referente governador Jackson Kleper Lago. Formam corpus da pesquisa os editorais publicados entre os meses de março e maio de 2009. Além de se considerar o período delineado como de efervescência política, dada a mudança de líder de governo, dois outros pontos justificam também o recorte metodológico proposto: a) o jornal Estado do Maranhão é um dos troncos do Sistema Mirante, grupo de empresas de comunicação do Maranhão afiliado à rede Globo. Sob a presidência de Teresa Sarney Murad, é um dos jornais de maior circulação em todo o estado; b) o então governador Jackson Lago teve seu diploma cassado, em março de 2009, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, que decidiu também pela diplomação de Roseana Sarney Murad, segunda colocada no pleito de 2006. Por se entender o signo lingüístico não como instrumento de representatividade, mas como forma de intervenção do sujeito no mundo, tomam-se, por pressuposto teórico, os estudos que apontam a referenciação como atividade discursiva (Koch & Marcuschi, 1998; Marcuschi & Koch, 2002; Mondada & Dubois, 2003). Recorre-se ainda aos estudos de Charaudeau (2007) e de Maingueneau / 469 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

(2008) sobre a possibilidade de o discurso jornalístico propagar uma crença e legitimar determinados grupos. Como resultado, observa-se, ainda que preliminarmente, que no texto são materializadas posições ideológicas frente a um fato jornalístico. Os textos escolhidos trazem no bojo um jogo estratégico na busca de envolver o leitor, criando maior cumplicidade para que ele seja também um co-enunciador, ou seja, apresentam fundamentos que se difundem e se reproduzem na sociedade, instaurando um “conhecimento partilhado” entre os leitores. PO 17B

MACKLÉIA MAYARA OLIVEIRA DA SILVA Universidade Federal do Piauí

COGNIÇÃO E RECATEGORIZAÇÃO NO ORKUT: CONSTRUINDO SENTIDOS SOB VÁRIOS PRISMAS Neste trabalho estudou-se o processo referencial da recategorização no gênero depoimento do Orkut, observando de que forma o objeto de discurso é oriundo de uma construção mental e constituído discursivamente e não uma mera representação da realidade. Nesta investigação, não partimos dos procedimentos de análise de grande parte dos estudos desenvolvidos sobre o objeto da recategorização em que se focaliza a recategorização do referente ao longo de uma determinada cadeia textual, buscando-se, pela identificação das retomadas anafóricas, identificar como este referente está sendo construído. Considerando que o ambiente virtual do Orkut nem sempre nos permite a configuração de uma cadeia textual linear mais propícia a esse tipo de análise, o nosso objetivo foi investigar como, em depoimentos diversos produzidos por enunciadores diferentes (usuários do Orkut), um mesmo referente (dono do orkut) é recategorizado. Para tanto, constituímos um corpus com dez / 470 /


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conjuntos de depoimentos do Orkut que continham tais ocorrências. O que se observou foi que o mesmo objeto de discurso é constituído a partir de negociações feitas entre os usuários, num jogo de vozes que acabam por construir discursivamente tal referente. Observou-se também que poucas ocorrências apresentaram divergências entre as caracterizações feitas pelos usuários, e, ainda que os textos fossem fragmentados e de autorias diferentes, o mesmo objeto de discurso foi construído e recategorizado sem prejudicar a construção de sentidos. As análises foram realizadas à luz dos trabalhos na área da referenciação desenvolvidos pelos teóricos Mondada e Dubois (2003), Koch (2005, 2006), Cavalcante (2000) e Marcuschi (2003); e ainda dos estudos de Miller (1984, 1994) acerca da caracterização dos gêneros digitais e de Bakhtin (1997), no que diz respeito à abordagem da polifonia e do dialogismo. PO 18B

MÁRCIA ANANDA SOARES SIQUEIRA DE SOUSA Universidade Federal do Piaui

A CONSTRUÇÃO DO REFERENTE “PAI” EM REPORTAGENS DA REVISTA VEJA SOBRE O CASO ISABELLA NARDONI O enfoque dos estudos atuais sobre a referência estende-se para a noção de referenciação (MONDADA; DUBOIS, 1995), passando-se ao entendimento de que os referentes ou objetos de discursos são construídos nas e pelas práticas discursivas. E é, nesta perspectiva, que Mondada e Dubois (2003) defendem que as categorias utilizadas para descrever o mundo não podem ser fixadas histórica e normativamente,

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

uma vez que são mutáveis e plurais. Nesse sentido, a categorização propõe-se como algo a ser decidido pelos atores sociais por meio de procedimentos linguisticos e cognitivos. No discurso, um objeto considerado estável pode ser de-categorizado, instabilizado e evoluir através de transformações contextuais e de ponto de vista, como bem asseveram as autoras. Dessa forma, os aspectos linguísticos e cognitivos encontram-se imbricados diretamente nos processos de construção dos objetos de discurso, os quais podem ser categorizados ou recategorizados não apenas conforme os propósitos comunicativos dos interlocutores, mas também levando em conta as condições sociais, culturais e históricas de uso da língua. Nesse contexto, pretendemos, com este estudo, analisar como o referente ou objeto de discurso “pai”, que aparentemente se apresenta como uma categoria estável, é (re)apresentado nos discursos que tematizam sobre a morte de Isabela Nardoni, publicados pela revista Veja em quatro reportagens entre os meses de abril e maio de 2008. Para tanto, conjecturamos a necessidade de recorrer aos conceitos de Modelos Cognitivos e Modelos Culturais propostos pela Semântica Cognitiva (FELTES, 2007), a fim de observarmos como o modelo de “pai” é concebido em nossa sociedade para, então, contrapô-lo às formas como o referente pai é (re)categorizado nos textos analisados. Assim, para esta análise, recorreremos tanto ao aparato teórico da Linguística de Texto quanto ao da Semântica Cognitiva. Na primeira área, trabalharemos com Apothéloz e Reicheler-Beguélin (1995) e Mondada e Dubois (1995), e, na segunda, com Feltes (2007).

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PÔSTERES

PO 19B

MAUREN O’HARRA CAVALCANTE SOUSA; MARIA LIMA DE SANTANA Universidade Federal do Piauí

ANÁLISE DE DISCURSOS E ENUNCIAÇÃO: A PRESENÇA DO ETHOS NO DISCURSO DO PRESIDENCIÁVEL JOSÉ SERRA EM ENTREVISTA À REVISTA VEJA Este artigo tem como objetivo tecer algumas considerações sobre a construção do ethos, partindo de uma reflexão sobre o discurso político na mídia impressa. Com o reconhecimento de que todo enunciado se atrela a instâncias discursivas estabelecidas sob a relação linguagem e poder, esse trabalho se propõe, também, estabelecer um breve diálogo entre alguns teóricos que pensam discurso como uma representação do mundo em atividades de enunciação. Os diálogos compreendem ações leitoras interdisciplinares, focando os estudos de Foucault (2007) Maigueneau,[1984/1998] Ducrot(1987) e Bakhtin (2006), apoiando-se nas reflexões sobre enunciação e discurso. Tomou-se como enfoque o gênero entrevista apresentado no suporte, revista Veja, para comentar aspectos ilustrativos que podem evidenciar, na perspectiva do discurso, em que se entrelaça texto e discurso, a face real de um enunciador. Nesse sentido, propôs-se como metodologia a teoria proposta pelo teórico em evidência. Contudo, dadas às limitações do artigo e a ampla discussão que envolve a teoria em que se baseiam as discussões de Maigueneau, foi necessário se fazer alguns recortes. Porém, como situou-se em diferentes aspectos sob a construção do ethos implícito no discurso, num trecho da entrevista do presidenciável José Serra concedida à revista Veja, acredita-se que / 473 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

esta linha teórica facultará os sentidos que se busca encerrar, no intuito de abrir caminhos para diálogos possíveis a partir da seguinte afirmativa: “eu me preparei a vida inteira para ser presidente”. Deste modo, lançouse de recursos múltiplos semióticos para fundamentar o olhar proposto, objetivando verificar não apenas o que se diz, mas o que se constitui discursivamente, tendo em vista o processo interativo a que se integra na visão interlocutora: uma discursividade. A conclusão a que se chega é que o presidenciável José Serra, enquanto enunciador, ao ser interpelado pela revista, tenta construir uma imagem de si como “salvador” da pátria. PO20B

MARIA LÚCIA GURGEL DA COSTA; JESSIKA KALINNY BATISTA SOBRAL; FERNANDO AUGUSTO PACÍFICO Universidade Federal de Pernambuco

Referenciação e Processos Enunciativos no Discurso de Afásicos Participantes de Grupo de Convivência Nas afasias observamos alterações dos processos lingüísticos, tanto na interpretação, quanto na produção da linguagem, essa perturbação lingüística é decorrente de lesões adquiridas no Sistema Nervoso Central. Objetiva-se analisar os processos referenciais de um grupo de convivência de afásicos e não afásicos. Trata-se de um estudo qualitativo, observacional, longitudinal, descritivo, interpretativo, baseadas nos pressupostos da linha de estudo da análise do discurso. Utilizou-se às transcrições dos encontros semanais de um grupo de convivência, onde participaram afásicos e não afásicos, no período de agosto/2009 a / 474 /


PÔSTERES

janeiro/2010, onde foram abordados vários temas, de interesse comum aos participantes, através de diversas atividades. A concepção discursiva da linguagem é tomada como um processo de interação, do qual participam interlocutores, que assumem a posição de sujeitos e agem no/sobre o mundo, através de interações verbais, usando a linguagem para influenciar o outro e ser por ele influenciado, numa construção conjunta de sentido. Verificou-se a ocorrência dos processos enunciativos de categorização, de atividades de deitização, e mecanismos de estabelecimento, tomada e desenvolvimento de tópico discursivo e conversacional nos discursos entre afásicos e não-afásicos. A (inter) ação dos sujeitos no enunciado projeta para o outro as entrelinhas do dizer, onde o outro passa a se reconhecer nos rastros do primeiro discurso, revelando a importância mútua do emissor, da mensagem, dos marcadores conversacionais, das mensagens subliminares presentes no discurso, do código, da polifonia do discurso, do receptor, e do referente. À proporção que a vivencia entre os sujeitos cresce, cresce também as trocas dialogais. A ideologia, e historicidade dos sujeitos envolvidos no discurso, influencia diretamente na interpretação textual, e mesmo com alguns individuos afetados pela afasia, a interpretação textual não deixou de existir. Utilizando-se de tais recursos os sujeitos afásicos vêm demonstrando tamanha propriedade no que diz respeito à linguagem como ato sócio-cognitivo-interacional, mesmo diante deste quadro patológico.

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RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

PO21B

PALOMA PEREIRA BORBA PEDROSA; HELGA VANESSA ASSUNÇÃO DE SOUZA CÉZAR Universidade Federal de Pernambuco

A MULTIMODALIDADE NA CONSTRUÇÃO DO ÍNDICE DA REVISTA VEJA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA Não há como negar o quanto, na atualidade, a imagem tem sido valorizada enquanto recurso de interação em diversas práticas sociais. É perceptível, nos textos que consumimos diariamente, uma preocupação cada vez maior com o aspecto visual, o que nos faz perceber que o uso de recursos como fotografias, animações, gráficos, tamanhos e formatos variados de letras e a própria disposição do texto em uma página (e demais suportes) não são usados de maneira aleatória ou com fins meramente estéticos. Sendo assim, o contexto sociohistórico transformou substancialmente o processo de produção e recepção de diversos gêneros. Partindo dessa premissa, o nosso trabalho se propõe a analisar diacronicamente o índice da Revista Veja, verificando as mudanças promovidas na constituição deste documento multimodal, a partir da observação da interação entre os elementos linguísticos, paralinguísticos e visuais na construção do sentido. Tomando como referencial teórico os estudos sobre gênero da escola norte-americana da Retórica Social e estudos sobre multimodalidade a partir da perspectiva da Semiótica Social, comparamos o índice da 1ª edição da revista, publicada em 1968, e um índice do ano em curso. Constatamos que a mudança, no que diz respeito ao espaço e à configuração do gênero na revista, ocorre em vários aspectos: na primeira / 476 /


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edição, o índice ocupava apenas um terço da página e era visualmente pouco informativo, uma vez que verifica-se a escassez de elementos paralinguísticos e a ausência de elementos visuais. Já na edição recente, o índice ocupa praticamente a página inteira e mostra uma riqueza de elementos paralinguísticos, como fontes de diferentes tipos e cores, e de elementos visuais, como o uso bastante representativo de fotografias. Concluímos, também, que a mudança referente ao gênero não se restringe à sua constituição visual, mas também no que diz respeito à função que o mesmo desempenha socialmente. PO 22B

PLINIO PEREIRA FILHO Universidade Federal da Paraíba

ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS EM PROPAGANDAS DE CERVEJAS: PRAZER E CORPO A linguagem publicitária que tanto persuadi os consumidores também é responsável, através diferentes marcas discursivas, pela criação de estereótipos que se traduzem em piadas, preconceitos, entre outras formas de indiferença. A presente pesquisa objetivou fazer uma analise da formação discursiva e dos efeitos de sentido empregados pelos textos publicitários, em espacial nas propagandas de cerveja (violência simbólica ao corpo feminino). Com base na Analise do Discurso Francesa, teorizou-se através dos estudos de Michel Foucault. A pesquisa partiu da seleção de folders publicitários da propaganda de cerveja, onde foram evidenciados alguns critérios: produto, empresa/marca, ambiente, personagens, descrição do comercial, linguagem (discurso). Optou-se pela análise em 6 (seis) marcas de cerveja, sendo destas, 4 (quatro) marcas nacionais e 2(duas) estrangeiras. Após rigorosa analise dos layouts selecionados, percebeu/ 477 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

se que: em todas as marcas é explicita a exibição do corpo feminino, incentivado pela construção do imaginário masculino em busca do prazer, além de sua satisfação a partir do consumo de cerveja. Percebem-se em ambas as marcas estrangeiras (Michelob e Saint Pauli) que, a mulher é caracterizada pela metonímia (produto pela mulher = objeto de consumo), onde seu corpo é delineado como objeto de consumo (preenchido com o volume de cerveja). Nos critérios personagens e ambiente, todas as marcas nacionais (Skol, Antártica, Brahma e Sol) apresentam sempre mulheres loiras, bonitas e corpos esculturais, mostrando-as sempre no Bar, que é o “lugar comum” freqüentado pelo publico masculino. A linguagem é sempre apelativa nas marcas nacionais. Percebemos que é desta forma que a grande concorrência entre as empresas de bebida (cerveja) demonstra através de seus respectivos produtos, as marcas de um discurso que gera simbolicamente um reducionismo ao corpo feminino. Tais campanhas publicitárias difundem padrões de comportamento, estereótipos, ideais da representação de mulher como prestadora de serviço sexual e intelectualmente inferior ao homem. PO 23B

RACHEL MENEZES FREITAS Universidade Federal de Pernambuco

O PROCESSO DE REFERENCIAÇÃO EM TEXTOS INJUNTIVOS Este trabalho analisa o processo de condução referencial e a construção de sentido em receitas culinárias e bulas de remédio; investigando, portanto, como as estratégias de continuidade referencial contribuem para a construção da coerência em textos injuntivos escritos. A premissa desse trabalho é que as referências textuais são construídas no processo / 478 /


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discursivo e que muitos referentes são objetos de discurso (Mondada (1994), apud Marcuschi (2001)), construídos no modelo textual. A análise será dedicada aos casos de progressão referencial direta e não-direta. A relevância desta pesquisa consiste em esclarecer os procedimentos de textualização peculiares a esse gênero. A metodologia usada, neste estudo, é de natureza qualitativa e interpretativa. Analisamos as estratégias de referenciação em 25 receitas culinárias; e, 25 bulas de remédio. Um dos aspectos centrais deste gênero textual é a constatação da estratégia de repetição, tendo em vista não ser adequado, nestes textos, o uso de sinônimos ou substituições de outros tipos que podem levar equívocos. Os resultados observados na receita culinária é que a coerência textual se dá, em pelo menos, metade dos casos de anáfora, com no mínimo de, 20% a 30% de anáforas indiretas. Os resultados das anáforas nas bulas de remédio estão sendo revisitados em nossas pesquisas. PO 24B

SANDRA CABRAL LOPES Universidade Federal da Paraíba

MULHERES RUMO À PRESIDÊNCIA: DIALOGISMO E CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS PARA A CANDIDATURA FEMININA Atualmente, é cada vez mais recorrente a presença de mulheres na política brasileira. Isso demonstra o avanço que os movimentos feministas obtiveram ao longo dos anos para que as mulheres conquistassem espaços marcados historicamente pela presença masculina. Entre essas várias conquistas destaca-se, recentemente, a candidatura de mulheres ao cargo de presidente no Brasil. No entanto, alguns estudos têm mostrado que, enquanto a presença feminina em cargos de liderança / 479 /


RESUMOS / III Colóquio Aled Brasil

tem crescido, os preconceitos e estereótipos de gênero permanecem atuantes. Com base nisso, o presente trabalho pretende, através de uma reportagem extraída da revista Veja (21 de jan. 2009), investigar como se dá a construção de sentidos com relação à candidatura presidencial feminina. Como pressuposto teórico-metodológico será utilizada a Análise Dialógica do Discurso, tal como proposta por Bakhtin (2002) e Bakhtin/Volochinov (1997), além dos estudos sobre heterogeneidade enunciativa, articulados por Authier-Revuz (1998). Esses estudos são relevantes por mostrarem a natureza dialógica constitutiva da linguagem, como também ressaltarem o elo formado entre os enunciados na cadeia da comunicação verbal. Através dos resultados obtidos na reportagem analisada, constata-se a presença de vozes advindas de outros campos discursivos (como, por exemplo, discursos sexista, estético, cientifico, etc.). Essa miscigenação de vozes acaba suscitando determinados efeitos de sentido, os quais confirmam preconceitos associados a uma visão negativa da candidatura feminina. PO 25B

TAYANA DIAS DE MENEZES Universidade Federal de Pernambuco

AS REVISTAS FEMININAS E A IDENTIDADE SOCIAL DA MULHER Esta pesquisa está inserida na Análise Sócio-Pragmática do Discurso. Seu objetivo primeiro é observar como a identidade da mulher é (re) construída pelas revistas que são direcionadas para o público feminino. O corpus da pesquisa foi composto pelas revistas Claudia e a Gloss, ambas do ano de 2009. A pesquisa trabalha com o conceito de identidade, não como essência, ou um fato da natureza, mas como construções sociais / 480 /


PÔSTERES

composta por elementos diversos ou atributos emergentes da interação social entre o sujeito e o mundo, incluem dimensões como papéis sociais (ex. professor, médico, etc.), relações sociais (ex. parentesco, amizade, etc.), identidade grupal (ex. classe, geração, etc.) e rank (ex. pessoas com ou sem título, etc.). A pesquisa baseia-se especialmente em Moita Lopes (2003), Stuart Hall (2006) e Bauman (2005). O tema é apropriado porque a configuração política, cultural, econômica da sociedade mundial está em transformação, e isso afeta a identidade do sujeito social. Deste modo as velhas identidades, que por um bom tempo foram o sustentáculo da estabilidade da organização social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades. Foram, também, usados conceitos da Análise de Discurso, principalmente em Fairclough (2001), motivando a reflexão entre a relação do discurso e da identidade do sujeito social – já que o discurso é o lugar onde a identidade é refletida e representada.

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