Akrópolis

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ARQUITETURA, ARTE E HISTÓRIA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

EDIÇÃO ÚNICA NOVEMBRO 2015

AKRÓPOLIS SKARA BRAE ALDEIA NEOLÍTICA É REFERÊNCIA DE ARQUITETURA VERNACULAR

STONEHENGE AKRÓPOLIS | 1

CONSTRUÇÕES MEGALÍTICAS E A PAISAGEM COMO FORMA DE EXPRESSÃO


2 | AKRÓPOLIS


REVISTA AKRÓPOLIS

Dezembro de 2015 Edição Única Departamento de Teoria e História em Arquitetura e Urbanismo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Brasília

AKRÓPOLIS | 3


ARQUITETURA, ARTE E HISTÓRIA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

“ CADA ÉPOCA É DEFINIDA PELO QUE APRESENTA DE NOVO, DE ESPECIFICAMENTE SEU. PODE NÃO SER UM ALTO PENSAMENTO FILOSÓFICO, UMA GRANDE REFORMA MORAL, UMA ARTE REQUINTADA, UMA CIÊNCIA GENEROSA. MAS HÁ-DE SER A DÁDIVA DE QUALQUER UMA DESSAS MANIFESTAÇÕES HUMANAS, OU TODAS, NUMA CONCEPÇÃO INTEIRAMENTE INÉDITA, ORIGINAL, INCONCEBÍVEL NOUTRO TEMPO DA HISTÓRIA.

“ 4 | AKRÓPOLIS

MIGUEL TORGA

Alexandre Duarte

Karolyne Godoy

Amanda Sousa

Larissa Ferreira

Cleiton do Carmo

Matheus Oliveira


EDITORIAL A revista Akrópolis nesceu no cur-

os edifícios públicos na arquitetu-

so de Arquitetura e Urbanismo da

ra clássica, seguido por um artigo

Universidade de Brasília/UnB como

sobre a cidade de Jerusalém e as

parte dos requisitos para a con-

transformações urbanas mediante

clusão da disciplina de História da

a influência de diferentes povos.

Arquitetura e da Arte I, sob a coor-

Karolyne Godoy e Matheus Olivei-

denação da professora Cecília Sá e

ra escrevem sobre Stonehenge,

da estagiária docente Sued Ferreira.

trazendo a discussão sobre as con-

As acrópoles da Antiga Grécia

struções megalíticas e a paisagem

eram, como o próprio nome diz,

como forma de expressão huma-

“cidades altas”; construídas no pon-

na. Na seção Arte, abrangeu-se o

to mais elevado das cidades, elas

tema sobre pinturas cerâmicas em

serviam originalmente como pro-

vasos gregos, seguido pelas cat-

teção contra invasores de cidades

acumbas cristãs e a simbologia

inimigas, e quase sempre eram cer-

litúrgica nos primeiros séculos do

cadas por muralhas. Com o tempo,

cristianismo na seção Arquitetura.

passaram a servir como sedes ad-

Por fim, Amanda Souza e Larissa

ministrativas civis ou religiosas. Da

Ferreira desbravam os mistérios

mesma forma, esta revista pretende

sobre a cidade Skara Brae e sua

ser uma sede, ou um repositório

adaptação à natureza. Na seção

de relatos sobre a arte e arqui-

cidade, a dupla compara os primei-

teura do mundo antigo, e no caso

ros jogos em Olímpia com o grande

desta edição, abarcando do perío-

evento de Jogos Olímpicos que

do neolítico até o período gótico.

temos atualmente, e discorre so-

Divididos nas secões de Arte, Ar-

bre a importância dos mosaicos

quitetura e Cidade, trazemos artigos

bizantinos na igreja de Santa Sofia.

que abordam esse período, cada

Também contamos com a resenha

qual com uma abordagem distinta.

crítica

Alexandre Duarte e Cleiton do Car-

struindo

mo trazem à tona uma discussão

cia.

do

sobre o feminino e a religião através

nel,

abordando

da análise das esculturas de Vênus

clássica da Grécia Antiga como

de Willendorf e Dolni Vestonice.

um exemplo de produção artística.

do

documentário um canal

Império: History a

ConGréChan-

linguagem

Abrangendo o tema Arquitetura, a dupla discorre sobre as Stoas e

Equipe Editorial AKRÓPOLIS | 5


SUMÁRIO

ENTENDENDO O FEMININO E A RELIGIÃO ATRAVÉS DAS ESCULTURAS E DA ARTE

VÊNUS DE WILLENDORF E DOLNI VESNONICE

STONEHENGE

10-13 CONSTRUÇÕES MEGALÍTICAS E A PAISAGEM COMO FORMA DE EXPRESSÃO ARTE - Vênus de Willendorf e Donis Vestonice

6

ARQUITETURA - Stonehenge

10

CIDADE - Skara Brae

14

ARTE - Vasos Gregos

18

RESENHA - Construindo um império: Grécia

23

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06-09


Sua importância na Basílica de Santa Sofia.

MOSAICOS BIZANTINOS

32-35

CONSTRUINDO UM IMPÉRIO: GRÉCIA

23

ARQUITETURA - Stoas

24

CIDADE - Olímpia

29

ARTE - Mosaicos Bizantinos

32

ARQUITETURA - Catacumbas Cristãs

36

CIDADE - Jerusalém

39

Construindo um Império: Grécia, é um documentário publicado no canal History Channnel que fala sobre como era a organização dessa civilização antiga na arte da arquitetura e construção. O documentário também destaca sua política, religião, filosofia, sua cultura em geral que vai influenciar muitas civilizações e que por esse motivo é conhecida como o berço da civilização ocidental.

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ARTE

ARQUITETURA, ARTE E HISTÓRIA

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA TEXTO POR: ALEXANDRE DUARTE & CLEITON DO CARMO

VÊNUS DE WILLENDORF E DONIS VESTONICE

ENTENDENDO O FEMININO E A RELIGIÃO ATRAVÉS DAS ESCULTURAS E DA ARTE O artigo foi elaborado de modo a abordar a inserção da mulher na sociedade no período pré-histórico, de acordo com a análise de manifestações artísticas, no caso as esculturas das Vênus encontradas desse período. Como a figura da mulher era vista diante da sociedade, em contraponto à posição da representação feminina em diversos períodos históricos. Ao propor o tema, abre-se um leque de informações que só se tornam possíveis ao analisar o contexto do qual as obras de arte pertenciam.

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Além de serem arquétipos da representação da mulher da época, as Vênus não deixam de exercer um marcante contraponto ao que, nos dias atuais, temos como arquétipo de beleza, prosperidade e estética.

Desde os mais antigos vestígios da representação

femininas, na tentativa de enaltecer a fertilidade e

feminina, datada do período Paleolítico, por volta de

manutenção da vida. Ela foi esculpida em pedra cal-

29.000 a.C. e 25.000 a.C o papel da mulher teve in-

cário oolítico e colorida com ocre vermelho há 30 ou

úmeras alterações em relação ao nível de liderança que

25 mil anos a.C. A pequena estatueta, também cham-

sua figura tinha em relação à sociedade. Devido a es-

ada de Mulher de Willendorf com aproximadamente

tas alterações, a forma que a mesma é representada na

11,1 centímetros de altura foi encontrada em um sítio

arte foi mudando de igual modo, sendo que os primei-

arqueológico do paleolítico, perto de Willendorf, na

ros exemplos destas representações correspondem

Áustria. Foi desenterrada em 8 de Agosto de 1908

ao período paleolítico da nossa história. Para análise,

pelo arqueólogo Josef Szombathy. A estatueta possui

foram usadas duas pequenas estatuetas do período an-

grandes seios, ventre exagerado e a presença da vulva,

teriormente citado, sendo elas a Vênus de Willendorf e

sendo que o mais interessante é o fato dos demais el-

a Vênus de Dolni Vestonice, dois dos objetos artísticos

ementos corporais serem deixados em segundo plano.

mais antigos encontrados.

(WITCOMBE, Christopher, 2003, pp. 4,5)

Na sociedade paleolítica, a mulher exercia um papel

A Vênus de Dolni de Vestonice, embora tenha pe-

importante e não menos favorecido que o dos homens,

quenas diferenças em relação à Vênus de Willendorf,

suas funções inclusive religiosas e culturais eram super-

acaba por manter as mesmas características, mesmo

valorizados, pois os principais aspectos que eram res-

sendo feita de materiais diferentes e sendo encontrada

saltados na sua representação eram justamente os que

em uma outra localidade. Datada de entre 29.000 a.C.

davam a ideia delas serem a representante da mãe ter-

e 25.000 a.C. possui também, cerca de 11,1 centímetros

ra no meio humano. “os mitos primordiais contam que

de altura, sendo conhecida como talvez a primeira obra

os humanos foram gerados pela terra, da analogia en-

feita de cerâmica. Essa vênus foi encontrada no sitio

tre as profundezas da terra e as cavernas, com o útero

arqueológico de Dolni Vestonice paleolítico situado na

e o ventre feminino, como se a terra fosse a verdadeira

aldeia homônima (a sul de Brno, na República Tcheca).

geradora, nutry, e no caso a mulher sua representante.”

(BRÉZILLON, Michel. 1969, pp 86)

(MOURA, 2010, PP.2).

As esculturas marcam um ponto fundamental na

Na Vênus de Willendorf, por exemplo, é possível no-

história, uma vez que abrem, na maioria das vezes um

tar que ao ser esculpida, foram considerados como el-

leque de descobertas sobre cultura, religião, relações

ementos mais importantes, as partes exclusivamente

sociais dentre outras vertentes antropológicas assim

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como as questões de cotidiano e hábitos de determi-

seja, possivelmente, as vênus serviam como uma espé-

nada sociedade. Ao aprofundar-se nas escavações do

cie de amuleto, ou talismã que concediam fertilidade,

sitio de Dolni Vestonice, foram descobertas inúmeras

e eram símbolos de prosperidade, sendo pelo taman-

outras obras de arte que outrora estavam escondidas,

ho, confortável para transportá-la na mão, e mantê-las

dentre elas estão ursos, mamutes, cavalos, raposas, ri-

consigo sempre que se quisesse.

nocerontes, mesmo uma coruja; além de outras figuras

Entretanto estas análises acabam por mostrar, como

femininas e mais de 2000 bolas de argila esperando

a arte pode ser usada como instrumento de repre-

serem moldadas.( RIPOLL PERELLÓ, Eduardo, 1989, p.

sentação do real e ao mesmo tempo inserir signos e

98). Ao analisar a descoberta da obra, Klima afirma:

características que façam com que o observador tenha

uma visão diferente, do que seria esperado. Ao ser inserido o patriarcado, a mulher deixa de ser a “fonte” da

Em Dolní Vestonice foi descoberta a moradia de um artista.

vida e passa a exercer um “papel secundário” na sus-

Esta ficava isolada do acampamento principal, e era carac-

citação de descendência, uma vez que os bens outrora

terizada por apresentar uma forma construtiva diferente. Nas

adquiridos ou conquistados passam a estar sob o lega-

cinzas do lar central - em parte abobadado a jeito de forno

do do representante masculino e ao surgir a vigência

- encontraram-se mais de 2200 pequenas obras plásticas e

e necessidade de continuidade, é este quem poderia

fragmentos de obras de barro cozido. Por sua vez, a existên-

confirmar a posse da herança, removendo a possibili-

cia de fragmentos de flautas indica que também a própria

dade de desconstrução do que houvera sido edificado

cabana era o lugar de celebração de cerimônias mágicas e

pelo genitor, caso não se houvesse certeza de quem

onde o criador dos objetos de arte, um sábio mago ou sac-

fosse. “Desta forma fica fácil entender, sobre o porquê

erdote xamã, tinha a sua morada. (KLÍMA, Bohuslav, 1963)

das deusas femininas perderem prestígio, sendo que ao mesmo tempo a cultura patriarcal começa a tomar forma.” (PERUCCI, 2006, PP. 35). Aqui, pode ser visto

Ao analisar ambas as Vênus e sua composição estru-

também, que com o advento do patriarcado através da

tural, percebe-se, através do formato das pernas e dos

mudança dos padrões religiosos existentes, fomenta a

minúsculos, ou até mesmo inexistentes pés, que essas

reinterpretação da figura bondosa de mãe terra, para

pequenas esculturas não eram feitas para ficar em pé e

uma mais sombria, representada pela serpente. “E foi

serem observadas, ou adoradas em algum tipo de tem-

justamente a serpente a vítima de todas as grandes

plo, mas possivelmente foram feitas para que houvesse

batalhas das novas divindades masculinas.” (PERUCCI,

uma interação dinâmica nas mãos do seu portador, ou

2006, pp. 32).

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o momento da história em que tal sociedade subsistia; religiosa, por serem os artefatos manufaturados também símbolos religiosos e

de deificações,

que por vezes eram usados em rituais e celebrações. E também culturalmente: Ao analisar o contexto de cada obra artística, é possível compreender melhor sobre os hábitos e costumes da época, tipos de alimentação, vestimenta, e até mesmo, nas relações sociais, revelando o matrimônio, matriarcado e outros tipos de relações familiares. Além de serem arquétipos da representação da mulher da época, não deixam de A metáfora do feminino passa a impregnar o campo da

exercer, no caso das vênus, um marcante contraponto

arte. Signos e subjetividades que permeiam o período

ao que nos dias atuais é arquétipo de beleza, prosperi-

arcaico, principalmente no que tange aos sentimentos

dade e estética.

passam a ser representados.

Questões como fecun-

didade e gestação são atenuadas nos períodos clássico

Referências:

e renascentista (MOURA, 2010, PP. 04). Já com a so-

MOURA, Regina. Iconografias do feminino: Mitos, arte

ciedade encaminhando para ser essencialmente patri-

e outras representações. No 10, abril/2010

arcal, começa a elaboração de símbolos e signos que

PERUCCI, Raoni. Esporte e religião no imaginário da

ressaltam uma possível fragilidade do ser feminino ou

Grécia antiga. São Paulo, 2006

em outros casos carregam a imagem de profano. “Na

RIPOLL PERELLÓ, Eduardo. Historia del arte (n.º 3: El

antiguidade grega e romana, a mulher vai ser associ-

arte paleolítico), Madrid, 1989

ada à beleza e não tanto a fecundidade, a arte exalta

WITCOMBE, Christopher L.C.E. Venus of Willendorf.

o arquétipo venusiano, a forma física, principalmente a

2003.

partir de Praxíteles e sua obra Afrodite, quando o corpo feminino tornasse um padrão da arte, na busca da beleza ideal.” (MOURA, 2010, PP. 04) Na idade média, portanto, a representação da mulher passará a ser vista como instrumento de escárnio e perversão, principalmente se representada de forma natural ou, porque não dizer, nua, aludindo à sensualidade e ao pecado. Desse modo deixa de ser representada de tal modo seguindo um padrão imposto pela cultura vigente. “A arte medieval vai privilegiar os valores estéticos impostos pela religião católica, que repudia qualquer forma de representação da beleza feminina, considerada então encarnação do mal”; (MOURA, 2010, PP. 04). É possível, por fim observar que as representações pré-históricas trazem consigo não apenas uma denotação artística, mas também social, ao representar

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ARQUITETURA

ARQUITETURA, ARTE E HISTÓRIA

TEXTO POR: KAROLYNE GODOY & MATHEUS OLIVEIRA

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

STONEHENGE Este artigo se propõe a compreender como as construções megalíticas foram desenvolvidas como a primeira forma de arquitetura dos homens no período Neolítico. Tomando como exemplo o Stonehenge, analisamos como os povos antigos utilizavam de intervenções na paisagem para expressar e transmitir suas crenças e costumes para as gerações vindouras, ao mesmo tempo demarcando um novo estágio para o homem não mais subordinado à natureza.

CONSTRUÇÕES MEGALÍTICAS E A PAISAGEM COMO FORMA DE EXPRESSÃO HUMANA

Durante o período Neolítico, há cerca de 10.000 anos, a ocupação humana pela Terra sofreu uma grande expansão graças ao desenvolvimento de novos métodos de adaptação. Diferente dos hominídeos do período Paleolítico que adaptavam sua vida ao ambiente, os

ilidade de controlar o ambiente em que se encontra,

homens do Neolítico promoveram uma mudança de

colocando-o em posição de dominância. A delimitação

contexto, e as modificações no meio em que viviam

dos espaços de uso torna o homem sedentário, incenti-

passaram a ser peça fundamental para o desenvolvi-

vando a construção de habitações de caráter mais fixo.

mento humano. O advento da agricultura, por exemplo,

Surge assim a “arquitetura em sentido próprio, como a

provocou consequências relevantes na relação homem

capacidade de conhecer e modelar o território.” (Ibid.,

– ambiente: “o homem determina um novo ambiente

pp. 43).

artificial – à sua medida e no seu interesse – onde pode

As primeiras manifestações arquitetônicas do homem

fazer crescer e transformar as espécies vegetais e ani-

no período Neolítico podem ser vistas como uma forma

mais. É violentamente posta em crise uma visão que até

de afirmar esse controle, modificando a paisagem com

aqui tinha caracterizado a história da humanidade: a in-

materiais da natureza, porém imprimindo um caráter

separabilidade do mundo natural e animal.” (BENEVO-

intelectual que o distingue de seus ancestrais. As filei-

LO, ALBRECHT, 2002, pp. 42).

ras de pedras verticais retilíneas ou alinhadas em círcu-

A partir desse momento é dado ao homem a possib-

lo são elementos que marcam a identidade de um ser

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em três distintas fases: a primeira sendo uma estrutura de madeira em uma vala circular de 97m de diâmetro e dispondo de uma única entrada, a segunda composta por dois círculos de pedras azuis oriundas do País de Gales e um círculo externo formado por 35 pedras, e a terceira constituindo o atual formato do santuário, tendo os megálitos erguidos em um círculo interno e outras dezenove pedras colocadas em forma de ferradura. Essa necessidade de troca de materiais ao longo das três fases citadas permite-nos perceber aqui o interesse em transformar esse espaço projetado de forma que perdurasse ao longo do tempo, usando de materiais não deterioráveis. Desta forma, a troca da estrutura de madeira para pedras faz os pesquisadores conjecturarem a importância que os povos que ergueram o

go iremos fazer uma breve análise de um desses monumentos megalíticos: o Stonehenge, abordando como a sua implantação modifica a paisagem para transmitir significados e atua como demarcação de posse de lugar. Sendo uma das primeiras expressões da vontade do homem de organizar os espaços e lugares não apenas

Stonehenge buscavam em demonstrar a posse da terra para além de suas gerações como um monumento de significado a seus contemporâneos, e a partir daí nos ajuda a compreender os sentidos e necessidades desses megálitos, para além de suposições de caráter mais místico. De acordo com Benevolo e Albrecht, algumas possíveis respostas emergem a partir dessa abordagem:

fisicamente, como também de forma simbólica, a cultura megalítica se desenvolveu ao mesmo tempo em diferentes sítios pela Europa Ocidental desde a Península Ibérica até os países nórdicos, pelo norte da África até a África Central, na Bolívia e no Brasil. Um monumento megalítico, do grego mega, megalo, grande, e lithos, pedra, caracteriza uma construção monumental baseada em grandes blocos de pedras. Stonehenge é considerada a mais complexa e característica obra megalítica construída pelo homem, sendo formado por um agrupamento de menires e dólmens organizados em círculo. Essa formação, designada cromeleque, ou cromlech, costuma ser associada ao culto dos astros e da natureza, como um local de rituais religiosos e de encontro tribal. Localizada no condado de Wiltshire, ao sul da Inglaterra, Stonehenge foi construída por volta de 2.500 a.C.

Provavelmente, nas primeiras sociedades agrícolas era importante estabelecer e reforçar a coesão social, relativamente aos comportamentos indivíduais. Talvez se deva ter em consideração as fases imutáveis do trabalho agrícola – a sementeira, a colheita, etc. –, que desde sempre foram motivo de ritos e comemorações sazonais, relacionadas com o estudo das fases dos astros, e por isso eram necessários os observatórios em pedra, não deterioráveis. Talvez que outra consequência da economia agrícola fosse um novo sentido da morte como uma continuação natural da vida, sendo previsto deixar sinais permanentes para manifestar às gerações dos vivos a presença perpetua dos defuntos, sepultados nas proximidades e, em alguns casos, nas próprias habitações. (2002, pp.53-4)

superior, não mais subordinado à natureza. Nesse arti-

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Stonehenge é considerada a mais complexa e característica obra megalítica construída pelo homem, sendo formado por um agrupamento de menires e dólmens organizados em círculo. Essa formação, designada cromeleque, costuma ser associada ao culto dos astros e da natureza, como um local de rituais religiosos e de encontro tribal.

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Portanto, os autores definem que com a sedentarização humana, foi necessário uma forma de medir cronologicamente as temporadas e mudanças sazonais para demarcar as fases de sua produção agrícola e com isso fortalecer a coesão social dos grupos que também aproveitaram a tomada de posse da terra para constituir seus ritos de sepultamento para seus ancestrais. Essa ideia é reforçada em A Cidade Antiga de Fustel de Coulanges, que se aprofundou na história da raça indo-européia e definiu a importância dos ritos de sepultamento dos povos antigos e como essas crenças deram lugar a regras de conduta (pp. 11). Para Coulanges, essa religião dos mortos é a mais antiga existente entre os homens e parece ter sido essa a origem do sentimento religioso e talvez da ideia de sobrenatural, cujos dogmas logo se reduziram a nada, mas cujos ritos duraram até a prevalência do Cristianismo. Francesco Careri também reforça essa função dos megálitos, dizendo que “as zonas em que se construíam as obras megalíticas eram, portanto, espécies de santuários aonde a população dos arredores se deslocavam por ocasião das festividades, mas também lugares de pausa ao longo dos grandes caminhos de trânsito [...]”. (2013, pp.54). Evidencia-se a importância de construções de forma e dimensões excepcionais para uma sociedade desprovida de escrita e dependente da cultura oral e de mem-

sibilidades que se abrem quando considerados outros

orização, que tinham como objetivo materializar algu-

aspectos como a cultura, religião, mitos, ritos, super-

mas expressões perenes da sua permanência e duração

stições, politica, que logo se ampliam ainda mais ao se

naquele solo. Essas construções deveriam resistir ao

considerar o lugar e o tempo que eles foram ou são

longo dos tempos e expressar através da paisagem e

aplicados.

da estabilidade solene dessa natureza – no caso através das pedras – um símbolo orgulhoso da presença e do

Referências:

legado humano.

BENEVOLO, L. ALBRECHT, B. As origens da arquitec-

Portanto, podemos compreender como Stonehenge

tura. Lisboa, Edições 70: 2002.

atua, no sentido de percebê-lo como uma paisagem

CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como

com significado e expressão que foi criada para trans-

prática estética. Barcelona, Ed. Gustavo Gili: 2013.

mitir uma mensagem, tal qual uma forma de linguagem

COULANGES, Fustel. A Cidade Antiga. São Paulo,

entre os hominídeos do neolítico. E assim como existem

EDAMERIS: 1961, versão eBooksBrasil.

incontáveis possibilidades de linguagem e expressão,

PEARSON, Mike P. Stonehenge: exploring the greatest

na paisagem acontece o mesmo; existem muitas pos-

Stone Age mystery. London, Simon & Schuster: 2011

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Este artigo se propõe a compreender sobre a descoberta da cidade neolítica, sua localização e possíveis formas das configurações de suas residências. Tomando como exemplo a Skara Brae, analisamos como seus habitantes utilizavam da natureza para se protegerem das intemperes além das habitações que se mimetiza na paisagem, seus utensílios e estudos da área.

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A ADAPTAÇÃO À NATUREZA


CIDADE

TEXTO POR AMANDA SOUZA & LARISSA FERREIRA

SKARA BRAE Skara Brae foi uma pequena aldeia neolítica que se

agradável sensação de conforto, porém, a quantidade

desenvolveu durante os anos de 3200 a.C. a 2200 a.C.

de ventos no local é excessiva, os ventos são fortes e

Sua localização se encontra ao lado da Baía de Skail.

chegam a altas velocidades. E com uma dessas fortes

A descoberta da aldeia apenas ocorreu em 1850, por

ventanias, unida a uma tempestade, acidentalmente

motivos acidentais.

houve a descoberta da aldeia neolítica.

Skara Brae está fixada mais precisamente no arquipéla-

A tempestade auxiliou de maneira indireta a revelação

go de Órcades, região formada por volta de 70 ilhas,

de uma área que até então estava coberta de terra e

que recobre aproximadamente uma área de 900 met-

de peles de animais, materiais que protegeram a al-

ros quadrados na região ao norte da Escócia. O seu

deia. Nesta época, a região pertencia ao conde William

clima é temperado e bastante influenciado pelo mar,

Watt de Skail, que após a esse acontecimento obteve

assim esse arquipélago recebe ventos úmidos vindos

curiosidade do que havia em sua propriedade, assim

principalmente do córrego do Golfo, que dão lhe uma

se iniciaram as investigações na área misteriosa. As in-

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vestigações se prolongaram até meados de 1868, ela foi

As casas eram interligadas entre si por corredores, sete

abandonada até outra forte tempestade de 1925 que

delas apresentavam o mesmo desenho interno, ou seja,

encobriu mais casas. As escavações ocorrem no local

uma sala de formato quadrado com um grande espaço,

permanece ainda aos atuais dias.

na área central uma lareira e um amplo espaço de ar-

Construída ao alto do monte Orkney de maneira neg-

mazenamento que foi fornecido por armários construí-

ativa, ou seja, a pequena vila se adaptava à topografia.

dos nas paredes e as casas tinham apenas um quarto.

As investigações obtiveram o seu início em 1850, nela

E uma curiosidade é que numa extremidade se encon-

foram desenterradas quatro das habitações, apenas a

trava o que se chama de coração da aldeia, a oitava

metade das oito existentes. As edificações estavam in-

casa, que era uma área sem camas e moveis que possui

tactas, mesmo apesar de terem sido habitadas a quase

suposições de que era destinada para trabalhos manu-

5000 anos atrás. Tal conservação se dá pelo material

ais.

utilizado em sua montagem, a pedra.

Além de pedras, se repara que existe o uso de ossos

A pedra teve o seu uso em quase toda a formação de

de baleias na configuração das casas, os ossos serviam

Skara Brae. Elas eram utilizadas para a construção de

para a sustentação dos edifícios, eles eram colocados

paredes (que eram montadas por sobreposição), de

como pilares para suportarem os telhados, telhados im-

utensílios domésticos, de móveis - como, por exemplo,

permeáveis que se constituíam de pele de animais.

penteadeiras e cômodas, além das camas em que os

Na aldeia não foi encontrado nenhuma evidência de ar-

habitantes posicionavam ao lado de lareiras, um fato in-

mas, fato que se faz pensar que de era um povo pacif-

teressante que cria a hipótese de que o lado esquerdo

ico. Além disso, era um povo completamente ligado à

que era menor poderia ser da mulher, já o lado direito

natureza, que sabia usar e identificar as melhores ma-

era destinado a cama do homem, por ser maior (há out-

neiras de se viver bem a ela.

ras hipóteses) – , os artefatos eram ricos e esculpidos

Esse povo viveu a era neolítica ou também chamada de

cuidadosamente, neles também se incluíam dados de

Idade da Pedra Polida (de aproximadamente 10.000 a.

jogos, ferramentas, cerâmicas e joias.

C. a 5.000 a.C.), tempo em que as coletas e as caças se

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tornaram complicadas, o que levou ao sedentarismo.

sequentemente causando efeitos negativos sem limite.

Com o sedentarismo o homem passou a aprender a li-

Sabemos que são épocas distantes e que existe várias

dar com os animais e principalmente com os recursos

alterações do tempo neolítico aos presentes dias, mas

naturais que se encontravam ao redor.

se analisarmos a forma que encaixavam as suas hab-

Outro fato é que ao diminuir o nomadismo o ser hu-

itações e as ligações construídas entre elas e o detal-

mano empeçou a formar aglomerações, como Skara Brae; aldeia que avistamos todas essas características

do

homem

neolítico. Ela gerava uma

Os habitantes de Skara Brae souberam conservar e não abusaram de seus recursos, diferente da sociedade moderna que usufrui de uma maneira

pequena comunidade que

desenfreada, consequentemente causando efei-

auxiliada com a técnica

tos negativos sem limite.

ponto

específico,

com-

passaram a viver em um

he de que a natureza não deve ser excluída, todavia, deve ser incorporada aos nossos planos e devemos resgatar esse pensamento responsável. Referências http://www.brasilescola.

preendendo a natureza e se protegendo dela e com

com/historiag/neolitico.htm 20:07hrs 24/9/2015

ela. Os neolíticos avançaram nos seus conhecimentos,

http:///pt.wikibooks.org/wiki/Civilizações_da_An-

adaptando a um especifico espaço.

tiguidade/O_homem_sedentário 20:25hrs 24/9/2015

A pequena vila é referência ao uso sábio da natureza

http://www.historiazine.com/2011/07/a-revolucao-ne-

para os dias de hoje. Atualmente o ser humano está

olitica-2-parte.html

causando um desequilíbrio ao meio ambiente. O

http://www.webartigos.com/arti-

homem evoluiu, porém, em muitos momentos agredin-

gos/o-homem-e-a-natureza-uma-relacao-desarmoni-

do os elementos naturais do seu habitat.

ca/12994/

Os habitantes de Skara Brae souberam conservar e

http://www.domtotal.com/direito/pagina/detal-

não abusaram de seus recursos, diferente da sociedade

he/23711/a-relacao-homem-meio-ambiente-desen-

moderna que usufrui de uma maneira desenfreada, con-

volvimento-e-o-papel-do-direito-ambiental http://www.notapositiva.com/trab_professores/textos_apoio/historia/dopaleoaoneol.htm http://edukavita.blogspot.com.br/2013/09/skara-brae-aldeia-pre-historica-na.html#sthash. D4R09Zdt.dpuf http://edukavita.blogspot.com.br/2013/09/skara-brae-aldeia-pre-historica-na.html www.epochtimes.com.br/skara-brae-uma-aldeia-pre-historica-na-escocia Simpson, R. Ian; Guttmann, Erika B.; Cluett, Jonathan; Shepherd, Alexandra Geoarqueologia de 2006, vol.21 (3), pp.221-235 [Periódico revisado POR pares]

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ARTE

VASOS GREGOS REPRESENTAÇÃO E TÉCNICAS DE PINTURA EM CERÂMICA NA GRÉCIA ANTIGA

TEXTO POR KAROLYNE GODOY & MATHEUS OLIVEIRA

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O artigo se propõe a analisar como foram desenvolvidas as técnicas de pinturas feitas em vasos de cerâmica para ilustrar as representações cotidianas ou mitológicas na Grécia Antiga. Os vasos tinham as mais variadas formas, destinando-se a usos específicos e, mais que um documento de extrema habilidade de seus artesãos, a cerâmica é hoje a maior fonte disponível acerca da pintura daquela época.


“O homem é a medida de todas as coisas.”

ser usada como marcos funerários, voltando a ter fun-

-Protágoras

cionalidade como fornecedora de utensílios. Os vasos com pinturas decorativas (Fig. 1) serviam a quatro fi-

Embora não se refira especificamente à arte, essa frase,

nalidades principais: como recipientes e jarros de arma-

atribuída ao filósofo Protágoras, pode muito bem ser

zenagem, nos quais se guardavam água, vinho, azeite

aplicada à característica essencial de toda a produção

e mantimentos secos (como exemplos, temos a vasilha

artística da Grécia Antiga. Exaltando a perfeição física

de duas asas chamada ânfora, e a de três asas usada

ou discorrendo sobre o vício e virtude, dever e prazer,

somente para água, chamada hídria); como equipa-

amor e dor, os antigos gregos desenvolveram uma arte

mento para refeições festivas (os gregos bebiam seu

feita pelo homem e para o homem.

vinho diluído com água, portanto necessitavam de um

No estilo Geométrico se iniciou a formação de uma

recipiente de boca larga, que chamavam de cratera, no

cultura original na Grécia Antiga, até o fim do período

qual misturavam os dois líquidos, e de um jarro menor,

Helenístico, quando a tradição grega se disseminou por

a enócoa, que mergulhavam na cratera e usavam para

uma grande área entre a Europa, África e Ásia, surgiram

servir cada convidado numa delicada taça chama-

manifestações artísticas como literatura, pintura, músi-

da kúlix, ou em uma caneca mais modesta, chamada

ca, teatro, arquitetura, escultura, dentre tantas outras.

skúphos); como recipientes de uso relacionado com o

Nesse artigo pretendemos discorrer especificamente

adorno pessoal e como peças de toucador (o azeite de

sobre pinturas em vasos cerâmicos, que são consid-

oliva era comumente utilizado na limpeza do corpo e

eradas uma das melhores referências pictóricas desse

como base para perfumes, o recipiente chamado lécito

período devido a sua resistência à ação do tempo.

podia conter até um litro de azeite e seu gargalo est-

A cerâmica se caracterizou pela decoração de motivos

reito e longo servia para restringir o fluxo. O alabastro

geométricos em tinta preta sobre fundo terracota; mais

era um pequeno frasco elipsoidal alongado, de garga-

tarde apareceram os vasos com motivos figurativos

lo muito curto e boca com borda em forma de disco,

em vermelho sobre fundo negro demonstrando a con-

com o qual uma mulher podia borrifar-se com algumas

stante evolução das técnicas na representação e tridi-

gotas de perfume. Ainda menor e mais arredondado

mensionalidade de detalhes figurativos.

era o aribalo, equipado com uma tira de couro para

Inicialmente, os gregos conceberam a pintura sobre

poder ser transportado pendente na cintura e usado

paredes e painéis, usados frequentemente como dec-

pelos homens para se friccionarem com azeite de oli-

oração para obras arquitetônicas. As métopas, por

va depois dos exercícios físicos); como vasos especiais

exemplo, eram às vezes pintadas em lugar de esculpi-

para uso em rituais (o lustróforo, por exemplo, era usa-

das em relevo. Apesar de ter sido uma das mais pres-

do para carregar a água do banho da noiva, antes do

tigiadas formas de arte da Grécia Antiga, a pintura é

casamento. Por vezes, um modelo em pedra do vaso

uma das menos conhecidas nos dias de hoje, graças ao reduzido número de exemplos restantes. Entretanto, ainda existe um grande acervo de vasos cerâmicos pintados, e mesmo tendo estilo e convenções próprios, ainda podemos utilizá-los como guia na compreensão do estilo pictórico grego como um todo. Segundo Woodford, a cerâmica havia sido, por algum tempo, elevada ao status de arte destinada a monumentos, mas desde o final do século VII a.C. passou a

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também podia ser colocado no túmulo de uma pessoa solteira). Em um âmbito estilístico, a história da pintura dos vasos é dividida em períodos distintos. Durante a época Protogeométrica (aproximadamente entre 1100 a.C. e 800 a.C.), o estilo marcava a transição entre as decorações lineares mais simples da idade do bronze e o uso de semicírculos e círculos concêntricos do período geométrico. (Fig. 2) Caracterizado pela existência de motivos circundando toda a peça, o estilo Geométrico sucede o Protogeométrico, e como o próprio nome sugere, os artistas usavam de pinturas em ziguezague, triângulos, quadrados, entre outras formas, para compor a decoração dos vasos. (Fig. 3) Além de elementos abstratos, também foram introduzidas figuras estilizadas de humanos e animais, marcando uma distinção significativa à do período anterior. Com isso, os artistas passaram a narrar histórias por meio de figuras, como a Ilíada e a Odisséia de Homero, aumentando assim a relevância da pintura em vasos. Consequentemente foram criadas técnicas específicas que decorassem a cerâmica com um padrão eficaz e claramente inteligível, impulsionando os pintores na busca de métodos que tornassem suas histórias mais palpitantes e convincentes.

Segundo Woodford, podemos perceber o esforço dos pintores em aprimorar a pintura narrativa, levando-os a criar a técnica de Figuras Negras. Originada em Corinto durante o século VII a.C., o estilo consistia em figuras negras desenhadas sobre um fundo vermelho, que posteriormente eram detalhadas por meio de incisões que removiam a tinta e deixavam os contornos nítidos. A partir dessa época também é possível identificar os

A maioria das histórias requeria que as figuras interagissem

autores de algumas pinturas, uma vez que os ceramis-

e se superpusessem, mas a superposição de silhuetas só

tas começaram a assinar suas obras. O pintor de vasos

podia gerar confusão. Assim, alguns pintores realizaram ex-

Clítias, um dos expoentes da técnica de figuras negras, tem atribuído a si a pintura do Vaso François (Fig. 4),

periências, por um breve período, com o delineamento das

uma cratera com mais de 200 figuras representando

figuras. Lamentavelmente, porém, os contornos resultavam

temas mitológicos e que contém a inscrição Ergotimos

decepcionantes em sua superficialidade e inconsistência

mepoiesen e Kleitias megraphsen, que significa “Ergotimos me fez” e “Clitias me pintou”.

sobre a superfície abaulada e polida de um vaso.” (WOOD-

Outro artista que trabalhava com a técnica de figuras

FORD, 1982, pp. 43)

negras foi Exékias, pintor grego de vasos e cerâmicas

que viveu aproximadamente entre 500 a.C. e 525 a.C.

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Reconhecido como o maior pintor de Atenas, Exékias


aprimorou a técnica de pintura utilizando de com-

Ao compararmos a obra de Exékias com uma outra,

posições que conversavam com a curvatura dos vasos,

de mesmo tema, pintada por um artista menos talento-

certificando-se que as pessoas e objetos criassem um

so, (Fig. 6) a qualidade artística do primeiro se dest-

equilíbrio na composição. Um exemplo de seu primor-

aca nitidamente, apresentando diferenças marcantes:

oso trabalho se encontra em uma ânfora que retrata os

apenas o escudo e as lanças do herói à esquerda se

personagens mitológicos Ajax e Aquiles jogando. (Fig.

relacionam com o formato do vaso, os detalhes nos

5)

mantos são mais simples, nenhum dos dois persona-

Conforme a figura, podemos ver o minucioso trabalho

gens usa elmo, fazendo com que a composição perca

realizado no manto dos personagens, por meio de del-

unidade, separando-a em duas metades simétricas.

icadas incisões. A composição serena capta a tranqui-

Entretanto, não se trata de um trabalho mal feito; ap-

lidade da cena e a concentração dos heróis. As figu-

enas falta à pintura a genialidade que torna a obra de

ras humanas inclinam-se sobre o tabuleiro de jogos, e

Exékias tão notável.

a curva das suas costas reflete a curvatura da ânfora.

Uma mudança de estilo se deu quando um discípulo de

O ceramista mostra estar perfeitamente consciente de

Exékias tentou algo diferente, invertendo o esquema

que estava decorando um vaso. Não apenas faz os con-

cromático tradicional e, em vez de pintar figuras negras

tornos dos heróis acompanharem os contornos do re-

sobre o fundo vermelho, deixou as figuras na cor nat-

cipiente, como dispõe as lanças de maneira a conduzir

ural do barro cozido e pintou o fundo de negro. Essa

os olhos para o topo das asas e os escudos, por trás

técnica ficou conhecida como Figuras Vermelhas,criada

dos heróis, de forma a dar continuidade à linha vertical

por volta de 530 a.C., e trazia muitas vantagens para os

formada pela parte inferior das asas.

pintores, pois permitia manter inalterado o forte contraste entre as cores, ao mesmo tempo em que conferia maiores possibilidades ao desenho, uma vez que o macio pincel podia ser usado no lugar de uma ferramenta de incisão. Dessa forma, a representação de anatomia e vestiário ganhou mais expressão e as figuras humanas ficaram mais vibrantes. Eutímides, cuja obra data do final do século VI a.C., foi um pintor que se aprofundou na técnica de figuras vermelhas e, semelhante aos artistas escultores de sua época, se preocupou com a representação tridimensional, sugestão de volume e percepção espacial em suas obras. Segundo Woodford, para explorar esses efeitos, Eutímides ilustrava cenas da vida cotidiana, como na ânfora dos três libertinos embriagados (Fig. 7). A figura central está posicionada de costas, um novo ponto de vista, e o pintor, satisfeito com seu trabalho, escreveu no vaso: “Eufrônio (um artista rival) nunca fez coisa tão boa.” Esse comentário nos dá a percepção da intensa competição entre pintores, que os instigava a enfrentar e superar as técnicas de pintura da época. No final do século VI a.C., outros artistas também se

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esforçaram em representar figuras tridimensionais, seja

Referências:

por meio de traços internos, sombreados, e também por meio da luz refletida no próprio vaso e o contraste

FITZWILLIAM MUSEUM HANDBOOKS. Greek and Ro-

entre claro e escuro. Porém, durante o período clássico,

man Art. Cambridge, Cambridge University Press: 1998.

a produção de cerâmica decorada sofreu um declínio e

MOZZATTI, Luca. Museu Arqueológico de Atenas. Rio

consequentemente, a inovação de técnicas de pintura

de Janeiro, Mediafashion: 2009.

em cerâmica também foi interrompida.

WOODFORD, Suzan. História da Arte da Universidade

Assim, observam-se como as técnicas criadas a partir

de Cambridge: A arte de ver a arte. São Paulo, Círculo

da pintura em vasos foram de grande importância para

do Livro: 1983

a cultura da Grécia Antiga, servindo como repositório

WOODFORD, Suzan. História da Arte da Universidade

de seu cotidiano. Um exemplo são suas danças e ri-

de Cambridge: Grécia e Roma. São Paulo, Círculo do

tos que são ilustrados frequentemente em um grande

Livro: 1986

número de vasos (fig. 8). Enfim, exemplares como esse serviram para a divulgação de sua cultura que posteriormente contribuiu com inovações para outras expressões artísticas, não apenas em sua época como atualmente ainda vem inspirando muitos artistas a fazerem obras baseados nas mesmas.

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RESENHA CRÍTICA

ARQUITETURA, ARTE E HISTÓRIA

TEXTO POR: MATHEUS OLIVEIRA

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

Construindo um império: Grécia acabavam por influenciar como eram representados

A LINGUAGEM CLÁSSICA DA GRÉCIA ANTIGA COMO UM EXEMPLO DE PRODUÇÃO ARTÍSTICA

as mais diversas artes incluindo a pintura - em vasos gregos: representações e técnicas de pintura em cerâmica na Grécia Antiga, há exemplos evidentes dessa evolução na cerâmica grega -, a , e até mesmo na escultura. Sua obra se torna bastante notável durante o Renascimento, quando o ideal grego de beleza e a

Construindo um Império: Grécia, é um documentário publicado no canal History Channnel que fala sobre como era a organização dessa civilização antiga na arte da arquitetura e construção. O documentário também destaca sua política, religião, filosofia, sua cultura em geral que vai influenciar muitas civilizações e que por esse motivo é conhecida como o berço da civilização ocidental. O documentário aborda grandes inovações conquistadas por esta civilização que surpreende para a tecnologia da época. De alguma forma, sua história política estava sempre ligada com suas artes, arquitetura e cidade, sendo que a organização da cidade era sempre discutida por com o objetivo de alcançar sua forma mais apreciada para os cidadãos, e principalmente para cultuar e agradar seus deuses. “O homem é a medida de todas as coisass, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são.” -Protágoras Esta frase se opunha à filosofia de Sócrates, que defendia a verdade absoluta e as verdades de valor universal. Tudo começou quando Aristóteles (384-322 a.C.) escreveu os três livros que compõem a “Retórica” - do latim rhetorica, cujo significado literal quer dizer a arte ou técnica de usar uma linguagem para comunicar de forma eficaz e persuasiva. Assim, esses pensamentos

filosofia são retomados, havendo inúmeros exemplares desse conceito na arte como na escultura A Pietà, de michelangelo - É evidente a influência do “Pathos”, um dos três apelos mencionados na retórica. Mais tarde, com o iluminismo e a revolução francesa, mais uma vez o padrão de beleza austero do período clássico é adotado não apenas na pintura, mas também na arquitetura chamada neoclássica. Assim, essa obra continua atual e útil para quem procura persuadir o seu público-alvo por meio da retórica, sendo um importante método de persuasão por poder se manifestar por todo e qualquer meio de comunicação. Há retórica na música (“Para não dizer que não falei da Flores”, de Geraldo Vandré: retórica musical contra a ditadura), na pintura (O quadro “Guernica”, de Picasso: retórica contra o fascismo e a guerra) e, atualmente, é amplamente utilizado na publicidade. Assim, a retórica é apenas um dos grandes exemplos que durante a civilização Grega contribuiu para a produção intelectual e cultural para a história da civilização Ocidental. Referências: COHEN, Jean, BREMOND, Claude, GRUPO µ, KUENTZ, Pierre, GENETTE, Gérard. Pesquisas de retórica. Petrópolis, Editora Vozes, 1975. SUMMERSON, John. A Linguagem Clássica da Arquitetura - Col. Mundo da Arte. Wmf Martins Fontes, 1963.

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ARQUITETURA

STOAS TEXTO POR CLEITON DO CARMO & ALEXANDRE DUARTE

Neste artigo foi abordada a relação do cidadão grego com o espaço público, com foco nas stoas, edificação característica da ágora grega. Para construir esta análise foram utilizados como suporte a ágora, grande espaço centra na cidade grega, que era rodeado por templos, altares, prédios públicos e pela stoa. O estudo deste espaço tornou possível o desenvolvimento de um olhar mais aprofundado acerca do real significado delas nessa cultura. Com este estudo da ágora pode notar que assim como nos dias atuais, as cidades e o seus espaços sempre tiveram modificações acerca dos significados atribuídos a eles, onde pode nota-se que a partir do período helenístico ocorreram diversas mudanças dentro do espaço da ágora, mudanças essas que fizeram com que ela deixasse de ser um espaço plural, no aspecto de abrigar o comércio, religião e política em um mesmo espaço, passando a ter uma ágora para cada função. Esta ressignificação alterou de igual modo as stoas, que passaram a ser bem maiores e a ter dois andares, acumulando cada vez mais a função de abrigo ao comércio

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OS EDIFÍCIOS PÚBLICOS NA ARQUITETURA CLÁSSICA


A arquitetura grega é carregada de elementos que serviram de inspiração para a arquitetura atual. Entre as principais características que deram esta contribuição estão a grande importância dada para com o espaço público. O coração da cidade grega era a ágora, espaço que tinha a configuração de uma grande praça onde várias das principais edificações, templos e altares ficavam em sua volta. Embora as ágoras fossem um elemento importante da cidade grega, a ágora ateniense é sem dúvidas a mais importante, pois apesar de que se tenha a ideia da importância da referida cidade para a formação do pensamento ocidental, é graças a este espaço que foi possível o desenvolvimento dos elementos que a colocaram neste patamar. Elas ficavam localizadas no centro da cidade, possuía altares oferecidos para heróis da mitologia grega, assim como várias edificações, onde se destacavam os templos, fontes, monumentos dedicados aos deuses e as stoas que serão foco desta análise. As stoas nada mais eram do que pórticos cobertos, formados por uma dupla fileira de colunas, este espaço servia de abrigo para comerciantes, assim como para abrigar os transeuntes do frio e da radiação solar. Entretanto para que possa entender a função dele neste contexto é importante que exista um aprofundamento sobre a forma com que o povo grego se relacionava com o espaço público da Ágora. Segundo o historiador Pierre Vidal-Naquet as ágoras não eram um espaço exclusivamente definido para apenas uma atividade, sendo que servia para o comércio, discussões políticas e para o culto religioso. Por boa parte da existência da civilização grega ela manteve esta função mista, sendo que por volta do século IV a.C, começou a considerar a ideia de que as ágoras deveriam ser separadas de acordo com suas funções. É nesse aspecto que temos as stoas, que a partir desta ideia de reconfiguração das ágoras passa a se tornar principal elemento presente nela, passando a ser o principal destino da população, sendo mais utilizadas do que os próprios templos. Assim as stoas passaram a possuir mais de um andar,

sendo que o primeiro era onde se encontravam os comerciantes, artistas, escritores, políticos entre outros que a frequentavam e no piso superior era onde se encontravam armazéns, escritórios entre outros elementos importantes para o funcionamento do comércio. A sua função dentro da ágora era bastante ampla, sendo que servia tanto para o comércio e diversas outras atividades, como anteriormente citado, e também era um espaço de amplas discussões filosóficas e políticas. Nestes locais eram realizadas diversas atividades como: assembleias, eleições, festivais, competições atléticas, desfiles, mercados e similares. Percebe-se que a arquitetura grega foi altamente influente, de tal forma que foi a principal responsável pelo desenvolvimento da arquitetura romana, sendo que a ágora foi o principal elemento que deu forma ao Fórum Imperial Romano. Sabe-se que grande parte dos edifícios públicos de praticamente todos os períodos históricos denotam alguma relação com stoas. Os gregos não distinguiam tão nitidamente entre um compartimento fechado e um abrigo com sua parte frontal aberta com cobertura de uma ou duas águas, tornando o conceito de stoas

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convencionalmente assim definido. Um exemplo claro

pio, de galerias externas, que eram ligadas ao palácio

disso era a edificação pública que abrigava as doações

micênico, sendo influenciados pelo desenho e arquétipo

dos votos no santuário da Samotrácia, sendo poste-

do templo. Os primeiros exemplos de salões como ess-

riormente concebido como um salão fechado do final

es eram compostos por longas stoas, as quais, como já

do século V. As suas proporções o levavam a parecer

fora dito, possuíam sua frente aberta e cujo telhado se

com um templo, medindo 10,70 por 22,60 m; a cornija das laterais continuava para cima

como a

cornija inclinada de cada coruchéu, à medida que

declinava de uma parede traseira até uma fileira de

AS STOAS DEMONSTRAM SEGUIR AS FORTES

estacas ao longo da facha-

DIRETRIZES DAS ORDENS À MEDIDA QUE

da principal. No século V,

COMPÕEM OBRAS CLÁSSICAS E POR VEZES

era comum o uso de colunas de pedra em vez de

uma moldura menor de-

MONUMENTAIS, SEM PERDER ENTRETANTO A

estacas de madeira. As

marcava a base de um

IDÉIA DE UTILIZAÇÃO PÚBLICA.

stoas mais tardias passar-

lateais era deixada aber-

frontão. Uma das suas

am a alcançar um tamanho maior, chegando a dois

ta com uma colunata dórica de pedra calcária a qual

andares, onde havia uma variação de ordens em cada

perpassava por antas de madeira. Pedra, madeira e ter-

um. Devido o tamanho, havia a necessidade de uma

racota interligavam o entablamento e a calha. (LAW-

colunata interna para apoiar o telhado. Rente a essa

RENCE, A.W, 1996, pp. 191)

colunata interna, havia uma fileira de lojas ou escritóri-

Aparentemente, os salões públicos derivaram, a princí-

os alinhados ao longo da parede posterior. Assim, os

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plo, mas não se limitava a isso. Servia também como um lugar de reuniões para fins de negociações, uma vez que, pelas dimensões da edificação, distintos agrupamentos de pessoas poderiam discutir seus assuntos com certa privacidade ainda que nem sempre havia divisórias. Não tardou pra que o interior começasse a ser dividido abrindo espaço a pontos de comércio, lojas e escritórios. Essas divisórias eram basicamente feitas de madeira limitando-se até a metade da distância entre a colunata e a parede traseira. Por conta do grande comprimento, as stoas necessitavam de um telhado de duas águas com apoio intermediário. (LAWRENCE, A.W, 1996, pp. 192) Uma stoa que teve em Atenas relativa importância foi a Stoa Poikile, ou Stoa Pintada, localizada no lado norte da ágora. Ficou conhecida devido ao conjunto de pinturas nas paredes, representando, assim, a batalha de Maratona. Seu nome “oficial” possivelmente foi Stoa de Peisianax, um parente de Címon, que foi responsável por sua edificação.

Geralmente a ordem dórica pre-

dominava na disposição das colunas externas, não senmercados em todas as grandes cidades eram rodeados

do diferente na Stoa Poikile. Certamente, o mais antigo

por stoas. Do mesmo modo, os ginásios adotaram a

exemplar de colunata interna em uma stoa é datado

estrutura das stoas, porém em uma escala menor. Eram

da metade do Século VII

compostos por um pátio fechado pelos quatro lados

stoas era garantir abrigo contra a chuva aos visitantes

por uma colunata com os quartos na parte posterior.

do santuário de Heras em Samos. Inúmeras stoas pos-

Frequentemente, salões onde eram realizadas reuniões

suíam compartimentos distribuídos em formas de salas

se tornavam em pequenas stoas onde sua frente era

de jantar, como é visto na stoa sul, da ágora de Atenas.

parcialmente vedada com uma parede. (LAWRENCE,

Outro exemplo é Brauron. Nesta stoa ainda se encon-

A.W, 1996, pp. 60)

tram preservados buracos revestidos de bronze onde

A partir do Século V, as stoas passam a ser compo-

eram fixados os pés dos divãs de jantar, assim como

nentes dissociáveis da ágora. A pequena Stoa Basilei-

alguma mobília de mármore, entretanto, essa stoa não

os (gabinete do arconte-rei) em Atenas, é um exemplo

fora concluída. Uma multiplicidade de stoas irrompeu

datado de possivelmente c.500. sua parte frontal era

a fachada levando ao recuo do centro e a projeção de

apoiada em uma colunata dórica, sendo possível sentar

duas alas, no decorrer das quais a colunata era local-

nela aproximadamente cem pessoas. O arconte-rei ex-

izada. Ao analisar o plano diretor, percebe-se que o

ercia papeis religiosos e jurídico-religiosas, e foram ex-

esquema se assimilava com o de um teatro com paras-

postas, no século V cópias das leis de Atenas, para as

kenia. (LAWRENCE, A.W, 1996, pp. 193)

quais forma acrescidas duas alas em frente às extremi-

No Século IV houve um grande aumento na escala das

dades da fachada. A stoa possuía a função principal de

stoas. A construção de divisões internas começou a

abrigar das intempéries, como os santuários, por exem-

crescer, tornando-se costume, e por fim, sendo levadas

nesse caso, o objetivo das

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a um acima. Um exemplo de escala demasiado grande,

variavam até dois ou três fileiras. O uso de stoas so-

possuindo 160 m de comprimento é a “Stoa Sul” de

brepostas esteve nesses casos ligados também a con-

Corinto, composta por basicamente 71 colunas dóricas

gestionamentos. (LAWRENCE , A.W, 1996, pp. 196-197)

ao longo da fachada. Várias bicas com formato de ca-

Mediante a análise e o estudo do uso das stoas e sua

beça de leão eram dispostas na calha, separadas por

integração na arquitetura grega, é possível notar o

volutas de acanto com antefixas acima de cada inter-

papel, não apenas estético, mas possuíam, como foi

valo. Uma colunata jônica ficava dentro da stoa, atrás

visto, desde a função de abrigar, transeuntes, pere-

dessa colunata, outras 33 , cada uma delas com uma

grinos e outros devotos, que constantemente faziam

porta aos fundos, sendo possível o acesso à uma série

delas abrigo , mesmo que por tempo determinado, as-

de depósitos. Dentro das lojas havia profundos poços

sim como exercer um papel de influência econômica e

que traziam água da fonte de Peirene, que brotava na

social na comunidade. Uma vez que a arquitetura de-

extremidade leste da ágora. Aparentemente essa stoa

bruça-se a traçar dinamismo à ágora, e, por conseguin-

supria todas as necessidades mercantis da época. Tem

te, à cidade, a integração se torna nítida e há a possi-

sua construção datada do século III, aproximadamente,

bilidade de desenvolvimento em diversos setores. As

onde stoas de perfil mais simples ainda eram procura-

stoas demonstram, por fim, seguir as fortes diretrizes

das. (LAWRENCE , A.W, 1996, pp. 194)

das ordens à medida que compõem obras clássicas e

Com a Conquista do Império Persa por Alexandre, em

por vezes monumentais, sem perder entretanto a ideia

330, inicia o surgimento da nova identidade às cidades

de utilização pública.

gregas da Ásia Menor, a fundação de Alexandria estimulou a difusão do helenismo dentre os povos orien-

Referências:

tais, assim como várias cidades que adotaram o padrão grego. Ao aumentar a riqueza durante a Era Helenísti-

LAWRENCE , A.W. Arquitetura Grega. São Paulo, Cosac

ca traz também o aumento do espaço da ágora, assim

e Naify Edições: 1996.

como difusão e aceitação maior das stoas sem haver,

ROBERTSON, D.S. Arquitetura Grega e Romana. São

porém, profundas mudanças urbanísticas.

Paulo, Martins Fontes: 1997.

Em vári-

as das pequenas cidades as stoas eram usadas como

LONIS, R. La cité dans le monde grec. Structures, fonc-

Casa de Conselho e um grande estima era concedido à

tionnement, contradictions. Paris, Nathan Université:

acomodação ao ar livre. As ágoras nas cidade helenísti-

1994.

cas eram geralmente rodeadas por stoas de três lados,

CAMP, J. The Athenian Agora. Excavations in the heart

constantemente se juntavam construindo uma stoa

of Classical Athens. Introduction. Londres, Thames &

única contornando os cantos em modificar o traçado.

Hudson: 1986.

Às vezes, também, porém com menor frequência, os espaços eram compostos por stoas separadas por ruas. E às vezes também, era comum stoas em forma de “L”. Era comum em grandes cidades comerciais que ágoras secundárias e mercados fossem acrescidos, possuindo cada um stoas cujo uso era basicamente público. Apesar de algumas destas serem reservadas a negócios privados. Compunham grandes áreas nas cidades e assim como nas demais, ofereciam sempre divisões, colunatas internas e não obstante, lojas e escritórios, que

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CIDADE

OLÍMPIA

TEXTO POR AMANDA SOUZA & LARISSA FERREIRA

Este artigo fala sobre o santuário de Olímpia, Grécia. Mostrando a forma da cidade, a importância de Zeus na sua formação e um destaque as realizações dos Jogos Olímpicos. Produzindo uma comparação entre os primeiros jogos em Olímpia à importância das realizações desse evento atualmente. Para se começar a explicar de Olímpia é importante entender quais são as suas origens, por isso, abordaremos um pouco sobre a Grécia. Os gregos julgavam-se autóctones, descendentes de Heleno, filho de Deucalião e Pirra que povoavam o mundo após o dilúvio. Di-

INÍCIO DE UM GRANDE EVENTO

ziam ser Heleno, pai de Doro e Eolo e avô de Aqueu e Jônio, os filhos e os netos de Heleno deram origem aos quatro ramos do povo grego. Provavelmente, os gregos pertenciam aos grupos nórdicos e alpinos da raça branca, que chegaram à Grécia por volta de 2000 a. C. e mesclaram-se com os primitivos mediterrâneos. Ocuparam toda a península grega a partir de 1200 a. C., distribuindo-se nos seguintes grupos: aqueus, eólos, jônios e dórios. A Grécia está situada na Europa Ocidental, entre os mares Jônico, Egeu e Mediterrâneo. O mundo grego antigo ocupava uma área maior do que o território grego atual. Hoje a Grécia é um país e seu nome oficial é República Helênica, já a Grécia antiga não era um país de governo único e sim um conjunto de cidades inde-

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“Esses jogos sempre ocorriam no verão do hemisfério norte, geralmente nos meses de junho, julho e agosto, assim como acontece com os jogos olimpícos ou as olimpíadas atuais. Os jogos eram cerimônias religiosas e esportivas ao mesmo tempo, realizavam-se em honra a Zeus (o deus grego mais importante) e incluiam sacrificios de animais em homenagem aos deuses. O evento era também uma boa oportunidade para os comerciantes venderem seus produtos.” (RODRIGUES; COUTRIM .pp. 116).

Olímpia começa a se destacar após a realização dos

primeiros jogos olímpicos que ocorreram em 776 a. C.,

Mas, por que os jogos se iniciaram em Olímpia? Essa é

esses jogos eram realizados de quatro em quatro anos,

dúvida persistente que possui diversas respostas. Uma

geralmente ocorriam no verão do hemisfério norte, ger-

delas é de Hesíodo:

almente no mês de junho, julho e agosto assim como

“De acordo com a versão do poema,[...] de Hesíodo, [...]

nos dias atuais. As cerimonias religiosas e esportivas

os jogos foram uns dados por Pélope- um príncipe da

tinham como objetivos reverenciar o deus grego mais

Frigia - que teria derrotado e assassinado o rei Enam-

importante, Zeus. Diante dos diversos templos na Gré-

au de Élis numa ocorrida de carros. Pélope casou-se

cia, o de Zeus foi o maior, sua edificação é assinada

com Hipodâmia, a filha de Enomau, e tornou-se o rei

pelo reino de Bastos IV (515-465 a. C.).

de toda a região, dando o seu nome ao Pelopenose. O

O templo de Zeus é um períptero dórico de 8x17 col-

heroí mítico teria fundado os jogos em agradecimento

unas de 32x70 metros de dimensões. A cela, cujas

a Zeus por sua vitória, ou, segundo outra versão , em

fundações não possuem qualquer ligação com as da

expiação pelo assassinato de Enomau.” (VALAVANIS in

persistais, mede 18,32 x 53,19 metros, é longa, três vez-

LAKY, 20l1, pp. 39)

pendentes. Cada uma tinha seu governo, leis e características sociais próprias.

es a largura de sua frente e ocupa dois terços do comprimento do tempo. Ele permaneceu em pé ao longo

Porém, o documento que melhor relata esse fato é

de um milênio, durante o qual sofreu perdas reposições

do “Catálogo dos vencedores olímpicos”, que relata o

e reparos. Estas mudanças, no planejamento original do

começo dos jogos no século VIII, escrito por Hípias de

início do século V a.C., foram organizadas por cinco fas-

Élis. Durante o início dos jogos (776 a. C. a 729 a.C.),

es por Ashmole e Yalouris em 1967. (LAKY, 2011, p. 168).

havia apenas uma modalidade, corridas no estádio e o

Atualmente, toda a cidade de Olímpia está sendo revi-

evento era extremamente pequeno, diferente do que

talizada, com a reconstituição e conservação dos mon-

temos atualmente. Com o tempo os jogos ganharam

umentos.

mais repercussão, no início do século V, quase 102

Jogos Olímpicos

póleis já haviam participado das competições, Olímpia

Olímpia foi reconhecida por sediar os primeiros jogos

se tornava um centro bastante reconhecido.

olímpicos do planeta. Jogos que se iniciaram por volta

Para os jogos, Olímpia construiu três importantes

do século VIII a.C., que reuni várias póleis.

lugares:

32 | AKRÓPOLIS


percussão e dimensão na era contemporânea. Elas possuem essa grandeza “tanto por seu caráter simbólico, pela representação m escala planetária de uma prática que mobiliza representações arquetípicas, como pela dimensão material que envolve milhões de pessoas direta e indiretamente em sua preparação e realização”. (RUBIO, 2005) Diferentemente de Altis (nome que também era dado ao santuário na antiguidade), não se tem apenas uma cidade para realizar todos os jogos. Uma cidade é escolhida a cada quadrienal, se pensando na melhor maneira do evento acontecer, para que o impacto desse evento não seja prejudicial ao lugar, mas sim algo que traga benefício a todos. Com os jogos, as cidades passaram a ser um espaço que se usa para morar ou para lucrar. “ ela é, no entender de Constantino (1997: 120), um espaço de uso desportivo, com diferentes espaços no tecido urbano, a serem objecto de novas apropriações e diferentes usos. No entender do autor lugares antes Hipodrommo: Era um espaço simples, plano, amplo e

ocupados para atividades comerciais ou patrimoniais

aberto. Utilizado para as competições.

(feiras, mercados ou espetáculos) podem hoje ser ocu-

Gimnasium e Palestra: que possivelmente era utilizado

pados por práticas lúdico-esportivas. ” (RUBIO, 2005).

para treinamentos. “As competições em Olímpia foram concebidas não

As Olimpíadas também podem causar uma regener-

meramente como jogos entre atletas individuais, mas

ação de um espaço, levando não somente jogos, mas

como competição entre póleis que exploraram ativa-

trabalhos, infraestrutura, reconhecimento, entre outros

mente a oportunidade para aumentar seu prestígio. Em

benefícios.

outras palavras, Olímpia gerou uma interação extremamaente intensa e extensiva entre as póleis helênicas,

Referências

que foram autorizadas a enfatizar a individualidade.

RODRIGO DE SOUZA, Oswaldo. História Antiga e Me-

Assim, Olímpia foi um palco bem adaptado para essa

dieval. Editora Ática S.A, Edições 1992.

interação uma vez que era, ao menos durante os festi-

COTRIM, Gilberto e RODRIGUES, Jaime. Saber e fazer

vais, o santuário mais visitado em todo o mundo grego,

história. Primeiras sociedades, antigas e idade média.

onde se reuniram números enormes de delegações, at-

SP., Saraiva2009

letas e espectadores.” (NIELSER in LAKY, 2011, pp. 54)

LAKY, Lilian de Agnelo. ART. Espaço, sociedade e Pro-

Nesse último trecho se percebe como foi importante

cessos de Formação do Registro Arqueológico- São

para Olímpia, caso que também conseguimos notar

Paulo – 2011.

nas cidades que sediam as olimpíadas neste século,

GIAMBIAGI, Fabio; FERREIRA, Sergio; VIANNA, Ser-

pois são consideradas um dos eventos de grande re-

gio; SOUTO, Luis. O Papel do Estado, o Projeto Olímpico e a Importância do Legado. Rio de Janeiro. 2010.

AKRÓPOLIS | 33


ARTE

ARQUITETURA, ARTE E HISTÓRIA

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA TEXTO POR AMANDA SOUZA & LARISSA FERREIRA

MOSAICOS BIZANTINOS Este artigo se propõe ao conhecimento dos mosaicos bizantinos. Inicialmente descrevendo o que são os mosaicos, com o objetivo de dar destaque à técnica de criação, depois contamos brevemente sobre o surgimento do império bizantino e o início da sua arte. O artigo dá ênfase aos mosaicos bizantinos, mostrando o detalhamento e o realismo presente neles. E finalmente fechamos o trabalho falando sobre a importância e a beleza dos mosaicos bizantinos na Catedral de Santa Sofia.

34 | AKRÓPOLIS


Os mosaicos consistem na colocação de pequenos pedaços de pedras de tonalidades diversas, sobre uma superfície tanto lisa ou ondulada de gesso ou argamassa. Esse tipo de trabalho possui uma grande durabilidade, por causa dos materiais utilizados para produzi-la. Após as junções das pedras coloridas de acordo com o desenho determinada, a superfície recebe uma solução de cal, areia e óleo, com o objetivo de preencher os vazios que se formam entre as pedras. “ Para criar mosaicos bizantinos como A cabeça de São Pedro (abaixo), os artistas aplicaram milhares de pedrinhas ou pedaços de vidro chamados tesselas numa

Mas, essa arte eterna atingiu a realização perfeita quan-

superfície emassada, na qual havia um desenho inicial

do os bizantinos passaram a produzi-la. O império bi-

da imagem. No que diz respeito aos temas sacros, us-

zantino, que também eram nomeados Império Romano

avam-se tesselas feitas de um vidro especial chamado

do Oriente, possuíam o termo bizantino, pela derivação

smalti, fabricado no norte da Itália e feito com folhas

de Bizâncio. Tal império adquiriu o seu apogeu cultural

grossas de vidro, além de mármore, pedra preciosas

e político aos comandos de Justiniano, durante 527 a

e revestimentos com folhas de ouro e prata. ” (FAR-

565.

THING, Stephen, 2010, pp.79).

A arte que se manifestava ao longo do Império Bizan-

A arte de produzir mosaicos é bastante questionável.

tino era a junção da arte cristã oriental com os esti-

Os historiadores não definem com certeza a sua origem,

los ocidentais, dando origem à arte bizantina. Arte que

pois há controversas de opiniões. Alguns afirmam que

seguia voltada para a religião, a partir da oficialização

seu nascimento esteja em aproximadamente 3500 a.C.,

do cristianismo e às correntes artísticas encontraram

na região da Mesopotâmia. Porém, as imagens não

outros rumos. A arte bizantina surgia como algo forte,

eram constituídas de muitos detalhes, eles utilizavam a

vivo e que trazia luz na composição. Assim, determi-

técnica de maneira simplificada. Com o passar do tem-

nando o grande esplendor das artes no cristianismo.

po os mosaicos se enriqueceram e se espalharam de tal

Ela transmitir uma autoridade absoluta do imperador,

forma que eles se tornaram presentes em várias áreas,

por esse motivo a sua imagem era unida com person-

principalmente nas províncias mediterrâneas, como na

alidades sagradas, pois o imperador era considerado o

Síria e na Palestina. Eles também se expandiram para

representante de Deus na época.

regiões com o Norte da África, a Grécia, a Itália, entre

Nesse mosaico a cima “é possível observar uma pro-

outras.

cissão de santos e apóstolos aproximando-se de Cris-

A técnica era aplicada de maneiras variadas, como por

to com a mesma solenidade dedicada, na vida real, ao

exemplo:

imperador nas cerimônias da corte. ” (PROENÇA, 2011,

“Os gregos usavam os mosaicos principalmente nos

pp.55).

pisos. Já os romanos utilizavam-nos na decoração,

O Império Bizantino a cada dia que passava espalhava

demonstrando grande habilidade na composição de

as suas influencias para diversas áreas, tanto distantes

figuras e no uso da cor. Na América os povos pré-co-

e próxima, ao mesmo tempo em que o império romano

lombianos, principalmente os mais e os astecas, chega-

do ocidente caia. O império bizantino produzia e se es-

ram a criar belíssimos murais com pedacinhos de quart-

pecializava em murais afrescos, joias, tapetes, tecidos e

zo, jade e outros materiais. ” (PROENÇA, 2011, pp.55).

mosaicos. “Nunca, como nesse período, o mosaico teve

AKRÓPOLIS | 35


tanto esplendor e foi tão largamente usado no mundo.

Os mosaicos foram utilizados para a decoração da igre-

” (MUCCI, 1962, pp. 54).

ja como forma meramente decorativa com padrões ge-

Os mosaicos bizantinos se caracterizavam por serem

ométricos. Foram utilizados materiais luxuosos como

compostos por personagens de formas rígidas, ou

ouro e pedras preciosas, as paredes são revestidas de

seja, que não demonstravam a presença de movimen-

finos mosaicos onde são representados ídolos, como o

to. As imagens eram feitas em posição frontal, com os

salvador, a virgem, os apóstolos e os anjos.

olhos grandes, com olhares fincados e penetrantes, e

A narrativa impressiona no mosaico, no local que se

com as mãos posicionadas de forma ritmada. As cores

representa São João Batista (final do XII° século), na

predominantes eram fortes e vivas, com combinações

tribuna sul da Igreja, a expressão trabalhada no rosto,

cromáticas ligadas ao gosto oriental, segundo Murri.

mostra um complexidade única, representando uma

Outro detalhe significativo e importante, era que nos

expressão musiva, tais efeitos se dão:

mosaicos não existia profundidade, nem perspectiva,

porém isso não retirava a harmonia dos trabalhos. Os painéis serviam como decoração, deixando as paremaneira em que os artistas desejavam transmitir algo animado para o espaço. Os artistas optavam em não polir as pedras, com o objetivo de deixar a obra mais forte, consequentemente o não polimento causava um interessante jogo de luz e sombra. A Basílica de Santa Sofia foi construída no período do imperador Constantino, sofreu dois períodos críticos para a arquitetura, onde em 404 passou por um incêndio. Após ser reconstituída, ela foi novamente destruída em 532 e por fim restaurada por Justiniano (537-562). Ela é um dos monumentos orientais com uma decoração interna bastante rica, conservando grande parte dessa decoração em mosaico bizantino.

36 | AKRÓPOLIS

por meio de delicadas esfumaturas, com tesselas colocadas quase à maneira do ‘vermiculatum’ acompanhado as feições do rosto com perícia técnica e pectoria do mais alto nível. O cabelo e a barba são fios vivos, compostos com um sentido artístico consciente e tecnicamente perfeito. O planejamento, de um cinzento azulado com gradações escuras e linhas pretas, compõe-se em volta do ombro esquerdo e do braço, com uma delicadeza e uma harmonia cromático dignas da melhor forma de expressão plástica. O fundo é de tesselas-ouro. (MUCCI, Alfredo, pp.56 e 57 Sedegra, 1962 ).

des coloridas com composições lineares ritmadas, de


Outros ícones que se destacam nos mosaicos bizanti-

Referências:

nos de Santa Sofia são: a Virgem Maria e a Imperatriz Irene (XII° século) com destaque na magnitude do col-

PROENÇA, Graça. História da arte. Editora Ática.

orido, com o fundo em tesselas-ouro.

Edição 2011.

Entende-se que os mosaicos bizantinos tiveram um

MUCCI,

marco na arte bizantina que se expandiu para diversas

histórico-tecnico da arte musiva. Rio de Janeiro. Edição

partes do mundo. A arte era rica e detalhada, os materi-

1962.

ais utilizavam eram de alta durabilidade, o que possibili-

ARESSE, Miguel Cortes. O melhor da Arte Bizantina.

tou a conservação das obras até os diais atuais. As rep-

G&Z Edições. Lisboa.

resentações dos mosaicos são de figuras divinas, com

UNESC. Grecia, Mosaicos Bizantinos. New York Graph

imperadores, fortalecendo o poder do cristianismo e

Soc. Nova Iorque.

dos imperadores. Formadas de maneira que o respeito

http://www.escolakids.com/imperio-bizanti-

seja representado nas imagens. Respeito que era pre-

no-e-seu-legado.html

sente nas obras que compõem os mosaicos bizantinos

http://lealuciaarte.blogspot.com.br/2013/01/a-arte-bi-

que se encontram na Basílica de Santa Sofia.

zantina_9226.html. Acesso: 16 de novembro de 2015, ás

Alfredo.

Arte

do

mosaico,

Compêndio

18:45.

AKRÓPOLIS | 37


CATACUMBAS CRISTÃS

ARQUITETURA

O artigo se propõe a analisar o período que compreende os primeiros séculos do cristianismo, e a forma que os adeptos da nova religião sepultavam seus mortos. Com uma análise da forma estrutural das catacumbas romanas e das pinturas encontradas em suas criptas, remetemos até suas origens na doutrina helenística e hebraica a fim de compreender suas representações e simbologias. TEXTO POR: KAROLYNE GODOY & MATHEUS OLIVEIRA

38 | AKRÓPOLIS

CEMITÉRIOS SUBTERRÂNEOS E A SIMBOLOGIA LITÚRGICA NOS PRIMEIROS SÉCULOS DO CRISTIANISMO


perseguições, como se acreditava. Serviam, entretanto, como cemitérios que se estendiam ao longo das vias que conduziam para fora da cidade, uma vez que a lei proibia o enterro dentro das muralhas da cidade. Segundo Constantini, as catacumbas eram estruturalmente formadas por passagens subterrâneas, cujas paredes possuíam fileiras de lóculos para as sepulturas comuns: depois da inumação do cadáver, o lóculo era fechado com uma laje de pedra ou de barro, reunindo inscrições, símbolos figurados, representações gravadas ou pintadas sobre uma fina camada de reboco. Podemos perceber que não se tem uma intenção estética nas formas construtivas, uma vez que a relação da planta ou da distribuição dos sustentáculos com as soluções arquitetônicas correntes é determinada por questões técnicas. As galerias tinham muitas ramificações, podendo também haver mais redes em diversos níveis. Além das galerias, existiam câmaras (cubículos) isoladas ou em grupos, quase sempre sustentadas por estruturas murais que lhe dão certo caráter arquitetônico de cripta ou até mesmo de pequena basílica. Nos cubículos, os cadáveres eram, geralmente, depositados em vãos As primeiras manifestações das catacumbas funerárias

revestidos por lajes de pedra ou barro cozido (sòlia) e

se deram por necrópoles criadas por egípcios e judeus.

encimados por um arco (arcossólio) também escavado

A partir do século II d.C., em várias cidades da penín-

no tufo e ornado com pinturas.

sula italiana e da África setentrional, esses cemitérios

As pinturas das catacumbas constituem um vasto ma-

subterrâneos foram mais difundidos entre os recém

terial para o estudo da história do cristianismo primitivo

adeptos do cristianismo. Antes de tudo eles recusavam

e do significado por ele atribuído à imagem, podendo

o uso pagão da cremação dos corpos preferindo a inumação, por um senso de respeito para com o corpo destinado um dia à ressurreição. As catacumbas são formadas por uma espessa e complicada rede de galerias escavadas diretamente no tufo calcário e apenas em algumas partes são completadas por obras de muramento, tendo, na maioria das vezes, apenas caráter de sustentação. Particularmente extenso em Roma, o desenvolvimento das catacumbas supera os cem quilômetros, em medidas lineares. As catacumbas jamais serviram como lugar de reunião ou de refúgio dos cristãos durante as

AKRÓPOLIS | 39


ser classificadas segundo o seu conteúdo iconográfico.

as almas do limbo (Fig. 6), a figura do Orfeu é somente

O tema dominante é a concepção escatológica cristã,

um símbolo e o artista não a considera em si, fazendo

que se refere às crenças sobre o destino do homem

alusão a algo que o transcenda. Não se podia admitir

depois da morte. Entretanto, as primeiras comunidades

que, antes da revelação cristã, a humanidade tivesse

cristãs pareciam pouco interessadas na expressão

vivido sem a orientação de Deus; tinha-o, pois, “conhe-

figurativa dos temas religiosos, tanto que se serviam

cido indiretamente através da profunda inteligência da

livremente de figurações pagãs, fosse investindo-as

criação, que a arte clássica, não menos do que a filo-

de significados alegóricos, alusivos à nova fé religiosa,

sofia natural e a sabedoria política e jurídica, revelava.”

fosse recorrendo a símbolos figurativos com valor de

(ARGAN, GIULIO CARLO, 2003, pp. 242).

criptogramas.

Quanto à representação não-icônica hebraica, per-

Nas figurações mais antigas são frequentes os temas

manecia válida como princípio, não se podendo aceitar

clássicos alegoricamente interpretados no sentido cris-

que Deus, infinito, se manifestasse completamente sob

tão (Orfeu, Psique; gênios e cupidos; a palma e a videira)

formas finitas. Entretanto, sobre a natureza divina ou

e as transcrições simbólicas, como o peixe-acróstico (a

conjuntamente humana de Cristo, não se podia negar

palavra grega ICQUS que significa “Jesus Cristo Salva-

que, uma vez assumido a forma humana, o Cristo fosse

dor, filho de Deus”).Pouco mais tarde também passam

“representável”.

a ser retratadas figuras bíblicas, como Moisés, Noé com

Deste modo o processo da arte cristã pode, em seu

a arca, Jmas sempre com significado metafórico e com

conjunto, ser considerado como um processo que vai

referência à ressurreição e à salvação da alma.

da representação simbólica à representação histórica.

De acordo com Giulio Argan, a ausência de figuras pro-

Tendo como berço doutrinas tão distintas quanto a

priamente cristãs e o recurso frequente a temáticas fig-

helenística e a hebraica, podemos distinguir e relacio-

urativas clássicas nos primeiros séculos do cristianismo

nar as características que o cristianismo adotou para

explicam-se pela complexidade da situação cultural:

si. A forma como os cristãos sepultam seus mortos elu-

O cristianismo tem ligações profundas com duas grandes doutrinas, a helenística e a hebraica, cujas teses relacionadas à representação do divino em formas sensíveis são nitidamente antitéticas: a helenística, pela própria ascendência clássica, apenas concebe o divino na evi-

cidam um dos seus principais dogmas: o da espera pela salvação e da vida eterna, e as representações artísticas de pinturas encontradas em catacumbas também servem como material de estudo e compreensão desse importante período histórico.

dência de formas naturalistas e antropomórficas; a hebraica exclui e condena como idólatra a representação figurativa de Deus. O cris-

Referências:

tianismo, pondo-se como síntese e superação dessas duas doutrinas, deve resolver também a antítese entre a representação icônica e a representação não icônica; e a solução inicial consiste, exatamente, em recorrer a figurações indiretas, isto é, a figurações que signifiquem algo além de si mesmas. (2003, pp.241)

ARGAN, Giulio Carlo. História da arte italiana: Da Antiguidade a Duccio. São Paulo, Cosac & Naify: 2003. CONSTANTINI, Vincenzo. Storia dell’arte italiana: Dalle Catacombe al Gotico. Milano, Casa Editrice Ceschina: 1946. DELUMEAU, Jean. De religiões e de homens. São Paulo,

Dessa forma, podemos entender o motivo do cristianis-

Edições Loyola: 2000.

mo ter apressado o processo de dissolução das formas

MANCINELLI, Fabrizio. Guide des catacombes de

clássicas. Se, por exemplo, representa-se Orfeu com a

Rome. Florence: Scala Group, 2012

intenção de ocultar na sua figura o Cristo que liberta

40 | AKRÓPOLIS


CIDADE TEXTO POR CLEITON DO CARMO & ALEXANDRE DUARTE

ARQUITETURA, ARTE E HISTÓRIA

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

JERUSALÉM Neste artigo foi feita uma abordagem sobre Jerusalém, cidade histórica que desde seu nascimento vem tendo papel importante no cenário político-religioso no mundo ocidental. Portanto, para o estudo foi priorizada a forma com que os diferente povos com suas religiões interferiram na arquitetura da cidade, assim como a arquitetura e o desenho urbano de Jerusalém foi importante para a concepção da cidade ideal da Idade Média. Desta forma, foram considerados os períodos que demarcaram essas mudanças,, tendo enfoque na mitologia judaico-cristã, que ajuda a esclarecer as transformações das características arquitetônicas e urbanas que a cidade sofreu com o decorrer do tempo.

TRANSFORMAÇÕES URBANAS E ARQUITETÔNICAS MEDIANTE INFLUÊNCIA DE DIFERENTES POVOS

Jerusalém, cidade conhecida pela humanidade como Cidade Sagrada, é cenário das três maiores religiões monoteístas. Para os mulçumanos é a Cidade Santa; aos judeus, é a Cidade da Paz, e aos Cristãos, é a Cidade da Via Dolorosa, do Calvário de Cisto. Entretanto, essa cidade foi palco de inúmeras transformações geradas pela posse de diferentes povos, assim como destruições, edificações, invasões que interferiam na configuração da cidade e, por conseguinte no desenho urbano e nos seus elementos arquitetônicos. (MAGI, 1988, pp. 03) Jerusalém é uma cidade cujos nomes são diversos e possui um significado distinto para cada nação que teve algum contato, direto ou não com ela.

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eixo, no ponto exato onde a estrada cruza desde a costa até o Vale do Jordão. Jerusalém possuía cerca de 15 a 17 quilômetros, desde a fronteira ocidental das montanhas da Judeia, até a sua fronteira leste. (Israel Pocket Library, 1973, pp. 03) A história de Jerusalém é dividida em alguns períodos os quais irão definir também o seu traçado urbano, à medida que ocorrem mudanças e intervenções nas sociedades que habitavam a cidade. Um dos primeiros períodos é o período cananeu. Na idade do Bronze, Jerusalém surge juntamente com várias outras cidades cananeias antigas. É uma das cidades estabelecidas ao caminho da bacia hidrográfica de norte a sul. Mas suas vantagens naturais eram limitadas; Ela era conhecida como uma cidade-estado Cananeia. Segundo a Bíblia, esse período também é conhecido como o período dos Patriarcas. Estudiosos acreditam que a cidade estava situada nas ladeiras leste de duas colinas. A única nascente na área, que saía do sul das duas colinas era, certamente fator determinante na localização da antiga cidade. O estreito desfiladeiro na parte sul da montanha deu à ela uma boa posição de defesa. O único ponto A cidade se localiza sobre as montanhas da Judeia en-

fraco era a parte do norte, onde os muros tinham que

tre as montanhas de Betel ao norte de Hebrom, que fica

ser mais fortificados. Mesmo em um estágio antecipa-

ao sul. Ao oeste da cidade estão às ladeiras das Mon-

do, providências eram tomadas para certificar o supri-

tanhas da Judeia e ao leste, está o deserto da Judeia,

mento de água em épocas de seca. Um canal era feito

que descende do Mar Morto. A posição geográfica de

na ladeira, curvo e descendo na direção da fonte, para

Jerusalém está ligada à estruturação morfológica das

levar água à cidade.

montanhas da Judeia, as quais aparecem em uma mas-

Evidentemente essa transição pela cidade tornou-se

sa sólida interrompida por vales e desfiladeiros, apesar de esses serem encontrados nas descidas leste e oeste. Essa extensão contínua de montanhas leva a cidade a ser uma área considerável de domínio fortificado. Sua posição no cruzamento principal do norte ao sul e do oeste a leste realça sua importância: ao ascender seu platô é possível cruzar a montanha. A estrada pela extensão das montanhas acompanha o platô, e qualquer desvio para o leste ou oeste encontra com os íngremes desfiladeiros de um lado e do outro. Essa estrada conecta Hebrom, Belém, Jerusalém, Ramallah e Nablus (Schechem). Jerusalém fica localizada nesse

42 | AKRÓPOLIS


possível pela localização geográfica da cidade. O es-

mentação acerca do seu traçado urbano é referente à

tabelecimento de mercados reais na cidade também

idade média, onde a cidade teve significativa importân-

foram fatores importantes ao desenvolvimento. O

cia histórica devido às grandes disputas territoriais en-

caráter cosmopolita da cidade começou a surgir com

tre os cristãos e mulçumanos. Nesta época segundo o

a construção de santuários a deuses estrangeiros, em

especialista em história da arte medieval, Carlos Ema-

uma colina do lado de fora da cidade. Ao construir o

nuel Sousa Santos a cidade tinha a configuração de um

primeiro templo e o palácio real, Salomão deu a Je-

paralelepípedo, circundado por torres e muralhas, pos-

rusalém uma característica única, uma combinação de

suía duas vias principais que a dividia formando quar-

uma cidade sagrada com uma cidade real. O templo

teirões. Entretanto, embora a Cidade Santa se trate de

foi construído no topo da colina onde ficava também

uma das cidades mais importantes da arquitetura me-

o palácio. O templo era pequeno, mas era reconhecido

dieval, esta, os recorrentes cercamentos e guerras tra-

por seu valor e refinamento técnico. O palácio real era a

vadas em seu território, fizeram com que ela perdesse

maior edificação da cidade, ocupando uma grande área

rico material arquitetônico. Logo que Saladino recuper-

entre os dois vales ao norte da Cidade de Davi. (Israel

ou a cidade de Jerusalém em 1187, ordenou que fossem

Pocket Library, 1973, pp. 09-13). Após a queda da Ba-

destruídos todos os edifícios anexos construídos pelos

bilônia, em 536 a.C. Ciro, rei da Pérsia passou a dominar

Templários junto a al-Aqsa e restaurou o seu estado

Judá. Inicia-se o desejo da reconstrução do templo. O

original, bem como os outros espaços até aí converti-

templo era um edifício que agregava os habitantes em

dos ao culto cristão. (EMANUEL Sousa Santos. Carlos,

volta do mesmo, ao ser destruído, a cidade empobrecia

2007, pp. 46).

sua composição urbana que era concêntrica radial. En-

Através desta análise, nota-se que embora a arquitetu-

tretanto, apenas no reinado do rei Dario que o segun-

ra seja importante para a construção de cidades, assim

do templo é completamente edificado. Não bastasse o

como para a criação de significados e características

templo, havia brechas nos muros e os portões estavam

que serão atribuídas às mesmas, ela acaba por ser um

queimados, surge então Neemias, que decide deixar a

fator que por si só não garante que elas tenham uma

corte e ir para Jerusalém, com o afã de reconstruir seus

sobrevivência longeva, fato que pode ser possível ap-

muros. Os muros são enfim reconstruídos e foram pos-

enas pela combinação de outras características como

tos guardas nos portões. Desse modo, a cidade volta a

cultura e religião. Tendo a análise atida ao estudo da in-

retratar um espaço fechado e de certa forma privado.

fluência cultural e religiosa, no caso de Jerusalém, devi-

Até durante o período de Alexandre, o Grande (332 a.C.)

do ao fato de ser importante para três grandes credos,

Jerusalém foi uma cidade pacífica. Depois de sua morte,

acabou por protegê-las do tempo e do próprio homem.

a cidade sofreu com várias guerras de sucessão. Esse era o período Helenístico. Nesse período, os sacerdotes

Referências:

começaram a definir uma importante classe social, as-

Israel Pocket Library, Jerusalem, Jerusalém, Israel, Ket-

sim como vários segmentos da nobreza começaram a

er Publishing House, 1973,

ter proeminência, possuindo grandes campos e terras.

Magi, Giovana, Jerusalén: 115 ilustraciones, Via Cairoli

(Israel Pocket Library, 1973, pp. 19)

CASA EDITRICE BONECHI, 1988.

Esta característica que surgiu devido ao seu crescimen-

Bíblia de estudo Plenitude, Baruerí, SP, Sociedade Bí-

to espontâneo, passou a ser copiada na idade média

blica do Brasil, 2001

como forma de edificar a cidade ideal, pois acredita-

Sítio:

va-se que a cidade se assemelhava à Nova Jerusalém,

quitextos/08.085/235

http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/ar-

cidade utópica descrita na Bíblia. Boa parte da docu-

AKRÓPOLIS | 43


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AKRÓPOLIS - FAU UNB Sketch - Eliel Américo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Dezembro de 2015

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46 | AKRÓPOLIS


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