Anexo curso: PROCESSOS DE CRIAÇÃO NA ÁREA DE LINGUAGENS: CONEXÕES POSSÍVEIS NA PRÁTICA DOCENTE

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PROCESSOS CRIATIVOS: PERCURSOS POTENTES

Neste material, por meio de documentários, relatos, entrevistas e pesquisas você conhecerá processos de criação que exploram o modo de pensar e produzir arte de 5 ar<stas de diferentes linguagens. É muito importante que você perceba que nos processos de criação além de inspiração, são fundamentais a pesquisa, experimentação e sobre tudo, muito estudo. Guido Viaro | @cecaguidoviaro centrodeartesguidoviaro.com.br instagram.com/cecaguidoviaro facebook.com/centrodeartesguidoviaro


Como seria fazer uma foto sem câmera?

Fonte: hEps://www.sintomnizado.com.br/polaroides_fotos.htm


Reinventar a fotografia, repensar o espaço urbano, provocar memórias e imaginação, a par<r de suas percepções individuais numa proposta cole<va de olhares que pensam sobre o que vêem. Questões como essas se fazem presentes na produção arNs<ca de Tom Lisboa como podemos observar na imagem anterior. Na intervenção urbana "polaroides (in)visíveis" (2005 - Curi<ba), por meio de sua obra, Tom Lisboa convida o espectador a olhar para a cidade de forma a<va. Expostas em pontos com grande circulação de pessoas, suas “não-fotografias”, conduzem o olhar de quem passa ao encontro de suas obras, ins<gando um repensar sobre aquilo que se perde no co<diano e quais são os lugares estabelecidos para a arte, além do museu. Detalhes quase impercepNveis no ambiente, observados pelo ar<sta, são transformados em fotografias “instantâneas”, onde as palavras ocupam o lugar das imagens.


Em seu processo cria<vo, a observação do espaço pode durar meses e a execução alguns dias. Suas intervenções são feitas a par<r de impressões em pequenos papéis amarelos colados por fitas - que podem sumir a qualquer momento pela ação do tempo ou dos passantes - lhe atribuindo um caráter efêmero. Entretanto, suas “não-fotografias” se mantêm vivas e podem ser realizadas por qualquer pessoa a qualquer momento. Já imaginou fazer isso com seus estudantes na sua cidade? No Guia de Visitação On-line da intervenção polaroides (in)visíveis é possível imprimir as fotos/textos e encontrar a localização dos espaços em que ocorreram as experiências de ser conduzido pelo olhar do ar<sta.


Acesse o Guia de Visitação On-line da Intervenção Polaroides (In)visíveis através do link ou Qr Code abaixo.

hEps://www.sintomnizado.com.br/ polaroides_cidades.htm

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*Esse é um recurso visual, um código, uma linguagem própria do ambiente Qr Code

digital. Aproxime a câmera do celular, assim ele irá realizar a leitura e em seguida aparecerá um link para você acessar o vídeo no YouTube.


Saiba mais sobre o processo de criação desse arJsta:

Tom Lisboa, no limite da norma, texto de Fernando Bini: hEps://www.revistaideias.com.br/2014/04/05/tomlisboa-profissao-ar<sta/ Bate-papo com o ar<sta sobre o Projeto Fotográfico Novas Maurílias: hEps://www.youtube.com/watch?v=EVwE92c6yM


Você lembra qual foi o primeiro som que ouviu hoje ao acordar?

Fonte: hEp://bienaldecuri<ba.com.br/2019/ar<sta/hermeto-pascoal/


A imagem apresenta uma das obras plás<cas da exposição “Ars Sonora”, do ar<sta alagoano Hermeto Pascoal, na programação da 14ª Bienal de Curi<ba. Nela podemos ver o registro arNs<co de par<turas musicais, pintadas sobre fronhas de travesseiros e também em outros objetos. Adolfo Montejo Navas, responsável pela curadoria da exposição, diz a respeito da obra de Hermeto:


“Até agora não se tem vislumbrado a obra de Hermeto Pascoal numa relação mais intrinseca com o território das artes plás<cas ou com uma nova relação arte e som. Só a par<r dessas novas perspec<vas pode-se ter uma mais completa leitura de sua contribuição ar<s<ca. O fato de o seu trabalho não ter sido focalizado sob esse prisma de forma abrangente e cri<ca, reduz e amplia a leitura cultural de sua obra, porque ele é pioneiro, com diversas experiências, na genealogia sonora experimental. Sua poé<ca heterodoxa, além dos contornos musicais considerados clássicos e manifestamente plurifocais, permite inferir um contexto mais aberto das artes por extenso”.


Hermeto Pascoal, nos convida a ouvir e observar atentamente os sons ao nosso redor e para ele, as diferentes sonoridades devem ser u<lizadas sem preconceito, no hibridismo que vai desde instrumentos musicais, corpos que vibram, objetos do co<diano, sons da natureza, além da exploração de ritmos como baião, frevo, forró, samba, choro, jazz, entre outros, que mobilizam a ampliação de repertório do ouvinte até o registro ar<s<co, de forma também visual, das composições em diversos objetos do co<diano.


Sempre atento ao mundo sonoro, Hermeto, explica que "compor é um ato tão necessário quanto respirar". Seu processo cria<vo é permanente, e dialoga constantemente com o novo, o inusitado, o improviso, na eterna busca para produzir música a par<r de objetos do co<diano. Hermeto às vésperas de completar 60 anos, decidiu escrever em seu livro "Calendário do Som" , 366 músicas, uma para cada dia do ano, incluindo anos bissextos, porque queria homenagear todos os aniversariantes do mundo. Cada música estabelece com o leitor um diálogo afetuoso, em que ele registra comentários e reflexões que envolvem família, memórias, crenças, paixões, divindades e ilustrações que mostram sua mul<plicidade cria<va e arNs<ca.

Imagem da capa do livro: “CALENDÁRIO DO SOM”


Veja agora no vídeo abaixo Hermeto contando sobre seu processo cria<vo na elaboração do Calendário do Som. Acesse: hEps://www.youtube.com/watch?v=rgiU19OGgwc

Imagem da capa do livro: “CALENDÁRIO DO SOM”


Selecionamos alguns trechos que refletem esse processo, envoltos em sensibilidade, imaginação, inves<gação, experimentação e repertório. Dia 51 do Calendário do Som: Cada dia tem um som bem diferente, cada dia tem o som que merece. Dia 251 do Calendário do Som: Esta música é uma mistura de forró com erudita, tocada na beira do rio, com cachoeira e outras coisas mais. Viva as cores do som!


Dia 282 do Calendário do Som: Esta música se parece muito com as escadas an=gas dos sobrados velhos, que quando a gente pisa faz um som alegre, e as passadas lembram filmes como o cinema mudo e os músicos tocando chorinho =po jazz americano. Abel Ferreira, Pixinguinha, Copinha, Radamés, Altamiro Carrilho, Jacó do Bandolim, Valdir Azevedo e outros. Dia 299 do Calendário do Som: Vejo nesta música muitos matos, muitos bichos, bastante água de nascente natural, que tem muito a ver com minha música que hoje não é só minha, é do mundo, porque a chamo de música universal.


Dia 324 do Calendário do Som: As minhas composições são como sonhar acordado. Nessa música agora eu fiz uma grande viagem de jipe pela estrada de barro vermelho cheia de plantações nos dois lados. Viva o som e as cores! Dia 338 do Calendário do Som: Escrevi esta música pensando em quando eu morava num cor=ço. Você não deve ficar com a verdade incubada, espere a hora certa e ponha a boca na tuba para quem quiser escutar. PASCOAL, Hermeto. Calendário do Som. SP: Senac/Ins<tuto Itaú Cultural, 2004.


Conheça mais sobre o processo de criação desse arJsta: Hermeto Pascoal - A música universal hEps://www.youtube.com/watch?v=Qrclrw8lYK8 Site oficial de Hermeto Pascoal - Desenhos e pinturas hEps://www.hermetopascoal.com.br/desenhos Hermeto e o uso de instrumentos não convencionais hEps://www.youtube.com/watch?v=VG5uMwhy1Ww Canção “Chá de panela”, homenagem a Hermeto - compositor e violonista Guinga hEps://www.youtube.com/watch?v=WKotY-COav4 Homenagem 85 anos de Hermeto Pascoal: João Pedro Teixeira - Teatro Guaíra / Curi<ba Paraná h E p s : / / w w w. fa c e b o o k . c o m / j o a o p e d r o m u s i c p a g e / v i d e o s / 2883846228598495/?sfnsn=wa


Fonte: hEps://www.youtube.com/watch?v=lwJN51btDFs

É possível incorporar personagens nos processos de criação?


Se acaso me quiseres sou dessas mulheres que só dizem sim [...] [...] Olhos nos olhos, quero ver o que você faz ao sen=r que sem você eu passo bem demais [...] Tem dias que a gente se sente, como quem par=u ou morreu… Mas eis que chega a roda-viva e carrega o des=no pra lá [...] Apesar de você, amanhã há de ser outro dia [...] [...] O meu pai era paulista Meu avô pernambucano O meu bisavô, mineiro Meu tataravô baiano Vou na estrada há muitos anos Sou um ar=sta brasileiro.


Ar<sta que dialoga com o co<diano, com um versá<l potencial criador que incorpora personagens em obras consagradas no teatro, literatura, cinema e com destaque nas composições musicais onde alcançou maior popularidade. Entre tantos ar<stas que podem ser estudados em seus processos cria<vos, Francisco Buarque de Holanda surpreende ao descrever suas criações através de memórias que não são só suas, ou seja, falsas memórias das quais ele se apropria. Por esse mo<vo, se destaca pela versa<lidade em incorporar personagens tão diversos, tais sejam mulheres, pros<tutas, marginais, homossexuais, operários, entre outros.


O processo cria<vo do ar<sta é conNnuo, seu potencial é movido por impulsos em busca de captar realidades da vida atreladas às suas experiências, imaginação e memória. Criar é estar atento, assim Chico dialoga com o novo sem ser nostálgico, mas aproximando-se do sen<do do olhar para o rejuvenescer. Selecionamos alguns trechos do documentário que podem exemplificar o processo desse ar<sta. Podemos ver parte da trajetória dele, sua forma de criar as letras das músicas, o ritmo, textos teatrais, obras literárias, lugares esses onde elementos como a memória e imaginação se confundem e se mesclam. Nesse documentário Chico Buarque relata seu percurso para um processo cria<vo, sua criação que perpassa a sua vida co<diana, militância polí<ca, literatura, cinema, peças teatrais e histórias de família.


Trecho 1: Trecho que Chico fala sobre o processo de alteridade do escritor, sobre a sua relação com o outro, com a história do outro, o “eu e o outro” num processo de criação. Nessa entrevista ele responde sobre incorporar personagens para criar suas composições. hEps://youtu.be/FYUN2hv8Npw

Trecho 2: Sobre a memória falsa e real como matéria-prima para criações na música e literatura. hEps://youtu.be/QySaVM5pAQA


O documentário traz uma parte poé<ca sobre a descoberta de um irmão de Chico nascido na Alemanha, o qual ele buscava incessantemente encontrar. Foi um suspense com desfecho de filme de ficção, que resultou também no livro “O irmão Alemão”, de 2014. Conheça mais sobre o processo de criação desse arJsta: hEps://www.youtube.com/watch?v=IMdwO452VG0


Fonte: hEps://www.theguardian.com/stage/2017/feb/10/tanztheater-wuppertal-masurca-fogo-review-pina-bausch

Dançar parJndo de perguntas, lembranças e observações?


Algumas propostas arNs<cas de dança desejam encurtar o espaço de distanciamento entre a vida e a arte, e fazer com que esse entrelaçar seja potência p a ra a c r i a çã o . P ro m o ve m o e s ca p a r d a s representações, das fórmulas pré-determinadas e se arriscam em processos que provocam uma co-criação entre os envolvidos - dançarinos (as), coreógrafo (a) e equipe técnica. Um belo exemplo é a obra de Pina Bausch. Muitas são as caracterís<cas próprias que podemos ler em suas coreografias, como a provocação de reflexões sobre as relações humanas, a quebra da expecta<va do virtuosismo na dança, a presença de um pensar fragmentado e do estranhamento em algumas ações, somados aos movimentos do co<diano e a sua repe<ção que levam a exaustão do corpo que dança.


A ar<sta, em suas obras, vai realocando as regras que estamos acostumados a assis<r. Em seu método de criação realiza a abordagem interpreta<va e composi<va, onde através de perguntas feitas aos seus intérpretes conta como respostas um simples movimento isolado ou organizado em uma pequena sequência, uma palavra, uma música ou uma imagem provocando o a<var de lembranças, sonhos, medos e até confissões. São perguntas lançadas pela coreógrafa que atravessam os(as) dançarinos(as) em suas experiências de vida.


Algumas provocações realizadas por Pina Bausch: Em quais assuntos você está realmente interessado? De onde você <ra suas ideias? Qual é o tema desta peça? Como você se propõe a alcançá-lo? Por que sua performance é interessante para observar, resis<r ou experimentar?


Em um momento da sua carreira realiza, junto com o seu grupo, a Tanztheater Wuppertal, residências arNs<cas em diferentes cidades do mundo. O viver, por algumas semanas, a ro<na de outros contextos e culturas, faz parte também do processo de criação de novas obras coreográficas de seu repertório. Uma delas é Mazurca Fogo (1998), da residência realizada em Portugal. Foram três semanas imersos em Lisboa, onde os integrantes da companhia realizavam suas observações da cidade e compar<lhavam com a equipe, somando às provocações lançadas por Bausch. Pina Bausch Lissabon Wuppertal - Acesse: h\ps://www.youtube.com/watch?v=d8mXcOBUNDs&t=507s


Conheça mais sobre o processo de criação dessa arJsta:

Trailer da coreografia Mazurca Fogo: hEps://www.youtube.com/watch?v=Xbj7eGCREf0

Trailer do filme Pina (2011) de Wim wenders: hEps://www.youtube.com/watch?v=F-cV74Mq7KU

Pina Bausch - Mulheres na Dança: hEps://www.youtube.com/watch?v=Q5dCcV7RTLU&t=172s


Fonte: hEps://versosemgotas.wordpress.com/2011/04/14/fotografia-1-evgen-bavcar/

É possível enxergar pelo olhar daquele que “não vê”?


Fotografar o que não se vê. As fotografias de Evgen Bavcar, nos trazem a possibilidade para uma nova leitura de mundo, com outras percepções que nos convidam a imaginar e ques<onar a lógica que privilegia a visão, chamada por ele de “oculocêntrica”. A perda da visão durante a adolescência, trouxe um novo olhar para a fotografia de Bavcar, apresentada a ele pela sua irmã. Em suas reflexões o fotógrafo, filósofo e cineasta aponta que não apenas ele, mas todos nós somos cegos, ques<onando o que é visível em um mundo onde o que vemos, apenas passa excessivamente por nós.


O ar<sta compreende a visão como algo mais complexo que a mera percepção ocular do mundo em volta, mas como a capacidade de leitura das coisas, entendendo que toda imagem nos traz um texto, e que cada leitor, a par<r de sua memória afe<va sobre situações semelhantes, pode construir uma nova fotografia. A imagem é na verdade um conceito quando ela se aproxima da palavra. Do contraste entre luz, sombras e sobreposições inusitadas na manipulação da imagem, seu universo cria<vo problema<za o fato de que ver não é uma exclusividade de quem enxerga, trazendo novas possibilidades de construção do que ele chama de “imagens interiores”.


Seu processo cria<vo envolve o outro, a descrição de imagens, a interação com quem é fotografado por sons ou toques e o desenvolvimento de técnicas de captura com alto contraste, composição de luzes na escuridão. Bavcar comenta que costuma pedir para que crianças descrevam o resultado de suas fotos, afirmando que elas ainda têm um olhar que não é influenciado pelo outro. No documentário Janela da Alma (2001) de Walter Carvalho e João Jardim, Evgen Bavcar mostra parte de seu processo de criação nas fotos de sua sobrinha em um campo: “(...) pedi a ela que corresse e dançasse, ela usava um sininho, que eu escutava. Na verdade, fotografei o sininho, mas este não pode ser visto. Trata-se, então, de uma fotografia do invisível”.


Em outro momento do documentário, apresenta parte de seu método para fazer fotografias de retratos. Na cena, podemos entender parte da técnica u<lizada pelo ar<sta. Bavcar acompanhado de sua assistente, aborda uma mulher na rua, que conversa com ele, descrevendo a distância a que se encontra do foco da câmera. O fotógrafo se aproxima e explica: “Eu a toquei, toquei seu rosto, isso significa que a olhei de perto. Para vocês que enxergam, eu a toquei, mas, para mim, que sou cego, eu a olhei”. Depois de tocar o rosto da mulher, ele toma distância, leva a câmera próxima ao seu rosto, buscando o foco da moça enquanto a ouve falar.


Uma curiosidade que também aparece no documentário é o pequeno espelho redondo que Bavcar usa na lapela do casaco, oferecido para a pessoa a ser fotografada, buscando que ela se reconheça no momento do registro, invertendo a ordem e subs<tuindo o “olhe para mim”, pelo “olhe para você”. Para assis<r cenas do documentário Janela da Alma acesse: hEps://youtu.be/ogDZ0mEJ56k


Conheça mais sobre o processo de criação desse arJsta:

Janela da Alma. Direção: João Jardim; Walter Carvalho. RJ: Tambellini Filmes e Produções Audiovisuais, 2001: hEps://www.youtube.com/watch?v=_I9l7upG0DI O visível e o invisível da imagem em Bavcar: considerações e inversões sobre o visível pictórico e o invisível textual. Revista Mídia e Co<diano. hEps://periodicos.uff.br/midiaeco<diano/ar<cle/view/46939/27990

Revista Carbono - Entrevista com Evgen Bavcar: hEps://revistacarbono.com/ar<gos/06-entrevista-evgen-bavcar/

Site do ar<sta: hEp://www.evgenbavcar.com/


Este material foi produzido e disponibilizado pelo Centro Estadual de Capacitação em Artes Guido Viaro e integra o módulo Processos cria=vos: percursos potentes, do curso ofertado para os professores da rede pública paranaense.

Guido Viaro | @cecaguidoviaro centrodeartesguidoviaro.com.br instagram.com/cecaguidoviaro facebook.com/centrodeartesguidoviaro


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