Série casa do prazer livro 01 escravos do amor simply sexual kate pearce

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1 Southampton, Inglaterra, 1815 ara pressionou os dedos contra os lábios para evitar gritar ao ver o homem e a mulher que se contorciam juntos nos lençóis enrolados. As coxas roliças de Daisy rodeavam os quadris do homem que deslizava sem descanso dentro dela. O ritmo violento dos movimentos fazia chiar a armação de ferro da cama enquanto Daisy gemia e gritava o nome dele. Sara sabia que devia afastar-se da porta entreaberta, mas não conseguia desviar o olhar da atividade frenética da cama. Sentia um ardor na pele e o seu coração batia com força contra os seios. Quando Daisy gritou e se contorceu como se estivesse a sofrer um ataque, um pequeno som escapou dos lábios de Sara. Para seu horror, o homem que estava sobre Daisy pareceu elevar-se como se tivesse ouvido algo. Girou a cabeça e os seus olhos fixaram-se nos dela. Sara virou-se e correu, tropeçando pelo corredor ao mesmo tempo que ajeitava o grande xaile em redor dos ombros. Acabava de apoiar a mão na maçaneta da porta do patamar quando uns passos atrás dela a detiveram. – Apreciou o que viu? A voz alegre de Lorde Valentin Sokorvsky interrompeu a retirada apressada de Sara. A contragosto, virou-se para enfrentá-lo. Ele aproximava-se ao mesmo tempo que metia a camisa branca para dentro das calças desabotoadas. Trazia o casaco, o colete e o lenço do pescoço pendurados no braço. Um leve brilho de suor, testemunho do recente esforço, cobria a sua pele morena. Sara endireitou as costas. – Não se tratou de uma questão de prazer. Confirmava apenas as minhas suspeitas de que o senhor não é um homem adequado para a minha irmã mais nova. Lorde Valentin encontrava-se perto o suficiente para que Sara o olhasse fixamente nos olhos cor de violeta. Era o homem mais bonito que alguma vez tinha visto. O seu corpo era tão esbelto quanto uma escultura grega e movia-se com a graciosidade de um bailarino. Embora desconfiasse dele, desejava estender a mão e acariciar o seu carnudo lábio inferior para comprovar que era real. O seu cabelo era de um castanho intenso, preso atrás com uma fita de seda negra. Era um estilo já passado de moda, mas ainda assim ficava-lhe bem. Valentin arqueou uma sobrancelha. Cada movimento que fazia era tão refinado que Sara suspeitava que praticasse cada um deles à frente do espelho até os aperfeiçoar. O colarinho da camisa aberto deixava ver a metade de uma moeda cor de bronze pendurada num cordão de couro que aparecia por entre os pelos do peito. – Os homens têm... necessidades, Miss Harrison. Estou certo de que a sua irmã está consciente disso. Enquanto ele se aproximava mais, Sara tentava respirar normalmente. O seu perfume cítrico

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era acentuado por outro aroma mais poderoso e incompreensível que ela supunha dever-se ao sexo. Nunca tinha imaginado que fazer amor tivesse um aroma particular. Sempre acreditara que a procriação era uma questão tranquila e pacífica, que se desenrolava na privacidade de um leito conjugal e não a cópula primitiva, ruidosa e exuberante que acabara de presenciar. – A minha irmã é uma senhora, Lorde Sokorvsky. O que saberá ela sobre os desejos masculinos? – O suficiente para saber que um homem pretende herdeiros e obediência da sua esposa e prazer da sua amante. Sara enfureceu-se em nome da irmã. – Talvez ela mereça mais. Pessoalmente, não me ocorre nada pior do que estar presa a um matrimónio como esse. Os extraordinários olhos de Lorde Valentin brilhavam com interesse ao mesmo tempo que pareciam notar a sua roupa de dormir e os pés descalços pela primeira vez. Sara retrocedeu para a porta cautelosamente e ele moveu o corpo para lhe obstruir a saída. – É por essa razão que frequenta a ala dos criados em plena noite? Por acaso decidiu arriscar tudo pelo amor de um homem comum? Sara enrubesceu e puxou com força o xaile contra os seios. – Vim verificar se o que a minha criada me havia dito era verdade. – Entendo. – Deu uma vista de olhos rápida ao corredor – Daisy é sua criada? – Fez-lhe uma vénia elegante – Considere-me verdadeiramente comprometido. O que pensa fazer? Insistir para que eu contraia matrimónio com ela? Contar ao seu pai? Ela fitou-o com ódio. Como poderia dizer ao seu pai que o homem que considerava um protegido era na verdade um libertino debochado? Por outro lado, havia a questão da imensa riqueza de Lorde Sokorvsky e a verdade era que as empresas de transporte marítimo do pai não tinham faturado muito nos últimos anos. Sara lambeu os lábios e ele seguiu-lhe o movimento da língua com um olhar interessado. – O meu pai tem muita estima por si. Ficou encantado quando se ofereceu para contrair matrimónio com uma das suas filhas. Ele encostou o ombro à parede e observou-a com a expressão séria. – Devo a minha vida ao seu pai. Casaria com as três, se isso fosse permitido neste país. – Felizmente para si, não é – comentou Sara. O rosto dele continuava com a mesma expressão preguiçosa e zombeteira que ela temia. – Quanto ao meu propósito, pensei em apelar ao seu bom senso. Queria pedir-lhe que não desonre a minha irmã mantendo uma amante depois do casamento e que permaneça fiel aos seus votos. Ele olhou-a fixamente durante um longo momento e depois desatou a rir. – Espera que eu seja fiel à sua irmã para sempre? – Os seus olhos escureceram, deixando transparecer um vestígio de aço. – A troco de quê? – Não direi nada ao meu pai sobre o seu comportamento desonroso desta noite. Ele ficaria muito dececionado. O sorriso de Lorde Valentin desapareceu. Aproximou-se tanto que as suas botas roçaram os dedos descalços de Sara.


– Isso é chantagem. E não terá maneira de saber se cumpro a minha palavra ou não. Sara esboçou um pequeno sorriso triunfante. – Então não é pessoa de cumprir as suas promessas? É um homem sem honra? Ele colocou os dedos sob o queixo dela e levantou-lhe a cabeça com um movimento determinado para a olhar nos olhos. Para Sara era difícil respirar ao mesmo tempo que observava aqueles extraordinários olhos. Porque não se dera conta de que debaixo daquela deliciosa aparência havia uma terrível vontade férrea? – Posso assegurar-lhe que cumpro sempre as minhas promessas. Sara encontrou a sua voz: – A Charlotte só tem dezassete anos. Sabe pouco sobre o mundo. Estou apenas a tentar protegêla. Ele soltou-lhe o queixo e deixou deslizar os dedos pelo pescoço dela até chegar ao ombro. Para alívio de Sara, o seu ar de violência contida desapareceu. – E os seus pais não a colocaram à frente para casar comigo porquê? É a mais velha, não é? Ela olhou de maneira intencional para a mão dele, que ainda repousava sobre o seu ombro. – Tenho vinte e seis anos. Tive a minha oportunidade para conseguir um marido, mas estive uma temporada em Londres e não consegui tirar proveito dela. Ele enrolou uma madeixa do cabelo negro de Sara em redor do dedo e ela estremeceu. A sua expressão arrebatada intensificava-se. – A Charlotte é a mais bonita e obediente das minhas irmãs. Merece uma oportunidade de se tornar a esposa de um homem rico. A risada suave que ele soltou assustou-a e o hálito quente roçou-lhe o pescoço. – Quer dizer como eu? Sara olhou-o nos olhos com atrevimento. – Sim, embora... – Enrugou a testa, distraída pela proximidade dele. – A Emily daria uma melhor esposa. Deixa-se impressionar mais facilmente pela riqueza e pela posição social do que Charlotte. – A Sara possui algo que nenhuma das suas irmãs tem. Sara mordeu o lábio. – Não precisa de me recordar. Parece que sou impulsiva e muito direta para o gosto da maioria dos homens. Ele puxou ligeiramente a madeixa de cabelo. – Não para todos os homens. Tive fama de elogiar as mulheres com coragem e determinação. Ela levantou os olhos e enfrentou os dele. Algo urgente faiscava neles e Sara lutou contra o desejo de inclinar-se e roçar a face contra aquele peito musculoso. – Acredito que estarei muito melhor no papel de tia solteirona do que no de esposa. Ao menos, poderei ser eu mesma. O seu sorriso indolente era tão íntimo quanto uma carícia. – Mas, e os prazeres da cama? Não se arrependerá de não os provar? Ela suspirou com desprezo. – Se o que acabo de ver é um exemplo desses prazeres, talvez esteja melhor sem eles. Os dedos dele esticaram a madeixa de cabelo.


– Não gostou de ver como eu possuía a sua criada? Sara fitou-o boquiaberta. O sorriso dele alargou-se. Valentin estendeu o dedo indicador e, com suavidade, fechou-lhe a boca. – Não é apenas dissimulada, Miss Harrison, como também é mentirosa. O calor inundou-lhe as faces. Sara desejava cruzar os braços por cima dos seios. Estremeceu quando ele retrocedeu um passo e a observou com atenção. – A sua pele está ruborizada e consigo ver-lhe os mamilos através da camisa de dormir. Se deslizar a minha mão por entre as suas pernas, aposto que está húmida e preparada para mim. Os dedos de Sara moviam-se com nervosismo, num impulso instintivo de dar uma bofetada naquele rosto gracioso. Esperou que uma onda de raiva alimentasse aquele gesto, mas não aconteceu nada. Só uma estranha sensação de espera, de tensão, de necessidade – como se o seu corpo soubesse algo que a sua mente ainda não tinha compreendido. Permitiu que ele a observasse, tentada a pegar-lhe na mão e a pressioná-la contra o seu peito. De algum modo, sabia que isso aliviaria a dor latente que lhe inundava os sentidos. Como se lhe tivesse lido os pensamentos, Valentin aproximou a mão e apertou-lhe o mamilo. Sara fechou os olhos ao mesmo tempo que uma pontada de necessidade disparava diretamente para o seu útero. – Sara... A voz baixa dele rompeu o feitiço. Ela cobriu-se com o xaile e retrocedeu. Logo que pôde, abriu a porta e correu. A risada dele perseguiu-a em eco pela escada. Valentin seguiu Sara Harrison com o olhar enquanto o seu pénis engrossava e crescia contra as calças desabotoadas. Distraído, ajeitou a roupa e pensou na reação dela diante dele. Necessitava de um homem dentro dela, embora não se desse conta, e ele talvez devesse reconsiderar o seu plano de casar com a jovem e obediente Charlotte. O seu sorriso desapareceu ao seguir Sara escada abaixo. John Harrison tinha um vínculo especial com a filha mais velha. Conhecendo ele a sórdida história de Valentin, permitiria que contraísse matrimónio com a sua filha preferida? Para começar, tinha sido interessante que não a tivesse oferecido como possível prometida. Desceu um lance das escadas e regressou pelo longo corredor escuro até ao seu quarto. Não havia nem sinal de Sara. Valentin contemplou a cama vazia e imaginou Sara no centro, recostada e nua com o seu comprido cabelo negro espalhado sobre os travesseiros e os braços bem estendidos para o receber. Franziu a testa ao mesmo tempo que o seu pénis pulsava de necessidade. Para sossegar os fantasmas do passado, precisava de assentar com uma mulher convencional que o brindasse com filhos e lhe deixasse fazer o que quisesse. Antes de deixar a cidade, tinha passado uma noite ruidosa com os seus amigos e a sua atualamante e haviam elaborado uma lista com as qualidades que um homem necessitava de uma esposa da sociedade. Uma das irmãs dela seria, sem dúvida, uma melhor opção. Suspeitava que Sara representasse um desafio. A curiosidade natural de Sara atiçava-lhe os sentidos.


Tinha desejado abrir-lhe os lábios e tomar-lhe a boca para provar como sabia. Havia esquecido quão erótico podia ser um primeiro beijo e já há muito tempo que não se movia num território tão interessante. A sua inocência e sensualidade subjacentes mereciam ser exploradas. Não era isso o que desejava realmente? Tirou a roupa e deixou-a cair no chão. O escasso fogo extinguiu-se e o frio invadiu tudo através da porta e das janelas mal fechadas. Ao menos tinha uns dias livres antes de ser obrigado a tomar uma decisão. John Harrison só era esperado na sexta-feira à noite. Valentin meteu-se na cama. O seu breve encontro interrompido com a entusiasmada Daisy havia contribuído pouco para satisfazer o seu desejo e tentou ignorar o aroma desagradável dos lençóis húmidos e mofentos enquanto fechava o punho em redor da sua ereção e se masturbava até chegar ao clímax. Imaginar que era Sara quem o tocava fê-lo vir-se com rapidez. Não permitiu que a sua imagem destruísse o incremento sensual de antecipação sexual que ardia através do seu corpo excitado. Imaginava o rosto dela assustado enquanto o via possuir Daisy. Teria ela desejado tocar-lhe? A ideia fazia-o estremecer. O seu corpo sacudia-se enquanto chegava à ejaculação. Fechou os olhos e uma visão do rosto ardente de Sara inundou os seus sentidos. O último pensamento que teve enquanto o sonho o chamava foi sobre ela, gozando debaixo dele enquanto se soltava bem fundo dentro dela uma e outra vez.


2 ara olhou por cima do ombro quando a risadinha animada de Charlotte se ouviu uma vez mais. O que quer que Lorde Sokorvsky tivesse dito, havia sido sem dúvida muito espirituoso e ela resistiu ao desejo de enrugar o sobrolho ante o casal absorto. Tinha-lhe pedido que prestasse mais atenção a Charlotte e não tinha o direito de se sentir dececionada por ele ter considerado as suas palavras. Na verdade, devia estar encantada. Com a sombrinha, deu um golpe violento num ranúnculo que havia na erva e cortou-o. Daisy, a sua criada, tinha estado exultante de alegria com a habilidade de Lorde Sokorvsky na cama. Ao que parece, era o melhor amante que Daisy alguma vez havia tido. Continuava a falar uma e outra vez do tamanho do seu pénis e do que sabia fazer com ele até que Sara lhe pediu que se calasse. Por certo, um verdadeiro cavalheiro faria amor com uma mulher com mais delicadeza e cortesia. Lorde Sokorvsky lembrava um pirata fanfarrão; até a sua pele era bronzeada como a de um plebeu. E a maneira como tinha ficado entusiasmado com Daisy... Ignorou a subtil pontada de desejo que experimentava na parte inferior da barriga de cada vez que imaginava aquela cópula grosseira. Suspirou ao calcular a distância até às ruínas do castelo medieval que se encontrava no topo da colina que dominava a paisagem. A sua mãe tinha organizado a saída com a esperança de fomentar a relação entre Charlotte e Lorde Sokorvsky. Para surpresa de Sara, o seu plano parecia ter funcionado. Alisou a prega da saia de percal verde-azeitona e pôs-se a caminho do topo da colina quando alguém lhe tocou no cotovelo. Voltou-se e encontrou Lorde Sokorvsky a seu lado. – Boa tarde, Miss Harrison. Está a apreciar a vista? Sara brindou-o com um sorriso frio, consciente do calor daqueles dedos enluvados sobre a sua pele nua. – Boa tarde, senhor. A vista era encantadora até a ter ocultado. Por favor, procure qualquer outra dama que seja menos capaz que eu para ajudar a subir a colina. Os dedos dele apertaram-se em redor do braço de Sara. – Mas eu quero caminhar consigo. Ontem à noite deixou-me no meio de um dilema. Ela lançou-lhe um olhar desconfiado. – Alegra-me que tenha reconsiderado as suas alternativas e de lhas ter podido orientar. Mostrou-se cortesmente confundido e esboçou então um sorriso lento que lançava perigo. – Não falo do seu breve sermão de moral, mas, sim, de algo muito mais importante que me manteve insone. – Baixou o olhar para a braguilha. – E acordado a maior parte da noite. Sara mantinha o olhar sobre as ervas amarelas e irregulares que se estendiam diante dela. Acreditaria Sokorvsky que ela era ingénua ao ponto de lhe pedir que se explicasse? – É muito modesta, minha querida. Não lhe agradaria saber a que me refiro? Sara contava cada passo tortuoso e tentava controlar a sua respiração entrecortada. O seu humor ardia sem chamas enquanto a encosta se tornava mais íngreme.

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– Não. – Pensava nos seus seios. – Olhou-a de perfil. – Para ser ainda mais preciso, passei várias horas perguntando-me de que cor seriam os seus mamilos. Os mamilos de algumas mulheres são iguais à cor dos seus lábios, outros são uma surpresa. Os seus lábios são de um rosado profundo… Serão os seus mamilos do mesmo tom? Para aborrecimento de Sara, os seus mamilos endureceram em dois casulos apertados como se apreciassem que se discutisse sobre eles. Ela continuava a avançar com esforço pela colina e recusava-se a continuar com uma conversa tão insultuosa. O seu desejo era dar um empurrão no peito do seu companheiro de caminhada e ficar alegremente a vê-lo rolar pela colina que ameaçava apoderar-se dela. Lorde Sokorvsky ria em voz baixa ao mesmo tempo que chegavam à orla exterior de um amontoado de rochas desalinhadas. – Ficou muda, minha querida Miss Harrison? Não é seu costume. Possivelmente, ficou sem fôlego depois desta íngreme subida. Sara virou-se e colocou a ponta da sombrinha no centro do peito dele. Resistiu aos seus alegres olhos cor de violeta, ao desafio naquele olhar e, antes que pudesse aplicar qualquer tipo de força efetiva, Lorde Sokorvsky levantou a mão e arrancou-lhe a sombrinha com um puxão forte. – Ah, não, não o fará. Privada da sua arma, Sara gritou ao escorregar e cair para a frente. Ele segurou-a nos braços e, de propósito, puxou-a, enrubescida contra o peito. A força dos seus músculos surpreendeu-a. O coração dele pulsava com força contra as suas faces enquanto lutava para se soltar. – Estás bem, Sara? A pergunta preocupada de Charlotte fez com que Sara se libertasse com um movimento violento e o sorriso triunfante de Lorde Sokorvsky desapareceu ao voltar-se para falar com a irmã mais nova de Sara. – Está tudo bem, Miss Charlotte. A sua querida irmã ficou indisposta com o esforço da subida. – Fez uma vénia a Sara numa demonstração de preocupação e ficou com a mão sobre o peito. – Alegra-me ter podido ajudar uma formosa donzela em apuros. Sara endireitou o chapéu. – Vós, senhor, não sois nenhum cavalheiro – declarou Sara logo que a irmã se voltou. A sobrancelha de Lorde Sokorvsky elevou-se num arco lento. – Nunca afirmei que o era. E se escolhe desafiar-me, então não espere que a trate como uma dama. Ela girou sobre os calcanhares, pontapeou um montículo de erva do pátio em ruínas e foi procurar melhor companhia. Era a segunda vez que Lorde Sokorvsky a derrotava numa disputa. Seria melhor ignorá-lo durante o tempo da sua visita e esperar que tomasse a decisão correta de respeitar Charlotte ou continuar com o seu intento de exercer alguma influência sobre ele? Não conseguia decidir-se. Olhou-o de soslaio e descobriu que ainda a observava com os olhos fixos nos seus seios. Demónio de homem! Só conseguia pensar na imagem dele a investir sobre Daisy. Ele piscou-lhe o olho e Sara resistiu ao desejo de abotoar o casaco.


Um forte calor vibrava no seu ventre e perturbava-a de uma maneira que não era capaz de compreender. Uma parte de si, a parte selvagem e perigosa que tentava reprimir, sentia-se atraída por ele; o resto desejava voltar a correr para a sua aborrecida vida e esconder-se. Com toda a determinação que conseguia reunir, começou a falar com a sua irmã Emily. Sara sorriu para o seu companheiro de jantar ao levantar-se da mesa ante o sinal de sua mãe. Sir Rodney Foster era um homem divertido e inteligente e tratava-a como a uma mulher inteligente. Era uma pena que fosse casado. Conteve um bocejo enquanto a sua mãe conduzia as senhoras para a sala de estar. As cortinas de grosso veludo vermelho ocultavam a luz natural e criavam sombras na sala repleta de móveis. Esperava-as um chá e a possibilidade de um pequeno concerto de música e muitos mexericos. Sara perguntava-se com frequência como seria estar na companhia de homens e discutir questões importantes com um cálice de Porto na mão. Ao amadurecer, tinha começado a compreender por que razão os homens evitavam vir ver as senhoras até que estas estivessem meio atordoadas. Às vezes, sentia-se tão presa que desejava abandonar a sala de estar mal ventilada e não regressar nunca mais. Frequentemente, sonhava que a mãe e as irmãs a vigiavam de perto, com os seus rostos cheios de amor enquanto a asfixiavam pouco a pouco debaixo de uma pilha crescente de combinações. Apesar das suas consideráveis habilidades, tinha começado a compreender que as suas opções se reduziriam ao celibato ou ao matrimónio. Olhou para o outro lado, para Charlotte. A irmã tinha aparecido outra vez no seu quarto, na noite anterior, e com o rosto cheio de lágrimas. Charlotte assegurava que Lorde Sokorvsky a assustava e que a fazia sentir-se estúpida. Se não fosse pelas objeções da mãe, Sara sabia que a irmã já estaria casada com o seu noivo de infância, ao invés de perseguir um homem de elevada posição social, como Lorde Sokorvsky. Charlotte esboçou um sorriso tímido e Sara sentiu uma familiar onda de afeto exasperado. Porque não podia simplesmente dizer que não à mãe e em troca fazer o que quisesse? Sem dúvida Lorde Sokorvsky não haveria de querer uma esposa que tivesse sido obrigada a casar com ele. Depois de uma hora de um aborrecimento insuportável, Sara alegrou-se ao ver que Lorde Sokorvsky entrava na sala de estar. Vestia um casaco azul simples e calças brancas justas às coxas musculosas e trazia o grosso cabelo escuro preso atrás com uma fita preta e fina. Qual seria exatamente o comprimento do seu cabelo? Os dedos de Sara moviam-se nervosos e ansiosos por desatar a fita e tocar nas suas exuberantes madeixas; imaginava-o solto e ondulado sobre os largos ombros. Juntou as mãos no regaço e baixou os olhos quando Valentin se aproximou mais. – Aceita mais uma chávena de chá, Miss Harrison? Sara levantou o olhar, o que lhe deu uma visão perfeita do volumoso pano frontal das calças justas de Lorde Sokorvsky e do seu ventre liso, mais acima. – Não, obrigada. Ele continuava a observá-la. – Esse vestido assenta-lhe muito bem, Miss Harrison. Tem uma cor forte. Fez bem em evitar as cores claras que as jovens debutantes frequentemente preferem. Sara olhou para o seu vestido vermelho e de repente sentiu-se nua.


– Não sou uma jovem debutante, mas obrigada, senhor. Não me tinha dado conta de que também é um perito em moda. Sem pedir permissão, Valentin sentou-se a seu lado. – Quando se ajuda tantas mulheres a tirar roupa e a voltar a vesti-la, como eu o tenho feito, criam-se alguns critérios. Sara abriu o leque de um golpe só. O melhor era deixar de o provocar. De cada vez que o tentava, ele derrotava todos os seus esforços com a habilidade de um jogador de cartas profissional. O som de uma harpa que se afinava salvou-a da necessidade de responder. Para seu pesar, Lorde Sokorvsky continuou sentado a seu lado enquanto várias jovens tocavam, com maior ou menor êxito, o cravo e a harpa. Ele esticou as pernas e a sua comprida coxa tocou na dela. Não havia espaço para se afastar, por isso, Sara sofreu aquela proximidade em silêncio. Sara aplaudiu a interpretação aborrecida da submissa Charlotte e olhou para a mãe. Estava, sem dúvida, na hora de terminar aquele horrível serão. Lorde Sokorvsky pegou-lhe na mão quando ela tentou levantar-se. – Miss Harrison, vai tocar para nós? Que maravilha! – Entrelaçou o braço no dela e conduziu-a até ao cravo. A mãe de Sara franziu a testa e abanou a cabeça. Sara passou os olhos pelas partituras e colocou uma folha dupla à sua frente. – Se não estiver segura das notas, Miss Harrison, continuarei a cantar e tentarei encobri-la. A mãe voltou a sentar-se com um sorriso falso cravado nos lábios. Sara começou a tocar e não tardou a perder-se na música. Para sua alegria, Lorde Sokorvsky tinha uma encantadora voz de barítono que harmonizava muito bem com o seu contralto grave. Um punhado de aplausos trouxe-a de volta ao presente e apercebeu-se de que Lorde Sokorvsky lhe sorria. Bom, não era exatamente para ela: o seu olhar tinha descaído até ao decote com rebordo de renda do seu vestido. – Maldição! – murmurou ele. – Rosa ou vermelho? Ainda não tenho a certeza... Sara tentou levantar-se, mas ele colocou-lhe outra partitura à frente. – Toque esta para mim. Tenho a certeza de que está ao alcance das suas aptidões. Olhou para o concerto de Mozart e começou a tocar. A chuva de aplausos que acolheram a sua interpretação fez com que enrubescesse e se levantasse de um pulo. Evitou o olhar da mãe enquanto recolhia as partituras. Os convidados tagarelavam e abandonaram a sala de estar, deixando-a a sós com Lorde Sokorvsky. Ele tirou-lhe a pilha de partituras da mão e amontoou-as sobre a mesa. – Toca como um anjo. Por que razão a sua mãe não aprova? Sara baixou a tampa do cravo e soprou as velas. – Porque acredita que toco muito bem e isso não é próprio de uma senhora. – Que idiotice. Com o seu talento, podia tocar profissionalmente. Ela devolveu-lhe um sorriso cauteloso, consciente de que eram as últimas pessoas na sala. – As senhoras não fazem isso. Senti-me bastante desiludida quando a minha mãe me disse que não podia continuar com os meus estudos no estrangeiro. E, quando o implorei a meu pai, ele também se negou a concordar comigo. Valentin colocou a mão dela sobre o seu braço e guiou-a até às portas duplas que davam para o vestíbulo.


– Imagino que se tenha sentido mais do que um pouco desiludida. Possivelmente, não escondeu o seu descontentamento durante as semanas que ficou zangada com o seu pai. Parece-me um pouco condescendente. Sara riu para dissimular o seu aborrecimento. – Na verdade, não me recordo de como me senti. Já passou muito tempo. Tentava soltar o braço enquanto se aproximavam da porta. Antes sequer que pudesse imaginálo, ele encostou-a contra a parede, o seu corpo cobrindo o dela por completo. Reprimiu um grito enquanto ele a olhava fixamente com os seus vibrantes olhos ardentes. Cada centímetro do seu corpo ágil e forte pressionava o dela com firmeza. A boca acariciava-lhe os lábios e a sua língua procurava entrar. Então, beijou-a lentamente até que ela tirou o chapéu, correspondendo-lhe. Quando ele se afastou, Sara abriu a boca para falar. – Chiu. – Valentin roçou o dedo indicador pelo carnudo lábio inferior de Sara e continuou o movimento descendo pelo pescoço. Ela engoliu com força quando o dedo parou sobre o espartilho franzido. Fechou os olhos enquanto ele remexia por baixo da seda cálida e deixava a descoberto a ponta do seu seio. A lufada de ar frio sobre a sua pele quente foi como gelo sobre o fogo. O dedo rodeou o botão duro do seu mamilo e ela estremeceu. – É... de um rosa profundo. Como framboesas com natas. – Aquele murmúrio de aprovação fez com que ela desejasse tocá-lo e rogar que ele a tocasse. No corredor atrás deles ouvia a mãe trocar cumprimentos com um dos convidados que partia. Ele inclinou-se para mais perto e ela abriu os olhos para olhar para a parte superior da sua cabeça. Ele cravou a mão no seio dela, por cima do corpete, obrigando-o a sair do espartilho e lambeu o mamilo descoberto. Sara mordeu o lábio com força. Quem diria que algo tão pequeno poderia dar tanto prazer? Ele repetiu o gesto, com mais força e aspirou o mamilo para dentro da sua boca. De maneira instintiva, Sara arqueava as costas e tentava dar-lhe mais. Mantinha as mãos com os punhos fechados ao lado do corpo num gesto desesperado para não agarrar a cabeça dele e segurá-lo ali para sempre. Não conseguiu conter um gemido de pura necessidade. Não era correto, mas sabia bem. Desde que o tinha visto com Daisy que o desejara daquele modo. Ele levantou a cabeça e olhou-a atentamente enquanto deslizava o dedo até ao outro lado do espartilho para descobrir o outro seio. – Convencida e possivelmente desavergonhada. Se fosse minha, sentá-la-ia todas as manhãs sobre o meu colo. Acariciaria e chuparia os seus seios até que ficassem inchados e sensíveis e me implorasse para parar. E voltou a atormentá-la até ela parecer à beira de explodir. Quando levantou a cabeça, a sua respiração era entrecortada. Observou os mamilos tensos. – Imagino como se sentirão contra a renda do seu vestido e contra o espartilho. Durante todo o dia, de cada vez que respirar, recordará a minha boca. – Deslizou o joelho por entre as pernas dela e pressionou-o contra a seda do vestido. – Quando chegasse à cama estaria desesperada por mim, ansiando que terminasse aquilo que começara. Iria implorar-me que a possuísse. Sara esqueceu a mãe, os criados e até o seu próprio nome. Esfregava-se descaradamente contra a firme pressão do joelho de Lorde Sokorvsky colocado entre as suas coxas. De algum modo,


parecia aliviar a dor que ali havia crescido desde que o vira com Daisy. Em troca, ao mover-se, crescia dentro dela outra sensação mais frenética. O seu corpo parecia suspenso no limiar de algo que desconhecia. Lorde Sokorvsky apertou-lhe os mamilos por entre os dedos. – Se continua a olhar-me assim, Miss Harrison, terei de visitá-la durante o dia e possuí-la sobre a mesa de jantar. Isso agradava-lhe? Gostaria que o meu pénis preenchesse cada centímetro do seu corpo? A vulgaridade despreocupada daquelas palavras fê-la olhá-lo fixamente. Estaria a castigá-la por interferir no seu noivado com a irmã? Ele encaixou os quadris contra os dela e Sara esqueceu-se de toda a família. O seu corpo parecia aquecer a cada carícia, doíam-lhe os mamilos pelas atenções que recebiam e desejava deslizar para dentro da roupa dele e lamber-lhe a pele. Conduziu a mão de Sara até à sua virilha. – Consegue sentir o que me provoca? A grossa ereção movia-se debaixo da mão dela. Desejava desabotoar-lhe as calças, desejava que deixasse de a atormentar e lhe desse o que necessitava. Colocou-lhe a mão nas nádegas e levantou-a até que o seu corpo se encaixou no dela e as suas bocas voltaram a encontrar-se. Mas logo se deteve de maneira abrupta. Sara afastou-o com um empurrão e apressou-se a ajeitar o espartilho. Tinha esquecido por completo que no dia seguinte Lorde Sokorvsky iria pedir a mão da sua irmã em casamento. Como podia ter-se comportado de maneira tão pouco própria? Aquele era o prometido da sua irmã. Nem sequer tinha certeza se gostara. – O meu pai regressará esta noite. Pensa informá-lo da sua decisão nessa altura? Lorde Sokorvsky ajudou-a a compor o espartilho. Os nós dos dedos roçavam constantemente contra a sua pele já sensível. – A minha decisão? Tendo em conta o seu estado agitado, Sara estava surpreendida por se sentir tão calma. Respirou fundo, com tranquilidade. «Maldito seja!» Tinha razão quanto à fricção deliciosa da sua pele excitada contra o tecido do vestido. – Sobre contrair matrimónio com Charlotte. Estou certa de que deve estar encantado. Ele afastou-se e ofereceu-lhe o braço enquanto saíam de trás da porta. – Quanto a isso, Miss Harrison, ainda não me decidi sobre Charlotte. Uma voz conhecida ecoou no vestíbulo e sobressaltou Sara. – Fico muito contente por ouvir isso, Lorde Sokorvsky, porque, se é assim, parece que está a demonstrar interesse na irmã errada. Ela correu para abraçar o pai, que esperava, ao pé das escadas, no vestíbulo deserto. Estava cansado e a sua receção parecia triste. Sara resistiu à tentação de tocar nas faces ruborizadas e examinar o seu espartilho. Saberia o seu pai o que ela e Lorde Sokorvsky tinham estado a fazer? – Senhor, alegra-me voltar a vê-lo. – Lorde Sokorvsky estugou o passo e estendeu a mão ao pai de Sara. – Valentin, meu rapaz, venha ao meu escritório e tome um brande comigo. – Voltou-se para Sara – Vá para a cama, querida. E um conselho: tente evitar ficar a sós com homens jovens até estar adequadamente casada.


Sara sorriu ao pai e beijou-o na face. Ele compreendia-a muito melhor do que a mãe. Fez uma pequena vénia a Lorde Sokorvsky, que lhe correspondeu da mesma maneira, e a última coisa que viu deles foi o pai a fechar com força a porta do seu escritório. Valentin pegou no copo de brande que John Harrison lhe ofereceu e balançou-o nas mãos. Graças a Deus que tinha ouvido a carruagem aproximar-se ou teria sido descoberto a fazer algo de muito íntimo com a sua filha mais velha. Não podia negar que Sara o perturbava. Baixou o olhar e esperou que John não tivesse visto o grau de excitação em que se encontrava ao aproximar-se dele no vestíbulo. Aguardou que John tomasse a cadeira frente a ele. O seu velho amigo estava cansado e desgastado e o cabelo, outrora abundante, estava agora mais ralo e os olhos mais encovados. Valentin levantou o copo para o seu anfitrião. – Obrigado por me ter convidado para a sua casa. John fez uma careta como se o brande estivesse estra- gado. – Sabe porque o chamei aqui? Valentin escondeu a dor por baixo de outro sorriso. John nunca antes o tinha convidado para conhecer a sua família porque o considerava um homem perigoso. – É óbvio. Deseja que eu case com uma das suas filhas. Preferencialmente, a mais nova, segundo me lembro. – A vida tem-lhe corrido bem, Valentin. Os seus negócios navais prosperam. – Com a ajuda de Peter. John esvaziou o seu copo de brande. – Deveria livrar-se de Peter Howard, meu rapaz. Não ajuda em nada a sua reputação. Valentin voltou a sorrir, embora desta vez o esforço fosse maior. Era uma velha discussão a favor da qual se fartara de argumentar. – Tenho para com Peter a mesma dívida de gratidão que tenho para consigo. Sem ele não teria sobrevivido. Imagens do luxuoso e repugnante bordel de que Peter e ele tinham escapado ameaçavam tomar conta da sua mente, mas não tardou a colocá-las de lado. – Não lhe ofereci Sara como noiva, embora pareça que lhe agrada. – John hesitou. – Sara é uma rapariga excecional, embora tema que deseje demasiado do mundo. – Por ser mulher? – Irritava-o que John menosprezasse a filha. Não era de surpreender que Sara se sentisse sufocada e, ante a necessidade de fazer algo, Valentin levantou-se e serviu mais brande em ambos os copos. John assentiu com a cabeça. – Teria dado um bom rapaz. Toda aquela inteligência e impulso desperdiçados numa mulher! Admito que seja um pouco culpado pela sua falta de docilidade; desde menina que lhe permiti muita liberdade, incentivei que seguisse os seus estudos de música e aritmética. – Bebeu um gole de brande. – A minha esposa insiste que fui eu quem levou Sara a sentir-se descontente e pouco disposta a comportar-se como uma verdadeira donzela. – Ela parece-me muito feminina.


– Sara precisará de ser tratada com cuidado. Vejo-a casada com um homem muito mais velho e que esteja disposto a tolerar as suas excentricidades. Valentin suspirou. – Então, isso significa que sou demasiado jovem e repulsivo para ela? Ou teme que o meu passado manche a sua inocência e a piore? John estremeceu e evitou o olhar de Valentin. – Você é um bom homem Valentin, mas... – Depois do que sabe sobre mim, não deseja que eu case com a sua filha preferida. – Valentin levantou-se de um pulo. – Bom, lamento ter de informar que ela é a única que me interessa. Se não puder tê-la, então pagarei a minha dívida de outra maneira. Saiu do escritório antes que dissesse algo mais de que pudesse arrepender-se. O brande ardialhe no estômago e parecia querer perfurar-lho. John Harrison havia-o resgatado, juntamente com Peter, de uma vida de escravidão sexual num longínquo país bárbaro. Por consideração, nunca tinha revelado a ninguém onde havia encontrado exatamente os dois jovens ingleses. Ter sido escravo durante sete anos era suficiente para que as pessoas considerassem Valentin um bicho raro. Já haviam passado doze anos desde o seu salvamento e ele ainda se sentia tão mal e vulnerável como quando tinha dezoito anos. Era evidente que o homem que admirara durante mais de uma década não o considerava adequado para contrair matrimónio com a sua filha preferida. Sabia exatamente quão desesperada devia ser a situação financeira de John para ter pensado que ele seria ao menos apropriado para as suas outras filhas. O homem nem sequer tinha conseguido dissimular a repugnância que sentira ante a ideia de que Valentin tocasse qualquer uma das suas preciosas meninas, embora, tinha de reconhecer, tivesse tentado. Valentin afrouxou o nó do lenço em volta do pescoço. Desejava tomar um banho, mas era muito tarde para incomodar os criados. Deteve-se junto às escadas e pensou em selar o cavalo e desaparecer para sempre na noite. Virou-se e dirigiu-se à cozinha deserta, saindo para o jardim das traseiras. Tirou um charuto do bolso e acendeu-o. Deveria abandonar aquela casa? O aroma enjoativo da madressilva invadia as suas narinas e destoava com o cheiro do brande e do fumo do charuto. Sempre odiara as fragrâncias fortes porque lhe lembravam os exuberantes corpos perfumados das clientes que servia com gosto e desinteresse. Ao longe, o mar que tocava a costa agitava ainda mais os seus sentidos já alterados. Afastou-se com brusquidão da larga parede de tijolos que rodeava o jardim. Poderia alguma vez ignorar os rumores e as insinuações sobre a sua vida com Peter no bordel turco? Durante um curto espaço de tempo, depois de John Harrison os ter resgatado, Peter e ele tinham-se convertido em personagens resistentes. A libertação dos dois jovens ingleses depois de anos de cativeiro havia fascinado a nação. Para seu aborrecimento, os jornais ainda consideravam necessário aludir ao seu escandaloso passado sempre que mencionavam o seu êxito comercial. Graças a Deus que não sabiam a história completa, caso contrário, Peter e ele seriam considerados párias sociais. Depois de terminar de fumar o charuto, voltou-se para o solar de pedra que se desmoronava. Possivelmente, John tinha razão, Sara merecia um marido melhor. Imaginava a sua figura esbelta


num vestido rosado, o cabelo negro preso no alto da cabeça com um diadema de brilhantes. Havia sentido a sua frustração, o seu desejo de ser livre e, a propósito, oferecera-lhe uma maneira de aliviar alguma dessa tensão. A resposta desejosa dela face ao seu toque tinha-o excitado. Mesmo naquele instante, vibrava nele uma onda de luxúria. Ela não tinha experiência sexual para dar-se conta de quanto o atraía. Talvez fosse melhor assim. Uma única vela iluminava a sombria grandiosidade do seu quarto. Valentin foi até à janela e correu a mão pelas finas cortinas de brocado. Uma borboleta noturna voou do tecido, atraída pela luz da vela que tremeluzia. Pelo estado de degradação em que se encontrava a casa, era evidente que John necessitava de dinheiro. A família carecia de criados suficientes e ele tinha notado que Sara e as suas irmãs usavam vestidos fora de moda e bem remendados. Também estava convencido de que Charlotte não desejava casar com ele. Teria a mãe, autoritária como era, obrigado a considerá-lo? Franziu o sobrolho. Seria possível que John corresse o risco de perder tudo? Se assim fosse, o seu desejo de proteger Sara de Valentin poderia custar-lhe caro. Valentin apanhou a borboleta noturna por entre os dedos e apertou-a com força. «Maldição!» Deixaria um cheque para ajudar John a superar as suas dívidas. Também tentaria esquecer a sua ridícula ideia de ser capaz de manter um casamento.


3 ssim que reapareceu no andar inferior depois do pequeno-almoço, o pai de Sara chamou-a ao seu escritório. O ar ansioso da mãe e a ausência de Lorde Sokorvsky à mesa tinham-na deixado nervosa. Teria sido expulso pelo seu pai logo depois de presenciar o abraço mais do que ocasional da noite anterior? Alisou a saia de musselina azul do seu melhor vestido e passou a mão pelo cabelo apanhado. Quando o pai a mandou entrar, ela esperava ver Lorde Sokorvsky, mas ele não estava lá e o sorriso dela desapareceu. Teria partido sem dizer adeus? A mãe entrou logo atrás e fechou a porta. Sara saudou o pai com um aceno de cabeça, mas este não lhe respondeu. – Senta-te, Sara, temos um assunto para discutir. – Depois de um olhar de desconfiança para a mãe, Sara sentou-se. – Lorde Sokorvsky pediu a tua mão em casamento. – Ela olhou fixamente para o pai porque não tinha a certeza de o ter ouvido bem. Porque estava ele tão sério e a sua mãe tão triunfante? – É claro que recusei o pedido dele. Acredito que é um marido mais apropriado para Emily ou para Charlotte. Porquê? Que mal tinha ela? O seu coração batia tremulamente. – E Lorde Sokorvsky concordou com a sua decisão? – Tinha de perguntar. Não sabia se devia sentir-se ofendida pela oferta ou encantada por a ter escolhido antes das suas irmãs. Ao menos Charlotte ficaria contente. – Não – respondeu o pai –, recusou essa honra. Sara quase se levantou da cadeira. – Então, devo supor que ele partirá? – Infelizmente, querida, a situação não é tão simples. O pai esfregou os olhos e colocou os óculos. – A tua mãe recordou-me que tenho pouca opção nesta questão. Sara olhou para a mãe. – O que o teu pai está a querer dizer, querida, é que precisa desesperadamente de dinheiro. Por isso, não pode permitir que Lorde Sokorvsky parta. Sara não tinha de perguntar ao pai se era mesmo assim; podia ver a veracidade do que acabara de ser dito no seu rosto angustiado e observou que as suas mãos apertadas começavam a tremer. Valentin desejava-a? Uma mistura de alegria e agitação correu pelas suas veias. Pediam-lhe que assegurasse a sobrevivência financeira de seu pai casando com um homem que a intrigava e excitava. O calor inundava os seus sentidos embora tentasse parecer séria e tranquila. Por fim, tinha a oportunidade de experimentar a vida para além do sufocante mundo definido por sua mãe. – A família de Lorde Sokorvsky tem muita influência – continuou a mãe de Sara. – Tem ligações com a nobreza russa e com a britânica. A sua mãe era uma princesa. Imagine-se! Conseguirias uma posição muito elevada na sociedade. Espero que não esqueças as tuas irmãs quando estiveres em posição de ajudá-las, para que consigam um bom casamento... Sara levantou-se.

A


– É obvio que casarei com ele, pai. Considero-o meu dever. Desejava rir ao mesmo tempo que o seu corpo se regozijava com a mera ideia de poder deitarse com Valentin regularmente. Durante o seu curto, mas excitante encontro, ele obrigara-a a verse como uma mulher que necessitava das carícias de um homem. O pai deixou cair os ombros e cobriu o rosto com as mãos. – Talvez possas ir procurar Lorde Sokorvsky e informá-lo da tua decisão. Creio que ele está a tomar o pequeno-almoço no quarto. Sara levantou as saias e rodopiou com rapidez nos corredores desertos até começar a ficar enjoada. Quando recuperou um pouco da compostura, dirigiu-se às escadas, mas vacilou diante da porta do quarto de Lorde Sokorvsky. Nunca antes tinha entrado no quarto de um homem, não era correto. O que levara o seu pai a enviá-la ali sozinha? Era como se se sentisse demasiado envergonhado para enfrentar ele mesmo Lorde Sokorvsky. Não deveria o seu casamento ser uma ocasião alegre? Bateu levemente à porta e abriu-a. Lorde Sokorvsky encontrava-se sentado na beira da cama calçando umas botas altas de pele negra, tinha o colete azul ainda desabotoado e o lenço do pescoço desatado. As suas mãos fecharam-se em punhos. Quando a viu, levantou-se e fez uma vénia. – Miss Harrison. – Lorde Sokorvsky. Sara entrou no quarto. A luz do Sol reluzia no tapete descorado e fazia com que as partículas de pó dançassem. Não parecia particularmente satisfeito por vê-la. Sob a luz brilhante da manhã parecia mais velho, mais inflexível e menos sensível. A dúvida inundava a sua alegre segurança. Como podia ela abordar o assunto? Abriu a boca para falar, mas ele virou-lhe as costas e dirigiu-se a passos largos para o espelho para atar o lenço ao pescoço. Ela observava os seus hábeis dedos a enrolar as dobras e a fazer os nós intrincados e a fixá-los depois com um alfinete de diamante. Valentin encontrou o olhar dela no espelho e fixou-o. – Miss Harrison, se o seu pai a enviou aqui para me pedir dinheiro, pode dizer-lhe... – Senhor, não é nada isso! – Sara interrompeu-o. De repente, tornou-se imperativo expressar a sua opinião. – Enviou-me para aceitar a sua proposta de casamento. Os dedos dele ficaram imóveis sobre o lenço e voltou-se para a fitar. – Ele fez o quê? – O seu sorriso voltou, aquele que parecia sempre amolecê-la. – Maldição! Deve estar mais desesperado do que pensei. Sara ficou tensa. Como se atrevia a supor isso de seu pai? – Está equivocado. Sucumbiu às minhas súplicas de casar consigo. Fui eu que implorei. – E a lealdade que tem para com a sua irmã Charlotte? Está na cama a chorar porque lhe roubou o potencial marido? Ela observou-o com aborrecimento. – Apesar de se achar muito importante, a verdade é que Charlotte está apaixonada por outra pessoa. Valentim aproximou-se dela e Sara resistiu à tentação de recuar. Ele agarrou-lhe o queixo e levantou-lhe o rosto até conseguir ver-lhe os olhos.


– Implorou por mim? – Porque não haveria de fazê-lo? Mostrou-me os prazeres de ser mulher. – Sara devolveu-lhe o olhar. As suas palavras ousadas não eram uma mentira para proteger a reputação de seu pai. – Por Deus, fá-la-ei suplicar. Valentin encostou os lábios aos dela e Sara gemeu quando ele introduziu a língua no interior da sua boca. Aflita com a textura áspera da língua e dos dentes, agarrou-se aos ombros dele para se ancorar contra a tormenta enfurecida do seu ataque. Ele puxou-a para si até que se tocaram da boca aos pés. A sua ereção pressionava com firmeza contra o ventre dela e lutou contra o desejo de o envolver com as pernas e imitar o ritmo latente da sua língua com todo o seu corpo. Afastou-se dela e segurou-a à distância de um braço. – Miss Harrison, dá-me a honra de casar comigo? Ela olhou-o fixamente e imaginou passar o resto da vida na sua cama. – Sim, Lorde Sokorvsky.


4 aios partam o vestido! Sara estendeu a mão para trás e tentou desenredar os cordões do vestido de casamento. Através da janela saliente que dava para o tranquilo parque da velha casa de campo, a escuridão parecia mover-se silenciosamente para ela. O seu marido tinha todo o direito de esperar que estivesse já nua e à espera dele na cama. À beira das lágrimas, puxou o espartilho adornado com pérolas e tentou libertar o braço. – Queres ajuda? Segurou o tecido de seda com firmeza contra os seios e viu o reflexo de Lorde Sokorvsky no espelho. Valentin envergava ainda o seu fato de casamento azul-escuro, que coloria os seus olhos de um violeta mais escuro e fazia um contraste perfeito com o seu cabelo preso atrás e com os seus bonitos traços fisionómicos. Para grande deceção da mãe, e alívio de Sara, o casamento havia sido um acontecimento discreto na igreja local, testemunhado apenas pela família e por dois sócios de Valentin. Sara fez um pequeno encolher de ombros. – Mandei a minha criada embora. Queria despir-me sozinha. O sobrolho franzido que enrugava a testa de Lorde Sokorvsky não tardou a desaparecer. – Claro, devia ter percebido. A tua mãe deve ter enviado a Daisy. – Aproximou-se dela e a sombra projetada pelo seu corpo escureceu o tapete entre eles. – Bem, não podia pedir à minha mãe uma criada diferente sem lhe dar alguma explicação. – Tinha sido um longo dia e o tom de voz de Sara estava mais agudo do que o normal; a sua paciência, inexistente. – Temias que Daisy pudesse dar-te algum conselho que não desejavas? – Valentin aproximouse mais e observou as costas do seu vestido de seda cor de alfazema. Sara estremeceu quando ele percorreu a curva das suas costas nuas com a ponta dos dedos. – Já recebi conselhos suficientes da minha mãe e das minhas tias para fugir de ti aos gritos e horrorizada. Ele pegou nos cordões enredados e puxou com força, de modo a aproximar as costas dela do seu peito. O nó da sua gravata incomodava-a por entre as omoplatas e os nós dos seus dedos roçavam-lhe a pele enquanto tentava libertá-la. – E o que foi que a tua mãe te disse exatamente? – Que devia permanecer deitada e quieta, esperar que acabasses depressa e rezar para que tivesse muitos filhos e assim manter-te afastado de mim. A risada suave de Valentin agitou-lhe os cabelos da nuca exposta. – E isso é o que queres? Ela virou-se. Os olhos dele estavam fixos nos dela e sentiu que ficava sem fôlego. – Não, não é o que quero. Tenho este estranho desejo de te lamber a pele e de roçar o meu corpo pelo teu. Ele levantou uma sobrancelha ao mesmo tempo que baixava o olhar até ao seio parcialmente

–R


descoberto. – Isso é muito ousado da tua parte. Tens a certeza de que ainda és virgem? Ela preparava-se para se cobrir, mas ele agarrou-a pelos pulsos. – E se não fosse? Isso iria desagradar-te? – Ela olhou fixamente para a parte da frente das suas justas calças de cetim branco. – Estou disposta a apostar que tu já não és virgem. Ele seguiu o olhar de Sara e conduziu-lhe a mão direita para baixo até que a palma ficasse sobre a sua ereção. – Esta é a razão pela qual pergunto, minha querida. Dizem que tenho um pénis muito grande. Nunca poderias desagradar-me. Mas, se fores virgem, o teu hímen estará fechado. A franqueza dele sobre os assuntos carnais já não a surpreendia. Na realidade, considerava-a tranquilizadora e curiosamente libertadora. Nas raras ocasiões em que o vira, nas quatro semanas que haviam durado os esponsais, beijara-a repetidas vezes e sussurrara-lhe todas as delícias que a esperavam na sua cama. Apesar de ele lhe ter soltado o pulso, ela deixou a mão pressionada contra a sua virilha. Um pulsar constante e quente vibrava sob os seus dedos ao mesmo tempo que acariciava o cetim frio. – Por certo existem maneiras de... ajudar o meu corpo a aceitar-te? O pénis dele vibrou e cresceu outra vez. Ela estendeu os dedos, desesperada por tocar em cada centímetro dele. – Existem muitas maneiras e planeio utilizá-las todas. No momento em que te penetrar verdadeiramente estarás tão desesperada por me ter dentro de ti que não sentirás qualquer dor. – Valentin recuou e observou-a com uma expressão atenta. – Quando tocas cravo, pensas em quê? A abrupta mudança de tema confundiu-a. – Penso na música, na forma como flui através de mim. – Esboçou um pequeno sorriso. – Às vezes até me esqueço de quem sou. Ele acenou afirmativamente com a cabeça, pegou-lhe na mão, virou-a com a palma para cima e beijou-a. – Então faz uma coisa por mim esta noite. Esquece que és uma jovem bem-educada e finge ser o instrumento que eu tocarei. Permite-me utilizar o teu corpo como condutor para a bonita música que criaremos juntos. Ela sorriu perante a confiança que ele demonstrava e soltou a mão. – Então, ensina-me. Estou desejosa de aprender. Valentin ajudou-a a libertar-se do vestido e das combinações, deixando-lhe apenas o espartilho frouxo, uma combinação de fina musselina e as meias presas com as ligas. Sob a sua orientação, Sara sentou-se no toucador. Ele despiu o casaco e o colete e colocou-se atrás dela. Sentia os dedos dele no seu cabelo, separando com delicadeza as madeixas do seu intrincado penteado. Suspirou quando ele retirou o último gancho e esticou o pescoço. Ele pegou na escova e começou a pentear-lhe o cabelo. – Não fazia ideia que o teu cabelo fosse tão comprido, chega-te quase à cintura. Sara inclinou-se para trás, para sentir melhor as carícias demoradas e constantes da escova. – O cabeleireiro que mandaste vir de Londres queria cortar boa parte dele esta manhã. Insistia que estava fora de moda.


– Alegra-me que não lhe tenhas dado ouvidos. Estou ansioso por vê-lo estendido sobre o travesseiro debaixo de ti. – Parou de escovar e os seus dedos começaram a soltar os cordões do espartilho. – Se te tirar isto, poderei continuar com mais facilidade. Ela permitiu que ele lhe tirasse o espartilho e continuasse a escovar-lhe os cabelos. Os olhos de Sara ameaçavam fechar-se enquanto se deleitava com o suave som das cerdas a deslizarem pelo seu cabelo. Depois de quatro semanas frenéticas, dominadas pelos planos do casamento, tratando de tudo com a mãe e com um noivo esquivo, estava pronta para cair de exaustão. Despertou quando Valentin lhe espalhou o cabelo pelos ombros e passou a escova sobre os seus mamilos. Prolongou aquela carícia da clavícula até ao quadril até que ela teve vontade de ronronar. Os mamilos apareciam como bagos ainda verdes através da fina musselina. Valentin fitou-a no reflexo do espelho e rodeou-lhe a ponta do seio direito com o cabo da escova, fazendo-a estremecer. – Agrada-te isso? Ela acenou afirmativamente e ele aumentou a pressão, deslocando-se depois para o outro seio. A respiração de Sara acelerou e Valentin pousou a escova. – Então isto vai agradar-te ainda mais. Ainda de pé atrás dela, deslizou as mãos pelos ombros e fechou-as em volta dos seios. Sara lambia os lábios enquanto ele lhe apertava os mamilos por entre os dedos. Sentiu uma onda de calor subir-lhe até ao útero e resistiu ao impulso de apertar as pernas. Deixou cair a cabeça para trás, contra o tronco dele, e encontrou a grossura do pénis contra a sua face. Virou-se e acariciou o cetim com o nariz. Os dedos de Valentin deixaram de se mover sobre os seus seios para os beliscarem com força. Ela tocou-lhe de novo e tentou mordê-lo. Todo o corpo dele estremeceu. – Ainda não, minha querida. – Afastou-se dela. – Temos um longo caminho antes que estejas pronta para colocar o meu pénis dentro da tua boca. Sara observou-o com atenção, mas ele não parecia estar a brincar. Porque haveria uma mulher de aceitar fazer tal coisa? Ajoelhou-se diante dela e voltou a pegar na escova. Ela franziu a testa e agarrou-lhe o pulso. – Também tens cabelo aqui, Sara – disse ele, com um sorriso. – Quero tratar de todo o teu cabelo. Uma aragem fria percorreu-lhe as coxas quando ele lhe levantou a combinação até à cintura. Fechou as pernas num gesto inconsciente. – Deixa-me entrar. Prometo que não te magoarei. Se eu fizer alguma coisa que não te agrade, basta dizeres que eu paro. Sara obrigou os joelhos a relaxarem. Sentia o linho frio da camisa dele contra o interior das suas coxas ao mesmo tempo que ele se movia por entre as suas pernas. Com a escova, Valentin acariciou os caracóis que cobriam a sua púbis. Sara fechou os olhos e sentiu o suave arranhão das cerdas. O perfume morno de Lorde Sokorvsky elevava-se no ar e parecia querer roubar-lhe o juízo. O dedo substituiu a escova, tocando levemente no botão inchado que protegia a entrada dos seus segredos de mulher. Ela resistiu a um impulso repentino de lhe agarrar a mão, embora não


soubesse se o faria para o deter ou para o obrigar a mover-se mais depressa. Quando se masturbava, nunca sentia aquela intensidade. Enquanto o dedo polegar continuava a desenhar círculos, o dedo médio introduzia-se dentro dela. Reprimiu um arquejo quando se sentiu inundada por uma onda de prazer. – Estás molhada. O teu corpo prepara-se para me receber, apesar dos teus receios. Sara abriu os olhos e baixou o olhar. A mãe sempre lhe dissera que a sua curiosidade, imprópria para uma senhora, seria a sua morte. A atenção de Lorde Sokorvsky estava centrada no lento deslizar do seu dedo. Um suave som de sucção interrompeu o silêncio enquanto ele explorava a vagina de Sara. – É normal estar tão molhada aí em baixo? – Claro. A tua vagina anseia pelo meu pénis. O teu néctar facilitará o meu caminho e dar-te-á mais prazer. As suas respostas sinceras e práticas sobre sexo faziam com que Sara relaxasse. Suspeitava que podia perguntar-lhe o que quer que fosse que ele responderia. Deslizou um segundo dedo para junto do primeiro. Ela ficou tensa, mas notou que o seu corpo estava ávido para o aceitar e desejava dilatar-se. Valentin levantou-se, os seus dedos ainda dentro dela, e aproximou a boca dos seios. Lambeu um mamilo através da translúcida musselina e sorveu-o, sugando ao ritmo do movimento dos seus dedos. Os quadris de Sara elevaram-se da cadeira ao mesmo tempo que lutava por aumentar a pressão da mão dele contra ela. Sabia que algo perigosamente agradável a esperava, mas não tinha certeza se desejava aceitá-lo ou fugir. Lorde Sokorvsky adicionou um terceiro dedo. Todo o instinto de preservação de Sara desapareceu quando centrou a sua atenção nas deliciosas sensações que ele lhe provocava. Esforçava-se por se unir aos seus estímulos, apertando-se contra a palma acolhedora e paciente da sua mão. Devagar, deslizou as mãos até aos seus largos ombros e cravou-lhe as unhas nos músculos. Soltou um grito reprimido quando as sensações que apenas imaginava se recusaram a florescer. Ele levantou a cabeça com um sorriso provocador. – Não é uma corrida, Sara. Temos a noite toda. – Tocou-lhe no lábio inferior com o indicador. – Na realidade, temos o resto das nossas vidas para aprender a agradar um ao outro. Fez uma careta de dor quando ela lhe cravou as unhas com mais força. – Mas quero saber, meu senhor, quero saber por que razão algumas mulheres sonham com isto enquanto outras o temem. Ele sorriu e ela baixou o olhar até onde os dedos dele desapareciam dentro dela. – Chamo-me Valentin; tu, entre todas as pessoas, tens o direito de me chamar pelo nome. Não sejas tão impaciente, quando tiver terminado contigo, não sentirás qualquer medo. – Levantou-se e levantou-a com ele. – Ajuda-me a tirar a camisa. Sara agarrou o grosso linho em redor da cintura, que se negava a ceder. Observou as presilhas e os botões das calças e ele reteve a mão dela contra a volumosa saliência da frente. – Sentes o meu pénis, Sara? Agrada-te? Ela observava como o impressionante e grosso pénis sobressaía nas calças.


– Não tenho certeza, meu senhor, quero dizer, Valentin. – Mordeu o lábio. – Parece demasiado grande para caber dentro de mim. Ele levou a mão dela à boca e beijou-lhe a ponta dos dedos. – Caberá. Arranjarás lugar para mim. A confiança dele estimulava a dela. Deitou mão aos botões das calças e deixou que a lapela da frente caísse. Para sua desilusão, a ampla camisa cobria-lhe o tronco. Valentin tirou os botões de punho de diamante e deixou-os cair sobre o toucador com um ruído descuidado. – Anda. – Pegou-lhe na mão e levou-a até à enorme cama de quatro colunas com dossel que se encontrava no centro do magnífico quarto. – Despe-me a camisa – pediu-lhe, inclinando a cabeça. Sob a leve escuridão de verão, viu-lhe a pele dourada e ondulada pelos músculos. Uma ligeira penugem encaracolada e castanha cobria-lhe a parte superior do peito e diminuía sobre o ventre plano. Incapaz de se deter, Sara esticou a mão e passou o dedo por uma pequena cicatriz com forma de meia-lua por baixo de mamilo direito. Ele estremeceu e inclinou-se para a frente, segurando-a entre as mãos, a cama e o seu corpo grande e quente. Sara manteve a boca fechada enquanto ele a beijava até que os seus dentes lhe mordiscaram o lábio inferior. Mantinha a palma da mão pressionada contra o peito de Valentin e podia sentir o tamborilar do seu coração. Sem nada dizer, ele rodeou-lhe a cintura com as mãos, levantou-a e sentou-a sobre a cama alta. Sara tentava manter o equilíbrio enquanto ele separava as suas coxas com os largos ombros. Ao sentir aquele corpo firme e musculado roçar contra o interior das suas coxas, teve vontade de gemer. Estremecia ao mesmo tempo que a língua dele percorria o seu umbigo e se dirigia para baixo. Brindou-a com um olhar voluptuoso. – Tira a combinação. Quero ver-te nua. – Ela obedeceu, despindo a peça de roupa e agarrou-se à cama. Valentin emitiu um suave som de aprovação ao ver a parte mais íntima do seu corpo. – Está tão molhada. Gosto muito. Mas farei com que fiques ainda mais húmida. Sara sentiu o primeiro deslizar da sua língua sobre o seu sexo e quase caiu da cama. A sua pele excitada estava tão quente e vulnerável como uma ferida aberta. Aquilo não se assemelhava em nada à fugaz ardência que sentia quando se masturbava. Como conseguia ele dar-lhe tanto prazer só com a boca? Sara apertava a colcha bordada com as mãos enquanto ele continuava a lambê-la. Quando ele aspirou o seu botão inchado, ela esqueceu o que significava ser uma senhora e gemeu, empurrando os quadris para a frente ao compasso da insistente pressão que ele exercia. Os dedos dele uniram-se à boca e pressionaram para cima na sua apertada vagina, dilatando-a para a sua entrada, humedecendo-a e preparando-a. Sara conseguiu soltar uma das mãos da roupa de cama e agarrou o comprido cabelo de Valentin. O seu pé esquerdo subiu até ao ombro dele enquanto fazia força contra ele, mantendo-o perto, reclamando a fricção tensa e forte dos seus dedos e da sua boca. Começou a mover-se mais depressa e ao húmido som dos seus dedos e da sua boca juntou-se o ritmo dos gemidos de Sara. Suspirou contra o clítoris dela, enviando-lhe deliciosos tremores até ao útero e roçou o queixo por barbear para cima e para baixo na sua vagina. – Vem-te para mim, Sara! Desfruta! – Implorou ele com uma voz rouca enquanto mordia


suavemente o interior das suas coxas. Ela mal conseguia ouvi-lo, decidida a alcançar a sua libertação, desesperada por explodir com as sensações desconhecidas que despertavam nela. – Vem-te para mim! – pediu ele, agora com a voz mais áspera, ao mesmo tempo que lhe metia os dedos com força na vagina e ela se pressionava com desespero contra ele. E depois até a voz dele desapareceu quando um gemido de excitação a alagou, enviando-lhe grandes ondas vibrantes de prazer desde o útero até aos seios e de volta até aos dedos dos pés, num círculo infinito de prazer. Quando abriu os olhos, estava recostada na cama. Valentin descansava ao seu lado com o rosto ainda húmido do seu néctar. Afundou a cara por entre os seus seios. Sara inalou o aroma da sua própria excitação à medida que esta lhe aquecia a pele. Valentin olhou-a fixamente. – Eu disse-te que ias gostar e ainda não terminámos. Sara sentou-se e apercebeu-se que ele tinha mais roupa vestida do que ela. – Queres ajuda com as calças? As botas de Valentin caíram no chão com um ruído surdo. – Sim, mas tem cuidado. O meu pénis está preparado e pronto para se vir. Sara foi cuidadosa ao despir-lhe as calças e atirou-as para o tapete. Depois voltou a subir lentamente para a cama para observar a enorme ereção de Valentin. O seu pénis devia ter pelo menos vinte centímetros de comprimento e era muito grosso na base. Sara notou que na ponta havia uma gota de um líquido claro. Tocou-lhe e esfregou a humidade por entre os dedos. – Também está húmido. Isto ajuda a facilitar-te o caminho? Ele assentiu com a cabeça enquanto se formava outra pérola de líquido que logo deslizou, cobrindo o seu pénis já reluzente. – Toca-me outra vez. Sara engoliu a saliva e envolveu os dedos em redor da base do pénis. Valentin suspirou e colocou a mão sobre a de Sara. A sua inocente sensualidade divertia-o e fazia-o sentir-se intensamente estimulado. Apesar da sua falta de experiência, ela parecia não ter medo. – Já alguma vez tinhas visto um homem excitado? – Formulou a pergunta antes de pensar nas consequências da resposta. A ideia de que ela conhecesse o pénis de outro homem revelava-se demasiado exasperante para ser considerada. Sara abanou lentamente a cabeça. O seu suave cabelo roçou-lhe a virilha, aumentando a urgência da sua necessidade. – Só a ti com a Daisy. – Esboçou um pequeno sorriso. – E mesmo nessa altura não consegui ver... – apertou-lhe o pénis – isto. Colocou-se de joelhos e Valentin ensinou-a a deslizar os dedos para cima e para baixo no seu pénis. Admirou o oscilar dos seus seios e a curva da sua estreita cintura enquanto se embalava inconscientemente contra ele. À medida que a sua excitação crescia, pegou-lhe na outra mão e acomodou-a em redor dos testículos. Sara respirava mais depressa e agarrava-lhe o pénis com uma deliciosa firmeza que quase chegava à dor. O ritmo era irregular e as suas unhas cravavam-se na pele delicada. Pouco


importava. Sempre apreciara os limites extremos da paixão. Retirou os dedos e deixou que ela continuasse sozinha. Deslizou um braço em redor das suas nádegas e aproximou-a mais até que os seios se balançaram contra a sua face. Alcançou o mamilo com a boca e sugou-o com força. Sara gemeu quando ele deslizou dois dedos compridos para o interior da sua vagina e empurrou ao compasso da boca dele e do oscilar dos seus dedos. Valentin sentiu que os seus testículos se contraíam e que a ejaculação subia pelo pénis. Com um gemido, libertou o mamilo de Sara para não o morder com demasiada força. Ele atingiu o clímax em fortes ondas rítmicas de prazer e a sua espessa semente quente escorreu pelos dedos de Sara. Quando relaxou sobre os travesseiros, ela ainda tinha a mão em redor do seu pénis, agora flácido. Arqueou uma sobrancelha. – Surpreendi-te? Ela soltou-lhe o pénis e observou os dedos encharcados. – Não sabia que acontecia isto. – Levou o dedo indicador à boca e lambeu-o para provar. O pénis de Valentin ergueu-se numa resposta instintiva. – Sabe a mar. – Um sorriso pontuou a sua deliciosa boca. – Ao princípio pensei que tinha feito alguma coisa errada. Mas depois dei conta de que gemias de prazer e não de dor. O pénis dele cresceu ao ver que a ponta vermelha da língua lambia a sua semente. Imaginava como seria ter aquela boca a chupá-lo. – És uma virgem muito pouco comum. Ela olhou-o com uma expressão incerta. Pressionou a mão contra os lençóis e limpou os dedos. – Desagradei-te? Esqueço-me que devo ser uma donzela inocente à qual não interessam estas questões. – Porque haverias de pensar tal coisa? Imaginas que desejaria deitar-me com uma mulher que não entendesse que o sexo é tentador, excitante e irresistível? Envolveu-lhe o pescoço com as mãos e puxou-lhe o rosto até à altura do seu. – Quero que desfrutes do nosso leito conjugal. Quero saber que te excita pensar nisso. Quero que me desejes. O seu pénis recém-ereto golpeava contra o ventre dela. Pegou-lhe na mão e deitou-a de costas. Sara olhava-o fixamente enquanto ele lhe espalhava os cabelos sobre o travesseiro. Quando lhe tocou nos joelhos, ela abriu as pernas obsequiosamente e ele separou-as ainda mais, desejoso de lhe ver a vagina excitada. Jesus! Estava duro de novo, só de olhar para o clítoris inchado e para os lábios avantajados da sua vulva. Estava pronta para ele. Do seu canal emanava o néctar e ele desejava esfregar o rosto naqueles fluidos até a ouvir gritar o seu nome. Gatinhou para junto dela até os testículos encontrarem a sua vagina molhada. A base do pénis roçou contra o clítoris inchado e ela estremeceu. Fitou-a, emoldurando-lhe o rosto com as mãos. – Agora vou lamber o teu sexo. Vais adorar. Quando gritares e implorares para te vires, deslizarei o meu pénis para dentro de ti e apreciarás ainda mais. Sara não conseguia falar, as palavras dele deitaram por terra o último fio de resistência. O comprido cabelo de Valentin, agora preso apenas pela frouxa fita azul, caía por cima de um dos seus ombros. Ela estendeu a mão e soltou a fita. Valentin sacudiu a cabeça e o cabelo acomodou-


se em redor dos ombros em gloriosas ondas castanhas. Beijou-lhe o pescoço e acariciou-lhe um dos seios. Ela suspirou ao sentir o cabelo dele contra a sua pele e o chupar insistente da sua boca. Quando ambos os mamilos estavam duros e húmidos, ele deslizou mais para baixo, roçando os lábios pelo umbigo antes de deter-se na púbis. – Ergue as ancas. Sara obedeceu àquela gentil ordem e ele colocou um travesseiro por baixo das suas nádegas, abrindo-a mais para ver melhor. O primeiro deslizar sedoso da língua sobre o seu sexo fê-la dar um salto. Valentin apoiou-lhe uma mão firme sobre a anca e segurou-a contra a cama. Ela fazia força contra ele, ignorando as suas risadas perante os seus frustrados intentos de controlar os seus excessos. A língua dele explorava a sua vagina, acompanhada por quatro dos seus longos dedos. Conduzia-a para o clímax. A sua boca parecia áspera contra a pele suave, os seus dentes mordiscavam e prendiam o seu clítoris até que ela se contorceu com a necessidade de se vir. Sara gritou e tentou puxar-lhe o cabelo quando ele recuou, o seu rosto de pirata transpirando luxúria. Ajoelhou-se entre as coxas dela e, com uma mão, friccionou o seu pénis grosso. – Vais receber-me agora, Sara! Sara estremecia enquanto ele colocava os primeiros centímetros do seu pénis dentro dela. Observou-lhe as expressões e deteve-se ao encontrar a barreira do hímen. Sem tirar os olhos dela, lambeu-lhe o dedo indicador e pressionou-o contra o clítoris. Ela arqueou as costas, empurrando-o mais para dentro e tentando ignorar a forte onda de dor que se seguiu. Valentin gemeu e continuou o seu inexorável caminho para dentro dela. Pela primeira vez, Sara pensou na possibilidade de se partir em duas. Baixou o olhar para as virilhas dele e conteve um gemido. Ainda só tinha entrado metade. – Não acredito que possa entrar mais – disse ela, num tom de voz agudo e pouco próprio dela. – Entra. – Valentin permanecia apoiado sobre ela com uma expressão determinada. – Só tens de relaxar. – Inclinou a cabeça e, lentamente, lambeu-lhe o mamilo. – Vá, nada de pudores agora. Lembra-te, és o meu instrumento de prazer. Deixa-me tocar um pouco mais. Observou a língua dele oscilar para a frente e para trás sobre o seu seio. Movia os quadris ao mesmo ritmo subtil, o seu pénis penetrando cada vez mais profundamente a cada flexão suave da sua pélvis. Enfeitiçada, rendeu-se àquela dança erótica para a qual era conduzida. O deslizar e o escorregar do pénis e a suave lambidela da sua língua tornaram-se o centro do seu ser. Deixou o prazer crescer juntamente com o dele até cravar as unhas nos ombros de Valentin e gritar em êxtase. O corpo dele fez um movimento brusco ao libertar uma corrente de semente quente bem fundo no seu ventre. Depois desabou sobre ela, com a boca perto do seu ouvido. – Agora és minha. Sou o único homem a quem permitirás estar entre as tuas coxas. Sou o único homem que te dará prazer. Quando o amanhecer atravessou as cortinas ainda abertas, Sara virou-se de lado para observar o seu marido que ainda dormia. Já não usava o medalhão que tinha vislumbrado ao encontrá-lo com Daisy. Sob aquela luz ténue, conseguiu ver as finas linhas prateadas que havia sentido marcadas


nas costas durante a noite. Estendeu a mão e tocou-lhe na nuca. Os seus dedos roçaram um pedaço de pele elevada e tentou seguir-lhe o desenho. Conteve um grito quando Valentin se levantou de repente da cama e a imobilizou debaixo dele. – Que diabo estás a fazer? – Girou-a sobre as costas e fitou-a, zangado. Sara engoliu em seco e tentou resistir àquele olhar feroz. – Não queria assustar-te. Valentin passou uma mão pelo cabelo despenteado. – Não estou habituado a dormir com ninguém. Sara franziu a testa. – Temes que te ataquem na tua própria cama? Depois de um longo momento, Valentin riu. – Na cama de outros, sem dúvida que sim. Os maridos têm a mania de chegar a casa de forma inesperada. Esforçou-se ao máximo para ocultar a dor que sentia. – Toquei nas cicatrizes das tuas costas. Deve ter sido isso que te despertou. – Inspirou em busca de coragem. – Feriram-te, não é verdade? Antes do nosso casamento, o meu pai contou-me que foste escravo na Turquia durante sete anos da tua vida. Afastou-se e sentou-se na beira da cama expondo as costas com cicatrizes. Alisou os lençóis de linho com os longos dedos. – E que mais te contou ele? – Apenas que te encontrou por acaso com outro jovem inglês, que insistiu em comprar-vos e que vos trouxe a ambos de volta à Inglaterra. – Salvou-nos a vida. Ficar-lhe-ei grato para o resto da minha vida. Sara notou a falta de emoção naquelas palavras cuidadosamente pronunciadas. Teria preferido que o deixassem morrer? – Também me alegra que te tenha salvado. Valentin virou-se com brusquidão e mirou-a com uma sobrancelha arqueada. – Por causa disto? – Baixou o olhar para a sua crescente ereção. – Qualquer homem poderia dar-te isto. Sara sorriu. – Na realidade, pensava no meu pai. Faz-me sentir orgulhosa de ser sua filha. – Touché, minha senhora. – Aproximou-se dela, agarrando o pénis com uma mão. – E agora, já que estamos acordados, talvez me deixes entrar em ti outra vez.


5 ão houve lua de mel perfeita. Sara entrou no quarto furiosa e bateu com a porta. As desculpas de Valentin sobre ter de trabalhar pareciam-lhe forçadas. Contemplou o seu reflexo desconsolado no espelho dourado que encimava o toucador. Valentin só lhe prestava atenção quando estavam na cama. Estaria decidido a manter as suas vidas separadas? Sara não estava habituada a que a ignorassem. Os últimos dois dias na isolada casa senhorial de Essex haviam-se transformado num padrão que já não podia ignorar mais. Cada tentativa que fazia para parecer interessada no trabalho dele ou para lhe oferecer ajuda era cortesmente recusada por Valentin. Até o seu pedido de visitar a aristocracia local tinha sido rejeitado com um sorriso. Sem ninguém com quem falar grande parte do dia, Sara tinha agora o hábito de perambular pelos jardins e molhar os pés no lago. Esperava mais dele. Parecia ter-lhe agradado a sua audácia e curiosidade. Teria sido tudo uma farsa para convencê-la a casar com ele? Seria ignorada e tratada com condescendência pelo marido como a maioria das esposas que conhecia? Chamou a sua nova criada para que a ajudasse a despir e a vestir a camisa de noite. A discreta elegância do seu quarto não exibia já o menor encanto e sentia até saudades das queixas da mãe e das discussões com as irmãs. O pequeno relógio de porcelana que se encontrava sobre a lareira repicou onze vezes, sobressaltando-a. Pousou a escova e dirigiu-se para a cama com fortes pisadas. Uma dor de cabeça ameaçava detrás dos olhos. Se o trabalho de Valentin era assim tão importante, talvez nem sequer se desse ao incómodo de se aproximar dela naquela noite. Sara repreendeu-se por ser tão infantil. Talvez Valentin tivesse razão em chamar-lhe mimada. O casamento não era um jogo e ela não era uma daquelas mulheres que não podiam viver sem um homem que desse sentido e ordem ao seu mundo. O seu próprio pai trabalhava frequentemente longas horas seguidas para assegurar os diversos interesses dos seus negócios, então porque se surpreendia que Valentin fizesse o mesmo? E ele já lhe dera tanto... Decidida a ser mais compreensiva, alisou as cobertas e encontrou um pacote sobre o travesseiro. Desatou o cordão dourado e desembrulhou o papel castanho, descobrindo um livro com capa de seda. Não viu nenhum nome na capa escarlate e, intrigada, abriu-o na primeira página e começou a ler. A extravagante caligrafia era-lhe familiar.

N

Este livro é para nós. Partilha os teus sonhos e as tuas fantasias sexuais até te sentires suficientemente ousada para pedi-los em voz alta. Farei todos os possíveis para satisfazer todos os teus desejos. Não tenhas medo de imaginar. Valentin

S

ara passou os dedos por cima das letras elegantemente caligrafadas. Era bastante inteligente da parte de Valentin dar-se conta de que a sua valentia nem sempre estava à altura das suas


necessidades recém-descobertas. Virou a página e descobriu que ele tinha escrito mais. Com doçura, leu as palavras em voz alta. «Estou sentado no meu escritório. É tarde e penso em ti, recostada e só na cama. Crês, minha formosa esposa, que te abandonei? Precisarás de compreender que não sou um aristocrata mimado, mas sim um homem que escolheu trabalhar para viver, apesar do desprezo dos seus pares. «Mudo de posição na cadeira ao mesmo tempo que o meu pénis incha contra as minhas calças. Anseio por estar dentro de ti e levar-te ao clímax. O meu livro de contabilidade chama-me de volta; as colunas de números tornam-se imprecisas e dançam frente aos meus olhos. «Escuto um som que atrai a minha atenção para a porta. Ali estás tu, com o cabelo solto em redor do rosto e uma vela na mão. Antes que consiga levantar-me, tu caminhas para mim e deslizas para o pequeno espaço entre a minha cadeira e a mesa. Abro as pernas e tu colocas-te por entre as minhas coxas. Sem dizeres nada, abres o roupão e estás nua por baixo.» Sara parou de ler, uma mão encostada ao pescoço e a dor de cabeça esquecida. Estaria Valentin a convidá-la para ir até ao seu escritório e fazer amor com ele ou tratar-se-ia apenas de uma agradável fantasia para a entreter? Deixou cair o livro sobre a cama como se lhe queimasse os dedos e andou de um lado para o outro no tapete. O senso comum e a prudência diziam-lhe que deveria sentir-se ofendida com aquela proposta. Valentin não podia simplesmente supor que ela se sentiria confortável aparecendo nua em qualquer outro lugar que não fosse na sua cama, principalmente depois de a ter negligenciado. Enquanto caminhava, o seu corpo despertava e crescia um inchaço nos seus seios e por entre as suas pernas. Deteve-se a olhar fixamente para o espelho. O seu olhar parecia selvagem. Como que a medo, apertou os mamilos através da seda da camisa de noite. Apesar da sua batalha mental, o seu corpo preparava-se para o sexo. O livro jazia com a capa para cima sobre a cama, onde o tinha deixado. Sara voltou a ler as palavras provocadoras de Valentin e depois fechou o livro e escondeu-o debaixo do travesseiro. Valentin estava reclinado na cadeira e alongava os músculos cansados dos ombros. Uma só vela iluminava as fileiras escuras de livros que o rodeavam e o aroma a couro velho, a tabaco e a brande impregnava-se nas paredes revestidas a carvalho. Enquanto criança, fugira muitas vezes à ama, entrando naquela sala furtivamente. O mordomo do pai dava-lhe cubos de açúcar e mostrava-lhe alguns dos enormes livros de registo encadernados a couro. O seu pai raramente visitara aquele lugar e talvez fosse essa uma das razões pelas quais se sentia tão bem ali. Apesar de conseguir relaxar ali, estava satisfeito por ter de regressar à cidade dali a dois dias. Ao contrário da maioria dos aristocratas, os seus negócios exigiam-lhe grande parte do tempo e a semana que passara sem lhes dedicar toda a sua atenção havia provocado sérios problemas que só ele podia resolver. Exalou lentamente e lembrou-se de Sara. Devido a todas as emergências no escritório deixaraa entregue a si mesma nos últimos dois dias. Apesar de tentar não parecer aborrecida pela falta de atenção, sabia que Sara não estava contente. Na realidade, também não estava satisfeito. Preferia passar o dia na cama com ela do que estar sentado atrás de uma mesa de escritório.


Olhou para o relógio. Teria ela descoberto já o seu presente? E, mais importante: a sua fantasia tê-la-ia intrigado ou horrorizado? Pressionou os dedos contra a testa. A recente correspondência do seu secretário também tinha atraído a sua atenção para outra questão problemática. Alguém tentava chantagear a seu sócio, Peter Howard, e este nem se dera ao trabalho de mencionar o facto. Um pequeno ruído fê-lo levantar o olhar. Sara encontrava-se à porta do seu escritório com uma expressão desafiante no rosto. Envergava um roupão comprido vermelho-vivo, trazia o cabelo solto sobre os ombros e as suas faces exibiam uma cor a condizer. O pénis dele endureceu com um solavanco doloroso e ameaçou escapar para fora das calças. Ela deslizou entre ele e a mesa para ficar de pé por entre as suas coxas. A suave seda do seu roupão roçou-lhe os punhos apertados e ele olhou-a fascinado enquanto ela tirava a roupa, expondo a sua nudez. Valentin contemplou aquele corpo delicioso. A pele de Sara brilhava sob a ténue luz da vela como a mais fina porcelana. Lambeu os lábios e imaginou sugar-lhe o mamilo e colocá-lo dentro da boca. Sem pensar, inclinou-se para a frente e, com a ponta da língua, acariciou-lhe o umbigo. O perfume da sua excitação exaltava-lhe os sentidos. Reprimiu um desejo de lambê-la até ao sexo e colocar a língua na profundidade do seu canal. Para seu espanto, ela excitava-o mais do que qualquer das mulheres mais experientes que tinha tido como amantes. Com um controlo delicioso – era sua esposa, diabos, e não uma qualquer cadela voraz – puxou-a para o seu colo para que se sentasse de pernas abertas. Beijou-a ligeiramente na boca. – Até estava a precisar de uma distração. Como te ocorreu vir visitar-me? Ela sorria. A sua generosa boca curvava-se num convite inconsciente. – Estava aborrecida. Não estou acostumada a ficar sozinha. Se não precisas da minha ajuda nos negócios, talvez possa aliviar-te de outra maneira. – Hesitou. – O teu recado despertou a minha curiosidade. Era isso que apreciava nela, a maneira como reagia às suas perguntas, de maneira frontal e com uma honestidade muito perspicaz. Sara não fazia ideia de como isso era refrescante para um cínico enfastiado como ele. Aquela inocência fazia-o sentir limpo, dava-lhe uma leve esperança de que nem todos os seres humanos eram corruptos. – É uma mimada, minha senhora. Espera demasiada da minha atenção. – Ela franziu o sobrolho. – E agora pareces uma criança disposta a bater o pé. Ela levantou o queixo. – Não sou nenhuma criança. Valentin inclinou-se para a frente e lambeu-lhe o mamilo duro. – Estou a ver que não. – Ela estremeceu delicadamente nos seus braços. – Mas sinto-me tentado a colocar-te sobre o joelho e açoitar-te as nádegas. Ficou atento à reação dela àquela possível brincadeira. Não sabia quanto desfrutaria ao açoitála, nem se ela também o desfrutaria. O despertar repentino da sua consciência sexual intrigava-o. Já tinha deixado uma mancha húmida nas suas calças de camurça. Ela mordeu o lábio. – Não estou habituada a não ter nada que fazer. Quando aceitei casar contigo, esperava que a minha vida mudasse para melhor, não que se tornasse ainda mais aborrecida.


Valentin evitou sorrir. – Aborreço-te? – Envolveu-lhe os pelos púbicos com a palma da mão. – Isto aborrece-te? Sara contorceu-se contra aqueles dedos exploradores com um olhar desaprovador. – Há outras coisas na vida para além disso. – Na nossa lua de mel? Sem dúvida que isto é tudo o que se supõe que façamos. – Valentin deslizou um dedo para dentro dela. – Daqui a dois dias partimos para a cidade. Aposto que daqui a algumas semanas estarás a queixar-te de estares muito ocupada para te deitares comigo. Ela abriu a boca e Valentin colocou um dedo sobre os seus lábios. – A minha fantasia não incluía discutir contigo. Se te recordas, era sobre fazer amor contigo. – Rodeou-lhe a cintura e sentou-a na beira da mesa com as pernas bem abertas. Depois empurrou a cadeira para trás e desabotoou as calças com cuidado, botão a botão, aliviando um pouco o pénis dorido. Agarrou a sua ereção com uma mão e deixou-se ficar de pé. Sara inspirou com força quando sentiu a ponta do pénis roçar contra o seu sexo molhado. – Vou entrar em ti com força e rapidez. Mesmo que um dos criados entre e te veja aqui nua sobre a minha mesa, não irás desejar que me detenha e rogarás que termine. Valentin observava a expressão aturdida de Sara enquanto continuava a desenhar círculos no seu clítoris com a ponta do pénis. Duvidava que ela notasse se alguém os interrompesse. Sara tinha a mesma apetência para o sexo que ele. A sua ideia sobre o Livro Vermelho parecia ter funcionado e os seus pensamentos desviaram-se para outros lugares públicos, para outros encontros secretos onde poderia fazer amor com ela. Com um gemido, deslizou para dentro dela, apreciando a estreiteza da sua bainha e o aumento daquela deliciosa pressão. Continuou até o seu pénis ficar completamente cercado e depois, lentamente, retirou-o. – Olha para o meu pénis, Sara. Olha como te vou deixar louca. Caminho pelos jardins. Tu chegas e encontras-me. Para meu secreto prazer, fazes amor comigo ao ar livre. Imagino o ar frio a tocar na minha pele exposta, a emoção de estar apenas meio vestida e o medo de que nos descubram. Sara recuou para ver a sua aguarela e chocou contra um peito largo. Entusiasmada, virou-se e viu-se nos braços de Valentin. Já teria ele lido a sua primeira anotação no Livro Vermelho? Teria vindo para satisfazer a sua fantasia? No dia anterior, havia passado horas a pensar no que escrever. Depois de terminar, sentiu que faltava algo ao seu sonho. Era provável que um homem tão experiente como Valentin se risse da sua fantasia de menina. Ele sorriu. O seu austero casaco castanho e o colete não combinavam com o brilho lascivo dos seus olhos. – Boa tarde, minha senhora. – Apontou para o cavalete. – Posso ver esta obra-prima ou tenho de esperar como o resto do seu adorável público? Sara encolheu os ombros. – Não sou muito boa a pintar, mas podes ver. – Retrocedeu um passo e deixou-o ver a sua


aguarela da casa e do lago. Ele observou durante alguns minutos inclinando a cabeça para um lado. – Tens razão. Não está lá grande coisa. Sara deixou de sorrir e levantou o queixo. – Achas que a minha pintura é fraca? Valentin não conseguiu conter um sorriso. – Não, até pintas bem, mas és melhor a tocar cravo. Relutantemente, Sara voltou a colocar o pincel no cavalete. Depois das adulações do pai, levaria algum tempo a acostumar-se à honestidade de Valentin. – Temo que tenhas razão. Tive os melhores professores à minha disposição, mas todos os meus esforços parecem medíocres. – Olhou-o por cima do ombro. – Acredito que os meus pais esperassem que a paixão pela arte desalentasse a minha paixão pela música. Valentin apoiou a mão dela sobre a sua. – Preferiria que tocasses para mim. Na verdade, gostaria que estivesses nua e coberta de pétalas de rosa enquanto tocavas, mas talvez essa seja uma fantasia que possamos discutir no nosso livro. O ritmo do coração de Sara acelerou quando ele lhe sorriu. Um suave batimento de urgência pulsava entre as suas pernas. Valentin tocou-lhe nos dedos sem luvas. – Tens tempo para um passeio pelos jardins? Há algumas questões que gostaria de discutir contigo. Conduziu-a para um caminho que se afastava da casa e atravessaram uma clareira de campainhas selvagens. Havia vários jardins ao longo do caminho, adornados por árvores e arbustos. Valentin deteve-se para falar com um dos homens enquanto Sara admirava as flores. – Nunca tinha passado por este caminho. Esta casa é muito bonita. – Nas suas expedições diárias, Sara havia descoberto que a casa tinha pelo menos duzentos anos. Dela salientavam-se três alas que formavam a letra E. Um jardim de ervas murado e um labirinto protegiam o lado oeste da casa. O lago e o caminho da entrada eram ladeados por ulmeiros que pareciam ser de uma data posterior. – Pensei que talvez gostasses de visitar o templo romano naquela colina. Sara fitou Valentin com interesse. – Pareces conhecer bem este lugar. Vinhas aqui quando eras criança? – Vivi aqui até aos onze anos. A casa pertencia à minha mãe, que era uma princesa russa, e ela deixou-ma em testamento. – O que aconteceu quando tinhas onze anos? Partiste para frequentar um colégio? A alegria abandonou o rosto de Valentin. – Não, viajei para a Rússia com o meu pai e acabei por receber uma educação muito pouco ortodoxa como escravo turco. Sara enrubesceu. – E tinhas apenas onze anos? – Apertou-lhe o braço. – Lamento muito. Ele mostrou-lhe um sorriso encantador, que a afastou e a colocou a uma certa distância. – Não te podes considerar responsável por algo que aconteceu quando eu era uma criança. – Não foi essa a minha intenção.


– Não desperdices a tua piedade comigo, Sara. Já esqueci o assunto. – Saudou o último dos jardineiros com um aceno de cabeça e continuaram a subir a leve encosta. – Sugiro que mudemos de assunto e falemos da nossa ida para Londres. Sara assentiu, furiosa consigo mesma por remexer em lembranças tão desagradáveis e esforçando-se por mostrar uma expressão bem-disposta. – Claro, como desejares. Estou ansiosa por ir. Também possuis uma casa em Londres? – Pensei que poderíamos alugar uma. – Vacilou ao chegar ao topo da colina. – Mas, se preferires, o meu pai, o marquês de Stratham, tem uma casa em Portland Square, com uma série de quartos que poderíamos utilizar. Sara fitou-o. – Mas não é isso que desejas? Um dos músculos da face de Valentin contraiu-se. – O meu pai tem alguma dificuldade em aceitar a minha pouco cavalheiresca opção profissional e o meu passado pontuado por algumas vicissitudes. – Imagino que ele também deva sentir alguma culpa por te ter perdido. Valentin riu. – Nunca notei tal coisa. Quando regressei a Inglaterra, ele sentia-se quase envergonhado. Já tinha formado outra família e eis que eu apareço para arruinar todas as aspirações do meu meioirmão a um título. Sara deteve-se e fingiu admirar a bonita estrutura de pedra branca no topo da colina. – Ainda assim, deve ter sido um choque para ele. A tua mãe faleceu antes do teu regresso? Ele afastou-se um pouco com as mãos atrás das costas. – Sim, de desgosto. Informaram-me que ela nunca perdoou ao meu pai por me ter deixado nas mãos dos turcos. Um melro passou num voo baixo por cima da cabeça de Sara e foi pousar sobre uma das colunas em ruínas. Chilreava uma provocação estridente por cima dos sons débeis dos jardineiros que trabalhavam mais abaixo. Ela caminhou pela erva até às pedras, segurando as saias com uma mão. O mármore estava frio sob os seus dedos e exibia manchas de musgo e a sujidade deixada pelos anos. Acariciou a estreita coluna de pedra. – Algum dos teus antepassados viajou até à Grécia? Valentin continuou com um passo mais tranquilo e os olhos fixo nos dedos dela. – Creio que o meu avô materno terminou o seu grand tour na Grécia. Conta-se que comprou lá este templo e o mandou trazer para cá. Sara observou a pequena construção circular. Tinha um teto com cúpula e oito colunas de apoio que descansavam sobre uma parede à altura da cintura. Caminhou cautelosamente através das pedras caídas. – É seguro entrar? – Claro. Mando inspecionar a construção uma vez por ano. As pedras que estão em redor, essas do chão, só estão aí para impressionar. Parece que o meu avô mandou esvaziar todo o terreno. Lá dentro estava frio e sombrio e o piso era de mosaicos. Sara ajoelhou-se para observar as


imagens desbotadas e delineou o contorno áspero do rosto de uma mulher. – Esta é Afrodite? – Era uma formosa mulher nua, rodeada por um grupo de donzelas menores que saltitavam num campo de flores. – Segundo os diários do meu avô, acredito que sim. – As botas de Valentin ecoaram naquele espaço reduzido quando se aproximou dela e a ajudou a levantar-se. – Obrigada por me mostrares este lugar. É muito bonito. – Sara virou-se com um sorriso malicioso. – Podia até pintá-lo. Valentin estendeu a mão. – Vamos apreciar a vista. Podes ver os telhados da casa principal daqui. Conduziu-a até um dos pilares e colocou-se atrás dela. Deslizou um braço em redor da sua cintura e puxou-a para trás, contra ele. – Já te deves ter perguntado por que razão o meu pai não assistiu ao nosso casamento. Os dedos dele trabalhavam habilmente nos laços do seu corpete. Sara exalou. Apenas a pressão do braço dele sob os seus seios mantinha o vestido no lugar e ela olhou para baixo, onde alguns dos jardineiros continuavam a ocupar-se do caminho e dos arbustos. – Não me tinha dado conta de que o teu pai ainda estava vivo. Nunca falaste dele. – A voz dela soava aspirada e alta naquele pequeno lugar cercado. – Tento não pensar nele, a menos que seja obrigado a fazê-lo. Ele deixou bem claro que, embora possa herdar o seu título, não me deixará nem um centavo do seu dinheiro. Mordeu-a no pescoço e ela estremeceu. – Não irá ficar satisfeito com as minhas bodas. Acredito que esperava que eu tivesse a consideração de morrer solteiro para que o seu novo filho preferido pudesse herdar tudo. Só mesmo Valentin para falar dos seus problemas familiares enquanto a cortejava! Possivelmente pensava distraí-la. Sara fixou o olhar num dos homens que trabalhava no jardim. Valentin pegou na sua fina saia de musselina e levantou-lha até à cintura. O ar frio tocou-lhe a pele quente e foi de imediato substituído pela sensação sensual dos seus calções de camurça contra a sua pele. Foi como se um veludo áspero a acariciasse das nádegas aos tornozelos. – Gostarias que visitasse o teu pai e a sua nova esposa? Valentin beijou-lhe o pescoço antes de responder. – Se achas que conseguirás suportá-lo. Já decidi organizar um jantar em tua honra depois da nossa chegada. – Os dentes dele roçaram o lóbulo da orelha de Sara e os seus mamilos endureceram com uma pressa dolorosa. – Convidarei os meus amigos e os meus concorrentes. Como a maioria dos homens de negócios bem sucedidos, tenho inimigos, Sara. Gostaria que os conhecesses e tirasses as tuas próprias conclusões. Balançou os quadris, pressionando a sua ereção contra as nádegas dela. Sara cravou as unhas na pedra. – Já estás pronta para mim? Ainda te excita a ideia de que te possua assim, em plena luz do dia? Abriu-lhe as nádegas com a mão esquerda e passou um longo dedo pelo ânus para explorar a sua bainha. – Ah, sim, molhada e aberta. Escorregadia de desejo. Um movimento por baixo deles atraiu a atenção de Sara. Valentin começou a desenhar círculos


no seu sexo já dilatado com a ponta do dedo. – Valentin, creio que um dos jardineiros nos viu. Valentin puxou-lhe o lóbulo da orelha com os dentes. – E tens vergonha? Na realidade, ele não consegue ver o que te faço. Pode apenas adivinhar. Sara engoliu em seco quando Valentin retirou os dedos e desabotoou os botões dos calções. O seu pénis duro e húmido roçou a parte inferior das suas costas e deslizou por entre as suas pernas pressionando-se contra o seu clítoris. O coração de Sara batia com força contra o espartilho e a vontade pulsava entre as suas coxas. Quando se atreveu a abrir os olhos outra vez, o homem ainda a observava e piscou o olho. – Queres que pare? – murmurou Valentin. – Posso deixar-te insatisfeita se é isso que desejas. Sara mordeu o lábio. – Mas, e se ele nos vê? – Qual é o problema? – Valentin estendeu os dedos da mão direita que sustentavam o seu espartilho e acariciou-lhe ambos os mamilos. – Observa como ele te aprecia. Vê como se excita. Imagina como lhe agradaria estar no meu lugar. Sem esperar resposta, entrou nela com um suave empurrão, que a obrigou a ficar nas pontas dos pés. Sara agarrou-se à parte superior da parede com mais força enquanto ele a penetrava mais profundamente e deixou que a guiasse num ritmo forte e rápido. O seu corpo ainda não estava habituado àquela maneira de fazer amor e sentia-o muito grande naquele ângulo. Concentrou-se no jovem que a olhava fixamente. Um sorriso de agradecimento desenhou-se no rosto bronzeado do rapaz ao notar a atenção de Sara. Valentin golpeava dentro dela e o jardineiro tapou as virilhas com a mão. Era claramente visível que o seu pénis crescia por baixo dos calções enlameados. – Vês, Sara? – sussurrou Valentin –, ele deseja-te. Excitaste-o. Deseja-te, mas não pode ter-te porque és minha. Nunca poderás ser dele, jamais. Valentin acelerou o ritmo, os seus empurrões pressionavam-na contra a parede. Sara sentiu a primeira agitação do orgasmo, concentrou a sua atenção no homem que estava no jardim e deixou que ele visse o prazer que Valentin lhe proporcionava. Tinha razão, ver o desejo de outro homem fazia-a sentir-se poderosamente feminina. – Vem-te agora, Sara, e vê como sentimos prazer contigo. O seu corpo apressou-se a cumprir a ordem e estremeceu ao atingir o clímax. Valentin gemeu quando a sua semente lhe inundou o canal e logo em seguida o seu corpo abateu-se contra o dela. O jardineiro caiu de joelhos, a sua cabeça loura inclinada e as mãos fechadas em redor das virilhas. Quando Sara reuniu coragem para voltar a olhar, deu-se conta de que os outros jardineiros tinham desaparecido. Teria Valentin montado toda aquela cena para ela? Não a surpreenderia se o tivesse feito. Ajudou-a a compor o vestido e afastou-se dela, deixando-a com frio. Sorria enquanto atava as calças e apagou do seu rosto qualquer rasto de paixão. A sua expressão era tão tranquila como se tivessem estado a falar sobre o tempo. – Amanhã partiremos para Londres. Sugiro que nos deitemos cedo porque temos uma longa viagem e toda uma vida para percorrermos juntos.


6 Londres

ara alisou a parte da frente do espartilho e deixou que a criada a ajudasse a vestir a combinação. Valentin apareceu na porta que ligava os dois quartos. Estava vestido com um casaco de lã azul-escuro e um colete cinza bordado com fios de prata. O seu traje de noite contrastava de forma interessante com as cortinas de seda rosa do seu quarto. – Estás nervosa, minha querida? – Um pouco – respondeu Sara enquanto dispensava a criada. Voltou-se para olhá-lo com mais atenção –, mas também estou ansiosa. – Logo depois da sua miserável primeira temporada em Londres, tinha evitado aproximar-se da cidade tanto quanto lhe tinha sido possível. Chegar à cidade protegida pela riqueza e pelo sobrenome de Valentin era uma experiência completamente diferente. Valentin deteve-se junto à cama e pegou no vestido de Sara, sorrindo-lhe. – O carmesim é a minha cor preferida, recorda-me os teus mamilos depois de os chupar. Aproximou-lhe o vestido e passou-lho por cima da cabeça. A seda correu-lhe pelo corpo como o suave sussurro de uma chuva de pétalas de rosa. Susteve a respiração enquanto Valentin atava os laços atrás. Os seus seios ergueram-se ao sentir o franzido da renda branca. Sara sorriu ao ver a sua imagem no espelho. Haviam sido três semanas a ver casas, a contratar pessoal e reunir-se com modistas e estava exausta. Era um alívio poder finalmente começar uma nova vida em Londres com o seu enigmático marido. De cada vez que acreditava começar a conhecê-lo, ele mostrava-lhe outro lado da sua personalidade multifacetada. Lembrava-lhe a arca japonesa densamente lacada que existia no seu quarto. Tantas camadas de verniz para obter aquele brilho profundo e intenso. Tantos anos para cobrir a base simples de madeira. – Tenho uma coisa para ti. Valentin tirou uma caixa do bolso do casaco e entregou-a a Sara. Dentro da caixa de veludo estava um colar com várias fileiras de rubis e pérolas. Enquanto Sara olhava boquiaberta para a joia, Valentin colocou-lhe o colar à volta do pescoço. – Mandei fazê-lo para ti, como presente de casamento. O conjunto tem outras peças, mas iremos admirá-las juntos mais tarde esta noite. Sara acariciou o rubi central que era do tamanho do seu polegar. – É deslumbrante, Valentin. Não sei como te agradecer. Ele beijou-lhe o ombro. – Escreve algo para mim no Livro Vermelho. Senti saudades de saber de ti nestas últimas semanas. – Virou-se para a porta. – Esperarei na sala de estar. Assim que Valentin saiu, Sara correu para a cama e meteu a mão por baixo do travesseiro. As

S


suas mãos tremiam ao passar as páginas e sorriu ao descobrir a nova mensagem de Valentin. Esta noite, desejo adorar-te. Prepara-te para te tornares na minha deusa ornamentada. Sara acariciou o seu novo colar. Que diabo queria dizer Valentin? Um tremor de antecipação percorreu-lhe o corpo. A maneira de o seu marido fazer amor era sempre uma surpresa e, de repente, sobreviver à iminente chegada dos convidados pareceu-lhe algo menos aterrador com a promessa do prazer que viria depois. Após um último olhar ao espelho, Sara desceu as escadas. A elegante casa da cidade que tinham alugado situava-se na Half Moon Street. Tinha cinco andares, desde a cave ao sótão, e um pessoal muito eficiente para executar todas e quaisquer obrigações domésticas. Valentin havia insinuado que, se gostasse da casa, consideraria comprála para aí estabelecer residência permanente. Um dos convidados tinha chegado cedo. Ao fundo das escadas, Sara avistou um homem de cabelo louro que falava animadamente com Valentin e ambos levantaram o olhar quando ela chegou ao vestíbulo de mármore branco e preto. Valentin estendeu a mão. – Sara, este é Mister Peter Howard. O meu sócio e melhor amigo. Sara fez uma vénia ao mesmo tempo que Mr. Howard se inclinava para a cumprimentar. Tinha mais ou menos a mesma altura de Valentin e a sua pele estava demasiado bronzeada para ser considerada bonita. Examinou-o cuidadosamente. O seu pai aconselhara-a a manter-se afastada daquele homem e também lhe tinha pedido que usasse a sua influência sobre Valentin para pôr um fim àquela amizade. Esperava que a confusão que sentia não estivesse espelhada no seu rosto. O que levaria o seu pai a considerar Peter Howard uma ameaça para a sua felicidade futura com Valentin? Os olhos de Peter Howard eram azul-claros e o seu rosto exibia traços finamente delineados como os de um anjo etéreo. Ao lado do esplendor moreno de Valentin, era um contraste perfeito. Vestia um casaco bege e umas calças castanhas com um corte muito elegante. – Lady Sokorvsky, é um prazer conhecê-la. – Olhou para Valentin. – Se o meu amigo não estivesse com tanta pressa para casar, tê-la-ia conhecido na cerimónia. Eu deveria ter sido o padrinho de Valentin. – O navio de Peter ficou retido no canal. – Valentin sorriu a Peter. – Fiquei tão desiludido quando me dei conta de que não chegarias a tempo. Sara observava-os. Apesar da brincadeira, sentia alguma tensão entre eles. Deu-se conta de que Valentin se casara com ela sem a presença de nenhum familiar nem a do seu melhor amigo. Saberia ele que o seu pai não gostava de Peter e por isso o excluíra do casamento? – Por favor, chame-me Peter. – Levou a mão dela aos lábios e beijou-a. – Tenho a certeza que o Val não se incomodará. Sara lembrou-se das suas boas maneiras e sorriu. – Tenho a certeza que o Valentin não se importará que me chame Sara. Pelo que me contou, é um membro da família. Valentin encolheu os ombros. – Em algumas ocasiões, ele foi a minha única família. – É o outro rapaz que o meu pai salvou na Turquia, não é verdade? – Sim, sou eu mesmo, embora o seu pai não tenha por mim a mesma estima que tem pelo seu


marido. – Peter sorriu ligeiramente. – Temo tê-lo dececionado em muitas ocasiões e, com toda a razão, ele virou-me as costas. – Fez uma vénia. – Espero que não me leve a mal por isso, acredito ter já ganho algum juízo. Valentin franziu o sobrolho e tocou no braço de Peter. – Isso lembra-me uma coisa, podes ficar depois do jantar? Tenho de falar contigo sobre um assunto relacionado com os negócios. Peter apertou os lábios. – Devias estar em lua de mel, Val. Não pode esperar? Valentin sorriu e Sara resistiu ao impulso de estremecer. – Infelizmente, não pode esperar. – Beijou os dedos de Sara. – Tenho a certeza que a minha querida esposa compreenderá. Assim que o mordomo anunciou a chegada de outro casal, Valentin fez uma pequena vénia a Peter e conduziu Sara até à sala de estar onde um homem mais velho e a sua esposa se aproximavam para saudá-los. Valentin virou-se para Sara. – Querida, apresento-te um dos meus maiores concorrentes navais, Sir Richard Pettifer e a sua querida esposa, Evangeline. A risada ribombante de Sir Richard ecoou pela sala. Era um ancião de rosto redondo e corpo roliço a combinar. O seu colete amarelo estava decorado com grandes botões dourados, que se assemelhavam a soberanos, e as pontas da gravata estavam tão altas que parecia não ter pescoço. – Como era de esperar, a Valentin não escapa nada! – Fez uma vénia a Sara. – É um prazer conhecê-la e parabéns pelo seu casamento com este patife. – Estocou Valentin com a ponta da sua bengala. Lady Pettifer, que parecia muito mais jovem do que o seu marido, pegou na mão de Sara e deulhe um beijo perfumado perto da orelha. Envergava um elegante vestido de cetim de cor avermelhada e três plumas a condizer presas no cabelo. Os seus olhos castanhos pareciam amáveis. – Tenho a certeza que todas as damas de Londres irão querer saber como cativou o fugidio Lorde Sokorvsky. – O seu olhar foi pousar na barriga de Sara e logo depois regressou ao seu rosto. – Ele é um autêntico prémio. Sara sorriu e resistiu ao impulso de colocar a mão sobre o ventre. O contundente comentário de Lady Pettifer não era completamente inesperado. Não tinha muitas ilusões quanto à sua beleza e posição social. Lady Pettifer não seria a primeira pessoa a perguntar-se como a filha de um simples comerciante tinha conseguido apanhar o filho de um marquês. Valentin pegou na mão de Sara. – A minha esposa é o verdadeiro prémio. Foi para mim uma honra quando ela me aceitou. Sara fitou-o, mas no seu rosto não havia sinais de humor. Lady Pettifer suspirou. – Vejo que é um casamento por amor. – Deu umas pancadinhas na face do marido com o leque fechado. – Meu querido, agora só tem de esperar que Valentin se dedique por completo à sua esposa e se esqueça de conduzir os seus negócios da maneira mais adequada. Sara quase riu ao ver a expressão otimista de Sir Richard.


Lady Pettifer aproximou-se um pouco mais. – Se puder ajudá-la em alguma coisa, por favor, não hesite em dizer-me. Não deve ser fácil para si, com a estranha posição social de Valentin. Sobressaltada pela ardência das palavras de Lady Pettifer, Sara pegou impulsivamente na mão da mulher. – Obrigada pela oferta. Estou um pouco preocupada e é bom saber que há pessoas às quais posso recorrer para um conselho. O mordomo anunciou outro casal e os Pettifer afastaram-se. Valentin apertou a mão de Sara com mais intensidade ao ver quem estava atrás deles. – Pai. Valentin inclinou a cabeça uns centímetros para aquele homem grisalho e Sara reparou que ele e o pai tinham a mesma altura e constituição. – Apresento-lhe a minha esposa Sara, Lady Sokorvsky. O marquês de Stratham desenhou uma vénia. – É um prazer conhecê-la. Só gostaria de ter sido informado do casamento. – Um dos músculos da face latejou. – Nunca esperei vir a tomar conhecimento das núpcias do meu filho mais velho pelo jornal. Sara olhou para Valentin e este parecia divertido. – Não recebeu o convite? Jurava tê-lo enviado. Talvez o seu secretário não lho tenha dado. O marquês deu um passo em frente, os seus lábios desenhando uma linha. A senhora, muito mais baixa, que estava ao seu lado colocou a mão sobre o braço dele. – Anton, talvez pudesse apresentar-me a minha nova nora. – Com certeza, minha querida, desculpe. – Sara sentiu-se aliviada ao ver que o marquês parecia visivelmente mais tranquilo. – Lady Sokorvsky, apresento-lhe a minha esposa. Sara viu-se envolta num abraço com aroma a alfazema e a marquesa brindou-a com um sorriso deslumbrante. – Posso tratá-la por Sara? Por favor, chame-me Isabelle. Estou muito contente por a conhecer e tem de me prometer que tomará chá comigo o mais rapidamente possível. – Olhou para o marquês. – Teríamos a maior honra em organizar uma pequena festa em honra do vosso casamento em Stratham House. Valentin voltou a agarrar a mão de Sara. – Não é necessário. Mas obrigado pela oferta. Sara corou enquanto Isabelle tentava ocultar a deceção no olhar. – Mas eu gostaria de fazê-lo por si, Valentin. – Até podia ser, minha querida madrasta, mas o meu pai por certo não iria ficar contente. O marquês bufou. – Eu bem lhe disse, querida, o Valentin não deseja ser incluído na nossa família. Até se recusa a utilizar o seu próprio título. Valentin riu. – Que benefício teria eu em ser chamado de visconde? – Fingiu pensar. – Era capaz de ficar bem nos papéis da empresa e levaria alguns cidadãos a adular-me um pouco mais. – Não brinques com o teu direito de primogenitura. – O marquês mantinha a voz baixa, mas a


sua fúria era óbvia. – És o meu filho mais velho e o título pertence-te, quer queiras, quer não. – Que pena que não possa trocar, pai! O Anthony cumpriria o papel com muito mais dignidade, não é verdade? O marquês olhou fixamente para o filho e depois afastou-se de forma abrupta. A marquesa seguiu-o, sussurrando-lhe qualquer coisa ao ouvido. Sara suspirou. – Tinhas de ser tão rude? Valentin encolheu os ombros. – Eu e o meu pai só comunicamos desta forma. Na verdade, graças à minha madrasta, ele até não se comportou mal esta noite. – Observou-a. – Não te preocupes; não terás de o ver com muita frequência. Sara decidiu não dizer nada. Era óbvio que a relação de Valentin com o pai era bem mais complicada do que pensara. Quando visitasse Lady Isabelle, esperava inteirar-se melhor da situação. Para seu alívio, foram anunciados mais dois casais e a simpática máscara social de Valentin voltou ao seu lugar enquanto fazia as apresentações. Sara contemplou a sala de estar com um sentimento de orgulho. Dez casais conversavam, riam e pareciam divertir-se. Apesar das suas dúvidas, tinha desempenhado o papel de anfitriã sem se envergonhar ou a Valentin. Quando o mordomo anunciou o jantar, ela estava mais do que preparada para colocar a mão no braço do marquês, sorrir com alegria e deixar que a conduzisse para a sala. *** Enquanto Valentin distribuía as chávenas de chá pelos convidados, Sara virou-se e encontrou Peter Howard sentado ao seu lado. A sua chávena tilintou no pires. Ele tirou-lha das mãos e apoiou-a sobre uma pequena mesa que havia a seu lado. As suas sobrancelhas arquearam-se enquanto a observava. – Bem, o que foi exatamente que o seu pai lhe disse sobre mim para que desconfie tanto da minha companhia? Sara mordeu o lábio. Não havia nada mais do que um ligeiro bom humor no olhar de Peter e os seus instintos diziam-lhe que era um homem em quem se podia confiar. Oxalá o seu pai tivesse sido mais específico sobre o que supostamente Peter teria feito para ganhar a sua desaprovação. Ela sorriu-lhe cautelosamente. Ao contrário de Valentin, não era boa a dissimular. Talvez a honestidade revelasse mais do que um engano meloso. – O meu pai acredita que exerce uma espécie de má influência sobre Valentin. Peter recompensou-a com um belo sorriso. – Se com isso o seu pai quer dizer que Val e eu temos um laço profundo e inquebrável, então tem razão. Não podemos compartilhar sete anos horrorosos da nossa vida com um homem e depois não querer saber dele. Sara observava-o. – Mas continuam próximos mais de dez anos depois. Deve ser isso que ele acha estranho. – Bom, isso é culpa minha. Durante vários anos após o nosso regresso, eu agarrei-me ao Val como uma criança dependente. – O seu olhar desviou-se dela para Valentin, que falava com a


madrasta e continuava a ignorar o pai. – Só Deus sabe por que razão o Val me suportou. Agora tento recompensá-lo sendo o melhor administrador que consigo. Valentin voltou-se e viu-os a olhar para ele. Arqueou as sobrancelhas de maneira inquisitiva e Peter piscou-lhe o olho, virando-se para reatar a conversa. Por momentos, Sara incomodou-se pela confiança dele. – Opõe-se a que Val e eu sejamos amigos? A pergunta colocada em voz baixa fez com que Sara se sentisse infantil. Depois de tudo o que ambos os homens tinham sofrido, era assim tão surpreendente que permanecessem juntos? – É óbvio que não. – Sara olhou Peter ostensivamente nos olhos. – Opõe-se a que Valentin se tenha casado comigo? – De maneira nenhuma, alegra-me que ele tenha encontrado alguém tão especial. – Fez uma pausa como se não tivesse a certeza de continuar. – Acredito que ele tenha chegado a uma fase da vida em que o papel de libertino o começava a enfraquecer. – Falas de mim? Sara levantou o olhar e viu Valentin junto deles. Sorriu-lhe e estendeu-lhe a mão. – Concordámos em não brigar por tua causa. Estás contente? Ele ajudou-a a levantar-se e Peter levantou-se também. – Teria ficado surpreendido se não o tivessem feito. – Olhou de Sara para Peter. – Vocês são bastante parecidos em algumas coisas. Sei que gostam ambos de me apontar os erros. Peter fez uma vénia. – Alguém tem de o fazer, Val, ou acabarias por ficar demasiado presunçoso. – De acordo, meu amigo. Bom, talvez queiras usar os teus encantos em Sir Richard e Lady Pettifer. Sempre me interessaram os planos dos meus concorrentes. Peter afastou-se e Valentin continuou a apertar a mão de Sara. – Obrigado. – Pelo quê? – Por aceitares o Peter, apesar de o teu pai te ter provavelmente advertido sobre ele. Sara enrubesceu. – Sou suficientemente adulta para formar uma opinião própria sobre as pessoas. – O Peter levou alguns anos a ambientar-se, após o nosso regresso. – Valentin suspirou. – Depois disso, o teu pai nunca mais confiou nele, mas posso garantir-te que o Peter mudou. De outra maneira, nunca esperaria que o tolerasses. O olhar de Sara seguiu Peter, que tinha ficado a falar com os Pettifer. – Ele sofreu muito, não é verdade? Valentin ficou imóvel. – Consegues perceber isso? Sara abriu o leque e desviou o olhar. O cabelo dourado de Peter brilhava com a luz das velas ao mesmo tempo que anuía por algo que Sir Richard havia dito. – Sim. – Como poderia dizer a Valentin que todos os dias via o débil eco desse sofrimento no seu rosto? Valentin beijou-lhe os dedos. – Peter será um amigo leal, prometo-te. – Um movimento perto da lareira chamou-lhe a


atenção. – Creio que o meu pai se prepara para partir. Talvez devêssemos ir despedir-nos. Sara deixou que ele a guiasse até ao outro extremo da sala. O que teria Valentin visto na sua expressão que o deixara tão desejoso de terminar aquela conversa?


7 alentin ofereceu a Peter um balão de brande e observou o amigo sentado do outro lado da mesa. Peter parecia cansado. Os seus olhos azuis tinham escurecido. Teria ele retomado os seus velhos hábitos enquanto Valentin estava distraído com o seu casamento e com as preocupações dos seus negócios? Peter terminou o brande e acendeu um charuto. – Bem, o que é assim tão importante que te impeça de estar no teu leito conjugal? Valentin tirou um papel de uma pilha que havia sobre a mesa e entregou-o a Peter. Esperou até que este terminasse de lê-lo. – E tu acreditas nisto? – Peter amachucou a folha de pergaminho. – Achas que eu arriscaria a minha reputação publicamente agredindo um criado num baile de sociedade? – Pelos vistos, o homem acredita que sim. Peter engoliu com força. – E se eu te disser que é uma maldita mentira, acreditarias em mim? Valentin olhou para o seu velho amigo, avaliando o débil tremor dos seus dedos e a palidez da sua pele. – É óbvio que sim, mas... Peter parecia indignado. – Há sempre um «mas». Continua, Val. Tenho a certeza de que há mais. Valentin soltou a respiração de forma ruidosa. – No passado, quando consumias demasiado ópio, às vezes esquecias-te do que tinhas feito. Peter levantou-se devagar. – Há três anos que não toco em ópio. Acreditas mesmo que me arriscaria a cair de novo naquele inferno depois de por pouco não sair dele vivo? – Não. – Valentin penitenciou-se por supor automaticamente que Peter tinha esquecido a promessa feita. Estava na altura de deixar de comportar-se como o guardião de Peter e começar a confiar nele como amigo. – Se voltares a sentar-te, talvez possamos descobrir porque é que esta terrível acusação aparece precisamente no momento em que os nossos negócios estão em perigo. Peter sentou-se com uma expressão de preocupação. – Não tinha pensado nisso. Valentin esfregava a testa. – Eu sim. Parece que há alguém interessado em manchar a nossa reputação e em destruir o nosso negócio. Um débil sorriso apareceu no rosto contraído de Peter. – Alguém? Tenho a certeza de que temos mais do que apenas um inimigo entre nós. – Suspeito que esta pessoa queira desenterrar o nosso passado e usá-lo contra nós. Alguém que sabe a verdade sobre a Turquia. – E não ficará satisfeito em arruinar-nos apenas financeiramente, também deseja fazer o mesmo à nossa reputação. – Peter apagou o charuto. – Prometo que manterei todas as minhas perversões

V


privadas dentro dos discretos limites da Casa do Prazer da Madame Helene. Na realidade, pedirei à própria Madame que investigue todas as minhas companhias e a sua clientela, se isso te faz sentir mais tranquilo. Valentin terminou o brande. – Eu farei o mesmo. Peter olhou-o, perplexo. – E para que necessitarias tu dos serviços da Madame? Não acabaste de te casar? Valentin imaginou Sara à sua espera na cama. O seu pénis agitou-se de antecipação. – A minha esposa é... especial. – O que se passa, Val? – perguntou Peter com amabilidade. – Estás preocupado que ela não consiga satisfazer todas as tuas necessidades? – Isso não te diz respeito, diabos! – grunhiu Valentin. – A minha esposa não é tema de conversa. Peter levantou-se e dirigiu-se para a porta. – Estás sempre a dar-me conselhos. Talvez pudesses ouvir também alguns. A tua esposa é uma mulher interessante, dá-lhe a oportunidade de descobrir quem és na verdade. Caso contrário, o teu casamento será um lugar muito solitário para ambos. Valentin olhava fixamente para a porta fechada e, aos poucos, foi relaxando os músculos tensos. Peter não tinha o direito de lhe dizer como gerir as suas relações. Já tinha problemas suficientes com as dele. Sara era sua esposa e não tinha de mergulhar nos excessos sexuais que ele às vezes tanto desejava. Ela permaneceria pura, ainda que fosse a última coisa que fizesse. Agitou-se com nervosismo na cadeira. Sara nunca teria de experimentar o sexo da mesma maneira que ele, obrigado a oferecer e a prolongar o prazer de alguém que pagasse pelo seu tempo. Baixou o olhar para a sua crescente ereção. O facto de ter iniciado a sua vida sexual em antros de libertinagem teria distorcido os seus desejos sexuais? Se assim fosse, esperava que Sara nunca descobrisse. Acendeu uma vela e subiu as escadas até ao quarto. A casa estava mergulhada em silêncio. Um persistente aroma a lenha queimada, a perfume e a vinho subia juntamente com ele como um eco do jantar. Uma luz ténue brilhava sob a porta de Sara. Valentin pegou no estojo das joias que havia deixado no seu toucador e dirigiu-se ao quarto dela. Naquela noite iria venerá-la como ela merecia. Sara afastou-se do espelho quando Valentin atravessou a porta que ligava ambos os quartos. Despiu a roupa, deixando ficar apenas o bonito colar de rubis e pérolas à volta do pescoço. Valentin ainda estava completamente vestido e uma safira cintilava nas intrincadas dobras da sua gravata. Trazia consigo outra caixa de joias parecida com a que já lhe tinha oferecido. Ajoelhou-se diante dela e Sara pôde sentir o aroma do brande e do charuto no seu hálito. Valentin sorriu. – Gostaste desta noite? – Foi interessante. – Decidiu ser honesta. – Gostei da tua madrasta. Importavas-te se eu a visitasse? Valentin colocou a caixa de veludo sobre o tapete.


– Se tiver mesmo de ser, mas promete-me que serás discreta. Não quero que o meu pai saiba cada pormenor da minha vida. Sara sorria enquanto ele beijava a banda do seu roupão de seda carmesim. – Duvido que falemos de ti. Ficarias surpreendido se soubesses que nós mulheres nem sempre falamos dos nossos maridos. Às vezes preferimos falar de outras coisas. Ele observou-a através das suas longas pestanas. – De outros homens? – Fechou os dentes em redor do arco do seu pé. – Espero conseguir satisfazer-te o suficiente para que não tenhas de recorrer a isso. Sara contorceu-se ao sentir a forte dentada. – Se soubesses... – O quê? – De novo aquele roçar autoritário dos seus dentes sobre a pele sensível. – Passei grande parte do jantar a imaginar o que me farias depois e a admirar o teu magnífico corpo. Por vezes, era bastante difícil concentrar-me. – Acariciou-lhe o rosto. – Na verdade, ainda me espanta poder tocar-te e ouvir-te dizer que te excito. A honestidade dela estimulava-o sempre. – Então, isso quer dizer que já estás húmida para mim? Os mamilos de Sara ficaram tensos ao ouvir aquela pergunta. Valentin arqueou uma sobrancelha. – Mostra-me. Sem deixar de o fitar, Sara passou o dedo indicador por entre as pernas mostrando-lhe a grossa camada do seu néctar. Ele agarrou-lhe o pulso e meteu-lhe os dedos na sua boca quente, chupando com lentidão a prova do seu desejo. – Fico muito contente que estejas assim húmida para mim. Agrada-me saber que me observas e que me desejas. – Soltou-lhe a mão e abriu o estojo das joias. – Podes levantar-te? Gostava de te ornamentar. De bom grado, Sara colocou-se de pé e soltou a fita que apertava o seu roupão de seda. Valentin tirou-lho, fazendo-o deslizar pelos ombros e atirou-o para cima da cama. Depois beijoulhe o umbigo, o seu queixo por barbear áspero contra a sua pele suave. – A primeira peça coloca-se à volta da cintura e vai ligar-se ao colar que tens ao pescoço. Estendeu a mão e apertou a grossa corrente de ouro em volta da cintura de Sara. A corrente era composta por quatro filas de pérolas e rubis. O colar que tinha já posto caía-lhe até à curva superior dos seios. Valentin pegou em duas voltas de pérolas e rubis e prendeu-as a ambos os lados do colar. Sara atreveu-se a olhar para o espelho. As voltas do colar passavam-lhe de ambos os lados dos seios, emoldurando-lhe os mamilos. Valentin observou-a ao espelho e tocou-lhe os mamilos que endureceram com o toque dos seus dedos. – Quando terminar de te decorar, vou chupar-te os seios até que implores que pare. Amanhã quero que imagines que a minha boca ainda está sobre ti até que te excites e me desejes de novo. Sara observou os dedos rodopiantes e foi ficando cada vez mais húmida. Ansiava por aqueles dedos noutra parte do seu corpo. Tinha aprendido rapidamente a desejar o pénis dele e a sua maneira de fazer amor. Valentin sorriu ao passar os dedos pela corrente até à cintura de Sara. – Talvez volte para casa mais cedo quando tiveres visitas. Talvez te encontre húmida e faça


amor contigo e te mande de novo para junto dos teus convidados. Acariciou-lhe a curva da anca e ela gemeu. – Achas que eles saberiam que eu teria feito amor contigo? Acreditas que se importariam que sentisses os mamilos doridos contra o espartilho e que do teu sexo gotejasse a minha semente? Os joelhos dela ameaçavam fraquejar enquanto ele passava o dedo nos seus pelos púbicos. – Acredito que saberiam. Não é possível dissimular o olhar de uma mulher satisfeita. Talvez entre na tua sala de estar e te faça sentar sobre o meu pénis. Esquecerias por completo a tua obrigação de agradar às damas da alta sociedade e só pensarias em agradar-me a mim. Sara gemeu quando ele deslizou um dedo por entre as suas pernas. Estava tão excitada que o seu néctar transbordava e escorria pelo interior das suas coxas. Valentin abriu-lhe as pernas e contemplou-lhe a vagina exposta. Voltou depois a sua atenção para o estojo das joias e tirou outra parte do colar. Era uma fileira de pérolas grandes que ele ligou à peça que já se encontrava na cintura. O colar era tão comprido que tocava no chão. Valentin juntou o colar de pérolas na palma da mão e esfregou-o contra o clítoris de Sara. – Isto vai para dentro de ti. Deves tentar mantê-lo todo lá dentro para mim. Ela olhava para o espelho enquanto Valentin deslizava a fileira de pérolas para o seu interior. Apertou o músculo interno em redor da pesada massa e afastou-se um pouco para que ela observasse o seu reflexo por completo no espelho. Sara tocou nas pérolas que pressionavam dentro do seu sexo e estremeceu. Sem dizer palavra, aproximou-se de Valentin e começou a despi-lo. Depois de um olhar de surpresa, ele não tentou detê-la e, enquanto ela lhe desatava a gravata, ele puxou-lhe suavemente os mamilos e acariciou-lhe as nádegas. Sara despiu-lhe o colete e a camisa e ele inclinou a cabeça e mordeu-lhe o mamilo, sugando-o com força. Quando lhe tirou os calções, o seu pénis rígido embateu contra a corrente de ouro à volta da cintura dela. Ele gemeu. Com um sorriso, Sara ajoelhou-se e agarrou-lhe o pénis. Já estava húmido e inchado e, com delicadeza, ela esfregou a ponta do seu membro contra o seu mamilo franzido, banhando-se com a antecipação do seu sémen. – Sara... – Valentin colocou uma mão no cabelo solto de Sara e obrigou-a a olhar para ele. Ao perceber que ela tinha assumido o controlo da situação, ficou ainda mais surpreendido. Afinal, talvez ela não reagisse assim tão inocentemente. Sara lambeu os lábios e o pénis dele endureceu-se ainda mais. Com um sorriso sensual, empurrou-o em direção à cama e Valentin obedeceu, intrigado pela voluptuosa exigência que via nos olhos dela e excitado pelas possibilidades. Fitando-a, sentou-se na cama com as costas contra a cabeceira. Sara ajoelhou-se sobre ele com as pernas de cada lado das suas coxas e Valentin susteve a respiração quando ela encaixou um dedo na fiada de pérolas e as puxou, pouco a pouco, do interior da sua vagina. Valentin mantinha as mãos atrás da cabeça, convidando-a a continuar, secretamente encantado pelo atrevimento que ela demonstrava. Quando ela as amontoou sobre o ventre dele, as pérolas estavam cobertas pelo seu néctar e quentes contra a sua pele. O músculo do seu ventre contraiu-se ao mesmo tempo que a mão dela desenhava círculos descendentes. O coração de Valentin acelerou-se quando ela começou a enrolar as pérolas em volta do seu pénis duro. Ela inclinou a cabeça para ver o que fazia e o seu comprido cabelo acariciou-lhe a


virilha. Terminada a tarefa, Sara contemplou o seu trabalho. Valentin gemeu de prazer quando ela começou a lamber as pérolas. Cada lambidela delicada fazia rodar as esferas contra o seu pénis como um milhar de vibrações profundas. Esticou a mão e rolou-lhe os mamilos por entre os dedos, depois deslizou a mão até ao seu sexo húmido e afundou quatro dedos no seu interior, sentindo que ela se apertava em redor da sua mão. Agarrou-a pela cintura, endireitando-lhe as costas e afastou-a do seu pénis. Depois seguroua suspensa sobre ele e aproximou o sexo dela da ponta do seu pénis. Sara arregalou os olhos ao dar-se conta do que ele planeava fazer. Lentamente, ele baixou-a uns centímetros e observou-lhe a expressão enquanto o seu pénis coberto de pérolas desaparecia no seu interior. Segurou-a ali até sentir que o seu corpo o aceitava. – Achavas que eu ia permitir que me torturasses sem te obrigar a receberes-me dentro de ti? – Sim, não, eu... Baixou-a mais alguns centímetros e os calcanhares dela afundaram-se no colchão, enquanto as suas costas se arqueavam, pressionando os seios contra o rosto dele. – Acreditavas que eu seria demasiado grande? Baixou-a um pouco mais. Valentin desejava poder medir quanto a teria dilatado. Desfrutava da deliciosa sensação das pérolas que apertavam em redor do seu pénis e do calor húmido e escorregadio que o rodeava. – É possível que amanhã estejas dorida, mas agora farás amor comigo assim. – Penetrou-a com uma suave pressa e permaneceu imóvel. Quando ela parou de estremecer, tocou-lhe o ombro. – Aperta o meu pénis. – Por momentos, ela pareceu perplexa até que ele se inclinou e lhe roçou o clítoris. – Com o teu corpo. Susteve a respiração ao mesmo tempo que ela apertava os músculos internos em volta do seu pénis. As pérolas apertavam-se cada vez mais até ele sentir a pressão de cada uma das esferas contra o seu pénis inchado. Sara arquejou e ele sentiu as primeiras ondas do seu orgasmo. Valentin cerrava os dentes enquanto a pressão aumentava. Ela começou a balançar-se contra ele, afundando cada vez mais o seu pénis até que ele sentiu vontade de gritar o nome dela. O seu excitado pénis jorrou a sua semente e veio-se ao mesmo tempo que ela num espasmo de prazer. Sara abateu-se sobre o seu peito, as joias quentes contra a sua pele enquanto recuperava o fôlego. Saiu de dentro dela e começou a desapertar as joias. Sara permanecia encostada a ele, o seu corpo mole e a respiração regular. Valentin acariciavalhe o cabelo enquanto lhe tirava o colar. Naquela noite ela tinha-o surpreendido. A sua inocente esposa estava a aprender a agradar-lhe e o seu pénis endureceu uma vez mais ao observar o seu corpo nu. Talvez pudesse fazer amor com ela mais do que duas vezes. Talvez ela também gostasse. *** Sara conteve um gemido ao descer da carruagem. Tinha passado toda a manhã a fazer compras nas lojas mais modernas da cidade e estava cansada de caminhar. Ainda lhe doía o corpo por causa dos excessos da noite anterior. Apesar de ter tomado banho, o perfume dele permanecia na sua pele e cada respiração recordava-a da boca quente dele sobre os seus seios. As marcas


físicas da sua atenção ajudavam-na a esquecer as senhoras mais maldosas da alta sociedade que a ignoravam na biblioteca e no chapeleiro. Esperara poder apreciar Londres, mas os seus pares pareciam decididos a ignorar a sua existência. Só Lady Isabelle e Lady Evangeline Pettifer haviam sido amáveis e acessíveis e ela sentia mais saudades das suas irmãs e da comodidade da sua vida de província do que imaginara. Mas ao menos tinha Valentin. Rangeu os dentes, Valentin, com quem tinha uma questão a resolver. Sara ignorou Bryson, o mordomo, e entrou na sala de estar. Puxou as fitas cor de pêssego do seu chapéu e atirou-o para a cadeira mais próxima enquanto o seu marido aparecia à porta, mostrando um sorriso encantador. – Valentin, dormiste com todas as mulheres de Londres? – Só com as casadas, minha querida. Valentin agarrou o chapéu com uma mão e apontou para as portas que conduziam à sala de música. Sara parou para recuperar o fôlego e notou a presença de um cavalheiro mais velho atrás dele. Mordeu o lábio e questionou-se se o homem teria ouvido o seu infeliz comentário. Pelo débil sorriso no seu rosto, adivinhava que sim. – Não te preocupes, meu amor, tenho a certeza de que ele não ficará chocado – murmurou Valentin, pegando-lhe no braço e conduzindo-a em direção às portas. – Para além de ser italiano, o Signor Clementi tem uma reputação pior do que a minha junto das senhoras. Sara levou uma mão à face. – O Signor Clementi? – Que fazia o professor de piano mais solicitado e reconhecido de Londres na sua sala de estar? Sara libertou-se de Valentin e estugou o passo. – É uma honra conhecê-lo, senhor. O Signor Clementi sorriu-lhe de forma encantadora e beijou-lhe a mão. – O seu marido assegura-me que a honra será minha. Sei que toca cravo. Sara olhou de modo incerto para Valentin, que se limitou a sorrir e a conduzi-la para a sala de música. Arquejou ao ver o novo piano-forte coberto com pétalas de rosas e iluminado por cinco candelabros. – Queria tê-lo aqui para quando chegasse – disse Valentin –, mas houve alguns problemas com a encomenda. O Signor Clementi fez um som muito pouco elegante. – Ah! Os imbecis da oficina não se deram conta para quem era o piano. Quando descobri que o pedido vinha do meu velho amigo Valentin Sokorvsky, encarreguei-me pessoalmente do projeto. Sara sentou-se ao piano e passou uma mão trémula pelas teclas. Tinha pedido aos pais que substituíssem o seu cravo por um piano, mas eles haviam considerado que era um gasto desnecessário para uma mulher destinada a contrair matrimónio. – Toque algo para mim, minha senhora. – Ela começou a ouvir a suave voz do Signor Clementi perto de seu ouvido. Valentin deu-lhe uma partitura e, às cegas, ela moveu as mãos sobre as teclas. Não tardou a esquecer-se de quem estava a ouvir, limitando-se a tocar. O seu corpo fluía ao ritmo da melodia ao mesmo tempo que os seus dedos deslizavam sobre o teclado. Quando a última nota se


extinguiu, ela levantou o olhar, decidida a não mostrar o florescer repentino de nervos, agora que a música tinha acabado. O Signor Clementi não sorriu. – Ensino muitas senhoras da sociedade, mas a Sara não será uma delas. Estremeceu enquanto cravava as unhas com força nas mãos fechadas. Pelo canto do olho apercebeu-se que Valentin se aproximava com urgência. – Signor Clementi... O músico fez uma vénia a Valentin. – Não diga nada, meu senhor! Não posso ensinar à sua esposa aquilo que ela já sabe. – Voltouse para Sara. – Ensiná-la-ei como a verdadeira intérprete que é. Fitou o Signor Clementi e exalou de alívio. – Obrigada. Não o desiludirei. – A um guinéu a lição, espero bem que não – murmurou Valentin enquanto abraçava Sara. Esta acariciou-lhe a face, os seus olhos marejados de lágrimas. – Obrigada. Deste-me uma oportunidade com a qual nunca tinha sonhado. Ele sorriu-lhe, o seu verdadeiro sorriso, não aquele que costumava usar para a calar e encolheu os ombros. – Não foi nada. É um prazer poder fazer-te feliz. Quando ele se comportava daquela maneira, todas as dúvidas que Sara tinha a respeito da urgência do casamento desapareciam. O presente era simultaneamente terno e atencioso. Como podia acreditar que ele não se preocupava com ela? Abraçou-o com força. Ele retrocedeu um passo, sem desmanchar o seu sorriso amável e colocou-lhe a mão sobre a manga do casaco. – Podias pedir que trouxessem chá. – Conduziu-a de volta à sala de visitas juntamente com o Signor Clementi. – Bem, o que dizias a respeito de dormir com todas as mulheres de Londres? Mais tarde, Sara sorria à sogra e aceitava a chávena de chá que lhe era oferecida. A sala de estar da Stratham House era grande e imponente e, para sua surpresa, a decoração refletia o interesse da época por tudo o que fosse oriental. O sofá estava estofado em seda verde e tinha patas de crocodilo e a pequena mesa de chá apresentava pormenores em bambu. Não era um estilo que apelasse aos gostos mais ecléticos de Sara, mas ficava bem na imensa extensão da casa. – Agradeço-lhe muito por me ter recebido, minha senhora. Lady Isabelle beberricava o seu chá. – Por favor, chame-me Isabelle; afinal somos da mesma família. Se pensarmos no modo como o meu marido e Valentin se comportaram no seu primeiro jantar, surpreende-me que aceitasse vir. Sara bebeu um gole do chá. – Eles são assim sempre tão... – Agressivos, birrentos e completamente desagradáveis? Sim, infelizmente, são. Nenhum deles parece capaz de permitir ao outro um único sinal de remorso. Não se esquecendo da promessa que fizera a Valentin, Sara escolheu as palavras cuidadosamente.


– Depois do passado conturbado que tiveram, era inevitável algum tipo de hostilidade. Isabelle suspirou e a tensão dos seus ombros pareceu desaparecer. – Pobre Valentin. Regressa de uma vida de escravidão para descobrir que a mãe morreu e que uma rapariga apenas cinco anos mais velha do que ele se transformou de repente na sua nova mãe. Não me surpreende que não goste muito de mim. Sara mexeu-se na cadeira com algum nervosismo. – Ele fala de si com muito respeito. – Bem sei e sempre foi muito educado comigo, mas eu esperava muito mais. – Isabelle pousou a chávena. – Desejava cuidar dele como uma mãe, mas ele não permitiu sequer que eu me aproximasse, quanto mais abraçá-lo e garantir-lhe que tudo ia ficar bem. Acho que fui tola em ter pensado que podia ser assim. O sorriso dela titubeou. – Depois, claro, o marquês tentou obrigar Valentin a frequentar a universidade e a comportarse como um cavalheiro inglês. Mas não era nada disso que Valentin desejava. Até eu percebi que era demasiado tarde para ele aceitar a orientação do homem que acreditava tê-lo abandonado e ele precisava de traçar o seu próprio caminho. – Isabelle franziu o sobrolho e olhou para os seus dedos entrelaçados. – Tentei reconciliá-los ao longo dos anos, mas nenhum dos dois está preparado para ceder nem um centímetro. Sara pensava na sua própria família. Como se sentiria se estivesse zangada com eles? Embora a sua mãe a fizesse perder as estribeiras, não conseguia imaginar não falar com ela ou viver num estado de permanente rancor. – Gostaria muito de ajudar. Isabelle apertou as mãos. – Como fico feliz de ouvir isso. O meu filho mais velho, Anthony, idolatra o Valentin. Seria muito bom se pudéssemos ser de novo uma família. Sara tentou esconder a sua perplexidade. Valentin tinha dito que o seu meio-irmão estava ressentido com ele e que cobiçava o seu título e a sua herança. – Que idade tem Anthony, minha senhora? Isabelle levantou-se para tocar a campainha. – Por favor, chame-me Isabelle. Tem quase dezanove anos. Está numa idade em que precisa da orientação de um homem mais velho. – Pediu ajuda ao Valentin? Isabelle voltou a sentar-se. – Tentei, mas ele insistiu que discutisse primeiro o assunto com o seu pai. E, claro, o marquês ficou ofendido com a minha sugestão de reconciliar os filhos. A porta abriu-se e entrou um homem alto, de cabelo escuro. O seu sorriso lembrava o de Valentin, quando estava distraído. Estacou diante de Isabelle e fez uma pequena vénia. Os seus olhos eram azul-escuros, como os da mãe. – Mãe, prometi que a visitava esta tarde para conhecer a sua convidada. – Virou-se para Sara com o olhar cheio de interesse. – Ouvi dizer que tinha casado com o meu irmão. Desejo-lhe as maiores felicidades. Sara não conseguiu conter um sorriso enquanto este lhe beijava a mão.


– Obrigada e, por favor, chame-me Sara. Anthony olhou para a porta. – Creio ter visto chegar a carruagem de Val que veio para a levar a casa. Ele deve estar quase a subir. O mordomo anunciou Valentin e Sara ergueu-se enquanto este fazia uma vénia a Isabelle e se dirigia para ela. O seu comprido casaco preto de montar rodopiava em seu redor como uma tempestade iminente. – Boa tarde, Lady Stratham. Sara, apreciaste a visita? Sara franziu o sobrolho. – Sim, foi muito agradável, mas esperava que pudesse ser um pouco mais longa. Valentin não lhe havia dito nada a respeito de ir buscá-la. Teria medo que ela divulgasse muitos dos seus segredos? Anthony dirigiu-se a passos largos para Valentin e apertou-lhe a mão com entusiasmo. Valentin soltou a mão o mais rápido que conseguiu e afastou-se, alisando a manga como se o seu meioirmão fosse um cachorrinho excitado. – Parabéns pelo casamento, Val. Lady Sara parece muito simpática. Valentin sorriu a Sara. – Sim, é mesmo. Sou um homem muito afortunado. – Voltou-se para Isabelle. – Com a sua licença, minha senhora, mas não nos podemos demorar. Trouxe uma parelha de cavalos muito jovens e eles não gostam de esperar. Antes que conseguisse sequer pestanejar, Sara deu por si já fora da mansão acompanhada por Valentin, que a ajudava a subir para a carruagem. Esperou que ele se juntasse a ela e não tardaram a partir. Valentin esticou as pernas e fitou-a do assento da frente. – Tínhamos mesmo de sair tão apressadamente? Ele encolheu os ombros. – Eu disse-te que odeio este lugar. Quando regressei a Inglaterra pela primeira vez, o meu pai insistiu para que fosse viver com ele e com a sua nova família, mas todo aquele ambiente era tão frio e estranho como um túmulo, e pouco ou nada mudou. Assim que pude, escapei e fui viver com Peter. – O seu olhar frio cruzou-se com o de Sara. – O meu pai recusou-se a ajudar Peter, que não tinha família, nem ninguém que cuidasse dele. Teria ficado satisfeito se o visse morrer de fome na rua. Sara observava-o em silêncio. Era evidente que o marquês tinha cometido alguns erros graves. Mas, por que razão Valentin não era capaz de avançar? – Divertiste-te? – O olhar dele passeava pelo peito dela e pela saia verde do seu vestido de musselina. – Durante os quinze minutos que durou a visita? Sim, diverti-me. A tua madrasta foi encantadora e o teu meio-irmão, Anthony, parece ser um jovem amável e que te idolatra. As sobrancelhas dele arquearam-se um pouco. – Porque és tão beligerante, minha doce esposa? – Porque sei que preferias que eu não gostasse da tua família. Valentin sorriu. – Eles têm os seus costumes. Ocorreu-me que não conheces muita gente na cidade e, se a minha


madrasta se oferecer para te apresentar algumas pessoas, podias considerar a sua oferta. Sara observou-o por momentos antes de aventurar uma resposta. – Ela sugeriu isso, sim. Permitirias? Valentin sorriu. – Não é um gesto completamente desinteressado, Sara, significa que posso voltar ao trabalho sem me preocupar com as tuas companhias. – E que tipo de companhias seriam essas? – Ela endireitou as costas e fitou-o. – No jantar parecias muito entretida com Lady Pettifer. Embora ela e o marido, Sir Richard, sejam bons cidadãos e de confiança, as amizades deles não trarão nada de bom à tua reputação. Sara esforçou-se por conter um sentimento crescente de indignação. – É por se dedicarem ao comércio? – Soltou uma pequena risada. – Começas a falar como o teu pai. A expressão indolente de Valentin desapareceu. – Tento proteger os teus interesses, minha querida esposa, e Lady Pettifer não é de boas famílias nem bem-educada. A carruagem parou e Sara inclinou-se para a frente. – Eu também não sou das melhores famílias. Talvez devesses tratar-me como uma adulta e permitir que escolha as minhas próprias amizades. Valentin agarrou-a pelo pulso e puxou-a para ele. – Lady Pettifer era uma prostituta antes de conseguir apanhar Sir Richard. Não quero que te relaciones com ela. Sara soltou a mão. – E como sabes tu isso? Valentin não desviou o olhar. – Queres mesmo que responda a essa pergunta? A porta da carruagem abriu-se e Sara aceitou a ajuda do criado para descer os degraus. Entrou em casa sem esperar para ver se Valentin a seguia. Por Deus, então ele tinha mesmo dormido com todas as mulheres de Londres! Subiu as escadas até ao quarto e bateu com a porta. Pelo menos, Lady Isabelle parecia imune aos encantos do seu marido. Parecia sentir por Valentin um carinho exacerbado como se fosse realmente sua mãe. Sara tirou o chapéu e a capa e passou a mão pelo cabelo. Planeava aceitar a oferta de Lady Isabelle de lhe apresentar as pessoas da alta sociedade. Fez uma careta ao espelho. Maldito Valentin e as suas ordens. Como se atrevia a condenar o próprio pai por ser demasiado altivo e depois agir da mesma maneira? Abriu a sua escrivaninha e tirou uma folha de pergaminho nova. Pretendia convidar Lady Pettifer para tomar chá o mais rapidamente possível.


8 nde diabo está ela? Sara suspirava com irritação enquanto deitava um olhar rápido pelo corredor apinhado da mansão de Portland Square. Tinha perdido Lady Isabelle e Anthony de vista no meio da multidão excessivamente perfumada e vestida de seda. Voltou-se e abriu caminho a custo pelas largas escadas. Talvez Isabelle tivesse ido à frente. A meio do caminho quase caiu de costas quando alguém pisou a cauda do seu vestido. Procurou em vão a marquesa no patamar do primeiro piso, embora fosse impossível vê-la no mar de rostos que conversavam e por entre as plumas que se balançavam e os leques que se agitavam. A renda dourada da bainha do seu vestido verde arrastava-se pelo chão e Sara decidiu ir até à sala de descanso para avaliar os danos antes de tentar encontrar a sua acompanhante no salão de baile principal. A casa Delamere era enorme. O salão de baile ocupava uma ala completa até à parte traseira da casa. Do teto em arco da entrada pendia um candelabro no qual ardiam pelo menos quinhentas velas. A sua luz intensa fazia brilhar as joias dos convidados, criando uma tempestade de fogo ofuscante de um enorme esplendor. Sara não compreendia porque tinham todos a mania de chegar tarde e de se reunirem nas escadas. Depois de um último olhar para a reluzente multidão, dirigiuse à casa de descanso. Para seu alívio, estava relativamente vazia. Uma das criadas ali colocada ofereceu-se para coser a bainha do vestido de Sara e esta agradeceu e retirou-se para um canto tranquilo enquanto a criada costurava com habilidade a estreita tira de renda dourada. Sara abriu o leque e agitou-o com suavidade frente ao rosto. Era agradável estar longe da multidão. Em massa, a alta sociedade não se comportava de forma muito diferente de uma horda de aldeãos num dia de mercado em Southampton. Não desejava regressar ali tão cedo, embora se dissesse que aquele era o baile mais prestigiado da temporada. Enquanto esperava que a criada terminasse a sua tarefa, Sara encostou a cabeça contra a parede, esperando reunir forças para voltar ao salão de baile. As noites eróticas com Valentin faziam com que se sentisse cansada durante o dia. Sorriu para si mesma, imaginando o corpo ágil e musculado que se movia sobre ela, a sensação sedosa do cabelo dele por entre os seus dedos. Não trocaria aquelas horas por nada, mas seria agradável vê-lo também durante o dia. Depois de a criada ter desaparecido, deu-se conta de que a fita verde do seu sapato estava de novo desatada. Meio escondida atrás de um biombo de seda chinês, Sara inclinou-se para refazer o laço, satisfeita por escutar os deliciosos mexericos das senhoras em seu redor. Lady Isabelle era um encanto, mas Sara tinha alguma dificuldade em fazer amizade com as senhoras da alta sociedade. A maioria delas olhava-a com suspeição, e até mesmo com total hostilidade, ao descobrir que a simples filha de um comerciante tinha contraído matrimónio com um dos solteiros mais cobiçados da aristocracia. Apesar das objeções de Valentin, tinha feito várias propostas de amizade a Lady Pettifer, que tinham sido calorosamente correspondidas. O seu único outro amigo era Peter Howard e, para sua alegria, ele tinha demonstrado ser uma companhia de confiança depois de Valentin ter delegado cada vez mais as suas obrigações

–O


sociais no amigo. Sara franziu a testa enquanto atava a fita do sapato pela terceira vez. Tinha acreditado que tudo seria diferente longe da sua província natal. Imaginou-se com mais liberdade em Londres. Claro que, quando Valentin lhe perguntava sobre as suas façanhas sociais, ela mentia e insistia que estava tudo bem. Porém, sentia que ele não acreditava em tudo. Até à data, ele tinha estado muito ocupado com os seus negócios para a inquirir mais. O único lugar em que se sentia segura para ser ela mesma era nos braços dele e na sua cama. Valentin tinha-lhe dado a liberdade de expressar-se de maneira completamente sensual. Oxalá a alta sociedade fosse assim tão tolerante. Sara fechou os olhos enquanto se escutava uma risada animada. – Tem visto Anthony Sokorvsky, Amy? Tornou-se um jovem bastante elegante. – Continuo a preferir o irmão mais velho – suspirou Amy. – Não posso acreditar que aquela mulher insignificante tenha conseguido agarrar o grande Valentin Sokorvsky. Ele deve ter comprado o pai dela ou talvez ela tenha fingido estar grávida. As duas jovens desataram a rir. Sara sentou-se, sentindo um nó no estômago. Deveria confrontá-las ou deixar que continuassem com o mexerico? Quando decidiu dar um passo em frente, uma voz mais madura juntou-se à conversa. – Miss Antrim, posso dar-lhe um conselho? Tenho a certeza de que a sua mãe se envergonharia de ouvir os comentários maliciosos que acaba de pronunciar. E deixe-me dizer-lhe, não há nada que faça uma jovem bonita ficar tão pouco atraente do que espalhar rumores e boatos. Os homens não se interessam por isso e as mulheres procuram confidentes nas quais possam confiar. – Peço desculpa, Lady Ingham – murmurou Amy. – Não me apercebi de que havia mais alguém aqui. O som de um quarteto que começava a tocar entrou pela porta que se abriu de maneira repentina. Sara permaneceu sentada até que as jovens que sussurravam saíram. – Lady Sokorvsky? Está aí? Sou Lady Ingham. Sara levantou-se e abandonou o seu esconderijo. A mulher que a esperava exibia roupas caras e o seu cabelo castanho estava apanhado no alto da cabeça numa cascata de caracóis. Sara pensou que deviam ser da mesma idade até que reparou na maquilhagem discreta e nas finas rugas em redor dos olhos da sua companheira. Uma parte dos seus generosos seios aparecia na parte superior do vestido de cor âmbar. – É Lady Sokorvsky, não é verdade? Sara fez uma pequena vénia. – Sou, sim, e a senhora deve ser a minha salvadora. – A curiosidade superava a vergonha. – Como soube quem eu era? Lady Ingham fez uma careta. – Pisei o seu vestido nas escadas e ouvi-o rasgar. Reconheci-a pela descrição de Val e entrei aqui para me desculpar e para a ajudar a consertá-lo. – É muito amável. – Por alguma razão, a menção casual do nome de Valentin fez com que Sara ficasse desconfiada. Apontou para a saia. – Uma das criadas coseu a renda. Só me sentei para atar a fita do sapato. – E escutar as coisas menos simpáticas que diziam sobre si. A simpatia aparente no rosto de Lady Ingham quase minava a calma de Sara. Encolheu os


ombros. – Não é nada que não tenha escutado antes. Até eu compreendo que devo parecer uma opção muito estranha para esposa de um lorde. Lady Ingham observava Sara. – Se me desculpar a confiança, o seu marido nunca pareceu importar-se muito com a opinião da sociedade. Sara pegou no leque e na bolsa e observou o seu reflexo ao espelho. Por alguma razão, não tinha o mínimo desejo de falar de Valentin com uma mulher como Lady Ingham. Para além disso, a aparente familiaridade da mulher com o seu marido começava a irritá-la e, ao lado de um exemplo tão atraente de feminilidade, sentia-se como uma menina sem experiência. – Talvez essa seja uma virtude que deverei aprender a imitar. Obrigada pela sua ajuda, Lady Ingham. – Sara sorriu à sua companheira. – Não me esquecerei. Lady Ingham desenhou uma vénia, os seus olhos cor de avelã revelando uma perversa compreensão. – De nada. Se eu vir a marquesa, dir-lhe-ei que não tardará a sair. Valentin saiu a passos largos do salão de baile. Tinha visto a sua madrasta e Anthony, mas não havia sinal de Sara. A sua intenção era surpreendê-la com a sua presença. Durante os últimos dias tinha concentrado toda a sua atenção no incêndio de um dos seus navios e, naquela noite, havia deixado Peter responsável pelo escritório, reservando assim algum tempo para Sara. Porém, não conseguia encontrá-la. Uma mão enluvada apertou-lhe o braço. Valentin virou-se e reparou que Caroline Ingham lhe sorria. Fez uma vénia e beijou-lhe a ponta dos dedos, notando o movimento dos seus seios e o tom dourado da sua pele. Conhecendo Caroline, o mais provável era ela ter estado novamente a apanhar sol nua. – Valentin, há séculos que não te via. Onde tens andado? – Creio que sabes, Caroline. Os rumores em Londres propagam-se mais depressa do que a peste. Ela fez beicinho, prendendo o carnudo lábio inferior por entre os dentes. – Estás a falar do teu recente casamento? Como é o velho provérbio? «Antes que cases, olha o que fazes?» Impacientemente, Valentin olhou por cima do ombro de Caroline numa tentativa vã de encontrar Sara. Ainda não havia sinal dela. – Se procuras a tua esposa, ela está na sala de descanso – informou Caroline. – Queres que vá chamá-la? O olhar de Valentin voltou-se de repente para Caroline. – Falaste com ela? Caroline sorriu e apoiou a mão no braço dele. – Tive o prazer de a ajudar. Algumas das jovens estavam a ser maliciosas quanto às suas origens. Entrei e recordei-as das boas maneiras. Valentin obrigou-se a relaxar. – Foi muito amável da tua parte.


A forte risada de Caroline encheu o espaço que havia entre eles. – Ora, então, Val! Achas mesmo que eu era capaz de me aproximar dela e dizer-lhe que sou tua amante? Reconhece em mim um pouco de sensatez. A pobre rapariga já tem problemas suficientes neste momento sem que lhe digam essa verdade na cara. – Tocou-lhe na face com o leque. – Que vergonha, deixá-la a cuidar de si mesma! Como pareces não querer saber dela, uma boa parte da alta sociedade tem-na tratado de forma abominável. Valentin não lhe devolveu o sorriso. – Caroline... – Não sabia se ela iria reagir bem a ser deixada publicamente num baile. – Temos de falar. Ela lançou-lhe um olhar recatado por baixo das longas pestanas pintadas. – Estarei na Casa do Prazer da Madame Helene esta noite, se por acaso decidires passar por lá. Estou com vontade de experimentar as massagens dos escravos do quarto egípcio. – Lambeu os lábios. – Posso pedir para ser coberta com mel e ter os homens a lamberem-mo do corpo. Gostarias de ver ou de ajudar? Valentin avistou Sara e apressou-se a beijar a mão de Caroline. – Acho que não seria capaz de suportar tanta doçura. É capaz de se tornar enjoativo depois de um tempo. Mas em breve entrarei em contacto contigo. – Despediu-se com uma vénia. – Obrigada pela ajuda que deste a Sara e podes estar certa de que, daqui em diante, tudo farei para que ela não volte a sentir a minha ausência. Esperava que Caroline entendesse o que queria dizer. Não apreciava muito a ideia de que a sua amante e a sua esposa se conhecessem. Caroline era uma viúva rica que dormira com ele de vez em quando, durante vários anos. Era uma amante experiente que gostava de experimentar coisas novas. Valentin tinha-a levado à casa da Madame Helene e Caroline nunca se havia arrependido. A sua imaginação sexual estava quase à altura da dele. Tentara até convencer-se de que ela daria uma excelente esposa, mas era tão incapaz de ser fiel como um gato vadio. Estava disposto a ignorar esse tipo de comportamento numa amante, mas não numa esposa. Esboçou uma pequena careta. Se Peter estivesse ali, era provável que o acusasse de hipocrisia por causa da sua dupla moral. E teria razão. Valentin voltou a sua atenção para a procura de Sara e encontrou-a na entrada do salão de baile com as mãos juntas à altura da cintura. Observou-a enquanto endireitava os ombros e tentava passar por entre o amontoado de pessoas. Ninguém se detinha para a cumprimentar ou reconhecia sequer a sua presença. Com o seu vestido dourado e verde, parecia uma esbelta e desconfiada deusa da primavera. Valentin conteve um impulso inaudito de a envolver nos seus braços e de a proteger dos olhares e do desprezo da mais alta sociedade. Caroline tinha razão. E era culpa dele. Tinha reputação de ser um libertino, uma fama que ganhara de maneira deliberada e da qual não se envergonhava. Contudo, não lhe havia ocorrido que as suas transgressões pudessem vir a refletir-se na sua esposa, que não tinha família nem amigos que a rodeassem e a defendessem. Tinha descuidado o seu dever ao pedir a Peter e à madrasta que acompanhassem Sara às festas da sociedade enquanto ele só se relacionava com ela na intimidade da sua cama. Por nunca os verem juntos em público, era provável que a aristocracia imaginasse que na realidade ele não


tomava conta dela. Ocorria-lhe que, apesar de ter negado a oferta de seu pai de lhe providenciar um lar e educação, nunca tinha estado verdadeiramente sozinho. O seu sobrenome e o seu título eram suficientemente conhecidos para lhe permitir fazer o que bem lhe apetecesse com a sua vida. Deveria ter-se mostrado mais agradecido por essa proteção. As tentativas de Sara para o proteger das realidades da sua situação faziam-no sentir um canalha. Valentin afastou as preocupações sobre os seus negócios e estugou o passo atrás dela. Agarrou-a pelo cotovelo quando se aproximava da zona de baile. – Minha senhora, dá-me o prazer desta dança? A expressão dela iluminou-se ao vê-lo. – Valentin. Não sabia que estavas aqui. Ele fez uma vénia. – Queria que fosse uma surpresa. – A orquestra tocava os primeiros acordes de uma valsa e ele tomou-a nos braços. – Ultimamente tenho-te negligenciado. A deliciosa pele de Sara enrubesceu. – Peter disse que tinha havido problemas a bordo de um dos teus navios e que outro se havia incendiado. Já descobriste quem anda a tentar prejudicar os teus negócios? Rodopiaram até ao fim do salão de baile. Ainda dava desculpas por ele? Às vezes, Sara era demasiado boa para o seu próprio bem. E o que levaria Peter a mexericar sobre os problemas que enfrentavam? – Não é nada com que tenhas de te preocupar, minha querida. Tenho a certeza de que não tardaremos a apresentar os culpados à justiça. Sara não desviou o olhar, os seus olhos azuis atentos. – Não sou estúpida, Valentin. Estes últimos incidentes indicam uma intenção deliberada e metódica de arruinar os teus negócios. Ele suspirou. Talvez tivesse chegado a hora de compartilhar os seus medos com ela. Podia ser interessante ter uma nova perspetiva sobre toda a situação. E, afinal, ela era sua esposa e podia confiar nela. – Tens razão, meu amor. Talvez queiras assistir à próxima reunião em que discutiremos o que pensamos fazer. Sara tropeçou. Valentim ajudou-a a recuperar o equilíbrio e continuaram a dançar. – Não é preciso seres irónico, Valentin – resmungou ela. – Estava só a tentar ajudar. Ele aproximou-a mais e pressionou a coxa contra a dela, roçando-lhe o espartilho com o seu colete de forma intencional. – Eu falei a sério. Sara fitou-o, o seu rosto mostrando surpresa. – Adoraria. – Então serás muito bem-vinda. A reunião é amanhã no meu escritório. – Arqueou uma sobrancelha. – E, agora, posso apreciar o resto do baile contigo? Quando a valsa terminou, Valentin permaneceu ao lado de Sara. Conduziu-a para junto de Lady Isabelle e até se comportou de maneira agradável. Sara observava os seus belos traços


fisionómicos enquanto ele falava amavelmente com a madrasta e com Anthony. Porque estaria a ser tão simpático? Por que razão não tinha ainda desaparecido para a sala de jogos ou arranjado uma desculpa para sair mais cedo, como fazia habitualmente? – Querida, queres dar um passeio comigo? – convidou ele. – Gostaria de te apresentar algumas pessoas. Sara apoiou a mão sobre o braço dele e caminhou ao seu lado. Para sua surpresa, Valentin apresentou-a a vários casais mais velhos, incluindo os anfitriões, não à multidão de homens jovens como ela antecipara. Com Valentin a seu lado, os outros pareciam estar mais dispostos a cumprimentá-la e Sara descobriu que até gostava da atenção. No final, acompanhou-a até à mesa das bebidas e ofereceu-lhe uma taça de champanhe. – Valentin, porque estás aqui? Ele observou-a por cima da taça de champanhe, os seus olhos violeta a faiscarem. – Para desfrutar da companhia da minha esposa. Que outra razão poderia ter? – Baixou o olhar até ao peito dela. – A propósito, agrada-me esse vestido. Lembra-me de te possuir num campo de erva alta. Os mamilos de Sara endureceram. Pela primeira vez naquela noite esboçava um sorriso sincero. – Não acredito que tenha sido eu. – Mas serás. – Ignorando os convidados que conversavam a seu redor, ele inclinou-se para a frente e beijou-a rapidamente nos lábios. – Adoraria ter-te agora mesmo e fazer amor contigo até que gritasses de êxtase. – Piscou-lhe o olho. Sara observava a boca dele. – Há muita gente aqui. Ele tirou-lhe a taça de champanhe das mãos. – Tens razão. Pegou-lhe pela mão e levou-a até um dos estreitos corredores que conduziam ao interior da casa. Enquanto penetravam na área reservada aos criados, vozes ressoavam nas escadas de serviço. Valentin encostou um dedo aos lábios de Sara e levou-a até um pequeno quarto cheio de livros. Cheirava a pão queimado e a cão. Imaginou que o quarto pertenceria ao secretário da casa ou ao administrador de imóveis. Na escuridão, Valentin roçou a boca contra a dela; o sabor a charutos e a champanhe no seu hálito fê-la estremecer. – Tive saudades tuas, Sara. Ela sorriu contra a boca dele. – Não fui a lado nenhum. – Oh, sim, foste. Estiveste perdida e à deriva numa casa cheia de velhas senhoras pretensiosas e insuportáveis. – Beijou-a, a sua língua ágil deslizando por entre os seus lábios. – Ignorei-te e mesmo assim nunca me dirigiste uma única palavra de recriminação. – Sou tua esposa, Valentin. – A mordacidade dos comentários de Lady Ingham fê-la continuar. – Não é isso que se espera que eu faça? Que sofra em silêncio enquanto tu te divertes? Ele continuou a beijá-la, descendo pelo pescoço até ao ombro. – Nunca te pedi que sofresses em silêncio. Na verdade, suspeito que não conseguirias. – O


divertimento na sua voz e a investida dos seus dentes fê-la estremecer. – És sempre muito... verbal nas tuas exigências. Ela deu-lhe um empurrão e ele agarrou-lhe as mãos. – Porque levas sempre o assunto para o sexo? Valentin rodeou-lhe o pulso com os dedos e levou-lhe a mão até à parte da frente das suas calças. – Porque sou homem e estamos sozinhos. Porque me excitas e vou fazer com que fiques molhada. – Ajoelhou-se e levantou a barra do vestido com as duas mãos. – Segura aqui. Aturdida, Sara pegou no pesado tecido e segurou-o com cuidado. A ponta dura da língua de Valentin roçava a abertura do seu sexo e, depois de apenas algumas breves carícias, o seu botão inchou para se unir à língua inquisitiva. Soltou um gemido quando Valentin apoiou nele os dentes e o puxou com suavidade. Sara abriu as pernas, as mãos descobertas de Valentin encostadas à sua pele, depois de atiradas as luvas para o chão. Ainda a segurá-la com a boca, deslizou um dedo para o seu interior, movimentando-o para dentro e para fora. Presa a segurar as saias, Sara nada mais podia fazer que não fosse suportar aquela deliciosa tortura. Quando por fim soltou o seu clítoris e adicionou outro dedo no interior da sua vagina, olhou para ela. – Agora estás húmida e dilatada. Receberás o meu pénis sem dificuldade. Os teus mamilos estão duros? Sara acenou afirmativamente com a cabeça, demasiado absorta no prazer que ele lhe provocava para o desperdiçar em palavras. – Ótimo. Podes largar a saia. Antes que Sara pudesse protestar, ele pôs-se de pé, lambeu os dedos e voltou a calçar as luvas. Encostou-se a ela, esmagando os seios doridos contra o seu peito. – Agora irás dançar comigo. E serei o único homem que saberá o quão húmida e preparada estás para o sexo. – Beijou-a com força, a sua boca violenta e provocadora. – E, se te portares bem, poderemos brincar um pouco mais na carruagem a caminho de casa. Agrada-te a ideia? Sara olhou-o fixamente. Um início de excitação despertava no seu ventre. – Também posso brincar contigo? – Acariciou o vulto na parte da frente das calças. – Talvez possa ajoelhar-me aos teus pés e colocar o teu pénis dentro da minha boca. Agrada-te a ideia? As pupilas dele aumentaram, ficando quase negras. – Creio que sim. A carruagem pareceu levar uma eternidade a chegar à escadaria da gigantesca mansão. Por fim, um criado fechou a porta e deixou-os sozinhos no interior escuro. Sara compôs as saias enquanto se punham em movimento com um solavanco súbito. Valentin sentou-se a seu lado, as suas longas pernas estendidas. A escassa luz refletia-se no brilho do cetim das calças e enfatizava as sombras avultadas na sua virilha. O corpo de Sara respondia à proximidade de Valentin e sofria com desejo. Tirou as luvas e desenhou um caminho pelo cetim brilhante desde o joelho de Valentin até ao seu pénis e de volta. Ele exalava com lentidão e aumentou a abertura das suas pernas como se


pedisse mais. – Deixa-me desapertar-te os laços. Ninguém verá debaixo da tua capa. Sara colocou-se de pé, apoiada entre os joelhos de Valentin, e deixou que este lhe soltasse o espartilho. Girou nos seus braços e afundou-se até ao chão num amontoado de combinações. Ao menos com ele sabia quem era e o que queria exatamente. Colocou as mãos sobre os joelhos de Valentin e abriu-lhe bem as pernas. Isso fez com que a parte da frente das calças se esticasse sobre a sua ereção. O cetim era frio contra a língua dela enquanto lhe lambia o pénis, definindo a forma e o tamanho da sua paixão. Os dedos dele entrelaçaram-se no cabelo da esposa enquanto esta desabotoava cada um dos botões. Sorriu com prazer quando o pénis ficou todo descoberto e ficou contente por ele não trazer roupa interior. Sara olhou para Valentin que a observava com o rosto tenso e expectante. Agradava-lhe poder fazer com que a olhasse daquela maneira. Fazia-a sentir-se poderosa e desejada. – Se queres chupar o meu pénis, não te acanhes. Ela agarrou-o pela base e colocou a outra mão por baixo dos testículos, acomodando-os na sua mão. Valentin suspirou quando a língua dela lambeu a ponta húmida e investigou a estreita abertura e a cabeça inchada antes de descer pelo grosso membro. Sabia a vida e à promessa de êxtase. Sara aspirou aquele perfume único e beijou-o de uma ponta à outra. Quando o introduziu na boca, ele gemeu e os seus dedos apertaram-lhe dolorosamente o cabelo. Meteu tanto quanto pôde sem se engasgar e envolveu os dedos em redor do resto. Não tardou a alcançar um ritmo enérgico que fez com que ele se empurrasse para dentro da sua boca, bem fundo até à garganta. Os seus testículos ficaram tensos na mão de Sara e ele ficou imóvel. – Espera. Ela soltou-lhe o pénis e levantou a cabeça. O sorriso de Valentin estava marcado pela luxúria. Ela aproximou-se mais enquanto as mãos dele lhe arrancavam o espartilho do corpo e ele deslizava o membro inchado por entre os seus seios nus. – Quero vir-me aqui. As mãos dele fecharam-se sobre os seios dela e apertou-os para que rodeassem a sua ereção. Sara limitava-se a observá-lo enquanto deslizava contra ela, os polegares pressionando-lhe os mamilos e fazendo com que lhe doessem de necessidade. Ele veio-se com um gemido. A sua semente húmida e quente gotejou por entre os seus seios e desceu pelo seu ventre até à vagina excitada. Valentin colocou as mãos à volta da cintura de Sara e sentou-a no seu colo com uma perna para cada lado. Sara estremeceu quando ele lhe afastou o corpete, lhe agarrou o mamilo por entre os dentes e o chupou com força. Ela esfregava o sexo contra o seu ventre liso e contra a parte inferior do pénis. Procurava alívio, procurava satisfação. Apesar do seu movimento, ele negou-se a penetrá-la. Ela quase gritou quando a carruagem parou. Valentin compôs-lhe a capa de modo a cobrir-lhe a nudez e sentou-a no banco em frente. Sorriu quando ela levou uma mão trémula ao cabelo. – Dou-te dois minutos de vantagem para subires as escadas e entrares no teu quarto. Sara olhou-o fixamente e fingiu bocejar. – É muito amável da tua parte, mas estou extremamente cansada.


Valentin arqueou um dos cantos da boca. – Não irás dormir. Vou encontrar-te e, quando o fizer, vou possuir-te. A porta da carruagem abriu-se e Valentin desceu de um salto para ajudar Sara a sair, sussurrando ao seu ouvido: – Dois minutos, a começar a partir de agora. Quase se esquecia de cumprimentar o mordomo ao passar por ele, tão concentrada estava nas escadas. Quando chegou ao primeiro patamar, voltou-se e viu que Valentin já estava no vestíbulo. Ele olhou para cima e pronunciou «um» movendo apenas os lábios. Sara apressou o passo ao percorrer o corredor deserto em direção ao quarto. Abriu a porta e deixou que a capa caísse pelos ombros. Só o brilho da luz acumulada iluminava os quartos e, por alguma razão, não havia velas que acrescentassem luz. Sara estacou para se orientar e escutou passos no corredor atrás dela. Desejava mesmo esconder-se de Valentin? O seu corpo ansiava pela satisfação que apenas ele podia dar-lhe, mas à sua mente agradava a ideia de uma perseguição. Quando a porta se abriu, ela apressou-se a rodear a imensa cama e a dirigir-se para a zona de vestir que ligava os dois quartos. Ali também não havia luz. Valentin devia ter planeado aquilo. Sara tentava acalmar a respiração e decidir onde se esconder. O armário que estava entre os dois quartos parecia ser a melhor opção porque era comprido e estreito e estava cheio de roupa. Avançou para a porta e sentiu um puxão na saia. Libertou-se do vestido solto o mais rapidamente que conseguiu e continuou. Valentin ria. Sara entrou no armário e deixou-se escorregar até ao chão. Despiu a combinação e colocou-a atrás de umas botas de inverno. Conseguiria ele ver o seu espartilho branco na escuridão? Sara estava relutante em tirá-lo e ficar nua. Deteve-se ao sentir o característico perfume de Valentin a citrinos e a fumo de charuto. Quase gritou quando ele a agarrou pelo tornozelo e a virou de costas. Lambeu-lhe o pé e começou a beijá-la, subindo pelo joelho coberto pela meia. Sara tentou afastar-se desesperadamente, mas Valentin agarrava-a com força. Puxou-a para junto de si, a boca a roçar-lhe a parte interna da coxa enquanto a língua vibrava no seu sexo. Pontapeou com a outra perna e encontrou músculos sólidos. As mãos dele desapareceram e Sara conteve um gemido ao sentir que também ele desaparecera. Gatinhou ao longo da outra parede que dava para o quarto de Valentin. Tiras de luar iluminavam o tapete vermelho ao lado da sua cama. Não havia sinal dele. Atrás dela estendia-se a escuridão e a perspetiva da luxúria de Valentin. Doíam-lhe os seios; o seu sexo vibrava ao compasso do batimento do seu coração e da sua respiração acelerada. Desejava que Valentin a apanhasse e afundasse o pénis dentro dela. Sara dirigiu-se novamente para a zona escura do quarto. Passou com cuidado junto à cómoda e chocou contra uma parede masculina, quente e excitada. Com um gemido de triunfo, Valentin agarrou-a pelos pulsos e deitou-a de costas. Apertou-lhe os mamilos com os dentes e ela arqueou as costas enquanto ele os chupava com força. Colocou a coxa entre as pernas dela e esfregou-lhe o sexo dilatado, levando-a à loucura. O gotejar quente de seu sémen adornou-lhe o ventre. O corpo dela preparava-se para atingir o clímax, mas Valentin refugiou-se de novo nas sombras, deixando-a terrivelmente excitada e a começar a enfurecer-se. Olhou para a porta que


dava para o corredor principal. Ele merecia que ela desaparecesse e fosse descansar num dos quartos de hóspedes. O seu coração batia com tanta força que se questionava se ele não conseguiria ouvi-lo. Quando chegou à porta, rodou o manípulo e percebeu que estava fechada à chave. Com uma frustração cada vez maior, perscrutou a escuridão. Onde poderia ele estar escondido? Sentiu o toque de dedos no tornozelo e desapareceu. Correu para a cama com dossel e escondeu-se por entre as grossas cortinas. A sua intenção era gatinhar pela cama e dirigir-se para o banco junto à janela, do outro lado. Sara gritou quando Valentin a agarrou pela cintura e impediu que se mexesse. Arrancou-lhe o espartilho, manipulando-a contra um dos grossos postes no canto da cama. Antes que conseguisse protestar, ele pressionou-lhe os seios e o ventre contra a madeira, prendendo-a frente a ele. A respiração dela era agora entrecortada e o seu corpo ardia com vontade de se satisfazer. – Coloca os braços em redor do poste. – Aquela suave ordem foi sussurrada junto ao seu ouvido. – Não te mexas nem te vires. Sara rodeou a grossa coluna com os braços e apoiou a face contra a superfície fria da madeira. Sentiu que o colchão cedia enquanto Valentin se afastava e depois regressava, agarrando os seus pulsos e atando-os com algo sedoso que ela reconheceu como uma das suas meias. Ele elevoulhe os pulsos por cima da cabeça e amarrou-os contra a coluna. Sara teve de se levantar para conseguir ficar mais cómoda. A coluna descansava por entre os seus seios, pressionando contra a sua virilha e estimulandolhe a vagina já excitada. Ela tinha-o desejado toda a noite e desejava-o naquele momento. Valentin despiu o resto da roupa e o calor escorregadio do seu pénis tocou-lhe nas costas. Sara fechou os olhos enquanto Valentin brincava suavemente com os seus mamilos. – Chupaste bem o meu pénis na carruagem. Agrada-te sentir-me na tua boca? – Sim. Ele apertou-lhe os mamilos por entre os dedos e puxou-os. – Porquê? – Porque gosto do teu sabor e da forma como preenches a minha boca. Valentin apertou com mais força, levando o seu corpo excitado a um ponto entre o prazer e a dor. Sara estremecia enquanto as unhas dele pressionavam mais profundamente. – Se não fosse um homem civilizado, mantinha-te nua para que me chupasses sempre que eu quisesse. – Sara engoliu com força. – Gosto de te imaginar a meus pés no meu escritório. Estalava os dedos e tu satisfazias-me de imediato, mesmo que houvesse outras pessoas por perto. – Gemeu do fundo da garganta, enviando ondas de desejo através da sua pele. – Os meus empregados andariam constantemente excitados. – Então, ainda bem que o mundo é civilizado. Valentin mordiscou-lhe a nuca com força ao ponto de a fazer estremecer. – Acredita, o mundo não é civilizado. Vi coisas que tu nunca... Calou-se, a sua respiração forte sobre a pele dela. O seu tom grave deixou-a preocupada. Soltou-lhe os seios e lambeu-lhe o pescoço com a ponta da língua. Um dos seus hábeis dedos traçou a curva da sua coluna e deteve-se nas nádegas. Ela não conseguiu evitar arquear-se, convidando-o a pesquisar mais profundamente. Sentiu o aroma da sua excitação.


A risada em voz baixa de Valentin fez-lhe arrepiar os cabelos da nuca. – O que desejas, Sara? Na escuridão, ela sentia-se mais ousada. Uma mulher que podia pedir qualquer coisa ao seu amante, sem se importar quão vergonhosos fossem os seus desejos. Arqueou as costas e deixou que as suas nádegas se encostassem ao ventre duro e peludo de Valentin. – Desejo que me toques. O dedo parou a poucos centímetros do seu ânus. – Onde? – Acariciou-lhe o botão apertado. – Aqui? – O polegar dele atravessava-a. – Ia adorar penetrar-te aqui. Sara ficou imóvel face àquela invasão desconhecida. – Não sabia que podias. – Ela tentava relaxar enquanto ele deslizava o dedo até chegar ao nó. – Levaria algum tempo até que te habituasses a mim, mas valeria a pena. – Deslizou os outros dedos para frente e afundou-os no néctar espesso que escorria da sua vagina. – O que desejas? – Os teus dedos dentro de mim. – Ela arquejou enquanto ele agia. – Ah, sim, sim. É isso mesmo! Valentin mantinha-a cativa, em equilíbrio, entre os dedos e o polegar sobre a palma da mão estendida. Ela estremeceu quando ele levou a outra mão para baixo para lhe acariciar o clítoris. – Onde preferirias estar, Sara? – A pergunta feita em voz baixa surpreendeu-a enquanto lutava contra o desejo de se satisfazer. Ele aumentou a pressão no seu clítoris. – Preferias estar a dançar comigo ou deixar que eu brinque com a tua vagina? – Prefiro que brinques comigo. – Desesperada, esfregava-se contra os seus dedos. Ele deixou de mover-se e beijou-lhe o pescoço. – Deixa-me desatar-te as mãos. Se prometeres que ficarás quieta, trago-te um presente. Apesar da falta de satisfação, Sara esperou obedientemente na escuridão enquanto ele saía. Quando regressou, acendeu um candelabro e colocou-o ao lado da cama, iluminando-os a ambos com um brilho dourado. Valentin aproximou-se dela com uma caixa nas mãos. Inclinou-a para a luz para que ela pudesse ver as ilustrações da tampa: uma mulher nua recostada num divã, com um sorriso complacente no rosto. A princípio, Sara só viu os anéis de ouro que perfuravam os seus mamilos e o seu umbigo. Depois desceu o olhar para a mão da mulher, que descansava entre as suas pernas abertas. Sara tentava decifrar o que estava a mulher a fazer que pudesse provocar aquele sorriso. – É doloroso colocar estes anéis? – Imaginava como se sentiria quando a boca de um homem puxasse aquela parte tão sensível. Valentin sorriu, mostrando os seus dentes brancos na penumbra. – Um pouco e, sim, os homens gostam, se essa era a tua próxima pergunta. – Pôs a caixa de lado. – O que achas que ela tem entre as pernas? Sara olhou fixamente para a ilustração e depois para Valentin. – Não sei bem. – Está a masturbar-se. – Com o quê? – Com um pénis falso.


– Porquê? Valentin retirou a tampa da caixa para revelar o interior sedoso. – Porque o seu amante está ocupado ou porque não tem nenhum. Há muitas razões pelas quais uma mulher poderia querer utilizar um dildo ou, como os italianos lhe chamam, de maneira mais romântica, um diletto. Sara observava, com a boca seca, enquanto ele desembrulhava o conteúdo da caixa. – Estende a mão. Depositou-lhe um pesado objeto de jade na palma da mão. Sara acariciou aquela escultura com a ponta do dedo ao mesmo tempo que o batimento do seu coração se acalmava e fazia eco entre as suas pernas. Era uma interpretação perfeita de um pénis ereto. Sara estimava que o comprimento excedia os vinte e dois centímetros. – É para mim? Valentin sentou-se atrás dela na cama e olhou por cima do seu ombro. – Sim. Tenho de ir a Southampton por uma semana e pensei que poderias sentir a minha falta. – Colocou a caixa sobre a colcha e mostrou-lhe um estreito arnês de couro. – Algumas mulheres gostam de usar o dildo enquanto passeiam. Esta engenhoca mantém-no preso dentro de ti. Sara lambeu os lábios. – Gostarias de pensar em mim a fazer isso quando estiveres longe? Valentin virou-lhe o rosto para lhe dar um beijo. A sua boca era forte e possessiva. – Não, ia incomodar-me não te ver muito, mas sem dúvida que me daria algo em que pensar quando estiver a tocar-me sozinho. Sara fechou os dedos em redor do jade que tinha entretanto aquecido nas suas mãos. – Ensinas-me a utilizá-lo? Como resposta, ele ajoelhou-se atrás dela e levantou-a sobre os seus joelhos, as costas contra o peito dele e as pernas abertas uma para cada lado. Sara conseguia ver o seu reflexo no espelho que estava por cima da cómoda. Parecia tranquila e sensual, com o sexo aberto para ele ver. Valentin fechou uma das mãos sobre o seio dela e deslizou a outra até ao clítoris. – Vamos primeiro assegurar-nos de que estás preparada. Sara conteve uma gargalhada. – Acredito que estou preparada desde que te vi no baile esta noite. Valentin apertou-lhe o clítoris. – Acho que estás preparada desde o primeiro dia em que te conheci. – Penetrou-a com quatro dedos. – Imaginei possuir-te assim. Estive excitado cada noite que passei em casa do teu pai, e preparado para te possuir. – Ela estava muito húmida e escorregadia e os dedos de Valentin entraram com facilidade. – Dá-me o dildo e observa com atenção. Pegou na mão dela, entrelaçou-lhe os dedos nos seus e encostou-lhe o jade macio à vagina. Primeiro, roçou-o com suavidade no clítoris e assegurou-se de que o grosso membro se cobria com o seu néctar. – Abre mais as pernas, quero que o vejas. Enquanto a ajudava a introduzir a sólida e protuberante cabeça, apertava-lhe o mamilo com força e mordia-lhe o pescoço, provocando-a para que se contorcesse contra ele. – Vês? Entra com facilidade. Estás muito molhada e preparada para o sexo. – Fez com que


entrassem os primeiros quinze centímetros e observou a sua reação, a indecisão dos seus dedos indicava quando acreditava que já tinha entrado o suficiente. Valentin retirou a mão. – Desliza-o para dentro e para fora, como se fosse um pénis verdadeiro. – Sara suspirava ao agarrar o jade e ao movê-lo para trás e para a frente a um ritmo lento e lânguido. Valentin balançava os quadris, deixando que o seu pénis terrivelmente inchado deslizasse contra as nádegas nuas de Sara. Esfregava-lhe o clítoris ao ritmo das suas carícias e observava-a a aproximar-se do clímax. Ela movia o jade com mais rapidez, introduzindo um pouco mais a cada penetração. Quando atingiu o ponto de maior excitação, Valentin colocou a mão sobre a dela e empurrou o dildo para mais fundo, até que o acolhesse por completo. Sara contorceu-se em espasmos contra as mãos dele; os seus quadris saltavam no esforço de assimilar todo o prazer. Com esforço, Valentin conteve a sua vontade desesperada de se vir enquanto esperava que ela parasse de estremecer. Agarrou em vários travesseiros que se encontravam na cabeceira da cama e dobrou-a sobre eles. As suas nádegas elevaram-se enquanto ele retirava o jade. Sem dizer uma palavra, pegou-lhe nos quadris e empurrou-se com força para dentro dela. Não tinha tempo para subtilezas, sentia apenas uma necessidade selvagem de a encher com a sua semente e o mais depressa possível. Os delicados gritos de Sara ecoavam as violentas palmadas do seu corpo contra o dela, um som mais alto que os gemidos de Valentin. Não queria diminuir o ritmo. Desejava-a, depressa e com força. Quando o sémen jorrou do seu interior como um jato, ele rugiu de luxúria e abateu-se sobre ela, o seu coração a pulsar com tanta força que parecia prestes a explodir. Não valia a pena tratar a sua esposa como uma senhora delicada. Ela parecia encorajar o seu apetite sexual e apreciar fazê-lo quebrar os tradicionais limites sexuais de um casamento de sociedade, decente e educado, contraído pelo bem da descendência. Não podia negar que desejava violá-la. Desejava enchê-la com a sua semente, tê-la nua na cama para que apenas o servisse a ele. Maldição! Valentin abriu os olhos na penumbra das cortinas da cama. O aroma do sexo e o perfume único da sua mulher flutuavam em seu redor. Afastou-se e deixou que Sara se deitasse de costas. Fitoua. Ela sorriu-lhe, o seu olhar suavizado pela satisfação que sentia. O pénis de Valentin palpitou. Sem dizer nada, ele arrastou-se para o meio das suas pernas abertas e observou-a. Estava ainda mais molhada agora, coberta pelo seu sémen. Tocou-lhe o clítoris com a ponta da língua e notou que ela susteve a respiração. O seu membro respondeu erguendo-se um pouco enquanto lhe escancarava mais as coxas, abrindo lugar para si entre as suas pernas. Já não se tratava de um mero jogo divertido. Ela pertencia-lhe. Sentiu um desejo absurdo de a marcar com a sua maneira de fazer amor para que ela nem sequer olhasse para outro homem enquanto ele não estivesse. A sua vontade era deixá-la dorida para que cada pontada dos seus músculos a recordasse do seu pénis cravado no seu interior, do seu corpo a possuía-la. Nunca desejaria outro para além dele. Agachou-se diante dela, a sua respiração forte, o seu desejo primitivo em luta com a sua mente civilizada. Depois das experiências na Turquia, assegurara-se de que o sexo era tão-somente um jogo delicioso, não aquela necessidade de proteger e conquistar uma mulher. Prometeu a si


mesmo que nunca mais o possuiriam e nem escravizaria ninguém. Os seus sentimentos possessivos por Sara aproximavam-se demasiado das suas emoções mais íntimas. Olhou para o clítoris dela e voltou a provocá-lo com a língua, sentindo os seus tremores. Ela colocou-lhe a mão na nuca e aproximou-lhe mais o rosto do seu corpo. Lambeu-a com um gemido, aceitando o presente que ela lhe oferecia. O seu pénis ficou duro e soube que tinha de possuí-la outra vez. De repente, a promessa de limitar-se a duas vezes por noite pareceu-lhe ridícula. Preocupar-se-ia com as consequências das suas ações na manhã seguinte, depois de ficarem ambos exaustos pelos prazeres carnais.


9 ens a certeza de que não posso ir contigo? Valentin consultou o relógio de bolso antes de voltar a sua atenção para Sara. – Não é uma visita social. Fizeram algumas acusações muito graves sobre o administrador do nosso escritório em Southampton. Não estamos a contar que a reunião seja agradável. Pelo trejeito inflexível da sua boca, Sara percebeu que não conseguiria fazê-lo mudar de ideias, contudo, não resistiu a uma nova tentativa. – Podia ficar com os meus pais. Nem sequer precisarias de me ver. O sorriso dele brilhou. – Então, para que irias? E, se eu soubesse que estavas por perto, não iria ser capaz de me concentrar para fazer o meu trabalho como deve ser. – Talvez eu só deseje ver a minha família e não a ti. Ele aproximou-se e pegou-lhe no queixo com os seus compridos dedos. – Não sentirias a minha falta na tua cama? Sara sentiu as faces quentes enquanto ele a olhava fixamente. Como conseguia fazer aquilo? Acariciou-lhe o lábio inferior com o polegar. – Teria saudades tuas. Talvez deva esforçar-me mais para captar a tua atenção. O relógio sobre a lareira anunciou as dez horas e alguém bateu na porta do escritório, fazendo Sara dar um salto. Valentin recuou um passo quando Peter entrou na sala e fez uma vénia a Sara. Ela sorriu-lhe, agradecida por ele ficar a fazer-lhe companhia enquanto Valentin não estava. Observou Valentin enquanto se acomodava numa cadeira junto à mesa. Vestido para viajar, tinha um aspeto impecável, envergando um casaco negro e calças cor de canela que se ajustavam perfeitamente ao seu corpo musculado. Sara reclinou-se contra as almofadas, consciente da dor que perdurava por entre as suas coxas e do roçar dos seus mamilos contra o espartilho. O ato sexual tinha alcançado novos níveis na noite anterior. O desejo que Valentin sentia por ela parecia insaciável. Olhou-a. – Precisas de outra almofada, minha querida? – Estou bem, obrigada. Peter virou-se para ela com uma expressão preocupada. – Está indisposta, Sara? Os cantos da boca de Valentin elevaram-se enquanto ela enrubescia. – Creio que a minha esposa não terá dormido muito bem ontem à noite. Não é verdade? – Valentin tem razão. O seu ressonar não me deixou dormir. – Não me lembro que ressonasses, Val. Quando começou isso a acontecer? – perguntou Peter enquanto alcançava outra almofada para Sara. – É provável que se deva à sua avançada idade – gracejou ela com doçura. – Ameacei que lhe punha uma mola da roupa no nariz.

–T


Valentin desatou a rir no instante em que o seu secretário, Mr. Jeremy Carter, entrava no escritório. Mr. Carter franziu o sobrolho ao ouvir aquele estranho som ao mesmo tempo que se detinha junto à mesa para aí deixar uma pilha de livros. – Boa tarde, Mister. Sou a razão da sua diversão ou perdi alguma coisa? Valentin levantou-se e negou com a mão. – Nada de importante, Mister Carter. Sabe que é sempre bem-vindo. – Apontou para Sara. – Creio que ainda não conhece a minha esposa. Decidi que estava na hora de a envolver nos nossos problemas familiares. Sara sorriu a Mr. Carter, que usava uns grossos óculos e não tinha um único cabelo na sua lustrosa cabeça suada. Cheirava a bolas de naftalina e a tinta seca. A sua postura encurvada recordava-lhe o empregado do escritório do seu pai, que lhe dera rebuçados de hortelã quando era pequena. – É um prazer conhecê-lo, Mister Carter. O meu marido diz que é um empregado dedicado e leal. Os lábios finos de Mr. Carter estenderam-se no que pareceu um sorriso enquanto desenhava uma pequena vénia sobre a mão de Sara. – Obrigado, minha senhora. Procuro manter o nosso navio financeiro a flutuar o melhor que posso. Valentin sentou-se no seu lugar atrás da mesa e puxou os livros-mestres para si. – Quais serão as consequências deste último incêndio? Mr. Carter pigarreou. – Como o navio ainda estava no porto, conseguiram apagar o fogo rapidamente e os danos que a carga sofreu foram insignificantes. – Abriu o livro maior e apontou para uma linha com uma bonita caligrafia. – Se o navio estivesse em alto mar, as coisas teriam sido bem piores. A lã arde com rapidez. – Parece-me que a tua ideia de colocar mais guardas nos navios e nos depósitos funcionou bem, Peter. – Valentin acenava com a cabeça para o seu amigo, que estava sentado na outra ponta da secretária. – Assim é mais difícil os nossos inimigos concretizarem os seus crimes. Sara inclinou-se para a frente para observar as páginas escritas. Juntamente com a música, a matemática era uma das suas paixões. Demorou apenas um momento a dar-se conta do quão perto a empresa se encontrava da falência e também notou que alguns dos primeiros números não estavam corretos. Após uma série de cálculos rápidos de cabeça, recostou-se a ouvir a discussão que estava a ocorrer. Era interessante observar Peter e Valentin no seu ambiente de trabalho. Despojavam-se dos seus modos sociais e emanavam uma frieza empresarial que lhe lembrava o seu pai. Esperou que a complicada discussão sobre o poder do homem versus novos rumos comerciais chegasse ao fim. Valentin pressionou a cana do nariz e fechou os olhos, um gesto de cansaço que Sara já conhecia muito bem. – Posso sugerir uma coisa? – perguntou Sara, e todos a fitaram. – Sim, claro. – Valentin estendeu as mãos num gesto de súplica. – É algo que o meu pai fez quando os seus negócios estiveram ameaçados pelos rivais. Já


sugeriram aos vossos concorrentes associarem-se na carga? Peter franziu a testa. – E porque haveríamos de o fazer? A última coisa que precisamos é de perder outra mercadoria para além da nossa. A nossa reputação já não é a melhor. – Creio que a Sara possa estar certa. – Valentin levantou-se e caminhou pelo grosso tapete azul. – Se oferecêssemos espaço livre nos nossos barcos a outros, seria interessante ver que navios eram atacados e que navios não eram atacados. – Com o passar do tempo, isso poderia ajudar a identificar a quem pertencem os produtos que sobrevivem sempre – acrescentou Sara. Valentin lançou-lhe um olhar de aprovação. – Se controlarmos bem os pormenores, poderemos identificar um padrão e um inimigo. – Isso se for um dos nossos concorrentes – argumentou Peter, devagar. Sara franziu o sobrolho. – E quem mais poderia ser? Valentin fechou o livro-mestre. – Ainda não temos a certeza. Quem quer que seja, está também a tentar manchar as nossas reputações pessoais. – Sorriu para Sara. – O Peter e eu não tivemos propriamente vidas exemplares. – Falas do tempo que passaram na Turquia? – Sara tentava chamar a atenção de Valentin. – Mas eram ainda crianças. – Devemos ter feito inimigos. Também tentaram chantagear o Peter. E há ainda a minha família a considerar. Sara fitou com dureza o rosto tranquilo de Valentin. – Não podes pensar que a tua família te deseja assim tanto mal. – Porque não? – Havia uma expressão de desafio no seu olhar. – O meu regresso complicou a vida do meu pai e é bem sabido que ficaria satisfeito com a minha ruína. Acha que eu vou rastejar e implorar para que me ajude financeiramente. – O comentário desdenhoso de Valentin tornou-se mais evidente. – É óbvio que eu preferia pedir esmola na rua, mas ele é bem capaz de pensar que levar a minha empresa à falência é uma boa maneira de voltar a dominar-me. Sara não sabia o que dizer. Pelo que tinha visto ultimamente do pai de Valentin, a sua vontade era defendê-lo. O instinto dizia-lhe que Valentin não iria reagir bem à sua intervenção. Mr. Carter tossiu, clareando a garganta. – Se permitir, investigarei a possibilidade de transportarmos a mercadoria dos nossos concorrentes. – Levantou-se e recolheu a pesada pilha de livros. Sara pousou a mão sobre o seu braço. – Mister Carter, importar-se-ia de deixar os livros aqui esta noite? – Sorriu-lhe de forma suplicante. – O Valentin prometeu mostrar-me quão bem o senhor mantém as contas da empresa naval para assim me ensinar a equilibrar o orçamento doméstico. – Piscou um olho a Mr. Carter. – Parece que continuo a gastar demasiado e isso faz com que Valentin se zangue comigo. Levantou o olhar e viu que Valentin e Peter a observavam. Mr. Carter deu-lhe umas palmadinhas na mão. – Claro que não, minha senhora. Estou encantado por ver que se esforça por praticar a delicada


arte da economia. Peter abriu a porta do escritório. – Devolvo-lhos amanhã, Mister Carter. Prometi acompanhar Lady Sokorvsky a um encontro às dez horas e posso entregá-los nessa altura. Boa viagem, Val! – Fez uma vénia a Valentin, piscou o olho a Sara e empurrou Mr. Carter para fora da sala. Valentin fechou a porta e encostou-se a ela. – O que foi aquilo? As tuas contas domésticas estão sempre imaculadas. Sara levantou-se, a sua atenção virada para os livros-mestres. – As colunas não batem certo. – O quê? Sara ignorou-o quando ele se aproximou da mesa. – Enquanto Mister Carter te mostrava a última coluna, eu revi os primeiros números. Segundo os meus cálculos, alguém andou a alterar as quantias. Valentin olhou com atenção para as dezasseis estreitas colunas que ocupavam uma folha dupla. Levava horas a confirmar os valores das receitas de uma semana. Como diabo conseguira Sara dar-se conta de uma infinidade de enganos em seis meses de entradas? Ela fez um gesto impaciente e Valentin deu-lhe uma pena e uma folha que tirara da gaveta da sua mesa. O dedo de Sara apontou para uma linha quase ao início da folha. – Vês como alguns dos números mais pequenos foram alterados? Às vezes é tão simples como um zero que se converte num seis, mas cada centavo faz a diferença. Valentin semicerrou os olhos ao olhar para os números escritos a tinta. Por Deus, ela tinha razão. A caligrafia da segunda pessoa que escrevera era diferente da do seu secretário. – Se não foi Mister Carter quem fez isto, então como é que não notou? Sara escrevia tão depressa no papel que a ponta da pluma salpicava tinta para o mata-borrão. – Pela grossura dos seus óculos, eu diria que ele não vê muito bem. É possível que só se aperceba dos enganos quando fechar as contas anuais. – Olhou para Valentin. – É claro que por essa altura já será demasiado tarde para encontrar o dinheiro. Quem mais tem acesso a estes livros? – São guardados no escritório principal aqui em Londres, por isso, em teoria, qualquer pessoa pode consultá-los. – Valentin afastou um caracol de cabelo do rosto. – Caramba, não há maneira de os fechar à chave sem dar origem a falatórios. Pede ao Peter que se encarregue disso amanhã, está bem? Sara pousou a pena. – Vou demorar algum tempo a verificar todos estes livros. Talvez pudesses mantê-los aqui à noite para conseguir examiná-los. Valentin voltou a tapar o tinteiro. – Não espero que faças semelhante trabalho. Existem muitos homens capazes que poderão detetar a fraude. – Posso muito bem fazê-lo, Valentin. – Sara fitava-o com uma expressão suplicante. – Não acreditas em mim? Fiscalizei os livros do meu pai até que ele decidiu que não era uma tarefa própria de uma senhora. Para mim seria um desafio fascinante.


Embora de forma depreciativa, John Harrison havia mencionado o talento de Sara para os números. Idiota como era, Valentin não se tinha dado ao trabalho de saber quão capaz era a sua esposa. Tinha estado demasiado ocupado a imaginá-la nua. – Está bem, podes tratar disso. Sara deu um salto e abraçou-o. Nunca se mostrara tão entusiasmada fora da sua cama. Determinado que estava a encaixá-la no seu ideal de esposa de sociedade, por pouco não ignorara as suas notáveis capacidades. Odiava que o julgassem pelas aparências e mesmo assim parecia incapaz de permitir que a sua esposa fosse mais que um objeto decorativo no seu braço. – Obrigada. Não te dececionarei e quando chegares de Southampton terei algo mais definitivo para te mostrar. Beijou-a na face e sentiu o pénis elevar-se quando o seu perfume feminino lhe invadiu os sentidos. Afastou-a relutantemente. – Tenho de ir. Ela fez beicinho. A delicada cor rosada dos seus lábios era um atrativo ao qual sentia dificuldade em resistir. – Vou sentir a tua falta. Ele riu para ocultar a estranha relutância em deixá-la. Era uma sensação incómoda, contra a qual tinha lutado muito em relações anteriores. – Tolices! Estarás demasiado ocupada a divertir-te com a minha madrasta e com Peter para sentires saudades. Para além disso, tens de te ocupar dos livros-mestres. Sara colocou-se nas pontas dos pés e beijou-o na boca. A sua língua movia-se com rapidez sobre os lábios fechados de Valentin. – Sentirei a tua falta. Mais ninguém me faz sentir assim tão viva. Ele olhou fixamente os seus olhos azuis enquanto o desejo de afundar-se dentro dela crescia a par com a sua ereção. – Usa o jade por mim. – Assim farei. Vou imaginar-te de pé, ao lado da minha cama, a observar-me. – Lambeu os lábios lentamente, a escassos centímetros dos lábios dele. – E tomarei nota das minhas solitárias fantasias no Livro Vermelho para quando regressares. Valentin recuou até chegar à porta e girou a chave na fechadura. Ela observava-o de olhos bem abertos e cheios de diversão enquanto ele desabotoava as calças de forma metódica. – Senta-te na borda da mesa e abre as pernas para mim, Sara. A carruagem pode esperar uns momentos mais. Sara observava o rosto angelical de Peter enquanto atravessava com cuidado as portas de Hyde Park às onze horas da manhã. Apesar das advertências de seu pai sobre o passado de Peter, para Sara era fácil confiar nele. Tratava-a de igual para igual, os seus conselhos a respeito da moda eram excelentes e estava a par de todos os mexericos. Peter levou os dedos ao chapéu para cumprimentar um militar que seguia a trote num magnífico cavalo negro. Sara admirava o domínio tranquilo das rédeas exercido por Peter. Valentin tinha um estilo mais arriscado que, secretamente, a assustava. Inspirou profundamente aquele ar revigorante e preparou-se para lhe fazer a pergunta que a


atormentava desde a partida de Valentin. – Peter, ontem Valentin mencionou que o tinham chantageado. Peter sorriu e suspirou. – Estava tão empenhada a defender a família de Valentin que acreditei que não tivesse escutado essa parte. – Não compreendo porque haveria alguém de querer chantageá-lo. Ele parou a carruagem e entregou as rédeas ao moço de estrebaria. Sara esperou que ele a ajudasse a descer e apoiou os dedos na manga do seu casaco de montar azul-escuro. Passearam um pouco sob o arvoredo, as folhas castanhas e douradas estalando sob os seus pés. – Como sabe, o Val e eu fomos escravos na Turquia ao longo de vários anos. Durante esse tempo, adquiri vários hábitos desagradáveis que me ajudaram a sobreviver no inferno em que vivia todos os dias. Sara observava o rosto dele e desejou poder fechar os olhos ao ver a desolação patente na sua expressão. – Continuo sem entender. – Era viciado em ópio. Mesmo depois do meu regresso a Inglaterra, levei alguns anos até conseguir superar o vício. – A sua boca contorceu-se. – Fiz algumas coisas estúpidas para garantir que tinha um fornecimento constante de ópio do mais puro. Roubei, menti e enganei todos os que me tentaram ajudar. É fácil alguém utilizar esses anos perdidos do meu passado contra mim. Caramba! Ainda não sei exatamente tudo o que fiz. – É por isso que o meu pai não gosta de si? – Ele advertiu-a contra mim, não é verdade? – Peter parecia divertido. Sara atreveu-se a olhá-lo de forma rápida. – O meu pai disse-me que o Peter não era de confiança e que foi uma má influência para Valentin. – E tem toda a razão. Roubei o seu pai e menti-lhe várias vezes. Se não fosse o Val, eu não estaria aqui agora. Ele permaneceu ao meu lado quando todos os outros perderam a esperança. Obrigou-me a abandonar o ópio e a tomar conta da minha vida. Sara olhou para a carruagem no caminho irregular. O casaco vermelho do moço de estrebaria brilhava vivamente contra os tons outonais do parque e a sua respiração nublava o ar gelado. Apesar dos receios do pai, Sara acreditava em Peter. Via-o como um homem que tinha atravessado os fogos do inferno e conseguira sobreviver. E o que se passava com o seu encantador marido que parecia tão indiferente perante algo tão sórdido? – O Valentin sofreu tanto como o Peter? – O Val escolheu maneiras mais «físicas» de lidar com a nossa escravidão. É muito mais forte do que eu. Embora ainda tenha cicatrizes. E talvez sejam mais profundas do que ele possa imaginar. Sara elevou-se nas pontas dos pés e beijou a boca fria de Peter. – Fico feliz que tenha sobrevivido. Fico feliz que tenha decidido viver. Peter acariciou-lhe a face com a mão enluvada, o seu olhar azul pálido fixo no dela. – Obrigado por esse gesto – disse ele numa voz rouca. Sara olhou em redor para ver se alguém tinha dado conta da sua conversa íntima e continuou a


caminhar. Depois de terem falado sobre as suas descobertas nos livros-mestres ela mudou a conversa para temas mais gerais até que Peter começou a relaxar. Quando regressavam para a carruagem, ela decidiu fazer-lhe outra pergunta que também a inquietava. – Se eu quisesse dar um presente muito especial a Valentin, poderia ajudar-me? – Claro que sim. – Peter baixou o olhar para ela com a expressão dissimulada uma vez mais sob a sombra da aba do chapéu. – Deve ser algo muito estranho para achar que necessita da minha ajuda. Sara lutava contra o rubor que crescia nas suas bochechas. – Eu queria furar as orelhas. Conhece alguém que possa fazer isso? – As orelhas? – Peter estacou e prestou-lhe toda a atenção. – Qualquer aia competente pode fazer isso. Não é preciso muita habilidade, até eu poderia fazê-lo. Peter ajudou-a a entrar na carruagem e Sara esperou até que o moço de estrebaria se afastasse. Contorceu-se no assento, as suas mãos enluvadas entrelaçando-se no colo. – E se eu quisesse furar outras coisas também? Como não teve resposta, viu-se obrigada a levantar a cabeça. Peter fitava-a com os olhos semicerrados. Pela primeira vez viu um brilho de interesse puramente masculino nos seus olhos. – O que a levou a pensar que eu saberia tal coisa? – Ele não parecia zangado, apenas interessado. – Porque Valentin me disse que gostava dos prazeres carnais e não posso pedir... Calou-se quando ele lhe levou a mão à boca e lhe beijou o pulso descoberto. – Está tudo bem, não tem de explicar nada. Conheço uma mulher que a pode ajudar. É uma velha conhecida de Val e minha, dos nossos tempos mais desenfreados. – Piscou-lhe o olho. – Ela pode furar tudo o que desejar.


10 alentin subiu silenciosamente as escadas quando o relógio anunciava uma da madrugada. O seu quarto estava envolto em escuridão e emanava uma sensação de humidade e de abandono. Ninguém fazia ideia de quando ele regressaria. O seu plano original de voltar para casa passada uma semana tinha caído por terra. Quando chegou a Southampton, descobriu que o administrador naval, Mr. Reynolds, havia desaparecido com uma considerável soma em dinheiro que tinha furtado dos livros e todo o dinheiro para gastos menores. Vira-se então obrigado a permanecer em Southampton durante quase um mês até que o escritório estivesse a funcionar de novo com normalidade. Tinha passado a maior parte do tempo a visitar clientes e bancos, dando-lhes garantias da estabilidade financeira da empresa. Era um trabalho extenuante, mesmo para um homem famoso pela simpatia e pelos contactos. Imaginar Sara e Peter a divertirem-se juntos em Londres também não tinha ajudado o seu humor. Muito menos o tinham feito as notícias de que, apesar dos seus esforços, Reynolds continuava em liberdade. Valentin acreditava que ele teria saído do país de navio ou que estivesse a ser ajudado por outros. Acendeu uma vela e utilizou-a para atiçar o fogo preparado na lareira. Toda aquela situação tinha-lhe deixado um sabor horrível na boca. Peter e ele haviam trabalhado muito para montar aquela empresa juntos e, em certas ocasiões, tinham tripulado os seus próprios navios, sujado as mãos para evitar problemas e até matado, quando absolutamente necessário. Ver que o trabalho da sua vida lhe escorria entre os dedos como apreciada água potável em alto mar, fazia vibrar o seu sentido de controlo. Via-se tão desesperançado como quando tinha sido escravo, com o seu corpo submetido aos desejos sexuais de outros. Despiu o casaco de montar, contente por se ver livre do peso. A última vez que tinha estado em casa, por pouco não contara a Sara tudo sobre o seu passado sexual. Duvidava que ela acreditasse como os obrigavam, a Peter e a ele, a servir a clientes até que caíssem exaustos nas suas camas. A juventude, a resistência e a pele branca eram uma atração que a Madame Tezoli, a proprietária do bordel, tinha explorado ao máximo. A sua boca retorceu-se num sorriso petulante. Não era como se ela tivesse sido tão mercenária como os donos de alguns bordéis. Tinha orgulho na qualidade das suas mercadorias. Esperava até que fossem suficientemente maduros para terem uma ereção antes de os vender ao primeiro que pudesse pagar um preço exorbitante. Durante os primeiros estados de excitação sexual tinha até apreciado algumas das mulheres. Já os homens eram uma questão diferente. Valentin vislumbrou o reflexo do seu rosto triste nas sombras do espelho. A determinada altura chegara mesmo a provocar os seus clientes masculinos mais detestáveis para que lhe cortassem o rosto a fim de destruir o que cobiçavam, para que lhe dessem o último golpe e o libertassem daquela tortura. Estava convencido de que a sua beleza física era uma maldição e não uma bênção. Depois de suportar os insultos, um cliente esmurrou-lhe a cara e só a intervenção de Peter o salvou de uma forte surra. Sorria sem humor. Peter deveria tê-lo deixado. Se Sara soubesse com quantas mulheres ele

V


tinha dormido, fugiria ou continuaria a recebê-lo na sua cama? Um ligeiro ruído oriundo do quarto de Sara fez com que Valentin se voltasse. Abriu a porta interior, atravessando a curta distância do armário de vestir até ao seu quarto. A luz brilhava através da moldura da porta. Ela voltou a suspirar. Era um som exuberante de satisfação carnal que ela frequentemente fazia quando ele lhe dava prazer. Estaria com outro homem? A luxúria e o ciúme retumbavam dentro dele enquanto abria silenciosamente a porta. Sara estava recostada na cama; o roupão carmesim emoldurava-lhe a pele voluptuosa e o cabelo escuro. A luz de uma vela concentrava-se sobre a colcha de seda. O Livro Vermelho estava aberto e apoiado no travesseiro de Sara enquanto ela lia o que evidentemente acabara de escrever. A garganta de Valentin secou ao dar-se conta de que ela movia a mão esquerda lentamente por entre as pernas. Sara voltou a emitir aquele delicioso gemido sensual e Val apertou a sua ereção com força. Dormira sozinho em Southampton. Esse fora o período mais longo em que tinha permanecido celibatário em toda a sua vida de adulto e não tinha desejado nenhuma outra mulher. Havia passado as noites a sonhar com Sara, recorrendo à sua própria mão e à sua imaginação para conseguir alívio. Não tinha sido suficiente. Apoiou-se contra a moldura da porta com uma mão ainda a friccionar o membro. Sara levantou a perna direita e fletiu o joelho, deixando cair a perna esquerda para o lado. Ele vislumbrou o ténue brilho do jade molhado pelo seu néctar contra a sua coxa cor de marfim enquanto ela se masturbava. Sara arqueou as costas e elevou mais ambos os joelhos, roçando a ponta do artefacto sobre a sua vagina. O sangue pulsava no seu pénis enquanto observava as explorações da esposa. Sem dizer nada, atravessou o quarto até aos pés da cama, abraçou-se aos postes e olhou-a. Ela não reagiu à presença dele, continuando a masturbar-se. Valentin aspirou o aroma do seu néctar e escutou o suave som escorregadio do jade que deslizava. Tendo esquecido o cansaço, Valentin tirou com dificuldade o casaco justo, seguido do colete, do lenço do pescoço e da camisa. Deixou as calças e as botas porque gostava da sensação da sua faminta ereção que pressionava contra o grosso tecido. Avançou lentamente pelos pés da cama e agachou-se na frente dela. Sara sorriu-lhe, com um olhar intenso carregado de excitação, os lábios entreabertos e ávidos. Passava a pena sobre o seu sexo inchado e esfregava-a para trás e para frente, mantendo o jade bem fundo no seu canal. Valentin inclinou-se para a frente e tocou nos lábios quentes e inchados da sua vulva que apertavam o jade verde com firmeza. Fez círculos na sua abertura, apreciando o seu espesso néctar e a ponta dura do seu clítoris. O seu pénis vibrava ao mesmo ritmo frenético dos seus batimentos cardíacos, procurando alívio. Ansiava por desabotoar as calças e introduzir-se nela, penetrando-a uma e outra vez até se lhe esgotar o sémen. Em vez disso, recostou-se e esfregou a crista dura do seu membro com os dedos trémulos. As suas calças de camurça já estavam húmidas e pareciam ásperas e apertadas contra a sua carne que se avultava com rapidez. Ainda não. Só quando ela implorasse. Ao invés, roçou-lhe o clítoris com um dedo e ela deixou cair a pena que segurava. Ele


aproximou-se, inclinou a cabeça e inalou o seu aroma, lambendo-lhe o clítoris com a ponta da língua. Ela estremeceu e moveu a barra de jade mais depressa dentro e fora do seu canal. Valentin baixou a cabeça e lambeu o seu caminho em redor do jade. Apreciava o contraste entre a carne inchada e elástica e a dureza lisa da pedra. Com delicadeza, colocou um dedo de cada lado do dildo, dilatando-a ainda mais, fazendo-a ofegar. Sabia que podia alargá-la mais. Como escravos, ele e Peter tinham várias vezes penetrado em conjunto a mesma mulher. Toda aquela fricção e firmeza também eram estimulantes para o homem. Tentou esquecer esse pensamento e concentrou-se em Sara. Moveu os dedos dentro dela e afundou-os com força, lambendo-lhe o clítoris enquanto deslizava a outra mão por baixo das suas nádegas e a elevava ao ritmo das carícias do jade. Deixou que o seu dedo mais comprido deslizasse pelas nádegas e explorou-lhe a entrada do ânus. Recolhendo o néctar espesso de Sara, introduziu-lhe o dedo no ânus e, com rapidez, adicionou outro. Beliscava-lhe o clítoris enquanto o seu pénis tentava perfurar-lhe as calças, ansioso por penetrá-la. Ainda não. Esperou que aquela dor insuportável se misturasse com a antecipação e o prazer. Sentia a larga firmeza da barra de jade e os seus outros dedos encostados às paredes internas da vagina de Sara. Sabia que ela também o sentia. Em Southampton, Valentin tinha visitado um comerciante oriental e comprado alguns anéis anais para ajudar Sara a suportar o seu pénis. Por momentos, desejou tê-los com ele naquele instante, embora talvez fosse melhor que não os tivesse. Depois de um mês sem sexo, tinha de fazer as coisas devagar e sabia de antemão quão dolorosa podia ser a penetração de maneira forçada. A contragosto, retirou os dedos e concentrou a sua atenção na vagina e no clítoris dela. A respiração de Sara acelerou e ele soube que ela estava perto do clímax. Recuou, desejava ver o rosto dela naquele momento tão íntimo. Abriu-lhe o roupão de seda para lhe deixar os seios a descoberto e quase perdeu o pouco tino que ainda lhe sobrava. Os mamilos rosados de Sara brilhavam com uma luz dourada e ele olhou fixamente para os anéis que perfuravam a sua pele sensível. Ela estremeceu quando ele esticou um dedo e, com grande delicadeza, tocou ligeiramente o anel. Iria ficar dorida durante algum tempo. E ainda mais dorida se alguém lhe arrancasse o aro, como tinha acontecido com ele. Ainda tinha a cicatriz. Passou a língua pelo metal quente e retirou os dedos da vagina dela. – Ainda te dói? Ela mordeu o lábio. – Um pouco. Valentin lambeu-lhe o mamilo o mais suavemente que conseguiu e ela suspirou. Quando cicatrizasse, planeava dedicar bastante tempo aos seus seios. Talvez até nunca mais lhe permitisse sair da cama. Segurou-lhe o queixo e beijou-a na boca, dando-lhe a provar o seu próprio prazer. O seu pénis vibrava. Ansiava estar dentro dela com um impulso primitivo que o agitava até à medula. Sem parar de a beijar, levou as mãos às calças e abriu-as. Soltou o fôlego por entre os dentes ao mesmo tempo que o seu pénis se libertava. Ela puxou-lhe as calças para baixo, deixando-lhe a descoberto as nádegas e os testículos tensos.


– Oh, meu Deus, Valentin, senti tanto a tua falta. Gemeu quando as unhas de Sara lhe arranharam a pele. Soltando-lhe a boca, deslizou por entre as pernas dela e afastou-lhe os joelhos com os quadris. Agora receberia o seu pénis e gritaria de prazer. Sara estremeceu quando ele tirou a mão do dildo de jade e agarrou a base do seu pénis, que estava maior do que ela alguma vez o tinha visto. A sua vagina acomodou-o por baixo do dildo. Ele esperou até que a pele de Sara cedesse e continuou a sua lenta penetração. As sensações explodiam no seu corpo; a firmeza da vagina, a resistência da pedra por cima dele. Estava preso num torno erótico que ele próprio criara. – Valentin! – Sara espetou-lhe as unhas nos ombros musculados. – Ai, meu Deus! Vou-me vir. Ele penetrou mais profundamente até que os seus testículos bateram contra as nádegas dela e permaneceu imóvel enquanto ela banhava o seu membro com a força de uma tormenta devastadora. Conteve os gritos dela na sua boca, negando-se a finalizar o beijo mesmo quando ela lhe mordeu os lábios nos últimos espasmos do clímax. Quando ela parou de estremecer, ele separou-se dela e tirou o dildo de jade. Depois contemplou-lhe a vagina, bela, húmida e apetecível. Esqueceu-se do que era correto e aceitável. Isso já pouco lhe importava e a ela também. Pegou no jade e deslizou dois dedos para o interior da entrada traseira. – Quero-o aqui dentro. Farás isso por mim? – Tentei fazê-lo sozinha, quando não estavas. Ele arqueou uma sobrancelha enquanto a penetrava, pouco a pouco, com o jade. – Deves ter estado muito aborrecida. Pedi-te que esperasse por mim. Ela susteve a respiração quando Valentin deslizou o jade até não entrar mais. – Pensei que podia preparar-me para ti. – És sempre tão impaciente, Sara, mas neste caso ainda bem que o foste. Sara lambia os lábios enquanto ele lhe colocava as coxas por cima dos ombros e voltava a inundar-se diretamente no seu interior. Ela agora era dele; já não podia negá-lo. Afundou-se no seu calor com um gemido. Conseguia sentir o jade, mesmo através das contrações da vagina de Sara enquanto ela se vinha. – Estou de volta, Sara. Já não haverá mais jade na tua vagina, a menos que eu o coloque lá. Acabaram-se os dedos, só o meu pénis irá possuir-te tanto tempo e com tanta força quanto desejes. Ela gemeu e abraçou-o com mais força enquanto ele continuava a empurrar. Pela primeira vez na sua vida de adulto, sentiu-se seguro de que alguém entenderia e perdoaria o seu passado. Gemeu enquanto o seu sémen a enchia e deu-se conta de que havia verdadeiramente voltado para casa.


11 uro, senhor, não fui eu quem alterou os livros. O luxuoso escritório de Valentin revestido a mogno estava banhado pela luz do Sol, mas a atmosfera era escura e tensa. Mr. Carter tirou os óculos e esfregou as lentes com o lenço como se tentasse apagar os enganos que Valentin lhe tinha apontado. – Não penso isso, Mister Carter – disse Valentin em voz baixa, apontando com a pena sobre a página aberta. – O que eu queria saber é quem o fez. Reclinou-se enquanto Mr. Carter esticava o pescoço sobre os livros. – Não tenho a certeza, senhor. As alterações são tão pequenas que é difícil sabê-lo. – Quem tem acesso aos livros-mestres, para além do senhor? Mr. Carter enrugou a testa. – Como o senhor sabe, eles estão guardados no escritório principal. Passam por ali centenas de pessoas todos os dias. Mas, se está a referir-se ao pessoal, suponho que os meus dois assistentes seriam quem teria maiores possibilidades de modificar os números. – E quem são eles? – Alexander Long e Christopher Duncan. Foram ambos muito recomendados. – Inclinou-se para Valentin, com alívio no rosto. – Na realidade, um dos homens foi recomendado pelo seu pai, o marquês. Valentin suspirou lentamente. – Qual deles? – Duncan. É escocês. Creio que trabalhava com o seu pai antes de se mudar para Londres em busca de um novo emprego. Peter, também presente, pigarreou e disse: – Posso reunir informações sobre estes dois homens, Valentin. Quem recomendou o outro? – Penso que foi Sir Richard Pettifer ou Mister John Harrison. – Mr. Carter levou uma mão trémula aos óculos e empurrou-os para cima. – Não tenho queixa de nenhum dos dois homens. Sempre pareceram conscientes, honestos e de confiança. – Ninguém está a culpá-lo, Mister Carter – garantiu Sara sentada numa cadeira a um canto. Valentin resistiu ao impulso de olhá-la com aborrecimento. Ele, pelo contrário, culpava Mr. Carter. Era evidente que o homem estava demasiado velho para fazer o seu trabalho corretamente. Como se tivesse lido o pensamento de Valentin, Mr. Carter ajoelhou-se aos seus pés. – Por favor, aceite as minhas desculpas. Prometo ser mais diligente no futuro. Sara levantou as sobrancelhas para Valentin. A contragosto, ele calou o seu desejo de despedir o homem ali mesmo. – Está bem, Mister Carter. Haveremos de ultrapassar isto. Posso pedir-lhe que mantenha os pormenores desta reunião em segredo? Não queremos que os seus assistentes saibam o que se passou aqui e desapareçam. – Não direi uma palavra. – Mr. Carter guardou o lenço no bolso com um inconfundível alívio

–J


no rosto. – Serei a discrição em pessoa. Depois da partida de Mr. Carter, Valentin olhou para Peter e para Sara. Ela sorriu-lhe. – Foi muito amável da tua parte teres permitido que Mr. Carter conservasse o seu emprego. – O idiota. Merecia que eu o despedisse porque foi negligente. – Valentin fechou o livromestre e reclinou-se na cadeira para apoiar os pés sobre a mesa. – Agora suponho que estarás à espera que encontre uma maneira de o substituir sem lhe ferir os sentimentos. – Havia sarcasmo na sua voz. Sara não conseguiu esconder o seu divertimento. – Seria muito generoso da tua parte. – Amável e generoso – resmungou Valentin para a esposa. – Com que outras palavras planeias adular-me hoje? Peter soltou uma gargalhada. – Alegra-me ver que Sara tem esse efeito civilizador sobre a tua pessoa. Ela levantou-se e alisou as dobras do vestido verde. Val franziu o sobrolho. – Onde vais? – Convidaram-me para tomar chá na casa dos Pettifer esta tarde. – Levantou o queixo e lançoulhe um sorriso provocador. – Quem sabe possa averiguar mais qualquer coisa sobre esse teu empregado. – Acho que te pedi para não te relacionares com eles. – Valentin sentou-se de forma tão abrupta que os saltos das suas botas bateram com estrépito no chão de madeira. – E é óbvio que não desejo que realizes nenhum tipo de espionagem. Sara beijou-o no rosto. – Vejo-te ao jantar. Não te esqueças que prometeste ir comigo ao baile do embaixador russo esta noite. – Porque deveria fazer-te a vontade quando não fazes nada do que te peço? – Ele franziu o sobrolho para as costas da esposa que saía, fechando a porta com firmeza. – Nunca pensei que uma mulher conseguisse dominar-te, Val. Peter sentou-se na beira da mesa. – Pensaste mal. Valentin acendeu um charuto e ofereceu outro a Peter. – Esperemos que ela não se esqueça de ser discreta na conversa com os Pettifer. É muito ingénua. Peter soprou uma nuvem de fumo. – Preocupa-te que o pai de Sara possa estar metido nesta confusão? Valentin olhou fixamente para os tranquilos olhos azuis do seu amigo. – Claro que sim, embora esteja mais convencido que isto tem algo a ver com o meu pai. – Acalma-te, Val. Tenho a certeza de que ele não está envolvido. – Peter esticou-se para a frente e passou o dedo pelo queixo contraído de Valentin. Quando Val se encolheu, Peter apressou-se a tirar a mão. – Desculpa, é a força do hábito. – Pigarreou. – Se eu te dissesse que chegou a altura de veres o teu pai pelo homem que é e não como o papão da tua infância, serias capaz de me ouvir? – Ouviria, mas mesmo assim não acreditaria nessas idiotices. Sei exatamente o que o meu pai é


e o que ele deseja de mim. Já te esqueceste como te tratou? – Não esqueci, mas posso entender porque achou melhor eliminar todos os rastos da tua vida anterior depois de teres regressado a Inglaterra. – Peter suspirou. – Eu era uma lembrança constante do teu passado e, na verdade, era também um risco e ele só queria o melhor para ti. Valentin pôs-se de pé e dirigiu-se para a janela. A carruagem de Sara afastava-se da porta principal. – És mais generoso do que eu. Ele queria fingir que não tinha acontecido nada. Queria que eu agisse como se tivéssemos vivido sempre juntos e eu tivesse sido criado como um perfeito cavalheiro, preparado e disposto a herdar o seu patético título. – Mas tu também desejavas esquecer, Val. Talvez sejas mais parecido com ele do que acreditas. Quando é que reservaste algum tempo para falar sobre todos os horrores que suportámos? – Peter apagou o charuto no cinzeiro. – Continuas a insistir que nada do que te aconteceu no bordel tem influência na tua vida presente. Valentin pressionou a palma da mão com força contra o vidro da janela enquanto as lembranças dos corpos excitados e quentes preenchiam a sua mente. Fechou os olhos contra as insidiosas vozes e contra a onda de mal-estar que o invadia. Virou-se para enfrentar Peter. – Não sou nenhuma mulher nem um poeta. Não preciso de falar sobre os meus sentimentos, raios! – Não é preciso gritares, Val. Só queria ajudar. Valentin olhava irritado para o amigo. Já não recebia as carícias de Peter com agrado, mas o vínculo que partilhavam ia muito além do físico e era a única razão pela qual ainda o ouvia. Esforçou-se por voltar a concentrar a sua atenção nas questões mais urgentes que tinha entre mãos. – Então, vais averiguar tudo o que houver para saber sobre Long e Duncan? Peter afastou-se da mesa com o olhar contemplativo. – Fica descansado que vou investigar ambos os homens por igual. Se houver más notícias, virei dar-tas pessoalmente. De acordo? – De acordo. Agora tenho outro encontro. – Valentin apagou o charuto. – Vou encontrar-me com Caroline Ingham na casa da Madame Helene para falar sobre o nosso futuro ou a inexistência dele. – Não é o melhor lugar para um encontro, Val. – Peter fez uma careta. – Ela irá fazer tudo o que estiver ao seu alcance para te meter na cama dela. – Bem sei. – Valentin esboçou um leve sorriso. Estava desejoso de ocupar-se de Caroline. – Confia em mim. Não terá o menor êxito. Infelizmente, foi a única maneira que consegui de a convencer a encontrar-se comigo. Sara sorria enquanto Evangeline Pettifer lhe oferecia uma chávena de chá. A sua anfitriã parecia demasiado bem vestida para receber uma visita em casa, mas o gosto de Evangeline tendia a ser mais elaborado do que o de Sara. Evangeline tentava estar a par de cada novidade da moda, quer lhe assentasse bem ou não. O vestido de cetim com listas verdes e douradas em estilo egípcio não era uma das suas melhores escolhas. A chuva repicava contra os vidros da janela e contribuía para a penumbra da estreita sala de


estar. Havia demasiados móveis naquele pequeno espaço e Sara tinha sempre receio de, sem querer, derrubar algo com um giro imprudente ou ao estender uma mão. Os cinco relógios da sala começaram a dar horas e Evangeline deu um salto. Sara pousou a chávena. – Parece um pouco distraída, Evangeline. A chávena de chá de Evangeline tilintou no pires. – Acha? – Esboçou um sorriso forçado. – Talvez se deva ao facto de estar à espera que o meu marido chegue a qualquer momento. Vamos ter um hóspede. – Podia ter-me dito que o momento não era o mais oportuno. Posso voltar outro dia. – Oh, não, não. A Sara é sempre bem-vinda. – Mordeu o lábio e olhou furtivamente para a porta. – Sabe, não estou acostumada a ter estranhos em casa. Sabe Deus o que o homem comerá. – Talvez possa perguntar-lhe quando chegar – sugeriu Sara amavelmente. – Nem sequer sei se fala inglês! – Evangeline parecia estar à beira das lágrimas. – Às vezes, é difícil fazer de conta que sei como uma senhora deve atuar em cada situação. Oxalá nunca tivesse tentado melhorar a minha situação social. – Se desejar, posso esperar até que ele chegue. – Sara tentava não parecer muito ansiosa. – Sei falar francês, alemão e um pouco de espanhol. Por certo ele saberá alguma destas línguas. Evangeline encostou o seu lenço de renda aos olhos. – É muito simpático da sua parte, mas Sir Richard foi bastante firme ao avisar que eu não deveria falar a ninguém sobre o nosso visitante. Ai, meu Deus! – Os seus olhos escancararam- se ao olhar fixamente para Sara. – Não dirá a ninguém, pois não? Sara lutou contra um impulso de rir. – Claro que não. – Adicionou mais açúcar ao chá. Ocorreu-lhe que poderia tirar partido daquela situação. Evangeline estava bastante envolvida na gestão diária das empresas navais de Sir Richard. – O Valentin tem um empregado que fala vários idiomas, para este tipo de emergências. Creio que a senhora e Sir Richard até o conhecem. É um tal de Alex Long. – Não me recordo desse nome. – Evangeline franziu a testa. – E, como lhe disse, estou certa de que Sir Richard não iria gostar que eu me envolvesse com nenhum dos empregados de Valentin. – Creio que Mister Long foi empregado de Sir Richard. Tenho a certeza de que será discreto. Evangeline suspirou. – Se a situação se tornar desesperada, mencionarei Mister Long, mas duvido que Sir Richard queira lidar com um empregado de Valentin. Obrigado pela intenção, Sara. É uma boa amiga. – Ficou imóvel quando o som inconfundível da aldrava da porta ecoou pelas escadas – Devem ser eles. Acho que é melhor lá ir e ser amável. Sara levantou-se também. – Tenho a certeza que tudo irá correr bem. Evangeline surpreendeu-a com um abraço. – A Sara é um encanto. Agora deixe-me acompanhá-la até à sua carruagem. Quando desceram as escadas, o vestíbulo estava repleto de caixas e de criados e Evangeline parou para organizar a bagagem, deixando Sara em liberdade para se aproximar da porta entreaberta do escritório de Sir Richard.


Uma risada efusiva, que só podia pertencer a Sir Richard, ecoou pelo escritório. Ela apurou os ouvidos para escutar a resposta do seu convidado, mas não foi capaz de reconhecer o sotaque do interlocutor. Quando a porta se abriu de repente, ela voltou para o vestíbulo o mais rapidamente que conseguiu. – Ora, Lady Sokorvsky, que prazer! – Sir Richard aproximou-se dela e pegou-lhe na mão. – Acaba de chegar ou já vai? Antes que Sara pudesse responder, Evangeline apareceu ao lado dela. – A carruagem de Sara está à porta neste preciso momento! – Apontou para o escritório e sussurrou: – Está ali dentro? Sara notou o sobrolho enrugado de Sir Richard ao voltar-se para a esposa. – Sim, querida, o nosso hóspede chegou. – Apontou para Sara. – Talvez queiras despedir-te de Lady Sokorvsky e depois vir cumprimentá-lo. Na companhia de Evangeline, Sara saiu pela porta principal e desceu as escadas. Quando entrava na carruagem, Evangeline gritou de repente: – Ah, mas que tola eu fui. Sei o que dar ao homem para comer, Sara, ele é da Turquia! Deve gostar de arroz à la turca, não é verdade? Com um último aceno, Sara acomodou-se na carruagem para meditar sobre a informação que tinha reunido. Sir Richard tinha uma visita da Turquia. Seria apenas coincidência o facto de querer manter o seu hóspede em segredo? Sara não acreditava. Reclinou-se contra o cómodo assento e sorriu. Mal podia esperar para contar a Valentin. Valentin entregou o chapéu e as luvas a um dos discretos criados da Madame Helene e dirigiuse ao salão principal. Como era de esperar, havia pouca atividade àquela hora do dia. Sorriu quando Madame Helene se aproximou para cumprimentá-lo. Envergava um vestido de seda dourado e vermelho que combinava com a luxuosa decoração da sala. Questionara-se muitas vezes como uma mulher bonita e independente acabara como proprietária de um estabelecimento daqueles. Porém, valorizava demasiado a sua amizade para perguntar. Quando Peter o levou pela primeira vez à Casa do Prazer, Valentin tinha ficado agradecido por encontrar um lugar em que pudesse satisfazer o seu voraz apetite sexual de maneira simultaneamente discreta e sensual. Observou o corredor mal iluminado no outro extremo do salão que conduzia ao interior da casa. Os quartos do outro lado pareciam encerrar as sementes da excitação sexual nas suas paredes. – Valentin, é um prazer ver-te. Procuras o Peter? Ele sorriu para aquele rosto em forma de coração emoldurado por densos caracóis louros. Que idade teria? Ninguém sabia ao certo. Celebrava o seu nascimento no Dia da Bastilha e insistia que não se recordava de quando era o verdadeiro dia do seu aniversário. Valentin suspeitava que ela tivesse perdido a família durante os dias de terror em França. – Boa tarde, Helene. Beijou-lhe a mão. Tinha sido a sua primeira amante na Casa do Prazer. Haviam partilhado uma memorável noite durante o seu primeiro ano de confusão, logo depois de ter regressado da Turquia. A energia dela tinha estado à altura da juventude dele e a sua técnica e criatividade tinham-no superado. Decidiram então separar-se, sabendo que eram demasiado parecidos para


alguma vez poderem ser um casal estável. – Não estou à procura do Peter. Fiquei de me encontrar aqui com Lady Caroline. Helene enrugou o sobrolho. – Creio que ela se encontra novamente no quarto egípcio. – Olhou para Val com um olhar inquisitivo. – Esperava que o teu casamento te ajudasse a afastares-te de Lady Caroline. Valentin sorriu. – Estás a dar-me conselhos, Helene? Nem parece teu. Na verdade estava surpreendido. Desde que a conhecera ela nunca tinha feito comentários sobre os seus excessos sexuais ou sobre a sua estranha relação com Peter. Ela não se inibiu com o olhar dele. – Não gosto de Caroline Ingham. Ela não te merece. O sorriso de Valentin desapareceu. – Eu sei. Porque achas que estou aqui? – Espero que seja pelas razões certas, meu amigo. – Assim é. E que outras razões poderiam existir? Ele beijou os dedos de Helene e dirigiu-se apressado para as traseiras da casa. Sabia muito bem onde ficava o quarto egípcio pois tinha-se divertido aí em anos anteriores. Ao caminhar, imaginava Sara vestida de escrava egípcia e via-se a estalar os dedos para ela. Ela viria ao chamá-la ou sacudiria a cabeça e partiria? O seu débil sorriso desapareceu ao abrir a porta e avistar Caroline. Esta encontrava-se deitada sobre uma mesa de pedra. O quarto estava decorado como um templo egípcio, com estátuas de mármore, palmeiras e um altar de sacrifício. O corpo nu de Caroline jazia descoberto enquanto três homens vestidos de escravos massajavam a sua pele com óleo e um quarto homem se encontrava ajoelhado entre as suas coxas e movia a boca pela sua vagina depilada. Valentin encostou-se à porta e contemplou aquela cena erótica. Apesar dos gemidos e suspiros de Caroline, a sua mente permanecia indiferente; o seu pénis não se excitava. – Preferes que espere até que tenhas terminado, Caroline? A sua fria pergunta fez com que ela se sentasse, desalojando as mãos sobre os seus seios e o homem entre as suas pernas. – Valentin? Já aí estás? – Mordeu o lábio inferior e passou lentamente os dedos sobre os seios oleados enquanto se voltava para ele. – Queres ajudar-me a despachar? Valentin olhou para o relógio antes de o guardar no bolso. – Talvez fosse melhor despedires-te destes homens. Não tenho muito tempo hoje. Ela fez beicinho enquanto os homens desapareciam. Pegou num lençol de seda e enrolou-o em volta dos seus proeminentes seios. – Porque desejas falar comigo? Esperou ter toda a sua atenção antes de tirar um estojo de joias do bolso e lho mostrar. – Tenho a certeza que sabes. Por isso me evitaste durante as últimas semanas. Caroline arrebatou o estojo da sua mão estendida e abriu-o. Gritou ao ver o colar de diamantes que continha. – Creio que, ao terminar uma relação, é habitual oferecer à ex-amante uma pequena bugiganga para suavizar o golpe. Espero que seja suficiente.


– Porque desejas terminar a nossa relação? – Caroline parecia verdadeiramente estupefacta. – Porque tenho uma esposa. – Mas, porque haveria isso de te deter? Todos sabem que ela se casou contigo pelo dinheiro. Por certo não esperará que lhe sejas fiel. Valentin sorriu. – Não sei. Tudo o que sei é que tento ser-lhe fiel. A expressão de incredulidade de Caroline parecia brilhar de raiva. – Isso é ridículo! És incapaz de ser fiel. Valentin desencostou-se da porta. – Isso ainda está por provar. – Fez-lhe uma vénia e dirigiu-se para a porta. – Desejo-te boa sorte, Caroline. Ela esforçou-se para ficar de pé, mas não parava de tropeçar no lençol que tinha em volta do corpo. – Não esperes que te aceite de volta quando te cansares dessa rameira de origens humildes! – Confia em mim, não o farei! Fechou a porta no mesmo instante em que um frasco de óleo se precipitava na sua direção, seguido de um grande alarido de raiva. Os seus gritos aumentavam de volume enquanto ele avançava pelo corredor. Esperava que os homens do quarto egípcio não interrompessem a birra de Caroline, pois ela conseguia ser bastante destrutiva quando a isso se dispunha.


12 ara sorria a Valentin enquanto ele lhe tirava a capa e a entregava ao criado. O enorme vestíbulo da casa do embaixador russo estava repleto de convidados. Valentin envergava um casaco azul e um colete cinza bordado. Centenas de velas iluminavam-lhe o cabelo escuro apanhado atrás com uma estreita fita púrpura. Ele fitou-a e ela arqueou uma sobrancelha. – Aconteceu alguma coisa? – Não, admirava apenas o teu casaco novo. É muito bonito e combina bem com o meu vestido. Valentin inclinou-se para lhe pegar na mão. Havia um brilho lascivo nos seus olhos violeta. – Tens razão, não o tinha notado. Estava demasiado ocupado a admirar os teus seios e a perguntar-me quando poderia chupá-los. Sara inspirou ao mesmo tempo que os seus mamilos endureciam sob o olhar atento de Valentin. Ele sorriu. – Olha, acredito que desejam a minha boca neste preciso instante. Talvez não espere até chegarmos a casa. – Valentin. – Sara pegou na saia e dirigiu-se para o salão de baile. – Prometeste portar-te bem esta noite. Puxou-a pelo braço e afastou-a do amontoado de pessoas até que ficaram na penumbra da enorme escada circular. Encostou-a contra a parede revestida com painéis de carvalho. – Estou a portar-me mal? – Ansiei por este baile e agora só consigo pensar em fazer amor contigo. Valentin prendeu-lhe uma madeixa do cabelo encaracolado atrás da orelha. – E por que razão é esse um pensamento tão terrível? – Porque às vezes parece-me que és capaz de me consumir e que um dia posso acordar e descobrir que te foste embora. A expressão de Valentin era séria. – Não tenho a menor intenção de te deixar, minha querida. – Deslizou a ponta do polegar por entre os dentes dela. – Quanto ao querer consumir-te, isso já é outra questão. Poderia, sem qualquer problema, jantar o sabor da tua boca e do teu sexo durante o resto de minha vida. Isso assusta-te? Sara observava-o. Não tinha negado que desejava possuí-la por completo. Deveria sentir medo pela força do desejo que ele sentia por ela? Às vezes era avassalador perceber que o seu corpo lhe obedecia sem hesitações. Tinha lutado com todas as suas forças para evitar um casamento convencional e aborrecido e, em troca, encontrava-se num torvelinho de emoções que às vezes temia não conseguir controlar. A respiração de Sara era trémula. – Porquê eu, Valentin? Comparada com todas as demais mulheres com as quais dormiste, sou demasiado inocente. Ele beijou-a suavemente na boca e afastou-se.

S


– Mas a inocência em si mesma é uma armadilha, não achas? O desejo de ser o primeiro homem a ensinar-te tudo sobre sexo era impossível de resistir. – Ignorando os restantes casais que passavam pelo corredor lotado, Valentin continuava a observar-lhe o rosto. – Então, desejavas nunca me ter conhecido? Ela acariciou-lhe o rosto. – Claro que não. – Tentava sorrir. – Só que, às vezes, sinto que é tudo muito rápido e irreal. Há três meses sabia apenas o teu nome e agora... – E agora estás casada e envergonhada porque aprecias o que fazemos juntos na cama. Ela apertou-lhe o braço e sentiu a firmeza da rigidez do músculo por baixo do tecido. – Não, não estou envergonhada. – Prova-o. Diz-me algo terrivelmente delicioso e pecaminoso que gostasses de me fazer. Ela mordeu o lábio inferior. Seria suficientemente ousada para dizer o que desejava na verdade? O sorriso dele cresceu. – Estás com medo, minha menina? Aquela provocação deu-lhe a coragem que lhe faltava. – És incorrigível. Um dia gostaria de te amarrar à cama e fazer o que quisesse contigo. O brilho de excitação nos olhos dele foi seguido por um sorriso suave. – Não acho que sejas forte o suficiente para me amarrar. – Recuou um passo. – Não tenho a certeza que te deixaria fazê-lo. Havia uma ameaça por trás daquelas palavras despreocupadas. Sara havia esquecido os anos que ele passara como escravo. – Perdoa-me, Val... Ele tocou-lhe no queixo e levantou-lhe a cabeça. – Nunca peças desculpa por partilhares comigo as tuas fantasias. Também pode haver coisas que deseje compartilhar contigo e que talvez tu não queiras fazer. – Desta vez o sorriso dele era perfeito. – É por essa razão que se chamam fantasias, querida. Nunca devemos confundi-las com a realidade. Colocou-lhe a mão enluvada sobre a sua manga e conduziu-a de volta pelo torvelinho de gente. Ela desejava gritar de frustração enquanto ele lhe sorria, o convidado perfeito para um baile de sociedade. – Agora, vamos dançar e divertir-nos. – Lady Sokorvsky, posso roubar-lhe um pouco do seu tempo? Sara afastou-se do espelho e viu Lady Ingham perto dela. – Parece que estamos destinadas a encontrar-nos nos quartos de descanso. – O comentário de Sara não foi recebido com sorriso por parte da sua companheira. – Em que posso ajudá-la? Sara deixou que Caroline a levasse até ao canto mais retirado da sala e sentou-se junto dela. Durante alguns instantes, a sua companheira limitou-se a olhar para as suas mãos apertadas. Por fim, levantou o olhar para o rosto de Sara. – Não sei muito bem como dizer isto. Sara esboçou um sorriso tenso.


– Dizendo, creio que é quase sempre a melhor maneira. – Valentin foi encontrar-se comigo hoje na Casa do Prazer da Madame Helene. Sara tentou manter uma expressão de interesse enquanto aquela informação lhe revoltava o estômago. – Pensei que Valentin desejava terminar a nossa relação. – Caroline desviou o olhar. – Ele deve-lhe ter contado que fui sua amante durante alguns anos. Desde que a conheci, tentei afastarme do caminho dele, com o intuito de diminuir o desejo dele por mim. – Suspirou. – Parece não ter funcionado, disse-me que desejava continuar a nossa relação e que a senhora não se importaria. Sara lutou contra o desejo de gritar um desmentido. – E se assim fosse? – Se assim fosse, queria recordar-lhe que a decisão dele lhe deixa a alternativa de procurar o seu próprio amante. Eu não desejaria ser uma dessas mulheres que se riem da pobre esposa nas suas costas. – Caroline inclinou-se para a frente e deu uma palmadinha na mão de Sara. – Já foi bastante cruel quando Valentin e os seus amigos fizeram uma lista de todas as características que um homem desejaria encontrar numa esposa condescendente. – O seu olhar voltou a fixar-se em Sara. – E logo depois apareceu consigo. Nunca acreditei que executaria o seu plano e contrairia matrimónio com uma mulher que poderia não compreender como funcionam os casamentos da sociedade. A expressão de Caroline suavizou-se. – Eu desejava ter a certeza de que você compreendesse que, se não lhe agradar Valentin e o seu estilo de vida libidinoso, há sempre outros homens que poderiam ser mais do seu agrado. Sara retirou a mão e lutou contra o impulso de fechá-la num punho. – É muito amável da sua parte partilhar comigo as suas preocupações. Assegurar-me-ei de o dizer a Valentin. Caroline sorriu. – É muito corajoso da sua parte, minha querida. Às vezes, é melhor chegar a um acordo nestas questões do que andar às escondidas, não acha? – Levou as mãos ao pescoço, onde um bonito colar de diamantes brilhava sob a luz das velas. – Valentin ofereceu-mo hoje. Talvez lhe deva exigir um parecido, se estiver de acordo em ser uma esposa complacente. Lançou um sorriso conspirativo a Sara e levantou-se. Sara fez o mesmo, com uma expressão serena, apesar da fúria das suas emoções. A sua satisfação a respeito da confissão anterior de Valentin desapareceu. Talvez tivesse optado por lhe dizer que desejava ficar com ela para sempre por alguma razão. Estaria a tentar uni-la a ele de maneira mais íntima para que não se queixasse quando se deitasse com outra mulher? Pensaria mesmo que ela seria uma esposa condescendente ou Lady Caroline estaria apenas a semear a discórdia? Sara fechou o leque de repente e deixou que Peter a acompanhasse à sala de jantar. Valentin quase não se afastara dela em toda a noite e a maioria dos convidados havia sido extremamente simpática com ela. Tinham prometido convidá-la para os festejos mais exclusivos da alta sociedade e parecia que os intentos de Valentin de ser visto com ela davam frutos. Ele parecia não notar o seu humor e o seu comportamento era tão encantador e descontraído como sempre. Ela nunca se dera conta de que falava russo e francês fluentemente. Outra faceta


refinada da sua personalidade que ela ainda tinha de explorar ou compreender. Se não fossem as suas preocupações sobre os negócios dele e os comentários mal-intencionados de Lady Caroline, até seria capaz de se divertir. Peter conduziu-a até uma mesa vazia na qual se encontrava Valentin com Evangeline Pettifer. – Ah, aqui está ela. Sara! – gritou Evangeline. – Estava agora mesmo a perguntar a Valentin se queria juntar-se ao nosso pequeno grupo, mas ele disse que estava à sua espera. – Ignorando o sobrolho franzido de Valentin, Evangeline deu o braço a Sara e levou-a para o outro lado da sala. Sem poder fazer nada, Sara olhou para Valentin, que continuava com a testa franzida. – Trouxeram o vosso convidado ao baile, Evangeline? – perguntou Sara enquanto Peter e Valentin a seguiam. – Sim, trouxemos. – Evangeline esticou o pescoço para espreitar em redor de Sara. – Embora não faça ideia para onde ele foi. Por sorte, parece que se sente bastante à vontade entre todos estes estranhos. Olhe, ali está ele. Sara soltou-lhe o braço. De repente, deu-se conta de que Valentin ficara estático atrás dela. Virou-se, esperando vê-lo a confrontar o pai, mas o homem que estava frente a ele era um estranho. Vestia um casaco bege e um colete creme com rosas bordadas, um contraste perfeito para a sua pele escura, olhos castanhos e maçãs do rosto salientes. As mãos enluvadas de Valentin fecharam-se em punhos enquanto o homem fazia uma vénia. – Valentin, que surpresa encantadora! Sara aproximou-se com o olhar fixo em Valentin. O rosto dele estava desprovido de emoções. – Conheço-o? A sonora risada do homem preencheu o espaço entre eles. – Como poderia ter-me esquecido? Fomos em tempos tão... próximos. Peter avançou para deter Valentin e inclinou a cabeça. – Eu recordo-me de si, Aliabad. O que não compreendo é como um homem da sua laia conseguiu entrar neste baile. – Ora, Peter, podes continuar a chamar-me Yusef. – O seu olhar de pálpebras pesadas permanecia fixo em Valentin. – Nunca houve muitas formalidades entre nós. E, relativamente ao que faço aqui, integro o comité da embaixada turca em Londres. – Levou um lenço de renda aos lábios e limpou-os com alguns toques suaves. – Emendei-me e prosperei nos últimos dez anos. Sara estava suficientemente perto de Valentin para sentir que ele tremia ao olhar para Yusef. Ela tocou-lhe na mão e ele afastou-se. – Então já não é do seu agrado comprar e maltratar escravos? – O comentário desdenhoso de Peter pareceu não perturbar a calma de Aliabad. – Como te disse, mudei. – Olhou de novo para Valentin. – Tens a certeza que não te lembras de mim? – Aproximou-se mais. – Se passássemos algum tempo juntos, estou certo que as recordações poderiam voltar. Valentin inclinou a cabeça, comportando-se como um aristocrata. – Duvido. Quase nunca me dou ao trabalho de revisitar o meu passado. Acredito que o futuro é bem mais gratificante. – Colocou a mão de Sara sobre o seu braço. – Desejo-lhe uma boa noite. A viagem de volta para casa não foi coroada pelo habitual humor e promessa de sexo a que Sara se habituara. Valentin não lhe dirigiu uma única palavra. O seu olhar estava fixo no céu


noturno do outro lado da janela da carruagem. As palavras de Lady Ingham sobre a escolha de esposa de Valentin e a sua decisão de ter uma amante ressoavam na sua mente e mantinham-na tão calada quanto ele. Como podia ela perguntar-lhe o que se passava quando era possível que ele tivesse decidido contrair casamento com ela pelas razões mais cínicas? Observou o seu perfil austero enquanto a carruagem parava. Talvez estivesse mais disposto na cama. Deu-lhe a mão para descer da carruagem e conduziu-a até ao vestíbulo. Antes que ela pudesse falar, beijou-lhe a mão e disse: – Tenho trabalho para fazer. Não me esperes acordada. Aquela frieza abateu-se sobre ela enquanto Valentin se afastava e fechava a porta do escritório. Depois de um descanso agitado, Sara não suportou mais. Vestiu o roupão e, com uma escova, tirou o cabelo despenteado dos olhos. Já passava das três da manhã. Talvez Valentin fosse capaz de deixar as coisas como estavam, mas ela não podia. Sempre que fechava os olhos, imaginava Valentin com Lady Ingham, ou, pior, a expressão de repugnância no seu rosto quando viu pela primeira vez o intermediário turco. Encontrou Valentin no escritório. Estava recostado no divã de couro, com uma perna fletida. O casaco e o colete tinham sido despidos e atirados de maneira displicente para as costas do banco comprido, adicionando um apontamento de cor sobre o pálido couro castanho. Havia uma garrafa meio vazia de brande no chão, junto a ele, e dos seus lábios pendia um charuto. Numa mão sustentava um livro e na outra o seu pénis ereto. Sara acompanhou o lento deslizar da mão dele sobre a carne dura, as pérolas de líquido acumulavam-se na ponta. – O que estás a ler? – Agachou-se no chão junto ao divã. Valentin não deixou de acariciar-se nem tirou os olhos do livro. – Um tratado fascinante sobre as lendas sexuais dos deuses da Índia. – Apoiou o livro aberto sobre o peito e apagou o charuto no cinzeiro. Sara ajoelhou-se e endireitou o livro. A gravura mostrava quatro homens enredados com duas mulheres. Estas tinham múltiplos anéis que lhes perfuravam os mamilos, o nariz, as orelhas e o umbigo. Sara inclinou a cabeça no esforço de compreender exatamente aquilo que estava a ver e corou. – Entendo. Ambas as mulheres cuidam dos quatro homens. Valentin apertou a base do pénis e bombeou de forma mais enérgica até que os seus dedos ficaram pegajosos e cobertos pelo fluido. – Uma vez tentei, mas não me pareceu muito divertido. Sara fechou os dedos sobre os de Valentin e ele deixou de movê-los. – Porque não vens para a cama e deixas que eu te toque? Achas que não sou capaz de te satisfazer? Ele sorriu sem humor enquanto voltava a abotoar as calças. – Faço isto quase todas as noites. Não te tinhas apercebido? Gozo sempre algumas vezes antes de ir para a cama contigo, para poder agir como um cavalheiro. Sara lutou para controlar um acesso de mau humor. – Alguma vez te pedi que o fizesses? Achas que sou muito fraca para aguentar as tuas


verdadeiras paixões? Valentin sentou-se e tirou o livro do peito. – Agrada-me o sexo, Sara. Agrada-me muito. Não espero que aguentes as minhas exigências excessivas. O relógio do corredor dava o quarto de hora. O som ecoava pela casa silenciosa. – Imagino que o teu estado de embriaguez não tem tanto a ver com o que pensas de mim como amante, mas sim com a tua reação ao homem que conhecemos esta noite. Valentin encolheu os ombros. – Que homem? Conhecemos muitos. – O cavalheiro que vinha com a delegação turca. Mister Yusef Aliabad. Conheceste-o quando foste escravo? Valentin tirou as pernas do sofá. – Não é da tua conta. – Enrolou uma madeixa de cabelo dela nos dedos. – E estávamos a falar sobre o meu desejo pelo sexo, não de fantasmas imaginários do passado. – Puxou-lhe o cabelo. – Se te incomoda encontrar-me a masturbar, posso sempre procurar uma amante. Sara afastou-se dele com uma careta de dor pois o seu cabelo estava preso nos dedos de Valentin. – Sempre pensei que já tinhas uma. Valentin arqueou uma sobrancelha. – Uma vez mais, não é da tua maldita conta. – É da minha conta, se a tua amante me oferecer conselhos. – Sara levantou-se com dificuldade. Sentia um nó na garganta e vontade de chorar, mas conteve as lágrimas. Ele ainda tinha o descaramento de rir. – O que te disse exatamente Lady Ingham? Então ele sabia a quem ela se referia. – Falou-me sobre a lista que tu e os teus amigos fizeram sobre a esposa perfeita. É verdade? – Houve uma lista, sim, mas... Sara interrompeu-o: – Também me recomendou que superasse os ataques de mau humor por continuares a ter uma amante e que desfrutasse da liberdade que me ofereces. Valentin sentou-se direito e pegou no livro, fechando-o de repente. – E achaste que ela falava em meu nome? – Não sou estúpida, Valentin. Sei que a maioria dos casamentos de sociedade se realiza por razões económicas ou por uma posição na sociedade. Lady Ingham só salientou que não tinhas a menor intenção de mudar o teu estilo de vida por causa de mim. – Mas eu não casei contigo para obter vantagem social ou um qualquer benefício, não é verdade? – recordou-lhe em voz baixa. Ela observava-o através de uma neblina de lágrimas acumuladas. – Não, casaste-te comigo porque me cruzei no teu caminho e tinhas uma dívida para com o meu pai. – E não és feliz com a tua opção? Ofereci-te um título, o direito a entrar na alta sociedade e uma educação sexual sem igual. Não é suficiente para ti?


As unhas dela cravaram-se na palma das suas mãos. – Também não me casei contigo por causa dessas coisas, Valentin. Ele passou a mão pelo cabelo despenteado. – Então deves dar-te conta que acreditar nas palavras de Lady Ingham é uma perda de tempo. – Talvez tenhas razão, mas ela lembrou-me que, se permitisse que tivesses as tuas pequenas aventuras, tu me retribuirias o favor. – E que diabo quer ela dizer com isso? Sara alegrou-se ao ver que o sorriso dele desaparecia dando lugar a um semblante carregado. Ele mudou de posição e ela recuou, fazendo a sua melhor vénia. – Vou para a cama, como deve fazer uma boa esposa. Caso desejes acompanhar-me, faz favor. Caso contrário, desejo-te uma boa noite com os teus prazeres literários e manda lembranças a Lady Ingham. Diz-lhe que decidi seguir o seu conselho. Precipitou-se para a frente, tirou-lhe o livro da mão e atirou-lho diretamente à cabeça. O orgulho levou-a de volta para o quarto. Só então deu vazão às lágrimas que tinha escondido desde o catastrófico baile. Saltou para a cama e puxou as mantas até ao queixo. Por cima dela, à luz da vela, brilhavam os fios prateados da pluma bordada do cisne da família Sokorvsky. Devia estar grata a Lady Ingham por se ter dado ao trabalho de a desenganar da ideia de que Valentin gostava dela antes de ter confessado o seu amor por ele. A ideia de que ele e os seus amigos haviam elaborado uma lista com as qualidades exigidas a uma esposa condescendente provocava-lhe náuseas. O facto de ele acreditar que ela preenchia os requisitos fazia-a sentir-se fisicamente doente. Acreditaria mesmo que ela se casara com ele para obter algum benefício social? Não entendia que havia despertado nela todos os desejos escondidos? Presumia que ele se tivesse apercebido disso pelo seu comportamento libertino na cama, ou seria que todas as mulheres lhe correspondiam dessa maneira? Uma onda de ciúmes cresceu no seu peito e envolveu os braços ao redor do corpo. Os seus sonhos românticos sobre ser única e especial para ele esfumaram-se naquele instante e recusou-se a alimentar falsas esperanças. Continuaria a cumprir o seu dever para com ele e, depois, quando a dor no seu coração cessasse, também ela seria prática e, quem sabe, procuraria outro amante que a valorizasse. Faltava-lhe a coragem só de pensar em tal coisa, mas incentivou-se. A culpa era sua, havia-lhe implorado que casasse com ela e ele devia ter acreditado que ela estava suficientemente desesperada para aceitar qualquer coisa e assim obter um título. Uma lágrima deslizou pela sua face e aterrou no travesseiro. A mãe sempre lhe dissera que tivesse cuidado com aquilo que desejava. Não podia permitir que Valentin se desse conta de quanto a tinha magoado. Sem dúvida que as suas expectativas relativamente ao casamento não eram as mesmas, e como poderiam ser? Ele era um aristocrata e ela a filha de um comerciante. No seu mundo valorizava-se o casamento e a fidelidade e olhavam-se com maus olhos os devaneios públicos. Só porque Valentin a incentivava a ser ela mesma, isso não significava que a amasse. Limpou outra lágrima. Era provável que ele tivesse apenas tentado mostrar-lhe que ela podia ter uma vida muito gratificante sem ele. No mundo de Valentin havia sempre outro baile e outra oportunidade de esconder os


sentimentos feridos por entre a multidão. Também existia sempre uma oportunidade para encontrar um novo amante. Sara apagou a vela e deitou-se de lado. Na verdade, tinha sido convidada para um baile na companhia de Evangeline e de Peter dali a dois dias. Seria uma ocasião perfeita para ocultar os seus verdadeiros sentimentos e talvez começar a sua própria busca. Na verdade, isso agrada-te, Valentin. Coloca o meu pénis na tua boca. Não tardarás a implorar por ele. Põe-te de joelhos e implora, implora como é próprio de um escravo. Valentin despertou com uma imprecação e deu por si no chão. Tentou não vomitar. O sabor asqueroso do seu velho pesadelo perdurava na sua boca. Sangue, sexo e dor. Nunca esqueceria essa combinação única de aromas e sensações. O prazer e a antecipação na voz de Yusef Aliabad junto ao ouvido de Valentin – demasiado perto, maldição. Dias intermináveis excitado e pronto, desesperado para encontrar alívio, odiando a sua falta de controlo. Também o temor e humilhação por não ter conseguido evitar que o seu corpo reagisse e desejasse, mesmo quando a sua mente gritava de horror. Tocou a cicatriz na nuca, escondida por baixo do seu comprido cabelo. Uma série de iniciais, gravadas a fogo na sua carne para todo o sempre. Não se incomodara de prestar serviços às mulheres. Em geral, eram fáceis de agradar e tinham-lhe ensinado muito sobre o prazer. Mas depois do primeiro homem tinha tentado fugir. Foi depois disso que Madame Tezoli lhe apresentou Yusef. Dissera a Valentin que ele precisava de aprender uma dolorosa lição e que Yusef ficaria muita satisfeito de lha ensinar. Os dedos de Valentin fecharam-se em redor da garrafa caída e deu um gole no brande. Há doze longos anos que não via Yusef pessoalmente, embora o bastardo visitasse frequentemente os seus pesadelos. Durante os dois anos em que fora obrigado a suportar as carícias de Yusef, estivera muito próximo do ponto de rutura. Só a vigilância constante de Peter lhe permitira manter a sanidade e a vida. Valentin estremeceu. Como tinha Yusef conseguido encontrá-lo? E, mais importante, porquê? Depois do primeiro segundo de incredulidade, Valentin tinha lutado contra a vontade de o estrangular com as suas próprias mãos. Pronunciando outra imprecação, sentou-se. Estava no escritório. Alguém tinha entrado ali, reacendido a lareira e ordenado alguns dos seus excessos. Uma dor de cabeça monstruosa martelava atrás das suas têmporas. Devagar, levou a mão à cabeça e encontrou um pequeno alto na têmpora. Colocou a garrafa vazia de brande no chão. O mais provável era que a criadagem imaginasse que Sara e ele tinham tido a sua primeira briga conjugal e que ele tinha perdido. Diabos! Sara tinha estado ali. Tinha-lhe atirado um livro à cabeça e ele estava demasiado embriagado para se esquivar. Desviou o cabelo dos olhos. Quando ela o confrontara, ele havia começado a magoá-la deliberadamente e sabia que tinha tido sucesso nos seus intentos. O olhar de Sara quando lhe revelou os mexericos da sua antiga amante tinham-no feito sentir-se mal. Ela esforçara-se para que confiasse nela e, como de costume, ele respondeu com outro golpe. Gemeu e o som ecoou na sua cabeça. Que ninguém insinuasse que o grande Valentin Sokorvsky


tinha aberto o seu coração a uma mulher e revelado os seus temores mais profundos. Ela tinha conseguido recuperar e afastou-se dele, com altivez. A compostura dela continuava a espantá-lo. O seu débil sorriso desapareceu. Tinha de lhe contar que a ridícula lista que havia elaborado com os seus amigos desaparecera da sua cabeça ao conhecê-la. Mais importante do que tudo, ela devia saber que Caroline já não era sua amante. O relógio do vestíbulo trovejou nove vezes. Valentin levantou-se a cambalear e procurou em vão o seu casaco. Voltou a atar a gravata e alisou o cabelo. Estava na hora de fazer algo que teria sido impensável há alguns meses. Tinha de subir, ficar apresentável e pedir desculpa a Sara. Ela não estava no quarto e não o esperava na sala de refeições. Negando-se a ceder à ansiedade, Valentin chamou a criada. – Sua senhoria saiu de manhã cedo para tomar o pequeno-almoço num evento ao ar livre em Strawberry Hill. – Obrigado, Sally. Valentin acenou com a cabeça para que a mulher se retirasse. Parecia que afinal Sara não estava a evitá-lo. Quem podia culpá-la por assistir às suas obrigações sociais sem ele? Terminou o pequeno-almoço e olhou para a cadeira vazia com o sobrolho franzido. De repente, sentiu-se incómodo no silêncio. Diabos! Continuava inquieto. Não era próprio de Sara recuar perante um desafio. Esperara encontrá-la à mesa, agitando bandeiras e com o mosquete preparado para continuar a batalha. Levantou-se com a intenção de vestir o fato de montar e ir atrás dela, mas, antes de chegar ao quarto, mudou de ideias. Tinha marcado uma reunião com Peter e com o seu banqueiro por causa da constante perda de ganhos do seu negócio, uma reunião que não podia esperar. O furto e a desonestidade tinham o condão de crescer a menos que fossem erradicados com uma eficiência implacável. Depois de trocar de roupa, desceu até ao vestíbulo e aceitou o chapéu e o casaco das mãos do mordomo. Subiu para a carruagem, agarrou nas rédeas e virou as costas ao caminho de Sara. Maldição! Ela estaria em casa à hora do jantar e nessa altura pediria desculpa.


13 alentin franziu a testa para o mordomo. – Como assim, sua senhoria saiu? Deviam informar-me quando ela chegasse! – Lamento muito, senhor, mas era a minha tarde de folga. – Bryson fez uma vénia, o seu rosto impenetrável. – Só percebi que sua senhoria tinha regressado a casa quando a vi voltar a sair. Valentin deu meia volta e subiu as escadas. Entrou no quarto de Sara e encontrou a criada a arrumar as roupas deixadas sobre a cama. Pegou nas meias de seda que estavam sobre uma cadeira. Um toque de rosas perfumava o ar e recordava-lhe a pele macia de Sara. – Onde foi a senhora esta noite? Sally quase deixou cair a pilha de objetos que levava para fazer uma vénia. – Creio que sua senhoria foi a um baile em Vauxhall Gardens com um grupo de amigos. – Fez outra vénia. – Senhor. Valentin dirigiu-se ao quarto de vestir. Sara evitara estar a sós com ele durante os últimos dois dias e ele ordenara-lhe que estivesse presente durante o jantar dessa noite. Dir-se-ia que estava a desafiá-lo. Então ela achava que divertir-se com amigos era mais importante do que jantar com ele? Enrugou a testa ao espelho. Estava a portar-se como um marido ciumento: uma sensação nova para um libertino como ele. Sara tinha todo o direito de passar a noite com quem quisesse. Atirou a meia para o chão. Raios! Ela devia tê-lo enfrentado. Nos breves momentos que lhe havia concedido nos últimos dois dias, agira como a esposa perfeita. O seu sorriso era sereno e cortês, mas a sua expressão distante era o suficiente para o fazer ranger os dentes. Costumava ser ele o perito em manter as pessoas à distância, não ela. Já tinha desistido dele? Estava disposta a entregá-lo a Caroline sem lutar? A ideia enfurecia-o. Procurou no armário até que encontrou um velho traje de dominó com uma máscara a condizer. Iria ao baile de máscaras e surpreenderia Sara. Talvez fosse mais fácil atrair a sua atenção num baile público do que em sua própria casa. Ao voltar ao seu quarto, viu algo colorido sobre o seu travesseiro branco. Caminhou até à cama e pegou no Livro Vermelho que Sara tinha ali deixado para ele. Folheou as páginas com rapidez até que encontrou a sua última anotação.

V

No baile de máscaras, serei anónima. Se encontrar um homem que deseje satisfazer algum prazer ilícito, talvez lhe deva permitir as liberdades que meu marido acha tão irresistíveis noutras. Talvez consiga compreender a atração do engano e comece eu própria a jogar o jogo. Sob o manto da escuridão, ou no meio da multidão, irá o meu amante procurar-me e conhecer-me ou outro encontrará aquilo que o seu coração deseja? Valentin leu aquelas palavras três vezes. Foi sacudido por um tremor de raiva possessiva.


Tinha desejado um desafio e ali estava ele. Sara pedia-lhe que fosse ao seu encontro ou estaria a oferecer-se a outro? As liberdades que ela fazia referência eram aquelas que ela lhe dera como marido ou aquelas que acreditava que ele procurava noutras mulheres? O seu pénis inchou de antecipação. O que quer que significassem aquelas palavras críticas, ia encontrá-la e mostrar-lhe por que razão ele era o único homem que detinha a chave do seu coração. Sara observava o espaço de baile através da estreita abertura da sua máscara prateada. Os jardins estavam repletos de gente naquela inesperadamente cálida noite de outono. Lanternas coloridas iluminavam aqueles que dançavam e ocultavam nas sombras os ocupantes das tendas mais isoladas. No ar havia um intenso aroma a vinho. Queria parecer-lhe que o anonimato de uma máscara encorajava as pessoas a baixarem os seus princípios e a comportarem-se de uma maneira menos própria. Voltou a olhar para Peter e para Evangeline que estavam sentados na tenda a terminar o jantar. A ponta do seu pé batia ao ritmo da música. – Misteriosa dama, posso convidá-la para dançar? Um homem alto, com um traje azul e uma máscara negra, fazia-lhe uma vénia. Por momentos, sentiu-se alarmada. Ele recordava-lhe Valentin. Pensar no seu irritante marido foi o suficiente para endireitar as costas e deixar de se perguntar se ele se importava o suficiente para vir procurá-la. – Seria um prazer. Conduziu-a para a pista, segurando-a com firmeza pela cintura. A sua boca carnuda desenhava um delicado sorriso. – Atrevo-me a dizer-lhe que está encantadora com essa fantasia. Sara olhou para o seu corpete de contas e para as finas camadas de seda que compunham as suas calças de harém. Evangeline tinha-lhe emprestado aquela fantasia. – Obrigada. Duvido que seja uma réplica exata do que aquelas senhoras usam na realidade, mas tinha de manter algum grau de dignidade. O cavalheiro riu, mostrando os seus dentes brancos. – Acho que tem toda a razão. Embora se diga que qualquer homem que se atreva a entrar no harém do sultão seja assassinado. Por isso, quem pode verdadeiramente dizer se a sua fantasia está correta ou não? Sara concentrava-se nos seus passos enquanto o seu companheiro a conduzia para a pista lotada. Quando a música terminou, ele fez uma vénia. – Aceita um refresco, minha senhora? Sara olhou em redor à procura do seu grupo, mas havia-o perdido de vista no meio da multidão. Logo se recordou que procurava uma aventura e colocou a mão sobre o braço do seu acompanhante. – Aceito, sim. Sara esperou num dos camarotes da parte de baixo que dava para a pista de baile enquanto o seu companheiro foi procurar as bebidas. A posição ligeiramente elevada do camarote permitialhe ver por cima da multidão que se empurrava. Os bailes de máscaras pareciam atrair todos os estratos da sociedade. Com o passar da noite, tornava-se cada vez mais difícil distinguir entre o comportamento dos níveis mais altos e dos mais baixos. Observou a fileira de camarotes em


frente. Tinha a estranha sensação de que a observavam. Uma sensação de mal-estar revolvia-se no seu ventre. Teria permitido que a sua natureza impulsiva a desencaminhasse? Sendo uma mulher casada, talvez devesse ter enfrentado Valentin e resolvido o problema antes de decidir imprudentemente embarcar na busca de um amante. Por outro lado, não era propriamente conhecida pela sua paciência, pois não? Se não tivesse tido tanta pressa em casar com Valentin nem sequer estaria ali. – O seu refresco. Sara deu um salto quando o seu companheiro mascarado regressou. Aceitou a bebida que ele lhe oferecia. – Parece um pouco ansiosa, senhora. A sua calma voz de classe alta fê-la sentir-se ridícula por aquela repentina inquietação. – Na verdade, amável senhor, nunca antes tinha estado num baile de máscaras. Sinto-me um pouco aflita. – É interessante o quão diferente as pessoas se comportam quando acreditam que estão incógnitas não é verdade? – Pousou o seu copo e foi sentar-se junto dela. Sara ficou tensa quando ele lhe pegou na mão. – Por exemplo, nunca me atreveria a tocá-la desta maneira se nos tivéssemos conhecido em circunstâncias mais formais. Sara deixou que ele lhe segurasse a mão enluvada e esperou para ver se o seu corpo respondia de maneira instantânea, como o fazia com Valentin. O rosto dele aproximou-se e os seus lábios tocaram os dela numa casta saudação. Sara fechou os olhos. Não sentiu nada. Seria bem mais fácil se fosse simplesmente uma mulher apaixonada que se excitasse com qualquer homem. Como iria vencer Valentin se ninguém se igualava a ele? – Senhor? Senhor? – Uma voz persistente atrás de Sara fez com que abrisse os olhos. – O que aconteceu, rapaz? – Pela primeira vez, havia um tom de irritação na voz do seu companheiro. – Tenho um bilhete para o senhor. Diz que é urgente. Algo sobre a sua irmã. – Mas eu não tenho irmã. Tens a certeza que é para mim? Sara suspirou de alívio quando o seu suposto pretendente saltou por cima da varanda do camarote e seguiu o rapaz pelo meio da multidão. Talvez ainda não estivesse preparada para desfrutar de uma aventura como tinha acreditado. Uma mão apertou com força a sua boca. – Não grite. Em desespero, Sara tentou mordê-la. O seu captor blasfemou numa língua estrangeira antes de a virar para que o olhasse. Tinha o rosto meio coberto por uma máscara de seda negra, mas Sara não teve dificuldade em reconhecer a deliciosa boca de Valentin nem o brilho dos seus olhos violeta através das aberturas da máscara. Lutou contra o desejo de se lançar nos seus braços. Uma persistente sensação de indignação recordava-a o que a tinha levado ao baile sem ele. Valentin destapou-lhe a boca e baixou o olhar. Sara mostrou-lhe o seu sorriso mais radiante. – Valentin, que surpresa tão encantadora! Vieste com Lady Ingham? A boca dele contraiu-se. – É claro que não. – Ah, então vieste conhecer outra mulher.


– Acho que podes dizer isso. – Um sorriso débil surgiu no rosto de Valentin. Sara ignorou o protesto traiçoeiro do seu estômago. – Bom, acho que devias ir, caso o meu pretendente volte. Não será agradável se tiver de lhe apresentar o meu marido. Valentin afastou um pouco e correu as cortinas da frente do camarote, isolando-os da multidão. – Ele não vai voltar. – O que foi que fizeste? – Nada de que me envergonhe. E tu? – Avançou para ela, com um passo decidido. Sara resistiu ao impulso de recuar. – Estava a divertir-me muito, até teres chegado. – Ai sim? – Valentin elevou-se por cima dela. – Então talvez precises que te recorde que és minha esposa. Sara levantou o queixo. – Pensei que tínhamos concordado que eu não me queixaria das tuas amantes. Porque haverias tu de te preocupar com os meus? – Eu não concordei com nada. És minha esposa, não preciso de nenhuma outra amante. A arrogância dele foi o rastilho para a ira de Sara. – Já te ocorreu que eu gosto de sexo e que talvez não sejas capaz de me dar o suficiente? Valentin agarrou-a pelo braço. – Não uses as minhas próprias palavras. Sara libertou o braço. Pela expressão da boca dele, dava-se conta de que tinha conseguido superar a sua habitual frieza sorridente. Teria coragem para o provocar ainda mais? Uma sensação de antecipação sexual desdobrava-se dentro dela. – Se tiver de te dividir com outras mulheres, deves-me a mesma cortesia. Ele riu sem vontade. – Eu não divido com ninguém. – Passou o braço em volta da cintura dela e aproximou-a do seu corpo. A boca de Valentin tomou posse da dela com uma intensidade brutal. Sara beijou-o, mordendo-lhe o lábio, cravando as unhas na suave pele da sua nuca e ele afastou-se olhando-a fixamente. – Caroline Ingham não é mais minha amante. – Verdade? Encontraste outra pessoa? Segurou-a com mais força. – Não preciso de mais ninguém, tenho-te a ti. – Mas garantiste-me que eu era incapaz de satisfazer os teus desejos. – Apesar de todos os seus esforços, a sua voz tremia. – Disseste que eu não era boa o suficiente. – Sara, eu estava bêbedo e disse uma quantidade de coisas incrivelmente estúpidas e irrefletidas, mas nunca disse que não eras suficientemente boa. Ela fitava-o com fúria. – Foi o que deste a entender. – Então sou um imbecil. – Passou o polegar pelo lábio inferior. – Talvez possamos chegar a um acordo. Sara olhou o seu lábio inferior inchado e desejou voltar a mordê-lo, para provar o seu sangue e


obrigá-lo a reagir. Os dedos dele subiram-lhe pela cintura para lhe acariciar a parte inferior do corpete bordado. – Se estás decidida a continuar com esta questão, eu ensinar-te-ei exatamente o que necessito de uma amante e poderás decidir se desejas ser essa mulher ou não. – E se eu disser que foste longe de mais? Os dedos dele foram repousar nos seus seios. – Então podes dizer-me que desejas ir para casa e eu levar-te-ei, mas perderás o direito de te queixares se eu tiver uma amante. – E tu perderás o direito de te queixar se eu também tiver um amante. Os lábios de Valentin curvaram-se. – De acordo. Sara puxou-lhe a cabeça para lhe dar outro beijo ardente. O seu corpo já estava excitado devido à provocadora sugestão de passar uma noite de paixão sexual desenfreada. Os dedos de Valentin deslizaram para o interior do corpete e puxaram o anel do mamilo enquanto a outra mão lhe apalpava as nádegas. Estava excitado. O seu pénis irradiava calor contra a fina seda das suas calças de harém. Sara gemeu quando ele lhe arqueou as costas sobre o braço e lhe chupou o mamilo. Nas mãos habilidosas de Valentin, esqueceu-se da multidão do outro lado do camarote e do homem que, momentaneamente, lhe havia despertado algum interesse. – Ah! És tu, Val. – Nem o som de alívio na voz de Peter envergonhou Sara. Valentin colocou-a diante dele; as suas mãos ainda lhe tocavam o mamilo exposto. Peter lambeu os lábios e o seu olhar dirigiu-se para os seios de Sara. – Desculpa, estava preocupado com Sara e não sabia que ela estava contigo. – Ainda bem que vieste procurá-la, Peter – disse Valentin –, mas ela está bastante segura. – Estou a ver que sim. – Peter piscou o olho a Sara. – Queres que garanta que ninguém vos incomoda? – Seria muito amável da tua parte, Sara e eu temos algo para discutir antes de continuar com a diversão da noite. Peter fechou a porta e deixou-os sozinhos enquanto ela sorria com desconfiança para Valentin. – O que desejas exatamente discutir? Valentin encostou-se à porta com os braços cruzados. – Diz-me, porque decidiste vestir-te como uma escrava turca? – A fantasia foi um presente. – Sara cruzou as mãos sobre o corpete num gesto protetor. – De quem? – De Evangeline Pettifer. Porquê? Valentin endireitou as costas. – Não achas estranho ela ter-te dado uma fantasia que poderia trazer-me lembranças desagradáveis? Sara mordeu o lábio e passou os dedos pelas calças de seda. – Ofende-te? Observou-a com uma expressão pensativa. – É provável que fosse essa a intenção, mas já sou suficientemente crescido para ignorar a


provocação. – Não pensei que... Valentin levantou a mão. – Preferia saber o que estavas a pensar quando permitiste que aquele homem te beijasse. Os dedos de Sara fecharam-se em punhos. Olhava para Valentin com uma expressão insolente. – Queria saber se ele me fazia sentir como tu. Ele aproximou-se mais até que a seda negra do seu traje de dominó roçou o braço nu de Sara. Apesar da proximidade, a voz dele mal se ouvia. – E? – E o quê? Ela estremeceu quando ele lhe agarrou o queixo com os dedos fortes. – Excitaste-te? Pensaste em abrir mais que a boca para ele? Ali estava de novo. Uma centelha de perigo e de paixão profunda sob o seu sorriso débil. – Sou tua esposa. Valentin sorriu. – Alegra-me saber que te lembras disso porque, como teu marido, tenho o direito de... te castigar quando te portas mal. – Sentou-se numa cadeira no centro do camarote e pegou na mão de Sara. – Disseste que podia tratar-te como me agradasse esta noite? Sara mal teve tempo de anuir com a cabeça antes de ele a puxar pelo pulso e a debruçar sobre o seu colo. O rosto dela aquecia enquanto olhava o chão. Ficou tensa quando o ar frio subiu pela parte traseira das suas pernas. Apesar dos seus esforços para se libertar, Valentin segurou-a com firmeza, pressionando-a contra o seu colo. – Desejei fazer isto desde o primeiro dia em que te vi. Ele baixou-lhe as calças e acariciou-lhe as nádegas nuas com a mão sem luva. Sara estremeceu quando a mão dele lhe deu uma forte palmada. Açoitou a sua outra nádega e logo regressou à primeira, alternando os golpes e o lugar onde caíam até que a pele dela se acendeu com o calor. Sara teve de morder o lábio para evitar gritar ao mesmo tempo que a sensação de ardor crescia. – Por favor, Valentin... Ele parou e, em vez de a libertar, a sua mão deslizou por entre as nádegas e acariciou-lhe o sexo. O calor envolveu-a quando ele deslizou dois dedos para o seu interior. Sara gritou quando a palma da outra mão de Valentin se encostou às suas nádegas doridas, pressionando-a contra os seus dedos e aumentando o seu prazer. Cada açoite aumentava o seu tormento e conduzia-a cada vez mais para um torvelinho de sentimentos nos quais já não conseguia distinguir o prazer da dor. A sua vagina apertava-se em redor dos dedos de Valentin enquanto lutava para se vir. Ele retirou a mão e Sara tentou com desespero escapar. – Não te mexas, Sara. Quanto mais lutares comigo, mais demorará. Com o rosto vermelho, Sara baixou a cabeça e ficou a olhar para o tapete puído. Se alguém espreitasse lá para dentro, vê-la-ia numa posição muito ridícula, deitada sobre os joelhos do seu marido, com as nádegas vermelhas e ao alcance do olhar de qualquer homem. Meu Deus, como desejava vir-se. Valentin acariciava a sua delicada carne. A mão dele estava fria contra a pele quente e dorida


de Sara. – Não beijes outros homens. Não gosto. – Só se deixares de beijar outras mulheres. Ela mordeu o lábio quando a mão dele lhe golpeou de novo a nádega, elevando o seu prazer a níveis desconhecidos. Para se distrair da intensidade das suas emoções, Sara contou seis palmadas até que os dedos dele voltaram a tocar-lhe o sexo. Um dedo acariciava-lhe o clítoris, outro penetrava-lhe a vagina, enquanto o polegar lhe pressionava o ânus. Manteve-a daquela maneira, em equilíbrio sobre a sua mão, imóvel. Os seus mamilos imploravam para que os chupasse, enquanto o seu útero vibrava para que o enchessem. Não sabia que ela necessitava que se movesse? Claro que sabia. – Tem alguma coisa para me dizer? Sara fechou os olhos. – O que desejas que te diga? – Gemeu enquanto ele retirava as mãos, deixando-a estendida sobre o seu colo como uma manta abandonada. – Não sabes? Então talvez devêssemos continuar com o castigo. – Passou-lhe um dedo por entre as nádegas. – Agrada-me ver-te assim, estendida para meu prazer. – Sentou-a. Ela deu um grito quando as suas nádegas doridas tocaram nas coxas firmes de Valentin. Baixou-lhe o corpete e sugou-lhe o mamilo com força. Antes que ela pudesse reagir, ele voltou a girá-la sobre o estômago e baixou a mão, aquecendo-lhe de novo a pele excitada e acumulando ainda mais calor na vagina. Ela desejava vir-se. – Valentin, peço desculpa. Outra palmada. – Pedes desculpa porquê? – Por ter deixado que outro homem me beijasse. – Outra palmada. – És o único homem que pode beijar-me. Ficou tensa, à espera do próximo golpe, mas não aconteceu nada. O seu corpo tremia enquanto esperava algum sinal de que ele tivesse entendido. Os dentes dele morderam a sua nádega direita e ela gritou. – Muito bem. Levantou-a do colo e ela fitou-o. Temia falar, não fosse dar-se o caso de ele mudar de ideias e voltar a colocá-la sobre os seus joelhos. – Está na hora de irmos. – Estendeu a mão com uma sobrancelha arqueada, como que a desafiála. Sara pegou-lhe na mão. Embora o seu corpo ansiasse por satisfação, a sua mente estava demasiado desconfiada para se preocupar com isso. Alisou a fantasia e permitiu que ele a envolvesse com a sua capa. Valentin conduziu-a diretamente pelos jardins até à carruagem que os aguardava. Sara esperava que Peter expressasse as suas desculpas a Evangeline. Estremeceu quando as suas nádegas entraram em contacto com o assento de couro e perguntou-se se Valentin teria notado. Ele sentou-se à sua frente. O seu polegar direito movia-se de forma rítmica sobre o enorme


vulto nas suas calças brancas enquanto olhava fixamente para os seios dela. Sara apertou as pernas e esperou que o vaivém da carruagem a permitisse aliviar-se. – Não te venhas. Sara olhou furiosa para Valentin que lhe sorriu de maneira preguiçosa. – Esta noite esse privilégio é meu, estás lembrada? Concordaste em colocar-te nas minhas mãos. Sara acreditava que ele não necessitaria de toda uma mão para ajudá-la a chegar ao clímax, era provável que um só dedo fosse o suficiente. Dali a pouco tempo, a carruagem parou à porta de uma discreta casa branca nas imediações de Mayfair. Valentin tirou a máscara. – Estás preparada para a aventura? Esta é a Casa do Prazer de Madame Helene, onde qualquer fantasia pode converter-se em realidade. Sara aceitou que a ajudasse a descer da carruagem enquanto observava o grande edifício. Se aquele era o lugar que Caroline Ingham tinha mencionado, Sara ficou surpreendida. Esperava algo mais sórdido e ruidoso. O interior da casa estava mobilado com tanto luxo quanto a sua. Seda escarlate forrava as cobertas de quadros que retratavam todo o tipo de atividade sexual. Quem quer que fosse a madame, era evidente que tinha recursos inesgotáveis e amigos influentes para gerir um estabelecimento tão grande. No cimo da larga escada, havia um grande salão. A maioria das mulheres usava máscaras como a dela. A um canto viu uma mesa com comida e criados que serviam bebidas. Noutra área havia uma pilha de almofadas de seda no chão onde as pessoas podiam sentar-se ou recostar-se com os seus pares. Sara não conseguia deixar de olhar para um casal de acrobatas no centro da sala que vestiam apenas uma pintura dourada e nada mais. Cada posição acrobática terminava com o casal numa posição sexual diferente. Sara engoliu com força enquanto a pequena mulher fazia um arabesco perfeito mesmo com o homem a penetrá-la por trás. – São hábeis, não é verdade? A voz de Valentin quase a assustou. Sara estava distraída a olhar para aquele quadro erótico exposto diante dos seus olhos. – É aqui que vens divertir-te, Valentin? – Estava orgulhosa da sua voz calma. – Costumava vir aqui com muita frequência. – Sorriu-lhe. – Desde que te conheci, observei mais do que participei. – Conduziu-a mais para o interior do salão. – Não compreendo. As pessoas podem participar? Valentin saudou uma senhora loura do outro lado da sala. – Se desejarem, podem fazê-lo. Por uma avultada tarifa anual, claro. – Levou-a por um corredor comprido que os afastava do salão. Havia portas pintadas de branco de ambos os lados que pareciam não ter fim. A casa parecia estender-se até ao infinito. Sara estacou para ler a pequena placa de uma das portas e virou-se para ele. – O que significa «Misses»? – Porque não entramos para ver? Sara quase tropeçou quando Valentin abriu a porta e ela entrou na escuridão. Os seus olhos levaram algum tempo a habituarem-se à fraca luz. Havia cinco filas de cadeiras com diferentes


pessoas que olhavam para um cenário que parecia representar a entrada de uma mansão de Londres. Enquanto ela observava, duas raparigas entraram pela esquerda do cenário em direção a um bonito criado que estava de pé do lado de fora da porta. Ao passar diante do criado, a rapariga mais alta roçou-lhe o dedo pela frente das calças e a segunda rapariga repetiu o gesto. Sara conseguiu ver que a ereção dele crescia enquanto continuava de pé no mesmo lugar, como se nada lhe tivesse acontecido. Valentin sentou-se ao seu lado e Sara sussurrou-lhe ao ouvido: – Não são meninas. A mulher loura dever ter a minha idade. – Chiu... – Valentin beliscou-lhe o lóbulo da orelha. – Lembra-te, este lugar é para as fantasias. Depois de um momento, as raparigas voltaram a aparecer. Desta vez, a loura e mais baixa, colocou-se nas pontas dos pés e beijou o criado na boca. A rapariga morena colocou a mão nas virilhas do rapaz e pressionou a palma da sua mão contra o pénis. Quando as raparigas recuaram, o criado continuava a olhar fixamente para a frente. Só a prova visível da sua excitação fazia com que fosse diferente de qualquer outro criado de serviço que Sara já vira. – Não é propriamente justo para o pobre homem. – Não te esqueças, ele também escolheu este papel. – Sara tremeu quando Valentin afundou o dedo no seu corpete decotado e brincou com o seu mamilo. Na terceira passagem, a rapariga de cabelo escuro beijou o criado enquanto a loura lhe desabotoava as calças. Cobriu o pénis do criado com um lenço e deslizou a sua mão por baixo. Sara ficou com calor ao ver a rapariga dar prazer ao criado através do delicado lenço de renda. As mãos dele fecharam-se em punhos ao lado do corpo quando ela começou a bombear com mais força e ele se veio sem um único som. A rapariga morena pegou no lenço empapado e pressionou-o contra os lábios enquanto a loura abotoava as calças do criado. – É tudo? – sussurrou Sara enquanto as raparigas voltavam a desaparecer. Olhou em redor do quarto. E ninguém se ia embora porquê? Valentin pegou-lhe na mão e colocou-a sobre a sua virilha. – Depende. – Do quê? – De quem é na verdade esta fantasia. Sara acariciava-lhe o pénis com delicadeza enquanto as raparigas apareciam uma vez mais. Valentin apertou-lhe o mamilo com mais força, voltando a despertar o calor que tinha acendido antes. Quando as raparigas pararam e riram ao lado do criado, ele saiu do seu posto e encostou ambas as mulheres à parede. Nenhuma delas tentou resistir. Sara mal conseguiu respirar quando ele pegou na mulher mais pequena e a penetrou. Mesmo enquanto deslizava dentro dela, a sua outra mão desaparecia no interior do espartilho da rapariga de cabelo escuro. Após dez enérgicos golpes, a loura veio-se. O criado soltou-a, levantou a outra mulher e repetiu a dose. Sara agarrou o pénis de Valentin com mais força e ele moveu-se no assento. – Com cuidado, meu amor. Posso precisar dele mais tarde. O criado puxou as mulheres para ele e veio-se também. Cravou o pénis entre os quadris delas


enquanto acariciava os seios de uma das mulheres com o nariz e apalpava os da outra. Antes que Sara pudesse protestar, Valentin pegou-lhe pelo braço e conduziu-a de volta para o corredor. Ela encostou-se à parede e observou-o. – Porque desejaria alguém viver aquela fantasia? Ele sorriu. – É comum entre jovens que cresceram em casas grandes em que os criados são escolhidos pela sua beleza. Creio que a maioria das mulheres que participa está a reviver uma fantasia atrevida que nunca poderiam ter realizado quando eram solteiras. – E o homem? – Ou é um criado daqui ou um cavalheiro que tem curiosidade em saber como seria ser considerado um atrativo pelas jovens da casa. Sara olhava-o fixamente enquanto Valentin lhe fitava os seios. Inspirou e as suas narinas dilataram-se. – Apesar das tuas palavras, acho que gostaste. Consigo cheirar a tua excitação. Se te tocasse agora, tenho a certeza que os meus dedos ficariam húmidos. – Então, toca-me. – Ainda não. Frustrada, Sara aproximou-se; os seus seios encostaram-se ao colete de Valentin e os seus quadris rodearam-lhe a ereção. Com delicadeza, ele apertou-lhe as nádegas sensíveis. – Mais um quarto, antes de eu pensar sequer em te penetrar. – Apontou para o corredor. – Há alguma época em particular ou algum cenário que gostasses? Mas aviso-te: quanto mais avançares pelo corredor, mais fortes são as fantasias. Sara afastou-se dele. Enquanto caminhava ia lendo os letreiros de cada uma das salas. Parou então diante da quinta porta. – «Ritual Romano», parece interessante. Podemos entrar aqui? Desta vez, foi ela mesma quem abriu a porta, antecipando-se à escuridão do quarto anterior, mas, ao invés, encontrou uma infinitude de lamparinas. Viu uma série de otomanas dispostas em círculo em redor de uma fonte. Uma música suave flutuava no ar perfumado, tocada por um só músico num palco elevado por cima das suas cabeças. Homens e mulheres ocupavam os sofás de banquetes. Todos usavam grinaldas e variantes de trajes romanos e alguns estavam vestidos como escravos. Ninguém se deu conta da chegada deles. Valentin tocou no braço de Sara e apontou para uma porta afastada. – Se desejares ficar, temos de trocar de roupa. Sara seguiu-o até ao vestuário revestido de espelhos. Uma mulher ajudou-a a vestir uma toga branca de linho fino e colocou-lhe uma grinalda que cheirava a flores e a frutos. Valentin envergava uma toga curta. Conduziu-a de volta para uma das otomanas acolchoadas e recostou-se num único movimento fluido, apoiando a cabeça sobre uma mão. Ela decidiu sentar-se nos almofadões do chão, junto a ele. Um escravo trouxe-lhes taças de vinho tinto e uma bandeja com uvas, queijo e pão. Sara encostou-se à otomana enquanto Valentin lhe acariciava o cabelo. – Isto agrada-te mais? – murmurou ele fazendo os seus dedos deslizar pelo pescoço de Sara em direção aos seios.


– Parece bastante civilizado. A suave risada de Valentin fez-lhe oscilar os finos cabelos da nuca. – Pois parece. Mas aqui nada é assim tão simples. Sara olhou para cima quando uma mulher vestida de escrava ofereceu mais vinho a Valentin. Quando ele levantou a taça, a mulher encostou de propósito o seu peito nu contra a pele dele. Sara fitou-a furiosa, enquanto Valentin nada fazia para evitar o contacto. – Ah – disse ele –, aqui vem a sobremesa. Um rufar de tambores atraiu a atenção de Sara para o centro da sala, onde quatro homens que envergavam apenas umas reduzidas tangas depositaram um enorme prato sobre a extensa mesa. Quando levantaram a tampa revelaram uma mulher nua. Sara não conseguia deixar de olhar. A pele da mulher estava maquilhada com um pó dourado e os seus mamilos estavam pintados de prateado, à semelhança dos lábios. O flautista iniciou uma nova música e a mulher começou a mover-se. O seu movimento fazia lembrar o de uma serpente enquanto se colocava de joelhos e balançava os quadris ao ritmo sensual do tambor. Ao mesmo tempo que dançava, desceu da mesa baixa e ajoelhou-se diante da primeira otomana, onde se encontrava recostado um homem calvo. Enquanto o volume da música aumentava, ela pegou em ambos os seios e ofereceu-os ao homem. Incitado pelos restantes companheiros, o homem colocou o mamilo na boca e chupou-o com força. Um dos escravos apareceu por trás da mulher e esfregou o pénis contra as suas nádegas antes de a penetrar por trás. Sara olhou para Valentin. A atenção dele permanecia colada nela ao invés de na complicada cópula que se desenrolava diante deles. O seu sorriso alargou-se quando mais duas pessoas se uniram ao emaranhado de corpos que se espalhava pelo chão. A mulher ruiva que ocupava a otomana ao lado deles rastejou até outro dos criados e meteu-lhe o pénis na boca. Para Sara era difícil distinguir que corpo excitado pertencia a que pessoa. Um homem tinha a cabeça afundada entre as pernas de uma mulher, enquanto outra lhe chupava o pénis; os seus dedos demasiado ocupados a friccionarem a vagina de uma terceira mulher. Sara voltou-se para Valentin. – Fazes isto? – Pode ser divertido quando se é jovem e se aprecia mais o sexo do que a intimidade. Pessoalmente, prefiro saber exatamente com quem, ou com o que, estou a ter sexo. – Inclinou-se para beijá-la, rodeou-lhe a cintura com o braço e aproximou-a dele. – Mas não deixa de ser excitante, não é verdade? Sara não podia negá-lo. O seu corpo tremia com vontade de explorar o de Valentin o mais rapidamente possível. O sorriso dele alargou-se ao olhá-la nos olhos. – Acabei de me lembrar do quarto ideal para ti. Gostarias de experimentá-lo? Passaram por cima do amontoado retorcido de corpos e regressaram ao corredor. Sara sentia a pele extremamente sensível, como se o mais ligeiro toque a fizesse entrar na espiral de um clímax interminável. O próprio ar que respirava parecia encorajá-la a perder as inibições e a juntar-se às artes eróticas. Percebia por que Valentin desejava ir a um lugar assim e compreendeu a sua sede de explorar cada faceta da sua sexualidade. Onde melhor do que ali, num ambiente tão opulento e discreto?


– Espera aqui um momento. Valentin entrou por uma segunda porta e deixou-a sozinha no corredor. Não escutava nenhum som naquele silêncio profundo, embora Sara não tivesse dúvidas de que haveria barulho suficiente dentro da maioria dos quartos. Deslizou uma mão por debaixo da túnica e acariciou o seu sexo inchado. Pensar na boca de Valentin a percorrer o seu corpo fazia-a ficar ainda mais molhada. Olhou para a parede forrada a seda creme. Lamentava que Valentin a tivesse ajudado a descobrir aquele aspeto oculto da sua sexualidade? Abanou a cabeça. Mesmo que ela a deixasse, tinha aprendido algo bastante valioso. Permitiralhe compreender que as mulheres também podiam apreciar o sexo e que ela tinha direito à sua satisfação sexual. Eram lições que a maioria das mulheres nunca teria oportunidade de aprender. Ao menos tinha-lhe dado isso. – Fui buscar as tuas roupas. Entregou-lhe o traje de harém. – Deixa-me ajudar-te. Antes de conseguir fazer fosse o que fosse, ela elevou-se nas pontas dos pés e beijou-o na boca. Valentin envolveu-a nos seus braços e encostou o corpo com firmeza ao dela. Ela beijou-o com toda a sensualidade recém-descoberta e ele respondeu da mesma maneira até que ela se afogou numa onda de desejo que haviam criado juntos. Quando ele levantou a cabeça, sorria. – Porque foi isso? – Por me trazeres aqui, por me dares esta oportunidade de explorar as minhas fantasias e compreender as tuas. Fitou-a com uma expressão avaliadora. – Talvez o próximo quarto possa esperar. Acho que está na hora de descobrirmos os nossos próprios jogos. *** O quarto que escolheu estava decorado com cortinas douradas. A roupa de cama de cetim creme cobria a pequena cama de dossel que se encontrava colocada numa plataforma elevada no centro do quarto. Valentin questionava-se se Sara perceberia o significado daquilo. Aos poucos, foi-lhe tirando as roupas, deixando a descoberto os seus deliciosos seios e a vagina. Desejava penetrá-la até que gritasse de prazer. Desejava lamber e chupar-lhe o clítoris até que pedisse mais. Sara deixou que ele a sentasse aos pés da cama e ele observou o subir e descer rápido dos seus seios e soube que estava perto do orgasmo. Despiu-se na frente dela, lentamente, fazendo-a esperar. O seu pénis extremamente sensível pulsava enquanto o liberava das calças. Sara observava-o sem pestanejar e emitiu um delicado som de ansiedade. Valentin segurou o pénis na palma da mão como se o exibisse numa bandeja. – É isto que desejas? Sara acenou afirmativamente com a cabeça e lambeu os lábios. Ele levou a cabeça do pénis à boca dela e deslizou-a para trás e para frente. Era magnífico sentir-se livre com a sua esposa, era libertador que ela parecesse gostar do seu comportamento escandaloso. – Tenho um jogo para ti. – Recuou um passo e colocou as mãos dela em redor dos postes da


cama. – Na casa da Madame há muitas maneiras de uma pessoa se satisfazer ou de deixar que outros o façam. Também há muitos níveis de observação. – Olhou em redor do quarto bem iluminado. – Neste momento, temos privacidade total. Se desejássemos, podíamos abrir uma dessas cortinas e deixar que outros nos observassem através dos espelhos e de buracos nas paredes. Valentin observou o rosto de Sara e ela não lhe pareceu horrorizada com aquelas revelações. Na realidade, a sua respiração parecia acelerar e Valentin sorriu. – Se desejássemos, podíamos permitir que outros entrassem no quarto e nos observassem. – Apertou com força a base do pénis. – Podemos até permitir que nos toquem, que se unam a nós, que tenham prazer connosco. As pupilas de Sara dilataram-se e os seus lábios entreabriram-se. O pénis de Valentin vibrou em resposta. – O jogo chama-se «Cinco». O que se vier primeiro perde. Aquele que ganhar decide se abrimos ou não as cortinas. Estás de acordo? – Só as cortinas? – Sara parecia hesitante, mas curiosa. – Sim, por esta vez. Se escolhermos continuar, talvez suba a parada. Ele ficou tenso enquanto Sara o observava. Confiaria o suficiente nele para jogar? Ela agarrou-se aos postes da cama e abriu as pernas num convite silencioso para que continuassem. Valentin colocou as mãos por cima das dela. – Começamos?


14 inco beijos. Podes começar. Sara pestanejou para Valentin enquanto ele aproximava o seu rosto do dela. – Na boca? – Sim... Onde mais? Ela inclinou-se para a frente e, com rapidez, beijou-lhe o lábio fechado cinco vezes. – Agora é a minha vez. – Ele levou mais tempo com pequenas carícias, delineando-lhe os lábios com a língua, trocando a pressão e o ângulo da sua boca contra a dela. Sorriu-lhe. – Agora sou eu primeiro. Cinco beijos com a boca aberta. Ela estremeceu quando ele introduziu a língua na sua boca, reunindo o fogo do desejo que tinha acendido antes. As mãos dele permaneciam agarradas aos postes da cama; só a boca se movia contra a dela num delicado convite para explodir em luxúria. Chupou-lhe a língua para dentro da sua boca e ela lutou contra o desejo de gemer. Valentin beijava como um deus e nunca deixava de o fazer, mesmo quando desejava passar para outras atividades. Apesar da cautela inicial, Sara sabia que a sua aceitação desse lado da sua natureza o levaria a abrir-se mais com ela. Sentia como se tivesse apenas tocado a superfície do seu explosivo apetite sexual. Algo dentro dela vibrava com aqueles avanços escandalosos e respondia da mesma maneira. Quando ele a libertou, os seus lábios estavam inchados e os mamilos tão tensos que doíam. Ela devolveu-lhe os beijos, empurrando-o para a frente temerariamente, tentando equilibrar as suas próprias necessidades vorazes com o desejo de ganhar. Valentin ofegava quando ela recuou. A humidade brilhava na ponta do seu pénis e o próprio néctar de Sara já lhe gotejava pela coxa. – É difícil, não é verdade? – murmurou Valentin. – Tentar empurrar-me para a beira do abismo sem caíres tu mesma lá dentro. Ainda temos um longo caminho a percorrer e agora é a tua vez. Cinco lambidelas em cada um dos meus mamilos. Sara sabia que ele adorava ser tocado dessa maneira. Seria a sua oportunidade de ganhar? O mamilo dele endureceu com a primeira carícia da sua língua. Lambia-o lentamente, deleitava-se com a ponta dura da sua carne contra a suavidade da sua boca húmida. Os quadris dele avançavam para ela e o pénis tocou-lhe o estômago, deixando um vestígio de líquido pendendo entre eles. Valentin olhou para baixo. – Isto não conta. É pré-ejaculação. Saberás que me vim porque irei molhar-te toda. – Ele inclinou-se até aos seios dela. Sara segurou-se aos postes da cama com toda a sua força enquanto ele lhe lambia o mamilo devagar e o aro dourado que o atravessava. Gemia ao mesmo tempo que ela estremecia. Ansiava pelo orgasmo. O pénis de Valentin roçou de novo o seu ventre enquanto lhe beijava o mamilo. Era tão fácil baixar a cabeça e chupá-lo todo. Tê-lo em seu poder. – Sara...

–C


Ela abriu os olhos. Os seios dela brilhavam sob a ténue luz das velas. Estava tão perto do limite que sentia ainda o puxão do ouro na sua pele quente. Uma fina camada de suor brilhava no peito musculado de Valentin. – É a minha vez de começar de novo. – Valentin ofegava. – Desta vez vou chupar-te os seios. Não te mexas. Assim que os lábios dele se fecharam em redor do seu mamilo, Sara soube que iria perder aquela batalha. A primeira onda do orgasmo vibrou pelo seu corpo. Com um grito suave, inclinou-se para a frente, sobre a sedutora curva do ombro de Valentin. Mordeu-o com força enquanto o clímax crescia e se propagava. Quando terminou de tremer, Valentin afastou-se. – Perdeste. Escolho abrir as cortinas. Sara não pôde deixar de o observar enquanto ele atravessava o quarto. Ombros largos, cintura fina e nádegas firmes. O seu cabelo negro estava atado na nuca e visto de frente era igualmente impressionante, com aquela expressão arrogante e confiante. – Queres jogar outra vez ou admites a derrota? Sara observou-lhe o pénis de forma intencional. Ele não podia manter aquela ereção para sempre... Ou poderia? Tinha aliviado a sua ânsia; sem dúvida desta vez conseguiria aguentar mais tempo do que ele. – Jogo outra vez. – Se perderes, abro a porta. – Voltou para a sua posição diante dela, as suas mãos de novo agarradas aos postes da cama. – O que farás se ganhares? – Fecho as cortinas e faço amor contigo até ficares demasiado cansado para te mexeres durante o resto da noite. Valentin arqueou uma sobrancelha. – Palavras ousadas de uma mulher que leva o seu prazer a sério. Acreditas mesmo que consegues deixar-me exausto? – Não foi para isso que viemos aqui hoje? Para provar que sou capaz de ser a tua parceira sexual? – Ficou tensa à espera da resposta dele. E se tivesse quebrado o feitiço e ele se refugiasse atrás da sua máscara sorridente de suave cortesia? Ele sorriu. – É a minha vez de começar. Estás preparada para jogar? – Beijou-a junto à boca cinco vezes. Uma parte dela estava aliviada que ele tivesse começado do início e a outra parte gritava em protesto face ao agonizante crescer de sensações. Quando Valentin terminou de lhe chupar os mamilos, Sara deu-se conta de que obviamente um orgasmo não era suficiente para aplacar a sua necessidade. Valentin parecia impassível perante a sua ereção, que gotejava de maneira constante sobre a pele. – E a seguir? – Tentava parecer tranquila, mas sabia que não enganava Valentin. – Ah, claro. Não passaste deste nível no jogo anterior, não é verdade? – Ele baixou o olhar para o seu pénis. – Cinco lambidelas na cabeça do meu pénis. – E para mim? Ele sorriu. A confiança evidente nos seus bonitos olhos. – Cinco lambidelas no clítoris. E deixo-te jogar primeiro, se quiseres.


Impaciente perante a possibilidade de o fazer gozar antes de ter de suportar a tortura da sua boca sobre o seu sexo, Sara inclinou a cabeça e observou-lhe o pénis. Da pequena abertura caíam gotas que se assemelhavam a pérolas. Os músculos do seu ventre contraíram-se quando ela lambeu uma gota com a delicadeza de um gato. Lambeu de novo, passando a ponta da língua pela abertura, explorando o seu interior, movendo-se com rapidez na sua carne inchada. Ele gemeu e empurrou o membro mais profundamente na boca dela. Quando Sara levantou a cabeça, ele ofegava e as suas pupilas estavam dilatadas e negras, ocultando quase todo o tom violeta. Valentin lá conseguiu esboçar um sorriso trémulo. – Quase, mas ainda não foi o suficiente. Sara ficou tensa quando ele deslizou as mãos pelos postes da cama e caiu de joelhos diante dela. O seu sexo vibrava de antecipação. Haveria já pessoas a observá-los do outro lado dos espelhos? Conseguiria aguentar? O primeiro toque delicado de Valentin sobre a sua pele sensível fê-la tremer. A segunda carícia mais forte fez com que desejasse agarrá-lo pelo cabelo e empurrar o seu rosto contra ela até que a fizesse vir com força e durante tempo suficiente para que ficassem ambos satisfeitos. Mal conseguia resistir à intensa ânsia que sentia enquanto ele a lambia uma e outra vez. Cada pequeno toque da sua língua aumentava a tensão e a sua vontade insaciável. Valentin lambia-a como se estivesse desesperado por provar cada um dos seus sabores e ela questionava-se se pareceria tão depravada como se sentia. Estava muito perto de atingir o orgasmo, muito perto. Deixá-la-ia voltar a jogar primeiro? – Agora cinco chupadelas no teu clítoris. Sara preparou-se enquanto, pouco a pouco, ele voltava a ajoelhar-se com os braços estendidos. Só a boca podia tocá-la. Sara inspirou quando ele lhe colocou o clítoris dentro da boca. Os dedos dela cravaram-se nos postes de carvalho ao mesmo tempo que enlouquecia. Antes de conseguir parar, os seus quadris projetaram-se da cama e moveram-se dentro da boca ávida de Valentin. Chegou ao clímax pressionando a pélvis contra aquela boca provocadora, incapaz de parar mesmo quando ele lhe mordeu o clítoris e o sustentou com delicadeza entre os dentes. O sorriso dele ao sentar-se deixou-a furiosa. – Perdeste outra vez. Vou abrir a porta. Tens medo de continuar? – Abriu a porta. – Não tenho medo – respondeu Sara, mesmo antes de se dar conta de que era verdade. Ele virou-se para a fitar. – Ainda bem, porque eu estou a gostar muito deste jogo. – Eu também. Olharam-se. – Como consegues aguentar a ereção tanto tempo? – Prática. – Piscou-lhe o olho enquanto caminhava em direção à cama. O membro rígido apontava para o estômago e, antes de voltar para a sua posição, soltou a fita do cabelo. – Preparada para jogar? Valentin deslizou para o meio das pernas abertas de Sara. Meu Deus, estava tão perto de atingir o clímax! Se as coisas continuassem como ele esperava, Sara obteria a sua vitória. Ela não precisava de saber que ele não tinha intenção de permitir que mais alguém se juntasse ao ato


amoroso. A vontade dela de jogar já não o surpreendia. A intensidade da sua sensualidade complementava a sua de forma perfeita. Estava espantado e comovido pois parecia ter encontrado a sua parceira sexual na sua própria esposa. – Estou preparada, Valentin. – Deu-lhe cinco castos beijos na boca e permitiu que ele fizesse o mesmo. Enquanto o jogo progredia, Valentin conseguiu manter a sua sanidade quando lhe lambeu o pénis e ela conseguiu não se vir quando ele lhe lambeu o clítoris. Esperava as ordens de Valentin com os mamilos tensos e húmidos, o clítoris inchado e a vagina a gotejar. Ele podia lambê-la a noite toda. – Tens de chupar cinco vezes o meu pénis. E eu penetrar-te cinco vezes com a língua no teu interior. Ele agachou-se diante dela, com o cuidado de não deixar que o pénis dorido roçasse na roupa da cama ou na pele de Sara. O sexo dela encontrava-se exposto diante dele, com os lábios da vagina inchados a dar-lhe as boas-vindas. O clítoris estava tão firme e ereto quanto o pénis dele. Valentin inspirou e deslizou a língua no seu interior. Encostou o queixo contra a sua pele para aumentar a estimulação enquanto imitava o movimento do seu membro. Ela estremeceu, mas não quebrou. Quando se sentou, o seu rosto estava coberto pelo néctar dela. Adorava o aroma e o sabor da sua excitação. – Agora é a minha vez. Ele colocou-se de pé enquanto ela se inclinava para a frente, deslizava a boca ao longo do pénis e, lentamente, chupava-o. Ele cerrou os dentes ao mesmo tempo que sentia que os seus testículos se contraíam, preparados para o orgasmo. Suportou três sucções lentas e lascivas. A terceira foi tão profunda que a cabeça do seu pénis tocou na parte posterior da garganta de Sara antes de abandonar a batalha. Atingiu o clímax com força e com movimentos vibrantes. O sorriso de triunfo dela era a única recompensa que desejava. – Ganhei! Valentin soltou os postes da cama e foi fechar a porta. – Ficou reposta a tua honra feminina? Ela fitou-o com uma expressão inquisitiva. – Este jogo tem mais coisas ou chegámos ao limite? O sangue voltou a afluir ao seu pénis enquanto a observava. – Queres continuar a jogar? – Se houver mais para descobrir... O que acontece depois disto? Ele levou a mão à ereção que crescia com rapidez. – O jogo continua com a utilização dos dedos para darmos prazer um ao outro e termina com cinco carícias do meu pénis na tua vagina e cinco carícias dos teus dedos envoltos no meu pénis até que um dos dois grite por clemência. Ela inclinou-se para a frente e acariciou-o. – Queria ter os teus dedos no meu corpo agora. Sem dizer uma palavra, ele deslizou um dedo para dentro da vagina e apoiou a almofadinha do polegar no clítoris.


– Estou às suas ordens, senhora. Ela agarrou-lhe o pulso. – Mais dedos, por favor, Valentin. Ele acrescentou mais três dedos e sentiu que a vagina dela se apertava. Com um grito abafado, ela rodeou-lhe o pescoço com um braço e arrastou-o para a cama. Ele deslizava os dedos pelo seu espesso néctar enquanto esperava que o seu pénis alcançasse o tamanho máximo. Ela voltou a procurá-lo enquanto ele avançava com lentidão sobre o seu corpo, separando-lhe as coxas. – Primeiro os dedos e depois penetro-te. Não era isso que desejavas? Ela não respondeu, o seu rosto quente concentrava-se no prazer enquanto se amparava nos ombros dele. O seu membro já estava preparado para ela. Tirou os dedos e penetrou de um golpe só e profundamente. Os seus quadris empurravam para a frente e a sua pele batia contra a dela. Retorcia-se debaixo dele, mas Valentin mantinha-a imobilizada contra o colchão enquanto esquecia a delicadeza e empurrava, decidido a deixar a sua marca, a fazê-la sua, a possuir até a sua alma. Gritou o nome dela quando se veio. Olhando para a expressão de satisfação de Sara, deu-se conta de repente que nada voltaria a ser como antes. Não acreditava no amor, embora soubesse no fundo da sua alma que amava Sara. Agora ela pertencia-lhe e ele lutaria e mataria para ficar com ela.


15 ara bateu à porta da casa dos Pettifer. Evangeline tinha-a convidado para tomar chá. Por que razão ninguém atendia? Tinha passado quase uma semana desde o lamentável incidente no baile da casa do embaixador e ela não soubera nada dos Pettifer até esse dia. Com um suspiro, Sara voltou a descer os degraus e inspecionou o exterior da casa. As portas estavam todas fechadas e as cortinas corridas. Olhou para o chão empedrado e perguntou-se se teria feito bem em mandar a carruagem regressar só dali a uma hora. Depois de receber o bilhete desesperado de Evangeline, tinha saído a correr de casa sem dizer a ninguém onde se dirigia. Enquanto tremia nos degraus, ocorreu-lhe que deveria ter sido mais cautelosa, tendo em conta o estado das coisas. Se Sir Richard estava envolvido num plano para arruinar Valentin e Peter, a sua presença ali podia piorar ainda mais as coisas. E, para ser honesta consigo mesma, sabia que, se visse Mr. Aliabad, seria difícil conter a sua curiosidade a respeito do tipo de relação que tivera com Valentin. Relutante em permanecer à chuva, subiu os degraus para se abrigar sob o pórtico. – Sara! Hesitou quando ouviu alguém sibilar o seu nome. Olhando para baixo, pelo gradeamento de ferro que rodeava a cave, viu que Evangeline lhe acenava da porta da cozinha. Seguiu os degraus de pedra até um andar inferior e entrou na cozinha deserta. O aroma a cordeiro assado enchia a cozinha suja e desorganizada e não havia sinais do cozinheiro, nem do mordomo. O cabelo castanho de Evangeline estava caído e emaranhado sobre os ombros e ela parecia ter estado a chorar. Na sua face via-se a marca de um golpe. Sara pegou-lhe no braço. – Está indisposta? Aconteceu alguma coisa a Sir Richard? Evangeline olhou em redor da cozinha como se temesse que o marido estivesse à escuta debaixo da mesa. – Ele não a viu, pois não? – Sir Richard? Não, não creio. Não abriu a porta. Deixei a minha carruagem na esquina da praça e vim a pé. Evangeline sentou-se num banco junto à enorme mesa de madeira da cozinha. – Ainda bem. – Levantou o rosto banhado em lágrimas e levou a mão à bochecha arroxeada. – Pouco me importa o que ele me faz, mas tinha de a avisar. A recente felicidade de Sara dissolveu-se numa nuvem de dúvida. Teriam as lágrimas de Evangeline algo a ver com o desagradável visitante da Turquia? Sentou-se perto da amiga e deulhe um lenço limpo. Depois de limpar as lágrimas, Evangeline recuperou a compostura. – Esta manhã, ouvi Sir Richard e Mister Yusef Aliabad a falar sobre o seu marido e os seus negócios. Sara tentava dissimular a sua curiosidade. Não queria que Evangeline pensasse que estava ansiosa por ouvir as novidades. – Parece que Mister Aliabad crê poder manchar ainda mais a reputação de Valentin e arruinálo por completo.

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– Não compreendo. Evangeline engoliu com força. – Detesto ser eu a dizer-lhe isto. Mister Aliabad insiste que tem provas que indicam que Peter Howard e o seu marido são amantes. – Isso é ridículo! – Sara quase riu ao ouvir tal coisa. Evangeline abanava a cabeça. – Lamento muito, Sara, mas as pessoas sempre falaram sobre o vínculo forte entre eles. Alguns acreditam que Valentin se casou consigo para evitar um escândalo como este. – Dava pequenas pancadinhas nos olhos com o lenço húmido. – Pouco tempo antes do seu casamento, Peter esteve envolvido num escândalo com um criado. Aliabad insiste que Valentin se casou para desviar a atenção de Peter e acabar com os rumores sobre eles. Sara deu uma palmadinha na mão de Evangeline. – Sei que Peter e Valentin são muito unidos porque foram escravos juntos. Seria estranho que isso não acontecesse depois de terem partilhado uma experiência tão terrível. Na sua ânsia de defender Valentin e Peter, Sara fazia todo o possível para ignorar as hipóteses pouco abonatórias de Evangeline a respeito das razões do seu casamento. Fez uma careta de dor quando as unhas de Evangeline se cravaram na palma da sua mão. – Segundo Mister Aliabad, o seu marido e o sócio foram escravos num bordel turco que servia tanto homens como mulheres. Sara recordou a reação violenta de Valentin a Yusef e a maneira como Peter se intrometeu para defender o amigo das insinuações do outro homem. Se, na verdade, Valentin tinha sido escravo num bordel, o seu comportamento para com Yusef era perfeitamente razoável. Lutava contra uma sensação crescente de mal-estar. Alguma vez teria ele tentado contar-lhe a verdade sobre o seu passado, ou ainda a considerava muito inocente para o compreender? Evangeline apertou a mão de Sara com um olhar suplicante. – Mister Aliabad assegura que pagou para estar com ambos, de maneira carnal, em mais do que uma ocasião. Sara não deu importância à evidente compaixão de Evangeline. – Ainda que acreditássemos nesse homem, o que aconteceu no passado nada tem a ver com o presente. – Mas se ainda são amantes... Sara procurava na sua memória algum sinal de que Peter e Valentin a tivessem enganado. Estavam, na verdade, muito unidos e Peter tocava Valentin mais do que tocava noutros homens. Mas entre as exigências sexuais dela, o trabalho e as obrigações sociais, quando encontraria ele tempo para ter uma aventura amorosa perigosa e socialmente desastrosa com o seu melhor amigo? – Sei que teve a melhor das intenções ao contar-me isto, Evangeline, mas... – Não está a compreender! Há mais. Evangeline levantou-se. A sua agitação era evidente ao caminhar de um lado para o outro. – Ao que parece, Valentin entrou em contacto com Mister Aliabad e pediu-lhe para se encontrar com ele e com Peter na casa da Madame Helene, na terça-feira. – Estacou e observou Sara. – Sabe onde é? Sara acenou afirmativamente com a cabeça enquanto os seus pensamentos se agitavam. O que


levaria Valentin a aceitar encontrar-se com o homem que detestava na casa de prazer que amava? – Sir Richard estava preocupado que Mister Aliabad caísse numa armadilha. Mas Yusef parece acreditar que Valentin está ansioso por reavivar a sua aventura. – Pressionava as mãos sobre o peito. – Ai, Sara, se vier a público que o seu marido está envolvido com outros homens e que já foi escravo sexual num bordel, nenhum homem temente a Deus voltará a fazer negócios com ele. Evangeline voltou a sentar-se. – E não ouvi nada mais. O mordomo apareceu com o chá e tive de me escapulir. – Apertou a manga do vestido de Sara. – Não quero vê-la envolvida num escândalo horroroso. Sir Richard enfureceu-se ao dar-se conta de que eu tinha ouvido a conversa. – Tocou o hematoma na face. – Talvez possa regressar para casa dos seus pais. Sara esboçou um sorriso forçado. Evangeline acreditava mesmo que ela abandonaria o marido com tanta facilidade? – Na verdade, o meu pai chega à cidade amanhã. Já combinei jantar com ele no Hotel Fenton. Evangeline soltou a respiração. – Fico bem mais tranquila. Sinto-me melhor agora que sei que tem alguém a quem recorrer. – Hesitou, o lenço ainda apertado na sua mão. – Não sei o que Sir Richard planeia fazer com a informação de Yusef. Se tiver oportunidade, pedir-lhe-ei que mantenha o assunto em segredo. Talvez ele consiga convencer Valentin a abandonar os negócios e assim não teria de mencionar este assunto tão desagradável. Sara olhava fixamente para Evangeline. Era muito provável que a sua amiga acreditasse que a posição na sociedade era mais importante do que a infidelidade e o possível encarceramento ou execução na forca por atos indecentes do seu marido. Sara também não acreditava que Valentin abandonasse os seus negócios de bom grado. Sara pegou no chapéu e colocou-o na cabeça – Evangeline, posso perguntar-lhe outra coisa? Sabe quem apresentou Mister Aliabad a Sir Richard? – Não sei bem – respondeu Evangeline, enrugando o sobrolho. – Mas é possível que tenha sido o pai de Valentin. Ele tem muitos amigos influentes na embaixada russa e nesses lugares do estrangeiro. – Empurrou Sara com delicadeza para que esta saísse pela porta entreaberta da cozinha. – Prometa-me que cuidará de si. Sara pegou na mão de Evangeline. – Obrigada por me ter contado tudo. O brilho das lágrimas cobria os olhos de Evangeline. – Valentin foi muito importante para mim em tempos e eu detestaria que ele perdesse tudo. Sei o que se sente ao estar nos níveis mais baixos da sociedade. Sara pensava nesse comentário enquanto regressava para a carruagem. Estaria Evangeline no fundo contente por ver que o seu antigo amante estava envolvido num escândalo? Repreendeu-se a si mesma por pensar tal coisa. Evangeline tinha atuado com amabilidade apesar das ameaças físicas do marido para a silenciar. Devia ser mais agradecida. Os seus pensamentos giravam em volta de uma imagem horrorosa de Valentin e Peter presos num bordel. Sabia pouco sobre o funcionamento de uma casa de má fama, mas tinha uma


imaginação fértil. Para um homem tão orgulhoso como Valentin devia ter sido devastador que o possuíssem e o utilizassem como um objeto. Os dedos de Sara retorciam-se ao recordar as inúmeras cicatrizes das costas dele. Como iria Valentin receber a novidade de que poderia ter sido o seu pai quem tinha apresentado Yusef a Sir Richard? Os seus piores temores de traição confirmar-se-iam e como resolveria ele isso? Sara estremeceu. E se Yusef estava a vender a informação ao seu maior concorrente, então não era de estranhar que estivessem a ser atacados tanto a nível pessoal como profissional. As demais insinuações de Evangeline sobre Peter e Valentin continuavam a parecer-lhe absurdas. Parecia que Aliabad estava disposto a recorrer a qualquer coisa para destruir o marido e o seu melhor amigo. Que melhor maneira do que sugerir que eram amantes? Sara respirou fundo quando a carruagem diminuiu a velocidade e entrou em Half Moon Street. Aliabad também garantia que todos eles tinham sido amantes no passado. Poderia haver um fundo de verdade nisso? A julgar pela reação de Valentin, qualquer que tivesse sido o contacto entre eles não tinha sido agradável. E, se na verdade tinham sido escravos num bordel, era bem mais do que provável que não teriam tido a possibilidade de escolher quem comprava o seu tempo. Pela primeira vez, Sara tremia ante a ideia de questionar Valentin diretamente. A reação dele sem dúvida seria desagradável. A confiança recém-adquirida nele ainda lhe era algo muito valioso para desprezá-la de maneira deliberada. Ela sorriu quando a carruagem parou. Possivelmente, poderia arriscar-se a perguntar a Peter durante o seu passeio dessa tarde. – É verdade, Peter? A coberto da pavorosa atuação da filha mais velha dos Dudson no cravo, Sara repetiu a pergunta: – Vocês foram escravos num bordel? – Peter pegou-lhe pelo braço e conduziu-a até ao outro extremo da magnífica sala de estar. O seu rosto sorridente não traía a tensão que revelavam os seus celestiais olhos azuis. – Quem lhe contou isso? – Evangeline Pettifer. Peter franziu o sobrolho. – Os Pettifer estão a transformar-se num aborrecimento. Sabe que não posso responder às suas perguntas. Será melhor falar sobre isso com Valentin. De má vontade, Sara decidiu tentar outra abordagem. – Vocês continuam a encontrar-se na casa de Madame Helene? Peter não antecipara aquela pergunta. – De vez em quando. Porquê? Enquanto observava o seu rosto angelical, Sara pensava que não desejava repetir a natureza das revelações de Evangeline. Peter tinha já sofrido o suficiente para que o deprimisse ainda mais com novos mexericos e insinuações. Sara tentou não gemer quando Caroline Ingham apareceu atrás dela. – Peço desculpa por ter escutado, mas é óbvio que Valentin e Peter ainda se encontram lá – disse Caroline, lançando a Peter um sorriso desagradável. – Se bem me lembro, ele exigiu a


presença de Valentin lá todas as terças-feiras à noite. – Deu uma palmadinha no braço de Sara. – Tentei avisá-la sobre as pequenas indiscrições de Valentin, mas preferiu não me dar ouvidos. Já se arrependeu da sua decisão de não se retirar e de desempenhar o papel da esposa sofredora? Sara ignorou Caroline e concentrou a sua atenção em Peter, cuja expressão glacial refletia a exatidão dos comentários de Caroline. A sua recente sensação de satisfação desapareceu. Por certo, Valentin teria uma resposta para todas aquelas perguntas e ela tinha de acreditar que ele a desejava somente a ela. Depois da noite que tinham passado juntos na casa de Madame Helene, Valentin havia-lhe dito que ela era a única mulher que desejava e ela tinha acreditado. Mas, e se também desejava um homem? Caroline Ingham afastou-se, a rir. Sara aceitou o braço de Peter e regressou à sala de estar. Ele parou-a junto à porta. – Sara, fale com Valentin. Ele é o único que pode responder às suas perguntas. Ela sorriu como para lhe demonstrar que não estava zangada. Tinha sido muito impulsiva no passado. Tinha tentado obrigar Valentin a confiar nela e isso não havia resultado. Na verdade, isso só o tornara mais distante e mordaz. Talvez estivesse na hora de aprender com os seus erros. A ideia de lhe pedir que explicasse tudo era, de certo modo, mais aterradora do que permanecer na ignorância. Ao menos por uma vez na vida tentaria ser paciente.


16 ara olhava para Valentin enquanto este deixava que o criado lhe voltasse a encher o copo de vinho pela terceira vez. Sem coragem para o enfrentar, tinha tentado evitá-lo desde as desastrosas conversas com Peter e Evangeline no dia anterior. Beberricava o vinho, o seu olhar misterioso e distante. Estava vestido de cinzento com um colete preto e uma gravata branca. Não conseguia imaginá-lo a atender clientes num bordel. O seu pai nunca a teria dado em casamento a um homem assim. Para seu alívio, Valentin parecia demasiado preocupado para notar o seu estado de agitação. – Vais sair esta noite? – perguntou Sara. Valentin fitou-a com o copo de vinho a meio caminho da boca. – Porquê? Esqueci-me de algum evento? De algum baile ou de algum concerto ao qual insistes que te acompanhe? Sara pousou o garfo. – Posso perfeitamente sair sozinha. O Signor Clementi pediu-me que o acompanhasse à ópera e depois planeio ir visitar o meu pai. – Ah, esqueci-me que o teu pai estava na cidade. Dá-lhe cumprimentos meus, sim? E não te esqueças de o convidar para jantar amanhã. – Gostas muito dele, não é verdade? Valentin arqueou uma sobrancelha. – Claro que sim. Ele salvou-me de uma situação intolerável. – Deves ter sentido que a tua dívida era grande para teres casado comigo. O olhar dele aguçou-se. – Já te disse, o teu pai salvou-me a vida. Acredito que a minha dívida para com ele vai muito para lá do simples dinheiro. Mas, porque perguntas isso agora? O teu pai deve ter-te explicado as razões dele para aceitar a nossa união. Sara não desviou o olhar. – Ele não queria que eu me casasse contigo, mas acreditava que não tinha outra escolha. O que o terá levado a sentir-se assim quando dizes que a dívida é tua? Valentin contraiu o maxilar. – O que queres que eu diga, Sara? Que ele não me considerava um bom partido para ti porque sabia que nunca seria capaz de te fazer feliz? Ou preferes acreditar que o obriguei a fazer essa escolha? – Porque estava ele tão relutante, Valentin? Valentin pôs-se de pé. – Porque insistes numa resposta, Sara? Ela levantou-se também, com as mãos fechadas em punhos. – Porque quero compreender se fui vendida ou comprada. Sem dúvida que és capaz de entender isso. Ele ficou tão pálido como o colarinho branco da sua camisa.

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– Se estás decidida em transformar-me no vilão da história, então comprei-te, Sara. Paguei as dívidas do teu pai e dei uma considerável soma de dinheiro por ti também. Ela olhou para o rosto sério de Valentin e, desesperadamente, tentou recuperar a calma. O que esperava conseguir com aquela conversa ridícula? A sua ansiedade quanto aos potenciais acontecimentos daquela noite tinha-se apropriado do seu habitual bom senso. Inspirou calmamente. – Desculpa, nem sequer sei o que desejo que digas. Valentin esfregou o queixo. – Eu teria emprestado dinheiro ao teu pai se ele me tivesse pedido. Foi escolha dele oferecerme uma das filhas. Casei contigo porque desejava fazê-lo. – Hesitou, o seu olhar fixo nela. – Nunca tentei fazer-te sentir como propriedade minha e peço desculpa se é assim que vês o nosso casamento. Ela abanava a cabeça, quase sem falar, perante as suas palavras indecisas. Como podia pressioná-lo tanto quando ele era tão amável com ela? – Sempre me permitiste que fosse eu mesma. Talvez não saiba demonstrar muito bem a minha gratidão. Porque sentia como se nunca mais voltassem a falar um com o outro? Planearia ele deixá-la depois de tudo? Valentin encolheu os ombros. – Não é necessário. Soubeste transformar-te em tudo o que eu esperava que fosses. – Continuo a desejar agradecer-te. – Aproximou-se dele e apoiou a mão no seu ombro, roçando a boca contra a dele. – Não saias esta noite. Ele sorriu-lhe com a expressão marcada pela tristeza. – És tu quem tem planos, minha querida. E temo que seja já demasiado tarde para entrares em contacto com o Signor Clementi e lhe arruinares a noite. Deixou cair a mão e esboçou um sorriso forçado. – Podias vir comigo. Valentin sentiu um delicioso calafrio. – Preferiria não ter de ouvir nenhum cantor de ópera a uivar esta noite e é muito provável que saia com o Peter. – Deu-lhe uma palmadinha no braço. – Não esperes por mim acordada. – Inclinou-se para a beijar na boca com firmeza e, antes que ela pudesse responder, saiu. Quando a porta se fechou atrás dele, Sara resistiu ao desejo de gritar e lhe dizer que tivesse cuidado, que tinha começado a amá-lo e que ele era demasiado valioso para o perder. Em vez disso, voltou a sentar-se sem derramar uma única lágrima até que o criado começou a levantar a mesa de jantar em seu redor. O que sentia ela sobre a possibilidade de Valentin gostar de homens de maneira física? Nunca tinha visto dois homens comportarem-se dessa maneira. Nas suas conversas com Peter, tinha-se apercebido que a sexualidade dele era tão complexa como a de Valentin e isso não a deixara incomodada nem a fizera sentir ameaçada. Por outro lado, também nunca antes imaginara o nível de profundidade sexual que ela própria exploraria com Valentin. Tinha a certeza que a resposta se encontrava na casa de Madame Helene. Pousou o copo de vinho. Estava na hora de parar de se esconder e de enfrentar os seus


demónios, fossem eles quais fossem. Ao menos, Valentin tinha-lhe dado a autoconfiança necessária para o fazer. Sairia cedo da ópera e apanharia uma carruagem de aluguer até à casa de Madame Helene. Se Evangeline tivesse razão, Mr. Aliabad esperava encontrar-se com Valentin e com Peter ali. Ao invés de provocar a ira de Valentin com as suas perguntas, talvez fosse melhor descobrir por si mesma o que se estava a passar. Valentin subia o segundo lance de escadas na casa de Madame Helene em direção aos quartos onde só um número restrito de clientes podia entrar. Peter tinha chegado mais cedo ao encontro e, segundo Madame Helene, estava já a tirar partido das instalações. Valentin rodou o puxador dourado e a porta do quarto 206 abriu-se sem fazer barulho. Caminhou até uma poltrona de orelhas junto à lareira e observou o enleado de corpos sobre a enorme cama. Havia pelo menos dois homens e uma mulher com longos cabelos louros. Recordava-se vagamente que a mulher se chamava Grace e um dos homens era Peter. Valentin inclinou a cabeça para um lado para ver melhor a loura que esfregava a vagina contra o rosto de Peter. Os seios dela agitavam-se com o esforço. O segundo homem estava ocupado a lamber o pénis de Peter. Enquanto observava, Valentin sentia-se contente por ter reduzido o seu papel nas fantasias de Peter ao de observador ocasional. Quando regressaram da Turquia, Peter suplicara pela presença de Valentin na sua cama quase tanto como suplicara o ópio que o matava aos poucos. Valentin demorara algum tempo a convencer Peter de que preferia não fazer sexo com homens. Mesmo assim, Peter tinha-lhe pedido que participasse em vários grupos de quatro, concentrando-se na mulher enquanto outros satisfaziam Peter. Grace viu-o e redobrou os seus esforços. Valentin piscou-lhe um olho e serviu-se de um brande. Na verdade, estava satisfeito por ter saído de qualquer cama em que houvesse outro homem. Quando era só Peter, era tolerável. Compreendia as necessidades e os temores dele e, ao menos, podia impor as regras e os limites. Com outros homens, nunca se sabia. As dolorosas experiências de Valentin com Yusef na Turquia tinham-lhe arruinado essa combinação sexual para toda a vida. Peter gemeu e girou sobre o estômago, desalojando Grace. Isso deu ao homem que estava atrás dele a oportunidade de o penetrar. A mulher agarrou na mão de Peter e colocou-a entre as suas pernas. Valentin olhou para o relógio de bolso enquanto os quadris do homem empurravam com força contra as nádegas de Peter. Quando o homem se veio, mordeu o pescoço de Peter. Valentin inalou o aroma a sexo e a pele perfumada enquanto Peter chegava ao clímax. Só conseguia pensar em Sara. Por fim, Peter abriu os olhos e sorriu como um enorme gato satisfeito. – Val, se eu soubesse que estavas aqui, ter-te-ia convidado a participar. Valentin cruzou as pernas e beberricou o brande. – Eu sinto-me muito bem a observar. Fizeram um trio tão bonito que sonharei com vocês toda a noite. Grace sorriu e beijou a face de Peter. O homem franziu o sobrolho e apertou o ombro de Peter de forma possessiva. Este deu-lhe uma palmadinha. – Não é preciso ficares com ciúmes, Reggie. Ultimamente, o Valentin prefere as mulheres. Ou


deveria dizer, uma mulher em particular? – Podes dizê-lo, desde que não menciones o seu nome. Peter arqueou as sobrancelhas enquanto vestia um roupão. – Nunca antes te tinha ouvido utilizar esse tom possessivo. Valentin levantou-se enquanto Reggie e Grace abandonavam o quarto. – Nunca antes estive casado. Talvez sejam ossos do ofício. – Caminhava de um lado para a outro no tapete enquanto esperava que Peter se refrescasse e se vestisse. Peter parou diante do espelho com a gravata na mão. – Evangeline Pettifer contou a Sara alguns rumores desagradáveis sobre nós. – A sério? Ela não me disse nada. – Valentin tentou soar despreocupado. Ela tinha-o evitado durante os dois últimos dias. Seria essa a razão? Um mal-estar retorceu-lhe as entranhas. Não era costume Sara não enfrentar diretamente um problema entre eles. Recordou a estranha conversa que haviam tido antes de ela sair para o teatro e franziu a testa. – Que tipo de rumores? Peter terminou de fazer o nó na gravata. – Pergunta-lhe tu mesmo. Recuso-me a ser o intermediário. – Tens razão, perguntarei. Mas, obrigado por me contares. – Entregou o casaco a Peter. – Estás preparado para enfrentar Yusef Aliabad agora? – E tu? – Peter devolveu o olhar a Valentin. – Sei quanto o desprezas. Vi o que ele te fez e lembro-me o quanto lutavas contra ele. Valentin observava a biqueira da sua bota de montar. – Não viste nem a metade. Quando estava comigo, nas nossas «sessões privadas», obrigava-me a implorar. – Sentia o estômago retorcer-se com o eco distante dos seus próprios gritos. – Faziame rastejar e implorar. Valentin levantou a cabeça e viu compreensão nos olhos de Peter. Alguma vez alguém compreenderia o inferno porque tinham passado? Às vezes desejava contar tudo a Sara. Mas depois imaginava o seu olhar de paixão a transformar-se em repugnância... Ou, pior ainda, em pena. Não tinha a certeza de estar preparado para se arriscar a isso. – Devias contar a Sara – disse Peter, como se tivesse lido os pensamentos de Valentin. – Ela merece saber a verdade. Seria muito pior se ela tivesse casado comigo. Eu vou para a cama com qualquer coisa. Tu ao menos sabes que preferes as mulheres. Infelizmente, os meus gostos são mais ecléticos. – Baixou o olhar para voltar a arranjar a gravata. – Já lhe contei sobre a minha dependência do ópio. – E o que disse ela sobre isso? – Beijou-me e disse-me que ficava muito contente por eu ter escolhido viver. – O tom condescendente de Peter desapareceu. – Ela é uma mulher fora do comum, Val. Recusando deixar-se convencer, Valentin caminhou para a porta. – Aliabad já deve ter chegado. A Madame deixou-nos utilizar o salão privado para que possamos falar tranquilamente. Desceram por uma das escadas das traseiras discretamente iluminadas. – Não entendo como Aliabad está metido neste assunto para nos arruinar – comentou Peter. – Bem, estamos ao menos de acordo que faz parte disto. De outro modo, a sua aparição nesta altura seria demasiada coincidência. – Valentin estacou no patamar seguinte. – Ele deve estar a


trabalhar com alguém que conhece o funcionamento diário do nosso negócio. Era impossível que pudesse controlar um assunto desta magnitude das longínquas terras da Turquia. Também duvido que tenha cérebro para isso, porque o seu estilo sempre foi a intimidação física e sexual. – Então, o que achas que ele quer de nós esta noite? Valentin sorriu. – Imagino que irá ameaçar arruinar-nos socialmente se não lhe dermos dinheiro. Isso seria mais o estilo dele. O sócio dele deve estar à espera que cedamos às suas exigências e gastemos ainda mais dinheiro dos negócios, precipitando dessa forma a nossa queda. – E há quanto tempo está Aliabad no nosso país? – Segundo as minhas fontes, há mais ou menos três semanas e os nossos problemas começaram muito antes disso. Deve partir daqui a três meses. Peter encostou-se à parede e cruzou os braços. – Terminei de investigar os assistentes de Mister Carter. – E? – Valentin tentava avaliar a expressão de Peter sob a fraca iluminação. – Foi Sir Richard Pettifer quem recomendou Alex Long para o cargo, não Mister John Harrison, por isso o pai de Sara não está implicado de maneira nenhuma. Valentin relaxou um pouco. – O que sabes sobre o outro... Duncan, não é assim que se chama? Peter suspirou. – Christopher Duncan costumava trabalhar para o teu pai na Escócia. Valentin não disse nada. Devia sentir-se vitorioso pois as suspeitas sobre o seu pai estavam corretas, mas, ao invés, sentia-se paralisado. Com a ajuda de Peter e de Sara, começara relutantemente a aceitar a ideia de que o seu pai não lhe desejava nenhum mal. – Antes que comeces a tirar conclusões, ainda não sabemos qual deles é, Val. – Quando saberemos? O sorriso de Peter não era agradável. – Estão ambos sob vigilância. Se algum deles espirrar no lugar errado à hora errada, saberemos. Valentin recomeçou a descer as escadas. – Bem. Se acontecer alguma coisa, informa-me imediatamente. Peter seguiu-o escada abaixo até saírem dos elegantes apartamentos de Madame Helene. Conseguiria enfrentar o seu velho inimigo sem perder a paciência? Pelo bem de todos, esperava que sim. Sara pegou na saia e desceu as escadas do teatro a correr. Conseguira convencer o Signor Clementi de que se sentia mal e recusara a sua educada e gentil oferta de a acompanhar até casa. Durante o intervalo, tinha-lhe perguntado se desejava tocar piano num concerto privado para o príncipe de Gales. Incrivelmente feliz, sentiu-se ainda mais satisfeita quando o Signor Clementi comentou que Valentin não só tinha dado a sua permissão, como também perguntara porque lhe tinha sido pedida autorização. Sentiu-se culpada por duvidar de Valentin mesmo depois disso, mas mesmo assim meteu-se numa carruagem de aluguer que esperava por ela e pediu que a levasse a casa de Madame


Helene, esperando que o condutor soubesse onde ficava. Ele partiu sem pedir direções e, aliviada, Sara tirou a máscara prateada que levava na carteira e colocou-a. Não sabia como conseguiria entrar na casa. Valentin tinha entrado como se fosse o dono do estabelecimento. Iriam lembrar-se dela ou teria de revelar a sua identidade? Na entrada discretamente iluminada, Sara assegurou-se de que a sua capa negra cobria o seu traje de noite antes de passar pelas sólidas portas duplas. Um criado, vestido com um uniforme escarlate e dourado e um lenço ao pescoço, fez-lhe uma vénia e deu-lhe uma folha de pergaminho e uma pena. – Boa noite, minha senhora, por favor, assine com o seu nome verdadeiro para poder confirmar a sua entrada com a Madame. Sara obedeceu e aqueceu as mãos diante da enorme lareira até que o criado regressou. Fez-lhe outra vénia. – Desfrute de sua noite, minha senhora. Sara passou apressada diante dele e subiu as escadas até chegar ao grande salão no cimo. A sala estava repleta e, apesar dos seus esforços, não conseguia ver nem Valentin nem Peter. Havia muitos mais homens do que mulheres e a atmosfera parecia mais grosseira e um pouco mais intimidante. Uma mão apertou-lhe o tornozelo e ela baixou o olhar para ver um jovem vestido de mulher que lhe sorria. – Por favor, bela dama, venha brincar comigo. – Arrastava as palavras e o cheiro a brande no seu hálito era inconfundível. Sara tentou afastar-se, mas o homem não a soltou. – Largue-me. Os dedos dele subiram até ao joelho. – Só estou a tentar ser simpático, minha pequena pomba. Não quer brincar? Quando Sara tentou afastá-lo, apareceu um criado por trás do homem ébrio que o agarrou por debaixo dos braços. – Deixe a senhora em paz, senhor. Tem assuntos noutro lado. O criado agarrou no pulso do homem e separou-o da pele de Sara. Esta afastou-se enquanto persuadiam o homem a sair. Quando regressou ao salão, vislumbrou a mulher loura que Valentin tinha reconhecido na sua última visita. Dirigiu-se à zona de refeições e tocou no ombro da mulher. – Senhora, procuro uma pessoa. Pode ajudar-me? – Certamente, ma petite. Sou Madame Helene e sei onde estão todos. – Os seus perspicazes olhos azuis estudavam o rosto de Sara. – Não acredito que nos tenhamos visto, embora já tenha ouvido falar muito sobre si. – Pegou no braço de Sara e conduziu-a para um lugar mais silencioso do salão. – Veio com o Valentin na outra noite. Sara soltou o fôlego. – Sim, sou a esposa de Valentin. Sabe se ele se encontra aqui esta noite? Disse-me que estaria. A Madame Helene franziu o sobrolho. – Creio que o vi com o Peter. – Observou a multidão. – Não sei exatamente para onde foram, mas irei averiguar. Estalou os dedos e um criado apareceu a seu lado. Helene murmurou-lhe algo, ele fez uma


vénia e desapareceu pelo longo corredor do outro lado do salão. Sara encostou-se à parede quando um grupo de homens passou a cambalear e uma mulher solitária seguia entre eles. Dois dos homens beijavam-se, os seus rostos absortos e as suas mãos rebuscando por baixo das roupas de cada um. Sara mirava-os fixamente. – Peter e Valentin vêm aqui juntos com frequência? Madame Helene lançou-lhe um olhar divertido. – Porque pergunta? Sara não respondeu. Como podia perguntar-lhe se o seu marido ia ali para se encontrar com o seu amante masculino? Iria soar ingénua e provinciana. E a Madame poderia pensar que planeava armar um escândalo. Ao menos não havia sinais do desagradável Mr. Aliabad. Talvez Evangeline tivesse impedido Aliabad de ir à reunião e Peter e Valentin estivessem ocupados com outras coisas. Madame Helene praguejou em voz baixa num francês muito pouco próprio de uma senhora. – Desculpe, mas tenho de me ocupar de um certo cavalheiro que continua a ignorar as minhas ordens de se manter longe desta casa. – Deu uma palmadinha na mão de Sara. – Não demoro. – Dirigiu-se para a entrada principal, onde um homem alto e louro olhava em redor de maneira depreciativa. – Minha senhora? – O criado tinha regressado e esperava ao lado de Sara. – Encontrei o cavalheiro que procura. Importa-se de me seguir? Sara agradeceu e ele conduziu-a por umas escadas estreitas até outro corredor largo, decorado em tons de dourado e prateado. – O cavalheiro encontra-se na suíte privada de Madame Helene. – Está sozinho? O homem fez uma vénia. – Não posso responder-lhe a isso, senhora. – Abriu a primeira porta. – Sugiro-lhe que espere aqui até que a Madame regresse para a ajudar. Sara deixou que a abandonasse na magnífica sala. Havia vários espelhos nas paredes e no teto que refletiam a sua imagem de preocupação. Conseguiu desenhar um sorriso débil. Ao menos Valentin não estava nu na cama com Peter nem com um grupo de mulheres bem dotadas. Ouvindo o murmúrio de vozes do outro lado da porta meio aberta do quarto de vestir, Sara não fez caso do conselho do criado para esperar pela Madame e espiou pela porta. Não havia ali ninguém. Voltou para o quarto quando mais alguém entrou do lado oposto e utilizou o bacio de forma ruidosa. Quando a pessoa regressou à outra sala, ela esperou o clique do trinco, mas não ouviu nada. Se fosse cuidadosa, conseguiria escutar à porta? Atravessou o quarto de vestir em silêncio e abriu um pouco mais a porta. Ficou de joelhos e mal se atrevia a respirar. Valentin olhava fixamente para Aliabad, sentado do outro lado da mesa. – Repito, não te daremos nem um tostão. Podes espalhar todos os boatos e os rumores que desejares. Ninguém irá acreditar. – Apoiou a mão sobre a de Peter e entrecruzaram os dedos. – Agora estou casado. Para o mundo educado, sou um libertino reformado que aceitou por fim as suas responsabilidades. Quem ouvirá o discurso de um estrangeiro quando o filho de um nobre


está comprometido? Aliabad sorriu com desprezo. – Tenho a certeza de que a tua esposa gostará de saber sobre o teu passado. – A minha esposa é jovem, simples e ingénua. Ainda que lhe contasses o que supostamente fiz, ela não compreenderia. – Arqueou uma sobrancelha. – Porque achas que demorei tanto tempo a encontrar uma esposa? Foi difícil encontrar alguém tão inocente. E tratei de me assegurar que estivesse unida a mim sexual e legalmente. Riu enquanto os olhos do seu inimigo se enchiam de ira. Era imprescindível que Aliabad acreditasse que Sara não tinha valor para ele, de outro modo poderia utilizá-la contra ele. – Em parte, graças a ti e aos dias que passei a prestar serviços a inúmeras mulheres na Turquia, pelos vistos, sou irresistível na cama. Aliabad levantou-se de repente. – Ainda não te viste livre de mim. Vou dar-vos alguns dias para que voltem a pensar na minha proposta e depois voltarei. – Com o teu sócio? – perguntou Valentin. – Iríamos adorar conhecer a pessoa que tenta chupar até a última gota de sangue dos nossos negócios. – Ele e Peter entreolharam-se. – Sem dúvida é ele o cérebro deste plano. – Claro que vocês adorariam saber quem é, não é verdade? – Aliabad inclinou-se para a frente, com as palmas das mãos sobre a mesa, até que o seu rosto ficou à altura do de Valentin. – Sejas filho de um nobre ou não, nós iremos arruinar-te. – Lambeu os lábios. – Estou desejoso de te ter outra vez de joelhos, Val, a implorar pela tua vida e à minha mercê. Valentin engoliu a fúria e a repugnância e manteve o olhar fixo no outro homem. – É melhor esperares sentado. Se voltar a encontrar-te a meio metro de mim, de Peter ou da minha família, utilizarei toda a minha influência para que sejas deportado como espião. Boa noite. Aliabad falou em turco e as suas palavras eram só sussurros. – Isso não passa de fanfarronices. Implorarás, Val. Encarregar-me-ei disso. – Saiu do quarto batendo com a porta e fazendo com que tremesse nas dobradiças. Peter levantou-se, encheu dois copos com brande e brindou com Valentin. – Pareceu demasiado fácil. Valentin parou ao escutar o som do trinco da porta que girava. Teria Aliabad decidido regressar? Agarrou a cabeça de Peter e beijou-o com força na boca. O brande do balão de Peter derramou-se sobre a sua manga. Riu ao ver a expressão espantada de Peter. Isso deveria dar a Aliabad algo em que pensar. A mão de Peter subiu para lhe acariciar a face. Uma suave corrente de ar perfumada alertou-o para o facto de a porta que tinha estado aberta conduzir ao interior do quarto de Madame e não ao corredor do outro lado. Algo sobre a característica da presença silenciosa atrás dele lhe era familiar. Valentin soltou Peter e virou-se com lentidão. Sara encontrava-se emoldurada pela porta interior. Uma máscara prateada ocultava-lhe os olhos, mas a sua linguagem corporal expressava bem o choque que sentia. Valentin sorriu-lhe. – A tua ama nunca te ensinou que quem escuta às escondidas ouve o que não quer? – Val... – murmurou Peter.


Sara atirou-se a ele furiosa e deu-lhe uma forte bofetada. Ele continuava a rir mesmo depois de se dar conta que a sua brincadeira não tinha tido graça. Quanto teria ouvido? Quanto acreditaria ser verdade? Ela virou-se e desapareceu por onde tinha entrado. Valentin lutou contra uma vontade repentina de vomitar. Ela tinha-o seguido até à casa do prazer. Teria visto o que esperava? – Val. Vai atrás dela e explica-te. – Peter colocou-lhe a capa nas mãos. Valentin limitava-se a olhá-lo. – Val. – Peter agarrou-o pelo braço. – Vamos, irei contigo. Nas escadas, Sara deu de caras com Madame Helene que, ao ver o seu rosto, a afastou dos quartos mais públicos e a conduziu para uma saída mais retirada na cave. Enquanto Madame chamava uma carruagem de aluguer, Sara permanecia de pé encostada à parede e tremia como se tivesse febre. As palavras desdenhosas de Valentin ecoavam de forma contínua na sua cabeça. Havia-a escolhido pela sua estupidez e tinha utilizado o sexo para a escravizar. Levou a mão à testa enquanto uma dor de cabeça se instalava atrás dos seus olhos. Deu um salto quando Madame Helene lhe deu um lenço, não se apercebendo que estava a chorar. – Minha querida, para onde deseja ir? Sara olhou-a fixamente. Não podia ir para casa. – O meu pai está no Hotel Fenton. Irei para lá. – Tem a certeza de que não deseja esperar por Valentin? Acredito que há uma explicação perfeitamente razoável... – Obrigada, minha senhora, mas prefiro ir sozinha. Madame Helene beijou-a na cara e acenou-lhe um adeus. O seu bonito perfil arruinado pela ruga no sobrolho. Sara encolheu-se a um canto da carruagem, com os braços em redor do corpo. Valentin tinha beijado Peter como se o tivesse feito milhares de vezes antes e Peter ficara deliciado... Tinhamlhe mentido. Estaria o seu pai a par da verdadeira natureza de Valentin? Graças a Deus que ele tinha vindo a Londres sozinho. Podia perguntar-lhe diretamente. Talvez ele conseguisse consertar tudo outra vez. Chorava ainda mais com a ideia. Já era demasiado adulta para acreditar que o seu pai podia pôr ordem no universo. Mas talvez lhe pudesse dar um pouco de esperança. Por certo Valentin não estaria a falar a sério. E, lá estava ela, a tentar desculpá-lo, mesmo naquele momento. Cerrou os dentes e olhou lá para fora, para a noite chuvosa. Quando ela bateu na porta de forma enérgica, a expressão do seu pai passou de zangada a preocupada ao ver o estado desalinhado em que ela vinha. – Sara? Aconteceu alguma coisa? Entra. Planeava visitar-te amanhã. Ela esperou enquanto ele fechava a porta e atiçava o fogo. O casaco dele estava pendurado nas costas de uma cadeira e tirara as botas para calçar um par de chinelos puídos. Apesar do calor repentino, os seus dentes continuavam a bater. – Pai, pode dizer-me exatamente onde encontrou Valentin e Peter na Turquia? Ele deixou de avivar o fogo e ficou imóvel.


– Porque desejas saber isso? – Porque correm rumores sobre o passado de Valentin. Queria perguntar-lhe a verdade. Para seu horror, o pai afundou-se numa das cadeiras perto da lareira e tapou o rosto com as mãos. Sara aproximou-se mais. – Pai, eu preciso de saber. Por favor, conte-me. – Meu Deus, o que foi que ele fez? Nunca devia ter escutado a tua mãe. Devia tê-lo mantido afastado de ti. Ela ajoelhou-se diante dele. – Pai… – Encontrei-os num bordel quando estava... a entregar umas mercadorias à proprietária. – Que mercadorias tinha para entregar num bordel? Ele levantou a cabeça, mas não enfrentou o olhar da filha. – Não é da tua conta, minha menina. Ainda sou teu pai. – Mordeu o lábio com força. – Eles eram criados lá? – Eram escravos sexuais. – O pai parecia cansado, mas decidido. – Havia homens e mulheres que pagavam pelos seus serviços sexuais. – Como sabe isso? Mais uma vez ele não a encarou. – Porque a primeira vez que os vi, Valentin e Peter estavam no meio de uma orgia. Chamaramme a atenção porque a pele deles era tão clara que perguntei quem eram. – Estremeceu. – A proprietária pensou que eu desejava comprar os seus serviços e falou-me sobre as suas diversas habilidades. Agarrou a mão de Sara. – Tinha de os tirar dali. Nenhum inglês deveria ser escravo. Logo depois do meu primeiro encontro com eles, dei-me conta de que Peter era viciado em ópio e muito dependente de Valentin. Não podia deixá-los morrer ali. Eles negaram-se a dormir separados na viagem para casa, mas não lhes perguntei o que fizeram. Sara não desviava o olhar. – Porque não me contou a verdade antes de eu me casar com Valentin? Advertiu-me sobre Peter, mas não me explicou nada sobre o passado de Valentin. Deu-se conta de que estava zangada. Grandes ondas quentes desse sentimento elevavam-se dentro dela, fazendo com que as suas lágrimas ardessem e fortalecessem a sua determinação. – O Valentin ofereceu-me uma enorme quantia de dinheiro pela tua mão em matrimónio. Aceitei porque, como sou um imbecil, acreditei nas suas promessas de que se tinha separado de Peter e de que iria honrar os seus votos de casamento. Sara levantou-se, as suas saias húmidas colando-se às pernas. Tinha-se esquecido de acrescentar que estava desesperado por salvar os seus negócios. Ao menos, já tinha a resposta à sua pergunta. Fora vendida pelo pai por um benefício pessoal e comprada por Valentin porquê? Luxúria, ou como uma cortina de fumo de respeitabilidade? – Sara, se tivesse havido outra maneira de salvar os meus negócios e a nossa família, eu teria aceitado. – A dor na voz do pai deixou-a dormente. Com que direito acreditavam os homens que podiam tratar as suas mulheres como ovelhas estúpidas? Não conseguia perceber quem odiava


mais: o pai, por aceitar o seu casamento, ou Valentin, por utilizar a sua inocência como escudo para a sua verdadeira natureza. Virou-se quando Valentin entrou no quarto sem bater. Peter vinha atrás dele. – O que desejas? Se vieste para oferecer mais dinheiro ao meu pai e assim mantê-lo calado sobre o teu passado, então chegas demasiado tarde porque ele já me confirmou o pior. – E do que se trata? – Mentiste-me e usaste-me. O sorriso de Valentin alargou-se. – Estavas bastante de acordo em casar-te comigo. Alguns poderiam até dizer desejosa. Decidiste que já não sou do teu agrado? Ela olhou-o furiosa e tão consumida pela ira que já pouco lhe importava que houvesse público. – Tens de brincar com tudo, Valentin? Ele fez-lhe uma vénia. – Só quando me parece que o meu destino já foi decidido. O pai de Sara levantou-se, cambaleante. – Talvez fosse melhor ir-se embora. Eu cuidarei dela. Valentin franziu o sobrolho e deu um passo em frente, com a mão estendida. Sara afastou-se de ambos. – Não quero nenhum de vocês os dois perto de mim. – Olhou para Peter. – Acompanha-me até casa? Valentin deixou cair a mão ao longo do corpo e inclinou a cabeça para o sogro. – A Sara tem razão. Não há necessidade de que nenhum de nós lhe provoque mais sofrimento. Estará segura na sua própria casa. Decidi partir para a Rússia em viagem de negócios. Peter pigarreou, mas depois de um olhar de Valentin, permaneceu em silêncio. – Regressarei daqui a alguns meses, depois de ter tratado da nossa debilitada fortuna. – Olhou diretamente para Sara, mas ela não detetou nada por trás da sua expressão serena. – Talvez isso te dê tempo suficiente para decidir como desejas continuar. – Fez outra vénia, o seu rosto uma máscara perfeita, e afastou-se dela na escuridão da noite. Sara viu-o partir, consciente da angústia de Peter e das lamúrias de seu pai como um lúgubre coro grego atrás de si. A sua ira desapareceu tão depressa como tinha aparecido, deixando-a fria e extenuada. Tinha a sensação de estar à beira de um abismo enquanto ouvia as botas de Valentin a descer as escadas. Deus do céu. O que tinha ela feito?


17 elo amor de Deus, Peter, por que razão o Valentin não me explicou isto quando teve oportunidade? Sara virou-se para Peter, com a combinação girando em seu redor. Ele acomodou-se no divã bebendo o chá e estendeu os pés, ainda com as botas calçadas, para o calor da lareira. O inverno aproximava-se da cidade e o seu domínio era evidente no ar gelado e no céu escuro e carregado. – Não se pode dizer que lhe tenha dado oportunidade, não é verdade? Val beijou-me porque acreditou que Aliabad tinha regressado para bisbilhotar. Não significou nada. – Peter encolheu os ombros. – Eu sou o único que sabe isso. Sara fechou a boca. Peter tinha razão. Naquela noite fatídica na casa de Madame Helene ela tinha-se sentido demasiado zangada e traída para ouvir fosse quem fosse. As suas lembranças ainda eram fragmentadas. A fúria para com o pai tinha colidido com a ira para com Valentin e isso havia neutralizado todo o seu senso comum. Depois de se ter negado a acompanhá-lo até casa, o seu pai, consternado, tinha regressado a Southampton sozinho. Já não sabia o que pensar dele. A insuficiente explicação sobre a sua presença no bordel na Turquia diminuía-o aos seus olhos. Peter pousou a chávena. – Tem de compreender, Sara. O Val nunca confiou em ninguém desde as suas experiências na Turquia. Espera que o julguem mal e fez uma arte de fingir que não se importa com nada. – E eu cumpri essas expectativas na perfeição, não foi? – Afundou-se no tapete e apoiou a cabeça no joelho de Peter. Valentin iria estar ausente durante seis semanas e Peter e ela haviam tido aquela conversa várias vezes. Ela sentia saudades da companhia de Valentin, em especial da sua presença na cama. – Comportei-me como uma imbecil. – Não seja tão dura consigo mesma. O Val foi bem mais idiota. Ela conseguiu soltar uma gargalhada tímida. – Isso faz-me sentir um pouco melhor, mas agora preciso de saber como reparar os estragos que causei. Peter suspirou. – Não vai ser fácil. Ele não é famoso por dar segundas oportunidades. – Devia ter confiado mais nele. Devia ter-me preocupado menos com os meus sentimentos feridos e... – Evitou pronunciar palavras inúteis. Não valia a pena chorar pelo leite derramado. Tinha de encontrar uma maneira de o trazer de volta. – E agora o Valentin está algures atrás das linhas inimigas na Europa. Não posso ir atrás dele e implorar-lhe que volte. – Deseja que ele volte? Sara ajoelhou-se e observou a expressão tranquila de Peter. – É claro que sim. Amo-o. – Eu também, Sara. – Peter vacilou. – Isso ofende-a? Ela acariciou-lhe a face.

–P


– Não desde que me explicou o que passaram juntos. Ficaria surpreendida se não se preocupassem um com o outro. O companheirismo de Peter nas últimas semanas havia sido o seu único consolo. Ele era a única pessoa que compreendia verdadeiramente o que tinha levado Valentin a transformar-se no homem que era. Apesar dos temores de Valentin de que Peter voltasse a cair no vício, este tinha mostrado que era muito mais forte do que isso. Havia demonstrado a Sara que tinha vencido os seus demónios com muito mais êxito do que o seu marido. Sorriu para ela. – Então temos de pensar numa maneira de o trazer de volta. Algo tão escandaloso que ele se sinta obrigado a voltar para salvar a sua reputação. – Ela observava-o desconfiadamente ao mesmo tempo que a sua boca desenhava um sorriso. – Vai haver um leilão muito pouco comum na casa de Madame Helene no mês que vem. A Helene acredita que é seu dever patriótico assegurar-se de que nenhum soldado parte para a batalha sendo virgem. Oferece às senhoras da alta sociedade a oportunidade de demonstrarem o seu patriotismo desflorando qualquer jovem que se tenha alistado recentemente. Sara escancarou a boca. – E eu teria mesmo de o fazer? – O que acontecer atrás da porta do quarto fica entre o homem e a mulher que o ganhou. Mais ninguém tem de saber. – Fez uma expressão que parecia reprovadora. – Claro que eu sentir-me-ia obrigado a escrever a Valentin a contar sobre a sua conduta descarada e as consequências para o seu prestígio social. Se isso não o trouxer para casa no navio seguinte, nada o trará. – E, quando ele chegar aqui, eu terei de pensar numa maneira de fazer com que volte a confiar em mim. – Mordeu o lábio. – Já pensei numa maneira, mas vou precisar da sua ajuda. Peter sorriu. – Nem tem de pedir? É claro que a ajudarei. – Quero compreender como foi para vocês. – Mordeu novamente o lábio. – Eram ambos tão jovens... – Podia ter sido pior, Sara. – Peter encolheu os ombros. – Ao menos a Madame Tezoli esperou alguns anos até que crescêssemos o suficiente para ter uma ereção, ao invés de nos pôr a trabalhar assim que chegámos. Sara sentiu o sabor do sangue na boca. – Como pode dizer isso com tanta tranquilidade? Como pode ser indulgente com essa mulher horrível? Peter fitou-a com os seus calmos olhos azuis. – Porque tenho de viver comigo mesmo e com quem sou. E também tenho de perdoar. Ela continuava a observá-lo enquanto ele se levantava. – Tenho de mostrar a Valentin que o que aconteceu no passado não me repugna. Se me colocar numa posição em que confie nele sem reservas, talvez ele possa fazer o mesmo por mim. Peter fingiu aplaudir, o seu rosto entusiasmado com uma expressão travessa. – Siga em frente, Sara. Choque-o. Apreciarei cada minuto.


18 ara ouviu o som de vozes no vestíbulo e, com indiferença, levantou o olhar do livro que fingia ler. A neve caía do outro lado da janela e fazia com que fosse difícil distinguir entre o céu e a terra. A sobriedade da noite de inverno favorecia a amargura do seu humor. Não se dera ao trabalho de trocar de roupa para o jantar, não tinha apetite e não esperava hóspedes. Para seu aborrecimento, a visita parecia não ter pressa em partir. Seria Peter a tentar convencê-la a voltar para a sociedade? Colocou uma manta de lã em redor dos ombros e dirigiu-se para o patamar. Um homem alto com um chapéu de pele e uma larga capa negra falava com o mordomo no átrio. Mesmo antes de ele levantar o olhar, Sara soube que era Valentin. Os três meses de ausência haviam-lhe mudado a aparência. Deixara crescer a barba, o seu rosto estava mais magro e os seus olhos escuros como se tivesse cavalgado pelo inferno para chegar até ela. Sara levou a mão à boca. – O que fazes aqui? Sem desviar o olhar, ele tirou o chapéu cheio de neve e entregou-o ao mordomo. – Não me esperavas? – Sob a luz amarela, o forro de zibelina escura da sua capa ondulava como um animal vivo. – Na verdade, já estava de regresso da Rússia quando recebi as notícias da tua difícil situação. Sara elevou o queixo. – Não te pedi que viesses. Ele tirou a pesada capa. – Não, não pediste, não é verdade? – Percorreu-lhe o corpo com o olhar. – Estás preparada para sair? Creio que é necessário que nos vejam juntos o mais depressa possível para dissipar quaisquer rumores. Valentin entrou na sala de estar com a capa a arrastar atrás de si. Quando Sara o alcançou, ele examinava os cartões de convite que ela tinha deixado por abrir sobre a pedra da lareira. Deu-lhe três. – Iremos a estes. Tenho de trocar de roupa e rapar esta maldita barba. Quero que estejas pronta daqui a meia hora. – Mas não desejo sair. O tom amável e o seu rosto inexpressivo não conseguiram esconder a gélida fúria do seu olhar. – Não perguntei o que desejavas fazer. Ele girou sobre os calcanhares e dirigiu-se para as escadas. Sara permaneceu no centro da sala, segurando os cartões na mão como uma imbecil. Teria ainda tempo de enviar uma mensagem a Peter para lhe pedir que se encontrasse com eles no primeiro baile? Se desejava que o seu plano funcionasse, necessitaria da ajuda dele. Olhava fixamente para a capa que Valentin tinha deixado sobre uma cadeira e não pôde evitar levantá-la e abraçá-la contra o peito. Tinha o seu perfume e retinha ainda o calor da pele do seu marido.

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Sara afundou o rosto nas grossas dobras e lutou para recuperar a calma. Ele tinha voltado. Para ela. *** Sara não ficou surpreendida quando Valentin apareceu na porta que ligava ambos os quartos. Fez sinal com a cabeça para que a sua criada se retirasse. Valentin estendeu a mão para lhe pedir a escova e ela sentou-se no toucador. Já estava barbeado e tinha vestido o comprido roupão de seda negra. Sem a barba nem o bigode, Sara conseguia ver os contornos clássicos do rosto dele, os ângulos das suas maçãs do rosto e os seus magníficos olhos cor de violeta. Ele começou a escovar-lhe o cabelo. As suas carícias eram suaves e constantes. – Devias saber que o Peter iria contactar-me a respeito das tuas atividades. O seu tom parecia ignorar o facto de não falarem há três desesperantes meses. – A que atividades em particular te referes? – Ela sorriu sem vontade. – Ao teu adultério com dois soldados recém-alistados no batalhão de fuzileiros. Acredito que eram gémeos. – Gémeos verdadeiros. A escova parou a meio de uma carícia. – Não negas ter feito sexo com eles? – Porque deveria fazê-lo? Se ouviste falar disso nas remotas terras da Rússia, então deve ser verdade. Ele continuou a pentear-lhe o cabelo. – E valeram a pena? Ela fingiu não entender. – Se valeram o quê? Valentin soltou uma risada. – A tua reputação, minha querida. O Peter disse-me que certos setores da sociedade te evitaram. Sara encolheu os ombros. – Sobreviverei. Devias saber isso melhor do que ninguém. – Ela olhou para o espelho e esperou uma reação. A expressão dele permanecia enervantemente calma. – Hoje à noite começaremos a reparar os danos. Aparecerei a teu lado como se nada de mal tivesse acontecido. Não tardará a aparecer outro escândalo e toda a gente esquecerá isto. – É assim tão simples? Valentin baixou a escova. – Teremos de ver, não é verdade? – Deslizou a mão para dentro do bolso e tirou algo. – Talvez possas usar isto por mim esta noite? Poderia ajudar-te a fingir ser uma esposa amantíssima e loucamente apaixonada pelo teu bonito marido. Sara observou as finas correntes de ouro, os fechos e a solitária pérola. O seu corpo estremeceu ao dar-se conta de que ele não lhe havia trazido um presente convencional. – Creio que terás de me ajudar. Valentin fez-lhe deslizar o roupão pelos ombros.


– Então será melhor que te levantes. Ele observava o seu corpo nu ao espelho. Os seus mamilos tesos e repuxados pelos anéis de ouro inseridos através deles. As mãos dele rodearam-lhe a cintura e fecharam a primeira das correntes interligadas num círculo na parte inferior dos quadris. Subiu duas correntes finas até aos seus seios e uniu-as através dos anéis nos mamilos. – A mulher que me vendeu isto disse que a carícia da pérola é parecida à ponta do dedo de um homem no clítoris. O objetivo é estimular-te e fazer-te pensar constantemente em sexo. – Deixou que a última peça da corrente, a que continha a pérola, ficasse pendurada entre as suas pernas. – Disse isso enquanto exibia pessoalmente a peça para ti? Valentin não respondeu e Sara lutou para conter um tremor quando ele colocou a mão sobre o seu o monte de Vénus e deslizou o fino ouro por entre os lábios da sua vagina e o levou até às suas nádegas. Ajoelhou-se aos seus pés com uma expressão séria enquanto passava a corrente por baixo e ao longo dos quadris dela. Encontrou a pérola, que parecia mover-se ao longo da corrente. Pressionou-a contra o clítoris e segurou-a ali com o polegar. Os finos elos dos aros nos seus mamilos esticavam e puxavam com delicadeza a sua pele excitada. Ajustou o comprimento da corrente entre as suas nádegas e prendeu-a na cintura. Levantou o olhar para ela como uma costureira interessada em ver como ficava o novo vestido. – Estás desconfortável? Sara endireitou-se e sentiu de imediato a pérola a deslizar contra o clítoris. Esta não tardou a aquecer contra a sua pele. – É assim que planeias castigar-me? Valentin levantou-se. O seu pénis apareceu por entre as dobras do roupão e ele não fez o menor gesto para o esconder. – É um começo, não achas? No final da noite discutiremos como planeamos continuar. Fica aqui. Sara tinha alcançado o seu espartilho, mas, obedientemente, permaneceu imóvel. Valentin despiu o roupão e estimulou o pénis com a mão. Para Sara era impossível não ver as carícias agitadas dos dedos dele enquanto o seu membro se humedecia e dilatava. Os mamilos dela ficaram tensos e o seu corpo respondeu com uma corrente do seu próprio néctar. – Seria agradável vir-me agora sobre a tua barriga e levar-te para a rua nua e coberta com a minha semente. – Apertou o pénis. – É extraordinário como os homens podem ser territoriais. Assim, todos saberiam que me pertences. Fez uma careta quando o sémen escorreu a jorros por entre os seus dedos. Voltou-se para Sara e passou-lhe os dedos molhados pela boca fechada. – Partimos daqui a quinze minutos. Esperarei por ti no vestíbulo. *** Valentin contemplou o rosto sereno da sua esposa enquanto dançavam. Estava ainda mais bela do que a tinha imaginado nos seus tortuosos sonhos. O seu comprido cabelo estava preso numa variedade de caracóis e tranças que lhe emolduravam o rosto. Era classicamente inglesa, mas havia uma enorme sensualidade por baixo daquela pele perfeita.


Pela primeira vez na vida, estava indeciso. Arrependera-se da sua decisão abrupta de partir assim que o navio zarpara. Devia ter ficado e lutado pelo que desejava ao invés de desaparecer como se admitisse ser culpado. Na verdade, nunca se tinha defendido. Para ele, sempre fora mais fácil ignorar as desavenças, esconder-se atrás de um sorriso agradável, permitir que o ódio e a autorrepugnância lhe infetassem a alma. Mas Sara agora conhecia o pior dele. Ao chegar, tinha acreditado que ela seria capaz de o pôr fora de casa. Ao invés disso, ela tinha-o recebido bem, permitira que ele lhe tocasse e demonstrara ser uma companhia agradável e atenta. Apesar das cartas ansiosas de Peter, não tinha ainda notado que Sara estivesse a ser desprezada pela alta sociedade. Era possível que a sua presença tivesse desencorajado os mexericos. Contudo, estava mais disposto a acreditar que Peter havia deliberadamente sobrestimado o apuro de Sara numa tentativa de o persuadir a voltar para casa. Peter não precisava saber que já tinha regressado. – Estás a divertir-te, minha querida? – Sim, meu senhor. Está uma noite muito agradável. Ela voltou a sorrir-lhe com os seus olhos azuis bem abertos e tranquilos. Valentin tinha esperado que ao vê-lo ela ficasse zangada, para depois lhe permitir explicar-se e convencê-la do que sentia. Tinha-se até preparado para que ela tivesse pena dele. A fria receção e o facto de ela não ter negado ter um amante, haviam reacendido os seus instintos possessivos. Cerrou os dentes contra o impulso de a sacudir pelos ombros até que os seus dentes batessem. – Porque és tão amável comigo? – perguntou-lhe de maneira abrupta. – Não é o que desejavas? Uma agradável esposa convencional que não se importasse com as tuas infidelidades? Dentro do peito de Valentin, a fúria e a luxúria debatiam-se numa batalha perdida contra as boas maneiras. Parou de dançar e afastou Sara da pista de dança, agarrando-a pelo braço com tanta firmeza que sentia todos os ossos do seu pulso. Lançou-se para o primeiro quarto deserto que encontrou. – O meu nome é Valentin, não é meu senhor. Ela levantou o queixo. – Sei disso muito bem. – O espartilho subia e descia a cada respiração apressada. Lembrou-se das correntes presas aos aros dos seus mamilos e da pérola afundada nas suaves dobras do seu sexo. O silêncio entre eles parecia tremer com o calor sexual e a expectativa. – Ainda sou teu marido. Ainda me pertences. – Não pertenço a ninguém. Olhou-a fixamente nos olhos. – Talvez precises de ser persuadida. Pressionou-a contra a parede e caiu de joelhos. A boca dele roçou contra o suave cetim do seu vestido. – Levanta as saias. O suave restolhar do cetim e das combinações ecoou no silêncio da biblioteca. – Abre as pernas. Deslizou um braço pelas nádegas para que a vagina ficasse inclinada para ele. A pérola estava no seu clítoris, agora rodeada por espirais do seu néctar. Com um gemido, puxou-a para a sua


boca. Os seus dentes roçaram a pérola e sugou-a com força juntamente com o seu botão inchado. Sara gemia enquanto ele lambia e lambia a pérola e a fina corrente de ouro. Desejava possuí-la com força contra a parede. Pouco lhe importava se alguém entrasse na biblioteca e os visse. Deus! Adoraria ver quão ciumento ficaria qualquer homem ao ver Sara a vir-se nos seus braços. Ela começou a estremecer e a vibrar em redor da sua boca selvagem. Ele lutou contra uma onda de emoções que ameaçava tomar conta dele. Deliberadamente, levantou-se devagar e limpou a mão aos lábios. Observou o rosto excitado de Sara e lutou para encontrar a sua habitual expressão divertida. A fúria ardia no seu ventre. Como se atrevia ela a fingir que não lhe importava o seu passado sexual? Como se atrevia a fingir que ele não a afetava? Ocorreu-lhe que desejava que ela se zangasse. Desejava a sua ira para poder convencê-la a perdoá-lo e a aceitá-lo de volta. Travou aqueles pensamentos alterados e indignos de um homem e mostrou-lhe o seu sorriso mais insolente. – Tenho de te deixar. Prometi a próxima dança a uma velha amante. Apanhou a mão de Sara mesmo antes de ela o atingir no rosto. Beijou-a com força até que ela deixou de tentar mordê-lo. Pontapeou-o, mas os seus sapatos de baile deslizaram inutilmente contra a perna dele. – És um cretino, Valentin Sokorvsky. – Sou? Não estou a comportar-me como um marido traído? Ela olhou-o furiosa. O seu peito subia e descia a cada fôlego. – Deixaste-me sozinha durante três meses e agora esperas que tenha pena de ti? Ele endireitou a gravata e afastou-se dela. – Não quero a tua pena. – Não sabes o que queres. Ele mantinha o olhar fixo no dela para que visse a sua ira. – Esta noite quero que implores. Os olhos azuis de Sara olharam de volta para ele. – Veremos quem acaba a implorar...


19 ento-me no chão junto à lareira do teu quarto. Estou nua, exceto pelo colar de diamantes em volta do pescoço. Uma grossa corrente de ouro presa ao colar cai por entre os meus seios e amontoa-se no meu sexo. O meu cabelo está entrançado atrás das costas para que eu não possa esconder o meu corpo nem a minha expressão. É assim que preferes: sou tua escrava e devo obedecer. O teu criado de quarto passa por mim enquanto arruma as tuas roupas. Sendo um criado pago e não um escravo, ele considera-se superior a mim. Às vezes, agacha-se ao meu lado e toca-me nos seios ou belisca-me os mamilos. Suporto que ele me toque porque devo fazê-lo. Às vezes isso excita-me. Enquanto espero, pergunto-me como serei tratada. Às vezes ignoras-me e eu acabo a dormir sozinha, frente à lareira. Se tiver sorte, permites que te dispa e faça amor contigo. Se o teu humor for incerto, tenho de tentar antecipar os teus desejos e satisfazê-los o mais rapidamente possível. Às vezes, deixas que coloque o teu pénis dentro da minha boca e engula a tua semente sem sequer me tocares. Não me queixo. É uma honra servir-te. Se estiveres triste, podes levar-me perto do prazer e depois afastar-te. Não posso alcançar a libertação sozinha, a menos que me dês permissão. Agrada-me quando ficas a ver-me atingir o clímax. As minhas noites preferidas são quando me pões de pé, desabotoas as calças e me possuis com força e rapidez contra a parede. Gosto da sensação do teu corpo a bater contra o meu e da tua boca urgente a chupar os meus seios. Às vezes, trazes Peter e essas são as melhores noites de todas...

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Valentin olhou furioso para o criado enquanto via a sua carruagem desaparecer na estrada. Depois da dança com Lady Ingham, Peter tinha-lhe dito que Sara se fora embora. Ainda tinha corrido até ao vestíbulo, só para descobrir que a deixara escapar e que fora abandonado no baile. – A senhora pediu-lhe que me desse alguma coisa? – Isto, senhor. – O criado estendeu a mão. Valentin reconheceu de imediato a capa de seda vermelha do livro. – Obrigado. Desviou o olhar da porta principal em busca de um lugar tranquilo e Peter seguiu-o. Um bilhete voou até ao chão de mármore. Peter apanhou-o e entregou-o a Valentin que leu em voz alta: – «Quero experimentar o que é ser uma escrava do prazer.» Na biblioteca deserta, Valentin folheou as páginas escritas até que encontrou a última anotação do livro. Tinha data dessa noite e ele leu e releu as palavras várias vezes. O sangue abandonoulhe o cérebro e dirigiu-se para o seu pénis. Entregou o livro a Peter. – «... Às vezes, trazes Peter e essas são as melhores noites de todas.» Que diabo achas que


significa isto? Peter parecia pensativo ao devolver-lhe o livro. – Acredito que a tua esposa planeia dar a dois antigos escravos uma noite muito interessante. Valentin fechou os olhos e visualizou Sara nua, esperando a seus pés. O seu pénis endureceu ainda mais. – Duvido que esteja em casa. Peter voltou-se para a porta. – Imagino que deva estar na casa de Madame Helene; é mais seguro lá. Vou chamar a minha carruagem enquanto tu procuras as nossas capas e os nossos chapéus. Valentin parou diante da porta branca. Uma pequena placa de porcelana que continha o número sete era a única decoração. Tinha pedido a Peter que esperasse não fosse dar-se o caso de terem compreendido mal a mensagem de Sara. Apoiou a mão na superfície branca e lisa enquanto contava os batimentos irregulares de seu coração. O que esperava exatamente? Se Sara tinha planeado aquela noite para o humilhar, sabia que nunca recuperaria. Mas, e se ela desejava continuar com aquela fantasia para melhor compreender aquilo que Peter e ele tinham passado? Ao converter-se naquilo que ele mais temia, ao subjugar-se a ele, procuraria deliberadamente a sua confiança? Endireitou os ombros. E qual era o problema se reduzisse o seu orgulho a migalhas? Sara valia bem a pena. Bateu à porta e entrou. Por instantes, imaginou que estava de regresso ao seu quarto. Um criado uniformizado colocou o seu roupão preferido sobre a cama e fez-lhe uma vénia. Desviou o olhar para a lareira. Sara estava ajoelhada ao lado de uma cadeira com a cabeça inclinada. As longas e deliciosas linhas do seu corpo nu brilhavam sob a luz das chamas. Um colar de diamantes em redor do seu magro pescoço atraiu a luz quando ela levantou a cabeça. – Deseja que o ajude a despir, senhor? – A voz agradável do criado intrometeu-se na consciência de Valentin. – Não. Pode ir embora e não volte a menos que o chame. Assim que o homem saiu, Valentin voltou a concentrar a sua atenção em Sara. Caminhou para o outro lado da lareira e olhou-a fixamente. Uma pesada corrente de ouro descia pelo meio dos seus seios e desaparecia por entre as suas pernas. Ele estendeu a mão para baixo e levantou a corrente sustentando-a nas mãos. Estava quente do corpo dela e húmida porque tinha estado apoiada contra o seu sexo. Deu um ligeiro puxão na corrente e ela levantou o olhar. Não via nenhum sinal de brincadeira, nem mal-estar na expressão dela. Só o desejo de o satisfazer e isso incendiou-lhe o pensamento. Até onde o deixaria ela chegar? A tentação de pôr à prova os limites dela consumia-o. – Chupa o meu pénis. Ela ajoelhou-se e desabotoou-lhe as calças com pulso firme. Ele já estava excitado e mais do que preparado. Sara colocou uma mão em redor da grossa base do seu pénis, apoiou a palma da outra nos testículos e enfiou o resto profundamente na sua boca. Valentin fechou os olhos enquanto ela chupava, lambia e acariciava o seu palpitante pénis.


Tinha-a ensinado bem a dar-lhe prazer. Deslizou a mão por entre os seus corpos e puxou-lhe o pulso direito. – Afasta a mão. Quero-o todo dentro da tua boca. Era demasiado grande para ela e ele sabia-o bem. Esperou para ver o que ela faria. Para sua surpresa, Sara introduziu mais. Valentin estremeceu quando a ponta do seu pénis lhe tocou na garganta. Não tardou a vir-se em violentos jorros dolorosos, demasiado profundo para ela não o engolir. Valentin abriu os olhos e fitou-a. A face dela descansava na sua coxa e a sua respiração estava forte. Quase a tinha afogado quando se viera. Enrolou a corrente à volta da mão e obrigou-a a levantar-se. Introduziu-lhe a mão por entre as coxas e descobriu que estava muito molhada. O seu pénis voltou a despertar com firmeza. Abotoou as calças. Sara estremeceu quando Valentin a olhou. Fez um gesto para uma cadeira atrás dela. – Senta-te. – Ela apressou-se a obedecer. O seu corpo já gritava por atenção. – Abre as pernas. – Separou-lhe bem as pernas e passou-lhe os joelhos por cima dos braços da cadeira, expondo-a por completo perante o seu olhar. Ela esperava enquanto ele a observava, consciente de que o olhar dele fazia com que o seu sexo palpitasse desejoso de ser tocado. O brocado de seda era frio contra a sua pele quente ajudando-a a relaxar. Valentin agachou-se entre as suas coxas, apoiou as mãos sobre os seus joelhos e, pouco a pouco, foi subindo pelo seu corpo até chegar aos seios. – Alegra-me que ainda os uses. – Tocou nos anéis dourados que lhe atravessavam os mamilos e lambeu aquele que tinha no umbigo. – Uso-os para si, meu senhor, porque lhe dão prazer. – Enquanto falava, mantinha o olhar baixo, consciente da sua nudez, consciente da sua força controlada. Teria consciência que a sua vulnerabilidade também o tornava vulnerável? Os dedos dele roçaram-lhe o clítoris inchado e ela estremeceu. – Desejas que coloque a minha boca sobre o teu corpo? – Isso é o senhor que decide. Estou aqui para satisfazê-lo. Tocou o duro casulo do seu sexo com um dedo cuidadoso. – Estás muito molhada. Tiveste saudades? – Sim. – Sara conteve um gemido enquanto a ponta do dedo de Valentin deslizava de trás para a frente. – O que aconteceu com os gémeos que levaste para a cama? Não te satisfizeram? Sara fechou os olhos. Que injusto da parte dele tocar no assunto quando ela se encontrava tão indefesa. Teria de ser honesta. Ele percebia sempre quando ela mentia. – Ganhei-os num leilão. Eles iam partir para a guerra e nenhum deles desejava morrer virgem. O dedo deixou de se mover. – Estavas então a cumprir o teu dever patriótico? Sara reuniu toda a sua coragem. – Não. Esperava atrair-te para que voltasses para mim. Valentin inclinou-se para a frente e chupou-lhe o clítoris. Chupava de maneira tão intensa que Sara quase caiu da cadeira. Quando se afastou, lambeu os lábios cobertos pelo seu néctar.


– Sou um homem possessivo. O teu plano de atrair a minha atenção teve êxito. – Olhava o corpo exposto de Sara. – Eles eram bons? – Não, eram cachorrinhos ansiosos e excitados. Não faziam ideia de como dar prazer a uma mulher. – Até os teres ensinado. – Tentei, mas eles estavam mais interessados no seu próprio prazer do que no meu. Valentin não precisava saber que os gémeos tinham estado mais interessados em fazer sexo um com o outro. Madame Helene tinha-a ajudado a escolher o par certo sobre o qual licitar. Um débil sorriso cintilou nos traços inflexíveis do rosto dele. – Deve ter sido... frustrante... para ti. Ajoelhou-se e tocou-lhe a ponta do mamilo com a língua. Ela susteve a respiração ao sentir o calor da boca dele sobre a sua pele fria e o som do metal contra os seus dentes enquanto puxava o aro dourado. Os botões nacarados do seu colete pressionavam contra o seu ventre; o pénis empurrava com força contra os limites das suas calças. Ele desenhava círculos com os quadris, roçando o cetim frio e suave contra a sua vagina quente e húmida. – Vieram-se pelo menos três vezes cada um antes de conseguirem aproximar-se de mim – ofegou Sara enquanto o seu orgasmo ameaçava. – Isso deve ter sido muito desagradável. Agora percebo porque os chamaste de cachorrinhos. Não estavam bem ensinados. Sara conteve um sorriso. Valentin fazia-a sempre rir nos momentos mais inapropriados. Ele deslizou a mão entre os dois e tocou-lhe a vagina. – Se fosses minha escrava de verdade, perfurar-te-ia aqui. Ia adorar poder ter-te nua só com uma fina corrente de ouro presa aos lábios da tua vagina. – Riu em voz baixa quando a humidade dela banhou os seus dedos. – Diabos, gostaste da ideia. Eras bem capaz de permitir, não é verdade? – Afastou-se dela. – É melhor irmos procurar Peter. Ele está lá fora, nas salas públicas. Levantou-se, caminhou até um armário de madeira de cerejeira e abriu as duas primeiras gavetas. – Vais precisar de uma máscara para esconder os olhos e algo para cobrir os quadris. Não quero que todos os homens saibam quão húmida e preparada para o sexo está a minha escrava. – Franzia o sobrolho enquanto dava voltas a várias tiras de seda curtas. – Chamarei um criado. – Sara preparava-se para se mexer, mas Valentin esticou a mão. – Podes ficar tal como estás. Sara permaneceu sentada, com as pernas por cima dos braços da cadeira, exibindo a vagina. Doíam-lhe os músculos das coxas devido à tensão, mas ela sabia que não lhe convinha queixarse. O criado que respondeu às ordens de Valentin era bastante jovem e o seu olhar permanecia fixo em Sara enquanto ouvia a ordem de Valentin. Para surpresa de Sara, Valentin não parecia importar-se com o comportamento do homem. Depois de o criado lhe ter mostrado onde havia fitas de seda mais largas, Sara esperava que ele dispensasse o homem, mas não o fez. Sentiu um tremor de excitação quando ele fez um gesto para o criado se deslocar até à cadeira. O jovem lambeu os lábios quando Valentin se aproximou e ficou ao lado dele. – Como se chama?


– Parrish, senhor, Tom Parrish. – Bem, Mister Parrish. Acha-a bela? Tom olhou de soslaio para Sara. – Não devia dizê-lo, senhor, mas, sim, é muito bonita. – Então, a Madame Helene não lhe permite ter relações sexuais com os convidados? – Oh, sim, senhor, ela diz-nos que devemos fazer aquilo que o cliente deseja, e isso inclui sexo e tudo o mais, senhor. – Olhou para os sapatos. – Não estou aqui há muito tempo, mas também sei que não devemos fazer nada que não queiramos, senhor. – E gostaria de tocar nessa mulher? Tom enrubesceu. – Só se prometer não me bater depois, senhor. Valentin sentou-se na cadeira frente a Sara. – Dou a minha palavra de que não lhe farei mal. Toque-lhe no lugar que mais desejar. Sara ficou tensa quando Tom voltou a sua atenção para o seu corpo nu. O rapaz estendeu a mão e acariciou o anel de ouro que atravessava o seu mamilo. – Isso não lhe dói? Sara negou com a cabeça e Valentin riu em voz baixa. – Coloque-o na sua boca e chupe-o com força, ela gosta. Tom apoiou as mãos nos joelhos de Sara e inclinou-se. Ela podia ver o começo de uma barba incipiente nas suas faces ruborizadas. A boca dele fechou-se sobre o seu mamilo direito e ela gemeu. Valentin deu outra ordem. – Deslize os dedos para dentro dela enquanto a chupa. Ela não se importará. Sara abriu os olhos quando Tom deslizou dois dedos para o seu interior. Valentin observava-a com uma expressão indecifrável. Se ela se queixasse, ele mandaria Tom parar? Sabia que, como verdadeiro escravo, ele não tinha tido o poder de deter ninguém que o tocasse se tivesse pago pelo seu tempo. E como poderia ela evitar que o seu corpo reagisse perante o roçar de outro homem? Teria Valentin sentido prazer com alguns dos seus clientes e odiava-se por isso? Tom chupava com mais força e empurrava os dedos com mais rapidez. O entusiasmo do rapaz superava a sua habilidade. Quereria Valentin que ela se viesse ou não? Estava tão perto. Valentin levantou-se quando Tom começou a gemer e a empurrar os quadris contra o ventre dela. – Abre as calças dele e pega-lhe no pénis. Ajuda-o. Sara mal teve tempo de envolver os dedos em redor do falo de Tom antes que este chegasse ao clímax com um grito fremente. A boca dele relaxou contra o seu mamilo. Disse-lhe, ofegante: – Obrigado, minha senhora. Obrigado. Valentin presenteou-o com uma bolsa cheia de moedas enquanto ele saía com um sorriso idiota e com as calças de cetim manchadas na virilha. Sara reclinou-se e esperou que Valentin regressasse. Ele atirou-lhe uma moeda de ouro, que aterrou entre os seus seios, o metal frio contra a sua pele quente. Um calor humilhante subiu-lhe até às faces ao mesmo tempo que ansiava por lhe atirar a moeda à cara.


– Não sabia que os escravos eram pagos, meu senhor. – Se satisfizer o seu amo, sim. – Agradou-lhe ver outro homem a tocar-me? O olhar dele adquiriu uma expressão mais dura. – Se fosses mesmo minha escrava, não farias perguntas tão impertinentes. Farias apenas o que te ordenasse. – Devia ter-me vindo para ele, embora o senhor seja meu amo e eu não o desejasse a ele? Valentin observava-a em silêncio, com uma mão no bolso. – Um escravo não tem opção quando o compram e se apoderam do seu corpo. Um escravo aprende a sentir prazer quando pode. Inclinou-se para a frente, agarrou a moeda e voltou a guardá-la no bolso. Sara estremeceu quando ele colocou um pano húmido e perfumado sobre o seu ventre. – Limpa o sémen dele, mas não toques na tua vagina. Gosto dela húmida. Ela fez o que lhe pediu e ficou obedientemente de pé enquanto ele enrolava a faixa de seda amarela em volta dos seus quadris. Caía quase até ao chão, deixando a sua perna esquerda parcialmente descoberta. Baixou o olhar para os seus mamilos, que agora estavam permanentemente eretos. Iria levá-la até ao salão principal? Lembrou-se do homem bêbedo que tinha tentado tocá-la quando estava totalmente vestida. O que aconteceria agora que estava quase nua? O cabelo apanhado de Valentin brilhou sob a suave luz das velas quando ele inclinou a cabeça para ajustar a seda que lhe envolvia o quadril esquerdo. O perfume dele entonteceu-a de desejo. Queria senti-lo mover-se dentro dela com força e rapidez. Como se estivesse num sonho, levantou a mão para lhe acariciar a face. Ele girou a cabeça e beijou-lhe os dedos, colocando-os dentro da sua boca quente e pecaminosa. Ela cambaleou ligeiramente contra ele enquanto a puxava pelos quadris. – Também irás precisar de uma máscara. – Procurou nas gavetas até encontrar uma de seu agrado. No seu olhar havia um frio desafio ao levantar a corrente presa no colar em redor do pescoço dela. – Estás preparada? Sara devia confiar nele. Devia acreditar que ele nunca lhe faria mal. Quando Valentin era escravo, não tinha tido nenhum controlo sobre a pessoa que comprava os seus serviços e havia enfrentado infinitas possibilidades de dor e humilhação. Sara mordeu o lábio. Como teria ele suportado tanta incerteza? – Sim, meu senhor. Ele conduziu-a pelo corredor silencioso. Os seus pés descalços não faziam qualquer barulho sobre o macio tapete vermelho. Escutavam música e um suave murmúrio de vozes oriundos da porta aberta no final do corredor. Sara inspirou quando seguia Valentin para o quarto. Para seu alívio, havia apenas uma dúzia de pessoas dispersas no pequeno salão íntimo. Um dos homens era Peter, que se levantou e fez uma vénia ao mesmo tempo que Valentin conduzia Sara para a frente. – Boa noite, meus queridos. A função está prestes a começar. – Peter conseguiu manter o olhar cravado no rosto de Sara. – Porque não nos sentamos? Valentin sentou-se no divã mais próximo e empurrou com suavidade o ombro de Sara para que


ela se ajoelhasse sobre o tapete ao seu lado. Peter sentou-se de esguelha, do lado direito, ocultando-a do resto da sala. No centro do círculo de cadeiras avistava-se uma mulher pequena, de pé. O seu comprido cabelo negro caía-lhe até aos quadris. Estava nua, com a vagina rapada, tal como as pernas e sorria para os espectadores reunidos. – Bonsoir, meu nome é Renée. Bem-vindos. – O sotaque era claramente francês. Apontou para a porta. – Este é o meu companheiro, Gastard. Esperamos que se divirtam. Sara levantou o olhar para Gastard enquanto este abria caminho por entre as cadeiras. Devia medir pelo menos dois metros e a sua constituição era como a de um trabalhador do campo. Renée era pelo menos meio metro mais baixa que ele. Sara deu um salto quando Valentin deslizou a mão do seu ombro para brincar com o aro do seu mamilo. Gastard tirou as calças e várias senhoras gritaram e aplaudiram. Peter emitiu um suave assobio. – É dotado como um cavalo. – E nem sequer está excitado ainda – acrescentou Valentin enquanto fazia círculos no mamilo tenso de Sara com o dedo indicador. – Será interessante ver como ele a monta. Sara nem sequer podia imaginar ter um homem tão grande dentro dela e Renée era pequena. Valentin estendeu os dedos até tocar em todo o seu seio. Renée mostrou uma garrafa de vidro decorada. – Algum de vocês deseja fazer massagens com óleo no pénis de Gastard? – Preferia fazê-las em ti! – gritou um dos homens. Renée riu – Pode fazê-lo. – Piscou-lhe um olho. – Por um preço. Várias moedas de ouro e notas aterraram dentro do círculo. Sara observava uma jovem massajando o pénis e os testículos de Gastard enquanto o óleo brilhava na ponta dos seus dedos. Encostou-se à coxa de Valentin, o seu peito vibrando pela subtil pressão dos seus dedos. Se toda aquela espera era para a enlouquecer, então estava a resultar. Quando Renée e Gastard estavam já suficientemente oleados, já se havia acumulado uma grande soma de dinheiro no tapete. Faziam-se apostas sobre se Renée conseguiria receber o impressionante pénis de Gastard no seu interior. Quando as apostas e os gritos se apaziguaram, Renée abriu uma caixa de veludo negro que se encontrava sobre a mesa ao seu lado. Pegou-lhe e começou uma volta lenta pelas cadeiras, permitindo que cada pessoa visse o conteúdo. Sara reconheceu de imediato as deliciosas peças de marfim. Eram semelhantes em qualidade e confeção ao dildo que Valentin lhe tinha oferecido. Renée sentou-se na beira de uma mesa baixa e abriu as pernas. – Que dildo utilizarei para me ajudar a preparar para Gastard? Sara não tinha a certeza se algum deles era tão grande quanto o de Gastard. Ao seu lado, Peter movia-se com nervosismo, o grosso brocado do seu casaco roçando-lhe a pele. Acariciou a coxa de Sara e tocou o nó de seda onde o tecido se separava para deixar a descoberto a sua nudez. Renée levantou um dildo de vinte centímetros, mediu-o contra o pénis de Gastard e abanou a cabeça. – Talvez devesse primeiro metê-lo na boca, só para ver se posso. Várias pessoas aplaudiam e assobiavam enquanto ela se ajoelhava diante de um Gastard


sorridente. Sara engoliu com força e lambeu os lábios quando Renée tentou envolver a mão em redor da base grossa e larga do pénis de Gastard. Não conseguia juntar os dedos. Como seria ter uma ereção tão descomunal na boca? Valentin era suficientemente grande e quase sufocara ao chupá-lo. – Achas que eras capaz de o chupar, Sara? – murmurou Valentin. – E tu, Peter? – Sem dúvida que tentaria. – Peter atirou uma moeda de ouro na direção de Gastard. Valentin apertava o mamilo de Sara com dedos habilidosos enquanto Renée colocava pouco a pouco o falo de Gastard dentro da sua boca. Choveu mais dinheiro para os artistas e fizeram-se mais apostas. A mão de Peter deslizou por baixo da seda no quadril de Sara. Pousou o dedo no seu sexo e esfregou ao ritmo dos delicados movimentos da garganta de Renée. Sara observava o pénis de Gastard desaparecer dentro da boca de Renée; o seu próprio corpo dilatava-se e humedecia-se como se fosse ela quem estivesse de joelhos. Peter colocou a mão no seu monte de Vénus e afundou três dedos no seu interior. Ela tentava não gemer enquanto os quadris de Gastard empurravam para a frente, levando mais de si mesmo para o interior da boca entusiasmada de Renée. Enquanto Gastard gemia de excitação, Sara chegava ao clímax. Virou o rosto para onde se encontrava Valentin e mordeu o tecido da calça quando o prazer se estendeu através dela. De repente, deu-se conta de que estava num lugar público. Esperava que a atenção de todos tivesse permanecido em Renée e não nela. Valentin encurtou a corrente ligada ao colar e obrigou-a a olhar para ele. Beijou-a na boca. Peter estremeceu ao retirar os dedos da sua vagina. Quando Sara voltou a olhar, Renée estava de pé e Gastard sentado na beira acolchoada da mesa. Um casal que se encontrava mesmo em frente de Valentin e de Sara tinha já recebido demasiada estimulação. O homem levantou as combinações da mulher e afundou-se dentro dela. Os saltos com pedraria dos seus pequenos sapatos refletiam a luz enquanto os cravava nas nádegas cobertas de cetim do homem. – Ela irá acomodá-lo todo. – Valentin parecia muito seguro do que dizia enquanto Renée regressava à caixa dos prazeres. Sorriu para Sara quando Renée escolheu um dildo muito maior e se voltou para o seu público. – Quem gostaria de me ajudar? – O seu sorriso tentador pousou em Valentin e depois passou para Peter que, sorridente, negou com a cabeça. Um homem ruivo sacudiu uma bolsa de moedas na direção de Renée. – Eu! O quarto ficou em silêncio quando ele entrou no pequeno círculo e se apoiou sobre um joelho diante dela. Gastard levantou Renée e sentou-a no seu colo com as pernas bem abertas. Sara sustinha a respiração enquanto o homem introduzia lentamente o dildo dentro de Renée. Ela sabia o que se sentia com aquilo, o frio e a suavidade da pedra contra a sucção firme da carne quente e húmida. Roçou a mão pelo músculo firme da coxa de Valentin. Ele parou-lhe os movimentos colocando a mão sobre a dela. – Não te dei permissão para que me tocasses, escrava. Ela retirou a mão. Quase se tinha esquecido do papel que escolhera representar. Peter franziu a testa para Valentin e depois observou Sara. Ela recusou-se a olhá-lo por mais de um segundo. Tinha de continuar, devia confiar em Valentin.


Renée suspirava enquanto Gastard lhe acariciava o sexo. – Obrigada, amável senhor. Agora sinto-me mais preparada para tentar o impossível. – Retirou o brinquedo e deixou que Gastard a puxasse pela cintura e a voltasse para ele. Os pés dela estavam apoiados sobre as suas coxas bem separadas. Sara mordia o lábio enquanto Gastard baixava Renée lentamente sobre o seu pénis. Só podia imaginar como o sentiria a empurrar no seu interior. A vagina contraiu-se e ela juntou as coxas para prolongar a sensação. Parecia que Renée iria levar uma eternidade a absorver toda a carne de Gastard. Quando ficou completamente coberto, Gastard elevou Renée e girou-a até que ela ficasse de frente para o seu público. Renée parecia feliz enquanto Gastard tocava com suavidade o seu clítoris inchado. – Eu disse que caberia – sussurrou Valentin ao ouvido de Sara. – Quando uma mulher deseja realmente um homem, arranja espaço para ele. Ainda se lembrava de ter o pénis de Valentin e o jade dentro do seu corpo. Aproximou-se mais dele, esfregando o peito contra a suave lã do seu casaco. Valentin levantou-se ao mesmo tempo que os espectadores aplaudiam os artistas. Atirou uma bolsa de moedas para a mão de Gastard. – Obrigado, foi... deveras inspirador. – Virou-se para Sara. – O Peter irá juntar-se a nós. – Sim, por favor, meu senhor. – Sara sorriu para Peter. Precisava mesmo da sua ajuda para aquela parte da noite. Ainda estaria disposto a ajudá-la? Peter beijou-lhe a mão. – Será um prazer. Valentin conduziu-os de volta ao quarto e fechou a porta atrás deles. Encostou-se a esta e contemplou Sara e Peter. – Tens a certeza que é isto que desejas, Sara? Ela olhou-o fixamente. Para seu espanto, tinha descoberto que lhe agradava dar-lhe todo o controlo sexual sobre ela. A suprema arrogância de Valentin permitia-lhe ser mais libertina e selvagem do que nunca. Também lhe proporcionava uma clareza de visão. Para fazer com que um homem tão complexo confiasse nela e a amasse exigia medidas extremas. Como podia alguma vez ser livre para a amar se não podia viver consigo mesmo e com o que tinha feito? Nos seus esforços para esquecer o passado, conseguira apenas conter as suas emoções e refrear a sua voraz sexualidade. Teria já compreendido isso? Iriam Peter e ela libertálo das amarras do passado? Para além disso, tinha entendido como iria sentir-se se a obrigassem a entregar o corpo a alguém em quem não confiasse, alguém que pudesse magoá-la. Se não tivesse concordado com aquela fantasia em particular, nunca se teria dado conta do quanto Valentin e Peter tinham conquistado. Sem responder a Valentin, ela caiu de joelhos e beijou-lhe o pénis ereto através das calças justas. – Estou a divertir-me, tu não? Ele sorriu-lhe quando alguém bateu à porta. Sara sabia que Peter tinha organizado algumas surpresas para aquela noite e supunha que essa era uma delas. Levantou o olhar para Valentin.


– Talvez fosse melhor ires abrir a porta.


20 ada uma das duas mulheres envergava uma toga branca que lhe deixava um dos seios descobertos. Usavam coroas de flores no cabelo entrançado. Sara sentiu o perfume a primavera quando entregou o corpo aos cuidados delas. Tal como lhe foi ordenado, sentou-se na beira da cama; Peter e Valentin sentaram-se frente a ela em duas cadeiras douradas. Uma das mulheres sorriu para Sara. – O meu nome é Chloe e a minha amiga chama-se Flora. A Madame Helene enviou-me para a tornar ainda mais desejável para os seus homens. Permite-me que a ajude? Sara assentiu com a cabeça. A sua respiração era irregular e os seus olhos estavam fixos em Flora, a mulher mais morena segurava uma bandeja tapada. Tentou olhar para trás enquanto Chloe pegava na bandeja e a apoiava sobre a cama, mas não conseguiu ver nada. Valentin recostou-se na cadeira, com a mão sobre o pénis oculto e Peter inclinou-se para a frente, com a atenção posta nas três mulheres sobre a cama. – Primeiro vamos pintar-lhe as pálpebras com um lápis delineador. Sara tentava não pestanejar enquanto Chloe se inclinava sobre ela e pintava uma fina linha em redor do rebordo exterior dos seus olhos. O seio nu de Chloe roçava contra o de Sara, que se questionava se aquilo era acidental. – Agora, um tom vermelho para os seus lábios. O esfregar era mais forte agora e estimulava-lhe os lábios já inchados, enviando vibrações para o seu ventre e deixando os seus seios ainda mais tensos. Um ligeiro toque de cor nas suas faces completava o seu rosto. Quando Chloe terminou, Flora levantou um espelho de mão para que Sara pudesse admirar-se. Os seus olhos estavam enormes e a sua boca, escarlate e provocadora, ressaltava contra o marfim da sua pele ruborizada. Flora beijou-a ao afastar o espelho. Antes que Sara pudesse reagir, ambas as mulheres aspiraram um mamilo para dentro das suas bocas e chuparam com força. Chloe tirou um pincel e um frasco de ruge. Sem falar, começou a pincelar a espessa massa nos mamilos húmidos de Sara. Peter gemeu ao mesmo tempo que os seus dedos se moviam nos botões das suas calças. Sara concentrava a sua atenção em Valentin enquanto as suaves cerdas roçavam uma e outra vez o seu mamilo tenso, escurecendo a ponta até se converter num bago de cor carmesim escuro que implorava que um homem o colocasse na sua boca. Ele devolveu-lhe o olhar, lambendo-se como se antecipasse o prazer esperado. Deu-se conta que as mulheres desejavam que ela se movesse. Chloe acomodou-a sobre uma pilha de travesseiros junto à cabeceira da cama e Flora deu a cada um dos homens um lenço de seda vermelha. – Atem uma extremidade em volta do pulso da vossa escrava e o outro à cama.

C

Obedeceram ambos, movendo-se com lentidão por causa das suas enormes ereções. Valentin arrebatou um fugaz beijo selvagem de Sara enquanto atava o seu pulso à cabeceira. Recusando-se a regressar para a sua cadeira, sentou-se na outra ponta da enorme cama, que suportava as cinco


pessoas sem problemas. Peter seguiu-lhe o exemplo e sentou-se junto a ele. Com os braços bem esticados, os seios de Sara sobressaíam num ângulo perfeito. As pontas avermelhadas faziam com que Valentin desejasse ancorar-se nelas durante horas, para chupar a cor até que ela lhe implorasse que parasse. Com a trança solta, o seu cabelo negro caía-lhe até aos quadris, emoldurando-lhe a pálida pele e os caracóis escuros do monte de Vénus. O pénis de Valentin palpitava de tal forma que desejava metê-lo por entre os lábios vermelhos de Sara até ao profundo da sua garganta. Tirou o casaco e o colete e alargou o nó da gravata. Chloe, a mulher loura, abriu as pernas de Sara para deixar o seu sexo à mostra. Já estava húmida e dilatada e o seu clítoris encontrava-se claramente visível por cima dos lábios inchados da sua vagina. Flora dava pequenos toques no clítoris de Sara. – Senhores, posso fazer uma sugestão? Ela ficaria ainda mais bonita se rapássemos os pelos do seu monte de Vénus. Valentin lá conseguiu anuir. – Podem fazê-lo. Sara mordeu o lábio quando, delicadamente, Chloe, removeu quase todo o fino cabelo e deixou a descoberto a sua roliça vagina. Valentin engoliu um gemido quando Flora pegou num grosso pincel de cabo longo e protuberante e afundou-o noutro frasco. Com cada deslocamento intencional do pincel, uma fina camada de pó dourado fazia brilhar a vagina de Sara e os seus quadris moviam-se ao compasso do movimento rítmico das carícias constantes. Com um pincel menor, Chloe adicionou um pouco de vermelho ao clítoris de Sara. Valentin engoliu com força quando Flora virou o pincel e introduziu o grosso cabo dentro da vagina de Sara. Virou-se para Valentin. – Deseja que a sua escrava se venha? Valentin olhou Sara nos olhos. – Ainda não, ela pode esperar. A seu lado, Peter pigarreou. – Quando fomos escravos, havia algumas noites em que não nos permitiam atingir o clímax. Se o fazíamos, castigavam-nos. Valentin ficou imóvel. Tanto quanto sabia, era a primeira vez que Peter falava com mais alguém sobre o seu calvário na Turquia. Talvez ao incluir Peter na fantasia, Sara tivesse sido mais inteligente do que ele pensara. Se convencessem Peter a superar o seu passado, ele já não necessitaria de drogas, nem de sexo, nem de Valentin para conseguir manter-se são de espírito. Valentin mantinha o olhar fixo no cabo do pincel enquanto este entrava e saía do canal da sua esposa. – Nessas noites, satisfazíamo-nos um ao outro, mais tarde, se pudéssemos. – Para seu espanto, sentiu-se quase confortável a falar daqueles horrores na frente de terceiros. Peter ajoelhou-se para tirar o casaco e o colete. – Achavam divertido deixar-nos com as mãos algemadas atrás das costas para que não pudéssemos masturbar-nos. – Lançou um olhar a Valentin e outro mais desafiante a Sara. – Às


vezes usávamos as bocas um no outro. Chloe suspirou e tocou no joelho de Peter. – Adoraria ter visto isso, senhor. Deviam formar um belo casal. Valentin evitou o olhar de Peter e continuou a observar a sua esposa, que estava prestes a virse, ele conhecia os sinais. Sem girar a cabeça, dirigiu-se a Peter: – Então, deixamos a nossa escrava vir-se ou deixamos que sofra como nós sofremos? Peter baixou o olhar para Sara. – Permitamos que se venha. Valentin fez sinal com a cabeça a Flora, que começou a mover a grossa ponta arredondada do pincel entre as pernas de Sara com mais energia. Chloe juntou-se a ela, estimulando o clítoris de Sara com os dedos. Sara conteve um grito enquanto arqueava o corpo e chegava ao clímax. Peter abriu os botões que fechavam as suas calças e bombeou o seu pénis inchado que não tardou a transbordar. Valentin cerrava os dentes enquanto o aroma do orgasmo de Sara o rodeava. O seu pénis desejava tanto penetrá-la que lhe doía respirar. – Agradece, Sara – ordenou-lhe Valentin. Sara abriu os olhos e sussurrou um agradecimento. Chloe e Flora desataram o nó do ombro das suas túnicas gregas, mostrando por completo os seios. – Cobriremos a vossa escrava com óleo e depois deixaremos que ela vos dê prazer. Valentin deixou que Peter desatasse os pulsos de Sara. O seu pénis estava tão rígido que ele não conseguia afastar-se da cama. Quase invejava a rápida libertação de Peter. Não sabia quanto mais poderia aguentar. Não fazia amor com a sua esposa há três meses e pretendia gozar dentro dela, não antes. A sua boca secou quando Sara arqueou as costas como um gato sob os dedos habilidosos das mulheres. A sua pele brilhou sob a luz das velas quando se ajoelhou para que as mulheres pudessem massajar-lhe as nádegas e as coxas. Chloe inclinou-se para a frente e beijou-a. A sua língua entrava e saía da boca de Sara. Valentin já não aguentava mais e desabotoou as calças para dar algum espaço ao seu enorme pénis. Chloe sorriu quando ele se arrastou para ela de modo ameaçador. – Deseja ajudar, meu senhor? Estendeu-lhe o frasco do óleo e Valentin aceitou-o. Derramou um pouco na palma da mão e aqueceu-o entre as mãos. Peter aproximou-se e ele passou-lhe o recipiente. Estremeceu ao apoiar a mão sobre a parte mais funda das costas de Sara, deslizando um dos dedos para a fenda entre as suas nádegas. Ela tentou afastar-se de Chloe e aproximar-se mais dele, mas ele segurou-a onde desejava que ficasse. – Peter, aproxima-te mais. A Sara vai chupar-te o pénis. O membro de Peter já estava rígido quando Sara se aproximou. Valentin manteve a mão nas suas costas e ficou a vê-la meter o falo de Peter na boca. Valentin deslizou o dedo mais comprido para o interior do ânus de Sara. Quando Peter começou a ofegar ao compasso das carícias de Sara, Valentin acrescentou um segundo dedo. Sara inclinava os quadris para trás, em direção àquela mão penetrante enquanto ele a movia no


canal apertado. Agora eram quatro dedos e ainda não estava suficientemente dilatado para o seu pénis. Valentin fechou os olhos enquanto ela estremecia e gemia contra os empurrões dos seus dedos. Chloe colocou-se atrás dele para lhe massajar o peito, os seus mamilos estavam tensos contra as costas dele. – Valentin, toca-me! Oh, meu Deus, por favor, toca-me, por favor – sussurrou Peter. Valentin apoiou a mão esquerda na coxa de Peter e baixou ainda mais as suas calças. Sabia o que Peter desejava. Talvez essa fosse a melhor maneira de Sara compreender a complicada relação que eles mantinham. Colocou-se cuidadosamente entre eles. A mão esquerda de Sara estava apoiada na cama, o comprimento do seu braço alinhado com a coxa direita de Peter. Valentin colocou o pénis na palma da mão de Peter e esperou que o seu punho se fechasse em seu redor. Introduziu dois dedos encharcados em óleo no traseiro de Peter. Agora tinha ambas as mãos ocupadas. Observava a sua esposa e o seu melhor amigo enquanto a excitação deles aumentava. Mantinha o bombear firme dos dedos ao ritmo dos movimentos da boca de Sara e da resposta excitada de Peter. O seu próprio pénis inchava e gotejava líquido, lubrificando os seus tranquilos movimentos no firme aperto de Peter. Quando o seu amigo atingiu o clímax, Valentin separou-o de Sara e deixouo aos cuidados de Chloe e de Flora. Sara lambia os lábios enquanto Valentin se arrastava pelo pequeno espaço para ela. Os seus olhos cor de violeta estavam repletos de luxúria e ofegou quando a levantou, a levou até à cabeceira e lhe deu a volta. Só teve tempo de agarrar o corrimão antes de tomar a sua vagina por trás. A força do seu empurrão pressionava-a com força contra a cabeceira acolchoada da cama. Mantinha o ritmo, golpeando contra ela; o seu pénis estava tão dilatado como um punho e ela exultava com cada golpe poderoso. Veio-se ao terceiro empurrão e a sua vagina contraiu-se em redor do gigantesco pénis. Ele rugiu de satisfação, mas não se deteve. Com rapidez, levou-a a outro nível de conhecimento, daquilo de que o seu corpo necessitava e do que podia ter dele. Começou a sussurrar-lhe ao ouvido, enquanto a tocava. Os dedos de uma mão estendiam-se sobre os seus mamilos enquanto a outra mão lhe atormentava o clítoris. Esforçava-se por ouvi-lo por cima do bater da pele dele contra a sua e dos seus gritos involuntários. – Diz que sou melhor do que aqueles rapazes. Diz que sentiste a falta do meu pénis. Sara mal conseguia falar. – Eu... – Foi atravessada por outro orgasmo, este mais intenso do que o último. Valentin retirou o pénis antes que ela terminasse. Sara gritou, sentindo de imediato a sua falta. Ele colocou as mãos na cabeceira, de ambos os lados do seu rosto, e aproximou a boca do seu ouvido. – Diz. Sara fechou os olhos. – Senti a tua falta. Senti falta de todo o teu ser. – Sara voltou-se para lhe lamber os dedos


estendidos. Cheiravam a ela. A ponta do seu pénis roçava os lábios inchados da sua vagina. – Não significaram nada para mim, mas eu estava desesperada ao ponto de tentar qualquer coisa para te fazer voltar. Ele permanecia imóvel. O seu grande corpo excitado pressionava-a contra o cetim acolchoado. Os batimentos acelerados do coração vibravam através da sua pele como um tambor. – Porque desejavas que eu regressasse? – Porque devia ter acreditado em ti. Devia ter permitido que explicasses tudo sobre a tua relação com Peter e não acreditar naquilo que o meu pai e outros me disseram. – E se te dissesse que os rumores eram verdadeiros e que já fomos amantes? – Então eu teria acreditado. – E tinhas feito o quê? – Nada. És meu marido... Desejo-te tal como és. Aproximou de tal modo o rosto do dela que não havia espaço para respirar. – Porquê, Sara? Ela não desviou o olhar. – Se permites que seja eu mesma, porque não haveria eu de permitir que fizesses o mesmo? Valentin fechou os olhos; as suas longas pestanas negras contra a sua pele pálida. – Não é bem a mesma coisa, pois não? Ela beijou-lhe a curva da boca. – Para mim é. Sorriu, o seu rosto relaxando ao voltar a deslizar para dentro dela. Sara exultou com o bater forte do seu pénis enquanto a enchia. A sua semente quente inundou-a em três empurrões. – Obrigado, Sara – sussurrou ele. – Obrigado pela tua honestidade. Sara dormitava entre Peter e Valentin. Um homem sentado de cada lado dela. Peter usava uma corrente em redor do pescoço com a metade de uma moeda antiga e ela notou que combinava com a que Valentin costumava usar. Chloe e Flora partiram com uma bolsa cheia de moedas de ouro e sexualmente satisfeitas por Peter. Valentin brincava com o mamilo direito de Sara e Peter estendeu a mão para lhe acariciar a vagina. Ela afastou-se dos seus dedos inquisitivos, pressionando as nádegas contra o membro meio ereto de Valentin. Peter sorriu para ela e depois para Valentin. – Sara não compreende realmente o que é ser escravo. A um escravo não lhe era permitido sentir-se cansado nem dorido. Esperavam que estivéssemos preparados e desejosos todas as noites. Os dedos de Valentin fecharam-se nos seios de Sara. – Tens razão, Peter. Esperavam que déssemos prazer a qualquer um que nos desejasse. Peter acariciava o seu próprio pénis com uma expressão distante. – Eras muito apreciado pela tua habilidade de permanecer ereto durante toda a noite. Eu não era capaz. – Fez uma careta. – Odiava quando ficava sem esperma. É uma coisa muito dolorosa. – Mas aprendemos a dosear as nossas próprias forças – acrescentou Valentin. – Mesmo aos dezasseis anos, é difícil não vir demasiado depressa e demasiado cedo. Aprendemos a fingir e a


prolongar as nossas ereções. Peter estremeceu. – Caso contrário, batiam-nos. Já te esqueceste disso? – Como poderia esquecê-lo? Ainda tenho as cicatrizes nas costas, iguais às tuas. Valentin questionava-se o quanto Sara compreenderia daquela conversa. Não queria perturbar o fluxo das lembranças de Peter. Tinha a sensação de que o seu amigo precisava de libertar-se de algum veneno que ameaçava minar a sua vida e a sua felicidade futura. – Tu tens mais cicatrizes do que eu, Val. Costumavam maltratar-me para te fazer perder o controlo. Valentin conseguiu sorrir, embora lhe fosse difícil. Talvez Peter não fosse o único que precisava de desabafar. – Eu era mais relutante em atuar do que tu. Costumava sonhar que alguém me cortava o rosto para deixar de ser bonito. – Largou os seios de Sara e ela exalou um suave suspiro. – Nunca gostei que me obrigassem a fazer sexo com homens. – Esperava que ela estivesse a ouvir. Assim não teria de voltar a explicar o seu passado infernal. Peter inclinou-se para a frente e tocou na ténue cicatriz por baixo do mamilo direito de Valentin. – Madame Tezoli fez-te isso com um ferro de marcar quando insististe em lutar contra todos os homens. – Ele riu, o som estridente no luxuoso silêncio do quarto. – Eu não me importava se era homem ou mulher. Sentia-me bastante feliz a dar prazer a qualquer um para evitar que me batessem. Valentin olhava fixamente para os olhos angustiados do seu amigo. – E achas que isso te faz menos homem do que eu? – Claro. – E eu acreditava que era o imbecil. Desejava tanto ser como tu... – Um cobarde e um promíscuo que ia com qualquer um que pagasse por mim? – Não, um homem suficientemente inteligente para não provocar as pessoas. Peter parecia confuso. – Todos temos os nossos limites, Val, até mesmo tu. – Eu implorei, Peter. Implorei a Madame Tezoli que me deixasse morrer depois de me ter entregue a Yusef pela primeira vez. – Voltou a concentrar-se na agradável sensação da pele de Sara contra os seus lábios. Quando abriu os olhos, Peter ainda o fitava. – Meu Deus, o que queres que diga? Foi há anos. Já não somos as mesmas pessoas. Peter olhou para Sara com uma expressão distante. – Não, não somos. E a tua esposa parece disposta a aceitar-nos, marcados e confusos como estamos. Valentin baixou o olhar para Sara, que o observava com um olhar fixo e tranquilo. Não havia sinais de desagrado, nem de ódio pelo que tinha ouvido. Talvez ela lhes tivesse dado a ambos, a Peter e a ele, uma oportunidade de cura. O seu pénis excitava-se e endireitava-se contra a coluna dela. Precisava de estar dentro dela. Falar sobre o passado fazia-o sentir-se sujo. Imagens de alguns dos seus clientes lutavam para tomar conta da sua mente e não podia permitir tal coisa. Inclinou-se para lhe beijar um mamilo. Merda! Tinha acusado Peter de consumir drogas e


álcool para manter os seus demónios adormecidos. Usar as mulheres tinha-se convertido no seu escape pessoal. Usá-las... Maldição! Era isso o que fazia? Seria melhor do que Peter? Sara rodeou-lhe a coxa e lambeu-lhe o pénis. Ele acariciou-lhe a face até que ela o olhou. – Senta-te no meu pénis. Ela levantou-se e subiu para o colo dele. Susteve a respiração quando ele lhe virou as costas contra o seu peito e a agarrou pela cintura. Peter saiu da frente para que ela tivesse uma visão perfeita dos seus corpos entrelaçados nos espelhos iluminados pelas velas. Valentin fê-la descer lentamente sobre a sua ereção. Ela fechou os olhos e ele apertou-lhe um mamilo. – Não feches os olhos. Gosto de ver o teu rosto quando te vens. Entreolharam-se, os olhos dela misteriosos e cheios de segredos sensuais. Estava muito sensível e consciente de cada centímetro do membro duro e quente do seu marido. – Gostaste de ser minha escrava? – De algumas coisas gostei, meu senhor. Valentin fez um gesto para Peter. – Achaste que ela foi uma boa escrava? Peter sentou-se. – Não esteve nada mal. Gostei das carícias dela. Valentin brincava com um dos aros dos mamilos de Sara. – Acho que ela gostou. – Puxou pelo aro. – Creio que gostou de passear nua pelas salas da Madame Helene. Sara enrubesceu, mas não negou. Valentin abriu mais as pernas e fez com que Sara se sentasse com mais firmeza e mais para baixo, sobre o seu pénis. Acariciou-lhe a orelha com o nariz. – Gostaste quando o Peter te fez vir diante de toda aquela gente, não é verdade? – Sim. – Vais gostar se ele te lamber agora. – Tocou no ombro de Peter. – Lambe-a para mim, mas não deixes que se venha. Peter dedicou-se àquela tarefa de boa vontade. O som escorregadio e lento da sua língua era mais forte do que a respiração acelerada de Sara. O seu canal ajustava-se em redor do pénis de Valentin. Com suavidade, afastou Peter e observou ao espelho o clítoris inchado de Sara. Depois guiou-lhe a ponta dos dedos até lá. – Sentes como estás inchada e escorregadia? – Levou os dedos dela mais para baixo até que tocaram a entrada do seu corpo. – Sentes o quanto te dilataste para mim e quão húmida estás? – Pressionou-lhe a palma da mão contra as suas partes íntimas e ela retorceu-se contra ele. – O que imaginas que diriam a tua família e os teus amigos se te vissem agora? Nua, nos braços de dois homens? – Acreditariam que sou indigna e teriam vergonha de mim. Valentin acenou com a cabeça para Peter e este recomeçou a lamber-lhe a vagina. A sua língua ágil aproximava-a cada vez mais do seu ponto máximo. Quase gritou de frustração quando ele se deteve depois de uma ordem de Valentin. Valentin mantinha o olhar no espelho.


– O que pensaria o teu pai de ti? No meio da sua agitação sexual, espetou as unhas nas coxas dele. Resistiu ao primeiro impulso de lhe bater e observou a sua própria imagem desenfreada e vergonhosa. A mão bronzeada de Valentin cobria-lhe o seio direito e o seu enorme pénis preenchia-a por completo. A tensão vibrou pelo corpo dele. Peter parou de acariciar o interior da coxa de Sara e tocou em Valentin. – Se o meu pai me visse agora, considerar-me-ia um bom par para ti. – Pronunciou as palavras de forma lenta e clara para que ele compreendesse bem o que queria dizer. – E eu teria de concordar com ele. Merecemo-nos um ao outro. A respiração de Valentin deixou-o numa agitação trémula e o seu pénis parecia inchar dentro dela. – Ficavas zangada se eu colocasse o pénis de Peter na minha boca e vos desse prazer a ambos? Há espaço para que ele se ajoelhe aqui ao nosso lado. Valentin pressentiu o perigo ao acordar com o som revelador de umas algemas que se fechavam em redor dos seus pulsos. Yusef tinha regressado? Abriu os olhos e viu-se deitado de costas na cama com Peter e Sara. Tinha os pulsos presos com algemas à cabeceira da cama. Com um terror cego, tentou retaliar com os pés, para descobrir que os seus tornozelos também estavam presos. – Tirem-me estas malditas coisas! – Tens medo do quê, Val? Sou só eu e a Sara. Valentin apertou os punhos. Peter sabia muito bem como ele se sentia ao ver-se preso contra a sua vontade. Como se atreviam eles a utilizar o seu maior receio contra ele? O que esperavam alcançar enfurecendo-o? Sara ajoelhou-se a seu lado, com o rosto tranquilo. – Por favor, não lutes contra nós, Valentin, só queremos ajudar-te. Ela mergulhou os dedos numa jarra de vidro e ele ficou paralisado ao sentir o enjoativo aroma a orquídeas. Era o perfume preferido de Yusef e fazia-o lembrar-se de quando o tinham obrigado a aceitar o membro de Yusef dentro dele. Levara dias a tirar aquele cheiro da sua pele e da sua boca, mas nunca havia sido capaz de apagar as lembranças. Peter devia sabê-lo. Ficou tenso enquanto Sara desenhava círculos no seu mamilo com um dedo molhado. O seu corpo respondeu àquelas simples carícias e o mamilo endureceu. Ela continuava a acrescentar pequenos círculos húmidos à pele do seu peito. Recusou-se a olhar enquanto ela observava o seu trabalho. Depois Sara sentou-se escarranchada sobre ele, aprisionando-lhe o pénis meio ereto por entre ambas as barrigas. Conseguia cheirar a excitação dela mesmo por cima do perfume a orquídeas e sentia a humidade da vagina a reunir-se no seu ventre tenso. Sara deslizou-lhe a mão pelo cabelo e beijou-lhe a boca fechada. Apesar das algemas, desejava responder-lhe. A boca dela deslizou um pouco mais e mordiscou-lhe a mandíbula, descendo depois para o peito. Estremeceu quando ela lhe lambeu um mamilo com delicadeza. Cada toque fazia com que o seu membro crescesse contra a vagina dela. Peter massajava-lhe os pés e os tornozelos enquanto Sara se levantava, brindando-o com uma bela visão do seu sexo inchado e húmido. – Quero que me lambas, Valentin.


Ele fitou-a. – Então agora sou eu o teu escravo? – É o que desejas, ser meu escravo? Continuou a olhá-lo enquanto se tocava e deslizava um dedo para o seu interior. Valentin cerrou os dentes perante aquela visão exuberante. – Solta-me e eu mostro-te exatamente o que desejo ser para ti. Subiu um pouco mais pelo peito dele até se agachar sobre o seu rosto. – Tens a certeza que não desejas lamber-me? O néctar dela pingava-lhe para os lábios e ele engoliu-o como um homem privado de água. Voltou a pôr à prova a segurança das algemas e estas não cederam. Poderia permitir-se desfrutar de Sara embora estivesse preso? Poderia esquecer as recordações e confiar nela? Com um gemido contido, tocou-lhe o clítoris com a ponta da língua e, sem conseguir conter-se, desatou a lambê-lo. Sabia bem. O espesso néctar deslizava-lhe pela língua e descia pela garganta ao fechar os lábios em redor do seu botão inchado. O seu corpo deu um salto quando Peter deslizou a boca pelo comprimento do seu pénis. Por segundos, foi assaltado pelos velhos terrores. Inalou o perfume único de Sara e isso acalmou-o de imediato. Começou até a apreciar a forte sucção da boca de Peter no seu pénis, a brutalidade do seu toque quando comparado com o estilo mais suave de Sara. Peter deslizou três dedos para o interior do seu ânus e aumentou ainda mais a tempestade de emoções. Val gemeu quando Sara desceu ainda mais sobre o seu rosto e introduziu a língua mais profundamente dentro da sua vagina. Peter aumentou a velocidade da sucção até que Valentin soube que estava tão perto de se vir quanto Sara. Esta afastou-se do rosto do marido e trocou de posição com Peter. Posicionou-se sobre o seu pénis ereto e olhou-o fixamente com os olhos carregados de desejo. – Quero-te dentro de mim, Valentin. Acreditas que não te faremos mal? Enquanto esperavam ambos pela sua resposta, deu-se conta de que aquela noite tinha-lhes ensinado a confiar uns nos outros. Sara tinha-lhes dado a ambos, a Peter e a ele, novas lembranças eróticas para substituir a degradação que tinham sofrido. Tinha-lhe até permitido admitir para si mesmo que o toque de Peter não o horrorizava. Valentin sorriu. – Quero-vos aos dois – ofegou ele com dificuldade, enquanto Sara se sentava nele com um empurrão urgente dos seus quadris e ele virava a cabeça procurando às cegas a rigidez do membro de Peter. Regulou as sucções ao ritmo estabelecido por Sara até chegarem a um clímax intenso. O seu corpo estremecia contra as algemas enquanto ambos gozavam. A vagina de Sara apertava-lhe o pénis enquanto ele apertava o de Peter. Deleitou-se com o prazer doloroso da sua libertação dentro de Sara e com o inesperado prazer erótico de receber a semente quente de Peter na sua garganta. Fechou os olhos. Sentia-se mais satisfeito do que alguma vez se sentira em toda a sua vida. Sara tirou-lhe as algemas e voltou a enroscar-se entre Valentin e Peter. Valentin acariciava-lhe o cabelo enquanto Peter pousava a mão no seu quadril. Tinha-os unido. Esperava ter-lhes trazido paz.


Valentin deu uma cotovelada a Peter. – Sara, não adormeças, ainda não te mostrámos a nossa mais famosa atuação. Ela franziu o sobrolho. – O que poderia ser melhor do que o que acabámos de compartilhar? – Já vais ver. Peter deitou-se de costas. O seu pénis estava já ereto e ansioso. – Eu fico por baixo. Valentin levantou Sara e sentou-a de frente para ele, escarranchada sobre o colo de Peter. Ajudou-a a ajoelhar-se para que Peter pudesse penetrá-la. Arquejou quando Peter lhe rodeou a cintura com um braço e, com suavidade, a inclinou para trás até ficar recostada e estendida ao longo do seu corpo. Peter abriu bem as pernas e apoiou os pés contra o colchão, levando as pernas de Sara com ele. Os pelos do seu peito picavam-lhe as costas ao retorcer-se contra ele. Apertou-lhe o seio com a mão esquerda. Era estranho estar assim tão exposta. – És linda, Sara. Valentin beijou-lhe o clítoris e envolveu o pénis com a mão. Com delicadeza, deslizou dois dedos para o interior da vagina, para a dilatar. Sentia Peter estremecer enquanto os dedos de Valentin lhe roçavam o membro já inchado. Fez um movimento de tesouras com os dedos e ela não conseguiu evitar gemer o seu nome. Retirou os dedos e lambeu-os antes de agarrar a grossa base do seu falo. A cabeça do seu pénis estava húmida e deslizou com facilidade por cima do de Peter. Quando os seus testículos a tocaram e às nádegas de Peter, Valentin parou e permaneceu imóvel, equilibrando o seu peso com os braços estendidos. – Toca-te, Sara. Sente-nos. Sente como te dilatamos. Ela gemeu ao baixar a mão e apalpar os dois pénis. Estava tão dilatada. Valentin deslizou os dedos para o seu clítoris, prendendo-lhe a mão por entre os seus corpos e começou a mover-se. Peter acompanhava cada um dos seus empurrões descendentes com um ascendente. Sara gritou enquanto se vinha em fortes contrações. Ambos os homens ficaram imóveis até que ela deixou de tremer para logo retomarem com um desumano avanço e retrocesso até que o corpo dela se retorceu entre ambos de maneira irracional. A pele de Sara estava escorregadia com o suor deles e gemia ao compasso de cada empurrão devastador. Valentin alcançou o clímax ao mesmo tempo que Peter, levando-a a outro orgasmo demolidor. Ela imaginou os espermas misturados a alagar o seu útero. Com um gemido, Valentin separou-se de Sara e recostou-se ao seu lado. Os seus dedos acariciavam-lhe os seios com suavidade ao mesmo tempo que Peter saía de dentro dela. Com um suspiro, ela virou-se para Valentin e ele apoiou-lhe a cabeça no ombro deixando que a sua mão ficasse a descansar sobre o quadril de Peter. Demasiado exausta para falar, Sara conseguiu apenas aspirar os aromas combinados, sentindo-se mais protegida e satisfeita do que alguma vez imaginara possível. Com a energia que lhe sobrava, Valentin soprou as velas junto à cama e deixou o quarto às escuras. – Peter. – Respondeu-lhe um murmúrio sonolento. – Se depois da aventura desta noite a Sara


tiver gĂŠmeos, prometo que um deles terĂĄ o teu nome. A risadinha sonolenta de Sara fez com que Valentin sorrisse. Sentiu o perfume das pessoas que amava e, pela primeira vez em muitos anos, adormeceu sem ter medo dos seus sonhos.


21 alentin reclinou-se e ficou a ouvir Sara tocar piano na sala de música que se situava por cima do seu escritório. Ainda sentia o corpo dorido dos excessos da noite anterior, mas não se arrependia de nada. Pela primeira vez na vida, parecia ter descoberto uma maneira de estar em paz com o seu passado. Esse havia sido o presente de Sara. Peter tinha tentado ajudá-lo a compreender a complexidade dos seus sentimentos sobre a Turquia, mas Valentin nunca quis ouvir o conselho do amigo. Tinha estado demasiado ocupado a tentar resolver os problemas de Peter enquanto ignorava os seus próprios problemas. Não havia sido sempre assim? Fora necessário enfrentar os seus piores temores para se dar conta de que precisava de ajuda. Nunca imaginara que se sentiria feliz com apenas uma mulher e até com a ocasional presença de um homem na sua cama. Sara fazia a ligação entre o passado e o presente e oferecia uma esperança para o futuro. Que mais podia um homem desejar? O seu sorriso desapareceu ao voltar a sua atenção para o trabalho. Na sua ausência, a situação dos negócios não havia melhorado. O trabalho duro de Peter tinha evitado mais perdas, mas ainda precisavam de recuperar o prestígio que sempre os havia caracterizado. Tinha conseguido trazer dinheiro suficiente dos seus contratos na Rússia para os manter à tona durante mais alguns meses, mas nenhuma soma de dinheiro podia compensar a perda gradual de confiança e o malestar geral que sentia nos clientes. Parecia que Aliabad e o seu sócio tinham esperado o regresso de Valentin para completarem o seu plano de o arruinar. Isso só confirmava as suas suspeitas de que tudo aquilo era pessoal. Olhava fixamente para os números rabiscados no livro de contabilidade. Estava cansado de esperar que viessem ter com ele. Talvez estivesse na hora de obrigá-los a agir de forma precipitada. Assim que Peter confirmasse qual dos seus empregados passava informações ao ainda desconhecido sócio de Aliabad, Valentin teria de atuar com rapidez. Depois da última visita a Evangeline, Sara estava convencida de que era Sir Richard Pettifer, mas Valentin queria ter a certeza. Esfregou o queixo com a mão. Diabos, quereria mesmo descobrir que o seu pai estava disposto a arruiná-lo? Quando a porta do escritório se abriu de repente, ele ergueu o olhar com um sorriso de boasvindas, esperando tratar-se de Sara. Levantou-se lentamente quando o seu pai entrou apressado na sala. – Viste o Anthony? Valentin fez uma vénia. – Bom dia, pai, sim, estou muito bem, obrigado. Como está a minha querida madrasta? O marquês atirou as luvas e o chapéu para cima da secretária. – Não tenho tempo para cumprimentos. O Anthony não veio para casa ontem à noite. – Ele não é nenhuma criança. Talvez tenha saído para beber uns copos com os amigos e ainda não recuperou a consciência. – Olhou para o relógio. – Só são dez da manhã.

V


A boca do pai desenhou uma fina linha. – Algo se passou. O cavalo dele regressou ao estábulo ontem à noite sem ele. Suspeito que possa ter havido algum crime. Valentin sentou-se e esboçou um sorriso amável. – Veio aqui para me acusar de ter assassinado o seu filho preferido? O marquês fitou Valentin com fúria. – Claro que não! Parecia mais velho, o seu rosto macilento sob a primeira luz da manhã. Tentou dominar o seu mau humor. – Acreditei que, como irmão, poderias encontrá-lo com maior facilidade do que eu. Valentin cruzou uma perna sobre a outra. – Que estranho, costuma dizer-me para me manter afastado dele para não o corromper com as minhas ideias de trabalhar para ganhar a vida. O sentimento de raiva persistia no estômago de Valentin. Se o seu pai estava envolvido num plano para o matar, aquele era um excelente ardil para que Valentin saísse à procura do seu irmão mais novo e a oportunidade perfeita para que caísse numa cilada. – Santo Deus, homem, tens de deixar que o nosso passado contamine todas as conversas que temos? Não consegues esquecê-lo? – Se consigo? Poderei esquecer que me abandonou com um bando de piratas que me vendeu a um bordel? O seu pai estremeceu como se tivesse levado um murro no estômago. Valentin exalou lentamente. Sara ficaria furiosa com ele se estragasse aquela oportunidade de ajudar o pai. – Desculpe, não foi muito correto da minha parte. O meu desejo é seguir em frente. – Valentin, eu sei que nem sempre estamos de acordo, mas... – O marquês hesitou, depois enfrentou-o. – Pelo amor de Deus, eu perdi-te e arruinei a tua vida. Foi bastante duro lidar com isso e com o facto de acreditares que te abandonei. Acho que não vou aguentar se acontecer outra vez. Valentin observava o olhar angustiado do pai. Na verdade, nunca tinha reconhecido que o pai também poderia ter sofrido. Como jovem, arrogante e profundamente marcado, tinha-lhe sido muito mais fácil culpar o pai do que tentar compreender as suas tentativas frustradas de voltar a endireitar as coisas. – Farei tudo o que esteja ao meu alcance para tentar descobrir o paradeiro de Anthony. – Rodeou a mesa e pegou nas luvas e no chapéu do seu pai. – Mando-o diretamente para casa assim que o encontrar, de preferência de joelhos para aprender a não o preocupar tanto. O pai soltou uma gargalhada bem sonora. – Já ficarei feliz quando o vir. – Apertou a mão de Valentin, a sua expressão mais otimista. – Obrigado, Valentin. Isto significa mais para mim do que sou capaz de expressar. Assim que o marquês saiu, Valentin dirigiu-se ao piso de cima e parou à porta da sala de música para admirar as mãos elegantes de Sara sobre o teclado e a maneira como o seu corpo se balançava ao ritmo da música. A intensidade com que tocava recordava-lhe a sua maneira de fazer amor. Tinha escolhido uma mulher que não tinha medo de aceitar e expressar as suas


paixões mais profundas. Quando tocou o último acorde, reclinou-se com um suspiro de satisfação. – O meu pai esteve aqui. – Esperou até que ela lhe desse atenção e avançou pelo interior da sala. – O Anthony desapareceu. Sara girou na cadeira. – O Anthony? – Pode ser falso alarme, mas o momento parece-me muito interessante. Um dia depois do meu regresso a Londres, acontece algo a um membro da minha família. Será um plano que o meu pai arquitetou para fazer com que eu saia de casa e fique numa situação vulnerável? Ou o Anthony foi levado por alguém que deseja usar-me como moeda de troca? – O que disseste ao teu pai? Valentin sorriu ao ver a expressão de ansiedade da sua esposa. – Disse-lhe que não se preocupasse e que voltasse para casa. Ele tem razão numa coisa: seja o que for que tenha acontecido a Anthony, encontro-me numa posição bem melhor do que ele para o encontrar. Sara levantou-se com expressão decidida – Quero ajudar; diz-me o que posso fazer. Ele beijou-lhe a face e acrescentou: – Infelizmente, não há nada que possamos fazer neste momento. Pedirei a Peter que espalhe a notícia do desaparecimento de Anthony. Se daí não acontecer nada, suspeito que muito em breve receberemos uma mensagem de quem o levou. – Achas que tem algo a ver com Aliabad? – Tem a marca desprezível dele, não achas? Raptar um rapaz jovem e indefeso que muitos dizem ser surpreendentemente parecido comigo. O rosto de Sara empalideceu e ela agarrou o colete de Valentin. – Não podemos deixá-lo com esse homem. Não podemos. O sorriso de Valentin não era de prazer. – Não te preocupes, meu amor. Isso não acontecerá. Peter andava de um lado para o outro na sala de estar enquanto repetia as novidades a Sara. O relógio sobre a lareira anunciou as quatro horas e a escassa luz invernal deu lugar à escuridão. – Não há sinal de Anthony nos seus pousos habituais. Nenhum dos seus amigos o viu desde ontem à noite no White. Insistiu que estava demasiado ébrio para montar o cavalo e decidiu ir a pé para casa. Valentin voltou a aparecer com uma pedaço de papel amachucado na mão. – Em casa é que ele não está. Um garoto da rua acaba de dar isto a Bryson. – Desdobrou o papel e começou a ler: – «Se desejas voltar a ver o teu irmão, leva dez mil libras a casa da Madame Helene hoje à meia-noite». – Valentin levantou o olhar para Sara e Peter. – Bom, é bastante claro. – Dez mil libras vão arruinar-nos, Val. – Peter continuava a andar de um lado para o outro. – Se retirarmos essa enorme quantia de dinheiro do banco ou começarmos a insistir para que nos paguem o que nos devem, os nossos clientes entrarão em pânico.


Sara olhou do rosto tenso de Peter para a expressão fria de Valentin. – Seja como for, não temos dez mil libras no banco. – Antecipou-se à pergunta que Valentin não fez. – Os vossos livros são pouco fiáveis. Segundo os meus cálculos, Mister Carter permitiu que saíssem milhares de libras das contas nos últimos anos. Peter franziu o sobrolho. – Com todo o alvoroço sobre Anthony, esqueci de mencionar que Alexander Long foi visto a entrar na casa de Sir Richard Pettifer ontem à noite. – Apesar do facto de Evangeline ter insistido que Sir Richard não tinha nenhum contacto com ele. – Sara olhou para Valentin. – Ao menos isso deixa o teu pai livre de quaisquer suspeitas. Podemos supor que o seu pedido de auxílio é legítimo. Valentin não disse nada, mas Sara notou que ele parecia mais aliviado. Hesitou. – Em relação ao dinheiro, tenho mil libras que a minha avó me deixou em testamento no teu banco, Valentin. Podes utilizar esses recursos. Valentin sentou-se frente à lareira. – Isso é muito amável da tua parte, minha querida, mas não tenho a menor intenção de pagar seja o que for a ninguém. – É óbvio que não, Valentin – disse Sara. – Tudo o que temos de fazer é alertar as autoridades turcas e deixar que eles tratem de tudo. – Ah, não, não acredito que precisemos de os envolver. – A expressão calma de Valentin contradizia a fria fúria que brilhava nos seus olhos. – Se Aliabad tiver Anthony, eu mesmo me encarregarei dele. Sara sentia-se mais segura vestida com algumas roupas velhas de Peter do que com as suas saias. Passou as mãos pela suave camurça. As calças davam-lhe uma liberdade que nunca antes tinha imaginado. Apesar daquela arriscada aventura, Valentin e Peter pareciam gostar de a ver assim vestida. Ela tinha prometido a si mesma que, quando passasse o perigo, voltaria a usar calças para os seus homens. Seguiu Valentin até à cave mal iluminada atrás da casa de Madame Helene. Uma leve chuva caía do céu cinzento e fazia com que as ruas brilhassem sob a luz da Lua. Pelos vistos, Madame só dava a chave da entrada secreta a um grupo muito restrito de clientes. Obviamente, Valentin era um deles. Ele tocou-lhe no braço. – Lembra-te: eu concentro-me em Aliabad enquanto tu e o Peter tentam salvar Anthony. Sara beijou-o na face. – Farei o meu melhor. Tem cuidado, está bem? – Claro. Não tenho o menor desejo de ficar outra vez nas mãos de Aliabad. – Esperamos que o sócio de Mister Aliabad apareça? – Se estamos todos de acordo que se trata de Sir Richard Pettifer e não do meu pai, então sim. – Abriu outra porta que dava para o corredor e esperou que o seguissem. – Na verdade, assegurei-me que Sir Richard ficava a saber dos planos de Aliabad para esta noite, só para o caso de não ter sido informado. O Aliabad gosta de trair os seus sócios. – Apertou a mão de Sara. – Não tenhas pressa em chegar aos aposentos de Madame Helene. Descobre quantos


homens Aliabad trouxe com ele e onde estão localizados. Tenta saber o que aconteceu a Madame. Ela não tolerará nenhum escândalo desagradável aqui... Estará disposta a ajudar-nos. Depois de um rápido aperto de mão a Peter e um beijo na face da esposa, Valentin desapareceu na escuridão. Com toda a coragem que conseguiu reunir, virou-se para Peter – Procuramos primeiro a Madame? Tenho a certeza que ficará radiante por nos ver. Peter tirou uma faca do bolso. – Como quiseres. Valentin não se incomodou em ocultar a sua chegada aos apartamentos privados de Madame Helene. Um homem robusto saiu das sombras e tratou de o revistar para ver se trazia armas. Encontrou a pistola que Valentin tinha no bolso do casaco, mas apenas uma das facas. Passou para o quarto de vestir e seguiu até ao outro quarto, deixando intencionalmente a porta aberta. Valentin estacou quando o seu olhar se fixou em Anthony. A cena era espantosamente familiar. Anthony estava nu da cintura para cima, com os pulsos algemados sobre a cabeça e as algemas presas à enorme cama de dossel. O seu corpo era magro, dolorosamente parecido com o de Valentin quando tinha a mesma idade e tremia com o esforço de manter a cabeça erguida. Havia um chicote ensanguentado sobre a colcha de cetim, perto da mão de Aliabad. Uma ira gélida tomou conta de Valentin que susteve a respiração com tanta força que desejou gritar pela pressão. Desviou o olhar de Anthony para descobrir que Aliabad o observava. – Parece-se contigo, não é verdade? – Aliabad aproximou-se de Anthony e despenteou-lhe o cabelo. – Embora não seja tão condescendente como tu foste. – A tua memória falha-te. Nunca fui complacente, pelo contrário. Tinham de me embriagar ou de me drogar para não estar no meu juízo quando sabia que eras esperado. Era a única maneira de me conseguirem aproximar de ti. Ao ouvir o som da voz de Valentin, Anthony levantou a cabeça. Valentin aproximou-se mais. Marcas do chicote cobriam a pele do seu irmão. Tresandava a suor, a medo, a sexo e ao ténue perfume a orquídeas que Aliabad tanto gostava. – Valentin... – sussurrou Anthony. Deu um grito quando Aliabad puxou a corrente que lhe prendia os braços. – Acabaste por vir ter comigo, e de bom grado, Valentin – comentou ele. – Vim porque não havia nada mais que pudesse fazer. Permiti que me violasses e me torturasses porque era demasiado jovem para lutar. Aliabad riu. – Se isso fizer com que te sintas melhor, acredita no que quiseres. Mas ambos sabemos o que aconteceu na realidade, não é? E se não me deres o dinheiro que te pedi, toda a Londres saberá o quanto te agradava que um homem te fodesse. Valentin encolheu os ombros. – Como já te disse, ninguém acreditará. – Apontou para Anthony. – Foi por isso que ficaste desesperado ao ponto de sequestrar o meu meio-irmão. – Fez um gesto de desprezo. – Acreditaste mesmo que eu esbanjaria dez mil libras nele? – O rosto de Anthony esmoreceu como se Valentin o tivesse esmurrado. – O meu pai adora-o. Não achas que eu ficaria feliz por ver que o obrigam a passar pelo mesmo que eu?


Por um momento, Aliabad pareceu inseguro. – Não acredito. – Se o Anthony desaparecer, o meu pai nunca irá recuperar. Sem dúvida esse seria um belo pagamento por me ter deixado com os turcos. – Já te esqueceste do que aconteceu. Ouvi dizer que quando o navio partia o teu pai lutava como um louco para te salvar. Mal conseguiu sair de lá com vida. Valentin não sabia disso. Todo aquele horrível episódio tinha permanecido impreciso até que se encontrou preso num bordel com Peter. Avançou até à lareira e aqueceu as mãos. – Ainda não me disseste com exatidão o que desejas. – Apoiou o ombro na pedra da lareira, exibindo-se de maneira intencional frente a Aliabad. – Se quiseres o meu irmão, leva-o. Se desejares o dinheiro, podemos negociar, mas não podes ficar com ambos. Aliabad aproximou-se mais. – Tens o dinheiro? – Tenho algum dinheiro. – Olhou em redor do quarto. – O teu sócio sabe o que tens andado a fazer? Sara e Peter percorriam cautelosamente o corredor que levava aos aposentos privados de Madame Helene. Um som de porcelana a partir fê-los esconder-se atrás de uma porta. Um homem alto entroncado saiu do quarto de Madame e dirigiu-se para a última porta ao final do corredor. A voz rouca de um homem que dizia a alguém que não fizesse barulho flutuou até Sara e ela acotovelou Peter. – Temos de evitar que volte para o seu posto e temos de descobrir com quem estava a falar. Aposto que era Madame Helene. Peter segurava na mão a grossa moca que tinha tirado a um dos criados de Madame. – Vamos. Tu distrais o homem e eu ponho-o a dormir. Sara tirou a peruca branca de criado e deixou que o cabelo lhe caísse pelas costas. Caminhou lentamente pelo corredor e esbarrou contra o homem. Fingindo estar embriagada, agarrou-lhe o braço direito e segurou-se como se tivesse perdido o equilíbrio. – Desculpe, senhor. Acho que me perdi. – Lambeu os lábios ao olhar fixamente para aquele rosto cruel. – É um dos atores? – Passou-lhe a mão pelo peito. – Gostaria de ir lá para cima comigo? Atrás do homem, conseguiu ver Madame Helene. Os seus olhos azuis pareciam furiosos sobre a boca amordaçada. Era evidente que acabara de derrubar uma mesa e de partir uma jarra de porcelana em pedacinhos. Sara arquejou quando o rosto do homem ficou inerte e este se abateu sobre ela, levando-a ao chão. Quando se viu livre daquele peso, Peter já tinha libertado Madame Helene. Helene ajudou Sara a atar e a amordaçar o homem antes que ele recuperasse os sentidos. – Obrigada, meus amigos. Estou feliz por estar livre. – Madame olhou para Sara. O cerrado sotaque francês era o único sinal do seu desconcerto. – O cavalheiro turco disse que esperava Valentin. Tinha o irmão de Valentin com ele. – Esfregava os pulsos. – Não consegui avisar ninguém... Aconteceu tudo com muita rapidez. – Está tudo bem, Madame – disse Sara. – Sabemos o que aconteceu.


– Precisam da minha ajuda? – Penso que não. O Valentin acredita que poderá salvar o irmão sem recorrer à violência. – Talvez devêssemos avisar o marquês. Peter assentiu com a cabeça. – É uma excelente ideia. Madame Helene levantou-se com a ajuda de Peter. O homem no chão gemia e contorcia-se. Ela mirou-o furiosa e deu-lhe um pontapé forte nas costelas. – Isto é por ter apalpado os meus seios enquanto me amarrava. – Alisou as saias e dirigiu-se para o corredor. – Farei os possíveis para que haja homens por perto para vos ajudarem, caso necessitem. Basta que toquem a campainha ou que gritem e alguém responderá. Sara ficou a vê-la seguir pelo corredor como se nada estivesse a acontecer. Assim que ela desapareceu na esquina, uma figura mascarada vestida com um casaco negro apareceu vinda da direção oposta e entrou rapidamente na porta mais próxima. Sara escondeu-se atrás de uma cadeira e fechou a porta. – Acho que o sócio de Mister Aliabad acaba de chegar! Entrou no quarto de Madame. Peter rastejou e foi sentar-se ao lado dela. – Então esperaremos um pouco e depois vamos atrás. – Bateu no joelho de Sara. – Entre nós três, conseguiremos dominá-los. Valentin ficou tenso quando Aliabad caminhou até onde estava Anthony e lhe puxou o cabelo até o rapaz ser obrigado a levantar o olhar. Inclinou-se e beijou Anthony na boca, com o olhar ainda cravado no de Valentin. Antes que Valentin pudesse reagir, a porta atrás de Aliabad abriu-se de maneira silenciosa. Se a pequena figura mascarada e de capa era a de Sir Richard Pettifer, Valentin esperava que estivesse furioso. Com a atenção de Aliabad sobre ele, passou uma mão pelo ventre e abraçouse. – E que tal teres-me a mim no lugar de Anthony? Deixarias o meu sócio e a minha família em paz se eu aceitasse regressar à Turquia contigo? Aliabad mantinha o olhar nas virilhas de Valentin. – Como meu escravo? Valentin arqueou uma sobrancelha. – Claro. – Girava o polegar na ponta do pénis. – Londres começa a entediar-me e a ser muito pequena para as minhas necessidades. Aliabad afastou-se de Anthony com uma expressão triunfante e, antes que pudesse falar, outra voz interrompeu-o. – Porque não me informou desta reunião, Yusef? – Evangeline Pettifer retirou o capuz e arrancou a máscara. – Está a tentar trair-me? – Ele trai toda a gente, não sabias? – Valentin fez uma vénia. – Se foste idiota ao ponto de te envolveres nos planos dele, então só posso ter pena de ti. Evangeline virou-se para ele, com uma pistola na mão.


– O plano, como lhe chamas, é meu! Mereces que te arruíne, Valentin. Não permitirei que faças um novo acordo com Aliabad porque ele já fez um acordo comigo. Uma gota de suor escorreu pela testa de Aliabad. – Ora, eu estava só a brincar com ele. Não tenho intenção de aceitar as suas ridículas exigências. – Sorriu, com um olho desconfiado sobre o revólver. – Então, por que razão raptou o rapaz? – Evangeline apontou para Anthony. – Nunca estive de acordo com isto. – Porque, ao contrário de ti, Evangeline, Aliabad não está interessado nem no meu dinheiro nem nos meus negócios. Ele só quer ter-me de novo sob o seu poder. É provável que tenha pensado que, ao raptar Anthony, eu ficaria ciumento e desejoso de trocar de lugar com ele. Valentin parou, colocou mais lenha na lareira e tirou discretamente a faca que trazia escondida na bota. Evangeline observava-o com cautela e a pesada pistola mantinha-se firme entre as suas duas mãos enluvadas. – Porque me odeias tanto, Evangeline? – Se pudesse mantê-la a falar, talvez Peter e Sara chegassem a tempo de o ajudar. Ela olhava-o com fúria. – Porque não mereces ser feliz. – Estás com ciúmes porque me casei com Sara? – Franziu a testa como se estivesse confuso. – Creio que as tentativas de arruinar os nossos negócios começaram muito antes disso. – Sabes muito bem porque te odeio, Valentin. – Porque tenho mais sucesso nos negócios do que Sir Richard? Evangeline fez um gesto de impaciência. – Sir Richard é um imbecil. Eu dirijo os negócios dele e sou tão capaz como tu. – Estás zangada comigo porque sou homem e tu não? – Valentin riu. – Isso nem sequer é culpa minha. Não sou Deus. Não inventei as regras que dizem que os homens são mais capazes do que as mulheres. – Mas beneficias com elas. – Claro que sim. Mas também outros homens o fazem. Porquê eu, Evangeline? Porque me escolheste? A boca dela contraiu-se. – Usaste-me para dares início aos teus negócios, Valentin, e não tardaste a desfazer-te de mim como um pedaço de lixo. Valentin afastou-se da lareira e endireitou as costas. – Dormi contigo uma vez, há dez anos. Querias que me casasse contigo e eu recusei. – Mas soubeste esperar até que eu te organizasse os livros para te desfazeres de mim, não é verdade? Estava cansado e farto do seu passado e dos erros da sua juventude. Quantas vezes o passado ia aparecer para lhe manchar o futuro? – Tu andavas a dormir com vários homens ao mesmo tempo. Porque deveria ter acreditado que estavas interessada particularmente em mim? Pelo que ouvi, fizeste a mesma oferta a todos os homens com os quais foste para a cama. O seu controlo sobre a pistola vacilou.


– Admite que juntos poderíamos ter tido êxito! Ao menos admite isso! Valentin suspirou. – Não sei. Neste momento, somos muito parecidos. Famintos, desesperados e ambiciosos. – Olhou-a nos olhos. – Não podemos acabar com esta farsa? Se me desculpares pela minha falta de consideração e eu admitir que és uma mulher extraordinária, deixas-me em paz? – Não. Mereces pagar pelo que me fizeste. Quero ver os teus negócios arruinados, a tua vida pessoal objeto de desprezo e a tua esposa abandonada nas ruas, como aconteceu comigo. Valentin deu um passo em frente. – A Sara não te fez nada. Na verdade, desafiou-me para ser tua amiga. Como podes desejar-lhe uma coisa dessas? Evangeline engatilhou a arma e apontou diretamente a Valentin. – Ela ama-te. Mesmo sabendo o tipo de homem que és, ama-te. Tentei pô-la contra ti. – O seu tom de voz elevou-se. – Não posso suportar a ideia de que ela tenha filhos teus quando eu não posso tê-los. Devia ter sido eu! A pistola disparou e Valentin caiu ao chão, consciente de uma pontada aguda no ombro esquerdo. Colocou a mão sobre o sangue que atravessava o casaco. No momento em que o fumo se dissipou e o estrondo nos ouvidos desapareceu, o quarto pareceu ficar cheio de gente. Sara correu para a sua beira, o seu rosto como uma máscara branca e gelada. – Valentin, estás bem? Ouvi um disparo. Ele agarrou-a pelo braço e reuniu todas as suas forças para falar sem que os seus dentes batessem – Estou bem, vai ajudar o Anthony, ele precisa de ti. – Valentin... – Sara, ajuda o Anthony. Ele não vai querer que nenhum homem lhe toque neste momento. Ela fitou-o, os seus olhos horrorizados. Valentin concentrava-se na sua respiração enquanto observava Sara a libertar o irmão. O seu rosto estava pálido. Peter tinha agarrado Aliabad e o guarda-costas de Madame Helene segurava Evangeline, que chorava. Valentin tentou levantar-se quando outra vertigem lhe atravessou o corpo. Desistindo daquele esforço, arrastou-se até Evangeline e ajoelhou-se ao lado dela. – Nunca foi minha intenção magoar-te. Ela olhou-o, com o rosto banhado em lágrimas. – Mas magoaste. Fiquei grávida com o teu filho, Valentin. De repente, sentiu dificuldade em respirar. – Tratei de me ver livre dele, mas nunca mais consegui voltar a conceber. Sir Richard está desiludido comigo. Casou comigo para ter filhos e, apesar de todos os meus esforços para alcançar respeitabilidade, nunca a terei. Valentin virou-se. O que podia ele dizer? As possibilidades de que fosse seu filho eram remotas. Mesmo naqueles dias loucos e desesperados, sempre tivera muito cuidado onde depositava a sua semente. Mas se ela acreditava mesmo nisso, seria o suficiente para explicar aquele desejo irresistível de o destruir? – Valentin, estás ferido! O Peter e eu entrámos no instante em que a Evangeline disparou. –


Sara acariciava-lhe o rosto com dedos trémulos. Ele fechou a mão sobre a dela, desesperado por sentir o seu calor. – A bala passou de raspão pelo ombro. Tenho a certeza de que ficarei bem. Ela sorriu, a sua voluptuosa boca a tremer. – Pensei que ela te tinha matado. – O seu olhar vacilava enquanto levavam Evangeline. – Tens a certeza que Evangeline era a sócia de Aliabad? – Pelos vistos, sim. Sabíamos que só podia ser uma pessoa inteligente. – Mas, porquê? Ele apertou-lhe os dedos, espantado por se sentir tão tranquilo. – Explicarei tudo mais tarde. Talvez seja melhor levarmos Anthony para casa e decidir o que fazer com Aliabad. Peter arrastou Aliabad até ao centro do quarto. – Podíamos matá-lo. Seria um prazer para mim. Valentin observava o seu inimigo que agora parecia mais um ancião assustado do que uma verdadeira ameaça. – Creio que existem melhores maneiras de o fazer pagar. – Voltou-se para Madame Helene. – Ainda tem aquele contacto no escritório do estaleiro naval? – Sim. Na verdade, creio que o comandante Jackson está lá em cima neste preciso instante. Quer que vá chamá-lo? Aliabad empalideceu. – O que vão fazer comigo? Faço parte da comitiva do embaixador. Irão dar pela minha falta. Valentin sorriu. – Eu não farei nada. Acredito que podemos deixar isso a cargo do comandante Jackson. Ele é responsável pela equipa de recrutamento da Marinha britânica. Estão sempre à procura de homens honrados e em forma para navegar pelos sete mares. Antes que Aliabad pudesse falar, Peter amordaçou-o com destreza e deixou-o nas mãos do guarda-costas de Madame Helene. Valentin sentou-se numa cadeira, contente por ter algo sólido atrás das costas. Semicerrou os olhos quando uma pontada de dor lhe atravessou o ombro. – Peter, podes levar o Anthony para casa? – Está tudo bem, Val. O marquês vem buscá-lo. – Peter contemplava o quarto que se esvaziara com rapidez. – Sara, vens comigo e ajudas-me a explicar ao pai de Val o que aconteceu? Sara olhou para Val e para Anthony. – Claro que sim. Era difícil falar no silêncio que Sara tinha deixado para trás ao fechar a porta. Valentin viu que Anthony se aproximava. Alguém lhe havia dado uma camisa limpa. O seu rosto parecia o de alguém mais velho e os seus olhos estavam repletos de alívio. Ajoelhou-lhe ao lado de Valentin a apertou-lhe a mão. – Obrigado, Val. – Porquê? Se não fosse por mim, nunca terias acabado aqui. – Tentava mostrar-se divertido, mas era cada vez mais difícil voltar a pôr a máscara. Anthony sorriu. – Não direi a nosso pai nada que não queiras que ele ouça.


Por dentro, Valentin gemia. De certeza que Anthony tinha ouvido um relato completamente libertino dos seus anos na Turquia. Decidiu ser franco. – O Aliabad abusou de ti? As largas pestanas de Anthony baixaram-se para ocultar a sua expressão. – Sobrevivi, Val. Esquecerei. Por momentos, partilharam um olhar muito íntimo. Valentin deu-se conta de que o seu irmão mais novo nunca mais voltaria a ser inocente. – Meu Deus! Lamento muito. – Hesitou. – Se precisares de falar com alguém... Anthony pôs-se de pé. – Frequentei uma escola pública e não é a primeira vez que outro homem me humilha, mas obrigado pela oferta. Escutavam-se vozes do outro lado da porta fechada. Anthony ficou tenso e virou-se para Valentin. – Não contes ao nosso pai o que me aconteceu. Valentin encarou o olhar decidido do irmão – Não lhe direi nada, mas ele não é estúpido. Pode perguntar-te ele mesmo. Anthony encolheu os ombros e fez uma careta de dor. – Então mentirei. Mas... por favor, não contes. Valentin travou o desejo de abraçar o irmão. – Dou-te a minha palavra. Anthony assentiu com a cabeça. – Obrigado, Valentin. A porta abriu-se para deixar entrar o marquês. O seu rosto estava tão pálido e envelhecido como o de Valentin. Dirigiu-se para Anthony. – Estás bem? Anthony retrocedeu um passo, com a expressão distante. – Estou bem. O marquês olhou furioso para o filho mais velho. – Tudo isto é obra tua. Porque não me disseste que a terrível provação de Anthony se devia só a ti? Valentin fechou os olhos por breves instantes. – Porque queria resolver tudo sozinho. – Isso é típico de ti. Como te atreves a jogar com a vida do meu filho? – Foi o pai que me pediu ajuda e lembre-se que ele também é meu irmão. Anthony caminhou até ao outro lado do quarto e apoiou a mão sobre o ombro não ferido de Valentin. Os seus dedos tremiam ao fincar-se na carne do irmão. – O Val salvou-me a vida. Pouco importa como tudo isto aconteceu. Não pode ser ao menos um pouco agradecido, pai? Ele também é seu filho. – Meu Deus, achas que não sei? – O marquês sentou-se numa cadeira e tapou o rosto. Os seus ombros começaram a tremer. Anthony olhou hesitantemente para Valentin, que mantinha os olhos fixos no pai. Uma lágrima cintilou nos dedos do marquês. Valentin esforçou-se para se levantar.


– Só posso pedir-lhe desculpas por tê-lo feito passar por semelhante inferno. Espero que um dia me perdoe. Agora, se me der licença, tenho de tratar desta ferida sem importância. – Franziu a testa quando Anthony, que parecia ter-se transformado no seu defensor, abriu a boca para falar. – Ele tem razão. É culpa minha. Agora vai para casa e abraça a tua mãe. Aposto que ela vai ficar tão feliz por te voltar a ver que não te perderá de vista durante semanas. Ignorou a mão estendida de Anthony e caminhou até ao quarto de vestir de Madame. Sara e Peter esperavam-no, as suas expressões neutras. Conseguiu sorrir para Peter. – Podias ajudar a minha família a regressar a casa? Peter acenou afirmativamente com a cabeça. – Acompanho-os até à carruagem. Também me assegurarei de que Anthony saiba que pode falar comigo sobre qualquer coisa. Assim que todos saíram, Sara sentou-se junto de Valentin. Ele estava pálido, com os olhos fechados e a boca tensa pela dor. Madame tinha já chamado o discreto médico que vivia do outro lado da rua. Valentin abriu um olho. – Então, ainda aqui estás. Ela acariciou-lhe a face. – Sim, estou. Com um suspiro, apoiou a cabeça no ombro dela. – Não me deixes. – Não estou a pensar fazê-lo. – Afastou-lhe o cabelo despenteado do rosto. – Amo-te, Valentin. Amo-te tal como és. Ele abriu os olhos e observou-a. – Só Deus sabe porquê, mas acredito. Sorriu-lhe. Esperava que ele pudesse ver o amor que brilhava nos seus olhos. – Permites-me ser eu mesma, Valentin. Porque não haveria de fazer o mesmo por ti? O lento sorriso dele era algo bonito de se ver. – Sempre me pareceste uma mulher com um extraordinário bom senso, Sara. Agora deixa-me beijar-te antes que chegue o maldito médico para me atormentar. Ela inclinou a cabeça para o beijar, sabendo que uma declaração de amor vinda de um homem tão complexo poderia levar algum tempo. Saberia esperar. Ele completava-a. Beijou-o novamente antes de se aperceber de um ligeiro pigarrear junto à porta. Levantou a cabeça e viu Madame Helene acompanhada por um homem magro e alto que carregava uma mala preta de pele. Valentin recostou-se. – Ah, senhor doutor. Estava prestes a dizer à minha mulher o quanto a amava. Como planeio dizer-lho todos os dias durante o resto das nossas vidas, creio que ela perdoará a interrupção. Sara olhava-o fixamente enquanto uma lágrima corria pelo seu rosto. Ele enxugou-lha, o seu rosto perto do dela. A emoção no seu olhar era quase insuportável de ver. – Amo-te, Sara Sokorvsky – sussurrou ele. – Irei amar-te sempre.


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