Livro

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Bullying na Escola

Autores: Evandro Santos Pinheiro Fabio da Silva Barbosa


Jorge pouco dormiu durante a noite. Sabia que o tormento iria começar. Era o regresso às aulas. Quando estava a sair de casa, a mãe chamou-o. Ajeitou-lhe a camisa para dentro das calças e passou a mão pelo cabelo dele. - Vais bonito, bem arranjado, para as aulas. Jorge não queria ir nem bonito nem feio. Não queria voltar para aquele inferno. Olhou para a mãe com cara de quem pede ajuda mas a mãe não entendeu. - Vamos Jorginho. O que foi? Estás com sono? - Não. – Murmurou dano meia volta, caminhando para o portão. A poucos passos do colégio, encontrou os seus “colegas”. Justamente o Matias, filho da professora e a sua turma. O Matias sentia-se a última bolacha do pacote e por isso discutia e batia em todos da turma, principalmente com o Jorge, por ser gordo e de ser pobre. Ao se aproximar do Jorge, Matias empurrou-o fazendo-o cair. Quando ele se ia levantar, levou uma rasteira. Todos se riram.


- Que foi puto? Não te consegues manter em pé? – Disse um dos seus “colegas”. - O nojento não consegue andar. – Complementou uma das meninas que faziam parte da sua turma. - Para com isso. Não gosto deste tipo de brincadeira. Reclamou o Jorge. - Tchiiiiiiiiiiiiiiiiii… O feioso quer ser valente. – Disse o Matias. De repente, avistaram a directora do colégio a aproximar-se do local gritando: - Todos para dentro! Todos disfarçaram e era visível o desconforto do pobre rapaz. Constantemente a levar porrada dos colegas, tentava entender o que se passava com ele mas não conseguia. As ditas brincadeiras iam deixando o Jorge cada vez mais isolado e deprimido. Sentia-se o pior dos seres. Os insultos, as piadas a seu respeito e as humilhações em público, faziam com que ele ficasse mais agressivo em casa. Os pais não entendiam.


- Não sei o que se passa com ele. Cada dia piora. Deve de ser da adolescência. No começo da aula, a algazarra dentro da sala era geral. O professor não conseguia controlar a turma. Mandá-los para a directora já era rotina. A pior turma da escola era aquela. Uma semana após o regresso às aulas, o Jorge tomou uma decisão: Aquilo tinha de acabar. Pegou na arma que viu o seu pai esconder por cima do armário, colocou-a no fundo da mochila e foi para a escola. Ao chegar viu logo o Matias e o resto da turma. Eles viram-no chegar e começaram a entreolharem-se sorrindo. - Olha quem vem lá… O Jorge parou em frente do Matias, olhou-o bem fundo e disse: - Vai-te … . O Matias empurra o Jorge: - Estás maluco ou quê?! O Jorge aproximou-se novamente do Matias e repetiu: - Vai-te… .


O Matias não entendeu a atitude do Jorge, que ficava sempre quieto e ressentido pelos cantos. Mas ele sabia que não podia deixar ninguém manda-lo … . As coisas não se podiam inverter. - Seu … , o que é que tu estás a pensar???!! – Matias encarou-o dando-lhe um murro na boca. A campainha toca para entrar e Matias informa o Jorge que as coisas iriam resolver-se na hora de saída. Jorge encolheu os ombros, pegou na mochila e entrou na sala. Apenas ele sabia do que tinha planeado. Quando a aula começou todos olhavam para o Jorge estupefactos. Todos sabiam que no final da aula havia porrada. Chegada a hora de saída o Matias foi na frente, para não deixar o Jorge escapar. A turma deles cercava o Jorge. Chegaram ao campo, o sítio onde ocorriam sempre estes acertos de conta. O Matias atirou a mochila para o chão e desafiou: - Como é puto? Tas preparado para a luta?


O Jorge baixou a mochila e devagar com um gesto repentino meteu a mão lá dentro. O Matias correu na sua direcção prevendo que o Jorge estava preparado para a situação. Mas antes de conseguir chegar ao pé do Jorge, ele pegou na arma. - Fica longe de mim. O Matias parou com as mãos levantadas. - Que é isso rapaz? Tas maluco? Guarda isso agora. - Não. Isto acaba hoje e ninguém se aproxima! Todos recuaram. O Matias não sabia o que fazer com a arma apontada a seu peito. O Jorge estava com a mão o mais firme que conseguia, mas um leve tremor que insistia em percorria o seu corpo demonstrava o quando nervoso ele estava. Passado alguns segundos, que pareciam uma eternidade, o Jorge disse:


- Isso acaba agora… O Matias entrou em pânico, os outros recuaram um pouco, alguns correram para longe, as raparigas viravam o rosto. O Jorge enfiou, rapidamente, o cano da arma na sua própria boca, puxando o gatilho. O corpo desmoronou sem vida. O Matias tentava fazer muitas coisas, mas não se conseguia mexer. Nesse momento, a mãe do Jorge entra dentro da escola a correr com um bilhete nas mãos que dizia: “Acaba tudo hoje. Não consigo mais. Adeus.”



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