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EM BUSCA DA BATIDA PERFEITA Manifestação de orgulho negro, música da periferia e “pegada” sexual: isso os funks de James Brown e DJ Marlboro têm em comum. Mas, na batalha das pickups, qual dos dois soa como música aos seus ouvidos? KLEYSON BARBOSA
JULIA BAX
CHEIRO DE PNEU QUEIMADO, CARBURADOR FURADO, O X-9 FOI TORRADO
SAY IT LOUD, I’M BLACK AND I’M PROUD
FUNK CARIOCA
O ritmo surgiu nos EUA, no final dos anos 60, originado da soul music e do R&B, duas vertentes da música negra. Era um momento da radicalização da política negra após o assassinato de Martin Luther King. Figuras como James Brown deram uma “pegada” mais “suja”, sexual e cheia de balanço ao ritmo, que se firmou nos anos 70
História
O funk americano chegou ao Brasil nos anos 70. Mas o ritmo carioca da gema só nasceu em 1989, com o lançamento do álbum Funk Brasil 1, do DJ Marlboro, com batida eletrônica e temática sexual. Nos anos 90, o ritmo virou algo original com a inserção de samples como o tamborzão, padrão produzido pelos atabaques
James Brown, The JBs e George Clinton (Parliament/Funkadelic) e Sly & Family Ston foram as maiores estrelas. Brown esteve na lista de mais tocados da revista americana Billboard em 1965, 1968, 1969, 1972 e 1986, com hits como “Say it Loud – I’m Black and I’m Proud*” e “Get Up I Feel Like Being a Sex Machine**”
Hits e estrelas
DJs Marlboro, Grandmaster Raphael e Mc Batata são três expoentes do gênero que se destacaram logo no início do movimento carioca. A partir da década de 1990, novos funkeiros, como Buchecha, Serginho e Lacraia, Bonde do Tigrão e Tati Quebra-Barraco, ajudaram a colocar refrões do funk na boca do povo de todo o Brasil
As musas eram Pam Grier e Ângela Davis. Pam ficou famosa por estrelar filmes da Blaxploitation, com protagonistas negros. Angela era socialista do partido revolucionário Panteras Negras e lutava pelos direitos das mulheres Algumas canções do funk clássico eram carregadas de mensagens políticas, enquanto outras apimentavam noitadas com referências sexuais fortes, como em “Get Up I Feel Like Being a Sex Machine”. Outras músicas do gênero traduziam o orgulho negro, como “Say it Loud – I’m Black and I’m Proud”, gravado por James Brown em 1968 O gênero influenciou a vestimenta da garotada dos bailes, que usava roupas como calça boca de sino e camisas abertas no peito. O movimento marcou ainda os filmes da Blaxsploitation, e, claro, o funk carioca. Até hoje, a batida típica do gênero é incorporada ao pop e ao R&B, como nas músicas de Beyoncé e Jennifer Lopez FONTES SILVIO ESSINGER, AUTOR DE BATIDÃO: UMA HISTÓRIA DO FUNK; CARLOS VICENTE PALOMBINI, PROFESSOR DA UFMG; LIVRO O MUNDO FUNK CARIOCA, DE HERMANO VIANNA; PESQUISA CONFIGURAÇÕES DO MERCADO DO FUNK NO RIO DE JANEIRO / FGV OPINIÃO
Musas
Engajamento
Waleska Popozuda, Mulher Filé, Mulher Melancia, Moranguinho e as demais mulheres frutas são as musas inspiradoras do funk carioca. O gênero tem ainda uma musa às avessas, a menos popozuda Tati Quebra-Barraco, que criou o inesquecível bordão “sou feia, mas tô na moda” O ritmo brasileiro aborda a realidade da periferia, usando a linguagem dos moradores da favela. Temas como violência, sexo, drogas, protesto e amor dão o tom pro pancadão. Há ainda uma vertente mais social, com músicas como o “Rap da Felicidade”, interpretado por Cidinho e Doca
Poder de influência
O movimento gera cerca de R$ 10 milhões por mês só no estado do Rio de Janeiro. O funk recente assimilou a moda e influencia tudo, do cabelo “molinha” à calça da Gang, grife carioca famosa pelos jeans justinhos. Para completar, os bailes de funk ultrapassaram o eixo Rio-São Paulo e influenciam artistas estrangeiros como a rapper M.I.A.
3 x2
VITÓRIA DO FUNK CLÁSSICO! É ruim, hein, de o batidão carioca levar essa parada! Além de ser engajado, o funk clássico é um dos ritmos mais influentes do mundo
FOTOS DIVULGAÇÃO
TRADUÇÃO: * “Grite para todo mundo, eu sou negro e me orgulho” / ** “Levante-se! Eu me sinto como uma máquina sexual”
FUNK CLÁSSICO