Revista
Carnaval Ano I n Edição nº 1 n Setembro/2011 n R$ 2,50
Mestre Odilon, Sob as bênçãos de Padre Miguel
Enredo e Samba, inspiração ou conteúdo A mais irreverente nudez da Sapucaí O eterno reinado de um menino O desafio de Paulo Menezes Setembro / 2011
Revista Carnaval l 1
EDITORIAL
AGENDA DO CARNAVAL
(Grupo Especial e Grupos de Acesso do Rio de Janeiro) Grupo Especial Passarela do Samba Domingo – 19/02 n Renascer de Jacarepaguá n Portela n Imperatriz Leopoldinense n Mocidade Independente de Padre Miguel n Unidos do Porto da Pedra n Beija-Flor n Unidos de Vila Isabel Passarela do Samba Segunda – 20/02 n São Clemente n União da Ilha do Governador n Acadêmicos do Salgueiro n Estação Primeira de Mangueira n Unidos da Tijuca n Acadêmicos do Grande Rio Grupo de Acesso A Passarela do Samba Sábado – 18/02 n Paraíso do Tuiuti n Acadêmicos da Rocinha n Estácio de Sá n Inocentes de Belford Roxo n Império da Tijuca n Unidos do Viradouro n Acadêmicos de Santa Cruz n Império Serrano n Acadêmicos do Cubango Grupo de Acesso B Passarela do Samba Terça – 21/02 n Unidos de Vila Santa Teresa n União de Jacarepaguá n Sereno de Campo Grande n Alegria da Zona Sul n Arranco n União do Parque Curicica n Mocidade de Vicente de Carvalho n Tradição n Caprichosos de Pilares n Unidos de Padre Miguel n Difícil é o Nome
Grupo de Acesso C Estrada Intendente Magalhães Domingo – 19/02 n Independente de São João de Meriti n Rosa de Ouro n Lins Imperial n Unidos da Ponte n Império da Praça Seca n Unidos da Vila Kennedy n Arrastão de Cascadura n Favo de Acari n Unidos da Villa Rica n Em Cima da Hora n Acadêmicos da Abolição n Acadêmicos do Sossego n Boi da Ilha do Governador n Unidos do Jacarezinho n Unidos do Cabuçu Grupo de Acesso D Estrada Intendente Magalhães Segunda – 20/02 n Flor da Mina do Andaraí n Unidos de Cosmos n Vizinha Faladeira n Acadêmicos do Engenho da Raínha n Unidos do Anil n Mocidade Unida de Jacarepaguá n Unidos de Lucas n Leão de Nova Iguaçu n Acadêmicos de Vigário Geral n Unidos de Manguinhos n Gato de Bonsucesso n Corações Unidos do Amarelinho n Acadêmicos do Dendê Grupo de Acesso E Estrada Intendente Magalhães Terça – 21/02 n Canários das Laranjeiras n Unidos do Cabral n Boca de Siri n Mocidade Independente de Inhaúma n Paraíso da Alvorada n União de Vaz Lobo n Matriz de São João de Meriti n Chatuba de Mesquita n Mocidade Unida do Santa Marta n Delírio da Zona Oeste n Arame de Ricardo n Imperial de Nova Iguaçu
Espaço do samba
C
hegamos. REVISTA CARNAVAL vem dar sua contribuição ao samba. Nosso objetivo é mais que ser um veículo de informação e valorização da cultura popular brasileira, sobretudo do fascinante mundo das escolas de samba. Queremos levantar discussões (no bom sentido, é claro), debater propostas, elevar os verdadeiros artistas deste espetáculo, solidificar raízes. Estamos na área em versão digital, mas mantendo a linguagem típica de uma revista impressa. Aí está nosso primeiro número, batendo papo com três feras do Carnaval, os compositores Cláudio Russo e Marquinhos Lessa e o carnavalesco Cid Carvalho, sobre a contribuição de um bom enredo para a criação de um samba. Entrevistamos Mestre Odilon, que, depois de dois anos afastado dos desfiles, retornará à Avenida conduzindo a bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel. Também conversamos com o carnavalesco Paulo Menezes, que nos falou da responsabilidade de comandar o visual da Portela. REVISTA CARNAVAL, nesta edição, relembra um grande nome e um momento sem igual dos desfiles das escolas de samba. Nossa homenagem vai para uma das vozes mais marcantes do samba: Roberto Ribeiro, que veio de Campos dos Goytacazes para ser jogador de futebol e se tornou rei com um microfone na mão. Inesquecível foi a mais irreverente nudez da Marquês de Sapucaí, protagonizada por ninguém menos que Dercy Gonçalves. Curta cada página de nossa edição de estréia e conte com a gente para que, parafraseando J. C. Couto, autor do hino de 1997 da Unidos de Vila Isabel, o samba sempre tenha espaço no Carnaval deste país. Revista
Carnaval
EXPEDIENTE
A Revista Carnaval é uma Publicação Portifolyo Produções Rua Garcia Redondo, 30, Cachambi, Rio de Janeiro-RJ. Tel.: 9835-1828 Editor: David Júnior. Diretor Comercial: Otávio Sobrinho.
Email: revistacarnaval@revistacarnaval.com.br. www.revistacarnaval.com.br. Foto de capa: Divulgação/Valeria del Cueto. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.
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SUMÁRIO ENTREVISTA
Mestre Odilon na Mocidade
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REI E RAINHA
Eleição para a
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corte da folia DEBATE
enredo e bom samba
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MIRIM
Os números na Sapucaí
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INESQUECÍVEL
A nudez irreverente
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MAJESTADE
Paulo menezes na Portela
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HOMENAGEM
O menino-rei do samba
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DE OLHO
Histórias de bambas
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ACESSO
A e B com mais tempo
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SAMPA
unidos com a
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batuta na mão
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ENTREVISTA
ENTREVISTA
Foto: Divulgação/Valeria del Cueto.
A nova batuta Independente
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Depois de dois anos fora do Carnaval, Mestre Odilon assume a bateria da Mocidade. Ele fala de sua chegada à Padre Miguel, de ritmo, da carreira, do julgamento, da nova geração e da saída da Grande Rio.
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RC – Como foi seu início no mundo do samba? Foi na União da Ilha? Odilon – Foi na Ilha, com o João Sérgio (Mestre), no final da década de 60. Comecei tocando repenique, depois fui mudando de instrumento, surdo, caixa, que foi o mais difícil para mim. E como foi o primeiro ano como Mestre? Foi em 1991, na União da Ilha, com o enredo Didi – De bar, em bar.
Saiam mais de cinco mil pessoas. Eu tocava na União da Ilha e no Cata. E os herdeiros? Gostam de samba? Eu tenho uma filha. Ela vai para o samba, mas não gosta muito. Não é frequentadora assídua. Vai uma vez ou outra. Já os meus netos gostam.
Na época em que você estava na Ilha, já com o Mestre Paulão, na década de 80, a Tricolor tinha uma bateria tida como revolucionária. Havia sambistas na família? Quando começaram a surgir Não. Meu pai brincava Carna- as bossas na Ilha, o Paulão val, gostava de sair de burri- gravava muitas bossas da Monha, mas não tocava. Eu que cidade. Eu não gostava daquilo me meti neste meio. Desde e criava as nossas. O pessoal criança, eu gostava de Carna- da Mocidade ficou de olho. Em val. Sabia que esta ia ser mi- 1991, o Paulão foi candidato a nha praia. Eu tocava também presidência da Ilha e perdeu. no Cata-Corno, um bloco da A turma que ganhou não quis Ilha. Depois a polícia mandou que ele continuasse à frente tirar o corno e ficou só Cata. O da bateria porque foi adversábloco era bom para caramba. rio nas eleições. Revista Carnaval l 5
Foto: Divulgação/Valeria del Cueto.
sa gostosa de se ouvir. E andamento pode ser mais acelerado ou mais devagar. Gosto mais devagar.
Bereco, Odilon, Andrezinho e Dudu. O quarteto de mestres que comandará a bateria da Mocidade. n
E você assumiu o posto no lugar do Paulão? Eu não queria. Gostava era de tocar. Mas os ritmistas me colocaram na marra disseram “vai ser você, não vamos deixar alguém de fora assumir.” Foi o ponto de partida como mestre? Foi. De lá, fui para o Salgueiro, com o Mestre Louro em 1992. Depois assumi a Beija-Flor, onde fiquei três anos, e a Santa Cruz, mas não gostei. Era muito longe. Parei no caminho, fiz a gravação do disco das escolas de samba, até assumir a Grande Rio, onde fiquei 11 anos. Foi bom. Fui Estandarte de Ouro logo no segundo ano. Ganhei nota 10 em nove anos, sendo sete seguidos. Como você se define como mestre de bateria? É preciso fazer a dosagem certa dos instrumentos. Na Ilha, eu criei também o corredor na bateria. O Paulão queria falar com a gente e era difícil de enxergar. Ficou maneiro. 6 l Revista Carnaval
Sou disciplinador. Sou chato mesmo. Muita gente não sai comigo por causa disso.
Agora está na moda a medição do andamento. É uma palhaçada este negócio de metrônomo. Isto funciona na gravação do disco, que precisa ser tudo certinho. Trouxeram isto para a Avenida. Houve um ano que eu estava em 141, 142 e 143. Qual estava certo? Veio um e falou: você passou com 141. O outro disse que eu passei com 142, e o terceiro com 143. Tem muita gente que não sabe sequer mexer naquilo. Isto é para música européia.
Você não queria substituir o Paulão. Há algo dele no seu Mas e o estilo de comando? trabalho? Sou disciplinador. Sou chato Ele também era muito firme. mesmo. Muita gente não sai Mas eu segui o meu lance. Foi comigo por causa disso. Eu individual. Comecei a mudar levo muito firme. Se você dei- as bossas. Só havia bossa de xar, hoje todo mundo é mestre. repique. Eu comecei a fazer Eu sempre fui muito crítico com bossa de terceira, bossa de o meu trabalho. Ia para casa e caixa. As coisas todas vieram ficava me perguntando se es- na minha cabeça. Os caras ditava certo ou não. Aos poucos, ziam que eu estava louco. Fiz dosando os instrumentos, as bossa na cabeça do samba, pessoas me falavam que, na bossa entre um refrão e o ouminha bateria, escutavam-se tro. Fiz bossa onde não existia. todos os instrumentos. Quem gosta de samba falava porque E isto não tem nada a ver a playboyzada só quer corre- com a manutenção do ritmo. ria. Só querem trem bala. Eles Você tem o feijão com arroz. acham que estão certos. Eu A bossa é o bife, é o ovinho a acho que não. mais. A bossa é consequência do trabalho pronto. É para É mais acelerado. abrilhantar. Tem gente fazenAs pessoas até confundem. do bossa por fazer, tocando Ritmo é a soma dos instru- qualquer nota. Fazendo sem mentos. Cadência é uma coi- combinar com o samba. Setembro / 2011
Como está sendo a experiência na Mocidade? Eu aprendi com Mestre André a tocar repenique. Ele foi lá na Ilha com o Baiano e o China há muitos anos. Ele passou a batida de caixa da Mocidade, que é bem diferente, toca com as duas mãos, que entram mesmo. Nas outras baterias, uma mão só vem recortando. É uma batida bem complexa. É gostosa de se ouvir, quando bem tocada. Agora, além do ensaio da bateria, temos aulas para acertar a batida.
mestres de bateria? É uma experiência nova para a gente. Trouxemos o Dudu, filho do falecido Mestre Coé, mantivemos o Mestre Bereco e tem, também, o Andrezinho, filho do Mestre André.
ENTREVISTA
Mas tem jurado que não gosta desta correria. Eu estive com um que me falou que não gosta de correria. Estou falando em termos de andamento. Como o cara vai sambar? Há o frevo rápido e o frevo devagar. E o Celsinho? Está com a gente na diretoria. Nós estamos no frevo rápido. Celsinho toca comigo há muito Tem horas que acho que estou tempo. Levei-o para fazer mui- numa rave. A bossa sai tão rápida que não fica bonita. Acato show. bar não vai, mas ficará nisso que vemos hoje.
Tem jurado que não gosta de correria. Eu estive com um que me falou.
Esta não pode ser uma época de ajuste? Será preciso voltar no tempo e colocar um andamento legal. Está todo mundo reclamando. Quem é do samba e que conhece o samba. Não esta De quem é a palavra final? É de todo mundo, mas agora playboyzada que está entranvou começar a apertar os pa- do agora. rafusos. Eles vão sentir que o Odilon gosta da coisa cer- E a nova geração de mestres ta. Até agora eu deixei correr é competente? frouxo, a hora é de apertar. E Tem uns garotos bons vindo os caras entenderam que é as- aí. Mas eles estão preocupasim mesmo e estão chegando dos com os jurados. Eles recejunto. Se eu afrouxar, não tem bem o manual do jurado e lá Você levou alguém para lá? resultado. Você sabe como é diz que é preciso criatividade e Por enquanto, não. Mas, se ritmista, né? É igual a servente versatilidade. Aí os caras queprecisar, vamos levar. Agora, de obra. Se der mole, a obra rem colocar ritmista e Rainha de Bateria até em cima de emcomeçamos a pegar firme por não sai nunca. pilhadeira. lá, até para conhecer a terra. Agora, vamos começar a aper- Como você vê o futuro do Mudar o julgamento melhotar os parafusos para definir ritmo? quem vai desfilar. Bem pertinho de acabar. Isto raria? que estamos vendo não é rit- Claro. Os caras precisam julgar ritmo. A recepção foi legal? mo. Está todo mundo torcendo por mim. O que eles mais queriam Não há na nova geração Você destaca alguém desta é que eu fosse trabalhar lá. quem possa reverter este nova geração? Há vários garotos bons. Só um quadro? E a experiência de se traba- Os garotos, coitados, estão eu não destaco. Há uns oito lhar numa equipe de quatro preocupados com os jurados. fazendo um trabalho bom. É o ajuste? Eu falei uma coisa que muitas pessoas não entenderam. Quando Mestre Bira saiu da Mocidade, uma rapaziada foi com ele. Depois o Jorjão e uma turma foi embora com ele. Com o Jonas e o Coé, a mesma coisa. A bateria ficou quebrada. Ficou órfão com a saída dos pais. Com isso estamos encontrando um pouquinho de dificuldade, mas nós vamos acertar.
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Há alguma bateria que o senhor goste de ouvir? Quem está fazendo um ritmo legal na Avenida é o Marcone, da Imperatriz. O Nilo, o Marcão, do Salgueiro, o Rodney, o Thiago Diogo, o Paulão, da Renascer, estão fazendo um trabalho bom. O Paulão está fazendo o ritmista dele. Há muitos garotos bons.
gado em fantasia e outras coisas, ele fica ligado no som, no ritmo, na cadência bonita de se ouvir.
Em compensação, ele precisa ser bem tratado. É preciso ter um lugar legal Em São Paulo também foi para ficar, uma bebida legal, criada uma associação de uma comida legal. Tem que mestres e diretores de bate- dar uma moral para o cara. ria. É uma boa iniciativa? A gente fica entregue às baAqui no Rio é complicado. Os ratas. Muitas vezes para se caras se juntam numa hora, comprar um instrumento é um na seguinte estão falando mal sacrifício danado. Bateria do um do outro. É preciso se fe- primeiro grupo ainda vai. No char. Não gosto deste negócio segundo grupo, é pior. Tem de ficar falando do outro. que pedir peça emprestada. Dá a maior pena dos caras. É Aqui no Rio, os um disparate danado. A grana caras (mestres) do segundo grupo não dá nem para vestir a escola. se juntam numa
O que esperar do novo Sambódromo? Eu fiz uma reportagem dizendo que do lado esquerdo, no sentido do desfile, o julgador fica muito longe da bateria. E agora isto vai acontecer do outro lado. O julgador precisa eshora, na seguinte tar pertinho. O ritmo dentro da estão falando bateria é uma coisa. De fora, é outra. O cara precisa estar ali mal um do outro. para poder ouvir. Não há como você julgar ficando a 20 m, 30 O que precisa melhorar para m da bateria. o ritmista aqui? Muita coisa. Você vê na AveniO que esperar da acústica? da e acha que é molinho, mas Eu não sei. Houve um ano que até chegar lá é osso duro de os gringos foram embora mui- roer. Bateria tem de tudo. Os to cedo e as arquibancadas fi- caras precisam compreender caram vazias. Deu muito eco melhor e dar uma valorizada. nas arquibancadas. Houve Os ritmistas tocam a noite toda uma reverberação incrível. por causa de uma ou duas cervejas. É preciso dar uma moral Deu para você entender legal. o julgamento nestes dois anos que você ficou de fora Você fala do lado financeido Carnaval? ro? Os julgadores estão avaliando Se der dinheiro, vai ser pericorretamente o que está acon- goso. Aí você vai dizer: “Mas tecendo. Só não entendi o pro- você ganha.” Mas eu sou mesblema da Mangueira este ano. tre. Para o ritmista, se você der Como o senhor avalia a ex- R$ 20,00 para a passagem, periência com o curso para tem gente que gosta de outras cegos em São Paulo? coisas, não é só de bebida. Se o cara é músico, acho vá- Ele vai querer mais. Vai pedir lido. Assim o cara não fica li- R$ 30,00, R$ 40,00. É bom o 88llRevista Revista Carnaval Carnaval
ritmista ir por amor.
O que o Odilon gosta de fazer fora do samba? Eu fiz curso de cozinheiro. Gosto de cozinhar. Eu me amarro. O Odilon fora do samba é bastante tranquilo. Eu gosto de pescar. Estou na praia todo dia. Moro perto da praia, lá em Niterói. Eu dou as minhas aulas, no Batucadas Brasileiras, no BNDES, no Maracatu Brasil, do Guto, baterista do Barão Vermelho. O Flamengo ainda mexe muito com seu coração? É a minha paixão. Eu sou da Raça Rubro-Negra. Eu tenho carteira da Raça. Só não vou em decisão, porque se o time perder eu fico achando que sou pé frio, porque há um tempão que eu não vou ao estádio. Eu tenho que voltar a ser ativo. E a sua escola? Minha escola é esta aqui (mostra a carteira de sócio da Setembro Setembro//2011 2011
Foto: A. Pinto.
Mestre Odilon também se dedica a criar novos ritmistas. n
União da Ilha do Governador). Eu fui criado lá dentro. O Riquinho (Mestre de bateria da União da Ilha) está fazendo um bom trabalho? Está. Precisa apertar um pouco os parafusos. Já falei com ele. Bateria é bastante complicado. Se você levar para o lado da amizade, perde o ritmo. Se levar a sério, vem alguém dizer que o você mudou e ninguém quer. Mas comigo é assim mesmo. Se quiser, vem. Se não quiser, vai diminuindo. Sai com 20, 30, 40, 50 ... Qual o número de ritmistas ideal? Hoje, se o cara for malandro, sai com 220. Na Mocidade, de 310 já caiu para 264 este ano. Diminuiu bastante. O preocupante na Mocidade é a batida de caixa, que é diferente. O resto é mole. A gente consegue fácil. Depois a gente baixa para algo em torno de 244, por aí. Se o cara é sambista, vai. Você ficou 11 anos na GranSetembro Setembro//2011 2011
de Rio. Como foi sua saída de lá? Foi muito conturbada. Nem o presidente e nem o patrono vão na escola. Vão lá umas duas vezes no ano. Houve problema de fofoca. Eu entrei na sala do presidente e ele disse: “Estou sabendo que a bateria está tocando valsa.” Eu disse para ele: “Estou tocando valsa e tirando dez direto. Imagina se eu tirasse nove. Vocês estavam me matando.” Isto porque havia a fofoca de quem queria botar a bateria para correr. Até tirando 10 os caras queriam mexer na bateria. Elogiavam a bateria, mas a raia miúda queria mexer no ritmo. Eu disse que estava tudo tranquilo. Até o cantor gostava de correria. Botei algo mais ou menos lá, porque eu não gosto de correria. Quando acabou o desfile, eu disse tchau e bênção. Acabou o desfile e eu gritei: “Tô fora.” Gritei bem alto. Não mandei carta, não mandei nada. Eu não quero trabalhar agulhado não. Eu largo dinheiro. Prefiro ficar com a minha dignidade. Dinheiro, para mim, não é problema. Como aprender com o Mestre Odilon? Eu dou aula no Batucadas Brasileiras (Rua Camerino, 60, Centro). É 0800, não paga nada. É só ser estudante da rede pública. Dou aula para os trabalhadores do BNDES. É restrito aos funcionários. Também ensino no Maracatu Brasil, em Laranjeiras (Rua Ipiranga, 49), que é pago.
ENTREVISTA Aprende rápido? Se o cara tiver vontade, em um dia já sai tocando tamborim. Eu só não dou braço. Quem dá braço é Deus. É só treinar. Mas ninguém quer nada com
Quando acabou o desfile (Grande Rio), eu disse tchau e bênção. Gritei bem alto: “Tô fora.” nada. Sai da aula e vai namorar. Destes cursos já saíram ritmistas? Já. Há muitos, em várias escolas. Há garotos tocando tudo. Na Grande Rio mesmo, ninguém queria ritmista de lá. No meu tempo, você via muita gente da Grande Rio em outras escolas. Isto me deixava feliz. Eu barrei um garoto lá que depois voltou tocando. Hoje sai até em São Paulo. Mas no início não tocava nada. Ainda tem o Da Lua, que eu deixei duas horas no quarto, trancado, para aprender. Hoje toca tudo e é um dos melhores ritmistas da Grande Rio. Ele até me agradece. O livro está indo para a segunda edição? Estamos lançando a segunda edição de Batuque Carioca (coautoria Guilherme Gonçalves), que poderá ser encontrado em muitas lojas, como na Ponto Musical, na Rua da Carioca. Revista Revista Carnaval Carnavalll99
n Os eleitos serão conhecidos no dia 28 de outubro.
Corte de Momo em formação
Foto: Divulgação/Riotur/Pedro Kirilos.
REI E RAINHA
Carnaval, esporte, cultura, moda, fotografia e muito mais.
Inscrições para Rei Momo e Rainha do Carnaval vão até 23 de setembro.
A
s inscrições para Rei Momo, Rainha e princesas do Carnaval estão abertas e irão até 23 de setembro. A escolha da corte da folia carioca, promovida pela Riotur, acontecerá em 28 de outubro, com os eleitos assumindo seus mandatos assim que vencerem a disputa e mantendo-se até 27 de fevereiro de 2012, data oficial de encerramento da festa. Os interessados devem comparecer à sede da Riotur, na Praça Pio X, nº 119/12º andar, Centro, no horário das 10h às 17h, e inscreverem-se gratuitamente, desde que enquadrem-se nas exigências oficiais para os cargos. O Rei Momo escolhido receberá uma premiação de R$ 20 mil, ficando o segundo colocado com R$ 3,5 mil e o terceiro com R$ 1,5 mil. Já a Rainha do Carnaval ganhará R$ 20 mil; a 1ª
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Princesa, segunda colocada no concurso, R$ 15 mil; e a 2ª Princesa, terceira na disputa, R$ 15 mil. Os candidatos a Rei Momo precisam residir no município do Rio de Janeiro há pelo menos dois anos, ter entre 18 e 55 anos, altura mínima de 1,70m e concluído o 1º Grau. No concurso, serão observados os requisitos desembaraço, facilidade de expressão, sociabilidade, simpatia, espírito carnavalesco e domínio da arte de sambar. As concorrentes aos mandatos de Rainha e princesas também precisam residir no município há pelo menos dois anos e ter concluído o 1º Grau. A altura mínima exigida para elas é de 1,60m e a idade pode variar entre 18 e 35 anos. Serão avaliados a beleza do rosto, a harmonia de linhas físicas, a sociabilidade,
a facilidade de expressão, a simpatia e o espírito carnavalesco, além de domínio da arte de sambar. Para concorrer, o candidato precisa apresentar cópias autenticadas, ou acompanhadas dos originais, da carteira de identidade, CPF, comprovante de residência (próprio, pai, mãe ou contrato de aluguel), certificado ou declaração de escolaridade, uma fotografia de corpo inteiro, número de inscrição no INSS/PIS ou PASEP, declaração que reside no município do Rio de Janeiro, de que não é servidor público municipal, estadual e federal e nem ocupa cargo dentro dessas estruturas, além de um atestado de aptidão física com data recente ao concurso para atestar as ótimas condições de saúde do candidato, visando o cumprimento do contrato. Setembro / 2011
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DEBATE
~ > < % Foto: A. Pinto.
Inspiração ou conteúdo, o melhor ingrediente para um bom samba
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Cláudio Russo, Marquinhos Lessa e Cid Carvalho avaliam o enredo como ponto de partida para uma boa música.
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“S
onhei que eu estava sonhando um sonho sonhado ...” Um ótimo enredo é um prato cheio para qualquer compositor. Na história do Carnaval carioca, não faltam exemplos de belos sambas que surgiram a partir de uma sinopse bem feita, assim como o delirante exemplo carnavalesco acima, idealizado e composto por Martinho da Vila, em 1980, para a escola do bairro de Noel.
Um dos craques da atualidade, vencedor de seis disputas no Grupo Especial do Rio, sendo três na BeijaFlor, duas na Potela e uma na Acadêmicos do Grande Rio, Cláudio Russo acredita que de um tema ruim dificilmente faz-se um bom samba. “As exceções são raríssimas. Para se fazer um sambaenredo de boa qualidade é necessário um enredo com conteúdo.” Outra fera nas composições carnavalescas, Revista Carnaval l 13
DEBATE
“Uma sinopse de qualidade pode ser meio caminho andado. Daí para a frente depende da gente e de como Deus vai nos iluminar”, Marquinhos Lessa.
Foto: Arquivo Pessoal.
n Cláudio Russo lembra de raros enredos ruins que deram bons sambas.
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Marquinhos Lessa, seis vezes campeão na Caprichosos de Pilares e três na Imperatriz Leopoldinense, não é tão radical, mas concorda que fazer samba bom de enredo ruim necessita de muita inspiração. “Uma sinopse de qualidade pode ser meio caminho andado. Daí para frente depende da gente e de como Deus vai nos iluminar. Em um dia, temos muita luz; em outros, não.” Carnavalesco quatro vezes campeão do Carnaval, Cid Carvalho, atualmente na Mangueira, diz que os artistas sempre podem fazer algo mais. “Quando falamos de arte, criação, nada é 100%. Um bom enredo colabora muito, mas não determina um bom samba. Isto quem faz é o compositor, sua inspiração e capacidade de criação. Já vi samba de boa qualidade a partir de uma sinopse ruim, bem como o contrário.” Cid exalta sempre a inspiração na hora de se compor um samba-enredo. “Para o desfile de 2004, na
Beija-Flor, os compositores me apresentaram o samba: ´Se Deus me deu, vou preservar, meus filhos vão se orgulhar. O Amazonas é Brasil. É luz do criador.` Isto não estava na sinopse e é lindo, é talento do compositor”, comenta sobre a obra, de autoria de Cláudio Russo, José Luis, Marquinhos e Jessey, levada à Avenida naquele ano pela escola de Nilópolis. Com a inspiração lembrada por Cid Carvalho, Cláudio Russo gosta de trabalhar com carnavalescos que não inibem a capacidade de criação dos compositores com excesso de palavras e expressões chaves para a compreensão do enredo. “Há artistas que nos escravizam. Estas obrigatoriedades nos engessam e os sambam para a disputa ficam iguais.” Marquinhos Lessa lembra da liberdade ao compor, junto com Hércules Corrêa, Almir Araújo, Balinha e Carlinhos de Pilares, o samba da Caprichosos de Pilares para o Carnaval de 1985. “O enredo era basicamente político e nós chegamos com: ´Tem bumbum de fora pra chuchu, qualquer dia é todo mundo nu.` O Luiz Fernando Reis (carnavalesco junto com Flávio Tavares) gostou.” Ele aproveita para sair em defesa dos carnavalescos. “Não se pode culpá-los. Na maioria das vezes, os enredos não são deles, são patrocinados.” As obrigatoriedades não são bem vista também por Setembro / 2011
Foto: Divulgação/Lázaro.
DEBATE
Marquinhos Lessa acredita que o compositor precisa da luz de Deus para inspirá-lo. n
Cid Carvalho, mas ele faz questão de deixar orientações para os compositores. “Gosto de orientar. Este ano, por exemplo, o enredo da Mangueira é sobre o Cacique de Ramos. Estaremos festejando o maior ícone do Carnaval de Rua do Rio. Precisamos escolher uma obra alegre, sem deixar de ser samba-enredo.” Os compositores entendem os pedidos dos carnavalescos e sabem que o próprio enredo tem suas determinações. Cláudio Russo destaca as homenagens. “Só podemos falar bem. É impossível escrever coisas ruins do homenageado.” Já sobre os enredos históricos, ele faz uma ressalva. “Gosto deste tipo de enredo, até porque sou historiador, mas é preciso muito cuidado. Os sambas tendem a ficar parecidos.” Setembro / 2011
Cláudio Russo destaca o uso de pesquisadores no Carnaval. “Os carnavalescos, com raras exceções, são ligados às belas artes. As escolas precisam investir em seus departamentos culturais. Poucas os têm atuantes. O Salgueiro, por exemplo, não põe qualquer enredo na Avenida. A Beija-Flor tem uma equipe para desenvolvê-los.”
“Há artistas que nos escravizam. Estas obrigatoriedades nos engessam”, Cláudio Russo. Foto: Arquivo Pessoal.
Cid Carvalho orienta, mas não impõe obrigações aos compositores. n
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MIRINS
Samba dos números na Corações Unidos
Q
uem disse que criança odeia matemática? Foram elas que sugeriram e elaboraram o enredo da escola de samba mirim Corações Unidos do Ciep para 2012 sobre o mundo dos números. A própria justificativa cita a ciência como um bicho de sete cabeças, mas a garotada não tem medo de levá-la para a Sapucaí no próximo Carnaval. O desfile terá três setores: O surgimento da matemática, Brincando é que se aprende e A matemática vive entre nós. O enredo
06 3 8 72 5 Me Conta Quantas Contas que Eu Te Conto Quantos Contos tem como autores os alunos Bruno Pereira da Silva, Caroline Reis, Gabriel Augusto Ferraz, Gabriel Lucas do Nascimento, Patrick da Silva Gomes, Wiliam Suzo, Yago Gomes e Yan Gomes Tenorio, com a orientação do professor Nilton Barbosa Filho. A agremiação é fruto do projeto Escola de Bamba, da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro e mobiliza grande parte da rede de ensino fundamental pública da cidade.
Corte Mirim A Associação das Escolas de Samba Mirins do Rio de Janeiro está recebendo as inscrições para a formação da corte da folia mirim. Crianças entre 5 e 14 anos podem concorrer aos cargos de Rei Momo e Rainha e Princesas do Carnaval mirim de 2012, além de passistas mirins. Quem desejar entrar na disputa deve comparecer à sede da entidade, na Rua de São Carlos, 21, no Estácio, até o dia 20 de setembro, de segunda à sexta, de 11h às 19h, na companhia de um responsável, e levar cópia da certidão de nascimento, uma foto 3x4 cm, declaração escolar e comprovante de residência.
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Reciclagem na Nova Geração A garotada da Nova Geração do Estácio de Sá quer fazer bonito na Marquês de Sapucaí, na sexta-feira de Carnaval, dia 17 de fevereiro. A escola de samba mirim escolheu para 2012 um tema atualíssimo. Os pequenos sambistas estacianos levarão para a Avenida o enredo A Nova Geração Recicla o Sonho da Salvação do Mundo! sobre a importância da reciclagem do lixo para o nosso meio-ambiente. Setembro / 2011
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Nudez com a grife Dercy Gonçalves
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ma profusão de peitos invadiu a Marquês de Sapucaí na década de 90. Celebridades, musas e anônimas exibiram seus seios desnudos para todo o mundo na maior festa popular do planeta. Neste mar de mulheres bonitas, outras nem tanto, uma nudez marcou definitivamente o Carnaval carioca e ficou na memória dos amantes da folia. Não pela beleza, mas pela irreverência de uma senhora então com 85 anos. A atriz Dercy Gonçalves, no alto do respeito de sua quase centenária idade, cruzou o Sambódromo de peito aberto, nu, quebrando preconceitos e entrando para história dos festejos de Momo, em 1991, no enredo em sua homenagem que a, então estreante no Grupo Especial, Unidos do Viradouro levou para a Avenida. A imagem de Dercy no alto do carro dos cisnes, abre-alas da escola de Niterói, marcou os amantes do Carnaval. Apoiada em uma muleta, tendo seu médico ao lado, Setembro / 2011
a humorista passou pela Sapucaí de pé por quase todo o tempo. Ela estava se recuperando de uma fratura no quadril, fruto de um acidente ocorrido em janeiro daquele ano. Mas, com a mesma valentia que exibia os seios, mostrava a força de uma mulher que superou muitos obstáculos para ser reverenciada pelo público do Sambódromo. A homenagem a Dercy Gonçalves foi, também, um grande momento no Carnaval daquele ano. A Unidos do Viradouro, então estreante no Grupo Especial, entrou na Avenida, naquela segunda, 11 de fevereiro, pouco mais de 18h, em pleno horário de verão, logo após chover, e cantou o belo samba de Gelson, Rubinho, Odir Sereno e Aldir, com Quinzinho comandando o carro de som. A vermelho-e-branco de Niterói fez um ótimo desfile, com o enredo Bravo, Bravíssimo - Dercy, O Retrato de um Povo, de autoria dos carnavalescos Max Lopes e Mauro Quintaes. Revista Carnaval l 17
MAJESTADE
Foto: Divulgação/Enildo Rosário.
Paulo Menezes encara o desafio da Portela
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S O carnavalesco da Águia acredita que o projeto elaborado para a escola irá completo para a Avenida.
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ão 27 carnavais sem título, 41 se levarmos em consideração uma conquista sem a companhia de uma coirmã. A história recente conta atrasos e dificuldades para a execução do projeto plástico. Entretanto, a apaixonada torcida da Portela acredita que em 2012 a Águia dá a volta por cima e retoma o caminho de muitas vitórias da maior campeã do Carnaval. A confiança em levar para a Avenida alegorias e fantasias dignas da nota 10 está no trabalho do carnavalesco Paulo Menezes.
Os portelenses vibraram quando ele foi confirmado como o novo artista da azule-branco. Paulo, contudo, se diz apenas parte de uma engrenagem. “Tenho noção do tamanho da minha responsabilidade, como todos a têm. Carnaval é um trabalho em equipe, um processo que envolve muitas pessoas.” Paulo Menezes diz ainda não ter noção do tamanho do desafio que está encarando, o que só acontecerá na dispersão. “Isto só vou conseguir responder ao final do desfile. Por enquanto, o desafio é fazer um Carnaval Revista Carnaval l 19
Foto: Divulgação/Enildo Rosário.
MAJESTADE
HOMENAGEM
O menino que nasceu para ser rei
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Paulo Menezes tem o apoio de componentes, de torcedores e da diretoria da escola.
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“Se formos guerreiros, não tem jeito. É ir para o abraço.”
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lindo e competitivo.” Sobre o histórico recente de atrasos e projetos não executados em sua totalidade, Paulo Menezes diz que o quadro atual é diferente. “O trabalho está transcorrendo dentro dos prazos normais de elaboração de um Carnaval.” Quanto a fidelização ao que está elaborando, o carnavalesco crê que isto acontecerá, mas ressalta que o trabalho é de uma equipe. “Se entrar na Avenida diferente do planejado, não depende de mim somente.” O carnavalesco afirma que a relação com o portelense é muito boa e que a diretoria está com uma ótima expectativa para o desfile. “A torcida tem se mostrado bastante empolgada. Isto também aumenta a responsabilidade.” Nem mesmo a dificuldade com o barracão ainda fechado na Cidade do Samba, o que obriga a escola a construir suas alegorias na tenda
improvisada desde o incêndio no complexo, tira o ânimo de Paulo Menezes. “Não atrapalha. Se há a disposição, o querer fazer, acontece. Se formos guerreiros, não tem jeito. É ir para o abraço. Antigamente, não havia a estrutura da Cidade do Samba e o desfile acontecia.” Na Avenida, o público, segundo Paulo Menezes, vai saber que é a Portela desfilando e mostrando as festas baianas. “Todos reconhecerão o azul-ebranco, mas a escola virá colorida. Até porque a Bahia é colorida. Não ficaremos escravo do azul e do branco.” De olho nos outros setores da escola, Paulo Menezes está muito feliz com a safra de sambas-enredos para o desfile de 2012 da Portela. “Em toda minha história no Carnaval, somente no Império Serrano, em 2006, havia sambas tão bons. Há uns cinco ou seis obras capazes de ir para a Avenida e tirar nota 10.” Setembro / 2011
odo menino é um rei. Com o pequeno Demerval Miranda Maciel, nascido em 20 de julho de 1940, em Campos dos Goytacazes, não era diferente. Sonhava reinar nos gramados e chegou a jogar em clubes de sua cidade, como o Cruzeiro e o Rio Branco, e ganhar destaque como goleiro do tradicional Goytacaz Futebol Clube. Naquela época, ficou conhecido no meio futebolístico como Pneu. Mas somente como Roberto Ribeiro tornou-se um rei de verdade, não debaixo das traves, mas com um microfone na mão. O futebol trouxe Pneu para a capital. Queria jogar num grande clube do Rio de Janeiro. Em solo carioca, encontrou-se com uma outra paixão: o samba, que, já aos nove anos, frequentava conhecia frequentando a Amigos da Farra, escola de samba de sua terra natal. Tentou a sorte de boleiro no Fluminense, mas seu reinado começou no auditório da Rádio Mauá, quando chamou a atenção da compositora Liette de Souza, que se tornaria sua esposa. Ela o levou para o Império Serrano e a partir da coroa imperial construiu u ma legião de súditos. O reinado na escola da Serrinha teve seu apogeu na década de 70, quando interpretou
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clássicos como A Lenda das Sereias, Rainhas do Mar, no Carnaval de 1976, e Brasil, Berço dos Imigrantes, em 1977. Mas em sua coroa brilharam muitas pedras precisosas gravadas em seus 16 LPs e três compactos, entre elas Acreditar, Estrela de Madureira, Malandros Maneiros, Meu Drama (Senhora Tentação), Mel pra Minha Dor e Todo Menino É um Rei. Roberto Ribeiro tinha súditos também na realeza da MPB. Sua inconfundível voz marcou canções de Dona Ivone Lara, Wilson Moreira, Ney Lopes, Nelson Rufino, Monarco, Silas de Oliveira, Délcio Carvalho, Aniceto do Império, entre muitos outros. Com ele outros reis e rainhas, como Alcione, Simone e Chico Buarque de Hollanda, dividiram o microfone. Sua morte, entretanto, não teve o glamour dos grandes reis. Atropelado na Estrada de Jacarepaguá, no Anil, Roberto Ribeiro faleceu no dia 8 de janeiro de 1996. Sua biografia está contada pela esposa Liette de Souza Maciel no livro Dez Anos de Saudade (Potiguar Editora). Sua realeza, contudo, continua no coração de todos aqueles que amam o samba e que escolheram ser súdito do menino.
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DE OLHO
As histórias de Delegado e Manoel Dionísio
O
escritor Sérgio Gramático Júnior deu uma importante contribuição para a cultura popular brasileira. É dele o livro Delegado e Dionísio - Vidas em passos de arte, da editora Hama, lançado no dia 11 de agosto, no Centro de Artes Calouste Gulbenkian. O autor reuniu 35 histórias contadas por cada homenageado da obra, os mestre-salas Delegado e Manoel Dionísio, ambos já aposentados mas que hoje continuam se dedicando à arte ao ensinar à garotada o bailado que eles conhecem como poucos. “Delegado e Dionísio são
duas lendas vivas que trazem em si uma tradição cultural admirável. Eles são legítimos guardiões do samba e do carnaval brasileiros”, define o autor.
De volta à Beija-Flor, mas sem polêmicas As polêmicas teatralizações das alas coreografadas por Hilton Castro darão lugar à expressão corporal livre na Beija-Flor. De volta à escola, justo no ano em que a azul-ebranco de Nilópolis homenageará sua terra natal, de onde saiu com 14 anos, o coreógrafo será responsável pelo setor afro da agremiação e disse que investirá na leveza e na dança do componente.
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Portela e Ilha nas tendas O incêndio na Cidade do Samba, no dia 7 de fevereiro, não afetou só o Carnaval de 2011. A trajédia ainda causa dor de cabeça para a Portela e para a União da Ilha, bem como para a campeã do Grupo de Acesso neste ano, a Renascer de Jacarepaguá. A preparação para 2012 já começou, mas da forma que a do último desfile terminou. Segundo o presidente da Liesa, Jorge Luiz Castanheira, a reconstrução dos barracões atingidos só terminará 90 dias após o inícios das obras. Enquanto isso, a Águia de Madureira e a Tricolor Insulana começaram a preparação de seus carnavais nas tendas que ocupam no complexo desde o fogo. Já a agremiação da Zona Oeste, que ficaria com um dos barracões, iniciou suas alegorias e fantasias no Carandiru, onde se preparou para o desfile de 2011. A Grande Rio, embora fora de seu antigo espaço, está em outro semelhante na Cidade do Samba, o barracão 7. Setembro / 2011
DE OLHO
Novo Sambódromo começa a ser erguido
O
Passarela do samba poderá abrigar ensaios técnicos no final do ano.
Foto: Divulgação/Marcos Fernandes.
s amantes do samba que passam pela Avenida Presidente Vargas começam a ficar um pouco mais tranquilos. Quase três meses após a implosão do prédio da Brahma, o erguimento das novas arquibancadas e camarotes do Sambódromo já pode ser notado. O engenheiro da Ambev responsável pela obra, Fred Boabaid, não tem dúvidas de que a Passarela do Samba poderá abrigar os ensaios técnicos no final deste ano. Ele explica que as peças estruturais são prémoldadas e já estão sendo
montadas. Quando finalizado, a obra ficará fiel ao projeto arquitetônico elaborado por Oscar Niemeyer. Com mais quatro módulos de arquibancadas e camarotes, em dois andares, o novo Sambódromo poderá receber mais 17,8 mil expectadores. O setor par da Passarela do Samba será semelhante ao ímpar, já existente, com a diferença de um recuo maior em relação à pista e por ser mais alto. A reforma custeada pela Ambev custará, aproximadamente, R$ 30 milhões.
Rainhas assumem suas coroas O agito carnavalesco aproxima-se e, com ele, aumenta o número de notícias sobre as beldades das escolas de samba. E o posto mais aguardado para o mundo das celebridades em três importantes agremiações cariocas ganhou novas donas recentemente. Na Unidos da Tijuca, Gracyanne Barbosa foi coroada no dia 2 de
setembro, com direito a show do marido Belo. Dani Sperle foi apresentada aos integrantes da Acadêmicos do Cubango no dia 30 de agosto, mas só receberá a coroa em outubro. Já no Império Serrano, a posição caberá a Flávia Piana, anunciada oficialmente pela diretoria da verde-e-branco de Madureira, no dia 20 de agosto.
n Gracyanne Barbosa foi coroada na Unidos da Tijuca no dia 2 de setembro.
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ACESSO
ACESSO
Tempo de desfile nos Grupos A e B será maior
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Pretendentes ao Especial poderão ficar até 60 minutos na Marquês de Sapucaí.
Liga das Escolas do Grupo de Acesso (Lesga) aumentou em dois minutos o tempo de desfile para as agremiações do Grupo A no Carnaval de 2012. Em reunião plenária na sede da entidade, as escolas decidiram que poderão ficar na Avenida por 60 minutos, com o mínimo de 52 minutos. Já no Grupo B, o tempo de desfile deverá ficar entre 40 minutos e 55 minutos. A plenária decidiu todo o regulamento, com destaque, além do tempo de desfile,
Prêmio extra na Alegria Os compositores que estão concorrendo à escolha de sambaenredo na Alegria da Zona Sul, do Grupo de Acesso B, que desfila na Marquês de Sapucaí na terçafeira de Carnaval, ganharam um estímulo a mais da diretoria da agremiação de Copacabana para triunfar na disputa. A obra vencedora receberá um prêmio extra de R$ 5 mil. O enredo da vermelhoe-branco é Os Saltimbancos, de autoria do carnavalesco Eduardo Gonçalves. 24 l Revista Carnaval
para o número de escolas que subirão e descerão de grupo. No A, subirá uma agremiação para o Especial e cairão duas para o B, que por sua vez fará o acesso de uma para o A e o rebaixamento de três para o C. Ficou definido, também, que nos dois grupos serão quatro julgadores, com a menor nota descartada.
Mug de volta Um dos mais importantes mestres de bateria do Carnaval carioca está de volta. Três anos após deixar o comando dos ritmistas da Unidos de Vila Isabel, cargo em que esteve por 30 anos, Mestre Mug retornará aos desfiles. Ele assumirá o comando da bateria da Unidos do Cabuçu, última a desfilar pelo Grupo C. A escola levará para a Avenida um enredo em homenagem à cantora Elza Soares e sonha dar o primeiro passo para voltar aos áureos tempos em que integrava a elite da folia. Setembro Agosto / 2011
Homenagens no desfile de sábado
O
sábado de Carnaval em 2012 será de muitas homenagens. As escolas do Grupo de Acesso A escolheram enredos que exaltarão figuras históricas, artísticas e do mundo das celebridades do Brasil e as belezas de uma cidade de Mato Grosso do Sul. Apenas duas agremiações ficaram de fora deste desfile de exaltação, a Acadêmicos da Rocinha e o Império da Tijuca. A Inocentes de Belford Roxo levará para a Avenida Corumbá, Ópera Tupi Guaikuru. É a única homenagem a um lugar. As outras seis mostrarão a obra, a história ou a contribuição para o Carnaval dos homenageados. O Império Serrano ea
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Paraíso do Tuiuti exaltarão duas figuras de destaque no samba. A escola da Serrinha volta-se às suas raízes para cantar a vida e a obra de uma de suas mais importantes personagens, a cantora e compositora Dona Ivone Lara. Já a azule-amarelo de São Cristóvão lembrará Clara Nunes. Ainda nas artes, o destacado trabalho do jornalista e escritor Nélson Rodrigues é a aposta da Unidos do Viradouro para retornar ao Grupo Especial. Por sua vez, a outra escola de Niterói, a Acadêmicos do Cubango, lembrará a história de um brasileiro que sonhou modernizar o País em pleno século XIX, o Barão de Mauá. Ao lado de grandes vultos das artes e histórico, estão duas
personagens populares. O radialista Antônio Carlos será o enredo da Acadêmicos de Santa Cruz. E sem muita história para contar, mas com uma trajetória importante nos desfiles das escolas de samba, a musa Luma de Oliveira ganhará uma homenagem da tradicional Estácio de Sá. A Acadêmicos da Rocinha e a Império da Tijuca não homenagearão qualquer personagem histórico, das artes ou do cotidiano, mas prometem ser o diferencial de criatividade dos desfiles do Grupo A. A escola de São Conrado trará para a Marquês de Sapucaí o bem humorado enredo Vou Colocar teu Nome na Praça, mostrando como as praças influenciaram no desenvolvimento da humanidade, com o tema contado por um pombo que as sobrevoou ao longo de muitos anos. A verde-ebranco tijucana mostrará Utopias, Viagens aos Confins da Imaginação, que, como a sinopse conta, fará uma incursão nos mais extraordinários e mirabolantes lugares imaginados pela mente humana.
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SAMPA
Mestres de bateria criam associação
O
s ritmistas paulistanos deram mais um importante passo para a melhor organização do Carnaval. Numa iniciativa pioneira, eles criaram a Associação dos Mestres e Diretores de Bateria de São Paulo. A entidade pretende promover a aproximação entre seus integrantes para debater questões importantes para todas as escolas, como a melhoria da qualidade de trabalho, bem como realizar eventos, intercâmbios e parcerias. A iniciativa conta com o apoio de alguns presidentes de agremiações. Segundo o secretário geral da associação, Mestre Tornado, da Rosas de Ouro, a disputa deve acontecer somente no dia do desfile, estando todos do mesmo lado durante todo o ano. Os demais membros da diretoria da
entidade são o presidente, Mestre Tadeu, da Vai-Vai, o vice-presidente, Mestre Zoinho, da Império de Casa Verde, e o diretor financeiro, Mestre Adamastor, da Acadêmicos do Tucuruvi.
Reprodução do Site/Acadêmicos do Tucuruvi.
(Escolas de Samba Mirins do Rio de Janeiro) Escolas Mirins Passarela do Samba Sexta – 17/02 n Inocentes da Caprichosos n Aprendizes do Salgueiro n Mel do Futuro n Infantes do Lins n Corações Unidos do Ciep n Ainda Existem Crianças na Vila Kennedy n Nova Geração do Estácio n Império do Futuro n Herdeiros da Vila n Filhos da Águia n Miúda da Cabuçu n Pimpolhos da Grande Rio n Mangueira do Amanhã n Golfinhos da Guanabara n Tijquinha do Borel n Petizes da Penha n Estrelinha da Mocidade
AGENDA DO CARNAVAL
Mestre Adamastor, da Acadêmicos do Tucuruvi, assumiu a diretoria financeira da associação.
(Grupo Especial e Grupo de Acesso de São Paulo)
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Grupo Especial Passarela do Samba do Anhembi Sexta – 17/02 n Camisa Verde e Branco n Império de Casa Verde n X-9 Paulistana n Vai-Vai n Rosas de Ouro n Acadêmicos do Tucuruvi n Mancha Verde
25 anos da Liga A Liga Independete das Escolas de Samba de São Paulo completou 25 anos em grande estilo. Um super show, no dia 20 de agosto, com representantes de 22 agremiações, relembraram os sambas que marcaram os 20 anos do Sambódromo paulistano. Houve, ainda, show com Arlindo Cruz, Dudu Nobre e Grupo Fundo de Quintal.
Passarela do Samba do Anhembi Sábado – 18/02 n Dragões da Real n Pérola Negra n Mocidade Alegre n Águia de Ouro n Unidos de Vila Maria n Gaviões da Fiel n Tom Maior
Vaguinho deixa Tucuruvi Durou apenas três meses a passagem do intérprete Vaguinho na Acadêmicos do Tucuruvi. O cantor, contratado no final de maio, foi demitido no dia 31 de agosto. Segundo a direção da escola, a demissão aconteceu após o descontentamento de Vaguinho com a eliminação do samba composto por ele na disputa para hino da agremiação em 2012. 26 l Revista Carnaval
AGENDA DO CARNAVAL
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Grupo de Acesso Passarela do Samba do Anhembi Domingo – 19/02 n Unidos de São Lucas n Estrela do 3º Milênio n Unidos do Peruche n Nenê de Vila Matilde n Morro da Casa Verde n Imperador do Ipiranga n Acadêmicos do Tauapé n Leandro de Itaquera
Jornalismo Moda Fotografia Audio Video Internet Marketing Publicidade
Rua Garcia Redondo, 30, Cachambi, Rio de Janeiro-RJ. Tels.: 2229-7931 e 3079-0371. 28 l Revista Carnaval
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