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© LJ Nhantumbo Entre o Prazer e o Sustento Livro de Poesia Capa: Ilustração do Autor Formato: eBook
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Dedico esta obra a todas as pessoas que mesmo trabalhando arduamente para obter o seu sustento, nĂŁo se abdicam da veia artĂstica que os dĂĄ prazer de viver.
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Advertência, aos mais sensíveis e reservados, quero antes me desculpar pelo conteúdo que se segue pois contém linguagem coloquial que se equipara ao calão, incluindo insultos, conotação sexual e uns tantos delírios do autor.
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ÍNDICE COMEÇO ..................................................................................................................... 1 BAIRRO ........................................................................................................................ 3 CICATRIZES ............................................................................................................... 4 AMPARO ...................................................................................................................... 6 TRISTEZA.................................................................................................................... 7 MULHER ...................................................................................................................... 9 IDIOTA ....................................................................................................................... 10 RIDÍCULO ................................................................................................................. 12 AMOR .......................................................................................................................... 13 TESÃO ........................................................................................................................ 15 CAPITALISMO ......................................................................................................... 18 ESCREVER ................................................................................................................ 19 VOAR .......................................................................................................................... 22 CORRER ..................................................................................................................... 24 ESTÚPIDOS .............................................................................................................. 25 DEPRESSÃO ............................................................................................................. 26 ANALFABETO ......................................................................................................... 27 MAFALALA ............................................................................................................... 29 QUERIDA .................................................................................................................. 32 RESISTÊNCIA .......................................................................................................... 34 PRUMOS ..................................................................................................................... 36 DESPEDIDA ............................................................................................................. 37
|v COQUETEL .............................................................................................................. 38 ABRAÇO..................................................................................................................... 39 CONVIDADOS ........................................................................................................ 41 MAMÃ ......................................................................................................................... 42 FIM ............................................................................................................................... 44
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COMEÇO
[Escrito na noite de 5 de Novembro de 2019, depois de ter escolhido o título final da presente obra]
Com a queda do regime de servidão (Feudalismo) nasceu um novo sistema económico onde os meios de produção passam a ser de benefício a um grupo reduzido de pessoas com a intenção puramente lucrativa e, para obtê-lo esse grupo troca a força de trabalho por um mísero salário, o Sustento. A única coisa que hoje difere o Feudalismo do Capitalismo é a troca monetária, ou seja, o trabalhador é assalariado com uns tostões, o mínimo possível de modo a sentir a constante necessidade de trabalhar mais, estudar mais, para obter mais salário e provavelmente ser mais feliz e mais realizado. É o “querer” mais e mais que nos rouba os pequenos prazeres da vida, pois ao invés de vivermos, passamos mais de uma década na escola recebendo informações, meia década na universidade formando trabalhadores obedientes e umas quatro décadas trabalhando para o sistema. Por outro lado, existem os prazeres da vida que podem se encontrar em diversas áreas, mas restrinjo-me em citar somente a Arte, como; a música, a poesia, a dança, o teatro, etc. O Sustento tem roubado mais tempo das pessoas, pois o capitalismo foi moldado de tal forma que o trabalho, acima de todas as coisas, deve ser sempre o mais importante e quanto mais dedicado o trabalhador for, maior é a elevação do estatuto como indivíduo. É com esta análise crítica que começo a apresentar a breve obra literária constituída de poemas, feita em retalhos e sem compromisso. “Entre o Prazer e o Sustento” é um título abstracto que não faz alusão ao conteúdo que é apresentado neste pequeno livro, pois, nem estava programada sua criação. Durante a escrita dos últimos poemas, dentre várias ideias, escolhi este título por resumir uma triste realidade por mim vivida nos passados dois anos e, no ano de dois mil e dezanove o contraste entre as actividades que me proporcionam o Prazer e os afazeres rotineiros que garantem o
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meu Sustento atingem o seu pico, causando-me grande frustração e comportamentos depressivos. Sem querer rotular a ninguém, a procura do ponto de equilíbrio entre o Prazer o Sustento deve ser levado mais a sério para que não culpemos completamente o Capitalismo de nos roubar a pouca humanidade que nos resta, é por isso que escrevo, é na escrita que acho o meu Prazer mas, confesso que seria muito mais gratificante se o mesmo Prazer me desse o Sustento. Quando não estivesse a trabalhar ou a estudar, corria para pegar a caneta e escrever, as vezes no celular mesmo, tirava os finais de semana para deambular, me divertir, ler, escrever, escrever e escrever. É desta forma que foram nascendo os poemas apresentados nesta obra, feitos com base no que sentia na altura que os escrevia. Se conheces alguém ou és esse alguém que pratica(va) alguma actividade artística ou o que quer que fosse que proporcionasse Prazer e por algum motivo deixou de praticar tal actividade para se dedicar somente ao trabalho, estudos ou cuidar da família, convida essa pessoa a retornar, te convido também a retornar se és uma delas, reúna forças e retorne a fazer o que te dá Prazer porque do nada vale viver só pelo Sustento.
O que me dá Prazer e satisfação de viver, não garante o meu Sustento mas, aquilo que me dá o Sustento me rouba aos poucos o tempo, a energia e o Prazer da vida. LJ Nhantumbo
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BAIRRO
[Escrito por encomenda como nota de abertura de uma Dissertação de Mestrado na área de Planeamento/Urbanismo, aos 2 de Junho de 2019]
A língua, a política, a educação e a Arquitectura São as principais heranças deixadas pelo Colono Que influenciaram os valores, as crenças, a cultura E a segregação sócio-espacial sem retorno Tal como a miragem do “direito a cidade” Onde os que têm vivem nela e os sem no entorno Especulação imobiliária é a moda da actualidade Mas os problemas da periferia caem no abandono E apesar de tudo ela sobrevive com cicatrizes Se auto construindo mesmo sem financiamento A malha regular não os deixará mais felizes Se o urbanista não planificar com discernimento O que mais importa nesses bairros são as memórias Tangíveis e intangíveis vincadas com o tempo Por tanto que desprezem e os tratem como escória A cultural é mais importante que a “casa de cimento”.
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CICATRIZES
[Escrito aos 5 de Junho de 2019]
Perdi o meu orgulho Para ganhar um amor Desfiz o pedregulho Do coração com o seu calor Desisti do suicídio Quando me apercebi que os problemas Podem se tornar em subsídio Para os temas dos meus poemas Desperdicei o meu tempo Amando quem me desprezava Até dormia sedento Outras vezes (com ela) sonhava Afastei-me de amigos E de uns tantos conhecidos Mas só dos falsos Os verdadeiros ainda estão comigo Fiz o certo quando podia Para satisfazer o meu ego Por pouco tempo, mas conseguia Sei que é feio, mas não nego Já carreguei o fardo Para além do que era meu Mas confesso que de facto Nada demais se resolveu Para preencher o vazio Abracei certas ilusões Pois andava em rodopio
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Sem respostas as minhas indagações Senti saudades de alguém Que não mais podia abraçar E mesmo sem contar a ninguém As lágrimas me traiam ao denunciar Insensível, infeliz e duro Foi o que o luto me tornou Mas também fiquei maduro Neste meio-tempo que se passou Em jeito de conclusão Saúdo a todos os aprendizes Que mesmo vivendo com as cicatrizes Continuam em pé neste mundo cão.
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AMPARO
[Escrito aos 10 de Junho de 2019]
Poema mecânico Aquele que é esforçado Onde a rima é o objectivo O conteúdo é a consequência A doença destes tempos É querer aparecer Mesmo sem nada a dizer Todos cantam e declamam Porque conhece a gramática Se acha no direito de escrever Como se isso não bastasse Poeta e escritor se eleger A voz e a escrita Desses tais idiotas Emergem da cripta Graças a rede antissocial Se calhar se mais um Nesta luta pela audiência Porém, em momento algum Escrevi algo com negligência Para que fique bem claro Não sou nenhum escritor Sou mais próximo de um autor Onde escrever é meu amparo.
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TRISTEZA
[Escrito aos 13 de Junho de 2019]
O triste me atrai Sinto-me mais criativo E muito mais inspirado Quando estou depressivo Gosto de falar coisas tristes De conversar com pessoas tristes Gosto de escutar músicas tristes E de ver filmes tristes Sou uma pessoa tristonha Ferida e de coração partido Declaro isto sem vergonha Pior seria não ter admitido O que escrevo não é alegre É sempre uma reclamação Uma crítica, uma reflexão Ou algo qualquer que me enerve Sou má companhia Não sei inspirar, motivar Se calhar sofro de anedonia Não me perguntes, não poderei explicar Não sei o que gosto Faço as coisas por fazer E mesmo sem sentir prazer A minha tristeza pouco mostro E por que deveria? Se todos temos dilemas Eu não me vitimaria Para ganhar abraços por pena
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A tristeza não é só má Se souberes aproveitá-la Posso optar em sentir-me numa cela Encara-la como mazela Tentar ignorá-la Ou até esquece-la O que quero com isso dizer É que sou livre de fazer O que eu quiser dela.
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MULHER
[Escrito aos 27 de Junho de 2019]
Serva, ajudadora, Dona de casa, seja lá como chamas São somente termos redutores De uma sociedade doente e opressora Que recorre a bíblia e a biologia Para justificar o machismo E esquecem que no fim do dia São elas que satisfazem seu fetichismo Que se fodam os clichês Mulher não é inferior ao homem Pois sabemos que na gravidez Não são elas que somem Não são elas que promovem guerras Ceifando vidas de inocentes Tirando a paz e suas terras Por motivos fúteis e incoerentes Ó homem, mulher não é para te servir Corpo dela não é um objecto Ela é dotada de intelecto Sabe reflectir e decidir, antes de agir Em nome do género masculino Peço perdão as mulheres Em especial a minha mãe Estejas onde estiveres.
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IDIOTA
[Uma dessas merdas escrita aos 7 de Setembro de 2019]
Se eu soubesse escrever. Não publicaria merdas dessa forma. Em plataformas usadas por idiotas. Como o tal autor. Se soubesse escrever. Não me aborreceria com o que escrevo. Nem me machucaria. Com o silêncio e as vaias dos idiotas. Se realmente soubesse escrever. Não procuraria aprovação alheia. Mas por que deveria saber escrever? Por que não apenas ser um leitor? Eu preciso escrever. Não escrevo só porque quero escrever. Escrevo porque preciso me libertar. E me viro assim, como podes notar. Não como deveria. Não como mandam as regras. Mas me surpreendo que isto resulte. Consigo me libertar mesmo. Mesmo escrevendo mal. Mesmo sendo tachado por idiota. Escrevo para mim. E partilho para quem quiser ler. E quem não quer ler..., que seja. Cada um é livre de fazer o que quer. Mas isso já está a se prolongar. Chamo assim, pois não é nada de mais. São frases postas e quebradas. Em pequenos parágrafos. Com linhas com menos de oito palavras, separados por pontos. Uns poderiam chamar Poema. Mas isso não tem ritmo nem metáfora. Nem nenhum tipo de figura de estilo. Nem nenhuma métrica ou rima. São merdas, merdas escritas. E se leste até aqui. Isso não faz de si uma mosca. Que persegue e pousa em qualquer merda. Isso não faz de si nada. Nem menos, nem mais idiota que eu. Se calhar esperavas algo a mais. Como um final feliz. Como em contos de fadas. Mas foda-se, isto nem é um conto. São delírios de um solitário. Com tédio, num sábado frio. Ouvindo Country Music e Folk. Com a luz apagada. Apenas iluminado pelo ecrã do computador. Estou com tédio. Por isso escrevi isto, estou sem ideia. Estou sem vontade de fazer quase nada. Isto não tem significado algum. Mas
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um dia irei publicar. Nessas plataformas de idiotas como eu. S처 por divers찾o, s처 por ousadia, s처 por idiotice.
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RIDÍCULO
[Outra merda escrita aos 7 de Setembro de 2019]
Ideia vem, ideia vai. Palavras ficam, as que me recordo. São efeitos de cansaço. São efeitos colaterais do excesso do nada. Do vazio social, da necessidade de se relacionar com outros. É nisto que dá, um doido assumido. Um doente que se diagnosticase. Que escreve há anos. Mas não evolui para melhor. Escrevo tão mal que nem leio o que escrevo. Se quer gosto do que escrevo. E ainda incomodo os outros. Com essas merdas de frases longas. Com esses pensamentos sem sentido. V.U., olá, como estás? Acho que nem tu me entendes. Penso que dos loucos que conheces. Não são tão ridículos assim. Eles podem até ser ridículos. Mas ridículos com estilo. Ridículos agraciados com a capacidade de cativar com a escrita. Sei que tens gostos peculiares. Para a escrita e leitura. Não gostas do convencional. Somos dois nessa loucura. Olá R.D., como estás? Estou com saudades das conversas. Entre duas almas amarguradas. Que só reclamam de tudo. Nada está bom, o mundo é uma merda. É nisso que acordamos. Nas nossas sessões de reclamações. Cada um se empenha em recordar. O que não está bem. Nas nossas vidas. E quando acabamos de nos espezinhar. Começamos com os problemas do mundo. Infinitos problemas, por isso conversa não acaba. E falando em acabar Já é momento de parar E logo já a findar É que tento rimar.
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AMOR
[A última dose de merda do dia 7 de Setembro de 2019]
Sou um ser que não sabe o que ama. Não sei nem o que é amar. Não sei mesmo, não é encenação ou metáfora. Já tive alguns relacionamentos. Bonitos no início, como tudo na vida. Complicados no meio, dolorosos no fim. O fim é sempre trágico. Para tudo na vida. Mas um fim só é trágico se o início for oposto. Se o meio for ainda mais doce. Por isso que quando vemos o fim se aproximar. Choramos antes que ele chegue. O fim é uma merda, mesmo o término da música. Eu não sei o que é amor. Mas sei que amo a música. É como essa coisa de deus não deus. Ninguém pode provar que existe. Mas as pessoas que sentem que existe. Afirmam com os dentes cerrados que ele existe. Existe porque eles o sentem. É uma loucura assim que tenho com a música. Amo mesmo e a escuto todos dias. Mesmo quando estou doente. Escuto com prazer. Existem músicas para todas as ocasiões. Para rir, chorar dançar e morrer. Eu gostaria de morrer ouvindo Rock. Heavy-metal de preferência. Rammstein para ser preciso. É uma música muito eufórica para mim, ideal para momentos de perigo. Que me conduzem a morte. Gosto de Hiphop. Desculpa, amo Hiphop. Hiphop tem um papel fundamental na minha educação. Me ensinou o muito que não poderia descrever aqui. Amo a música pois ela é versátil. Diferente de mulher, ou de deus. Mulher até que posso amar. Mas deus não…, seria uma loucura, demais até para mim. Mas a música tenho a certeza que amo. Pois, mesmo triste ou alegre quero-a, quero escuta-la. Diferente de uma mulher. Não iria quer ela em todos os momentos. Pois, há momentos em que sou mau. E o que falo machuca a elas. Por isso não as quero em todas ocasiões, por isso não as amo em todas ocasiões. Ainda bem que sei admitir. Melhor que se pôr a mentir. Dizer que as amo incondicionalmente como no cinema e na literatura barata. Não concordas V.U.?
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Pois é, o amor é romantizado muito. É pintado de ouro. Uns acham que amar seu parceiro é tudo. Que o amor sobrevive a tudo, mesmo a traição. Isso só pode ser uma loucura. Uma doença mentalmente transmissível. Como, não sei, talvez pelo cinema. Não sei o que é o amor, e o que representa. Mas sei que não é tudo, é só uma parte. Uma parte inicial de algo. Foda-se, isto está a prolongar-se E nem sei o que estou a escrever Me perdi, desculpa Vais continuar ou desistes por aqui?
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TESÃO
[Escrevi esta merda quando estava com tesão por uma mulher que conheci de repente e nos separamos com a mesma rapidez aos 8 de Setembro de 2019]
Eu não sei como atraio. Não faço esforço algum. Para que gostes de mim. Apenas sou transparente. E dou atenção nas conversas. Não sei o que viste em mim. Talvez gostes da minha sinceridade. Da minha inteligência. Ou da minha companhia virtual. Não quis conquistar-te. Nem quis que me conquistasses. Apenas queria conversar. Conversar como um amigo. Mas gosto de si. Sinto o que sentia quando amava. Mas não é amor. É muito cedo para isso. Ainda não senti o seu aroma. Os seus lábios, nem o seu calor. Não sei se esse é o caminho certo. Para poder amar. Ou dizer com convicção que te amo. Mas conhecer-te pessoalmente é essencial. Para podermos tirar nossas conclusões. Mas devo confessar que sinto tesão por si. Sinto uma excitação efervescente por si. Uma atracção além da mental. Se calhar afirmar isso possa resultar em confusão. Pensando que eu quero-te comer. Enfiar meus dedos, língua e pénis da sua vagina. Sentir o calor dela, o sabor, a textura, o cheiro. Mas, acho eu, não é amor isso. Mas faz parte da minha curiosidade. Seria falso se não admitisse que tenho essa vontade. Essa vontade, de sentir-te, de provar-te. És mulher, com um corpo deslumbrante. Avantajado nas curvas. E isso me atrai, é isso que explica o meu tesão. Fora o carnal, sinto também uma atracção espiritual. Pois, as qualidades que procuro na mulher percebo que tens, boa parte, não tudo. Quisera eu ter uma mulher como tu ao meu lado. Para me fazer companhia. Para o resto dos meus dias. Uma mulher que eu sentiria muito prazer em cuidar. Pois, sei que gostas de mimos. Gosto de dar mimos, carinho e atenção.
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Gostaria de ter-te como uma namorada e amiga. Uma cúmplice, um pilar e uma ajudadora. Gostaria de ser o seu amado. E corresponder todas as suas expectativas. Não tive muitas relações. Apenas duas. Mas já me sinto cansado de ter mulheres em minha vida. De estragar tudo. Quero algo definitivo. Quero ter uma vida, ao lado de alguém. Alguém como você. Que goste de cantar para mim. Que tenha vontade de o fazer. Alguém como tu, que sonhe alto. E acima de tudo, que batalhe para os realizar. Foda-se, quero-te para mim, quero ser seu. Não sei mais como dizer ou o que dizer mais. Quero-te…, e sei por que quero-te. Por tudo que eu disse e por tudo que poderia dizer. Mas não direi, apenas demonstrei. Não quero-te só porque és mulher ou, porque me queres. Não te quero só para dizer que tenho alguém. Quero-te porque quero arriscar. Para valer, apostar em algo grande. E para tal, sinto que seria contigo que deveria tentar. Não te quero como um ‘item’ em minha vida. Quero-te como parte da vida em falta. Quero-te de todas as formas. Estou disposto a lutar por si. Aceitar suas manias. Estou disposto a mudar. Mudar para melhor. Não por si, nem por mim mas por nós, pois sei como sou. Sou insuportável quando não sou amável. Tenho muitas manias e defeitos. E se realmente estiveres disposta. Disposta em aceitar e lutar comigo. Podemos superar tudo juntos. Como um casal. Quero ser seu amante. Quero ser o único a explorar seu corpo. Quero ser o tal, seu homem. A atender suas necessidades. Tirar-te a calcinha e linguar-te o clítoris. Quero ser eu a proporcionar-te prazer na cama. A dar-te orgasmos múltiplos. E se possível, fazerte atingir o ponto G. Quero ser eu a chupar seus seios. Antes dos nossos filhos nascerem. Quero fazer-te tudo que permitires na cama. Não quero que te falte sexo. Não quero que te faltem orgasmos. Quero-te porra. Quero que sejas a minha patroa. A dona de mim. Meu corpo só para si. Quero ser seu servo. Quero entregar-me a si completamente. Não quero segredos entre nós. Não quero que as nossas diferenças nos destruam. Quero-te porra. Quero-te completamente. Não em partes, quero-te toda. Só para mim. Quero
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amar-te adolescentemente. Até as pessoas a volta ficarem enjoadas. E outras até com inveja, mas no bom sentido. Não te conheço ainda. Mas sei que te quero. O resto a gente ajusta.
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CAPITALISMO
[Escrita aos 19 de Setembro de 2019]
Um artista com a vista Fudida pelo computador Sente a dor e a vergonha Defronte ao monitor Trabalhador infeliz Mas há que diz que o que faço e fiz Dignifica-me como homem Mas todos somem Quando o sol cai a poente E de repente, pela mente A tristeza ataca-me até ao ventre. Tento um som alegre Mas este não serve Não é a música a cura Desta loucura Que vivemos dia-a-dia Capitalismo é essa via Que nos levará até a sepultura Exploração do homem pelo homem Em troca de meios para sobreviver Produzem tudo que não consomem A recompensa não basta para viver E sem saber nem perceber Aos domingos buscam forças de continuar A alimentar sem cessar Nem questionar A grande máquina que os está a explorar.
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ESCREVER
[Escrito aos 25 de Setembro de 2019]
[Reclamações] Qual a razão de tanta dedicação No escrever? Gastar canetas, preencher sebentas Ao anoitecer? Investigar, reportar O que estás a viver? Se no fim de tudo, pareces um mudo, falando a surdos? E a inspiração, como nasce então Para proceder? É teimosia ou alguma anomalia Do seu ser? Investes tempo, seu talento E seu saber Não imagino a dor de ser autor sem admirador Por mais que digas que tu não ligas Em receber, Um aperto de mão em veneração Ao que estás a fazer Ou mesmo vaias para que caias E se entristecer Negação, aceitação, ou qualquer manifestação. [Resposta] Eu fodo a vista, Gasto tempo e dinheiro Sou um artista A tempo parcial e a inteiro Sem nenhuma conquista Ou algum reconhecimento
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Sou activista Dotado de discernimento Muito intimista No que sou no que faço Quis ser autista Para fugir do embaraço, Da minha vida E tornei-me poetaço Com nervos de aço É desta forma que nasço Desconheço o pódio O caminho para lá chegar Falo de ódio, Da dor como se estivesse a lamentar O que mais falar? se é isto que me está a incomodar E se calhar, pensas que esteja a dramatizar Poderia falar de amor Só para variar Encenar um Trovador E a mulheres enganar Ganhar aplausos Conquistar corações Gostos…, adoros…, risos E uns tostões Mas o que escrevo Não é dedicado a multidões Por isso não devo Me preocupar com visualizações Represento o que sou O que sinto, o que penso Não será hoje que vou Mudar o repertório que já é denso Represento os excluídos
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Sou a voz dos desconhecidos Dos que sofrem de depressão, Ansiedade e anedonia Escrevo aos esquecidos Que se deram por vencidos As vítimas de opressão Desta sociedade doentia Palavras que rimam Para si, é só o que são A mim iluminam Quando estou na escuridão Esta merda me anima Me enche de emoção Vocês não imaginam Por isso nunca entenderão.
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VOAR
[Escrito aos 29 de Setembro de 2019]
Quero voar Como os pássaros cagar Nas cabeças das pessoas Quero voar Poder flutuar Com as nádegas fora Sentir a brisa do ar Nas narinas a entrar E as orelhas gelar Quero voar Descansar o andar Pessoas esquivar Nas ruas movimentadas Voar para evitar Conhecidos encontrar Nessas longas caminhadas Me apetece voar Fronteiras atravessar E conhecer Salitre (Brasil) Nos meus braços carregar Uma mulher especial Para conhecer Moçambique Se eu soubesse voar Não precisaria se preocupar Com um abrigo na cidade Bastaria encontrar Uma caverna para refugiar
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Isolada da sociedade Se eu soubesse voar Não usaria celular Para poder me comunicar E quem quisesse falar Era só gritar Para eu poder o localizar Ai, ai, ai, se eu soubesse voar Poderia me livrar Das rotinas diárias Era só acordar Comer, voar e cagar Nas vossas cabeças otárias.
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CORRER
[Escrito aos 3 de Outubro de 2019]
Um dia sua história será contada Por mais que sua presença hoje não seja notada Continue a escrever o seu destino Seja o farol que ilumina seu próprio caminho A vida é breve, o tempo é rápido Não esperes por ninguém para avançar Todo homem deve estar deveras ávido Em fazer o bem e a paz alcançar.
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ESTÚPIDOS
[Escrito aos 11 de Outubro de 2019]
Todos sentimos a necessidade De mostrar que somos diferentes De expor os nossos conhecimentos Convencer a outros com nossos pensamentos Sentimos a necessidade de partilhar Aquilo que lemos e escutamos Como se fossem das melhores coisas As mais belas e únicas formas criar Partilhamos frases feitas Passagens de livros nunca folheados Partilhamos imagens abstractas De quadros que não nos deixam emocionados Olhamos para uma densidade de palavras Em páginas brancas como nossa percepção Vocabulário não acessível de difícil compreensão Se quer procuramos perceber para entender “Segundo fulano, segundo beltrano” Assim iniciam os nossos argumentos Ideias boas, mas ignoram os contextos Mudam-se as verdades com os anos Queremos somente aparecer Destacar-se dos milhões dos estúpidos Estúpido com classe e escrúpulos ser Mas continuamos estúpidos, estúpidos e estúpidos.
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DEPRESSÃO
[Escrevi deprimido e já nem recordo a data exacta, fui dormir depois disto, Outubro de 2019]
Depressão É uma dor que entra sem permissão Ataca-te o cérebro e o coração E deixa-te confortável na solidão Quem me vê por fora Não imagina a dor dessa alma Desta pessoa que toda hora Acha refúgio deitado na cama Molhando almofadas Com rios salgados Que cabem nos olhos Mas pesam toneladas Depressão não pode ser Reduzida em prosas e versos Só podem sentir e perceber Os que nela estiverem submersos.
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ANALFABETO
[Escrito num momento de turbilhão de sentimentos que se apoderavam de mim, transcendendo a minha reles compreensão, aos 23 de Outubro de 2019]
Há uma necessidade De expressar-me constantemente Tenho segredos vergonhosos Que me deixam descontente Queria ser mais calado Controlar meus impulsos completamente Enterrar o meu passado Afoga-lo no subconsciente Sinto-me vulgar e previsível Como estas rimas que se cruzam Meus pensamentos são profundos Quando expresso, se esfumam Sobre mulheres e amores? As ideias não se adunam Deixo isso aos trovadores Que por essas praias não se afundam Amor é cheio de regras Conceitos e muitas incertezas Por vezes confundido com paixão Obsessão, afecto ou tesão Amor não são essas merdas (Está tudo uma confusão Na minha mente e no coração) Contudo, eu só queria Poder expressar o que sinto Dedicar-te uma poesia Não só enfiar-te o pinto
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Se pudesse juraria Que esta é a mais pura das verdades Mas tu não acreditarias Porque desacredito em divindades Sei escrever reclamações Protestos e reflexões Sei todo alfabeto Mas considero-me analfabeto Por não entender emoções O coração e suas palpitações Sou por isso analfabeto Mesmo sabendo o alfabeto.
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MAFALALA
[Escrito aos 24 de Outubro de 2019]
Nascido aos noventa e quatro Num dos bairros mais famosos Hoje património histórico Não pelos caminhos sinuosos Pela relevância cultural Que Mafalala representa E ainda é habitual Ouvir palavras nojentas Palavras ofensivas De quem nunca cá pisou De ideias conclusivas De quem mal se informou Bairro de assaltantes Dizem os que não foram assaltados Os mesmos ignorantes Que juram pela alma dos antepassados Porque ouviram na rádio Porque viram no jornal Até fico estupefacto Por não sintonizar tal canal Na escola, no trabalho Discriminação virou normal Porque o "M" de Mafalala É aliado ao de Marginal O "M" é de Mil e novecentos Ano deste assentamento Primeiro bairro-de-lata Não por falta de cimento As construções eram temporárias
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Cidade estava em crescimento Bairro de negros e mulatos Considerados sem discernimento Segregação social e racial Fez nascer protestantes Encabeçados pela Noémia de Sousa Poetisa que inspirou principiantes Martin Luther King, Nelson Mandela Foram as inspirações da Noémia Craveirinha também lutou do lado dela Contra os Colonos e sua vida boémia O "M" é da Marrabenta Usada como arma de combate Combate cultural até aos anos sessenta E o Fany Mpfumo foi considerado Rei desta arte O "M" é dos Muçulmanos Cinquenta por cento dos habitantes Tanzanianos e Moçambicanos Trabalhadores em Restaurantes, Nas Fábricas, no Porto e Hotéis E os assimilados lidavam com papéis Por conta da cor e etnia A Marrabenta e a Poesia Coabitavam todos com a periferia Numa linda harmonia Mafalala, cidade informal Que viu crescer Chissano e Samora Políticos contra o regime colonial Lembrados e respeitados até agora Escaparam do exílio a Portugal Juntaram-se a Luta de Libertação Nacional Nasceu aqui também o Pascoal (Mucumbi)
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E outras figuras de reconhecimento internacional Mafalala representou no desporto Não pariu só políticos e artistas Hilário e Eusébio que já está morto Sempre será um dos maiores futebolistas Chibanga, o primeiro Toureiro Orgulho nacional de pele escura Aclamado pelo mundo inteiro Sempre recordado por sua bravura Bairro Cosmopolita, Mafalala Maior destino turístico da cidade Convido aos interessados a visita-la E sentir a vibração desta comunidade O pôr-do-sol por aqui É motivo de muita alegria As ruas ficam mais movimentadas Efervescentes que de dia Sou filho da Mafalala Esta pérola difamada Uma das vozes que não se cala Nesta luta que é travada A palavra é minha bala Atiro contra o preconceito Eu sou Mafalala Não sou branco, não sou mulato, não sou preto.
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QUERIDA
[Escrito num Domingo bem quente, num dos bancos do Jardim Tunduro, aos 27 de Outubro de 2019]
Já quis experimentar Calar só por um dia Não te contactar, não te incomodar Apenas por vinte e quatro horas Via-te sempre disponível No campo de conversa habitual Naquela plataforma digital Que nos aproxima e nos torna antissocial Querida, amiga, amada De nome que só guardo para mim De romântico só me resta a admiração Queria poder escrever e tocar-te o coração Rimas básicas carregadas de sinceridade É tudo que permite minha criatividade Espero que me perdoes algum dia Por este poema feio e sem poesia A noite se quer chegou Cumprimentamo-nos, o silêncio cessou Do seu lado? não sei o motivo Quanto a mim, o orgulho me tomou Aliou-se ao Ego e ao ciúme Faltou a auto piedade para atingir o cume Tenho muito ciúme das suas amizades Perdoa-me querida, por essas cruas verdades Amor, querida e nunca o seu nome São termos que uso ao chamar a si Meu coração é cheio de fome
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Gostaria que te sentisses assim por mim Sei que amor e afecto não se mendigam Não se trocam por moedas Mas a sua fisionomia e essência me intrigam Dê-me algum sinal e deixa-te de merdas A maneira como trato a si querida Nenhuma outra tem esse privilégio Facilitaria se fosses mais atrevida Se não temesses cometer algum sacrilégio Sou ateu como já deves saber Meu único medo é a forma de morrer Apenas uma coisa me impede de proceder O medo de estragar tudo e te perder Mas a nossa amizade já não me contenta Sinto-me sozinho e triste neste planeta Como quando eufórico pego a minha caneta Se a ideia não vem, tristonho fecho a sebenta Preciso de alguém que me completa Como Saramago, um Pilar que me sustenta E se fosse para tentar, tinha que ser consigo Para findar, diga-me: queres tentar comigo?
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RESISTÊNCIA
[Escrito a caminho de Boane no transporte público e terminado, aos 29 de Outubro de 2019]
O grito que era de revolução Hoje acabou em silêncio passivo A luta abafada pela intimidação Foi o que te manteve vivo Para servir sem questionar A máquina opressora Ver, ouvir e calar Isso deve acabar agora Fizeram-te acreditar Que Revolução saiu da moda Que não te podes libertar Desta opressão toda Que não podes reinventar O parafuso e a roda Que só te podes aliviar Depois duma foda Que sofrer faz parte Até nas relações conjugais E que do nada serve a arte Perante as armas letais É tudo manipulação Para adormecer mentes pensantes Faz parte da globalização Transformar-nos em ignorantes Quanto mais sabes sofres Quanto mais sofres resistes É a lei da sobrevivência Por isso que até hoje existes
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Resistência somos nós Sua luta minha luta Levantemos o punho e a voz Com uma conduta astuta Se melhorias não são ofertadas Será conquistada a força Ontem recebemos bofetadas Hoje a vingança será nossa Estudantes e professores Fechem os livros por uns instantes Saiam para ler os dissabores Estampados nos semblantes Dos pobres trabalhadores Empregados descontentes Ninguém ouve seus clamores Nem mesmo o deus dos crentes Senhores exploradores Acumuladores de bens materiais Vocês são neo-colonizadores Mascarados de neo-liberais Minorem os vossos horrores E entreguem os merecidos meticais Àqueles pobres senhores Que já se veem ossos nos abdominais.
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PRUMOS
[Escrito na noite do último dia do mês, aos 31 de Outubro de 2019]
Existem aquelas pessoas Que são como analgésicos Entram em nossa vida Suprimem dores da alma Não sei donde são Aparecem de qualquer direcção Direccionam-nos só com palavras Quando nos encontramos perdidos na escuridão Donde vens afinal Criatura que já vens tarde? Não a conhecia antes porquê? Escondias-te como cobarde? Lá fora é cheio de pessimistas Empenhados a destruir nossos sonhos Nem em suas vidas são protagonistas Não passam de reles bisonhos Também existem vocês iluminados Perdoe-me a metáfora exagerada É que vocês clareiam os ofuscados Que já abdicavam da caminhada Vocês são especiais Mudam a vida de um e doutro Seres angelicais São como prumos neste mundo torto.
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DESPEDIDA
[Escrito a noite, num ambiente ruidoso de música karaoke em casa de um amigo, aos 2 de Novembro de 2019]
Talvez seja isso Talvez esta é a verdade Talvez escrevo poemas depressivos Os mesmos que os tolos admiram Poemas que te fazem chorar Outras vezes te arrancam sorrisos Contudo, não é essa a intenção Talvez seja uma máscara na verdade Um escape desta tristonha realidade Talvez seja uma forma de disfarçar a solidão Mas o mundo é cheio de gente Somos bilhões de almas deambulando a deriva Com caminhos e escolhas diferentes Mas no fim o relógio biológico para O Tic Tac dá o seu último Tac E paramos de existir num instante Talvez seja por isso Se calhar seja o medo de aceitar o fim O medo do desconhecido O profundo e desconhecido misterioso fim Talvez seja pelo desagrado com a vida Talvez seja isto uma dramática despedida Sim, sim… talvez seja mesmo isto Uma despedida… apenas uma despedida.
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COQUETEL
[Escrito num Domingo na faculdade, ouvindo música ambiente dos auriculares, aos 3 de Novembro de 2019]
Escrevo tanto sobre problemas Problemas que não posso resolver Por que insistir então em os escrever? Enraivecer-me por questões fora da minha jurisdição Acima do alcance do meu saber E da minha capacidade de resolução Sinto que me afundo na tristeza e frustração Me aproximo da infelicidade e da solidão São esses conflitos cá dentro Que poderiam ser temas do que escrevo Fazer da minha vida, o epicentro, De inspiração, esculpi-la com palavras em baixo-relevo Mas eu não…, eu não quero Entregar-me completamente e ser sincero Constantemente a cada minuto sou diferente Como as nuvens, dia-a-dia me reitero Se eu fosse completamente transparente Como o sou para com o meu âmago Intensificaria os nós no meu estômago E ao invés de alívio, seria um acto transcorrente Sou concreto, curto e grosso em cada verso Poucas vezes uso linguagem abstracta Meu abstraccionismo é deveras controverso Um coquetéis de informações e uma linguagem exacta Verdades, mentiras, problemas e invenções É do que é composto este coquetel de informações O mais notário são as críticas e reclamações Carregadas de sentimento e algumas reflexões.
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ABRAÇO
[Escrito num Domingo na faculdade, ouvindo música ambiente dos auriculares, aos 3 de Novembro de 2019]
Quanto te fores Não se esqueças de me abraçar Mesmo se estiveres com dores Não me dê as costas a chorar Posso um dia te decepcionar Sei bem como sou E quando esse dia chegar Por favor, lembre-se de quando tudo começou Quando nos olhamos fixamente Naquela sala com estranhos semblantes Conversávamos calados telepaticamente E nem estávamos assim tão distantes O medo e o receio me paralisavam Quanto a si, foi o charme e a timidez Confesso que as minhas roupas me ridicularizavam Admito sim, mesmo parecendo estupidez Quanto te fores Não se esqueças de me abraçar Nunca te ofertei rosas nem flores E a todo tempo estive a te amar Ao invés de lanches e jantares Foi a minha companhia que te dei Nunca prometi estrelas e mares Apenas ao seu lado sempre fiquei Quando te fores querida
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Dei-me um abraço de despedida E se for definitiva a sua partida Saiba que deixarás uma grande ferida Quanto você se for Espero que vás sem ressentimentos Que encontres um novo amor E vivas sua vida sem arrependimentos.
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CONVIDADOS
[Escrito numa festa de aniversário, aos 14 de Dezembro de 2019]
Cumprimentas a todos quando chegas Sentas-te logo antes que as pernas estremeçam Ecrã do celular é o escape mais usado e confiado Encaras ele concentrado a ler mensagens antigas Abre e fechas aplicações Olhas para os lados discretamente… O teatro está a ser encenado por outros convidados Pare que nessas situações ficam todos assustados Intimidados, acanhados, até que chegue o amigo em comum Aquela pessoa que conhece a si e a todas outras Com excessão dos convidados, convidados pelos convidados As vezes há umas mulheres lindas e atraentes no meio dos convidados Ao menos dá para apreciar enquanto esperamos a comida Olhares se atropelam de vez em quando Desvio em zaragata, prefiro olhar sem ser olhado Agora entendo aqueles primos que bebem umas duas antes de vir Chegam mais desinibidos e menos tensos Com uma coragem temporária de falar e olhar fixamente Agora entendo, dantes condenava, era inocente Manifestações estranhas para o meu gosto vejo nalguns convidados Uma moça que grita e salta por medo de gato Espera aí, isto é um sinal que não tenho mais nada a escrever Melhor terminar por aqui, o que foi dito basta.
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MAMÃ
[Escrito ao acordar na manhã do dia 16 de Dezembro de 2019]
Não me esqueci Seria um insulto a sua memória Depois das cicatrizes que deixei em si Da cesárea de um feto de quatro quilos Não esqueci de si Nem por um instante Nem em momentos de embriaguez Impossível seria na lucidez Não esquecerei de sim nem um dia Sei que não estás presente Fisicamente ou espiritualmente Mas resides em mim, mesmo ausente O tempo inteiro recordo-me, recordo-me de como partiste Difícil memória que não apago Pode-se ler em meu semblante triste Ou neste coração amargo Livrar-me deste martírio É minha escolha, por isso não te culpo A ferida ainda está aberta E duvido que um dia sare Confesso que a cada ano que se vai A dor diminui, mas quero que ela pare Quero que pare de vez esta dor Não me ensinaste a lidar com ela Acho que a si ninguém te ensinou Foi o filho quem a Mãe enterrou Fui eu que tive que suportar a mazela Desculpe-me te perturbar assim
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Perdoe-me a ousadia e o desrespeito Apenas queria que soubesses por mim MamĂŁ, eu nĂŁo te esqueci.
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FIM
[Escrito num Domingo na faculdade, ouvindo música Chill dos auriculares, aos 10 de Novembro de 2019]
Levei alguns meses de escrita intensa, poderia até continuar, mas estaria a esforçar-me além do que as minhas capacidades permitem. Tenho outros afazeres que me esperam, já me distraí em demasia nesse tempo que dediquei a escrita, a leitura, a eventos culturais, a passeios matinais, entre outras actividades que me proporcionaram muito, mas muito Prazer, foi bom enquanto durou. Como da última vez, provavelmente irei distanciar-me da escrita por um ano, ou seja, terei um ano de pausa onde me dedicarei a outras actividades e no ano seguinte poderei retomar a escrita, com prosa ou poesia, não sei ainda, aquilo que me apetecer e me parecer mais conveniente, será. Quero agradecer a todos que me apoiaram, me inspiraram, me suportaram e me influenciaram de qualquer forma para que pudesse construir cada tema aqui existente. Não poderei citar nomes com medo de excluir alguns que a memória me impede de recordar mas, garanto que vocês se conhecem. Se chagaste até aqui, tendo lido cada palavra de tudo que foi escrito, foda-se, tens a minha admiração, és mesmo um persistente e curioso, obrigado pelo seu tempo e para findar quero dar-te um conselho de graça; se és fazedor de alguma arte que tanto gostas e te proporciona prazer, continue fazendo mesmo que o reconhecimento não seja eminente, o acto de fazer é muito mais gratificante, anima fazer o que gostamos e como gostamos, continue, mesmo que isso te roube o tempo e energia que poderias investir em tarefas que te garantam algum Sustento. Entre o Prazer e o Sustento existe a obra, a obra nasce dessa necessidade de criar, criar é um analgésico que funciona como o Efeito Placebo para a minha pessoa, está tudo na minha mente.
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Embora sinta que seja uma auto-enganação, ela funciona mesmo assim, por pouco tempo, mas funciona. É desta forma que nasce essa merda e em minha defesa, isto não é um livro nem obra de algum valor literário, desculpa pela decepção.