MANGUEIRA CARNAVAL 2014
A FESTANÇA BRASILEIRA CAI NO SAMBA DA MANGUEIRA
GENILSON ARAÚJO
FERNANDO azevedo
Que “ilumine a Passarela pra minha Escola passar”. Esta é a oração de todo devoto da Estação Primeira de Mangueira para o Carnaval de 2014. Nelcy da Silva Gomes, sacerdotisa do samba, ungida pela seiva da nobre raiz de Dona Neuma, evoca seu mar de bênçãos e pede passagem, Mãe.
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levanta poeira,
baiana Ala das mães do samba será comandada novamente por neta de Dona Neuma
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eta de Dona Neuma, fundadora da Ala das Baianas da Estação Primeira, Nelcy da Silva Gomes tornou-se baiana por acaso, aos 16 anos de idade. Reprovada no colégio de freiras onde estudava, ela recebeu como castigo de sua mãe a ‘tarefa’ de desfilar no meio do tradicional grupo de senhoras. “O que era para ser uma punição, acabou sendo o melhor presente que ela já me deu”, relembra a jovem baiana, hoje com 45 anos. Seu batismo na Marquês de Sapucaí não poderia ter sido melhor. Foi em1984, ano de inauguração do Sambódromo, quando a Mangueira apresentou o enredo ‘Yes, nós temos Braguinha’, e sagrou-se supercampeã. Após um período afastada do comando da ala, Nelcy foi trazida de volta pelo novo presidente da Verde e Rosa, Chiquinho da Mangueira. O estilo de liderança de Nelcy remonta ao matriarcado do samba, que tem em Tia Ciata seu ícone maior. A ala é uma festa. Nenhum aniversário, dia das mães ou festa junina passam em branco. Para garantir a permanente celebração - e união -, uma vez por mês um encontro está garantido. “Também temos um cardiologista que acompanha a ala, para ter certeza de que todas estejam bem no desfile”, conta. Na reinauguração da quadra da Mangueira, em agosto do ano passado, a ala realizou um ritual ancestral, varrendo o interior do Palácio do Samba e lavando as escadarias com água do mar, do rio e de cheiro. “É um ritual de purificação inspirado na lavagem
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Não desfilaria em outra ala nem em outra escola. Vivo pra Mangueira. Nelcy Gomes
das escadarias da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador”, explica. Antes de pisar na Sapucaí, de mãos dadas elas vão orar pedindo a bênção. Para, em seguida, entoar uma prece em forma de samba. E renovar a fé que só comunga quem tem o coração e o sangue verde e rosa. Roda baiana, levanta poeira do chão!
FOTOS FERNANDO AZEVEDO
Ala participou da lavagem de purificação na reabertura da quadra
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CARTA DO EDITOR
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Editar a Revista da Mangueira, escola com a qual aprendi a cantarolar os primeiros sambas, ainda diante da TV, foi momento dos mais especiais da minha carreira. Conhecendo os protagonistas da Verde e Rosa, surge logo a vontade de nunca mais parar de contar e recontar suas histórias. Tive a colaboração de alguns dos melhores profi ssionais do jornalismo da atualidade: os mangueirenses Alba Valéria Mendonça, Solange Duart e Fernando Molica – que doou seu cachê para a campanha ‘Patrocinador Apaixonado’; os mangueirenses ‘por adoção’ Aydano André Motta e Fabiana Sobral; dois craques que ainda não revelaram pra quem torcem, o Cesar Tartaglia e o Luciano Dias; e o Rubem Machado, vice-presidente de divulgação da Estação Primeira, colega de profi ssão dos mais talentosos. Na direção de arte, pude contar com a parceria e o requinte de dois velhos parceiros de sonhos e realizações editoriais, o Berrix e a Luísa Bousada, ambos detentores de alguns prêmios de design em jornalismo. Conhecer o morro de Mangueira, presenciar a alvorada lá de cima (assobiando Cartola, Cachaça e Hermínio), acompanhar sessões fotográficas em algumas lajes com o Diego Mendes e o Fernando Azevedo, foi ímpar. Obrigado aos amigos e parceiros da AMI7. Obrigado a Célia Domingues. Obrigado, presidente Chiquinho, pela confiança. Jean Claudio Santana, editor
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OBRIGADO, Mangueira
Quadra: Rua Visconde de Niterói, 1.072 Mangueira - RJ Cep: 20943-001 Tel: (21) 2567-3419 Fábrica de Alegorias: Rua Rivadávia Correa, 60 - Barracão 13 - Gamboa RJ - 20.220-290 Tel: (21) 2253-3962 e 2223-0722 Edição: Jean Claudio Santana (MTB 26263/RJ) Primeira Linha Agência de Comunicação www.1alinha.com.br
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Direção de Arte: Berrix e Luísa Bousada Tratamento de imagens: Aliomar Gandra e Ricardo Gandra Reportagem e Redação: Alba Valéria Mendonça, Aydano André Motta, Cesar Tartaglia, Fabiana Sobral, Fernando Molica, Jean Claudio Santana, Luciano Dias, Marcelo Nogueira, Rubem Machado, Solange Duart Coord. de Produção: Cristina Nogueira Produção Gráfica: Berrix Impressão: Gráfica Ediouro Tiragem: 15 mil
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Revista da Mangueira Publicação do GRES Estação Primeira de Mangueira
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e a guerra perdeu para o
SAMBA Presidente de Honra da Estação Primeira, Nelson Sargento revela os bastidores do surgimento do quesito samba-enredo e o que planeja com os parceiros da Ala da Velha Guarda Cesar Tartaglia
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patente e o sobrenome artístico Sargento entraram na biografia de Nelson Mattos em razão de uma fugaz passagem pelo Exército brasileiro. Por sorte, o Tiro de Guerra o perdeu para o samba, que já havia entrado em sua vida bem antes da entediante rotina da caserna. Salgueiro de nascimento, ele pouco se envolveu com o morro tijucano: sua mãe, que trabalhava de empregada doméstica para uma família de portugueses, só o levava à comunidade nos fins de semana. Muito pouco para criar raízes, que começaram a se fincar a poucos quilômetros dali da Tijuca, quando, adolescente, mudou-se com a família para a Mangueira. Foi samba na veia: seu pai de criação, Alfredo Português, um dos fundadores da Estação Primeira, gostava de reunir os bambas em casa, para saraus nos quais se ouvia de tudo. Ali o guri foi pescado para o saudável vício do samba. A origem da patente, a carreira de Nelson Sargento (que legou à música brasileira algo em torno de 400 sambas, entre eles ‘Agoniza mas não morre’, ao mesmo tempo uma obra-prima e um consciente grito de resistência do mais popular ritmo musical do país), sua metamorfose pictórica de um potencial Vermelho e Branco para um consolidado Verde e Rosa são passagens conhecidas na vida do
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grande compositor. O que pouco se sabe é que, de sua relação familiar e musical com Alfredo Português (que foi levado para a Mangueira por Carlos Cachaça), deu-se uma fundamental mudança na história dos desfiles das escolas de samba do Rio, mais precisamente na contagem de pontos para a premiação de cada ano. O moleque tinha 16, 17 anos, e já era figurinha fácil nas rodas da Mangueira, que frequentava com Alfredo Português – um compositor, segundo Sargento, muito bom de letra, mas que empacava um pouco na melodia. Década de 1940, os desfiles já eram um acontecimento cultural no Rio, mas a contagem de pontos das escolas não considerava o quesito samba-enredo. Os jurados se fixavam apenas na harmonia da música que embalava a passagem das agremiações. Em 1948, Português escreveu uma letra para a Estação Primeira e sugeriu um enredo. Sargento, que ainda não era Sargento, musicou o samba – que, como o nome diz, virou um samba-enredo. A novidade deu liga, e a partir dali a Estação Primeira - e, em seguida, as demais escolas - começaram a fazer seu carnaval balizado por um tema. Mais tarde, o samba-enredo virou quesito. No próximo dia 25 de julho, Nelson Sargento comemora redondos 90 anos. Ele chega às nove décadas de uma
vida dedicada ao samba com o merecido posto de presidente de honra da Mangueira, cuja história grandiosa lhe deve cruciais contribuições. E, cheio de gás, estará na avenida animado com as perspectivas de um desfile campeão, presentaço antecipado para seu aniversário. “A diretoria tem trabalhado bem, e a escola, como um todo, comprou o enredo. Vamos pras cabeças este ano”, prevê Nelson.Como prócer da escola, destaque da Ala dos Compositores e referência na Velha Guarda, ele ainda alimenta sonhos grandiosos. “Eu planejo, junto com meus companheiros da Ala da Velha Guarda, realizar p erman ente s noitadas de samba. O samba está aí, cada vez mais pujante, e temos de dar ao povo o que ele gosta. E o samba, com certeza, é um dos maiores prazeres do carioca e do brasileiro”.
Eu planejo, junto com meus companheiros da Ala da Velha Guarda, realizar permanentes noitadas de samba. O samba está aí, cada vez mais pujante, e temos de dar ao povo o que ele gosta Nelson Sargento
O sambista mudou-se para a Mangueira na adolescência
Em 25 de julho de 2014, o compositor completa 90 anos de vida
O Sargento da Estação Primeira já compôs cerca de 400 sambas para a MPB
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Nelson Sargento recebeu Medalha Tiradentes e homenagem da Liesa nas comemorações pelo Dia Nacional do Samba
flores em vida
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dia não poderia ter sido mais apropriado e especial do que o Dia Nacional do Samba, comemorado anualmente em 2 de dezembro. O Sargento da Estação Primeira foi surpreendido por uma homenagem da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), pouco antes do lançamento do CD e do DVD de 2014 das escolas de samba do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro. Incapaz de conter a emoção, Nelson começou a agradecer com a voz embargada, até que foi totalmente interrompido pelas próprias lágrimas. “Muito obrigado por me fazerem receber estas flores em vida, eu não tenho palavras para descrever...”. A plateia da Cidade do Samba foi ao delírio, aplaudindo o Presidente de Honra da Verde e Rosa. Jorge Castanheira, presidente da Liesa, explicou que a homenagem se deve a tudo o que o compositor já fez e continua a fazer para o fortalecimento do samba no cenário da Música Popular Brasileira, assim como sua fundamental influência na valorização do carnaval da Cidade Maravilhosa. Participaram da homenagem a Nelson Sargento o diretor de carnaval da Liga Independente das Escolas de Samba (e ex-presidente da Estação Primeira de Mangueira) , Elmo José dos Santos , e o diretor de operações da Riotur, Luis Gustavo Mostof.
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O compositor de ‘Agoniza mas não morre’ foi às lágrimas durante homenagem na Cidade do Samba
para um A porta-bandeira Squel Jorgea reverencia Nelson
FOTOS FERNANDO AZEVEDO
Sargento foi agraciado com a mais alta honraria da ALERJ
medalha tiradentes No dia 3 de dezembro de 2013, o plenário da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro recebeu a visita de sambistas da Portela, Salgueiro, Império Serrano e Estação Primeira. Por iniciativa do parlamentar e presidente da Verde e Rosa Chiquinho da Mangueira, receberam a Medalha Tiradentes o baluarte Nelson Sargento, Dona Ivone Lara, do Império, e Djalma Sabiá, fundador do Salgueiro. Já Noca da Portela recebeu o título de Benemérito do Estado do Rio.
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O valor da tra Especialistas em branding analisam os fatores que atribuem elevado valor de mercado à marca da Estação Primeira de Mangueira leandro vieira
LUCIANO DIAS
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angueira para regar o pé de manga, 40 reais. Um quilo da fruta no supermercado da esquina, cinco reais. Ser mangueirense, não tem preço! Tem valores! Valores associados à marca da tradicional escola fundada por Cartola, Cachaça, Zé Espinguela, entre outros sambistas de boa cepa, são impossíveis de se calcular. Seriam dezenas ou centenas de milhões de reais?. Um número difícil de mensurar e que exige um profundo estudo econômico, financeiro e de marketing feito por empresas especializadas nesse enredo de números, cifras, imagem e dados tangíveis e intangíveis. A Revista da Mangueira ouviu três profissionais da área para lançar luz sobre os símbolos que fazem da Estação Primeira um ativo raro e rentável. É perfeita a harmonia entre a história da agremiação de Nelson Sargento e a teoria que ajuda a calcular a capacidade de marcas gerarem recursos. Eduardo Senise, consultor de marketing e professor do Ibmec, destaca três características fundamentais numa marca –
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personalidade, cultura e valores – e as identifica como sendo pilares da Mangueira. “Os valores da comunidade, da sua história, da sua bateria e de seus títulos; a personalidade construída por seus desfiles antológicos, pela garra, pelo orgulho dos componentes e pela atuação na comunidade; e a cultura da Verde e Rosa e da for-
ma ímpar de tocar o surdo. Tudo isso a distingue mesmo frente a outras escolas de samba”, define Senise. São quesitos possíveis de serem vistos, ouvidos, sentidos, admirados e, ao mesmo tempo, imateriais. Bens que estão no ar da quadra durante os ensaios e na Marquês de Sapucaí nos 80 minutos de desfile. Esses símbolos intocáveis ganham corpo como o da rainha da bateria comandada por Ailton Nunes. A escolha de Evelyn Bastos, cria da Mangueira, para estar à frente dos ritmistas é um exemplo de construção e manutenção da marca destacado por Tânia Savaget, diretora de Estratégia e randing da Tatil Design. Ter a jovem da comunidade vestindo um título de nobreza está totalmente adequado à imagem de escola de raiz e de tradições inabaláveis. “São bens intangíveis que fazem da Mangueira mais do que uma escola de samba. É como a Coca-Cola. Não é simplesmente um refrigerante. No Natal, a Coca-Cola é o Papai Noel, é o boneco de neve”, diz Tânia, uma das responsáveis na Tatil pela
adicao criação da marca dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. André Matias , diretor de Estratégia, Head of Brand Valuation, da Interbrand, empresa especializada na gestão de marcas, não vê diferenças fundamentais entre a avaliação de uma instituição sem fins lucrativos e cultural, como a Estação Primeira, ou de uma companhia, como a Coca-Cola. “Ao se tratar de uma instituição que não visa diretamente o lucro, deve-se ajustar a maneira de mensurar a geração de valor. No restante da metodologia, a lógica é bastante similar: deve-se medir qual a influência da marca na decisão de escolha das pessoas. E depois disso determinar qual a probabilidade da marca continuar sendo relevante no futuro”, diz. Senise e Matias chamam atenção para ações que mantêm e ampliam o valor de uma marca. O diretor da Interbrand afirma que tanto uma empresa quanto uma agremiação carnavalesca devem definir com clareza os propósitos da marca e desenvolver ações coerentes com esse objetivo. O analistatambémaconselhaumestudo para definir a taxa de royalties que permitirá uma multiplicação de serviço e produto associados à Verde e Rosa. O desenvolvimento da marca passa, na opinião do professor do Ibmec, também pela internacionalização. “Deve-se aumentar ainda o vínculo entre a marca e determinado público, com apresentações, ensaios, oficinas, além de licenciar produtos para aumentar a receita e se fazer mais presente em um determinado segmento”.
EXECUTIVO AVALIA ATRIBUTOS DA MARCA Dez, nota 10! A Estação Primeira, na opinião do diretor André Matias, da InterBrand, passa muito bem pelos dez atributos da Metodologia de Força de Marca usada nas análises desenvolvidas pela empresa. São quatro atributos internos e seis externos que revelam a vitalidade da marca Mangueira. Internos
Externos
Clareza o posicionamento da Mangueira como a alma do samba carioca é claro para todos aqueles que vivem a instituição.
Autenticidade e Diferenciação uma boa marca entrega o que promete. E a Mangueira é uma das marcas mais autênticas do Carnaval, praticamente um sinônimo da grande festa carioca. É uma agremiação singular no Rio de Janeiro e no Mundo, com uma proposta diferenciada.
Comprometimento esse atributo está na equipe que trabalha nos barracões durante o ano. O comprometimento também se revela nos patrocínios e nos recursos investidos no carnaval. Proteção da Marca o registro da marca para evitar o uso indevido, sem autorização e sem o cuidado devido. Quanto mais controle a Mangueira tiver da utilização da marca, mais garantia a escola tem sobre o impacto externo de suas ações. Capacidade de Resposta é a rapidez como a Mangueira responde às mudanças na sociedade e como incorpora as novidades na experiência do carnaval.
Relevância e Presença ações para seu público de interesse, mantendo a marca relevante e presente na vida e nas mentes das pessoas ao longo do ano, não somente no carnaval. Os ensaios, as ações sociais e a produção e distribuição regulares de informação são algumas medidas nessa direção. Consistência e Entendimento O contato das pessoas com a experiência de marca da Mangueira deve ser consistente e constante nos doze meses do ano, explorando todos os pontos de contato. Se isso for bem feito, a público entende qual o propósito da marca da escola.
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fotos fernando azevedo
Além do licenciamento, Célia Domingues cuida da butique de produtos oficiais no Palácio do Samba e no barracão da Estação Primeira
A guardia da marca Nova gestão criou área dedicada a licenciar e fiscalizar o uso do nome e do símbolo da Verde e Rosa em produtos
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o iniciar sua gestão, uma das primeiras decisões do presidente Chiquinho da Mangueira foi criar uma área de gerenciamento de marca, responsável por seu licenciamento e pela fiscalização do uso em produtos. “Quando um torcedor compra uma camisa que não é oficial, a Mangueira está perdendo para a pirataria e sendo prejudicada na realização de seu carnaval e dos projetos sociais que beneficiam milhares de jovens e crianças”, afirma Célia Domingues, que comanda a área de licenciamento. “Estamos desenvolvendo produtos em vários segmentos de mercado e, a partir de agora, vamos gerenciar a comercialização de diferentes itens que levem a marca da agremiação. A Mangueira é uma grife”, destacou. A executiva também desenvolveu uma linha de produtos oficiais
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para a butique da Mangueira, reinaugurada junto com a quadra, em agosto de 2013. Itens como camisas, capa para celular e suvenires artesanais dividem espaço com coleções especiais, como as linhas fitness e para bebês. Os suvenires artesanais são feitos por artesãos
dos projetos sociais da Amebras (Associação das Mulheres Empreendedoras do Brasil), dirigida por Célia há 15 anos. Os adereços de cabeça, baianinhas e passistas, entre outros itens, são elaborados nos projetos Carnaval e Cidadania e Oficina de Moda de Carnaval.
Lisandra Souto e o namorado fizeram compras na butique
Patrocinio movido por paixao Programa de financiamento coletivo da Mangueira é inédito no Carnaval
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ogo nos primeiros dias de janeiro de 2014, a Estação Primeira de Mangueira lançou um tipo de patrocínio inédito no Carnaval. Baseado no conceito de financiamento coletivo (crowdfunding), o Patrocinador Apaixonado é uma plataforma de captação de recursos pela internet voltada tanto para pessoa física quanto jurídica. A iniciativa aposta na paixão do mangueirense e acredita que ele é o maior e mais importante patrocinador do Carnaval da Verde e Rosa. Por meio da plataforma virtual inserida no site da Verde e Rosa, qualquer pessoa ou empresa pode ser um patrocinador, com valores a partir de R$ 1,00. Para o patrocínio são oferecidas contrapartidas que vão desde o nome listado no site e um diploma de patrocinador, até entradas para camarote na Marquês de Sapucaí. Os resultados obtidos com a campanha serão divulgados periodicamente pela escola, de modo a manter a transparência e a credibilidade do financiamento coletivo. “Os recursos serão aplicados no Carnaval e nos projetos sociais, de esporte e educação que a Estação Primeira realiza na Vila Olímpica, na quadra e em seu centro profissionalizante”, garante o presidente Chiquinho da Mangueira.
O apresentador Chico Pinheiro tornou-se um Patrocinador Apaixonado durante ensaio no Palácio do Samba
se liga na tv mangueira O primeiro circuito de mídia indoor de uma escola de samba foi inaugurado no Palácio do Samba em janeiro. Em oito telas alocadas em pontos estratégicos, a TV Mangueira exibe imagens de Patrocinadores Apaixonados e artistas visitantes, informações da escola e campanhas de empresas e produtos que querem dar visibilidade às suas marcas.
Quer ser um Patrocinador Apaixonado? Instale um aplicativo de leitura ótica; aponte a camêra do seu smartphone ou tablet para o QR Code. E apaixone-se! http://mangueira.patrocinadorapaixonado.com.br/
Depois de alguns anos sem visitar o Palácio do Samba, o jornalista Chico Pinheiro foi a um ensaio e conheceu o projeto. Sem hesitar, tornou-se um Patrocinador Apaixonado. “A iniciativa é muito bem-vinda. Quero patrocinar e ajudar minha escola”, disse o apresentador do Bom Dia, Brasil, da TV Globo. Os apaixonados podem patrocinar acessando o site da agremiação (www.mangueira.com. br) ou nos ensaios e feijoadas que acontecem na quadra, onde colaboradores explicam, pessoalmente, o programa aos interessados.
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sOLANGE DUART
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ano era 1984. O mês, março. Ao som do Hino Nacional tocado pela Banda da Polícia Militar, o então governador Leonel Brizola inaugurou a Passarela do Samba, na Cidade Nova, no sábado de Carnaval. Nas arquibancadas, o público gritava “diretas, diretas” pedindo a volta da democracia e o direito de votar para presidente. Dos camarotes destinados às autoridades, apenas um estava vazio e com as venezianas (isso mesmo!) fechadas: o do presidente da República, general João Figueiredo. Mas a grande novidade do desfile daquele ano aconteceu já na manhã de terça-feira, por volta das 10h da manhã: a Estação Primeira de Mangueira, última das 14 escolas do grupo 1-A a se apresentar, “encerrou” seu desfile oficial na Praça da Apoteose e voltou em direção à concentração, surpreendendo público e autoridades. Os seguranças da Passarela, que também não sabiam da manobra, tinham aberto os portões, o que facilitou o acesso do público à pista em uma confraternização inédita. E, assim, boa parte do público foi atrás da Verde e Rosa, única agremiação carioca a conquistar o título de Supercampeã da Passarela. A Mangueira e o público formaram um imenso cordão que ocupou os 700m da pista de desfile. No primeiro ano do Sambódromo, a agremiação conquistou ainda quatro Estandartes de Ouro, entre eles, o de melhor escola. Max Lopes era o carnavalesco da escola naquele ano e conta ter recebido o apelido de ‘Mago das Cores’ por causa das tonalidades de verde e rosa que aplicou nos carros e fantasias, criando um conjunto perfeitamente harmônico. Conseguiu até que a bateria desfilasse com pompom rosa na cabeça. “A gente não tinha barracão e o espaço onde trabalhávamos não tinha telhado. O teto era improvisado. Para concluir tudo fiquei dois meses tomando remédio para não dormir e acabei doente. Foi muita responsabilidade, uma mudança muito radical em uma escola tradicional. E me lembro que pedi um samba nostálgico para os compositores”.
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Supercampea da
passarela Na inauguração do Sambódromo, há 30 anos, a Estação Primeira tornou-se a única a conquistar este título
Desfilamos com enredo e samba imbatíveis. Parece que foi ontem. Alcione
O enredo era um famoso compositor, em cujo repertório havia muitas marchinhas carnavalescas, Alberto Ferreira Braga: ‘Yes, nós temos Braguinha’. “Ele não queria desfilar, disse que não gostava, mas eu pedi que fosse pelo menos na concentração de terno branco para incentivar a escola. Ele foi e acabamos o convencendo a se sentar no banco de praça instalado em um carro alegórico depois de colocarmos nele uma gravata rosa e um lenço verde no bolso do paletó. Aí, ele reclamou que estava com cãibra na perna. Pintamos um isopor para que ficasse parecido com uma pedra e o colocamos no carro para ele apoiar a perna. Assim, ele participou do desfile todo”. E a ideia de voltar pela contramão do desfile? “Na época, as escolas não ganhavam subvenção e o dinheiro era muito pouco. A gente não sabia nem como ia pagar os empurradores dos carros. Aí, decidimos voltar com os carros por dentro do Sambódromo para facilitar a retirada deles e foi o que fizemos”, explica Max. O júri naquele ano foi escolhido no dia anterior, quando o então presidente da Associação das Escolas de Samba (a Liesa ainda não tinha sido criada), o advogado Alcione Barreto, convocou os presidentes das 14
Anibal Philot/Agência O Globo
Histórico: Mangueira voltou da Apoteose pela contramão
escolas para que encontrassem uma fórmula para escolher os jurados. Aconselhado, na madrugada de sexta, por Brizola e Darci Ribeiro, o vereador Carlos Imperial, um dos responsáveis pela organização do carnaval, desistira de fazer as indicações. A Estação Primeira foi a campeã de segunda-feira e a Portela (com “Contos de Areia”), a de domingo. No desfile de Sábado das Campeãs que durou 17 horas - seria escolhida a supercampeã da Passarela do Samba: deu Mangueira na cabeça, com 139 pontos (perdeu apenas um, em bateria) contra os 137 da Portela. Assim, a Verde e Rosa se tornou a primeira e única escola a conquistar o título de Supercampeã. O compositor Nelson Sargento, baluarte e presidente de honra da escola ainda se emociona ao falar sobre aquele ano. “Foi muito emocionante. Funcionou espetacularmente bem. Que felicidade!! Desfile como aquele talvez não aconteça nunca mais porque o local não comporta mais isso. A Mangueira tem toda uma tradição inovadora e não tem um só samba descartável”. Mangueirense das mais conhecidas, a cantora Alcione também se recorda, com carinho, do supercampeonato. “Foi um ano superespecial para todos nós, mangueirenses. Foi a inauguração do Sambódromo e desfilamos com enredo e samba imbatíveis: ‘Yes, Nós Temos Braguinha’! Parece que foi ontem... A Mangueira, última escola a desfilar, ao chegar na Apoteose, enlouqueceu a todos voltando a desfilar na contramão. Toda a escola e a galera atrás cantando... Foi lindo! Foi, realmente, um supercampeonato!”. Outra cantora de coração verde e rosa, Rosemary relembra: “senti uma emoção muito grande porque o compositor Braguinha me deu a mão para que eu subisse no carro onde ele estava. Eu estava no chão e fui convidada a ficar junto dele. Fiquei feliz com o carinho e a gentileza desse grande compositor. Como a Mangueira desfilou muito tarde, ficou uma coisa linda! O povo todo esperou e cantou junto com a escola. Senti, ao pisar pela primeira vez no Sambódromo, que ali era o nosso lugar”.
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Estreando na Estação Primeira após seu mais recente campeonato no Sambódromo, a carnavalesca sonha ser campeã pela Verde e Rosa
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jean claudio santana
diego mendes
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osa Magalhães* é a mais eloquente das mulheres de poucas palavras. A maior campeã da Marquês de Sapucaí, com oito títulos desde 1971, não gosta de dar entrevistas. Ela prefere contar histórias e papear. Apreciadora contumaz de café, sempre oferece uma xícara a seu interlocutor. Se oferecer mais de uma, a conversa está indo bem. Se repetir a pergunta que lhe fizeram com certa incredulidade - e um sorriso de canto de boca – é porque a conversa não a interessa mais. Falar sobre si mesma não é seu forte. Para isso ela não sabe ser objetiva. Mas na hora de construir um carnaval, de colorir um figurino, de corroborar ou mudar uma ideia, é a profissional mais objetiva do mundo. Ela sabe e-xa-ta-men-te o que quer e trata com esmero tudo o que cria. “Não tenho nenhuma parte do enredo ou nenhum carro preferido; no desfile tudo pode acontecer”, costuma responder quando lhe perguntam sobre em que aposta mais antes de um desfile. Seu estilo de criação é inspirado em transpiração pura. “Nunca esperei inspiração; eu simplesmente sento e o trabalho tem que sair”. Rosa ama Paris. Adora comprar lápis (incomparáveis) em Londres. Sua casa, incrustada em um pedaço de Mata Atlântica em plena Rua Tonelero, em Copacabana, guarda detalhes e histórias em toda parte. O Pinóquio comprado em Veneza perdeu o nariz e é um dos mais gostados. Não está aqui o dragão
chinês que ela trouxe de viagem a meia, vive nos bastidores da folia. Londres, mas tê-lo transportado de Quando entregou os figurinos para avião rende agora boas gargalhadas. este Carnaval, uma mangueirense preE o armário que ela fez todo de considente de ala veio pedir, chorando, creto! “Queria armários planejados, que a fantasia de Iemanjá não fosse na fui a algumas lojas e os projetos eram cor azul, como desenhara a carnavauma fortuna, o preço, um desaforo”. lesca. Será que Rosa não deixaria que Chamou o mestre de fosse verde água, afinal, até obras e ela mesma proum pai de santo fora conjetou. “O resultado foi sultado e disse que Iemanjá o mesmo, ficou ótimo”. não se importaria? “Pode, Tem muitos orgunão tem problema algum”. lhos em seu ‘refúgio’. Andam comentando Não tenho Seus cachorros, entre que Rosa Magalhães e carro eles a “vira-lata de raça” Estação Primeira de Manpreferido; Tequila, que só atende gueira formam o par perem inglês (“sit; stop”). feito. Tudo mundo quer no desfile Suas orquídeas - muitas saber o que ela vai fazer tudo pode delas ganhas de amigos com o verde e o rosa. “É acontecer - que florescem todo uma combinação diferenRosa Magalhães ano vigorosas nas árvote, só isso. Tem muito verres de seu quintal. Tem de e branco, azul e branco, também uma mangueivermelho e branco. Verde e ra neste quintal. Certa rosa só tem uma”, repete. E vez ela chega na Cidao que isso quer dizer? Não de do Samba e revela: se sabe ao certo. “Vai ter “caiu tanta manga no muito colorido mas vai ter meu telhado que parecia uma chuva muito verde e rosa também”. de bala perdida”. Ela não titubeou. Rosa confidenciou que está tenTransformou tudo em doce de mando um dos carnavais mais tranquiga espada. Rosa ama cozinhar. los de sua carreira, cronograma em E Rosa ama rir. Seu humor intelidia, equipe entusiasmada. Vieram gente e implacável é revelador. Às velhe perguntar se ela, a maior venzes, sua seriedade é quase um deboche. cedora de carnavais da história do Tem olhar de Fellini sobre alguns inaSambódromo, já conquistara todos creditáveis os sonhos. “Quero ser episódios campeã com a Manque, volta e gueira!”, respondeu.
*NOTA DE RODAPÉ: Campeã em 2013, 2001, 2000, 1999, 1995, 1994, 1982 e 1971. Emmy Best Costumes (ESPN) - Academy of Television Arts and Sciences, Califórnia, Estados Unidos - pela abertura dos Jogos Pan Americanos de 2007.
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Mangueirense gosta de festa’, alardeia a não menos festeira Rosa Magalhães. E quando a festa é da Estação Primeira, não duvide: é noite de gala e alegria. Noite de marinheiros portugueses dançarem com índios aqui descobertos; de arlequins encontrarem colombinas; de cantar a fé, o Divino e o profano; de brincar de quadrilha e de saudar a diversidade com ‘A Festança Brasileira Cai No Samba da Mangueira’, na maior festa da cultura brasileira. “Esse enredo combina com os mangueirenses. Eles se emocionam. Vai ser a nossa festona”, aposta a mais nova Rosa da Estação Primeira, sem esconder o entusiasmo pela ideia escolhida por Chiquinho da Mangueira, presidente da agremiação. A carnavalesca destaca que o tema envolve a história e a cultura do país através das suas grandes manifestações populares, de Norte a Sul. A começar
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pela festa que celebrou o encontro de portugueses e índios, descrita na Carta de Pero Vaz de Caminha a D. Manuel I, rei de Portugal à época do Descobrimento. “Tudo tem sua razão. Viemos lá de trás, do comecinho. A esquadra de Pedro Álvares Cabral tinha um gaiteiro que tocou para os índios e os tomou pelas mãos a dançar. A Carta é a primeira narrativa desse encontro de índios e portugueses... que viramos nós. Essa coisa da alegria da gente para comemorar, para celebrar, isso vem desde o período colonial. E isso seguiu.Vieram as festas da fé. Tinha ritual religioso, mas depois ia todo mundo para festa. A cada três dias era um feriado”, conta. E se as comemorações religiosas da Igreja deram o empurrão, era - e ainda é - na rua que o espírito festeiro do brasileiro ia encontrando terreno fértil para se manifestar. Um palco maior e democrático, como diz Rosa Magalhães, aberto a todo tipo de comemoração. Da saudação a Iemanjá
na Bahia ao Carnaval do Rio, com seus blocos gigantes, como o Cordão da Bola Preta. A festança de Mangueira também abre espaço para a bandeira da diversidade, saudando uma das manifestações mais alegres e aplaudidas dos últimos tempos: a Parada Gay de São Paulo. “A parada começou como protesto, nos Estados Unidos. Mas hoje é uma grande confraternização. Foi uma luta pela conquista por direitos civis, que já estão conquistados. Agora é celebrar. A diversidade é um direito que as pessoas têm. É respeitar o outro pela opção dele, só isso”, defende a carnavalesca, que aposta no bom humor do setor. “O espírito festivo está em cada um de nós, isso já vem da genética. É o talento brasileiro de fazer festa. Ainda mais aqui na Mangueira, que tem festa todo dia”, afirma Rosa, com toda a razão. Antes mesmo de a Estação Primeira nascer, em 28 de abril de 1928, os bambas festeiros do Morro de Mangueira já ensinavam a levantar poeira.
o enredador da mangueira o título de sócio-benemérito e como benemérito sou membro vitalício do Conselho Deliberativo”, conta, orgulhoso, do alto de seus 74 anos de vida e três décadas de paixão e dedicação à escola. A participação no histórico desfile de 1984 da Supercampeã, quando saiu de gari “na última ala”, e o trabalho no Projeto Cartola, de captação de recursos, aproximaram Osvaldo de mangueirenses históricos, como Dona Neuma. Nascia ali, ainda que de forma inconsciente, o ‘Enredador’. E de um jantar, em 1990, com Dona Neuma e Percival Pires, o Perci, surgiria a sugestão do primeiro enredo, um dos mais aplaudidos da agremiação, ‘Se Todos Fossem Iguais a Você’ (1992), em homenagem ao maestro Tom Jobim.
“No jantar perguntei o que significava o enredo ‘As Três Rendeiras do Universo’ (1991) e eles não foram muito claros. Aí falei que se não sabiam explicar, estavam ferrados. Ao fim do jantar, o Perci perguntou o que poderia ser um bom enredo. Respondi no ato: a magnífica obra de Tom Jobim. Após o desfile de 1991, o Perci me ligou e disse que o próximo enredo seria Tom Jobim e que eu poderia escrever. Eu não tinha ideia de como fazer, mas tinha claro na cabeça que enredo é uma história que se conta como uma ópera em movimento”, recorda. De lá para cá, foram muitas as histórias, ideias e enredos. E agora, após um período de afastamento, o ‘Enredador’ voltou. E mais festeiro do que nunca!
j. c. santana
O jornalismo o acompanhou a vida toda, mas em Mangueira o santista Osvaldo Martins, carioca por opção desde o ano passado, é simplesmente o ‘Enredador’ - como carinhosamente também o chama o cantor Chico Buarque de Holanda, personagem de uma de suas encantadoras e vencedoras histórias. Carismático, Osvaldo chegou à Verde e Rosa de mansinho, em 1983, através do amigo José Maria Monteiro. De lá para cá, já escreveu doze enredos para a Estação Primeira, cinco deles de autoria própria. Se a mão do amigo de infância o levou ao fantástico território Verde e Rosa, a simpatia e a doação do jornalista e escritor à escola conquistaram a nação mangueirense. “Sempre fui um mangueirense voluntário. Mas a Mangueira me honrou com
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Barracão na Cidade do Samba abriga produção de alegorias e fantasias
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ugar em que sonho e realidade se conectam, o barracão localizado na Cidade do Samba, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, guarda alguns dos mais valiosos segredos da Estação Primeira de Mangueira. É uma verdadeira linha de produção de fantasias, alegorias e adereços, com centenas de trabalhadores e equipes especializadas nos mais diversos ofícios. O trabalho para o Carnaval 2014 começou ainda no primeiro semestre, com a desmontagem das alegorias do desfile de 2013 e reaproveitamento de materiais para a escola de samba mirim Mangueira do Amanhã. Uma reforma foi realizada no barracão, a fim de melhorar as condições de trabalho no local. Passo a passo, entraram em cena as equipes de confecção dos protótipos das fantasias, os primeiros ferreiros, e os times dos setores de serralheria, escultura, fibra de vidro, costura, adereços, efeitos especiais e iluminação. Um cronograma foi desenvolvido e rigidamente cumprido pela Comissão de Carnaval da Verde e Rosa, coordenada pelo vice-presidente Aramis dos Santos, que acumula a função de administrador desta
eles fazem a
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festa
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o gigante dos bastidores Dois metros de altura e uma fisionomia contrita escondem o bom humor e o sorriso franco de Robson Saturnino, 31 anos, diretor de barracão da Mangueira. No mês de fevereiro, emplacou 25 dias sem voltar para casa, tamanha dedicação ao ofício. Seu flerte com o Carnaval começou ao fundar um bloco em Nova Iguaçu, que mais tarde virou escola de samba e lhe deu uma vitória como compositor. Em 2008 chegou à Portela, como segurança, mas foi alçado à direção de barracão após exibir um talento natural para a função. Agora estreia no barracão da Estação Primeira, também como diretor. “Estou muito orgulhoso de estar na Mangueira e nesta nova fase da escola. Aqui é tudo mais responsabilidade, mais peso. Não posso errar em nada e isso é um estímulo a mais para mim”, diz Robson.
fotos Diego Mendes
Os sete carros alegóricos e um tripé criados por Rosa Magalhães são feitos no primeiro andar do barracão
incrível fábrica de alegorias. “As equipes são muito competentes e estão muito entusiasmadas. Com um clima bom, o trabalho flui. Estamos preparados para um grande desfile”, afirma, confiante, Titio Aramis, como é carinhosamente chamado por todos. Ao todo, mais de 200 profissionais trabalharam no barracão da Mangueira, sendo 98 somente no ateliê de fantasias – costura e adereços para roupas –, além de 15 no setor de fibra, 9 no de escultura, 10 em ferragem, 7 em carpintaria, 7 em movimentos especiais, 50 em adereços para carros alegóricos e 15 em serviços gerais. o cENÁRIO DA celebração
Estamos preparados para um grande desfile Aramis dos Santos
Rosa Magalhães concebeu sete alegorias e um tripé para contar o enredo ‘A festança brasileira cai no samba da Mangueira’. São os cenários e, mais que isso, cada um deles apresenta um espetáculo à parte, com coreografias ou encenações capazes de levantar a plateia da Marquês de Sapucaí. Os carros alegóricos são construídos e decorados no primeiro andar do barracão. O trabalho começa com as estruturas de ferro, que no Carnaval ganham status de arte em ferro. Afinal, barras de ferro são moldadas segundo o traço imaginado pela carnavalesca, ganhando curvas, nuances e leveza impressionantes, capazes de fazer o espectador esquecer que ali existe uma pesada e complexa estrutura. Em
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BARRACÃO FOI REFORMADO Ao assumir a presidência da Estação Primeira, Chiquinho da Mangueira deparou-se com um barracão em péssimo estado de conservação. Com investimentos de mais de R$ 400 mil reais, o imóvel passou por uma ampla reforma e, em setembro, foi reinaugurado na mesma noite em que a carnavalesca Rosa Magalhães distribuiu os figurinos dos presidentes das alas comerciais da agremiação. Junto com Chiquinho, o vice-presidente – e administrador do barracão – Aramis dos Santos descerrou a placa de inauguração do espaço reformado. Já em 18 de janeiro deste ano, a Verde e Rosa inaugurou, no segundo andar do barracão, uma sala de reuniões exclusiva para as atividades do Conselho Deliberativo e Fiscal. A sala ganhou o nome do baluarte Raymundo de Castro . “Esta homenagem para o Sr. Raymundo é até tardia, por toda sua história e contribuição dada à Mangueira”, disse o presidente.
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fotos Diego Mendes
Fernando Azevedo
seguida, entra a madeira e, mais uma vez, ela transcende a função estrutural. Esculturas produzidas no quarto andar da fábrica são elementos cenográficos que exprimem sofisticação e valorizam as alegorias. A decoração é a cereja do bolo. Envolve aderecistas especializados e experientes que, com minúcia, aplicam acabamentos - que combinam com maestria tecidos, espelhos, pedras, galões e outros tantos materias - indispensáveis para um trabalho de alto nível . Os efeitos especiais também estão presentes no carnaval da Mangueira. Maiores especialistas em movimentos de alegorias no Brasil, sete artistas naturais de Parintins, cidade onde acontece o Festival do Boi Bumbá da Amazônia, tr a b a l h a r a m durante meses na criação dos efeitos do carro alusivo ao festival. E ainda tem a iluminação, com projetos de luz exclusivos para cada cada cenário da festança da Mangueira.
Vestidos a rigor para a noite de gala na Avenida U
ma das maiores características das fantasias concebidas pela carnavalesca Rosa Magalhães é o bom gosto. Seja no uso das cores e dos materiais, seja na extrema qualidade de confecção e acabamento. Para o Carnaval 2014, a profissional criou trinta e cinco alas, além de figurinos para componentes de carros alegóricos, destaques de chão, casais de mestres-
-salas e porta-bandeiras e da rainha de bateria. Ao mesmo tempo em que são ricas em detalhes, as fantasias são de fácil entendimento para o espectador. Junto com alegorias e adereços, elas estão distribuídas por seis setores: ‘As festas da fé’; ‘Festa de Iemanjá- Festa nas Águas’; ‘ Festas juninas no Nordeste’; ‘Festa do Bumba Meu Boi’; ‘Parada Gay’ e ‘Maiores festas do Rio de Janeiro’.
sfilarão Mangueira de da es nt ne po Os com icos, com um carros alegór te se e as al em 35 0 foliões total de 4.50
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DA AMAZÔNIA Não, a fantasia ao lado não é de nenhum arraiá de festa junina. Mas sim de um dos itens obrigatórios do Festival de Parintins, a Sinhazinha da Fazenda, filha do fazendeiro dono do boi. Em sua performance, ela deve saudar o Boi e o público. Esta é a versão do personagem no Boi Garantido (Vermelho). A do Boi Caprichoso é nas cores azul e branco.
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agência o globo/gabriel de paiva
1999
Comissão histórica da Mangueira no enredo ‘O século do samba’
O coreógrafo Carlinhos de Jesus volta a comandar a comissão de frente da Estação Primeira de Mangueira de olho na nota máxima
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amba no pé, surpresa e encantamento. Com a combinação destes três elementos, Carlinhos de Jesus criou sua marca registrada como coreógrafo de comissão de frente. Mas é o quarto elemento desta história, a Estação Primeira de Mangueira, que leva o dançarino a marejar os olhos. “Meu coração é verde e rosa. Senti uma emoção indescritível quando entrei na quadra, no dia de sua reinauguração”, lembra o coreógrafo, afastado da agremiação desde 2008. “O bom filho à casa torna”, gosta de repetir o presidente
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Voltei porque o meu coração é verde e rosa
Carlinhos de Jesus
Chiquinho da Mangueira. “Apenas atendi ao chamado do presidente, quando disse que os verdadeiros mangueirenses tinham que voltar”, conta Carlinhos. Ele gosta de recordar momentos emocionantes de sua história na Estação Primeira. “O mais marcante foi em 1999, com a comissão que levou para a Passarela os grandes nomes da história do samba, como Cartola, Nelson Cavaquinho, Pixinguinha, Noel Rosa, Sinhô, Donga, Clara Nunes, Clementina de Jesus...Foi muito especial. As pessoas choravam ao lon-
go do desfile,” conta, com os olhos rasos d´água. Para 2014, o coreógrafo guarda a sete chaves os segredos da comissão de Mangueira, que terá 15 dançarinos apresentando a escola com a coreografia intitulada ‘O que era’, ‘O que veio’, ‘O que virou’ - A diversidade da festa brasileira. Além da comissão de frente, Carlinhos de Jesus voltou para a Mangueira assumindo também a função de diretor artístico. O profissional é responsável pela performance de oito alas, sendo duas delas coreografadas, como a do Casamento Gay.
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“Trabalhar com a Rosa tem sido um presente�
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RICARDO ALMEIDA
Os defensores da ban
Neta de Xangô da Mangueira é o novo par de Raphael na defesa do pavilhão Verde e Rosa
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quel Jorgea, 29 anos, é uma veterana na Sapucaí. Ao mesmo tempo, uma estreante na Estação Primeira. Apesar disso, o desfile deste ano é uma espécie de volta às raízes mangueirenses da porta-bandeira. Squel é neta do lendário Xangô da Mangueira, considerado um dos maiores - senão o maior - diretores de harmonia de todos os tempos. Toda vez que pisa o chão do Palácio do Samba, a porta-bandeira vai às lágrimas. “Meu avô sentia orgulho de eu ter chegado ao posto através de meu próprio esfor-
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ço e pela qualidade da minha dança”, conta Squel, que durante onze anos foi primeira porta-bandeira da Grande Rio e, em 2013, esteve na Mocidade Independente. “Aqui na Mangueira minha dança mudou. Acredito que é consequência do tratamento que recebo, a comunidade
me incentiva muito, estão confiantes, me protegem, me dão carinho. Nunca tinha vivido algo assim”, emociona-se. “Dançar onde dançou Neide e Mocinha, onde meu avô foi diretor de harmonia, mexe com meu coração, minhas emoções e minha responsabilidade”. O casal Squel e
ndeira nos passos de delegado
diego mendes
Elegância e um riscado que lembra os grandes mestres-salas da história do Carnaval. Assim podemos definir, em síntese, o bailado do mestre-sala Raphael Rodrigues, 29 anos, que neste Carnaval defende pelo quinto desfile consecutivo a bandeira
Raphael começou a se preparar ainda em julho. Próximo ao Carnaval, os ensaios passaram a ser diários, inclusive na Passarela do Samba. Acompanhamento nutricional, exercícios para ganho de resistência e aulas de arte coreográfica completaram a rotina de treinos da dupla.
da Estação Primeira de Mangueira. Raphael considera que a vida lhe deu um presente incomparável: os ensinamentos do inesquecível Mestre Delegado. “Ele me passou alguns pulos do gato e posso dizer que, hoje, meu riscado é 70% do Delegado”, afirma o mestre-sala, que considera a espontaneidade de seus movimentos uma de suas maiores qualidades. A sintonia com a nova parceira Squel Jorgea é evidente nas apresentações da Verde e Rosa. “A Squel é uma pessoa fantástica e uma profissional dedicada. Ela juntou sua vontade de vencer com a minha”, diz. Além dos ensaios, o casal treina duas vezes por semana com a coreógrafa Ana Paula Lessa, da equipe do bailarino Hélio Bejani. “O trabalho que realizamos com Squel e Raphael é chamado de ‘profilaxia do movimento’. Cuidamos da postura, do equilíbrio e da limpeza dos movimentos do casal, preservando, no entanto, a essência da dança de mestre-sala e porta-bandeira”, explica Ana Paula. “Vamos nos apresentar na Passarela do Samba com humildade e muita garra”, garante uma emocionada Squel . O casal vestirá a fantasia batizada de ‘Guarás - Aves Tropicais’, desfilando logo após a comissaõ de frente de Carlinhos de Jesus.
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tem que respeitar meu
No comando da bateria desde 2011, Mestre Ailton Nunes relembra sua trajetória, antecipa novidades e explica porque a batida da Mangueira é única entre as escolas
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FERNANDO AZEVEDO
estre Ailton Nunes é pé quente. Logo na primeira vez que pisou no Sambódromo como integrante da bateria da Estação Primeira, em 1984, foi campeão e supercampeão. Naquele desfile de estreia, ele chegou na concentração, junto com um grupo de garotos do morro, sem saber qual instrumento iria tocar. Apreensão e medo de errar foram substituídos por um misto de espanto e decepção. “Desfilei tocando taco”, conta Ailton. Sim, taco de piso. “No refrão que dizia ‘Laura, que não sai da minha mente’, a molecada batia os tacos três vezes após o ‘Laura’”. Muitos desfiles e aprendizados depois, o músico autodidata nascido no Bu-
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raco Quente se tornaria o principal líder da bateria de Mangueira. Foi em 2011, quando assumiu a função de mestre a apenas 45 dias do Carnaval. “Foi uma dupla emoção, porque eu também fui um dos autores do samba-enredo. Naquele ano, a bateria ganhou todos os prêmios carnavalescos existentes”, relembra. Ailton conta que prepara mais uma atuação inédita para a bateria ‘Tem que respeitar meu tamborim’, nome original que voltou a ser adotado pelo grupo de ritmistas. “Todo o mundo espera uma forma de apresentação surpreendente da nossa bateria. Com simplicidade e ousadia,
buscamos sempre fazer a diferença”, diz, antecipando apenas que a bateria fará bossas com ritmos como os do olodum, Filhos de Gandhy e forró. E o que a Mangueira tem de único em sua batida? “Todas as escolas têm surdos de primeira, segunda e terceira. Nós só temos o surdo de primeira e o surdo mor. Nossas caixas também tocam com uma divisão diferente”, ensina. Mestre Ailton revela ainda que terá triângulos e timbaus no desfile deste ano.
fotos diego mendes
A bateria da Estação Primeira voltou a adotar o tradicional nome ‘Tem que respeitar meu tamborim’
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Evelyn, rainha Reinado à frente da ‘Tem que respeitar meu tamborim’ resgata tradição de escolher sambista da comunidade para o posto
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ríodo de Educação Física. Na Vila Olímpica da Mangueira, Evelyn fez parte dos times de basquete infantil e infanto-juvenil, e estudou inglês no curso oferecido em parceria com a Faetec. Como sambista, tem currículo impecável. Aos 11 anos, foi a passista mais jovem da história da escola. Antes, fora passista e rainha da bateria da Mangueira do
Ser rainha da bateria da Estação Primeira sempre foi um sonho, acalentado desde a infância. Talvez o destino tenha conspirado para isso mesmo antes, quando Evelyn percorreu a Sapucaí ainda no ventre da mãe, então passista da Verde e Rosa e grávida da futura majestade. Em 25 de janeiro deste ano, Evelyn foi coroada rainha por Neide, madrinha da bateria da Verde e Rosa. “Vou honrar minhas raízes mangueirenses na Avenida”, comprometeu-se a sambista. do azev fernan
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Amanhã. Foi musa da Verde e Rosa de 2010 a 2012, ano em que venceu o concurso Musa do Caldeirão do Huck, na TV Globo. Em 2013, foi eleita Rainha do Carnaval do Rio de Janeiro. Majestade do povo, Evelyn Bastos traz consigo um verdadeiro tesouro, à altura da realeza do cargo: muito samba no pé, que só quem nasce em Mangueira pode ter.
E a RAIZ VESTIU A COROA
edo
Nação Mangueirense tem muito orgulho de sua Rainha da Bateria. Evelyn Bastos, 20 anos, é nascida e criada no morro de Mangueira, onde vive até hoje. Passou pela creche da comunidade, estudou na escola municipal Tia Neuma, localizada na Vila Olímpica e, por desempenho, ganhou uma bolsa de estudos no Colégio Santa Mônica, parceiro dos projetos sociais da Verde e Rosa, até o pré vestibular. Estudante zelosa, a menina retribuiu à altura. No vestibular, ela foi aprovada para três universidades públicas: UFRJ, UFF e UERJ. Escolheu a Universidade do Estado do Rio de Janeiro - curiosamente, dali se avista o morro - onde cursa o terceiro pe-
Evelyn recebeu a faixa de rainha das mãos de Neide, madrinha da bateria da Mangueira
do povo Vou honrar minhas raĂzes
DIEGO MENDES
Evelyn Bastos
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#eu quero
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O desfile de 2014 é o décimo sexto de Luizito na Estação Primeira e o sétimo como intérprete oficial
ver quem
Compositores criam samba-enredo apontado pela crítica especializada como um dos melhores do ano
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encer uma disputa de samba-enredo é bom, mas vencer samba-enredo na Estação Primeira é muito melhor, costumam dizer os compositores. A escola de samba mais popular do planeta costuma ver suas obras eternizadas não só nos desfiles, mas também na boca do povo, algumas vezes mesmo quando a agremiação não classificou-se entre as campeãs. Que o digam então Lequinho, Júnior Fionda, Paulinho de Carvalho, Igor Leal e Flavinho Horta. Estes são os autores do samba-enredo ‘A festança brasileira cai no samba da Mangueira’, com o qual o quinteto conquistou a vitória na disputa de sambas. Quatro deles - Lequinho, Júnior Fionda, Paulinho de Carvalho e Igor Leal - são vitoriosos pelo terceiro ano seguido. Compositores tarimbados, eles já venceram o concurso em outros anos, com parceiros diferentes. Lequinho já foi campeão oito vezes, Júnior Fiona, sete, e Igor Leal, cinco. A obra da Verde e Rosa para 2014 caiu no gosto popular e da crítica especializada, que
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Júnior, Igor (com cavaquinho), Paulinho e Lequinho: quarteto é tricampeão
aponta o samba-enredo como um dos mais bonitos e empolgantes da atual temporada carnavalesca. “O samba da Mangueira tem tudo para explodir na Marquês de Sapucaí. A letra é poética e os refrões, muito fortes. É um samba com a cara da Estação Primeira”, afirma Lequinho que, no mesmo dia da vitória do grupo, foi pai de um menino. “A letra conta bem o enredo e combina com este novo momento que a Estação Primeira está vivendo, com auto-estima alta e desejo de ser novamente campeã”, acredita Júnior Fionda. Com um ritmo envolvente, o samba faz desfilar, em trinta e três versos, o enredo de Osavaldo Martins e Rosa Magalhães. Durante a disputa na quadra, o samba foi se consolidando como campeão e conquistando os segmentos da Verde e Rosa etapa por etapa. Um dos fatores que fez a diferença foi a parte inicial da composição, que mexe com os brios do mangueirense, ao apresentar uma comunidade com garra, que vem desfilar seu enredo através de uma prece em forma de samba.
FOTOS Diego Mendes
a voz do morro A maior sensação e a maior honra que já tive foi cantar ao lado de Jamelão Luizito
“Eu sou parte desse morro”, assegura, com muita emoção, José Luiz Couto Pereira da Silva, o Luizito, 59 anos, intérprete oficial da Estação Primeira. O cantor estreou na escola em 1998, ao lado de Jamelão e sentindo o sabor da vitória. Naquele ano, com o enredo ‘Chico Buarque da Mangueira’, a Verde e Rosa foi campeã, após onze anos de jejum de títulos. Este ano, será seu sétimo Carnaval como intérprete oficial e o décimo sexto desfile pela escola do coração. “A maior sensação que eu já tive foi cantar ao lado de Jamelão, o maior intérprete de samba-enredo de todos os tempos. E tenho a honra de poder cantar no palco que já foi dele e que sempre será, porque ele é insubtituível”.
Comunidade Comissão de Carnaval experiente e componente comprometido são trunfos para Harmonia, Evolução e Conjunto
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Mangueira tem feito o dever de casa para realizar um desfile inesquecível. Um de seus principais trunfos é a experiente Comissão de Carnaval da agremiação, que tem como coordenador o vice-presidente Aramis dos Santos. Em sua composição, possui um time de craques, como os ex-presidentes Álvaro José Caetano, o Alvinho, e Elmo José dos Santos, além de
Alvinho (acima)e Amauri (ao lado) são da Comissão de Carnaval; Edinho é da Harmonia
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Edson Marcos, Amauri Wanzeler, Moacyr Barreto e Elias Riche. Todos os detalhes inerentes à preparação da escola para o desfile na Sapucaí passam pela comissão: do acompanhamento dos trabalhos no barracão, aos ensaios de canto e ensaios técnicos na comunidade (na rua Visconde de Niterói, aos domingos, desde janeiro), e na Marquês de Sapucaí (este ano a Mangueira levou quase três mil componentes para a Passarela). “Temos que discutir cada detalhe de toda escola, para que o Conjunto da Mangueira seja vitorioso, como consequência do bom desempenho em todos os quesitos”, explica Edson Marcos, benemérito da Mangueira e integrante da Comissão. Determinante para um conjunto nota dez são os quesitos Harmonia e Evolução. O canto da escola, o desempenho do intérprete e sua intera-
ção com a bateria - que, por sua vez, deve sustentar o andamento, manter sua essência e, ao mesmo tempo, ser ousada e criativa - são elementos que estão intimamente interligados e, de sua sintonia e perfeição, dependem a nota dez em Harmonia. A boa Evolução da escola, desfilando sem abrir buracos entre as alas e com componentes cantando e dançando com naturalidade e leveza, também é o resultado da harmonia entre todos estes elementos. “O canto da escola está cem por cento e o componente de nossa comunidade está totalmente comprometido”, garante Edson Góes, o Edinho, 67 anos de idade, vice-presidente de Evolução e Harmonia da Estação Primeira. “Xangô da Mangueira, o grande mestre da harmonia, foi meu chefe. Eu aprendi muito com ele e também com Delegado e com o Elmo, que foi diretor de harmonia por muito tempo. Eles sempre me deram um respaldo muito grande”, conta. Determinante para o desempenho da Estação Primeira são as alas
do Fernando Azeve
e unida
da comunidade. Neste quesito, nota dez em compromisso e desempenho. “O sentimento da comunidade é de alegria, por estar sendo tratada com carinho e respeito. A comunidade se sente honrada em representar sua escola”, afirma Guanayra Firmino, vice-presidente de Comunidade. O grupo dirigido por Guanayra Firmino conta com trinta e sete pessoas (na foto central) para coordenar 1.280 componentes das alas comunitárias. “O resultado do trabalho é o que todos estão podendo ver aí: muita garra, dedicação e canto forte, para chegar na Avenida dizendo que a Mangueira chegou”, diz Guanayra. Após tantos e tão intensos treinos, o diretor de harmonia entusiasma-se: “estamos bem preparados para levantar este caneco mais uma vez”.
No centro, Guanayra Firmino com equipe da Comunidade; acima, Edinho Góes
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4º SETOR – FESTA DO BUMBA MEU BOI
O roteiro do
Desfile
Data: Domingo, 02 de março Horário: 4ª Escola, 00h15min Concentração: Balança Mas Não Cai
Ala 21 – BUMBA MEU BOI 2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira Matheus Olivério e Débora Almeida
A TRADIÇÃO DO BUMBA MEU BOI Ala 22 – BRINCANTE DO BUMBÁ MEU BOI Ala 23 – SINHAZINHA DA FAZENDA – BOI CAPRICHOSO Ala 24 – TRIBO INDÍGENA – BOI CAPRICHOSO Ala 25 – SINHAZINHA DA FAZENDA – BOI GARANTIDO Ala 26 – TRIBO INDÍGENA – BOI
GARANTIDO Musas
CUNHÃ PORANGA DO BOI CAPRICHOSO E CUNHÃ PORANGA DO BOI GARANTIDO
Alexandra Ricetti (azul) – Juliana Carvalho (vermelho) Alegoria 05
RITUAL DA PAJELANÇA NA FESTA DO BOI DE PARINTINS
5º SETOR – PARADA GAY CASAMENTO GAY ARCO-ÍRIS DA DIVERSIDADE ARAUTO DA DIVERSIDADE CARMEM MIRANDAÍCONE DA FOLIA GAY Ala 27 Ala 28 ALA 29 Ala 30
– – – –
Musas
ORGULHO E DIREITOS LGBT
Valquíria Ribeiro – Michelle Silva e Simone Parentes Alegoria 06
SAINDO DO ARMÁRIO
6º SETOR – MAIORES FESTAS DO RIO DE JANEIRO Ala 31 – RÉVEILLON DO RIO DE JANEIRO Ala 32 – PORTA ESTANDARTE DO CORDÃO DA
BOLA PRETA Ala 33 – FOLIÃO DO CORDÃO DA BOLA PRETA Ala 33 A – MALANDRINHO
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E NEGA MALUCA
Masculino e Feminino 3º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira Matheus Freitas e Victória Vianna
EXPLOSÃO EM VERDE E ROSA Ala 34 – PIERRÔ – O ETERNO FOLIÃO Ala 35 – PALHAÇO
Musas
FOLIAS DO CARNAVAL
Juliana Clara – Andressa Veríssimo e Luciana Faustine Alegoria 07
CARROSSEL DA FOLIA
Cantora ROSEMARY Índia Mangueirense Alegoria 01 Abre-Alas A FESTA DO DESCOBRIMENTO
3º SETOR – FESTAS JUNINAS NO NORDESTE
Índios Tupiniquins
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira Raphael Rodrigues e Squel Jorgea GUARÁS - AVES TROPICAIS
Comissão de Frente O QUE ERA. O VEIO. O QUE VIROU... A diversidade da festa brasileira Coreógrafo: Carlinhos de Jesus
1º SETOR - AS FESTAS DA FÉ 2º SETOR – FESTA DE IEMANJÁ/FESTA NAS ÁGUAS
Ala 14 – BACAMARTEIROS Ala 14 A – ARTISTAS E PERSONALIDADES Ala 15 – Compositores SANFONEIROS Ala 08 – ESTRELA DO MAR ALCIONE MARROM Ala 09 – Baianinhas Personalidade em Verde e Rosa SEREIAS Tripé Ala 10 – Baianas MAMULENGOS O MAR Ala 16 – Crianças Ala 11 – BARQUINHO DAS MAMULENGOS OFERENDAS Ala 17 – Quadrilha do Sampaio Ala 12 – FLORES PARA IEMANJÁ QUADRILHA Ala 13 – IEMANJÁ Rainha da Bateria Musas Evelyn Bastos IEMANJÁ MUSA DA BANDA DE PÍFANOS Gláucia Bastos – Fernanda Oliveira Ala 18 – Bateria BANDA DE PÍFANOS e Raphaela Bastos Ala19 – Passistas Alegoria 03 FOLIA NORDESTINA DIA DE FESTA NO MAR, Feminino e Masculino HOMENAGEM A IEMANJÁ Ala 20 – FESTA DE SÃO JOÃO Musas CAIPIRAS Claudiene Steves – Amanda Mattos e Flávia dos Santos Alegoria 04 FESTA JUNINA NO NORDESTE (CAMPINA GRANDE)
Ala 01 – CAVALEIROS DA CAVALHADA Ala 02 – GUERREIROS DA CAVALHADA Alas 03 – CUCURUS – PALHAÇOS DA CAVALHADA Destaque de Chão REI E RAINHA DO CONGO (CASAL) Pagens DO REI E RAINHA DO CONGO Ala 04 – CORTE DO REI DO CONGO Ala 05 – Participantes da Festa de Coroação do Rei Do Congo VELHA GUARDA Destaque de Chão IMPERADOR DO DIVINO Ala 06 – BANDEIRA DO DIVINO Ala 07 – ANJO DO CORTEJO DO DIVINO Musas ESPLENDOR DO BARRACO Renata Santos – Ana Cristina e Walkiria Leroy Alegoria 02 FESTAS DO DIVINO AO POPULAR, DO SAGRADO AO PROFANO
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Carnaval. Energia que inspira a gente.
Mais do que uma festa, o Carnaval é uma tradição que conta a história do nosso país e da nossa gente. Por isso, nós patrocinamos o Samba Carioca, Patrimônio Cultural do Brasil. Gente. É o que inspira a gente.
Difícil não aprender algo sobre o Brasil em uma festa com tantas escolas. —
SHOW DE VERAO DA MANGUEIRA
A ‘Marrom’ Alcione levou o público do Vivo Rio ao delírio
Escola voltou a ter espetáculo com grandes nomes da MPB
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epois de cinco anos de jejum, a Estação Primeira voltou a realizar um de seus projetos mais conhecidos, o Show de Verão da Mangueira. Alguns dos maiores cantores do cenário musical brasileiro brindaram o público com um espetáculo inesquecível, no dia 19 de fevereiro, no Rio de Janeiro e, no dia 20, em São Paulo. O show foi aberto com um número do dançarino Carlinhos de Jesus, que abriu passagem para Nelson Sargento, Leci Brandão, Alcione, Péricles, Sombra, Lenine, Chico Buarque de Holanda, a portuguesa Carminha e Rosemary. Um dos momentos mais emo ionates da noite foi a homenagem que a mangueirense Alcione fez a Emilio Santiago, outro ilustre mangueirense, falecido ano passado. A plateia veio junto, cantando, em uníssono, ‘Saigon’. “Quero fazer uma homenagem a uma das maiores vozes que o Brasil já teve: Emílio Santiago”, disse a Marrom, no Vivo Rio.
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FOTOs diego mendes
Dedico essa música (Saigon) a uma das maiores vozes do Brasil: Emílio Santiago Alcione
icles, Nelson Chico Buarque, Carminha, Pér foram us Jes de Sargento e Carlinhos s algumas das atraçõe
genilson araújo
Teu cenario e uma beleza
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Palácio do Samba é o mais real dos reinos imaginários. Lá todo mundo é feliz para sempre, em uma noite de samba, ou numa tarde de feijoada. Inaugurado em abril de 1972, o Palácio foi concebido para integrar-se ao morro, com o palanque da bateria construído no alto do fundo da quadra, de modo a se avistar os barra-
cos. O solo sagrado em que bailaram Delegado e Mocinha, entretanto, andava mal tratado e até um pouco triste, com o afastamento de muitos mangueirenses apaixonados. No ano passado, a quadra chegou a ser interditada pelas autoridades.Até que, em 10 de agosto de 2013, após três meses de reformas, o Palácio do Samba foi reinaugurado.
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a reinauguração do Palácio do Samba, as baianas da Estação Primeira lavaram o chão com água de cheiro, do mar e do rio. Uma missa foi rezada para abençoar a festança que se seguiu, com a tradicional feijoada, embalada por muito samba de raiz e a bateria ‘Tem que respeitar meu tamborim’. Pela primeira vez desde a década de 1970, as obras realizadas foram estruturais, com modernização de toda infraestrutura elétrica e hidráulica. Atendendo às normas de segurança, uma saída de emergência foi aberta na lateral - para isso, foi preciso comprar a antiga casa do saudoso Mestre Delegado que, demolida, deu ampla passagem para uma rua da comunidade - e as roletas da entrada deixaram de ser fixas, sendo substituídas por removíveis. Banheiros, camarotes, refrigeração e bares foram totalmente reformulados, melhorando o conforto e a qualidade dos serviços. O teto retrátil, inaugurado em julho de 2003 na gestão de Álvaro Caetano, o Alvinho, e há anos enguiçado, também foi recuperado. O Palácio voltou a ter sua quadra banhada pela luz do luar e a proporcionar a visão do morro que lhe dá a essência e alimenta o espírito da Verde e Rosa. Naquela tarde de sábado, foi possível entender porque tantos mangueirenses beijaram o chão da quadra ao sentirem-se, novamente, a nobreza do Carnaval. FEIJOADA VERDE E ROSA A quadra tem uma programação intensa ao longo do ano. Todo segundo sábado do mês, acontece a tradicional feijoada. Pagode e samba de raiz abrem a tarde, seguidos de atrações como Alcione, Neguinho da Beija-Flor, Reinaldo (o ‘Príncipe do pagode’), Monarco e Noca da Portela, entre outros. No comando das panelas está o premiado chef Raul César, 30 anos, ganhador de três prêmios Rio Gastronomia (do jornal O Globo) – campeão em 2011 e 2012, representando a Mangueira e vice no ano seguinte. Atualmente, Raul é o mais disputado cozinheiro de feijoadas das escolas de samba do Rio.
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fernando azevedo
Quadra Alcione fez shows nas feijoadas de outubro e dezembro. A quadra foi também palco do casamento de dois sambistas da comunidade de Mangueira
SAMBA NO PÉ Os ensaios abertos ao público acontecem sempre aos sábados, a partir de 22h. O visitante é recebido ao som de um grupo de pagode e, à meia-noite em ponto, a bateria de Mestre Ailton Nunes começa a sacudir o Palácio do Samba. No centro da quadra, sambam baianas, velha guarda, departamento feminino, baluartes e componentes da escola. Tudo embalado pela voz do intérprete oficial da agremiação, Luizito, que entoa os mais belos sambas-enredos da história da Estação Primeira. O casal de mestre-sala e porta-bandeira baila e reverencia o pavilhão Verde e Rosa. Passistas femininas e masculinos convidam o público para sambar junto. Quem não sabe, aprende ou apenas se diverte. Turistas de toda parte do mundo e do Brasilquase 10% do público da quadra - acabam na roda com os passistas. No cardápio, o frequentador conta com variedade de cervejas, caipirinhas, refrigerantes, água de coco e petiscos como empada, coxinha, quibe, batata frita e linguiça. E a festança segue, animada, madrugada adentro.
Serviço
Quadra da Estação Primeira de Mangueira Av. Visconde de Niterói, 1.072 – Mangueira - Cep: 20943-001 Telefone: (21) 2567-3419 Site: www.mangueira.com.br *Confira a programação no site da escola
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O mundo cabe em Mangueira A quadra da Estação Primeira é a que mais recebe turistas e estrangeiros apaixonados como Saaya, que veio do Japão para ser passista
Verde e Rosa é a mais internacional das escolas de samba Aydano André Motta
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uri Gagarin esteve lá no alto e voltou para informar que a Terra é azul – mas ele não deve ter observado direito. Era 1961, ano de título da Mangueira (supercampeonato, aliás), o do enredo “Reminiscências do Rio antigo”, do samba de Hélio Turco, Pelado e Cícero. Tivesse olhado pela escotilha abençoada da paixão, o russo enxergaria o planeta num inevitável tom verde e rosa. Porque o amor pela Estação Primeira tem o tamanho do mundo. O sentimento consolidou a mais internacional das nossas escolas de samba e fez da Mangueira um dos emblemas do Brasil para além de nossas fronteiras. Uma prova entre tantas outras está nas cores: em qualquer canto que o verde aparecer colado ao rosa, o coração do observador baterá vigoroso, no ritmo único gerado no morro dos bambas. Não falha. Graças a Cartola, o maior de todos os sambistas, mentor da improvável combinação, que o tempo
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cuidou de transformar em tradução ainda na pré temporada carnavalesca, cromática de força, paixão e perícia numa viagem só de ida. Com força e carnavalescas. O inventor da globalicoragem concentradas em seu 1,45m zação mangueirense que se confirma e 38 quilos, a japonesa Saaya Suga, 23 ano sim, ano também. Como em anos, bateu na porta do Palácio do 2013, quando a corte da folia – Rei Samba com o abusado sonho de ser Momo, rainha e duas prinpassista. O teste, com a coorcesas – foi ao Japão, numa denadora da ala (e PhD no asviagem oficial. Perto do fim sunto), Queila Mara, deu num da jornada, na visita a uma sucesso improvável: cheia de escola de Tóquio, os brasilei- A arquitetura da ritmo, a visitante ganhou vaga favela é uma ros foram recebidos por uma no grupo-show da escola – esminiescola, com casal de pécie de olimpo do ziriguidum obra de arte mestre-sala e porta-bandeira, –, e hoje desfila seu tufão nos Saaya Suga passistas e uma bateria, que miniquadris nos ensaios de sátocava à perfeição um samba bado. Para se comunicar, Saaya da Mangueira (‘Brazil com se vale da universal língua das Z é pra cabra da peste, Brasil cabrochas – porque de Português só com S é nação do Nordeste’, campeão aprendeu algumas palavras ouvinem 2002). A rainha do carnaval, Evedo os sambas mangueirenses, pela lyn Bastos – atual ocupante do cargo à internet, desde Saitama, a cidade do frente dos ritmistas da Verde e Rosa –, Japão onde mora. Agora, materialisambou rasgado, como convém, para za o aforismo de Jamelão, feliz como retribuir a homenagem. Do lado de cá pinto no lixo. “A arquitetura da favela do planeta visto por Gagarin, não paé uma verdadeira obra de arte”, derraram de chegar visitantes apaixonados, ma-se. “Amo a Mangueira; estou aqui Uma delas desembarcou em outubro, só para sambar”.
Mandela, baluarte da Estacao Primeira Roberto Stuckert Filho/ag o globo
Em1998, líder sulafricano foi o rei da verde e rosa da Mangueira
Mandela disse conhecer e admirar a Verde e Rosa
Fernando Molica
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em que respeitar. Veterano na luta do bem contra o mal, Nelson Mandela, então presidente da África do Sul, aplaudiu de pé o grupo de artistas da Mangueira que foi recepcioná-lo, em 1998, nos jardins do Palácio da Alvorada. Mais: o homem que ficara quase 28 anos preso por combater o regime racista de seu país, conhecia e admirava o sagrado celeiro da Verde e Rosa. Na festa, reverenciou e beijou a bandeira mangueirense. “Ele contou que, ainda na juventude, ouvira falar na Mangueira. Sabia de Cartola, de Jamelão, conhecia o nosso trabalho social. Ao conversar conosco, disse que era uma escola de raiz, do povo”, relembra Elmo dos Santos, nosso então presidente. A delegação, que esteve em Brasília a convite do então presidente Fernando Henrique Cardoso, foi integrada por
ao Brasil, Mandela ficou apenas três cerca de 30 pessoas, entre passistas, ritdias entre nós. Responsável por dar mistas, mestre-sala e porta-bandeira. as boas-vindas ao visitante, o presiLá também estavam representantes dente da Mangueira destacou que da nobreza mangueirense, como Dona o líder sulafricano era um guerreiro, Neuma e Dona Zica. referência de luta pela liberdade. “Ele Mandela, com 80 anos, visitava o botou a mão no coração, se curvou, país pela segunda vez. Na primeira, agradeceu”, conta Elmo. em 1991, ano seguinte à sua libertaNa homenagem, a Mangueira ção, cumpriu uma agenda pesada, foi cantou alguns de seus sambas-enreaplaudido por 40 mil pessoas na Praça dos, entre eles, um dos mais bonitos de da Apoteose. Afirmou que se sentia sua história, ‘Cem anos de liberdade, em casa ao ver os rostos dos brasileirealidade ou ilusão’ (de Hélio Turco, ros. “A mistura da população é como Jurandir e Alvinho). Apresentado no a nossa”. A overdose de carinho e a Carnaval de 1988, o samba agenda pesada - visitou cinco parecia ter sido feito de encocapitais em cinco dias - quase menda para a recepção a Manderrubaram o velho lutador. Brincando, ele disse que te- Mandela disse que dela. Falava do negro “livre do da senzala” e “preso na meu ser morto por conta de era uma escola de açoite miséria da favela”; e da luta tanto amor. raiz, do povo “que tanto sangue derramou Sete anos depois, os comcontra o preconceito racial”. promissos foram reduzidos. Elmo José dos Santos Naquele dia, Mandela, herói Acompanhado de Graça da humanidade, foi o rei da Machel, com quem se casaverde e rosa da Mangueira. ra dois anos antes de chegar
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Alvorada
la no morro Jean claudio santana fotos diego mendes
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ão cinco horas e cinquenta e cinco minutos no horário de verão no Rio de Janeiro. A gente simples do morro de Mangueira começa a surgir das vielas da favela e, entre um e outro bocejo, caminha para mais um dia de labuta. O pedreiro preferido de Tia Suluca, Presidente de Honra da Ala das Baianas, já coa seu café, que de tão perfumado vai conquistando o ar da principal rua do Buraco Quente. As estrelas parecem reluzir ainda mais em seu brilho derradeiro, disputando com o fotógrafo quem ilumina melhor o rosto da veterana sambista. Mas o vencedor não será nem um nem outro, será o sol, que lentamente pede passagem. Outro baluarte vem chegando, semblante acolhedor e olhar de compositor devotado. É Tantinho, eterno menino do morro de Mangueira, com alma lapidada ao som de Cartola, Carlos Cachaça e Padeirinho. O laranja começa a
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Poliana Cipriano
8 anos, rainha da bateria da Escola de Samba Mirim Mangueira do Amanh達
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Tia Suluca
87 anos, baluarte, Presidente de Honra da Ala das Baianas
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aquarelar o roxo e o azul do céu. É a natureza sorrindo, tingindo, tingindo. E inspira o sorriso de Poliana, tão puro quanto o samba que ela traz nos pezinhos e que fez o Palácio do Samba tremer ao anúncio de seu reinado à frente da bateria da Mangueira do Amanhã. No último desfile da Estação Primeira, ela chorava diante da TV vendo a Verde e Rosa desfilar. Agora está aqui, bebendo na mesma fonte de inspiração dos poetas de Alvorada, sambando miudinho na cadência do tamborim do mestre Tantinho. O bom da alvorada é que ela parece durar bem mais do que o relógio registra. O olhar vai além das cores do céu, beija o passado, dá as mãos ao futuro. Experiência e ingenuidade se igualam. Baluartes e criança caminham até o mirante no alto do morro. Ninguém sente mais tristeza, ninguém sente dissabor.
Tantinho 67 anos, baluarte, compositor
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Agência Globo/William de Moura
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acervo / vila olímpica
CAPACITAÇÃO
Lado a lado com o crescimento do esporte, há 25 anos a Mangueira vem transformando vidas e construindo cidadãos. O Círculo dos Amigos do Menino Patrulheiro – CAMP Mangueira, oferece treinamento profissional para jovens de 16 a 22 anos que já concluíram o Ensino Médio. Outro projeto campeão é o Instituto Profissionalizante Mangueira. São mais de mil atendimentos por ano, formando jovens entre 17 e 24 anos, através dos programas: Capacitação para a Empregabilidade e Espaço Beleza. Em 2013 a Mangueira firmou uma parceria com a Fundação de Apoio à Escola Técnica – FAETEC e passou a oferecer cursos técnicos que visam a empregabilidade de jovens no mercado de trabalho.
SAÚDE
O Centro Municipal de Saúde Tia Alice e a Clínica da Família Dona Zica atendem o Programa Social da Mangueira na área da Saúde. Além do serviço ambulatorial oferecem equipes de saúde da família e visita domiciliar.
CULTURA
Além da escola de samba mirim Mangueira do Amanhã, compõe a área cultural da Mangueira, desde 1995, o projeto Dançando para não Dançar. Além das aulas de dança, as crianças tem aulas de inglês, alemão e reforço escolar. O projeto é apadrinhado pela bailarina Ana Botafogo e pelo cineasta Walter Salles.
INCLUSÃO SOCIAL
O Projeto Vidro é Cidadania funciona desde 2002 transformando vidro reciclado em cestas básicas para famíliascarentesdaMangueira.Éumaparceria com a empresa Owens Illinois.
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A ginástica rítmica é uma das atividades mais concorridas da Vila Olímpica
Érica de souza da mangueira GASPAR NÓBREGA/DIVULGAÇÃO CBB
Érika de Souza começou a jogar basquete na Vila Olímpica da Mangueira, aos 15 anos, e é um contundente exemplo de como o investimento em esporte pode mudar a vida de uma pessoa. Pivô da Seleção Brasileira de Basquete, a atleta estreou na WNBA (Liga Mundial de Basquete Feminino dos Estados Unidos) em 2002, pelo Los Angeles Sparks. Em 2008, chegou ao Atlanta Dream e, em 2012, a jogadora foi escolhida como uma das cinco melhores do mundo pela Fiba. Em 2011, Érika já tinha sido eleita a melhor jogadora da Copa América, disputada na Colômbia. Ao ser convocada pela primeira vez para o All-Star Game, em 2009, a carioca tornou-se apenas a segunda brasileira a participar da partida que reúne os grandes destaques da temporada. Ano passado, ela foi convocada para o AllStar Game da WNBA pela segunda vez e recebeu indicação como melhor jogadora da temporada regular. Em outubro último, Érika visitou a Vila Olímpica da Mangueira, onde tudo começou. Érika é pivô da Seleção Brasileira
O curso é de alto nível técnico e ensina exatamente o que iremos precisar Deividy da Silva
A Mangueira está nos preparando para um futuro melhor Jacira Coutinho
Através do esporte já conheci vários lugares , além de ter bolsas de estudo Thayna Silva
no topo do ranking Jovens realizam sonhos e mudam suas vidas nos projetos esportivos e profissionais Quando decidiu, em 2007, se inscrever no curso de construção civil do Instituto Profissionalizante Mangueira, o jovem Deividy Nunes da Silva, então com dezesseis anos de idade, não poderia imaginar o quanto sua vida iria mudar. Seu esforço e dedicação em um curso com alto nível de exigência foram recompensados em forma de um prêmio que lhe apontaria novos caminhos . O adolescente foi campeão da Olimpíada do Conhecimento, promovida pelo Senai, em três categorias: escolar, estadual e nacional. Hoje com 23 anos, Deividy - que já foi instrutor do mesmo curso que o formou, na Mangueira - é professor no Senai e se orgulha de encontrar no mercado de trabalho vários alunos formados por ele. “Tudo que sei hoje eu aprendi no Instituto Profissionalizante Mangueira. O curso é de alto nível técnico e ensina exatamente o que iremos precisar para atuar no mercado. A Mangueira não forma peões e sim profissionais gabaritados”, destacou Deividy. As jovens promessas do atletismo Thayna Silva e Jacira Coutinho sonham representar o Brasil nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016. Aos 18 anos, Thayna é uma apaixonada pelo esporte. A jovem começou no Projeto Olímpico da Mangueira aos 12 anos, incentivada pelas amigas que já praticavam atividades esportivas na Vila Olímpica. Ela gostou tanto que passou a dedicar-se com empenho, acabando por tornar-se um dos destaques da equipe. Junto com a amiga Jacira, de 19 anos, com quem costumar treinar, Thayna representa a Mangueira nas competições de Cross Country e participa das provas de dois mil e três mil metros com obstáculos . “A oportunidade que temos aqui dificilmente encontraríamos lá fora. A Mangueira não é só esporte. Ela está nos preparando para conquistarmos um futuro melhor” , diz Jacira .
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Quesito inclusao
Nota 10 Pioneira na iniciativa, Vila Olímpica promove Jogos Especiais da Mangueira
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Programa Social da Mangueira teve mais um capítulo especial nos dias 28 e 29 de novembro de 2013. Na ocasião, foram realizados os Jogos Especiais da Mangueira. Em sua 13ª edição, foram realizadas atividades esportivas, jogos, brincadeiras, música e dança, tudo destinado a pessoas com deficiência. O evento reuniu cerca de 2500 pessoas, vindas de cinquenta instituições convidadas, a exemplo da Pestalozzi de Niterói, da Associação de Assistência do Excepcional, das Vilas Olímpicas da Prefeitura do Rio, do Centro de Reabilitação e Reintegração Anna Freud - CREART, da Escola Especial Favo de Mel, de várias unidades da APAE, entre outras. Cerca de 200 profissionais atuaram na realização dos Jogos, que tiveram as modalidades de atletismo, natação, vôlei especial, futebol, cabo de guerra, habilidades motoras e dominó. Todos os participantes receberam medalhas de participação, camisas e brindes do evento. Todas as instituições participantes também receberam troféus. Os Jogos Especiais da Mangueira podem ser considerados como uma espécie de Olimpíada da inclusão, ao dar passos decisivos para a promoção e atenção integral às crianças, adolescentes e adultos com deficiência física ou mental, através de uma proposta que visa desenvolver atividades terapêuticas, esportivas, educacionais e sociais.
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Camp Mangueira (Círculo dos Amigos do Menino Patrulheiro) Programa de capacitação de jovens entre16 e 22 anos que estão cursando ou já concluíram o Ensino Médio Matrículas 704 Formados 542 * Encaminhados ao mercado: 778 Novas empresas parceiras em 2013: 25 (de um total de 130) *15% efetivados pela empresa parceira (2013)
fotos Diego Mendes E ARQUIVO VILA OLÍMPICA
resultados em 2013 O projeto Olímpico da Mangueira atendeu 2.821 crianças e adolescentes em modalidades esportivas.
Atletismo:
488
Basquete:
246
Ginástica Rítmica:
196
Futebol:
507
Futsal:
350
PPD:
110
Natação Infantil:
568
Boxe:
87
Levantamento de peso:
96
Badminton:
39
Futsal Feminino:
45
Handebol:
49
Voleibol:
40
Total:
2.821
ESPORTES PARA ADULTOS E IDOSOS
fotos acervo vila olímpica
Hidroginástica: 827 Ginástica e 161 Alongamento: Dança Sênior: 64 Dança de Salão: 212 Ritmos: 186 Total: 1.450 INSTITUTO PROFISSIONALIZANTE MANGUEIRA Módulo Instalador ( elétrica, marcenaria, encanador) Construção Civil Espaço Beleza I ( escova, corte, colorimetria,química) Espaço Beleza II ( depilação,manicure e maquiagem social / artística) Abril a Junho /2013 – Curso para adulto desempregado Outubro a Dezembro/2013 -Parceria SESI ( Inglês, Espanhol e Maquiagem) Janeiro a Dezembro /2013 (ex-alunos) Total:
143 75 73 75 32 40 657 1.095
fotos Divulgação Mangueira/Faetec
Em dezembro aconteceu a formatura, com entrega de diplomas aos alunos qualificados
Palacio do samba e da cidadania Quadra da Verde e Rosa voltou a oferecer cursos profissionalizantes através de parceria com a Faetec
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arnaval, inclusão social e cidadania são indissociáveis na Estação Primeira. E voltaram a desfilar juntos em 2013, quando a escola resgatou a prática de oferecer capacitação profissional em sua quadra. Tudo só foi possível devido à parceria com a Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro), que ofertou 34 cursos, todos gratuitos, nas áreas de moda, turismo, beleza e estética, gastronomia, informática, desenvolvimento web, idiomas, administração e eletrotécnica. As aulas beneficiaram 1.700 alunos, formados entre agosto e dezembro de 2013 e aconteceram na quadra e em mais dois locais: a Vila Olímpica e o Cetep Mangueira (Centro de Educação Tecnológica e Profissionalizante). Além de atender alunos inician-
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tes, os cursos também serviram para aperfeiçoar conhecimentos e técnicas de muitos que já eram donos ou prestadores de serviços em pequenos negócios na região do entorno da Mangueira, como salões de beleza. Alguns alunos das turmas de bordado e customização também já comercializam sua produção. “A Mangueira retomou seu projeto social neste ano de 2013, oferecendo a maior oferta de vagas em cursos profissionalizantes de sua história, o que só foi possível graças à parceria com a Faetec. Retomamos nosso compromisso social e estamos gerando oportunidades para que nossos alunos entrem no mercado de trabalho e se sintam valorizados como cidadãos”, afirmou o presidente da Verde e Rosa, Chiquinho da Mangueira.
Durante a semana, quadra se transformou em uma unidade de cursos de qualificação gratuitos
Semente da Estação Primeira, Mangueira do Amanhã dá bons frutos há 26 anos
Aqui comeca o futuro
fernando azevedo
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á 26 anos, a cantora Alcione, com o apoio de Dinorah de “As Gatas”, Tia Jô, Dona Neuma, Dona Zica entre outros, decidiu transformar a letra do samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira de 1983, ”Verde que te quero rosa...” em realidade. Ela plantou a ideia e viu germinar a escola de samba mirim Mangueira do Amanhã. A semente cresceu formosa e até hoje dá bons frutos que são colhidos pela escola mãe com muito orgulho. “A Mangueira do Amanhã é um celeiro de bambas. Daqui saíram a rainha de bateria da Mangueira Evelyn Bastos, os mestres de bateria Aílton Nunes e Marrom, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Marquinhos e Giovana, que brilha no Grupo Especial, um dos integrantes da banda Forróçacana e muitos passistas e ritmistas”, relembra Soca, vice-presidente e um dos fundadores da escola mirim. A Mangueira do Amanhã já nasceu frondosa. Ela é uma das ramificações dos projetos sociais da Estação Primeira, que valoriza não só o samba, mas também promove um belo trabalho social com crianças e jovens da comunidade, de 5 a 17 anos. Todos têm de estar matriculados e estudando. E ainda participam de atividades esportivas e oficinas culturais na Vila Olímpica. “Não formamos apenas os futuros sambistas, mas cidadãos. Por isso, só desfila quem tiver boas notas na escola”, enfatiza Soca. Neste carnaval,a escola vai desfilar com 1.200 componentes – inclusive com cadeirantes e portadores de necessidades especiais – e defender o enredo ‘Um conto potiguar: Natal na Copa do Mundo’, do carnavalesco Levi
Cintra. Na figura do indiozinho Poty, a escola vai dar uma saborosa aula de história sobre a capital do Rio Grande do Norte, da fundação da cidade à construção do estádio Arena de Dunas, que vai sediar jogos da Copa do Mundo. Os frutos da Mangueira do Amanhã, ainda que tenros, já dão um bom caldo. Mestre Ailton Nunes selecionou dez meninos da Mangueira do Amanhã para também integrar a bateria da Estação Primeira neste carnaval. Embora ainda adolescentes, os meninos podem ser considerados veteranos, como o diretor da bateria mirim, Petterson de Oliveira, de 14 anos. Ele vai tocar repique entre os ritmistas adultos. “Desfilo na bateria da Mangueira do Amanhã há oito anos. Aprendi a tocar todos os instrumentos e agora ajudo a comandar o ritmo, as bossas e marcações de Mestre
Grupo de ritmistas da escola mirim (no alto) sairá na Mangueira; acima, Soca mostra fantasia
Hudson. Estou muito feliz de participar da bateria da Mangueira; a responsabilidade é grande, mas estou confiante”, diz o jovem, nascido em uma família de ritmistas. “Esse intercâmbio é muito importante para as duas escolas e para esses meninos, que adquirem experiência e responsabilidade. É na Mangueira do Amanhã que estão novos talentos que vão trabalhar para não deixar o samba morrer”, diz o mestre Ailton Nunes.
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revista da mangueira
fotos Ricardo Almeida
INFORME PUBLICITÁRIO
Brasil Babado do
Saem das lojas do Saara, no Centro do Rio, tecidos, plumas, vidrarias e acetatos que vestem frevos, maracatus, reizados, bois, blocos carnavalescos e Escolas de Samba de todo o país
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aterializar sonhos. A busca de atender sempre melhor às Escolas de Samba, entidades carnavalescas e empresas produtoras de festas levou o Babado da Folia a se transformar numa espécie de laboratório da alegria. Atuando nesse mercado há mais de 25 anos, com estabelecimentos especializados na venda de tecidos diferenciados, penas, plumas, vidrarias e tudo aquilo que encanta os olhos, o Babado passou a ser bastante procurado também pelos produtores de teatro e TV, que fazem do Carnaval uma referência para a criação de cenários e figurinos, principalmente. As lojas da rede estão situadas na Saara, o tradicional núcleo comercial do Centro do Rio. Numa dessas filiais, os carnavalescos das Escolas de Samba dos Grupos Especial e de Acesso desfrutam de um espaço reservado onde conversam, trocam ideias e revelam suas expectativas sobre determinados produtos. Lançado o balão-de-ensaio, o assunto passa para a responsabilidade dos funcionários da loja, que procuram o que mais se assemelha ao pedido. Feitas as experiências necessárias, existe a chance de a encomenda - agora em larga escala - ser levada diretamente para uma indústria brasileira de grande porte ou até mesmo para a China, onde os vendedores costumam ter melhores preços. O SOCIAL DO CARNAVAL Enquanto o Babado da Folia se especializa nos materiais que atendem à
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promissora indústria do carnaval, outras empresas vão surgindo no mercado. Esse dado torna-se bastante positivo, principalmentre, quando se estima que cada agremiação do Grupo Especial gere uma média de 500 empregos diretos e indiretos em suas atividades fabris, ao passo em que suas co-irmãs do Grupo de Acesso também contribuem de forma significativa para expandir o mercado, gerando mais de 250 empregos cada uma. As lojas do Babado contratam mais de 300 funcionários - e todos eles, assim como os das Escolas de Samba, são oriundos de comunidades. Os maiores clientes do Babado continuam sendo as Escolas de Samba. Mais de 50 agremiações dos Grupos Especial e de Acesso, e suas coirmãs do interior começam a desfilar pelos balcões da rede em setembro. Nas semanas que antecedem o Carnaval, representantes de Escolas de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, São Paulo, Minas Gerais, Pará e Brasília transformam os corredores das lojas num autêntico Forum Nacional do Samba - com direito a saber sobre algumas novidades que as mega-Escolas do Rio estão preparando para o público da Passarela. O Babado é o must do Carnaval.
BABADO DA FOLIA
Rua Buenos Aires, 287 e 300 Saara - Centro Rio de Janeiro Tel.: (21) 2507-0598
Diretoria PRESIDENTE Francisco de Carvalho (Chiquinho da Mangueira) VICE-PRESIDENTE Aramis dos Santos VICE-PRESIDÊNCIAS ADMINISTRATIVA: Paulo Sérgio Simas de Barros Diretores: Luiz da Silva Sá Filho, Ronaldo Mattos Pereira FINANCEIRA Fábio Machado Cirena Diretor: Márcio Garcia SOCIAL Luiz Nogueira Diretores: Guilherme da Silva Alexandre, Jorge Edson P. F. de Jesus (Bolito), Osni Santos de Mello (Chuchu) PATRIMÔNIO Almir dos Santos Diretores: Dimichel Velasco, Sergio Alberto Silva Lucchesi DIVULGAÇÃO Jorge Rubem Braga Machado Diretor: Cesar Romero Cruz dos Santos ESPORTES E DESENVOLVIMENTO SOCIAL Francisco de Carvalho (Chiquinho da Mangueira) PROJETOS ESPECIAIS José Pinto Monteiro Diretor: Pablo Rogers Dias Ferreira Brandão EVENTOS João Márcio Perrota C. de Lima Diretor: Willian Alves de Oliveira Ferreira MANGUEIRA DO AMANHÃ Arcindo José da Silva (Soca) Diretor: Jorge Luiz Matias Alves ENGENHARIA José Carlos França Diretores: Alex Pereira e Silva, Fabio Guedes VELHA GUARDA Ermenegilda D. Moreira (Gilda) Diretores: Frederico Sergio G. Cunha, Luiz Eduardo S. F. Baihana CARNAVAL Aramis dos Santos
BATERIA Mestre Ailton Nunes COMPOSITORES Júlio Cesar Ferreira Asco (Nino) ALA DAS BAIANAS Nelcy da Silva Gomes ALAS REUNIDAS Deisy da Volta Loureiro Dias COMUNICAÇÃO José Luiz Jeronymo COMUNIDADE Guanayra Firmino dos Santos DEPARTAMENTOS JURÍDICO Marcos Oliveira Santos Diretores: Gustavo de Castro Failase, João José Riche Júnior FEMININO Vera Lúcia Ferreira Diretora: Edna Vitalina da Costa CULTURAL Paulo Ramos Diretores: Ângelo de Quadros Sampaio, Antônio Carlos Ferreira Gabriel, Francisco José Nery de Aguiar, Leonardo Talarico Marins. Marcia Catarina Gomes dos Santos, Marco Aurélio José Claudino, Marli de Azevedo, Terezinha Rodrigues da Silva Marcelino, Vladimir Rodrigues de Oliveira, Waldir José Claudino MÉDICO Luiz Carlos Caetano dos Santos Diretores: Celso Tavares Garcia, Eduardo Lopes de Moura, Sendisy Miranda Rosa Filho DESTAQUES Ari Lang ASSESSORIA DA PRESIDÊNCIA Luiz Fernando de Andrade Ramos, Elyzio Dória Neto, Katia Damiana Alves Pereira Lobo, Marcelo Monteiro Pereira dos Santos, Marco Antônio Simões Correia, Marcos Vinícius Biriba, Maria das Graças Souza Fortunato, Raul Soares Neto, Thiago Miranda Gomes, Vitor Hugo Esteves Pereira ASSESSORIA DE IMPRENSA Jean Claudio Santana
CONSELHO DELIBERATIVO E FISCAL MESA DIRETORA PRESIDENTE João José Riche VICE-PRESIDENTE Pedro Paulo Lopes 1º SECRETÁRIO Heitor de Oliveira 2ª SECRETÁRIA Maria Helena Abrahão Vieira MEMBROS EFETIVOS Amauri Ribeiro Wanzeler, Anthero Teixeira Martins, Avelino Ramos Pacheco Filho, Cleir Vitor da Silva, Deyse da Volta Loureiro Dias, Edson Siqueira de Paula, Guilherme da Silva Alexandre, Heitor de Oliveira, João Márcio Perrota Cordeiro de Lima, Jorge Luiz Fernandes, José Bezerra Cavalcante, José Carlos Martins de Oliveira, Luiz Eduardo Baiana, Luiz Fernando Câmara, Luiz Gonzaga de Almeida, Luiz Nogueira, Márcio Garcia da Silva, Maria Helena Abrahão Vieira, Miriam Barbosa Monteiro, Mauro Saldanha, Moacyr Barreto da Silva Júnior, Neide dos Santos, Nelcy da Silva Gomes, Norival Costa Corrêa, Osni Santos de Mello, Paulo Ramos, Paulo Sérgio Simas de Barros, Telmo José dos Santos, Wellington Lúcio de Souza Nery, Zélia Moreira de Araújo MEMBROS SUPLENTES Carlos Alberto Daiub, Cezar Machado, Elcio Gomes da Silva, Eliane da Costa Jesus, Elso da Costa Santos, Gustavo de Castro Failase, João Medeiros, Libério Cesário Anastácio, Luiz da Silva Sá Filho, Sérgio Alberto da Silva Lucchesi
Tânia Rêgo/ABr
r Sérgio Cabral é o Governado de todas as escolas de samba do Rio de Janeiro. E tem o coração mangueirense 63
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“O resgate do orgulho de ser mangueira”
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izem que chegar ao topo de qualquer atividade não é tão difícil. Difícil é manter-se no auge, permanecer no alto nível. Pois é justamente este o grande desafio que a nova direção da Mangueira, que assumiu a escola na metade do ano passado, enfrenta: recuperar os bons tempos da Verde e Rosa. Para o Carnaval de 2014, a Estação Primeira promete festejar na Passarela do Samba com todas as grandes manifestações populares do Brasil, percorrendo o país de Norte a Sul, sem preconceitos. Com o enredo ‘A festança brasileira cai no samba da Mangueira’, a agremiação promete não apenas exibir no Carnaval as principais festas brasileiras como, principalmente, resgatar o orgulho de ser Mangueira, contando, para isso, com a força de seus componentes – o que nunca lhe faltou. Bom Carnaval a todos!
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Eduardo Paes, prefeito do Rio
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da Liesa
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Jorge Castanheira, presidente
“O Rio de Janeiro agradece”
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omo prefeito da Cidade Maravilhosa e um apaixonado pelo Rio e por carnaval, é um orgulho participar todos os anos do desfile das escolas de samba no Sambódromo. Um espetáculo que, a cada ano, mostra-se maior e mais profissional, com total apoio da Prefeitura do Rio. Às vésperas de receber os dois maiores eventos esportivos do planeta – a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas de 2016 – , o Rio tem como cartão de visita a experiência de organizar todos os anos a maior festa popular do mundo, que atrai milhões de foliões turistas e cariocas. E a Mangueira tem papel fundamental nessa festa, representando o amor pelo samba e a alegria do povo do Rio. Escola do coração dos cariocas, a Mangueira chega ao carnaval de 2014 com cara e fôlego renovados. A eleição do presidente Chiquinho da Mangueira, a reforma do Palácio do Samba e a urbanização do entorno, e a vinda da carnavalesca Rosa Magalhães – a maior vencedora do Sambódromo e atual campeã - contribuíram no resgate do orgulho de ser Verde e Rosa. Com o enredo “A festança brasileira cai no samba da Mangueira”, a escola da Zona Norte homenageia as diversas manifestações populares do país, com destaque para os maiores espetáculos do mundo: o Carnaval e o Réveillon cariocas. O Rio de Janeiro agradece!
Mensagem dO PRESIDENTE
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Estação Primeira de Mangueira que hoje pisa a Marquês de Sapucaí traz consigo muito mais que um belo Carnaval, com fantasias e alegorias de encher os olhos. Ela vem embalada pelo turbilhão das intensas emoções vividas o ano inteiro e uma sede de vitória de fazer tremer a passarela com aquele “chão” que é sua marca registrada. Alegre e feliz, Mangueira chega de alma lavada, pronta para honrar as suas melhores tradições. Mangueira sempre foi mais que o louvado berço e reduto de sambistas notáveis. Sua história é forjada em episódios que ao longo de 85 anos escreveram páginas de altivez e de fidelidade a suas origens, mas também de inovação permanente. Desde Marcelino, que criou a figura do mestre-sala, aos dias de hoje, a escola se reinventa ao girar do carrossel do tempo, como mostra este ano em uma de suas alegorias. Os mangueirenses e o mundo do samba sabem que não foi fácil chegar aqui. Tivemos que ao mesmo tempo solucionar os problemas financeiros encontrados e organizar um Carnaval capaz de disputar o título de campeão. Mas, dificuldades existem para ser enfrentadas, combatidas e vencidas. Diante delas é que Mangueira se agiganta, com a força da paixão que a move e a faz eterna. É como se o sangue verde e rosa que nos corre nas veias precisasse sempre de grandes desafios, para deles extrair o alimento que torna a nossa Escola indestrutível. Nada define melhor esse estado de espírito que a
revigoramos a bateria “Tem que respeitar meu tamborim”, comandada por mestre Ailton, escolhemos um samba pegador, ensaiamos à exaustão e... ufa! – dez meses depois, estamos felizes como pinto no lixo.
CHIQUINHO DA MANGUEIRA
Aquele abraco diz tudo cena vivida em um ensaio de canto na quadra, em janeiro, quando mais de mil componentes de alas da comunidade se abraçaram demoradamente e, comovidos, choraram de felicidade. Naquele momento inesquecível tive a certeza de que ali se celebrava o resgate da nossa autoestima, pressuposto da paixão que todo mangueirense dedica à sua escola. Aquele abraço coletivo foi mais que uma simples confraternização, o que já não seria pouco. Havia nele uma tal carga de energia positiva que eu, também em lágrimas, olhei para o céu tentando encontrar nossos Anjos da Guarda para agradecer. Juro que os vi – Cartola, Zica, Saturnino, Neuma, Jamelão, Delegado, Mocinha, Tia Miúda, Carlos
Cachaça... todos abraçados. Hoje, com certeza, eles é que estão de olho em nós. Anjos são doces, mas estes nós conhecemos bem, e sabemos que são também exigentes. Jamelão está de ouvido atento em seu discípulo Luizito, Delegado de lupa em punho a guiar cada passo de Raphael, e por aí vai. Sei que não vamos decepcioiná-los, mas isso é pouco. Desejamos mesmo é que se orgulhem de nós. Para merecer as bênçãos de nossos anjos, nos empenhamos até os limites de nossas possibilidades. Reunimos nosso time de bambas, Elmo e Alvinho à frente, trouxemos Rosa Magalhães (a carnavalesca oito vezes campeã), resgatamos o “nosso” Carlinhos de Jesus, o maior coreógrafo do samba,
Claro que o samba e o carnaval constituem a razão de ser da Estação Primeira, mas o que nela me fascina é a sua capacidade de olhar mais além, ao olhar para si mesma. Samba e carnaval criaram em Mangueira, a partir da Escola, um pólo de atração e irradiação cultural que transcende as artes de origem, abrindose generosamente para o campo das humanidades. Sabiamente, a comunidade agregou à cordialidade que o samba ensina o saudável espírito de competição que o esporte estimula, pondo a criança e o jovem no centro de um círculo virtuoso. Como resultado, a escola de samba criou uma escola de vida em seu mais amplo sentido, o do exercício da plena cidadania. Tal fenômeno certamente explica o sucesso dos programas sociais ali desenvolvidos – e reconhecidos pela ONU como exemplares para países em desenvolvimento. Os efeitos da mentalidade comunitária bem construída acabam por retornar a seu ponto de partida, a escola de samba, dotando-a da energia que movimentou centenas de braços naquele abraço inesquecível. Orgulho-me de haver participado desde seu início dos projetos sociais e de hoje poder verificar, como mangueirense, que todo o empenho está recompensado. À vitória, Mangueira!
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SAMBA OFICIAL 2014 Samba: Lequinho, Junior Fionda, Paulinho de Carvalho, Igor Leal e Flavinho Horta Intérprete: Luizito Vem ouvir a voz do povo a cantar ao longe todo mundo me conhece o meu samba é uma prece desço o morro pra mostrar a festa Mangueira, começou conta a história que Cabral chegou de Portugal e o índio então dançou de norte a sul a alegria se espalhava Vila Rica se enfeitava, pro congado coroar ôôô… lá em são Salvador vou lavar a escadaria na fé do nosso senhor faço um pedido a rainha Iemanjá ilumine a passarela pra minha escola passar
tem forró a noite inteira no arraiá da estação primeira
pegue seu par, dance quadrilha simbora pro meu sertão vem pular fogueira viva são João! com sanfona e zabumba
oba, oba, eu quero ver quem vai cair na folia sambar com a Mangueira é bom se segurar, levanta poeira é verde e rosa a festança brasileira
sou brasileiro, vou festejar meu palco é a rua e a luz o luar no coração da floresta magia que encanta “garanto” que vai “caprichar” chegando a terra da garoa um arco-íris despontou orgulho, respeito, igualdade tremula a bandeira da diversidade um novo tempo nascerá, explode em cores pelo ar é carnaval estou aqui de novo lá vem meu povo a desfilar na “super-campeã” da maior festa da cultura popular
Ouça o samba enredo da Mangueira. Basta instalar um aplicativo específico para leitura e apontar a camêra do seu smartphone ou tablet para o QR Code. Divírta-se. http://www.mangueira.com.br/carnaval-2014/samba-enredo/
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Os parceiros da Estação Primeira de Mangueira: