Balaio 03

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SOB

SUPLEMENTO LABORATORIAL DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA NOVEMBRO DE 2014 // Nº 3

Balaio

PRESSÃO

Cresce número de adeptos da leitura virtual Fácil de operar, permite regular o tamanho das letras e armazenar uma biblioteca particular que pode ser levada para qualquer lugar, esses são alguns dos benefícios que têm atraído os consumidores de livros digitais

Nícolas Brandolim

Os computadores, celulares e demais acessórios tecnológicos já se tornaram cruciais na vida das pessoas, modificando as formas de se comunicar e se relacionar. A necessidade constante de atualização e os avanços da tecnologia chegaram aos livros e no mercado brasileiro do segmento, em 2011. Os livros digitais ou eletrônicos trazem conteúdos semelhantes aos livros concretos que possuímos em casa, bibliotecas e escolas, mas digitalizados, podendo ser lidos em computadores, tablets ou e-readers (aparelhos próprios para a leitura digital). Eles podem ser encontrados em sites de livrarias, como Gato Sabido, Siciliano, Saraiva e Livraria Cultura, e em sites de comércio eletrônico, como o Amazon, o eBay e a Apple. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o faturamento de 2012 para 2013 subiu 225%, passando de $3,8 milhões de reais em 2012 para $12,7 milhões no ano seguinte. Esses números representam um avanço significativo para um mercado ainda novo no Brasil. Além disso, os e-books (outra forma de chamar os livros digitalizados) em língua portuguesa com adaptações brasileiras somaram 25 mil edições no ano passado que, se

comparada há dois anos, somavam apenas 11 mil títulos, de acordo com o site Revolução eBook. Vantagens digitais O livro digital e seus aparelhos para leitura possuem algumas vantagens em relação ao livro tradicional, como conta a estudante Juliana Cabral, 32: “Levo meu e-reader para todo lugar, é prático, fino e não pesa na bolsa. Além de possuir uma biblioteca no aparelho, na hora de ler a mão não cansa diferente de um livro comum volumoso. E também a luz interna e a regulação da letra são um diferencial que encontro”. Mais que isso, os livros eletrônicos economizam tempo e dinheiro, como, por exemplo, na hora de comprar uma obra proveniente do exterior. Se ela fosse de papel, demoraria dias, semanas ou até meses para chegar, além de ter que arcar com os possíveis custos de frete. Já as obras digitais chegam em poucos segundos no aparelho e têm um custo menor. A pirataria online Os downloads se tornaram comuns na vida dos internautas. Quando se procura algo para baixar na rede, a primeira opção de quase todos é a forma gratuita, que, em muitos casos, principalmente nos e-books, é considerada crime de pirataria. Entretanto, esse tipo de pirataria ainda é um assunto delicado. Há aqueles

O acervo virtual da Unifor CINEMA

O clássico de Woody Allen, “A Rosa Púrpura do Cairo”, é destaque na seção Filmes P. 3

A Universidade de Fortaleza oferece aos seus alunos uma biblioteca virtual, que conta com milhares de obras nas áreas da saúde, humanas e exatas. Esse acervo se encontra no Unifor Online, no menu “biblioteca”. As obras são das editoras Atheneu e Zahar, além da biblioteca online Pearson. A Universidade disponibiliza 30 títulos da editora Atheneu na

área da saúde, com autores brasileiros e textos detentores de diversos prêmios literários nacionais e internacionais. Da editora Zahar, são 48 títulos na área de filosofia e sociologia, e 21 títulos na área de psicanálise. A Pearson é uma empresa parceira da Unifor, que disponibiliza mais de 2.000 títulos em diversas áreas do conhecimento.

que defendem a leitura grátis de todo e qualquer livro, assim como os que falam no impacto econômico negativo que os downloads ilegais geram aos grandes empreendedores do ramo e também às pequenas editoras que estão começando no setor. “Comecei a comprar os ebooks há alguns meses, mas é só dar uma pesquisada na internet que você encontra muitas opções gratuitas para download e sempre fica a dúvida se é ilegal ou não”, comenta Cláudio Ribeiro, professor de design gráfico. O principal problema é identificar os criadores e gerenciadores desses sites ilegais, tendo em vista que muitos são hospedados em países da África e outros em países pequenos do Oriente, onde a busca pelos responsáveis é quase impossível. A única saída, até o momento, é utilizar as ferramentas de busca e ir denunciando, aos poucos, os sites maliciosos.

Em apenas um ano o faturamento com livros digitalizados subiu 225% Foto: Thiago Gadelha


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Registro fotográfico

Literatura

Cidney Sousa

Anomalia espiritual

A Associação Cultural Canoa Criança é um projeto social, fundado em 1995, que atende crianças e adolescentes carentes de Canoa Quebrada com atividades circenses e educativas, com objetivo de promover e melhorar sua inclusão social. O objetivo é oferecer atividades de integração, desenvolvimento pessoal e profissional para as crianças do local e suas famílias. O foco do projeto é basicamente minimizar os números alarmantes de jovens envolvidos com drogas e prostituição na comunidade, por meio da participação em atividades artísticas e pedagógicas desenvolvidas depois do horário escolar. Foto: Carlos Sanches

Editorial

Terceiro balaio cultural Caro(a) leitor(a), estamos felizes em apresentá-lo(a) à terceira edição do nosso caderno cultural, Balaio, que faz parte do jornal Sobpressão. Nosso objetivo é abordar assuntos que envolvam entretenimento e permeiem o setor de cultura, levando sempre até você, leitor, uma linguagem prazerosa. Nesta edição, é tratado o sucesso na venda de livros digitais, plataforma que vem ganhando leitores com rapidez. Já a identidade de gênero serve como inspiração para um texto permeado de sinceridade na coluna Literatura.

O trabalho da cantora e autora Andreza Reis, exposto na rede social Soundcloud,é a novidade apresentada na coluna de Música. A de filme, por sua vez, discorre sobre o clássico de Woody Allen, “A Rosa Púrpura do Cairo”, lançado em 1985 e estrelado por Mia Farrow e Jeff Daniels. Nas colunas Da Hora e Mó Paia, a distribuição cultural é discutida por meio de avaliações do site Catraca Livre, popular entre internautas, e da exibição de filmes em Fortaleza. Aproveite ao máximo aquilo que selecionamos para o caderno. Esperamos que você tenha uma agradável leitura!

Caderno Balaio - Fundação Edson Queiroz - Universidade de Fortaleza - Diretora do Centro de Comunicação e Gestão: Maria Clara Bulgarim - Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Wagner Borges - Professores orientadores: Alejandro Sepúveda e Ricardo Sabóia - Projeto Gráfico: Camille Vianna - Diagramação: Aldeci Tomaz e Lucy Anna Latorre - Edição: Giovânia de Alencar e Gustavo Nery - Redação: Camila Mathias, David Nogueira, Lucy Anna Latorre, Nícolas Brandolim - Coordenação de Fotografia - Júlio Alcântara - Supervisão gráfica: Francisco Roberto - Impressão: Gráfica Unifor - Tiragem: 750 exemplares

Ele era uma princesa. Não, você não leu errado. Era só o que ele acreditava. Nascido no corpo errado, uma garota real, não aprisionada, pois gostava do corpo que habitava. Só era um pouco estranho, pois estava sempre expondo o seu interior e isso poderia ser assustador. Ele não tinha muitos lados, era o que era, o que poderia ser chamado de “anomalia espiritual”. A história real de um ser misterioso. Não que ele fosse especial ou algo assim, só queria acreditar que era diferente. Ele acreditava que era assim por alguma razão. Pensava em mudar o mundo dos outros. Usava bem seu coração, apesar de partido em alguns poucos pedaços. Caminhou por aqui como uma brisa, passou, mas não deu tempo de ser lembrado. Talvez esse fosse seu medo: ser esquecido. E alguns medos se realizam. Houve um tempo em que ele queria ser amado por um, mas entendeu que se garotos quisessem garotas, namorariam elas. Então, pensou que o dom era praga e se viu aprisionado. Eles nunca o viram, mesmo sendo assim, quase que de vidro, meio transparente. Ele tinha muito a dizer, mas não havia pra quem gritar. Sonhou por anos com o mesmo velho filme, a mesma velha história, até que acordou. Não era mais um pesadelo, era real. O garoto teve que entender e aceitar que a realidade estava ali e que precisava ser enfrentada. Ao despertar, viu que esse é um mundo perigoso para uma garota e sua coroa invisível, mas o corpo do menino forte o protege. Não é preciso nenhuma maquiagem, ou mais alguma beleza comprada. Tudo natural. Será possível essa garota ser real? Talvez agora você não saiba mais se é menino ou menina. Mas e se puder ser os dois em um só? Não hermafrodita, nada sexual, mas sim espiritual. Você acredita em alma? Você conhece a sua? Conversa com ela? Você é você mesmo? Eles te quebraram? Ou te acham bonito? Às vezes, é necessário sentar consigo mesmo para saber por onde sua alma esteve. Esse garoto soube, sorte dele que soube, apesar das dificuldades. Talvez, um dia, não esteja mais aqui. Talvez até já tenha partido. Ele é como algo que você quer e não quer. Se for, ótimo. Se ficar, ótimo também. Você não sentirá saudades, mas você o amará com todo seu coração até que ele suma. Não vai fugir, só não será mais bem-vindo. Lembre-se disso, e o deixe morrer. Um dia a alma dessa garota estará no lugar que eles consideram certo e talvez, mas somente talvez, ela brilhe.


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Filmes

O cinema como fuga da realidade

À esquerda, Tom Baxter (Jeff Daniels) é mostrado nas telas de cinema; no centro, o pôster do filme; à direita a cena do beijo apaixonado entre Cecília (Mia Farrow) e o personagem Fotos: Divulgação

O filme de Woody Allen retrata como a existência humana pode ser dolorosa. Porém, a busca por um refúgio traz a esperança de um futuro melhor Camila Mathias

O filme ‘‘The Purple Rose of Cairo’’ (A Rosa Púrpura do Cairo), lançado em 1985, foi indicado ao Oscar de melhor roteiro original e ganhou o Globo de Ouro de melhor roteiro em 1986. Dirigido pelo consagrado Woody Allen, o longa ancora-se na metalinguagem, pois retrata o próprio cinema e a relação dos espectadores com os filmes. A tragicidade da vida humana e a constante procura por uma válvula de escape são temáticas abordadas no decorrer do enredo. Em Nova Jersey, uma doce mulher chamada Cecília (Mia Farrow) é apaixonada por filmes. Ela trabalha como garçonete para sustentar o seu marido Monk (Danny Aiello), um homem machista que está desempregado. Cansada das traições e de ser maltratada por ele, Cecília se refugia em um lugar onde pode sonhar com uma vida diferente: a sala de cinema, que exibe “A Rosa Púrpura do Cairo”, filme que Cecília assiste incansavelmente. Em um ato surpreendente, um dos personagens da película, Tom Baxter (Jeff Daniels), percebe a

presença constante de Cecília no lugar e sai da tela para conversar com ela, pois se diz apaixonado e deseja a liberdade de conhecer o mundo. Em seguida, a moça passa a viver uma história de amor inusitada com o personagem. Com o passar dos dias, depara-se com sentimentos diversos, pois passa a confundir o real com a fantasia. O longa retrata a época da Grande Depressão, em que os norte-americanos viviam o famoso “American Way of Life” (modo de vida americano). Grande parte da população não acompanhou o aumento na produção de bens, pois haviam muitos produtos e pouco mercado consumidor. Em outubro de 1929, os preços das ações despencam, provocando o Crack (quebra) da Bolsa de Valores. Mesmo na crise do capitalismo e com a recessão econômica, as pessoas ainda consumiam bens e serviços. A cultura de massa buscava formas diferenciadas para atrair espectadores, para que eles esquecessem, por alguns instantes, as dificuldades cotidianas. O filme mostra uma fase em que a música era tomada por novos ritmos como o swing e o jazz, o rádio vivia sua

Época Dourada (1934 a 1940) e o cinema se tornava uma das formas indústrias mais relevantes de entretenimento. Estética A escolha de abordar o próprio cinema traz uma perspectiva diferenciada, que pode ser considerada um conto de fadas moderno. Mesmo sendo clássico, sua abordagem e originalidade faz com que se adeque à modernidade. Woody Allen explora o psicológico dos personagens, mostrando os medos, os sonhos e a fragilidade da mente humana. O filme que Cecília assiste no cinema é em preto e branco, mas quando Tom Baxter sai da tela e vai para o mundo real, ganha cores. Em uma determinada cena, Cecília se introduz no mundo do cinema e ganha tonalidade preta e branca. Ou seja, o longa destaca a transição entre o mundo humano (representado pelas cores) e a ficção (preto e branco). Fuga da realidade Em muitos momentos da trama, a protagonista questiona sua própria maneira de viver, se sentindo infeliz e incomple-

ta. Cecília apanha do marido, é traída por ele muitas vezes e ainda perde sua fonte de renda: o emprego no restaurante. Para esquecer de tudo isso, ela vai para o cinema e, nesse ambiente, acredita que tudo é possível e que a vida pode ser diferente. Woody Allen demonstra que as pessoas encontram no cinema, na música e na dança uma alternativa de sair da sua própria existência. Uma maneira de procurar conforto em outro lugar, diferente do mundo comum das rotinas de trabalho. Porém, nos filmes, os problemas são resolvidos em poucas horas, mesmo que no fim tudo volte a ser como era antes.

Ficha técnica Título Original: “The Purple Rose of Cairo” Origem: Estados Unidos Ano: 1985 Direção e roteiro: Woody Allen Gênero:Comédia/Fantasia/Romance Duração: 72 minutos


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Da Hora

Música

Lirismo na internet

Portal promove dicas culturais David Nogueira

A estudante de jornalismo Andreza Reis, 19, dona de uma voz doce, integra a dupla Café Noir, formada por ela e Mateus de França. Quando tinha apenas 16 anos, Andreza e uma amiga se juntaram para melodiar poesias escritas pela futura jornalista, assim originando, de forma totalmente despretensiosa, o projeto musical. Anos depois, Andreza conheceu aquele que viria ser o futuro membro da dupla e que, desde então, vem construindo os arranjos para as composições da moça. Os jovens mesclam, principalmente, o folk americano e a música popular brasileira (MPB) para a criação de sua sonoridade, além de utilizarem influências literárias ao escrever as canções. Recentemente, Andreza e França produziram o primeiro EP (da sigla em inglês Extended Play) do projeto intitulado “Dos Rapazes”, mini álbum que conta com quatro faixas. Andreza declara que não gosta de escrever sobre amor de uma forma romântica, e aborda esse tema de forma diferente e menos idealizada. “Poesia precisa ser mais incisiva, como uma faca”, enfatiza, se autodenominando “cantautora”. As canções da dupla são divulgadas por meio do Soundcloud, rede social onde os usuários podem compartilhar áudios e receber feedback do público ouvinte. O Café Noir faz parte de uma nova geração de músicos que usam a internet para promover suas interpretações de forma totalmente independente. “Eu sinto que se eu trabalhasse para uma gravadora, eu não teria a mesma liberdade que eu tenho quando faço isso em casa e na internet”, comenta a principal fundadora do projeto. Devido à recepção positiva de “Dos Rapazes”, Andreza realizou o sonho de cantar para uma plateia. No final de setembro, ela inovou e surpreendeu ao organizar um pocket show no prédio onde mora, marcado pela presença de amigos e atraindo desconhecidos, que aplaudiram ao final de cada música. A surpresa ficou para o momento em que os espectadores pediram para que Andreza cantasse novamente a música-título do EP, lançado em fevereiro de 2014. Ao final do evento, a compositora revelou sua satisfação com o feedback proporcionado pelas redes sociais, prometendo novos trabalhos e shows em breve. Foto: Arquivo Pessoal

Lucy Anna Latorre

Quando se fala em cultura, não tem como ignorar o portal eletrônico Catraca Livre, projeto jornalístico que é formado por uma rede de colaboradores com foco na cultura. O site seleciona diariamente oportunidades gratuitas ou a preços populares de eventos na capital paulista ou em cidades do Rio de Janeiro. Sua principal atração é a agenda cultural. Em outras cidades, o portal tem a missão de disseminar novidades no campo artístico, ao divulgar projetos utilizando a comunicação como melhoria da sociedade. Para os cearenses, o grande diferencial é tomar conhecimento

de novos projetos culturais que estão sendo noticiados na mídia. Um exemplo de trabalho divulgado pelo website é o do fotógrafo cearense Elano Chaves, que foi reconhecido através das fotos em que utiliza o nu artístico. O portal, atualmente, possui o projeto “cidade laboratório”. O intuito é desenvolver ideias inovadoras, por indivíduos e instituições, que apresentem como proposta a melhoria da comunidade. Por meio da cultura e educação, o projeto conta com uma rede de internautas que contribuem diariamente através de compartilhamentos nas redes sociais.

Mó Paia

Filmes de arte fantasmagóricos Cinema é uma paixão mundial. Para algumas pessoas é motivo de rotina, fanatismo. Entretanto, sempre que eu procuro ir ao cinema, em Fortaleza, o filme da minha preferência nunca está disponível para exibição. Com a exceção das salas de cinema do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, o cenário de mostra cinematográfica da cidade encontra-se muito insatisfatório, carente de programações voltadas ao cinema e, com um agravante: o curto período de mostra dos filmes. Para mim, é comum ficar interessada por filmes que não estão em cartaz quando tenho tempo de ir ao cinema. Me impressiona, principalmente, o período de exibição em que os filmes de arte ficam expostos, considerado para mim e outros

cinéfilos como insuficiente para a degustação de boas narrativas cinematográficas. Sem contar com a quantidade restrita de filmes taxados como independentes, que não se conservam mais de uma semana em cartaz. O que resta no final das contas é me contentar e assistir a algum filme blockbuster, fingindo que ele supre o desejo de consumir cultura, quando realmente gostaria de assistir aos mais novos filmes de diretores como Almodóvar, e com um balde de pipoca ao lado.


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