Perdido o glamour ao qual se associava o cigarro nas décadas passadas, o número de fumantes no Brasil caiu nos últimos anos. Mesmo assim, ainda encontramos uma quantidade expressiva de novos jovens começando a fumar. Página 6 JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIFOR
AGOSTO/SETEMBRO DE 2013
ANO 3 N° 10
Casamento homoafetivo ainda enfrenta desafios Em 2001, a Holanda foi o primeiro dos 15 paises do mundo a legalizar a união civil homoafetiva, mas somente em maio de 2013 o Brasil entrou para essa lista Lígia Costa e Thaís Praciano
Longe de ser visto apenas como uma mera união, o casamento também se define como a formação de uma família. A Constituição Federal estabelece várias entidades familiares, entre elas o casamento, instituição tradicional que une pessoas de sexo diferente. A outra é a união estável, em que o indivíduo, embora mantenha uma relação firme, continua solteiro no estado civil, ou a família monoparental, quando apenas o pai ou a mãe educa e cria, de forma independente, os seus descendentes. Com a evolução da sociedade e a diminuição vagarosa, porém constante, do preconceito, o ordenamento jurídico brasileiro passou a reconhecer outras formas de família, como a recomposta, reconstituída ou plurilateral – casais que se separam ou divorciam e se casam novamente; a família anaparental – como dois irmãos que moram juntos; e, finalmente, a homoafetiva. Após anos de luta pela conquista de seus direitos jurídicos, casais homossexuais que têm apenas o afeto como garantia vêm, aos poucos, conquistando o seu espaço. Em 5 de maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou, no parágrafo 3º do artigo 225, o direito à união estável aos casais homossexuais, deixando claro que o reconhecimento deve ser feito “segundo as mesmas regras e com as mesmas consequências da união estável heteroafetiva”. Outra conquista importante foi a permissão da adoção da criança e do adolescente para casais homoafetivos, vendo-os assim como uma verdadeira entidade familiar. Além disso, é proibida a discriminação de pessoas em razão do sexo, garantindo-se a liberdade para expor a sua sexualidade. Na prática, o preconceito ainda se mostra
muito presente na sociedade. No entanto, desde a instituição do Dia do Orgulho Gay, a realização das “paradas gays” vem ganhando cada vez mais adeptos, que veem nestes movimentos uma oportunidade de legitimar a sua orientação sexual. Os eventos funcionam como instrumento de autoafirmação da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros). Resolução Somente a união estável entre pessoas do mesmo sexo não era suficiente, e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a Resolução nº 175, publicada em 15 de maio de 2013, autorizando o casamento homoafetivo. Os cartórios de todo o País, a partir de então, são obrigados a celebrar o casamento civil ou converter a união estável em casamento. Os casais que antes esperavam ansiosamente puderam, enfim, assinar seus nomes oficialmente. No dia 17 de maio de 2013, dois dias após a decisão do CNJ, foi realizado o primeiro casamento homoafetivo no Ceará, marcando, após três tentativas, a união oficial de uma brasileira com uma equatoriana. Porém, vale ressaltar que a decisão do CNJ não legaliza o casamento gay por inteiro, já que para isso é necessária a aprovação de uma lei no Congresso Nacional. Mesmo assim, a luta dos homossexuais vem superando expectati-
vas, embora ainda contrarie membros de igrejas e de grupos políticos como o Partido Socialista Cristão (PSC). Segundo a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), incluindo oito mil cartórios de 22 capitais, um mês após a decisão do CNJ, foram realizados 231 casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo. Enfim, casadas Entretanto, antes mesmo que a resolução entrasse em vigor, Carol Alencar, neurocientista, e Grasielle Dias, estudante de Publicidade e Propaganda, resolveram se unir. Casada desde outubro de 2012, Carol conta que assumir o relacionamento foi complicado no começo, pois sofreu com o preconceito em casa. “Tinha acabado de contar para minha mãe que
eu gostava de meninas, quando comecei a namorar a Gra, em dezembro de 2010. Minha mãe, como toda recém -descoberta ‘mãe-de-gay’, disse que já desconfiava, que era só uma fase, e se perguntou onde tinha errado. Já os pais da Gra são dois velhinhos evangélicos que já sabiam que a Gra era gay desde os 17 anos, então nosso relacionamento não causou espanto para eles. Mas eu fui a primeira namorada que ela apresentou aos pais”, relata. Aos poucos, porém, a família se habituou com a orientação sexual das duas. “Minha mãe e os pais da Gra viram o quanto a gente se ama e é feliz uma com a outra, e eles foram se acostumando com a ideia”. Carol lembra que a aceitação não veio de repente. Desde o início fez questão de manter um relacionamento como o de qualquer outro casal. “Sempre chamei de amor, andei de mãos dadas, e nunca me importei com a opinião de ninguém”, revela. Prestes a completar dois anos de namoro, veio o matrimônio. “Casamos no cartório e viramos Senhoras Dias Alencar. Fizemos uma festa de casamento muito gostosa, com pouca gente, mas com todos que eram importantes. Na cerimônia, nossos melhores amigos falaram sobre a nossa história, eu entrei no cartório com a minha mãe e a Gra entrou com o pai dela. Fizemos nossos votos e
Depois de dois anos de namoro, Carol e Grasielle tiveram o casamento que queriam, com tudo a que tinham direito.
Foto: aRQUIvo PessoaL
Saiba mais
Países já legalizados Holanda, abril de 2001
Bélgica, junho de 2003
Espanha, 2005
junho
de
Canadá, julho de 2005
África do Sul, novembro de 2006
Noruega, janeiro 2009
Suécia, abril 2009
Islândia, junho 2010
Portugal, junho 2010
Argentina, julho 2010
Dinamarca, junho de 2012
Uruguai, abril de 2013
Nova Zelândia, abril de 2013
França, maio de 2013
Estados Unidos *Nos EUA, 12 estados já legalizaram o casamento homoafetivo
foi aquele chororô! Jogamos os buquês e brindamos ao som de Robocop Gay dos Mamonas”. Hoje, Carol e Grasielle vivem em Belo Horizonte e contam com o apoio e com o amor da família. “Estamos muito felizes na nossa casinha nova. Temos problemas como todo casal, mas nos amamos!”