O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) trabalha com o intuito de que todos possam ter direito à informação. Página 5 JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIFOR
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ANO 3 N° 7
m e v o j a z e l a rt
Fo
Praça é um ambiente de convívio social, prática de atividades físicas e lazer em família
Com pouco mais de 2 anos, desde a sua inauguração, o CUCA Che Guevara já é modelo de democratização de cultura, arte e esporte na cidade de Fortaleza. Lucas Dantas
Há, no Brasil, a crença mais ou menos generalizada de que a juventude é a idade-problema e que há poucas maneiras de salvá-la além de evitar ao máximo a sua ociosidade, procurando afastá-la das “más influências da rua” e ocupando sua cabeça com atividades culturais e educativas. Ao contrário do que se pode pensar, a filosofia empregada no Centro Urbano de Arte, Cultura e Esporte da Regional I – o CUCA Che Guevara – é oposta a essa linha. Com 14 mil m², do tamanho de um quarteirão e instalado dentro de uma das comunidades com pior índice de desenvolvimento de Fortaleza, o CUCA tem a pretensão de quebrar paradigmas e desenvolver uma agenda permanente e gratuita para jovens de todas as classes sociais e gostos. “A diferença”, explica Isabel Silvino, produtora do Centro, “é que não tratamos o equipamento como uma maneira de tirar o jovem da rua ou mostrar a ele o que é bom em termos culturais e de arte. Até porque aqui no CUCA convivem desde universitários até adolescentes que nunca fren-
quentaram uma sala de aula. Muito menos [o usamos] para dizer a qualquer pessoa como se expressar. Trabalhamos tentando simplesmente mostrar ao jovem que existem outras possibilidades e, através delas, tentamos ampliar sua visão de mundo”, completa. Se existe uma palavra capaz de sintetizar o CUCA, essa palavra é mesmo “amplitude”. Lá, jovens entre 15 e 29 anos encontram uma infra-estrutura dotada de piscina semiolímpica, quadras poliesportivas, quadra de areia, sala de aula para artes cênicas, salas multiuso, biblioteca, oficina de artes plásticas, estúdios de áudio, de TV e vídeo, estúdio de fotografia, ilhas de edição, laboratório de apoio tecnológico, rádio comunitária, laboratório fotográfico, de informática, usina de reciclagem e educação ambiental, incubadora de ideias, cineteatro com capacidade para 200 pessoas, anfiteatro com capacidade para 1.200 pessoas e uma praça de convivência aberta com pista para esportes radicais. Dentro desse espaço todo, são disponibilizados cursos de formação e aperfeiçoamento para qualquer jovem, bastando apenas apresentar documento de identificação com foto e comprovante de que reside em Fortaleza. Cuca para todos Fruto das decisões do Orçamento Participativo, o CUCA foi idealizado para tratar especialmente das demandas da
Foto: WAlesKA sANtiAgo
juventude. Mas o que se vê, pouco mais de 2 anos depois da inauguraçao do primeiro empreendimento – ainda serão construídos outros cinco, totalizando um em cada Regional -, é que a própria comunidade já o tomou para si. Além de adolescentes, vê-se comumente transitar pelo espaço, crianças e adultos, seja para assistirem a concertos, sessões de cinema, apresentações abertas, seja simplesmente para conviverem entre si. “A ideia é que qualquer pessoa possa utilizar [os equipamentos]. Há a pista para esportes radicais e também o anfiteatro, que são do CUCA, mas foram feitos para parecer com uma praça. Até nós, funcionários, temos o nosso tempo aqui. Mães e pais também vêm. É bacana. O pessoal convive em paz”, reconhece o porteiro Fabiano Rodrigues, 28, que trabalha no Centro há pouco mais de um ano e garante que “todo dia a gente vê as mesmas crianças se divertindo por aqui. Elas vêm para a praça e fazem a maior farra”. Tal como foi alertada por Rodrigues, a reportagem até conseguiu falar com a garotada que praticava skate naquele fim de tarde, mas só depois de atender às nervosas solicitações por fotos de manobras, as quais
ente para a rnecem ambi fo s to lgAção en Equipam vens Foto: Divu crianças e jo de ão aç gr te in
Piscina sem iolímpica é parte da estr utura oferec ida Foto: Divu lgAção
eles faziam quase sempre sem errar. Um dos garotos, Éverton Lima (foto acima), de apenas 13 anos, é um dos que frequentam a pista todos os dias e não vê a hora de completar a idade necessária para se matricular nos cursos oferecidos pelo CUCA. “O problema é que eu preciso ter 15 anos, né?! Por mim, eu já tava fazendo capoeira e informática,
que é um dos cursos que meu irmão faz também. Mas não tem problema. Assim que eu completar a idade, venho fazer a matrícula. Você vai ver.”
Serviço Cuca Che Guevara Av. Pres. Castelo Branco, 6417 Barra do Ceará - F.:3237-4688
2 Entrevista
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Valdenor Xavier
“Muitas pessoas queriam saber como poderíamos fazer uma TV na periferia”
Valdenor Moura exibe a câmera recém adquirida que filma em HDTV Foto: tHiAgo teiXeirA por Juliana Teófilo
Coordenador da TV Janela e importante agente do 3° setor, Valdenor Xavier de Moura apresenta uma longa lista de instituições sociais nas quais trabalhou nos últimos anos. Após presenciar a “Chacina do Pantanal”, em 1993 - onde hoje se localiza o bairro Planalto Ayrton Senna, o que deixou uma imagem violência e miséria, Moura vislumbrou a possibildade de recuperação da identidade do bairro por meio de uma oficina de fotografia. Ela acabou sendo realizada em 2003. Após essa experiência, ele e um grupo de colaboradores tiveram a ideia de criar a TV Janela, uma TV comunitária que visa proporcionar aos jovens do bairro experiências na área de audiovisual e jornalismo de rua. Atualmente oferece laboratórios de câmera, edição, produção, roteiro, produção de cenários e técnicas de jornalismo, e recebe de 10 a 25 alunos, a partir de 12 anos de idade, que se interessem pela área de audiovisual. Na entrevista, a seguir, Moura narra as experiências do trabalho com a comunicação. Coletivo - Como a chacina incentivou a criação do projeto? Valdenor Xavier - A imagem da comunidade estava deteriorada pela chacina, que aconteceu na rua em que hoje funciona a TV Janela. Três adolescentes foram brutalmente assassinados e esse fato repercutiu muito, tanto no Ceará, quanto nacionalmente, pois aconteceu quase no mesmo momento
da horrível chacina da Candelária. Notamos que os jovens queriam mostrar o outro lado da comunidade. Na primeira exposição da oficina experimental de fotografia, observamos o destaque que foi dado ao esporte na comunidade, sempre com essa perspectiva positiva, meninos brincando de bila na rua ou a liberdade dos moradores de sentar nas calçadas. Desde então, per-
cebemos que seria necessário trabalhar essa faixa de idade e dar novas perspectivas de vida para eles. C - Como o projeto foi recebido pela comunidade? VX - No início, o projeto não agregava muita credibilidade por parte da comunidade. Acontece que, muitas vezes, as organizações comunitárias têm um envolvimento político-partidário e acarretam uma imagem negativa do ponto de vista da população. Então procuramos nos diferenciar nisso. Nós não deixamos de ser políticos, mas não nos partidarizamos. O segundo problema que enfrentamos foi quando falávamos que éramos uma TV e muitas pessoas queriam saber como poderíamos fazer uma TV na periferia. Algumas pessoas até brincavam, “só um louco pensaria em fazer algo assim num bairro como o nosso”. Mas, a partir da primeira exibição, a comunidade foi notando que essa TV não seria uma TV convencional. Três anos depois, esse reconhecimento por parte da comunidade foi surgindo e fortaleceu a interação do projeto com os moradores, pois começamos a focar em ações dos próprios
Nós não deixamos de ser políticos, mas não nos partidarizamos
moradores, como grupos culturais do bairro. C- Quais dessas ações da comunidade são testemunhadas pela TV Janela? VX - Em quadros como o Observatório da Comunidade, por exemplo, a comunidade interage discutindo determinado tema. No Jornal Janela, por sua vez, abordamos eventos realizados na comunidade e/ou denúncias sobre problemas do bairro. Há também os Mini-Documentários, que são janelas sobre temas positivos da comunidade, como personalidades de destaque, história das ruas ou como se deu sua nomeação.
C- Como o projeto Ponto de Cultura ajudou na manutenção da TV? VX - Esses recursos vêm para as nossas mãos e cobrem todas as despesas, como materiais, equipamentos, monitoria, coordenação e as despesas físicas da casa. E o mais importante, tudo isso é oferecido para esses jovens e adolescentes de forma gratuita. O edital Ponto de Cultura manteve o projeto por três anos. C- Muitos alunos que passaram pela TV Janela hoje estão no mercado de trabalho. Quais ações garantem esse resultado? VX - Nós observamos, ao longo do tempo, que, quando o jovem chega à oficina com uma idade mais avançada, beirando a idade adulta, ele está bastante preocupado em ingressar no mercado de trabalho. Então pensamos em alguns conteúdos que podem ajudá-los a ingressar em uma produtora de vídeos, por exemplo. Já quando o jovem ingressa nas oficinas com a idade de 12 a 15 anos, observamos que eles chegam com uma visão mais lúdica, de diversão, uma ocupação no horário seguinte à escola. Por isso nossas preocupações são diferentes para essas duas faixas etárias. C - Vocês foram escolhidos como uma das 40 principais tecnologias sociais da Fundação do Banco do Brasil, em 2005. Qual foi o impacto dessa premiação? VX -Esse prêmio foi importante, pois foi uma menção honrosa, ou seja, não foi um prêmio em dinheiro, mas deu uma visibilidade muito grande para o projeto. Nós fomos reconhecidos nacionalmente, passamos em intervalos de programas de grande audiência em todas as redes. Nossos vídeos foram imediatamente linkados por outras TVs Comunitárias do interior de São Paulo e Foz do Iguaçu, por exemplo. Pessoas mandavam e-mail pedindo permissão para passar nossos vídeos em programas de TV. Outro prêmio que nós recebemos foi o “História da Mídia”, no encontro que aconteceu aqui em Fortaleza, na Unifor. E fomos contemplados, também, com o prêmio de “Cinema e Vídeo” promovido pela Secretaria de Cultura, em 2006.
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Mídia Machista
E eu com isso? Professora Sandra Helena e alunos recebem Lola Aronovich Foto: gisele NuAZ
A publicidade está cada vez mais presente nos mais variados tipos de mídia. Vivemos em um mundo que vem se globalizado e é inevitável o contato com diversas propagandas. Mas como anda a qualidade desse conteúdo? Será que o conteúdo publicitário está respeitando a todos que o recebem? Para responder a essas e outras questões, a Unifor foi sede de um debate promovido por alunos de Jornalismo, evento que contou com um público que não se restringiu à área da Comunicação. A discussão proporcionou aos presentes reflexões a respeito do tipo de conteúdo veiculado hoje pela mídia. por Vitória Matos
Um importante debate marcou o fim do semestre letivo na Universidade de Fortaleza (Unifor). A discussão aconteceu em novembro de 2012 e fez parte de um evento anual que é realizado pela professora Sandra Helena de Sousa, do curso de Comunicação Social, e seus alunos da disciplina de Ética, Cidadania e Jornalismo. Em sua quarta edição, o evento “E
eu com isso?” trouxe a discussão sobre o machismo presente na mídia brasileira. O debate de quase três horas de duração, intitulado “Mulher não é mercadoria. E eu com isso?”, contou com a participação de Lola Aronovich, que é professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Doutora em Literatura da Língua Inglesa pela UFSC (leia
entrevista na próxi ma página), da professora e socióloga Inês Detsi e da aluna Letícia Abreu. Lola se tornou afamada nacionalmente por seu blog “Escreva Lola Escreva” e esse debate marcou sua primeira participação em eventos na Universidade de Fortaleza. A professora é conhecida por abordar questões que envolvem o machismo e por ser forte defensora do feminismo. Maria Inês Detsi de Andrade Santos, por sua vez, é doutora em Sociologia pela UFC e professora da Universidade de Fortaleza. Inês abordou a natureza histórica do machismo, utilizando alguns programas regionais como João Inácio Jr. e Nas Garras da Patrulha, para apontar “fatores da Idade Média” que ainda permanecem na sociedade nos dias atuais. A aluna Letícia Abreu, integrante da instituição feminista Macuma, marcou sua parti-
cipação falando a respeito do movimento feminista atual e sobre o assédio geral vivido pelas mulheres. Por fim, fala do Macuma, apresentando os objetivos da organização. A discussão envolveu a representação que a mulher tem na mídia atual, o machismo por parte da sociedade contemporânea, além de outros assuntos envolvendo a figura feminina na atualidade. Ética Os estudantes da disciplina de Ética também participaram da mesa. Apontaram questões relacionadas ao assunto e também colaboram diretamente para a reflexão de todos que estavam participando no debate. Para os estudantes que estavam presentes, o evento se fez importante não só para a disciplina de Ética, mas para toda a Universidade. Segundo eles, um debate desse porte é bas-
tante positivo e enriquecedor, pois aborda um assunto crítico e atual. Além disso, faz com que estudantes reflitam mais a respeito do tema, que, apesar de estar presente na sociedade, não é debatido com tanta frequência. Para os espectadores, a discussão foi a oportunidade para se analisarem os diferentes pontos de vista sobre o modo como a mídia aborda a figura da mulher na atualidade. Um momento para se questionar sobre o conteúdo midiático. Priscila Baima, que é estudante de Jornalismo, acompanhou o debate e aprovou a iniciativa. “A palestra Mídias Machistas conseguiu conscientizar as pessoas sobre o modo como a mídia atual trabalha a imagem das mulheres de todo o mundo. Fiquei triste ao saber o quanto essa imagem é banalizada, mas, ao mesmo tempo, aliviada, pois há pessoas que se importam e reivindicam o respeito às mulheres.”
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SOBPRESSÃO
COLETIVO
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Mídias machistas, e ela com isso? ocupando cargos de trabalho que antes eram apenas masculinos ou chefiando famílias e empresas, o machismo ainda é forte no Brasil. Ainda falta muito para a situação da mulher brasileira verdadeiramente melhorar.
No último ano, o Brasil viu milhares de mulheres irem às ruas para protestar contra fatos como a estigmatização do corpo feminino, seja no cotidiano ou por meio de produtos midiáticos. Movimentos como a “Marcha das Vadias” e a “Marcha Nacional Contra Mídia Machista” ganharam destaque nos veículos de comunição por sua peculiaridade e veemência em defender a posição ativa da mulher brasileira. Em entrevista por e-mail para o Coletivo, Lola Aronovich comenta seu envolvimento com o feminismo e sua opinião a respeito dos recentes movimentos de mulheres no Brasil. por Juliana Teófilo
Coletivo - O seu blog, Escreva Lola Escreva começou em 2008, mas sua trajetória no feminismo é bem mais antiga. Quando esse engajamento começou? Lola Arovich - Eu me considero feminista desde os 8 anos de idade. Tenho registros disso porque, na época, tinha alguns diários em que falava de direitos das mulheres, de igualdade, de injustiças. Mas nunca fui uma feminista muito militante. Só quando iniciei o blog é que pude organizar melhor o meu feminismo. Mas meu engajamento vem de infância, de um sentimento de sempre lutar pelo grupo mais fraco, mais oprimido. C - O tema do seminário realizado foi “Mídias Machistas” e você abordou diversos estereótipos midiáticos da mulher, seja no esporte, no jornalismo ou na publicidade. Como esse estereótipo da mulher-objeto, constantemente observado em produtos midiáti-
Lola Aronovich, professora e doutora em literatura pela UFC. Foto: DivulgAção
cos, afeta a imagem da mulher dentro da sociedade? L - Essa imagem de mulher-objeto, pra começar, afeta muito como a mulher vê a si mesma. A mulher é constantemente cobrada para ser decorativa e passiva. Acho que posso dizer que só há
Eu me considero feminista desde os 8 anos de idade.
duas funções em que a sociedade aceita a mulher: no seu papel materno, e no seu papel decorativo. Fora isso, a mulher ainda não é levada a sério, ou é sempre incentivada a reforçar um de seus dois papéis mais tradicionais. E, colocando-se como objeto, a mulher esquece que pode ser sujeito, que pode ter voz. Essa imagem de mulher-objeto também afeta como os homens veem as mulheres e como se dá o relacionamento entre os sexos. Enquanto tivermos um gênero que é visto como passivo, e outro como ativo, vamos continuar tendo desigualdade e papéis muito definidos de gênero, o que é ruim para todos. C - Muitas conquistas marcaram o movimento feminista nacional, como é o caso da Lei Maria da Penha. Nesse sentido, você concorda que a situação da mulher brasileira tem melhorado? L - A lei Maria da Penha certa-
mente é um avanço. Temos tido recordes de denúncias de violência doméstica, e isso é um bom sinal, se considerarmos que, antes da lei, muitos casos de violência não eram denunciados. Por outro lado, há outros índices que mostram que os assassinatos de mulheres, quase sempre por parceiros e ex-parceiros, têm aumentado no Brasil. E os casos de estupro também. São dados alarmantes. Ainda que cada vez mais mulheres estejam nas escolas e faculdades, que estejam
C - O fim da violência contra a mulher, da responsabilização delas pelas violências sofridas e da estigmatização dos corpos femininos são bandeiras do movimento que ficou conhecido como “Marcha das Vadias”. Qual a sua opinião sobre essas manifestações? L - O lado positivo da Marcha das Vadias é que ela é uma porta de entrada no ativismo para muitas jovens. Em muitos casos, é a primeira marcha de uma boa parte de meninas (e meninos também), e isso é fantástico. É um evento midiático, descontraído, internacional e de muita luta. Por esse lado, não tenho do que reclamar. O problema é que as bandeiras que você citou muitas vezes não são bem compreendidas pelo público leigo, e não será a mídia (nada afeita a manifestações sociais) que ajudará a informar esse público. E a palavra vadia é problemática. Não é fácil tornar termos tão pejorativos em símbolos de orgulho. Por causa disso, vários grupos feministas que também fazem ativismo importante recusam-se a se juntar à Marcha das Vadias. Este é um impasse que precisa ser resolvido. Podemos pensar num movimento com os mesmos objetivos, mas que tenha um outro nome.
Saiba Mais Criado em 1998, o blog Escreva Lola Escreva, escrito pela professora e doutora Lola Aronovich, abrange temas como cinema, literatura, política, mídias, além de discutir questões de cunho social como combate ao preconceito. Mas a característica mais importante do blog é a sua luta em prol do engajamento feminino na sociedade atual, sendo um dos principais porta-voz do feminismo brasileiro. Além disso, duas vezes por semana, Lola abre as portas de seu blog para os chamados guest posts, postagens feitas por convidados.
Artigo
Giselle Nuaz
Machismo de casa vai à praça O machismo começa em casa, quando a mãe separa os deveres do lar de acordo com o sexo dos filhos. Continua quando a menina começa a crescer e podar sua atitude pelo fato de ser mulher. Segue quando a mulher acha que tem que se tornar esposa de alguém para ser uma mulher bem-sucedida. Depois de casada, a mulher deve ficar em casa porque é “mãe”. Mas, e por que o “pai” não tem essa mesma obrigação pelo fato de ser pai? Por que mulheres entram de graça em boates para que assim possam atrair o público masculino? Para não citar as revistas
destinadas ao público feminino. Elas têm a obsessão de agradar o homem, sempre pedindo aval, pedindo bênção, permissão: “o que ele vai achar se você fizer sexo no primeiro encontro?”, “como levar seu marido à loucura”, “como segurar um macho com 10 cantadas infalíveis”. E elas vendem muito. Pesquisando na Internet, encontrei mais de 30 publicações que falam sobre os mesmos assuntos. Pergunto-me: depois de tantas lutas feministas, chegamos ao ano de 2012 realmente precisando agradar os homens para segurá-los? Mulheres não podem viver sem os homens?
A sociedade não está atenta a isso. Vivemos em uma sociedade machista e o pior, a aceitamos como está. Quantas propagandas claramente machistas são exibidas e não nos irritam de nenhuma maneira? Cerveja, desodorante, carros... Não importa o produto, os publicitários de plantão estão sempre dispostos a colocar uma mulher seminua para alavancar as vendas. Nos jornais diários também é usada essa técnica. Outro dia, em um curso de design, o professor exibia a capa do periódico e, depois de várias observações, fez o seguinte comentário: “(...) e sempre uma gostosona aqui no
canto direito superior para ajudar a vender”. Por quê? Por que uma mulher seminua na capa superior direita do jornal ajuda a vendê-lo? Estas questões estão incrustadas nas cabeças e nas atitudes. Mas vamos pensar nas soluções. Por onde começar? O único meio viável a todos é que nos tornemos mais atentos, como recentemente presenciamos uma grande mobilização nas redes sociais pedindo que “não ensinem as mulheres o que fazer para não serem violentadas e sim ensinem os homens a não violentarem”, e é bem por ai. É não falando mal da garota que “fica” com vários
homens e vangloriando o garoto que “pega” muitas garotas. É não comprando brinquedos que ensinam as meninas a cuidar da casa (fogões, bebês e casinhas de plástico), enquanto os meninos ganham carros, ferramentas e armas. Todos nós, que temos cabeça e membros, podemos dirigir carros e também lavar a louça, não? Somos iguais. Mesmo peso e mesma medida devem ser usados para classificarmos nossos atos. Nós, mulheres, cumprindo nosso papel de filha, mãe ou simplesmente ser humano, devemos deixar de ser machistas.
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Fórum busca democratizar a comunicação Atualmente, a comunicação no Brasil é restrita a sete famílias, dado este que fere a igualdade dos direitos básicos à informação. Um dos papéis mais importantes do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) é estabelecer essa igualdade de direitos para que os cidadãos tenham o mesmo acesso. Outro ponto forte do FNDC é promover o respeito à cidadania nas mídias.
Priscila Baima
Saiba como utilizar o serviço dos táxis É muito comum os taxistas desligarem o taxímetro e cobrar um valor fixo para a corrida. Mas este procedimento gera dúvidas nos consumidores, que não sabem se a cobrança é abusiva, ou se com o taxímetro sairia mais caro. Está na lei De acordo com o Código Nacional de Trânsito, a presença do taxímetro é obrigatória nos municípios com mais de cem mil habitantes, e a sua cobrança é composta pela soma do valor fixo inicial, do valor correspondente à quilometragem percorrida e do tempo parado no trânsito, sendo que cada cidade poderá determinar os horários que serão aplicados a Bandeira 1 e a Bandeira 2. Valor fixo O passageiro tem direito de não aceitar a oferta do taxista de pagar um valor fixo pela corrida, além de, caso perceba que a corrida está saindo mais cara do que o calculado, denunciar o motorista à companhia de táxi, a algum órgão de defesa do consumidor ou à secretaria de transporte da cidade. Valores Fique atento aos preços e às cobranças de taxas adicionais que variam conforme a localidade, como taxa de utilização do porta-malas, chamadas através do rádio-táxi ou viagens intermunicipais. A taxa de uso do porta-malas não pode ser cobrada de idosos ou deficientes que utilizam aparelhos especiais. No site www.tarifadetaxi.com, o passageiro pode calcular o valor médio de uma corrida nas bandeiras 1 ou 2. O cliente coloca o destino de origem e o ponto de chegada e sabe em média quanto pagará pela corrida.
Manoel Cruz
O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) foi criado em julho de 1991 como movimento social e transformou-se em entidade em 20 de agosto 1995. O FNDC congrega entidades da sociedade civil para enfrentar os problemas da área das comunicações no País. No Ceará, o FNDC é representado pelo jornalista Rafael Mesquita, que também tem o cargo de coordenador do departamento de juventude do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjoce). O papel do FNDC é tirar das mãos de uma minoria o poder da comunicação, além de promover os direitos humanos na mídia. “Os veículos de comunicação ainda são muito burgueses, pois a questão religiosa como a umbanda e os candomblés e outros fatores como os negros e os gays, ainda são muito estereotipados pelos veículos de comunicação, principalmente na tv”, destaca o jornalista. Na opinião de Mesquita, “outros pontos a serem discutidos pelo fórum são a regulamentação da comunicação de forma que uma pessoa possua apenas um veículo de comunicação, e não vários, como é comum no Brasil. O segundo seria um debate maior sobre as concessões, pois, até hoje, existe uma dívida da Tupi para com seus profissionais.” A jornalista e professora Adriana Santiago participou da fundação do fórum no Ceará. Segundo a docente, o principal objetivo do grupo é promover uma maior abertura dos meios de comunicação, onde todos tenham os mesmos direitos de acesso.
Direito do consumidor
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Tempo de espera em fila de banco e direito a indenização Rafael Mesquita é coordenador do Departamento de Juventude do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) e representante do FNDC do Estado Foto: Arquivo Pessoal
Ela explica que o FNDC se divide em quatro eixos fundamentais: educação para a mídia, ampliação do acesso à comunicação, políticas públicas para o marco regulatório e formas de controle da mídia. “Nós nunca conseguimos regulamentar todos os veículos de comunicação. Um exemplo disso é a Internet, que, desde 88, buscamos regulamentar”, diz. Poder na mídia Rosane Bertotti, secretária nacional de comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e coordenadora geral do FNDC, acredita que a comunicação é um direito humano, e, portanto, que cabe ao Estado adotar políticas públicas para assegurar esse direito. Segundo ela, os grandes conglomerados de mídia têm posição cativa ao lado do capital, atuando como correia de transmissão da ideologia mais reacionária, de privatização, desmonte do Estado, arrocho salarial, retirada de direitos sociais e trabalhistas. Como diz o próprio Programa do FNDC, “a luta pela democratização da comunicação vincula-se aos esforços para uma reestruturação da sociedade brasileira, com o estabelecimento de garantias
para o acesso a serviços públicos, ao trabalho e a condições de vida dignas para todos os brasileiros”. Não existe um quadro de atividades fixas do Fórum. Sua atuação envolve desde a representação política e institucional perante o Poder Público e outras instituições da sociedade quanto às ações de seus comitês regionais, que envolvem desde eventos de capacitação da sociedade até o ativismo puro, tais como o deslacre de rádios comunitárias e a produção de materiais que envolvam a bandeira da democratização da comunicação. A luta pela democratização passou a ser encarada como um esforço que deve ser permanente. Uma atitude a ser despertada nos cidadãos, estimulada na sociedade, compreendida no setor privado e impulsionada pela ação do Estado. A partir desse enfoque, se tem uma única certeza: nunca teremos uma plena democratização da comunicação. Serviço Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (85) 3272.2966/8644.6096 Rua Joaquim Sá, 545 Dionísio Torres Fortaleza - CE contato@sindjorce.org.br
O tempo de espera em filas de bancos é uma das maiores reclamações dos consumidores. O que eles não sabem é que há o direito de indenização em decorrência do tempo abusivo de espera em filas. Os bancos devem respeitar todos os direitos do consumidor, fornecendo produtos e serviços de forma eficiente e segura. A eficiência na prestação dos serviços, todavia, não envolve apenas o que é fornecido, mas como se dá esse fornecimento. As empresas que fornecem o serviço com maior comodidade aos usuários tendem a manter e aumentar sua clientela. Por consequência, as instituições financeiras precisaram desconcentrar a prestação de seus serviços, seja por meio de terminais de autoatendimento, seja pela possibilidade de utilização da internet e de telefones para a realização de transações bancárias com maior agilidade e comodidade. De acordo com o artigo 1º do Código de Defesa do Consumidor, ficam os estabelecimentos bancários que operam no município obrigados a atender cada cliente nos prazos máximos, contados a partir do momento em que ele tenha entrado na fila de atendimento, de acordo com esta lei. Em dias normais e/ou nas datas de pagamento dos servidores públicos federais, estaduais e municipais, de vencimento de contas das concessionárias de serviços públicos, bem como de tributos federais, estaduais e municipais, o prazo máximo de atendimento é de 15 (quinze) minutos. Em vésperas e após feriados prolongados, inclusive finais de semana, o prazo máximo de atendimento é de 30 (trinta) minutos.
Serviço Procon Estadual - Decon 0800 275 8001 / (85) 3452-4516 www.decon.ce.gov.br Procon Assembleia (85) 3277-3801 Av. Desembargador Moreira, 2807 Dionísio Torres Fortaleza - CE ANEEL - 167 Conselho de Consumidores da COELCE (85) 3453-4600 / 3453-4601 0800 285 0196
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Entrevista
Renata Mota, ao falar de sexo em suas palestras, consegue a confiança dos jovens de forma leve e descontraída. Foto: Divulgação
Prevenção com bom humor Renata Mota, 35 anos, é o que se pode chamar de profissional plural. Cirurgiã dentista por formação, ela também é coordenadora municipal de DST/ Aids (doenças sexualmente transmissíveis/Aids) e Hepatites Virais desde 2007, além de dar aconselhamento sexual e palestras muito bem humoradas e criativas sobre prevenção. Leia, a seguir, uma entrevista realizada no final de novembro, na qual ela conversa sobre o trabalho e as dificuldades que encontra em lidar com este assunto com diferentes públicos. Luciana Santos (com colaboração de Juliana Teófilo)
Coletivo - Você é cirurgiã-dentista. Que caminho levou você ao setor de prevenção a DSTs? Renata Mota - Bom, primeiro, é porque a boca é um órgão sexual (risos). Na verdade, essa é uma brincadeira por trás de uma militância que eu faço para que os dentistas compreendam que eles são profissionais que se relacionam com as DSTs de uma forma muitas vezes negligenciada. Segundo, em 2007, fui convidada pelo então Secretário de Saúde para a coordenadoria por já ter uma afinidade com essa questão da Aids e também manter um diálogo com os movimentos sociais. E, por último, desde criança, eu sempre achei essa coisa do sexo algo muito natural. Acredito ter encontrado um destino para esse talento e naturalidade, que eu creio que a sociedade como um todo deveria ter. C - Qual o seu maior desafio ao falar sobre DSTs nas palestras que você faz? RM - O maior desafio é convencer as pessoas de que o uso da camisinha pode ser uma opção diferente. Eu tento fazer uma dis-
cussão positiva em relação a prevenção. Tratamos a Aids como uma coisa séria, crônica, mas não como “as trevas”. As pessoas acham que as coisas sobre sexo são muito técnicas e eu procuro desconstruir essa ideia. A questão da criatividade nas palestras é isso. É preciso apostar em um discurso de contracultura em relação à prevenção; é dizer que usar camisinha é um símbolo de liberdade. C- Qual é a maior dificuldade no direcionamento de recursos públicos para prevenção de DSTs? RM- Eu diria que a maior dificuldade de trabalhar com DST implica encarar os principais tabus sociais relacionados ao sexo. Então, negociar recursos para trabalhar com uma situação que tem uma forte onda moralista contrária é difícil. A gente ainda está na dependência da vontade do gestor público. Não há uma política efetiva de Estado. Em âmbito local – e não falo particularmente de Fortaleza – quanto mais específico, mais difícil é negociar aquilo de que precisamos. Dessa forma, eu acho que as políticas de prevenção no Brasil como um todo necessitam de mais ousadia, mas em um país muito moralista isso fica complicado. Falar de prevenção implica em falar do
cotidiano, com menos pesar e com mais prazer. C - Nas palestras que você já realizou, que questionamento deixou você mais chocada ou preocupada? RM - Foram vários. Eu trabalho muito com jovens bem jovens (risos), então as perguntas de adolescentes entre 9 e 14 anos estão em um nível de elaboração que eu percebo, empiricamente, muito diferente de uns anos atrás. Mas, talvez, uma das coisas mais absurdas foi quando um garoto me perguntou se mulher tinha orgasmo. Isso me impressionou muito porque pesquisas mostram que hoje, a cada 10 mulheres, 6 ou 7 não sentem prazer com o parceiro, exatamente pela construção social do que é a sexualidade feminina. Então, essa questão e a da sexualização precoce ainda me assustam muito. C - Você trabalha essencialmente com crianças e adolescentes. Como não permitir que tudo seja levado na brincadeira por eles? RM - O que eu faço é pactuar com o jovem. Ele tem que se sentir seguro e entender que ali há um limite. É preciso lidar de forma clara. Tem a hora de brincar, tem a hora do risinho e tem a hora de ficar sério. A gente está ali em um momento pedagógico, não uma recreação. Eu coloco que eu acredito neles e os convido a provar para os pais, professores e diretores de escola que eles são capazes de não fazer balão com a camisinha, de não ficar fazendo piada. Coloco que eles têm a capacidade de entender que
eu não estou ali para estimular ninguém a fazer nada (risos). E eles querem essa franqueza. C - Mesmo com a mídia, televisão, internet, etc..., a desinformação sobre DST ainda é grande? RM - Com certeza. Há sim muita desinformação uma vez que as pessoas não buscam saber sobre o HIV. Elas acham que entendem a doença e, na verdade, o que elas têm é uma informação que muitas vezes já está obsoleta. Tem gente que nunca teve a curiosidade de pesquisar a palavra “Aids” na internet. Já em relação à camisinha, o conhecimento é mais universal. Porém, em relação a coisas mais específicas, como a mudança do tratamento nos últimos anos, é uma “desinformação” que as pessoas acham que sabem (risos). Fala-se do coquetel como há 20 anos, e ele mudou completamente. Hoje, pensar que um resultado positivo para Aids é o mesmo que receber uma sentença de morte é resultado dessa desinformação.
C - Para finalizar, qual o grau de ignorância que você observa em relação àquelas pessoas que ainda hoje acham que DST ocorre em nichos específicos da sociedade? RM - Eu acho que a gente tem de dar um recado de que, na verdade, doença sexualmente transmissível, qualquer pessoa que tem a vida sexual ativa e que não se previna está sujeita. Não importa, inclusive, se ela é casada. Não digo isso do ponto de vista moral e nem questiono a instituição casamento, mas do ponto de vista epidemiológico, os dados mostram que 30% das mulheres infectadas eram casadas. Então não podemos lidar com uma sociedade utópica, é preciso pisar no chão e ver que a sociedade é diversa, existem várias conexões sexuais e as pessoas precisam se perceber dentro desse contexto. Quem insiste em trabalhar com a noção de grupos de risco está muito mais vulnerável.
Saiba mais...
Aumentam infectados pelo HIV O último relatório do programa contra a AIDS (Unaids), das Nações Unidas, aponta que em localidades como o Leste Europeu, o Norte da África e no Oriente Médio as taxas de infecção ainda estão aumentando. O relatório revela, contudo, uma queda de mais de 50% no número de novos infectados pelo HIV em 25 países. No Brasil, segundo dados divulgados em novembro de 2012 pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, entre 490 mil e 530 mil brasileiros estão infectados com o vírus HIV. Destes, somente 217 mil estão em tratamento. No Ceará, o número de diagnosticados triplicou a partir do quarto mês de 2012, atingindo a cifra de 10.800 indivíduos infectados.
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