Coletivo 8

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Capacitação de professores da rede pública para uso da comunicação como recurso de ensino é missão da ONG Catavento. Página 3 JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIFOR

FEVEREIRO/MARÇO DE 2013

ANO 4 N° 8

Agilidade e leveza com a boca e os pés Goret Chagas é artista plástica e escritora. O comprometimento dos membros superiores não a impediu de desenvolver suas habilidades.

Artistas plásticos que utilizam a boca e os pés para pintar participam de Associação e divulgam seus trabalhos no Brasil e no mundo. A brasileira Goret Chagas mostra que a limitação física não paralisa o desejo criativo.

Gizela Farias

Goret Chagas nasceu tetraplégica. Mas, contrariando todos os prognósticos médicos, começou a andar aos cinco anos de idade. Foi durante o último dia da festa religiosa dedicada ao Divino Espírito Santo, em Delfinópolis, Minas Gerais, que a pequena, carregada nos braços, pediu para que a colocassem no chão. A medicina não encontra respostas para o ocorrido, a religiosidade foi a explicação de Goret: “A vontade de uma criança aliou-se à intervenção Divina e começo a andar. São os primeiros passos da minha vida”. Ela aprendeu e desenvolveu técnicas para utilizar a boca e os pés para produzir os quadros.

Desde criança escrevia e desenhava com os pés. Foi alfabetizada em casa e depois, na escola, começou a escrever com a boca por incentivo da professora Sílvia. Devido à facilidade de manusear os pincéis com os pés, produzia e vendia os próprios quadros na adolescência. O quarto de paredes claras e arejado era o local favorito para as inspirações de Goret. “No início, pintava sem compromisso em tecidos como camisetas, cortinas e telas. Preferia produzir durante o dia, regado à música e muita bagunça dos meus nove irmãos”. No dia a dia, Goret desenvolveu a neuroplasticidade, capacidade do cérebro se readaptar e substituir tarefas de órgãos comprometidos para que outros órgãos desempenhem determinadas funções. No caso de Goret, a boca e os pés assumiram as funções das mãos. “Por serem atrofiadas, me readaptei: trabalhava e estudava usando os pés e a boca para desenvolver, inclusive, minhas atividades diárias”. Goret formou-se em Letras pela Unesp e Educação Artística,

fez especialização em Semiótica e se aposentou como professora universitária. Pluralidade na vida É escritora, palestrante motivacional e membro da Associação dos Pintores com a Boca e os Pés (APBP), cooperativa que incentiva e motiva os sócios pintores a ter uma vida independente mesmo sem o uso das mãos. “Depois de aposentada, entrei na APBP, meu estilo é acadêmico livre”, diz Goret. “Aquarelo flores, mas também uso acrílico em paisagens e pássaros.” A artista plástica explica que os quadros dos sócios devem seguir um padrão determinado pela cooperativa para competir em estética e venda com os trabalhos de artistas convencionais. As telas dos pintores associados são enviadas à entidade, que tem sede na Suíça, e submetidas à avaliação. Se selecionadas, elas retornam em forma de cartões e calendários. “Perdi a conta de quantos trabalhos já enviei. Exporto para Suíça de quatro a seis telas,

Foto: gisEllE NuaZ

mensalmente”. Goret tem 28 telas aprovadas pela Associação. Participou de exposições na Suíça e Brasil. Sua obra é finalista em prêmio nacional. Possui 12 cartões reproduzidos em países como Finlândia, Argentina e Noruega, sendo reconhecida internacionalmente. Como escritora, oscila entre prosa e poesia. Lançou em 2010 o livro que está na segunda edição, ‘’Realize...Tudo o que seu coração deseja”, digitado inteiramente com a boca e ilustrado em aquarela com os pés.“Obra finalista em prêmio nacional, foi inspirada em minha história. Precisava deixar um legado escrito e digitei, durante 8

meses, no computador, quase todos os dias. Às vezes, de repente, corria e digitava alguma lembrança ou ideia que surgia”, relembra Goret.


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