FÔLEGO JORNAL-LABORATÓRIO SOBPRESSÃO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIFOR
MAI/JUN 2009
ANO 6
N° 18
O desafio de chegar ao topo Entre riscos e conquistas, Rosier Alexandre superou desafios do montanhismo e tornou-se o primeiro nordestino a pisar no topo do maior pico das Américas Gabriela Gomes e Raquel Maia
Coincidência ou não, Rosier Alexandre nasceu justamente onde se localiza o ponto mais alto do Ceará, no município de Monsenhor Tabosa. Desde a infância, guardava verdadeiro fascínio por altitudes. “Quando criança, já ficava impressionado com mirantes e altas montanhas. Imaginava e depois desenhava tudo no caderno”, relata. Formou-se em Marketing, mas nunca deixou de lado o desejo de escalar os mais altos e gelados montes do mundo. Entre dezembro de 2004 e janeiro de 2005, Alexandre colocou seu sonho em prática: organizou uma expedição ao Aconcágua (Cordilheira dos Andes), a segunda montanha mais alta da terra com 6.962 metros de altura. Apesar de não ter chegado ao topo, o montanhista estabeleceu um novo recorde Norte/Nordeste de altitude, chegando a 6.700 metros. No ano seguinte, organizou uma segunda expedição e, no dia 16 de janeiro de 2006, abriu a bandeira cearense no cume do Gigante dos Andes. Foi o primeiro montanhista do N/NE e um dos poucos brasileiros a conquistar o poderoso e temido “Ackon-Cahuac”, ou “sentinela de pedra”, como chamavam os Incas. Hoje, aos 40 anos, Rosier Alexandre é um dos montanhistas mais destemidos do país e divide suas experiências sobre o esporte que também encara como um lazer, seu maior e mais desafiante hobby. O início “Minha primeira grande aventura foi no território argentino, onde escalei o Cerro Vallecitos, uma montanha com 5.500 metros de altitude. Quando consegui chegar ao cume, no dia 31 de dezembro de 2004, deslumbrei-me com
uma paisagem encantadora e tinha o coração quase explodindo de emoção. A preparação foi feita no Brasil. Como aqui não tem grandes montanhas, foi um pouco difícil. Com objetivo de superar as dificuldades, eu me preparo fisicamente de forma impecável para, quando partir para a montanha, a resistência à altitude seja a máxima possível”. Fascínio “O que me atrai no montanhismo são três coisas básicas: primeiro, a paisagem. Quanto mais alto o lugar, mais bonito o mirante a ser observado. Em segundo, as reflexões. As montanhas são lugares relaxantes para pensar na vida, não existe lugar melhor para ler do que no pico de uma montanha. Lá, você está livre de todas as modernidades que nos perturbam. A terceira, e mais interessante, é a administração da expedição. Você aplica isso na
Rosier Alexandre
Quando consegui chegar ao cume, deslumbrei-me com uma paisagem encantadora e tinha o coração quase explodindo de emoção. Montanhista
sua vida profissional, a parte administrativa de uma aventura dessas é fundamental, não há lugar para erros. A questão emocional conta bastante. Já cheguei a ficar quase oito dias sem ter nenhuma notícia da minha família e nem ela de mim. A saudade é sempre constante. Mas sinto que, quando saio de mais uma aventura, venho renovado física e psicologicamente”. O Aconcágua “A expedição feita para o Aconcágua (localizado nos Andes argentinos) foi muito difícil, por se tratar de uma montanha muito alta e ge-
lada e por nós não estarmos acostumados àquele clima, nem ao frio extremo e nem a altitudes tão elevadas. Antes de encarar uma aventura como essa, é importante, primeiro, que haja uma adaptação a grandes altitudes. É assim que eu faço: antes de escalar a montanha principal, passo alguns dias escalando uma montanha menor para iniciar o processo de aclimatação, momento em que o corpo vai se expondo a estas novas condições e começa a se adaptar. A adaptação é importantíssima e vem aliada ao planejamento. Quando ele é bem feito, consegue-se chegar ao ponto final com segurança. É assim que se deve trabalhar, visando ao êxito na expedição que é chegar ao objetivo final, porém com segurança”. A conquista e a meta “Inicialmente, eu queria escalar o Pico da Neblina, maior montanha do território brasileiro, tendo como maior dificuldade a sua localização, no meio da floresta amazônica. Terminei deixando esse projeto de lado e resolvi escalar o Aconcágua, com 6.962 metros de altitude. Fui a 6.700 metros de altitude, mas não consegui chegar ao cume. Voltei para o Brasil e passei mais um ano me preparando. No final de 2005 retornei ao Aconcágua e no dia 16 de janeiro de 2006 consegui pôr os pés no cume da montanha e abrir a bandeira cearense. Eu tenho um projeto de escalar as maiores montanhas de cada continente (são sete). Já escalei várias aqui na América do Sul, mas existem outras em continentes como Antártida, Europa, Oceania e da África que fazem parte dos meus objetivos atuais. Sem falar no Everest (Ásia), que é o maior de todos os desafios”.
Saiba mais...
Picos mais altos dos continentes Ásia Monte Everest 8.844m América do Sul Aconcágua 6.962m América do Norte Monte McKinley 6.194m África Kilimanjaro 5.892m Europa Monte Elbrus 5.642m Antártida Maciço Vinson 4.892m Oceania Pirâmide Carstensz 4.884m
Desafiando geladas montanhas, Rosier alcançou suas metas e chegou ao pico, abrindo a bandeira cearense no ponto mais alto das américas FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Planejamento e segurança Diversos riscos podem surgir quando o atleta escala montanhas de elevadas altitudes. A melhor forma de evitá-los é por meio de um bom planejamento administrativo da excursão e um bom preparo físico. Dentre os problemas que podem surgir, os mais comuns são os edemas pulmonar ou cerebral e as quedas. “Cerca de 80% das mortes acontecem nas descidas. O montanhista gasta toda a energia para chegar ao cume e acaba esquecendo a volta, tor-
nando-a muito perigosa”, alerta Rosier Alexandre, que considera também as avalanches como perigosos obstáculos no caminho do montanhista. De acordo com ele, “em escalada de alta montanha, o ideal é subir cerca de 300 a 400 metros por dia, não se deve passar disso. O pensamento deve ser o de ganhar altura com responsabilidade. Se em apenas um dia você subir 500 a 600 metros de altitude, o risco de ser surpreendido por um edema é grande”.
Serviço Site de Rosier Alexandre www.rosier.com.br rosier@rosier.com.br (85) 3246.2310 Rosier Alexandre no topo de mais uma conquista, a 6.088 de altitude
FOTO: ARQUIVO PESSOAL