FÔLEGO JORNAL-LABORATÓRIO SOBPRESSÃO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIFOR
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Conheça as curiosidades da vaquejada, que deixou de ser apenas um hobby e virou um esporte levado a sério. Seus praticantes contam os desafios e os prazeres desse esporte que se estendeu a todos os públicos, inclusive o feminino. Páginas 4 e 5
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Adrenalina nas águas O Wakeboard evoluiu impulsionado por diferentes técnicas e iniciativas. Antes, uma alternativa; hoje, um esporte respeitado e que está em constante expansão Camila Holanda
Por décadas, o Surf foi o esporte aquático predileto entre os frequentadores das praias. Com a evolução das técnicas e a necessidade de novas modalidades de esportes marítimos, o wakeboard surgiu na década de 1970, nos EUA, como uma alternativa para os surfistas nos dias de pouca onda. Barcos começaram a rebocá-los por intermédio de um cabo. Com o tempo, as pranchas foram diminuindo e lanchas passaram a puxá-las. Hoje ele tem uma dimensão mundial, e no Brasil tem crescido muito. Pode-se dizer que este esporte é uma fusão do esqui aquático com surf. A prancha deve ser proporcional ao peso e altura do atle-
ta. Deve ser menor que a utilizada no surf, possibilitando maior velocidade. A corda deve estar sempre esticada, pois o wakeboarder (nome que se dá ao atleta desse esporte) precisa manter o equilíbrio ao realizar uma manobra. O campeão do circuito cearense de 2008, Iugo Borges, afirma que o pré-requisito para praticar é “apenas ter alguma vivência na água e saber nadar, para não se apavorar muito”. Quando o esporte foi iniciado no Brasil, em 1990, e a Associação Brasileira de Wakeboard foi fundada, (ABW) em 1998, por Betinho e Flavio Castello Branco, o primeiro circuito nacional teve 6 fases pelo País. A classificação era feita de uma forma objetiva e com técnicas préestabelecidas. Em 1999, os critérios ficaram mais subjetivos, deixando os atletas mais livres para fazerem outras manobras. Nesse novo formato, o que contava era o estilo, o que facilitou mais. No ano seguinte, obstáculos como rampas e corrimãos passaram a ser utilizados nos campeonatos, criando ainda mais opções para os wakeboarders exibirem suas habilidades.
Há o campeonato nacional e os estaduais. Em 2010, Fortaleza foi sede da 3ª etapa do Circuito Brasileiro, nos dias 12, 13 e 14 de novembro. Tal fato é a consolidação de que o Ceará tem força, sendo reconhecido como um dos principais pólos do esporte no País. Antes da competição, Iugo Borges afirma que “os atletas estão muito pilhados, e treinando toda semana”. Pela terceira vez consecutiva, o paulistano Luciano Rondic conquistou o título de campeão brasileiro na categoria Profissional. O favorito era Mário Manzolli, mas ficou em segundo. Eduardo Martins levou o bronze. Segundo Iugo Borges, um critério observado nos campeonatos é que “os wakeboarders devem se concentrar na qualidade das manobras, não na quantidade”. Eles não devem repeti-las e serão “julgados na dificuldade e competência das que forem realizadas”, complementa. Os juízes pontuam os competidores em cada um dos três critérios: execução, intensidade e composição.
Lagoa do Colosso foi sede da 1ª etapa do campeonato cearense
Foto: Justi FreitAs
Cearense radical O Wakeboard chegou ao Ceará na década de 1990. Mas foi só após o primeiro campeonato na Lagoa do Uruaú, Beberibe, em 2004, que ele passou a ser mais conhecido. O atleta cearense Rodrigo Frota é um dos responsáveis pela disseminação do esporte no Estado. Iugo Borges, professor da escola 30 Knots, afirma que ele é uma espécie de “embaixador do esporte aqui”. O Ceará está entre os oito principais locais responsáveis pelo crescimento do wakeboard no Brasil, ao lado dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Tocantins, Brasília e Amazonas. A estudante de Publicidade da Universidade de Fortaleza, Letícia Brayner, começou a praticar através de amigos. Ela afirma que admira muito o esporte e é estimulante vê-lo crescendo no Ceará. “Logo na primeira experiência já me empolguei. Já conhecia o Wake,
mas nunca havia praticado ou visto de perto como era”, complementa. O sistema de Cable 2.0, inovação no esporte que traz um sistema de cabos que puxa o wakeboarder por cima, utilizando a eletricidade, foi inaugurado na Lagoa do Colosso, em Fortaleza, nos dias 4 e 6 de setembro de 2010, quando ocorreu a 1ª etapa do campeonato cearense. O uso de lanchas pode ser, então, dispensado. Mas nas aulas ainda são utilizadas. No Brasil, atualmente, há 3 Cables. Eles podem ser encontrados no Naga Cable Park, na cidade de Jaguariúna, São Paulo; no 2D Cable Park, município no município de Cotia, São Paulo; e na Lagoa do Colosso, em Fortaleza. As categorias do circuito cearense são dividas em iniciante, intermediário, feminino, avançado e open. Essa última é a mais difícil e é recomendada para profissionais.
O wakeboard, apesar do pouco reconhecimento no Estado, é um dos esportes mais procurados no litoral cearense Foto: Justi FreitAs
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A Corrida de rua Unifor já é uma tradição no calendário esportivo da Universidade. Esse ano completa a sua 18ª edição e reuniu esportistas profissionais e atletas amadores. Foto: André LimA
A Corrida de rua Unifor desse ano contou com mais de 2 mil atletas João Paulo de Freitas
O pódio masculino foi conquistado pelo português Helder Mendes Abreu Ornelas, que concluiu a prova em 33 minutos e 59 segundos. Segundo o atleta, o clima cearense dificultou um pouco o desempenho. Na categoria feminina, a maranhense Larisse do Nascimento conquistou pela segunda vez consecutiva o primeiro lugar. Dessa vez, a atleta fechou o tempo com 40 minutos e 36 segundos. Larisse diz que o segredo para duas vitórias seguidas é praticar diariamente a corrida.
A premiação foi concedida em dinheiro para os três primeiros colocados de cada categoria (masculina e feminina). 2.000 reais para o primeiro lugar, 1.500 para a segunda colocação e 1.000 reais para os terceiros colocados. A corrida foi realizada no dia 12 de dezembro, às 7h da manhã. Os atletas se concentraram na avenida Valmir Pontes, ao lado da Unifor. A distância do percurso foi de 10 km.
Caderno Fôlego - Fundação Edson Queiroz - Universidade de Fortaleza - Diretora do Centro de Ciências Humanas: Profa. Erotilde Honório - Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Wagner Borges - Professor Orientador: Alejandro Sepúlveda - Projeto Gráfico: Prof. Eduardo Freire - Diagramação: Bruno Barbosa e Aldeci Tomaz - Estagiário de Produção Gráfica: Bruno Barbosa - Supervisão gráfica: Francisco Roberto - Impressão: Gráfica Unifor - Tiragem: 500 exemplares - Edição: João Paulo de Freitas - Redação: Camila Holanda, Julie Scott, Márcia Feitosa, Raphael B. Alves e Ricardo Garcia .
Sugestões, comentários e críticas: equipelabjor@gmail.com
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Os atletas completam o percurso da Corrida de rua Unifor, em, no máximo, 1hora e 30 minutos. Após a chegada do primeiro lugar, são premiados com a medalha de participação. Foto: André Lima
Além do prêmio em dinheiro para os três primeiros colocados, os vencedores levam para casa um troféu.
Essa competição é classificada pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) como classe A. Foto: André Lima
Dormir cedo, ingerir alimentos mais leves, beber bastante líquido, alongar-se, usar tênis apropriados e confortáveis são algumas dicas básicas para esse tipo de competição. Foto: André Lima
Larisse do Nascimento ficou em primeiro lugar na categoria feminina. Em segundo, com 41 minutos e 02 segundos de tempo veio Mary Emanuella Oliveira. No terceiro lugar, Antônia Bernadete Lins da Silva marcou o tempo com 42 minutos e 30 segundos. Foto: André Lima
O primeiros lugar foi conquistado por Helder Mendes Abreu Ornelas. Em seguida Adelson Alves Rodrigues conquistou o segundo lugar com 34 minutos e 14 segundos de tempo percorridos. Com a diferença de dois segundos, João Batista Silva Negreiro ficou em terceiro lugar com 34 minutos e 16 segundos. Foto: André Lima
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Vaquejada também é esporte Em um cenário de crescimento do número de simpatizantes, de reconhecimento da atividade como esporte e da regulamentação das regras, a vaquejada se consolida como profissão. A prática ganha cada vez mais espaço e se dissemina com rapidez nas grandes mídias. As competições já podem ser acompanhadas em sites, blogs e programas de TV veiculados semanalmente Márcia Feitosa
A vaquejada nasceu das pegas de bois dentro da caatinga nordestina e se popularizou como divertimento para homens acostumados a lidar com a boiada e que mostravam força suficiente para domá-la. O trabalho do vaqueiro, no começo, consistia basicamente em reunir o gado no tempo de seca, ferrá-lo, castrá-lo e conduzi-lo para onde ainda houvesse pasto verde no sertão. Estes homens que se embrenhavam no meio da mata vêem em seus próprios corpos as marcas de uma vegetação seca, cheia de espinhos e pontas de galhos, que tanto dificultavam seu trabalho. Aqueles que se mostravam mais bem adaptados à aridez e às intempéries da região foram sendo valorizados, por realizarem com maestria o que lhes havia sido delegado. Na dúvida sobre quem seriam os melhores, se organizou uma disputa, que pretendia divertir os espectadores e mostrar os dons de cada vaqueiro na derrubada de bois em um determinado espaço da pista de corrida. Em meados da década de 40, uma vertente mais rude da vaquejada começou a ser praticada com assiduidade: a corrida de pé-de-mourão. A atividade baseava-se na derrubada do boi o mais próximo possível da porteira de onde saía. O risco que a dupla de vaqueiros corria era enorme, visto que um teria que derrubar e o outro pular do cavalo em movimento, e pegar o boi enquanto ainda estivesse no chão.
Um novo esporte A evolução foi responsável por sucessivas mudanças, até ser criado um regulamento que consolidou a vaquejada como uma nova modalidade esportiva. Atualmente, os participantes disputam divididos em categorias: amador, intermediário e profissional. As faixas, no final da pista, têm um espa-
ço padronizado de 10m. O uso do capacete confere bonificação a quem usa. Tecnicamente o boi não pode ser açoitado nem ter a cauda quebrada sob pena de desclassificação de quem o fizer e também os cavalos só podem correr se apresentarem os exames de anemia (doença contagiosa que prevê o sacrifício do eqüino que a contraia) e mormo (zoonose grave que pode ser transmitida para o homem), segundo o apresentador do Programa Vaquejada da TV Diário, José Santana. Cada inscrição dá direito a três bois que conferem oito, nove ou dez pontos. Estes pontos, porém, só são contabilizados se, no evento da queda, o boi levantar e deixar visível as quatro patas. Em caso de dúvida, o julgador analisa e passa a informação para o locutor para que ele anuncie os tradicionais: “Valeu o boi” ou “Zero boi”. O estabelecimento dessas regras deixou o esporte mais seguro, fazendo com que cada vez mais pessoas se interessassem por ele. Como em toda mudança há traumas, neste caso não poderia ser diferente. Ela trouxe também um ônus muito grande, já que com a popularização, a vaquejada saiu do interior e ganhou as grandes cidades. Na chegada a essas cidades, os adeptos também mudaram, pois o patrão, dono de fazendas, que antes ia só para assistir já não pagava mais a um vaqueiro para que corresse e divulgasse seu nome, mas ele mesmo e seus filhos passaram a usufruir da glória e do reconhecimento trazido pelas premiações.
Negócio lucrativo A chegada da “classe A” ao “mundo da vaquejada” mudou os parâmetros de uma prática totalmente sertaneja, comprometendo suas origens. Os próprios vaqueiros sentem o acontecido. “As mudanças trouxeram parques com estruturas altamente modernas, premia-
Vaquejada
A estudante pratica vaquejada desde os treze anos de idade. Foto: Rayla Vidal
Esporte atrai mulheres Pela sua origem, a vaquejada vem marcada por um ar de masculinidade e pela ideia de que é preciso um esforço enorme para a derrubada do gado. O não conhecedor das técnicas jamais acharia viável, neste caso, a participação de mulheres no esporte. E é exatamente contrariando essa lógica e buscando cada vez mais aprimorar as estratégias de derrubada que a vaquejada conta com um número crescente de mulheres. A maneira com que elas se comportam nas competições parece proposital, é como se quisessem dizer que não perderam sua feminilidade por terem escolhido viver entre homens, que não deixaram de ser mulheres quando decidiram ser vaqueiras. Aquelas que têm se aventurado no esporte, mostraram que podem disputar de igual para igual com os homens e que estão lá para apresentar seus talentos. Talentos estes, que não foram reprimidos pelos preconceitos da sociedade,
que ainda sustenta o machismo e acha que existem espaços onde a mulher não deve estar. A aluna do curso de Enfermagem da Unifor, Natianne Andrade, é uma das que se aventuraram na vaquejada. Vaqueira desde os treze anos, ela diz ter se interessado pelo esporte por sempre ter convivido com ele, já que os homens de sua família sempre o praticaram. “Comecei a correr na inauguração de uma pista em minha cidade, Morada Nova. Eles me convidaram para fazer uma homenagem a meu avô, já que a pista teria o nome dele, por ter sido um dos melhores vaqueiros da região. A inauguração foi em 2003, desde lá nunca parei”, afirma. Mesmo sendo uma atividade paralela, e ter um caráter de diversão, Natianne deixa claro sua paixão e a seriedade com que vê a regularização e unificação das regras para que, cada vez mais, a vaquejada se consolide como esporte.
O jovem vaqueiro André Leopoldo montando o c
ções milionárias e cavalos que custam fortunas. Já não são mais a coragem e a habilidade que contam, agora é preciso ter dinheiro para poder praticar. O número crescente de adeptos foi rapidamente visado por ricos empresários, e a vaquejada está passando por um processo de descaracterização, já que, muito mais que o espetáculo de força e garra que um dia fora, é agora um grande e lucrativo negócio”, afirma o vaqueiro cearense André Leopoldo. A injeção de dinheiro permitiu que atitudes ilícitas e vícios perniciosos chegassem aos espaços de corrida. O monopólio dos empresários sobre os melhores vaqueiros e a limitação desse vaqueiro que passa apenas a fazer o que ordena sua equipe. Mesmo tendo sido sempre vítima de estereótipos, antes a luta era para mostrar que nas disputas não havia apenas pistoleiros e pinguços, agora é para erradicar o perigo, que já é tão iminente que substitui o que se supunha antes. E inegável que, após esse crescimento, hoje existem inúmeras pessoas que são be-
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Glossário
Brete ou jiqui: Porteira de onde o boi sai no inicio da pista. Calzeiro: Responsável por colocar a cal na areia para que a faixa esteja sempre visível. Esteira: Vaqueiro que auxilia o puxador pegando e entregando o rabo do boi para que seja derrubado. Faixa: Espaço entre duas linhas feitas de cal onde o boi tem que ser derrubado para valer pontos. Juiz de faixa ou julgador: O que valida o boi ou não no evento da corrida. Locutor: Alguém que chama os vaqueiros para entrar na pista e narra a competição. Puxador: Vaqueiro que puxa o boi pelo rabo tentando derruba-lo. Valeu o boi: Frase dita quando o boi caiu e será contabilizado em pontos para o vaqueiro. Vaqueirama: Grupo de vaqueiros. Zero boi: Quando o boi não caiu, ou alguma das regras foi infringida e não haverá pontuação. Fonte: José Santana – apresentador do programa Vaquejada da TV Diário
cavalo Canjica, na disputa do Circuito Cearense de Vaquejada. Foto: Rayla Vidal
neficiadas direta ou indiretamente pelos empregos que são gerados na vaquejada. Fazem parte impreterivelmente do evento o locutor, o julgador, os responsáveis pelo curral, o tratador dos cavalos, o calzeiro, entre outros. “A tradição ligou também a vaquejada às festas de forró. É impossível pensar em vaquejada sem festa. Na estrutura de cada parque são sempre disponibilizados espaços para a realização desses eventos que se tornam cada vez mais diversificados, já que atraem públicos imensos”, diz Phillipy Costa, responsável pelas atrações que animam a vaquejada do maior parque de João Pessoa, na Paraíba, explicando o sucesso da parceria forró-vaquejada. Sucesso este que lhe garante um salário exorbitante, que funciona como bonificação, já que o dono do parque exige exclusividade dos empresários que divulgam e organizam o evento.
Regulamentação A seriedade com que a vaqueirama encarou durante esse tempo “a vida de gado” foi fi-
nalmente reconhecida por lei, beneficiando os que vivem da prática como vaqueiros profissionais. A Lei 10.220 de 11 de abril de 2001, assegura, entre outras coisas, que deve haver um contrato escrito entre os responsáveis pela equipe que irá ingressar e o vaqueiro e neste contrato devem constar cláusulas referentes à divisão de premiações, salários e indenizações em caso de invalidez ou morte do vaqueiro. O número de vaqueiros profissionais ainda é pequeno, visto que são cerca de 400 no Brasil, segundo o site oficial da Associação dos Vaqueiros. A afeição que os sertanejos têm pela vaquejada foi responsável pela difusão do esporte e agregou a ele uma grande quantidade de participantes. A paixão organizou-se principalmente em torno da visão coletiva de que isso tudo faz parte da tradição e cultura do povo nordestino, que alia raça e coragem às suas atitudes. Os praticantes, por se encontrarem com certa freqüência, cultivam a sensibilidade de respeitar seus adversários e a amizade entre si.
”Sou um vaqueiro-juiz” Djalma Teixeira Benevides nasceu em Itapipoca e, desde cedo, manifestou sua paixão pela vaquejada. Aos doze anos correu efetivamente pela primeira vez numa corrida de pé-de-mourão num cavalo dado por seu pai. Formado em Direito, foi aprovado no concurso de Juiz aos 24 anos e assumiu sua primeira comarca aos 26 anos na cidade de Bela Cruz, no Ceará. Ele resume sua saga em uma frase: “Nasci vaqueiro e Deus me elegeu para ser Juiz.”. De bom humor e simpatia contagiante, Dr. Djalma não se cansa de falar do esporte e da satisfação que é receber bonificações nas corridas. Tanto é, que tem seus troféus expostos na sala de casa. Além de premiações simbólicas, o Juiz já ganhou prêmios em dinheiro. Dentre estes considera como mais relevante a moto que conseguiu no Circuito Maranguapense de Vaquejada. Ele ressalta que o mérito pelas vitórias não é só seu e divide os aplausos com Faixa Branca, o cavalo que monta nas corridas
A vaquelaja não impediu que Djalma estudasse Direito e se tornasse Juiz.Foto: Rayla Vidal
e o que o acompanha há nove anos. A cumplicidade entre os dois garantiu um poster de Faixa Branca na sala do 8º Juizado Especial Cível e Criminal de Fortaleza, que Djalma Benevides ocupa. A novidade não está apenas no fato de um juiz praticar vaquejada, mas em assumir as duas carreiras e amar as duas, considerando-as ambivalentes na seriedade com que as desempenha. Dr. Djalma , no entanto, ressalta o seu amor
primeiro: “Eu não sou um JuizVaqueiro, sou um VaqueiroJuiz”. Não precisaria explicar, pois isto fica muito claro se repararmos no toque do celular onde se ouvem relinchos de um cavalo, ou para o sentimentalismo com que sempre cita as praticas do sertão em que nasceu, ou ainda para a coleção de miniaturas de cavalos em sua sala ou para a maneira como elogia emotivamente a destreza e habilidade de cada um dos seus companheiros vaqueiros.
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Esporte sem limitações O VII Jogos Paraolímpicos do Ceará reúne desportistas amadores e profissionais com um só objetivo: o esporte sem restrições para todos Julie Scott
A Universidade de Fortaleza (Unifor) sediou, de 18 a 20 de Novembro, a sétima edição dos Jogos Paraolímpicos do Ceará, evento realizado pelo Governo do Estado do Ceará em parceria com a Associação de Deficientes Motores do Ceará (ADM). Neste ano, 465 atletas de todo o estado se reuniram no complexo esportivo da Unifor para competir em 8 modalidades, que incluíram atletismo, natação, futsal, basquete, tênis de mesa, judô, xadrez e taekwondo, divididas nas categorias feminina e masculina. Os jogos, que acontecem desde 2003, tiveram início no dia 18 com uma cerimônia de abertura realizada no ginásio à noite, quando a tocha olímpica foi acesa. No mesmo dia de manhã já havia se iniciado as atividades com disputas no Taekwondo e Atletismo para deficientes auditivos e intelectuais e, à tarde, aconteceram partidas por medalhas na modalidade futsal para deficientes visuais, além dos atletas da natação entrarem na piscina. Para uma das organizadoras do evento na Unifor, a prof. Ana Lúcia Maciel, “é através de campeonatos como este, que o Governo do Estado promove, que se pode descobrir os talentos que irão para outras competições nacionais e até internacionais, quem sabe até uma olimpíada”. A tabela de atletas é formada por atletas tanto amadores quanto profissionais e é uma eliminatória. De acordo com a organizadora, o mais importante é a participação dos competidores. O resultado real se dá na auto estima dos atletas e na forma como o evento, considerado esportivo-social, serve para inspirar mais pessoas a praticar esportes. O clima durante o evento foi de alegria e descontração, tanto por parte dos espectadores quanto dos atletas, que muitas vezes até ajudam seus adversários. Os garotos do Instituto Moreira de Sousa, que estavam participando da competição na categoria futsal para atletas com deficiência intelectual, eram uns dos que estavam mais empolgados. “Esses eventos são de extrema importância para nós. Uma forma de aumentar
O evento pretende unir as diferentes deficiências físicas e mentais e promover competições livres de preconceitos e delimitações Foto: JuLie sCott
o potencial dos nossos alunos como atletas e aumentar a auto estima deles. Este é um dos eventos pelo qual os nossos atletas mais esperam”, disse Tânia Leitão, assistente social da instituição que os estava acompanhando. Atletismo Uma das representantes da Associação Desportiva dos Deficientes do Estado do Ceará (ADDECE) , Maria Joselita da Silva, tem cerca de três anos de experiência no esporte, e usa cadeira de rodas há cinco, mas já conta com uma participação no Parapan-Americano de 2007, realizado no Rio de Janeiro, onde foi a única mulher cearense a participar, além de compor a Seleção Brasileira de Para-Atletismo. Apaixonada pelo atletismo, Joselita tem 24 anos e é referência nacional nas três categorias que disputa, lançamento de dardo, disco e peso, categoria na qual possui o recorde brasileiro de 7 metros e 78 centímetros, alcançado durante a primeira etapa nacional do Circuito Brasil Paraolímpico de Atletismo, Halterofilismo e Natação, evento também realizado na Unifor. Ela conta que já viajou para diversos países para competir e está na torcida para ir para o Mundial Paraolímpico de Atletismo, que será realizado na Nova Zelândia em 2011, mas que continua, como a
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Tabela de resultados gerais Futsal Visual 1º lugar: Sociedade de Assistência aos Cegos- SAC (Time A) 2º lugar: Sociedade de Assistência aos Cegos- SAC (Time B) Tênis de Mesa 1º lugar: Projeto Faça um Deficiente um Atleta - PFDA 2º lugar: Associação dos Deficientes Motores do Ceará Taewkondo 1º lugar: Fundação Perpétua Magalhães 2º lugar: Fundação Perpétua Magalhães Basquete 1º lugar: Associação dos Deficientes Motores do Ceará-ADM 2º lugar: Associação dos Deficientes Motores de Fortaleza 3º lugar: Associação Desportivas dos Deficientes do Ceará – ADDECE 4º lugar: Guerreiras Sobre Rodas Atletismo 1º lugar geral: Associação dos Deficientes Motores do Ceará-ADM 2º lugar geral: Sociedade de Assistência aos Cegos-SAC 3º lugar geral: Instituto dos Cegos-CAP Natação 1º lugar geral: Associação dos Deficientes Motores do Ceará-ADM 2ºlugar geral: Projeto Faça um Deficiente um Atleta - PFDA 3º lugar geral: Sociedade de Assistência aos Cegos-SAC
maioria dos atletas paraolímpicos, sem patrocínio. Resultados Representantes de 17 instituições cearenses participaram dos três dias de jogos. No primeiro dia de evento, a equipe da Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC) garantiu a medalha de ouro no futsal para deficientes visuais no ginásio poliesportivo da Unifor. Parte das competições das modalidades Xadrez e Judô marcadas para o dia 19, sexta-feira à tarde, foram canceladas por motivos não explicitados pela organização, que divulgou apenas que as instituições responsáveis pelos atletas haviam entrado em contato para cancelar a participação dos mesmos, retirando as categorias do evento. À noite, o evento foi retomado, seguindo a programação, com as eliminatórias do Basquete. No dia 20 foi a vez das equipes de Basquete para deficientes motores se enfrentarem na disputa pelo primeiro lugar, que foi para a equipe da Associação dos Deficientes Motores do Ceará (ADM). A ADM também alcançou o primeiro lugar geral no Atletismo e na Natação. No Tênis de Mesa, os grandes campeões foram os representantes do Projeto Faça um Deficiente um Atlete (PFDA) e no Taekwondo, a Fundação Perpétua Magalhães.
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Mais de meio século após surgir no País, o Fisiculturismo ainda busca espaço entre os esportes mais populares do Brasil Ricardo Garcia
O final do ano de 2010 ainda reserva fortes emoções para os atletas apaixonados por maratona. No dia 31 de dezembro, a Corrida Internacional de São Silvestre chega a sua 86ª edição, em São Paulo, encerrando o calendário esportivo nacional, com as já conhecidas disputas pelo título entre brasileiros e quenianos. A edição deste ano contará com a presença de 20.000 atletas, entre profissionais e amadores, e se extenderá em um percurso de 15 km.
Reforma do Castelão
Manter a forma é o objetivo principal de um atleta fisiculturista
volumoso e frequente. A intensidade desta fase do treinamento advém não do aumento de sobrecarga, mas dos intervalos diminuídos entre séries, séries conjugadas, em circuito etc. Também costumo, neste período, adicionar treinamento aeróbio a fim de estimular a lipólise (queima de gordura)”, acrescenta.
Anabolizantes Quando se fala de fisiculturismo, é inevitável a referência ao uso de anabolizantes, as chamadas “bombas”. As pessoas custam a acreditar que um competidor desta modalidade chegue a um corpo extremamente musculoso e desenvolvido apenas a partir de treinos. O personal trainer Romney Dantas desfaz essa associação. “Existem vários exemplos dos mais diversos esportes de atletas que se utilizam de substâncias proibidas. O fisiculturismo, infelizmente, é o esporte mais relacionado com o uso de substâncias proibidas, o que não é verdade. Talvez esse preconceito se deva ao fato de o atleta fisiculturista carregar sua performance na aparência física, o que não é detectado visualmente em um atleta que corra, por exemplo, 100m em 9s. Essa é a relação. O que vemos é que é mais fácil de julgar”, afirma.
No dia 10 de janeiro de 2011, a FIFA premiará os melhores jogadores de futebol do mundo no ano de 2010, em evento a ser realizado na cidade de Zurique, Suíça. O grande atrativo da festividade serão os finalistas da categoria masculino, que incluem 3 jogadores da mesma equipe, o Barcelona. Os indicados ao prêmio são os espanhóis Xavi e Iniesta, destaques da seleção da Espanha, campeã do mundo em 2010, além do argentino Lionel Messi, vencedor do prêmio em 2009. Na categoria feminina, a grande favorita para a eleição, pelo 5º ano consecutivo, é a brasileira Marta. Ela disputará o prêmio com 2 alemãs: Fatmire Bajramaj e Birgit Prinz.
A poeira vai subir em janeiro Logo no início de 2011, o calendário esportivo nacional se agitará com as disputas do Rally Piocerá 2011, evento que chega a sua 24ª edição e que se notabiliza por ser o maior endurorally de regularidade da América Latina. O evento ocorrerá de 23 a 29 de janeiro de 2011, com largada prevista para Teresina, no Piauí, e chegada em Jericoacoara, no litoral cearense, após percorrer diversos municípios do estado do Maranhão. A competição premiará os melhores atletas e suas regularidades nas categorias de Carro 4x4, Motos e Bikes.
Vai começar o maior Rally do Mundo Não é só em terras nordestinas que a poeira vai subir no início do novo ano. O mês de janeiro também reserva para os fanáticos por adrenalina nas areias o maior Rally Off-Road do mundo: o Rally Dakar 2011. Essa edição de 2011 será a 3ª consecutiva a ser realizada em território sul-americano, mais precisamente entre Chile e Argentina. Até 2007, a competição era disputada entre a Europa e a África, mas por motivos de segurança foi transferida para a América do Sul. As provas ocorrerão entre os dias 1 e 16 de janeiro, e envolverão disputas nas categorias de automóveis, motos e caminhões. A largada será no dia 1º em Buenos Aires e, após o percurso por diversas localidades dentro da própria Argentina e também do Chile, dar-se-á a sua chegada novamente na capital argentina, no dia 16.
Foto: Internet
Campeonatos No Ceará existem duas competições oficiais de fisiculturismo, organizadas pela IFBB (Federação Internacional de Bodybuilding) e pela NABBA (Associação Nacional de Bodybuilding Amador). Anualmente, ocorre um campeonato de cada uma delas. Existem outros campeonatos organizados pelas próprias academias de fisiculturismo, e chanceladas por uma das duas federações. Os critérios de avaliação são o volume muscular, a definição, a proporção, a simetria, a estética e a harmonia, variando de acordo com cada subdivisão da modalidade (Fitness ou Culturismo Clássico).
Eleição da FIFA premia os melhores do mundo
Foto: Internet
sente o mínimo de condições físicas e musculares para participar de competições, pois, no fisiculturismo profissional, existem categorias para atletas menores de 21 anos, e até para atletas com mais de 50, por exemplo. Os pontos mais importantes para um atleta, além da rotina de treinos, que devem ser os mais intensos possíveis e no menor espaço de tempo, são o repouso e a alimentação. Para o personal trainer Romney Dantas, a dieta é o fator diferencial em uma competição de fisiculturismo. “ O que faz um atleta de fisiculturismo vencer uma competição é a dieta, pressupondo que todos estejam com a musculatura desenvolvida para os padrões da modalidade”. O personal comenta que não existe dieta que seja ideal para o sucesso nas competições. Isso vai variar de acordo com a experiência de cada competidor. “O que funciona para uns, não funciona para outros. Há quem ingira quantidades de proteínas maiores e outros que talvez não necessitem de grandes quantidades desse nutriente. O bom atleta é o atleta experiente, que a cada competição tira proveito do que fez na disputa anterior, aprende com os erros cometidos e aprimora os acertos”, ressalta. Para o competidor Madilson Medeiros, a rotina de treinamentos segue uma periodização específica. Quando não está em competição, o atleta se dedica ao ganho de volume muscular, na etapa chamada de Off Season, onde são ingeridas mais calorias com o objetivo de estimular a hipertrofia muscular. “Nesta fase, os treinos são curtos, bastante intensos em relação à sobrecarga de pesos e com uma frequência semanal menor”, salienta. No outro período, começa a busca pela definição muscular e a perda da gordura corporal, iniciando-se em média 12 semanas antes da competição. Nesta fase, ocorre uma restrição na ingestão de calorias, assim como um rearranjo dos nutrientes da dieta. “O treinamento com pesos é mais
Foto: Arquivo de Romney Dantas
Estava previsto para este mês de dezembro o início das obras de reforma do estádio Castelão em vistas da Copa de 2014, no Brasil. No fim de outubro, foi encerrado o período de licitação das empresas que tentavam ser as responsáveis pela obra. A estimativa era de que as obras se iniciassem assim que se encerrasse a participação do Ceará no Campeonato Brasileiro, que terminou no último dia 5. As obras seriam iniciadas no dia 13/12, embora até agora não tenham começado.Também é aguardado para este mês a conclusão das reformas no estádio Presidente Vargas (PV), para que em janeiro de 2011 ele possa ser utilizado nos jogos do Campeonato Cearense.
Foto: Internet
Preparação para Competições Por ser um esporte que exige uma rotina extenuante de treinamentos para crescimento e manutenção dos músculos, os riscos provocados à saúde estão intimamente ligados aos benefícios, em razão do esforço exigido nos treinos, bem acima do normal em comparação com qualquer outra prática física. A modalidade pode ser praticada por qualquer um que apre-
Tradicional Corrida de São Silvestre fecha o calendário esportivo
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Apesar do grande esforço para manter o físico malhado e a dedicação para tornar o fisiculturismo um esporte de destaque no Ceará, o fisiculturista Carlos Antônio Souza, vice-campeão nacional 2010 e tricampeão cearense, sabe que o cenário atual desse esporte no Ceará não é dos mais animadores, pois ainda são isolados os casos de sucesso do Estado em projeção nacional. Segundo Alcyon Gondim Viana, preparador físico e ex-praticante, a modalidade pode ser considerada amadora no Ceará. “Os atletas competem por amor ao esporte, pois não existe incentivo algum e os patrocínios são escassos”, explica. Viana abandonou o fisiculturismo há 10 anos. Embora tenha participado de algumas competições, não consegue ver perspectivas de melhora do panorama, além do fato de que a prática da atividade exige um alto grau de comprometimento, o que, para ele, não valia o esforço. A opinião não é muito diferente para atletas que ainda participam de competições, como é o caso de Madilson Medeiros, que afirma haver uma dificuldade muito grande de conseguir patrocínios em razão do preconceito que ainda existente em relação ao esporte por parte das iniciativas pública e privada. Medeiros acredita que a profissionalização do esporte no Estado é praticamente impossível por causa dos custos que ele exige. “Os atletas, aqui no Ceará, precisam bancar praticamente todos os custos de sua preparação. A alimentação e a suplementação de um fisiculturista é a mais cara de todos os esportes”, enfatiza. O atleta afirma que, apesar de todas as dificuldades que precisam ser superadas para quem quer vencer no fisiculturismo, existem grandes atletas no Estado. “Considerando todas as dificuldades apresentadas, temos excelentes representantes”, comenta o competidor.
Sprint
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Os desafios do fisiculturismo no Ceará
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SOBPRESSÃO
FÔLEGO
OUTUBRO/NOVEMBRO DE 2010
Entrevista
Ida e volta na BR-116
Mesmo tendo enfrentado calor e chuvas e mantendo um alimentação desregrada, Márcio Dornelles não se arrepende das aventuras feitas pelas estradas
Em uma viagem de oito dias, que ocorreu num ônibus adaptado, como se fosse uma casa móvel, Márcio Dornelles e sua família saíram de São Borja, município do Rio Grande do Sul, para virem morar em Fortaleza. Isso aconteceu há 14 anos. Em 2009, ele resolveu fazer o percurso contrário, sair de Fortaleza e chegar até a última cidade do RS, Jaguarão, fronteira com o Uruguai. Só que dessa vez não foi de ônibus, mas sim de carona ao longo da BR-116 Raphael Barros
Fôlego: Como surgiu a ideia de fazer a viagem pegando carona? Márcio Dornelles: Quando descobri que uma única rodovia cortava o Brasil, de ponta a ponta, fiquei motivado. A decisão mesmo surgiu após a segunda descoberta: ela começa no Estado onde moro, Ceará, e termina no meu Estado de origem, Rio Grande do Sul. F: Você saiu de onde e chegou até onde? MD: Saí do km 0 da BR-116, na rotatória da Aguanambi, conhecida como praça Manoel Dias Branco, em Fortaleza. Cheguei até o município de Jaguarão, no Sul gaúcho. Saí do Km 0 porque queria passar por todos os quilômetros da BR-116. F: Quais são os perigos da estrada e como você se prevenia? MD: Primeiro os perigos naturais, quando estava sem carona: calor, chuvas repentinas, poeira. Ainda fora das caronas, havia o perigo de acidentes, já que eu precisava caminhar no acostamento da via. Os carros passavam raspando. Os outros perigos, de assaltos e do gênero, pouco vi, confesso. Tive sorte neste aspecto. Apenas na Bahia, em Feira
de Santana, foi mais perigoso. Até achei que fosse ser assaltado, mas não aconteceu. Ainda bem (risos). F: Onde você dormia? Chegou a dormir na rua? MD: Desde o começo da viagem, decidi que dormiria em pousadas uma vez a cada dois dias. A viagem foi assim. Quando as roupas sujavam, era necessário procurar uma pousada para dormir e lavar tudo. As roupas ficavam espalhadas pelo quarto. Dormi na rua, mas sempre procurava postos de combustíveis ou rodoviárias, onde era um pouco mais seguro. F: E alimentação e banheiro? MD: Dava um jeito pra tudo. Eu me controlava e só sentia vontade de ir ao banheiro quando chegava em algum lugar seguro. Alimentação seguia o vento, a depender do local. Às vezes saboreava um prato típico, às vezes dois salgados e um refrigerante. Cheguei a comer uma galinha cozida com arroz em Curitiba, gentileza de um caminhoneiro amigo. F: Qual foi o ponto mais crítico da viagem? quais as dificuldades? MD: São Paulo realmente foi o ponto mais crítico da viagem. É a capital do dinheiro, da pressa, mas estava faltando carga para os caminhoneiros. Os caminhoneiros eram a principal carona. Se faltava carga, faltava caminhoneiro para dar ca-
rona. Fiquei dois dias lá. Foi o momento de maior pressão da aventura. Quando mais tempo passava, mais eu precisava fugir dali, ir para outro lugar. F: De SP para RS como foi? MD: Confesso que a viagem de SP para RS não foi tão bonita quanto do Ceará até SP. Primeiro, porque precisei mesclar ônibus e carona, à medida em que a oportunidade aparecia. Segundo, porque, no começo, tudo era novidade, depois, já estava acostumado com as dificuldades. F: Quais dicas você daria para quem pensa em fazer a mesma coisa? MD: Sempre digo que, embora tenha sido uma viagem inesquecível, emocionante, não recomendo a ninguém. São muitos perigos e muitas barreiras. Claro que todo mundo pode atingir o objetivo final, apenas não quero ser responsabilizado por algum problema. Se quiser realmente ir, vá e encare tudo com determinação e fé. F: Para quem você não recomenda esse tipo de viagem? MD: Bom... a viagem não é recomendável para muita gente. É necessário ter disciplina, boa condição física e mental, teimosia e, acima de tudo, certeza do que se quer. Se o aventureiro não tiver nada disso, esqueça. F: Como foi a reação da sua família? MD: No começo, ninguém acreditava que eu faria tal viagem. Nem mesmo meus amigos mais malucos. Pensavam que não passava de um blefe. No final das contas, minha mãe aceitou e ajudou a comprar algumas coisas necessárias. No Sul, todo mundo ficou admirado, massagearam meu ego, mas é coisa de família mesmo. Ficaram surpresos, mas acharam legal.
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F: O que dava mais confiança nessa viagem, mais força para continuar até o fim? MD: O foco, a determinação. Quando comecei a viagem, sabia dos obstáculos que enfrentaria. Mas eu também conhecia os meus limites e sabia plenamente que conseguiria concluir o “devaneio”. Em desafios assim, a confiança em si mesmo é fundamental. Se não confiar nos próprios passos, tomba diante dos próprios olhos. F: E o que dava mais medo? MD: A determinação na viagem, no objetivo, não me permitia ficar com medo durante muito tempo. O medo mesmo surgiu apenas no começo, no Nordeste, depois passou. O único medo era do desconhecido. O que o dia seguinte me proporcionaria. Depois, o medo se transformou em excitação, em euforia. F: Como foi voltar pra casa? MD: Foi espectacular voltar pra casa e receber o sentimento de missão cumprida. Voltei de avião mesmo, por conta do tempo curto. Precisava retomar o trabalho, afinal, fiz a viagem durante o período de férias. F: E as lembranças da viagem, vêm sempre à mente? MD: Claro. As lembranças ficam, sem dúvida. A viagem, como digo, foi uma caminhada espiritual. Andar por horas escutando os próprios passos, o batimento do coração, é inexplicável. Eu refleti sobre muitas coisas, ponderei sobre outras. Cada viagem nos modifica um pouco. F: Como é pegar carona com gente desconhecida? Quais são as conversas? Como são os silêncios? MD: Nada mais maravilhoso que conversar com uma pessoa então desconhecida, cheia de vida e de histórias. Ainda mais
caminhoneiros. Eles entendem de tudo um pouco. Driblam vários desafios e estão sempre prontos a ajudar. Pelo menos a maioria. Os silêncios surgem, mas são raros. Eu sempre tinha coisas a perguntar e eles também ficavam curiosos com meu estilo de viagem. F: O que aprendeu com a viagem? MD: A viagem me ensinou muitas coisas. A mais importante delas, talvez, seja a descoberta de que tudo é possível, desde que sua alma esteja pronta e livre para viver. Não há aventuras melhores que outras. Todas tem o seu sabor e sabem proporcionar maravilhas. Mesmo que algum amigo tenha dado a volta ao mundo e você apenas tenha feito uma trilha na serra da sua cidade, aproveite o máximo que puder. Existem pessoas que conhecem mais de 100 países, mas efetivamente nunca estiveram lá. Passaram de raspão, por acaso, a passeio, sem a mínima noção da transformação que aquele lugar poderia gerar. F: Qual a dica que você dá para quem pretende se aventurar igual a você? MD: Se você realmente deseja fazer algo novo, inesperado e bom, faça. Não pense duas vezes. Arrume sua mochila, trace seu plano e se jogue na aventura que a vida pode te proporcionar. São tantas as oportunidades que se abrem e, quando percebemos que as deixamos escapar, lá se vão 5, 10, 15 anos. Nem sempre teremos essa disposição, esse corpo e essa excitação pela vida, pelo novo. É preciso aproveitar o hoje, mesmo que isso pareça clichê demais para o seu conceito.