Sabia que em Fortaleza existem cerca de dois mil jogadores de xadrez? Conheça mais sobre esse jogo que exige concentração e muita dedicação Página 8 JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIFOR
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N° 26 Foto: arquivo pessoal
Mulheres ganham espaço no rugby Recente no Brasil, o rugby atrai cada vez mais adeptos. O esporte, originalmente masculino, tem conquistado espaço entre as mulheres. No Ceará, um grupo delas criou o Iracema Rugby Clube, que luta para levar seu nome Brasil a fora Luana Benício
O rugby é originário da Inglaterra e é o segundo esporte mais popular do mundo, perdendo apenas para o futebol. Ele é disputado por duas equipes de 15 jogadores, numa partida de dois tempos de 40 minutos e é caraterizado pelo seu intenso contato físico. Apresenta algumas variações. A mais tradicional é o “rugby 15” ou “15 a side”, com 15 jogadores (veja regras no quadro ao lado). Entre as outras, estão o “rugby sevens”, com sete jogadores, o “beach rugby”, realizado na praia, e o “tag”, uma variante sem contato voltada para iniciação das crianças . Aqui, no Ceará, o esporte tem se popularizado e atraído a prática por parte de homens e mulheres. O aterro da Praia de Iracema é o campo dos praticantes dessa modalidade esportiva. É lá que treina o Iracema Rugby Clube, time de rugby sevens que possui um diferencial: é um time formado somente por mulheres. A ideia de montá-lo surgiu da necessidade de as meninas terem o próprio espaço. Antes, elas treinavam ao lado dos meninos dos Sertões Rugby Clube, também no aterro. Com o aumento do número de interessadas, a atual capitã da equipe Tayany Alves, fundou, ao lado de suas com-
panheiras, em 2010, o Iracema Rugby Clube, primeiro time feminino de rugby do Ceará. A equipe é formada por nove atletas e conta com o comando do técnico Igor Konovallof, fundador do BH Rugby e do chileno Enrique Flores. Além do Iracema, foi montado há pouco tempo o Centuriões Rugby Clube. Mas o Estado ainda não organiza campeonatos por não possuir uma federação. Para que ela passe a existir é preciso a formação de mais um time, já que a Confederação Brasileira de Rugby (CBR) exige o mínimo de três equipes associadas. Feito isso, o Ceará poderá receber ajuda financeira da CRB para investir em estrutura, projetos, competições. O foco principal do Iracema é conseguir viajar para as etapas do Circuito de Rugby do Nordeste. Na sua última participação, em Recife, as cearenses atingiram a terceira colocação. Elas buscam formar uma seleção nordestina para jogar no Campeonato Brasileiro de Rugby, em São Paulo. A prática desse esporte no Estado ainda é amadora. Quando há campeonatos, as jogadoras arcam com as despesas das passagens e da hospedagem e recebem ajuda de outros atletas. Como não têm uma estrutura firmada, enfrentam dificuldades para conseguir patrocínio. Mas para Tayany, é aí que se encontra a magia. “A gente viaja para jogar e fica na casa de outras jogadoras. Isso nos aproxima, gera um vínculo muito forte entre os praticantes. A amizade no rugby é algo marcante. Você percebe isso no famoso terceiro tempo, quando as duas equipes, árbitros e técnicos, após o término do jogo, se reúnem para beber e conversar, todos juntos.”
Saiba mais
Regras do Rugby Sevens O Rugby Sevens é jogado por duas equipes de sete jogadores. A partida é dividida em dois tempos de sete minutos cada. O objetivo do jogo é marcar o maior número de pontos. A bola é lançada com as mãos e não pode ser
passada para frente, apenas para trás. Os campos de rugby são geralmente do tamanho dos campos de futebol, atingindo uma área máxima de 144 x 70 metros numa superfície plana. A bola é oval.
Pontuações:
Drop Goal - Durante a partida, um jogador pode desferir um chute tentando fazer a bola passar por cima da trave e entre os postes da equipe adversária
Try - Quando o jogador consegue apoiar a bola no chão, com uma das mãos, na área de validação, que equivale a área após a linha dos postes. Um try vale cinco pontos Conversão - Sempre após o try, a equipe marcadora tem a possibilidade de chutar em direção aos postes tentando fazer com que a bola passe por cima da trave e entre os postes da equipe adversária. A conversão vale dois pontos Pênalti - Ao sofrer uma falta, a equipe pode optar por tentar fazer um chute aos postes no local onde ocorreu a infração. Um pênalti vale três pontos 22m
10m
Jogadas: Tackle - Consiste no ato de segurar o jogador que estiver com a bola em mãos para impedi-lo de chegar à linha do fim de campo Maul - Quando há três ou mais jogadores em pé em contato, com a bola estando na mão de uns desses jogadores Mark - Consiste na possibilidade de se dar um chute sem ter o perigo de ser tackleado
goal 15
70m
5m goal
100m
O esporte no Brasil O rugby começou no País por meio da criação do Clube Brasileiro de Futebol Rugby, no Rio de Janeiro, fundado em 1891 por um grupo de amigos, entre os quais estava Luiz Leonel Mouro, recém chegado da Inglaterra, onde fora estudar no Elizabeth College, na Ilha de Guernsey. Em 1963, é fundada a União de Rugby do Brasil (URB), com sede em São Paulo. Em 1971, é substituída
pela Associação Brasileira de Rugby. Em 2010, tornou-se Confederação Brasileira de Rugby (CBR). Já no feminino, não há dados concretos sobre a inserção no País. Estima-se que tenha começado nos anos de 1990. Logo conquistou oito títulos Sul-Americanos, o que estimulou a criação de novas equipes. No último Campeonato Mundial de Rugby Sevens, em Dubai, no ano
de 2009, as mulheres brasileiras atingiram a décima posição. A seleção feminina é reconhecida como a melhor da América Latina. Segundo dados divulgados no site da CRB (www.brasilrugby.com. br), existem 20 equipes masculinas cadastradas, além dos times universitários, que superam a marca de 15. Não há divulgação do número de equipes femininas.
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Paratletas se superam no esporte Atividade esportiva para pessoas com deficiência física tornouse uma alternativa eficaz para trabalhar traumas e coordenação motora. Paratletas da Unifor contam sua trajetória esportiva e como superaram obstáculos para obter uma melhor qualidade de vida
Saiba mais Foto: Farley Aguiar
Bárbara Sena e Jaqueline Longatti
Nunca paramos para pensar sobre o que aconteceria se, de uma hora para outra, perdêssemos a visão ou a audição. Ou se sofrêssemos um acidente que nos impossibilitasse de continuar a andar. Para muitas pessoas seria o fim. Mas outras, que passaram por esse tipo de experiência, buscam forças para superar as limitações físicas na prática do esporte. Elas são conhecidas como paratletas. A prática de esporte para pessoas com deficiência física teve início na cidade de Aylebbury, na Inglaterrra. Durante a Segunda Guerra Mundial, um neurologista judeu chamado Ludwig Guttman, que fugia do nazismo, criou um centro para lesionados medulares a pedido do governo britânico. Em 1948, a atividade desportiva para portadores de deficiência se consolidou nos Estados Unidos e na Alemanha. No Brasil, começou com a criação do Comitê Paraolímpico Brasileiro, em 1995. Segundo a escritora Cláudia Matarazzo, há uma falsa especulação quanto aos números de deficientes físicos no Brasil. As pessoas tendem a pensar que são poucos. Mas, de acordo com o último senso, somam mais de 24 milhões. Entre eles encontram-se Carlos Guerreiro e Saulo Vinícius. Eles são exemplos de paratletas que encontraram, no esporte, uma poderosa fonte de incentivo para uma vida melhor. Os três praticam atividade física na Universidade de Fortaleza sob orientação de profissionais do curso de Educação Física. Superação e gratidão Carlos Guerreiro nasceu em Morada Nova, onde teve uma infância normal. Seu esporte preferido, naquela época, era o futebol. Mas uma explosão com dinamite no trabalho o jogou a oito metros de altura. Ele perdeu totalmente a visão e teve seu rosto desfigurado. Todos pensaram que ele não sobreviveria. “Ninguém esperava que eu escapasse. Fiquei 29 dias em coma. Até os médicos diziam
Um incentivador
Paratletas do Ceará se reúnem para competir em torneio de natação no parque desportivo da Unifor. Fotos: Farley Aguiar
para minha família que eu não ia escapar”, lembra. Depois que saiu do hospital, passou por dez cirurgias para regeneração, mas ainda apresenta cicatrizes. Quatro anos após o acidente, ele continua em agradecimento a Deus por ter sobrevivido. O começo de sua trajetória esportiva aconteceu depois do acidente, quando aceitou o convite do professor Vicente Cristino para treinar na Unifor. Guerreiro ainda precisa fazer algumas cirurgias, mas, para não perder os treinos, ele decidiu esperar mais um pouco. Hoje, divide seu tempo com o atletismo e a natação. Quando as competições se aproximam, Guerreiro treina durante uma hora até quatro vezes por semana. Com apenas seis meses na natação, o atleta já participou da sua primeira
grande competição: os VII Jogos Paraolímpicos do Ceará, onde ganhou quatro medalhas. Ele vê perspectivas no esporte e acredita que futuramente pode conquistar mais vitórias. “Quando entro em uma prova, em uma competição, a minha vontade é de ganhar. Embora saiba que não vencerei todas, dou o máximo de mim para tentar ser um vitorioso. Daqui há um ou dois anos, pelo meu desempenho, quero estar participando de competições fora, viajando entre os vitoriosos”. Outro exemplo é Saulo Vinícius, deficiente auditivo, estudante de Educação Física da Unifor e aluno do professor Cristino. As repórteres o encontraram na piscina ensinando uma deficiente visual a nadar. Questionado sobre como conseguia orientar outros de-
ficientes, ele respondeu: “não tem explicação, eles podem fazer tudo, como qualquer outra pessoa faz”. Aquele era o primeiro dia que Saulo ajudava o professor Vicente em sua aula. Sobre a experiência, ele afirmou: “É muito legal, o professor já tinha me convidado algumas vezes para desenvolver esse trabalho, mas não tinha dado certo. Sempre que tiver tempo, vou vir pra cá”. Sua deficiência auditiva é congênita, pois sua mãe teve rubéola durante a gravidez. Ele enfrenta dificuldades desde a infância e, até hoje, estuda com a ajuda de um intérprete. Seu desejo é se tornar professor de Educação Física e desenvolver o mesmo tipo de trabalho do qual participa.
O interesse do professor em trabalhar o esporte com deficientes físicos começou quando ainda estava na graduação. Percebendo que as pessoas com deficiência não tinham muitas opções, resolveu buscar fora do Ceará conhecimentos práticos e teóricos para expandir seus estudos e colocar seus projetos em prática. Ele afirma que ainda existem muitas dificuldades para os paratletas, principalmente por falta de incentivo do governo. Preocupado, faz um apelo:“em 2016, teremos o Campeonato Paraolímpico Mundial e, até agora, cadê o incentivo? Cadê o desenvolvimento de trabalhos?”. Na opinião do professor, a mídia tem colaborado para tornar mais conhecido o esporte com paratletas. A divulgação têm ocorrido com maior frequência, mas afirma que ainda é preciso conquistar mais espaço. Dessa forma, deficientes poderão investir em uma nova perspectiva para o futuro praticando esportes. Segundo o último senso de 2000, existiam mais de 300 mil deficientes em Fortaleza, muitos vindos do interior para treinar nos locais em que ele ensina. O professor conta que um dos maiores casos de superação vivenciado por ele foi de um jovem que se chama Fernando. “Ele sofreu um acidente e teve suas duas pernas amputadas. Quando aprendeu a nadar, foi participar de uma competição. Fernando passou mal na hora da prova, e os salva-vidas não estavam atentos. Eu estava todo arrumado e lembrei-me do que a sua esposa tinha me dito:‘Professor, não deixa meu marido morrer afogado’. Eu tive que pular na piscina com roupa e tudo pra tirá-lo de lá. Fernando aprendeu a lição e, desse dia em diante, não exercita a natação quando está indisposto”. Vicente Cristino se emociona ao falar do seu trabalho com os deficientes físicos. “É a cada dia um deficiente pedir a minha ajuda, e eu poder ajudar. Me alegra poder pegar uma pessoa surda e colocar dando aula para um cego. É a própria Unifor que me dá espaço para desenvolver meu trabalho com essas pessoas. Quando me ligam pedindo ajuda para um deficiente, me sinto realizado como pessoa e como profissional”,revela. O resultado do seu trabalho pode ser facilmente visto no rosto dos próprios deficientes. Durante uma aula, a reportagem constatou a alegria e satisfação demonstrada pelos atletas pela oportunidade de participar de projetos esportivos.
Caderno Fôlego - Fundação Edson Queiroz - Universidade de Fortaleza - Diretora do Centro de Ciências Humanas: Profa. Erotilde Honório - Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Wagner Borges - Professor Orientador: Alejandro Sepúlveda - Projeto Gráfico: Prof. Eduardo Freire - Diagramação: Aldeci Tomaz e Fernanda Carneiro - - Edição: Amanda Carvalho, Érika Zaituni e Marília Pedroza - Redação: Bárbara Sena, Daniel Honorato, Eduardo Buccholz, Filipe Dias, Indira Arruda, Jaqueline Longatti, Juliano de Medeiros, Luana Benício, Luciana Bezerra, Luis Domingues, Luiz Carlos Bomfim e Marília Pedroza - Fotografia: Farley Aguiar, Rhaiza Oliveira e Thalyta Martins - Coordenação de Fotografia - Júlio Alcântara - Supervisão gráfica: Francisco Roberto - Impressão: Gráfica Unifor - Tiragem: 750 exemplares
Sugestões, comentários e críticas: jornalsobpressao@gmail.com (85) 3477.3105
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Enquete
O que levou você a praticar kettlebell?
O exercício, muito popular entre as mulheres, proporciona um alto gasto calórico e é associado ao fitness Foto: Filipe Dias
Quero o quê? Kettlebell! Sucesso nos Estados Unidos e recentemente no Brasil, o kettlebell é uma alternativa para exercitarse com instrumentos lúdicos, sem recorrer à tradicional musculação Filipe Dias, Indira Arruda e Luciana Bezerra
Durante muito tempo, para a maioria das pessoas, exercício físico era sinônimo de corpos
perfeitos e várias horas na academia. Com o tempo, essa visão mudou; ao invés da estética, a prioridade passou a ser o bem-estar e o equilíbrio do corpo, e são esses objetivos que estão contribuindo para a popularização do treino com kettlebell. Originário da Rússia, onde é conhecido como gyria, o kettlebell é uma bola maciça de ferro fundido com uma alça e seu peso varia geralmente
de 6 a 32 kg. Na Rússia, é considerado um esporte e possui até federação. Desde 1985 são realizadas as competições oficiais do esporte, com regras e categorias de peso definidas. Foi o bielorusso Pavel Tsatsouline quem levou o kettlebell aos Estados Unidos, onde passou a ser associado ao fitness e seu uso começou a se massificar. Segundo o educador físico David Mascena, responsável pela popularização do kettle-
Eu não gosto de malhar na academia porque eu acho muito bestas os aparelhos. Aqui eu acho mais interessante, que é com o kettlebell e porque trabalha os movimentos. A professora é minha amiga, aí ela me chamou pra vir pra cá e eu fiz uma aula e gostei. Eu tenho tendinite no joelho. Depois que eu comecei a praticar, nunca mais senti dor.
Conheci o kettlebell em uma academia. Perguntei se poderia praticar e levei um “não”, devido à hérnia de disco que possuo. Procurei a opinião de outro profissional e ele disse que eu poderia praticar e que não teria contra-indicação. Comecei e logo percebi os benefícios. Atualmente não sinto dores e realizo minhas atividades de forma eficaz.
Morgana Mendes Estudante de Enfermagem
Márcio Bento Fontenele Estudante de Educação Física
bell em Fortaleza, a principal vantagem da ferramenta é que uma única peça permite uma grande variedade de exercícios. “Ela tem alguns indicativos que você não encontra em outras ferramentas: trabalho de estabilidade, transferência de força, trabalho muscular, aumento da capacidade cardiovascular...” . Ele acrescenta que a principal vantagem, entretanto, é seu uso como ferramenta corretiva. “Você pode ganhar capacidade de se movimentar com a utilização do kettlebell”, explica. Além disso, o gasto calórico é altíssimo – segundo David, perde-se mais calorias em vinte minutos de treino com kettlebell do que correndo a 15 km/h pelo mesmo período.
David afirma que, em Fortaleza, elas têm procurado mais do que os homens. “Acredito que mulher tem mais facilidade pra pegar a essência, pra entender e praticar a técnica”, diz. Mesmo com a popularização do kettlebell, ainda são poucos os profissionais que buscam capacitação. “A capacitação que ‘tem que ter’ não existe. É uma coisa que você busca pra melhorar a qualidade do seu trabalho, mas, como em todas as áreas, é um problema. Muita gente vê os vídeos na internet e começa a fazer”, conta David. Em Fortaleza, a Equipe Arte da Força, empresa que fornece cursos de capacitação em Kettlebell, realizou curso com dois módulos iniciais e um avançado no ano passado, permitindo que vários estudantes e profissionais obtivessem certificação. A aquisição do kettlebell também é complicada: há poucos fabricantes e a qualidade nem sempre é boa. Segundo David, a maior parte dos kettlebells é adquirida durante os cursos. Mesmo com essas dificulades, o kettlebell vem ganhando cada vez mais adeptos, consolidando-se como um dos melhores aliados na busca por um estilo de vida mais saudável.
Para todos e todas Apesar da utilização do kettlebell para aquisição de força e resistência datar da Rússia czarina, ainda não há estudos suficientes que determinem se há alguma contra-indicação em seu uso. Embora essa análise fique mais limitada à observação durante os treinos, David afirma que, na prática, não há restrições. “A contraindicação é a falta de capacidade de se movimentar; é por isso que vem atrelado a uma avaliação de movimento. Então, a partir do momento que você ganha movimento, pode treinar”, explica. E engana-se quem pensa que o peso do kettlebell é um obstáculo para as mulheres.
Serviço Instituto Budokai Rua Marvin, 600 Cidade dos Funcionários Fortaleza - CE (85) 3271-3954 Funcionamento: seg. a sex., 6h às 21h; sábado, 8h às 12h
Imagens: www.bestkettlebellworkout.com/how-to-do-the-kettlebell-clean
Principais movimentos
Swing O movimento mais básico do kettlebell. Trabalha principalmente quadris e glúteos
Clean A força vem dos quadris e das pernas. Pode ser usado como transição para realizar outros movimentos
Turkish get up É um movimento complexo de estabilização. Trabalha a musculatura central do corpo Fonte: http://www.bestkettlebellworkout.com/how-to-do-the-kettlebell-clean/
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Entrevista
Wesley Matos, esperança olímpica cearense O triatleta cearense já está na reta final da preparação para a próxima Olimpíada, que acontecerá na cidade inglesa de Londres, no ano que vem. Seis brasileiros lutam por três vagas e Wesley é um deles. Em entrevista ao Fôlego, o jovem talento falou da rotina de treinamentos, da rigorosa dieta alimentar a qual um atleta profissional precisa se submeter, das surpresas enfrentadas em meio às competições e do desafio de morar longe do Brasil em busca de maior destaque e reconhecimento internacional. Wesley também dá dicas para quem deseja praticar o triathlon Luis Domingues e Eduardo Buchholz
Fôlego – Como você começou no Triathlon? Wesley Matos – Iniciei no esporte na natação, aos oito anos de idade. Quando já fazia parte do alto rendimento, fazíamos muitos treinos aeróbicos para melhorar a resistência física na natação e uma das atividades era a corrida. Com 17 anos de idade eu me destacava entre os nadadores nos treinos de corrida e tinha muita facilidade. Então alguns triatletas que treinavam natação com a gente me convidaram para participar de uma prova de duathlon aquático (nadar e correr). Aceitei o desafio e fui. Nessa prova, terminei em primeiro com mais de cinco minutos de diferença para o segundo colocado. A partir dessa competição, a brincadeira começou a ficar séria e fui sendo convidado pela Federação de Triathlon do Ceará para fazer provas nacionais. Fui me destacando e investindo na modalidade até ser chamado para a Seleção Brasileira e tive de escolher qual dos dois esportes levaria em diante. Acho que fiz a escolha certa! Fôlego – Você sempre foi incentivado pela família? Este apoio é fundamental para dar
sequência em uma carreira? WM – Minha família sempre foi meu braço direito. Sem o apoio deles eu não chegaria onde estou. Muitos amigos que iniciaram comigo e tinham muito talento acabaram se perdendo pela falta de incentivo em casa. Na minha casa havia apenas uma condição: se não for bem nos estudos, não vai para o treino. Mas nunca tive problemas com isso. Fui aluno de turmas avançadas, de fazer olimpíadas, e passei em 1° lugar em três universidades; numa delas, em 1° lugar geral. Então, passei bem pela única regra. Hoje minha família respira esporte e tenho total apoio. Não é apenas em casa, é em toda a família. Um exemplo é que foram 20 familiares ao Rio de Janeiro, recentemente, assistir aos Jogos Mundiais Militares. Fôlego – E a saudade, ela pode atrapalhar no rendimento durante as competições? O que fazer para conseguir diminuir? WM – A saudade é o pior de tudo. Mas, quando lembro que fico vários meses longe das pessoas que gosto, eu treino mais forte para valer a pena todo esforço. E todos os dias entro na Internet para falar com a família. A saudade pode atrapalhar se você perder um
Medalha de prata por equipes na 5ª edição dos Jogos Mundiais Militares do CISM, Wesley Matos ainda luta pela vaga nas Olimpíad
pouco o foco e acabar desequilibrando o emocional. Isso tem que ser trabalhado constantemente. Fôlego – Todo esportista possui um ídolo, uma pessoa que sirva de referência. Quem é o seu e por quê? WM – Meu ídolo se chama Wedla Matos, minha irmã. Apesar de não praticar mais esporte, não existe uma competição em que eu não lembre dela, das vitórias dela e dos feitos que conquistou. Ela era simplesmente imbatível. Como moramos juntos,
eu vivi ao lado dela quando era campeã, então lembro do que ela enfrentava, dos sacrifícios, da dedicação. E, quando entrei na natação, não era porque gostava de nadar e sim porque queria ser um campeão como ela. Aprendi muito com cada lição que passou e hoje levo como experiência de vida. Fôlego – Você é um atleta já muito premiado. Qual das conquistas foi a mais difícil ou marcante? WM – Certamente a mais difícil não foi um primeiro lugar, ou um
título importante, mas foi uma prova em que tinha que conquistar um certo objetivo. A prova mais marcante foi em Ixtapa no México, 2010. Vinha de um período de seis meses de lesão, não havia ido tão bem em algumas provas e minha vaga na Seleção Brasileira estava ameaçada. Eu precisaria ser o melhor brasileiro nesta prova para marcar pontos importantes e garantir a permanência na equipe. Naquelas circunstâncias, era quase impossível aos olhos dos outros. Para mim,
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além do limite, fui além do que podia, mas não além da minha vontade e com quase duas horas de competição, em que muitos já caíam e paravam a prova, com a visão escurecendo e sem diminuir o ritmo, passei o último brasileiro que restava na minha frente a 1km da chegada. Cruzei a linha e já desabei no chão. Naquele dia eu havia ultrapassado as barreiras psicológicas e físicas para garantir a permanência na Seleção Brasileira.
ria fazer cerca de oito provas na distância olímpica (cerca de duas horas de duração) por ano. Mas tem mês que faço quatro provas. O calendário anual fica com as competições nacionais, as copas continentais e as copas do mundo. Cerca de 26 provas por ano. Não posso citar um país e sim países. A Inglaterra tem, na atualidade, os dois primeiros do mundo (irmãos), a Espanha tem o maior vencedor da história e a Rússia se destaca pelas revelações todos os anos.
Fôlego – Dentre as muitas viagens e competições, deve ter alguma história ou situação curiosa pela qual você passou. Pode compartilhar alguma(s) dela(s)? WM – De cada viagem fica uma história. Podemos citar os fenômenos da natureza que já passei por vários. Na hora é muito ruim, mas depois é uma aventura. Peguei um terremoto de escala 5.6 no Japão, enquanto tomava banho; peguei tornado em Chicago, EUA, e tive que ficar mais três dias para conseguir voltar pro Brasil; furacão no Canadá, entre outros. Fôlego – Ainda dá para sentir um nervosismo, aquele famoso ‘friozinho na barriga’ antes de começar uma competição? Isso pode atrapalhar? WM – Com certeza. Até o número um do mundo confessou para mim que ainda fica nervoso hoje, depois de quase 15 anos de triathlon. A diferença é que atualmente sei controlar mais esse nervosismo para não chegar a ponto de atrapalhar a prova. Tem que ter um controle emocional muito grande.
das de Londres, em 2012.
Fotos: arquivo pessoal.
impossível é o limite que você dá a si. 1h da tarde de domingo, 42°C, sensação térmica de 47°C e umidade de 89% - previsão do tempo pior não existe para uma prova de Endurance. Mas, o que é ruim, pode piorar: O mar estava de “ressaca” e teve a natação cancelada para segurança dos atletas. Minha melhor modalidade havia sido cancelada. Houve quem comemorasse antes do tempo e aquilo só me fortalecia e, ao mesmo tempo, sabia que teria que fazer o meu máximo. Fui
Fôlego – Já teve algum momento na carreira que o fez pensar em desistir? Algum companheiro talentoso precisou largar o esporte? WM – Não. Eu amo o que faço e não quero nunca deixar de fazer. Quero ficar vovô e competindo ainda. Não mais com o objetivo de ganhar, e sim de participar. Muitos amigos talentosos, muitos companheiros de treino tiveram que largar o esporte. Alguns na época do vestibular, quando não conseguiram conciliar os estudos com o treino. Outros quando perceberam que não conseguiriam levar o esporte como profissão e até outros que desanimaram e não tiveram paciência para esperar e ter ânimo novamente. Eu levo o esporte como minha profissão, no dia que não treino é como se não trabalhasse. Fôlego – Você tem algum amigo que também pode ser considerado um rival dentro do Triathlon? Se sim, como fazer para separar as coisas? WM – Tenho. Meu grande amigo e quase que irmão é triatleta. A nossa relação é muito boa no esporte, nos ajudamos o máximo na hora da prova e até
Fôlego – O sonho de grande parte dos atletas é defender o país em uma Olimpíada. Você já tem índice para Londres 2012? WM – A vaga para Londres só estará definida em junho de 2012. Hoje não existe nenhum triatleta garantido, mas com chances. O máximo são três por país e no Brasil temos seis grandes atletas com chance. A pontuação iniciou em junho de 2010 e são dois anos de somatória de pontos. Ainda temos muito trabalho pela frente.
Triathlon mistura três modalidades: ciclismo, atletismo e natação
já chegamos juntos para deixar a arbitragem decidir quem ganhou a prova. Nas competições importantes e que valem pontos, nos ajudamos até a fase final (corrida), para podermos sair para a fase final na frente e essa última etapa deixamos que ganhe quem estiver melhor. Esse tipo de relação no esporte é difícil de se ver. Fôlego – Como você faz para conciliar o estudo com o esporte em nível profissional. É possível? WM – Sim. Exige muita dedicação e tem que gostar das duas coisas. Quando era pré-vestibulando, eu ficava madrugadas estudando ou treinando. Muitos treinos eu fazia a partir de 4h30 da manhã, antes de ir pra escola. Outros dias eu estudava nessa hora. Hoje estou terminando a faculdade e apenas agora dei prioridade ao esporte devido às minhas temporadas na Europa. Até as olimpíadas vou fazendo o máximo que dá, depois volto mais dedicado ao estudo outra vez. Mas, para quem gosta, tudo é possível. Fôlego – Ainda falta muito apoio no Brasil ou você já consegue treinar em alto nível no País? WM – Ainda está longe disso. Hoje passo certas temporadas na Europa quando preciso fazer treinamentos de mais qualidade. Sem falar de infraestrutura, de estradas boas para pedalar, de respeito ao ciclista, de locais próprios e de qualidade ao treinamento. Ainda estamos muito
Foto: Arquico Pessoal.
longe de virar uma potência no esporte. Os brasileiros que se destacam mundo a fora é porque são muito bons mesmo. Fôlego – Como é a sua rotina de treinos? WM – Treino sete dias por semana, cerca de 7 a 9 horas por dia. É muito tempo de treino e exige um certo repouso entre um treino e outro para aguentar a próxima sessão. Treino natação 6 vezes por semana, ciclismo 5 vezes e corrida 7 vezes. Além disso ainda têm treinos de força, fortalecimento, fisioterapia, entre outros. Fôlego – E a dieta alimentar, é muito pesada? WM – Sim, é bastante rigorosa. Apesar de comer em média seis mil calorias por dia, a dieta é muito balanceada e com muitas frutas e verduras. O controle do peso é diário. As seis mil calorias são apenas para suprir as necessidades diárias. Basta pensar que se tiver 1 quilo acima do peso, é como se competisse com uma barrinha de um quilo nas costas. Faz muita diferença. Fôlego – Para quem não conhece, qual o calendário do Triathlon (as principais competições), o país referência no esporte e os grandes atletas da atualidade? WM – O triathlon possui um calendário árduo de competições. O ideal para o corpo se-
Fôlego – E a emoção de disputar uma olimpíada no Brasil, já que o Rio de Janeiro será sede de 2016, tem como explicar? Existe uma preparação psicológica para esses tipos de situações, onde pode acontecer uma pressão exagerada em cima de um atleta? WM – Esse é o marco do meu objetivo. Quero chegar em 2016 com experiência para brigar pela inédita medalha olímpica do triathlon. A pressão será grande e o trabalho psicológico terá que ser ainda maior. Mas tenho que agradecer por ter essa oportunidade de poder disputar uma olimpíada em casa. São poucos atletas que conseguem esse feito. O trabalho já começou para 2016. Fôlego – Qual dica daria para quem está começando no Triathlon? WM – Paciência e dedicação. No triathlon você adquire experiência com muitos anos e a cada ano você evolui, pois ele é um esporte de resistência e os anos de prática te darão uma base para o futuro. Fôlego – Deixe um recado para os cearenses e brasileiros. WM – Acho que só tenho a agradecer o apoio da torcida que está sendo cada vez maior. Continuarei representando o Ceará e o Brasil onde eu for. Apesar da falta de apoio e muitos problemas que temos no Ceará e no Brasil, eu levo a nossa bandeira onde estiver. Conto com a torcida de todos rumo a Londres 2012 e Rio 2016.
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Patins viram febre na Beira Mar A patinação volta com força total na orla de Fortaleza e divide opiniões entre os pedestres por invadir o calçadão da Beira-Mar. Prefeitura pensa na alternativa de construir quadra de patinação para os usuários Marília Pedroza
Mesmo quem não costuma passear com frequência pelo calçadão da avenida Beira Mar já reparou que ultimamente é preciso ficar atento a muitos frequentadores que passam ao nosso lado deslizando velozes em ziguezague. São patinadores, a nova mania que tomou conta da orla. O esporte já foi modinha em Fortaleza em 1978 e em 1993, com o estouro dos patins in line, que possuem quatro rodas alinhadas. Mas sempre a febre passa e “depois acaba total”, constata o presidente da Federação Cearense de Patinação, Éder Bicudo. Ele conta que a patinação voltou quando apareceu na telenovela “Malhação”, há cerca de dois anos. “Mas aqui começou a ser desenvolvido. Um cara começou a alugar patins e agora já tem mais de 10 pessoas alugando”. É o caso do italiano Emanuele Serafini, que vive em Fortaleza há oito anos. “Eu moro perto, não tava fazendo nada e vi que tinha muita gente alugando. Aí eu vim”. Emanuel, como prefere ser chamado no Brasil, onde seu nome original é considerado feminino, começou o negócio no início de 2011 e já conta com 30 pares de patins. Num final de semana comum, ele chega a alugar todos. Uma hora custa oito reais e o usuário pode escolher entre patins de velocidade e patins de manobra. O italiano também aluga skate e empresta material de segurança, como as joelheiras. As chinelas dos patinadores ficam guardadas com ele. Para os interessados em começar a prática, a maioria dos alugadores de patins estacionam suas vans na praia de Iracema, em frente à estátua de metal. O aluguel pode variar de cinco a dez reais por uma hora de uso. Bicudo dá a receita para os iniciantes. “A gente aconselha qualquer pessoa, antes de fazer qualquer esporte, a procurar um médico pra saber se tem alguma restrição, problema de tornozelo, essas coisas. Procurar orientações de quem já anda há mais tempo e o principal, usar equipamento de proteção. Joelheira, cotoveleira, caneleira e capacete. Porque existe queda e se machuca se a pessoa não estiver habilitada”. Foi assim que Alisson Alves Dias começou a patinar, mes-
Lotação: na noite do feriado do 7 de setembro, os patins estavam tão disputados que muitas pessoas não conseguiram alugar
mo com um problema nos rins. “Pra mim, a patinação representa hoje uma superação. Eu comecei a treinar devagarzinho, pra não machucar. Porque na hemodiálise o pessoal vê a gente como um doente. O pessoal lá da clínica parece que pensa que quem é doente não pode fazer nada. Então, eu sempre incentivo lá”. Hoje Alisson é instrutor, anda de patins todos os dias e se considera uma pessoa com bom preparo físico.
Exemplo e superação: O instrutor de patinação Alisson, orgulha-se em ser um dos poucos brasileiros que faz hemodiálise e patina Foto: thalyta martins
Atividade física De acordo com a educadora física Samara Maia, 26 anos, a patinação é uma excelente atividade física. Aumenta a resistência muscular e, a partir dos trinta minutos de prática, leva a uma melhora do condicionamento cardio-respiratório. “Mas é preciso ter uma intensidade maior. Se realizada dessa forma, é possível queimar até 800 calorias em uma hora”, garante. Para Bicudo, “se você for ver o treinamento de um profissional de patinação, tecnicamente é quase a mesma coisa que o treinamento de um triatleta. É muito puxado. Tem que ter uma parte aeróbica bem treinada”. Além de todos os benefícios de ser uma atividade física, para Bicudo, o que a patinação traz de melhor é a liberdade. “Você, quando tá de patins, lógico, você sabendo patinar, tendo o domínio do patins, você vai pra onde quiser. Isso se a cidade permitir, né? Áreas apropriadas... Mas, aqui, a gente se diverte bastante na Beira Mar. Não é todo mundo que pode estar assim. São poucos países do mundo que têm o privilégio de você tá patinando na praia. É muito legal andar de patins”. Quando começar? É aconselhável iniciar a partir de três anos de idade, mas para parar
Foto: thalyta martins
não tem limite. Wendelly Silva, 12, patina desde os dez e não teve dificuldades para aprender. “Eu vi e peguei. Eles me explicavam e eu ia atrás de aprender”. Wendelly exibe habilidade nas manobras e afirma que quer ser profissional no esporte. Só que, por enquanto, o único par de pa-
tins da família tem que ser dividido com as outras mulheres da casa: a irmã mais nova e a mãe, dona Eliane Gomes. Ela vende água de côco e assiste atenta às manobras sobre quatro rodas. Mas não fica só assistindo. “Eu gosto de patinar. É bom porque te dá uma adrenalina a mais na rotina”.
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Revitalização prevê quadra Seja por lazer, moda ou como exercício, os fortalezenses trocaram as chinelas pelos patins e invadiram a avenida Beira Mar.“É o único espaço. Não é um local apropriado, mas é onde a gente usa pra patinar e pra fazer as pessoas se conscientizarem do esporte”, desabafa o presidente da Federação Cearense de Patinação, Éder Bicudo. Algumas pessoas, no entanto, já se mostram descontentes com o crescente número de patinadores.“Eu acho horrível ir para ali. Você não sabe quem tá errado. Eu já vi até criança sendo atropelada. A pessoa que tá andando de patins não sabe se ela deve desviar ou o pedestre”, revela a universitária Marina Solon. Gabriela Trindade, moradora da Beira Mar, também demonstra insatisfação: “Eles tomam conta do lugar. É horrível. Você tem que andar com cuidado. Se tá tão na moda deveriam fazer uma quadra, um negócio apropriado. Incomoda pra quem quer só passear”. Sobre essa questão, Bicudo fala que uma solução já foi
Espera, enquanto a quadra não sai, pedestres e patinadores tentam se entender Foto: thalyta martins
vislumbrada no projeto de revitalização da Beira Mar. “Vai ser feito um grande projeto e está previsto um ring. A gente chama o ring de patinação. É uma quadra de patinação adequada, com alambrado, com banquinho pras pessoas sentarem, onde a pessoa pode ir patinar tranquila. Só vai ter patinador lá dentro. Não vai ter perigo de você cair num buraco, como tem aqui no calçadão, esbarrar com alguém, bicicleta, cachorro”.
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Esporte em avenidas é um risco à saúde
Sprint
(por Juliano de Medeiros)
Fortaleza na rota do Brasil na Copa Foto: Divulgação
17 de junho de 2014, será uma data marcante para os fortalezenses apaixonados por futebol. No dia acontecerá o segundo jogo do Brasil na Copa e o palco será o nosso Castelão. A capital cearense foi escolhida para sediar um dos jogos do Brasil na primeira fase da Copa do Mundo de 2014 e para um dos jogos da segunda fase, caso a seleção brasileira se classifique. Ao todo serão seis jogos na Arena Castelão, estádio que já está com mais 45% das obras concluídas. Além disso, Fortaleza foi escolhida como sede da Copa das Confederações em 2013. Uma das semi-finais será disputada no Ceará.
Parapanamericano 2011 Foto: Divulgação (AFP)
Coopistas na Av. Washignton Soares caminham despreocupados com os possíveis malefícios dessa prática.
É possível observar, diariamente, pedestres fazendo cooper na Av. Washington Soares. O que muito dos coopistas não sabem é que tal exercício pode ser extremamente prejudicial à saúde, tanto pela poluição atmosférica quanto pela sonora Luiz Carlos Bomfim
Esportistas amadores estão realizando atividades em locais inapropriados, o que pode gerar malefícios à saúde. O exemplo mais visível ocorre na Avenida Washington Soares (rodovia CE-040), onde é possível encontrar pessoas praticando caminhadas e corridas no período da manhã e no final da tarde, horários em que o fluxo de veículos é mais intenso. Também podem ser observados grupos de ciclistas noturnos pedalando ao lado dos carros. A realização de exercícios físicos com o objetivo de melhorar a saúde do cor-
po e da mente pode não trazer benefícios, dependendo do local onde são praticados. Por falta de informação, muitos esportistas “de final de expediente ou de final de semana” praticam seus exercícios em ambientes inadequados. Profissionais da saúde advertem que praticar esportes em uma via poluída é extremamente maléfico à saúde. A fuligem inalada pode causar ressecamento das vias respiratórias, alergias, sinusite, rinite, bronquite, crises de asma etc. E a exposição contínua à fumaça dos carros, a longo prazo, traz os mesmos malefícios do cigarro. Os gases emitidos por veículos possuem, além de fuligem e materiais particulados, traços de metais pesados e monóxido de carbono. Este último, uma vez inalado, forma nas hemácias uma ligação química que inutiliza o processo de absorção de oxigênio. Walter Cortez, professor da disciplina de Fisiologia da Atividade Física, do curso de Edu-
Foto: Rhaiza Oliveira
cação Física da Universidade de Fortaleza, adverte: “Quando você faz uma atividade física, ocorre uma vaso dilatação. Os capilares dos pulmões e os alvéolos ficam mais abertos, a fim de facilitar a captação e a distribuição de oxigênio pelo organismo. Logo, caminhar em um local poluído reduz a oferta de oxigênio, pois parte do ar contém gases dos escapamentos dos veículos”. O professor também lembra que a oferta de oxigênio menor, juntamente com a atividade física, causa nos músculos a produção de ácido lático. Nem só a poluição atmosférica é prejudicial. De acordo com o otorrinolaringologista Dr. Daniel Pinheiro, “se pensa muito quanto à poluição dos carros, mas se esquece da poluição sonora. São dois malefícios de se fazer uma caminhada em um ambiente inapropriado como uma avenida. A poluição sonora é responsável pelo aumento do número de pessoas que apresentam algum grau de perda auditiva”.
Lago Jacarey é uma alternativa A professora Elieide da Silva costuma caminhar na avenida Washington Soares para ir a sua academia. Ela acrescenta outros inconvenientes de se exercitar em avenidas: “Já fiquei várias vezes gripada. Acho que é por conta da poluição. Além disso, ocorrem muitos assaltos. São os meninos que andam de bicicletas no meio da avenida”. A dona de casa Rosângela Tavares pensa diferente. “É mais pratico e me sinto segura na Washington Soares, pois há bastante movimento” afirma. Já o estudante Igor Moreira afirma usar a avenida para a prática de esporte porque a ciclovia é o equipamento de lazer mais próximo da sua casa. Igor e Rosângela encontravam-se na avenida, na altura
Elieide da Silva afirma já ter contraído doença por conta da poluição das avenidas. Foto: Rhaíza Oliveira
do bairro Seis Bocas, porém é possível ver pessoas praticando esportes em quase
toda a extensão da ciclovia da avenida. Uma outra opção para caminhadas seria o Lago Jacarey, como lembra Guilherme Nogueira. “O único local ideal para fazer caminhada próxima a essa região, que eu conheça, é o Lago Jacarey. Mas, para mim, fica mais difícil sair do Seis Bocas. Não tenho tempo e o transito não ajuda’’. O Lago Jacarey, que se localiza na Cidade dos Funcionários, é movimentado. Nas calçadas, em torno do lago, há intensas atividades comerciais que envolvem moradores locais, como feiras e barracas, mas a pratica de esportes é facilitada pela segurança e a qualidade do ambiente verde às margens do lago.
Entre os dias 12 e 20 de Novembro serão realizados o Jogos Parapanamericanos. Nesta edição, a competição que reúne países dos continentes americanos, será realizada em Guadalajara, no México. Coincidentemente, a primeira edição de um Parapan também foi no mesmo país, em 1999, na Cidade do México. Cerca de mil e 500 atletas, de 26 países, disputarão as 13 modalidades do evento. Mais de 200 atletas representarão o Brasil nos jogos. Assim como os últimos jogos no Rio de Janeiro, as instalações do Pan serão aproveitadas para o Parapan.
Basquete brasileiro Foto: Divulgação (AF)
O basquete masculino brasileiro está de volta às Olimpíadas após 15 anos de ausência. Com o segundo lugar na Copa América, disputada em setembro, o Brasil ganhou uma das duas vagas para ir a Londres disputar os Jogos Olímpicos. A outra vaga ficou com a Argentina, campeã do torneio entre seleções americanas. Foram três olimpíadas em que o Brasil só assistiu aos jogos de basquete pela TV. A Olímpiada vai ser disputada de 27 de junho a 12 de agosto de 2012.
Olimpíadas Universitárias
Foto: Internet
A 58º edição dos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) 2011 será realizada em Campinas (SP), de 4 a 13 de novembro. Esta é a primeira vez que a Região Sudeste recebe o evento. A competição reúne cerca de 3 mil atletas para a disputa de oito modalidades (atletismo, basquete, futsal, handebol, judô, natação, vôlei e xadrez). Os jogos são realizados nos moldes olímpicos, e adotam o mesmo padrão de acomodações, instalações e regras. Participam da competição os alunos regularmente matriculados e efetivamente cursando instituições de ensino superiores públicas ou privadas. A Unifor será representada no JUBs em cinco modalidades: basquete, volei, futsal, atletismo e natação. A instituição sediou o evento em 2009.
139º UFC
Foto: Internet
O evento que mais ganha fãs no Brasil chega a sua edição número 139. O MMA (sigla para ‘’Mixed Martial Arts’’, que significa ‘’Artes Marciais Mistas’’, em português) cresceu muito nos últimos meses devido aos ótimos resultados dos brasileiros, sempre entre os melhores, e o fato de o próprio evento ter se realizado aqui, no famoso UFC RIO. Dessa vez, as lutas serão em San Jose, California, dia 19 de novembro. O principal combate será protagonizado pelo norte-americano Dan Henderson, atual campeão dos meio-pesados do Strikeforce contra o brasileiro Maurício Shogun.
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A posição inicial das 16 peças se disponibiliza como mostra a forma do tabuleiro, peças brancas nas casas pretas e vice-versa. Foto: Farley Aguiar
Xadrez exige dedicação e estudo A Federação Cearense de Xadrez afirma que, apesar de existirem cerca de 2 mil jogadores no Estado e mais de trinta associações esportivas ligadas à prática, há poucos torneios e campeonatos Daniel Honorato
Reza a lenda indiana que existia na província Taligana um poderoso rei que perdeu seu único filho em uma batalha. Ele caiu em depressão e passou a descuidar de si e de seu reino. Certo dia, o soberano recebeu a visita de um servo chamado Sassa, que apresentou um tabuleiro de 64 casas pretas e brancas com diferentes peças que representavam o exército real. O criado explicou-lhe que o jogo poderia ser a cura de sua depressão, proporcionandolhe conforto espiritual. Tal lenda sobre a origem do xadrez é narrada em O Homem que Calculava, do escritor e matemático brasileiro Malba Tahan. Há várias outras teorias que especulam sobre o surgimento do jogo. Algumas dizem que nasceu na China, Iran e Afeganistão. Mas, segundo o assessor de comunicação da Federação Cearense de Xadrez (FCX), Anderson Moura, seu berço é a Índia. Prática esportiva de natureza recreativa e competitiva entre dois jogadores, disputada num tabuleiro em casas claras e escuras, onde cada enxadrista controla 16 peças com diferentes tamanhos e características. O objetivo do jogo é dar o xequemate no oponente (veja quadro ao lado sobre as regras do jogo). Seu formato atual foi desenvolvido no Sudoeste da Europa, na segunda metade do século XV, durante o Renascimento. Estima-se que cerca de 605 milhões de pessoas em todo o
mundo saibam jogar xadrez. No Ceará, de acordo com a avaliação de Anderson Moura, existem duas mil pessoas praticando o esporte em clubes espalhados em todo Estado. Uma dessas agremiações é o Clube Vinte Três, localizado na Praça General Sampaio. Existem outros grupos, como o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) chamado Capablanca, outro na Universidade de Federal do Ceará (UFC), formado por um grupo de escoteiros, e na cidade Maracanaú. Ao todo, o estado possui cerca de 30 associações
esportivas jogando o xadrez, algumas não cadastradas. Jogada de mestre Devido à realização das eleições para a presidência da FCX em 2010, a nova gestão ainda está realizando recadastramento dos clubes. Por isso, algumas agremiações ainda não foram catalogadas. Atualmente, a FCX não possui sede própria. As reuniões acontecem na praça do 23º batalhão, na Av. Treze de Maio. Entretanto, apesar das dificuldades, a Federação continua
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Regras básicas do xadrez O tabuleiro quadrado é dividido em 64 quadrados (32 brancos e 32 pretos). Cada jogador possui 16 peças (1 Rei, 1 Rainha, 2 Bispos, 2 Cavalos, 2 Torres e 8 Peões), dispostas como na foto acima. As peças brancas iniciam a jogada, depois as peças pretas e assim por diante. A finalidade é dar xeque-mate, o que sucede quando o rei adversário encontrase em uma posição em que não pode movimentar nenhuma peça Peão move-se uma casa de cada vez apenas na direção vertical, em direção ao adversário. Ele ataca na diagonal à sua frente se a casa estiver ocupada por outra peça Torre pode mover-se qualquer número de casas apenas nas direções horizontal e vertical
Bispo pode mover-se qualquer número de casas na diagonal, sempre nas casas da mesma cor Cavalo move-se três casas em forma de L, duas numa direção (horizontal ou vertical) e uma na direção vertical ou horizontal Rainha pode deslocar-se em todas as direções, o que lhe confere um peso estratégico no jogo Rei pode mover-se em cada jogada apenas uma casa, em qualquer direção (horizontal, vertical e diagonal)
se organizando e produzindo talentos, como é o caso de Leone Moreno Lucas, 22, atual Campeão Cearense de Xadrez. O jogador começou nas ruas do Bairro do Conjunto Esperança e conquistou, além do título estadual, o vice-campeonato do Aberto de Salvador, em 2010, o bi-campeonato de xadrez escolar, em 2003/2004, e foi campeão-intermunicipal por equipes. Os torneios e campeonatos realizados no Estado são poucos, comparados à paixão que o esporte produz entre os xadrezistas. Alguns não contam com premiações e seu resultado é simbólico. O apoio fica direcionado à popularização e inclusão social que o esporte oferece, como é o exemplo da ação conjunta entre a Prefeitura de Fortaleza, a Secretária de Esporte e Lazer (SECEL) e a própria FCX, que deram início ao Jogada de Mestre. O Projeto tem como objetivo ajudar jovens carentes, com problemas familiares e na escola. “Tínhamos em nossa escola casos de meninos rebeldes e hiperativos, mas a partir do momento que começaram a praticar xadrez, percebemos uma mudan-
ça significativa”, testemunhou Anderson Moura. A mudança é manifestada principalmente no comportamento e no desenvolvimento intelectual que o esporte produz. Quem afirma é Marco Antônio, 23, policial militar, que joga desde os 8 anos. Praticando quase diariamente o xadrez, o esporte proporcionou alguns benefícios. “Mais raciocínio, boa memória e muita tranquilidade”. Esses mesmos benefícios são confirmados pelo operador de supermercado Hudson Bezerra, 32, que, na labuta diária, aproveita as horas de descanso para conversar com os amigos e jogar o xadrez. “Ele desenvolve muito aquela parte de decorar, né? E você estuda, precisa decorar muitos lances, mas só que isso não quer dizer que você vai ser um bom jogador”. Para ele, o jogo não é difícil. Precisa ter dedicação e disposição para estudar, pois cada peça tem um movimento próprio e em decorrência disso a avaliação de cada jogada é importante na decisão da partida e no xeque-mate. “Se uma pessoa quer se tornar um excelente jogador, precisa estudar muito, mas muito mesmo”, adverte.
A motivação é a vitória Dedicação e estudo são palavras indispensáveis na prática do xadrez. Geralmente, um jogador profissional se dedica 10 horas por dia ao esporte. Alguns chegam a estudar até 12 horas diárias. Mas a prática pode ser preocupante. Quem alerta é o engenheiro civil Francisco Régis, 39, ao relatar que muitas pessoas se devotam exageradamente ao esporte e esquecem outras atividades do dia a dia, como o trabalho e o estudo. O tempo é relevante na prática do esporte, que reclama uma dedicação integral, levando alguns casos ao fracasso em outras áreas. “Alunos vieram do interior para Fortaleza estudar e não conseguiram pas-
sar na Universidade Federal do Ceará (UFC), porque estavam dedicando quase todo seu tempo a jogar xadrez”. A motivação é a vitória. Diante disso, o derrotado procura saber o que ocasionou o seu fracasso e estuda mais para buscar o triunfo sobre o seu adversário. Uma das peculiaridades que diferenciam o xadrez dos demais jogos é o ego. Como é uma pratica esportiva que envolve esforço intelectual, algumas pessoas tornam-se vaidosas. Passam a agir com arrogância e prepotência, resistindo em repassar suas táticas ou jogadas para iniciantes. “É um jogo que estimula a vaidade das pessoas”, confirma Régis.